22 de Maio de 2015
ENTREVISTA José Ricardo Rodrigues
Entrevista de Luís Lameira | Fotos de Claudio Gomes
Um dia após o anúncio da saída do comando técnico da equipa sénior do BC Barcelos, falámos com José Ricardo Neves Rodrigues, tentando perceber numa curta conversa, o que ía na alma deste homem que tão bem conduziu as equipas ao longo destes últimos dez anos, e que agora nos deixa para eventualmente abraçar outros projectos.
Final do Troféu António Pratas, Final da Taça de Portugal, Meiasfinais da Taça Hugo dos Santos, 3º lugar da Fase Regular da Liga Portuguesa de Basquetebol e presença nas meias-finais do “play-off”.
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22 de Maio de 2015
Boa tarde Professor José Ricardo; O Sr. deixou uma marca muito forte neste Clube, de perseverança, competência, e simpatia, por tudo isso, gostaríamos que deixasse aqui uma palavra aos nossos adeptos em tom de despedida. . Qual o balanço que faz desta época? Foi uma época quase perfeita. Vejamos: final do Troféu António Pratas, final da Taça de Portugal, meias-finais da Taça Hugo dos Santos, 3º lugar da Fase Regular da Liga Portuguesa de Basquetebol e presença nas meias-finais do “play-off”.
Acho que em nenhum momento, quando preparámos a época, alguém pensou serem possíveis estes resultados. Nesta época,\ fizemos parte das quatro melhores equipas portuguesas de basquetebol em todas as competições. Terminar a Liga Portuguesa de Basquetebol no pódio fez a nossa viagem ainda mais bonita mas… faltou um título nacional.
. O que mudou, este ano para ter chegado tão longe na competição?
"fizemos parte das quatro melhores equipas portuguesas de basquetebol"
Foi não ter mudado muito nestes últimos quatro anos que tornou mais fácil o nosso sucesso. Os jogadores são quase os mesmos e a sua crescente experiência e competência fez o resto.
As pequenas coisas que, fruto da experiência vivida nas três épocas anteriores, corrigimos e melhorámos deramnos mais consistência. Conseguimos aumentar a quantidade de treino e - JOSÉ RICARDO começámos a pensar em treinar melhor; colocámos mais um treinador adjunto aumentando a quantidade de informação tratada; fizemos uma pré-época com o plantel fechado pela primeira vez desde que estamos na Liga Portuguesa de Basquetebol; e, finalmente, conseguimos uma dinâmica de vitória que nos “empurrou” de forma regular para objetivos mais ambiciosos.
Terminar a Liga Portuguesa de Basquetebol no pódio fez a nossa viagem ainda mais bonita mas… faltou um título nacional "jamais me esquecerei dos momentos que aqui passei e vivi"
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. É sabido que o Clube tem grandes limitações de vária ordem, financeira, logística, etc. Na sua opinião, qual o caminho para o fazer crescer de forma sustentável? O Basquete Clube de Barcelos cresceu de forma sustentável nos resultados desportivos mantendo uma postura séria e intocável no cumprimento dos seus compromissos financeiros. Estes dois vetores são aspetos inquestionáveis na imagem que o nosso Clube projeta para dentro e para fora de portas.
Agora, outros desafios se colocam porque me parece haver uma dificuldade crescente nas necessidades físicas e humanas. É necessário mais pessoas a colaborar e a acompanhar todo o trabalho (formação e equipa sénior) que o Clube desenvolve; os espaços físicos escasseiam e o Clube, todos os anos, está condicionado nas suas intenções. Não é possível crescer sem apoios e sem espaços de treino.
Os apoios conquistam-se com pessoas e os espaços de treino com vontade política e da comunidade.
. Relativamente à formação, é óbvio que as coisas hoje estão piores, temos menos atletas, os resultados desportivos deixam um pouco a desejar, vimos sair alguns para outros clubes, etc... a que se deve isso e o que deve ser feito para inverter a situação? A formação do Basquete Clube de Barcelos tem vindo a piorar a todos os níveis. Esta é uma questão que nos deve preocupar a todos. O Clube desinvestiu imenso no recrutamento dos treinadores, diminuiu de forma considerável o número de espaços de treino disponíveis e baixou imenso a qualidade das condições de trabalho.
Um pouco de história… Em setembro de 2006 apareceram 86 atletas ao trabalho. Na época com melhores números” (2009/2010), tivemos 14 equipas a funcionar, 13 treinadores remunerados e uma média de 196 atletas aos treinos. No mês de abril de 2015 foram 107 os atletas em treino, com 9 equipas a trabalhar e 7 treinadores remunerados.
Não é possível trabalharmos melhor com menos treinadores, com poucos espaços de treino e com estes a terem que ser partilhados por várias equipas. Basta inverter este cenário para que as coisas melhorem novamente.
. Tem já outro projeto em carteira, refiro-me obviamente a outro clube? Não. Para já, não tenho quaisquer contactos com outros clubes e não sei ainda o que farei no futuro. Sei apenas que estou muito focado no trabalho que vou desenvolver na Seleção Nacional de S20 e esse é o meu principal objetivo a curto prazo.
. Gostaria de regressar um dia ou o BC Barcelos faz parte do passado? O Basquete Clube de Barcelos faz parte do presente. Foi o Clube que me deu a oportunidade de trabalhar a um outro nível. Se hoje me sinto um treinador mais bem preparado, ao Clube e às pessoas que o representam o devo. Se vou regressar um dia ou não veremos o que o futuro nos reserva.
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. Como calcula, tanto a Direção como os nossos adeptos têm por si um carinho muito especial. Que mensagem lhes quer deixar em tom de despedida? Este Clube tratou-me sempre muito bem. As Direções que comigo conviveram, os atletas, os treinadores e os adeptos tiveram sempre uma relação muito afetuosa. Quero dizer-lhes que o carinho é recíproco e que jamais me esquecerei dos momentos que aqui passei e vivi.
Espero que o Clube encontre o melhor caminho, as melhores soluções e que dê continuidade a esta viagem de quase vinte anos de sucessos.
Um abraço
José Ricardo Neves Rodrigues
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