Jornal Placar Londres 2012 Ed 13

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edição 13

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terça-feira, 7 de agosto de 2012

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www.placar.com.br

Rafael Ribeiro/CBF

LONDRES 2012 Após 44 anos, Adriana e Esquiva garantem medalhas para a modalidade

FUTEBOL

Contra a Coreia do Sul, às 15h45, jovem seleção tenta vaga na final após 24 anos

REUTERS/David Gray

PAULO VITALE

BOXE

n 15.900 pontos: Arthur Zanetti deu o 2º ouro ao Brasil em Londres 2012

Arthur,

Com 1,56 m de altura, o ginasta conquista o primeiro ouro para o Brasil na história da modalidade

fotos REUTERS/Mike Blake

o gigante


Ronald Martinez/Getty Images

jornal placar | TERÇA-FEIRA, 7 de AGOSTO de 2012

Aquecimento frases

Editorial Por Miguel Icassatti

JORNALPLACAR@abril.com.br

q Quadro de medalhas País

“Já tenho uma medalha de bronze garantida, mas eu quero mais. Eu quero o ouro” Adriana Araújo, primeira mulher a ganhar uma medalha olímpica para o boxe brasileiro, logo após garantir ao menos o bronze na categoria leve (até 60kg)

“Apesar de ser visto como um esporte para meninas, os meninos também podem participar. Agora o esporte vai crescer” Arthur Zanetti, ouro nas argolas, esperançoso de que sua medalha mude o status da ginástica artística no “pais do futebol”

“Foi uma m...” A corredora brasileira Ana Cláudia Silva, ao comentar sua performance na prova classificatória dos 200 metros rasos feminino, ontem, em Londres

Os destaques e o melhor conteúdo www.abrilemlondres.com.br exclusivo sobre Londres 2012 na internet Destaques do Site

Confira os brasileiros que ainda estão na disputa por medalhas nos Jogos Olímpicos Acesse o quadro de medalhas para checar a posição das delegações As melhores imagens do 10º dia oficial de competições em Londres Para ter a cobertura em tempo real, acesse o site e baixe o app Abril em Londres no seu celular

para ver na tv Hora

Esporte

Disputa

Etapa

Brasileiros na disputa

Total

5h46

Canoagem velocidade

Sexo

M

C2 1 000m

Eliminatórias

Erlon Silva e Ronílson Oliveira

F

Lançamento de dardo

Eliminatórias

Laila Ferrer

Adestramento Individual

Grand Prix Especial Luiza Almeida

1

China

31

19

14

64

6h00

Atletismo

2

estados unidos

28

15

19

62

18

11

11

40

Hipismo

3

grã Bretanha

6h00

4

Coreia do sul

11

5

6

22

6h00

Handebol

F

Atletismo

M

Quartas de final

5

França

8

9

9

26

6h10

6

Rússia

7

17

17

41

6h45

Atletismo

M

Salto triplo

Eliminatórias

7

Itália

7

6

4

17

6h55

Atletismo

F

5 000m

1ª rodada

8

Cazaquistão

6

0

1

7

7h00

Tênis de mesa

F

Equipe

Final

9

alemanha

5

10

7

22

10

Hungria

4

1

3

8

11

Coreia do norte

4

0

1

5

12

Holanda

3

3

4

10

Triatlo

M M

200m rasos

1ª rodada

Bruno Lins, Aldemir Gomes, Sandro Viana

8h00

Vela

F

470

Regatas

Ana Barbachan e Fernanda Oliveira

Vôlei

F

Bielorrússia

3

2

3

8

cuba

3

2

1

6

9h00

Vela

M

15

NOva zelândia

3

1

4

8

9h30

Handebol

F

22

Brasil

2

1

5

8

10h00 Basquete

F

10h00 Vela

F

11h00 Vôlei

F

11h30

Levantamento de peso

M

qbaú olímpico

12h15

Basquete

Primeiro da ginástica

O

ntem, Arthur Zanetti se tornou o primeiro ginasta brasileiro medalhista em uma edição de Olimpíada. Há 32 anos, nos Jogos Olímpicos de Moscou 1980, o Brasil teria o seu primeiro representante na ginástica olímpica. Seu nome é João Luiz Ribeiro e, com apenas, 19 anos competiu ao lado de seu ídolo: o soviético Nikolai Andrianov, detentor de 15 medalhas olímpicas (sete de ouro). Hoje, Ribeiro é dono de três centros de formação de ginastas nos Estados Unidos.

n O PIONEIRO Ribeiro hoje e na época dos Jogos de Moscou 1980

Jonathan Henrique Silva

Atletismo

14

Por Olavo Guerra

Brasil x Noruega

7h30

13

Confira o quadro atualizado em tempo real no site www.abrilemlondres.com.br

1ª rodada

7h50 9h00

n Quadro de medalhas atualizado até as 22h (horário de Londres).

110m com barreiras

FOTO: GETTY IMAGES

O

dia de ontem, 6 de agosto de 2012, entrará para a história de dois esportes olímpicos brasileiros. Contra os prognósticos mais otimistas, o ginasta Arthur Zanetti superou todos os rivais na final da prova das argolas na ginástica artística. Por ter sido vice-campeão mundial, torcia-se para que, ao menos, repetisse o desempenho e ficasse com a prata. Mas o pequeno-grande Arthur, com seu 1,56 m de altura, voou alto e trouxe o inédito ouro (e primeira medalha da história) da modalidade para o país. Não sabemos ainda qual será a cor das medalhas de Adriana Araújo e Esquiva Falcão. Mas é certo que, num único dia, uma única segunda-feira, eles acordaram para trabalhar e garantiram, 44 anos depois do bronze de Servílio, duas medalhas para o boxe brasileiro.

Reinaldo Colucci, Diogo Sclebin

Quartas de final RS-X

Final Quartas de final Quartas de final

RS-X

Final

Patrícia Freitas

Quartas de final

Brasil x Rússia Fernando Saraiva

F

Quartas de final

13h00 Futebol

M

Semifinal

13h00 Handebol

F

Quartas de final

13h00 Vôlei de praia

M

Semifinal

13h00 Vôlei de praia

F

Semifinal

13h55 Ciclismo

M

Pista Keirin

Final

15h00 Atletismo

M

Salto em altura

Final

15h00 Vôlei

F

15h00 Saltos ornamentais

M

Trampolim de 3 metros

Final

15h05 Atletismo

F

Salto em distância

Eliminatórias

15h15

Atletismo

F

100m com barreiras

Semifinais

M

Lançamento de disco

Final

15h45 Futebol

M

15h55 Atletismo

M

16h00 Basquete

F

16h25 Atletismo

F F

17h00 Atletismo

M

Juliana e Larissa

Quartas de final

15h45 Atletismo

16h30 Handebol

Ricardo Winicki

Semifinal 800m rasos

Semifinais

200m rasos

Semifinais

Maurren Maggi

Brasil x C. do Sul

Quartas de final Quartas de final 1 500m

Final

17h00 Vôlei

F

Quartas de final

17h00 Vôlei de praia

M

Semifinal

17h00 Vôlei de praia

F

Semifinal

17h15

Atletismo

F

18h15

Basquete

F

100m com barreiras

Final Quartas de final

GETTY IMAGES

02


jornal placar | terça-feira, 7 de agosto de 2012

Aquecimento

03

Os jogos que você não vê

Por Alexandre Battibugli, de Londres

Fundador:

pingue e pongue O mesatenista chinês Wang Hao parece ter de lidar com várias bolinhas em uma fração de segundos

VICTOR CIVITA (1907-1990) Presidente e Editor:

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Barros

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papo triplo - Três perguntas para may A seleção brasileira de handebol tem hoje uma tarefa árdua: vencer a boa defesa, a ótima goleira e os mortais contra-ataques das norueguesas na partida válida pelas quartas de final dos Jogos Olímpicos. Em entrevista ao JORNAL PLACAR, May (Mayara), uma das estrelas da equipe verde e amarela, garante que o time está ponto para o desafio.

1 2

Qual a expectativa de vocês para esse duelo com a Noruega? Estamos preparadas para esse jogo. Vai ser tudo ou nada, então vamos entrar para vencer de qualquer jeito. Queremos ir em busca do nosso sonho. Vocês têm noção da repercussão da campanha da seleção no Brasil? Até brincamos que parece coletiva de imprensa de seleção de futebol, pela quantidade de microfones. Sim, temos muito contato com o pessoal do Brasil pelas redes sociais e todos estão dando muita força, apoio ao handebol e isso é um incentivo a mais para nós. Dá uma vontade maior de entrar em quadra e representar todo o povo brasileiro. Queremos mesmo que esse esporte cresça no Brasil.

3

O que mudou no esporte de uns tempos para cá? Não foi mudança, mas a evolução. Os intercâmbios com as equipes europeias ajudou, pois há uma liga mais forte, muito importante para melhorar o nível. Houve um casamento que deu certo entre o Morten (Soubak, o técnico) e as atletas. Os resultados estão aparecendo.

Twitadas olÍmpicas “Quero dizer um ENORME obrigado a todos que torceram por mim na última semana. Foi a maior vitória da minha carreira” O britânico Andy Murray (@andy_murray), agradecendo o apoio dos torcedores durante a Olimpíada “Parabéns ao Arthur Zanetti! Valeu fera!!” O pivô brasileiroTiago Splitter (@tiagosplitter), comemorando o segundo ouro do Brasil em Londres “Que crescimento, fãs do Twitter! Um milhão e contando” O homem mais rápido do mundo, Usain Bolt (@usainbolt) agpra tem mais de um milhão de seguidores no Twitter “Mais uma final olímpica! Abraços a todos que estiveram na torcida” O velejador Rafael Santos, o Bimba (@ Bimbawindsurf), contente com a final olímpica “TV do quarto sem sinal!!!! eu quero ouvir o hino!!!” Atleta brasileira da luta olímpica, Joice Silva (@joiceluta) reclama da sua TV na hora que Zanetti ia ao pódio


jornal placar | terça-feira, 7 de agosto de 2012

04

boxe

Adriana Araújo abre caminho para volta do Brasil ao pódio

Esquiva Falcão também já tem bronze na mão Lutador do Espírito Santo abriu vantagem no primeiro round contra húngaro

Boxeadora garantiu a primeira medalha para o Brasil na modalidade desde 1968. No mesmo dia, Esquiva Falcão também fatura ao menos o bronze

O

brasileiro Esquiva Falcão bateu ontem o húngaro Zoltan Harcsa e, assim como Adriana Araújo, garantiu ao menos um bronze para o Brasil na categoria meio pesado do boxe. A luta aconteceu à noite na ExCel Arena, em Londres. O húngaro chegou primeiro ao ringue, disparando socos contra o vento. Esquiva, logo atrás, de azul, entrou mais comedido. Ajoelhou-se e rezou antes de começar a lutar. Esquiva partiu para cima do Harcsa logo após soar o sinal do primeiro assalto. Com golpes fortes, fez com que o húngaro fechasse a guarda. Acertou uma sequência de socos no alto e no abdômen e protegeu-se de forma correta. Terminou bem, abrindo 6 x 2. No round posterior, Esquiva manteve a agressividade, sem abrir mão da defesa. Com a luta sob controle, venceu novamente, por 5 x 4. A vantagem já era de 11 x 6. No terceiro, o brasileiro só controlou a vantagem, encaixando golpes eventuais. Sem reação, o húngaro demorava a acertar um soco. Faltando 1 minuto e 18 segundos, Esquiva empolgou o público ao encaixar uma sequência de ganchos. Foi o suficiente para vencer a luta por 14 x 10. O brasileiro, com o bronze garantido, vai à semifinal e tem chances de conquistar o ouro. (M.S.S.)

Por Marcos Sergio Silva, de Londres

fim do tabu Adriana Araújo castiga a marroquina e entra para a história do boxe brasileiro

da Cidade do México, em 1968, um atleta do Brasil não levava uma medalha no boxe. Era a oportunidade de encerrar o jejum. E Adriana conseguiu. Horas depois, a glória da medalha foi repetida no masculino, com Esquiva Falcão (leia mais ao lado). Adriana foi precisa. Estudou a adversária e deu os socos que valiam os pontos. Usou a direita para aplicá-los, enquanto protegia seu rosto das investidas de Mahjouba com a esquerda. Faltando 26 segundos para o primeiro assalto terminar, acertou uma sequência de golpes, que pesaram

na decisão dos jurados em dar à baiana a vitória parcial por 4 x 2. No segundo round, disparou a esquerda na marroquina quando eram corridos 47s de luta. Esquivou-se, colocou a adversária nas cordas e fez o suficiente para vencer a etapa por 3 x 2. O próximo assalto foi mais equilibrado, com Mahjouba mais agressiva. Em uma das investidas, a rival foi às cordas. Mas, na avaliação do júri, a marroquina foi melhor: 4 x 3. Com a vantagem, Adriana cercou-se da equipe antes de o quarto round começou. “O Claudio Aires e o Mateus pediram

paulo vitale

A

arena de boxe estava em êxtase quando a brasileira Adriana Araújo entrou no ringue para enfrentar a marroquina Mahjouba Oubtil, ontem à tarde. Não por ela, mas por um daqueles duelos históricos: duas mulheres lutando pela hegemonia entre colonizados e colonizadores. Sim, estamos falando de boxe feminino. A irlandesa Katie Taylor terminou por vencer a britânica Natasha Jonas. A plateia, majoritariamente pró-Irlanda, veio abaixo. Nesse cenário elétrico, Adriana caminhou olhando para o chão, logo atrás da marroquina. Vestiu seu traje azul para enfrentar Mahjouba, de vermelho, saudou o público e cumprimentou com um soco no punho o treinador Cláudio Aires e partiu para a luta. Havia um tabu para ser quebrado e Adriana sabia que era possível. Desde as Olimpíadas

para que tivesse cuidado na guarda para não tomar golpes bestas”, disse a brasileira. Ela chegou a cair em um dos avanços da marroquina, mas se recuperou. No final da luta, com a certeza da vitória, levantou os braços para o alto, abraçou a marroquina e esperou a pontuação final. Havia vencido o último round (6 x 4) e a luta. O Brasil voltava ao pódio, 44 anos depois de Servílio de Oliveira conquistar o bronze, na primeira participação das mulheres no esporte em uma Olimpíada. “Fico feliz por ter sido eu, Adriana Araújo, quem conseguiu isso”.

A

driana Araújo ainda pode levar o ouro. Mas ela já está na história: foi a primeira brasileira a vencer uma luta de boxe em Olimpíadas e, ontem, a primeira a garantir medalha. E pensar que o sonho dessa baiana de 31 anos era jogar futebol. Qual foi a estratégia para a luta? Procurei usar apenas os golpes duros para ser pontuados. Garanti a minha performance, abaixei peso para essa luta. Todo esse desempenho foi graças à recuperação do corpo.

Por que escolheu justamente o boxe? O boxe caiu na minha vida por acaso. Não pensava em ser pugilista, jogava futebol. Dos 12 anos aos 17, joguei futebol, cheguei a atuar no Vitória. Fui trabalhar e estudar e tive que parar. Entrei no boxe para emagrecer, para baixar o peso. E passei a amar. Já são 12 anos. Houve resistência da sua família por causa dessa escolha? Minha mãe não gostava, não. Quando eu chegava em casa, toda arrebentava, ela reclamava. Mas nunca interviu na minha vida. Mas ela

aceitou, vibrava com as minhas lutas. Infelizmente, ela faleceu. Qual a expectativa para a próxima luta? Conhece sua adversária, a russa Sofya Ochigava? Eu penso em ser campeã olímpica, não é impossível. Estou preparada. A gente tem que ir de acordo com o que vem do ringue. A tática é criada a cada round. Já lutei com a Ochigava. Perdi agora no Mundial, quando tive a classificação para as Olimpíadas. Mas cada luta é uma luta. Em cima do ringue é diferente. O boxe é visto como um esporte

masculino. Teve dificuldades para encontrar oponentes? Sempre treinei com homem. Dificuldade sempre teve de achar mulher no boxe. Mas eu prefiro treinar com os meninos até mesmo para desenvolver o meu boxe. É onde eu procuro aperfeiçoar minha técnica. O que essa medalha muda para o boxe feminino brasileiro? O boxe feminino vai ser bem mais visto. Todo mundo vai prestar atenção. As coisas estão acontecendo ainda, nem peguei a medalha ainda. E ainda tem a medalha de prata e a de ouro. (M.S.S.)

REUTERS/Murad Sezer

“Eu penso ser campeã olímpica, sei que não é impossível”

n Tom moral Esquiva vence e ainda está na briga pelo ouro



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06

atletismo Marílson dos Santos quer o pódio como presente de aniversário

Maurren salta em busca do bi Campeã olímpica supera lesões recentes e avisa: está pronta para brigar por medalha em Londres

O n voo para o ouro

alexandre battibugli

Maurren Maggi é uma das apostas do COB para alcançar a cota de medalhas em Londres

7.32m

o gol de maurren maggi As principais marcas da saltadora brasileira e os números que a desafiam para o bi olímpico

2.40m

Ouro em Pequim Maurren Maggi 2008

Melhor marca de Maurren Maggi 1999

0m

Da redação

M

aurren Higa Maggi inicia hoje, por volta das 16 horas, sua tentativa de tentar o bicampeonato olímpico do salto em distância. Medalha de ouro em Pequim, ela chegou a Londres tentando amenizar a desconfiança pelo histórico recente

7.52m

de contusões. “Passei por lesões e cirurgia nos últimos anos, mas estou pronta para competir”, disse a saltadora. A decisão de passar algumas semanas treinando em Madri, e não no Crystal Palace, o quartel-general da delegação brasileira em Londres, aumentou as especulações de que Maurren ainda estivesse sofrendo com dores no qua-

7.26m

Recorde mundial Galina Chistyakova 1988

7.04m

5m

dril. “A lesão no quadril da Maurren é de conhecimento público e atrasou um pouco sua preparação, mas está resolvida”, disse Nélio Moura, treinador da atleta. Os números jogam contra a brasileira. Desde Pequim 2008, quando venceu com a marca de 7,04 metros, Maurren, 36 anos, não salta acima de 7 metros. Sua melhor marca foi obtida nos Jo-

7m

gos Panamericanos de Guadalajara, no ano passado, quando alcançou 6,94 metros e foi medalha de ouro. Nesta temporada, ela chegou no máximo a 6,85. “Eu sou campeã olímpica e estou aqui para repetir isso”, disse a atleta, minimizando os últimos resultados. “Preciso saltar acima de 6,90 para pensar em pódio”. As principais adversárias da

o dia dos brasileiros

T

rês brasileiros saíram do Estádio Olímpico de Londres ontem com um sorriso no rosto. Os corredores Fabiano Peçanha e Evelyn Carolina de Oliveira, por causa da classificação para as semifinais. E Geisa Arcanjo por ter feito sua melhor marca na carreira e terminado entre as oito melhores no arremesso de peso. Ela comemorou muito os 19,20 m obtidos na final. “Este oitavo lugar é mais importante que qualquer outro título da minha vida”, disse logo depois. Apenas dois centímetros a separaram da russa Irina Tarasova, a nona colocada. Já Peçanha terminou sua bateria

dos 800m em segundo, com 1m46s29. Hoje, às 15h55, ele volta a correr para chegar à final. “Estou muito feliz com a semifinal. Tinha o quinto melhor tempo na bateria e o trigésimo entre todos os atletas da prova. Esse resultado foi especial”, celebrou. Evelyn passou para as semifinais do 200 m com o 12º melhor tempo (23s07). Em outra bateria da mesma prova, Ana Claudia Silva não se classificou e agora foca no 4x100 m. No arremesso de disco, Ronald Julião também ficou pelo caminho. Quem não chegou nem a competir foi Kleberson Davide, nos 800 m, com amidalite. O COB também o anunciou corte de Lucimar Teodoro por contusão.

brasiliense Marílson Gomes dos Santos completou 35 anos ontem em Londres. Para conquistar o presente que mais deseja — o pódio na maratona no próximo domingo (12) — tudo vai depender de seu desempenho. O último treino do fundista foi realizado na manhã de ontem, antes da coletiva de imprensa no Crystal Palace. “Esse treino foi apenas para ele sentir o ar de Londres. Quero que ele chegue na prova descansado, com tesão e vontade de correr”, explicou o técnico Adauto Domingues. Esta pode ser a última oportunidade do atleta em Olimpíadas e ele quer aproveitá-la com unhas e dentes. “A cada edição, a maratona está se tornando mais dificil. Mas como já vi em outras competições, pode acontecer de tudo e é preciso estar preparado para isso, pois é uma prova aberta”, disse Marílson. O corredor comentou que o percurso, embora seja plano, não é dos mais fáceis, pois há mais de 90 curvas e são quatro voltas. Ele e o treinador têm a expectativa de ficar entre os 15 melhores da prova.

n palmas para eles Peçanha (acima) vai para a final nos 800m e Geisa Arcanjo faz sua melhor marca no peso

brasileira na busca pelo ouro são a norte-americana Brittney Reese, a bielorrussa Nastassia Ivanova e a russa Yelena Sokolova. Elas têm como melhor marca da temporada 7,23, 7,08 e 7,06, respectivamente. “As meninas vão saltar acima de 7 metros. Quando precisei fazer uma vez, eu fiz, então estou confiante”, disse Maurren.



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08

Atletismo

O segundo passo de Bolt

Fala, Bolt! “Espero competir nos Jogos do Rio de Janeiro. Acho que ainda estarei em boa forma. Mas o Blake estará com 26 anos... Vai ser interessante.”

O homem mais veloz do mundo começa hoje a disputa dos 200 metros. Ele já garantiu um ouro nos 100 metros rasos, mas quer levar três de Londres n festa de

Por Maurício Barros, de Londres

passou. Algumas previsões, como da revista norte-americana Sports Illustrated, diziam que o maior risco à obsessão de Bolt estava justamente nos 100 metros rasos, pois seu compatriota Yohan Blake parecia estar em melhores condições depois de bater Usain nas seletivas jamaicanas dos 100 e os 200 metros, há pouco mais de um mês. Bolt tem um já conhecido pro-

blema com a largada. É mais lento que os demais nos primeiros metros após o tiro, mas se recupera rapidamente e voa a partir da metade da prova. Nos 200 metros, tem o dobro da distância para compensar uma eventual início ruim. “Tinha muita gente dizendo que eu não iria ganhar, que eu não parecia bem. Mas eu mostrei que ainda sou o melhor”, disse Bolt na entrevista após ven-

Isinbaeva aposta tudo, mas fica com bronze Ouro foi para a americana Jennifer Suhr, em prova marcada por erros

N

a final do salto com vara, a russa Yelena Isinbaeva chegou com status de estrela. E mesmo sem vencer a prova, mostrou porque é uma grande atleta. Sem temer o vento — que realmente preocupava as competidoras —, ela se arriscou em um momento crucial, errou, mas saiu de cabeça erguida, com o bronze. Depois de duas tentativas falhas de passar por 4,75m, ela apostou mais alto e pediu para o sarrafo ficar em 4,80m. Empolgou o público, que apreensivo, torceu muito por sua consagração. Ela passou, mas o sarrafo foi junto. Com um sorriso, a musa agradeceu o apoio das arquibancadas e

só chorou ao abraçar o técnico. A vencedora da noite foi a americana Jennifer Suhr, que chegou a 4,75m, assim como a cubana Yarisley Silva. Depois que Isinbaeva fechou sua participação, nenhuma das duas conseguiu superar esta marca. Como Jennifer tinha melhores colocações nas fases anteriores, foi declarada campeã. Durante a prova, todas a atletas prestavam muita atenção aos seus treinadores, que tentavam orientálas sobre a direção do vento. Muitas queimaram suas tentativas repetidas vezes. No sábado, a brasileira Fabiana Murer não se classificou ao desistir de um salto por se sentir insegura por causa da ventania.

n musa de bronze A russa Isinbaeva não conseguiu ir além dos 4,70 metros

Julia Vynokurova/Getty Images

arromba Bolt vara a noite em boa companhia para festejar o ouro

Q

uarta medalha olímpica conquistada, com direito a novo recorde da competição nos 100 metros rasos (9,62 segundos), Usain Bolt inicia hoje o que ele chamou de “segundo passo” para se tornar uma lenda do esporte. Ele abre a série de sete eliminatórias dos 200 metros. Na mesma série do jamaicano, está o brasileiro Aldemir da Silva Junior. Bruno Barros e Sandro Vianna também tentam avançar às semifinais, que acontecem amanhã. A final será na quinta (9). Bolt quer repetir o feito de quatro anos atrás quando, além dos 100 metros rasos, ganhou também os 200 metros e o revezamento 4 x 100 metros com a equipe jamaicana em Pequim. E deve conseguir, pois o pior já

“Eu odeio os 400 metros, todo mundo sabe disso. Mas eu e meu treinador vamos decidir o que vamos fazer depois dos Jogos Olímpicos. Se eu vou migrar para os 400 metros ou não.”

cer os 100 metros. “Depois das semifinais, eu me senti muito bem. Minhas pernas estavam ótimas, eu podia sentir isso. Fiz a segunda melhor marca do mundo, estou feliz.” Além de Blake, o principal adversário de Bolt nos 200 metros é o norte-americano Wallace Spearmon. Bolt disse que não poderia comemorar o primeiro ouro em Londres porque hoje já teria que

“Minha mensagem é que é preciso trabalho duro, ter foco. Nem todo mundo pode ser o homem mais rápido do mundo. Mas pode ser a melhor enfermeira, o melhor médico... O importante é gostar do que faz, e tentar fazer do melhor jeito.” estar na pista de novo. Mas por volta das 3 horas da manhã, publicou uma foto pelo Twitter na companhia de três beldades em um quarto da Vila Olímpica. Justo ele, que havia reclamado na entrevista coletiva que nunca havia ido a um campeonato onde não se pode fazer nada, devido às regras que restringem a movimentação dos atletas. Parece que não é bem assim...



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Futebol

Neymar tenta superar geração de Romário

alegria, alegria Americanas festejam vitória sobre o Canadá

Depois de 24 anos da prata em Seul, Seleção Brasileira tem a chance de chegar a uma decisão olímpica de futebol hoje no duelo com a Coreia do Sul

Rafael Ribeiro/CBF

Stanley Chou/Getty Images

descontração O atacante Neymar brinca com Enzo, filho do lateral Marcelo, no último treino antes da semi

Marcos Sergio Silva, de Manchester

O

Brasil joga hoje, em Manchester, para bater um tabu de 24 anos. Foi em 1988 a última vez que a seleção masculina de futebol chegou a uma final olímpica. Na ocasião, o time foi batido pela União Soviética na final do torneio de Seul, na Coreia do Sul, e levou a prata. O objetivo, no entanto, é superar aquela seleção, que, mesmo derrotada, revelou Romário, Bebeto, Taffarel e Mazinho, tetracampeões em 1994 na Copa do Mundo dos EUA. Na de hoje, está em jogo a geração de Neymar, Oscar e Ganso, que pode brilhar em 2014, no Mundial do Brasil. O jogo começa às 15h45 (horário de Brasília). Se passar, o Brasil enfrenta na final o vencedor de México x Japão, jogo que será disputado antes, às 13h, em Wembley. “Pois é, a responsabilidade é maior à medida que avançamos na competição. Para chegar na final, precisamos antes bater a Coreia do Sul. Pelo que vi contra a GrãBretanha, não será uma tarefa fácil”, afirmou o zagueiro Thiago Silva. “A expectativa é de jogar

melhor do que contra os hondurenhos.” No domingo, em Newcastle, o Brasil passou sufoco para vencer a seleção de Honduras, ficando duas vezes atrás no placar e virando apenas no segundo tempo. Em Manchester, o Brasil está concentrado no mesmo hotel que os sul-coreanos, o Marriott Worsley. Além das duas seleções, estão hospedadas no local as seleções femininas do Canadá e dos Estados Unidos, também semifinalistas do torneio olímpico. Mano Menezes espera que, hoje, as ações fiquem equilibraBrasil

Coreia do Sul

Gabriel Rafael Thiago Silva Juan Marcelo Sandro Rômulo Oscar Neymar L. Damião Hulk T. Mano Menezes

Junk Sung-Ryong Chang-Soo Kim Young-Gwon Kim Seok-Ho Hwang Suk-Young Yun Koo Ja-Cheol Ki Sung-Yueng Nam Tae-Hee Dong-Won Ji Jong-Woo Park Park Chu-Young T. Hong Myung-Bo

Local: Old Trafford, em Newcastle, hoje, às 15h45

das nos dois lados do campo. Até agora, o jogo brasileiro pende mais para o lado esquerdo, com as triangulações de Marcelo, Neymar e Oscar. O treinador, que vê o lateral-direito Rafael Silva, do Manchester United, um nível abaixo de Marcelo, acha possível jogar pelo outro setor, sem comprometer a marcação. “Já tivemos atuações boas no lado direito. No primeiro jogo, o Rafael até fez um gol, numa jogada de Oscar. Contra a Nova Zelândia, também fomos bem, mas o Hulk não estava lá. O Oscar dá um suporte bom pelo lado direito”, disse o técnico. A Coreia do Sul chegou à semifinal depois de dois empates sem gols (contra México e Gabão) e uma vitória (2 x 1 na Suíça). Nas quartas de final, bateu a Grã Bretanha nos pênaltis, depois de empatar em 1 x 1 no tempo normal. O destaque do time é o atacante Park Chu-Young, do Arsenal, que disputou a Copa de 2010 na África do Sul e fez um gol, contra a Nigéria, na fase de grupos. No clube inglês desde 2011, fez apenas cinco partidas e um gol. Na vitória sobre a Suíça, na fase de grupos das Olimpíadas, marcou o primeiro gol sul-coreano.

Final feminina será reedição do Mundial Japonesas e americanas vão se encontrar em mais uma decisão. Agora, o duelo vale ouro

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Japão fez valer o favoritismo e bateu a França por 2 a 1 na primeira semifinal do futebol feminino dos Jogos de Londres 2012. O primeiro gol foi de uma das carrascas brasileiras, Ogimi, aos 32 minutos do primeiro tempo, após vacilo da goleira Sarah Bouhaddi. O segundo veio aos 4 minutos da etapa final, com Sakaguchi, de cabeça. As francesas pressionaram e descontaram aos 36, com Le Sommer. Dois minutos mais tarde, a autora do gol sofreu pênalti, mas Bussaglia, a capitã das francesas, bateu para fora. Na outra semifinal, a zebra quase passeou, mas os Estados Unidos se garantiram na final ao bater o Canadá por 4 a 3. As ca-

nadenses venciam o jogo por um a zero, gol de Sinclair, mas as americanas empataram com Rapinoe. Sinclair fez seu segundo gol e Rapinoe, novamente, empatou. As canadenses marcaram de novo com Sinclair e, mais uma vez, os Estados Unidos empataram, de pênalti, com a craque Wamback. O jogo foi para a prorrogação e, já nos acréscimos do segundo tempo, Morgan, de cabeça, matou as canadenses. A final acontece na quintafeira e é uma reedição da final da Copa do Mundo da Alemanha, em 2011. Na ocasião, as japonesas venceram as americanas na disputa por pênaltis e se tornaram, pela primeira vez, campeãs do mundo.



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GINÁSTICA OLÍMPICA

O super-homem

Arthur Zanetti entra para a história ao conquistar o ouro — a primeira medalha olímpica da ginástica brasileira Por Pedro Proença

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rthur Zanetti colocou a ginástica artística brasileira de vez na história das Olimpíadas. Ele conseguiu a medalha de ouro na final das argolas, com a nota 15.900, à frente do chinês Yibing Chen, campeão olímpico em Pequim, que levou a prata (15.800) e do italiano Matteo Morandi, bronze (15.733). Zanetti foi o último dos classificados para a final a competir. “Não fiquei olhando a atuação dos outros. Concentrei-me no que teria que fazer e deu certo”, disse o ginasta, logo após a confirmação da medalha de ouro. Quando subiu às argolas, mostrou segurança para fazer uma série perfeita. Mesclou movimentos que mostravam força e flexibilidade (ficando pendurado horizontalmente e de ponta cabeça) com manobras de alto grau de dificuldade, como um duplo mortal e o Cristo, até sair do aparelho com um belo giro de corpo. A cada movimento, o ginásio lotado o aplaudia. Só não foi absolutamente perfeito porque, na aterrissagem, deixou o pé direito escapar um pouquinho. Nada, porém, que lhe comprometesse a conquista da medalha. Certo disso, Zanetti saiu das argolas e foi dr um abraço em seu treinador, Marcos Goto. Ter sido o último a se exibir fez parte da estratégia para chegar ao ouro. O sorteio realizado antes das Olimpíadas determinava que o ginasta com a melhor nota na etapa classificatória da semifinal abriria a série na final. Com isso, o chinês Yibing Chen, que recebera 15.858, abriu a prova. Os juízes lhe concederam 15.800 (6.800 pela dificuldade e 9.000 pela execução). “Nós não queríamos que o Zanetti competisse primeiro. Por isso, demos uma segurada na

etapa classificatória”, revelou Marcos Goto. O motivo? Os juízes normalmente vão modulando as notas ao longo da prova e quase nunca dão a nota máxima para quem salta primeiro. Um a um os ginastas tentavam alcançá-lo. E fracassavam. Zanetti, porém, chegou perto da perfeição: ele empatou com o asiático em dificuldade e ganhou 100 pontos a mais pela execução. Com o ouro, Zanetti espera que

das argolas a ginástica receba mais incentivos no país. “Tomara que a medalha abra mais portas para a ginástica, que os clubes incentivem e que o país obtenha resultados melhores”, disse o atleta.

Treino e blindagem

Além da técnica, força e disciplina — são quatro horas diárias de treino —, o técnico Goto considera que o lado psicológico foi fundamental para o ouro do gi-

nasta: “Condição física e técnica todos têm. Nessa hora, o que vale mesmo é o preparo psicológico e um bom controle emocional para o atleta desenvolver o que sabe”. Para Klayler Mourthe, supervisor da seleção brasileira de ginástica, o fato de Zanetti ser um atleta que trace claramente seus objetivos faz com que fique tranquilo nos momentos decisivos. “Ele é muito focado e tem uma equipe que trabalha em harmonia”, avalia. E, apesar dos 22 anos, Zanetti já disputou dois mundiais. “É uma bagagem muito grande para uma pessoa tão jovem”, avalia o ex-ginasta Mosiah Rodrigues.


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13 Pai dá uma de Professor Pardal e cria aparelhos

disciplina O técnico Goto ao lado de Arthur: treinos duros

REUTERS/Brian Snyder

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pai de Arthur Zanetti chama-se Archimedes, mas bem que poderia ser professor Pardal. Engenheiro de formação, ele é um dos grandes responsáveis pelo sucesso do filho. Quando Zanetti começou a treinar, em 1997, seu pai decidiu usar o talento na profissão para construir e improvisar alguns aparelhos nos quais o menino pudesse praticar em casa. Para Klayler Mourthe, supervisor da seleção brasileira de ginástica, essa ajuda do pai foi fundamental. “A maioria dos grandes atletas tem na família uma célula de apoio fundamental. E com o Arthur é assim. O pai dele dá muita força”, diz Mourthe. E a ajuda de Archimedes não se limitou a construir aparelhos para o filho. Ele também conserta e constrói equipamentos para a SERC Santa Maria, local no qual Zanetti e outros ginastas da cidade treinam. “O Archimedes ajuda demais. Ele dá uma consertada nos equipamentos. Além disso, quando eu viajo e tiro foto de algum aparelho, mostro para ele, que vai lá e constrói. É muito bom para a gente”, elogia o treinador Marcos Goto.

Ouro é fruto de 15 anos de treinamento

Do amarelão ao ouro

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om apenas 1,56m, Arthur Zanetti é um pequeno gigante. O corpo diminuto abriga uma potência muscular enorme, fruto das repetições nos exercícios de argola, que lhe conferiram bíceps, tríceps e trapézios invejáveis. Ele treina ginástica desde os sete anos de idade, sempre no SERC Santa Maria, de São Caetano do Sul (SP). Em sua galeria de medalhas, além do ouro de ontem, figuram: prata no Mundial do Japão em 2011; prata nas argolas e ouro por equipes no Pan de Gudalajara em 2011; ouro nos Jogos Sul-americanos em 2010; prata na etapa de Stuttgart da Copa do Mundo de 2010; bronze na etapa da Eslovênia do mesmo torneio, em 2008. Zanetti treina desde 1997, já competiu diversas vezes fora do país e enfrentou três lesões antes da medalha olímpica. Em 2003, chegou a ficar parado por seis meses por causa de uma contusão no punho direito. Em 2005 e 2007, operou o ombro direito.

Após fiascos de Diego Hypólito e Daiane dos Santos, medalha de Zanetti consagra a ginástica brasileira em Londres

Phil Walter/Getty Images

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epois de ser bicampeão mundial, esperava-se que Diego Hypólito ratificasse seu talento em Londres e trouxesse a primeira medalha olímpica para a ginástica brasileira. Porém, ele sofreu uma queda no solo, ficou com a nota 13.766 e acabou na 11ª posição (somente os oito primeiros se classificavam). Sem desculpas pelos erros, admitiu que amarelou. Sua irmã, Daniele, também errou na prova de solo e foi desclassificada. Daiane dos Santos é outra campeã mundial que fracassou nas suas tentativas de conquistar a medalha olímpica. Em Londres, ficou em 13º no solo e não se classificou para a final. Na prova por equipes, as meninas brasileiras tampouco foram capazes de se classificar para a final. Sérgio Sassaki começou a elevar o moral dos brasileiros ao chegar à final de todos os aparelhos. Ele obteve um 10º lugar, fazendo 88.965 pontos. Mas a consagração veio mesmo com o ouro de Zanetti. “Foi inquestionável, ele derrotou o campeão olímpico e bicampeão mundial. Não foi uma vitória por ausência de adversários, foi puro talento”, disse o ex-ginasta Mosiah Rodrigues. Para Diego Hypólito, esse era o resultado que faltava à ginástica brasileira. “Essa medalha foi buscada por muitos atletas. Não é só de um, é de todos. Fiquei muito emocionado com ela. Era a que faltava, a que eu sonhei tanto em conseguir”, disse o atleta.


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hipismo

loja de antiguidades Por Fábio Altman, de Londres

Por equipes, não deu!

Os recordes da BBC em Londres 1948

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Brasil fica em oitavo, mas coloca Pessoa e Doda nas finais

s 9,63 segundos do recorde olímpico de Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, representaram outra marca espetacular: audiência pela televisão, em todo o mundo, de 1,5 bilhão de pessoas. Apenas no Reino Unido foram 20 milhões de pessoas ligadas na veneranda BBC, mais gente que na transmissão da missa e féretro da princesa Diana, em 1997. Um a cada três britânicos acompanhou o raio jamaicano. É um número ainda mais espetacular considerandose a bizarra decisão — ainda que comercialmente compreensível — da emissora americana NBC de não exibir a Olimpíada ao vivo, mas apenas no horário nobre, a partir das 9 da noite. Ou seja: os americanos não viram Bolt pela TV. Ligue-se o controle remoto no botão 1948, o do ano da segunda Olimpíada realizada em Londres, a primeira com televisão (não ao vivo, à exceção da região central de Londres), e o que se vê são avanços descomunais. A Olimpíada da Austeridade, como ficou conhecida, a primeira depois da Segunda Guerra, foi exibida, com atraso, para 58 países e um público total, no sofá, de 500 000 pessoas. A BBC tinha comprado dos Estados Unidos equipamento novo, com destaque para o cabo coaxial que ligava o centro de transmissão, na região central da capital inglesa, ao estádio de Wembley. Ali, havia 16 — dezesseis! — lugares para locutores. Quantidade igual à alocada no Empire Pool, onde foram realizadas as disputas de boxe e as provas de natação. Apertemos então o controle remoto de volta a 2012. A BBC transmite todas as competições numa grade de canais alternativos acessados pelo celebrado “botão vermelho” que faz a alegria dos britânicos. Serão, até 12 de agosto, 2 500 horas de esporte, o equivalente a 100 dias em jornadas normais, não olímpicas. Há um site na internet com acesso ao vivo a tudo, o tempo todo, e um aplicativo para smartphones que já foi baixado por 1,5 milhões de pessoas no Reino Unido — três vezes a audiência global de 1948. É salto semelhante ao do tempo estabelecido nos 100 metros — os 9,63 segundos de Bolt parecem de outro mundo (e são) quando comparados aos 10,5 segundos do americano Barney Ewell. Com esse tempo ele não chegaria à final de 2012, e adeus BBC.

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equipe brasileira de saltos não teve um bom dia na manhã de ontem, terminando a disputa de equipes em oitavo. O Brasil vinha com apenas oito pontos descontados da primeira fase da disputa e tinha chances de pódio. Mas um problema com o conjunto José Roberto Reynoso Fernandez Filho/Maestro St. Lois pesou. O primeiro brasileiro a entrar na pista foi Doda Miranda, que vinha zerado. Ele acabou perdendo oito pontos na terceira rodada. Na classificação individual, Doda ficou em 11º, empatado com outros 10 cavaleiros. José Roberto entrou pouco depois, mas um atraso na saída do cavaleiro atrapalhou seu desempenho. Ele recebeu diversas penalidades e deixou a pista com 46 pontos perdidos. Somados aos 46 da primeira rodada, ficou na última posição e foi eliminado. O Brasil já não tinha mais chance de pódio quando Rodrigo Pessoa entrou. O capitão da equipe perdeu cinco pontos, que somados aos cinco anteriores, o deixaram na 25ª posição. Na disputa pelo ouro, os sauditas vinham na liderança, mas sofreram uma queda e acabaram em terceiro. Em primeiro, ficou a Grã-Bretanha, após desempate com a Holanda. Os 35 cavaleiros com melhores resultados avançaram para as finais individuais, na quarta. Entre eles, Pessoa e Doda. A boa notícia para os brasileiros é que os pontos serão zerados.

Londres 1948 foi exibida, com atraso, para 58 países e 500.000 pessoas

ainda no páreo O cavaleiro brasileiro Doda não foi bem ontem, mas ainda pode ganhar medalha no individual

iatismo

Brasil volta ao mar com chances de medalha

n BOAS CHANCES Ana Barbachan e Fernanda Oliveira estão na quinta posição

divulgação

s brasileiras Ana Barbachan e Fernanda Oliveira, da classe 470 feminina, voltam ao mar hoje por duas vezes: às 8h10, para a sétima regata, e às 9h40, para a oitava. Após três dias e seis corridas – com uma vitória –, Ana e Fernanda estão na quinta colocação geral, 23 pontos atrás das britânicas Saskia Clark e Hannah Mills, que lideram a competição. Amanhã, elas voltam ao mar para o último dia de classificação para a Medal Race, que acontece na sexta -feira e terá apenas as dez melhores duplas. Nas demais classes, o Brasil não tem mais chances de medalha.

Pascal Lauener/ reuters

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n londres 1948 A BBC tinha comprado equipamentos dos EUA



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basquete

brasileiro do dia Por Alexandre Salvador, de Londres

From Me To You

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Brasil vence Espanha e vai pegar Argentina Seleção termina em segundo lugar no grupo e terá que vencer os “hermanos” para seguir na briga por medalha Por Olavo Guerra

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epois de três quartos com um mau aproveitamento nos arremessos, o Brasil jogou muito no último período e virou o jogo pra cima da Espanha, vencendo por 88 a 82. O destaque brasileiro foi Leandrinho, que acertou importantes bolas da linha dos três pontos no fim do jogo. Com a vitória, o Brasil completou a fase de grupos em segundo lugar na sua chave e vai enfrentar a Argentina, amanhã, no confronto mata-mata das quartas-de-final. Se passar por esse desafio, vai ter de encarar o vencedor de EUA x Austrália. O Brasil não foi bem no começo do jogo de ontem, principalmente na conclusão das jogadas, por isso, viu a os espanhóis imprimirem seu ritmo. Pau Gasol começou o jogo muito bem e

ajudou sua equipe a vencer o primeiro quarto por 26 a 17. A seleção melhorou a pontaria no começo do segundo quarto e, não só buscou, como virou o placar por alguns minutos. Porém, o desempenho dos arremessos voltou a cair e a Espanha fechou a etapa vencendo, por 44 a 38. Os erros dos comandados de Rúben Magnano continuaram na terceira etapa. O bom aproveitamento dos adversários não deixava o Brasil encostar no placar. A seleção passou a valorizar mais a posse de bola, o que surtiu um efeito positivo, mas a Espanha continuava praticamente sem errar arremessos. No fim do quarto, a vantagem espanhola era de nove pontos: 66 a 57. O Brasil começou o último quarto muito bem, com duas bolas de três de Marquinhos. Faltando 7 minutos, Caio Torres cometeu a quinta falta e teve que

sair do jogo. Mas, com duas bolas de três, Leandrinho virou a partida, 75 a 73. O Brasil manteve a vantagem na casa dos 6 pontos para fechar em 88 a 82. Outros resultados: Pelo grupo A, a Lituânia venceu a Tunísia por 76 a 63 e garantiu vaga na próxima fase, com um quarto lugar. Os franceses bateram os nigerianos por 79 a 73. Pelo grupo B, além da vitória brasileira, a Austrália, no último arremesso, bateu os russos por 82 a 80, e a Grã-Bretanha venceu a China, 90 a 58. No último jogo do dia, os Estados Unidos superaram a Argentina por 126 a 97. quartas-de-final: Além de Brasil x Argentina, a fase de mata-mata terá os seguintes confrontos: Estados Unidos x Austrália, França x Espanha e Rússia x Lituânia.

Mais do que admiração, Dórea tem muito carinho por seus pupilos

alexandre battibugli

Christian Petersen/Getty Images

decisivo Com 11 pontos, Splitter sacramentou a vitória com essa enterrada

ntes de ir ao personagem desta coluna, uma reflexão. Como bem disse o mestre Sergio Xavier, na edição de ontem do Jornal Placar, “a cada quatro anos, fazemos projeções otimistas e caímos em depressão quando as medalhas não brotam.” Os tropeços brasileiros da última semana levaram muitos brasileiros, inclusive nós jornalistas, à calculadora e ao calendário. Será que até o próximo domingo, quando fecham-se as cortinas olímpicas, o Brasil atingirá a meta de 15 medalhas? Depois da derrota do boxeador Everton Lopes (personagem já retratado nesse espaço), comecei a ceder ao sentimento acima descrito pelo colega. Mas estava errado ao me preocupar. O boxe baiano traria sim uma medalha para o Brasil, mas ela viria por outras mãos. A também soteropolitana Adriana Araújo é quem vai tirar o Brasil da fila no boxe olímpico. Os dois boxeadores são membros da célebre academia Champion, tocada e idealizada por Luiz Carlos Dórea, que como você já leu nesse espaço foi o técnico de Acelino Popó Freitas e do atual campeão do UFC Júnior Cigano. Dórea fala com muito orgulho de sua pupila olímpica, e com muita confiança no seu potencial: “O resultado de hoje não é surpresa nenhuma. A Adriana é sete vezes campeã sulamericana. Ela tem uma mão muito pesada, é muito forte em relação as adversárias de sua categoria. É uma nocauteadora nata.” Mais do que admiração, Dórea tem muito carinho por seus atletas. “Eles são uma extensão da minha família”, diz o baiano de 47 anos, 32 deles vividos para o boxe. E todo o afeto do mestre por seus comandados é correspondido na mesma intensidade, como fica evidente na mensagem enviada por Adriana a seu treinador, poucas horas após a sua apresentação e reproduzida abaixo. Meu professor, Você já colocou no seu currículo que é um medalhista olímpico? Fico feliz, Pro, em retribuir tudo o que você fez por mim. Me estruturou tecnicamente e mentalmente pra chegar aqui. Sei que você não é apenas um treinador para mim, mas um grande pai. É o único presente que posso lhe dar em toda minha trajetória, minha carreira. Te amo, Pro, e estou preparada pra buscar mais. Os ares britânicos, que inspiraram Lennon e McCartney a escrever a música que dá título a essa coluna, parecem deixam até nossos atletas mais sentimentais. Que esse amor traga mais medalhas, então.

n fim do jejum Adriana tirou o boxe brasileiro da fila por medalha



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vôlei de praia

Vitória de tirar o fôlego salva Alison e Emanuel

n é tudo ou nada Juliana (no peixinho) e Larissa têm ampla vantagem no confronto direto com as adversárias de hoje

Ryan Pierse/Getty Images

Cotados para brigar pela medalha de ouro, brasileiros sofrem para derrotar dupla polonesa, mas passam para as semifinais

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Dupla brasileira encara “freguesas” por medalha Em 22 jogos, Juliana e Larrissa venceram 18 contra as adversárias de hoje. Vitória garante prata para a dupla Por Marcos Sergio Silva, de Londres

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e currículo ganhasse jogo, a vaga na final das duplas de vôlei de praia feminino já estaria garantida para as campeãs mundiais Juliana e Larissa. Contra as norte-americanas Kerri Walsh e April Ross, as brasileiras têm 18 vitórias em 22 confrontos. E não perdem há nove jogos – ou, se você prefir, mais de dois anos. Mas a prova que vale acontece hoje, no Horse Guards Parade, no centro de Londres. “É, mas é uma dupla muito perigosa”, diz Juliana, considerada a melhor jogadora de vôlei de praia do ano passado. “A gente já imaginava que elas fossem cruzar o nosso caminho. São duas jogadoras altas e que sabem jogar. Va-

mos procurar estudar bastante o jogo delas, como fizemos com as alemãs (Goller e Ludwig, derrotadas no domingo).” As brasileiras disputaram cinco partidas até agora e venceram todas. Em 2008, elas eram favoritas para a medalha de ouro em Pequim, mas uma lesão no joelho tirou Juliana da competição – ela foi substituída pela ex-jogadora de vôlei de quadra Ana Paula, que caiu com Larissa nas quartas de final do torneio. “Foi uma fatalidade (o que aconteceu antes de Pequim), mas me fortaleceu para estes jogos. Eu disse que, a partir dali, começaria a me preparar para Londres. Não parei de trabalhar um dia”, afirmou Juliana, que rompeu o ligamento anterior cruzado do joelho direito um mês antes da Olimpíada de 2008.

Se vencerem a dupla norteamericanas, as meninas já terão conquistado a décima medalha do vôlei de praia brasileiro em Olimpíadas. Até agora, o currículo do Brasil é de duas medalhas de ouro (conquistadas por Jacqueline e Sandra, em 1996, e Ricardo e Emanuel, em 2004), cinco de prata e duas de bronze. “Ainda não perdemos nenhum set, mas não é nada fácil chegar até onde chegamos. Passamos por uma guerra na primeira fase, principalmente porque não estávamos adaptadas. Esperamos há oito anos por isso. Demos mais um passo”, disse Larissa. “Pois é, estamos realizando um sonho de oito anos aqui em Londres. A Larissa me deu força (depois da contusão, em 2008) e foi importante passar por isso”, afirma Juliana.

m um jogo disputadíssimo, em que o equilíbrio emocional pesou no resultado, Alison e Emanuel conseguiram superar a dupla polonesa Mariusz Prudel e Grzegorz Fijalek, por 2 sets a 1 (21/17, 16/21 e 17/15), e já figuram entre as quatro melhores duplas do torneio de vôlei de praia de Londres. Com mais esta vitória, Emanuel chega à terceira semifinal em cinco participações olímpicas. O curitibano, de 39 anos, também é recordista em partidas de vôlei de praia nos Jogos - ele já disputou as Olimpíadas de Atlanta 1996, Sydney 2000, Atenas 2004 e Pequim 2008, conquistando a medalha de ouro na Grécia e a de bronze na China. Alison disputa sua primeira olímpiada em Londres. No confronto contra Prudel e Fijalek, a dupla brasileira chegou a estar perdendo o tie-break por 11 a 8 e precisou salvar um matchpoint no 14 a 13 para seguir no torneio. No próximo duelo, pelas

semifinais, a ser realizado amanhã, Emanuel e Alison enfrentarão a dupla Plavins e Smedin, da Letônia, que eliminaram os americanos Rosenthal e Gibb. “A gente hoje teve momentos ruins, mas conseguiu manter a cabeça fria para quando as coisas não estavam dando certo. Nosso saque não entrou muito bem e essa dupla polonesa não é boba. Foi campeã sub-21 e vem jogar aqui sem responsabilidade. O que aconteceu aqui foi mérito deles também”, destacou Alison. Já Ricardo e Pedro Cunha não tiveram a mesma sorte dos colegas e foram eliminados pela dupla alemã Brink e Reckermann, no outro confronto pelas quartas de finais. Os brasileiros perderam por 2 sets a 0 (15/21 e 19/21), em um jogo marcado pela nítida superioridade dos rivais. A dupla verde amarela reconheceu que não teve tempo para reverter o placar e lamentou a derrota.

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omo as brasileiras, as norte-americanas Jen Kessy e April Ross ainda não perderam partidas na Olimpíada de Londres. Mas sets sim: na primeira fase, elas deixaram as espanholas Baquerize/Fernandez e as holandesas Van Iersel/Keizer equilibrarem o jogo. No domingo, logo após a partida contra as tchecas Kristyna Kolocova e Marketa Slukowa, vencida

pelas americanas por 2 sets a 0, a dupla elogiou as brasileiras. “A gente sabe que está um nível abaixo das brasileiras. Elas formam um time fenomenal”, disse Kessy. “É pensar que podemos ser mais agressivas e concentradas até mais que nessa partida. E vencer.” A última vitória das norte-americanas aconteceu em Xangai, em 9 de maio de 2010. Desde então,

são nove vitórias brasileiras, a última também em Xangai, em 4 de maio deste ano. Se passarem por Kessy e April, Juliana e Larissa terão um desafio ainda maior. Na outra semifinal estão as medalhistas olímpicas Walsh e May (ouro em Atenas e Pequim) e as chinesas Chen Xue e Zhang Xi (bronze em Pequim). O confronto também acontece hoje.

Ryan Pierse/Getty Images

Americanas admitem: estão num nível abaixo

n aquele abraço! Emanuel e Alison superam poloneses em jogo tenso



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VÔLEI

London Calling Por Giancarlo Lepiani, de Londres

Brasil enfrenta carrasca

Rocket Man

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vitória antológica de Usain Bolt nos 100 metros rasos não foi a única façanha vista no domingo no Estádio Olímpico de Londres. Na noite da apoteose do jamaicano em Londres, um cidadão rotundo e desalinhado, enfiado no meio da torcida, numa cadeira do anel inferior do estádio, também foi aclamado ao ter seu rosto exibido nos telões. Numa cena de fazer inveja a qualquer político do planeta - que o diga o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, campeoníssimo de popularidade nas pesquisas de opinião, mas alvo de uma estrondosa vaia durante a abertura do Pan de 2007 -, o prefeito de Londres, Boris Johnson, mereceu aplausos e até gritinhos, num improvável caso de celebridade na austera vida política do país-sede. Não foi essa, porém, a cena mais inusitada da trajetória olímpica do prefeito. Na semana passada, Johnson amarrou-se a uma tirolesa, vestiu um capacete e agarrou uma bandeira britânica em cada mão. Estacionou no meio do percurso (assista no vídeo abaixo). Pendurado bisonhamente com as pernas ao vento durante cerca de cinco minutos, teria sido ridicularizado pelo país inteiro não fosse Boris Johnson, o prefeito pândego de que tudo se espera. Apesar de impagável, a imagem ocupou apenas espaços secundários nos jornais londrinos. Na capital britânica, as excentricidades do homem que governa a cidade já não são mais notícia. “Se fosse com qualquer outro, teria sido um desastre. Com Boris, é um triunfo”, disse o primeiro-ministro David Cameron, com uma ponta de inveja. “Londres tem sorte de ter alguém como ele”, completou o líder dos conservadores. Cameron, aliás, sabe bem do poder e do carisma do prefeito. Desde sua reeleição, em maio deste ano, Boris Johnson é apontado como possível candidato a sucedêlo no futuro. Mais do que um lunático qualquer, portanto, trata-se de um político habilíssimo e em franca ascensão. Nascido em Nova York (tem dupla nacionalidade), Boris Johnson tem 48 anos, é casado com uma advogada e assumiu a prefeitura em 2008. Antes de entrar na política, era jornalista - passou pelos tradicionalíssimos diários The Times e Daily Telegraph. Outros episódios curiosos de seu currículo olímpico: em Pequim-2008, provocou um pequeno incidente diplomático ao insistir que o tênis de mesa não era uma criação chinesa, mas sim dos britânicos; antes dos Jogos de Londres, apareceu numa cerimônia de gala do COI e recitou uma ode olímpica - em grego antigo, evidentemente. Famoso por citar Homero e Virgílio em seus discursos, o prefeito formado em estudos clássicos mas com impressionante aceitação popular é um foguete na política e uma das estrelas da Olimpíada - ainda que seja a figura menos atlética dos Jogos de Londres.

A grandalhona Gamova é um fantasma para as brasileiras. Praticamente sozinha, ela já eliminou o Brasil nas Olimpíadas de Atenas e nas Copas do Mundo de 2006 e 2010

Da redação

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O prefeito de Londres mereceu aplausos e até gritinhos ao aparecer no telão

n GIGANTE Gamova é a principal pontuadora da Rússia

Elsa/Getty Images

Masculino bate Alemanha e fica em 2º

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ão foi tão fácil quanto se pensava, mas o Brasil bateu a Alemanha por 3 sets a 0 (25/21, 25/22 e 25/19). Com o resultado, a seleção confirmou o segundo lugar do grupo B. Bernardinho aproveitou para dar mais ritmo a Giba, Rodrigão, Wallace, Ricardinho e Thiago. O Brasil voltará às quadras amanhã, pelas quartas-de-final contra Polônia ou Argentina. O adversário e o horário serão definidos por sorteio. Talvez relaxados por já estarem classificados, o Brasil, que promoveu as entradas do oposto Wallace e de Ricardinho, entrou mais relaxado no primeiro set. Os alemães, por seu turno, começaram o jogo forçando o saque e atacando com violência. Com isso, criou dificuldades para a recepção brasileira e o duelo foi disputado ponto a ponto até a seleção brasileira conseguir fechar o set em 25/21. Os alemães voltaram um pouco melhor para o segundo set, que seguiu disputado na mesma toada. Com Giba em quadra, o Brasil chegou a estar perdendo por 20 a 17, mas imprimiu uma reação impressionante para fechar em 25 a 22, com Ricardinho mandando muito bem no saque. No terceiro set, o Brasil voltou mais agressiv no ataque. A Alemanha cometeu muitos erros na recepcção. O oposto reserva Thiago Alves entrou muito bem, virando muitas bolas na rede. Wallace era outro que seguia distribuindo mísseis por atacado. A consistência brasileira levou a equipe a abrir 12/7 e, posteriormente 17/10, para finalmente fechar em 25/19.

Alexander Hassenstein/Getty Images

epois de se classificar para as quartas de final de forma pouco confortável, em último lugar no grupo, a seleção feminina de vôlei entra em quadra hoje disposta a recomeçar sua história nas Olimpíadas de Londres. O desafio de apagar os maus resultados, no entanto, não é nada fácil. Afinal, o time pega logo no primeiro confronto do mata-mata, às 11 horas, a forte seleção da Rússia, que tem tradição de endurecer os jogos para as brasileiras. Só para lembrar, nas semifinais das Olimpíadas de 2004, o Brasil desperdiçou cinco matchpoints e perdeu para as russas no tie-break. Nos mundiais de 2006 e 2010, as brasileiras sucumbiram na final diante das mesmas adversárias. Em todas essas derrotas há uma protagonista comum: a oposto Ekaterina Gamova, que fez misérias na defesa brasileira em todas as ocasiões: em 2004 foram 32 pontos; em 2006, mais modesta, anotou 28 e, em 2010, numa atuação magnífica, conseguiu 35. É preciso ficar de olho na fera. Para neutralizar a poderosa jogadora russa, o Brasil aposta na força do bloqueio da meio de rede Thaisa. Ela já anotou 66 pontos nas Olimpíadas, 15 dos quais de bloqueio. Zé Roberto considera fundamental que a seleção mantenha seu padrão de excelência da partida contra a Sérvia: “A Rússia tem dois pontos muito fortes de ataque, com Goncharova e Gamova.. É um time que erra pouco, mas erra mais que os Estados Unidos. O mais importante é jogarmos como fizemos na vitória contra a Sérvia, com menos erros”. Além de um bom trabalho no bloqueio, as brasileiras devem forçar mais o saque para dificultar a recepção russa e, consequentemente, os mísseis de Gamova. “É um time que tem um poder de ataque muito grande. São três grandes atacantes de bola alta. O importante é sacar bem para dificultar o passe da levan-tadora”, concorda Sheilla, uma das armas do time brasileiro.

n popularidade Ao lado do primeiro-ministro, Johnson vibra



jornal placar | terça-feira, 7 de agosto de 2012

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radar olímpico

Que pena: faltou 0.06 ponto

Cielo volta para casa e adia férias

F

C

oi por muito pouco. Por apenas 0.06 ponto, as brasileiras Lara Teixeira e Nayara Figueira ficaram fora da decisão olímpica do nado sincronizado, ontem, terminando a competição no 13º lugar, mesma posição obtida na Olimpíada de Pequim, em 2008. Apenas as doze melhores duplas seguem para a disputa de medalhas. Lara e Nayara entraram na piscina ao som da música “O Corpo Humano”, do compositor Arnaldo Antunes, para a etapa de rotina livre. Nesta fase são avaliados dois quesitos: mérito técnico e expressão artística. No primeiro, elas alcançaram 43.570 pontos e no segundo, 43.430, acumulando um total de 87.000 pontos. “Fizemos tudo o que podíamos e o público deu um retorno muito bacana. A nota não foi a que imaginávamos, mas estamos satisfeitas. Agora, só vendo no vídeo o que aconteceu de errado e o que podemos melhorar”, destacou Lara. No dia anterior, durante a etapa de rotina técnica, elas somaram 87.100 pontos - 43.300, em execução, e 43.800, no quesito expressão geral -, fechando a etapa em 12º na tabela, sem sofrer penalidades. Ballestero e Andrea Fuentes Fache, com 192.590.

esar Cielo chegou ontem ao Brasil depois de conquistar o bronze olímpico nos 50 m livre em Londres, e disse que vai retomar os treinamentos o mais rápido possível já visando à disputa do Troféu José Finkel, que começa dia 20. “Eu não posso deixar a peteca cair até porque já se começa a falar em Rio 2016. Férias mesmo, só vou ter em setembro”, disse o nadador, que desembarcou acompanhado da namorada, a Miss Brasil Priscila Machado.

Nadadores trocam críticas no Twitter

A

crítica de Thiago Pereira sobre o que considera vaidade excessiva das nadadoras brasileiras criou um mal-estar entre as colegas. A declaração foi dada ontem durante uma entrevista do medalhista de prata nos 400 m medley. O nadador comparou as colegas às nadadoras americanas, que sequer se importam em se raspar. “Obrigada. Vaidade é importante e ninguém deixa de treinar por conta disso. Ele foi infeliz na colocação”, declarou Joanna Maranhão, em um post no Twitter.

Bellucci volta ao top 40 no ranking

M

esmo sem somar pontos nesta Olimpíada, o tenista Thomaz Bellucci subiu três posições no ranking da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) e agora ocupa o 39º lugar. O brasileiro, eliminado na estreia do torneio de simples pelo francês Jo-Wilfried Tsonga, e na segunda rodada das duplas, pelos norte-americanos Mike e Bob Bryan, foi beneficiado pelo desempenho ruim de outros tenistas em Londres.

Americano pego no doping por maconha

O

Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou ontem a desclassificação do judoca americano Nicholas Depopolo, que foi flagrado no exame antidoping. A presença de um ácido metabólico da maconha foi confirmada na urina do judoca. Ontem, ele tentou se explicar e disse que admitiu ter ingerido comida preparada com maconha, antes de viajar para Londres. Então tá!

Rio 2016 vai botar gringos no samba

Russa ganha ouro, prata e bronze

E

A

e Nayara fizeram bonito e quase chegaram na final

medalha de ouro

Austrália: pouco ouro e muitas críticas

O

s australianos estão incomodados com as poucas medalhas de ouro conquistadas em Londres. Até agora, as duas únicas vieram na natação (revezamento 4x100 m feminino) e na vela (Tom Slingsby, campeão da classe Laser). O desempenho do país, que ainda tem 12 pratas e sete bronzes, vem sendo criticado pela imprensa australiana. Em resposta, o atleta Mitchel Watt, desabafou: “As pessoas têm que entender que não é fácil ganhar um ouro”.

Antonio milena

E

strelas consagradas em Pequim 2008 e Londres 2012, Michael Phelps e Usain Bolt se impressionaram com o desempenho um do outro. “Michael Phelps, suas medalhas de ouro. São muitas suas medalhas de ouro”, disse Bolt. “Ele é fantástico. É o homem mais rápido do mundo. Com um sobrenome desse (Bolt significa raio, em inglês) ele é ainda melhor. É o sobrenome perfeito”, retribuiu Phelps.

medalha de lata

REUTERS/Chris Helgren

Phelps e Bolt trocam elogios

n quase Lara

Chris McGrath/Getty Images

strangeiros de várias nacionalidades irão sambar na cerimônia de encerramento dos Jogos de Londres 2012 no domingo. A exibição da dança brasileira fará parte do evento de oito minutos organizado pelo comitê Rio 2016 que será apresentado após a entrega da bandeira olímpica de Londres para a cidade brasileira.

os 17 anos, a russa Aliya Mustafina finalmente subiu ao lugar mais alto do pódio, ontem, para completar sua coleção de medalhas em Londres. Ela faturou o ouro nas barras assimétricas, superando a chinesa Kexin He (prata) e a britânica Elizabeth Tweddle (bronze). Aliya já tinha ganho a medalha de prata no torneio por equipes e a de bronze no individual geral. O pai dela, Farhad, conquistou a medalha de bronze na luta greco-romana nos Jogos de Montreal, em 1976.

Cães de Murray bombam no Twitter

n Vai para a Sociedade Esportiva e Recreativa Cultural

n Vai para o operador de máquinas Ashley Gill-Webb, acusado

(serc) Santa Maria, de São Caetano do Sul, entidade que formou o campeão olímpico Arthur Zanetti (foto). Sem muito marketing, o departamento de ginástica do clube realiza um trabalho de treinamento com 52 atletas de nível competitivo, além de investir num projeto de formação de novos atletas, que hoje beneficia 300 crianças. A atividade da Serc com a ginástica foi iniciada em 1993, através de uma associação de pais e hoje conta com apoio e verbas da prefeitura local para se manter. Os atletas Francisco Barreto Júnior, o Chico, e Lucas Bitencourt são apostas do clube para futuros jogos olímpicos da modalidade.

de atirar uma garrafa de cerveja na pista de atletismo do Estádio Olímpico de Londres, pouco antes da largada dos 100 m rasos, prova vencida pelo jamaicano Usain Bolt, domingo. A garrafa, por pouco, não atingiu o jamaicano Yohan Blake. Preso logo em seguida, Gill-Webb, de 40 anos de idade, aparentava sinais de embriaguez. Antes de ser detido, o arruaceiro ainda levou um safanão da judoca holandesa Edith Bosch, que acompanhava a prova sentada logo atrás dele. “Um bêbado atirou uma garrafa na pista, bem na minha frente! Dei um tapa nele... Inacreditável!! #raiva #faltaderespeito”, postou a judoca no Twitter. “Eu perdi os 100 m!! Que porcaria!! #grr”.

O

tenista Andy Murray, ouro no torneio de simples e prata no de duplas mistas, postou fotos de seus cães, Maggie May e Rusty, ambos da raça border terrier, com as medalhas olímpicas penduradas no pescoço. Maggie May, que possui até perfil no Twitter e conta com cerca de nove mil seguidores, foi fotografada com a mealha de ouro e “publicou” a imagem com a seguinte mensagem “Aqui estamos amigos... Só para ter certeza que Rusty ficou com a prata, é claro”.


jornal placar | terça-feira, 7 de agosto de 2012

Handebol

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Só pedreira pela frente

Após ótima campanha na primeira fase, brasileiras tentam hoje classificação inédita às semifinais

alexandre battibugli

A

pesar de ter terminado a fase de grupos na liderança, a seleção feminina de handebol não terá um caminho mais fácil até o pódio. Hoje, às 6h, as jogadoras enfrentam a Noruega pelas quartas. As adversárias são as atuais campeãs olímpicas e mundiais, ainda que tenham ficado em quarto lugar na sua chave. O dinamarquês Morten Soubak, que comanda as meninas do Brasil, está confiante. “Surpresas podem acontecer o tempo todo.

tudo ou nada “Será o jogo da nossa vida”, diz a armadora Dê

Estamos apresentando um bom nível e a nossa meta era classificar. Agora estamos preparados para esta fase, que é o mata-mata”. Se sua equipe avançar para a semifinal, já terá conquistado o melhor resultado do handebol brasileiro em uma Olimpíada. Segundo a armadora-direita Deonise Cavaleiro, a Dê, as jogadoras conhecem bem o estilo de jogo das adversárias. “Jogaremos a partida da nossas vidas. E a cada partida temos que pensar assim”, resume. “Estamos confiantes e o nosso ano inteiro mostrou que estamos no caminho certo”.

Independentemente do resultado, a campanha das brasileiras nos primeiros jogos (quatro vitórias e uma derrota) e a garra demonstrada em quadra já chamou a atenção para a modalidade no país. Principalmente, com as frustrantes apresentações de equipes femininas no basquete e no futebol. “Agradeço a oportunidade de estar jogando pelo Brasil, que tem a melhor torcida do mundo. Esse calor e essa energia a gente só encontra no Brasil”, completa Dê. Caso ganhe, o Brasil pega o vencedor de Rússia e Coreia, às 13h. Na primeira fase, as russas derrubaram a invencibilidade das brasileiras, pelo placar de 31 a 27. Outros dois jogos definem as semifinais de quinta (9): Espanha x Croácia e França x Montenegro.

torre de londres Por Carlos Maranhão, de Londres

Refúgio da Olimpíada

L

ondres, nestes dias de competições sem fim, não pensa apenas na Olimpíada. Felizmente, quando se quer escapar das piscinas, pistas e ginásios, há refúgios seguros. Um deles é o restaurante Simpson’s-in-the-Strand, estabelecido, há quase 200 anos, nas imediações da turbulenta Trafalgar Square. Ali, o recorde de velocidade pertence aos dois antigos garçons que, no silencioso salão atapetado, fazem deslizar com certa rapidez os carrinhos de aço bem polido em que trincham na frente dos fieis clientes carnes bovinas escocesas, maturadas durante precisos 28 dias, e cordeiros da Nova Zelândia assados lentamente . Os frequentadores, atualmente, já não vão lá de sobrecasaca, como no tempo de Charles Dickens, é claro, e nem mesmo de gravata, mas vão almoçar com corretos paletós de tweed. Sentem-se em seus próprios domínios, como o ciclista medalha de ouro Bradley Wiggins no Hampton Court Palace. Na quintafeira, após sua refeição solitária e o cálice de vinho do Porto, um robusto senhor que ocupava uma mesa da esquerda dobrou o exemplar cor-de-rosa do Financial Times que estava lendo, cruzou os braços, fechou os olhos e, satisfeito, adormeceu por uns bons cinco minutos, pendendo a cabeça. Os garçons não o incomodaram. São discretos, como convém. Possivelmente, uma das últimas vezes em que interromperam o sossego dos fregueses foi em 1917, durante a Primeira Guerra, quando pediram que o escritor irlandês George Bernard Shaw e outros comensais os acompanhassem de imediato até a adega subterrânea. Naquele momento, um Zeppelin alemão sobrevoava a rua e temia-se que houvesse um bombardeio antes que fosse servido o prato vegetariano do autor de Pigmaleão, que não comia carne e, portanto, jamais teve o prazer de provar o afamado filé Wellington da casa. Agradecido

pelas prontas providências da pacífica brigada, Shaw colocou seu autógrafo, ainda preservado, em uma das paredes da cozinha. Mais ou menos na mesma época, o Simpson’s era um dos pontos favoritos do romancista E.M. Forster. Em seu livro Howards End, que trata das diferenças entre as classes sociais na Inglaterra do início do século XX, na proximidade da Olimpíada de 1908, a primeira em Londres, uma das personagens lamenta que nunca havia tido a oportunidade de ir ao restaurante, lacuna que seria corrigida no mesmo capítulo. Sir Arthur Conan Doyle encerra uma das histórias de Sherlock Holmes com a descrição de um convite do famoso detetive para que ele e seu amigo Watson, desvendado mais um mistério, fossem jantar numa daquelas sólidas mesas iluminadas por dez arandelas e quatro lustres de cristal. Aberto em 1828, o local nunca saiu do número 100 da Strand. “O prédio já foi reformado, evidentemente”, contou um empregado. Quando isso aconteceu? “Há cerca de 100 anos, senhor”, esclareceu. Em uma das paredes junto às escadarias que levam ao bar pode-se ver, emolduradas, as plantas aprovadas pela prefeitura na ocasião. No início era um clube masculino, com anuidade de 1 libra, o que dava direito aos sócios de se acomodarem em poltronas de couro para tomar café, fumar charuto e conversar sobre temas de interesse do império britânico. É o que faziam no período vitoriano o primeiro-ministro Benjamin Disraeli e seu sucessor, William Gladstone. Desde o início, o restaurante faz questão de se manter tão britânico como o Big Ben. Nada de concessões. O banheiro não é toalete, como se sabe uma palavra de origem francesa, mas cloakroom. E o menu não se chama assim. É bill of fare, expressão

equivalente a cardápio. Não há influências continentais visíveis na cozinha, capaz de surpreender quem torce o nariz, compreensivelmente, para a culinária da terra da torta de rim, das gordurosas salsichas e do fish and chips. Junto dos bordeaux e borgonhas, há alguns tintos e brancos ingleses. Além das carnes fatiadas na hora com longas facas (dão aulas em determinados domingos aos interessados em aprender a técnica), serve-se uma saborosa sopa de lagosta, um clássico rosbife com pudim de Yorkshire, uma apreciada truta salmonada e, conforme a descrição do bill of fare, uma seleção de queijos da fazenda. Para provar tais sugestões, com talheres de prata Arthur Price, mesma marca dos pequenos e pesados saleiros e pimenteiros, colocados sobre alvas toalhas engomadas ao lado de vasinhos com folhagens do campo, respirar sua história e ser transportado no tempo paga-se, incluindo vinho e sobremesa, uns 250 reais. Quanto às atividades desportivas, o mais perto que se chega — forçando muito as coisas, há de se reconhecer — é no símbolo do restaurante: um sugestivo cavalinho de perfil, alusão não ao hipismo, que deu à família real uma medalha de prata, mas ao fato de que, nos seus primórdios, o Simpson’s-in-theStrand era um local em que se jogava xadrez. Bem, xadrez não é esporte, mas os cavalheiros ingleses, nas semanas que correm, não vão lá, entre outros motivos, para fugir da agitação dos Jogos Olímpicos?

Aberto em 1828, o Simpson’s nunca saiu do nº 100 da Strand

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100 Strand, WC2R 0EW, Londres, 7836-9112. 12h15/14h45 e 17h45/22h45. Embankment ou Charing Cross. Couvert grátis. Taxa de serviço, 12,5%. Aberto em 1828.


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Na torcida pelo Brasil em Londres 2012


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