8. EVIDÊNCIAS CONCLUSIVAS: Nesta parte final desta obra, dedicamo-nos ao que designamos de evidências conclusivas para sistematizar um conjunto de conceitos e ideias: l A “Periodização Táctica” é uma concepção metodológica que se regula no desenvolvimento do modelo de jogo da equipa. l Preocupa-se em criar e desenvolver uma dada organização dinâmica da equipa ou seja, um «jogar». l O modelo de jogo é o referencial de todo o processo, conferindo-lhe um Sentido. l O modelo de jogo permite estabelecer um objectivo comum entre os intervenientes (jogadores e treinador), no projecto de jogo colectivo. l Promove também uma cultura de entendimento e de interacção na construção do «jogar» com a «auto-hetero» recriação de todos no projecto de jogo da equipa. l O modelo de jogo compreende a operacionalização dos princípios de acção no desenvolvimento da Especificidade. l Assume o primado da Especificidade em todos os momentos. l Preocupa-se em desenvolver e optimizar os comportamentos colectivos e individuais dos jogadores através de um processo Específico. l A operacionalização dos princípios de acção permite ao treinador modelar as relações e interacções dos jogadores. l A partir dos grandes princípios colectivos cria os sub-princípios, subprincípios de sub-princípios referentes ás relações mais ou menos pormenorizadas dos jogadores no desenvolvimento do «jogar». l A estruturação metodológica faz-se por níveis de organização do «jogar».
139
l O desenvolvimento Específico destes níveis de organização: ° Refere-se à articulação dinâmica dos vários momentos de jogo: defensivo, ofensivo, transição defesa-ataque e ataque-defesa; ° Compreende a Articulação Hierarquizada dos princípios dos vários momentos de jogo em função do «jogar» que se pretende desenvolver; ° Envolve também a Articulação Hierarquizada dos princípios com os sub-princípios, sub-princípios de sub-princípios no desenvolvimento do processo, face ao que acontece e o que se pretende (modelo); l A dinâmica do processo não tem uma evolução linear porque depende da maior ou menor qualidade comportamental da equipa bem como das dificuldades que se vão impondo. l O treinador assume um papel determinante na estruturação do processo, direccionando-o e intervindo para conseguir uma maior qualidade no desenvolvimento do modelo de jogo. l A competição é um momento muito relevante para a avaliação qualitativa da evolução do processo. No entanto, essa avaliação também acontece no treino. l A periodização do processo realiza-se semanalmente ou melhor, no tempo que medeia a competição anterior e a seguinte. Avalia os aspectos a incidir face ao que aconteceu na competição anterior e o que prevê da seguinte. l Assim, a abordagem estratégica faz-se todos os dias no desenvolvimento do «jogar», tendo em vista a competição seguinte. l Esta ênfase estratégica dá primazia ao «jogar» modelando a realização dos princípios de acção da equipa em função de determinadas características adversárias. l Os níveis de organização desenvolvem diversas escalas do «jogar» permitindo incidir nos diferentes aspectos sem empobrecimento na operacionalização da Especificidade.
140
l A operacionalização do «jogar» realiza-se com exercícios Específicos que concorrem para a aquisição dos princípios de acção que se pretende. l Os exercícios são configurados de modo a que aconteça com regularidade os comportamentos e interacções que se pretendem desenvolver. l A dinâmica dos exercícios envolve um sentido e por isso, são contextualizados pelo modelo de jogo. A configuração do exercício resulta do significado que lhe é atribuído havendo sempre a Articulação de Sentido. l A configuração do exercício compreende o sentido sobre o qual os intervenientes o vivenciam. l A modelação da Especificidade também passa pela intervenção do treinador no momento de concretização do exercício para o direccionar para o que pretende. l A Especificidade do exercício também resulta da intervenção do treinador no momento da sua realização contribuindo assim, para a qualidade de concretização do mesmo. l O princípio metodológico da Alternância Horizontal salvaguarda a permanente relação esforçar-recuperar distribuindo semanalmente diferentes escalas do «jogar» que pretende para a equipa. Aborda ao longo da semana diferentes níveis de organização. l Para garantir a qualidade evolutiva do processo, aborda em cada dia da semana um nível de organização diferente do «jogar», gerindo assim as exigências que cada um envolve. l Tão importante como o esforçar na aquisição dos princípios de acção pretendidos é o recuperar para assegurar condições de realização que permitam a operacionalização aquisitiva dos mesmos. l A organização metodológica do processo rege-se pelo desenvolvimento dos princípios de interacção da equipa considerando o tipo de repercussões que implicam. l A recuperação é Específica e contextualizada pela organização dinâmica colectiva. l As preocupações que caracterizam o morfociclo- padrão:
141
° Terça-feira: incide-se no recuperar e não no esforçar que o carácter aquisitivo impõe. ° Quarta-feira: começam os objectivos “aquisitivos” abordando um nível de organização intermédio do «jogar» com o desenvolvimento dos sub-princípios ou sub-princípios de sub-princípios de interacção. ° Quinta-feira: incide-se na dinâmica complexa do «jogar» que compreende o nível de organização dos grandes princípios uma vez que é o dia mais afastado da competição anterior e a seguinte. ° Sexta-feira: incide-se num nível aquisitivo mais parcelar tendo em conta o tipo de exigências do dia anterior e portanto, com mais cuidados no recuperar. ° Sábado: a preocupação com o recuperar ainda se acentua mais para predispor competitivamente a equipa para o dia seguinte. l A Periodização Táctica incide na organização dinâmica da equipa desde o primeiro dia. l Todo o processo se desenha e acontece no crescer comportamental dos jogadores e equipa. l É com a padronização do processo que desenvolve a adaptação Específica e concreta resultante do modo como a equipa pretende jogar. l Desenvolve vários automatismos comportamentais, de forma a construir uma realidade interna não consciente, que permitem agir com mais eficácia e portanto, com mais qualidade. l A precisão dos comportamentos depende sobretudo da intenção não consciente desenvolvida pela dinâmica organizada das interacções, que facilitam a capacidade de intervir no “aqui e agora” do jogo. l A adaptabilidade organizacional é singular, concreta e resultante de um processo. A partir destes pontos conclusivos evidenciamos que em momento algum houve referência ou preocupações com: ° O desenvolvimento de picos de «forma» dos jogadores
142
° Com a preparação «física» dos jogadores ° A realização de «pré-épocas», com prioridade na «condição física» ° Com a preparação geral de capacidades ditas «físicas» como a resistência, força e velocidade ° Com o volume e o «efeito retardado das cargas» ° A periodização por «períodos» de preparação ° A realização de testes para avaliar as capacidades «físicas» dos jogadores ° Com o “recarregar” baterias nos momentos de paragem competitiva Perante estes factos, reconhecemos que a organização metodológica da “Periodização Táctica” preocupa-se em criar um «jogar» através da operacionalização do modelo de jogo. Esta concepção parte de uma abordagem complexa, dinâmica e sobretudo, concreta do «jogar» que se pretende criar. Identifica-se com conceitos complexos e sistémicos que o permitem compreender sem ter de o mutilar e por isso, acreditamos que este paradigma nos permite assegurar um novo rumo para o futebol. “A complexidade refere-se à condição do universo que é inerente mas que, no entanto, é demasiado rica e diversificada para a compreendermos a partir das perspectivas mecanicistas ou lineares comuns. A complexidade trata da natureza da emergência, inovação, aprendizagem e adaptação” (Santa Fé Group, 1996 cit. Battram, 2004:15)
143