Rev caminhar - ilha do Fogo

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Caminhar NG’S

PLATAFORMA DAS ONG’S

Revista da Plataforma das ONG’s de Cabo Verde • Julho de 2010 • Distribuição Gratuita

O dilema do associativismo no Fogo

Organizações comunitárias ou “agências de emprego” locais?

Paulo Abreu

A AMIFogo beneficia toda a ilha


Sumário Editorial ...............................................

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OAF As associações estão a desvirtuar-se do seu mandato . 4 SOLDIFOGO Em busca de mais recursos .................................. 6 Água para Viver Formação profissional é prioridade . ....................... 7 CRP-Fogo Marcas visíveis em todos os concelhos.................... 8 e 9 COSPE investe na marca de qualidade................... 10

Estrela do Milénio precisa de parceiros e parcerias...... 24 Cabeça Fundão ADCCF goza de boa saúde................................ 25 Chã das Caldeiras Um projecto que orgulha Cabo Verde...............26 e 27 OAZA em busca da sustentabilidade dos membros... 28

Associação de Monte Vermelho Diálogo e concertação são fundamentais.................. 29 ADELTIN atenta às necessidades de Tinteira............ 29 Dacabalaio/Roçadas Reabilitação de casas tem sido prioridade................. 30

AHCSFSC Água para agricultura é cara ................................ 11

Bornefonden apoia AGR.................................... 31

São Filipe

MOSTEIROS

ABC Patim Uma Associação que abraça toda a comunidade........ 12

Presidente da AJCAAPR garante: Vida na comunidade de Relva mudou..................... 32

LuzAbril Entre infra-estruturas sociais e agrícolas.................... 13

Murro FM Uma Associação jovem com obras de peso.............. 33

Tempos difíceis para a Associação de Curral Grande... 14

Atalaia Melhoria das condições de vida é palavra de ordem... 34

AUDA à espera de financiamento......................... 15 Hovo Horizonte quase parada................... 15 Uma coqueluche chamada UNSOCOR.................. 16 Sem Fronteiras aposta no desporto para jovens.......... 17 AGRO VERDE Melhor vida, mais formação e capacitação................ 18

Gira Lua Um “recanto de tranquilidade” em Pai António......... 35 Cutelo Alto Uma localidade com marcas da Associação local ....... 36 AMI Quinze anos no Fogo..................................... 37 a 39

Centro de Formação Profissional de Ponta Verde Um cartão de visita da ilha.................................. 19 Dias ensombrados para a Associação de Miguel Gonçalves. 20 Nova Era precisa de apoios............................ 20 NHUCO constrói nova vida............................... 21

SANTA CATARINA Antena da Plataforma em Santa Catarina defende: Associação não é empresa....................................... 22 Avançar Para a Frente soma e segue............................ 23

Ficha Técnica

• Propriedade: Plataforma das ONG – Achada São Filipe • C.P.: 76 - C – Praia - Santiago • Telefone: 2617843 • Fax: 2617845 • Email: platongs_05@yahoo.com.br • Site: www.platongs.org.cv • Delegação de São Vicente – Centro Social do Madeiralzinho C.• Tel.: 2313245 • Fax: 2326522 - Mindelo - São Vicente • Design Gráfico: Bernardo Gomes Lopes • Impressão: Tipografia Santos


o r t i a i l d E

Editorial Em 35 anos de vida independente, o associativismo é um dos sectores em que Cabo Verde registou ganhos importantes, sobretudo na última década. A criação e a gestão de ONG e associações têm resultado numa prática social de grande alcance na medida em que têm liderado, sobretudo, a nível local, um processo de melhoria das condições de vida das populações em todos os cantos do país. Na ilha do Fogo, o grande contributo dos actores não governamentais tem sido visível nas mais variadas áreas, destacando-se a conservação dos solos, a infra-estruturação local, a habitação social e as actividades geradoras de rendimento. Todavia, a organização social de carácter voluntário e sem fins lucrativos que as associações comunitárias de base representam estão perdendo, a pouco e pouco, a sua filosofia. Contrariamente ao que rezam os seus estatutos, a grande maioria tem priorizado o emprego público funcionando quase exclusivamente como sub-empreiteiros de obras que executam ao abrigo dos contratos-programa com as câmaras municipais ou com o financiamento dos seus parceiros: a Comissão Regional de Parceiros, CRP, e o Ministério da Agricultura, através de vários projectos, entre outros financiadores. A agravar essa situação estão os associados que só querem “saber” da associação quando há emprego à vista e pouco se dedicam à participação na vida activa da organização. Contudo, essa situação, que perdura há já alguns anos em todas as ilhas e principalmente no meio rural, não impede que os excedentes que recebem das obras que executam sejam utilizados em prol da comunidade e das pessoas realmente necessitadas.

A favor de algumas (poucas) associações deve-se confirmar o engajamento no reforço da autonomia da organização, na capacitação dos seus membros e na busca de sustentabilidade para as suas acções.

O objectivo é contribuir para dar corpo à vida e às actividades da associação em si com a realização de um leque variado de actividades alargadas à comunidade e que possam contar com a participação de todos em domínios essenciais como a acção social, a educação, a formação, a cultura, o desporto, etc.

O contributo que se quer do associativismo, em todos os cantos do país, é que as organizações comunitárias tenham uma dimensão mais rica porque representam a melhor forma de se viver em comunidade e de promover a solidariedade, a partilha e a entre-ajuda, mediante o envolvimento de cada um(a) de forma voluntária, vivenciada e participativa.


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Para o presidente da OAF:

As associações estão a desvirtuar-se do seu mandato A tese é de Carlos Silva, presidente da OAF, Organização das Associações do Fogo, criada em 1999, mas que está a viver dias difíceis, uma vez que os apoios e financiamentos têm vindo a diminuir, nos últimos anos, e a grande maioria das associações se transformaram numa espécie de “agências de emprego” a nível local, resultando num grande défice de participação dos membros na vida das organizações comunitárias.

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ual é a situação actual da OAF? Para a sua criação em 1999, a OAF contou com o apoio do Ministério da Agricultura, no quadro dos Programas PL – 480, da ONG norte-americana ACDI-VOCA, e do Projecto RAF. Na altura, foram 12 as associações fundadoras e, hoje, possui 42 membros entre associações comunitárias (AC) e de agricultores. Isso significa que a OAF atingiu, em parte, o objectivo para que foi criado, restandolhe assegurar a sustentabilidade da organização e das suas acções. Enquanto isso, quais foram os ganhos, nos últimos 11 anos? As associações-membro têm conseguido, através da OAF, formações em vários domínios, sobretudo nos ligados à conservação de solos e água e transformação de fruta e capacitação em liderança, contabilidade e gestão, entre outros. Com a saída da ACDI-VOCA, com que parceiros conta a OAF? Ultimamente, com um financiamento que não ultrapassam os sete mil contos, passamos a financiar pequenos projectos a associações. A OAF beneficia de 3% para garantir o seu funcionamento e assistência técnica às associações-membro. Esta é uma situação que não desejaríamos, mas já a encontramos quando assumimos a OAF, uma vez que a gestão não era a mais organizada e registavam-se falhas no cumprimento dos princípios fundamentais, havendo alguns membros dos órgãos sociais que não assumiam as suas responsabilidades para com a organização. Por outro lado, não se investiu na sustentabilidade da OAF, que, pelo dinheiro entrado ao longo de anos, já poderia ter o seu próprio espaço. O grande objectivo, neste momento, é conseguir uma sede própria, porque o pagamento de renda tem constituído um problema sério para a nossa direcção. Caminhar • Julho 2010

Actualmente, os grandes financiamentos por parte dos parceiros externos para a sociedade civl organizada estão centralizadas sobretudo nas ilhas de Santiago e de Santo Antão. Por isso, a OAF está a trabalhar na mobilização de novos parceiros. Neste momento, já temos contactos com as Nações Unidas, a União Europeia e outras cooperações no sentido de se aproximarem do Fogo, e um primeiro passo é conhecer a própria ilha e as suas organizações. Com essas dificuldades, que tipo de assistência a OAF tem dado às associações comunitárias? Apesar das dificuldades em termos de recursos financeiros sobretudo, temos dado assistência a uma série de associações, através dos quadros do Concelho Directivo. Foi o que aconteceu, recentemente, a mais de 10 associações na elaboração de projectos a serem submetidos às Nações Unidas, na Praia. DESAFIOS PARA 2010 Quais os desafios para o que resta de 2010? Neste momento, o grande projecto da OAF é a aprovação do seu Plano Estratégico, já em fase de elaboração, com o financiamento da Direcção-Geral da Agricultura. Um consultor foi recrutado para o efeito e ele está já a realizar o diagnóstico socioeconómico das associações comunitárias e a segunda fase consistirá na elaboração do próprio documento do Plano, que englobará, também, um portfolio de projectos para serem apresentados a financiadores nacionais e internacionais. Outro grande projecto é a reestruturação interna da própria OAF que, neste momento, para além dos órgãos sociais,


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dispõe de comissões de apoio local e de trabalho. Estamos a pensar numa comissão técnica como forma de centralizar e especializar essa estrutura para dar apoio às associações em matéria de elaboração de projectos, seguimento e avaliação de obras e engenharia rural. Vamos, por outro lado, criar um gabinete técnico de apoio às associações e investir na capacitação dos quadros da OAF de modo a permitir que o trabalho seja feito com mais qualidade. Neste particular, vamos priorizar a formação de tesoureiros por ser uma das funções com alguma responsabilidade a nível das finanças das próprias associações. Outro desafio fundamental da OAF é conseguir financiamento para construir a nossa sede social, onde poderá vir a funcionar um centro de formação, podendo prestar serviços não só na área de formação como também turística. O plano de actividades para este ano prioriza a aquisição de um terreno e a sensibilização e mobilização dos membros para assumirem mais as suas responsabilidades nessa qualidade, bem como acções de formação em matéria de gestão, liderança e boa governança das associações. A OAF tem trabalhado para a promoção da unidade de crédito UNSOCOR já criada, estando em andamento a criação de núcleos nos diversos municípios. Por outro lado, a Comissão de Voluntariado da OAF tem sido responsável pela realização de várias actividades para a angariação de fundos que se destinam a apoiar a organização no seu dia-a-dia. Não se pode contar com as quotas nessa matéria? A última assembleia-geral, realizada em Março deste ano, aprovou critérios para o pagamento regular das quo-

tas pelas associações membro. Como as associações se têm negado a pagar quotas alegando falta de financiamento, inclusive por parte da OAF, decidiu-se pelo perdão geral para todas aquelas que não pagaram até Junho próximo. DESVIO NO MANDATO Pelo que vimos, as associações estão a transformar-se em pequenas agências locais de emprego para dar trabalho aos membros. É quase isso. São vícios, alguns dos quais criados, em parte, no âmbito do Programa PL – 480, da ACDI-VOCA, que defendia que os representantes dos órgãos associativos deveriam ganhar algo. Quanto a mim, desde que estivessem a fazer um trabalho decidido pela assembleia-geral, tudo bem, mas esta situação resultou numa falta de participação dos outros membros e criou o vício dos excedentes e acções sociais. A realidade actual é que as tradicionais actividades de limpeza das ruas, o apoio às famílias carenciadas e o djunta mô para o betão vão desaparecer se não encontrarmos novas estratégias de mobilização e de sensibilização para a participação e o voluntariado. Sente-se, por outro lado, um certo desinteresse dos próprios membros em participar na vida associativa. Só estão presentes quando há trabalho que dá emprego, mesmo que sejam acções de formação. Os planos de actividade espelham bem isso, porque as actividades são conservação de solos, construção de reservatório, banquetas e muretas. Já não encontramos actividades como limpeza da zona, apoio à reconstrução de um determinado espaço, pintura da sede, etc.

Divulgação do Código de Ética das ONG é uma prioridade A fraca participação dos membros na vida das respectivas associações é uma preocupação do Carlos Silva na sua qualidade de antena da Plataforma das ONG no concelho de São Filipe. Acredita que o Código de Ética das ONG apresenta respostas para reverter esse quadro, sendo a sua divulgação no seio das ONG e das associações uma grande prioridade. Acredita, por outro lado, que a Provedoria de Ética de que é membro constitui um instrumento fundamental de apoio ao funcionamento das ONG no seu dia-a-dia.

Como antena, tem apostado na divulgação e troca de informações sobre as actividades da Plataforma das ONG e na identificação das associações para participação nas acções de formação que desenvolve, a nível nacional. Paralelamente, a antena tem apoiado as associações na elaboração de projectos, visto que o Fogo não tem beneficiado de muitos financiamentos, contrariamente ao que acontece com a Praia, Santiago, São Vicente e Santo Antão. A divulgação das actividades das ONG e associações da ilha tem sido outra actividade da antena em São Filipe. Caminhar • Julho 2010


SOLDIFOGO

Em busca de mais recursos O principal dilema da Soldifogo, Organização de Solidariedade Social para o Desenvolvimento da Ilha do Fogo, é conseguir os recursos de que precisa para financiar as actividades dos seus clientes, como vem acontecendo desde 2003. Como se trata de uma instituição de micro-finanças, o dinheiro é que a faz funcionar, defende o presidente, Honorato Gomes.

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egundo esse dirigente, na presente conjuntura, a Soldifogo tem conhecido algumas limitações de ordem financeira devido à demanda crescente dos clientes. A estratégia é manter o número de clientes estimado em cerca de 1.500, actuando em áreas diferentes: rega gota-a-gota, rabidância, pequenos negócios, etc., ao mesmo tempo que pensa alargar a carteira de clientes. A filosofia, nas palavras de Honorato Gomes, é beneficiar sobretudo pessoas com baixa renda com vista a ajudar famílias pobres a terem um rendimento condigno. Três agentes de crédito asseguram o acompanhamento dos clientes nos três concelhos da ilha: um atende Santa Catarina e o interior de São Filipe, outro está na cidade de São Filipe e em São Lourenço e o terceiro cobre os Mosteiros, onde reside e trabalha com o apoio da Câmara Municipal e do financiamento do MCA (Millenium Challange Account). REEMBOLSO ALTO

De Abril de 2003 a Setembro de 2009, a carteira de negócios da Soldifogo ultrapassou os 100 mil contos que beneficiaram mais de 1.500 clientes. Com uma taxa de juro de 3% que se destina à sobrevivência da organização, o reembolso dos créditos tem sido garantido em mais de 99%, apesar de, nos últimos tempos, a Soldifogo ter-se deparado com alguma inadimplência por razões diversas. Constituído por 29 associações, a Soldifogo exige como condições de acesso ao crédito uma caução (de

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50 ou 100 contos, por exemplo) feita pelo presidente da associação comunitária da localidade do interessado. Com os fundos do MCA, Honorato Gomes explica que o sistema de garantia aceita como caução bens imóveis dos credores, podendo a Câmara ou a delegação do Ministério da Agricultura também ajudar em caso de necessidade. Os pedidos chegam através dos agentes que avaliam a viabilidade do negócio proposto. A concessão do crédito depende do seu parecer, mais a decisão do staff da Soldifogo. O crédito começa em 50 contos, podendo um cliente beneficiar de um montante maior desde que cumpra as suas obrigações, havendo aqueles que já tiveram empréstimo superior a mil contos. PARCEIROS Aquando da sua criação, a Soldifogo teve como principal parceiro a ONG americana ACDI-VOCA. A Plataforma das ONG foi uma parceira também desde a primeira hora, principalmente com apoio institucional. Com a saída da ACDI-VOCA, o Ministério da Agricultura também tem sido um parceiro de peso, assim como o Gesfond das Canárias e o Programa Nacional de Luta contra a Pobreza. O maior desafio para o presente ano é a elaboração do Plano de Negócios da Soldifogo, enquanto documento estratégico que integrará as orientações para os próximos tempos, e a construção de uma sede social.


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Água para Viver

Formação profissional é prioridade Com sede na Holanda, a Associação Água para Viver tem a sua representação em Cabo Verde, desde 1991, na ilha do Fogo. Muitas são as realizações desta ONG, sobretudo na área da educação/formação e o Centro de Formação Profissional de Ponta Verde é uma obra que nasceu com a sua parceria.

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aria Gomes, responsável pela administração da Associação, recorda, entretanto, que o objectivo primeiro da Água para Viver foi criar condições para a captação da água, aproveitando a água das chuvas, através da construção de cisternas um pouco por toda a ilha. O primeiro apoio mesmo foi com um camião cisterna, mas com resultados bem modestos, razão porque a Associação começou a investir na construção de cisternas comunitárias: em Campanas (três grandes), São Jorge, Velho Manuel, Ribeira Filipe e Lacacan. Depois, a Associação passou para a área a educação, respeitando sempre o plano e as necessidades do sector. Foi assim que a Água para Viver contribuiu para a beneficiação e construção de raiz de escolas em, praticamente, toda a ilha do Fogo (Galinheiro, São Jorge, Monte Tabur, Campanas, Velho Manuel, São Filipe, Cobon, Luzia Nunes, Monte Largo, Achada Furna e Tinteira). Há, ainda, o centro comunitário de Campanas, que funciona desde 1992. Depois de 2002, o mesmo está aberto todos os anos de Janeiro a Junho e é onde os jovens têm aprendido culinária, rendas e bordados.

Neste momento, está cedido ao jardim e as suas actividades passaram a ser desenvolvidas num anexo. CENTRO DE PONTA VERDE Em 2006, em resposta ao pedido da associação local e em concertação com o próprio Ministério da Educação, a Associação parte para a construção do Centro de Formação Profissional de Ponta Verde que, até agora, já custou cerca de oito mil contos, financiados pelo governo holandês, através da Água para Viver, e pelo Fundo Canadiano. O terreno foi doado por um privado. Após a construção, a Água para Viver participa na parte administrativa do Centro e o Governo entra com os recursos humanos, através do IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional). A Associação local de Ponta Verde apoia em termos de alimentação e alojamento dos formandos, com o financiamento da CRP-Fogo. A Bornefonden também contribui com material pedagógico e pagamento de propinas. SALAS DE INFORMÁTICA O apoio da Associação não se restringe à ilha do Fogo. Os liceus de Cabo Verde têm beneficiado de apoios na área de informática. Na Praia, os liceus Pedro Gomes, Domingos Ramos e Cesaltina Ramos e a Escola Nacional da Polícia são algumas instituições contempladas. Ao Maio e à Brava também chegaram apoios da Água para Viver, que equipou salas de informática, o mesmo acontecendo nos Mosteiros e no liceu de São Filipe, entre outras instituições. Ainda este ano, vai ser concluída a beneficiação de mais uma escola na localidade de Velho Manuel, Fogo, com a construção de mais salas de aula.

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CRP-Fogo

Marcas visíveis em todos os concelhos Desde 2002, a Comissão Regional de Parceiros, CRP, do Fogo tem sido o grande aliado das associações comunitárias da ilha na promoção de melhores condições de vida para as populações vulneráveis. Para o seu presidente, Arlindo Brandão, a mudança de mentalidade das famílias e das comunidades na assunção do seu próprio desenvolvimento local constitui a marca fundamental da Comissão.

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egundo Arlindo Brandão, a CRP, que integra 44 membros, entre ONG, associações de desenvolvimento comunitário e serviços desconcentrados do Estado, funciona com fundos do PLPR, Programa de Luta contra a Pobreza no Meio Rural, com o financiamento do FIDA, Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, e as quotas dos seus membros (2.500 escudos por ano). Conta, igualmente, com vários outros parceiros: ONG portuguesas, o INDI que apoia o desenvolvimento turístico da ilha, as câmaras municipais e a Associação sediada na Holanda Água para Viver. Há casos, ainda, em que a CRP busca financiamento para comparticipar juntamente com outros parceiros nas acções de desenvolvimento das associações, sendo, outras vezes, apenas interlocutor participando com alguns fundos. AGR E EMPREENDEDORISMO Na sequência da assembleia-geral da CRP realizada em Abril último, Arlindo Brandão garante que o plano de acção para o corrente ano elegeu como grande desafio as actividades geradoras de rendimento (AGR) e algum empreendedorismo no mundo rural onde actua. O objectivo da CRP, como disse, é diminuir a parte do apoio social, melhoria da habitação social e saneamento do meio, de modo a apoiar as AGR e a criação de pequenas empresas e unidades de produção a nível rural.

Caminhar 2010 Beneficiários•deJulho habitação social em São Filipe

A nível das AGR, a CRP tem estado a comparticipar com uma parte dos fundos. A título de exemplo, o presidente da Comissão realçou a unidade de panificação construída em Fonte Aleixo Sul, que tem como parceiros a CRP, a Câmara Municipal de Santa Catarina e o PIDSC, Projecto Integrado do Desenvolvimento desse concelho. Orçado em cerca de sete mil contos, a CRP entrou com aproximadamente 20% destinados à construção civil, a Câmara com o terreno e algum material de construção e o projecto com equipamentos. A Comissão também financiou uma unidade turística na localidade de Pai António, que dispõe de dormidas e espaço de lazer e é gerida pela associação local, estando em perspectiva, ainda este ano, a construção de uma pousada na zona de Ponta Verde. A grande aposta da Comissão, de acordo com Arlindo Brandão, é apoiar as associações para que possam vir a funcionar sem o apoio do Programa. Como a CRP não pode financiar todos os projectos, pensa que as associações com maior capacidade de mobilização de recursos devem continuar a fazê-lo, para que a Comissão possa concentrar-se nas menos desenvolvidas. A grande dificuldade é a falta de fundos para atender às necessidades das famílias pobres, com destaque para a questão da habitação, devendo a CRP, no âmbito do Programa Casa para Todos, ser o parceiro ideal na identificação das famílias carenciadas a par das câmaras municipais, porque são as associações comunitárias que conhecem realmente as necessidades de cada família em cada localidade.


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CRP promove formação nos Mosteiros

MUDANÇA DE MENTALIDADE As marcas da CRP são visíveis nos três concelhos da ilha. Sobretudo as físicas, ou seja, habitações sociais, casas de banho, padaria, sem esquecer a formação profissional graças à qual muitos jovens conseguiram a sua autonomia em termos de emprego. Todavia, o presidente da Comissão vê na assunção, pelas famílias e pelas comunidades, do seu próprio desenvolvimento local a marca fundamental de todo o trabalho que vem sendo desenvolvido: as pessoas já são mais autónomas e conseguem aproveitar mais os apoios a fundo perdido que a CRP também disponibiliza. O objectivo é fazer com que os fundos disponíveis possam ser geridos por uma instituição de micro-crédito, com base num protocolo. Da parte da Comissão, há o engajamento no sentido de ajudar a identificar os potenciais beneficiários, a par da possibilidade de financiar um determinado projecto entre 20 a 80%, devendo a outra parte ser obtida através de uma instituição de micro-crédito, cujos fundos podem até ser da própria CRP. O que se quer é gerar fundos para, no pós-Programa, continuar a apoiar áreas ain-

da com necessidade, nomeadamente apoio social, saneamento, melhoria do abastecimento de água, entre outras, e para as quais se destinam grande parte do bolo da CRP. Para cada município, a reparticipação dos fundos tem sido garantida com critérios objectivos, assegura Arlindo Brandão, para acrescentar que 40% é de forma equitativa e 60% respeitando o índice de pobreza em cada concelho. Basta dizer que, em 2009, mais de 80% do financiamento para a habitação social foram destinados a Santa Catarina, rematou. Beneficiários de habitação social em Santa Catarina e Mosteiros

FIDA realiza primeira missão a Cabo Verde Uma missão do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, FIDA, chefiada por Norman Messer, Encarregado de Programa para Níger e Cabo Verde, realizou, em Abril, uma visita a Cabo Verde, no âmbito do Programa de Luta Contra a Pobreza no Meio Rural (PLPR). Trata-se da primeira missão de observação do FIDA, depois de, a 1 de Janeiro deste ano, ter passado a supervisionar directamente o PLPR e teve por objectivo fazer o balanço do desempenho do Programa. Além de um encontro com os membros da Unidade Técnica da CRP-Fogo, a missão do FIDA visitou o Parque

Natural do Fogo em Chã de Caldeiras e manteve contactos com o presidente da Câmara Municipal dos Mosteiros. Nesse concelho, visitou a comunidade de Pai António e a infra-estrutura turística “Gira Lua”, financiada pelo PLPR. Na localidade de Cutelo Alto, teve um encontro com os dirigentes das associações comunitárias dos Mosteiros e visitou os micro-projectos do PLPR. Antes de regressar à Praia, a missão teve um encontro de restituição da visita com os responsáveis da Unidade Técnica da Comissão Regional de Parceiros. Caminhar • Julho 2010


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COSPE investe na marca de qualidade Há 12 anos no Fogo, a COSPE, Cooperação para o Desenvolvimento dos Países Emergentes, coordena, actualmente, o Projecto Parque Natural - valorização dos produtos locais e os recursos naturais, com término previsto para finais de Junho. Como resultado desse esforço, a representante em São Filipe, Carla Cossu, anunciou a criação da marca de qualidade para dois dos mais procurados produtos da ilha: vinhos e alojamento.

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endo por objectivo promover o desenvolvimento local auto-sustentado, baseado em actividades económicas e na gestão participativa do território da ilha do Fogo, a COSPE contribui, também, para o reforço institucional da estrutura central, local e da sociedade civil. Para a certificação (e salvaguarda) dos produtos locais e dos produtos turísticos, o projecto já criou uma comissão para a certificação de todos os vinhos de Chã das Caldeiras e Achada Grande, respectivamente das adegas de Chã e Sodadi. O processo visa garantir que esses vinhos tenham qualidade e que tenham certas características: as vinhas só se podem encontrar a uma certa altitude, a sua produção não tem nada de químico nem água, etc. Por isso, uma formação sobre como se certifica o vinho vai ser ministrada para a comissão já criada. QUALIDADE SEMPRE Em Junho, um especialista do Parco de 5 Terre, da região de Ligúria, que financia o projecto, ministrou a mesma formação para o serviço turístico. A exigência é que a oferta turística do Fogo tenha, pelo menos, um nível mínimo de qualidade. Caminhar • Julho 2010

Trata-se de um trabalho que começou a ser feito com um outro projecto, que seleccionou alguns alojamentos em Chã das Caldeiras que já funcionavam e melhorou certos serviços, de modo a que todas as pessoas com quartos para alugar ofereçam uma qualidade mínima. “Vamos criar um logo para a marca de qualidade para entregar só aos alojadores”, confirmou Carla Cossu, para quem essa marca será uma espécie de selo de qualidade. 12 ANOS EM CABO VERDE Durante mais de uma década, a COSPE tem ajudado a população de Chã das Caldeiras a tornar realidade o projecto de produção do vinho. Nos últimos anos, empenhou-se com a Associação local na recuperação da adega perdida durante a mais recente erupção vulcânica. Paralelamente, a COSPE financiou a compra de equipamentos para a adega, ao mesmo tempo que apoiou a formação, na Itália, de alguns jovens no domínio da vinificação. E valeu a pena todo o investimento feito nessa estrutura que começou com três sócios e, hoje, integra 108 pessoas, ou seja, quase toda a população da Chã das Caldeiras. Na opinião da representante, a Cooperativa já está pronta para andar pelos seus próprios pés, embora a COSPE vá estar sempre aberta a ajudar com assistência técnica. A Sodadi, de Chã Grande, é outra adega apoiada pela COSPE. Criada durante o projecto COSPE, ela, ainda, tem três anos de vida e continua a precisar de ajuda de técnicos e na colocação dos produtos. Por tudo isso, Carla Cossu faz um balanço muito positivo do desempenho da COSPE, tanto na área do vinho como do turismo rural em desenvolvimento desde há quatro anos. Actualmente, a COSPE só está na ilha do Fogo, mas, no passado, já esteve em Santiago, Santo Antão, Maio e São Nicolau apoiando, sobretudo, a área da agricultura. No futuro, a COSPE pensa apresentar um novo projecto para cinco anos, que prevê intervenções nas áreas da criança e do adolescente, actividades geradoras de rendimento, educação e saúde.


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AHCSFSC

Água para agricultura é cara A grande luta da Associação de Horticultores e Criadores de São Filipe e Santa Catarina, AHCSFSC, é defender os agricultores desses dois concelhos, a par da criação de condições para o desenvolvimento de uma agricultura sustentada na ilha. Para o presidente Manuel Andrade Gomes, a água continua a ser um grande obstáculo rumo a esse objectivo.

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primeira reivindicação da Associação era e continua sendo o preço diferenciado da água em relação a outras ilhas do país, nomeadamente Santiago e Santo Antão, visto que, no Fogo, a água é muito cara, diz Manuel Andrade Gomes, na convicção de que isso não permite condições competitivas em relação a outros agricultores do país. Agora também se põe a questão da quantidade da água. Não obstante terem aumentado alguns furos para a agricultura, explica, o problema é que a sua gestão é feita pela Águabrava, “que faz aquilo conforme quiser”. O bom, como realça, é que o Ministério da Agricultura, o próprio ministro inclusive, já se disponibilizou a criar condições para a separação da água da rega na região de Fogo e Brava. Reconhece que há água, porque existem, neste momento, seis furos só no concelho de São Filipe: quatro em Genebra com muita água, segundo os técnicos, dois dos quais está a operar em favor da Águabrava para usos diversos. Só que, reclama, a Empresa adoptou um sistema de distribuição de água que não conforma ninguém. “Às vezes, distribuem a água a partir das 10 horas da noite e os agricultores trabalham de manhã e quando chegam não encontram água”. NOVO ROSTO PARA A AGRICULTURA Na opinião de Manuel Andrade Gomes, a situação, neste momento, “é dramática”. Mostra-se, contudo, esperançado com o projecto de criação de infraestruturas de distribuição de água para a agricultura em fase de execução.

Dos quatro furos em Genebra, dois já estão em fase de equipamento com a instalação do sistema de bombagem. Um reservatório já está pronto, devendo um segundo ficar pronto até o mês de Agosto a uma altitude superior a 650 metros e que fará a distribuição de água por gravitação.

para a rega, à semelhança do que se faz em outros países. E que justiça seja feita: a água deverá ter um preço nacional único, como o gasóleo e a gasolina, por exemplo, defende o presidente da AHCSFSC, para quem, com mais de 12 mil pessoas empregues na agricultura da ilha, a situação merece a atenção devida. MAIS ÁGUA

Depois disso, confirmou, a gestão da água passará para as associações. “Já nos comprometemos e todo o mundo está de acordo”. Com essas novas condições e o eventual aproveitamento das energias renováveis, Manuel Andrade Gomes acredita que o custo de exploração pode baixar porque já não vai ser preciso pagar à Electra. “E o preço da água baixará”, argumentou na certeza de que o Governo também poderá vir a subsidiar a água

Criada em 1989, a Associação integra, hoje em dia, 89 agricultores de São Filipe e Santa Catarina, dado que os Mosteiros não têm horticultores. Ali, graças aos investimentos do Milénio Challange Account, MCA, a água recolhida das chuvas fica a 35 escudos por tonelada vendida pela Águabrava. Já os restantes concelhos não dispõem dessa água, pelo que a maioria continua a pagar 55 escudos por tonelada de água para a rega. Há 21 pessoas que não eram agricultores, mas faziam a agricultura com água para o consumo, que foram “transformados” em horticultores e passaram a pagar 110 escudos por tonelada. Claro está que o preço é elevado, reage Manuel Gomes, mas se a água for regular, dá para pagar os trabalhadores, garantir o sustento das famílias e pagar a água. Porém, para todos, a grande penúria é a falta de água. Muitos ficam semanas sem água, o que está a fazer com que os agricultores acumulem dívidas com os custos de exploração, sementes, trabalhadores, etc., dado que as plantas não desenvolvem sem água, lembra. Caminhar • Julho 2010


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ABC Patim

Uma Associação que abraça toda a comunidade Não existe um sector da vida local que não tenha a mão da Associação Abraço de um Berço Comum, ABC Patim. A vice-presidente, Benilde Andrade Centeio, destaca como grandes feitos a construção de infra-estruturas e equipamentos sociais e a criação de novas oportunidades de vida para a população local.

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riada em 12 de Dezembro de 1997, a ABC Patim tem sido a responsável pelas muitas mudanças que ocorreram nessa localidade. Desde a construção de várias cisternas, banquetas e reservatórios, construção e reparação de habitação social e reparação de um jardim infantil, passando pela ligação domiciliária de água a mais 20 famílias e a reparação de casas de banho, tudo tem a mão da ABC Patim. Em fase de conclusão está uma sede social, cujo financiamento, até este momento, foi de 9.018.899$00. Co-financiada pela Cooperação Alemã em 6.210.000$00, o Ministério das Infraestruturas entrou com 2.238.899$00. Um total de 500.000.00 é a comparticipação da ABC e 70.000.00 provêem da CRP-Fogo. Está aberta todos os dias para o atendimento permanente dos membros e da população, em geral. Tem também um moinho de milho onde trabalha uma pessoa e, na sua fábrica de lajetas, estão dois trabalhadores, a oficina de carpintaria, que já deu trabalho a quatro pessoas, vai ser novamente reaberta e beneficia dois alunos na formação profissional na Praia. Neste momento, está em execução a construção de uma cisterna em Patim de Cima.

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CONCLUSÃO DA SEDE A conclusão da sede está, também, nos horizontes próximos com a criação de uma sala de costura e de informática. Mais de dois mil contos vão ser precisos para o efeito e o Ministério das Infra-estruturas pode ser o parceiro da ABC Patim nesta fase. No que resta de 2010, a Associação pensa por de pé o projecto da pista de blocos e trazer o ensino secundário para Patim com a criação de um pólo local do liceu Teixeira de Sousa. A Bornefonden deverá financiar um segundo moinho da Associação e uma segunda visita de intercâmbio com os Estados Unidos está, igualmente, programada para os próximos meses. Os maiores parceiros da ABC Patim foram o Projecto Alemão, o Ministério do Trabalho e Solidariedade, a ACDI-VOCA, que já saiu de Cabo Verde, a CRP, a Plataforma das ONG, o Governo, através dos Ministérios da Agricultura e das Infra-estruturas, e a Câmara Municipal, mas esta tem sido muito pouco. O desporto continuará a merecer a atenção da direcção da Associação, cuja comissão desportiva pretende dinamizar o clube desportivo local, um espaço próprio onde já funcionou o jardim infantil e tem condições para acolher actividades com os jovens.


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LuzAbril

Entre infra-estruturas sociais e agrícolas Distingue-se pelas dezenas de obras sociais realizadas, mas é na infra-estruturação local onde a Associação LuzAbril de Luzia Nunes tem a sua marca maior. O presidente Manuel Socorro da Silva orgulha-se desta também ter um Plano Estratégico elaborado com o apoio da ACDI-VOCA.

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a saúde da Luzabril, como diz, é boa. Muitas são as actividades em curso, com destaque para a construção de estradas, arruamentos e caminhos vicinais, principal objectivo da Associação criada em 2000. O segundo sector prioritário é a agricultura para a mobilização de água para a rega gota-a-gota no perímetro de Forno Baixo ou Remo Inglês. Neste momento, está-se a fazer valas para mobilizar a água do furo para o reservatório de 200 m3 recentemente construído com a parceria do Ministério da Agricultura. A Luzabril tem parceria estabelecida com a Polícia Nacional para a implementação do projecto do Centro de Informática local, estando em curso a reabilitação do espaço onde este vai funcionar. No corrente ano, vai, ainda, apostar na reclassificação da iluminação pública em Luzia Nunes, em parceria com a Electra, estando, ainda, em negociação a electrificação da zona de Alfarrobeira, vizinha de Luzia Nunes.

APOIOS BEM-VINDOS Dos parceiros de vários anos, Manuel Socorro da Silva destaca o Ministério da Agricultura, a ACDI-VOCA, o Ministério das Infra-estruturas, Trans-

portes e Telecomunicações, a CRPFogo, a OAF, a Câmara Municipal de São Filipe e a comunidade emigrada nos Estados Unidos, cujo apoio tem sido aproveitado para a construção de estradas e a educação. A dinâmica da Associação também é visível a nível dos jovens. Basta dizer que a sua equipa desportiva juvenil “Luzabril” já passou para a primeira divisão. Neste momento, o grande investimento é criar um clube Luzabril, que já tem a parceria da Câmara Municipal, onde a equipa vai desenvolver as suas actividades. A autarquia de São Filipe promete, também, apoiar as intervenções da Associação em matéria de iluminação, redes para as balizas e alinhamento, de modo a melhorar as condições para a prática do andebol, voleibol, etc. Contudo, a grande ambição da Luzabril é conseguir a sua sustentabilidade financeira, pelo que está aberta a parcerias que a ajudem a continuar a contribuir para a melhoria das condições de vida das populações. Caminhar • Julho 2010


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Tempos difíceis para a Associação de Curral Grande O factor financiamento ou a falta dele tem condicionado todo o trabalho da Associação Comunitária de Curral Grande, confessa o seu presidente, Honorato Gomes, reconhecendo embora o esforço na dinamização interna dessa organização local.

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última parceria importante da Associação foi com o PRNF, Projecto de Recursos Naturais do Fogo, em 2008, de quem há, ainda, a receber o cativo de 5% a que tem direito. As suas áreas de intervenção são a conservação de solo e a mobilização da água desenvolvidas no quadro de uma cooperação com uma associação italiana. Foi possível trabalhar uma pequena parcela disponibilizada para a rega gota-a-gota que beneficia toda a comunidade de Curral Grande e o excedente, quando há, é vendido. Este ano, a Associação ainda está à espera de financiamento para a construção de arretos no âmbito do plano ambiental. Enquanto isso, vai dinamizando a sua vida interna. Dentre as actividades, destacam-se reuniões com os membros, sensibilização de jovens, intercâmbios com associações de outras localidades, nomeadamente dos Mosteiros, Cutelo Alto e Ribeira Ilhéu e que já movimentaram mais de 300 pessoas em actividades culturais, recreativas e culturais. Em Abril, a localidade recebeu em Caminhar • Julho 2010

intercâmbio professores e alunos do Pólo Educativo de Palmarejo, da Praia. PARCEIROS PRECISAM-SE Criada em 27 de Julho de 1998, a Associação de Curral Grande já teve como parceiro a ACDI-VOCA, nos primeiros anos de vida. Antes disso, trabalhou com o projecto alemão KFW III na construção de diques, arretos e banquetas. Em 2000, com o apoio da Câmara Municipal de São Filipe, participou na extensão de estradas. De 2004 a 2008, a Associação contou com o financiamento do PRNF que a possibilitou construir pomares, hortos, currais, habitação social e melhoria de casas degradadas. De quem se recorda com saudade é da ACDI-VOCA pelos ganhos conseguidos não só em termos de recursos financeiros, mas também pela contribuição no reforço institucional e capacitação dos associados. “Foram poucos anos, mas valeram a pena”, diz Honorato Gomes, recordando que o excedente ganho nas obras por ela financiadas ainda sustentam a Associação de Curral Grande.


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AUDA à espera de financiamento Com 29 anos, Sara de Pina é, desde Julho de 2009, presidente do Conselho Directivo da Associação Amigos Unidos para o Desenvolvimento da Agricultura, AUDA, de Cabeça Monte, que tem tido presença nas áreas de habitação social, construção de casas de banho e cozinhas, para além da construção de arretos e diques, plantação de árvores e conservação de solo e água.

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raças a um financiamento de 829 contos do Ministério da Agricultura, a nova direcção pode realizar a reparação de banquetas e a plantação de plantas forrageiras, que garantiram trabalho a 25 pessoas durante três meses, no ano passado. Neste momento, a Associação só conta com um pequeno financiamento da CRP para a reabilitação de uma casa, mas Sara de Pina gostaria de conseguir mais recursos para continuar a apoiar pessoas com necessidade na melhoria das suas habitações, construção de casas de banho, cozinhas e também para trabalhar na conservação de solo e água e na construção de arretos e diques. Os pedidos de apoio têm sido dirigidos à OAF, ao PRNF e à Câmara Municipal e espera que as respostas cheguem antes do período das chuvas em que todos estarão a trabalhar a azágua.

Com 42 sócios, dentre as quais 24 mulheres, a Associação precisa, também, de recursos para fazer a reparação da sede que está a precisar de portas, pinturas e ligação eléctrica.

Novo Horizonte quase parada É o que diz o presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário de Galinheiro, Novo Horizonte, Lucindo Correia, ao explicar que essa situação vem desde o término, em 2008, de um projecto com o PRNF que durou quatro anos. Não tendo realizado nenhuma obra em 2009, esse dirigente confirma, entretanto, que a Associação funcionou. Aliás, nos seus 10 anos de vida, a Novo Horizonte já teve intervenções importantes na localidade de Galinheiro. Com o apoio da ACDI-VOCA, construiu uma farmácia comunitária, orçada em mil e 500 contos, mas que, actualmente, não funciona porque não tem licença para o fazer. Adquiriu máquinas de pulverização e apoiou pessoas em situação de doença em caso de evacuação para a Praia com géneros alimentícios durante a sua estadia de um mês no valor de 8.100$00. Nessa década de vida, a maioria dos terrenos dessa parte da ilha foi conservada pela Novo Horizonte, que cons-

truiu arretos, caldeiras, 40 cisternas familiares e plantou milhares de pés de plantas fruteiras e de floresta. Com o excedente ganho, a Associação pode financiar deslocações para troca de experiência com Chã das Caldeiras e Mosteiros e investiu na formação dos membros No âmbito do PRNF, critica o procedimento adoptado em relação ao cativo e os descontos que faz desse cativo quando as obras são danificadas. Ainda assim, Lucindo Correia não perde as esperanças e espera poder, ao longo deste ano, conseguir receber o dinheiro que lhe deve o Ministério da Agricultura pela construção de 430 m3 de diques, desde 2008. Enquanto isso, esse parceiro já o beneficiou com um contrato de mais de 900 contos para a construção de um reservatório iniciado em 2008, devendo dar trabalho a mais de 20 pessoas durante três meses. Caminhar • Julho 2010


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Uma coqueluche chamada UNSOCOR A União Solidária das Comunidades Rurais, UNSOCOR, é a mais nova ONG da ilha do Fogo. Foi criada no dia 14 de Fevereiro de 2010 e tem por objectivo levar o crédito para mais perto das populações pobres.

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ara a sua criação, contou com a contribuição da UNICOOP (União das Cooperativas de Consumo) do Fogo e de um animador rural, para além de 10 associações comunitárias de base que constituem os seus membros fundadores. Neste momento, está-se num processo de recolha de assinatura para a legalização da União, que tem como parceira forte a União das Cooperativas de Consumo da ilha e o Programa Nacional de Luta contra a Pobreza, PNLP, concretamente a sua vertente micro-crédito, cuja colaboração vai ser fundamental para o cumprimento dos objectivos de crédito rural. O presidente Manuel Socorro Fonseca da Silva confirma que encontros já foram realizados com responsáveis do PNLP para o efeito. Esclarece, entretanto, que o que difere a UNSOCOR da Soldifogo é que ela se propõe intervir no meio rural e estar mais próxima dos pobres. Uma segunda diferença consiste na preparação das pessoas para receberam o crédito e fazer a melhor utilização do dinheiro, Caminhar • Julho 2010

ou seja, para o desenvolvimento da actividade solicitada. A ideia, segundo esse dirigente, é contribuir para que as pessoas não fiquem mais pobres depois de terem acesso ao crédito, dando-lhe uso diverso. O fundo da UNSOCOR é constituído pelo capital dos associados conseguidos através de doação, ou seja, da captação da poupança dos seus membros, que são as associações que têm fundo próprio. A UNICOOP, por sua vez, pensa depositar uma certa quantia para o arranque das actividades, assim como o PNLP, a sua vertente micro-crédito. VANTAGENS PARA OS POBRES Na convicção de que esta é uma organização de que os pobres precisam, Manuel Socorro da Silva garante que a sua organização vai, certamente, contribuir para a melhoria das condições de vida das populações em toda a ilha, assim como para a integração social dos vulneráveis, ajudando-os na criação do auto-emprego. Terão acesso ao crédito qualquer pobre, o que passa, primeiro, pela Associação a que pertence de modo a obter a caução necessária para a concessão do mesmo, sendo também ela quem valida o pedido de crédito. Trata-se, na sua óptica, de uma forma de combater o crédito mal parado e aumentar as possibilidades de reembolso, de modo a abarcar, cada vez mais, um maior número de pobres com recursos para poderem desenvolver uma actividade geradora de rendimento.


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Sem fronteiras aposta no desporto para jovens Trabalha com jovens da cidade de São Filipe e o objectivo é ajudar a combater males sociais que os têm afastado de uma vida saudável. De acordo com o seu presidente José Cardoso, a Associação Sem Fronteiras tem, desde 1997, uma escola de futebol juvenil que trabalha com crianças dos oito aos 16 anos e onde desenvolve actividades culturais, desportivas e recreativas.

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o todo são mais de 100 jovens que estão a ser preparados para serem bons atletas e com bom comportamento. Alguns já jogam nas equipas seniores, desde os seus 17/18 anos. José Cardoso lembra que, antes, muitos dos seus jovens já beneficiaram de bolsas jovens atletas. Durante as férias, torneios de sub 13, sub 14 e sub 15 têm mobilizado

os jovens, todos os anos, sobretudo nos momentos em que os campos estão livres. No futuro, José Cardoso pensa realizar alguns torneios envolvendo jovens de outros concelhos da ilha e incentivando-os a criarem a sua escola de futebol. Está consciente que apoios são necessários para isso, mas, no caso

da Sem Fronteiras, ela tem contado com a Câmara Municipal, que a permitiu arrancar, e a Direcção Geral do Desporto. Contudo, as dificuldades continuam sendo grandes. Há falta de equipamentos e de materiais para as equipas e não tem sido fácil deslocar-se para os jogos com outras equipas.

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AGRO VERDE

Melhor vida e mais formação A Associação do Desenvolvimento Comunitário Agro Verde é um exemplo a seguir. Comparticipa na gestão do Centro de Formação Profissional de Ponta Verde, ao mesmo tempo que investe forte na melhoria das condições de vida em toda a localidade.

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e acordo com o presidente do Conselho Directivo, Henrique Cardoso, desde Maio de 1999, a Associação do Desenvolvimento Comunitário Agro Verde tem trabalhado na conservação de solos e água, na construção de reservatórios de água, cisternas domiciliárias, habitação social, na plantação de árvores fruteiras e plantas florestais e na assistência a famílias para a escola dos filhos e para a saúde (medicamentos, evacuação, compra de óculos, etc.). Os maiores parceiros foram e têm sido a ACDI-VOCA, o PRNF, a CRP a Câmara Municipal e a OAF, a par do Governo e do Ministério da Educação. Dona de 5.450 m2 de terreno, construiu a sua sede social, que também é um centro comunitário, onde funciona um jardim, uma sala de informática, o centro de extensão rural e outros serviços. Parte dele foi oferecida para a central eléctrica e uma área de 1.300 m2 foi disponibilizada para o futuro liceu de Ponta Verde. APOSTA NA CAPACITAÇÃO Fruto de uma parceria com a Associação Água para Viver, com sede na Holanda e representação em São Filipe, há já quatro anos, a Agro Verde acompanha de perto o Centro de Formação Profissional local. O terreno foi oferecido pelo Senhor Sebastião Baptista, hoje director do Centro. Caminhar • Julho 2010

No primeiro ano, foi ministrado um curso de carpintaria e, presentemente, funcionam os cursos de electricidade e canalização. Ao todo, estão no Centro 37 alunos dos concelhos do Fogo e da Brava, que beneficiam, ainda, de aulas de inglês e, brevemente, de informática. O Governo e o IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) também são parceiros nesse projecto, estando o seu funcionamento a ser garantido pela CRP, desde 2009, sem esquecer o apoio da Bornefonden na assistência aos alunos. A Agro Verde entra com o acompanhamento e apoios na logística, assegurando as condições de alimentação dos alunos, renda e electricidade. INVESTIMENTOS FUTUROS Ao longo deste ano, Henriques Cardoso pensa mobilizar recursos para continuar a investir na habitação social, conservação de solos, cisternas domiciliárias e rede de água potável. A construção de uma residência para os estudantes é outro projecto de peso porquanto vai permitir sair do espaço alugado e criar condições mais condignas para os formandos do Centro. A construção de uma sede de raiz é outra pretensão da Agro Verde. Não sendo possível, pensa alargar o Centro com mais um piso para ali funcionar a sede.


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Centro de Formação Profissional de Ponta Verde

Um cartão de visita da ilha Inaugurado em 2006, o Centro de Formação Profissional de Ponta Verde foi um projecto financiado pelo Governo da Holanda, através da ONG Água para Viver, com sede na Holanda e representação em São Filipe, Fogo, e pelo Fundo Canadiano de Iniciativas Locais, contando com a parceria do IEFP.

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ezenas de jovens estão sendo beneficiados pelos cursos que ministrou e ministra, designadamente carpintaria, electricidade e canalização. Com 12º ano, Socorro Mendes frequenta o curso de electricidade de nível II, que partilha com mais 21 jovens, desde Fevereiro deste ano. Tem 18 anos e vem dos Mosteiros. Mora na residência (espaço alugado) do Centro e só vai à casa aos fins-desemana. Os pais deste jovem responsabilizam-se pelo transporte, mas a propina de 500 escudos mensais é paga com o apoio da Bornefonden. Se pudesse seria polícia judiciária, mas enquanto esse sonho não se concretiza vai aprender a profissão que escolheu. A oportunidade foi boa e pensa, no final do curso, encontrar algum trabalho. Até agora, o ambiente tem sido

razoável, excepção feita à comida, que nem sempre é do agrado dos formandos. A futura canalizadora A Sandra Almeida gosta de canalização, uma profissão quase sempre de homens, e está a esforçar-se por aprendê-la e bem durante os oito meses de formação. É de São Filipe mas reside, actualmente, em Ponta Verde. Considera que os professores são bons e que as condições no Centro são boas. Gosta das disciplinas ministradas e das aulas práticas. O seu sonho mesmo é ser mecânica e não acha de todo impossível vir a estudar para conseguir isso. Defende que o Centro foi muito bom para a ilha porque pode ajudar a formar jovens para o mercado de trabalho.

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Dias ensombrados para a Associação de Miguel Gonçalves Quem o diz é Antónia Barros Centeio, presidente da Associação Comunitária de Miguel Gonçalves, que, neste momento, está sem qualquer projecto em execução. Fazer a água chegar à localidade é a grande ambição da Associação.

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os seus 11 anos de vida, a Associação somou muitas realizações em Miguel Gonçalves: plantação de árvores fruteiras, endémicas e florestais, sementeira de congo e rícino, construção de cisternas familiares, de currais melhorados, pocilgas e habitação social. Para isso, contou com o financiamento da CRP, do Ministério da Agricultura e do PRNF. O excedente obtido na execução das obras é pouco, porque com o PRNF não é possível, mas serviu para ajudar as famílias mais carenciadas, com habitação social e apoio escolar.

Neste momento, a Associação não tem nenhum projecto em execução. Nem por isso está parada e o grande sonho é levar a água até Miguel Gonçalves. O abastecimento com autotanque não tem sido a melhor solução porque nem todos os 96 habitantes têm dinheiro para comprar a água. Por isso, a Associação já está à procura de parceiros para estender a rede de água até Miguel Gonçalves. A CRP poderá contribuir com mil contos para a construção de dois reservatórios para captar água de Cabeça Monte e Cutelo Capado até chegar a Curral Ochoa. A Águabrava já prometeu fazer chegar a água a Miguel Gonçalves e o terreno já foi conseguido pela Associação. A luz é outra prioridade para esta localidade, mas a Electra considera que não existem clientes suficientes para cobrir o investimento que a obra exigiria. Uma eventual solução passaria por encontrar parceiras para os investimentos necessários, estando a Associação disponível a contribuir com covas e postes, faltando recursos para o transporte dos mesmos.

Nova Era precisa de apoios Desde Abril de 2007, a Nova Era existe como Associação Comunitária para o desenvolvimento de Santa Filomena e comunidades vizinhas. Além disso, informa o presidente João Pedro Andrade, a equipa juvenil de futebol Nova Era está a esforçar-se para entrar na primeira divisão. Acha, contudo, que as autoridades têm dado pouco apoio à sua Associação, cujo grande projecto é ter uma sede própria. Contudo, continua em busca de parceiros para desenvolver as suas actividades. Nos próximos meses, vai continuar a realizar intercâmbios com associações de outras localidades e trabalhar para apoiar a melhoria das condições de vida das populações nas áreas de higiene, educação, formação e sensibilização de jovens para adoptarem comportamentos sãos. Caminhar • Julho 2010


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INHUCO constrói nova vida Apesar de ser considerada a zona mais pobre da ilha do Fogo, Inhuco tem beneficiado de obras e infra-estruturas graças à Associação local presidida por António Monteiro. A CRP é a grande responsável por essa nova situação, tendo financiado a construção de habitações sociais, casas de banho e formação.

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utro grande investimento da Associação foi a construção da sede social, primeiro com o apoio do Gabinete de Desenvolvimento Regional, GDR, e depois com o excedente das obras que realizou. O terreno foi comprado com o dinheiro dos sócios. No tempo da ACDI-VOCA, a localidade ganhou arretos, um reservatório, diques e caldeiras. O PRNF apoiou a construção de uma cisterna familiar. Com a Câmara Municipal, a Associação está a fazer 40 casas de banho e ligação de água a 17 casas. Vários projectos têm sido apresentados a potenciais financiadores, designadamente para a construção de um moinho e de um dique, estando, igualmente, à espera da Câmara para iniciar as obras de uma vala que vai de Inhuco a São Brás. Do PRNF quer financiamentos para a construção de pocilgas, arretos, banquetas e currais individuais, conforma consta do seu Plano de Actividades para 2010 e no âmbito do qual as pessoas necessitadas vão continuar a ser ajudadas em caso de doença e morte.

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Antena da Plataforma em Santa Catarina:

Associação não é empresa Para o responsável da Antena da Plataforma das ONG no concelho de Santa Catarina, Cristiano Silva, a prioridade dessa estrutura “é contribuir para a mudança de mentalidade das pessoas, cuja ideia é que a associação é uma empresa”. Defende, neste particular, a realização de uma reflexão profunda sobre o mandato das associações, que não apenas o carácter empregador que estão tendo. “É preciso que as associações se organizem por sectores de actividade, que possam envolver e mobilizar os jovens e a própria comunidade e que sejam capazes de envolver outros valores, que não é só ter excedentes para resolver os problemas de cada membro”. Cristiano Silva referia-se à necessidade de um grande investimento na educação para a cidadania e no reforço do voluntariado a nível local. Como Antena da Plataforma pensa trabalhar na valorização do papel das associações enquanto agentes de desenvolvimento comunitário e instrumentos de luta contra a pobreza e para o bemestar de cada família pobre do município. DIVULGAÇÃO DO CÓDIGO DE ÉTICA Ainda assim, qualifica de razoável o estado de funcionamento da maior parte das associações de Santa Catarina. Reconhece, entretanto, que, em algumas loca-

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lidades, muitas organizações comunitárias estão enfrentando dificuldades várias. Acha, porém, que há coisas que as associações poderiam fazer, designadamente a educação e sensibilização das pessoas para a preservação do espaço e dos equipamentos sociais e o reforço do voluntariado, entre outros. Da parte da Antena e de acordo com o seu plano de actividades, o esforço é no sentido de ajudar as associações, promover a formação e capacitação dos seus membros e realizar intercâmbios para troca de informações e experiências. Mas o ano de 2010 tem como principal desafio fazer a divulgação do Código de Ética das ONG. Para Cristiano Silva, este é um instrumento que vai permitir às associações melhorarem o seu desempenho e trabalharem com transparência e credibilidade, devendo, para isso, investir, também, no reforço institucional.


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Fonte Aleixo

Avançar para a Frente soma e segue Juntando o nome Avançar para a Frente ao lema “soma e segue”, fica-se com a ideia da dinâmica da Associação local de Fonte Aleixo, que acaba de lançar a primeira pedra para a construção de uma padaria comunitária. O presidente Cristiano Silva garante que vai criar alguns postos de trabalho.

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rçada em sete mil e 800 contos, esta padaria é fruto de uma parceria com a Câmara Municipal de Santa Catarina através do Projecto de Desenvolvimento Integrado do concelho, que conta com o financiamento da União Europeia, e a Comissão Regional de Parceiros. A obra deverá ser brevemente concluída. Mesmo ao lado da padaria, vai nascer um segundo grande projecto: um centro multi-uso, onde se prevêem a sede da Avançar para a Frente, salas de conferências, espaços para velhos e actividades recreativas e culturais, entre outras. Neste momento, o grande desafio é encontrar financiamento para esta infra-estrutura, estando a Associação já com olhos na ADF (Fundo para o Desenvolvimento de África).

Com 74 membros, a Avançar para a Frente tem como realizações o contributo para o desenvolvimento da comunidade de Fonte Aleixo. Aposta em criar hábitos de associativismo e da participação das pessoas na busca de soluções para as suas vidas. A Associação tem investido na reabilitação das habitações degradadas e na ligação domiciliária de água e colaborado na elaboração de projectos para o desenvolvimento da zona. Um eixo forte da sua acção é a educação e a formação, estando a apoiar dois estudantes universitários na Praia e alunos do Ensino Secundário, tanto público como privado. Em termos de obras, a Associação já trabalhou na protecção de muros, delimitação de zonas agrícolas das de pastorícia e preservação ambiental.

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Estrela do Milénio

precisa de parceiros e parcerias A Associação Estrela do Milénio, de Cova Figueira tem, desde 4 de Abril, uma nova direcção chefiada por Gaspar Fontes, que era presidente do Conselho Fiscal no mandato anterior. Afirma ter como objectivos principais continuar o trabalho que vinha sendo feito, reorganizar e consolidar a Associação, formar e capacitar os sócios e investir em novas parcerias e parceiros.

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riada em 1995, mas redinamizada em 2001, a Estrelas do Milénio conta, hoje, com 65 membros e tem uma sede própria, feito com os fundos de contrapartida da Associação. Orçada em mais de mil e 250 contos, a sua construção contou, igualmente, com o voluntariado dos seus membros que, ao trabalharem, recebem uma semana e a outra fica para a Associação como contribuição. Para além das actividades da Associação, na sede funcionam as aulas da alfabetização, à tarde. Já receCaminhar • Julho 2010

beu programas com velhos e os jovens desenvolvem aqui actividades recreativas. O desejo é ter luz eléctrica, que vai acontecer após a legalização do terreno que foi doado à Associação pela Câmara Municipal. BENEFICIAR AS POPULAÇÕES A Estrelas do Milénio tem intervido em várias áreas com destaque para a construção de diques, reservatórios e cisternas que beneficiaram os criadores, plantação de árvores, apoio social para a habitação social e construção de casas de banho e rede de água. Tem apoiado, igualmente, pescadores e pessoas em caso de doença e morte. Neste momento, não tem muitos fundos, mas espera receber da OAF uma dívida de 872 contos por obras realizadas pela Associação, da qual uma primeira parte já tinha sido saldada em 2007. Paralelamente, a Estrelas do Milénio vai continuar a empenhar-se para conseguir mais parcerias de modo a arranjar recursos para continuar a ajudar na melhoria das condições de vida das pessoas da sua localidade, com prioridade para a habitação social, ligação domiciliária de água e construção de reservatórios comunitários.


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Cabeça Fundão

ADCCF goza de boa saúde O diagnóstico é do presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário de Cabeça Fundão, ADCCF, Nicolau Centeio, certo de que os financiamentos conseguidos, que não são muitos, foram aproveitados e bem para a melhoria das condições de vida nessa localidade.

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sses recursos destinaram-se à reflorestação das áreas protegidas com plantas endémicas e florestais, à caprinocultura e à acção social, traduzida em construção de moradias sociais, vias de acesso e casas de banho. Paralelamente, confirmou Nicolau Centeio, há outros projectos em curso, designadamente a construção de quatro casas de banho em fase final, com o financiamento da Comissão Regional de Parceiros. Fez saber, neste particular, que a CRP-Fogo, juntamente com o Ministério da Agricultura, a Câmara Municipal de Santa Catarina, o Parque Natural do Fogo e o Governo, de forma indirecta, através, por exemplo do PRNF, Projecto dos Recursos Naturais do Fogo, têm sido os principais parceiros da Associação. Graças a esse esforço, a ADCCF, nos últimos anos, já construiu entre oito a 10 cisternas familiares, currais, reservatórios de 200 m3, muros de protecção e queijaria, para além de ter investido na criação de gado caprino. Todavia, a maior marca da Associação está na melhoria das condições sociais dos moradores, conseguida com a beneficiação das casas, construção de casas de banho e cisternas e de acessos. DESAFIOS PARA 2010 Para 2010, o maior desafio, garantiu Nicolau Centeio, é fazer a cobertura das áreas degradadas com a fixação de plantas endémicas.

Em conjunto com o Parque Natural do Fogo, já foi enviado um projecto de cerca de dois mil contos ao Programa de Pequenas Subvenções do Fundo Monetário para o Ambiente, que tem como objectivo, durante seis meses, plantar cinco mil pés de língua de vaca, tortolho, losna e lantisco. Para além de contemplar as áreas degradadas, este projecto prevê, igualmente, a reabilitação do espaço de exploração de jorra e a sua cobertura. Paralelamente, a Associação, criada em Junho de 1996, vai investir na sensibilização e capacitação dos seus 40 membros, com destaque para os jovens que são a maioria, sendo o presidente Nicolau Centeio, com 25 anos e com formação em comunicação social, o seu membro mais jovem, ao substituir o próprio pai nessas funções. Curiosamente, mora com a família em Achada Furna e trabalha no jornal A Semana, em São Filipe. A sua grande ambição é que Cabeça Fundão, que é uma das localidades mais pobres de Cabo Verde, atinja um maior nível de desenvolvimento e melhores condições de vida para todos. Basta dizer que foi só este ano que as suas crianças puderam beneficiar da 5ª e 6ª classes, graças a uma sala disponibilizada pela Associação na sua sede para o efeito. O mesmo foi feito em relação à Câmara Municipal para o funcionamento de um jardim infantil local e à igreja a quem também foi cedido um espaço.

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Chã das Caldeiras

Um projecto que orgulha Numa das mais belas localidades de todo o país, a Associação dos Agricultores de Chã das Caldeiras constitui o orgulho de todos os seus membros e dos 1.200 habitantes de Portela a Bangaeira. Criou a Cooperativa de Transformação dos Produtos Agro-Pecuários de Chã das Caldeiras, AGROCOOP, que transforma as uvas locais nos famosos vinhos nacionais da marca Chã

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ara o presidente do Conselho de Direcção da Associação de Agricultores de Chã das Caldeiras, Rosandro Pires Monteiro, melhorar a vida dos moradores da comunidade constitui o objectivo que move os seus membros desde 1998. A Associação tem trabalhado em projectos de correcção torrencial e conservação de solos, a par do investimento que vem sendo feito no fomento do turismo rural e turismo ecológico. Gere o espaço Sírio/Antarius, que oferece os serviços de bed and breakfast (pensão e restaurante), de onde tira parte do dinheiro para os projectos sociais da Associação, concretamente nos domínios da educação e saúde, apoiando crianças, velhos e pessoas com necessidade na comparticipação nos custos de saúde e compra de água. A adega de vinho onde se produz o famoso vinho da marca Chã é outra propriedade da Associação, que, como não tem fins lucrativos, fundou, em 2006, a AGROCOOP CHÃ, Cooperativa de Transformação dos Produtos Agro-Pecuários de Chã das Caldei-

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ras, que, nos últimos 12 anos, tem contado com o apoio e assistência técnica da ONG italiana COSPE, incluindo formação em línguas e atendimento. Mais de 15 mil contos já foram investidos, até agora, nesta adega, que dá emprego fixo a seis pessoas e, pontualmente, a 20 trabalhadores, sobretudo mulheres, diariamente para o engarrafamento, verificação, etiquetagem, descascação, etc. Ganham 500 escudos por dia, mas têm direito ao pequeno-almoço e almoço. A MARCA CHÃ Vinhos tinto, branco, rosé e pacito, digestivo de ervas medicinais, aguardente de casca de uva e licores de romã são os produtos da adega que não chegam para as demandas cada vez mais crescentes. Não há para vender, confessa o presidente, explicando que Praia, Sal, Boa Vista e São Vicente têm sido os principais mercados nacionais. Em média, seis a oito mil garrafas saem por mês.


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COM OLHOS NO FUTURO

Cabo Verde Todos os 108 sócios da Cooperativa, que o são, também, da Associação, alimentam a adega com as uvas que tiram dos cerca de dois mil e 480 hectares de terra que exploram em regime de posse útil. O quilo de uva é vendido pelos cooperadores a um preço de 120 escudos, mas cada um recebe mais 80 escudos por quilo, que é o lucro a quem tem direito. Todo o património físico existente é propriedade da Associação, que recebe 5% dos lucros anuais pela sua utilização. Parte desses recursos mais os provenientes da exploração do Sirio/Antarius permitem à Associação fazer a sua acção social. PRIORIDADE À ÁGUA De acordo com Rosandro Monteiro, neste momento, a Cooperativa está a tentar aproveitar esta experiência com uvas para a transformação de outras frutas como maçã, marmelo, figo, etc., fazendo compotas, doces e secagem. O projecto já está pronto e vem sendo apresentado a alguns financiadores. Da parte da Associação, a planta está feita e 800 m2 de terreno já foram comprados a um dos sócios por um preço simbólico de 100 contos. Por tudo isso, acredita que tem valido a pena estar, desde 2008, à frente da Associação, que tem ajudado a comunidade e os seus moradores com a construção de cisternas familiares e comunitárias. E como a maior prioridade de Chã de Caldeiras é a água, fornecida por autotanques e pelas cisternas alimentadas pelas chuvas, a construção de um furo de captação de água é a ambição deste jovem de 31 anos que espera ter o apoio do Ministério da Agricultura ou de outro parceiro nessa empreitada importante para a sua localidade.

A cooperação com a ONG italiana COSPE parece ser uma das razões do grande sucesso da Associação de Agricultores de Chã das Caldeiras. Rosandro Monteiro qualifica de “extremamente positiva” essa parceria graças à qual foi possível construir a adega de vinho e ele próprio e outros colegas foram fazer várias formações na Itália na área de vinhos. A participação, no primeiro ano, com o vinho Chã, nas feiras internacionais Slow Food, em Turino, onde estão representados mais 160 países do mundo, e, no segundo ano, ao lado do queijo de Santo Antão, é mais uma amostra dos frutos muito positivos dessa cooperação. Nos próximos cinco anos, a Associação estabeleceu como meta a criação de uma sala do saber para crianças, jovens e adultos, onde haverá actividades culturais, artísticas e lúdicas para ajudar o crescimento saudável dos mais pequenos, ao mesmo tempo que haverá sala para o atendimento de mulheres, sobretudo para as mulheres vítimas de violência doméstica. O projecto que dará corpo a essas perspectivas está a ser elaborado juntamente com a COSPE e, até o final do ano, deverá ser apresentado a potenciais financiadores. Neste momento, todo o esforço está concentrado na criação de uma certificação dos produtos agrícolas que, ao garantir que os mesmos tenham um certo standart de qualidade, poderão receber um selo de qualidade. O mesmo processo deverá ser desenvolvido em relação ao turismo para que todas as famílias que recebem turistas possam responder às condições mínimas de qualidade: casas de banho, quartos arejados e com janelas, etc. Paralelamente, está-se a fazer todo um investimento para a DOV (denominação de origem voluntária) para vinhos. O objectivo é que os vinhos do Fogo sejam denominados como tal, por terem algumas características: o sistema de plantação das videiras no sequeiro, as castas têm de ser autóctones da ilha e ser cultivadas a uma certa altitude e sem recorrer à fertilização química, etc.

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OAZA em busca da

sustentabilidade dos membros A Organização das Associação das Zonas Altas do Fogo, OAZA, existe desde 1997 e nela estão filiadas seis associações: de Cabeça Fundão, Montinho, Cabeça Monte, Monte Grande, Inhuco e Ribeira Filipe. O presidente Manuel da Luz Alves, (foto, à esquerda) avalia positivamente a sua acção na construção da sustentabilidade de todas as organizações-membro.

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odas essas associações têm por objectivo contribuir para o desenvolvimento comunitário. Com a criação da OAF (Organização das Associações do Fogo), a OAZA concentrouse em acções de assistência técnica para uma gestão sustentada das suas associações-membro. Como benefícios directos, Manuel da Luz Alves espera promover a imagem dessas organizações locais e criar rendimentos para as famílias. Independentemente do número de reuniões, a OAZA desenvolve actividades que permitam aos seus membros ter condições de sobreviver e ser perenes e, também, para que se sintam apoiados nas suas necessidades. ASSOCIAÇÕES COM CREDIBILIDADE A Associação de Montinho é a mais consolidada de todo o grupo. Neste momento, tem mais de 40 mil pés de videiras, cerca de metade das quais já estão em produção. Produz cerca de sete mil litros de vinho por ano, além das frutas que vende. Tem sede própria e as suas receitas anuais líquidas ascendem a quatro, cinco mil contos, o que, para o presidente da OAZA, a transforma numa pequena empresa. A Associação é também proprietária de um campo florestal só de grevilha com aproximadamente três hectares. A Associação de Cabeça Fundão também possui um campo de videira que já produz algum rendimento por ano, a par de outras actividades que realiza como subempreiteira de obras. Lamenta, todavia, a saída da ACDI-VOCA e a própria crise por que passam as organizações comunitárias a braços com a falta de recursos para os seus projectos. Monte Grande, na sua óptica, é também uma associação muito dinâmica e tem trabalhado bem. Tem feito mais obras a nível de contratos-programa com a Câmara local e com o Governo, no âmbito dos quais construiu, ao longo dos anos, várias cisternas públicas, estradas e outras infra-estruturas. Caminhar • Julho 2010

No caso das Associações de Inhuco e Cabeça do Monte, têm também a sua assinatura em obras de ligação domiciliária de água e construção de casas de banho, em co-participação com a Câmara Municipal. ESTUDO VOCACIONAL A OAZA tem, desde 1999, uma fábrica de produção de ração, feita com um financiamento de quase dois mil contos da CRP, mas que, actualmente, está alugada a um particular com capacidade técnica para isso. O dinheiro da renda ou parte dele vai ser utilizado para a realização, ainda este ano, de um estudo para a determinação da vocação exacta de cada associação da OAZA. No entender de Manuel da Luz Alves, isso se deve ao facto de duas das suas associações estarem mais preparadas para a vinicultura, outra para a pecuária e outra para o acolhimento turístico. Todas as associações membro da OAZA têm sede própria e mais algum património imóvel, como é o caso da fábrica que é comum, têm uma padaria e já estão a pensar num alambique em Chã das Caldeiras. A OAZA pensa, ainda, criar uma agência de prestação de serviços turísticos, em que as associações contribuiriam com quartos de passagem, nas suas sedes principalmente, mas geridas por pessoas com capacidade. O alargamento da organização a outras associações das zonas altas, designadamente de Cutelo Capado, Curral Grande e Estância Roque, entre outras, está previsto para os tempos vindouros. Com a perspectiva do estudo para a definição da vocação dos seus associados, há que redesenhar a própria OAZA para poder estar à altura dos desafios que essa definição trará, conclui Manuel da Luz Alves.


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Associação de Monte Vermelho

Diálogo e concertação são fundamentais O presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário de Monte Vermelho, Camilo Andrade, eleito em Agosto passado, está a braços com o descontentamento dos membros dos órgãos sociais. O destino dos fundos da Associação e a criação de uma associação funerária são duas questões que precisam de consenso por parte de todos.

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arante, entretanto, que as intervenções sociais vão ser a prioridade do seu mandato. Falta financiamento, é claro, mas, nos últimos meses, a Associação obteve financiamento do Ministério da Agricultura para a construção de dois currais. Neste momento, já assinou um contrato no valor de mil e 320 contos para a construção da estrada de acesso ao farol de Alcatraz. Nesta obra da Câmara, prevê a abertura de 30 postos de trabalho.

ASSOCIAÇÃO FUNERÁRIA A criação ou não de uma associação funerária é a questão que está a afastar o presidente dos restantes dirigentes da Associação. Em causa não estão os apoios que os membros e as pessoas da comunidade devem ter em caso de doença ou morte, mas como utilizar (e bem) os recursos que se destinam a essa actividade. De todo o modo, Camilo Andrade confirma que a questão está em discussão, mas que o apoio em si continua a existir. Outros apoios são também assegurados a famílias pobres, concretamente a estudantes com a ajuda da Câmara e do ICASE para o transporte escolar. Contudo, grandes são as necessidades em termos de habitação condigna, pelo que esta é uma preocupação da Associação agendada no plano de actividades para 2010 já entregue aos seus principais parceiros: Câmara Municipal e a CRP.

ADELTIN atenta às necessidades de Tinteira

A Associação Comunitária para o Desenvolvimento Local de Tinteira, ADELTIN, é a segunda organização local nesta comunidade. Criada em 13 de Março de 2009, tem por objectivo promover o desenvolvimento de Tinteira, priorizando as áreas da agricultura e pecuária, entre outras actividades. O presidente Maridilson Sequeira explica a necessidade da criação desta nova organização porque muitas pessoas achavam que a Associação já existente não demonstrava abertura suficiente para a participação das pessoas. Com 48 membros, a ADELTIN está a pensar em obter um alvará para poder concorrer a obras que possam garantir postos de trabalho a pessoas de Tinteira. Para isso, precisa de meios financeiros de que ainda não dispõe, mas, enquanto isso, já aprovou um plano de actividades que prevê a realização de campanhas de limpeza, limpeza da placa desportiva, da escola e dos jardins, assim como dos reservatórios de água. O seu maior sonho é ajudar no desenvolvimento de Tinteira. Caminhar • Julho 2010


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Dacabalaio/Roçadas

Reabilitação de casas tem sido prioridade Assim pensa o presidente da Associação dos Amigos de Dacabalaio/Roçadas, Raimundo Pires, cujas maiores obras são a reabilitação de 10 casas de famílias carenciadas de várias zonas, no valor global de dois mil contos conseguidos no âmbito da Operação Esperança.

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Associação, criada em 2000, também foi responsável pela reabilitação do bairro de Roçadas, construído em 1951, que custou três mil e 600 contos. Para isso, contou com o apoio do FIDA, da Câmara Municipal e da própria Associação que entrou com 360 contos. Ainda falta muito a fazer, porque há casas que precisam de obras, estão sem portas e com janelas por colocar. Desde os tempos do PL – 480, a Associação tem participado em obras de engenharia rural, construção de um troço de dois quilómetros de estrada, reservatórios, currais

comunitários, 19 cisternas familiares e 10 pocilgas para famílias pobres e plantação de árvores. Tendo como parceiros a Câmara local, o Ministério da Agricultura e a OAF, todo o excedente tem sido reinvestido a favor da Associação e dos seus membros. A maior aquisição foi uma viatura para o transporte de pessoas e materiais para as frentes de trabalho. MAIS INFRA-ESTRUTURAS A Associação é também quem gere o centro comunitário local, onde está a sede da mesma. Financiado pelo FIDA e pelo Governo, nesta infra-estrutura encontram-se a funcionar, igualmente, o jardim local e, até há pouco tempo, a Igreja Adventista do Sétimo Dia realizava aí o culto. De todo o modo, o centro está disponível para qualquer organização que precisar. Não tem luz, mas esta é fornecida da casa do presidente da Associação. No que resta deste ano, o plano de actividades contempla a continuação da reabilitação do bairro de Roçadas, apoio escolar para alunos vulneráveis, conservação de solos e construção de diques de retenção de água e de cisternas familiares.

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Bornefonden apoia AGR Com um tempo de vida de 15 anos em cada país, a ONG dinamarquesa Bornefonden já está no Fogo há cinco com o objectivo de ajudar a ilha (e o resto do país onde actua) a se desenvolver, através da educação e da promoção de actividades geradoras de rendimento, AGR.

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edro Fonseca, que é o responsável da organização no Fogo, confirma que a Bornefonden quer investir mais em formação e educação não só das crianças que beneficia em cada um dos seus centros nos três concelhos, mas também dos seus irmãos e pais. Eis a razão porque a Bornefonden está a apostar muito nas actividades geradoras de rendimento de modo a ajudar as famílias a se tornarem autosustentadas.

O crédito de grupo (cinco pessoas), que contempla actividades diferentes, sobe para 100 mil escudos e o sistema é dar 50 contos a uma primeira pessoa. Quando fizer a metade do reembolso, o segundo beneficiário terá direito a 25 contos e assim por diante. Um terceiro tipo de crédito é o de romaria que financia actividades individuais diferentes por altura das festas populares e todos os potenciais beneficiários recebem capacitação na área de micro-crédito. APOIO À COMUNIDADE

Pedro Fonseca e colaboradoras

Com base na filosofia ponham a mão que a Bornefonden ajuda, o desafio desta ONG é contribuir para a mudança de mentalidade das pessoas no sentido de assumirem as suas vidas e o micro-crédito tem sido uma das respostas. Existe o crédito individual de 25 mil escudos, normalmente usado para a compra e venda de produtos. Um mês é o período de graça e o reembolso faz-se em quatro meses no valor de 27.500$00, o que dá 1% de taxa de juro. Se tudo correr bem, há um segundo crédito individual de 50 contos e o reembolso é usado para beneficiar outras famílias.

Ao todo, em São Filipe, a Bornefonden apoia 598 crianças, em Cova Figueira 522 e nos Mosteiros mais ou menos 600. A ideia é aumentar o número de beneficiários. A nova estratégia deixou de apoiar apenas as crianças apadrinhadas para estender o apoio da Bornefonden à comunidade, contemplando outras famílias. O Conselho de Pais é quem identifica, na comunidade, as famílias carenciadas de apoio e depois os animadores vão conferir se estas reúnem os critérios exigidos pela Bornefonden: rendimento mensal inferior a 15 mil escudos, família numerosa, casa com carência e criança que não poderia estudar sem o apoio da organização.

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AJCAAPR Vida na comunidade de Relva mudou A Associação Juvenil Comunitária para o Apoio à Agricultura e Pecuária de Relva, AJCAAPR, foi criada em 2004 e conta, actualmente, com 89 membros. O presidente José Alberto Gonçalves Andrade apresenta como realizações do seu mandato a melhoria das condições de vida na localidade de Relva.

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om algumas bolsas de estudo conseguidas junto da CRP, no valor de 220 contos por ano, a Associação tem beneficiado estudantes da localidade que frequentam a Universidade Piaget na Praia. Com o financiamento da CRP, foi possível, ainda, construir três habitações sociais em Relva e mais quatro cisternas familiares. Da Bornefonden também recebeu um apoio de mil e 200 contos com os quais construiu um chafariz. Graças a outros parceiros, a Associação construiu um reservatório com capacidade para 200 m3 de água para apoiar os agricultores, na localidade de Baleia, também contemplada com mil e 500 metros de arretos para a conservação de solos e água. Os excedentes têm sido usados para apoiar pessoas em situação de doença na compra de medicamentos, evacuação e morte, bem como apoio escolar, pagamento de propinas, transporte escolar, etc. CASA SOCIAL E EMPREGO

Ao abrigo de um protocolo com a Associação Água para Viver, foram oferecidos à Associação 12 computadores com

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os quais são ministrados aulas de informática. O primeiro curso, que durou dois meses e meio, formou 20 jovens enquanto os estudantes já contam com a ligação Internet. Segundo José Alberto Andrade, o grande projecto é construir uma casa social, onde vai ficar a sede da Associação, e que funcione como um centro multiuso com serviços diversos: aconselhamento juvenil, actividades de sensibilização, atendimento médico e psicológico, entre outros. Outra preocupação da AJCAAPR é, de uma forma particular, dar algum apoio e assistência a jovens deportados e usuários de drogas, ao mesmo tempo que continuará com o seu trabalho de aconselhamento juvenil feito por um pastor nazareno, que se desloca à localidade duas vezes por semana. Com a atenção centrada também nos adultos, a Associação já assinou com a ADF (Fundo para o Desenvolvimento de África) um contrato para a construção de aviários. Três anos é o tempo que dura esse projecto no valor de 17 mil contos e que promete beneficiar directamente 50 pessoas, entre mães chefes de família com uma actividade geradora de rendimento e agricultores e criadores.


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Murro FM

Uma Associação jovem com obras de peso Protecção de solos e água, a par do desporto juvenil, têm sido as áreas de eleição da Associação Juvenil para o Desenvolvimento Comunitário de Murro FM, criada em Março de 2005. Nilton Pires, jornalista, funcionário dos Correios, mas também agricultor, é o seu presidente e fundador.

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ideia surgiu de um grupo de jovens mosteirenses de Murro, Fajãzinha, Sumbango e Canal unidos pela prática do futebol numa equipa chamada Murro. Na altura, também surgiu a rádio comunitária Murro FM e daí o nome da Associação que elegeu como seu objectivo ajudar a resolver alguns problemas com que as pessoas se deparavam nessas quatro localidades. A zona de Fajãzinha foi a primeira a receber uma obra da Associação Juvenil. Trata-se do dique de correcção torrencial construído, em 2007, com o apoio do Ministério da Agricultura e do MCA no valor de três mil contos em que a Associação foi subempreiteira da obra. Ainda no quadro do MCA, trabalhou no lançamento da tubagem para a rega gota-a-gota numa extensão de, aproximadamente, quatro quilómetros, de Fajãzinha a São Miguel, e também de um reservatório de água de 50 m3 na zona de Sumbango. Em finais de 2009, foram, ainda, construídas quatro casas de banho para famílias muito carenciadas nas zonas entre Murro e Fajãzinha, financiadas pela CRP.

Espera, igualmente, mobilizar outros parceiros que ajudem a Associação a realizar mais obras na localidade. Por agora, tem a receber mais de 400 contos do empreiteiro Moreno Furtado Construções e algum remanescente do Ministério da Agricultura por projectos já executados. Com esses recursos, a Murro FM pensa continuar a apoiar pessoas necessitadas, nomeadamente a nível da reabilitação de casas degradadas e também na construção de alguma habitação social, consoante for conseguindo financiamentos. A construção de casas de banho está também nos projectos da Associação, assim como a beneficiação da escola de Guincho, onde estudam alunos de quatro localidades, com uma vedação no espaço para recreio, uma placa desportiva e uma biblioteca. Cerca de 50% do financiamento desse projecto pode ser conseguido junto da Bornefonden, que já mostrou o seu engajamento para com a Murro FM. O resto fica por conseguir junto de outras instituições.

O desenvolvimento do futebol local foi uma das motivações de sempre da Murro FM, cuja equipa com o mesmo nome ainda funciona e dentro da Associação, que assegura alguma das suas despesas de equipamento, deslocação para participação em torneios, etc. A equipa juvenil Murro é o orgulho da Associação e da localidade. Há cerca de dois anos, tinha pensado em entrar na segunda divisão, uma meta que promete ser alcançada até o próximo ano.

MAIS PARCERIAS, MAIS RECURSOS Presentemente, o grande objectivo de Nilton Pires é reforçar a parceria da Murro FM com a Câmara Municipal dos Mosteiros, com quem tem contado desde 2005, altura em que a apoiou na requalificação do campo de futebol de sete na zona de Canal. Caminhar • Julho 2010


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Atalaia

Melhoria das condições de vida é palavra de ordem A Associação Comunitária de Atalaia tem por objectivo o desenvolvimento dessa comunidade, abarcando os sectores de agricultura, pecuária e pesca. O presidente Luciano Silva confirmou, igualmente, intervenções nas áreas de infra-estruturação comunitária e melhoria das condições de vida das populações.

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urante o ano em que está à frente dos destinos da Associação, as actividades mais importantes já realizadas no mandato de Luciano Silva têm a ver com a habitação social e a construção de cisternas familiares, apoiadas pelas CRP e a Câmara Municipal. Em 2010, espera continuar a intervir na habitação social e construção de casas de banho. Para além da conservação de solos e água, a Associação dedicou-se à plantação de mil plantas fruteiras que beneficiarão 12 famílias dentre as quais quatro chefiadas por mulher. Ainda este ano, deverá ter início a construção de um centro comunitário, com o apoio da Câmara, da CRP e de uma ONG luxemburguesa, devendo a comunidade entrar com mão-de-obra e algum material. Apesar disso, acha que a participação dos 83 membros tem diminuído na Associação Comunitária de Atalaia. Como razões dessa situação, Luciano Silva aponta o enfraquecimento do espírito de associativismo e um individualismo crescente. A mudança de atitude e comportamento é uma área que vai merecer a atenção para que

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as pessoas não continuem a ver Associação para efeitos de conseguir emprego. MOBILIZAÇÃO DE PARCERIAIS Neste momento, a Associação está a construir um troço de estrada de penetração dentro de Atalaia, uma obra da Câmara Municipal que vem garantindo emprego a 45 pessoas até a faina agrícola. Para mais realizações serem realidade em Atalaia, a sua Associação precisa de mais parceiros e mais recursos. O presidente Luciano Silva pretende consolidar o relacionamento com a Câmara local, a CRP e o Ministério da Agricultura, que, no ano de 2009, financiou dois pequenos projectos de adução de água. Junto da ADF (Fundo para o Desenvolvimento de África), na Praia, tenta conseguir recursos para um projecto cuja execução deve basear-se na satisfação das necessidades locais, associando dois factores: a protecção do solo e a fixação de plantas fruteiras. Nas Nações Unidas, a Associação candidatou-se a um financiamento de cerca de 850 contos para a conservação de solos e água em Atalaia.


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Gira Lua

Um “recanto de tranquilidade” em Pai António É único em toda a ilha e a sua gestão está a cargo da Associação de Desenvolvimento Comunitário de Pai António, liderada por Rui Miguel Andrade. Esse recanto de tranquilidade e encanto, que é a Gira Lua, é um convite irrecusável ao relaxe e ao prazer na encantadora paisagem de Pai António.

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Associação assumiu a sua gestão a 1 de Novembro de 2009 e tem sido a responsável pela oferta de um serviço tanto a turistas quanto a nacionais, emigrantes sobretudo, que queiram desfrutar da grande beleza de Pai António e dos Mosteiros, a caminho, muitas vezes, de Chã das Caldeiras. Custou cerca de sete mil contos e é uma construção de dois pisos, com dois quartos, casas de banho, um bar, uma sala, uma cozinha e um escritório. A CRP foi responsável pelo financiamento da Gira Lua, que contou, também, com a parceria da Câmara dos Mosteiros e da Associação Comunitária de Pai António, que contribuiu com mão-de-obra e materiais locais. Tem quatro trabalhadores, entre os quais um jovem gestor que vê com bons olhos a construção de mais quartos e a oferta de mais serviços para que os hóspedes possam ficar mais do que duas noites como, normalmente, acontece. Dezembro é a época de maior procura, mas sempre aparecem grupos e, para o presidente da Associação, o desenvolvimento do turismo de habitação é outra possibilidade que se abre para os habitantes de Pai António, que

podem vir a receber turistas nas suas casas ou nas residências de emigrantes, como já se fazia antes da existência da Gira Lua. DESAFIOS FUTUROS Esta Associação é também quem gere o polidesportivo da localidade. Desde há um ano, esta infra-estrutura tem recebido torneios interzonas e proporcionado momentos de lazer que movimentaram centenas de jovens. O desafio maior de Rui Miguel Andrade é contribuir, cada vez mais, para o desenvolvimento da localidade de Pai António, dando continuidade ao que vem fazendo, há anos. Destacou, neste particular, a construção de um reservatório de água, dois diques, arretos e plantação de árvores fruteiras feita com o apoio da ACDI-VOCA. Mais recentemente, graças ao financiamento do MCA, foi possível construir um dique em 2009. Já este ano, o Ministério da Agricultura proporcionou recursos para a adução de água. Com o apoio da Bornefonden espera vir a construir um macro chafariz, orçado em mil e 780 contos. A CRP é o parceiro que a ajudou na reabilitação de uma habitação degradada. O excedente dos projectos tem sido utilizado para ajudar pessoas e famílias, sobretudo em caso de doença e evacuação com passagem e estadia na Praia, para além de ter permitido arrecadar alguma reserva e comprar um carro Toyota Dyna para as obras de construção civil.

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Cutelo Alto

Uma “grande” Associação local Considerada uma das melhores organizações locais de todo o concelho dos Mosteiros, a Associação Comunitária de Desenvolvimento de Cutelo Alto, criada em 2001, tem a sua assinatura nas maiores realizações feitas nesta localidade.

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egundo o tesoureiro Licínio Rodrigues, a Associação tem realizado, ao longo dos últimos anos, alguns projectos que ajudaram a mudar a vida em Cutelo Alto: o reservatório de água, feito com o apoio da CRP, o aviário ou o jardim que a Câmara ajudou a construir. Destacou, igualmente, os diques, as muretas e socalcos construídos com o apoio da ACDI-VOCA, a calceta de mais de três quilómetros para Chã das Caldeiras e a plantação de árvores realizada com o apoio da COSPE, sem esquecer que a Bornefonden ajudou a construir duas casas de banho na escola local, em 2008. Orgulha-se pelas 10 casas sociais construídas de raiz ou beneficiadas em Cutelo Alto, no valor de oito mil contos, financiadas pela Operação Esperança, projecto com o qual a Associação trabalhou, nos últimos quatro anos, beneficiando mais de 170 pessoas de Relva a Atalaia. Neste ano, está, ainda, à espera de outros financiamentos para beneficiar mais pessoas realmente necessitadas. Enquanto isso, 2010 destaca-se pela construção de um reservatório de mil metros cúbicos e conservação de solos, com as parcerias do MCA e do Ministério da Agricultura, respectivamente. No PRNF, a Associação conseguiu recursos para a plantação de árvores fruteiras e a construção de uma estrada para Chã das Caldeiras, onde trabalhou com a COSPE na construção da adega de vinho. Caminhar • Julho 2010

MELHORAR A VIDA DAS PESSOAS Presentemente, a Associação participa no projecto de adução de água de Chupadeirão a Matinho, financiado pelo Ministério da Agricultura, empregando 12 pessoas durante dois meses. No âmbito do PRNF, está prevista a segunda fase do calcetamento de uma estrada, devendo dar trabalho a cerca de 380 pessoas. Todo o excedente tem-se revertido a favor da Associação e da localidade. Um Toyota Dyna foi comprado com esses recursos, assim como a antena parabólica local. Começou com a construção da sede, cujas obras já vão em mil e 200 contos, ao mesmo tempo que muitas pessoas tiveram apoio em caso de doença e morte. Os alunos beneficiam de apoio escolar e tanto os membros da Associação como os moradores de Cutelo Alto têm participado em intercâmbios para troca de experiência com outras localidades.


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22 anos em Cabo Verde A AMI, organização humanitária portuguesa que intervém em situação de crise e emergência, está, há mais de 20 anos, em Cabo Verde. Chegou ao Fogo com a última erupção vulcânica. Aqui, segundo o enfermeiro e chefe da Missão, Paulo José Alves Abreu, intervém nas áreas da saúde pública, assistência de enfermagem e educação para a saúde.

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AMI encontra-se em Cabo Verde desde 1988. Até 1995, a AMI percorreu o arquipélago, desenvolvendo a sua acção em ilhas como São Vicente e Santiago. O apoio prestado pela AMI na constituição da Escola de Enfermagem “Manuel Olímpio”, na cidade da Praia, com a qual a AMI continua a colaborar no fornecimento pontual de bens que esta necessita, é um dos exemplos. Segundo esse responsável, em 1995, a AMI aproxima a sua acção da ilha do Fogo devido à erupção vulcânica de 1 de Abril. Já em 1999, estabelece um novo protocolo com o Ministério da Saúde e desenvolve para a Ilha do Fogo um plano estratégico de intervenção com um primeiro projecto de prestação de cuidados de enfermagem. Desde essa altura a esta parte, a AMI tem desenvolvido a sua intervenção em áreas como a saúde pública, a assistência de enfermagem e a educação para a saúde. Considera, contudo, que 2005 foi um ano de mudança: a sua atenção focou-se mais especificamente na saúde escolar e saúde oral. O diagnóstico de saúde feito junto de jardins e escolas do EBI, leva a AMI a dirigir a sua intervenção para esta área, contribuindo não só para a formação de quadros, como para a própria implementação do actual programa nacional de saúde escolar (implementação da escovagem dos dentes em jardins de infância e escolas do EBI dos concelhos de São Filipe e Santa Catarina).  Ao fazer o balanço do apoio dessa organização humanitária a Cabo Verde, Paulo Abreu qualifica-o de “bastante positivo”, o que não pode certamente ser apenas visto de um dos lados, porquanto, como diz, “a avaliação feita pelos nossos parceiros e entidades locais com quem trabalhámos e pela própria população, é fundamental”. A par e passo com a formação de quadros locais, na área da saúde e da educação, a AMI manteve, por necessidade local, a prestação de cuidados de enfermagem à população em várias unidades e postos de saúde. Iniciou em Curral Grande, numa fase inicial, que rapidamente foi assumido por um enfermeiro local e passou para

Ponta Verde, onde após ter sido reabilitado e organizado o posto sanitário, este foi entregue à Delegacia de Saúde em Outubro de 2006, onde se encontram, até ao momento uma enfermeira, um agente sanitário e uma agente de limpeza. Seguiu-se a prestação de cuidados nas Unidades Sanitárias de Base de Campanas de Baixo, de Monte Grande e de Chã das Caldeiras. As duas primeiras têm já duas agentes de limpeza que vão ingressar o Curso de Formação para agentes sanitários que temos previsto para este ano. E a terceira, Chã das Caldeiras foi já entregue às autoridades locais, ficando sob a responsabilidade do Centro de Saúde de Santa Catarina do Fogo. A AMI colaborou na preparação do Programa Nacional de Saúde Escolar e tem sido executora da sua implementação, mesmo antes da sua aprovação em Conselho de Ministros em Junho de 2007. Em todos os jardins-de-infância dos concelhos de São Filipe e Santa Catarina foi já implementada e encontra-se em funcionamento a actividade de escovagem dos dentes. O mesmo sucede nos dois pólos do Ensino Básico Integrado que foram alvo do projecto-piloto de implementação da escovagem de dentes no EBI e de formação em saúde oral aos respectivos professores. São eles o Pólo de Patim, que integra as escolas de Patim e de Luzia Nunes, e o Pólo de Ponta Verde, que integra as escolas de Ponta Verde e Galinheiro. Proporcionou, em simultâneo, o rastreio de saúde oral e tratamento dentário a crianças da zona sul do concelho de São Filipe e do concelho de Santa Catarina, tendo a trabalhar consigo um dentista cabo-verdiano. Neste momento, a AMI está a preparar, juntamente com a Delegacia de Saúde de São Filipe, o arranque para a construção de um consultório de estomatologia, que ficará a funcionar no próprio hospital, e para onde está já destacado um médico dentista, pelo Ministério da Saúde. Muita coisa foi feita, defende Paulo Abreu, para quem essa intervenção não tem sido apenas vertical. “Tentamos sempre que seja transversal e, acima de tudo, continuada no tempo e sustentável após término de cada projecto”, conclui. Caminhar • Julho 2010


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Paulo Abreu

A AMIFogo beneficia A AMI Fogo está presente nos concelhos de São Filipe e de Santa Catarina, garantiu o chefe da Missão na ilha, Paulo José Alves Abreu, explicando que Mosteiros só beneficia indirectamente. A saúde é a sua área de eleição.

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o Fogo, quais são os concelhos e os beneficiários da acção da AMI?  A AMI tem intervenção nos concelhos de São Filipe e de Santa Catarina. Mosteiros não têm tido esse apoio directamente, mas, indirectamente, acaba por ser beneficiado. Os beneficiários são a população residente na ilha do Fogo, nomeadamente nos concelhos referidos. No entanto, se falarmos de beneficiários directos estes são nomeadamente técnicos de saúde, técnicos de educação, pais e encarregados de educação e as crianças que frequentam os estabelecimentos de ensino (sejam eles jardins ou escolas do EBI). Localmente encontram como parceiros os professores, sobretudo das escolas básicas. Os professores não são parceiros mas beneficiários da nossa intervenção. O projecto que a AMI executou durante o ano de 2009, com o financiamento do IPAD, denominado “Projecto de Saúde Escolar e Comunitária” tinha como objectivos a formação de professores, não de todos, mas dos que estivam integrados no curso de formação do Instituto Pedagógico (IP) na Praia. Como conteúdos programáticos faziam parte não só os temas relacionados com a saúde escolar, mas também os que dizem respeito às técnicas e estratégicas pedagógicas (a formação intitulava-se Competências Pedagógicas e Saúde Escolar”). Mas não foram só os professores do EBI que estavam integrados no IP que foram alvo da nossa intervenção. Os professores da disciplina de Formação Pessoal e Social (FPS) da Escola Secundária Dr. Teixeira de Sousa, em São Filipe, fizeram também uma formação

Caminhar • Julho 2010

de formadores, que contemplava não só temas como a sexualidade ou as IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), mas também o papel e perfil do formador e técnicas pedagógicas. É uma preocupação nossa a aquisição de conhecimentos pelos professores, mas também a forma como depois os conteúdos programáticos são passados aos alunos.   FORMAÇÃO DE AGENTES SANITÁRIOS O que se tem feito para a promoção e defesa da saúde? A AMI tem, neste momento, sob a sua responsabilidade a prestação de cuidados de enfermagem em duas USB (unidades sanitárias de base) nas localidades de Monte Grande e Campanas de Baixo.


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toda a ilha Integrada nas Jornadas para a Saúde 2010 e no plano de actividades da Delegacia de Saúde de São Filipe, a AMI tem desenvolvido, nas comunidades onde actua, a comemoração de dias relacionados com a saúde com palestras realizadas pela equipa juntamente com os agentes locais de saúde.

Quem são os financiadores deste projecto? A AMI conta como forte apoio e financiamento de entidades como o IPAD (Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento), a Câmara Municipal de Palmela, a Câmara Municipal de Viseu e os seus próprios fundos. 2009 deveria ser o último ano do projecto. Quais as perspectivas para 2010 e os anos vindouros? Olhando para trás penso que a resposta tem vindo a ser dada. Há, no entanto, que fazer um ponto da situação e um pequeno esclarecimento. A AMI tem uma missão humanitária em Cabo Verde e essa missão contempla um projecto, neste caso. Os nossos projectos têm um ciclo de um ano, um ano e meio, dependendo

do financiador, mas isso não quer especificamente dizer que, no ciclo de cada projecto, termina o trabalho e nada mais é feito. Muito pelo contrário. Em 10 anos, vários foram os projectos implementados e executados pela AMI em Cabo Verde. O projecto de 2009 foi mais um projecto que terminou o seu ciclo em Fevereiro deste ano. Na sua sequência, surge um novo projecto (o de 2010), cujo objectivo é desenvolver uma estratégia de saída das USB e deixar a parte assistencialista que tem estado presente nos nossos projectos. Isto é, com a formação prevista para os agentes sanitários (que no final da mesma terão conhecimentos e competências necessários para desenvolverem a sua actividade profissional junto da comunidade e da população) e com a formação a gestores e coordenadores do pré-escolar e EBI (sobre saúde escolar, monitorização e avaliação da mesma nas escolas e jardins) é esperado que todos estes actores e stakeholders consigam e se mantenham, de forma autónoma, independente e sustentável, a sua acção. A par disso, iremos manter a monitorização e avaliação da actividade de escovagem de dentes nos jardins-de-infância e nas escolas piloto, bem como a prestação de cuidados de enfermagem nas USB de Campanas de Baixo e Monte Grande até Dezembro de 2010. É esperado que, no final do ciclo de projecto, os intervenientes assumam em pleno e de forma autónoma as suas funções.

Caminhar • Julho 2010


Ao serviço das ONG e Associações Cabo-verdianas

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