Jornal Placar Londres 2012 Ed 19

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edição 19

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SEGUNDA-FEIRA, 13 de agosto de 2012

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GETTY IMAGES

BRONZE

meninos de PRATA

Seleção masculina de vôlei permite virada da Rússia (3x2)

Nos vemos no

Yane Marques surpreende o Brasil e conquista medalha no pentatlo moderno

GETTY IMAGES

Rio 2016

Londres 2012 já é passado. Relembre os melhores momentos e as 17 medalhas conquistadas pelo Brasil

Valterci Santos/AGIF/COB

LONDRES 2012


jornal placar |SEGUNDA-FEIRA, 13 de AGOSTO de 2012

Aquecimento londres 2012 em frases

Editorial

É um sonho realizado. Estou orgulhosa. Espero que seja a última Olimpíada que o Brasil tenha apenas um atleta no pentatlo. Em 2016 essa história vai mudar” A pernambucana Yane Marques, maior

Por Miguel Icassatti

surpresa entre as medalhistas do Brasil, logo após conquistar o bronze no pentatlo moderno

“Eu me sinto privilegiado por ter vestido essa camisa. Quem for vestir minha camisa daqui pra frente, que cuide dela com carinho” O líbero Escadinha, aos prantos, logo após a derrota para a Rússia, praticamente decretando sua aposentadoria na seleção após 12 anos de bons serviços prestados

JORNALPLACAR@abril.com.br

“Desde a partida contra a Rússia, nas quartas de final, usei o mesmo short, a mesma blusa, o mesmo top e a mesma calcinha” A jogadora Paula

qQuadro de medalhas ESTADOS UNIDOS

46

29

29

CHINA

38

27

22

87

3

INGLATERRA

29

17

19

65

4

rússia

24

25

33

82

5

coreia do sul

13

8

7

28

6

Alemanha

11

19

14

44

7

frança

11

11

12

34

8

itália

8

9

11

28

9

4

5

17

104

hungria

8

10

Austrália

7

16

12

35

11

JAPão

7

14

17

38

12

Cazaquistão

7

1

5

13

13

holanda

6

6

8

20 20

14

ucrânia

6

5

9

15

CUBA

5

3

6

14

16

Nova zelândia

5

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5

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irã

4

5

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jamaica

4

4

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república tcheca

4

3

3

10

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coreia do norte

4

0

2

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espanha

3

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brasil

3

5

9

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bielorrússia

3

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áfrica do sul

3

2

1

6

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etiópia

3

1

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croácia

3

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6

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romênia

2

5

2

9

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quênia

2

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5

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dinamarca

2

4

3

9

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azerbaijão

2

2

6

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polônia

2

2

6

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turquia

2

2

1

5

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suíça

2

2

0

4

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lituânia

2

1

2

5

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noruega

2

1

1

4

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canadá

1

5

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18

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suécia

1

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3

8

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colômbia

1

3

4

8

39

geórgia

1

3

4

8

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méxico

1

3

3

7

Eu ganhei, agora posso ir a Disneyworld” A tenista Serena Williams, após se divertir na vitória sobre a russa Maria Sharapova por 6/0 e 6/1 na final do torneio olímpico

“Boa noite, Mister Bond!”

A rainha Elizabeth II, em diálogo com o ator Daneil Craig, intérprete de James Bond no cinema, na festa de abertura dos Jogos

Eu fiz o que pude. Dei o máximo de mim. Acreditei até o final na luta por medalha.”

O brasileiro Marílson Gomes dos Santos, conformado por ter chegado em quinto lugar na maratona olímpica

Clive Rose/Getty Images

1 2

O jamaicano Usain Bolt, medalha de ouro nos 100m, 200m e no revezamento 4 x 100m

Pequeno, em revelação feita no programa Conexão Sportv, acreditando que a superstição ajudou o Brasil a ser medalha de ouro no vôlei feminino

Total

Julian Finney/Getty Images

País

Agora eu sou uma lenda. Consegui meu objetivo. Fiz o que ninguém conseguiu fazer antes.”

Streeter Lecka/Getty Images

S

im, o Brasil teve o melhor desempenho de sua história olímpica, se considerarmos apenas a quantidade de medalhas conquistadas: 17. Parte da meta estabelecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro, portanto, foi cumprida — a entidade esperava 15 pódios. Mas faltaram dois ouros para os cinco desejados. Uma vez que o COB gastou R$ 790 milhões no ciclo olímpico encerrado ontem, cada pódio custou, em média, 46,47 milhões. Em média, pois a distribuição de recursos entre as diversas modalidades é desigual. Para os Jogos do Rio 2016, o COB destinará ainda mais para que o país fique entre os 10 primeiros. Temo que todo o dinheiro a ser investido e quatro anos sejam insuficientes para corrigir as lacunas que persistem no nosso esporte. Ao trabalho, portanto.

Christopher Lee/Getty Images

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Tem muita coisa acontecendo na minha cabeça. Não sei o que vou fazer agora”

O nadador americano Michael Phelps, após conquistar sua 22ª medalha e anunciar sua despedida dos Jogos Olímpicos “Amarelei”

O ginasta Diego Hipólyto, eterno candidato ao ouro, reconhecendo o vexame após a desclassificação na ginástica

Os destaques e o melhor conteúdo exclusivo sobre Londres 2012 na internet Destaques do Site www.abrilemlondres.com.br

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irlanda

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1

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argentina

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Acesse o quadro de medalhas dos Jogos e fique por dentro da colocação final das delegações

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Eslovênia

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sérvia

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Veja as melhores imagens do último dia de competições da Olimpíada de 2012

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tunísia

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Cerimônia de encerramento: confira como foi a festa que finalizou as disputas em Londres


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história olímpica

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O país das 108 medalhas O Brasil disputa os Jogos Olímpicos desde a edição de Antuérpia 1920. Foi somente em Londres 2012 que alcançou a marca da 100ª medalha. Confira o desempenho do país ao longo desses 92 anos de participação LEGENDA

balde de medalhas 2

a primeira vez

Não vieram os cinco ouros, mas o Brasil sai de Londres 2012 com o maior número de pódios de sua história: 17 ao todo, dos quais 3 foram ouro, cinco pratas e nove bronzes.

Na primeira vez que atletas brasileiros disputaram os Jogos Olímpicos, em Antuérpia 1920, o único esporte a trazer medalhas foi o tiro, com um bronze, uma prata e o ouro do tenente Guilherme Paraense.

Medalhas de Ouro Medalhas de Prata Medalhas de Bronze

2012

1920

Londres

Antuérpia

INFOGRÁFICO: THALES MOLINA

Total de medalhas nestes Jogos

maldito padre

Um irlandês maluco cruzou o caminho de Vanderlei Cordeiro, que vencia a maratona. O brasileiro levou o bronze e a honraria.

2008 Pequim

1924 Paris

o primeiro ídolo Adhemar Ferreira da Silva ganhou dois ouros no salto triplo, em 1952 e 1956

2004 Atenas

1928 Amsterdã

Medalha Barão Pierre de Coubertin

2000

1932

Sydney

Los Angeles

1936

1996 Atlanta

Berlin

0

1992

1948

Barcelona 5

ouro e recorde olímpico Joaquim Cruz ganhou os 800 metros em 1min43s

1988 Seul

10

1984

Em Atlanta 1996 o Brasil teve o seu melhor desempenho até então, ao conquistar 15 medalhas olímpicas.

1952 Helsinque

1956

Los Angeles

balde de medalhas 1

Londres

judÔ Chiaki Ishii foi o primeiro brasileiro a ganhar medalha no esporte, o bronze em Munique 1972

Melbourne 1980

1960

Moscou

Roma

15

1976 Montreal

1964

1972

1968

Munique

Cid. do México

Tóquio

AS 108 MEDALHAS Confira a distribuição dos pódios brasileiros ao longo de sua história

23 30 55 OUROS

PRATAS

BRONZES


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VôLei

Sonho do ouro tem final infeliz

Brasi abre 2 a 0 no placar, fica a um ponto do ouro, mas vê russos virarem jogo praticamente ganho Por Marcos Sergio Silva, de Londres esforço inútil Rodrigão e Sidão não pararm o ataque russo

E

sse ouro o Brasil viu de perto, mas não levou. Depois de estar com o match point nas mãos, após abrir 2 sets a 0, a seleção de vôlei masculino deixou a Rússia encostar e perdeu, no tie-break, por 3 sets a 2. Ficou a prata — como em Los Angeles 1984 e Pequim 2008. Foi o dia em que a torcida brasileira amoleceu, depois de mostrar superioridade na arquibancada quando o time estava na frente. Apoiada nos gritos de sempre (“o campeão voltou”, “sou brasileiro, com muito orgulho...”) e nas vaias que sufocavam o rival, ela viu o Brasil posar já com o ouro no peito. Um ouro de tolo. No início, ele parecia certo. Sidão, Murilo e Lucas erravam saques, mas não comprometiam — eles tinham a chance de corrigir as falhas se posicionando melhor, à frente. Livre, sem bloqueio, Bruno cravava uma linda bola no vigésimo ponto. Lucas acertava um ace. E Murilo e Wallace abusavam das pancadas. Pobre bloqueio russo. Wallace, na rede, cravou 25 x 19. No segundo set, o Brasil já abria 8 a 4 quando o técnico adversário, Vladimir Alekno, pediu tempo. Não que fizesse diferença. Na volta à quadra, Lucão e Dante cravaram pontos que deixaram o Brasil com dez pontos no marcador. A Rússia tentava e não se aproximava. Chegou a encostar com 16 x 14. Foi quando Bernardinho pediu tempo. Era ter calma para fechar o set. E foi Dante, com uma cortada em diagonal, quem fechou o set em 25 x 20. O ouro parecia perto, mas o jogo continuava difícil.

Para quem tinha dúvidas disso, bastou ver o terceiro set, o mais equilibrado do jogo. Em erros de saque e acertos de bloqueio, Rússia e Brasil se revezavam à frente do marcador. Em uma dessas bolas, até Bernardinho tentou recuperála — sem êxito. Faltando dois pontos, Giba entrou no lugar de Dante e foi para o saque. Em jogada de meio de rede, Lucão deixou o Brasil a um ponto do ouro. Não era daquela vez: na força, o ataque rival

surpreendeu e virou o jogo. E a Rússia venceu por 29 x 27. O quarto set estava tão equilibrado quanto. Havia tensão no elenco. Wallace bufava no erro de bloqueio. Sidão olhava para baixo quando sua bola não entrava. Quando Wallace forçou o saque e errou, era hora de consertar os rumos. Afinal, a Rússia vencia. E lá foi Benardinho conversar. Nada. Em duas falhas de ataque de Thiago, já estava em 21 x 14. Thiago, en-

Bernardinho pede técnico só para seleção

M

n fim de linha? Bernardinho não quer acumular clube e seleção

edalha de prata pela segunda vez consecutiva, depois de conquistar o ouro com a seleção masculina de vôlei em Atenas 2004, o técnico Bernardinho pediu que o período de preparação para a próxima Olimpíada, em 2016, no Rio, seja feito por um técnico exclusivo. Hoje, Bernardinho treina o Unilever além da seleção. “Para um processo como a Olimpíada no Brasil, é preciso um treinador exclusivo. É um processo que vai exigir entrega total. Vai haver uma mudança grande de jogadores, que estão parando. É preciso

ver os jogadores o tempo todo. Se por ventura eu for convidado a continuar, eu não vou continuar com as duas frentes (clube e seleção)”, disse. Bernardinho disse ter pensado sobre a decisão logo depois da partida. Antes de o torneio começar, no entanto, ele já deixava em aberto seu futuro na seleção. Segundo o treinador, é preciso um “período sabático” antes de tomar a decisão. Ele não tem contrato com a seleção, mas fechou com o Unilever até 2013. Na coletiva, ele chorou na frente dos jornalistas. (M.S.S.)

tão, acertou o saque, e a vantagem russa caiu para cinco pontos. E quatro. E três. E dois. Até Wallace errar em jogada de rede. Set point para os russos, que venceram no saque para fora de Murilo. E, aí, tie-break. Ali a vantagem moral era russa. Bernardinho tentava corrigir as falhas, mas ainda era tempo? Como o time, a torcida havia murchado. Era a Rússia quem dominava a quadra e a arquibancada. Eles encaixaram a

defesa e eliminaram as chances de ataque brasileiro. No saque de Thiago, a bola cravada por Muserskiy deixou a Rússia a um ponto do ouro — aquele que ficou bem perto de ser nosso, no terceiro set. O bloqueio de Murilo e Sidão mandou a bola longe. Os russos comemoraram, mas não era hora — o árbitro viu invasão de Muserskiy. Na jogada seguinte, o próprio Muserskiy, em ataque cruzado, definiu o ouro russo.

Cinco jogadores se despedem da seleção

A

Olimpíada de Londres foi a última para pelo menos quatro jogadores do atual grupo da seleção de vôlei masculino. Giba, Dante, Ricardinho, Rodrigão e Serginho anunciaram ontem que não jogam mais pela seleção. Devem continuar a carreira nos clubes ou no vôlei de praia. Dante tomou a decisão por causa dos problemas no joelho esquerdo. Ele deve ser operado assim que chegar ao Brasil. Ele jogou no sacrifício boa parte dos jogos do torneio. Rodrigão vai optar por jogar vôlei de praia. Giba deve continuar sua carreira em clubes. Já Ricardinho tomou a decisão para ficar mais perto da família. “É minha última Olimpíada na seleção, mas pretendo jogar muito tempo ainda. Minhas famílias querem que eu fique em casa, elas não aguentam mais minhas viagens.” O líbero Serginho também fez um discurso emotivo, já passando a bola a um substituto. Bernardinho disse que as saídas são normais e que novas referências aparecerão para 2016. “Esses caras passaram para esse grupo a essência do que a gente fez em 12 anos. O importante é que isso permaneça. Giba, Rodrigão, Ricardo... o que ele fez em termos de ajuda para a gente foi emocionante. Estava lá de back-up o tempo todo.” Para o treinador, Murilo e Bruno têm o perfil de lideranças para a nova geração, que conta ainda com Lucão e Wallace, aproveitados nesta Olimpíada. (M.S.S.)



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pentatlo moderno

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Fechando com chave de bronze

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incansável 1. esgrima; 2. natação; 3. hipismo; 4. tiro; 5. corrida

Pernambucana Yane Marques conquista pódio inédito para o Brasil

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o último dia dos Jogos de Londres, os brasileiros contavam com um ouro no vôlei masculino, talvez alguma medalha na maratona. Mas vibraram com uma pernambucana risonha no pouco conhecido pentatlo moderno. Sem fazer barulho, Yane Marques deu ao Brasil um inesperado bronze a mais. Criado em 1912 pelo próprio Barão de Coubertain, idealizador das Olimpíadas da era moderna, o pentatlo reúne cinco modalidades: esgrima, natação, hipismo, tiro e corrida. São quatro provas, sendo que, na última, os atletas correm 3 quilômetros, parando para cumprir uma série de tiros em um alvo.

Na abertura, a brasileira foi a sexta melhor esgrimista. Em seguida, manteve a regularidade nos 200 metros nado livre e saltou para o segundo do ranking. No hipismo, mesmo sorteada com um cavalo mais velho, a brasileira conduziu bem seu animal pelos obstáculos e foi a nona. Dividia a liderança com a lituana Laura Asadauskaite. Elas partiram juntas no último desafio. No tiro, Yane se destacava, mas a rival era melhor na corrida e se distanciou. Na última volta, a britânica Samantha Murray ainda beliscou o segundo lugar. A brasileira garantiu a medalha e, de repente, todo brasileiro se interessou em saber mais sobre esse tal de pentatlo moderno.

Medalhista descobriu esporte por acaso ascida em Afogados de Ingazeira, em Pernambuco, Yane Marques descobriu a modalidade por acaso, em 2003. Ao ganhar uma prova de biatlo (corrida e natação) em Recife, a jovem foi convidada a fazer parte do efetivo militar-esportivo do Exército por um major, que lhe sugeriu o pentatlo. “Eu não tinha a menor ideia do que era. Quando fui apresentada à modalidade, achei interessante e desafiadora”, diz. Adaptada aos cavalos e à espada e, desde então, conseguiu um ouro no Pan do Rio 2007 e uma prata no de Guadalajara 2011. Além disso, participou dos Jogos de Pequim 2008 e chegou a Londres como terceira colocada no ranking mundial. Os bons resultados da pentatleta levaram sua sobrinha Larissa a se interessar pela modalidade. Yane tornou-se a treinadora da menina de 9 anos. Ainda não é hora de passar o bastão, pois a tia ainda planeja ir ao Rio 2016.

Daniel Ramalho/AGIF/COB

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5

Opinião PLACAR Por Sérgio Xavier Filho, de Londres

Nem pra lá, nem pra cá

N

ós, jornalistas, temos uma mania, quase uma obsessão: achar significados nos fatos, sempre. No esporte, isso é um perigo. Porque tentamos interpretar resultados. Como se sempre eles fossem o farol a iluminar uma nova tendência. O desempenho brasileiro em Londres 2012 é um convite a essas pensatas. Melhoramos ou pioramos? O número de ouros e o total de medalhas está dizendo exatamente o quê? No processo de simplificação do jornalismo, precisamos melhorar ou piorar. Ficar na mesma não vale, é quase a anti-notícia. E aí, melhoramos ou pioramos nos últimos jogos antes do Rio 2016? Do ponto de vista estritamente numérico, lamento, companheiros. Ficamos na mesma. As 17 medalhas conquistadas praticamente nos colocam no mesma patamar de Atlanta e Pequim, quando colhemos 15 medalhas. No quesito ouro, que é o decisivo no

quadro de medalhas, ficamos agora com três medalhas contra as três de Pequim. Em Londres, nos decepcionamos com Cielo, futebol, Hypólitos e Fabiana Murer, nos orgulhamos dos incríveis irmãos Falcão do boxe, fomos surpreendidos pelo gênio das argolas Arthur Zanetti. O basquete ficou pelo caminho, o judô veio com quatro medalhas. O vôlei de praia ficou um pouco abaixo da expectativa, o de quadra, acima. No resumo da ópera, ficamos na mesma. Nem pra lá, nem pra cá. O investimento do esporte aumentou, os resultados ficaram iguais. No mundo olímpico, só se muda de patamar quando há um esforço grande na base. A China fez isso há décadas e disputou com os Estados Unidos a liderança no quadro de medalhas. Esporte nas escolas não dá Ibope nem medalhas no curto prazo. Quando mais demoramos pra plantar, mais tempo pra colher. Essa lição o Brasil demora para aprender.

O investimento do esporte aumentou, os resultados ficaram iguais, na mesma



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legado olímpico n nuzman

Meta do COB para 2016 é ficar entre os 10 maiores medalhistas

Expectativa frustrada com o desempenho de alguns atletas

Por Simone Tobias, de Londres

A

meta do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para 2016 é ficar entre os dez primeiros países em números de medalhas. Para atingir o objetivo, há algumas modalidades que precisariam ser reavaliadas, segundo disse o presidente do COB, Carlos Arthut Nuzman durante a apresentação do balanço da participação do Brasil em Londres 2012. Entre elas, o atletismo, o hipismo, o taekwondo e o futebol feminino, esportes que mais frustram a expectativa de medalha da entidade. Nuzman também citou a natação — com apenas duas medalhas, sem ouro —, a vela (com três regatas finais e somente um bronze) e a ginástica artística feminina, que não passou da fase classificatória e é um dos principais problemas.

“Existe uma briga política dentro da Confederação de Ginástica, mas não podemos nos meter. Ela continua e atrapalhou as atletas. Vejo que teremos problemas pela frente”, afirmou o dirigente, que apresentou também. Com investimento superior a R$ 11 milhões para o evento, o país encerra a passagem pelo Reino Unido com metas atingidas, apesar da decepção com as modalidades que eram promessas. “Tivemos resultados inéditos que traduzem boa atuação e bons resultados. Como no boxe, por exemplo. O vôlei feminino voltou a se reposicionar com uma bela apresentação”, avaliou Nuzman. A delegação brasileira superou o número de atletas em competição — a meta era 250 e vieram 259. Do lado negativo, alcançou menos finais que na Olimpíada de Pequim: foram 35, contra 41 em 2008. Os resultados positivos também foram defendidos pelo

Alaor Filho/AGIF/COB

Nuzman aponta problemas em modalidades que frustraram expectativas

COB. Entre eles o número de medalhas (superando em duas a meta de 15), o primeiro ouro olímpico no judô feminino (com Sarah Menezes, na categoria até 48 kg), primeira medalha da ginástica artística (ouro de Arthur Zanetti nas argolas), a boa cam-

Para Rio 2016, ficam lições importantes Há quatro anos dos primeiros Jogos da América do Sul, COI faz cobranças

A

ntes mesmo da cerimônia de encerramento de Londres 2012, o belga Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), já cobrava o COB sobre Rio 2016. “Estamos pedindo para que o orçamento seja finalizado o mais rápido possível”, avisou, demonstrando-se preocupado. Recentemente, ele foi alertado por Nawal El Moutawakel, chefe dos inspetores dos Jogos no Brasil, de que seria necessária uma “coordenação muito rigorosa” para acelerar o processo. Pelo que parece, eles já se

cansaram da forma como os dirigentes brasileiros de driblam o tema financeiro. Desde que a capital fluminense foi escolhida como sede, há três anos, o COI aguarda uma definição sobre os custos. Vale lembrar que, em Londres, o número chegou a US$ 14,1 bilhões. “Só podemos falar de orçamento quando tivermos todos os projetos em mãos”, justificou-se o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, à revista VEJA. Ele prometeu uma organização ainda melhor do que a vista em Londres. “Temos pon-

tos pontos positivos a nosso favor. Um deles, é a realização de quase toda a competição dentro da cidade, incluindo o iatismo”. São muitas as lições que o os brasileiros precisa tirar dos Jogos britânicos. Uma delas é apostar em esportes individuais para crescer no quarto de medalhas. O antes inexpressivo Cazaquistão, por exemplo, conquistou o dobro de ouros, apostando, principalmente, no levantamento de peso. A mobilidade dos torcedores é outro

panha do judô (com quatro medalhas), do vôlei (quatro medalhas na praia e na quadra) e do boxe (três medalhas). “Não é um trabalho de ontem

(no boxe)”, afirmou o superintendente de esportes, Marcus Vinícius Freire. “Alguém começou e ganhou três medalhas. É um crescimento, uma soma de esforços. Nosso trabalho para 2016 já começou e precisamos ter 13 modalidades com medalhas”.

tópico importante. E esse planejamento precisa ser feito imediatamente para evitar o caos nos transportes. Londres também investiu em instalações esportivas não permanentes. Assim, evitou ficar com um elefante branco nas mãos. O Parque Aquático, por exemplo, terá sua capacidade reduzida de 17500 lugares para 2500, perdendo as enormes arquibancadas. O Rio de Janeiro deve saber aproveitar seus belos cartões postais, como os londrinos fizeram com seus pontos turísticos, cenários de várias provas.



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Atletismo

um conto de duas cidades Por Jonas Oliveira

O máximo não bastou para Marílson Brasileiro acompanhou os africanos em boa parte da prova, mas terminou na 5ª colocação Por Maurício Barros, de Londres

O

corpo de Marílson Gomes dos Santos ao final da maratona olímpica tinha a marca da dor e da dignidade. “Eu nunca corri uma maratona dessa maneira, para chegar do jeito que eu estou agora”, disse. “Foram os últimos dois quilômetros mais difíceis da minha vida. Vim me arrastando, quebrado, totalmente ruim”. A exaustão era consequência de uma estratégia de risco. Marílson planejara acompanhar o primeiro pelotão, que logo foi liderado pelos africanos Abel Kirui e Wilson Kiprotich (Quênia), Ayele Abshero (Etiópia) e Stephen Kiprotich (Uganda). O único jeito de sonhar com medalha era estar com os primeiros e esperar por desistências e diminuições de ritmo no final. “Em Pequim a gente viu atleta perdendo medalha na chegada. Era isso que eu esperava que acontecesse, por isso eu não desisti da prova”. Com largada às 11 horas da manhã, os termômetros marcavam 24 graus e o sol castigava os 105 competidores que enfrentariam o percurso cheio de curvas por pontos turísticos de Londres. Dez atletas foram apresentados pelo locutor oficial do evento, e Marílson estava entre eles. A elite da elite. Logo nos primeiros quilômetros, corredores pegavam esponjas encharcadas para refrescar o corpo. Franck Caldeira chegou a

liderar por alguns minutos, mas não tardou muito para o primeiro pelotão se estabelecer com os três quenianos, o etíope e Marílson. Na altura do Km 25, o brasileiro ficou um pouco para trás, com Kiprotich desgarrado alguns metros na liderança e os outros três africanos o seguindo de perto. Cinco quilômetros depois, Abshero deixou de acompanhar os líderes e virou presa fácil para Marílson, que o ultrapassou e assumiu a quarta posição. A partir daí, o brasileiro passou a torcer por uma nova “quebra” entre os três líderes para subir ao pódio. Enquanto isso, o calor ia fazendo estrago. Os americanos Ryan Hall e Abdi Abdirahman eram apenas dois dos 20 corredores que abandonariam a prova. No trio de líderes, quem demonstrava mais cansaço era Stephen Kiprotich, que chegou a ficar alguns metros para trás de Wilson e Abel. Mas o ugandense renasceu, deu um sprint nos quilômetros finais, assumiu a liderança e venceu a prova. Abel Kirui e Wilson Kiprotich chegaram em segundo e terceiro, respectivamente. Marílson ainda foi ultrapassado pelo eritreu naturalizado americano Meb Keflezighi, terminando em quinto. “Fiz o que pude. Dei o máximo de mim. Acreditei até o final na luta por medalha e saio daqui satisfeito”, disse Marílson, que completou a prova em 2h11min10 (Kiprotich venceu com 2h08min01, longe do recorde mundial de 2h03min38).

n quase Brasileiro Marílson foi o melhor entre os três representantes do país

Três brasileiros chegam entre os 13 melhores

N

ão veio medalha, mas o Brasil teve sua melhor participação olímpica da história na maratona masculina. Colocou dois atletas entre os oito melhores, e seus três representantes terminaram entre os 15 primeiros. Além do 5º lugar de Marílson, Paulo Roberto de Almeida foi o 8º e Franck Caldeira, o 13º colocado. “O Brasil novamente trouxe o que nós temos de melhor. Foi um grande resultado colocar três atletas entre os melhores. Mostra que estamos no caminho para 2016”, disse Franck Caldeira. “Isso para o Brasil foi muito bom. Os meninos correram muito bem, deram o máximo. Se a gente tivesse uma pontuação por equipes, estaríamos bem colocados”, afirmou Marílson.

O

s Jogos de Sydney 2000 foram marcados por um erro da organização que beira o absurdo. Nas competições de ginástica artística, uma sequência de quedas de atletas no salto sobre a mesa causou estranhamento. Foi apenas no meio da competição que se descobriu o motivo da quantidade incomum de falhas: o aparelho havia sido posicionado 5 centímetros abaixo da altura oficial. As atletas tiveram a chance de repetir o salto, mas para algumas o prejuízo físico ou psicológico já estava consumado. Você, leitor, lembrava-se desse episódio? Pois eu confesso que havia me esquecido completamente, até assistir há alguns dias a um programa da BBC. Foi um grave descuido que poderia ter sido evitado, mas é natural que erros aconteçam em um evento tão complexo de se organizar como os Jogos Olímpicos. A lembrança que fica na memória é que Sydney organizou uma das melhores edições de todos os tempos. Londres 2012 passa a ser uma excelente concorrente entre as cidades-sede mais bemsucedidas. Também houve erros da organização – como a troca da bandeira da Coreia do Norte pela Coreia do Sul, ou os assentos vazios em grande parte dos locais de competições. Mas no geral, a Olimpíada foi praticamente impecável. Os turistas se sentiram bem recebidos, o transporte público funcionou bem, as arenas ofereceram conforto mesmo sendo em boa parte temporárias. E para completar, os atletas da Grã-Bretanha tiveram uma performance fantástica, ajudando a elevar o apoio popular. Realizar uma boa Olimpíada logo após Londres não será uma tarefa fácil para o Rio de Janeiro. A posição do Brasil no quadro de medalhas será modesta como sempre – mas isso é de certa forma esperado, e não deverá afetar o ânimo da torcida da casa e a percepção do público internacional. As instalações olímpicas também não serão problema, uma vez que provavelmente terão o mesmo nível das de Londres. Erros de organização, como os de Sydney e Londres poderão acontecer, mas não será isso o que ficará na lembrança das pessoas. Uma grande Olimpíada também é feita de atletas, estádios, recordes, conquistas e momentos de superação. Mas para mim o que faz mesmo uma grande Olimpíada é uma grande cidade, um lugar prazeroso de se viver e visitar. É o que Barcelona, Sydney e Londres têm em comum, e que o Rio de Janeiro provavelmente não alcançará em quatro anos. A festa da torcida brasileira será inigualável, mas a maior e mais duradoura alegria seria ver o Rio de Janeiro usar a Olimpíada como o marco de transformações mais profundas, que a façam merecer de verdade a alcunha de cidade n londres 2012 Instalações provisórias, sem elefantes brancos maravilhosa.

Fazer uma boa Olimpíada logo após Londres não será tarefa fácil para o Rio de Janeiro

Rob Carr/Getty Images

fotos alexandre battibugli

O que faz uma grande Olimpíada?



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12

todas as 17 medalhas do bras

Alison e Emanuel VÔLEI DE PRAIA Alison Conte Cerutti Nascimento: 7 de dezembro de 1985 Local: Vitória (ES) Emanuel Fernando Scheffer Rego Nascimento: 15 de abril de 1973 Local: Curitiba (PR) Campanha em Londres: A dupla era uma das apostas para trazer o ouro. Mas, após uma campanha irretocável, deu azar de encontrar na final os alemães Julius Brink e Jonas Reckermann, que venceram por 2 sets a 1.

Esquiva Falcão Vôlei feminino As 12 jogadoras: Fabiana, Dani Lins, Paula Pequeno, Adenizia, Thaisa, Jaqueline, Fernandinha, Tandara, Natália, Sheila, Fabi e Fê Garay. Técnico: José Roberto Guimarães Campanha em Londres: O Brasil desembarcou em Londres defendendo o título de

Pequim 2008. No entanto, o time chegou a ficar ameaçado de ser eliminado na primeira fase ao ser batido por EUA (3 sets a 1) e Coreia do Sul (3 a 0), mas se salvou ao bater a China (3 a 2) e a Sérvia (3 a 0). Nas quartas, eliminou a Rússia. Na semifinal, atropelou o Japão. Na final, após perder o primeiro set, conseguiu uma virada espetacular para vencer os EUA por 3 a 1.

Arthur Zanetti GINÁSTICA ARTÍSTICA/ PROVA DAS ARGOLAS Nascimento: 16 de abril de 1990 Local: São Caetano do Sul (SP) Campanha em Londres:

Vice-campeão na Copa do Mundo de Cottbus, o brasileiro chegou credenciado a brigar por medalha e conquistou o ouro nas argolas ao atingir a nota de 15,900, deixando para trás o chinês Yibing Chen, campeão olímpico em Pequim 2008. Entra para a história por ser o primeiro atleta latino-americano a conquistar uma medalha olímpica na ginástica.

Sarah Menezes JUDÔ/CATEGORIA ATÉ 48KG Nascimento: 26 de março de 1990 Local: Teresina (PI) Campanha em Londres:

Sarah Menezes foi impecável com vitórias convincentes sobre as adversárias nas duas primeiras lutas. Nas quartas de final contra a chinesa Shugen Wu quando venceu por um Yuko. Na final, diante da romena Alina Dumitru, Sarah venceu por um Wazari e um Yuko.

BOXE/CATEGORIA ATÉ 75KG Nascimento: 2 de dezembro de 1989 Local: Vitória (ES) Categoria: até 75 kg Campanha em Londres: O pugilista entrou para a

história do boxe brasileiro ao conquistar a primeira medalha de prata para o País na modalidade. Na decisão, perdeu para o japonês Ryota Murata por 14 a 13. Antes da final, passou pelo britânico Anthony Ogogo, o romeno Bogdan Juratoni, o azerbaijano Soltan Migitinov e o húngaro Zoltan Harcsa.

Thiago Pereira NATAÇÃO/400 METROS MEDLEY Nascimento: 26 de janeiro de 1986 Local: Volta Redonda (RJ) Campanha em Londres: Finalmente deixou para

trás o estigma de “Mr. Pan” ao subir no pódio nos 400 m medley, superando o americano Michael Phelps. Nos 200 m medley, que era sua principal prova, decepcionou e ficou em quarto lugar.

Futebol masculino Os 18 jogadores: Rafael, Thiago Silva, Juan, Sandro, Marcelo, Lucas, Rômulo, Leandro Damião, Oscar, Neymar, Hulk, Bruno Uvini, Danilo, Alex Sandro, Ganso, Pato e Neto. Técnico: Mano Menezes Campanha em Londres: Maior favorita ao ouro, a Seleção Brasileira pipocou. Após derrotar Egito, Bielorrússia e Nova Zelândia na fase de grupos, teve dificuldades, nas quartas de final, para vencer Honduras por 3 a 2. Na semifinal, em sua melhor partida, ganhou por 3 a 0 da Coreia do Sul. Na disputa pelo ouro, amarelou e perdeu por 2 a 1 para o México.

Vôlei Masculino Os 12 jogadores: Bruninho, Wallace, Sidão, Leandro Vissotto, Giba, Murilo, Escadinha, Thiago Alves, Rodrigão, Lucão, Ricardinho e Dante. Técnico: Bernardinho Campanha em Londres: A seleção chegou desacreditada em Londres, mas fez um campeonato olímpico maravilhoso. Na fase de grupos, só perdeu um jogo, para os EUA (venceu Tunísia Rússia, Sérvia e Alemanha). Na fase do mata-mata, enfiou 3 a 0 na Argentina e na Itália. Na final, chegou a abrir 2 a 0, mas permitiu a virada da Rússia.


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sil em londres

Yane Marques PENTATLO MODERNO Nascimento: 7 de janeiro de 1984 Local: Afogados da Ingazeira (PE) Campanha em Londres: Ouro no Pan do Rio e

prata no Pan de Guadalajara, a brasileira Yane Marques chegou credenciada a disputar medalha em Londres. Ontem, no último dia, ela completou as provas de natação, hipismo e esgrima na segunda posição e conseguiu se manter na briga pelo pódio no evento combinado (tiro e corrida), chegando na 3ª posição.

Adriana Araújo BOXE – CATEGORIA ATÉ 60KG Nascimento: 4 de novembro 1981 Local: Salvador (BA) Campanha em Londres: Primeira brasileira a

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Bruno Prada e Robert Scheidt VELA/ CLASSE STAR BRUNO PRADA Nascimento: 31 de julho de 1971 Local: São Paulo (SP) ROBERT SCHEIDT Nascimento: 15 de abril de 1973 Local: Sta. Bárbara do Oeste /SP Campanha em Londres: a

dupla saiu como uma das favoritas à medalha de ouro e chegou à Medal Race em segundo lugar, mas acabou caindo para terceiro na decisão e ficou com o bronze.

ganhar uma medalha no boxe, entrou para a história por conquistar a 100ª medalha do Brasil em Jogos. Garantiu a chance de levar uma medalha ao bater a marroquina Mahjouba Oubtil. Na semifinal, perdeu para a russa Sofya Ochigava e ficou com o bronze.

Cesar Cielo

Mayra Aguiar da Silva

NATAÇÃO/ 50 M LIVRE Nascimento: 10 de janeiro de 1987 Local: Santa Bárbara do Oeste (SP)

JUDÔ/ CATEGORIA ACIMA DE 78KG Nascimento: 3 de agosto de 1991 Local: Porto Alegre (RS)

Campanha em Londres: Com duas medalhas em

Campanha em Londres: Número 1 do mundo,

Pequim 2008, Cielo chegou a Londres como um dos grandes nomes do esporte brasileiro. No entanto, frustrou nos 100 m ao terminar em sexto lugar. Campeão olímpico nos 50 m, ele foi surpreendido e terminou em terceiro, levando só um bronze.

Mayra Aguiar chegou como uma das favoritas ao ouro. Venceu as duas primeiras lutas por ippon, porém não resistiu na semifinal diante da americana Kayla Harrisson. Na disputa do bronze, se recuperou e superou a holandesa Marhinde Verkerk.

Felipe Kitadai

Rafael Carlos da Silva

JUDÔ/CATEGORIA ATÉ 60K Nascimento: 28 de julho de 1989 Local: São Paulo (SP)

JUDÔ/ CATEGORIA ACIMA DE 100 KG Nascimento: 11 de maio de 1987 Local: Campo Grande (MS)

uma campanha impecável até as quartas de final, quando perdeu para Rishod Sobirov, número do 1 do mundo. Kitadai foi para a repescagem e na briga pelo bronze, venceu o italiano Elio Verde.

Campanha em Londres: Após vencer o islandês Thormodur Jonsson e o lituano Marius Paskevicius, perdeu nas quartas de final, por decisão dos juízes, para o russo Alexander Mikhaylin. Na repescagem, venceu o húngaro Barna Bor. E na disputa do bronze venceu o sul-coreano Sung-Min Kim.

Juliana e Larissa

Yamaguchi Falcão

VÔLEI DE PRAIA Juliana Felisberta da Silva Nascimento: 22 de julho de 1983 Local: Santos/SP Larissa França Nascimento: 22 de abril de 1982 Local: Cachoeiro de Itapemirim (ES)

BOXE/ CATEGORIA ATÉ 81KG Nascimento: 24 de dezembro de 1987 Local: São Mateus (ES)

fotos getty images

Campanha em Londres: O judoca paulistano fez

Campanha em Londres: Candidata a fazer a final

contra as favoritas Walsh e May, a dupla brasileira caiu antes, diante das americanas Ross e Kessy. Na disputa pelo bronze, venceu as chinesas Chen Xue e Xi Zhang.

Campanha em Londres: Estreou com vitória

apertada sobre o indiano Sumit Sangwan. Na luta seguinte, bateu o chinês Fanlong Meng. Nas quartas, garantiu uma medalha ao surpreender o cubano J ulio Peraza, mas perdeu a chance de lutar pelo ouro diante do russo Egor Mekhontcev .


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Basquete

loja de antiguidades Por Fábio Altman, de Londres

Dream Team fatura o ouro pela 14ª vez

O dia em que o general atirou mal

N

a Olimpíada de Sydney, em 2000, o Brasil voltou para casa sem medalhas de ouro. No derradeiro dia da competição — jornada, lembremos, da extraordinária prata da equipe de 4 x 100 do atletismo — o país parou diante da televisão, por assim dizer, para acompanhar Baloubet du Rouet, um cavalo da raça Sela Francesa que levava Rodrigo Pessoa. O animal refugou na hora agá, e adeus título. Desta vez foi muito mais divertido, mais interessante e mais bonito. A pernambucana Yane Marques ficou com o bronze (a derradeira medalha entregue em Londres) no pentatlo moderno. O cavalo da moça não refugou, mas deu trabalho o bandido, ô se deu. “Corri com um cavalo velho, de olho afundado”, disse Yone pouco antes de subir no pódio, ao cabo de uma modalidade que, só de ver, cansa. Os animais são entregues aos atletas, por sorteio, meia hora antes do torneio. Pentatlo moderno? Convém explicar, porque não é uma prova conhecida como o judô, o vôlei e o boxe, para ficar com três esportes nos quais o Brasil foi muito bem em Londres. O pentatlo moderno é bem antigo. Foi inventado por ninguém menos que o Barão Pierre de Coubertin, ancorado no pentatlo da Antiguidade Grega, desafio aos homens mais fortes e incansáveis. Para adaptá-lo à Era Moderna, Coubertin decidiu inspirarse no severo treinamento dos soldados de cavalaria, que deviam saber montar em um bicho desconhecido, disparar, esgrimir, correr e nadar. A prova de Yane é assim: esgrima, 200 metros de natação, concurso de saltos no hipismo, e o “evento combinado”, que junta tiro com corrida — os atletas têm de correr 1000 metros e, ao cabo desse trajeto, parar para atirar. Repetem três vezes o circuito. É uma modalidade extenuante e, antes que a tratem de esquisita, aberração olímpica, um lembrete: ela é realmente bem antiga. Com algumas interrupções, é disputada desde 1912 entre homens. Entrou no calendário feminino em 2000. Nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, o futuro general americano George C. Patton (vivido no cinema por George C. Scott) ficou com a quinta posição. Não conseguiu medalha porque foi mal no tiro.

Seleção americana, recheada de astros da NBA, não amarela e derrota Espanha na final num jogaço: 107x 100

E

n ELE Já SABIA! LeBron James faz a festa pelo ouro do Dream Team

O pentatlo moderno foi inventado por ninguém menos que o Barão de Coubertin

REUTERS

m um repeteco da decisão de Pequim 2008, a seleção masculina de basquete dos Estados Unidos bateu a Espanha, ontem, e colocou no peito sua 14ª medalha de ouro em 18 participações. O Dream Team venceu os adversários por 107 a 100, coroando uma campanha invicta, com oito vitórias, com direito à quebra do recorde olímpico de pontos em uma só partida olímpica, na vitória sobre a Nigéria por 156 a 73, ainda na fase de grupos. A medalha de bronze ficou com a Rússia, que derrotou a Argentina por 81 a 77 em um jogo emocionante, decidido a poucos segundos do final. A derrota marca a provável aposentadoria da geração mais vitoriosa do basquete argentino, ouro em Atenas 2004 e bronze em Pequim 2008. O ala-pivô Kevin Durant foi o destaque americano na decisão pelo ouro, com 30 pontos anotados e nove rebotes. Do lado espanhol, Pau Gasol foi o maior marcador, com 24 pontos. Assim como

ocorreu em Pequim, o duelo pelo título começou equilibrado, com os espanhóis marcando forte e mantendo a vantagem dos adversários do placar sob controle. No quarto e último período, no en-

tanto, os EUA fizeram valer sua superioridade e abriram dez pontos de vantagem logo no início. Os espanhóis até tentaram tirar a diferença, mas acabaram sendo batidos por 107 a 100.

Mountain biking

Brasileiro termina em 24º no geral Rubens Valeriano melhora uma posição em relação a Pequim, mas ainda fica longe do sonho da medalha Da redação

O

n pedras no caminho Percurso da prova era de alta dificuldade

metade da prova, cruzando a linha de chegada após 1h34min23s. O brasileiro foi o melhor latinoamericano na prova. A medalha de ouro ficou com o checo Jaroslav Kulhavy, que

cruzou a linha de chegada com o tempo de 1h29min07. A prata e o bronze foram para o suíço Nino Schurter e para o italiano Marco Aurelio Fontana, respectivamente.

Keystone/Getty Images

ciclista brasileiro Rubens Valeriano encerrou sua segunda participação olímpica, nos Jogos de Londres, ontem, com a 24ª colocação da prova de mountain bike. Nos Jogos de Pequim 2008, o brasileiro terminou a prova em 25º lugar. Com o resultado nesta Olimpíada, ele volta para casa sem cumprir a meta de ficar entre os 10 melhores atletas da competição. Valeriano largou na quarta fileira, na 30ª posição. Durante a prova, que contou com um percurso de cerca de 35 quilômetros de extensão — sete voltas em uma pista de 5 km —, o ciclista chegou a ficar em 20º, mas acabou perdendo posições após a

n má pontaria General Patton (à esq.) e General Bradley, que foram à Normandia



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Futebol

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brasileiro do dia

Mano se finge de morto Técnico ignora que esteja na corda bamba após fracasso, e traça planos para a seleção principal de olho em 2013 Por Olavo Guerra

REUTERS/Nigel Roddis

N

inguém sabe se Mano Menezes continuará técnico da seleção brasileira, mas ele já traça novos objetivos no comando da equipe, tendo como próxima meta a Copa das Confederações, que acontece no ano que vem, no Brasil. De acordo com o treinador, a base do time olímpico, mesmo com o fracasso na final, será mantida. Apesar disso, muitos jogadores se “queimaram” com Mano, como o goleiro Neto, o zagueiro Juan, o volante Sandro, o meia Ganso e o lateral Rafael. Outros, no entanto, estão cada vez mais garantidos nas listas de convocados, como Oscar, Neymar, Marcelo, Leandro Damião e o capitão Thiago Silva. Para o técnico brasileiro, estes jogadores formam a espinha dorsal da equipe, aliados

a perigo Mano ignora pressão

a outros atletas, como Ramires, Dedé, David Luiz e Daniel Alves. Ainda de ressaca pela derrota para o México, o time brasileiro está em Estocolmo, Suécia, onde enfrenta, na próxima quarta-feira, às 15h, a seleção da casa na

medalha de lata

REUTERS/Mike Blake

Chris Graythen/Getty Images for Visa

medalha de ouro

despedida do Estádio Rasunda. Além dos jogadores da Olimpíada — a exceção de Ganso e Bruno Uvini, liberados, e Marcelo, suspenso —, foram convocados o goleiro Renan Ribeiro (AtléticoMG), os zagueiros David Luiz (Chelsea) e Dedé (Vasco), o lateral Daniel Alves (Barcelona),os volantes Ramires (Chelsea) e Paulinho (Corinthians) e o atacante Jonas (Valencia). Na manhã de ontem, a CBF divulgou uma nota em defesa do lateral direito Rafael, que cometeu o erro do primeiro gol do México. “Dono de muita técnica e um jogador de raça, o jovem camisa 2 não pode ficar marcado por esta falha”, diz o comunicado. “Erros acontecem para serem corrigidos. Rafael sabe disso. Depois, com mais calma, certamente irá analisar o lance para aprender”.

n Vai para nadador norte-americano Michael Phelps, maior destaque individual dos Jogos de Londres e recordista histórico de medalhas olímpicas, com 22 no total. As seis que ele conquistou nesta Olimpíada — quatro de ouro e duas de prata — somam-se aos oito ouros de Pequim 2008 e as oito medalhas de Atenas 2004 (seis ouros e dois bronzes). Se computadas só as medalhas que ganhou em Londres 2012, Phelps, se fosse um país, ocuparia a 20ª colocação no quadro de medalhas dos Jogos, imediatamente à frente de Coreia do Norte, Espanha e Brasil.

n Vai para a falta de espírito esportivo — e de educação — de alguns atletas brasileiros. Se merecem elogios pela forma como ganharam o ouro em Londres, as meninas do vôlei feminino merecem críticas pelo comportamento inadequado enquanto japonesas e americanas recebiam suas medalhas. As brasileiras ficaram dançando no pódio, num desrespeito ao protocolo olímpico. Já os jogadores do futebol masculino subiram ao pódio com uma expressão de quem estava no enterro da mãe. É preciso respeito ao comemorar a vitória e serenidade para absorver a derrota.

Padre Cornelius cumpre promessa

Lutadores mordem rivais e vão à final

Rússia fatura o tetra na ginástica rítmica

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M

A

le prometeu e cumpriu. O ex-padre Cornelius Horan, que atrapalhou o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima no momento em que ele liderava a maratona de Atenas 2004, engrossou a torcida pelo brasileiro Marílson dos Santos, quinto colocado na corrida de ontem. Horan levou cartazes de apoio ao maratonista e a bandeira brasileira, mas esteve acompanhado o tempo todo por dois policiais da Scotland Yard.

esmo considerado golpe baixo, a atitude de morder adversários foi frequente nesta Olimpíada. Dois atletas da luta olímpica, o japonês Tatsuhiro Yonemitsu e o indiano Sushill Kumar, feriram seus rivais com mordidas, não foram punidos, e acabaram avançando para as finais. Yonemitsu abocanhou a mão esquerda do canadense Veranes Garcia, enquanto Kumar pegou uma orelha de Akzhurek Tanatarov, do Cazaquistão.

lém do nado sincronizado, a Rússia também se sagrou tetracampeã olímpica da ginástica rítmica por equipes. Ontem, as russas mantiveram sua hegemonia ao somar 57.000 pontos, com uma apresentação perfeita. A medalha de prata ficou com a Bielorrússia, com 55.500 pontos, enquanto o bronze foi para a Itália, com 55.540. A Rússia também fez uma dobradinha na decisão individual, com Evgeniya Kanaeva e Daria Dmitrieva.

Por Alexandre Salvador, deLondres

Novo herói, velhos problemas

P

ara Mauro José da Silva, o presidente da Confederação Brasileira de Boxe, o histórico resultado dos atletas da modalidade não foi nada inesperado. A ressureição do boxe brasileiro, que conquistou três medalhas nos Jogos de Londres após um período de 44 anos sem subir ao pódio, aconteceu pela combinação de talento — que em solo brasileiro é abundante — e investimento. O centro de treinamento da seleção brasileira, localizado no bairro de Santo Amaro, extremo sul da cidade de São Paulo, é parte da explicação. Os irmãos Yamaguchi e Esquiva Falcão Florentino moram há 4 anos na capital paulista, a poucos metros do local. Internados ao lado do ringue, foi mais fácil se concentrar apenas na preparação olímpica. O momento, porém, não é apenas de comemorações. Embora a estrutura seja apenas razoável (não por falta de vontade dos dirigentes, mas pelo investimento ainda insuficiente), o esporte olímpico nacional deve perder os irmãos Falcão Florentino para o dinheiro abundante do MMA. Obviamente, estão fazendo o certo para suas vidas, usando seu talento para a própria subsistência. Se a tão sonhada medalha dourada não veio para Esquiva, por uma penalização cruel dos árbitros da grande final olímpica, um merecido prêmio por sua atuação veio neste domingo, último dia dos Jogos de Londres: o direito de carregar a bandeira brasileira no Estádio Olímpico, durante a cerimônia de encerramento. O medalhista de prata vai sair com boas memórias de Londres, e espera-se que o sucesso do boxe sirva de exemplo para outras modalidades se motivarem, mesmo com as dificuldades financeiras e de infraestrutura. E, claro, que também seja um grito de socorro, para que nenhum atleta olímpico seja obrigado a abdicar de seu esporte, ainda mais depois de alcançar a glória olímpica, pelo legitimo direito de almejar um reconhecimento financeiro satisfatório. And in the end... Da mesma forma que o Comitê Olímpico Brasileiro afirma ter atingido sua meta de medalhas nos Jogos de Londres, esta última coluna se despede com a sensação de dever cumprido. Foram 17 dias de competições muito intensos, com as já esperadas decepções e surpresas do esporte brasileiro. Nos vemos no Rio de Janeiro, daqui quatro anos.

Espera-se que o sucesso do boxe sirva de exemplo para motivar outras modalidades

n bandeira O boxeador e medalha de prata ESquiva Falcão carregou o panteão nacional na cerimônia de encerramento



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GIRO FOTOS LUCAS LANDAU

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Bye Bye, Londres

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2 eles passaram pela vila placar Durante todos os dias de competições em Londres 2012, a Vila Placar acolheu torcedores VIPs, empresários, patrocinadores, celebridades e atletas, que puderam acompanhar o desempenho dos atletas brasileiros. Passaram por lá: 1. a ex-jogadora de basquete Magic Paula; 2. Raimar Oliveira (irmão de Sócrates); 3. o ex-jogador de futebol Willian; 4. a velejadora Isabel Swan; e 5. o humorista Rafael Cortez

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dieta de ana Não foram só os atletas que se dedicaram ao máximo durante a Olímpiada. Na maratona da cobertura, a jornalista Ana Paula Padrão, da Record, trabalhou tanto que enxugou 1,5kg da silhueta em apenas duas semanas. “Foi uma corrida mesmo. Não conseguia jantar pois os restaurantes fecham umas 22h. Mas valeu a pena demais”, diz Ana

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legado olímpico

O que se aprende com os Jogos Olímpicos? A Olimpíada vai muito além da competição e é uma ótima oportunidade para crianças aprenderem de química à cidadania Da Equipe Educar Para Crescer

ajudam o jovem a se abster de riscos que o rondam, como álcool, drogas e violência”, diz Irineu Loturco Filho, diretor do Núcleo de Alto Rendimento (NAR) do Grupo Pão de Açúcar. Outra lição que vem dos esportes, mas dos coletivos, como vôlei, futebol e provas de revezamento, é a importância de cumprir corretamente o seu papel e fazer o melhor para que o companheiro também consiga obter o máximo resultado.

“O esporte ensina sobre a busca pela superação, por fazer sempre o esquisas mostram que melhor”, diz Loturco. “Para as apenas 0,26% da pocrianças, fica o exemplo de que a pulação tem aptidão disciplina é importante também para se tornar um esportista de repara as tarefas diárias, como estunome. Chegar a atleta olímpico é dar, obedecer às regras em casa e mais difícil ainda. E a medalhista, na sociedade”, conta. então... Por isso, não é só de vitórias Os Jogos Olímpicos dão uma que o esporte é feito. Para crianças chance de aprendizagem ainda e jovens, os jogos são uma oportumaior, como mostra Kátia Rubio, nidade para o aprendizado de disespecialista em psicologia do esciplinas escolares. Mais: as Olimpíporte: “Lembrar que os jogos coadas mostram a impormeçaram a ser disputatância de treinamento, Crianças e 0limpíadas: o que elas aprendem dos ainda na Antiguidadisciplina e cidadania. de é uma aula de história. O espírito esportivo é A apresentação das dele3 desenvolvem habilidades cognitivas algo que entra na formagações na cerimônia de 3 respeitar o corpo ção do caráter, e ninabertura é um rico pai3 aumentar a autoestima guém precisa ser atleta nel da diversidade cultuolímpico para se benefiral. E quando abordamos 3 trabalhar em grupo ciar desse ensinamento. os limites de cada espor3 desenvolver a autonomia “No esporte, a cobrança, te e o doping, estamos 3 estimular a criatividade a necessidade de sempre falando de processos melhorar e a disciplina biológicos”, observa.

P

O esporte foi fundamental na minha vida. comecei a nadar com 1 ano e meio e pra valer a partir dos 12. depois disso, nunca mais parei. Quem pratica esporte carrega valores essenciais para o dia a dia, como respeito, comprometimento, disciplina e superação. Além disso, competindo em alto nível conheci dezenas de países, estudei e morei fora do Brasil, fiz amizade com pessoas de várias culturas. Sei também que com os meus resultados ajudaram a influenciar positivamente muitos jovens a adotar o esporte como uma boa referência na vida”,

diz Thiago Pereira, medalha de prata na prova de 400 metros medley, em Londres.



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London Calling

Espirito olímpico

Por Giancarlo Lepiani, de Londres

There Is a Light that Never Goes Out

animação Na abertura, os poucos atletas independentes fizeram uma grande festa

Q fotos Clive Rose/Getty Images

Os sem-bandeira

uando a chama olímpica se apagou no Estádio Olímpico de Londres, na noite de ontem, a trigésima edição dos Jogos da Era Moderna chegava oficialmente ao fim. Para quem viveu a Olimpíada na capital britânica, porém, ficava claro que o protocolo da cerimônia de encerramento não significava necessariamente uma despedida. Poucas vezes na história olímpica se falou tanto em legado, tanto urbano quanto esportivo; poucas vezes se investiu tanto no futuro de uma cidade-sede, e não apenas em seu presente. Londres entrega a bandeira olímpica ao Rio de Janeiro mais forte, mais confiante, talvez até mais rica – ainda que os efeitos econômicos de uma Olimpíada a longo prazo sejam um tema controverso. Na região leste da cidade, a transformação só começou – é a partir de agora que o Parque Olímpico começa a ser adaptado ao uso pela população, que a vila dos atletas passa a ser preparada para seus futuros moradores, que as melhorias no sistema de transporte público passam a atender aos londrinos, e não aos visitantes. A farra foi ótima, mas o melhor está por vir. A festa de encerramento foi também um instante de curar feridas do passado. A cerimônia que fechou um dos eventos esportivos mais bem sucedidos da história transcorreu num clima leve, divertido, sem temores nem remorsos. Um ano atrás, em meio à onda de vandalismo que assolou o norte e o leste de Londres, o primeiro-ministro David Cameron falou numa sociedade que padecia de um “colapso moral”, que parecia não achar seu caminho em tempos de crise e medo. Uma Olimpíada não resolve todos os problemas, é claro. Talvez ajude apenas a amenizar seus sintomas, a aliviar suas consequências. Seja como for, a sensação deixada pela violência do verão passado se esvaiu. Unida em torno do sucesso de sua vitoriosa equipe olímpica – que conquistou seu melhor desempenho desde os primeiros Jogos realizados em Londres, em 1908 - a GrãBretanha chegou a este último dia de competições num estado de espírito totalmente diferente. Existe, de novo, orgulho de ser britânico, mesmo com todos os desafios que estão pela frente – como na Londres de 1908, ainda o centro das atenções no mundo, e como na Londres de 1948, uma metrópole que ressurgia em meio às ruínas para promover os Jogos da Austeridade. A chama está apagada no estádio. Na única cidade que já recebeu três edições dos Jogos, porém, a luz olímpica fez acender o melhor do povo britânico — e esse brilho custará a se apagar de novo.

Poucas vezes se falou tanto em legado, tanto esportivo como urbano

Quatro atletas foram a Londres como independentes. Maratonista Guor Marial competiu ontem por falta de combatividade, o que rendeu um ippon ao adversário. Philipine, a única mulher do quarteto, disputou as regatas da classe Laser Radial e terminou sua primeira participação em Olimpíadas na 36ª colocação. Já Liearvin Bonavecia correu as eliminatórias dos 400 metros e avançou para as semifinais. Mas acabou ficando em último entre os 24 atletas classificados, inclusive atrás do sul-africano biamputado, Oscar Pistorius. O maratonista Guor Marial terminou os 42 quilômetros da corrida na 47ª colocação. Essa foi a primeira vez, desde 2000, em Sydney, que atletas independentes participaram dos Jogos

Olímpicos. Na ocasião, quatro representantes do Timor Leste competiram sob a bandeira olímpica, enquanto o país passava pelo processo de independência em relação à Indonésia. As únicas medalhas conquistadas por atletas independentes na história são dos sérvios Jasna Sekaric (com a prata), Aranka Binder e Stevan Pletikosic (ambos com o bronze), em 1988. Todos do tiro esportivo. Na época, por causa da Guerra da Bósnia, o COI seguiu a Organização das Nações Unidas e baniu a então Iugoslávia. Além dos ex-iugoslavos, 58 atletas da Macedônia competiram como independentes.

Julian Finney/Getty Images

E

m Londres, houve quatro atletas que, apesar de representarem dois países diferentes (e bem distantes um do outro), fizeram parte de um mesmo grupo. O uniforme que usaram foi totalmente branco e exibiu apenas as célebres argolas olímpicas entrelaçadas (além do logotipo do fabricante). E competiram sob as letras “IOA”, sigla, em inglês, para Atletas Olímpicos Independentes. Três deles são das Antilhas Holandesas: a velejadora Philipine Van Aanholt, o corredor Liemarvin Bonevacia e o judoca Reginald de Windt. Os três estavam entre os mais animados no desfile de abertura do Jogos. Completava essa curiosa delegação o maratonista Guor Marial, do Sudão do Sul. Tanto as Antilhas Holandesas quanto o Sudão do Sul são territórios independentes e ainda não dispõem de representação no COI. Mas a entidade permitiu a participação do grupo na categoria de independentes. O judoca Reginald de Windt foi o primeiro a se despedir da competição. Ele foi eliminado na primeira luta pela categoria até 81 kg pelo russo Ivan Nifontov, que seria bronze. De Windt foi punido com quatro shidos consecutivos

n chama olímpica Na única cidade que já recebeu três edições dos ioa A velejadora Philipe Van Aanholt competiu na classe Laser Radical

Jogos, a aluz fez acender o melhor do povo britânico



jornal placar | Segunda-feira, 13 de agosto de 2012

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FESTA de ENCERRAMENT0 Estádio Olímpico viveu uma noite pop, com muita música

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O gari Renato Sorriso botou os ingleses para sambar

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Passistas e índios representam a cultura brasileira

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Mosaico prestou homenagem ao Beatle John Lennon

Marisa Monte entoou “As Bachianas” de Villa Lobos A Spice Girl Victoria Beckham mostra seu talento

Família real marcou presença no último evento dos Jogos


jornal placar | segunda-feira, 13 de agosto de 2012

torre de londres Por Carlos Maranhão, de Londres

O futuro do menino de prata

P

erdida mais uma vez a medalha de ouro no torneio olímpico de futebol, nas circunstâncias que todos viram pela televisão, chegou a hora de olhar para o futuro de Neymar. Depois de ter falhado na Copa América no ano passado, ele foi para a Inglaterra com seus dezessete companheiros de equipe em meio a algumas dúvidas inquietantes. Voltaria a exibir o talento e a capacidade de desequilibrar partidas que mostrou no Santos em 2010 e 2011, ou continuaria irregular como em boa parte desta temporada? Teria dominado seu gênio impulsivo e os faniquitos de garoto mimado, resistindo às pressões em uma competição na qual para o Brasil interessava apenas o título, ou voltaria a perder a cabeça em momentos decisivos e daria razão a Maradona, que certa ocasião o chamou de “menino mal educado”? Insistiria em simular faltas ou iria para o caminho mais difícil, e eficaz, de prosseguir na jogada em direção ao gol? Com um rendimento mensal estimado em 3 milhões de reais, graças sobretudo a seus dez patrocinadores principais, teria perdido um pouco da motivação para buscar árduos desafios? E, finalmente, deixaria de lado as jogadas de efeito, o individualismo – o que levou Pelé a afirmar que ele andou jogando “mais para a torcida e para a televisão do que para o time” –, e passaria a se preocupar com sua participação coletiva? Dias antes de embarcar para Londres, o treinador Mano Menezes, que ao assumir o cargo, há dois anos, convocou-o pela primeira vez para a seleção principal, refletia sobre essas questões. “O problema do Neymar foram os dois jogos em que enfrentou Messi”, analisou em uma conversa com VEJA, citando as partidas em que o Santos foi goleado pelo Barcelona por 4 a 0, na decisão do mundial de clubes, em dezembro, no Japão, e o Brasil perdeu para a Argentina por 4 a 3, em um amistoso disputado em junho nos Estados Unidos. Na primeira, o supercraque argentino Lionel Messi marcou dois gols. Na segunda, três. Em ambas, foi arrasador e brilhante, enquanto Neymar teve atuações discretas. “Perder, tudo bem, faz parte”, Mano continuou em sua análise. “O ponto é que ficou clara a diferença técnica que existe entre os dois no momento. Ele, que estava até sendo comparado ao Pelé, sentiu o baque.” O que fazer dentro dessa situação? “Ele vai precisar de psicologia, de carinho, para erguer a cabeça”, respondeu o técnico. “E focar mais no futebol. Um jogador deve realizar treinamentos técnicos e coletivos, alimentar-se corretamente e repousar. Não pode se dispersar e aceitar todos os contratos de publicidade que lhe aparecem,

inclusive os pequenos. As gravações de comercial são repetitivas, longas. Ele não precisa mais se submeter a certas coisas. Tem quer ser seletivo.” Na Inglaterra, isolado nos hotéis da seleção, sem agentes e empresários ao seu redor, longe do iate avaliado em 15 milhões de reais e do assédio feminino, em companhia apenas do pai nas horas de folga, queixandose de saudades somente de David Lucca, o filho que teve em um relacionamento passageiro e fará 1 ano este mês, a ficha de Neymar da Silva Santos Júnior enfim caiu. Percebeu que estava diante de uma oportunidade extraordinária e talvez não repetível em sua ainda curta trajetória, iniciada como profissional há três anos.

Diferentemente do que aconteceu nos mais recentes fracassos do futebol brasileiro nas Olimpíadas, em que as esperanças se concentravam nos pés de craques convocados dentro da cota de mais de 23 anos, como Rivaldo, Bebeto e Ronaldinho Gaúcho, ou com a faixa de campeão mundial, caso de Ronaldo em 1996, agora foi Neymar, aos 20 anos, o escalado para o papel de protagonista. Com seu corpo esguio de 1,74 metro (sete centímetros a mais do que Messi) e 64 quilos, não evitou o cai-cai. Foi vaiado pelos ingleses. Mas moderou nas encenações. Evitou reclamar além da conta e dominou a impulsividade. Não tomou cartão amarelo. E o fundamental: nos estádios de Cardiff, Manchester e Newcastle, empenhou-se em mostrar espírito coletivo nos cinco jogos antes da final em Wembley. Na verdade, não tinha outro caminho: a dura e eficiente marcação dos adversários, que já conheciam o estilo e as manhas do camisa 11, diminuiu suas possibilidades de driblar, fazer firulas e tentar resolver as coisas sozinho. O resultado pôde ser medido em números. Até a triste derrota para o México por 2 a 1, em que esteve tão apagado como quase todo resto do time, havia marcado três gols – de cabeça, de falta e de pênalti – e participado diretamente de outros quatro. Ou seja, dos quinze gols assinalados pelo Brasil na fase de grupos e nos mata-matas, praticamente a metade teve seu autógrafo (a propósito, assina com caligrafia razoavelmente boa, ornamentada por alguns círculos que chegam a lembrar uma bola). “Não sou individualista. Jogo para o time”, disse após a vitória por 3 a 0 na semifinal contra a Coreia do Sul, ao lhe pedirem que comentasse o elogio que Mano acabara de lhe fazer por sua postura em campo. Levava nas mãos duas nécessaires de grifes caras e tinha brincos de brilhante nas orelhas. Sorria feliz e confiante, como na capa da edição especial de VEJA sobre a Olimpíada de Londres, lançada no mês passado, em que envergava o chapelão de guarda real do Palácio de Buckingham, parecendo vislumbrar à sua frente o sonho de pendurar no pescoço a ambicionada comenda dourada que, de novo, transformou-se em pesadelo. Seus desafios agora são mais uma vez enormes. Ele terá que concentrar-se no futebol e na sua carreira, vencer o trauma de perder, recuperar a autoconfiança e voltar a ser a esperança do Brasil na Copa das Confederações em 2013 e na Copa do Mundo de 2014. Apesar de tudo, o menino de prata ainda é, potencialmente, nosso maior jogador. Resta torcer para que demonstre isso na prática daqui para a frente.

antonio milena/ milenar

Neymar ainda é, potencialmente, nosso melhor jogador. Resta torcer para que mostre isso na prática daqui para a frente


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