Plant Project Ed.47

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

ENERGIA CADA VEZ MAIS LIMPA

Os combustíveis verdes reforçam o protagonismo do Brasil na transição energética global

ESPECIAL COP30

Belém será palco para o agro brasileiro reafirmar sua vocação sustentável

NOVA ERA GOVERNO TRUMP TRAZ RISCOS E OPORTUNIDADES PARA OS NEGÓCIOS DO CAMPO

HORA DA COLHEITA EXPORTAÇÕES RECORDES E

PRESENÇA GLOBAL IMPULSIONAM A FRUTICULTURA NACIONAL O FENÔMENO YELLOWSTONE

SÉRIE FAZ SUCESSO NO STREAMING E

IMPULSIONA A CULTURA WESTERN

DRONES CONTRA A SECA

Tecnologia aérea ajuda produtores a enfrentar os desafios climáticos

Editorial

COP30:

A escolha de Belém como sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) representa uma conquista significativa para o Brasil e, em especial, para o agronegócio nacional. Em um mundo cada vez mais atento às questões climáticas e ambientais, o evento coloca o País no centro das discussões globais sobre sustentabilidade, mercado de carbono e preservação da biodiversidade, entre outros temas afeitos à nova era.

Para o Brasil, sediar a COP30 é uma chance de reforçar sua imagem como líder ambiental. Abrigamos a maior parte da Floresta Amazônica, um bioma essencial para o equilíbrio climático do planeta. Ao receber representantes de governos, empresas e organizações internacionais, teremos a oportunidade de demonstrar avanços na redução do desmatamento, no desenvolvimento de tecnologias verdes e no cumprimento de metas climáticas.

Para o agronegócio, a COP30 se apresenta como um espaço estratégico de negociação e projeção internacional. O setor, que responde por uma parcela expressiva do PIB e das exportações brasileiras, enfrenta desafios constantes de conciliação entre produção e sustentabilidade. A conferência permitirá ao Brasil demonstrar que é possível manter uma agropecuária eficiente e responsável. Somos, afinal, reconhecidos por práticas como agricultura de baixo carbono, recuperação de pastagens degradadas e uso de bioinsumos.

Nesse aspecto, a COP30 poderá valorizar os produtos agropecuários brasileiros no mercado externo. Consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às credenciais ambientais dos países produtores, e o evento oferece uma vitrine para o agronegócio brasileiro demonstrar seu compromisso com a sustentabilidade. Atração de investimentos, abertura de novos mercados e fortalecimento de parcerias internacionais são ganhos potenciais para o setor. A presente edição traz a primeira de uma série de reportagens especiais sobre a COP30 que se estenderão ao longo de 2025. É uma chance rara para o Brasil e para o agronegócio que não pode ser desperdiçada.

Boa leitura!

está em nossa sustentabilidade

NÓS OLHAMOS PARA A AMAZÔNIA E ENXERGAMOS ALÉM DA FLORESTA. VEMOS PESSOAS. VEMOS POTÊNCIA. VEMOS FUTURO.

É com essa perspectiva que atuamos hoje e avançamos em direção ao legado que queremos deixar. Com integridade e respeito às leis e à natureza. Com responsabilidade corporativa e desenvolvimento social. Com inovação para superar desafios e parceria para evoluir com nossos colaboradores, clientes, parceiros e toda a sociedade. Com orgulho de onde viemos e de tudo que estamos produzindo juntos para tornar a palma sustentável uma referência brasileira.

Saiba mais sobre nossa atuação

plantproject.com.br

Diretor Editorial

Amauri Segalla amauri.segalla@datagro.com

Diretor

Luiz Felipe Nastari

Comercial

Carlos Nunes carlos.nunes@plantproject.com.br

Sérgio Siqueira sergio.siqueira@plantproject.com.br

João Carlos Fernandes joao.fernandes@plantproject.com.br

Tida Cunha tida.cunha@plantproject.com.br

Arte

Thaís Rodrigues (Direção de Arte) Andrea Vianna (in memorian – Projeto Gráfico)

Colaboradores

Texto: André Sollitto, Evanildo da Silveira, Lucas Bresser, Marco Damiani, Mário Sérgio Venditti, Rodrigo Ribeiro, Romualdo Venâncio, Ronaldo Luiz

Design: Bruno Tulini

Produção

Lau Borges

Revisão

Rosi Melo

Eventos

Luiz Felipe Nastari

Administração e Finanças

Cláudia Nastari

Sérgio Nunes

publicidade@plantproject.com assinaturas@plantproject.com

Impressão e acabamento: Piffer Print

pág. 7 A AGRIBUSINESS g pág. 23 F FRONTEIRA r pág. 87 W WORLD FAIR pág. 103 S STARTAGRO pág. 109 M MARKETS pág. 114 rA ARTE pág. 95

GGLOBAL

sob pressão Taxação na Dinamarca reacende debates sobre sustentabilidade

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

DINAMARCA

CONTROVÉRSIA NO CAMPO G

Taxa sobre emissões animais divide produtores e governo dinamarquês, enquanto a União Europeia hesita em uma abordagem unificada

Em meados de 2024, a Dinamarca anunciou um ambicioso, porém controverso, plano para implementar uma nova taxação para pecuaristas, baseada na quantidade de gases emitidos por vacas, ovelhas e porcos. Ficou definido que os produtores de animais terão de pagar inicialmente o equivalente a 40 euros por tonelada de dióxido de carbono emitido. Posteriormente, o valor subirá para 100 euros. A medida começará a valer em 2030 e a meta é reduzir as emissões gradualmente até alcançar a neutralidade em 2045.

Atualmente, o setor agrícola gera 11,4% das emissões de gases de efeito estufa na Europa, principalmente devido à pecuária. As emissões vêm sobretudo da digestão de ração por gado e ovelhas e do armazenamento de esterco de gado e porco. A distribuição de fertilizantes químicos e o manejo dos excrementos do gado também contribuem para o cenário prejudicial. França, Alemanha e Polônia são os principais poluidores, com a Dinamarca, um importante produtor de carne suína e produtos lácteos, logo atrás.

Pecuaristas dinamarqueses, contudo, reclamam que a aplicação da taxa representaria um prejuízo para eles, já que sua produção deixaria de ser competitiva. Segundo os produtores, a nova cobrança dificultaria investimentos em tecnologias inovadoras, colocando a Dinamarca em condições desfavoráveis em relação a seus concorrentes. Muitos deixariam de produzir porcos, já que produtores de outros países poderiam vender a carne com preço melhor.

A solução, segundo eles, seria implementar uma taxa semelhante em toda a Europa. De acordo com Jette Bredahl Jacobsen, vice-presidente do Conselho Consultivo Científico Europeu sobre Mudanças Climáticas, a Europa, de forma unificada, precisa discutir a criação de mecanismos de precificação e incentivos para os produtores que adotem práticas verdes de manejo. Nesse cenário, a legislação discutida pela Dinamarca pode se tornar uma referência para a Europa. O desafio, no entanto, será convencer os produtores. Por causa da pressão de grupos organizados, no ano passado a União Europeia desistiu de discutir uma taxação unificada. Resta saber se em 2025 as conversas vão avançar.

foto: Shutterstock
TODO DIA A GENTE FAZ UM

AGTECHS SOFREM, MAS SETOR SINALIZA RECUPERAÇÃO

Em 2024, o cenário econômico mais desafiador cobrou um preço no ecossistema de inovação do agronegócio. Um estudo feito pela Pitchbook, consultoria especializada em análise de dados, aponta que os investimentos realizados no mundo em agtechs caíram 25% em relação ao ano anterior. De acordo com o levantamento, os investidores reduziram os aportes em empresas em estágios iniciais de desenvolvimento, preferindo alocar recursos em startups mais maduras. Algumas áreas sofreram mais com a mudança no perfil dos desembolsos, como as companhias de

agricultura vertical. Ao longo do ano, 28 delas decretaram falência. Entre aqueles que receberam mais recursos, estão agtechs nas áreas de segurança alimentar, mudanças climáticas e outros desafios globais. Inteligência artificial, soluções autônomas, edição genética, agricultura de precisão e insumos biológicos também despertaram o interesse dos investidores. No último trimestre, os valores e a quantidade de acordos subiram em relação ao terceiro trimestre, indicando uma potencial retomada do setor. Confira os principais números do estudo:

26% de queda nos investimentos em agtechs na comparação entre 2024 e 2023

28

US$ 3,6

milhões foi o investimento médio em agtechs

empresas do setor de agricultura vertical, um dos mais afetados, declararam falência

US$ 70

milhões foi o aporte feito na Carbon Robotics, que usa laser para matar pragas

34% de redução dos aportes feitos em agtechs em estágios iniciais de desenvolvimento

9% de aumento nos aportes no quarto trimestre em relação ao terceiro de 2024, o que pode sinalizar uma retomada

MUNDO
foto: Shutterstock

G QUÊNIA

SEMENTES FALSIFICADAS

No Quênia, a agricultura é uma das principais atividades econômicas, responsável por um terço do PIB do país. Mas ela ainda é muito dependente das chuvas, com uso limitado de irrigação – o que torna o processo muito suscetível aos efeitos climáticos extremos, como períodos de seca. Tradicionalmente, os produtores compartilhavam sementes com seus vizinhos após cada colheita, numa tentativa de fortalecer o setor. Mas uma lei polêmica tornou a prática proibida. Sem recursos, eles recorrem a vendedores priva-

dos de sementes. O problema é que muitas delas são falsificadas, produzidas sem padrão de qualidade. Como não poderia deixar de ser, o resultado é uma colheita pior. Para tentar contornar o problema, o governo local estuda compartilhar com os agricultores exemplares do Banco Nacional de Sementes, mais resistentes aos efeitos do clima, e que são catalogados desde 1988. A capacidade de fornecimento dessas sementes é limitada, mas pode representar um avanço para a agricultura local.

PRAJ IMPULSIONA O FUTURO SUSTENTÁVEL

COM INOVAÇÕES NO ETANOL

Empresa transforma usinas brasileiras com tecnologias avançadas que ampliam a produção e reduzem os impactos ambientais

Aprodução de etanol desempenha papel crucial na construção de um ecossistema agroindustrial sustentável. Além de ser uma alternativa ecológica aos combustíveis fósseis, contribui para a segurança energética e agrega valor a resíduos agrícolas e grãos. O processo também impulsiona a economia circular ao reduzir desperdícios, diminuir as emissões de poluentes e criar oportunidades para agricultores adotarem boas práticas. Nesse cenário, a Praj, empresa especializada em tecnologias para a produção de etanol e gás natural, desenvolve inovações que otimizam o uso de recursos e reduzem os impactos ambientais.

Um exemplo disso é a solução que transforma uma única planta de etanol em uma unidade capaz de processar vários tipos de grãos, oferecendo maior flexibilidade. “Nossa abordagem se concentra na modernização contínua das instalações existentes, com soluções inovadoras que aumentam a eficiência, reduzem emissões e garantem a viabilidade operacional de longo prazo”, afirma Shrikant Rathi, diretor da Praj para as Américas.

O executivo diz que essas usinas podem utilizar grãos menos comuns no País, além do milho, como trigo, arroz e sorgo, para produzir etanol. Além disso, as tecnologias empregadas convertem resíduos do processo produtivo em formas valiosas de energia, otimizando o uso dos recursos naturais. Soluções avançadas de fermentação e destilação também levam a resultados consistentes. O uso de leveduras

Aemetis Inc., EUA: 600 m3/dia planta de etanol de milho

próprias, por exemplo, aumenta a produtividade em 2,5%.

A produção de etanol é apenas uma das frentes de atuação da Praj. A empresa também trabalha com outros biocombustíveis, como gás natural renovável, biodiesel e Combustível Sustentável de Aviação (SAF). “Esses biocombustíveis são fundamentais para uma transição global rumo a uma economia de baixo carbono e maior resiliência energética”, diz Rathi. O portfólio da Praj inclui ainda produtos químicos renováveis e soluções de tratamento de água, todos voltados ao avanço da bioeconomia.

Com forte presença na América Latina, a Praj busca ampliar sua participação no mercado brasileiro oferecendo soluções personalizadas para seus clientes. “Nosso compromisso é ajudar os agricultores brasileiros a aumentar a receita por hectare, convertendo produtos agrícolas em energia sustentável”, destaca Rathi. “Acreditamos em um futuro no qual os biocombustíveis terão um papel transformador na criação de uma economia sustentável e de baixo carbono. Nosso objetivo é impulsionar a independência energética, mitigar as mudanças climáticas e capacitar comunidades por meio do crescimento sustentável.”

REINO UNIDO

SOL EM ALTA

O governo do Reino Unido quer expandir a capacidade de geração de energia solar dos atuais 16,6 gigawatts para ao menos 45 gigawatts até 2030. Para cumprir essa meta, será preciso expandir a instalação de fazendas solares em áreas rurais do país. A decisão está relacionada à urgência em adotar métodos eficazes de geração de energia limpa em larga escala. Alguns produtores que trabalham nessas áreas veem a mudança como positiva, mas um

grupo rumoroso acredita que os painéis solares vão prejudicar o visual e a produtividade das fazendas. Em meio à discussão, as empresas envolvidas no projeto prometem que a instalação será feita em terras de baixa produtividade, e em locais mais “discretos”. Elas também asseguram que, mesmo nos cenários mais otimistas, as placas vão ocupar cerca de 1% dos campos verdes da Inglaterra – é menos do que a infraestrutura dedicada ao golfe.

FS LIDERA INICIATIVAS DE ESTOCAGEM DE CARBONO E PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEL SUSTENTÁVEL PARA AVIAÇÃO E NAVEGAÇÃO NO BRASIL

Pioneira na produção de etanol de milho investe em tecnologia e rastreabilidade para impulsionar alternativas de transição energética

Atransição energética para matrizes menos poluentes é um objetivo de todos os setores da economia global. No Brasil, uma das empresas que lideram as iniciativas de descarbonização é a FS, primeira companhia do País a produzir etanol 100% a partir do milho. Recentemente, o grupo anunciou o início da segunda fase do projeto BECCS (Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono), pioneiro do gênero no Brasil. Com investimentos que totalizam R$ 460 milhões em duas fases, o BECCS permite capturar, comprimir e armazenar 423 mil toneladas de CO2 por ano no subsolo em Lucas do Rio Verde (MT), onde a FS mantém uma de suas três unidades industriais. Em trinta anos, isso representará 12 milhões de toneladas de carbono estocadas de forma segura.

“O BECCS é um marco na nossa visão de sermos a maior produtora de combustível carbono negativo do mundo”, afirma Daniel Lopes, vice-presidente de Sustentabilidade e Novos Negócios da FS. “Além de reduzir emissões, o projeto posiciona o Brasil na vanguarda das tecnologias de descarbonização, impactando setores como transporte rodoviário, aéreo e marítimo.

Outro destaque da FS é o papel do etanol na descarbonização de setores desafiadores, como aviação e navegação. Graças às certificações Low Iluc Risk, que garantem que um biocombustível (como o Sustainable Aviation Fuel - SAF)

foi produzido sem emissões de GHG relacionadas ao Impacto Indireto do Uso da Terra (iLUC, em inglês), e ISCC CORSIA, que garante sustentabilidade e rastreabilidade, o etanol produzido pela FS atende aos requisitos para ser convertido em Combustível Sustentável de Aviação (SAF) por meio da tecnologia “Alcohol-to-Jet”. Essa solução, quando aliada a tecnologias de captura de carbono, pode reduzir em até 90% as emissões de CO2 na aviação.

Na navegação, o etanol oferece vantagens competitivas. Por ser compatível com a infraestrutura existente, pode ser implementado com custos menores em comparação a outros combustíveis, como hidrogênio ou amônia. “O etanol é uma solução prática e eficiente para descarbonizar o transporte marítimo”, afirma Claudia Romeiro, gerente de Sustentabilidade da FS.

Apesar do potencial, a adoção em larga escala do etanol na aviação e navegação exige avanços em áreas como políticas públicas e regulações internacionais. A experiência dos Estados Unidos, que implementaram incentivos fiscais para combustíveis sustentáveis, mostra como medidas governamentais podem acelerar essa transição. Com uma pegada de carbono reduzida e produção certificada, o etanol brasileiro é uma das soluções mais promissoras para a descarbonização global.

POLÔNIA

IMPASSE GENÔMICO

Em julho de 2023, a Comissão Europeia propôs uma nova legislação para que variedades desenvolvidas por meio de técnicas modernas de edição genômica não fossem enquadradas nas mesmas regras restritivas estabelecidas em 2001 para os transgênicos. No entanto, a União Europeia enfrenta desde então dificuldades para alcançar um consenso sobre como regulamentar essas novas cultivares. Agora, com a Polônia assumindo a presidência rotativa do Conselho da UE, o país quer acelerar as negociações intergovernamentais para

destravar o impasse. A proposta da Comissão Europeia prevê a criação de uma nova “categoria 1” para essas culturas, permitindo que sejam consideradas equivalentes a plantas cultivadas de forma convencional, segundo a legislação da UE. Apesar disso, a proposta enfrenta resistência de grupos ambientalistas, que alertam para os riscos potenciais da mudança regulatória. Novas reuniões estão agendadas para 2025, na tentativa de resolver o conflito e definir o futuro dessas tecnologias agrícolas no bloco europeu.

NOVONESIS AMPLIA PROTAGONISMO NO MERCADO DE BIOENERGIA COM INVESTIMENTOS EM CAPACIDADE E PORTFÓLIO DIRECIONADO À DEMANDA LOCAL

Com investimentos em produção local, inovação em biotecnologia e soluções adaptadas às demandas regionais, a Novonesis oferece condições para alavancar o crescimento sustentável da indústria de etanol de milho, posicionando o Brasil como referência global em energia renovável

Líder global em biossoluções, a Novonesis se consolidou nos últimos anos como uma das referências do mercado brasileiro de bioenergia. Com um histórico sólido nos Estados Unidos e um portfólio diversificado de leveduras e enzimas, a empresa tem desempenhado papel crucial no desenvolvimento do etanol de milho no Brasil – um segmento em constante crescimento e que promete continuar gerando oportunidades nos próximos anos.

A indústria de etanol de grãos cresce em ritmo acelerado no Brasil. “Há sete anos, sua participação era praticamente zero, e hoje já representa mais de 20% da produção total de etanol no País”, diz Fabricio Rocha, head de Bioenergia da empresa. “Esse volume deverá dobrar nos próximos cinco a sete anos.” O que explica esse avanço significativo? De acordo com Rocha, o crescimento de investimentos na produção local está relacionado à adoção contínua de tecnologias avançadas, sejam de equipamentos, engenharia e biossoluções, reforçando a importância e o papel da inovação para o setor.

A Novonesis desempenha papel fundamental e estratégico nessa expansão. Atualmente, 9 em cada 10 litros de etanol de milho produzidos no Brasil utilizam soluções desenvolvidas pela empresa. De acordo com Ivan Roccon, head de Estratégia regional, um dos diferenciais da companhia é a sua capacidade de adaptar soluções de biotecnologia às necessidades locais e específicas de cada cliente. Isso permite que as plantas produzam mais etanol por meio de investimentos em biotecnologia, aumentando a taxa de utilização de seus ativos físicos já existentes.

Um dos trunfos da Novonesis é o desenvolvimento de leveduras geneticamente modificadas, líderes no mercado mundial de etanol de grãos. Elas são desenvolvidas para resistir a condições adversas, como variações altas de temperatura, tolerância a altas concentrações de etanol, presença de ácidos orgânicos e contaminações, características comuns em processos fermentativos de grande porte. Além disso, aliado à expertise técnica, permitem maior processamento de milho (aumento do “teor de sólidos”) e reduções no tempo de fermentação, aumentando a produtividade das plantas e possibilitando ganhos somados de rendimento e produtividade acima dos 10%. “Podemos afirmar que trazer segurança ao mercado via robustez é fundamental para a Novonesis. Não apenas nossas leveduras avançadas se diferenciam no mercado com sua característica de robustez no processo, permitindo variações e maior processamento sem CAPEX extra, mas também nossa capacidade de produção local promove robustez de fornecimento e segurança para o crescimento da cadeia”, afirma Roccon, ao lembrar que a empresa é a única do setor com planta de leveduras e enzimas na América Latina.

A inovação está no centro da estratégia da Novonesis. Globalmente, a empresa investe aproximadamente 400 milhões de euros em pesquisa e desenvolvimento por ano, um décimo de

Time comercial e de suporte técnico da Novonesis na 10ª edição do principal evento dedicado à indústria de etanol de milho e grãos, o TECO, promovido pela empresa

seu faturamento. Em Araucária (PR), o centro de serviços técnicos testa soluções em condições reais de uso, permitindo ajustes precisos que maximizam a performance das plantas de etanol. “Nos últimos anos, grande parte do nosso investimento em inovação tem sido feito no aprimoramento de leveduras avançadas, levando em consideração características locais e as necessidades do processo dos parceiros brasileiros. Essa tendência vai apenas crescer conforme a indústria se torna mais relevante e tem suas características distintas reconhecidas como alvo de inovação em busca de performance”, afirma Roccon.

O mercado de bioenergia a partir de grãos no Brasil ainda é considerado jovem, mas com grande potencial de contínua expansão. A recente inauguração de plantas no Norte e Nordeste do País demonstra um sinal inequívoco do avanço do etanol em novas regiões. De acordo com as projeções da Novonesis, o aumento do consumo para além das fronteiras de São Paulo será um dos principais propulsores de crescimento para a próxima década.

O etanol brasileiro é uma das opções mais sustentáveis do mundo, devido à baixa pegada de carbono das culturas de segunda safra, em especial o milho. “O mundo busca soluções de energia limpa, e o Brasil está estrategicamente posicionado para fornecer etanol de baixa pegada de carbono”, diz Rocha. Com a expansão do setor, a Novonesis está preparada para manter sua liderança e contribuir para que o Brasil continue a também liderar globalmente a agenda de transição para uma matriz energética ainda mais sustentável.

CANNABIS RENDE MAIS

Desde 1985, uma lei indiana proíbe o plantio, cultivo, posse e consumo de maconha, com penas que podem chegar a 20 anos de prisão. Recentemente, o governo autorizou o cultivo da planta para fins medicinais em algumas regiões específicas. No entanto, mesmo onde o cultivo permanece ilegal, muitos agricultores estão assumindo o risco de prisão para aumentar a renda. Em entrevista à rede árabe Al Jazeera, um agricultor da região de Odisha revelou que o cultivo de vegetais rende, em média, apenas US$ 350 por ano, enquanto a

produção de cannabis pode gerar mais de US$ 5 mil a cada cinco ou seis meses. Com uma diferença de ganhos tão expressiva, muitos consideram o risco uma opção viável. A polícia tenta combater o cultivo ilegal, realizando prisões e destruindo plantações escondidas em áreas de difícil acesso. Apesar disso, o retorno financeiro significativo tem transformado a vida de vários agricultores – a ponto de precisarem esconder os lucros para evitar suspeitas. Para muitos, o risco de prisão é um preço que vale a pena pagar.

ÍNDIA

RAM ACELERA NO AGRO E REGISTRA

CRESCIMENTO RECORDE NO BRASIL

Com quase 30 mil picapes emplacadas e um crescimento de 74% em 2024, a Ram consolida sua liderança no agronegócio brasileiro ao oferecer veículos robustos, práticos e adaptados às necessidades do produtor rural

Não há marca automotiva mais identificada com o agronegócio brasileiro do que a Ram. No ano passado, ela registrou seu melhor desempenho desde que começou a vender suas picapes no País, com o emplacamento de quase 30 mil unidades. Isso representa um impressionante crescimento de 74% em comparação a 2023 – 80% desse volume foi destinado ao agro.

Segundo Juliano Machado, vice-presidente da Ram para a América do Sul, a marca está 100% ligada ao agronegócio, e tamanha conexão se fortaleceu a partir de 2019, quando o setor passou a ser o foco da empresa. “Nossa missão foi falar a mesma língua do produtor, que ainda é carente da atenção das grandes empresas”, afirma. “O homem do campo não almeja bens de consumo de ultraluxo. Não deseja um superesportivo para andar na terra, ele quer uma picape.”

A Ram fez a lição de casa ao acompanhar o comportamento do produtor e, diante disso, traçar sua estratégia. Percebeu, por exemplo, que o agricultor não viaja para Búzios (RJ), mas sim para Balneário Camboriú (SC). “Então, por que não abrir uma Ram House, a loja-conceito da marca, em Florianópolis?”, pergunta o executivo. Outra decisão importante foi instalar uma Ram House em Goiânia (GO), capital que detém a maior participação de mercado da marca. “Goiânia é a Dallas brasileira, e nossa presença ali é essencial para contemplar os clientes em um raio de 300 km”, destaca Machado, referindo-se à cidade do Texas, com forte atuação no agro dos Estados Unidos. Machado conta que a Ram se dedica a atender o agronegócio não só da porteira para dentro, mas também da porteira para fora. Afinal, como ignorar as empresas de defensivos agrícolas, em sua maioria instaladas na cidade de São Paulo?

Não é à toa que a marca abriu uma Ram House em um bairro nobre da capital paulista.

A aproximação da Ram com o agro também se dá pela presença em feiras como Agrishow e Expointer, além de rodeios e provas equestres. Tanto que a Ram 2500 já ganhou edições especiais batizadas de Quarto de Milha e Rodeo. “O rodeio é o carnaval das pessoas ligadas ao agro, e o Brasil tem uma agenda repleta, com mais de 500 eventos por ano. Queremos reforçar nossa participação nesses eventos”, afirma.

O sucesso da Ram está diretamente atrelado à qualidade dos veículos. Para Machado, a incontestável robustez, aliada à segurança, tecnologia e ao conforto, são diferenciais do portfólio da Ram, composto pelas picapes 1500, 2500, 3500 e Rampage.

Um dos importantes pilares para a penetração ainda maior da marca Ram no agronegócio foi o lançamento da Rampage, em 2023. Para se ter ideia, no ano passado foram comercializadas 23.600 unidades. “A Rampage traz o DNA do agro e tem a vantagem de ser mais prática. Ela cabe, por exemplo, em uma vaga padrão de 5 metros por 2,20 metros dos estacionamentos de shoppings”, diz Machado.

O lançamento da Rampage mostrou-se, de fato, uma iniciativa certeira. “Ela se tornou a nova porta de entrada para o universo da marca, sem abrir mão do requinte e capacidade que toda Ram tem”, salienta o executivo. Em 2025, a marca quer ampliar seus movimentos para seguir cativando o produtor rural e repetir a curva de crescimento do ano passado. Não há dúvida: a Ram segue acelerando no agro, sempre pronta para novos desafios.

AUSTRÁLIA

TRATORES INTELIGENTES, REPAROS NEM TANTO

Com o avanço da agricultura digital, o maquinário agrícola nas fazendas está cada vez mais tecnológico. Tratores modernos agora vêm equipados com sofisticados softwares, sistemas de GPS e outras inovações. Porém, esse progresso traz um custo. O que antes era uma manutenção simples, realizada pelo próprio agricultor ou por mecânicos locais, hoje exige a intervenção de concessionárias autorizadas. Elas utilizam sistemas de diagnóstico exclusivos para realizar os reparos, muitas vezes a um custo superior ao dos mecânicos independentes. O modelo restringe a autonomia dos produtores para consertar seus próprios equipamentos. Na

Austrália, um movimento crescente pede ao governo que aprove leis obrigando as empresas a compartilhar os dados das máquinas com profissionais independentes. Os grandes fabricantes se opõem, já que os softwares, frequentemente oferecidos em modelos de assinatura, são uma importante fonte de receita. Ainda assim, as autoridades australianas já implementaram legislação semelhante no setor automotivo, o que pode servir como precedente. De acordo com membros dos grupos que defendem o direito ao reparo, essa mudança é essencial para garantir a competitividade e sustentabilidade da agricultura no país.

Como a maior biorrefinaria de etanol de grãos da América Latina promove uma economia sustentável

Em um mundo cada vez mais pressionado a reduzir suas emissões de carbono, a Inpasa se tornou um exemplo notável de como a indústria pode ser parte da solução. Como a maior produtora de etanol de grãos da América Latina, a empresa traz soluções limpas e sustentáveis para a crescente demanda por energia do planeta.

A companhia iniciou suas operações no Paraguai em 2008 e, desde 2019, quando passou a produzir no Brasil, tem desempenhado um papel importante na redução das emissões. A produção de etanol, um biocombustível que pode reduzir em até 90% as emissões de dióxido de carbono (CO₂) em relação à gasolina, evitou a emissão de cerca de 15 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂), contribuindo para as metas de descarbonização do País. Suas unidades são certificadas pelo programa federal RenovaBio, que incentiva a produção e o consumo de biocombustíveis no país. Em 2024, foram emitidos 1,3 milhão de créditos de descarbonização (CBIOs).

Por meio do emprego de tecnologia de ponta, a Inpasa aproveita de forma integral e sustentável a matéria-prima recebida para a produção de etanol carburante e neutro, com flexibilidade na capacidade de refinamento, ou seja, consegue atender de forma específica às demandas do mercado. Em 2024, processou cerca de 8,3 milhões de toneladas de milho de segunda safra, resultando na produção de 3,7 bilhões de litros de etanol.

“Quando se trata de resultado por processamento de grãos, atualmente apresentamos as maiores taxas de rendimento de etanol e óleo por tonelada de milho processado. Além disso, investimos cada vez mais em uma estratégia de verticalização e diversificação, como, por exemplo, no processamento do sorgo para produção de etanol e DDGS”, ponderou o vice-presidente executivo, Rafael Augusto Ranzolin.

Suas unidades são autossuficientes na produção de energia renovável, proveniente de diversas fontes de biomassas, sendo a energia elétrica excedente da operação industrial fornecida à rede. Apenas no ano de 2024, a companhia disponibilizou ao Sistema Interligado Nacional (SIN) energia suficiente para abastecer por um ano o equivalente a 134 mil de residências.

A empresa conta ainda com mais de 23 mil placas solares em suas plantas (Sinop e Dourados), com capacidade de produção total estimada em 18 mil MWh por ano.

“À medida que o planeta caminha para uma economia mais verde, a Inpasa se posiciona como uma das líderes em soluções

na transição energética para o Brasil e para o mundo. Buscamos ser referência global em nossos produtos e processos, pela qualidade e eficiência”, afirmou o diretor de Sustentabilidade, Christopher Davies Junior.

Com isso, a companhia vai além das fronteiras do Brasil, exportando seus produtos para os cinco continentes e se tornando um player global na promoção de alternativas energéticas mais limpas.

Sustentabilidade que chega ao Nordeste

Mesmo alçando voos internacionais, a Inpasa segue expandindo no Brasil. Em 2024, anunciou um investimento de aproximadamente R$ 2,5 bilhões na construção de uma nova unidade em Balsas, no Maranhão, prevista para ser inaugurada no primeiro semestre de 2025 e o novo projeto na região do Matopiba, em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia. Juntas, as duas plantas devem gerar cerca de 4 mil empregos diretos e indiretos durante a construção.

A companhia desenvolve parceria junto à Embrapa e outras instituições de pesquisa para proporcionar a geração de conhecimento e o desenvolvimento de novas tecnologias para o agronegócio brasileiro.

“Inovação e sustentabilidade são palavras-chave para os nossos processos, por isso, em todas as regiões que nos instalamos, buscamos promover uma cultura de segunda safra mais eficiente. Na região do Nordeste, além do milho, incentivamos o cultivo de sorgo, o que garante maior segurança e credibilidade ao mercado produtor”, explicou o vice-presidente.

Selo Ouro

Em reconhecimento ao seu compromisso com a sustentabilidade, a Inpasa recebeu o “Selo Ouro” do Programa Brasileiro GHG Protocol, a mais alta premiação concedida a empresas que verificam suas emissões de gases de efeito estufa com terceiros. A companhia segue rigorosamente as recomendações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), monitorando as emissões de CO2, CH4 e N2O em suas operações.

A empresa se tornou mais eficiente, reduzindo a pegada de carbono por tonelada de milho. No processo logístico, ampliou o uso de modais com menor impacto ambiental, como o ferroviário, dutoviário e marítimo, alinhando suas operações às melhores práticas sustentáveis.

ESTADOS UNIDOS

O FENÔMENO “FARMTOK”

Os vídeos que mostram o dia a dia das fazendas americanas estão ganhando cada vez mais espaço nas redes sociais, especialmente no TikTok. Produtores compartilham conteúdos variados, como o cuidado com os animais, o plantio e a colheita de grãos, além de aspectos administrativos da gestão das propriedades. Esse movimento, chamado de “FarmTok”, criou uma ponte entre o público urbano, cada vez mais distante do universo agrícola, e os produtores rurais. Para alguns fazendeiros, o “Farm-

Tok” se tornou mais do que uma vitrine: é também uma fonte de renda extra, graças às comunidades leais de seguidores. No entanto, as recentes ameaças do presidente Donald Trump de restringir a plataforma têm deixado muitos “farmtokers” preocupados. A perda desse canal pode representar não apenas prejuízos financeiros, mas também limitar o acesso do público a informações sobre a rotina do campo, reforçando ainda mais a desconexão entre a cidade e o meio rural.

foto: Shutterstock

Futuro promissor

A crescente demanda por biocombustíveis impulsiona o Brasil como protagonista da transição energética

AAGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença

Empresas e líderes que fazem diferença

A REVOLUÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS RENOVÁVEIS

ETANOL DE CANA E MILHO, BIODIESEL, BIOGÁS E BIOMETANO FORTALECEM A MATRIZ ENERGÉTICA LIMPA, ENQUANTO NOVAS FRENTES COMO SAF, HIDROGÊNIO VERDE E DIESEL RENOVÁVEL GANHAM IMPULSO

Projeções mostram que os combustíveis renováveis deverão representar 5,5% do consumo global de energia até 2030 cenário está dado. Até 2028, a demanda global por biocombustíveis para transportes deverá crescer pelo menos 30%, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), entidade ligada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Essa previsão, considerada conservadora pela própria IEA, significa um consumo anual adicional de cerca de 38 bilhões de litros. Etanol e diesel renovável deverão representar dois terços desse crescimento, enquanto o restante ficará na conta do biodiesel e do Combustível Sustentável de Aviação (SAF). Confirmada a projeção, os combustíveis sustentáveis para transporte deverão responder por quase 5% da demanda global – e ainda podem chegar a 6,4% numa previsão mais otimista.

Mas não é só isso. Pressionadas por custos, aumento de competitividade e regulamentações ambientais, indústrias e grandes edificações também buscam combustíveis alternativos. Somando-se a demanda dessas áreas ao setor de transportes, os combustíveis renováveis deverão representar 5,5% do consumo de energia global até 2030, novamente numa estimativa conservadora. A demanda deve crescer em todas as regiões, mas está concentrada na China, no Brasil, na Europa, Índia e nos Estados Unidos, que, juntos, respondem por mais de dois terços do crescimento projetado. Segundo a IEA, esses países e regiões possuem políticas específicas de apoio para diversos – e, em alguns casos, todos – combustíveis renováveis. Essas políticas variam conforme o tipo de combustível, setor e país, mas geralmente incluem uma combinação de leis, critérios de desempenho para redução de emissões de gases de efeito estufa e incentivos para investimentos na produção direta e em ativos relacionados.

Ainda segundo as projeções da IEA, a bioenergia – que inclui combustíveis líquidos, gasosos e sólidos – será responsável pela maior parte (95%) do crescimento dos combustíveis renováveis até 2030. A demanda deve aumentar principalmente no setor industrial, seguido por transporte e edificações. A bioenergia moderna é mais barata do que o hidrogênio e os e-combustíveis (sintéticos produzi-

dos a partir de eletricidade renovável ou descarbonizada, água e dióxido de carbono) e já conta com forte apoio de políticas públicas em muitos países e regiões. Hoje, mais de 60 países possuem políticas voltadas para biocombustíveis líquidos, enquanto apenas a União Europeia e o Reino Unido têm exigências específicas para e-combustíveis.

Especificamente no setor de transportes, Brasil, Indonésia e Índia lideram a revolução. Esses três países possuem políticas sólidas para biocombustíveis, crescente demanda e grande disponibilidade de matéria-prima. Nessas regiões, o consumo de etanol e biodiesel apresenta a maior expansão. Embora economias avançadas, como União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Japão, também estejam fortalecendo suas políticas para o setor de transportes, o crescimento do volume de biocombustíveis é limitado por fatores como o aumento da adoção de veículos elétricos, melhorias na eficiência dos veículos a combustão interna, altos custos dos biocombustíveis e restrições territoriais e técnicas.

“Sem dúvida, a produção de bioenergia tem e terá cada vez mais relevância na transição energética e mitigação das emissões de gases de efeito estufa em âmbito mundial”, diz Eduardo Couto, diretor do Laboratório Nacional de Biorrenováveis, parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBR/CNPEM).

“A Agência Internacional de Energia prevê, por exemplo, que a bioenergia será parte preponderante da descarbonização rumo à neutralidade, chegando a representar cerca de 15 a 20% das necessidades energéticas totais do globo em 2050.”

A posição brasileira, portanto, já pode ser considerada privilegiada. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol e o terceiro maior produtor de biodiesel, e começa a avançar na introdução do diesel renovável e do combustível sustentável de aviação.

“O Brasil ocupa uma posição estratégica na transição global para combustíveis renováveis, sustentado por uma combinação singular de recursos naturais abundantes, histórico consolida-

A produção brasileira de etanol atingiu 36,8 bilhões de litros em 2024, o que significou um novo recorde no País

do em biocombustíveis e um arcabouço regulatório que favorece a expansão do setor”, diz Felipe Bottini, diretor executivo de ESG da consultoria Accenture na América Latina. “A principal vantagem do Brasil reside na ampla disponibilidade de biomassa, na infraestrutura de produção de etanol estabelecida há mais de quatro décadas e na crescente integração de novas fontes como biogás e hidrogênio verde.”

O etanol continua sendo o carro-chefe da bioenergia no Brasil. A produção desse combustível atingiu 36,8 bilhões de litros em 2024, registrando crescimento de 4,4% em relação a 2023 e estabelecendo um novo recorde no País, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). Do total produzido em 2024, 7,7 bilhões de litros (21%) tiveram o milho como matéria-prima, um aumento de 32,8% em comparação com 2023. Além disso, um relatório da Unica mostra que, no ano passado, a frota de veículos leves no Brasil consumiu 59,3 milhões de litros de etanol, volume 10% superior ao registrado em

2023. Segundo a entidade, a paridade de preço do etanol em relação à gasolina comum foi de 65,3% em 2024, garantindo a melhor competitividade do biocombustível desde 2010. “Diante dos desafios no combate à mudança do clima, o etanol se apresenta como uma das soluções tecnológicas para a mobilidade sustentável”, diz o presidente da Unica, Evandro Gussi. “Pode ser usado puro, ou seja, o etanol hidratado, ou misturado à gasolina, o etanol anidro.”

Segundo o Ministério de Minas e Energia, 15,4% da energia oferecida no Brasil em 2023 veio da cana-de-açúcar. Isso torna a planta a principal fonte renovável no País. A sustentabilidade dessa matéria-prima se deve tanto à variedade de combustíveis e subprodutos energéticos que podem ser extraídos dela quanto ao fato de que a própria cultura da cana-de-açúcar desempenha um papel importante na captura de CO₂ da atmosfera. Uma pesquisa conduzida pela Agroicone, Embrapa e Unicamp revela que, ao longo das últimas duas décadas, a cana-de-açúcar absorveu

cerca de 200 milhões de toneladas de CO₂. Isso equivale ao plantio de aproximadamente 1,4 milhão de árvores, em uma extensão de terra correspondente a 1 milhão de campos de futebol.

A Raízen, companhia brasileira referência em bioenergia, é uma das que aproveitam todas as possibilidades da cana para produzir etanol em suas diversas variações, assim como biogás, biometano, hidrogênio verde e SAF. Além do etanol de primeira geração, a Raízen investe fortemente no chamado E2G, o etanol de segunda geração. Originado do bagaço de cana resultante da produção de etanol de primeira geração, o E2G é produzido por meio de um processo altamente tecnológico que envolve o pré-tratamento da biomassa, seguido pela hidrólise e fermentação. Esse método assegura que o E2G mantenha a pureza e eficácia do etanol de primeira geração, ao mesmo tempo que emite até 30% menos CO₂ na atmosfera. Maior produtora do mundo de etanol de cana, a Raízen também é líder global na produção em larga escala de E2G. Até 2030, a empresa espera ter em operação 20 usinas de E2G, representando um investimento aproximado de R$ 24 bilhões.

Nolasco, da Unem: a indústria nacional vem incorporando cada vez mais tecnologias

Outra aplicação dos resíduos é na geração de biogás e biometano, derivados da fermentação da vinhaça e da torta de filtro, subprodutos do processamento da cana. O biogás pode ser refinado para se tornar biometano, um tipo de gás natural renovável. E o biometano, por sua vez, pode ser utilizado como alternativa ao diesel em veículos de grande porte e até mesmo como substituto do gás de cozinha. Além disso, é possível gerar bioeletricidade a partir do bagaço da cana-de-açúcar. A queima do bagaço produz vapores que acionam turbinas, as quais geram eletricidade.

O etanol de cana está na gênese e ainda é a pedra angular do sucesso dos combustíveis

renováveis no Brasil, mas ele não está sozinho. Hoje, o crescimento do etanol de milho representa um dos maiores casos de êxito do setor energético. Se atualmente o combustível vindo do grão representa mais de 20% do etanol produzido nacionalmente, dez anos atrás essa proporção mal alcançava 0,1%. Os fatores por trás dessa revolução são diversos, mas se concentram especialmente na ampliação do complexo industrial, na maior relevância dos biocombustíveis na agenda nacional e internacional e na busca por alternativas de redução de risco no contexto das safras brasileiras. Engana-se quem pensa que milho e cana-de-açúcar travam uma briga nessa história. Segundo os especialistas ouvidos por PLANT PROJECT, uma vez que o produto é exatamente o mesmo, as matérias-primas se completam, garantindo mais

O ETANOL DE MILHO JÁ RESPONDE POR

PRODUZIDO NO BRASIL

foto: Divulgação

IMPULSO BEM-VINDO

OS PAÍSES E REGIÕES QUE ADOTARAM

NOVAS POLÍTICAS DE BIOENERGIA A PARTIR DE 2023

BRASIL O Brasil lidera o mundo em demanda e crescimento de produção de biocombustíveis, representando quase metade do aumento global até 2030. Em outubro de 2024, o presidente Lula sancionou a lei do Combustível do Futuro, que estabelece níveis de mistura para biometano, maiores níveis de mistura para etanol e biodiesel, além de definir metas de redução de gases de efeito estufa para o setor de aviação e um programa nacional para diesel verde.

UNIÃO EUROPEIA

A última versão da Diretiva de Energias Renováveis da União Europeia (RED III), aprovada em 2023, dobrou a meta de energia renovável no setor de transportes para 29% até 2030, ou uma redução de 14,5% na intensidade das emissões de gases de efeito estufa. A RED também estabelece limitações para matérias-primas, como limites para cultivos de alimentos e ração, além de metas para combustíveis avançados (5,5% até 2030, sendo 1 ponto percentual proveniente de combustíveis sintéticos).

ÍNDIA Em novembro de 2023, a Índia anunciou a mistura obrigatória de biogás comprimido, começando com 1% em 2025-26 e subindo para 5% até 2028-29. O uso de biogás e biogás comprimido deve expandir-se em quase 90% até 2030, em relação aos níveis de 2023 (excluindo digestores domésticos), graças a essa regulamentação e a outras políticas ativas no país.

QUÊNIA

Em 2024, o Quênia lançou sua Estratégia Nacional de Transição para Cozimento, com o objetivo de garantir acesso universal à cocção limpa até 2028, com foco em fogões a biomassa e bioetanol. Essa ação ajuda a expandir o uso de bioenergia moderna e reduzir o uso tradicional de biomassa.

Fonte: Agência Internacional de Energia

segurança em momentos de entressafra, eventos climáticos ou flutuação de preços. “As duas cadeias são complementares. O etanol de milho trouxe mais previsibilidade ao abastecimento do biocombustível no mercado nacional, que ficou menos dependente da sazonalidade da produção da cana e da demanda do açúcar no mercado internacional”, diz Guilherme Nolasco, presidente executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem). Segundo o executivo, a indústria de etanol de cana-de-açúcar vem incorporando cada vez mais tecnologias e atualizando seus parques para o chamado modelo flex, que produz etanol de cana durante a safra e de milho na entressafra de cana, ou full flex, que produz etanol de cana e de milho ao mesmo tempo. Além disso, existem também as usinas conhecidas como full, que produzem apenas a partir do milho ou da cana. Atualmente, segundo a Unem, 22 biorrefinarias estão em operação no País, 9 projetos possuem autorização de construção pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e outras 11 unidades estão em fase de projeto.

O etanol – seja de cana, seja de milho – é uma das apostas para reduzir a pegada de carbono da aviação, que responde por aproximadamente 3% de todas as emissões globais e 14% das emissões dos transportes. No Brasil, a FS, primeira companhia do País a produzir etanol 100% a partir do milho, foi uma das pioneiras na obtenção da certificação International Sustainability & Carbon Certification – ISCC Corsia –, confirmando que seus métodos de produção atendem aos padrões internacionais para a fabricação e fornecimento de etanol destinados à produção de SAF. “Essa certificação é uma importante validação de que o etanol de milho de segunda safra brasileiro é matéria-prima de baixo carbono para produção de biocombustível para setores de difícil descarbonização, como a aviação”, diz Rafael Abud, CEO da FS. “As companhias aéreas poderão contar agora com nosso etanol como uma fonte competitiva e altamente escalável para atender globalmente esse mercado.”

De fato, poucos países apresentam condições

A Acelen vai produzir diesel renovável e combustível sustentável de aviação a partir da macaúba

tão favoráveis para liderar a produção e adoção de combustíveis renováveis quanto o Brasil, que alia vastos recursos naturais, experiência de décadas e uma agenda regulatória robusta. Por isso, o País também se destaca na produção de biodiesel, cujo percentual mandatório de mistura ao diesel tradicional deverá chegar a 15% no Brasil em março de 2025. Esse combustível é produzido a partir do processo de transesterificação de oleaginosas (como mamona, dendê, canola, girassol, amendoim, soja) e gorduras animais. O próximo passo nessa jornada é a produção do chamado diesel renovável, que é similar ao biodiesel, mas com algumas diferenças importantes. O diesel renovável é um hidrocarboneto quimicamente equivalente ao diesel de petróleo e pode ser utilizado puro ou misturado ao combustível tradicional. Além disso, o diesel renovável é feito a partir da hidrogenação – em

vez do processo de esterificação usado para produzir biodiesel.

Uma das iniciativas mais relevantes para a produção de diesel renovável no Brasil vem da Acelen Renováveis, empresa de energia do fundo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos. Em dezembro de 2024, a companhia anunciou investimentos de US$ 3 bilhões para construir sua primeira biorrefinaria no Brasil. O projeto será implantado em Mataripe, na Bahia. A meta é produzir 1 bilhão de litros anuais de diesel renovável e combustível sustentável de aviação a partir da macaúba, um tipo de palmeira que produz de seis a oito vezes mais óleo do que a soja. Já a cidade de Montes Claros (MG) será sede do Acelen Agripark, um centro de inovação tecnológica voltado ao aprimoramento de processos para a produção de biocombustíveis a partir da macaúba. O complexo terá capacidade para germinar 1,7

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O biogás pode ser refinado para se tornar biometano, um tipo de gás natural renovável

milhão de sementes por mês e produzir 10,5 milhões de mudas por ano, impulsionando o cultivo e a industrialização da planta com foco em sustentabilidade.

O projeto conta com a colaboração de instituições nacionais e internacionais de referência, formando um ecossistema robusto de pesquisa e inovação. “Entre os parceiros estão a Esalq/USP, Embrapa, Unicamp, o Instituto Agronômico de Campinas e a Universidade Federal de Viçosa, além das norte-americanas University of California-Davis e Cornell University”, diz Victor Barra, diretor de Agronegócios da Acelen Renováveis. O projeto prevê o cultivo em 180 mil hectares de áreas degradadas, na Bahia e Minas Gerais, com potencial para capturar 60 milhões de toneladas de CO₂. Ainda segundo a companhia, 20% dessas plantações serão feitas em parceria com agricultores familiares e pequenos produtores.

A Acelen Renováveis afirma também que o cultivo da macaúba seguirá as melhores práticas agrícolas e ambientais e promoverá o máximo potencial produtivo com ferramentas da agricultura 4.0, desde a identificação das terras até o rastreamento de todo o ciclo de vida dos combustíveis renováveis. “Esse controle e o rastreamento garantirão não só eficiência, mas também total transparência para certificações e auditorias”, diz Barra. “Além disso, vamos produzir biocombustíveis totalmente drop in. Ou seja, são substitutos perfeitos para os combustíveis fósseis já existentes tanto na cadeia produtiva quanto na logística, além de não requererem quaisquer ajustes ou adaptação para o seu consumo final nas bombas.”

Outra ação de vanguarda dos combustíveis renováveis no Brasil é a busca pelo desenvolvimento do chamado hidrogênio verde, produzido por meio de processos que utilizam fontes de energia renovável para realizar a eletrólise da água. A eletrólise é um processo que separa as moléculas de água (H₂O) em hidrogênio (H₂) e oxigênio (O₂) usando eletricidade. Quando essa eletricidade vem de fontes renováveis, o hidrogênio resultante é considerado “verde” porque sua produção não emite gases de efeito estufa. Nesse

Gussi, da Unica: "O etanol é uma solução para a mobilidade sustentável"

caso, a energia inicial pode ser tanto de origem biológica – como o etanol ou o biometano certificados – quanto não biológica, como a energia hídrica, solar ou eólica.

O hidrogênio verde pode ser utilizado em diversos setores, como transporte, indústria e na própria geração de energia, liberando apenas água como subproduto, sem emissões de CO₂ ou outros poluentes. Sua produção, no entanto, ainda é mais cara na comparação com o hidrogênio feito de combustíveis fósseis. Além disso, a falta de infraestrutura para transporte e armazenamento é um obstáculo para a adoção em larga escala. Mesmo assim, o hidrogênio verde é visto como uma peça-chave na transição para uma economia de baixo carbono.

No Brasil, a Raízen tem investido em “pilotos” para testar e validar tecnologias de produção de hidrogênio verde a partir do etanol. Esses projetos são essenciais para entender a viabilidade técnica e econômica da produção em larga escala. A companhia também vem explorando a integração

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de fontes de energia renovável não biológicas, como solar e eólica, a esse processo.

Outra iniciativa em território nacional vem da mineradora Vale, que se uniu à empresa europeia de hidrogênio Green Energy Park (GEP) para desenvolver soluções de descarbonização no setor siderúrgico. O acordo prevê estudos para a instalação de uma unidade de produção de hidrogênio verde no Brasil, que abastecerá um futuro Mega Hub, complexo industrial voltado à fabricação de produtos siderúrgicos de baixo carbono. A iniciativa busca criar uma plataforma aberta para que siderúrgicas globais possam produzir e adquirir “Hot-Briquetted Iron” (HBI) no Brasil, acelerando a indústria de aço sustentável. “Esta é uma parceria ganha-ganha para o Brasil e a Europa”, afirma Ludmila Nascimento, diretora de Energia e Descarbonização da Vale, destacando as vantagens do Brasil na oferta de HBI “verde”. O setor de ferro e aço responde por cerca de 8% das emissões globais de carbono, principalmente pelo uso de carvão em altos-fornos. A substituição por HBI produzido com hidrogênio verde pode reduzir as emissões em até 80%, tornando viável a

produção do chamado “aço verde”.

A australiana Fortescue, quarta maior produtora de minério de ferro do mundo, também anunciou no fim do ano passado o projeto de construção de uma fábrica de hidrogênio verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), no Ceará. A iniciativa prevê um investimento de R$ 20 bilhões e, em sua primeira fase, tem como meta produzir diariamente 500 toneladas de hidrogênio verde por meio da eletrólise da água, utilizando 1,2 gigawatt de energia renovável. O projeto está em fase de viabilidade após receber, em 2024, a decisão antecipada de investimento (EID) do Conselho de Administração da empresa. Nessa etapa, são conduzidos estudos detalhados de engenharia e financeiros. Em 2023, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema) aprovou o estudo de impacto ambiental e concedeu a licença prévia para desenvolvimento do projeto.

Em mais uma frente, a vocação agropecuária brasileira prova ser vantajosa quando se trata da produção de biogás e biometano, combustíveis renováveis que podem ser usados para produzir energia elétrica, movimentar equipamentos

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Combustível Sustentável de Aviação ( SAF ): nova frente de negócios que começa a atrair grande volume de investimentos

industriais, produzir fertilizantes, aquecer casas e movimentar veículos pesados. O biogás é um subproduto da digestão anaeróbica de matéria orgânica, enquanto o biometano é obtido a partir da purificação do biogás. Em todo o mundo, a maior parte do biogás é produzida a partir de resí duos urbanos ou esgoto, mas há um movimento crescente para aproveitar os resíduos agrícolas, como bagaço e palha de cana-de-açúcar, palha de milho e dejetos de animais.

Segundo a Associação Brasileira do Biogás e do Biometano (ABiogás), existem atualmente dez plantas autorizadas pela ANP para comercializa ção do biometano, que representam uma capaci dade de produção de aproximadamente 656 mil metros cúbicos por dia. “Nossa perspectiva, considerando as plantas autorizadas, as plantas que estão em processo de autorização, plantas de autoconsumo e o mapeamento de projetos que a ABiogás realizou com os associados, é de que a produção alcance cerca de 7,9 milhões de metros cúbicos por dia até 2032”, diz Talyta Viana, coordenadora técnica regulatória da ABiogás. Segundo o último levantamento do governo federal, a produção de biometano no Brasil cresceu 12,3% em 2023 em relação ao ano anterior.

Victor Barra, da Acelen Renováveis: "A lei do combustível do futuro representa um avanço para o País"

De acordo com a representante da ABiogás, o potencial total de geração desse combustível no Brasil pode alcançar 120 milhões de metros cúbicos por dia. Para isso, é necessário ampliar capacidade de produção, descentralizar a geração de energia e melhorar o alcance a novos mercados. “A partir do biogás é possível produzir desde a energia elétrica até combustíveis avançados como SAF e metanol verde”, afirma Talyta Viana. “Quando feito o processo de purificação, o biometano obtido pode ser utilizado para abastecimento de veículos pesados, com potencial de descarbonização da ordem de 90%, se comparado ao diesel, além de outras aplicações como o hidrogênio renovável.”

Em todo o País, são diversos os projetos voltados à produção de biogás e biometano. A Cooperativa Castrolanda (PR) implementou biodigestores para converter resíduos da suinocultura e laticínios em biogás. Já a Sertão Biogás (SP)

tem um dos maiores projetos integrados de biogás do Brasil, também utilizando resíduos da suinocultura para geração de energia e biometano. A Usina Cocal (SP), por sua vez, produz biogás e biometano a partir de resíduos da cana, fornecendo energia para a rede elétrica e combustível para transporte. A JBS, maior produtora de proteína animal do mundo, estabeleceu a meta de reaproveitar 100% de seus resíduos até 2030, utilizando-os para produzir biogás, biometano, adubos e produtos como gelatina e colágeno. Além disso, resíduos animais de suas operações nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália são convertidos em combustível para aviação. Nos últimos dois anos, 1,2 milhão de toneladas de sebo bovino e banha de porco foram usadas na produção de SAF e outros biocombustíveis. No Brasil, a Friboi estuda a viabilidade dessa iniciativa, enquanto a Biopower, empresa do grupo, avalia a produção de combustível renovável para navios como alternativa ao bunker oil.

Quaisquer avanços no desenvolvimento dos combustíveis renováveis dependem tanto da iniciativa privada quanto das lideranças governa-

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Bottini, da Accenture: "A principal vantagem do Brasil reside na ampla disponibilidade de biomassa"

mentais. Na frente regulatória e de políticas públicas, os especialistas consultados por PLANT PROJECT consideram que o País melhorou significativamente. Victor Barra, da Acelen Renováveis, cita como bons exemplos a “Lei do Combustível do Futuro”, o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), a “Lei do Mercado de Carbono” e o Programa de Transição Energética do Estado da Bahia (Protener). “São esforços importantes para promover a transição para uma economia de baixo carbono, ambientalmente sustentável e equitativa, garantindo incentivos fiscais para o setor privado, trazendo segurança jurídica e investimentos para o País.”

Para Bottini, da Accenture, o Brasil também se diferencia de outros países ao integrar incentivos econômicos à agenda climática. “O RenovaBio,

criado em 2017, é um dos principais programas brasileiros voltados à descarbonização do setor de combustíveis”, diz. “Embasado na emissão de Créditos de Descarbonização (CBios), o programa estabelece metas para distribuidoras de combustíveis reduzirem a pegada de carbono.” Segundo o especialista, a certificação de produtores de biocombustíveis e a negociação dos CBios têm sido instrumentos fundamentais para valorizar combustíveis renováveis no mercado, aumentando a competitividade e impulsionando investimentos na produção sustentável.

No caso do biogás e do biometano, a associação setorial diz que ainda faltam regulamentações importantes, como a do Certificado de Garantia de Origem do Biometano (CGOB), que integra o “Combustível do Futuro”, do Mercado de Carbono e de outros programas que têm como objetivo impulsionar a pauta de transição energética e que foram aprovados recentemente. “Vencida essa etapa, acreditamos que o País terá um ambiente ainda mais propício para o desenvolvimento do biogás e do biometano”, diz Talyta Viana, da ABiogás.

E ainda há outros desafios a serem considerados. A política de precificação da Petrobras e os subsídios ao diesel fóssil afetam a competitividade do biodiesel e, futuramente, podem influenciar na viabilidade do diesel renovável. As dificuldades logísticas também são uma realidade. O transporte e a distribuição de biocombustíveis como etanol e biodiesel dependem de uma infraestrutura rodoviária cara e ineficiente. A falta de dutos específicos para etanol e biogás encarece a logística. No caso do transporte pesado, é essencial aumentar a quantidade de postos de abastecimento para GNV e biometano, cruciais para viabilizar a ampliação do uso desse combustível em modais rodoviários.

Para avançar ainda mais, o País também precisa investir significativamente em conhecimento,

O BRASIL PRECISA INVESTIR MAIS EM INTERCÂMBIO DE EXPERIÊNCIAS

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É essencial reduzir a distância entre o agronegócio e o conhecimento científico voltado à preservação ambiental

tecnologia e intercâmbio de experiências. Isso porque produzir biocombustíveis avançados, como etanol de segunda geração e hidrogênio verde, exige processos e equipamentos caros, ainda em desenvolvimento no Brasil. A falta de incentivo para pesquisa e inovação limita o avanço dessas soluções. “Para manter a vantagem competitiva, é fundamental investir em infraestrutura, regulação, pesquisa, educação e incentivos fiscais, garantindo que o setor se mantenha dinâmico e responsivo às demandas do mercado internacional”, afirma Bottini. “O futuro da energia limpa passa pelo Brasil, e a materialização desse potencial depende de estratégias bem articuladas entre governo, indústria e sociedade.”

A expansão da produção de biocombustíveis ainda precisa equilibrar a preservação ambiental e social. É necessário solucionar a oferta de matéria-prima em escala suficiente, sem interferir na produção de alimentos, sem desmatamento, sem uso excessivo de água e sem emissões adicionais de CO₂ equivalente. “O caminho para o equilíbrio e para a priorização de impactos

positivos nasce na produção sustentável da matéria-prima, passando pelo aproveitamento de todas as suas frações e garantindo a circularidade como premissa nas cadeias de produção de bioenergia”, diz Eduardo Couto, do LNBR.

Segundo o estudioso, para impulsionar essa expansão sustentável, é essencial reduzir a distância entre o agronegócio e o conhecimento científico voltado à preservação ambiental. “Esse é um ponto-chave para o Brasil se posicionar como protagonista global em bioeconomia”, diz Couto. Uma das maneiras de fazer isso, segundo o representante do LNBR, é tratar a multifuncionalidade do uso da terra como forma de promover a sustentabilidade. Na visão do cientista, há espaço no Brasil para o plantio sustentável de biomassa sem desmatar mais nenhum hectare de terra, mantendo a produção de alimentos, favorecendo a conservação da biodiversidade e até restaurando áreas degradadas. “Existem caminhos para o desenvolvimento sustentável no nosso País, e eles estão pautados na ciência, na coexistência e na conciliação.”

O FUTURO DA SUSTENTABILIDADE MUNDIAL

A COP30, COM SEDE NA AMAZÔNIA, PROMETE IMPULSIONAR

COMPROMISSOS INTERNACIONAIS EM PROL DA

PROTEÇÃO AMBIENTAL

Apoio

Em novembro de 2025, Belém, no Pará, será a capital ambiental do mundo. A cidade receberá a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que promete ser um marco nas discussões sobre políticas climáticas globais ao reunir líderes mundiais, cientistas, ambientalistas e representantes da sociedade civil em busca de soluções concretas para os desafios ambientais. A escolha de Belém como sede da COP30 carrega forte simbolismo. Situada no coração da Amazônia, a região destaca a importância vital da maior floresta tropical do mundo na regulação do clima global e na captura de carbono.

Anfitrião do evento, o Brasil pretende usar a COP30 como uma plataforma para destacar a importância de alianças regionais voltadas para a proteção ambiental. Durante o encontro, o governo brasileiro deverá apresentar iniciativas para atrair apoio financeiro e tecnológico de países desenvolvidos. O objetivo é garantir não apenas a conservação da floresta, mas também promover a sustentabilidade econômica das comunidades locais. De acordo com o Observatório do Clima, rede de entidades ambientalistas da sociedade civil brasileira, a COP30 também terá papel crucial para reforçar as metas do Acordo de Paris, que busca limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.

Poucas vezes a conferência climática ocorreu em meio a um contexto geopolítico tão complexo. O mundo enfrenta atualmente uma crise energética intensificada pela guerra na Ucrânia, enquanto tensões comerciais entre grandes potências agravaram ainda mais o cenário global. Países em desenvolvimento, como o Brasil, pressionam por um maior compromisso financeiro por parte das nações ricas, que são historicamente responsáveis por uma parte significativa do aquecimento do planeta. Os Estados Unidos, por exemplo, respondem por 12% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa.

O mercado de créditos de carbono estará no centro dos debates da COP30, especialmente considerando os avanços parciais registrados nas conferências anteriores. Um dos artigos do Acordo de Paris, que regula o comércio internacional de créditos de carbono, ainda carece de definição de regras claras. O Brasil está bem posicionado para se tornar um grande fornecedor de créditos, devido à sua vasta cobertura florestal e ao potencial de projetos sustentáveis. Para que o mercado funcione de maneira eficaz, será necessário garantir a transparência nas transações e assegurar que empresas

A Amazônia receberá uma série de atividades paralelas promovidas por organizações da sociedade civil

globais apresentem planos de longo prazo para a neutralização de suas emissões.

Com o setor de energia respondendo por 75% das emissões globais de gases de efeito estufa, a transição para matrizes energéticas limpas é uma prioridade global. Nesse sentido, a COP30 será uma oportunidade para os países apresentarem seus planos de descarbonização e transição energética.

O Brasil, com seu histórico de êxito em energias renováveis – como biocombustíveis, energia hidrelétrica, solar e eólica –, deverá liderar as discussões e propor cooperações internacionais.

Contudo, os maiores emissores globais, como China, Estados Unidos e União Europeia, serão pressionados a acelerar suas metas de redução de emissões.

Uma das marcas esperadas da COP30 será a forte presença de lideranças indígenas e movimentos sociais. Esses grupos reivindicam maior participação nas negociações, argumentando que são os mais afetados pelas mudanças climáticas. Em Belém, eles deverão apresentar propostas voltadas para a proteção territorial, financiamento direto de iniciativas locais e reconhecimento de seus direitos como guardiões da floresta. Apesar das altas expectativas, o sucesso da COP30 depende de uma série de fatores. As negociações climáticas são conhecidas por sua complexidade e pela divergência de interesses entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Além disso, a falta de cumprimento de

Anfitrião do evento, Belém, no Pará, poderá entrar na história como símbolo da luta global contra as mudanças climáticas

promessas anteriores pode minar a confiança mútua e dificultar a obtenção de consensos. Outro desafio será a transformação dos compromissos assumidos em ações concretas. É essencial que os países não apenas apresentem metas ambiciosas, mas também mecanismos claros de monitoramento e responsabilização. “A COP30 tem o potencial de ser um marco nas políticas climáticas globais”, disse recentemente o cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha, e vencedor do Tyler Prize 2024, principal prêmio ambiental do mundo. “Com o Brasil em posição de protagonismo e a Amazônia como pano de fundo, o evento pode impulsionar a cooperação

internacional em prol da sustentabilidade.”

No entanto, ressalta Rockström, o sucesso dependerá da vontade política dos líderes globais e da mobilização da sociedade civil para transformar promessas em ações reais. Se os países conseguirem superar suas diferenças e firmar compromissos concretos, a COP30 poderá ser lembrada como o momento em que o mundo deu um passo decisivo para evitar os piores cenários das mudanças climáticas. O atual contexto, no entanto, carrega desafios adicionais. A crescente disputa entre as potências globais pode influenciar negativamente o andamento das negociações, pois há receio de que questões políticas externas à agenda climática contaminem as discussões técnicas. O realinha-

Uma das marcas esperadas da COP30 será a forte presença de lideranças indígenas, que se tornaram guardiões da floresta

mento de blocos econômicos também cria um ambiente de incerteza.

Os conflitos regionais e a recuperação desigual após a pandemia adicionaram complexidade à busca por consenso. Países menos desenvolvidos tendem a exigir garantias de financiamento antes de assumir compromissos adicionais de descarbonização. O papel dos Estados Unidos será observado de perto. Há expectativas quanto à postura americana frente às demandas de financiamento e descarbonização rápida, especialmente porque o governo Trump enfrenta pressão interna de setores da indústria. No caso europeu, espera-se que a União Europeia continue defendendo regulações ambientais mais rígidas, mas as crises energéticas internas também poderão limitar sua margem de manobra. A China, como maior emissor global, deverá propor novas metas, mas também continuará demandando acesso a tecnologias limpas financiadas por países ricos.

O debate também envolverá a transição justa. O conceito busca assegurar que trabalhadores e comunidades dependentes de setores de alta emissão não sejam deixados para trás. Para isso, deverão ser implementados mecanismos de requalificação profissional e desenvolvimento de novos empregos verdes, especialmente em países que dependem economicamente de indústrias extrativistas. Se tudo correr como o planejado, a COP30 será capaz de definir mecanismos claros para implementar essas transições. Os observadores alertam, porém, para o risco de que as negociações se estendam além do prazo, como frequentemente ocorre. Manter a pressão política e mobilizar a sociedade civil será elemento fundamental para garantir o sucesso do encontro.

A Amazônia, devido à sua rica biodiversidade, receberá também uma série de atividades paralelas promovidas por organizações da sociedade civil, ONGs e comunidades locais. O objetivo será garantir que as comunidades sejam ouvidas nas discussões formais. A inclusão dessas vozes poderá garantir maior legitimidade às decisões e fortalecer os compromissos assumidos. Além disso, Belém poderá ser palco de alianças bilaterais paralelas às

negociações formais, criando condições para acordos específicos em setores como energia renovável, agricultura regenerativa e tecnologias de captura de carbono.

Outro aspecto relevante será o monitoramento posterior aos compromissos firmados. Especialistas enfatizam a necessidade de mecanismos internacionais eficazes para garantir que as metas sejam cumpridas e revisadas periodicamente. Isso é fundamental para evitar que países apresentem planos insuficientes ou metas de longo prazo sem a devida transparência. Haverá pressão por indicadores claros e sistemas de relatório que permitam acompanhar o progresso real. Se implementadas de forma robusta, essas medidas poderão servir como base para a próxima década de ações climáticas, garantindo que o evento em Belém tenha efeitos duradouros.

Ao final, espera-se que Belém simbolize não apenas a urgência da luta climática, mas também a esperança de um futuro sustentável baseado na cooperação global. A coordenação intersetorial será fundamental. Além disso, a criação de conselhos consultivos com participação da sociedade civil e cientistas pode fornecer recomendações baseadas em evidências. Essa estrutura consultiva também pode garantir que os compromissos assumidos se mantenham alinhados com as mudanças nas condições globais, evitando retrocessos.

Há a expectativa crescente de que a COP30 possa consolidar um acordo sobre a precificação global do carbono, criando mecanismos financeiros que penalizem emissões elevadas e recompensem projetos sustentáveis. Com essas iniciativas, a conferência tem o potencial de moldar as políticas econômicas globais por décadas. O sucesso da conferência dependerá de cada ator envolvido –governos, empresas, sociedade civil e indivíduos – trabalhando para transformar as decisões tomadas em ações concretas. Em última análise, Belém poderá simbolizar um momento decisivo na luta global contra as mudanças climáticas, proporcionando um futuro sustentável para as próximas gerações.

O DOCE FUTURO DO MEL BRASILEIRO

COM UM CRESCENTE LEQUE DE APLICAÇÕES, A PRODUÇÃO NACIONAL AVANÇA EM VOLUME, QUALIDADE E OPORTUNIDADES. PROFISSIONALIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA CADEIA

SÃO PILARES DESSE NOVO CENÁRIO

Aquebra de paradigmas é uma constante no processo de evolução do agronegócio brasileiro. O conceito de que “mel é mel” ou de que “é tudo igual”, por exemplo, tornou-se obsoleto com a expansão do conhecimento sobre a cadeia produtiva, revelando uma ampla gama de cores, aromas, sabores e aplicações. O mel transbordou os limites da cultura popular, que antes o enxergava principalmente por suas propriedades medicinais, e está se espalhando por campos como a gastronomia, o mercado de bebidas, a indústria de cosméticos e a saúde – inclusive além de nossas fronteiras. A profissionalização é uma das razões dessa evolução e um convite a novos empreendedores.

As estatísticas de produção confirmam tal cenário. Segundo o IBGE, o Brasil produziu 64,2 mil toneladas de mel em 2023, volume 2,7% maior que o do ano anterior. Em comparação a 2020, o acréscimo foi mais expressivo: 22,3%. O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que mais produz, com 9,1 mil toneladas. A tendência é de crescimento, ainda que os gaúchos tenham acumulado prejuízos após as enchentes do ano passado. “Perdemos 30% das abelhas do estado”, afirma Patric Luderitz, coordenador da Câmara Setorial de Apicultura e Meliponicultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação. “A situação foi caótica. Tínhamos mais de 500 mil colmeias de Apis antes do desastre, e agora devem restar algo entre 250 mil e 300 mil.”

Aqui, vale um esclarecimento: apicultura e meliponicultura consistem na criação de abelhas para a produção de mel, pólen, própolis, cera, geleia real e outros produtos. No entanto, a apicultura é feita exclusivamente com a Apis mellifera, uma espécie híbrida de abelhas europeias e africanas com ferrão. Já a meliponicultura é desenvolvida apenas com espécies sem ferrão, conhecidas como “nativas”, como a Jataí, a Uruçu, a Mandaçaia, a Iraí e a Irapuá.

A recuperação do mel gaúcho pode levar alguns anos, mas há pontos de apoio relevantes para essa retomada. É o caso do Parque Apícola

Colpo, do Meliponário das Pedras: meta é ser referência nacional na produção de mel de abelhas nativas

de Taquari, o único do Brasil, que tem 465 hectares dedicados à criação de abelhas, produção (de mel e de conhecimento), capacitação e realização de pesquisas. Os estudos científicos se tornaram ainda mais necessários neste momento. O parque também desempenha uma função importante na reestruturação dos apicultores, por meio da distribuição de rainhas, princesas e cúpulas (embriões de rainhas).

Sob o aspecto regional, os estados do Nordeste lideram a produção brasileira de mel, com 25,6 mil toneladas em 2023, segundo o IBGE. O destaque principal é o Piauí. Em 2014, os piauienses produziram 3,2 mil toneladas de mel e ocupavam a sexta posição no ranking nacional. Já em 2023, o volume passou para 8,8 mil toneladas, garantindo o segundo lugar. Nesse período, o aumento foi de 5,5 mil toneladas (171,7%).

Há três fatores principais por trás desse avanço. O primeiro é o crescente reconhecimento da importância da produção de mel, como

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explica Francisco Ribeiro, diretor de Projetos para o Semiárido da Secretaria de Agricultura Familiar do estado. “Era um mercado desconhecido”, afirma. O segundo fator foi a organização da cadeia produtiva, impulsionada por capacitação e investimentos de agentes financeiros. O terceiro foi o fomento realizado pelo governo estadual, com a distribuição de caixas de abelhas, equipamentos, capacitação e apoio à implantação de casas de mel.

O envolvimento da Secretaria de Agricultura Familiar é essencial nesse processo. “Pelo menos 93% da atividade está na agricultura familiar, sobretudo no semiárido, abrangendo mais de 10 mil famílias”, diz o secretário. “Mesmo para quem não vive exclusivamente da apicultura, ela representa o principal negócio.” Muitos desses pequenos produtores estão associados a cooperativas, algumas das quais são habilitadas a exportar.

A Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (Comapi), dona da marca Mel Mesmo, exporta 500 toneladas de mel por ano. Já a Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro, a Casa Apis, exporta 1.000 toneladas anualmente. O secretário de Agricultura Familiar do Piauí destaca que o mel é o terceiro principal produto de exportação do estado, atrás apenas da soja e do milho.

De acordo com dados da Apex Brasil, o Piauí arrecadou US$ 31,2 milhões em exportações de mel em 2023, representando 36,6% do total nacional, que foi de US$ 85,2 milhões. “O Piauí é o maior exportador de mel do Brasil, porque o mercado europeu, especialmente a Alemanha, os Estados Unidos e o Canadá, busca nosso blend, em especial o de cores”, diz Ribeiro. Esse diferencial vem da diversidade de floradas, que possibilita uma paleta que vai do mel mais claro, característico do eucalipto, ao mais escuro, da aroeira. A variedade também se reflete nos aromas e sabores.

Entre 2020 e 2023, a produção de mel no Brasil cresceu 22% e a tendência é de que o mercado avance com força nos próximos anos

A produção de mel no Piauí se destaca tanto pela força coletiva quanto pelo empreendedorismo individual. A primeira sommelière de méis do Brasil, Teresa Raquel Bastos, é natural de Teresina, e se formou pela Honey Sensory Analysis, de Bolonha, na Itália. O interesse pelo curso surgiu com a responsabilidade de assumir o negócio iniciado por seu pai, Wener Bastos, que se tornou apicultor em 1983 e fundou a Bee Mel em 1991.

Quando pequena, a empresária costumava acompanhá-lo no apiário, mas decidiu seguir por outra direção. Em 2002, mudou-se para São Paulo e mergulhou no universo da comunicação, formando-se em Jornalismo pela PUC-SP (2013) e em Mídias Sociais Digitais pela Belas Artes (2017). Após um período dedicado às reportagens, trabalhou no Google, em um projeto para o meio rural. Aquela nova etapa lhe deu mais tempo, que aproveitou ajudando o pai na comercialização do mel. Por fim, Teresa acabou retornando ao Piauí e assumiu a direção da Bee Mel, em 2017. “Meu pai já não queria mais lidar com as burocracias do negócio, e passou a ser um fornecedor, tanto de matéria-prima para a Bee Mel quanto de serviços para o mercado como um todo”, diz.

Teresa não está sozinha nessa jornada. A também jornalista e piauiense Maria Nilda Rodrigues dos Santos deu seus primeiros passos no ramo recentemente. Natural de Canto do Buriti, a pouco mais de 400 km de Teresina, Nilda se formou em Comunicação Social e dedicou sua carreira a projetos socioambientais. No início deste ano, ela voltou à sua cidade natal com um plano de negócio social envolvendo a produção de mel de seu pai e de outros apicultores.

A relação com o mel vem da origem. “Desde que me entendo por gente, lá no Piauí, existia a história com o mel”, afirmou Nilda. Na pequena propriedade da família, o pai sempre cultivou abelhas para a produção de mel, de forma muito

OS LÍDERES NO BRASIL

Os dez estados que mais produzem mel (em quilos)

Estado Produção (em quilos)

Rio Grande do Sul 9,1 milhões

Piauí

8,8 milhões

Paraná 8,4 milhões

Minas Gerais

Ceará

São Paulo

6,8 milhões

5,7 milhões

5,5 milhões

Bahia 4,7 milhões

Santa Catarina

Maranhão

4,2 milhões

3,1 milhões

Pernambuco 1,2 milhão Fonte: IBGE (2023)

artesanal. “Em São Paulo, vira e mexe alguém queria encomendar produtos de lá. Comecei a pensar se não poderia levar isso mais a sério”, diz.

A equação que somava comunicação, trabalho socioambiental, economia criativa, impacto social e produção de mel ficou completa em novembro do ano passado, quando Nilda integrou a primeira turma do curso de sommelier de méis do Instituto 4e. Foram quatro dias provando e analisando mais de 80 tipos diferentes de mel, conhecendo e reconhecendo as notas características de cada um deles. “Eu me surpreendi com a variedade de sabores e de aplicações e dos mercados que podem ser alcançados”, afirmou a, agora, sommelière de méis.

O curso de sommelier de méis do Instituto 4e foi pensado para capacitar os alunos na classificação sensorial do produto, facilitando a equalização da oferta com as expectativas do mercado e agregando valor ao produto. Mariana Colpo, fundadora do Meliponário das Pedras, participou da iniciativa para expandir seus conhecimentos e ampliar seus negócios. Formada em Relações Internacionais, Mariana decidiu se reinventar ao empreender na produção de mel de abelhas nativas, apostando no mercado interno e externo. “Eu tinha algumas abelhas e resolvi testar, experimentar o mel delas e fiquei encantada, daí passei a estudar mais o assunto”, diz.

Logo vieram as primeiras colônias, a criação de uma marca e o início das vendas pelo Instagram. “Agora estou investindo na expansão, preparando uma casa de mel, uma pequena indústria”, acrescenta Mariana, que tem como meta ser uma referência nacional de mel de abelhas nativas e alcançar o mercado internacional, apostando tanto na receptividade do setor gastronômico quanto na diversidade dos méis – e, claro, na crescente onda de consumo de alimentos mais saudáveis.

Os novos conhecimentos sobre classificação sensorial de méis facilitam a equalização de

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O desafio do setor é transformar o mel em um hábito à mesa dos brasileiros, e não apenas um remédio na prateleira

oferta e expectativas da demanda, inclusive agregando valor ao negócio. E ajuda a compreender que os segmentos de abelhas com ferrão e de abelhas nativas são complementares, pois ambos têm vantagens relevantes. As abelhas com ferrão são superiores em volume de produção e capacidade de deslocamento, enquanto as nativas oferecem uma diversidade maior de aplicação.

Mariana ainda aproveitou o curso para fazer conexões, conhecer outras pessoas, outras culturas, e abrir novas portas. Esse era mesmo um dos objetivos dos fundadores do Instituto 4e, Felipe Meireles, Robson Gaia e Luciano Soares. Nos últimos anos, os compromissos se multiplicaram na agenda dos três especialistas, com cursos, palestras, treinamentos e concursos. Era preciso equilibrar a situação, capacitando mais gente para dar conta dessa expansão.

Criar a metodologia do curso foi o maior desafio, até pela falta de referência. “O curso aplicado na Itália reúne 22 méis e o nosso leque

é de 88”, diz Soares. “Levamos quase dois anos planejando tudo. Conversamos com o pessoal de análise de cacau, azeite e queijos. O aluno tinha de sair do curso sabendo identificar quando é um mel de jataí, por exemplo, qual seu sabor e seu aroma.”

Como toda primeira vez, sempre há o que aprimorar. O curso já está sendo revisado, será anual e deve ganhar mais um dia na programação. “Não nos preocupa a possibilidade de os alunos aproveitarem esse conhecimento para criar seu próprio curso”, diz Soares. “Entregamos a eles as ferramentas para isso mesmo.” Agora, os sócios do Instituto 4e preparam outra novidade: o primeiro concurso com jurados sommeliers e com premiação em dinheiro.

A exemplo de outros segmentos, a compreensão sobre os diferenciais de cada mel é um ponto fundamental para manter o mercado aquecido. “Para isso, é importante que os consumidores conheçam o fornecedor ou busquem selos de qualidade e certificações do produto”, diz o secretário de Agricultura Familiar do Piauí, Francisco Ribeiro. “Os brasileiros consomem pouco mel, menos de 100 gramas por habitante por ano. Não dá para entender um consumo exagerado de açúcar e tão pouco de mel.”

Para Teresa Bastos, da Bee Mel, esse volume é baixo porque o brasileiro não tem o costume de consumir mel como alimento, mas principalmente como uma opção medicinal. “É preciso ensinar, educar e conscientizar”, afirma. O investimento das empresas de apicultura e meliponicultura na qualificação dos produtos e em sua apresentação, com embalagens mais atraentes e muita informação já é um caminho interessante. O desafio agora é transformar o mel em um hábito à mesa, não apenas um remédio na prateleira.

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ICM LANÇA SITE PARA REFORÇAR

PRESENÇA NO BRASIL E PROMOVER INOVAÇÃO NO SETOR DE BIORREFINARIAS

Plataforma reflete o compromisso da empresa com o mercado brasileiro e busca potencializar o desenvolvimento de soluções sustentáveis no setor de etanol de milho

Em celebração ao seu 30º aniversário, a ICM, empresa americana líder mundial em tecnologias de biorrefino, acaba de lançar um novo site dedicado exclusivamente ao mercado brasileiro. A novidade foi anunciada no dia 23 de janeiro de 2025 e promete ser um marco na expansão da empresa no Brasil, reforçando seu compromisso com o desenvolvimento do setor de energia renovável no País.

A nova plataforma digital, acessível pelo endereço icminc.com.br, foi projetada para oferecer informações detalhadas sobre as tecnologias inovadoras da ICM voltadas ao design e operação de biorrefinarias de etanol de milho. As instalações desenvolvidas pela empresa são reconhecidas por combinar eficiência operacional com sustentabilidade, produzindo etanol, farelo de milho para alimentação animal e óleo de milho de forma otimizada e com valor agregado.

De acordo com Daniel Yamada, gerente de Desenvolvimento de Negócios da ICM, o novo site representa uma extensão do suporte estratégico da empresa aos seus clientes na região. “Estamos muito satisfeitos em apresentar um recurso que reflete nosso compromisso em investir na região e fortalecer nossa capacidade de atender aos nossos clientes”, diz. “Este lançamento representa mais um passo na nossa missão de oferecer não apenas as tecnologias mais eficientes, mas também um suporte excepcional para ajudar nossos clientes a alcançarem seus objetivos.”

O novo site faz parte da estratégia de expansão que vem sendo consolidada desde a inauguração do escritório da ICM no Brasil, em 2022. Com uma unidade local totalmente equipada e equipe especializada, a empresa tem conseguido oferecer atendimento técnico de alto nível e soluções adaptadas às especificidades do mercado brasilei-

ro, especialmente no que se refere ao crescimento da produção de etanol de milho.

Entre os principais destaques do site, estão seções dedicadas ao detalhamento das tecnologias empregadas na produção de etanol, incluindo sistemas de fermentação de alta eficiência, recuperação de coprodutos e tecnologias de otimização de processos. Há também uma área para depoimentos de clientes, demonstrando os resultados obtidos com as soluções da ICM em diferentes regiões do mundo. O Brasil, que já possui uma sólida base na produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, vem investindo cada vez mais no uso do milho como matéria-prima. Com isso, a presença de empresas como a ICM é vista como um diferencial estratégico para o setor, devido às suas tecnologias de ponta e capacidade de inovação.

A tecnologia proprietária da ICM já está implementada em mais de 110 instalações no mundo, responsáveis pela produção anual de mais de 33 bilhões de litros de etanol e 22 milhões de toneladas de grãos destilados. No Brasil, a empresa tem como foco não só o fornecimento de tecnologia, mas também a capacitação dos clientes para maximizar a produtividade, reduzir desperdícios e garantir resultados sustentáveis.

A aposta no mercado brasileiro não é casual. O País é um dos maiores produtores mundiais de energia renovável e tem investido de forma consistente na diversificação de suas fontes de biocombustíveis. A entrada da ICM com uma plataforma digital reforça o interesse em apoiar o Brasil no desenvolvimento de uma economia verde, promovendo práticas agrícolas e industriais que minimizam o impacto ambiental.

HORA DA COLHEITA

COM EXPORTAÇÕES RECORDES E PARTICIPAÇÃO EM GRANDES FEIRAS GLOBAIS, A FRUTICULTURA

BRASILEIRA AVANÇA NO MERCADO INTERNACIONAL, MAS AINDA ENFRENTA DESAFIOS LOGÍSTICOS E BARREIRAS COMERCIAIS

Por Ronaldo Luiz

Afruticultura brasileira vive seu melhor momento nos mercados internacionais. Em 2024, os embarques de frutas ultrapassaram 1 milhão de toneladas e o faturamento somou US$ 1,38 bilhão – um avanço de 2,04% em comparação com o resultado do ano anterior, conforme dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A precificação melhor das frutas nacionais nos mercados globais contribuiu para o aumento do valor médio nominal da tonelada comercializada em 3,4% em 2024, passando de US$ 1.217 em 2023 para US$ 1.258 no ano passado. Mangas, melões, uvas, limões e limas, além de nozes e castanhas, lideraram as remessas internacionais. Essas espécies representaram 68,9% do volume exportado e 70,6% da receita apurada. Melancia e mamão também apresentaram bom desempenho.

Os clientes das frutas brasileiras passaram de 130 para 138, sendo o grupo formado por Países Baixos, Reino Unido, Espanha, Estados Unidos e Argentina o principal, respondendo por 81,8% do volume embarcado e 78,2% das divisas obtidas. Somente os Países Baixos adquiriram 464 mil toneladas das exportações brasileiras de frutas em 2024, representando 37,3% do total embarcado. Isso se deve ao fato de, além do consumo interno, os holandeses redistribuírem grande parte do que importam para o varejo europeu. “Temos oferta, diversidade, sanidade, qualidade e sustentabilidade, e poderíamos exportar muito mais, já que temos potencial para dobrar, triplicar e até quadruplicar nossa produção, garantindo o abastecimento interno e gerando excedentes exportáveis”, diz o vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Waldyr Promicia. “Mas há o desafio da abertura de novos mercados e o protecionismo comercial.”

Em 2024, os embarques de frutas ao exterior somaram 1 milhão de toneladas e o faturamento chegou a US$ 1,38 bilhão

A ciência agrária brasileira viabilizou o cultivo comercial em larga escala de diversas frutas, até de uvas do Nordeste

Gasconi, da GS1 : "A tecnologia de código de barras é capaz de mostrar os insumos usados nos pomares"

Apesar dos números positivos, que mostram a evolução do setor e posicionam o Brasil como o terceiro maior produtor mundial, a fruticultura nacional tem apenas 4% de participação nas vendas globais. “Somos apenas o 23º maior exportador mundial”, diz o dirigente, acrescentando: “As oportunidades são enormes. Para se ter ideia, estamos exportando até frutas de clima temperado, como lichia e mirtilo. Depois que a ciência agrária brasileira viabilizou o cultivo comercial em larga escala de uvas no Nordeste, não duvido que possamos produzir qualquer tipo de fruta por aqui”.

Nessa jornada, o Projeto Frutas do Brasil, desenvolvido pela Abrafrutas em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), programou uma série de ações estratégicas para ampliar a presença das frutas brasileiras nos mercados internacionais em 2025. A iniciativa prevê a

participação em quatro grandes feiras internacionais: Fruit Logistica, em Berlim; Fruit Attraction, em São Paulo e Madri; e a Asia Fruit Logistica, em Hong Kong, na China. Além disso, o projeto contempla a organização do Frutas do Brasil Festival, em colaboração com influenciadores digitais e com o apoio das embaixadas do Brasil na Europa e na Ásia.

Essas feiras são algumas das principais vitrines globais do setor da fruticultura por oferecerem oportunidades diretas para conectar produtores brasileiros a importadores, distribuidores e consumidores de diferentes partes do mundo. Na Fruit Attraction Madrid 2024, o estande brasileiro foi eleito o melhor na categoria Países e Regiões, destacando-se entre 1.800 expositores concorrentes. Já o esforço do Frutas do Brasil Festival tem se mostrado, segundo a Abrafrutas e a Apex, uma ferramenta eficiente para promover os sabores, a diversidade e a qualidade das frutas brasileiras nos mercados-alvo. O envolvimento de influenciadores digitais, afirmam a entidade e a agência, bem como a parceria com as embaixadas, reforça a visibilidade do Projeto Frutas do Brasil e ajuda a conquistar novos públicos. Na avaliação de Promicia, o acordo Mercosul-UE e, sobretudo, a legislação antidesmatamento europeia representam um desafio, mas, ao mesmo tempo, uma boa oportunidade para a fruticultura brasileira. “O cultivo de nossas frutas cumpre todos os requisitos de boas práticas que os europeus estabeleceram”, diz. “Estamos bem posicionados do ponto de vista do compliance socioambiental, com a adoção de certificações conceituadas, como a GlobalGap”, afirma o dirigente. Atualmente, as frutas brasileiras ainda enfrentam tarifas que variam entre 4 e 14% para ingressar no mercado europeu. Com o novo tratado, essas taxas serão

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parcial ou totalmente eliminadas.

Para o executivo de Desenvolvimento Setorial da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, Nilson Gasconi, as certificações relacionadas à origem do produto e à rastreabilidade dos processos são um ativo real de credibilidade quanto à sanidade, qualidade e sustentabilidade da fruticultura brasileira: “A tecnologia de código de barras oferecida por nós e adotada por exportadores de frutas tem padrão de reconhecimento mundial inequívoco e único, sendo capaz de abrigar informações desde os insumos usados nos pomares até o manejo do plantio, o processamento e a distribuição, chegando ao ponto de venda”.

Gasconi, porém, chama a atenção para o desafio logístico de armazenagem e transporte, que impacta a exportação de frutas, já que

se trata de uma mercadoria perecível e que exige controle constante de temperatura. Segundo ele, essa questão demanda estruturas de câmaras refrigeradas, o que eleva os custos. A análise é compartilhada por dois de seus clientes: Carlos Lucato, sócio-proprietário da Citrícola Lucato, que trabalha com a produção de cítricos (laranja, limão e tangerina), e a Itaueira, famosa pela exportação de melão e que planeja iniciar embarques de melancias a partir deste ano.

No eixo Petrolina (PE)–Juazeiro (BA), o Vale do São Francisco é o maior polo de fruticultura do País, gerando cerca de 240 mil empregos diretos no campo. Foi a irrigação que viabilizou o cultivo local, responsável por boa parte da produção nacional de mangas. De acordo com dados da Secretaria de

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O Brasil tem ampla oferta de produtos e grande potencial para ampliar a sua participação nas vendas globais

Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia, o faturamento anual do setor na região é de cerca de R$ 2 bilhões, sendo R$ 800 milhões provenientes da exportação de mangas e uvas de mesa. No Sul de Minas Gerais, tradicionalmente conhecido pela produção de café, uma nova cultura está ganhando espaço. A maçã, geralmente encontrada nas regiões mais frias do País, agora faz parte de um projeto da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) para diversificar a produção agrícola e garantir uma nova fonte de renda aos agricultores. Com resultados animadores, os produtores participantes finalizaram a colheita da primeira safra, que somou 30 toneladas da fruta. A iniciativa abrangeu municípios como

Alfenas, Guaxupé, Monte Santo de Minas, Guaranésia e Arceburgo, promovendo a compra conjunta de mudas e garantindo assistência técnica aos agricultores, desde a escolha da área de plantio até o manejo das árvores. Segundo o coordenador técnico da Emater-MG e responsável pelo projeto, Kleso Franco Júnior, as variedades cultivadas – Eva e Princesa – foram desenvolvidas pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e escolhidas por sua adaptabilidade ao clima local, com um inverno menos rigoroso do que o das regiões tradicionalmente produtoras de maçã no Sul do Brasil. “A produção de maçã exige dedicação e acompanhamento técnico”, diz Júnior. “No primeiro ano de colheita, algumas plantas chegaram a produzir 15 quilos de frutos por pé, o que é muito significativo para uma cultura ainda em fase de teste nas

Estamos bem posicionados do ponto de vista de compliance socioambiental, com a adoção de certificações conceituadas

propriedades dos agricultores.” Ao todo, foram plantados 1,5 mil pés de maçã em uma área de aproximadamente 2 hectares.

A proposta da Emater-MG foi além da maçã. Alguns produtores investiram em outras frutas de clima temperado, aproveitando a estrutura e o conhecimento adquiridos. Em Guaranésia, o cafeicultor Luís Celso Pedroso diversificou sua propriedade com maçã, pêssego e uva, em uma pequena área de 0,5 hectare. Segundo ele, a ideia é testar qual fruta melhor se adapta ao local. “A área que tenho é pequena para o plantio de milho e soja e muito sujeita a geadas, o que não é bom para o café”, afirma. “Então, estou fazendo esses testes. Estou gostando da experiência com a maçã, mas ainda é um aprendizado.” Ele conta que a primeira colheita de maçã rendeu 170 quilos da fruta, vendida para um feirante do município. A ideia é fazer os cálculos, avaliar custos e, provavelmente, aumentar o plantio na próxima safra. Os resultados iniciais mostram que a maçã pode ser uma alternativa viável no Sul de Minas, proporcionando maior rentabilidade aos pequenos produtores. “Além da venda da fruta in natura, já fomos procurados por produtores interessados em fazer o processamento das frutas na propriedade”, diz o coordenador da Emater-MG.

Sidinei Pessoa Magalhães, de 45 anos, é um apaixonado pela fruticultura e viu na atividade uma oportunidade de renda quando ainda era operador de máquinas pesadas. Há dez anos, escolheu o município de Tangará da Serra (MT) para investir na produção de bananas, que se consolidou como sua principal fonte de sustento para a família. “Eu decidi apostar na agricultura e tudo começou com um pequeno plantio de banana-maçã, e comecei a gostar”, diz. “Naquele momento, tive bons resultados, mas percebi que a produção poderia ser ainda melhor.” Motivado a aumentar a produtividade, Sidinei procurou a

Assistência Técnica e Gerencial do Senar-MT depois de participar de um dia de campo no município. Durante o evento, conheceu Eduardo Carneiro Teixeira, técnico credenciado da instituição e especialista em produção de bananas. Com sua ajuda, Sidinei começou a aplicar técnicas de gestão que estão transformando os resultados da propriedade. “Quando iniciamos, a área era praticamente crua, apenas pasto e restos de um bananal de banana-maçã”, afirma Carneiro. “O principal ponto que trabalhamos foi o preparo do solo.”

Além de aumentar a eficiência, Magalhães também modernizou a propriedade com a instalação de um sistema de irrigação de ponta, a fim de garantir que toda a produção recebesse água de forma controlada. Com a orientação do Senar-MT, não apenas melhorou a produção como também adotou boas práticas ambientais. Ele obteve as licenças necessárias para o uso sustentável da água do rio, equilibrando produtividade e respeito ao meio ambiente. O produtor não esconde o orgulho ao falar de seus 8 hectares de banana: 5 dedicados à banana-nanica e 3 à BRS Terra-Anã. A colheita acontece semanalmente, com uma média de 100 a 200 caixas de banana-nanica e 50 a 100 caixas de Terra-Anã. Na gestão do negócio, ele conta com a ajuda das filhas, Anielle e Adriele, que auxiliam nas vendas e na emissão de notas fiscais.

O suporte técnico contínuo também faz a diferença no sucesso da produção. “Se temos dúvida sobre a aplicação dos defensivos, mandamos mensagem para o Eduardo e ele nos orienta”, diz Magalhães. Com planos de expandir o cultivo de banana-da-terra para alcançar uma média de 300 a 400 caixas por mês, ele está otimista. “A intenção é aumentar mais o plantio, porque, após os gastos com a irrigação, só teremos lucro.”

KOPPERT LANÇA NOVA CAMPANHA COM FOCO EM INOVAÇÃO E ALTA PERFORMANCE DOS SEUS PRODUTOS

Empresa reforça sua liderança no controle biológico com uma nova campanha institucional, destacando atributos como inovação, eficiência, produtividade e compromisso com a sustentabilidade

AKoppert, líder mundial em controle biológico, anunciou uma nova campanha institucional para este ano, que promete marcar 2025 com uma série de ações estratégicas, peças criativas, conteúdo digital e eventos on e offline. Sob o lema “Biológico de Alta Performance”, a companhia destacará os principais atributos que definem sua atuação no agronegócio brasileiro: inovação, eficiência, produtividade e sustentabilidade.

Ao longo deste ano, a marca reforçará sua proposta de valor ao público, apresentando soluções cada vez mais eficazes e sustentáveis para o agronegócio, que são fundamentais para o avanço da agricultura e de práticas de manejo integrado no País.

“Com modernos centros de pesquisa, investimentos em tecnologia de ponta e uma constante busca pela reinvenção, cada passo evolutivo nosso reflete o DNA de A lta Performance que nos acompanha há quase seis décadas. Esse compromisso se reflete não apenas no campo, mas também nos diversos setores que se conectam direta ou indiretamente com a agricultura – da indústria à ciência, passando pela saúde e, principalmente, pela vida cotidiana das pessoas ao redor do mundo. Ao longo de quase 60 anos, temos reescrito a história da agricultura moderna”, diz o conceito divulgado pela empresa.

Com um portfólio que combina ciência e natureza, a Koppert segue liderando a transformação do agronegócio, promovendo soluções que respeitam o meio ambiente e contribuem para uma agricultura mais eficiente e sustentável. Suas soluções biológicas são utilizadas em mais de 80 países, com o suporte

de 34 subsidiárias ao redor do mundo. O portfólio da companhia no Brasil conta com mais de 30 produtos e soluções adaptadas à agricultura tropical, incluindo micro e macrobiológicos, como ácaros predadores, vespas parasitoides, nematoides benéficos, microrganismos, inoculantes e bioativadores.

Pioneirismo, produtividade e inovação para a agricultura do futuro

A Koppert é líder global em controle biológico, oferecendo soluções integradas para uma agricultura moderna e de Alta Performance. A companhia conta com um exclusivo departamento de Pesquisa e Inovação dedicado ao desenvolvimento de novas tecnologias, à melhoria da eficácia das soluções já existentes e a um rigoroso controle de qualidade dos seus produtos. Com processos produtivos padronizados, seguros e altamente tecnificados, garante confiabilidade e qualidade ao seu completo portfólio de produtos, além da aplicação de macrobiológicos via drones, por meio da Natutec by Koppert.

Está presente no Brasil desde 2011 e, atualmente, conta com três modernas unidades de produção: a de microbiológicos, localizada na cidade de Piracicaba (SP), e as unidades de formulações e de macrobiológicos, que ficam na vizinha Charqueada (SP). É parceira do SPARCBio (São Paulo Advanced Research Center for Biological Control) e do Gazebo, primeiro hub de inovação do agronegócio especializado em tecnologias voltadas para o controle biológico do País.

Para saber mais, acesse: www.koppert.com.br

SOLO CADA VEZ MAIS VERDE

A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DE PASTAGEM DEGRADADAS AINDA É UM DESAFIO, MAS

INICIATIVAS PROMISSORAS REALIZADAS NO BRASIL COMEÇAM A TRAZER RESULTADOS POSITIVOS

Por Romualdo Venâncio

Transformar terras improdutivas em áreas de fartura agrícola é um dos principais caminhos para elevar o nível de sustentabilidade da agropecuária brasileira. E não falta espaço para essa conversão. Segundo dados do Atlas das Pastagens, ferramenta desenvolvida pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG), 40% dos mais de 179 milhões de hectares de pastagem no Brasil apresentam médio vigor vegetativo e sinais de degradação. E 20% já estão com baixo vigor vegetativo, ou seja, degradação severa.

Essa grave situação compromete o maior patrimônio do produtor rural, que é a sua terra. Solo mal manejado resulta em erosão e infertilidade, condições que não só reduzem a produtividade agropecuária como o volume dos reservatórios de água. O efeito cascata chega até as represas hidrelétricas, prejudicando – e encarecendo – a geração de energia. Portanto, o tema não se restringe apenas aos agentes do agronegócio, mas envolve toda a sociedade.

A boa notícia é que há muita gente atenta a essa questão, incluindo profissionais de diferentes instituições, públicas e privadas, que estudam a fundo a situação para entender bem as causas e os efeitos da degradação de terras – e, a partir daí, buscar soluções. Um dos resultados dessa dedicação é o Plano Nacional de Gestão Sustentável de Solo e Água, um projeto da Embrapa Solos que começou a ser desenvolvido em março de 2020 e ficou pronto em dezembro do ano passado. “Faremos agora toda uma articulação para que seja endossado pelo Ministério de Agricultura e Pecuária e pelo Ministério do Meio Ambiente”, afirma o pesquisador da Embrapa Solos, Aluísio Granato de Andrade, que está à frente desse trabalho, também chamado de PlanoSoloÁguaBR. O objetivo do projeto é combater a degradação do solo e da água, promovendo a transição para sistemas sustentáveis de produção agropecuária e recuperando áreas degradadas. E, dessa forma, garantir segurança hídrica, alimentar e energética. “Nossa proposta é valorizar o produtor conservacionista e responsabilizar quem está fazendo errado, porque isso tem reflexos além da porteira, impactando estradas, fontes de água e a produção de alimentos”, diz Andrade, que ainda destaca o efeito social do

Cherubin, da Esalq/ USP : "A proteção do solo é um assunto estratégico agora e para os próximos anos"

Mapeamentos organizados pelo MapBiomas contribuem para o avanço da agropecuária sustentável

fotos: Divulgação

projeto. “Vamos precisar de agentes ambientais, então estamos falando de geração de empregos, além da geração de renda para o produtor rural e da preservação ambiental.”

O PlanoSoloÁguaBR é baseado em seis eixos estratégicos: legislação, integração, prevenção, conservação, recuperação e monitoramento. A ideia é que seja realizado de forma integrada, reunindo diversas organizações de ensino, pesquisa, extensão e fiscalização. Desde o começo da iniciativa, já foram mapeadas 697 instituições ligadas ao conhecimento e à gestão do solo e da água. A proposta é compor um sistema de governança que envolva diferentes instituições em níveis federal, estadual e municipal, promovendo uma ação coordenada e permanente.

As medidas passam pela identificação das causas e dos níveis de degradação, pela orienta-

ção aos produtores sobre o manejo do solo e pela disponibilidade de recursos para a recuperação de áreas. Segundo Andrade, o principal motivo da degradação das terras é a condução inadequada da agricultura em grande escala. “Toda a construção da estrutura e da fertilidade do solo pode ser perdida em uma safra se não forem tomados os devidos cuidados”, afirma. A opinião do pesquisador da Embrapa Solos é reforçada pelo professor do Departamento de Solos da Esalq/USP, Maurício Cherubin, que destaca o impacto do manejo inadequado das pastagens. “Por muitos anos, a pecuária tinha a função de transição”, diz. “O gado era colocado na terra para mantê-la produtiva até a entrada de outra atividade. Por muito tempo isso foi feito com baixo investimento, sem chance de descanso para o solo, sem cálculo de lotação (animais

fotos:

O grau de vigor das pastagens é uma variável essencial para determinar o nível de deterioração das terras

A FORÇA DO CERRADO

As áreas de pastagem por bioma (em hectares)

Cerrado

Amazônia

Mata Atlântica

Caatinga

56,6 milhões

5,9 milhões

32,7 milhões

28,6 milhões

Pampa 5,1 milhões

Pantanal

4 milhões

por área) da pastagem e sem recuperação.”

Inevitavelmente, esse processo leva à queda de produtividade, além de favorecer a disseminação de pragas, doenças e plantas daninhas.

A dimensão que o tema vem ganhando é outro ponto de convergência entre os especialistas. “A degradação do solo já foi considerada como uma das principais ameaças da humanidade. Inclusive, foi a causa de muitas migrações que temos visto pelo mundo”, afirma Andrade. “O assunto é um dos mais estratégicos agora e para os próximos anos”, acrescenta Cherubin.

A informação é um dos insumos primordiais para nutrir qualquer ação de recuperação das áreas degradadas e a implantação de novas atividades agrícolas. Daí a importância de trabalhos como o do MapBiomas, modelo de mapeamentos organizado por biomas que

Fonte: Atlas das Pastagens (2023)

contribui para a análise e o desenvolvimento de uma agropecuária mais sustentável. Iniciativa do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG/OC), o MapBiomas é produzido por uma rede colaborativa formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia.

Um desses mapeamentos é o MapBiomas Degradação, estudo que mostra, por exemplo, que 81,4% do total de pastagens convertidas para agricultura e outras atividades – cerca de 28,5 milhões de hectares – apresentavam condição de vigor médio ou baixo, entre 2000 e 2023. E que 70% das áreas de pastagens do Brasil existem há mais de 20 anos, com base em estatísticas de 1985 a 2023. Esses dados são apresentados também por biomas, o que ajuda a ter uma visão regional, mais detalhada. “Em

2025, lançaremos um monitor de áreas em recuperação”, afirma o coordenador técnico do MapBiomas, Marcos Rosa.

O executivo faz questão de ressaltar que o trabalho da instituição é puramente quantitativo. “Somente apresentamos diagnósticos, que até contribuem com o desenvolvimento de políticas públicas, mas sem interpretações”, diz. “Levamos muito a sério essa neutralidade.” Isso não quer dizer que ele não possa sugerir questionamentos significativos para a análise do cenário de áreas degradadas no Brasil: “O País tem 64% de áreas naturais, mas qual é o grau de conservação, ou não, dessas áreas? O quanto essa vegetação ainda está sofrendo?”.

Para Rosa, o próprio conceito de degradação é algo bastante amplo, que pode ter várias interpretações. O grau de vigor das pastagens é uma variável essencial para determinar o nível

foto: Shutterstock

de deterioração das terras. As análises também devem levar em consideração as características de cada região e de cada bioma. No Pampa, há muito pasto nativo, que é anotado como uma vegetação natural. No Pantanal, pelo fato de já não alagar como antes, a vegetação que viria na sequência do pastejo já não aparece mais, o que leva o pecuarista a buscar outras áreas.

Outro exemplo da busca por mais e melhores informações é a criação do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON), sediado na Esalq/USP, uma iniciativa voltada ao desenvolvimento de soluções para combater as mudanças climáticas e melhorar os padrões e condições de vida. “O projeto tem ajudado muito a comunicar, a levar informação”, afirma Cherubin. “A orientação ao produtor é crucial.”

A multiplicação de dados consistentes tem sido valiosa para combater informações erradas

O Brasil dispõe de ferramentas cruciais para promover práticas agrícolas cada vez mais verdes

Rosa, do MapBiomas: "O País tem 64% de áreas naturais, mas qual é o grau de conservação dessas terras?"

e o negacionismo quanto aos impactos das mudanças climáticas. O agronegócio é um dos setores mais afetados pelas variações do clima, ora com estiagens severas, ora com excesso de chuvas. “Parece que as pessoas estão caindo na real e os produtores estão entendendo que não se trata de opinião, mas de fatos”, diz Cherubin. Para o professor da Esalq, não há momento mais favorável do que esse para trabalhar a recuperação de áreas degradadas. Ele cita a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA). Segundo Cherubin, será uma excelente oportunidade para mostrar como a ciência é parceira do agronegócio e da preservação ambiental – e revelar para o mundo que o Brasil dispõe de ferramentas cruciais para reverter danos e promover práticas agrícolas cada vez mais sustentáveis.

foto: Divulgação

SANTANDER IMPULSIONA

O AGRO COM HIPERPERSONALIZAÇÃO, CRÉDITO E SUSTENTABILIDADE

Banco amplia carteira de financiamento e aposta na oferta de produtos 100% adaptados ao agronegócio para apoiar o crescimento do setor

Oagronegócio brasileiro é um dos pilares da economia nacional. Segundo as projeções mais recentes do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, o setor deverá responder por cerca de 22% do PIB do País em 2024, além de colocar o Brasil na posição de um dos maiores exportadores de commodities agrícolas do mundo. Essa relevância só é possível graças à parceria com as instituições financeiras, que ajudam a financiar e viabilizar o desenvolvimento sustentável e a inovação com foco em produtividade. Nesse cenário, o Santander tem se consolidado como um dos principais players do setor, atuando de forma estratégica para impulsionar o crescimento do agro brasileiro.

Com uma carteira de crédito de cerca de R$ 100 bilhões – crescimento de aproximadamente 15% no último ano –, o Santander tem como objetivo o contínuo posicionamento no setor. Para 2025, mantém-se a hiperpersonalização no atendimento aos clientes. “O agro é um setor diverso e complexo, e nosso objetivo é oferecer soluções sob medida para cada cliente, desde produtores até grandes empresas”, diz Caroline Perestrelo, head de Agro-Corporate do Santander. Segundo a executiva, os gerentes buscam entender cada produtor, empresa e cultura agropecuária para desenvolver soluções estratégicas e ofertas adequadas ao dia a dia das operações. “A ampliação e a personalização dos produtos são contínuas, acompanhando a evolução do

setor”, afirma. Hoje, o banco possui equipe especializada de cerca de 500 pessoas para atender a toda a cadeia do agro no Brasil.

O Santander disponibiliza diversas linhas de crédito para o agronegócio, como o Multiagro, destinado a produtores rurais para investimentos em atividades agropecuárias, incluindo a aquisição de máquinas, equipamentos e tecnologia. Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio ( CRA s) e os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) também são parte relevante das soluções oferecidas.

Além disso, o Santander leva aos produtores financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como o Inovagro, que apoia a incorporação de inovações tecnológicas nas propriedades rurais, promovendo a modernização e a competitividade do setor. Produtos como os Debêntures de Infraestrutura, que apoiam projetos de logística, armazenagem e biocombustíveis essenciais para o agro, também ajudam a manter a pujança da produção nacional.

O banco ainda oferta soluções personalizadas aos exportadores e importadores do agro, seja com linhas de crédito específicas, seja com serviços de câmbio. “Somos 1º lugar no ranking geral de câmbio do Banco Central por dez anos consecutivos”, diz Caroline. De acordo com a executiva, o Santander é forte nas linhas de trade finance por ser uma instituição internacional – “o mais global dos

Caroline Perestrelo, head de Agro-Corporate do banco: “No Santander, estamos preparados para acompanhar a evolução do agro”

locais”, ela reforça. “Por isso, apoiamos os clientes do agro tanto nas travas relacionadas ao dólar e outras moedas estrangeiras quanto em remessas e recebimentos.” As exportações brasileiras de produtos do agronegócio geraram no ano passado US$ 164,37 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura. Isso corresponde a 48,8% de todo o volume comercializado pelo Brasil para o exterior em 2024.

Entre as diversas soluções ofertadas pelo banco aos produtores, ainda estão: cartões e consórcios estruturados ao agro, que facilitam a gestão financeira e a aquisição de maquinários e insumos; cash management, otimizando o fluxo de caixa das empresas; e seguros, que protegem investimentos e garantem a segurança das operações agrícolas.

Outra prioridade é o agronegócio sustentável. “Essa é uma agenda que o Santander protagoniza há décadas”, diz Caroline. Em 2024, o banco alcançou uma carteira de R$ 37,7 bilhões em negócios sustentáveis – que incluem emissão de títulos verdes, financiamento de energias limpas e opções de produtos dedicados. O Santander também é acionista majoritário da WayCarbon, consultoria líder em ESG (ambiental, social e governança). Juntas, as instituições têm desenvolvido projetos para ajudar empresas do agro a mensurar e reduzir sua pegada de carbono, alinhando-se às demandas do mercado internacional por práticas mais sustentáveis.

Além disso, o Santander é um dos principais operadores de Créditos de Descarbonização (CBIOs) no Brasil. Esses títulos, criados pelo RenovaBio, incentivam a produção de biocombustíveis e contribuem com a agenda climática global. O Santander tem atuado ativamente nesse mercado, facilitando a negociação e o financiamento desses créditos. Outro destaque é o apoio do banco por meio de linhas de crédito a projetos de transição energética, especialmente aqueles ligados ao etanol (de cana, milho ou outras fontes) e

ao biodiesel. O Brasil é o segundo maior produtor de etanol e o terceiro maior produtor de biodiesel do mundo, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Nos últimos anos, o País também tomou a dianteira na pesquisa e desenvolvimento do etanol de segunda geração (E2G) e do diesel renovável. Com portfólio robusto e visão estratégica clara, o Santander segue comprometido em ser um parceiro de longo prazo do agronegócio brasileiro. “Queremos compartilhar da história, da vida e da ambição de nossos clientes, desde produtores até grandes companhias”, diz Caroline Perestrelo. “No Santander, estamos preparados para acompanhar a evolução do agro, oferecendo recursos financeiros, inovação e sustentabilidade para garantir um futuro próspero.”

MOMENTO DE TRANSFORMAÇÃO

RISCO DE DISPARADA NOS PREÇOS DE FERTILIZANTES PARA A SAFRA 2024/25 FOI CONTIDO, COMPRAS EXTERNAS AUMENTARAM EM VOLUME E CONSUMO DE BIOINSUMOS NACIONAIS CRESCEU

Por Marco Damiani

Um sentimento de otimismo cauteloso envolveu os produtores do agro em relação à demanda por fertilizantes na safra 2024/25. As preocupações com uma disparada nos preços internacionais, em razão das vicissitudes do mercado externo, que seriam agravadas com a alta do dólar no Brasil a partir de dezembro do ano passado, não se concretizaram. Com compras antecipadas de suas demandas, dentro do planejamento de cooperativas agrícolas ou valendo-se do mercado “spot” – com entrega imediata e pagamento à vista –, a grande maioria dos produtores de grãos conseguiu obter preços em linha com os praticados na safra anterior. “De forma geral, por mais que exista uma relação de troca desfavorável, o mercado de fertilizante está estável”, diz o engenheiro agrônomo Armando Sugawara, consultor técnico do ramo Agropecuário do Sistema Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo). “Essa estabilidade tem influenciado o comportamento de compra dos produtores rurais, que preferem adquirir fertilizantes de forma pontual (compra spot) em vez de fazer estoques grandes, devido ao risco de variação nos preços.”

De acordo com o Boletim Logístico de janeiro da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), as importações brasileiras de fertilizantes bateram, em 2024, o recorde dos últimos cinco anos. Em relação à safra anterior, o acréscimo de 8,3% nas compras totais, que chegaram a 44,3 milhões de toneladas de insumos, se explica pela dimensão da produção de grãos, que também será recorde, com projetadas 322,3 milhões de toneladas. O crescimento sobre a safra anterior é estimado em 8%, na exata proporção do acréscimo na compra de insumos. Ao mesmo tempo, o uso de bioinsumos produzidos no Brasil cresceu acima de 13% na safra em encerramento,

As importações brasileiras de fertilizantes bateram, em 2024, o recorde dos últimos cinco anos, com avanço de 8,3% nas operações

PLANT PROJECT – QUAL É O CENÁRIO ATUAL DE DESENVOLVIMENTO DO PLANO NACIONAL DE FERTILIZANTES?

José Carlos Polidoro – O ceticismo de dois anos atrás, quando muitos duvidaram fortemente da retomada da produção de fertilizantes no Brasil, acabou. O que existe agora são resultados e um consenso de que estamos conseguindo retomar, com ganhos, a produção de fertilizantes dentro do País. Nós ainda importamos 80% das necessidades da safra, mas este foi o último ano desse volume. O mercado interno será atendido, gradativamente, pela indústria nacional.

PP – O QUE ESTÁ SENDO

FEITO PARA ATINGIR ESSE

OBJETIVO?

Polidoro – Duas plantas de nitrogenados no Nordes-

“O BRASIL SERÁ LÍDER EM FERTILIZANTES SUSTENTÁVEIS”

O PESQUISADOR JOSÉ CARLOS POLIDORO PROJETA UMA SIGNIFICATIVA REDUÇÃO DAS IMPORTAÇÕES NOS PRÓXIMOS ANOS

te, na Bahia e em Sergipe, estão saindo de uma fase de hibernação para retomarem a produção, numa parceria da Petrobras com a Unigel. No Amazonas, a fábrica de fertilizantes de potássio, da companhia Potássio do Brasil, já está em fase inicial de produção, interagindo comercialmente com o mercado. No segundo semestre do ano passado, a Petrobras retomou suas atividades na Ansa (Araucária Nitrogenados S.A.), no Paraná. No horizonte até 2028, o País conseguirá atender até 15% da demanda nacional por fósforo, com projeção de produzirmos 1,1 milhão de toneladas por ano. Vamos avançar muito em nitrogênio e potássio com base sustentável. No ano passado, reconhecemos 21 fábricas de fertilizantes sendo implantadas no País. É um universo bastante signifi-

cativo em relação ao ponto zero em que estávamos um ano antes.

PP – COMO ESTÁ A INTERLOCUÇÃO DO GOVERNO COM A INICIATIVA PRIVADA DO SETOR?

Polidoro – O diálogo agora é permanente. No âmbito do Confert (Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas), que foi recuperado e está sob a presidência do vice-presidente da República, reunimos representantes dos ministérios relacionados ao tema, além de executivos da iniciativa privada e da Petrobras. Tudo é discutido ali, com transparência sobre o planejamento e a execução.

PP – ONDE SE QUER CHEGAR?

Polidoro – O governo está coordenando a formação de uma grande cadeia produtiva em torno da retomada

da produção de fertilizantes. Como também importamos tecnologia, estamos em condições de dar um passo seguro na tropicalização dos nossos produtos. Criamos o Centro de Inovação de Negócios, que está reunindo as melhores instituições que produzem tecnologia básica, da mineração à mesa, em fertilizantes sustentáveis, cadeias emergentes, biofertilizantes, bioinsumos e agrominerais. Há um planejamento estratégico.

PP – QUAL É A ESTRUTURA

DESSE ARRANJO PRODUTIVO?

Polidoro – O Centro terá oito sedes, sendo a principal, funcionando como um hub, no Rio de Janeiro. As outras ficarão no Paraná, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Amazonas, Mato Grosso e São Paulo. A produção será temática, com potássio sendo produzido no Amazonas, bioinsumos no Paraná, agrominerais em Goiás, fósforo em Minas, nitrogenados na Bahia e insumos de base circular em São Paulo. O roteiro traçado entre as autoridades, a iniciativa privada e as entidades do setor irá levar o Brasil, nos próximos anos, à liderança mundial de fertilizantes com base sustentável.

Puxado pela cana-de-açúcar, o consumo de fertilizantes apresentou um aumento médio de 3% na safra atual em relação à anterior

cobrindo uma área plantada superior a 155 milhões de hectares. As projeções iniciais para a safra 2025/26 indicam que as compras internas podem dobrar de tamanho. “Ainda somos dependentes de compras no exterior, onde não definimos os preços, mas as perspectivas são de alteração gradual neste quadro”, diz o presidente da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Ricardo Tortorella. “Com o Plano Nacional de Fertilizantes, que nós apoiamos e está ganhando tração, acreditamos que será possível chegar a 2050 com 50% do consumo sendo produzido no Brasil.”

Tortorella confirma que os preços internacionais dos fertilizantes não constituíram um problema grave para os produtores na safra atual. Mas destaca que, em razão da volatilidade do mercado, sensível a diversos fatores da conjuntura global, é sempre preciso mitigar

riscos: “As culturas de maior valor agregado, como soja, algodão e milho, não estão sentindo diretamente as altas dos preços, porém as commodities, em que 30% do custo de produção tem origem nos fertilizantes, trazem consigo um desafio maior, demandando uma constante atualização dos cenários pelas cooperativas”.

Puxado pela cana-de-açúcar, o consumo de fertilizantes apresentou um aumento médio de 3% na safra atual em relação à anterior, de acordo com levantamento da Fecoagro (Federação das Cooperativas Agropecuárias). Na região, onde novas fronteiras agrícolas são exploradas, o crescimento foi superior a 5%. Em relação à soja, produtores dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás reduziram, em média, o uso de adubos convencionais em cerca de 9%, em mais um indicativo do incremento no consumo de bioinsumos pelo agro nacional.

foto: Shutterstock

"O agro brasileiro está rejuvenescendo, atraindo jovens ao campo em um movimento que combina tecnologia, inovação e propósito"

F

FORUM o

Ideias e debates com credibilidade

#COLUNASPLANT

O REJUVENESCIMENTO DO

AGRO

BRASILEIRO: UM MODELO PARA O MUNDO

Em um planeta cada vez mais pressionado a produzir alimentos para 10 bilhões de pessoas até 2050, o envelhecimento dos produtores rurais é um dos grandes desafios globais. Países líderes na agricultura, como os Estados Unidos e a União Europeia, enfrentam realidades alarmantes: a idade média dos agricultores é de 58 e 62 anos, respectivamente. Mas o Brasil apresenta um cenário diferente e muito mais promissor, com uma idade média de 46 anos entre os produtores rurais.

O agro brasileiro está rejuvenescendo, atraindo jovens ao campo em um movimento que combina tecnologia, inovação e propósito. Essa transformação não é apenas um detalhe estatístico: é um diferencial competitivo que coloca o País em posição de liderança global, não apenas como um dos maiores exportadores de alimentos, mas como um exemplo de renovação geracional no setor.

Enquanto a agricultura nos Estados Unidos e na União Europeia luta para renovar sua força de trabalho, com muitos jovens forçados a vender suas terras para grandes corporações, o Brasil conseguiu inverter essa tendência. Jovens brasileiros veem no campo um espaço de oportunidades, graças ao acesso a tecnologias de ponta, uma narrativa conectada ao propósito de alimentar o mundo e políticas que incentivam a educação rural.

O jovem produtor rural brasileiro é, antes de tudo, um gestor de tecnologia. Ele compreende que a inovação não é apenas uma ferramenta, mas uma estratégia para competir globalmente. Esse ambiente tecnológico não apenas aumenta a produtividade, mas cria uma atmosfera

* Marco Ripoli é diretor da PH Advisory Group

que atrai mentes jovens ao campo, transformando o agro em um setor vibrante e em constante renovação.

ALIMENTAR O MUNDO COM SUSTENTABILIDADE

O conceito de propósito nunca foi tão importante para atrair as novas gerações ao agro. Jovens que ingressam no setor não buscam apenas retorno financeiro. Eles querem fazer parte de algo maior, que tenha impacto positivo no mundo. E o agro brasileiro oferece isso em abundância, sendo um dos poucos países com capacidade de aumentar a produção de alimentos sem comprometer os recursos naturais, com uma previsão de aumento de 41% até 2050.

Ao contrário de outras carreiras que oferecem um impacto mais abstrato, a agricultura proporciona resultados concretos. Cada safra bem-sucedida, cada novo método sustentável adotado representa uma vitória direta na luta contra a fome e a desigualdade.

A sustentabilidade é outro elemento-chave que atrai jovens ao agro. Hoje, o setor opera em um modelo regenerativo, buscando não apenas minimizar danos ao meio ambiente, mas também restaurar ecossistemas.

Jovens produtores lideram transformações em suas comunidades ao gerar emprego, investir em infraestrutura local e apoiar programas educacionais. Com a introdução de novas tecnologias e a profissionalização do setor, eles estão criando oportunidades que transformam a qualidade de vida de milhares de pessoas.

A geração Z, que agora começa a ingressar no mercado de trabalho, valoriza

* Paulo Herrmann é CEO da Fiergs e da PH Advisory Group

#COLUNASPLANT

profundamente questões como impacto ambiental, inclusão social e inovação. Para esses jovens, o campo não é apenas um espaço de trabalho; é um espaço de reinvenção, onde é possível combinar ciência, tecnologia e propósito em prol de um mundo melhor.

RENDA E LUCRATIVIDADE

A estabilidade e o potencial de lucratividade do agro brasileiro são pilares que tornam o setor cada vez mais atrativo para as novas gerações. O agro moderno projeta uma imagem de prosperidade, inovação e crescimento contínuo. A capacidade do setor de oferecer renda competitiva, aliada a oportunidades de diversificação, tem sido um dos maiores incentivos para o rejuvenescimento do agro no Brasil, líder global em exportação de várias commodities, como soja, milho, carne bovina e café.

A lucratividade, no entanto, não vem apenas da produção de commodities. Práticas como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que já ocupam 18 milhões de hectares plantados, aumentam o uso eficiente da terra e proporcionam retorno financeiro em múltiplas frentes. O Brasil possui políticas que incentivam o produtor a modernizar suas operações, além de bancos e cooperativas que oferecem taxas competitivas e condições especiais para a compra de maquinários, tecnologias e insumos.

O agro brasileiro também se destaca como um dos setores preferidos para investidores externos. A modernização das propriedades, o uso de big data e o acesso a mercados globais criam um ambiente seguro e lucrativo para capital estrangeiro. Essa conexão com investidores globais aumenta a liquidez do setor e reforça sua atratividade para jovens que buscam não apenas estabilidade, mas também crescimento exponencial.

Além da renda financeira, o campo oferece algo que muitos setores urbanos não conseguem: crescimento pessoal e profissional. Ser um empreendedor rural no Brasil não é para amadores e exige habilidades de gestão, inovação e resiliência. Para muitos jovens, essa jornada se traduz em um senso de realização que vai além do dinheiro, transformando o agro em uma carreira com propósito e prosperidade.

SUCESSÃO FAMILIAR COMO ESTRATÉGIA

Antigamente, a sucessão familiar era um problema: filhos viam o campo como um lugar de poucas perspectivas. Hoje, é o oposto. Com capacitações específicas, famílias rurais têm profissionalizado suas propriedades, transformando fazendas em empresas. Essa profissionalização não apenas garante a continuidade, mas também aumenta a atratividade do setor para as gerações mais jovens.

Ao contrário do passado, quando muitos jovens abandonavam o campo por falta de perspectivas financeiras, hoje eles percebem que permanecer no setor pode proporcionar uma qualidade de vida superior à que teriam nos centros urbanos. Com margens de lucro mais elevadas e menor custo de vida, a renda agrícola permite que famílias invistam em educação, infraestrutura e qualidade de vida.

A sucessão familiar, antes vista como um desafio, agora se transforma em uma oportunidade. Jovens herdam não apenas terras, mas também negócios estruturados, muitas vezes com tecnologia de ponta e mercados consolidados, tornando o processo de continuidade mais atrativo e viável.

EDUCAÇÃO E CULTURA EMPREENDEDORA

As universidades brasileiras, como a

#COLUNASPLANT

Esalq, a Unesp e a UFV, entre outras, desempenham um papel crucial na formação de jovens profissionais. Essa educação técnica e universitária está moldando uma nova geração de líderes no setor agropecuário, preparados para enfrentar desafios globais.

No entanto, ainda há um descompasso entre as grades curriculares das instituições de ensino e a nova realidade e as necessidades do setor agropecuário. É preciso incluir disciplinas que abordem as novas demandas do mercado global. Isso resulta em uma lacuna na formação de profissionais plenamente capacitados para lidar com os desafios contemporâneos do agronegócio.

Para que o Brasil continue a ser um líder global no setor agropecuário, é essencial que as instituições de ensino adaptem suas grades curriculares, incorporando novas tecnologias, práticas sustentáveis e uma visão mais ampla do mercado global.

CIÊNCIA E INOVAÇÃO: O PAPEL

TRANSFORMADOR DA EMBRAPA

A Embrapa desenvolveu a agricultura tropical, crucial para transformar solos pobres e ácidos do Cerrado em uma potência agrícola. Atualmente, lidera a inovação no agro, desenvolvendo tecnologias para atender às demandas de uma agricultura moderna e sustentável.

Para os jovens, a Embrapa representa um símbolo de que ciência e pesquisa são essenciais para enfrentar os desafios do futuro. Entretanto, é fundamental que a Embrapa intensifique seus esforços para atrair e capacitar jovens talentos, mostrando que a ciência e a pesquisa no agro são caminhos promissores.

CONECTIVIDADE E INOVAÇÃO

A conectividade rural sempre foi um

gargalo, mas com soluções como a Starlink, regiões remotas do Brasil estão se integrando à economia digital. Isso facilita a adoção de tecnologias avançadas, conecta produtores a mercados globais e torna o campo um ambiente propício para o crescimento.

Essa tecnologia não apenas facilita a adoção de tecnologias avançadas, mas também conecta produtores a mercados globais, treinamentos online e comunidades de inovação. Para os jovens, a Starlink representa uma oportunidade de permanecer no campo, utilizando a internet para acessar informações, realizar cursos e até mesmo gerenciar suas propriedades de forma mais eficiente.

A conectividade proporcionada pelos satélites de baixa órbita é um divisor de águas para o agro, atraindo jovens que veem na conectividade uma ponte entre o campo e o mundo.

Nos últimos anos, o Brasil viu um crescimento exponencial de startups no setor agrícola. Agtechs lideradas por jovens empreendedores têm criado soluções inovadoras para desafios como rastreabilidade, manejo de recursos hídricos e redução de emissões de carbono. Essas startups não apenas modernizam o setor, mas também criam um ecossistema vibrante que inspira mais jovens a ingressarem no agro.

O rejuvenescimento do agro brasileiro é mais do que um fenômeno local; é uma estratégia vencedora para o futuro da agricultura global. Ao atrair jovens, o Brasil não apenas garante sua competitividade, mas redefine o papel do campo no século 21. A mensagem é clara: investir em juventude é investir no futuro. O Brasil já começou a trilhar esse caminho e está pronto para compartilhar suas lições com o mundo.

Nova era

A política protecionista de Trump gera incertezas no agronegócio brasileiro, exigindo novas estratégias comerciais e a diversificação de mercados para minimizar os impactos das tarifas

Fr

FRONTEIRA

As regiões produtoras do mundo

As regiões produtoras do mundo

UMA SAFRA DE INCERTEZAS

DECISÕES DO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS, DONALD TRUMP, QUE VÊM CAUSANDO INQUIETAÇÃO NO COMÉRCIO GLOBAL, IMPÕEM NOVOS DESAFIOS PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

As ruidosas decisões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão estremecendo suas relações comerciais internacionais e abriram uma porteira de incertezas no agronegócio brasileiro. O setor vive em compasso de espera para saber exatamente em que medida será afetado pelas canetadas de Trump. O temor faz sentido. Trump 2 – como está sendo chamado o segundo mandato do presidente – elevou o tom contra importantes parceiros comerciais do Brasil, como a China e os países do Brics.

Com o Brasil, os Estados Unidos mantêm uma balança comercial bastante equilibrada. No ano passado, o país importou US$ 40,5 bilhões e exportou US$ 40,3 bilhões, levando os especialistas a imaginarem que não faz sentido Trump criar caso com o Brasil. “Mas é preciso prestar atenção em certas particularidades na política protecionista de Trump”, afirma o engenheiro agrônomo e professor emérito da Fundação Getulio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de 2003 a 2006. “O Brasil é grande exportador de carne bovina para os Estados Unidos, o que causa insatisfação dos pecuaristas americanos. Não seria estranho se o presidente interferisse nessa questão para favorecer os produtores de seu país.”

No entender de Rodrigues, o envio de carne bovina é apenas um dos aspectos que podem respingar no Brasil devido à guerra comercial declarada por Trump a outros países. “Antes de mais nada, ele é um comerciante, que faz contas baseado em um espírito nacionalista e nada liberal. É o America first que domina suas ordens”, diz.

O republicano cumpriu a promessa de tarifar em 25% os produtos vindos de México e Canadá, e em 10% os da China. Embora tenha adiado a execução das ações com os países vizinhos em um mês, as relações entre eles ameaçam azedar em breve. “O México é o principal comprador de milho dos Estados Unidos, então, poderá haver escassez no fornecimento desse grão, abrindo boas perspectivas para o Brasil, que também tem condições de exportar mais leite e frutas para o Canadá”, acredita o ex-ministro.

Para evitar uma eventual “trumpdependência” no agronegócio, Rodrigues defende que o

governo brasileiro se desdobre no trabalho de consolidar acordos comerciais inéditos. “É um desafio árduo, mas que se transformaria em oportunidade única”, diz. E menciona as vantagens do solo e do clima do País, que ostenta 80 milhões de hectares plantados com grãos, 40 milhões de hectares de pastagens degradadas e um cinturão tropical privilegiado. “Até os anos 1980, a nossa agricultura era predominantemente costeira e tínhamos de importar 30% dos alimentos”, afirma Rodrigues. “Ao longo do tempo, o Brasil desenvolveu a melhor técnica tropical do mundo, especializando-se em agricultura de conservação, manejo de

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Para especialistas, o governo brasileiro deveria buscar acordos comerciais inéditos e evitar futuros danos ao agro do País

solos tropicais e tecnologias de irrigação. Com tamanho know-how, podemos ser protagonistas na agricultura mundial.”

Para assumir o protagonismo, porém, Rodrigues salienta que, além dos acordos comerciais, o Brasil precisa investir em dois pilares essenciais para o campo: ciência e tecnologia, e logística e infraestrutura. “Nos últimos três anos, o País assinou 400 pactos em nichos específicos”, diz. “Ou seja, aquela coisa de vender farinha para um, gergelim para outro. Nessa nova ordem econômica global que se avizinha com o Trump 2, devemos buscar parcerias robustas e abrangentes, com países

que tenham mercado potentes, como Índia e Japão e Oriente Médio.” Quando esteve à frente do Mapa, Rodrigues criou a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais, justamente para abrir caminho para novos acordos do agro. “O diálogo é cada vez mais necessário, pois Trump não esconde a intenção de subverter as regras comerciais e sufocar a Organização Mundial do Comércio (OMC), que supervisiona as negociações entre os países. Isso é ruim para o Brasil”, ressalta.

O coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, vai na mesma linha de Rodrigues. Para ele, o governo Trump 2 poderá gerar

um efeito de motivar o agronegócio brasileiro na diversificação de mercados. Outro direcionamento possível é o País partir para o fortalecimento de acordos comerciais sustentáveis bilaterais. “Nos dois casos, o agronegócio nacional conseguiria reduzir a dependência dos humores de Trump”, diz.

Jank acredita que o adiamento na aplicação do tarifaço sobre México e Canadá ajudou a baixar um pouco a fervura na guerra comercial, embora não tenha aliviado as tensões com o resto do mundo. “Todo dia Trump tira da cabeça uma bravata diferente, só que algumas coisas são blefes, ou seja, ele ameaça e não cumpre”, afirma Jank. “De toda forma, o novo cenário afetará o Brasil em maior ou menor intensidade.” Jank lembra que o primeiro mandato de Trump, de 2017 a 2021, também impôs restrições comerciais à China. Ela contra-atacou priorizando os produtos agrícolas do Brasil, que se tornou o maior exportador para os asiáticos. “Agora, o Trump 2 deverá causar mudanças significativas na geopolítica, incluindo o agronegócio brasileiro”, afirma. “A postura protecionista e a promessa de tarifas elevadas sobre importações criaram incertezas e exigirão ajustes nas estratégias de exportação de produtos agropecuários.”

Para o especialista do Insper, um armistício entre Estados Unidos e China seria o melhor dos mundos para estabelecer a calmaria global. “Uma trégua total seria um processo lento e, paradoxalmente, poderia resultar em uma configuração ruim para o Brasil, porque sinalizaria uma abertura maior de produtos americanos do agronegócio para a China”, diz. “No fim das contas, prevalece a lei da selva, a lei do mais forte.”

É difícil imaginar, no entanto, a flexibilidade de Trump com os chineses,

O Brasil é grande exportador de carne bovina para os Estados Unidos, o que causa insatisfação dos pecuaristas americanos

O governo de Donald Trump poderá gerar um efeito de motivar o agronegócio brasileiro na diversificação de mercados

uma vez que a tendência é de o presidente beneficiar os chamados “amigos ideológicos”. O tabuleiro do jogo comercial certamente ganhará novos movimentos depois do anúncio das tarifas discriminatórias, que, segundo Jank, ferem as regras internacionais. Em sua análise, até mesmo a aproximação do presidente da Argentina, Javier Milei, ao governo Trump representa riscos ao agro brasileiro. “Ele pode ganhar privilégios e se tornar um concorrente de peso na exportação de grãos, frutas e carne”, afirma. Jank acrescenta: “A concorrência internacional de países que mantêm acordos comerciais mais amistosos com os Estados Unidos é uma ameaça que o

Até que o cenário fique mais claro, o Brasil vai encarar alguns desafios, como tarifas elevadas sobre importações suficientes para reduzir a competitividade dos produtos agropecuários brasileiros no mercado dos Estados Unidos. “Além disso, a política comercial ensaiada por Trump, que vem causando uma inquietação econômica mundial, compromete a confiança dos investidores e a demanda por produtos agropecuários locais”, conclui o coordenador do Insper. Estados Unidos

Brasil deve responder com investimentos em tecnologia e inovação, a fim de melhorar a eficiência e a produtividade de itens como milho, carne e algodão”.

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O fascínio pelo oeste Exibida nos canais de streaming , a série Yellowstone conquista o público ao explorar o estilo de vida dos cowboys americanos

A ARTE

rUm campo para o melhor da cultura

ARTE

Um campo para o melhor da cultura

Densa, violenta e complexa, a trama estrelada pelo ator Kevin Costner explora os conflitos gerados pela disputa de terras

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FAROESTE MODERNO

Ao retratar o estilo de vida dos cowboys que trabalham em um rancho em Montana, a série Yellowstone se tornou não apenas um sucesso de audiência, mas também um fenômeno cultural

Osucesso de Yellowstone não veio de imediato. A série estreou nos Estados Unidos em 2016, mas a primeira temporada recebeu críticas de especialistas e do público. Alguns comentaristas disseram que ela era “melodramática” demais. Isso mudou à medida que mais episódios foram sendo lançados e outras temporadas chegaram à televisão e aos serviços de streaming. A segunda temporada recebeu elogios e a audiência se tornou crescente. Pelo menos 7,6 milhões de espectadores viram a terceira temporada e agora, com a quinta recém-lançada, eles já somam 12,1 milhões. Duas prequelas (histórias anteriores ao drama de Yellowstone) já foram produzidas, 1883 e 1993. E um spin-off (uma produção derivada da história principal), The Madison, deve chegar à TV em breve. Mais do que um sucesso televisivo, o seriado é um fenômeno cultural que impulsionou a cultura western e o estilo de vida rural, conquistando fãs não apenas nos Estados Unidos, mas em vários outros mercados, incluindo o Brasil.

A série acompanha John Dutton (Kevin Costner), patriarca da família Dutton, dona do maior rancho de Montana e do mais numeroso rebanho de gado da região. Densa, complexa e violenta, a trama explora os conflitos ao longo das fronteiras compartilhadas entre o Rancho Dutton, a Reserva Indígena de Broken Rock, o Parque Nacional de Yellowstone e os incorporadores imobiliários determinados a adquirir parte das terras dos Dutton. Paralelamente, há o drama familiar envolvendo os três filhos de John:

Além do sucesso de crítica, Yellowstone transformou o estilo de vida dos cowboys americanos em algo aspiracional, com reflexos na moda, no turismo e na cultura

Jamie (Wes Bentley), Beth (Kelly Reilly) e Kayce (Luke Grimes). Classificada como um neo-western pelos críticos, Yellowstone está ambientada nas deslumbrantes paisagens de Montana e Wyoming, combinando tiroteios, intrigas políticas, romances e momentos de humor.

Yellowstone foi criada por Taylor Sheridan, ator e roteirista americano responsável por outros sucessos como o filme Sicario , sobre a guerra ao tráfico de drogas na fronteira entre os Estados Unidos e o México, e A Qualquer Custo , que lhe rendeu uma indicação ao Oscar em 2016 na categoria Melhor Roteiro Original. Para o Paramount+, serviço de streaming do estúdio Paramount, onde Yellowstone é exibida, Sheridan desenvolveu outros dramas, como Tulsa King, série de mafiosos estrelada por Sylvester Stallone, e Landman, com Billy Bob Thornton, que retrata

os bastidores dos campos de petróleo no Texas. Sheridan começou a escrever Yellowstone em 2013, quando decidiu deixar a carreira de ator para se dedicar à escrita de roteiros. A trama foi inspirada em suas próprias vivências nas áreas rurais do Texas e de Wyoming. Inicialmente, tentou vender a série para a HBO, mas a proposta foi recusada. Foi então que a Paramount adquiriu os direitos e, com isso, fez uma aposta que se revelou bem-sucedida.

Para além do sucesso de público e de crítica, especialmente nas temporadas mais recentes, que mergulham na trama política e abordam temas como sucessão, justiça e laços familiares, Yellowstone transformou o estilo de vida dos cowboys americanos em algo aspiracional. O contato com a natureza, a lida na fazenda, as cavalgadas no campo, o cuidado com os animais, as bebedeiras nos bares das redondezas – ele

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trouxe o pacote completo. O carisma dos personagens ajuda, obviamente. Costner está excelente como o poderoso dono do rancho Yellowstone, mas todo o elenco de apoio faz um bom trabalho em cativar a audiência. No Brasil, a série já foi chamada de “novelão” e “Rei do Gado americano”. Nos Estados Unidos, foi considerada uma espécie de “Succession rural”, em referência à série da HBO sobre a briga de herdeiros por um império das comunicações. Yellowstone é tudo isso, mas é também a tradução audiovisual de um momento em que a vida no campo e o estilo country estão em alta.

A música tem parte importante nesse fenômeno. O country americano ganhou o mainstream como há muito não fazia, e conquistou também o público de fora dos Estados Unidos. Beyoncé gravou um álbum country. O

cantor pop Post Malone também, reunindo alguns dos principais nomes do gênero, trouxe o show de sua turnê country ao Brasil, no final de 2024. Até Ringo Starr, baterista dos Beatles, se rendeu às canções de cowboys. A audição do gênero cresceu 20% globalmente, de acordo com dados de plataformas de streaming como o Spotify, e 57% nos Estados Unidos. O público mais jovem, da geração Z, também está mais interessado nesses artistas.

Além da música, há um interesse enorme na moda country. Camisas xadrez ou com corte “western” de marcas como Levi’s, calças jeans de corte mais largo, criadas para acomodar as botas country (ou texanas, como são chamadas por aqui), de cano mais alto e feitas com couros exóticos, e as próprias botas estão em alta. Até quem nunca pisou em uma fazenda está

A série inspirou o lançamento de uma edição limitada da caminhonete Ram 3500, que tem detalhes exclusivos no couro dos bancos e uma placa comemorativa nas laterais

interessado em ter um par delas.

Os responsáveis pela série souberam explorar o fascínio por Yellowstone com uma agressiva estratégia de licenciamento. Há todo um universo de produtos feitos com a marca da série, de camisetas e bonés a artigos para churrasco, móveis, livros de receita do rancho Dutton e até uma linha de botas assinada pela figurinista oficial, Johnetta Boone, em parceria com a tradicional fabricante Ariat. Há até uma edição limitada da caminhonete Ram 3500 – o mesmo modelo usado por John Dutton –, que tem detalhes exclusivos no couro dos bancos e uma plaqueta comemorativa nas laterais. “Não há outras franquias adultas modernas que possam dizer que inspiraram uma marca de estilo de vida”, disse Lourdes Arocho, vice-presidente sênior da divisão de Produtos de Consumo

e Experiências da Paramount, ao portal License Global. “Estamos ansiosos para colaborar com nossos parceiros de licenciamento à medida que a marca Yellowstone cresce.”

A febre por Yellowstone fez com que os estados americanos de Montana e Wyoming estivessem entre os principais destinos dos turistas, especialmente os mais jovens, de acordo com a pesquisa de tendências Unpack ‘25, realizada pela plataforma de viagensExpedia. Essa febre se espalha também por outras cidades dos Estados Unidos e até do Canadá, que tentam capitalizar o interesse pelos cowboys. O Calgary Stampede, que leva o nome da província canadense onde é realizado, é um dos maiores rodeios do mundo. Em 2024, atraiu 1,5 milhão de pessoas durante dez dias, um recorde absoluto. Para efeito de comparação, a Festa do Peão de

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No Brasil, assinantes do Paramount+ já têm acesso a todos os episódios, mas quem assina outros serviços, como a Netflix, está assistindo agora à quarta temporada

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Barretos de 2024 atraiu 900 mil pessoas. “Chamamos de Efeito Yellowstone”, afirmou o responsável pelo evento, Joel Cowley, em entrevista ao jornal americano The New York Times. “Há um romantismo sobre o Oeste e o cowboy que vem e vai. Mas acho que nunca vi esse fascínio tão intenso quanto agora.” Yellowstone também é um sucesso no Brasil. Além da popularidade da trama e da facilidade de assistir aos episódios em serviços de streaming disponíveis no País, como a Netflix, ela trata de temas caros ao público do agro brasileiro. Em um momento de valorização do trabalho feito no campo e da cultura rural, e da explosão de uma nova geração de músicos sertanejos, é natural que o estilo country também dialogue com o público daqui. Há

páginas brasileiras nas redes sociais dedicadas a comentar episódios e elementos do seriado, bem como produtos licenciados vendidos por aqui, inclusive em grandes redes de fast fashion como a Riachuelo.

Nos Estados Unidos, a série acabou oficialmente. O último episódio foi exibido no final de dezembro do ano passado. No Brasil, assinantes do Paramount+ já têm acesso a todos os episódios, mas quem assina outros serviços, como a Netflix, está assistindo agora à quarta temporada. O criador, Taylor Sheridan, já disse que a quinta é a última e que não vai prolongar a história. Segundo ele, a trama já havia sido desenvolvida nesse formato. No entanto, a vasta quantidade de spin-offs e continuações promete manter o fenômeno vivo por muito tempo.

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Sabor caseiro

A gastronomia peruana ganha protagonismo mundial ao valorizar ingredientes nativos

WWORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

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As regiões produtoras do mundo

SOTAQUE LATINO

Com restaurantes no topo das principais listas internacionais, o Peru se posiciona na vanguarda da gastronomia mundial ao valorizar ingredientes e técnicas ancestrais

Pelos esforços em fazer do ato de cozinhar uma arte, os franceses ocupam, com razão, posição de destaque no universo da gastronomia. Suas técnicas servem de base para qualquer um que se aventure nos fogões, e quem se diz “chef” precisa conhecer um vasto acervo de receitas que vêm de lá. Mas, há algum tempo, as novidades francesas deixaram de chamar a atenção dos críticos internacionais. Os ventos da boa comida sopraram em direção à Espanha – primeiro com Ferran Adrià e seu El Bulli, que dominou os rankings de melhores restaurantes no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, depois com outras casas fundamentais, como El Celler de Can Roca. Mais tarde, foi a vez do norte da Europa, com o dinamarquês Noma, do chef René Redzepi, ou o Eleven Madison Park, do suíço Daniel Humm, em Nova York, nos Estados Unidos. Agora, é o Peru que tomou de assalto o cenário gastronômico, mostrando a criatividade e a riqueza culinária do sul global. O que chama a atenção na atual cozinha peruana é a originalidade e a valorização dos ingredientes e técnicas locais. No lugar de simplesmente desenvolver variações de clássicos da cozinha francesa, há uma pesquisa genuína que mergulha na rica história e em tudo que a natureza é capaz de oferecer. A biodiversidade peruana tem um papel fundamental nesse movimento. Embora seja apenas o 19º maior país do mundo, é um dos 17 considerados “megadiversos”, por possuir uma das maiores variedades climáticas e geográficas do planeta. São 39 ecossistemas únicos, incluindo 12 na Amazônia, 12 nos Andes, 4 no Yunga (floresta tropical e subtropical úmida que se estende pelo leste do Peru e pelo centro da Bolívia), 9 na zona costeira e 2 na vida marinha.

O Peru também abriga 2 mil espécies de peixes, 1.736 espécies de aves, 32 espécies de anfíbios, 460 espécies de mamíferos e 365 espécies de répteis. Cerca de 10% de

Prato do restaurante Kjolle, eleito o quarto melhor da América Latina e o 15º do mundo
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A premiada chef Pía León e algumas de suas celebradas criações: “Hoje, não se fala apenas da gastronomia do Peru ou do Brasil, mas de toda a América Latina”

todas as variedades de flora do planeta estão lá. Esses números ajudam a mostrar a enorme diversidade à disposição dos cozinheiros.

Quem está à frente do despertar gastronômico peruano é o casal de chefs Virgilio Martínez e Pía León, que, juntos, comandam alguns dos principais restaurantes do país. O principal deles é o Central, eleito em 2023 o melhor do mundo pelo World’s 50 Best, um dos principais prêmios gastronômicos. Uma vez escolhido para o topo do ranking, o estabelecimento torna-se “hors concours”, ou seja, fora da competição. Estreou no ranking latino-americano do 50 Best em 2013 já na quarta posição, e ficou três anos no topo, entre 2021 e 2023. No mesmo espaço ocupado pelo Central fica o Kjolle, restaurante solo de Pía León, eleito o quarto melhor da América Latina e o 15º do mundo. O casal ainda comanda outros projetos gastronômicos.

O menu do Central é focado em traduzir a biodiversidade peruana. Martínez e León servem variações de alimentos básicos locais, como milho e batata, bem como ingredientes mais obscuros. O Kjolle também é dedicado a mostrar a diversidade peruana, mas sem se limitar às altitudes. O casal cuida ainda de outros dois restaurantes: Mil, em Cusco, dedicado a apresentar aos comensais a variedade gastronômica dos Andes, e o MAZ, localizado em Tóquio, no Japão, que é influenciado por todos os elementos do Peru, mas traduzido para a realidade dos ingredientes japoneses.

O centro do trabalho dos dois é o Mater, instituto multidisciplinar de pesquisa, hoje comandado por Malena Martínez, irmã de Virgilio. Ela trabalha com um grupo de botânicos, médicos, nutricionistas e outros profissionais, estudando produtos, técnicas e saberes tradicionais. Pía León explica como funciona. “Não

precisa começar apenas com um produto, mas com alguma técnica ancestral de tecido, por exemplo, produzido a partir da lã da alpaca, ou com uma forma de preservação”, diz. “A partir dessa informação, a equipe do Mater se debruça sobre ela e usa sua imaginação. Aquele tecido pode ser usado no restaurante ou seguir por caminho inverso.” Que caminho seria esse?

“Posso chegar para Malena e dizer que preciso de um produto assim, para ser usado de tal maneira, e ela vai investigar”, acrescenta Pía. “São opções que te fazem abrir os olhos. Porque muitas vezes ficamos concentrados na cozinha enquanto tanta coisa acontece fora.” Assim, surgem pratos, mas também elementos visuais e táteis que ajudam a compor a experiência oferecida por León e Martínez.

Os dois também viajam pelo mundo, cozinhando ao lado de outros chefs e mostrando a diversidade peruana para um público variado. “Como peruanos, temos essa função de ensinar o que existe e o que acontece em nosso país, comunicando tudo o que fazemos”, afirma Pía León. “Não apenas no restaurante, mas nos Andes, na costa, na Amazônia. É evidente que, para isso, precisamos sair e mostrar, já que nem todos vêm ao Peru.” Ela esteve no Brasil no final de 2024 para apresentar uma seleção de pratos do Kjolle. Foi recebida pelo chef Nello Cassesse no restaurante Cipriani, localizado dentro do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. O menu foi pensado para jogar luz especialmente sobre o papel do Mater nessa pesquisa. “Assim, podemos mostrar não somente produtos, mas o que a gastronomia significa para nós hoje: arte, cultura, histórias, técnicas e pessoas”, diz a chef.

Virgilio Martínez e Pía León não são os únicos a colocar a gastronomia peruana nos

Tirar os holofotes da culinária da Europa e dos Estados Unidos não é tarefa fácil, mas o sucesso peruano mostra que isso é possível

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holofotes mundiais. Alguns vieram antes, como o chef Gastón Acurio, que comanda o Astrid y Gastón ao lado da mulher, a chef confeiteira de origem alemã Astrid Gutsche. Os responsáveis pelo World’s 50 Best Restaurants definem bem a contribuição de ambos para o país: “Ao abrir em 1994, o Astrid y Gastón criou um novo cânone na gastronomia peruana, popularizando, modernizando e internacionalizando a comida do país de uma maneira que, desde então, tem sido apreciada por um público global”. Entre seus pratos mais conhecidos estão o bao (um tipo de pão cozido no vapor), polvo grelhado com salada e nhoque de lúcuma (um fruto andino).

O escritor peruano Mario Vargas Llosa celebrou os feitos do chef em um artigo: “Ninguém fez tanto quanto Gastón para que o mundo descubra que o Peru, um país com tantas carências e limitações, desfruta de uma das cozinhas mais variadas, inventivas e refinadas do mundo, que pode competir sem complexos com as mais famosas, como a chinesa e a francesa”, escreveu ele. Acurio

recebeu um prêmio pelo conjunto da obra em 2018. Também ajudou a formar vários outros profissionais, incluindo Virgilio Martínez, e levou a comida peruana para outros países. Sua cevicheria La Mar teve filiais no Brasil.

Além dele, há outros restaurantes peruanos reconhecidos internacionalmente. O atual ranking World’s 50 Best traz três casas de Lima – Maido, Kjolle e Mayta. Na lista dedicada à América Latina, a quantidade aumenta ainda mais: Mérito, Rafael, Cosme, La Mar, todos em La Paz, e o Mil, do casal Martínez e León, em Cusco, estão entre os 50 melhores. O sucesso do Peru faz com que toda a América Latina seja reconhecida. O mundo olha para o sul global e se surpreende com a qualidade e a diversidade encontradas por aqui. Tirar os holofotes da Europa e dos Estados Unidos não é tarefa fácil, mas mostra que é possível, graças a um trabalho sério e que valoriza as próprias raízes. “Finalmente, hoje não se fala apenas do Peru ou do Brasil, mas de toda a América Latina. E esse é o verdadeiro movimento”, conclui Pía León.

Decolagem autorizada

Uso de drones na seleção de milho resistente à seca acelera pesquisas, reduz custos e impulsiona a inovação no campo

SSTARTAGRO

As inovações para o futuro da produção

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As inovações para o futuro da produção

DRONES CONTRA A SECA

Tecnologia aérea traz velocidade e precisão para identificar variedades de milho capazes de enfrentar os desafios climáticos

Por Evanildo da Silveira

O método combina imagens aéreas com índices vegetativos e pode revolucionar programas de melhoramento genético

As mudanças climáticas têm intensificado a ocorrência de secas, desafiando a agricultura e aumentando a necessidade de plantas mais resilientes. Tradicionalmente, o processo de seleção de variedades resistentes às adversidades do clima é lento e caro, o que exige avaliações manuais ao longo de todo o ciclo da cultura. Em busca de alternativas mais acessíveis, pesquisadores brasileiros passaram a utilizar drones equipados com câmeras para acelerar a identificação de variedades de milho tolerantes à seca, promovendo notáveis avanços no campo da agricultura digital.

O método inovador, que combina imagens aéreas com índices vegetativos calculados por softwares livres, tem potencial para transformar programas de melhoramento genético, tornando-os mais rápidos, acessíveis e precisos. A pesquisa foi conduzida pelo Centro de Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC), uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com apoio da

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Segundo Juliana Yassitepe, pesquisadora da Embrapa Agricultura Digital, os métodos tradicionais de seleção de plantas exigem equipamentos caros e avaliações demoradas, o que inviabiliza o processo em larga escala.

“Nosso experimento testou a hipótese de que é possível selecionar plantas tolerantes à seca usando índices vegetativos calculados a partir de imagens aéreas capturadas por drones”, diz.

Durante o experimento, drones realizaram voos semanais, capturando imagens com câmeras RGB, acessíveis e de baixo custo, e câmeras multiespectrais, capazes de registrar espectros não visíveis, como o infravermelho. Cada voo, de apenas dez minutos, gerou cerca de 290 imagens, que foram analisadas para determinar os índices vegetativos das plantas, indicadores-chave da tolerância à seca.

Helcio Duarte Pereira, pesquisador do GCCRC e autor principal do estudo, destaca que os drones são apenas uma ferramenta para a

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obtenção de dados. “Sabemos de antemão qual variedade está plantada em cada parcela do experimento”, diz. “As informações trazidas pelas câmeras são usadas para calcular diferentes índices vegetativos, considerando modelos estatísticos para prever o desempenho das variedades.” Os modelos são treinados com dados iniciais de desempenho e índices vegetativos, permitindo predições futuras sobre novas variedades. Sem essa etapa de calibração, diz o pesquisador, não seria possível medir a tolerância ou suscetibilidade das plantas.

Entre abril e setembro de 2023, 21 variedades de milho foram testadas no campo experimental da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, sendo 18 geneticamente modificadas para tolerância à seca e 3 usadas como controle. As plantas foram submetidas a condições controladas, com grupos recebendo irrigação constante ou restrita. Os resultados mostraram que os índices vegetativos calculados a partir das imagens foram eficazes na identificação de plantas com melhor desempenho sob estresse hídrico.

Um destaque importante foi o bom desempenho das câmeras RGB, significativamente mais baratas, o que torna a tecnologia acessível para uso em larga escala. A metodologia também pode ser aplicada a outras culturas, desde que os modelos de predição sejam ajustados conforme as especificidades de cada uma.

Embora o método não seja aplicado diretamente na produção agrícola, ele representa um avanço significativo no desenvolvimento de novas variedades de milho resistentes à seca. “Nosso foco é o melhoramento genético, mas a tecnologia pode futuramente ser usada para manejo de irrigação, adubação e controle de doenças em campos de produção”, destaca Yassitepe. Com o aumento da imprevisibilidade climática, a adoção dessa tecnologia poderá beneficiar a agricultura nacional, tornando-a mais eficiente e resiliente. A pesquisa, fruto da colaboração entre a Embrapa e a Unicamp, abre caminho para uma integração cada vez maior entre tecnologia de ponta e as necessidades do campo.

DATAGRO Markets

BIOCOMBUSTÍVEIS: SOLUÇÃO PARA A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Os biocombustíveis como soluções estratégicas nos campos da energia, economia e meio ambiente são indiscutíveis. Sua produção promove desenvolvimento econômico descentralizado, e a geração de renda por hectare é superior à simples produção de grãos, e muito maior do que a da pecuária extensiva. Por esse motivo, o desenvolvimento da produção de etanol em polos no interior de São Paulo, na década de 1980 e 1990, e posteriormente no interior de Goiás, Triângulo Mineiro e Sul de Mato Grosso do Sul trouxe um grande crescimento do comércio e de pequenas indústrias em todas essas regiões.

A adoção do biodiesel viabilizou o crescimento do esmagamento da soja, o que viabilizou a disseminação do uso de farelo.

A industrialização do milho para etanol no Mato Grosso, Goiás, e mais recentemente no Mato Grosso do Sul, Bahia, Maranhão, Tocantins e Piauí tem multiplicado o valor do grão, estimulando a

produção adicional do alimento, gerando coprodutos como o óleo e o farelo de milho, que têm intensificado a pecuária, liberando pastagens para sua incorporação à lavoura.

Entre 1990 e 2024, a área total de pastagens no Brasil recuou de 192 para 162 milhões de hectares, enquanto a produtividade da pecuária cresceu de 1,5 para 4,5 arrobas por hectare por ano.

A integração virtuosa de cadeias produtivas é a característica mais marcante do agronegócio brasileiro através da complementaridade entre a agricultura energética e de produção de alimentos, a primeira impulsionando, capitalizando e valorizando a segunda.

Através desse processo o Brasil tem se consolidado como crescente exportador de proteína animal em condições altamente competitivas em comparação a outros países produtores e exportadores como Austrália e Argentina, e tem penetrado em mercados que se consolidam como

destinos importantes como China e Estados Unidos.

O Brasil criou regulações modernas que estimulam o contínuo desenvolvimento e a aplicação de inovações através da certificação voluntária e individual de produtores, pela qual cada produtor tem identificada a intensidade de carbono do seu biocombustível. Esse é um diferencial fundamental para investidores interessados em utilizá-los como matéria-prima para a produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF), ou utilizá-los para substituição de bunker-fuel no transporte marítimo.

O etanol de cana de primeira geração produzido no Brasil já é há muito tempo considerado “avançado” pela regulação federal norte-americana. O etanol de milho produzido no País utilizando biomassa, ao invés de combustíveis fósseis, é muito mais sustentável do que aquele produzido nos Estados Unidos. O etanol de segunda geração tem um futuro

Por Plinio Nastari

promissor ao receber um valioso prêmio em mercados regulados. No caso do etanol, é preciso reconhecer e valorizar o “bônus de octanagem” e em todos os biocombustíveis é preciso reconhecer o “bônus de carbono” que gera para as empresas que os adotam.

O fato de o etanol ser um excelente carregador de hidrogênio coloca-o na vanguarda como opção para a geração de hidrogênio verde próximo ao seu uso final, pois permite que seu transporte, armazenagem e distribuição sejam realizados de forma prática, econômica e segura, sem riscos de operação e próximo ao seu uso final.

O biodiesel produzido principalmente a partir de óleo de soja e de sebo animal é também extremamente sustentável.

O óleo impulsiona a produção de alimentos baratos ao viabilizar o esmagamento de soja, que gera farelo e é convertido em carne, bovina, suína e aves. O aproveitamento do sebo dá destinação a um resíduo que antes representava um grave problema ambiental.

O biometano representa a geração distribuída de gás, com um enorme potencial na indústria cerâmica e de vidros, onde a energia representa cerca de 40% do custo total. O biometano, ou biogás purificado, é gerado com

resíduos e lixo urbano, transformando problemas em soluções energéticas e ambientais.

Mas, apesar de todos os seus inquestionáveis atributos, os biocombustíveis produzidos no Brasil e em outras poucas geografias sofrem uma campanha desleal e insidiosa, que frequentemente usa informações distorcidas para criar obstáculos à sua adoção. Esses obstáculos são levantados na maior parte das vezes por organizações não governamentais que levantam questões como a autorização de moléculas de agroquímicos usados na proteção de cultivo proibidos em outros mercados, sem levar em conta que nesses mercados as condições de clima e cultivo são completamente diversas. Ou informações falsas ou incompletas sobre o uso de fertilizantes na produção de matérias-primas para a produção de biocombustíveis, enquanto há uma ampla gama de dados públicos certificados de forma independente e auditada sobre a emissão de carbono segundo critérios de avaliação de ciclo de vida.

Os biocombustíveis produzidos de forma sustentável, certificados individualmente por produtor, representam um diferencial extraordinário e um grande exemplo a ser seguido por outros países,

como já vem ocorrendo na Índia, e começa a se disseminar no Paquistão, na Indonésia e mais recentemente na China. Sem fazer muito alarde, o mesmo tem ocorrido nos EUA, na França, Bélgica, Bulgária e no Reino Unido.

Através dos biocombustíveis, em verdade todos os países em que a atividade se desenvolve estão produzindo combustíveis limpos de alta densidade energética e baixa pegada de carbono, utilizando infraestrutura de distribuição já existente, com enorme vantagem econômica e estratégica. É preciso desmitificar e corrigir as inverdades, reconhecendo os atributos dos biocombustíveis sustentáveis. Somente dessa maneira será agregado valor. Legislações avançadas, como a Lei Combustível do Futuro e o Programa de Aceleração da Transição Energética, que tiveram o deputado federal Arnaldo Jardim como maior protagonista, respectivamente como relator e autor, representam modelos a serem seguidos em muitos países. Com os biocombustíveis produzidos de forma sustentável, o futuro da energia limpa gerada e distribuída de forma econômica e segura, e que impulsiona a produção de alimentos, já chegou.

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