PROJETO DESENVOLVIDO PARA O CENTRO CULTURAL SÃO PAULO
ACESSOS AUTOR: CAIO CÉSAR GOMES DE SOUSA ARTICULADORA TERRITORIAL: VICTORIA MADEIRO
AGOSTO DE 2020
APRESENTAÇÃO O Centro Cultural São Paulo (CCSP), inaugurado no ano de 1982, foi um dos primeiros centros culturais multidisciplinares do país, criado aos moldes dos que estavam surgindo no mundo todo a partir da década de 1970. Com um projeto arquitetônico liderado por Luiz Telles e Eurico Prado Lopes, o CCSP foi concebido como um espaço público democrático, que abrigaria diversidade não só em programações culturais, mas também de públicos. Sua singular arquitetura horizontalizada potencializa esse conceito de espaço público multicultural, que convida o visitante a adentrar e se apropriar de seus espaços, ao mesmo tempo em que facilita ao máximo o encontro do usuário com aquilo que o centro cultural tem a oferecer. O CCSP conta com uma rica programação cultural, que normalmente ocupa todos os seus espaços: salas de cinema, salas de espetáculos teatrais e musicais, espaços expositivos e de convivência, ateliê público de artes gráficas, laboratório de fabricação digital (Fab Lab Livre), horta comunitária, conjunto de bibliotecas entre outros. A Supervisão de Ação Cultural do CCSP tem como uma de suas funções apresentar ao público essa programação e mediar as interações deste com o espaço. Como jovem monitor cultural atuante na Supervisão de Ação Cultural, pude realizar visitas mediadas com os mais diversos grupos e observar e compreender, ao menos em parte, a dinâmica das ocupações dos espaços e a forma como os usuários usufruem da programação do equipamento. Ao longo desse período de atuação, pude observar que apesar de o CCSP ser um espaço relativamente bem acessível arquitetônicamente (com rampas, elevadores e pisos táteis), são poucas as pessoas com deficiência que costumam frequentá-lo. Ao longo das visitas mediadas, os públicos com algum tipo de deficiência que foram mais recorrentes eram de pessoas com deficiencia intelectual leve ou com mobilidade reduzida. Nenhuma pessoa surda ou cega foi atendida, por exemplo. Considerando a escassez de público com deficiência em espaços para além da Biblioteca Braille (que atende o público com deficiência visual), e as possibilidades de ação dentro do CCSP, a proposta inicial desse projeto era a implementação de ações inclusivas que incentivassem esse público a desfrutar de outras programações do equipamento. Dentre essas ações, destacam-se a produção de réplicas táteis das obras de arte do acervo em exposição do CCSP e a elaboração de roteiros de visitas sensoriais não visuais, por exemplo na horta comunitária, onde é possível explorar texturas, aromas e sabores.
Infelizmente, por conta da pandemia causada culturais da cidade encontram-se fechados impossibilita a realização das atividades necessidade de adaptação de projetos para o necessidade de se manter o isolamento social.
pelo Covid-19, os equipamentos desde março de 2020, o que presenciais. Fez-se, então, a ambiente virtual, respeitando a
Desse modo, o projeto “Acessos”, nascido a partir de uma pesquisa sobre acessibilidade em espaços culturais, precisou ser transferido para a plataforma digital, o que causou também a mudança de seu objetivo. Nesse novo formato, o projeto passou a ser uma ação de comunicação veiculada na página do Facebook da Ação Cultural do CCSP e voltada para todos os públicos. "Acessos" possui o objetivo de difundir informações que propiciam reflexões acerca de temas como acessibilidade, inclusão e protagonismo da pessoa com deficiência, principalmente no meio cultural. Para tanto, foram elaborados textos objetivos, com linguagem simples, para despertar a atenção do público da forma mais abrangente possível. Todas as publicações possuem elementos visuais que acompanham os textos, como fotografias e ilustrações. Algumas das ilustrações foram elaboradas exclusivamente para o projeto, como mostrado no tópico seguinte. Foram também realizadas descrições em texto para todas as imagens publicadas, de forma que pessoas com deficiência visual, que utilizam programas de leitura de tela, pudessem ter acesso ao conteúdo das imagens. Além disso, também foi realizado o trabalho de divulgação do projeto através de grupos no próprio Facebook e no Whatsapp. O projeto continua acontecendo mesmo após o final desta edição do Programa Jovem Monitor Cultural e pode ser encontrado pela busca por #AcessosCCSP no Facebok ou na página da Ação Cultural do CCSP: https://www.facebook.com/CCSPAcaoCultural/
RESULTADOS Na figura 1, observamos um print feito por celular da primeira publicação do "Acessos", no dia 15 de agosto de 2020. Na perspectiva da administração da página, podemos ver que a publicação alcançou um público de 623 pessoas, e um total de 67 interações, como compartilhamentos, comentários, reações e cliques na publicação. Esses dados referem-se ao período de apenas quatro dias após a publicação ser realizada, podendo, portanto, alcançar um público ainda maior. Na figura 2, observa-se o print feito por celular da primeira publicação, na íntegra, com o seguinte texto: "ACESSOS Com o intuito de discutir e gerar reflexões acerca de temas como acessibilidade, inclusão e protagonismo da pessoa com deficiência, em especial no meio cultural, a Ação Cultural do CCSP traz uma série de publicações intitulada “Acessos”.
Figura 1
Afinal, o que é acessibilidade? A quem ela beneficia?
Quando pensamos no termo acessibilidade, talvez a primeira coisa que nos ocorra, por exemplo, seja a presença ou não de rampas e elevadores nos edifícios, elementos associados à acessibilidade arquitetônica dos espaços. Além da remoção de barreiras físicas, a acessibilidade engloba também a eliminação de barreiras comunicacionais e atitudinais. De acordo com a Norma Brasileira de Acessibilidade ABNT NBR 9050, acessibilidade trata-se da “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos”. Ou seja, um espaço acessível deve levar em consideração as diferentes formas como cada indivíduo se locomove, se comunica, percebe e compreende o mundo. A acessibilidade traz benefícios a pessoas com ou sem deficiência por garantir a participação social de todos os indivíduos, incluindo grupos sociais que historicamente foram marginalizados nesse processo. Apesar de ser um direito assegurado por lei, o acesso de indivíduos, independentemente de restrições físicas, sensoriais ou cognitivas aos mais diversos ambientes, ainda encontra grandes percalços. Pensando um pouco em sua vida cotidiana, você já encontrou algum tipo de dificuldade para acessar determinado ambiente ou informação? Existe diversi-
Figura 2
-dade de corpos e formas de perceber e interpretar o mundo nos ambientes que você costuma frequentar? Você percebe pessoas com deficiência acessando plenamente espaços como escolas,
universidades, ambientes profissionais, eventos ou espaços culturais e de lazer? #PraTodosVerem: Fotografia de espaço interno do CCSP, mostrando elementos de acessibilidade arquitetônica, como as rampas que se intercruzam e parte do piso tátil. ABNT NBR 9050 disponível em: http://www.turismo.gov.br/ …/downloads_publicaco…/NBR9050. pdf Fotografia: Wikimedia Commons" Na figura 3, observamos um print da segunda publicação do "Acessos", feita no dia 18 de agosto de 2020, a qual em apenas um dia, alcançou 900 pessoas e obteve um desempenho melhor do que 85% das demais publicações da página. Nela, observamos uma das ilustrações realizadas exclusivamente para o projeto. Na figura 4, vemos estatísticas dessa mesma publicação, revelando que nesse mesmo período, houve um total de 127 interações. O texto seguinte:
dessa
publicação
é
o
"ACESSOS Figura 3
Você já ouviu falar em linguagem inclusiva, neutra ou não sexista?
Mesmo que não tenha ouvido ou lido esses termos antes, provavelmente, ao navegar na internet, você já deve ter se deparado com frases como 'sejam todes bem-vindes' ou, em vez do uso da letra 'e' no final das palavras, tenha encontrado um 'x' ou um '@'. Essa opção pela não demarcação de gênero na linguagem é o debate central da linguagem neutra, inclusiva ou não sexista, que também questiona a construção da gramática normativa, a qual privilegia o gênero masculino como neutro em diversos idiomas. Ao entendermos a língua como um organismo vivo, em constante evolução, que se altera para adaptar-se às demandas e necessidades de seus e suas falantes, nos tornamos capazes também de refletir e questionar sobre os usos dessa língua. Atualmente, por exemplo, no debate sobre linguagem neutra entende-se que a utilização de 'x' ou '@' não seja uma forma inclusiva de escrita, já que gera uma barreira para programas de leitura de tela utilizados por pessoas cegas ou com baixa visão e dificulta a leitura para pessoas com dislexia ou em processo de alfabetização, por exemplo. Existem diversas discussões sobre o tema que propõem alternativas para uma linguagem que seja de fato inclusiva para todas, todos e todes. Algumas delas estão nos links a seguir: Figura 4
Manual para o uso da linguagem neutra em língua portuguesa: https://drive.google.com/…/16BQ59w4ePbUqMAzrFwUiCsz3r9…/view Manual prático de linguagem inclusiva:http://tecidas.com.br/Manifesto Ile para uma comunicação radicalmente inclusiva: https://diversitybbox.com/ …/manifesto-ile-para-uma-comunic…/ Manual para uso não sexista da linguagem: http://www.observatoriodegenero.gov.br/…/manual-para-o-uso-… ACESSOS é uma iniciativa da Ação Cultural do CCSP que visa gerar discussões e reflexões acerca de temas como acessibilidade, inclusão e protagonismo da pessoa com deficiência, em especial no meio cultural. #PraTodosVerem: Arte abstrata nas cores amarela, branca, roxa e preta, contendo dois perfis de pessoas, uma de frente para a outra, compartilhando um balão indicador de fala, como os presentes em histórias em quadrinhos."
SOBRE O AUTOR
Caio, 25 anos, é bacharel em Ciências Biomédicas e técnico em Museologia. Atualmente está cursando especialização em “Arte na Educação: teoria e prática” pela Universidade de São Paulo. Foi jovem monitor cultural por dois anos na Ação Cultural do Centro Cultural São Paulo. Desde então, vem trabalhando com arte-educação no contexto não formal, em museus e instituições culturais. Possui especial interesse em mediação cultural e na relação do público com o patrimônio artístico-cultural, bem como as formas de acesso a esse patrimônio.