2
Projeto Brasil Imperdível Proyecto Brasil Imperdible Must-see Brazil Project
Duplo Oficio Comunicação Editora Popcorn Comunicação e Marketing 1ª edição - Dezembro de 2010
1ª edición - Diciembre 2010 1st edition - December 2010
www.brasilimperdivel.tur.br
Coordenação Editorial Coordenación Editorial Editorial Coordination
Revisión Review
Revisão
Theatro José Alencar, Cantina do Faustino, Othon Palace, Hotel Praiano
Bruno Teixeira Márcio Godinho
Clara Arreguy
Direção de Criação
Fotografía Photography
Leo Sevaybricker
NITRO Imagens (Bruno Magalhães, João Marcos Rosa, Leo Drumond e Marcus Desimoni)
Cuiabá / Mato Grosso: Zoológico da UFMT, Casa do Artesão, Centro de Cultura de Poconé, Restaurante Regionalíssimo, Museu do Rio e Aquário Municipal, Museu Rondon, Museu da Caixa D’água Velha, Parque Nacional da Chapada dos Guimarães / Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Artur Keunecke, Secretaria Municipal de Cultura de Cuiabá, Mascarados de Poconé, Fernando Barros - Pousada Mangabal
Fotografia
Dirección Creativa Director of Production
Supervisão de Atendimento
Supervisión de Servicio al Cliente Supervision Service
Fred Albuquerque
Produção Producción Production
Mariana Freitas Projeto Gráfico e Diagramação Proyecto Gráfico y Diagramación Graphic Design and Layout
Du Albuquerque (Popcorn)
Apoio Administrativo Apoyo Administrativo Administrative Support
Arlete Santana Curadoria Literária Curaduría Literaria Literary Curatory
Mário Alex Rosa
Equipe de pesquisa e produção
Equipo de Investigación y Producción Research and Production Team
Curadoria Fotográfica
Camila Costa, Rute Faria, Mariana Garcia, Cássio Vieira, Filipe Alonso, Ana Paulino, Marcela Castro, Gisele Delage
Mana Coelho Agência Nitro
Agradecimentos
Textos
Ana Marta Carvalho Augusto Massi Célia Freire Clauir dos Santos Daniel Kaula Eduardo Maciel Fernando Silveira Guiomar de Grammont Heloisa Buarque de Holanda Janete Lopes José Luiz Ratton Jr. José Miguel Wisnik Luiz Tatit Marcelo Pianetti Márcio Vieira Renata Todescato Sérgio Aspahan Tânia Amaral Tharley de Barros
Curaduría Fotográfica Photographic Curatory
Textos Texts
Alice Ruiz Armando Freitas Filho Capinan Fagner Joca Reiners Terron Márcio Borges Milton Hatoum Ná Ozzetti Nicolas Behr Roberta Sá Ronaldo Correia de Brito Vitor Ramil Tradução para o Inglês Traducción para el Inglés Translation into English
Malu Godinho Oliveira Tradução para o Espanhol Traducción para el Español Translation into Spanish
Maria Soledad Molina Chavez
Agradecimientos Acknowledgements
Fortaleza: Barraca Crocobeach, Museu do Ceará, Mercado Central, Centro Cultural Dragão do Mar, Centro de Turismo,
Natal: Centro de Turismo, Associação das Labirinteiras de Campo de Santana, Pousada Toca da Coruja, Restaurante Oca da Toca, Forte dos Reis Magos, Palácio Potengi, Mauro e Quênia, Alexandre e Valeria Curitiba: Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Curitiba / Kasumi, Jardim Botânico, Mercado Municipal, Teatro Ópera de Arame, Teatro Guaíra, Torre Panorâmica / Oi, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Restaurante Guiga Porto Alegre: Vinícola Zanrosso, Chatêau Lacave, Usina do Gasômetro, Restaurante Roda de Carreta, Fundação Iberê Camargo, Museu de Ciencia e Tecnologia da PUC RS, Mercado Público, Parque Nacional Aparados da Serra / Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Restaurante Panevino
Contatos / Contactos / Contacts Duplo Ofício Rua João Gualberto Filho 1402/04 Sagrada Família BH/MG 55 31 3283.4469 www.duploofic.com.br Popcorn Rua Germano Torres, 20 Carmo BH/MG 55 31 2551.1580 www.popcorn.com.br
Manaus AMAZONAS Fortaleza CEARÁ
Natal RIO GRANDE DO NORTE
Recife PERNAMBUCO
Salvador BAHIA
Cuiabá MATO GROSSO
Brasília Distrito Federal
Belo Horizonte MINAS GERAIS
Rio de Janeiro RIO DE JANEIRO São Paulo SÃO PAULO
Curitiba PARANÁ
Porto Alegre RIO GRANDE DO SUL
Capital ESTADO Capital ESTADO Capital STATE
Estas são as doze cidades onde serão realizados os jogos da Copa 2014. Por sua diversidade e beleza, representam uma síntese desse país imperdível. Estas son las doce ciudades donde serán los juegos de la Copa 2014. Por su diversidad y belleza, representan una síntesis de este país imperdible. These are the twelve cities where the 2014 World Cup games will be held. For their diversity and beauty, they represent a synthesis of this must-see country.
15
curitiba
64
fortaleza
80
por Milton Hatoum
cuiabá
48
por Fagner
32
por Alice Ruiz
brasília
belo horizonte
16
por Joca Reiners Terron
por Nicolas Behr
por Márcio Borges
96
manaus
SUMÁRIO
por NĂĄ Ozzetti
recife
rio de janeiro
160
por Capinan
porto alegre 144
por Armando Freitas Filho
natal 128
por Ronaldo Correia de Brito
por Vitor Ramil
por Roberta SĂĄ
112
sĂŁo paulo
salvador
176
192
16
Igreja SĂŁo Francisco de Assis, Pampulha
17 brasil imperd Ă vel
Belo Horizonte MEGALÓPOLE DA PROVÍNCIA DAS MINAS
Márcio Borges Quem chegar aqui vai ser bem recebido com a nossa proverbial hospitalidade e sem-cerimônia. Mas também não precisa fazer como o cantor de axé baiano que chegou na primeira noite e bradou para o Mineirão superlotado de belorizontinos que gostam dessas coisas: “Boa noite, Beó!”. B.O!!! Se eu não me lembrasse daquele miúdo crítico da inexorável transformação da paisagem urbana, que era eu mesmo, essa santa “inguinorânssia” teria me assustado ainda mais do que meu primeiro grande choque de cidadania, que foi a derrubada dos fícus da Avenida Afonso Pena para dar lugar aos automóveis e tróleibus, árvores imensas que povoaram as infâncias belorizontinas dos anos 50 e 60 com sonhos vergéis e verdadeiros ecossistemas florestais, em pleno centro da cidade de Belo Horizonte. Hoje, as árvores que cresceram depois não são tão monumentais como as daqueles tempos, mas estão lá de novo e isso foi muito bom para a Avenida, como chamamos a Afonso Pena na nossa intimidade. Há muitos anos ela ganhou não só essas árvores, mas também uma variada Feira de Artesanato, que agita o centro da cidade todos os domingos. Um formigueiro de gente desfila entre barracas de iguarias mineiras, trombando em baianas vestidas a caráter que vendem seus acarajés, estátuas vivas pedindo um trocado, esculturas à venda em todos os suportes, pedra-sabão, madeira, arame, brinquedos, telas de pintura, roupas, móveis, pratarias, fazendas e rendas, ervas medicinais, instrumentos musicais, pilhas e eletrônicos. O movimento se espalha pelo Parque Municipal adentro. O laguinho sobrecruzado por pontezinhas curvas, o coreto art-nouveau, os barquinhos a remo, o parque de brinquedos e as árvores seculares dão prazer visual, diversão e sombra a quem procura esse tão democrático e acessível refúgio, a dois passos de uma muvuca difícil de se imaginar para além daquela espessa paliçada de verdes e águas.
B elo H ori z onte 18
Mercado Central
Produção artesanal de queijo canastra
Feij達o tropeiro
28
Memorial JK
33
Brasília
Nicolas Behr
A cidade se descola do chão e alça voo. Cidade alada, construída para a admiração do céu. Aqui vamos nós para te decifrar. Comecemos do alto, pela Torre de TV, a vista espetacular da cidade-que-um-diafoi ideia. Lá embaixo, a feira, gentes, trocas, olhares. Lembranças de Brasília. Na direção da Praça dos Três Poderes logo avistamos uma fonte, luminosa, líquida. Umidade no ar. Depois, mais olhares, pernas apressadas. Quem chega e quem vai para as cidades-satélites passa por aqui. Ponto de encontro. Motores. Eixo contra eixo. Rodoviária de Brasília. Obra genial de Lucio Costa. A nossa frente: gramados, extensos gramados, palácios e monumentos. A Biblioteca Nacional e o Museu da Republica. O gênio de Niemeyer por toda parte. Curvas e sombras na cidade-luz. Inquieta arquitetura. Linhas retas, arrojadas. A Catedral, obra-prima do mestre, mãos em prece. Que Deus perdoe tanta beleza e ousadia. Entramos. Rezar é te admirar. Voltamos. O túnel é escuro, passagem. Os evangelistas de bronze e fé nos observam. Taciturnos. Avistamos os ministérios, a postos, burocráticos, em fila. Sequência lógica e racional. As árvores escondem os ângulos, esverdeando a linha reta. Chegamos ao Palácio dos Arcos. Dos jardins de Burle Marx. Da escultura Meteoro. Palácio do Itamaraty que a água sustenta. Leveza. Do lado oposto, Palácio da Justiça. Mais água em bicas derramando cascatas. Chegamos ao centro, ao ápice, ao cerne, ao miolo. Cérebro das decisões nacionais. Praça de Todos os Poderes. Plaza mayor. Troca da bandeira, mastro. Panteão da Pátria. Palácio do Planalto, Congresso Nacional. A chama da Pátria. Museu modernista a céu aberto. Depois cerrado aberto. Depois das árvores tortas, chegamos à joia preciosa: Palácio da Alvorada. Alvorada de um novo Brasil, disse JK. As colunas inspiradas nas redes das varandas coloniais. Colunas modernas, gregas. Admiração universal. Sobrevoamos o Lago Paranoá. Nosso ar-condicionado. O lago emoldurando tua alma, cidade traçada no ar. Barquinhos, garças, biguás e biguatingas. Ermida Dom Bosco, profético ponto branco sobre o paralelo 15. Sentinela da paz. Ponte JK. Branca. Solar. Belíssima.
bras í lia 34
41
Catedral de BrasĂlia
42
Parque Mรฃe Bonifรกcia 49
cuiabá Joca Reiners Terron Convidar desconhecidos à nossa cidade natal é quase um convite a um lugar extinto. Para ser possível, porém, essa viagem ideal ao passado deveria compreender turismos extraviados à terra molhada debaixo da sombra das mangueiras imensas que só existem na infância ou então pés descalços enfiados na areia branca das margens de rios que não mais existem. No princípio dessas manhãs de ontem, tragar a fumacinha desprendida pelas águas mais quentes que o ar é a única forma de interromper o fluxo do rio e de congelar o tempo. E de repente ouvir de novo a voz grossa do capitão do barco desejando boasvindas ao porto de Cuiabá. Não deve existir céu mais amplo do que o céu acima do Planalto Central. Isso pode fazer crer que o restante da paisagem, cerca de 30% daquilo que está diante dos olhos dos incrédulos, não lhe faça frente. Mas é uma falsa impressão. Não à toa Cuiabá ficou conhecida como Cidade Verde: uma vastidão de mangueiras e de palmeiras das mais variadas espécies cobre a cidade, e as raízes das árvores se libertam do asfalto, invadindo o tráfego. Por aqui, o concreto urbano nunca esquecerá aquilo que o antecedeu, pois a natureza sempre se lembrará de trazer seus pequis e bocaiuvas. Em Cuiabá o cerrado bate à porta, e isso não chega a ser exagero, graças à profusão de parques como o Mãe Bonifácia, Massairo Okamura e Zé Boloflô, além do Horto Florestal. Cuiabá, como o casario do centro histórico sugere, não é nenhuma noviça: nasceu em 1719 em meio à febre do ouro dos bandeirantes paulistas. Verde e dourado deveriam estar em suas insígnias, mas não estão: o que impera nessa capital quente é mesmo o rubro da temperatura e da simpatia, contrastado ao azul do céu de Mato Grosso. O Rio Cuiabá que a nomeia e cujo leito foi via de sua descoberta é também um de seus maiores atrativos. Voltada para esse afluente do Rio Paraguai e atravessada por 16 outros c u iab á 50
Bosque Alem達o
65
curitiba MINHA NOSSA CURITIBA
Alice Ruiz Alguns poetas, romancistas e cronistas escrevem, com a maior facilidade, livros inteiros sobre suas cidades. Mesmo tendo morado duas vezes no Rio de Janeiro e três em São Paulo, a maior parte da minha vida, até aqui, foi em Curitiba, cidade onde nasci. E a cidade mãe concentra muitas cidades em si mesma. A real, que se transforma com o passar do tempo. A imaginária, idealizada, e a emocional, que se transforma de acordo com as lembranças que nos assaltam. Essa é como se fosse assombrada por nós mesmos. E por nossa história. Eu, até agora, escrevi apenas duas letras de canção para Curitiba. Uma fotográfica e outra para a Praça Espanha, por corresponder à minha metade materna. E alguns haikais que quase serviriam para qualquer cidade. Quando me convidaram, há tempos atrás, para escrever uma prosa sobre Curitiba, escrevi sobre a impossibilidade (ou impropriedade) de escrever sobre nossa própria cidade. Desafio que enfrento agora, tentando, em vão, ser impessoal. Para mim, não é fácil. É como ter que tirar das vísceras. E lá, bem visceralmente, encontro minha Curitiba de infância. Ela me parece cinza.
c u ritiba 66
‘
Mas Curitiba é, principalmente, verde. Seus parques são as suas praias.
’
“Pero Curitiba es, principalmente, verde. Sus parques son sus playas.” “But Curitiba is mainly green. Its parks are its beaches.”
75
76
Jardim Bot창nico
Praia de Mucuripe
81
fortaleza Fagner Velas brancas do mar vão surgindo Com as primeiras estrelas do céu Onde o verde da tarde é mais lindo E o azul só precisa de Deus Se essa cidade é meu mundo Mucuripe, jamais foste meu Me envolveu teu encanto profundo Qual jangada que o vento esqueceu Mas quando eu canto a beleza Que ainda iremos fazer Sem desprezar a riqueza Fortaleza, eu só penso em você Eu só quero dizer Que a cidade é a luz Que ilumina os meninos risonhos Além da imaginação Te levo em meu coração (“Fortaleza”, de Raimundo Fagner e Fausto Nilo, gravada por Fagner no CD “Fortaleza”, em 2007)
fortale z a
82
Estรกtua de Iracema 93
Caranqueijada, prato tĂpico
Ponte dos Ingleses
94
Macaco Bugio
97
manaus Milton Hatoum Situada à margem esquerda do Rio Negro, Manaus é uma cidade fluvial de confluência, a 20km do Rio Solimões e assentada sobre a área ribeirinha de um sistema de colinas suaves. Em 1669, os colonizadores portugueses fundaram o Forte de São José do Rio Negro, que deu origem à futura capital do Amazonas. Os índios Manaus ocupavam as duas margens do baixo Rio Negro e formavam o grupo étnico mais importante da área de influência do Forte. Até a década de 1860 - quando o látex extraído das seringueiras amazônicas foi decisivo para financiar a construção de uma cidade moderna -, Manaus conservou basicamente o mesmo aspecto da primeira metade do século XIX. O crescimento demográfico a partir de 1860 foi constante, mas não significativo, como seria na década de 1890. A exportação da “hevea brasiliensis” triplicou na década de 1860, e esse fato teve uma repercussão importante na atividade econômica regional, até então estagnada. Na virada do século XIX para o XX, Manaus tornou-se a segunda maior cidade brasileira da Amazônia e um dos maiores portos fluviais da América do Sul. De 1889 a 1915, sua população cresceu de 15 mil para 80 mil habitantes. O acanhado núcleo urbano deu lugar a uma cidade planejada, construída a partir de um projeto racional e pretensamente eficiente. A grande transformação da cidade ocorreu durante a administração do governador Eduardo Ribeiro (1892-1896) e foi ampliada por seus sucessores. Sistemas de abastecimento de água e captação de esgoto, telefonia, luz elétrica e linhas de bonde formavam a infraestrutura da nova cidade. Além do aterramento de alguns igarapés (que se tornaram vias públicas), construíram-se praças, pontes, dois grandes hospitais, residências suntuosas (como o palacete da família Scholz, atualmente um importante centro cultural) e edifícios públicos monumentais, como o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, a Alfândega, o Instituto Benjamin mana u s
98
Ponte de Todos
113
natal
Paixão vestida de sol Roberta Sá Alô, alô, viajante torcedor. Meu nome é Roberta Sá. Sou cantora, potiguar, radicada no Rio de Janeiro desde os nove anos de idade. Nasci em Natal, no Rio Grande do Norte, em 19 de dezembro de 1980. Em 2014 realizarei, junto com meus compatriotas, um sonho: ver a Copa do Mundo de Futebol, novamente, em solo brasileiro. É mesmo engraçado e gratificante saber que a minha cidade de origem também vai sediar os jogos de um dos maiores eventos desportivos do planeta. Isso porque, quando saí de lá, a cidade, assim como eu, era apenas uma menina. Não havia muitos edifícios, shoppings e cinemas, como hoje. Ainda mais se comparada às outras capitais do Nordeste, como Fortaleza ou Salvador. Lembro-me bem da minha mãe mandando buscar artigos mais sofisticados, como as vacinas para minha alergia a insetos, em Recife. Nos últimos 20 anos, Natal cresceu muito e rápido, a olhos vistos e bem vividos. E está pronta para aparecer. Entre uma partida e outra, há muito o que ver e fazer. O Rio Grande do Norte é dono de um litoral estonteante, repleto de praias e sol, que não acabam. A água morna do mar, a areia branca e fina e o calor do povo são nossos principais atrativos. É muita comida, bebida, festa, guisado e alegria. Somos anfitriões natos, e ai de você se não ficar para o cafezinho com bolo-de-rolo! São tantas iguarias que é melhor esquecer a dieta e cair deliciosamente de boca no queijo de manteiga, carne-de-sol (na nata é a melhor), paçoca no pilão e nos doces de fruta regionais. Para curtir, você pode ir para a Praia da Pipa, admirar os golfinhos; passear de barco nos arrecifes de Maracajaú; ou pegar uma prainha na Ponta Negra, com vista para o Morro do Careca, tomando um picolé Caicó. Outro programão é comer ginga (um peixinho que se come frito, com espinha e tudo) com tapioca natal
114
Lagoa de Jenipabu
117
‘
A água morna do mar, a areia branca e fina e o calor do povo são nossos principais atrativos.
’
“El agua tibia del mar, la arena blanca y fina y el calor del pueblo son nuestras principales atracciones.” “The warm water of the sea, the fine white sand and the warmth of the people are our main attractions.”
118
Usina do Gas么metro
129
porto alegre O CINZEIRO E O PAVÃO
Vitor Ramil “Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira”, escreveu o poeta na margem do Correio do Povo que mantinha dobrado sobre um canto da mesinha. A fumaça de seu cigarro espalhava-se pelo Café dos Cataventos, criando volutas sobre a cabeça do único outro frequentador do local àquela hora, um compositor, que, na mesa ao lado, bebericava sem pressa seu conhaque e escrevia em um guardanapo: “O teu lugar aqui na minha mesa. Tua cadeira ainda está vazia”. “Os fantasmas não fumam porque poderiam acabar fumando-se a si mesmos”, escreveu o poeta, observando o compositor enfumaçado e tentando conter o riso. O compositor, pressentindo a pilhéria, tirou uma caixa de fósforos do bolso e, batucando nela, entoou com voz suave: “Eu sabia que você um dia me procuraria em busca de paz. Muito remorso, muita saudade. Mas afinal o que é que lhe traz?”. O poeta provou o quindim que o esperava num pratinho, ao lado de um cafezinho recém-servido. Depois respondeu ao compositor: “Aquilo que nunca me deixou ir: Porto Alegre”. O compositor largou a caixa de fósforos sobre a mesa, tomou mais um gole de conhaque e disse: “Ir, voltar, ficar... É tudo a mesma coisa. Só me intriga o sumiço do meu pavão. O arco-íris terminava nele, era o pote de ouro do meu sítio na Cavalhada. Como pôde desaparecer assim, sem mais?”. “A mim intriga o sumiço de um cinzeiro que havia aqui ao lado, na recepção do Hotel Majestic”, disse o poeta. “Já procurei meu pavão por toda parte. Comecei pelas praias ao sul: Itapuã, Belém Novo, Ipanema, muita areia e água, belas sombras, muitas aves, quem sabe até outros pavões. Subi o Morro do Osso para ter uma visão do alto e aproveitei para indagar dos índios que vivem ali se o haviam visto”, contou o compositor. “Avistaste algum cocar multicolorido...?”, brincou o poeta. “Felizmente não. A única pena por ali era a minha mesmo. Continuei a busca. Lembras de quando eu fazia entregas para a nossa querida Livraria do Globo, não? Corria pra lá e pra cá. Antes disso tinha empurrado roda de
porto alegre 130
Mercado de São José
145
recife Recife tantos
Ronaldo Correia de Brito Da Praia de Boa Viagem ao bairro de Apipucos, onde Gilberto Freyre escrevia deitado numa rede; de Beberibe ao sertãozinho de Caxangá, lá longe onde Manuel Bandeira teve o seu primeiro alumbramento; do Poço da Panela ao Forte das Cinco Pontas, onde fuzilaram o Frei Caneca porque nenhum carrasco aceitou enforcá-lo; dos morros de Casa Amarela aos mangues do Pina, território beat de Chico Science, o Recife se revela há 500 anos na luz forte dos dias. Luz andaluza que nunca largou os olhos e a lembrança de João Cabral de Melo Neto, um dos tantos poetas que o carregaram na alma. Luz sem rebuços nem trégua, se apagando apenas quando de noite a cidade adormece e fica a sonhar, ao som de uma triste melodia de blocos de carnavais. O Recife deixa-se ver apenas por quem caminha através dele, investigando camadas de história em ruas estreitas, pontes, conventos e praças, nos mercados e fortes. Influências românica, gótica, renascentista e moura se revelam na arquitetura que os portugueses trouxeram para os trópicos, reproduzindo os mesmos casarios, sobrados e igrejas do reino, no vasto império colonial. Anda-se pelas ruas enchendo os olhos de barroco, neoclássico, eclético, art nouveau e art déco, misturados em meio ao caos urbano, com o moderno se acrescentando às paisagens inventadas pelo homem no passar dos séculos. O Recife mais parece um amontoado de ilhas: São José, Santo Antônio, Ilha do Leite, Ilha do Retiro, Boa Vista, Madalena, e o próprio Bairro do Recife, conhecido agora por Recife Antigo, onde a cidade se fundou quase ao mesmo tempo em que Olinda, nos princípios da colonização portuguesa, com o nome singelo de Povoado dos Arrecifes. O rio inventariou a terra firme, repartiu-a em pedaços que as pontes unem numa costura esparsa. As águas do Capibaribe e dos mangues se espraiavam em tantos alagados e várzeas que o Recife precisou recife 146
Escadaria Selaron na Lapa 161
rio de janeiro RIO FULMINANTE
Armando Freitas Filho A cidade se abre como um jornal: flash flã flagrante na folha que o vento leva, no grito impresso que voa, na voz, com a manchete: LUTE NO AR, atravessando as veredas da avenida, sob a paixão do sol, e das montanhas teatrais que cercam, com grandes gestos de ópera, a cidade. O primeiro arranha-céu foi a pedra do Pão de Açúcar: monumento onde o mar se amarra, o mato cresce no pedestal e o abraço da baía completa o cenário - o lugar-comum -, o que já estava escrito pelos cronistas lapidares e por mim, quase com as mesmas palavras. Todo céu é anônimo, embora os cartões-postais tentem localizá-lo. Este aqui está sobre as ondas desenhadas, pedra por pedra na calçada litorânea. Um diagrama em preto e branco do movimento do mar defronte, como se fosse um pedaço de filme antigo: um dia de 1950 em Copacabana, Oceano Atlântico. Leve uma sereia de suvenir, ao vivo, molhada de suor, mas, se não puder, leve sua pele sem pudor, ou o vídeo do mar onde ela vive e espuma. Onde a onda do seu corpo, presa em flagrante, pega impulso e apanha, antes de quebrar, todo o olhar do sol. Ler na areia, na revista do domingo, que ficou para trás, no fim da tarde, que a praia é a permanente risada do mar. Ver nas fotos, nas páginas viradas, os mesmo coqueiros que pressinto aqui, em ordem unida, perfilados, sentinelas – estáticos e estéticos – defronte do horizonte. E impressa no céu, a Pedra da Gávea, os Dois Irmãos, onde passam e pousam inúmeras nuvens, que são falsos anjos que se desmancham. O círculo cinza cinge o campo: cinto de ferro, abraço de pedra. Curvas calculadas no cimento: cruas marquises marcadas, as rampas se arrumam. Rimas, ritmos, rumos rodeiam o estádio estático à escuta: elipse sem lapso, degraus granulados de concreto armado. Plantadas a prumo, as multidões aturdidas, as torcidas em tumulto no atordoante alvoroço, na balbúrdia de brados, na batalha de braços, bandeiras rio de janeiro 162
Praia da Barra
177
salvador CARLITOS NO PELÔ
Capinan O 13-Cabula fez a curva do Jandaia, entrando na Baixa dos Sapateiros, carregado de negros no estribo, vestindo paletó de linho branco. Um bonde inteiro apinhado de negros, todos impecavelmente elegantes e alinhados. Olhei sua passagem, com angústia, não podia perder aquele bonde. Carlos me esperava na porta do Cine Pax. Queria muito esse encontro, fundamental para mim. Carlos ia me levar a uma reunião no Pelourinho, encontro cheio de mistérios, assuntos especiais. Não podia perder. “Vai, Carlos, ser gauche na vida...” recitou com vivacidade, me fitando com jeito baiano de querer, e disse ao final, sorrindo toda sedução dos seus dentes alvos - “é um poema meu...”. Seria? Carlos era todo estranho, andava mudando de nomes. Em nosso primeiro encontro, apresentou-se: “Prazer, Ary Carlos Barroso”. Depois, tantos outros, Carlos Cachaça, Carlos Jobim e até Charles Anjo 45, “sou clandestino, cigano”... dizia, com jeito de andar brincando com seu próprio destino. O bonde vinha ruidoso, dançando nos trilhos, Cabula-13. Tinha que chegar no Cine Pax, às 13h30, a matinê começava às 14h. Não podia perdê-lo, Carlos esperava. Foi nessa hora que me veio a decisão de pongar naquele bonde, agarrar algum estribo no meio da multidão pendurada... Eu não podia perdê-lo, era arriscado, mas não podia deixar passar aquela chance que o destino me dava. Tinha que tomar aquele bonde... e saltei o imenso abismo entre o passeio e o estribo... Depois não vi mais nada, apenas uma foto, que tenho agora nas mãos, onde não me vejo nem vejo o 13-Cabula. É outro bonde, 24-Roma, cheio de Filhos de Gandhi, vindo da cidade baixa para o carnaval. E vejo Carlos entre eles, aquele baiano safado. Mas dizem que Carlos foi morto numa emboscada. Como? - ele deveria estar, àquela hora, na porta do salvador 178
Av. Paulista
193
são paulo
São Paulo da garoa, de todos e de ninguém Ná Ozzetti “São Paulo, terra da garoa”. Na infância cheguei a conhecê-la, garoa fina e constante. E da infância carrego tantas outras lembranças e referências que até hoje me emocionam. Hoje já não há mais garoa, mas as referências se conservaram e se multiplicaram. A cidade cresceu comigo, “erguendo e destruindo coisas belas”, sobretudo sua própria natureza. Faço imagens de como eram originalmente o Vale do Anhangabaú, as águas barrentas do Ipiranga (cujas “margens plácidas” ouviram o grito de independência do Brasil), o leito do Rio Tietê e sua grande várzea, as perdizes que habitaram e deram nome ao meu bairro, com suas bicas e riachos. Na mais remota das minhas memórias, época de Natal, meu pai nos levou ao centro da cidade para vermos as ruas e prédios enfeitados de luzes. De dentro de uma loja ouvia-se “Trem das onze”, do Adoniran Barbosa, interpretada pelo grupo Demônios da Garoa (vejam como a garoa inspirava). Naquele momento de pura magia, fui embalada pela cadência melódica e harmônica, pelos instrumentos, o canto, e pelo personagem da canção, que morava em Jaçanã e não podia perder aquele trem, pois era filho único e sua mãe não dormia enquanto ele não chegasse. Até hoje não conheço o bairro Jaçanã, mas sou íntima dele por causa da marca deixada pela canção, como a muitos brasileiros. Adoniran também me apresentou o Bexiga e o Brás dos italianos, árabes e judeus em harmonia, e tantos outros lugares e situações típicas de São Paulo. Muitos outros músicos e compositores enriqueceram minha visão poética desta cidade. Paulo Vanzolini me mostrou pontos no centro da cidade, como a Praça Clóvis e a Avenida São João. Itamar Assumpção delirou no Vão do Masp e no Trianon, em “Sampa midnight”. Luiz Tatit fez um verdadeiro tour urbano em “Esboço”. Eduardo Gudim trouxe o lirismo à Avenida Paulista. E Rita Lee, como tão bem revelada pelo baiano Caetano Veloso, é a São Paulo completa, s ã o pa u lo 194