Апрель 2011

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Feliz aniversário, Brasil

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Elifas Andreato

Há mudança no Brasil. Ela não corre, mas anda. Não corre, mas ocorre. Betinho, sociólogo

Ziraldo

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m conversa recente com estudantes de Jornalismo, ouvi a pergunta: “Por que toda essa preocupação com o Brasil? Você não pensa em outra coisa?”. Enquanto questionava, o rapaz espiava a edição de março deste Almanaque. Naquele momento, imaginei como responderia o professor Darcy Ribeiro. Ora, nós, brasileiros, herdamos um pedaço grande e bonito do planeta. Em tamanho, somos 24 Alemanhas. Melhor, também disse, é o povo, mestiçado por todas as raças, bonito e alegre como não há outro. Para Darcy Ribeiro, nenhum modelo poderia jamais enquadrar nosso país, a despeito da maledicência costumeira de seus detratores, que gostam de enfatizar o que não deu certo. Também emendei que só conhecendo o Brasil a fundo poderemos reinventá-lo todos os dias. Por isso, é preciso decifrar seus sinais para criar o novo. É preciso saber dos fundamentos da aventura humana neste território para não deixar se perder o que ele guarda de potência criadora. É isso que tentamos fazer todos os meses no Almanaque há 12 anos. Nosso empenho e vocação é lembrar ao povo brasileiro a sua história, os personagens ilustres que deram inestimável contribuição para que hoje tenhamos orgulho de nossa gente mestiça e sua rica e diversa cultura. Ao contrário do que afirmaram os pessimistas do passado, o País deu certo, e se ainda não é o ideal, não desistiremos de emprestar nossa humilde contribuição para fazê-lo sempre melhor. Queremos um país em que as pessoas existam para serem felizes, alegres, amorosas, afetuosas. E que jamais percam seu apego pelas crianças, reprodução e esperança de um futuro melhor. Nesta edição, celebramos 12 anos. Mais de uma década em que contribuímos para a memória e a história da nossa gente. Disso nos orgulhamos muito, porque desde abril de 1999 enfrentamos enormes obstáculos – que muitas vezes pareceram intransponíveis. Hoje, no entanto, sabemos que esses mesmos obstáculos, já tão distantes na memória, foram os grandes agentes da nossa perseverança.

Talvez o mais importante nome das artes gráficas do País, o polivalente Ziraldo fecha a série de 24 capas especiais do Almanaque, iniciada na edição comemorativa de 10 anos da revista. Ele se une a grandes nomes da pintura, do grafite e até da moda que ilustraram a capa da publicação ao longo desses dois anos, como Gringo Cardia, Ronaldo Fraga, OSGEMEOS, Rico Lins e Gustavo Rosa. Ao longo da carreira, Ziraldo criou personagens históricos como Supermãe, Jeremias e toda a Turma do Pererê. Um dos criadores do Pasquim, começou a escrever para crianças com O Menino Maluquinho, um dos maiores sucessos editoriais do País. Hoje, além da literatura, desenvolve projetos diversos. E segue desenhando, como fez para esta capa comemorativa de 12 anos do Almanaque.

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Terra Vargas e Soledad Cifuentes Gerente administrativa Fabiana Rocha Oliveira Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Gráfica Oceano

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400 le passou por muitas adversidades. Nasceu – ou encarnou, como preferia dizer – em uma família mineira humilde no dia 2 de abril de 1910. Cinco anos depois, com a morte da mãe, ele e os oito irmãos espalharam-se por várias casas. A madrinha que o adotou não lhe deu trégua com a vara de marmelo e outros castigos. A vida do garoto só acalmou um pouco quando os irmãos foram novamente reunidos. Passou a vender legumes na feira e a frequentar a escola. Mais tarde, acharam que ele tinha que trabalhar pesado na indústria e deixar os livros de lado – aos 14 anos, era acusado de estar sempre fantasiando acontecimentos e de ter constantes alucinações. Escrevia redações incríveis que a professora invariavelmente considerava serem plágios. Já adulto, quando publicou um livro de sucesso tendo ape-

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nas o primeiro grau completo, foi acusado de calúnia. O escritor apresentava uma justificativa pouco aceita na época. Muito por sua causa, hoje a tal teoria é bastante difundida. Acredite-se ou não na explicação do mineiro, o fato é que mais de 400 obras saíram da sua caneta, sem que ele jamais tivesse recebido direitos autorais por nenhuma delas. Até hoje a renda é revertida para uma federação religiosa de caridade. Sua imagem ficou conhecida pelo Brasil nos anos 1970 com o programa de tevê Pinga Fogo. Prestou assistência espiritual sem nada cobrar até a morte, em 1992. O Brasil festejava a Copa do Mundo quando ele sofreu uma parada cardiorrespiratória. Dizem que esperava “desencarnar” em um dia de alegria, para que não houvesse sofrimento. (NP)

As doações vieram de todos os cantos. O País se uniu para ajudar a construir no Rio um dos símbolos nacionais: o Cristo Redentor. Na foto ao lado, tirada em 1930, operários trabalham na obra, que levou cinco anos para ser concluída. Para levar morro acima cada uma das peças da estátua, foram utilizados os trens da Estrada de Ferro do Corcovado. Juntas, elas pesam mais de mil toneladas. O monumento, criado em conjunto pelo engenheiro Heitor da Silva Costa, pelo artista plástico Carlos Oswald e pelo escultor francês Paul Landowski, seria inaugurado um ano depois da foto, em 1931.

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Reprodução/AB

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Abril 2011




4/4/1968

24/4/1997

Gilvaldo Santos/ www.obuquineiro.com.br

Polícia ataca as pessoas que lotam a igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, para a missa de sétimo dia do estudante Edson Luís.

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Governo brasileiro reconhece a culpa pela morte de Edson Luís durante protesto estudantil e concede indenização para a sua família.

Guimarães Rosa levou 37 anos para ser Guimarães Rosa A os 30 e tantos anos, o mineiro João Guimarães Rosa já havia passado por muita coisa na vida. Tinha casado duas vezes, aprendido uma dúzia de línguas, se formado médico, tomado parte na Revolução Constitucionalista, se tornado cônsul na Alemanha e arriscado a vida facilitando a fuga de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Mas não havia lançado um livro sequer. Havia ganhado distinções literárias, isto sim. Em 1935, a coletânea de poemas Magma recebeu até prêmio da Academia Brasileira de Letras. Os poemas foram elogiadíssimos, mas não convenceram o autor a publicá-los. “Não os acho totalmente maus, mas tampouco convincentes.” No ano seguinte, voltou a ser premiado. Agora sob o pseudônimo Viator. A obra contemplada reunia contos que – nove anos e uma rigorosa revisão depois – se transformariam em seu livro de estreia. E que estreia. Em 21 de abril de 1946, aos 37 anos, Guimarães Rosa lançava Sagarana, abrindo caminho para se tornar um dos (JR) maiores escritores brasileiros.

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No site do Almanaque, confira trecho de um documentário sobre Guimarães Rosa.

23/c4 ional dia na o do chor

Giuliano trocou guitarra roqueira por cavaquinho chorão

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Divulgação/Festival de Choro e Jazz de Jericoacoara

uitos quilômetros de dunas separam a praia mais cobiçada do Ceará, Jericoacoara, da capital do estado. Apesar do acesso difícil, a paradisíaca e boêmia vila é uma verdadeira babel. Há gente de todos os cantos. Mas nos bares e rodas de samba quem chama mesmo a atenção é um garoto que, por trás do cabelo desgrenhado, se diverte dedilhando um cavaquinho. Aos 14 anos, Giuliano Eriston faz sucesso também entre os músicos. Nomes como Arismar do Espírito Santo e Toninho Horta estão na lista de seus admiradores. Em 2009, eles se apresentaram no 1° Festival de Choro e Jazz de Jericoacoara, aberto por Giuliano. O garoto começou a tocar violão aos seis anos, imitando o irmão

um pouco mais velho, hoje baterista. O pai, Ricardinho Mattos, também é instrumentista, além de cantor. Até o festival, Guns’n Roses e afins dominavam o interesse do menino. “Aquela semana mudou a minha vida”, conta. Depois das apresentações, dividiu o palco com grandes artistas em canjas pelos bares. Nas oficinas de melodia e harmonia das quais participou, Arismar só o chamava de “Rock and Roll Junior”. Mas hoje Giuliano prefere o cavaquinho à guitarra. Além de estar sempre pela praia ou ruelas de Jeri, o menino toca com o pai e outros amigos na noite. Não se deslumbra com o reconhecimento, mas leva a música a sério. Quem o vê empunhando o cavaquinho logo percebe que ele se entrega mesmo é por prazer. (NP)

No site do Almanaque, assista a trecho da apresentação de Giuliano com Arismar do Espírito Santo no 2° Festival de Choro e Jazz de Jericoacoara. www.almanaquebrasil.com.br


Acervo Fundação Joaquim Nabuco

Maravilha convive com defuntos de 10 mil anos 28/4 dia da caatinga

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m 1997, os moradores de Maravilha, no semiárido alagoano, encontraram ossos de um ser gigante, maior do que qualquer vaca, cavalo ou onça da região. Os restos mortais foram logo atribuídos a uma criatura mitológica: o monstro Zamba. Em viagem à procura de cavernas, o paleontólogo Jorge Luiz Lopes, que estuda a megafauna do sertão alagoano, conheceu os fósseis. O povo custou a acreditar que, na verdade, os ossos eram de uma preguiça-gigante, animal pré-histórico de mais de 10 mil anos. Mas, desde então, mamíferos pré-históricos gigantes, como mastodontes, tigres dentes de sabre, paleolhamas e tatus gigantes tornaram-se íntimos dos 10 mil habitantes da cidade, localizada a 230 quilômetros de Maceió. É sobre essas feras que os maravilhenses, sobretudo as crianças, jovens e professores das escolas locais, andam conversando e aprendendo desde a inauguração do Museu Paleontológico de Maravilha, em maio de 2007. Por ter recebido inúmeras vítimas de cólera, a região um dia foi conhecida como Cova dos Defuntos. Hoje, os mais famosos são mesmo a preguiça-gigante e seus contemporâneos. A bicharada, por sinal, foi toda reproduzida em tamanho natural pelo artista Valdo Lima. É tanto bicho espalhado por lá que a pequena Maravilha da caatinga tornou-se uma cidade temática.

Funeral de Nabuco atrasou três meses e durou três dias

1910

foi mesmo intenso para o Brasil. No ano em que o cometa Halley cruzou os nossos céus, nasceram Noel Rosa, Adorinan Barbosa e Tancredo Neves. Joaquim Nabuco, por outro lado, passou mal logo nos primeiros dias e, em janeiro mesmo, morreu. Quando isso aconteceu, o funeral, no Rio de Janeiro, durou três dias. Não exatamente quando aconteceu, a bem da verdade. As homenagens tiveram que esperar três meses, porque o corpo estava a milhares de léguas de distância. O grande diplomata abolicionista morreu nos Estados Unidos, onde ocupava o recém-criado cargo de embaixador brasileiro. Em 9 de abril de 1910, a Gazeta da Tarde enfim anunciou: “A ansiedade está satisfeita. O corpo de Joaquim Nabuco está de volta à pátria”. Todas as honrarias que se seguiram faziam parte de uma política da jovem República para instituir um panteão de heróis nacionais. Outros longos “funerais cívicos” já haviam sido promovidos na mesma época: para Machado de Assis, em 1908; para Afonso Pena e Euclides da Cunha, no ano anterior. O enterro de Nabuco seria no Recife, cidade natal, mas o navio aportou no Rio de Janeiro, capital da República. E os restos mortais rodaram bastante até chegarem ao destino. Ficaram em um palácio na avenida Central, na Catedral e no Teatro Municipal, sendo visitados por milhares de pessoas. O transporte de um lugar para o outro foi feito em cortejo. No porto, quando Nabuco por fim embarcava, homens e mulheres acenavam com chapéus. Quase que o caixão caiu no mar, mas foi salvo pela habilidade dos marinheiros. O corpo do célebre diplomata pôde enfim descansar em paz em sua terra natal. (NP) A partir do site do Almanaque, acesse matéria sobre o episódio publicada pela Revista de História da Biblioteca Nacional.

(Marcelo Cabral, de Maceió-AL - OVERMUNDO)

enigma figurado

E sse goianiense nascido em 23 de abril de 1960 quase foi vocalista Em Acervo de Família/ AB

Sergio Falcetti- www.viajandotodoobrasil.blogspot.com

Reprodução/AB

SAIBA MAIS Leia sobre o Museu Paleontológico de Maravilha em www.overmundo.com.br.

do Barão Vermelho, mas achou melhor indicar o amigo Cazuza. carreira solo, emplacou muitos sucessos nas FMs durante os anos 1980. Também marcou época com atuações em novelas, filmes e peças de teatro, além de escrever para jornais, revistas e tevê. “Troque seu cachorro por uma criança pobre”, propôs, em um de seus primeiros hits. Hoje fala sobre sexo num programa televisivo. Já sabe quem é?

R.: Confira a resposta na página 26 Abril 2011

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Apesar de Sarney, Tocantins se tornou estado

Bilac e Patrocínio causaram o primeiro acidente de carro do Brasil 21/4

dia nacional da paz no trânsito

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criação de um estado autônomo era uma reivindicação antiga do povo que vivia ao norte de Goiás. Com sentimento de isolamento político e social, manifestações neste sentido já ecoavam desde o comecinho do século 19. Até se sabia o nome do lugar: Tocantins, em referência a uma tribo indígena. Valendo-se da redemocratização do País, em 1985, o deputado José Wilson Siqueira Campos – que seria o primeiro governador tocantinense; hoje, em seu quarto mandato – apresentou o projeto para a criação do estado. O Congresso aprovou. Só faltava a assinatura de José Sarney. Mas, sem muita explicação, em 3 de abril de 1985, o presidente vetou a medida. O projeto foi reapresentado outras duas vezes, com dois novos vetos de Sarney. Em protesto, alguns parlamentares iniciaram uma greve de fome. E deu certo. Em 1988, a recém-promulgada Constituição brasileira celebrava o surgimento do estado de Tocantins. O lema da nova terra refletia um antigo sentimento da população: Co yvy ore retama – “Esta terra é nossa”, em tupi. (BH) No site do Almanaque, assista a um vídeo sobre a história de Tocantins. www.almanaquebrasil.com.br

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Joveci De Freitas/ AE

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uando o abolicionista José do Patrocínio comprou um carro, em 1903, o automóvel estava longe de ser produto de massa no País. Poucos veículos circulavam pelas ruas brasileiras – o primeiro havia sido trazido pela família de Santos Dumont, em 1892. Como se pode imaginar, o “trânsito” guiava-se mais pelo bom-senso dos motoristas do que por regras estabelecidas. E parece que bom-senso e sorte faltaram a José do Patrocínio. O abolicionista convidou o poeta Olavo Bilac para experimentar o possante veículo movido a vapor. O modelo do francês Serpollet seguia padrão inglês: Bilac sentou-se à direita, no banco do motorista, e José do Patrocínio acomodou-se à esquerda, no de passageiro. Por alguns quilômetros, o poeta seguiu com o veículo levemente desgovernado, deixando os transeuntes de cabelo em pé. Por fim, à incrível velocidade de três quilômetros por hora, perdeu o controle da alavanca de direção e atingiu em cheio uma árvore. Por sorte, ela foi a única vítima do primeiro acidente automobilístico de que se tem notícia no Brasil. Os dois aventureiros saíram ilesos, mas o veículo teve perda total. Dizem que Patrocínio ficou arrasado. Teria concluído, irônico: “Isso só aconteceu porque eu não fui batizado. Sem religião e com essas ruas vagabundas o progresso não é possível”. (NP)

SAIBA MAIS Fé em Deus e Pé na Tábua: Como e por que o trânsito enlouquece no Brasil, de Roberto Da Matta (Rocco, 2010).

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110 anos depois, Brasil devolveu espada roubada do Paraguai ntre 1864 e 1870, Brasil, Uruguai e Argentina uniram-se para combater um inimigo comum: o Paraguai, então a nação mais desenvolvida da América do Sul. Com três contra um, o resultado da Guerra do Paraguai foi a devastação econômica e social do país vizinho. Para completar, o exército brasileiro tratou de confiscar documentos e objetos pessoais do líder paraguaio Solano López, entre os quais a espada do militar. Os objetos ficaram guardados na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, durante décadas. Foram necessários 110 anos e alguma boa vontade de dois controversos militares para que os bens históricos fossem devolvidos ao seu lugar de direito. A restituição aconteceu em 9 de abril de 1980, num encontro em Assunção entre os presidentes João Baptista Figueiredo e Alfredo Stroessner. Durante a cerimônia, o ditador paraguaio pediu a palavra e agradeceu: “O povo paraguaio queria ver, (BH) apalpar e sentir a sua própria história”.

Reprodução/ AB

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Solano López

No site do Almanaque, leia sobre a Guerra do Paraguai.

Você conhece o verdadeiro pai da literatura infantil? R

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Reprodução/AB

livros. E muitos. Ao todo, foram esponda sem 46, a maioria para crianças. O pestanejar: quem mais famoso é Saudade, com é o criador do gênero forte temática rural. infantojuvenil na literatura Engajado e intelectual, brasileira? Por muito Thales criou um método de tempo, Monteiro Lobato alfabetização para adultos. foi considerado o dono Quando foi adotado no da marca. Mas o seu A México, tirou um milhão e Menina do Narizinho meio do analfabetismo em Arrebitado, de 1920, menos de dois anos, um de estava um ano atrasado seus maiores orgulhos. em relação a A Filha Thales de Andrade O escritor morreu em 1977, da Floresta, de Thales em São Paulo. Para a mestre em educação de Andrade, a verdadeira obra inaugural da Cleila Stanislavski, a obra do piracicabano literatura dedicada às crianças. influenciou o próprio Monteiro Lobato. Já para Assim como Lobato, Thales de Andrade o escritor Leo Vaz, Thales tinha “a intuição exata também era paulista, mas de Piracicaba. Lá da psicologia infantil; sabia ser criança entre tornou-se professor. Era um apaixonado pelo crianças, aliando a um assunto próprio uma universo infantil, mas exigia espírito crítico dos linguagem sóbria e expressiva”. (BH) alunos. Enquanto ensinava os pimpolhos, escrevia No site do Almanaque, leia mais sobre a vida e obra de Thales de Andrade.

estação colheita O que se colhe em abril Caqui, graviola, kiwi, mexerica, maçã, manga palmer.

abril t a mb é m t e m 1 Dia da Sociedade Espírita 2 Dia Nacional da Radiopatrulha 3 Dia do Patrono dos Desempregados 4 Dia do Jipe 5 Dia dos Doentes com Artrite 6 Dia do Patriarca 7 Dia Nacional do Jornalista 8 Dia Nacional do Correio 9 Dia da Biblioteca 10 Dia da Engenharia 11 Dia do Exército da Salvação 12 Dia da Parteira 13 Dia do Beijo 14 Dia das Américas 15 Dia Mundial do Desenhista 16 Dia Nacional da Voz 17 Dia Nacional da Botânica 18 Dia do Editor 19 Dia do Exército do Brasil 0 Dia do Diplomata 2 21 Dia do Metalúrgico 2 2 Dia da Comunidade Luso-Brasileira 23 Dia Mundial do Escoteiro 24 Dia do Talento 5 Dia do Contador 2 2 6 Dia do Engraxate 7 Dia da Empregada Doméstica 2 28 Dia da Caatinga 29 Dia Universal da Dança 30 Dia da Baixada Fluminense

o baú do Barão

“Mais valem dois marimbondos voando do que um na mão.”

Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

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ressão

Samir lançou livro em caixa de fósforo

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Capitão português propunha vestir penas para civilizar índios

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militar Domingos Alves Branco Muniz Barreto acreditava que suas considerações podiam transformar o tratamento dos índios no Brasil. Por isso, em 1788, tratou de enviálas para o príncipe dom João, com a “estampa” ao lado devidamente anexada. Ele propunha que os soldados que fizessem contato com os índios da Bahia vestissem o modelito desengonçado. E explicava que, se usassem penas na cabeça, causariam “menos horror” aos indígenas: “O matiz das cores vivas e os enfeites de plumas não só os alegra, mas são análogos aos seus costumes”. O capitão de infantaria acreditava na “salvação” dos nativos pelo homem branco, e defendia que eles passassem a fazer parte da sociedade colonial por um processo pacífico, não à força. Além da farda camuflada, seu plano sobre a civilização dos índios do Brasil apresentava outras medidas. Que os aldeamentos transformados em vilas tivessem câmaras municipais e cadeias, por exemplo. Sugeria que no lugar das ocas fossem construídas casas com divisórias – “para que vivam com dignidade solteiros e casados”. Também queria que a igreja de cada vila fosse muito bem adornada, mostrando o conforto e bem-estar oferecidos pela Igreja. Dom João arquivou o plano sem nunca tê-lo executado. Hoje, muitos povos dizimados depois, a ilustração guardada na Biblioteca Nacional é prova e testemunha de como os colonizadores, ainda que com intenções pacíficas, subestimavam a inteligência e a cultura dos índios que viviam nestas terras. (NP)

SAIBA MAIS Conheça o site de Samir: www.samirmesquita.com.br.

SAIBA MAIS O Índio na História do Brasil, de Berta G. Ribeiro (Global, 2009).

Fases da Lua 1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 . 30 . 31 nova

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crescente

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Divulgação

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ransportar palavras da cabeça para o papel. Não é de hoje que Samir Mesquita sonha em ver suas histórias eternizadas nas páginas de livros. Publicar já era parte dos planos dele nos tempos em que, ainda pequeno, corria pelas ruas de Alfenas, no sul de Minas Gerais. Porém, não esperou a boa vontade de uma grande editora para tornar o sonho palpável. Traçou os próprios caminhos, guiado pela criatividade. Foi em uma oficina literária que Samir descobriu os microcontos. E passou a produzi-los em larga escala: 80 numa só semana. Era material demais. Tudo para ser lido em “dois palitos” – expressão paulistana para “rapidinho”. Nasceu assim o “livro” Dois Palitos, compilação de pequenos contos que, de tão miúdos, cabem, literalmente, dentro de caixas de fósforo. Todo o processo de produção do livreto foi artesanal. As mãos habituadas ao ofício da escrita produziram outro tipo de arte: tirar os palitos das caixinhas, substituí-los pelos textos, trocar a etiqueta da frente. Tanto cuidado para ver a obra “pegar fogo” nas mãos e na cabeça dos leitores. De caixa em caixa, Dois Palitos já vendeu seis mil exemplares, número improvável para um livro de estreia e sem grandes esquemas de divulgação. Ciente de que para ser bom escritor é preciso antes de tudo ser bom leitor, Samir renova sua biblioteca com uma ajuda dos fãs. O novo livro, 18:30, não é vendido. É trocado por obras que interessem ao autor. E assim, como justifica o jovem escritor de 28 anos, palavras do passado ajudam a literatura (Laís Duarte) do futuro. 18:30, segunda publicação do autor.


ro oua 20-5 T21-4 Este é o signo da realização. Taurinos são teimosos, determinados e têm os pés no chão. Mantêm o foco mesmo que um objetivo demore a ser alcançado. Isso não significa que não tenham um pouco de preguiça para se decidir por uma mudança: gostam da vida simples, são quase conformados por natureza. Extremamente sedutores, preferem relações estáveis a aventuras amorosas.

Nem padre reclama de lorota 1/4 em Nova Bréscia

dia da mentira

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Divulgação Prefeitura Municipal de Nova Bréscia

s visitantes da cidade gaúcha de Nova Bréscia, a 160 quilômetros de Porto Alegre, enfrentaram dificuldades para encontrar o lugar que procuravam quando chegaram ao município, em 2009. As placas de sinalização indicavam caminhos opostos ao que estava escrito. Em vez de chegar à igreja, os incautos iam parar na rodoviária. Quem queria avistar a praça central acabava se perdendo na zona rural. E essa foi só mais uma pegadinha da cidade conhecida como “capital brasileira da mentira” – sede, desde 1982, de um disputado festival de lorotas. Tudo começou numa brincadeira entre amigos. Eles se juntaram num jantar e ficaram contando mentiras uns aos outros até raiar o dia. Até que um dos presentes teve a ideia de criar um festival de cascatas. Duas semanas depois, ocorria a primeira edição. Houve quem torcesse o nariz, mas o evento foi um sucesso, com a participação de 20 concorrentes. O vencedor contou a história de uma porquinha que deu à luz dentro de uma abóbora – vem daí o logotipo do festival, uma porca dentro de uma abóbora. Desde 2000 o concurso tornou-se bienal. O próximo já tem data marcada: vai de 29 de abril a 1º de maio. Para preservar a fama do município, em 1988 a

Divulgação Prefeitura Municipal de Nova Bréscia

Alguns dos participantes do Festival da Mentira.

Cerimônia de premiação dos 10 maiores cascateiros de 2009.

prefeitura decidiu registrar que a pequena cidade de quatro mil habitantes – que triplica em número de pessoas durante o festival – é a capital nacional da mentira. Nem o padre da cidade reclama que oficialmente se cometa por lá um dos sete pecados capitais. “É pecado mentir quando se prejudica alguém. Contar uma vantagenzinha de leve não faz mal nenhum”, garante. Para disputar o concurso, os loroteiros pagam uma taxa de 100 reais. No palco, têm cinco minutos para faltar com a verdade. Os jurados avaliam se o embusteiro acredita na conversa mole que está contando, a desenvoltura com que fala e se convence mesmo a plateia. Uma das melhores mentiras foi contada na última edição, quando o radialista Edgar Maróstica usou seu tempo para falar como seu avô teria vindo da Itália ao Brasil. Ao perder o navio, seu bisavô pôs a esposa e os 21 filhos numa gôndola. Detalhe: ao lado de um filhote de mula de estimação. Mas uma tempestade matou a todos. Só sobraram seu avô – à época com três anos – e a mulinha. Daí pra frente, recheou a história com mais lorotas, levando o primeiro prêmio: um carro zero quilômetro. Definitivamente, ser mentiroso em Nova Bréscia é um bom negócio. (BH)

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Hugo de Grenoble Francisco de Paula Ricardo de Chichester Isidoro de Sevilha Vicente Ferrer Guilherme de Aebelhot João Batista de La Salle Walter de Pontoise Valdetrusdes Terêncio Gema Galgani Zenão de Verona Martinho 1° Ludovina Crescêncio Bento José Labre Donnan Apolônio Expedito Teodoro Inês Vicente da Espanha João, o Esmoler Francisco de Sales Marcos Paula Zita Tomás de Aquino Catarina de Siena Bertila João Bosco

Santo Expedito O militar romano do século 4 levava vida libertina antes de se converter ao cristianismo. No dia da conversão, um espírito do mal lhe apareceu em forma de corvo, grasnando “cras” – amanhã, em latim. Por isso a imagem de Expedito pisa em um pássaro. Na mão, o santo das causas urgentes traz uma cruz com a palavra hodie – hoje, em latim –, o que significaria sua opção por não adiar a prática do bem.

SAIBA MAIS Site do Festival da Mentira: www.sitesdovale.com.br/festivaldamentira. Abril 2011

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Por João Rocha Rodrigues

DANIEL MUNDURUKU

Manter-se vivo é a maior contribuição que o índio pode dar ao Brasil

FOTOS: LAURA HUZAK ANDREATO

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Foi por truque do acaso que ele nasceu na cidade. Os pais viviam numa aldeia paraense. A mãe, grávida, viajou a Belém e o menino resolveu conhecer o mundo antes do esperado. Foi também por conta da curiosidade que, aos 15 anos, Daniel Munduruku deixou para trás a aldeia, formou-se em Filosofia, especializou-se em História e Psicologia e tornou-se um dos primeiros índios doutores do Brasil. O confronto entre a tradição do povo munduruku e a vida na cidade ele transformou em histórias. E as histórias em instrumentos de diálogo. “Como educador, percebi que éramos dois povos assustados um com o outro. Era preciso aprender com as diferenças.” Com 40 livros publicados – voltados sobretudo para as crianças –, Daniel acredita que, apesar dos avanços, ainda há muito a fazer para que os povos indígenas sejam realmente reconhecidos dentro da pluralidade cultural brasileira. Questionado qual seria a principal contribuição do índio para a cultura brasileira, ele não vacilou: “Manter-se vivo. Se resistirem, esses povos garantirão uma riqueza cultural, espiritual e moral que só bem faz ao Brasil.” www.almanaquebrasil.com.br


Seus livros são escritos em português. Essa é a sua primeira língua? Fui alfabetizado primeiro na língua munduruku; depois, no português. Na escola havia uma política de estado para a incorporação do indígena na sociedade brasileira. A ideia era fazer com que o índio deixasse de ser índio e virasse “gente normal”, virasse brasileiro. Embora estivesse na aldeia, a escola não permitia que falássemos nossa própria língua. Éramos obrigados a falar português. Isso no início dos anos 1970. É claro que a gente falava escondido, mas quando éramos pegos vinham os castigos. Passar a viver na cidade foi um choque? Até certo ponto, não. Meu pai era carpinteiro e viajava muito para Belém por causa do trabalho. Eu tinha uma boa relação com a cidade. Mas, evidentemente, muitas coisas me chocavam. Quando cheguei a São Paulo, já adulto, sentia muita resistência dos outros. As pessoas se assustavam com o que eu era, e eu me assustava com o que eles eram. Como educador, comecei a perceber que nós éramos dois povos assustados um com o outro. E que era preciso que olhássemos mais para nós, que aprendêssemos com as diferenças. Como era a reação das pessoas diante do “índio”? Escrevi muitas crônicas sobre esse contato, sobre como as pessoas me olhavam. Perguntavam se eu era japonês, se eu era chileno, boliviano. E, só por fim, se eu era índio. Quando eu dizia “Sim, sou índio”, sentia um certo alívio. “Puxa vida, eu também sou. A minha avó foi pega a laço. Ela era uma bugre”, dizia o sujeito, com certo ar de orgulho. “Mas como assim ‘pega a laço’? Cuidado com essa história de uma avó pega a laço”, eu dizia. “Ela não era um bicho que foi domesticado pelos ‘seres humanos’”. Esse tipo de afirmação demonstra preconceito e ignorância sobre a nossa história.

sentiam que o que elas aprendiam fazia bem a elas. Só depois descobri que sabia e podia escrever. Por que ainda encaramos os índios como “os outros”? Eu tenho a impressão de que o índio é “o outro” mesmo. Não existe o índio brasileiro. Existe o brasileiro que é índio. Veja que, nessa perspectiva, a coisa se inverte. Costumamos colocar o Brasil, que veio depois, como se ele tivesse vindo primeiro. Não. O Brasil nasce de uma raiz, de uma origem, que primeiro é indígena. Mesmo o Brasil intelectual, quando olha no espelho e enxerga o seu rosto indígena, não gosta do que vê. O Brasil é um país adolescente. Um país em crise de identidade, que ainda não percebeu que é formado por um conjunto de outros.

Ainda persiste uma visão paternalista em relação aos índios? Sim, o Brasil ainda tem a visão do índio como um coitado. Um coitado, inclusive, que tem que ser preservado, como se preserva uma coisa. O índio não pode desfrutar do progresso. Índio com celular, carro, escrevendo livros, na universidade, doutor? Não, isso não pode acontecer. Acredita-se que o índio parou no tempo. Ou parou ou deve parar. Só vai permanecer índio se não se misturar. É o mito do índio puro, que vem de muito tempo. Há essa dificuldade “O Brasil não de compreensão até na Funai. A Fundação Nacional Índio estabelece que só atende aos índios aldeconhece a sua real do ados. Aos outros, não. Ou seja: foram para a cidadiversidade. Apesar de, não são mais considerados índios. O próprio estado brasileiro define isso. As pessoas têm que entender que, se o índio quer se integrar ao munde tudo o que do ocidental, é um direito dele. E ele não vai deiaconteceu, somos xar de ser índio por isso. No máximo, vai incorporar outras culturas.

ainda 250 povos. Teimosamente, ainda falamos 180 línguas.”

Referir-se aos índios como um grupo cultural também demonstra uma certa ignorância, não? Quando me chamam de índio, às vezes brinco dizendo que não sou índio, não. Índio é uma denominação genérica. Ela não reflete o que realmente somos. O que sou mesmo é munduruku. Esse é o meu povo. Antes de ser índio, pertenço a um grupo específico, que tem as suas crenças, as suas tradições, os seus rituais e uma forma muito própria de lidar com o mundo. Uma forma diferente, inclusive, dos outros povos que vivem ao redor da gente.

Quando você percebeu que poderia ser escritor? Nos meus dilemas como índio vivendo na cidade, percebi que tinha que fazer uma opção: ou seria um ocidental e aceitaria o ser ocidental, ou me manteria indígena munduruku e aceitaria viver no ocidente a partir da minha experiência munduruku. Acabei optando pela segunda opção. Como educador social, criei um jeito de ensinar que passava pela contação de histórias indígenas. Passei a integrar à filosofia ocidental aquilo que eu trazia da minha tradição: educar os sentidos, os ouvidos, a sensibilidade. E acabei percebendo que dava muito certo. Há uma carência muito grande no ocidente desse tipo de abordagem, que muitas vezes era confundida com o modo oriental de educar. O que eu trazia, não. Era um modo autenticamente brasileiro, original, e as pessoas

Essa visão do índio puro, pacífico, também não contrasta com uma característica guerreira de muitos povos? Muitos povos indígenas são historicamente inimigos uns dos outros. O povo munduruku tinha uma porção de inimigos. Por isso sequestrava, guerreava, maltratava, escravizava. Talvez isso seja do ser humano. Quando um povo se alinhava com portugueses, ou franceses, ou holandeses, ele não estava guerreando sem razão. Tinha um propósito: exterminar os inimigos tradicionais, que mataram seus antepassados – o que, em termos históricos, oferece muitas camadas de leitura. Cada povo vai se organizando, se percebendo no mundo de uma maneira tal que não admite o outro, só a si mesmo. Não à toa, boa parte dos povos indígenas se autodenomina, cada qual a sua maneira, de “ser humano verdadeiro”. Os mundurukus são um deles, assim como os xavantes, os bororos. Ao se perceber no mundo, cada povo se sente como o povo escolhido. Os mitos de origem também reproduzem isso. Cada um conta a história a partir do seu ponto de vista. Por que essa complexidade não chega adequadamente às salas de aula? Talvez porque a escola, os professores, os educadores não saibam da própria história, da complexidade dessa história, ou talvez porque sejam muito preguiçosos. Acabam sendo repetidores de um sistema de ensino, de um conhecimento que eles próprios não valorizam. Em qualquer escola – nas públicas, em especial –, o que se Abril 2011

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comemora em 19 de abril, Dia do Índio, é basicamente a mesma coisa que se comemorava na década de 1970. Quando converso com educadores, costumo dizer que não estou falando com eles como educadores, mas como pessoas. Se eles acreditam que os povos indígenas são importantes, têm algo a ensinar e algo a dizer às crianças, certamente vão alcançar um resultado fabuloso como educadores. E, em consequência, como seres humanos. Costumo dizer que o papel do educador é confessar o que ele acredita. Mesmo que isso seja matemática, português, ciências. Ele tem que ir lá e confessar que esse conhecimento é importante para a vida dele, e portanto será importante para a vida dos alunos.

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Você acredita que seu trabalho tem contribuído para quebrar paradigmas? Acho que sim. Há uma mudança visível nessa compreensão. Um ano após o outro, percebo que as escolas que trabalham de forma centrada e crítica sobre o tema evoluíram seus pensamentos. Quando visito esses lugares, não vou lá explicar se o índio caça ou pesca. Mas sim porque ele caça e pesca, ou se é possível ainda caçar e pescar hoje. E aí surge toda uma preocupação ambiental que as próprias crianças demonstram. Acho que essa mudança se dá um pouco por um trabalho na educação e na literatura que eu e outros companheiros fazemos, mas, sobretudo, por causa da atuação do movimento indígena no Brasil desde a década de 1970. É o resultado de mais de 30 anos de lutas. Qual você diria que é o seu principal objetivo como escritor? O que me importa é tocar as pessoas. O livro para mim é um instrumento. É como uma flecha que eu lanço. E a flecha tem um alvo. É a história do arqueiro: o arco, a flecha e o arqueiro se unem, formam uma coisa só. Eu nunca fui um grande caçador. Aprendi a atirar como todo mundo da aldeia, mas nunca quis ficar matando bicho para comer, embora fizesse isso também. Acho que a palavra é a minha arma, uma flecha poderosa. E não a uso somente para contar histórias indígenas. Tenho livros que não tratam em nenhum momento de povos, personagens ou culturas indígenas. Apesar de, evidentemente, meu referencial ser sempre esse. Você é doutor em educação pela USP. Existem atualmente muitos índios doutores no Brasil? Não. Existe aí uma meia dúzia, quando muito. A primeira, uma linguista, tornou-se doutora em 2007 – o que é uma coisa inacreditável. O Brasil tem 500 anos e só muito recentemente um indígena entrou na academia e tornou-se doutor. Na política também não é muito diferente. Não há um só deputado federal indígena, de estado algum. A única experiência de um indígena deputado foi a do Mário Juruna, na década de 1980. Para o povo indígena, foi essencial. O Juruna teve coragem de botar o dedo no nariz dos caras e dizer que eram ladrões, mentirosos. Por isso nunca mais foi eleito. Morreu recentemente, à míngua, porque disse a verdade e não tinha a malícia do político. www.almanaquebrasil.com.br

Como você crê que os políticos, de modo geral, enxergam os índios? As conversas que rolam nos botequins do Congresso vão no sentido de não permitir que tenham autonomia. Dar autonomia é empoderar as pessoas, perder o controle. A ideia do índio preguiçoso, ou contrário ao progresso, à produção, é interessante como justificativa desse controle. Essa “preguiça”, na verdade, tem a ver com outra concepção de produção, de tempo. Está em confronto com o mundo ocidental desde que os portugueses – estes sim preguiçosos – quiseram escravizar os índios para que produzissem por eles. “Produzir pra quê? Guardar pra quem?”. Na concepção do indígena, só há a ideia do hoje, do agora, do presente. Quando você pensa no amanhã, você não vive o hoje. O acúmulo, a poupança valem muito para a sociedade ocidental – a sociedade que inventou a geladeira. O desapego do indígena não cabe nesse mundo. Além de ferir os valores da ganância e do individualismo, a concepção indígena interfere na destruição do meio ambiente. O ocidental se encontra fora do ambiente. O ambiente para ele é algo a ser conquistado. Para o indígena, o ambiente é um parente, um companheiro de caminhada nesse planeta. O Brasil se vende muito como o país da pluralidade, da diversidade. Falta o componente indígena nesse “produto”? O Brasil não conhece a sua real diversidade. Quando se fala de índio, imaginamos o padrão Globo. A diversidade indígena é enorme. Apesar de tudo o que aconteceu até aqui, somos ainda 250 povos, 180 línguas. Mas tudo isso é transformado em folclore, nessa coisa congelada. Os indígenas são a alma do Brasil. A cultura brasileira é muito rica, foi se atualizando, se transformando. Como dizia Darcy Ribeiro, o Brasil é um povo novo, absolutamente diferente de tudo o que há no mundo. É verdade, mas é um povo que também não sabe aproveitar disso. As pessoas falam muito da cultura afro, que influenciou muito. É verdade, mas não se encontram no Brasil muitos negros que falam a língua tradicional. Entre os indígenas são 180 línguas, faladas teimosamente, resistentemente, Brasil afora. E em todos os cantos do Brasil. Tem gente que acha que só há índio na Amazônia. Em todos os estados brasileiros há presença indígena. Há mais índios nas cidades do que nas aldeias, inclusive. A Funai conta 400 mil aldeados e o IBGE diz que existem outros 600 mil fora das aldeias. Qual é a principal contribuição dos índios para a cultura brasileira? Essa é uma pergunta fundamental, mas a resposta me parece muito simples: precisa manter-se vivo. Se os indígenas conseguirem resistir a tudo isso, já estarão contribuindo muitíssimo com o Brasil. Ao manterem-se vivos, esses povos vão trazer uma riqueza cultural, espiritual, moral que só bem faz ao Brasil. Infelizmente, o País ainda não despertou para isso. Não percebeu que a grande contribuição dos indígenas para o Brasil é a existência dos indígenas.


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Um Brasil decomvendeoracadrajé, nosso primeiro

queimou a língua dizer Não é mentira: Einstein brasileiros que sabem a outros planetas e há par r voa rológico teo me nto me super-herói podia ipa equ vai chover – e isso sem is a hora cer tinha em que e outras histórias que ma mentira, confirme essas da s mê No a? ado por Luand com sil, algum. Duvid Bra que r a no programa Almana as, personagem do ato parecem da carochinh insuperável Almanaqui do ílio tres aux o ilus , com sica llo mú ciana Me cia doméstica, mais: entrevistas, ciên porada Robson Nunes. E tem Enquanto a segunda tem . baú do do fun do das tira s mas já ola gra pér pro e os iros er sile bra pode rev da de novidades, você te espera. que no não sai do forno rechea liga Se os. sm ários seguem os me exibidos. Os dias e hor

Destaques do programa 23 • Capitão 7, o primeiro super-herói da tevê brasileira. • Já pensou em como é que se faz um terno? • Machado de Assis é o Ilustre Brasileiro da vez. • Coisas Nossas: aqui os tecidos deram pano pra manga! TV Brasil: 9/4, 19h • 11/4, 20h (reexibição) TV Cultura: 10/4, 14h30 • 16/4, 15h30 (reexibição)

Destaques do programa 8

Destaques do programa 24

• Einstein, João Paulo 2°, Orson Welles. O que os gringos acharam do Brasil?

• Açaí, cupuaçu, jabuticaba... Não faltam curiosidades sobre as nossas frutas.

• Ciência Doméstica: você sabe dizer quando vai chover?

• O publicitário Washington Olivetto tem muito a dizer no Papo Cabeça.

• Uma galeria ambulante: os desenhos das carrocerias de caminhão.

• No Cantos do Brasil, a rabeca do pernambucano Siba.

• E mais: Amyr Klink, Bidu Sayão, o poder das ervas...

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• E não se esqueça: truques para a memória são o tema do Ciência Doméstica.

TV Brasil: 2/4, 19h • 4/4, 20h (reexibição)

TV Brasil: 16/4, 19h • 18/4, 20h (reexibição)

TV Cultura: 3/4, 14h30 • 9/4, 15h30 (reexibição)

TV Cultura: 17/4, 14h30 • 23/4, 15h30 (reexibição)

Para se certificar dos horários de exibição, consulte o site das emissoras: www.tvbrasil.org.br e www.tvcultura.com.br.

André Mehmari e Hamilton de Holanda Gismontipascoal (Brasilianos). Piano e bandolim bastam para a jovem dupla de músicos recriar com beleza as composições de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti, que fazem participação especial no CD. Entre as músicas, a única que não é de autoria dos homenageados é a faixa-título, composta por André e Hamilton.

Carlinhos Vergueiro - Dá Licença de Contar (Biscoito Fino). Amigo e parceiro de Adoniran Barbosa, Carlinhos Vergueiro lança disco com 12 músicas para celebrar a personificação do samba paulista. Retumbantes sucessos de Adoniran marcam presença: Torresmo à Milanesa, Bom Dia Tristeza, Saudosa Maloca. Entre as participações especiais, Chico Buarque, Martinho da Vila e Dora Vergueiro.

Cláudio Manuel da Costa, de Laura de Mello e Souza (Companhia das Letras). Um dos maiores poetas da língua portuguesa deixou poucos vestígios. A maioria dos sinais de sua vida foram destruídos depois da Inconfidência Mineira. Mesmo assim, a historiadora conseguiu reconstituir a sua vida em Coimbra e Minas Gerais, onde teria delatado os companheiros da Inconfidência e se suicidado.

O Traço, a Letra e a Bossa, de Roniere Menezes (UFMG). Além de serem escritores e diplomatas, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa e Vinicius de Moraes têm outros pontos em comum. É o que investiga o autor do livro que, entre outros aspectos, destaca o fato de que os três assinaram obras que chamavam a atenção para os excluídos – seja nas grandes cidades, no sertão mineiro ou no agreste nordestino. Abril 2011 2010




ES GONÇALV NELSON

ó g o g Do a l u d e m a até

Por Natália Pesciotta

rolando de freitas/AE

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N

elson Gonçalves errou: “Este país não tem memória. Alguém sabe quando morreu Chico Alves? É por isso que quero ser cremado: pra ninguém fazer xixi na minha campa”. Último expoente dos reis do rádio, inspirado em Francisco Alves, Orlando Silva e Silvio Caldas, foi ele também inspiração para gerações de cantores. Vive até hoje no imaginário brasileiro, com ar de nostalgia. Como esquecer do segundo maior vendedor de discos do País, que permaneceu 50 anos nas paradas de sucesso? O vozeirão seguro, as sílabas bem divididas, as tônicas bem marcadas e a notória pronúncia do “erre” trêmulo pontuaram mais de uma centena de discos com sambas-canções mergulhados em bolero, tango e fado. Entre os anos 1950 e 1980, manteve a média de um lançamento por ano. O contrato na gravadora RCA só foi tão longo quanto o de Elvis Presley.

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Ele causou suspiros e instigou gerações com o vozeirão firme em sambas-canções carregados de emoção. Um dos mais talentosos e bem sucedidos dos nossos intérpretes era partidário da boemia e exibia uma pose de romântico incorrigível: “Eu canto aquilo que todo mundo queria dizer para as mulheres”. E assim definia a técnica perfeita: “A voz tem que vir do gogó e arrepiar tudo até a medula”. Para colocar fim ao receio de ser esquecido, lembremos até que antes do sucesso foi gago, por isso apelidado de Metralha, e que chegou a receber conselhos para desistir da carreira. “Meu filho, volte a ser pugilista e garçom em São Paulo”, disse Ary Barroso ao vivo no rádio. Já consagrado, o elegante boêmio caiu no vício das drogas, foi preso. E se superou: “Enquanto houver neste país violão, botequim e cachaça, eu tô no ar”.

O boxe pela voz

Na verdade, Nelson nasceu Antônio, na gaúcha Santana do Livramento, em 1919. Logo seguiria para São Paulo com os pais, um casal de portugueses, e pouco mais tarde mudaria o nome de batismo – os amigos do bairro do Brás disseram que Nelson seria “mais sonoro”. No colégio, era sempre chamado para puxar o hino nacional no hasteamento da bandeira. Um


Apesar de ter sido campeão paulista de boxe, resolveu abandonar os ringues: “era melhor cantar do que apanhar”. dia cansou da gozação dos colegas e negou-se a cumprir a tarefa. Acabou expulso. “Pois bem”, disse o pai. “Vais cantar comigo nas feiras”. E passou a levar Tonico para cantar, em cima de um caixote, as modinhas que dedilhava no violão, fingindo-se de cego. Nelson ainda trabalharia como engraxate, mecânico, polidor e tamanqueiro, até firmar-se como garçom no botequim do irmão, no centro paulistano. Assim fazia, aos 17 anos, sua “inscrição” na boemia. Nessa época, também engatava carreira como lutador de boxe. Apesar de ter sido campeão paulista, com 24 nocautes, explicava: “Com o tempo, cheguei à conclusão de que era melhor cantar do que apanhar”. Lá pelas tantas, arriscou-se no Rio de Janeiro, sem eira nem beira, para tentar a sorte nos programas de calouros das rádios. Não teve sucesso em nenhum, passou fome e dormiu ao relento. Por fim, conseguiu um contrato com a RCA e, em 1943, um emprego de crooner no cassino do Copacabana Palace.

Tê-lo ou sê-lo

Meio século depois, Nelson seria apresentado em um programa de entrevistas na tevê como o “maior cantor brasileiro”. Ele mesmo explicou para a jornalista qual era o seu diferencial: “Tem muito cantor que não usa a voz, usa a fala. Esse não está cantando. Cantar tem que vir do gogó e arrepiar tudo, até a medula”. Sempre foi certeiro: na primeira gravação, a música estava perfeita. A voz ao vivo era idêntica à do disco. Com dedicação, mas sem esforço. Dizem que houve um tempo em que todas as mulheres queriam tê-lo, enquanto todos os homens queriam sê-lo. “Eu canto aquilo que todo mundo queria dizer para as mulheres”, sintetizava. O repertório ia de Herivelto Martins, Noel Rosa e Dorival Caymmi a composições dele mesmo, a maioria com Adelino Moreira, o mais frequente parceiro e compositor de encomenda. Só deixava de lado os temas de amores melosos, desamores e desejos ardentes para cantar a boemia. Ou então unia os dois assuntos, a tensão entre a

mulher e os bares: Dizer adeus à boemia / Dói muito e faz chorar / somente um soluço de mulher faz o boêmio se aposentar, canta em Ultimato. Em um dos maiores sucessos, A Volta do Boêmio, o eu-lírico comemora a autorização da mulher para frequentar a noite: Boemia, aqui me tens de regresso / E suplicante te peço a minha nova inscrição. A incrível Hoje Quem Paga Sou Eu é menos otimista: Sou apenas uma sombra que mergulha / No oceano de bebida, o seu passado / Faço parte dessa estranha confraria / Do vermuth, do conhaque e do traçado. Porém, o verdadeiro vício de Nelson não era nenhum dos três.

Cantar até morrer

No fim dos anos 1960, a cocaína tirou sua paz. Dependente químico, foi deixado pela esposa, Lourdinha Bittencourt, que era substituta de Dalva de Oliveira no Trio de Ouro. Pouco depois acabou preso em flagrante. Mesmo absolvido no tribunal, não conseguia mais vender shows nem a circos. “É mais fácil sustentar 10 filhos do que um vício”, declarou mais tarde. Não era modo de dizer. Nelson tinha mesmo 10 filhos adotivos, além de três legítimos, do casamento com Lourdinha. Isso entre os oficiais. É uma delas, Lílian, quem fala: “Os filhos, perdemos até as contas...”. Em 1965, Nelson ainda se casaria com Maria Luiza Ramos, sua secretária. Foi a seu lado que conseguiu superar as drogas. E, nos anos 1970, voltou a ser o mesmo de sempre. Pode-se dizer que Nelson cumpriu a meta que costumava repetir: “Vou cantar até morrer”. Até o dia fatídico, 18 de abril de 1998, lotou casas de espetáculos por onde passou. Em vez de cremado, como um dia brincara que gostaria de ser, teve um grande enterro, com um movimentado velório no Rio de Janeiro. Em sua homenagem, a cidade calou-se em três dias de luto. No site do Almanaque, assista a uma entrevista do cantor para a Rede Manchete, nos anos 1990, e ouça uma seleção de músicas consagradas em sua voz.

O melhor produto do Brasil é o brasileiro CÂMAR A CASCUDO

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Quem são

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eles? Seja para escapar de perseguição política, se arriscar em estilos considerados menores ou só por brincadeira, ilustres brasileiros trataram de esconder a identidade real na hora de assinar suas obras.

V

ocê sabe quem é Urbano, Boas Noites, Victor Leal e Inimigo dos Marotos? Certamente sabe, só não está ligando o nome à pessoa. É sob esses pseudônimos que personalidades como Di Cavalcanti, Machado de Assis, Olavo Bilac e dom Pedro 1º assinaram algumas de suas obras e escritos. E não foram só eles que se valeram do artifício. No Dicionário Literário Brasileiro, de Raimundo de Menezes, há registro de quase dois mil pseudônimos de escritores brasileiros. Mas o que leva personalidades a sacrificarem seus nomes no momento de assinar o que fazem? Os motivos são diversos. Alguns viviam em momentos políticos tensos, e essa era a maneira de falarem o que desejavam, preservando a própria pele. Outros, para se aventurar em estilos artísticos considerados menores, ou fora do moral vigente, sem manchar o próprio nome. Havia ainda quem trocasse de nome por pura galhofa. É o caso de Aparício Torelly, que se tornou Barão de Itararé para conceder a si mesmo “uma carta de nobreza”. Apesar das tentativas de se esconder sob nomes insuspeitos, não teve jeito. O Almanaque despiu a fantasia de grandes brasileiros que, anonimamente, criaram polêmicas, provocaram poderosos, maltrataram adversários e até receberam propostas de casamento. Histórias inusitadas e saborosas não faltam. Afinal, quando a identidade é preservada, a liberdade é total. www.almanaquebrasil.com.br

T exto : Bruno Hoffmann Arte : Rodrigo T erra Vargas


Presidiário pediu Nelson Rodrigues em casamento H istórias

amorosas e apimentadas de uma desconhecida Suzana Flag começaram a fazer sucesso nas páginas de O Jornal no fim da década de 1940. O folhetim diário Meu Destino É Pecar tornou-se o principal entretenimento das mulheres casadas, que destacavam o caderno do jornal comprado pelos maridos. Certa vez, um erro da gráfica fez com que o periódico não trouxesse a continuação da história do dia anterior. Duzentas senhoras invadiram a redação para tirar satisfação com o editor, exigindo saber logo como findaria a trama.

Mas não eram só as madames que tinham admiração por Suzana Flag. Era comum a cronista receber cartas de admiradores, algumas até com pedidos de casamento – certa vez, um presidiário apaixonado teria sugerido levar a moça ao altar. O público só começou a desconfiar da identidade da escritora quando a página de Suzana – nesta altura, já no Última Hora – acabou para dar lugar a outra coluna muito parecida: A Vida Como Ela É. Sim, para decepção dos apaixonados, Suzana Flag era Nelson Rodrigues.

dito itor eru gostava s o mp o c O eixe também Guerra-Ppela canção popular. Mas

rar discos de se aventu co gravou te. O músi en am samim s pô on an com Kelson e n a ae Je h o c m co lio Ro s como Cé ro le bo e s ba Morl .

Bob

Machado de Assis, ou Malvolio, ou Victor de Paula, ou Lelio... D

urante a vida, Machado de Assis escreveu muitos contos e artigos para a imprensa. Boa parte deles valendo-se de pseudônimos – desde o óbvio M.A. até o inusitado João das Regras. Sob esses nomes, o escritor criticou a imprensa, analisou costumes e defendeu o fim da escravidão. Conheça alguns dos muitos personagens por trás do Bruxo do Cosme Velho. Para a revista O Espelho, em 1859, M.-as. divulgou um evento que aconteceria, e citou a si mesmo, dizendo que haveria “poesia do sr. Machado de Assis, meu íntimo amigo, meu alter ego, a quem tenho muito afeto”. Segundo o escritor Max Fleiuss, foi na Semana Ilustrada que Machado de Assis conquistou maior habilidade para fazer crônicas. Mas não queria saber de usar o próprio nome. Assinava Dr. Semana. Como Victor de Paula, Machado publicou contos no Jornal da Família. Anos depois, confessou, ao lançar o texto em outro jornal: “Este escrito teve um primeiro texto, que reformei totalmente mais tarde, não aproveitando mais do que a ideia. O primeiro foi dado com um pseudônimo e passou despercebido”. Para a seção Bons Dias, da Gazeta de Notícias, Machado criticava os fazendeiros favoráveis à permanência da escravidão. Mas era Boas Noites quem assinava os textos. Outros pseudônimos do Bruxo do Cosme Velho: Job, Platão, Lara, Manassés, Eleazar, Lelio, Malvolio.

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Di Cavalc anti co

meçou a carreira ainda ad olescente, em 1914, como ca rt u n ista . Mas foi com o ilu st rador revista Guana da bara, em 1920 , que começou a ch am ar a at enção. Porém , n in guém sa bia de quem se tratava. D i assinava co Urbano, mo principalmen te quando os temas de seus traços eram po líticos.

Autor de

sacanagem era respeitável funcionário público

U ma

publicação apimentada embalou a imaginação dos jovens durante os anos 1950 e 1960. Eram revistas clandestinas com desenhos e textos de alto teor erótico. Quem assinava era um tal de Zéfiro. O autor tinha boa razão para esconder o nome real: Alcides de Aguiar Caminha era funcionário público. Sua identidade só foi revelada em 1990, numa histórica entrevista para a Playboy. A capa do disco Barulhinho Bom, de Marisa Monte, traz ilustrações de Alcides, ou Zéfiro. Abril 2011


ta Comunisráo d i t r te a li es OP das atividad a nada ,a não gostav r o partidão Para dribla . u s ag to P n e d co rias seus ou a assinar ss a p ra o it escr er . g Shelt como Kin

Para ser músico, Braguinha virou passarinho arquiteto

O

pai fazia questão que o rapaz cursasse Arquitetura. Disso não abria mão. Mas o que Braguinha queria mesmo era saber de música. Logo, o futuro autor de algumas das marchinhas mais emocionantes que conhecemos se tornaria integrante do Bando de Tangarás, ao lado de Noel Rosa e Almirante. E para fugir da marcação paterna, adotou um pseudônimo: João de Barro. Ironicamente, o pássaro arquiteto.

Articulista

misterioso bombardeava inimigos de Pedro 1º

O reinado

de dom Pedro 1º foi marcado por atribulações políticas entre o governo e opositores. Os inimigos do imperador às vezes recebiam respostas via imprensa – muitas vezes recaindo para a baixaria. Principalmente quando eram assinadas por Duende, Aristarco ou Inimigo dos Marotos. O autor por trás desses nomes era o próprio imperador. Num artigo para o jornal O Espelho, dom Pedro (ou, melhor, Aristarco) disparou contra um desafeto: “Ninguém é mais estrondoso em arrotar, mais forte em espumar e mais pequeno em argumentar”.

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Quando Alceu Amoroso Lima foi convida -

do para ser crítico literário em O Jornal, em 1919, decidiu mudar o nome para Tristão de Ataíde. À épo ca, ele hav ia herdad o do pai a fábrica de tec ido s Com eta , e queria dis tin guir a ativ ida de em pre sar ial da literár ia.

Bilac usou pseudônimo para lançar literatura barata F im do século 19. Um escritor chama-

do Victor Leal se tornou popular por seu estilo ultrarromântico ao publicar três histórias em jornais cariocas. Destaque para O Esqueleto, de 1890. Como ninguém o conhecia, um ilustrador tratou de desenhá-lo como um sujeito magro, narigudo e que usava chapéu e monóculo. Na verdade, Victor Leal nunwww.almanaquebrasil.com.br

ca existiu. Era um pseudônimo conjunto do jornalista Pardal Mallet, do dramaturgo Coelho Neto e dos escritores Aluísio Azevedo e Olavo Bilac. Era uma forma de todos sentirem-se livres para produzir “literatura barata”, de menor qualidade. É de Bilac – um parnasiano ferrenho – boa parte dos textos melosos de O Esqueleto.

Primeira-dama

caricaturista invertia o nome para se proteger

E

la é tida como a primeira mulher caricaturista do Brasil, mas há quem defenda que foi a primeira do mundo. Nair de Teffé não perdoava os poderosos com seus desenhos ácidos e debochados. Por ser mulher, filha de barão e mais tarde esposa do presidente Hermes da Fonseca, tinha razões de sobra para preservar seu nome nas caricaturas que publicava em periódicos como Fon-Fon, O Malho e Revista da Semana. Assinava como Rian – Nair de trás para frente.


“O Chico Buarque está

faturando no meu nome”

E

Maneco criou Jacinto

para manter fama de macho

O

jornalista Maneco Muller é considerado o precursor da moderna coluna social brasileira. Quando aceitou o cargo no jornal Correio da Manhã, porém, pediu ao editor para assinar como Jacinto de Thormes, personagem de um romance de Eça de Queirós. E justificou: “É que coluna social é coisa de veado”.

m meados da década de 1970, as músicas de Chico Buarque dificilmente passavam pelo crivo da censura. O compositor então assumiu o pseudônimo Julinho da Adelaide para assinar Acorda Amor, retrato claro da perseguição política na época: Sonhei que tinha gente lá fora / Batendo no portão, que aflição / Era a dura, numa muito escura viatura... Julinho ainda comporia Jorge Maravilha e

Batalha que não

aconteceu fez nascer o Barão de Itararé

o jornalista Sérgio Porto foi convidado a ocupar o espaço da coluna de Jacinto de Thormes no Diário Carioca, em 1953, tratou de fazer a mesma exigência do antecessor: ter um pseudônimo. A intenção era ter liberdade total para escrever o que lhe desse na telha. E assim nasceu Stanislaw Ponte Preta, além de sua família, que incluía tia Zulmi-

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B arão de Itararé é o pioneiro no jornalis-

Sérgio Porto criou não só Stanislaw, mas toda a sua família

Q uando

Milagre Brasileiro. Mais tarde, Chico tratou de dar molho especial ao personagem. Numa entrevista a Mário Prata para o jornal Última Hora, “Julinho” disse não querer ser fotografado por ter cicatriz na testa, surgida após ser atingido pelo violão de Sérgio Ricardo durante o festival de música de 1967. E até falou mal de Chico: “O Chico Buarque está faturando no meu nome”.

ra – ermitã que costurava casaquinhos para órfãos de uma colônia de nudismo –, e Rosamundo das Mercês, o distraído, que um dia foi entregar roupas no casarão da família e esqueceu de voltar para casa. Mais tarde, Porto escondeu-se sob o personagem para publicar ácidas críticas à ditadura militar na seção Febeapá – Festival de Besteiras que Assola o País.

mo político com humor no Brasil. O pseudônimo pomposo de Aparício Torelly surgiu em 1930. As tropas de Getúlio Vargas ameaçavam sair do Rio Grande do Sul para tomar o poder. Os homens fiéis ao presidente Washington Luís prometiam resistir. E a imprensa anunciou que poderia haver “a batalha mais sangrenta da América do Sul” na cidade de Itararé, entre São Paulo e Paraná. Mas logo os envolvidos trataram de fazer acordos. As trocas de favores políticos evitaram a batalha. Aparício Torelly ironizou a situação, dizendo que não tinha sobrado nada para ele. “Eu fiquei chupando o dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Então passei a Barão de Itararé , em homenagem à batalha que não houve.”

SAIBA MAIS

No site do A lmanaque, assista a vídeos e leia outros textos sobre os personagens deste Especial.

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O Calculista das Arábias

Gonçalves Dias

a Escreveu o mais famoso poema sobre a saudade

1

de brasileiros exilados quando estudava na Europa: “Minha terra tem palmeiras...”. Morreu no naufrágio de um navio de volta à pátria.

2

b Os períodos em que passou expatriado por ser comunista foram férteis para a escrita engajada. Ainda proporcionaram encontros com camaradas como Pablo Neruda e Luís Carlos Prestes.

3

c Por causa de casamento com diplomata, amargurou 15 anos no exterior. Escrevia livros “com um desejo irreprimível de retorno à origem, uma dor da pátria, uma saudade de casa”.

4

d O baiano sofreu de depressão quando exilado pela ditadura militar. De tanta saudade do Brasil, em 1971, gravou o baião Asa Branca e uma canção sobre a nostalgia sentida em Londres.

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan Conta-se que Protágoras, sofista notável, admitiu em sua escola o jovem Enatlus, que firmou com o mestre um contrato: pagaria as lições quando ganhasse a primeira causa. Porém, terminado o curso, Enatlus decidiu dedicar-se ao comércio, não à advocacia. Quando Protágoras o interpelava sobre o pagamento, ouvia: “Logo que ganhar a primeira causa, mestre!”. Protágoras decidiu então levar a questão aos tribunais, garantindo que receberia o pagamento devido, independente do resultado. De seu lado, Enatlus assegurava que nem ganhar, nem perder o obrigariam moralmente a pagar a dívida. Valendo-se de falácias, tipo de raciocínio que parte de premissas verdadeiras para uma falsa conclusão, o que argumentariam os querelantes para provar que estão corretos?

acervo da família

Jorge Amado

Caetano Veloso

Clarisse Lispector

ligue os pontos

Adaptado de Matemática Divertida e Curiosa, de Júlio César de Mello e Souza (Record, 2009).

teste o nível de sua brasilidade

Palavras Cruzadas

Não é uma das cores do grupo Olodum, fundado em Salvador, em 25/4/1979: (a) Amarelo (b) Verde (c) Vermelho (d) Azul Primeiro refrigerante fabricado no Brasil, desde 18/4/1942: (a) Guaraná (b) Cajuína (c) Coca-Cola (d) Grapette A música Arrastão venceu o 1° Festival de Música Popular Brasileira, em 6/4/1965, na voz de: (a) Elizete Cardoso (b) Elis Regina (d) Geraldo Vandré (c) Jair Rodrigues Na bandeira de Pernambuco, consagrada na República Pernambucana em 2/4/1917, não há: (a) Sol (b) Estrela (c) Arco-íris (d) Flor Primeiro nome de Cazuza, nascido em 4/4/1958: (a) Nicanor (b) Agenor (c) Adalberto (d) Carlos Donga, nascido em 5/4/1890, assina o primeiro samba registrado: (a) Gosto que me Enrosco (b) Praça Onze (c) Pelo Telefone (d) Pelo Orelhão

Respostas Walter Casagrande

Forma consagrada na obra de Alfredo Volpi (a) Esfera (b) Bandeirinha (c) Trapézio (d) Coração

valiação

BRASILIÔMETRO 1d; 2d; 3c; 4b; 5d; 6b; 7c; 8b. SE LIGA NA HISTÓRIA 1c; 2d; 3b; 4a. ENIGMA FIGURADO Léo Jaime. O QUE É O QUE É? Palito de fósforo. CARTA ENIGMÁTICA Ele nunca recebeu direitos autorais pelos mais de 400 livros que escreveu (Chico Xavier).

DE QUEM SÃO ESTES OLHOS?

daniel guimaraães/Folhapress

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS Os dois poderiam construir falácias que, no mesmo raciocínio, fariam ou não o contrato valer, de acordo com os interesses. Protágoras diria que, caso ganhasse a causa, o ex-discípulo seria obrigado pelo juiz a pagar a dívida. Se Protágoras perdesse, porém, Enatlus teria que pagar da mesma forma, já que tinha se comprometido a saldar a dívida quando ganhasse a primeira causa. Enatlus, por sua vez, também poderia usar da falácia: “Se perder, não sou obrigado a pagar coisa alguma, pois não ganhei a primeira causa; se ganhar, também não sou obrigado a pagar coisa alguma, pois a sentença foi a meu favor”.

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Estado em que Padre Cícero chegou em 11/4/1872 e se consagrou: (a) São Paulo (b) Rio de Janeiro (c) Bahia (d) Ceará

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Conte um ponto por resposta certa

8


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O clima esquenta

(mas também vai abaixo de zero) r V p i ocê já deve ter ouvido fala que “o Brasil é um país tropical”. Mas o que exatamente isso quer dizer? A ex licação é simples: cerca de 90% do território brasileiro está entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio. Só Rio Grande do Sul e Santa Catarina estão totalmente fora. Mas não pense que, por sso, o Brasil é feito só de sol, tempo fresquinho e céu azul. Isso porque não é apenas a localização que define o clima, mas também a umidade, a pressão atmosférica, a altitude... Em determinadas regiões do Nordeste há uma seca braba. Já no Pantanal o que não falta é chuva. Entre novembro e abril as pancadas são quase diárias. Depois, há um período de secas. É esse equilíbrio que gera a beleza e a riqueza da região. Em cidades altas do sul do País as temperaturas podem cair abaixo de zero, e nevar não é coisa de outro mundo. Em Brasília, por outro lado, construiu-se até um lago, o Paranoá, para amenizar o ar seco. É, somos um país tropical. Mas com clima de todos os cantos.

JÁ PENSOU NISSO?

Sabe onde fica a cidade mais fria do Brasil? Só para variar, em Santa Catarina. Em todos os invernos, o município de São Joaquim apresenta temperaturas abaixo de zero. Todo mundo sabe que tomar chocolate quente é uma delícia durante as baixas temperaturas. Mas e se todos os habitantes de São Joaquim resolvessem tomar uma caneca de 250 ml ao mesmo tempo? Como a cidade tem cerca de 25 mil habitantes, seriam necessários 6.250 mil litros de chocolate quente. O mesmo que duas piscinas olímpicas. Imagina só que gostoso deve ser dar um mergulho nesse piscinão de chocolate quentinho num frio daqueles...

que precisa

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Um mês antes de assinar um dos decretos mais importantes da história do Brasil, uma famosa mulher criou o nosso primeiro órgão relacionado à meteorologia, a Repartição Central Meteorológica. Sabe quem é essa moça precursora?

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trabalhar?

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Eu congelo a chuva gelada e

Para descobrir o nome do homenageado do mês, basta preencher o diagrama abaixo. O número de cada quadrinho indica uma letra colorida escondida na linha correspondente do texto lá de cima. Por exemplo: primeiro quadrinho, linha 2: P. E assim por diante.

com gelo selo

p

a madrugada.

SoluçÃO na p. 26

27

A menor temperatura registrada no Brasil ocorreu na cidade de Urubici, em Santa Catarina. Os termômetros marcaram 17ºC negativos. Até aí, tudo bem. Afinal, é tradição o estado apresentar temperaturas baixas. Mas você sabia que o dia mais quente da história também aconteceu por lá? Em 1963, a cidade de Orleans registrou a sufocante marca de 45ºC!

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Quem esquenta a

Quer frio ou calor? Vá para Santa Catarina

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LAGUNA

Paixão e pacto com botos Ao sul de Santa Catarina, praias pristinas bordejam um mar azulíssimo onde, ao amanhecer, podem ser vistos golfinhos em suas brincadeiras matinais, antes de pegarem no batente. Terra também de um amor que atravessou oceanos na luta por liberdade.

N 28

o topete do morro da Glória, ao lado da santa de braços acolhedores, a vista se dilata. A imensidão faz tudo parecer uma caprichosa maquete. Batizada de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, a cidade catarinense, ao longe, sugere um conto de fadas. Extensões de dunas, penhascos, costões com tablados perfeitos para os pescadores, ilhotas verde-ervilha, lagoas e lagunas compõem o charme dessa Veneza rural. No início da praia do Mar Grosso fica a Ponta da Barra, com longa faixa de terra e pedra que adentra a baía. Acompanhando os molhes, um pouquinho antes da ilha Capim do Meio, o olhar se detém na vivacidade das garças e na espera dos pescadores. E de repente um rebuliço toma conta de todos. Na superfície da água, golfinhos chamam a atenção dos pescadores que, alertas, posicionam suas redes. Sim, senhor. Sim, senhora. Por aqui golfinhos e homens pescam juntos. É mais ou menos como fazem os tropeiros, cer-

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cando o gado para juntá-lo no curral. Os golfinhos encontram o cardume e o forçam a entrar no canal, conduzindo-os na direção dos pescadores. Quando percebem que o cardume já está ao alcance das redes, emitem um sinal para as tarrafas serem lançadas. Os peixes que não caem na rede nadam para o fundo, onde os golfinhos os esperam para a comilança. Alguns gostam de “tirar onda”, como dizem os pescadores. “Tem boto que manga de nós e não traz peixe nenhum. Há ainda os que ralham com a gente se erramos a tarrafada.” Por sua importância na cultura local, os botos da espécie Tursiops truncatus, que vivem nas imediações de Laguna, foram elevados à categoria de Patrimônio do Município. Viraram até artigo na renomada revista francesa Science & Nature. O que a revista não conseguiu desvendar é o motivo de tamanha colaboração dos golfinhos. Mas o pescador Gancho logo explica: “É que nossa amizade com eles é antiga, de longa data”.


Preste atenção Não é história de pescador Fundada pelo bandeirante Domingos de Brito Peixoto em 1676, Laguna foi a primeira cidade do sul de Santa Catarina a ser tombada pelo Patrimônio Histórico e Geográfico, devido à importância de seu casario em estilo barroco. Hoje as casas de janelas com formas curiosas exibem inusitadas tonalidades lilás, mostarda, rosa coral e tangerina. Nas antigas docas, o entardecer traz um visual poético com suas luzernas da pesca do camarão refletidas nas águas. O “camarão laguna” é afamado mundialmente por sua qualidade, e isso não é história de pescador. A história que mais se conta em Laguna é a de Ana Maria de Jesus Ribeiro. Na adolescência, a menina demonstrava amor pela liberdade, desafiando os costumes de sua época: andava a cavalo e tomava banhos de mar. Por volta de 1835, chegou à região o combatente Giuseppe Garibaldi. Exilado no Brasil depois de participar e de colher louros na Revolução Farroupilha, ele decidiu morar na escuna Rio Pardo, ancorada de frente para a cidade. Um dia desses, viu pela luneta uma jovem. Seu caminhar altivo e os cabelos negros soltos ao vento o cativaram de imediato: “Mi ha colpito come un fulmine” – me atingiu como um raio –, teria dito. Ana, que ele mais tarde passou a chamar pelo diminutivo em italiano, Anita, tinha 18 anos; Giuseppe, 32. O namoro começou ali, entre “balas e canhonaços”, enquanto ela fazia exercícios de tiro.

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Repare na formosura das praias lagunenses: a do Cardoso, com suas dunas e mar turquesa; a da Galheta, onde, se for época, passeiam baleias-francas; a do Gi, com suas pedras róseas. A Prainha do Farol, da Teresa e do Siri estão entre as preferidas dos surfistas.

Juntos, os dois atuaram em batalhas no Uruguai. Anita carregava canhões, foi enfermeira, aprendeu a falar italiano, espanhol e francês. Instruía-se e fortalecia seus ideais de igualdade e justiça social. Garibaldi vibrava ao vê-la lutar: “De pé sobre a popa, no cruzamento dos tiros, surgia ereta, calma e altaneira como uma estátua de Palas”. Mais tarde, o amor surgido sob a benção dos golfinhos de Laguna os levaria a atravessar o oceano para lutar pela unificação da Itália.

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Laguna tem mais

Fonte da Carioca

Suas torneiras foram feitas por escravos em 1768. Delas ainda sai uma água cristalina que brota da terra, fresca e saborosa. Os tanques de mármore vieram da cidade italiana de Carrara.

Museu de Anita Garibaldi

O imponente edifício caiado de branco, construído em 1747, já foi ocupado no andar superior pela Câmara dos Vereadores, e no térreo pela Cadeia Pública. É um marco na história de Laguna, pois de uma de suas janelas foi proclamada, em 1839, a República Juliana.

Casa D´Ulysséa

Dentre as coloridas casas de Laguna, a casa de Ulysséa se destaca por ser toda revestida de azulejos azuis vindos de Portugal. Um luxo para a época.

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Não deixe de conhecer O farol de Santa Marta, a 14 quilômetros de Laguna, é um dos mais belos do litoral brasileiro. Construído por franceses em 1881, com mistura de pedra, areia e óleo de baleia, é considerado o maior das Américas e o segundo do mundo. Hoje, sua missão se resume à proteção dos pequenos barcos pesqueiros, pois as grandes embarcações, com todo o seu aparato tecnológico, não necessitam mais dessas míticas construções que tanto encantam os viajantes.

s e rviç o Como chegar A TAM oferece voos diários para Florianópolis, saindo das principais cidades brasileiras. De Florianópolis até Laguna são 120 quilômetros. Onde ficar Laguna Tourist Hotel • Piscina, quadra de tênis e sauna são algumas das atrações do hotel. Mas o destaque é mesmo a localização, no alto do morro, com abrangente vista para a praia do Gi. Fone: (48) 3647-0022. www.lagunatourist.com.br. Ravena Cassino Hotel • Localizado de frente para a praia do Mar Grosso, a mais www.almanaquebrasil.com.br

próxima do centro de Laguna, o hotel conta com boa estrutura e localização privilegiada. Fone: (48) 3647-0450. www.ravenacassinohotel.com.br. Onde comer Restaurante Chedão • No cardápio há de peixes a pizzas, tudo caseiro e saboroso. Uma das melhores pedidas é o linguado a dorê. Fone: (48) 3646-1126. Restaurante Arrastão • Criado nos anos 1950, o restaurante tem como especialidade os frutos do mar. Fone: (48) 3647-0418. www.restaurantearrastão.com.br.



VIOLETA Saintpaulia ionantha Wendl.

Belezura da casa Delicada, mimosa, de variadas cores, encanta qualquer um. Para acolher a violeta, basta uma varanda, a prateleira num corredor iluminado, um peitoril. Ela faz parte do rol das “plantas de interior”. E há quem converse com elas como se fossem gente.

A 32

gaúcha Gema Baptaglin Tagliapietra, nascida na colônia italiana de Nova Palma, perto de Santa Maria, adora plantas de casa: begônia, gerânio e – a preferida – violeta-africana. Ela as cultiva “onde tiver um cantinho”, e olhe que ela mora num apartamento. Tia Gema, assim chamada pela dúzia de filhos de suas primas que ela ajudou a criar, tem 73 anos; belo tipo de italiana, de olhos azuis. Mora em Porto Alegre, onde casou e teve uma filha. A paixão por flores vem da infância. “Coisa mais linda é olhar pela janela do ônibus e ver as árvores floridas”, diz ela. Como muita gente, Gema fala com suas plantas, e não só para o bem delas, mas dela própria: “Quando a gente está meio triste, se conversar com elas, mesmo que só em pensamento, a gente se sente mais aliviada.” Gema também as admoesta. Conta que as violetas estavam demorando para florir e ela as advertiu: “Olha, está chegando meu aniversário, quero flores de presente”. E não é que na véspera de seus anos elas amanheceram floridas? Uma das primas, Zaida Schirmer, contratou-a para cuidar de seus vasinhos na sacada. O pequeno jardim não parecia bem. Gema separou algumas plantas em estado grave, pôs numa prateleira para tratar – “estas ficam no

hospital”. Pegou todos os vasos de violetas, levou para a sala, dispôs sobre uma mesinha perto da janela. Ela afirma que as violetas gostam de ficar juntinhas. “Elas devem conversar.” A Saintpaulia ionantha Wendl. passou milênios no seu canto, nas montanhas do leste da África. Até que, no fim do século 19, exploradores a descobriram, e começou a mútua paixão entre violetas africanas e seres humanos. Dentre as cores mais comuns, destacam-se azul, rosa, branco, bordô, branco com borda bordô, e a cor que lhe dá nome, violeta. As florzinhas nascem entre folhas verde-escuro cobertas por penugens que as fazem parecer de veludo. Cada folha, semienterrada em terra rica em nutrientes minerais, enraíza e forma nova planta. A violeta ainda pode decorar escritórios, salas de aula, redações etc. Além de graciosa, ocupa pouco espaço, é perene, fácil de cuidar, e com dois ou três reais você compra um vasinho florido. Por isso, é das mais populares plantas ornamentais. Dada de presente, simboliza lealdade, admiração, zelo. Tia Gema assevera: “Às vezes, uma flor diz mais do que um buquê”.


Iolanda Huzak

Iolanda Huzak

Dicas da tia Gema

V

ioleta gosta do sol da manhã, mas sem exagero. Não suporta vento; prefere ambientes fechados, mas bem iluminados. Pode demorar meses para dar flores, mas quando saem, duram mais de mês. Para ver se ela está com sede, você põe o dedo na terra, ou ergue o vaso e olha o prato: se estiverem secos, pode aguar. Aguentam até uma semana sem água, mas no verão é bom molhar duas vezes por semana, direto na terra ou no prato. Evite encharcar e molhar folhas e flores, pois muita umidade atrai fungos.

São xarás mas não são parentes

N

ão confunda a africana, uma gesneriácea, com as violáceas, europeias, como a violeta tricolor (amor-perfeito). Esta já enfeitava jardins da antiga Roma. Shakespeare a cita em Sonho de uma Noite de Verão: “Uma florzinha do ocidente, antes branca como leite, agora púrpura, da ferida que do amor lhe proveio”. Refere-se ao mito grego: Eros, deus do amor, adorava a violácea branca; com inveja dela, Afrodite, deusa da beleza, tingiu-a de púrpura. Tornou-a ainda mais bela, bela como a xará africana.

Você pode achar que Gema delira. Em Almanaque do Amor, Bernardo Pellegrini e Maria Angélica Abramo mostram o acerto da intuição da gaúcha. Um pesquisador, o detetive Blackster, de Nova Iorque, fixou um detector de mentiras em suas plantas. Notou que reagem ao perigo e ao prazer. Ao aproximar de uma delas uma chama, o oscilógrafo registrou seu pânico em traços rápidos e fortes. Quando a acariciou, os sinais foram amplos e relaxados. O teste inspirou cientistas russos. Num gerânio, instalaram sensores e, enquanto um queimava as folhas e jogava ácido no caule, outro vinha, afagava as folhas, limpava o caule e conversava com a planta. Quando o “torturador” chegava, o gerânio emitia sinais agudos; e, na presença do “tratador”, ondas suaves e contínuas. Os russos foram além. Separaram um par de violetas em salas contíguas. Um vaso recebia água, o outro, não. Quando aguavam a felizarda, a outra reagia, na sala ao lado, como se sentisse o mesmo prazer. Gema está certa: elas sentem, e devem conversar.

Iolanda Huzak

Elas devem mesmo se falar

SAIBA MAIS A Sabedoria das Flores – Histórias, lendas e o poder de cura das flores, de Katherine Kear (Mandarim, 2001). Almanaque do Amor, de Bernardo Pellegrini e Maria Angélica Abramo (Imaginário, 1994).

Consultoria: nutricionista Aishá Zanella (aishazanella@hotmail.com)

33


Todo mundo errado

A mulher não resiste e, após uma noite de bebedeira, trai o marido com o melhor amigo dele. Os dois já estavam no quarto quando toca o telefone dela. A mulher atende e, após desligar, fala ao rapaz: – Era o meu marido. Ele disse que vai chegar mais tarde porque está jogando pôquer com você...

Outra de casamento

Dois amigos jogam conversa fora no boteco: – Eu e minha mulher fomos verdadeiramente felizes durante 20 anos. – E depois, o que aconteceu? – Nos conhecemos e casamos.

Boa ação 34

O homem que acabou de morrer chega ao céu. São Pedro diz: – Meu senhor, para entrar no céu tem que ter feito boas ações na vida. Me conte algo de bom que fez enquanto era vivo. – Ah, teve uma vez que vi uma mulher sendo atacada por um leão feroz. Não tive dúvidas: peguei um pedaço de madeira e parti pra cima do bicho. – Nossa, muito bonito. Há quanto tempo aconteceu isso? – Há uns 10 minutos atrás...

Causos de

Rolando Boldrin

Eita cachorro bom de caça Vou contar mais uma do compadre Furquim, aquele mentiroso que todo mundo adorava. Dizia ele que tinha um cachorro que era o melhor do mundo pra caçar perdiz. Por isso mesmo o povo chamava ele de perdigueiro. É ou não é? Olha só a história que ele contou, envolvendo o seu querido cachorro… Furquim – Eu num apertêio do meu cachorro perdiguêro pru nada. Tanto isso é verdade que, uma certa vez, eu tendo que ir pra Sum Paulo, me agarrei com o bicho e lá fumo nóis dentro da jardinêra, eu e ele. Pois muito que bem: cheguêmo lá na capitá, um despropósito de gente, e fumo logo percurá os meu parente que morava nos caminho da tar da Lapa. E lá vamo nóis, eu e meu cachorro, rua afora, andando de a pé que é pra móde num se perdê. De repente, meu cachorro perdiguêro amarrô. Um aparte: amarrar é quando o cachorro de caça pressente algo e fica estático em posição de ataque. E siga lá a história do compadre. Furquim – Meu cachorro amarrô ali mêmo, numa esquina cheia de muvimento de gente andando e artomóve passando. Digo inté que ele amarrô oiando firme pra onde tinha uma grande banca de revista e jorná. E ficô ali sem se mexê. Eu garrei a percurá a tar caça e nada de incontrá. Vai daqui, vai de lá, e ele ali amarrado, naquela posição de bão caçadô, sem se aluí do lugá e sem piscá. Pois foi aí que eu arreparei. Tinha um jorná aberto dipindurado, desses que é pra pessoa que passa lê as notícia. Pois num é que no cabeçaio do tar jorná tava escrivinhado assim: Bairro das Perdizes… Ah, o bicho tinha que amarrá mêmo, uai. Bão caçado faz ansim. É ou num é?

Fuga espetacular

Numa delegacia do interior, um funcionário esbaforido avisa ao delegado: – Doutor, doutor, o ladrão fugiu! – Mas, como? Eu mandei você colocar sentinelas em todas as saídas! – Pois eu coloquei! Mas ele fugiu pela entrada...

Missão impossível

O sujeito encontra uma lâmpada mágica na rua. Esfrega, esfrega, até que sai um gênio, que lhe concede três desejos. – Bem, seu gênio, minha mãe morreu há muito tempo e eu queria que o senhor a ressuscitasse. O gênio explica: – Meu amo, esse pedido é muito difícil de realizar. Faça outro. – Bem, meu pai também morreu há bastante tempo e também queria que ele voltasse. – É o mesmo caso do pedido anterior, meu amo. É muito difícil. Por favor, faça outro. – Ah... Então eu quero que o Corinthians ganhe a próxima Libertadores da América. O gênio pega uma caneta, um bloquinho de anotações e pergunta: – Qual era o nome de seus pais mesmo?




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