Abril na Copa 2013

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edição especial adriane galisteu: camisa da seleção vira segunda pele

não pode Ser vendida SeparadaMente

Luiz FeLipe ScoLari l ivete SangaLo ronaLdo l João ubaLdo ribeiro Marta l João carLoS MartinS JoSé WiLker l oSMar SantoS guStavo roSa l ceSar cieLo Mario Sergio corteLLa boni l MigueL nicoLeLiS rodrigo oLiveira ronaLdo Fraga Luciano Huck Fernando pireS pedro Lourenço tony raMoS l kobra iSabeLLe tucHband Sabrina Sato l J. borgeS adriane gaLiSteu iLan goLdFaJn Joe bennett

26 grandes brasileiros

explicam o futebol

e a copa no brasil


eDiçãO

A maior revista do maior evento D

esde dezembro de 2012, o Projeto Abril na Copa tem levado às revistas da Abril — e às versões digitais, à MTV e à Elemídia — conteúdos sobre a Copa do Mundo no Brasil, adaptados ao interesse de cada perfil de leitor. Será assim, mês a mês, até outubro de 2014: informação, entretenimento e interatividade, para proporcionar a você a melhor cobertura do mais importante evento do futebol mundial. Esta Edição Especial ABril nA CoPA é um dos grandes marcos do projeto: está chegando às suas mãos e às de outros 4 milhões de assinantes e leitores da Abril. Trata-se da maior tiragem de uma revista na história da imprensa brasileira. Ela foi produzida por um time formado por 26 cidadãos brasileiros, de diferentes áreas da sociedade. Unidos pelo futebol, luiz Felipe Scolari, ronaldo, Adriane Galisteu, João Carlos Martins, ivete Sangalo, João Ubaldo ribeiro, Marta e Cesar Cielo, entre outros, apresentam nas páginas a seguir a visão de cada um sobre o esporte e a Copa, em textos, fotos e ilustrações criados especialmente para esta publicação. Boa leitura!

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Convocação

Felipão diz por que devemos acreditar na nossa seleção

10 A lista de Marta

Os craques com quem ela jogaria no time dos sonhos

12 Pelé, o gênio

O cientista Miguel Nicolelis desvenda a cabeça do Rei

18 Seis vezes Fenômeno

Ronaldo relembra momentos cruciais de sua carreira

20 Minha Copa inesquecível

Cinco brasileiros e os Mundiais marcantes em suas vidas

24 Pintura na parede

Eduardo Kobra e o gol de Falcão grafitado em São Paulo

26 As Copas de Boni

As memórias futebolísticas do ex-diretor da TV Globo

32 Figurinhas carimbadas

O estilista Ronaldo Fraga cria seu álbum de craques

36 O maestro e os boleiros

João Carlos Martins, ex-craques e uma roda de chorinho

40 A fé do torcedor

Mario Sergio Cortella e J. Borges explicam as mandingas


especial

VICTOR CIVITA (1907-1990) Editor: Roberto Civita Conselho Editorial: Roberto Civita (Presidente), Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente), Elda Müller, Fábio Colletti Barbosa, Giancarlo Civita, Jairo Mendes Leal, José Roberto Guzzo, Victor Civita Presidente Executivo Abril Mídia: Jairo Mendes Leal Diretor de Assinaturas: Fernando Costa Diretor Geral Digital: Manoel Lemos Diretor Financeiro e Administrativo: Fabio Petrossi Gallo Diretora Geral de Publicidade: Thaís Chede Soares Fundador:

Diretor de Planejamento Estratégico e Novos Negócios

Daniel de Andrade Gomes

Diretora de Recursos Humanos: Paula Traldi Diretor de Serviços Editoriais: Alfredo Ogawa Diretora Superintendente: Claudia Giudice Diretor de Núcleo: Sérgio Xavier Filho

42 Receitas campeãs

O chef Rodrigo Oliveira faz o banquete da Copa

46 artistas da bola

Editor-chefe: Miguel Icassatti Revisão: Renato Bacci Coordenação: Silvana Ribeiro CTI: Eduardo Blanco (Gerente), Adriana Gironda, Aldo Teixeira, Andre Luiz, Cristina Negreiros, Dorival Coelho, Luciano Custódio, Marcelo Tavares, Marcos Medeiros, Mario Vianna, Marisa Tomas e Ruy Reis Colaboraram nesta edição: Goretti Tenorio Nunes (edição de texto), Alex Xavier, Simone Tobias (reportagem), Aline Leme (projeto gráfico e direção de arte), Luciano Araujo (edição de arte), Carol Godefroid, Nicéia Lombardi (design), Renato Pizzutto (fotografia), Juliana Nicolucci, Tomaz Souza Pinto (produção)

As gorduchinhas de Gustavo Rosa e Isabelle Tuchband

48 Torcida com estilo

Fernando Pires, Pedro Lourenço e um look para vibrar

50 Duelo interplanetário

SERVIÇOS EDITORIAIS: Apoio Editorial: Carlos Grassetti (Arte), Luiz Iria (Infografia), Ricardo Corrêa (fotografia) Dedoc e Abril Press: Grace de Souza Pesquisa e Inteligência de Mercado: Andrea Costa Treinamento Editorial: Edward Pimenta

Joe Bennett transporta uma rivalidade histórica para a HQ

54 Osmar santos, artista

Redação e Correspondência: Av. das Nações Unidas, 7221, 7º andar, Pinheiros, São Paulo, SP, CEP 05425-902, tel. (11) 3037-2000 Publicidade São Paulo e informações sobre representantes de publicidade no Brasil e no Exterior: www.publiabril.com.br

O ex-narrador esportivo redesenha a bandeira nacional

55 cinema e futebol

PUBLICAÇÕES DA EDITORA ABRIL: Alfa, Almanaque Abril, AnaMaria,

José Wilker indica 5 filmes em que o esporte é o astro

Arquitetura & Construção, Aventuras na História, Boa Forma, Bons Fluídos, Bravo!, Capricho, Casa Claudia, Claudia, Contigo!, Dicas Info, Elle, Estilo, Exame, Exame PME, Gloss, Guia do Estudante, Guias Quatro Rodas, Info, Lola, Manequim, Máxima, Men’s Health, Minha Casa, Minha Novela, Mundo Estranho, National Geographic, Nova, Placar, Playboy, Publicações Disney, Quatro Rodas, Recreio, Runner’s World, Saúde, Sou Mais Eu!, Superinteressante, Tititi, Veja, Veja BH, Veja Rio, Veja São Paulo, Vejas Regionais, Viagem e Turismo, Vida Simples, Vip, Viva!Mais, Você S.A. Você RH, Women’s Health Fundação Victor Civita: Gestão Escolar, Nova Escola

56 conselhos de um campeão

O nadador Cesar Cielo dá dicas para a seleção superar os erros

57 a economia da copa

ABRIL NA COPA é uma edição especial da revista PLACAR nº 1379 (ISSN 0104.1762), ano 43, junho de 2013, publicada mensalmente pela Editora Abril, e circula gratuitamente. Distribuída em todo o país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. PLACAR não admite publicidade redacional.

Ilan Goldfajn fala das chances que o país não pode perder

58 crônica

Serviço ao Assinante: Grande São Paulo: (11) 5087-2112 Demais localidades: 0800-775-2112 www.abrilsac.com Para assinar: Grande São Paulo: (11) 3347-2121 Demais localidades: 0800-775-2828 www.assineabril.com.br

João Ubaldo Ribeiro e a honra do desportista capa Danilo borges (foto); Marco antônio De biaggi (cabelo); KaKá Moraes (MaKe); toMaz souza Pinto (ProDução);

IMPRESSA NA GRÁFICA ABRIL

Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, São Paulo, SP

ricarDo corrêa

gogó e PiMPa alcantara (Pintura corPoral); ruM & butter (sunKini); aDiDas (bola); jujuba Digital (trataMento De iMageM)

Conselho de Administração: Roberto Civita (Presidente), Giancarlo Civita (Vice-Presidente), Esmaré Weideman, Hein Brand, Victor Civita Presidente Executivo: Fábio Colletti Barbosa www.abril.com.br


Você está convocado!

Em carta aberta a todos nós, brasileiros, o técnico da seleção, Luiz Felipe Scolari, lembra o penta em 2002 e diz por que devemos acreditar na conquista do hexa

E

m 2001, quando assumi a seleção brasileira pela primeira vez, também havia uma desconfiança muito grande. A campanha nas Eliminatórias não ajudava e o torcedor não acreditava no título. Alguns duvidavam até da classificação para a Copa. Mas ela veio com a participação dos torcedores nos três jogos em casa. Durante

a Copa na Coreia e no Japão, recebi imagens dos torcedores no Brasil assistindo e acompanhando os jogos, que ocorreram de madrugada no horário brasileiro. Foi muito importante para nós, que estávamos do outro lado do planeta disputando uma Copa do Mundo. Foi muito bom ver que nas capitais, no interior e até os índios estavam vendo e apoiando a seleção naqueles horários fora do habitual. Nós, da comissão técnica, ficamos emocionados com essa torcida. E também os jogadores, pois utilizei essas imagens e as mostrei em algumas preleções. Elas nos ajudaram a conquistar o título de pentacampeão. Agora estou de volta à seleção brasileira, que anda distante do torcedor. Desta

vez não vamos jogar do outro lado do planeta. Vamos jogar em nossa casa. Aqui no Brasil! Sei que o Brasil tem jogado muitas partidas fora do nosso país. Sei que ainda não estamos jogando aquilo que o torcedor deseja ver. Mas até a Copa, no ano que vem, a equipe estará pronta e jogando em busca de mais um título. Para isso, a participação dos torcedores de todo o Brasil deve ser grande. Vibrando e cantando pela seleção brasileira. Vestindo a camisa do Brasil, estarão jogadores brasileiros e não de clubes ou do exterior. Quem vestir a camisa, quem for escalado e quem ficar no banco, todos nós estaremos representando nosso país. Queremos novamente seu apoio. Você está convocado para nossa seleção.” o edição especial abril na copa

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Luiz Felipe Scolari

(Passo Fundo, RS, 1948) é o técnico da seleção brasileira. Entre outras conquistas, ganhou a Taça Libertadores da América em 1995, com o Grêmio, e em 1999, com o Palmeiras. Foi campeão brasileiro, também pelo Grêmio, em 1996.


Phil Cole/ Getty imaGes

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edição edição especial especial abril abril nana copa copa


Eu

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Eleita cinco vezes a melhor jogadora de futebol do planeta, a atacante Marta monta a lista dos craques com quem gostaria de jogar em uma seleção brasileira dos sonhos

Taffarel Ronaldinho

atacante “É um dos melhores que já vi em campo. Descontraído, mas com o foco em fazer gol. Sem contar que é extremamente habilidoso. E joga sorrindo.”

goleiro “Na Copa de 1994, me marcou muito o modo como ele atuava, sua frieza e o foco na partida. Esse seria o cara do meu gol, o maior pegador de pênaltis.”

Thiago Silva

zagueiro “Ele rouba a bola com classe, cabeceia bem e tem uma visão muito boa de jogo.”

atacante “É meu homem de área e uma inspiração pelo modo como deu a volta por cima depois das lesões. Foi o cara da Copa de 2002.”

ilustração de Flávio Rossi

Ilustração Flávio Rossi

edição especial placar Veja

Ronaldo

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ALexAnDRe bATTibugLi

Dunga

volante “Uma equipe precisa ter um cara assim no meio: com raça, que dribla, rouba bola e dá proteção à zaga. Ele nunca desistia das jogadas.”

Marta

(Dois Riachos, AL, 1986) é jogadora do Tyresö, da Suécia. Pela seleção brasileira, ganhou duas medalhas olímpicas (prata, em Atenas 2004 e Pequim 2008) e foi vice-campeã na Copa do Mundo, em 2007, na China.

Neymar

atacante “Hoje ele é a estrela do nosso futebol. Quando parte para cima com objetividade, é difícil fazer com que pare. E é isso mesmo que ele tem que fazer.”

Roberto Carlos Rivaldo

Cafu

lateral-direito “É um jogador clássico. Ele jogava simples e o suficiente. Imprescindível na Copa de 2002.”

meia “Eu queria era jogar nessa posição. Ele dá o passe para o gol e cobra faltas e pênaltis bem. Quem sabe a gente se reveza no segundo tempo?”

lateral-esquerdo “Um ótimo marcador, ele subia muito bem para o ataque e batia falta em curva. Gosto do estilo dele.”

Lúcio

zagueiro “Escolho por sua garra. Tanto na seleção quanto na Inter de Milão, sua determinação e força me impressionaram.”

Veja gols da Marta em http://abr.io/marta10

edição edição especial especial placar placar Veja Veja

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edição especial abril na copa

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o homem cujo pé era uma bola

O neurocientista Miguel Nicolelis desenvolve uma teoria para explicar a genialidade de Pelé em campo

A

ilustração de Isabelle Tuchband

partir do fim dos anos 60, se­ guindo os conselhos do mais fanático palmeirense que eu conheci, o inesquecível Tio Dema, o futebol passou a ocu­ par uma parte essencial da minha vida. Ao longo dessas dé­ cadas dedicadas à profissão de torcedor fissurado, muitos momentos também inesquecíveis, passados nas arquiban­ cadas de estádios pelo mundo afora ou à frente de uma TV (ou computador, nos últimos anos), marcaram também mi­ nha carreira de cientista. Quando, no ano 2000, o editor da revista científica in­ glesa Nature pediu que eu iniciasse um artigo com alguma descrição que instigasse a imaginação dos leitores sobre as maravilhas que o cérebro humano é capaz de realizar, não hesitei um milissegundo. No primeiro parágrafo daquele que se tornou um dos meus artigos mais citados na literatu­ ra neurocientífica, narrei, em muitos detalhes, a jogada que originou o primeiro gol da seleção brasileira contra a Itália na final da Copa do Mundo de 1970, no México. Numa outra ocasião, durante a abertura de uma palestra no Instituto Max Planck, na cidade alemã de Tübingen, três dias depois da vitória da seleção canarinho na Copa do Mun­ do de 2002, na Coreia do Sul e no Japão, simplesmente não

pude me conter mais uma vez. Contrariando o apelo aflito do meu filho mais velho, presente na plateia, não tive dúvida em abrir minha aula, num auditório lotado de neurocientistas alemães sisudos, com uma imagem mostrando o esforço em vão do goleiro alemão Oliver Kahn, tentando se esticar todo para impedir mais um gol do fulminante ataque brasileiro. O título do slide era: I Kahn’t get it! Para minha total surpresa, assim que a imagem foi projetada, toda a plateia germânica veio abaixo — no bom sentido — e muitos desses colegas, até hoje, se lembram daquela provocação com bom humor. Entre todas as histórias e emoções desfrutadas nessa minha carreira paralela de torcedor profissional, poucas se comparam ao privilégio de poder testemunhar, sempre ao lado do querido Tio Dema, em tardes passadas nas ar­ quibancadas do antigo Parque Antártica ou no charmoso Estádio Municipal do Pacaembu, os embates épicos entre as várias Academias palmeirenses e o Santos de Pelé, dis­ parado o melhor jogador de futebol de todos os tempos, pelo menos deste lado da Via Láctea. Embora todos os clássicos do então glamouroso Campeo­ nato Paulista fossem eventos esperados com grande antecipa­ ção, nada se comparava, ao menos para mim, à expectativa de

ediçãoespecial especialabril abrilna nacopa copa edição

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estar presente num jogo em que o Rei do Futebol desfilaria pelo gramado, perseguido por todos os cantos pelo infatigável Dudu, tentando, a cada momento, superar em elegância e eficiência o também extraterrestre Ademir “Divino” da Guia. Apesar de ser palmeirense até a última célula do corpo e torcer em cada jogo desesperadamente pela vitória do esquadrão alviverde, havia algo muito especial em visualizar aquela libertação de ferocidade e destreza motora que o furacão cinemático chamado Pelé realizava ao longo de um prélio. Enquanto antes da partida ele até parecia uma pessoa comum, dando entrevistas no gramado, bastava que o apito inicial soasse para que todos no estádio entendessem instantaneamente por que aquele homem fora apelidado com o nome de um vulcão do Caribe.

ARqUIvo PESSoAL

Miguel Nicolelis

(São Paulo, SP, 1961), codiretor do Centro de Neuroengenharia da Universidade de Duke, nos EUA, trabalha para permitir que um tetraplégico dê o pontapé inicial na Copa de 2014. É palmeirense roxo.

Anos depois, provavelmente devido à incomparável popularidade adquirida pelo número 10 santista em todo o sistema solar, o mesmo nome, Pelé, seria dado ao acidente geográfico mais exuberante da lua de Júpiter chamada Io. Nos campos de Io, Pelé até hoje pode ser claramente identificado como uma erupção vulcânica contínua, de alta velocidade, que espalha lava e fumaça, sem cessar, por mais de 300 quilômetros ao seu redor, definindo o ponto mais atraente daquele satélite. Sem tirar nem pôr, esse era o efeito do Pelé terrestre. Uma erupção contínua de movimentos, de dribles, arrancadas, gingas e, sobretudo, de chutes mortais, com cada uma ou ambas as pernas; no chão ou no ar, de pé ou de cabeça para baixo, bem no meio de uma de suas bicicletas que desafiavam a gravidade e faziam todo um estádio ficar sem ar. O desejo de marcar gols era tão obsessivo e compulsivo nesse vulcão brasileiro que tudo o que as leis da física permitem Pelé realizou para chegar ao objetivo; até tabelar com as pernas dos adversários. Revendo filmes daqueles tempos, é assombroso confirmar as inúmeras vezes que Pelé, não tendo alternativa, em vez de desistir ou passar a bola, achava uma forma de recrutar seus marcadores para que esses, involuntariamente, o ajudassem a abrir um caminho rumo ao gol. Não é exagero especular que, se houvesse um prêmio de melhor jogador do mundo naquela época, Pelé o teria ganho, ininterruptamente, de 1958 a 1973. E não me venham com Messi ou Maradona. Como Pelé não houve, não há e jamais existirá.

LEMYR MARTINS

Erupção de dribles, arrancadas e gingas

Brasil x Uruguai, no México, em 1970: “A bola não larga do pé de Pelé porque ela faz parte dele!”

Quem viveu e viu sabe. Ponto final. De todos os malabarismos e desafios à lógica que eu presenciei Pelé fazer em campo, a característica que mais me marcou foi verificar, jogo após jogo, como a bola parecia, sem hesitação, grudar em seus pés e, dali para a frente, se recusar a se separar daquele que a tratava como ninguém mais era capaz. Curiosamente, anos depois, um dia eu deparei com uma gravação realizada pela rádio inglesa BBC durante um amistoso Brasil x Inglaterra, disputado no Maracanã, em 30 de maio de 1964. Durante aquele verdadeiro massacre futebolístico (5 x 1) imposto pelos então bicampeões mundiais aos futuros campeões do mundo, o lance do primeiro gol brasileiro desnorteou o locutor da BBC a ponto de levá-lo a dizer que Pelé realmente não devia ser deste universo. Nesse lance, depois de driblar vários ingleses, Pelé tenta o chute ao gol. Caprichosamente, a bola bate num defensor e

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SEBASTIAO MARINHO

Final da Copa de 1970: “Num dos meus artigos científicos mais citados, narrei o gol de Pelé para descrever as maravilhas que o cérebro humano é capaz de realizar”

WILSON SANTOS

Palmeiras 1 x 3 Santos, em 1968: “Nada se comparava à expectativa de estar presente num jogo em que o Rei desfilaria pelo gramado”

me venham com messi ou maradona. como “ nãopelé não houve, não há e jamais existirá ” retorna. Para onde? Ora, para o mesmo pé de Pelé, que, imediatamente, para desespero do locutor britânico, coloca Rinaldo (então ponta-esquerda do Palmeiras) na cara do gol. Mais tarde, Pelé daria outro passe de gênio para que o ícone alviverde Julinho Botelho marcasse mais um gol para o Brasil. Segundo o locutor da BBC, todas essas jogadas fenomenais refletiam o fato inegável de que “a bola não larga do pé de Pelé simplesmente porque ela faz parte dele!”

Objetos como extensão do corpo

Meio século depois daquele jogo histórico, em todas as minhas palestras pelo mundo afora, é esse o exemplo que uso para descrever como nosso cérebro de primata assimila todas as ferramentas que cada um de nós utiliza no cotidiano — nossos carros, nossos telefones, nossas roupas, raquetes, bolas etc. — como uma verdadeira extensão do nosso corpo biológico. Levado

ao limite da sua capacidade de assimilação, nosso cérebro permite que alguns de nós atinjamos graus impressionantes de proficiência no manuseio de ferramentas artificiais e objetos inanimados. Muito provavelmente é dessa voracidade cerebral em assimilar tudo ao seu redor que emergem os exímios violinistas, pianistas e também os craques de futebol, esses heróis populares que nos permitem manter por toda uma vida, ainda que tenuamente, laços quase imemoriais com nossa infância e juventude. É por isso que, ao terminar minhas palestras, sempre gosto de frisar que, se um dia alguém tivesse o privilégio de mapear o cérebro desse vulcão de duas pernas chamado Pelé, esse alguém encontraria, na região do lobo parietal, não apenas a representação de um pé — mas, sim, a imagem de uma verdadeira fusão desse com aquela que foi sua mais fiel e amada companheira: a bola! o

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Meus gols e minhas Copas Maior artilheiro da história das Copas, Ronaldo relembra seis momentos cruciais de sua carreira como jogador

Ronaldo

(Rio de Janeiro, RJ, 1976), campeão do mundo pelo Brasil nas Copas de 1994 e 2002, marcou 67 gols pela seleção. Foi eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa em 1996, 1997 e 2002.

Ilustração Flávio Rossi

edição especial placar Veja

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1997 no baRcelona, é eleito o melhoR jogadoR do mundo

pisco dEl gaiso

EugEnio sávio

1998

“Marquei esse gol contra o Flamengo, no Mineirão, pelo Campeonato Brasileiro. Foi muito bom ter começado a carreira no clube.”

“Eu tinha sofrido uma convulsão antes do jogo e ainda tive esse choque. Foi uma partida em que não tivemos nenhuma chance.”

ricardo corrêa

na final da copa do mundo

capa da Revista placaR, foi vendido do psv eindhoven, da holanda, paRa o baRcelona, da espanha, poR 20 milhões de dólaRes

2002

“Em toda minha carreira, só pensei em jogar e fazer meu melhor. Nunca me importei com o valor das transferências de um time para outro. Quando a foto foi tirada, eu era muito jovem. Jogar na Holanda foi uma experiência única. Tenho ótimas lembranças de lá.”

“Momento histórico! Esses dois gols foram os mais importantes da minha vida.”

veja gols do Ronaldo em http://abr.io/ronaldo

faz os dois gols do bRasil na final da copa do mundo contRa a alemanha ricardo corrêa

1996

chamado de Ronaldinho no início da caRReiRa, começou no cRuzeiRo, clube que o pRojetou paRa a seleção

2009 estReia no coRinthians em um jogo contRa o palmeiRas

“Fiz um gol logo no primeiro jogo — e num clássico. Foi demais! O alambrado até cedeu. Bons tempos.” o

marcos ribolli

1993

alExandrE battibugli

“Foi o primeiro dos três gols que fiz contra o Valencia [3 x 2]. Lembro do Zubizarreta gritando com a zaga, que deixei para trás na corrida.

edição edição especial especial placar placar Veja Veja

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Vai,

Brasil!

Qual foi a sua Copa inesquecível? Os cinco brasileiros que aparecem nestas páginas respondem

Sinto uma emoção incontrolável nos jogos do Brasil. A Copa da África do Sul, em 2010, foi especial porque eu estava gravidíssima. Em 2014, quero estar uniformizada, comprar apitos e fazer muita festa. A gente tem talento e raça para ganhar. Além disso, sou fã do Felipão. Ele motiva, vibra. E o Neymar é um menino de ouro. Ele precisa montar uma coreografia para a gente imitar. Quero que ele dance muito!

DanilO BOrges

A palmeirense Adriane Galisteu, com a camisa da seleção pintada sobre o corpo: coreografia de Neymar

edição especial placar Veja

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Lembro-me muito do jogo Brasil x Holanda, na Copa de 1994. Assisti ao jogo na casa dos meus pais, com minha família. A imagem do Branco chorando após fazer o gol de falta me emocionou muito. Aquela partida mostrou que o time seria campeão.

Sabrina Sato, torcedora do Corinthians

foto anDré schiliró

Daryan Dornelles

Luciano Huck, corintiano

Make e cabelo: roDrigo costa; eDição De MoDa: yan acioli; ProDução: alyne ribeiro

minha copa inesquecível é a de 2002. além da nossa vitória, dividi com os jogadores e a comissão técnica a chegada ao Brasil, com a taça na mão e o desfile em carro aBerto.

na copa de 2002, minha música ‘festa’ estava no auge. quando a seleção voltou e passou por Brasília, cantei-a num trio elétrico, com o povo seguindo. foi um divisor de águas na minha carreira.

Ivete Sangalo torce para o Vitória

Tony Ramos torce para o São Paulo

anDré Passos

Daryan Dornelles

A Copa é um momento marcante. A que mais me causou impacto foi a de 1958, porque trouxe uma certa poesia. O acesso às informações era precário e as notícias chegavam três ou quatro dias após as disputas, pelos cinejornais. Nos gramados, jogavam os fascinantes Didi e Garrincha. Pelé aparecia. A de 1970, no México, também marcou. Não somente porque ganhamos o tri, mas porque havia as ‘feras do Saldanha’, que atuaram depois sob a liderança de Zagallo: Tostão, Pelé, Carlos Alberto, Gérson e Jairzinho. Eu acompanhei com olhos de paixão. Assim como farei na Copa no Brasil.


aquele gol de empate

J.B. ScAlco

Acompanhamos os últimos retoques do muralista Eduardo Kobra ao grafitar um momento marcante do futebol brasileiro em uma esquina de São Paulo

N

edição especial abril na copa

fotoS AlexAndre Severo

as quartas de final da Copa do Mundo da Espanha, em 1982, o Brasil perdia da Itália por 2 x 1, até que Falcão empatou a partida — o resultado classificava a seleção para a semifinal, mas os italianos marcariam o terceiro gol e o Brasil seria eliminado. No clique feito para a revista PLACAR, o fotógrafo J.B. Scalco captou a euforia de Falcão que, agora, foi reproduzida pelo muralista Eduardo Kobra em uma esquina de São Paulo. Durante duas semanas, com oito horas de trabalho por dia e o auxílio de três pessoas, ele deu forma à pintura que ocupa uma área de 15 metros de comprimento por 8 de altura, no encontro das avenidas Santo Amaro e Hélio Pellegrino, na zona sul de São Paulo. O grito incontido, os punhos cerrados, as veias e os músculos saltados no corpo de Falcão ficaram eternizados na foto como o último momento de alegria daquela seleção que perdeu, mas que entrou para a história com uma das melhores de todos os tempos. o

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Acima, o trabalho já incorporado à rotina de São Paulo. À esquerda e à direita, Kobra e os assistentes finalizam o desenho

EDUARDO KOBRA

(São Paulo, SP, 1977), muralista e artista plástico, trouxe a técnica de 3D para a street art no Brasil. Tem grafites espalhados por muros, ruas e fachadas de São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Los Angeles, Londres e Atenas. Assista ao vídeo desta reportagem em http://abr.io/kobra

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Que ninguém durma!

ssoAl ArquiVo pe

ChiCo nelson

Boni regeu a cobertura da TV Globo em muitas Copas. A seguir, ele toma emprestada a dramaticidade de uma ópera para narrar os lances que viveu e viu de perto

Acima, Boni nos bastidores da Globo, nos anos 70. À direita, em 1994, durante a Copa dos EUA, com Sérgio Mendes, Luciano Pavarotti, a mulher, Lou de Oliveira, e os filhos

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essun Dorma é uma ária da ópera inacabada Turandot, de Giacomo Puccini, escrita em 1926. Nela, a princesa Turandot determina que ninguém durma até que o nome do príncipe que a corteja seja descoberto. A ária acabou se tornando o hino da Copa do Mundo da Itália, em 1990, quando a TV inglesa BBC elegeu a gravação de Luciano Pavarotti como tema de suas transmissões. Por causa do sucesso, fizemos uma entrevista com Pavarotti e conversei um pouco com ele sobre Caruso, Puccini e Turandot. Na Copa de 1994, nos Estados Unidos, eu estava com meu compadre [músico e compositor] Sérgio Mendes na sala vip da Fifa, na final Brasil x Itália. No intervalo do jogo, apareceu o Pavarotti. Confiante na supremacia da Itália, ele cantava vitória antes do tempo. Terminada a partida, demos novamente de cara com o tenor. Com seus pulmões invejáveis, ele chegou gritando: “Incubo... incubo!” Perguntei o significado da palavra. “Un brutto sogno”, ele esclareceu. Sérgio e eu nos entreolhamos e sacamos: “Um pesadelo... um pesadelo!” À noite assistimos ao show Os Três Tenores, aberto por Pavarotti com Nessun Dorma e encerrado por ele, Carreras e Domingo com Aquarela do Brasil, sob a regência de Zubin Mehta. Com o Brasil tetracampeão, eu poderia dormir sonhando com os anjos, mas o pesadelo da final da Copa de 50 voltou à minha cabeça e eu passei a noite solfejando Nessun Dorma.

O pesadelo silencioso

No quadrangular final da Copa de 1950, como o Brasil havia vencido a Suécia por 7 x 1 e a Espanha por 6 x 1, precisava apenas de um empate com o Uruguai. No segundo tempo desse jogo, estava 1 x 1 e o time só tocava a bola para fazer o tempo passar e receber a taça no final. De repente,

aos 34 minutos, Ghiggia escapou pela direita, aproximou-se do gol brasileiro e chutou. Décadas depois, naquela noite de 1994, eu fritava na cama e, no pesadelo, via a bola quicando em slow motion. Parecia que a defesa seria fácil. O sonho parava aí, recomeçava e parava no mesmo lugar. Eu despertava suando frio, dormia e acordava de novo. O lance nunca se completava. Mas o Brasil inteiro sabe o que aconteceu. A bola caprichosamente entrou em um pequeno espaço entre a trave e a mão do goleiro Barbosa. O Maracanã incrédulo, tomado por um torpor, ficou em silêncio. Nascia ali o nosso “complexo de vira-lata”, definido por Nelson Rodrigues. O amigo Armando Nogueira escreveu: “Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera”. O PESADELO SILENCIOSO, para nós, brasileiros, durou oito anos.

O pesadelo raivoso

Em 1958, eu trabalhava em São Paulo, na Agência de Publicidade Lintas, e fazia um frila na RGE Discos e na Rádio Bandeirantes. O José Scatena, dono da RGE, logo depois da vitória sobre a França por 5 x 2 [na semifinal], encomendou ao quarteto Maugeri Neto, Maugeri Sobrinho, Victor Dagô e Lauro Muller um hino sobre a conquista da Copa. Saiu A Taça do Mundo É Nossa. A pedido do Scatena, fui para o Rio e, com alguns discos debaixo do braço, percorri as rádios cariocas para “trabalhar” a execução do hino. Depois fui ouvir o jogo na praia, em Copacabana. O Brasil ganhou e o país acordou do pesadelo de 50. Em 1962, na Copa do Chile, Brasil bicampeão. Em 1966, a Copa da Inglaterra foi chatinha. O Brasil não estava bem. Pelé foi caçado. Fomos eliminados. O tri só veio em 70, no México, com uma seleção impecável. Eu só implicava com o baixinho Felix e, até hoje, não entendo como ele

NA sUpreMACIA DA ITálIA, lUCIANO “ CONfIANTe pAvArOTTI CANTAvA vITórIA ANTes DO TeMpO eM 1994 ” 27 27

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foi parar no meio de tanta gente boa. Na Copa de 74 [Alemanha], ficamos em quarto. Em 78 [na Ar­ gentina], amargamos um terceiro lugar. Mas na Copa de 1982 [na Espanha], o Brasil estava tinindo. No dia da nossa estreia, o [jornalista, trabalhou na TV Globo por 25 anos] Armando Nogueira me convidou para almoçar no La Dorada, em Sevilha, com o [também jornalista e diretor da TV Globo] Ciro José. Nos deliciamos com uma do­ rada a la sal, fizemos a siesta, demos um passeio e, à noitinha, fomos para o estádio. O primeiro adversário foi a Rússia. O Brasil estava bem cotado, mas o primeiro tempo foi um desastre. Ganhamos de 2 x 1, claramente favorecidos pelo juiz espanhol. As atuações contra Escócia, Nova Zelândia e Argentina revelaram um outro time, solto e jogando bonito. O entusiasmo era grande e havia até gente dizendo que a seleção era igual ou melhor que a de 70. E o pesadelo veio quase com a mesma intensidade de 50. No Estádio Sarriá, quando a Itália nos eliminou por 3 x 2, o atacante Paolo Rossi estava com a macaca e marcou os três gols, nos deixando em quinto lugar. Na final contra a Alemanha, quando a Itália ganhou, vi nas ruas de Barcelona e nos bares de tapas e pintxos muitos brasileiros agitando bandeiras italianas. Perguntei a um grupo: “Por que isso?” E me responderam: “É raiva”. Foi um PESADELO RAIVOSO.

O pesadelo misterioso

Peregrinação com amigos na Copa de 1998 na França: abaixo, o chef francês Michel Guerard e a mulher, Zazá. Na foto da direita, com Emerson Fittipaldi e Sérgio Mendes

A Copa de 1986 era para ser realizada na Colômbia, mas foi transferida para o México. O Brasil foi eliminado pela França nas quartas de final, em jogo decidido nos pênaltis, tendo Sócrates e Júlio César falhado em suas cobranças. Em 1990, na Itália, a Argentina nos despachou cedo para casa, e viemos carregando na bagagem um vexaminoso nono lugar. Em 1994, nos Estados Unidos, o Brasil jogava amarrado mas de forma eficiente, com bons resultados nos dois primeiros jogos, seguidos de um

empate com a Suécia e vitórias magras nas oitavas e quartas de final. A decisão com a Itália foi dura. Os dois países tinham conquistado três Mundiais. O vencedor teria, na história das Copas, uma vitória a mais que o outro. Eu estava lá e havia colaborado para um hino do tetra chamado Taça na Raça, composto pelo Tavito. “Eu sei que vou, vou do jeito que sei / de gol em gol, com direito a replay / Eu sei que vou com meu coração a mil / É Taça na Raça, Brasil“. Era quase uma promessa. Do meu lugar no estádio, empurrava a bola com a força da mente. Na hora dos pênaltis, a tensão subiu. Galvão Bueno, o narrador da Globo, encontrou uma frase mais que feliz: “Vai que é tua, Taffarel!” Pelé, comentarista da emissora naquela Copa, suava em bicas. Quando a bola do pênalti cobrado pelo Baggio ainda estava saindo do chão, Pelé sabia que iria por cima do travessão e se antecipou, gritando, agarrado ao Galvão: “É tetra. É tetra!” Após as comemorações, eu, minha família e a de Sérgio Mendes entramos numa limusine e deixamos o Rose Bowl, em Pasadena, com destino a Los Angeles. Tínhamos levado uns comprimidos para aliviar a tensão. Não foi necessário. Havíamos corrido, atacado e defendido como qualquer jogador em campo. Apagamos no carro. Na Copa de 1998, reunimos de novo nosso grupo e acompanhamos o giro da seleção pela França. A estreia contra a Escócia foi decepcionante. O Brasil venceu por 2 x 1, mas favorecido por um gol contra de Boyd. Marrocos, em Nantes, foi fácil. A Noruega nos bateu em Marselha. Foi indigesto. Salvou-nos uma bela bouil­ labaisse após o jogo, com os noruegueses nos gozando. Na volta a Saint-Tropez, onde estávamos hospedados, criamos um bordão. De tempos em tempos, um de nós gritava: “PQP”. E o grupo respondia em coro: “Que jogo, hein?!?” Houve um alívio nos 4 x 1 sobre o Chile, mas o bordão voltaria a ser a válvula de escape depois da vitória sofrida contra a Dinamarca nas quartas de final e no duro jogo com a Holanda,


fOTOS arquiVO PeSSOal

Cenas de 1998: Lou de Oliveira celebra o aniversário com Dercy Gonçalves. Na arquibancada, a turma da Globo: o jornalista Pedro Bial, o ex-diretor de programação Roberto Buzzoni, sua mulher, Ana, e o ator e diretor de TV Daniel Filho

nas semifinais, quando nos classificamos nos pênaltis. De qualquer forma, nos preparamos para a conquista em Paris, já que a França não parecia um grande rival. O jogo seria dia 12 de julho, aniversário da minha esposa, Lou. Depois da partida, faríamos um jantar nos salões do Hotel Ritz. O grupo de brasileiros era grande. Para mais de 50 pessoas. Tudo estava preparado até que a Dercy Gonçalves deu a ideia de anteciparmos as comemorações para o sábado, dia 11. Do jeito dela, Dercy me disse: “Porra, o Brasil não vai ganhar. Já sei que tá tudo combinado. Vai ser uma merda”. Ainda bem que aceitamos a sugestão. No domingo, fomos juntos para o Stade de France. Minha família e as de Sérgio Mendes, Dercy, Daniel Filho, o primo Buzzoni e o chef francês Michel Guerard, três-estrelas no Michelin, acompanhado de Zazá, sua maravilhosa esposa — que exibia as unhas pintadas com as cores da França de um lado e as do Brasil de outro. Já no estádio, veio correndo atrás da gente a Suzana Werner, namorada do Ronaldo Fenômeno, atuando como repórter convidada da Globo. Imaginei que ela queria uma entrevista. Nada disso. Ela nos avisou que Ronaldo não jogaria. Ele havia passado muito mal à noite. O camarote vip da Fifa estava cheio de boatos. Um deles era o de que a Suzana havia largado o Ronaldo pelo Pedro Bial, história prontamente desmentida. O surto de Ronaldo seria uma convulsão epilética,

uma indigestão. Ele teria amarelado pela responsabilidade de carregar o time nas costas. Quando foi anunciada a escalação, vibramos. Ronaldo jogaria. Mas o time entrou em campo irreconhecível. Todos tristes, apáticos, cabisbaixos. Após a derrota por 3 x 0, o camarote virou um antro de fofocas, que circulavam à velocidade de um TGV, o trem-bala francês. Uma delas apontava para a Nike, que teria obrigado Ronaldo a jogar porque o contrato previa sua presença em todos os jogos. Outra dizia que Dunga teria batido o pé e exigido a escalação. Ou que Ricardo Teixeira e a Nike teriam vendido o jogo para os franceses. O boato mais comum dizia que a Fifa, para estimular os investimentos para a Copa, havia prometido o campeonato à França e, para a gente amolecer o jogo, havia assegurado ao Brasil a vitória em 2002. Perplexos, deixamos o estádio e fomos a uma brasserie. No caminho, nosso motorista francês repetia: “Catastrophe!” Ao entrar no restaurante, como ainda vestíamos a camisa da seleção, os clientes nos chamavam de “cacahuètes”, cuja tradução significa amendoim, mas na gíria do país significa “fracotes, covardes”. Foi e talvez seja para sempre um PESADELO MISTERIOSO. No mundo de interesses políticos e comercias, os pesadelos nos rondam. No mundo dos esportes, o futebol leva a fama de ser uma “caixinha de surpresas”. Por isso, que NINGUÉM DURMA EM COPA ALGUMA. o

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fernanDO frazãO

nORESTAURAnTE, RESTAURAnTE,nOS nOS chAmAVAm ChAMAvAMdE dEcAcAhUÈTES, CACAhUÈTES, “nO gÍRiAFRAncESA FRAnCESApARA pARAFRAcOTES, FRACOTES,cOVARdES COvARdES GÍRiA ”

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni

(Osasco, SP, 1935), foi vice-presidente de operações da Globo por 30 anos. Dono da TV Vanguarda, afiliada da emissora no Vale do Paraíba (SP), é corintiano.


aos craques, com estilo Filho de goleiro, o estilista Ronaldo Fraga desenhou — uma a uma, com lápis e canetinha hidrocor — as figurinhas dos 21 jogadores que compõem o álbum em homenagem à sua seleção brasileira de todas as épocas

Ronaldo Fraga

(Belo Horizonte, MG, 1967), estilista, é filho do ex-goleiro Fraga, do Sete de Setembro, de Belo Horizonte. Já criou 36 coleções da marca que leva seu nome. A mais recente delas, apresentada na São Paulo Fashion Week primavera-verão 2013/2014, tem como tema o futebol. É torcedor do Cruzeiro.

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3. Mané Garrincha, atacante, bicampeão do mundo nas Copas de 1958 e 1962; 4. Djalma Santos, lateral-direito, bicampeão em 1958 e 1962; 5. Bellini, zagueiro, capitão em 1958; 6. Zizinho, atacante, vice-campeão em 1950; 7. Zito, volante, bicampeão em 1958 e 1962; 8. Didi, meio-campista, campeão em 1958 e 1962

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9. Roberto Rivellino, atacante, campeão em 1970; 10. Ademir de Menezes, atacante na Copa de 1950; 11. Pelé, atacante, tricampeão em 1958, 1962 e 1970; 12. Domingos da Guia, zagueiro, terceiro lugar na Copa de 1930; 13. Carlos Alberto Torres, lateral-direito, capitão da seleção campeã em 1970; 14. Leônidas da Silva, atacante, terceiro lugar em 1938

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15. Tostão, atacante, campeão em 1970; 16. Sócrates, meio-campista, jogou as Copas de 1982 e 1986; 17. Bebeto, atacante, campeão em 1994; 18. Cafu, lateral-direito, campeão em 1994 e 2002; 19. Ronaldo, atacante, campeão em 1994 e 2002; 20. Taffarel, goleiro, campeão em 1994; 21. Rivaldo, meio-campista, campeão em 2002; 22. Romário, atacante, campeão em 1994; 23. Ronaldinho Gaúcho, atacante, campeão em 2002 o

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linha de passe afinada No encontro da música com o futebol, da o maestro João Carlos Martins coman uma roda de chorinho composta pelos craques Mauro Silva, Evair e Wladimir reportagem alex Xavier e Miguel fotos ricardo corrêa

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O grupo reunido (a partir da esquerda): Ney Marques, João Carlos Martins, Evair, Wladimir e Mauro Silva

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1. João Carlos Martins recebe um presente de Evair 2. O maestro mostra aos craques que, aos poucos, os movimentos da mão estão voltando

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3. O ex-lateral Wladimir lidera os percussionistas 4. Mauro Silva acompanha o bandolim

primeiro a chegar é Evair, o “Matador”, centroavante que jogou por clubes como o Guarani e o Palmeiras. Ele entrega ao pianista e maestro João Carlos Martins a camisa 9 da Portuguesa, com a qual jogou em 1998. Em poucos segundos, eles engatam um bate-papo animado sobre a Lusa. O maestro conta que, sempre que pode, vai ao Estádio do Canindé para acompanhar o clube do coração e relembrar a equipe que foi base da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1954, com Djalma Santos, Brandãozinho e Pinga, entre outros. À entrada de Wladimir, lateral-esquerdo do Corinthians nos anos 1970 e 1980, João Carlos

Martins dispara: “Ih, esse cara acabou com meu time várias vezes”. O último a aparecer é Mauro Silva, titular da seleção brasileira tetracampeã na Copa de 1994, nos Estados Unidos, e saudado pelo maestro como “rei da Espanha”, do mesmo modo pelo qual os torcedores do La Coruña o chamavam. Pronto, naquela manhã de terça-feira, 23 de abril, estava formado um novo grupo musical na sede da Fundação Bachiana, no centro de São Paulo, criada e dirigida por Martins. O inusitado encontro foi promovido pela Edição Especial ABRIL NA COPA. Antes de começar a sessão, o maestro leva os boleiros para ver o ensaio de algumas das 4 000 crianças que participam de projetos sociais na instituição. “Aqui juntamos a disciplina do atleta

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5. Evair ensaia o batuque, com o maestro ao fundo 6. Os craques seguem o ritmo do bandolinista Ney Marques no chorinho “Brasileirinho”

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7. A “banda” reunida 8. Pose para a posteridade: os participantes da roda de chorinho, reforçados pelo pianista Zé Antônio

com a alma do poeta”, explica Martins. Ele próprio é exemplo disso. Nos anos 1960, durante uma pelada no Central Park, em Nova York, caiu, rompeu um nervo da mão direita e perdeu parte dos movimentos. O problema foi agravado em 1995, quando sofreu um golpe na cabeça durante um assalto na Bulgária. Mais tarde, um tumor o fez perder as habilidades da outra mão e interromper a carreira como pianista — nos áureos tempos, reproduzia 21 notas por segundo. Passou por diversas cirurgias e surpreendeu os médicos. Nos últimos seis anos, tornou-se maestro e aos poucos vai voltando a tocar — o mais emocionante dos tantos momentos do longo retorno ocorreu quando João Carlos Martins tocou o hino nacional ao piano, no gramado do Estádio do Canindé, na última rodada do Cam-

peonato Brasileiro da série B de 2007, quando a Portuguesa conquistou o retorno à série A. No encontro, os craques do passado se impressionam com a performance de Martins. Sob as orientações do maestro, Wladimir, Evair e Mauro Silva começam a brincar com as caixas de percussão. Meio desajeitados, eles acompanham o bandolinista Ney Marques e o pianista Zé Antônio nos chorinhos “Noites Cariocas”, de Jacob do Bandolim, e “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo, este com João Carlos Martins ao triângulo. Ao fim da jam session, é Evair quem avalia o desempenho do trio: “É mais fácil ensinar o maestro a bater bola do que ele tirar alguma coisa da gente”. o Assista ao vídeo desta reportagem em http://abr.io/jcmartins

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João Carlos Martins

(São Paulo, SP, 1940), pianista e maestro, regeu a Bachiana Filarmônica no Carnegie Hall, em Nova York.


Futebol, mandingas e fanatismos O filósofo Mario Sergio Cortella analisa — e o xilogravurista J. Borges desenha — a devoção dos torcedores de futebol pelo seu time de coração

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rauL jÚNiOr

vêm de um mesmo vocábulo latino, torquere. Claro, há dores inúteis e idiotices retumbantes, como quando o torcer como estímulo e aspiração se torna violência, agressão e brutalidade, quando, então, os deuses se retiram e adentram os demônios, que precisam ser vigiados e controlados, para que o benefício da alegria espontânea e repartida do futebol não se converta no malefício da crueldade intencional e homicida no futebol. Eu faço uma mandinga, o adversário faz outra contra meu time, ou seja, contra mim! Quer me desafiar, me vencer, me humilhar. Porém, “meu nome é legião”, somos muitos, e outros, e vários, e valentes, como nossos deuses; não desistiremos, nem nossos deuses, forças que são anteriores e superiores a nós, com as quais nos ligamos quando oramos, fazemos promessas, dedicamos oferendas, invocamos com fervor. Eu torço, o outro torce comigo, um outro torce contra mim, os adversários se tornam inimigos e nossos deuses se enfrentam nos estádios. Futebol enfeitiça, encanta e cativa! Bom demais; e, como toda boa paixão, é a suspensão temporária do juízo. Copa, taça, copo. Um brinde aos deuses; um pouco do líquido derramamos na grama, fica para “o santo”... o

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Mario Sergio Cortella

(Londrina, Pr, 1954), filósofo, escritor e professor titular da PuC-sP, é torcedor do santos.

MaNu OrisTaNiO

Brasil foi fundado em 1500, o futebol chegou por aqui quase quatro séculos depois, mas, logo em nossos princípios, os colonizadores trouxeram uma palavra africana originária do malinês (no antigo Sudão) que se incorporou ao nosso léxico esportivo com rapidez: mandinga! Mandinga (agora um sinônimo para feitiço, magia, reza-brava, superstição) era um dos nomes dados a alguns povos que viveram em regiões que hoje estariam, além de no Mali, no Marrocos e na Etiópia. Porque esses territórios eram conhecidos como “terra de feiticeiros”, o topônimo ganhou entre nós a acepção de prática sobrenatural. Não é casual que o estupendo escritor (e torcedor fanático) Nelson Rodrigues tenha inventado um personagem, o Sobrenatural de Almeida, para dar sentido a tudo que não parecia ter sentido quando o time dele era derrotado. Afinal, futebol, como campo também da crença desmesurada e da fé menos refletida, é lugar propício aos fanatismos, ainda mais que fanun, em latim, significa templo e fanaticus é quem serve aos deuses (e, nesta Terra de Santa Cruz, especialmente aos deuses do futebol)... Fanático pode ser entendido como louco ou obsessivo; contudo, há um sentido menos delirante, que é entusiasmado ou apaixonado. Sabemos que, etimologicamente, entusiasmado é quem é pelos deuses arrebatado, enquanto que apaixonado é quem é possuído por sentimento tão intenso que encanta, mas que faz sofrer e provoca obscurecimento da razão. Quer coincidência melhor do que esta na órbita futebolística? Arrebatação, sofrimento e razão obscurecida! Esse é o encanto de um esporte no qual “pôr fé” é acreditar no inacreditável, desejar o improvável e resmungar contra o impossível! Vale planejar, estudar e examinar os elementos racionais de uma copa, um campeonato ou uma partida? Vale, mas pouco. O que vale mesmo é cada torcedor torcer, isto é, gritar, cruzar os dedos, praguejar, pedir força, benzer-se, usar amuletos, atormentar-se e atormentar outros; não esqueçamos que os verbos torcer e torturar

J. Borges

(Bezerros, PE, 1935), cordelista e xilogravurista, ganhou a comenda Honra ao Mérito Cultural no governo de Fernando Henrique Cardoso. Torce para o Náutico.


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apioca, feijão, arroz, carne-seca, coco, toucinho, cachaça e diversas variedades de peixe são itens da culinária oriunda de todas as regiões do Brasil. Natural, portanto, que sejam a base de um cardápio elaborado pelo chef Rodrigo Oliveira, do premiado restaurante Mocotó, de São Paulo. “Os pratos têm preparo simples e podem ser feitos com antecedência”, diz Oliveira. Para o vinagrete da página ao lado, ele escolheu o pintado, mas poderia ter usado qualquer peixe de carne branca. O baião de dois, rico, vale por uma refeição. “Uma caipirinha de três limões é perfeita para acompanhar essas receitas”, sugere o chef. o edição especial abril na copa

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250 gramas de tapioca granulada 300 gramas de queijo de coalho 1/2 litro de leite bem quente 8 gramas de sal (pode variar de acordo com o sal do queijo) Uma pitada de pimenta-branca Óleo de soja para fritar modo de preparar Misture o queijo e a tapioca e junte o leite, mexendo sempre para que forme grumos. Acrescente os temperos e continue mexendo até a mistura começar a firmar. Despeje em uma assadeira forrada com plástico (para facilitar na hora de tirar da forma) e cubra com papel filme. Resfrie em temperatura ambiente e leve à geladeira por pelo menos 3 horas. Corte em cubos e frite por imersão a 170 ºC até dourar. Sirva com molho de pimenta agridoce.

peixe 200 gramas de filé de pintado 1/2 litro de água Sal a gosto asinhas de pintado 100 gramas de nadadeira de pintado 20 mililitros de vinagre 10 mililitros de cachaça Sal e semente de coentro a gosto Polvilho para empanar Óleo de soja para fritar Vinagrete 2 tomates em cubinhos 1 cebola roxa pequena em cubinhos 3 pimentas cambuci em cubinhos 50 gramas de jerimum em cubinhos 1 pimenta dedo-de-moça 1 dente de alho picado Gengibre picado a gosto Coentro fresco a gosto 50 mililitros de vinagre de maçã 100 mililitros de azeite 25 gramas de açúcar Sal e azeite de oliva extravirgem a gosto

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modo de preparar peixe Ferva a água com o sal e cozinhe o filé de pintado por 3 minutos. Retire-o da água e coloque em água fria com gelo, para interromper o cozimento. Assim que esfriar, corte o peixe em cubinhos. asinhas Tempere-as com todos os ingredientes e deixe descansar. Passe-as no polvilho e frite por imersão a 180 ºC até ficarem douradas. Vinagrete Misture todos os ingredientes e acerte os temperos. Reserve. O vinagrete ficará mais gostoso depois de algumas horas na geladeira. montagem Disponha uma porção do vinagrete num recipiente, junto com parte do líquido solto do peixe já frio. Coloque três ou quatro cubinhos do peixe e uma asinha. Finalize com um fio de azeite e coentro fresco.


arroz 1 quilo de arroz 50 gramas de banha de porco 50 gramas de manteiga de garrafa 5 dentes de alho 3 folhas de louro 5 gramas de colorau 1 tablete de caldo de galinha ou de legumes Sal a gosto

Feijão 1 quilo de feijão-fradinho cozido e escorrido 300 gramas de carne-seca cozida e desfiada 150 gramas de toucinho defumado em cubos 150 gramas de linguiça defumada em cubos 150 gramas de queijo de coalho 5 tomates em cubos 2 cebolas roxas em cubos 1 pimentão verde em cubos 50 gramas de manteiga de garrafa Cheiro-verde

Modo de preparar Frite o alho na manteiga de garrafa e na banha. Despeje o arroz e mexa bem até dourar. Junte o colorau, o caldo fervente, o louro e deixe cozinhar em panela tampada até os grãos ficarem macios, mas sem desmanchar. Reserve. Frite rapidamente o toucinho em sua própria gordura e, quando começar a dourar, junte a linguiça e a carne-seca, mexendo por mais alguns instantes. Reserve. Na mesma panela, aqueça rapidamente a cebola, o pimentão e os tomates. Por fim, misture tudo ao feijão-fradinho, acerte o sal e finalize com o cheiro-verde e a manteiga de garrafa.

Caipirinha 60 mililitros de cachaça branca de alambique 1/2 limão-cravo 1/2 limão Taiti 1/2 limão-siciliano 1 colher (sobremesa) de açúcar refinado 1 colher (sobremesa) de açúcar de especiarias* Gelo

*açúcar de especiarias 1 quilo de açúcar refinado 2 unidades de fava de baunilha 7 unidades de anis-estrelado 7 unidades de cravo 10 unidades de zimbro 1 colher (chá) de erva-doce

Modo de preparar açúcar Raspe as favas de baunilha e toste rapidamente as demais especiarias. Misture todos os ingredientes num pote hermético e deixe descansar por pelo menos 1 semana antes de usar. Caipirinha Corte os limões ao meio e retire a fibra branca que fica no miolo, entre os gomos. Corte o que sobrou em fatias de 5 milímetros. No copo para caipirinha (cerca de 390 mililitros), macere as fatias com o açúcar. Adicione o gelo até encher o copo e complete com a cachaça. Misture.


Agradecimentos: Antiquário Eduardo Brunoro, Atelier de Cerâmica Hideko Honma, Artmix, Donatelli Tecidos, Roupa de Mesa, Utilplast. Produção: Henrique Morais e Juliana Pickel

Tapioca 75 gramas de tapioca granulada 375 mililitros de creme de leite fresco 200 mililitros de leite de coco 100 mililitros de leite 1 lata de leite condensado 2 ovos inteiros 2 gemas Calda 200 gramas de açúcar 80 mililitros de água Calda de coco queimado 500 gramas de açúcar 150 mililitros de leite de coco 100 mililitros de água 3 unidades de anis-estrelado Crocante de coco 500 gramas de coco fresco

Modo de preparo Hidrate a tapioca com o creme de leite fresco e o leite de coco por pelo menos 2 horas. Reserve. Leve a água e o açúcar ao fogo para fazer um caldo caramelado. Espalhe-o numa forma de pudim e reserve. Prepare a calda de coco caramelizando o açúcar e juntando o anis, a água e o leite de coco. Cozinhe até obter o ponto de fio grosso. Para o crocante, espalhe o coco ralado em uma assadeira forrada com silicone e asse em forno baixo, mexendo sempre até dourar. Misture os ovos, as gemas, o leite e o leite condensado. Mexa bem, coe em uma peneira fina e junte à tapioca hidratada. Coloque a mistura na forma caramelada e asse em banho-maria a 150 ºC por 40 minutos ou até firmar. Resfrie o pudim e sirva com a calda quente e o crocante de coco.

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Rodrigo Oliveira

(São Paulo, SP, 1980) é chef de cozinha do restaurante Mocotó, em São Paulo. Aberta por seu pai, José de Almeida, em 1979, a casa é destaque em publicações internacionais, como nos jornais Financial Times, da Inglaterra, e Le Figaro, da França. Torce para o São Paulo.


Gustavo Rosa

(São Paulo, SP, 1946), pintor, desenhista e gravador, lançou grife própria na Bloomingdale’s, em Nova York. Torce para o São Paulo.

Futebol-arte

fotos João Ávila

Uma esfera branca e um desafio aos artistas Gustavo Rosa

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Isabelle Tuchband

(Taubaté, SP, 1968), pintora, escultora e ceramista, tem trabalhos em Paris, Nova York e Berlim. É são-paulina.

e Isabelle Tuchband: fazer dada bola uma peça dede exposição e Isabelle Tuchband: fazer bola uma peça exposição

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e fosse rolar nos gramados do país durante a Copa, a bola idealizada por Gustavo Rosa teria os tons da bandeira nacional, devidamente conectados com as experimentações geométricas que marcam a obra do artista. Isabelle Tuchband, por sua vez, traduz seu entusiasmo pelo futebol em muitas cores. “É uma homenagem à alegria do povo brasileiro e à energia viril do esporte, quase uma religião por aqui”, diz ela. o

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sAlto Alto, só nA torcidA

EDU LOPES

A moda é nossa!

Inspirado nas cores da bandeira brasileira, o designer Fernando Pires compôs uma verdadeira joia para vestir os pés das torcedoras. Num trabalho minucioso, colou um a um cerca de 8 000 cristais tchecos, que cobrem do calcanhar às laterais, do bico ao salto — que, aliás, desafia aquelas que tiverem disposição e equilíbrio para vibrar a 14 centímetros do chão.

Fernando Pires

(São Vicente, SP, 1954), designer de calçados, tem Madonna e Mariah Carey entre suas clientes.

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O designer de sapatos Fernando Pires e o estilista Pedro Lourenço criam modelos exclusivos em homenagem à Copa do Mundo no Brasil foto João Ávila

look Vip

Pensando nas diversas festas que ocorrem paralelamente à Copa, Pedro Lourenço desenhou um figurino para quem vai circular por camarotes e eventos vips.

Brasil central

Mais curvas

A ideia é que o vestido seja feito de crepe preto e cetim amarelo. A cintura, marcada pela basque — acessório comum nos figurinos dos anos 1940 —, dá volume aos quadris.

Cor e humor

“Tento ver o mundo de maneira menos literal. O amarelo é suficiente para representar o país, o nosso sol”, diz Pedro. E concede: uma sandália verde de tiras daria um toque bem-humorado ao look.

ediçãoespeciAl especiAlAbril AbrilnA nAcopA copA edição

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EDUARDO SVEZIA

A inspiração para criar a silhueta delineada pelo contraste entre o amarelo e o preto vem, segundo Pedro, do jacaré do Pantanal. “É um animal brasileiro, bonito e pouco louvado”, diz o estilista.

Pedro Lourenço

(São Paulo, SP, 1990), estilista, assinou a primeira coleção aos 12 anos e lançou a grife que leva seu nome aos 15. Em 2012, desfilou na semana de moda de Paris.


ArquIvo PessoAl

Inspirado pela rivalidade entre duas seleções interplanetárias, o desenhista Joe Bennett cria um duelo clássico entre um herói e um vilão das galáxias

Joe Bennett

(Belém, PA, 1968) desenha, desde os anos 90, superheróis para Marvel e DC Comics, as mais famosas editoras de histórias em quadrinhos no mundo.

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Osmar Santos em seu apartamento: até 6 horas por dia diante das telas

Com a voz, com a mão le narrou as Copas de 1986 (na TV Globo) e de 1990 (na TV Manchete) e comandou os comícios da campanha “Diretas Já”, em 1984. Desde os anos 1970, no rádio, criou bordões que marcaram a história do esporte, como o inesquecível “ripa na chulipa e pimba na gorduchinha”. Com a carreira interrompida em 1994, depois de um acidente de carro que o deixou com sequelas na fala e na locomoção, Osmar Santos fez da pintura, mais do que uma terapia para sua recuperação, um novo meio de comunicação. Ao longo dos anos, teve o auxílio de artistas como Aldemir Martins. Na sala de sua casa, em São Paulo, ele pinta diariamente, às vezes por 6 horas seguidas, e apenas com os dedos da mão esquerda. Atualmente, detalhes à sua volta servem-lhe de inspiração. Atendendo ao convite da Edição Especial ABRIL NA COPA para criar um quadro sobre a Copa no Brasil, resolveu redesenhar a bandeira brasileira. Começou a pintar às 17h e terminou às 18h30, ou seja, 90 minutos depois. O tempo de uma partida de futebol.

Osmar Santos

(Oswaldo Cruz, SP, 1949), ex-narrador esportivo, cobriu as Copas de 1982 e 1994 no rádio e, para a TV, as Copas de 1986 e 1990. Em 1984, apresentou comícios da campanha “Diretas Já”.

fOTOS rEnaTO PizzuTTO

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O ex-narrador Osmar Santos teve a carreira interrompida por um acidente de carro. Começou a pintar e, aqui, produz uma tela exclusiva para simbolizar sua paixão pelo futebol


foTos fErNaNdo LEmos

os astros da minha lista

José Wilker

Cinema e futebol são paixões do ator José Wilker. Na seleção abaixo, ele indica seus cinco filmes em que o esporte tem o papel principal

(Juazeiro do Norte, CE, 1947) tem 49 trabalhos na TV e atuou em sucessos do cinema nacional como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) e Bye Bye Brasil (1980). É flamenguista.

Assista a trechos dos filmes em http://abr.io/wilker

u Sinopse: O goleiro Joseph é suspenso pelo clube após brigar com um árbitro. Passa a perambular, envolve-se com a bilheteira de um cinema e acaba cometendo um crime. Baseado no romance homônimo do austríaco Peter Handke, usa o isolamento do arqueiro em campo como metáfora para a solidão do personagem.

u Sinopse: Prisioneiro dos nazistas durante a Segunda Guerra, um capitão inglês aceita o desafio dos alemães, que querem mostrar sua superioridade no futebol em um jogo entre selecionados dos dois lados. Para os aliados, a partida é a chance de escapar. Aventura que tem Pelé, Michael Caine e Sylvester Stallone no mesmo time.

edição especial abril na copa

O melhor documentário sobre futebol já feito é Garrincha, Alegria do Povo, de 1962. O diretor, Joaquim Pedro de Andrade, consegue captar não só a alma do jogador mas também a essência do que é uma partida.

u Sinopse: Realizado no ano em que Garrincha conquistou o bicampeonato mundial para o Brasil, mostra o craque no auge. Além de seus dribles nas Copas de 1958 e 1962, traz o jogador treinando no Botafogo, clube de sua vida, e na rotina diária. O original se deteriorou e o filme, considerado perdido, só foi restaurado em 2006.

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Como narra a vida do grande Edson Arantes do Nascimento, Isto É Pelé é um documentário interessante para quem gosta muito de futebol.

u Sinopse: Luiz Carlos Barreto e TV Globo produziram este documentário em 1974, ano em que Pelé deixou o Santos para jogar no Cosmos, de Nova York. Dirigido por Eduardo Escorel, relembra momentos marcantes na carreira do ídolo. Entre eles, a conquista de três Copas e o milésimo gol, em 1968. o

foTos dIVULGaÇÃo

u Sinopse: Famílias curdas refugiadas retornam ao Iraque após a queda de Saddam Hussein e se abrigam em um estádio abandonado. Para levantar o moral, o jovem Asu promove um jogo de futebol entre garotos. Comédia dramática que tem o esporte como fio de esperança em meio à miséria e ao terror.

Gosto bastante de Fuga para a Vitória, dirigido por John Houston em 1981. Além de ser muito benfeito, tem uma participação legal do Pelé. O único defeito é ter sido feito por pessoas que desconhecem o futebol.

Outro trabalho que me vem à mente sempre que penso em cinema e futebol é O Medo do Goleiro Diante do Pênalti, do alemão Wim Wenders. Uma obra-prima.

Kick Off, do diretor iraquiano Shawkat Amin Korki, não é um filme fácil de encontrar, mas é o melhor que eu já vi com o tema. Foi feito em 2009. Eu o descobri em um festival de cinema na China, do qual fui jurado. É belíssimo.


para ganhar, use a cabeça omem mais rápido do mundo embaixo d’água, o nadador Cesar Cielo detém desde 2009 o recorde mundial dos 50 (20s91) e dos 100 metros (46s91) nado livre. Terceiro atleta da história a conquistar consecutivamente o ouro nos 50 metros nos Jogos Olímpicos (Pequim 2008) e no Campeonato Mundial (2009), o nadador foi bicampeão do mundo em 2011. Com esse impressionante retrospecto, chegou à Olimpíada de Londres, em 2012, na condição de favorito ao ouro nas duas provas — mais ou menos como ocorre com a seleção brasileira nas Copas do Mundo. Em vez do ouro, acabou levando o bronze. Passada a decepção inicial por saber que podia ter nadado melhor, Cielo tratou de avaliar seu desempenho friamente. Desde então, cuida da estratégia para se manter em alto nível competitivo e reconquistar o lugar mais alto do pódio olímpi-

co. “Na vitória, a euforia pode esconder as falhas. Quando perdemos, elas são claras”, pondera. “Podemos errar mil vezes. Só não é possível repetir o mesmo erro.” Por isso, Cielo acredita que relembrar as falhas das Copas de 2006 e 2010 pode ajudar o time de Felipão a se superar para 2014. Para o nadador, o preparo mental é tão importante quanto o físico. Em época de competição, por exemplo, desliga o celular e evita checar e-mails. Por mais pressionados que estejam, segundo ele, jogadores e comissão técnica do Brasil não podem deixar que as exigências da torcida e da imprensa afetem sua confiança. A disputa maior é consigo próprio. Lidar com a derrota, ele admite, não é algo fácil. “Aprendi a aceitar que aquele segundo perdido não vai voltar”, diz Cielo. “Quando souber que se dedicou ao máximo, mesmo ao perder o jogador terá a consciência de que fez um bom trabalho.”

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Campeão olímpico, o nadador Cesar Cielo descobriu como tirar proveito dos próprios erros. Uma lição que, ele acredita, também pode servir para a seleção

Cesar Cielo

(Santa Bárbara d’Oeste, 1987), recordista mundial dos 50 e dos 100 metros nado livre, foi ouro nos 50 metros nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008). Torce para o União Barbarense.


LUCIanO araUjO

copa em boa hora

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O economista Ilan Goldfajn diz que há motivos para acreditar no impacto positivo do Mundial em nossa economia. Basta aproveitar os lances no momento certo

MarIe HIppen Meyer

epois de crescer vigorosamente entre 2004 rializa principalmente no aumento das exportações e do e 2010, a economia brasileira começou a desacelerar. Dufluxo de turismo, e é tanto maior quanto menos exposto rante os anos de expansão, a taxa de desemprego caiu, conao mundo estava o país antes. sumiu-se mais energia elétrica e ocuparam-se intensamenNa Alemanha, por exemplo, o resultado foi pequeno, te os espaços urbanos e a infraestrutura instalada. Mas uma vez que já era um dos que mais exportavam e que houve menos sucesso na ampliação da capacimais recebiam turistas no mundo, mesmo andade de produção e no aumento da produtivites da Copa. O Brasil, em contrapartida, tem dade. Agora há sinais de esgotamento da caespaço nos dois setores. Nossas exportações pacidade produtiva, o que pode reduzir o cressomam apenas 12% do PIB e nosso fluxo anucimento potencial do país. al de turistas internacionais é baixo, especialA Copa do Mundo da Fifa vem em boa mente se levarmos em conta a vocação para o hora. Os investimentos em mobilidade urbaturismo de diversas regiões do país. na, aeroportos, portos, telecomunicações, seO efeito econômico da Copa já começa dugurança e energia que acompanham o megaerante sua preparação. A equipe econômica do Ilan Goldfajn vento são fundamentais para o país retomar a Itaú estimou um impacto acumulado de 1,5% (Haifa, Israel, capacidade de crescer no longo prazo. Por do PIB entre 2011 e 2014, gerando cerca de 1966, naturalizado causa disso, a Copa tende a ter um impacto 250000 postos de trabalho. brasileiro), econômico maior e mais importante no Brasil E o principal não é somente o impacto soeconomista-chefe do que em sedes anteriores, como Alemanha bre o crescimento antes do evento e durante e sócio do Itaú (2006), Coreia do Sul e Japão (2002) e Franele, mas também seu legado de infraestrutura e Unibanco, foi ça (1998), países com menor necessidade de a exposição da marca Brasil, que podem elevar diretor de política infraestrutura adicional. o PIB potencial por anos à frente. econômica do Alguns argumentam que, como esses inPara que o resultado seja duradouro, a exeBanco Central. vestimentos são importantes, aconteceriam cução é fundamental. Temos um nível relativaÉ flamenguista. mesmo sem a Copa. No entanto, há estudos mente baixo de poupança interna, de forma que mostram que a realização do Mundial pode que a boa alocação dos recursos é crucial. É ser um gatilho para tornar realidade projetos que estavam preciso aproveitar a oportunidade e investir de forma efihá anos em discussão e não eram implementados. ciente para a realização do Mundial, aliviando os gargalos Há outras razões para acreditar que a Copa terá um atuais e aumentando a exposição da marca Brasil. impacto econômico no Brasil. Uma delas é o chamado A Copa traz boas oportunidades para nossa economia “efeito marca”. Ao sediar um evento internacional desse e pode aumentar o crescimento potencial do país. Cabe a porte, o país potencializa sua marca. Esse efeito se matenós aproveitarmos essa chance. o edição ediçãoespecial especialabril abrilna nacopa copa

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FRAgA

Joãozinho Malvadeza

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O escritor João Ubaldo Ribeiro relembra seus tempos de becão e reflete acerca da honra do desportista

DANIELA DACORSO

cho que a Copa enseja a confissão de um peme deu uma tapona no pé do ouvido que me levou a cado longínquo, na minha carreira futebolística, defendenknockdown. Celeuma, invasão de campo, gritaria, nindo as cores do Flamenguinho do Rio Vermelho, do São guém tinha visto nada direito e todo mundo desmentia Lourenço de Itaparica e de outras agremiações menos retodo mundo. Sua Senhoria não estava em boa posição no nomadas. Zagueiro de recursos discutíveis, mas bom de lance, com uma porção de jogadores obstruindo-lhe a vicarrinho, chutão e reclamação com o juiz, recebi do técnico são. Mas terminou por controlar a situação e o goleiro o Hélio Gaguinho a alcunha de Delegado, pelo meu “efi-ficaz informou a respeito da dedada. Ele aí me chamou e atenpo-policiamento da-da gran-grande área”. di, na clássica postura de mãos nas costas. Deu-se que, com o outro time jogando pelo empate, está— Senhor Delegado — disse ele. — O senhor vai agora me vamos disputando a final do campeonato do Rio Vermelho e dar sua palavra de honra de desportista. O senhor me dá sua o gol não saía. Aí pelos 30 minutos do segundo palavra de honra de desportista que não enfiou tempo, Gaguinho me instruiu para ir ao ataque o dedo entre as nádegas do senhor Gozila? e tentar aproveitar os cruzamentos de Toninho Mirei em torno. Nossa torcida, majoritária, Seminarista. Cumpri a determinação, mas não em silêncio nervoso, todos os jogadores de achei a bola em nenhum dos cruzamentos. Goolho em mim, Gaguinho aguardando meu prozila, o goleiro deles, que lembrava o Dida, só nunciamento, com a cara de que não demonsque maiorzinho, catava tudo. Gaguinho me traria a mínima compreensão, se eu desse a chamou de novo e mandou que, quando o goresposta errada. O campeonato estava na mileirão fosse subir, eu pisasse nos pés dele. nha mão, pois o juiz, que não vira o tapa, mas João Ubaldo Ribeiro Não discuti. Era só entrar na pequena área inventara alguma outra falta da defesa, tinha (Itaparica, BA, e eu já estava procurando os pés do goleiro, que dito que, caso eu negasse a dedada, ia marcar 1941), autor de logo notou, xingou minha mãe e fez sinal de pênalti a nosso favor. O senhor dá sua palavra Viva o Povo que ia me pegar, mas eu, atleta disciplinadísside honra de desportista que não deu a dedada? Brasileiro, ocupa mo, nunca aceitei provocações do adversário. — Dou, sim, senhor. a cadeira 34 Só que o tempo terminava e nada de gol. GaDelírio na nossa torcida, tentativas de me da Academia Brasileira de guinho me acionou outra vez: linchar, tumulto finalmente sanado, pênalti a Letras. Cobriu a — Seu De-delegado, ago-gora não te-tem nosso favor, Niltinho converteu, campeonato Copa dos EUA jeito. Quan-quando o go-goleiro su-subir, dêno papo — e eu tive que sair sob escolta du(1994). É vascaíno. -dê uma de-dedada na bunda de-dele. rante meses, porque Gozila queria me pegar Tive êxito na segunda tentativa. Quer dimesmo. Conto isto para ajudar na Copa. zer, tive êxito na missão, mas, pessoalmente, não me saí Copa é Copa e, como sabemos, o importante é ganhar, tão bem, porque, ao receber a dedada, Gozila deixou de nada de palavra de honra de desportista. Eu queria ver o acompanhar a bola e, no meio da confusão dentro da área, que o Maradona diria ao juiz, depois daquele gol de mão. o edição especial abril na copa

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