3ยบ CONCURSO DE POESIA -ZILA MAMEDE-
PROJETO EDITORIAL: José Pinto Júnior Cefas Carvalho PROJETO GRÁFICO E CAPA: Davi Othon REVISÃO: Luiz Augusto IMPRESSÃO: Opção Gráfica
AGOSTO DE 2007
Iniciativa vitoriosa Livio Oliveira Tive a honrosa oportunidade de coordenar, no ano de 2006, o júri do Terceiro Concurso de Poesia Zila Mamede. Uni-me, nessa tarefa, com os importantes poetas potiguares Antoniel Campos e Plínio Sanderson, demais membros da equipe do júri, que exerceram sua missão com denodo, zelo e correção. O excelente evento foi organizado pelo jornal Potiguar Notícias, que tem, no seu Diretor, José Pinto Júnior, um dos dínamos do jornalismo e da cultura do nosso Estado. Cefas Carvalho, outro batalhador incansável pela causa da cultura desta terra, desdobrou-se também em esforços no sentido da realização de um acontecimento cultural de altíssima qualidade. É de se lembrar, ainda, que o Município de Parnamirim apoiou a ótima iniciativa, juntamente com diversas empresas e instituições que tiveram inteligente análise acerca da importância da efeméride para o desenvolvimento do povo de Parnamirim e do Rio Grande do Norte. Confesso que fiquei, de certa forma, surpreso com o elevado nível dos participantes. Posso afirmar, hoje, de forma cabal - a partir da condição de quem compôs, também, os júris de outros dois importantes prêmios literários do RN (o prêmio Othoniel Menezes e o prêmio Luís Carlos Guimarães): pela quantidade dos concorrentes e pela qualidade dos poemas e poetas premiados, o Concurso Zila Mamede é, juntamente com esses dois, um dos três mais importantes prêmios literários do Estado. Fiquei contente em me deparar com poetas do quilate de Iara Carvalho (a grande vencedora e que tem recebido destaque no cenário literário potiguar), Márcio Rodrigo Simões (2º Lugar) e Fabiana Oliveira (3º Lugar); além de Adriano Gray Caldas, Anne Guimarães, Bianor
Paulino, Gustavo Henrique Medeiros, Ismael Pimenta, Izaías Gomes de Assis, José Delfino Neto, Manoel Azevedo Júnior, Marcos Ferreira, Maria Vergilie Neta, Pilar Fazito e Ronne Grey Freitas de Souza (que receberam, devidamente, menções honrosas). Poesia de excelência, trabalhada com sentimento e apuro estético! Os cantares desses poetas nos recobram os liames com o universo, mundo dotado de riquezas e sentimentos, angústias e sofrimentos, elementos físicos e abstrações, que nos impõem, a todo instante, contemplações, reflexões e perplexidades. E é nesse campo, o das perplexidades que surge a tentativa de explicação do mundo a partir de uma missão ética e estética: a do fazer poético, linguagem de signos, símbolos e ritmos, musicalidade da palavra. Aí é que assentaram suas convicções humanas as mulheres e homens que firmaram a sua lavra na poesia, presente nesta obra que se apresenta a um público sedento da beleza poética que dá cores múltiplas ao pensamento. Não tenho dúvidas de que a homenageada permanente desta obra coletiva, a poetisa (prefiro tal designação para a mulher que produz poesia) Zila Mamede, sentiriase realizada e dignificada com os resultados aqui demonstrados, poemas do mais alto teor estético, colhendo o ritmo da vida e do mundo. Todos, poetas imbuídos do compromisso certo com as suas obras iniciadas, mostrando-se, aqui, um dos seus passos mais importantes. Nesse sentido é que se percebe a importância da iniciativa de pessoas empreendedoras e sensíveis, dentre os quais pontifica sua relevância o meu amigo José Pinto Júnior, haja vista seu empenho renovado e apaixonado (é de se lembrar que o nosso amigo também é poeta!) pela tarefa a que tem se dedicado: a de fazer resplandecer a cultura e a arte em nosso Rio Grande do Norte, permitindo a todos os participantes do Concurso de Poesia Zila Mamede a demonstração de que temos, em nosso Estado, potencialidades - as mais diversas - também nessa área da cultura e do saber humanos.
O raio caiu pela terceira vez... José Pinto Junior Cefas Carvalho Reza o ditado popular que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. E quando este raio cai três vezes no mesmo lugar? O leitor há de perdoar o fraco trocadilho, mas ele ajuda a ilustrar a satisfação da coordenação do Concurso de Poesia Zila Mamede com a publicação deste terceiro livro com as poesias vencedoras e que tiveram menção honrosa no concurso de 2006. Publicar um livro não é fácil, visto os custos gráficos e os baixos índices de venda de livros no país. Beira à loucura fazer como fizemos em 2006, lançar um livro com as poesias do 2º Concurso em uma tiragem de mil exemplares com maciça doação para entidades culturais e escolas publicas de Natal e Parnamirim. Uma loucura, talvez, que serve de combustível para empreitadas como estas, a de publicar livros e divulgar a nova poesia potiguar. Poesia de gente como a professora curraisnovense Iara Maria Carvalho, vencedora da terceira edição do concurso e que vem há anos se destacando nos concursos estaduais. Ou a poesia de Márcio Rodrigo Xavier - 2º colocado - caudalosa, verborrágica, em contraposição à obra de Fabiana Oliveira - terceira colocada - minimalista, sintética. Entre os poetas que obtiveram menção honrosa, temos a delicadeza de Anne Guimarães, a experimentação de Bianor Paulino, os sonetos de Marcos Ferreira, a poesia popular de Isaías Gomes e muito mais. Uma parcela considerável do melhor que se produz hoje na nova poesia norte-riograndense, de obras recém-saídas do forno por parte de poetas quase todos inéditos em livro. Que o leitor saboreie este livro com a mesma paixão com que os poetas escreveram suas poesias. Provando que um raio - quando poético, talvez - cai sim três vezes no mesmo lugar.
-SumárioIara Maria Carvalho Márcio Rodrigo Xavier Fabiana Oliveira Manoel Azevedo Júnior Izaias Gomes Adriano Gray Caldas Marcos Ferreira Anne Guimarães Maria Vergílie Neta Pilar Fazito Ronne Grey Freitas Ismael Pimenta Bianor Paulino Gustavo Henrique Medeiros José Delfino Neto
“Entre a ânsia e a distância onde me ocultar? (Zila Mamede em “Onde”)
Iara MarIa CarvalhO 1ÂŞ Colocada
Iara Maria Carvalho
NO
jOIO a fuNdO
têm um jeito de ásia meus olhos quase ateus (graças a deus) meus olhos têm confusa raiz continental funda afunda profunda olhos de água baldeada mareta migrando convulsa íris no limo da revência plantada tem um jeito de ásia minha córnea mutilada o mundo é um caco um oco (um pouco de tudo sozinho) desde fundada a cegueira só creio nas flores que espinho
15
Iara Maria Carvalho
C artaz (um risco vermelho no imperativo desse sol) amerĂndio ĂŠ o grito.
17
Iara Maria Carvalho
f atalISMO com a ressaca da praia veio-me a infância e o seu limo embotou-me a vista agora a muralha Ê grande
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Iara Maria Carvalho
t rajetO fui acontecida desde a noite de natal quando no cimo da árvore cravaram espinho pedra e mel morri no nome quando não pude nadar cantar então é um enorme cacto na garganta
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Iara Maria Carvalho
C IClO irrigaram mel na minha veia mĂŞs passado menstruei formigas.
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MรกrCIO rOdrIgO XavIer 2ยบ colocado
Márcio rodrigo Xavier
C INCO
palavraS para O SIlêNCIO
I Não sou eu o único a ver o propósito rítmico das coisas Engalhado dum saco arrastado no vento, Nem a ver sozinho a proporção assentada num movimento Se balançar pelo cimo da serra, Nem a comparar desacompanhado as medidas, As desmesuras descompassadas Com que me caem as gotas soltas das nuvens quando chovem, Com que me monta um quadro algébrico e antigo A despencada dos barrancos Com o que se lhes fica na cara depois que caem, Com o que me assegura com o giro do seu corpo Os restos das árvores a voltear (suas folhas soltas a volver) E voar - ser folha - é variar no vento, Subir-lhe quando ele pedir E pulando dum súbito em cima dele Agarrar-se-lhe em volteadas tontas e às loucas E celebrar com ele uma dança e uma música Que ele diz tê-la encarnado no corpo solto Que é estar a alma livre por toda parte. Quando eu vejo isso, Tudo isso também me vê. E me olha de sua altura descomparada E me diz de seu mistério de não haver, havendo... E que na verdade isso de haver e de não haver É que não existe... Nem essa cegueira surda que é estar-se triste e sozinho... E que quando, no seu olhar para isso, Isso olha para você, não há ninguém se olhando. O que há é como alguém que se abaixa curioso entre a folhagem E sem querer se vê refletido numa gota de orvalho iluminado do sol, E se vê assim tão distraído e comum Continua... 27
Que depois nem se dá conta... Corriqueiro como o riacho que corre, Ou o animal que pasta, desocupado... Com a mesma desocupação das estrelas, Que só se ocupam em ser desocupadas E olhar sem ver para o homem, E dizer no silêncio Como é alegre e bom estar-se desocupado e sozinho e pleno de si... Esquecido até do que se é... dormindo... E que isso de olhar sem vê Existe tanto como isso de ver olhando...
Márcio rodrigo Xavier
II Quando me deito na grama, E subitamente dou conta dela Me espinhando as costas, E ligeiro arranco um punhado e o olho, Sei que há tanto mais por trás dele Como há dele a me tocar as costas; E sinto numa presença Tudo o que passou e mudou-se Pra ser agora ali aquela grama que arranquei à terra Que arranquei num impulso e sem pensar E me sinto assim um pouco como deve ser deus A desmoronar, trovejar e explodir, Nos arrancando e nos fazendo mortos Assim tão de súbito E sem se dar por conta... (e isso é pra ele do mesmo modo comum e sem motivo como é pra gente arrancar um punhado de grama) - arremesso o tufo de grama ao vento Mas essa grama que eu matei arrancando à terra Eu mesmo devolvo à terra, E a terra a vai acolher, como antes a fazia brotar, E o mesmo saber que ela tinha antes, ela vai saber agora, E vai me dizer olhando pra ela, o mesmo que ela dizia antes; Que se fez de morta, pra dar mais de comer à vida, Que se fez de muda, pra dar mais a gente de ouvir as coisas, Que se fez de surda, pra dar mais a gente de não perguntar aos outros Pra se saber de certeza, e que achar por si É melhor do que achar sem o senso Que descobrir as coisas sozinho ensina... E que se fez muito, porque é só uma... É por isso que eu também quero um dia ser terra Numa colina alta tendo por cima uma árvore com grama ao rés, E esperar num silêncio tranqüilo algum menino afoito e sozinho Vir sentar-se um dia ao pé da árvore E atirar distraído ao vento um tufo extraído da grama. 29
Márcio rodrigo Xavier
III Um dia ao crepúsculo Enquanto caminhava ligeiro a subir uma rua, E como viesse conversando ria bem alto e gesticulava, Vi subitamente uma velha senhora a olhar-me nos olhos, E notei que olhava para mim Como olhava para tudo, Apenas com a diferença que agora Era a mim que notava... E via-me, como se vê a um jovem Animal que passa fazendo alarde, Tão corriqueiro e comum como ela mesma sentada naquela calçada... Olhou-me do mesmo modo como se olha para as coisas mais simples, Sem precisar pensar muito mas reparando bastante... E me viu assim sem discriminar os meus trajes puídos, Nem a minha barba grande ou meus cabelos assanhados... Olhava-me simples como penso que sou, A me largar livremente Após me haver tocado com os olhos... Olhou-me sem esse olhar de gana, enredado, De quem deseja alguma coisa quando olha outro; Olhou e me deixou, como quem não quer nada. E por isso, por me olhar do modo de quem repara para o céu Como quem espia pra chuva que cai e cessa (Que desejo pode haver em se olhar para as nuvens? Ou as estrelas? Olha-se-lhes simplesmente) Sua visão era boa e certa e verdadeira. Olhou-me com seu olhar desinteressado E me viu com um olho que era Todo um sorriso e uma satisfação de ver Por isso cumprimentei-a num susto, Num impulso espontâneo e com a cabeça: 'olá!'
Continua... 31
Mas, ah minha avó, como pude sentir ao cumprimentá-la Sua solidão amarga sentada sozinha Na calçada esperando o crepúsculo! Sua solidão mundana de quem se despede cotidianamente! De quem tem já mais intimidade com as pedras E coisas caídas que com os homens... E rouba-lhes já um pouco do peso, E senta-se já tomada emprestada de sua imobilidade... E como tive impulso de virar-me, E sentar-me suavemente aos seus pés, E pegar-lhe a mão para dizer-lhe que nunca houve Nem haverá mais solidão alguma, E que algo que as coisas não nos permitem é estarmos sozinhos, E que tudo repercute num perene canto e uma música, E que o tempo da solidão é o mesmo de isolar-se consigo mesmo, E fechar os olhos e tapar os ouvidos, E só ouvir um eco, e vê menos que uma sombra, E isso é que é triste... Mas antes, entendi que foi de você que eu sabia disso. Que foi do seu silêncio e da sua solidão que eu ouvi essas coisas. E que foi a sua presença sentada naquela calçada E seu olhar simples e correto que me ensinaram. (do mesmo modo silencioso que as coisas ensinam) Por isso não voltei-me, velha mãe aparentada das pedras, Por isso segui e não voltei-me... (sei que em breve se apagarás, como eu também sumirei um dia, para voltarmos a vala antiga e comum - mas antes disso veremos o sol, a terra, as pessoas e os dias a passarem em sua sucessão contínua... e depois disso estaremos com a terra, o sol, os dias e as estrelas voando em disparadas certeiras...)
Márcio rodrigo Xavier
Iv Quando vejo o aberto... E ver o aberto é olhar pra fora. É olhar pra essas casas com suas árvores Plantadas pelo terreiro da frente e as Pessoas a entrarem e saírem delas, Com o fato presente de terem já entrado e saído e passado, E sabendo de antemão que tudo nunca mais volta Porque se renova sempre... Eu, por exemplo, nunca estou o mesmo. Estou mais como as casas com suas plantas e pessoas, Sou algo espalhado e muito, me ambientalizo, Sou um lar com ares de personalidade a insinuar-se, Estou solto, mudado da novidade De olhar muito e de notar a mudança, Alterado substancialmente por conhecer e reconhecer E digo: não sei de nenhum conhecimento que se adquira, Só que se experimenta... E posso ver qualquer coisa. Posso ver toda coisa até o que não está na minha frente... Miro a linha do horizonte e vou adiante Mais longe do que se me movesse Mais ligeiro do que na mais possante das máquinas! Dou um salto e não paro!... Isso porque olhar para as coisas é mais do que observá-las e notá-las, É mais do que poder achá-las boas ou más, É mais do que pensar sobre elas... É simples como vê-las, e para isso Nem é preciso estar de verdade diante delas (quem disse que há aqui casas e pessoas e árvores?) Pode-se ouvir seu murmúrio, adivinhar sua presença, Como quando você sabe de súbito que há alguém as suas costas mesmo antes de virar-se, Como quando de repente você se volta e olha no meio da multidão, Continua... 33
Nos olhos, pra única pessoa que observava você, E com isso descobria que ela lhe olhava... E isso é do mesmo modo descobrir o que te fez virar Como saber sem ver das coisas que desejam o seu olhar, E vê-las vivas e vibrantes de quererem se amostrar e encantar... E afastar o cansaço dos olhos... e acabar o fastio de ver...
Márcio rodrigo Xavier
v Ando livre e solto. Sou um homem da multidão. Espalho meu corpo por tudo que vejo, Seja grande ou pequeno. Quando olho caminhando logo cedo uma flor E cumprimento-a com os olhos, Falo não só a ela, Mas digo também um bom e sonoro 'olá!' E mim mesmo e sigo contente. Sou um pouco de tudo que posso ver, E tudo que não posso ver é também um pouco de mim. Eu ando pelas manhãs Com a mesma presença espalhada de quem sentado, No batente de sua casa, Só por assim o desejar (como quem quer ficar quieto e não fazer nada) Anda e corre e sabe solto do mundo todo, Com essa sabedoria quieta Bem calada e muda de quem soube... E aprendeu com tempo que pra saber tudo Nem precisa saber muito... Que pra saber tudo nem se precisa saber nada... Nem de estudo, nem de viajar, nem de conversar... Só muito de buscar e querer, De querência bem verdadeira... (como quem para andar se levanta primeiro)... Por isso eu dou minha volta, e ando do meu passo largo; E cumprimento de ver tudo, Com um aceno que é mais de verdade do que de gesto. E essa calma contente com que vou Não é alegria não... É mais como não fazer nada... É estar presente e atento pelo caminho... É olhar sem estar cego de tarefas e emoções... Continua... 35
E pensar muito atrapalha (ĂŠ como olhar para o outro lado)... Agora vou... vendo...
fabIaNa OlIveIra 3ÂŞ colocada
fabiana Oliveira
p eIXeS
SOlareS ,
fIleteS luNareS
I Dentro de mim tem um rato que toda noite quando adormeço faz barulho no teto ganha as ruas os lixeiros e é devorado por um gato... Só então eu acordo com gosto de sangue na boca.
39
fabiana Oliveira
II É detrás da cortina que digo Não te amo E você sorrindo para mim lá do outro lado, me chamando com o garfo e eu rindo de mim, e eu te digo: É desse lado da porta e da cortina que fielmente penso: Não te amo. E você rindo olhando sua desgraça até o momento em que não há sentido nenhum para que eu permaneça sustentando a recíproca de um sorriso que é só seu. Meu doce.
41
fabiana Oliveira
III Ao 1º sofrimento vieram as lágrimas ao 2º a calma ao 3º entrou para um convento ao 4º saiu ao 5º disse: É que amei...
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fabiana Oliveira
Iv E morreu porque já era bem velhinha. Não me queira agora pelo menos neste instante. Pois estou tão fina e superfície que só faço mesmo é ondular de leve essas águas minhas.
45
fabiana Oliveira
v Esquecer as páginas anteriores nada de palavras que se procuram. Extasiar-se muda como uma maré de lua crescente A medida exata de todas as forças que quase mortas não edificam Apenas dizem - vindo devagarinho Aqui estou E é assim quase como aquilo que não se pega e quando menos se espera Existe. Até os ventos se dobram É talvez a plenitude A chama imóvel de uma vela vivendo no aposento. É sequer pensar e não reter entre mãos tão doce força Abre-se então a janela e deixa-se suspenso Infiltrar-se de suave calmaria E é também impossível que não adentre coração E é quando tudo o que contém a força do que selvagemente se acredita desvanece Continua... 47
Fragilmente domestica-se e torna-se quase nada. Longilínea como uma lembrança Obscuro coração de um Bosque. Flama de sensações.
MaNOel azevedO júNIOr Menção Honrosa
Manoel azevedo júnior
I Navegar versos é preciso! O poeta é preciso, Quando ao leme da nau-poema, Circunavegando, Conduz-te a périplos Sublimes e deleitosos.
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Manoel azevedo jĂşnior
II Ave, Verso! Qual ave mais livre Revoa meu universo? Maria. Ave-Poesia, Fez seu ninho Onde, quando e como, Eu mais queria...
53
Manoel azevedo júnior
III Tantos plenilúnios Conto só, os sóis a fio, Colhendo infortúnios.
55
Manoel azevedo júnior
Iv Sala de jantar vazia... Petisqueira, Cheiro de brejeiro esquecido, Acende lembranças de avô Baforando memórias. Cadeira de balanço, Pausas e contratempos. Cinzas de um tempo Feito fênix, Revoa pela porta da cozinha, E se aninha no braseiro adormecido De um velho fogareiro.
57
Manoel azevedo júnior
v Insufla-me vento Que alimenta fogo Que traga madeira. Auto inquisição, Fogueira ardente. Sou tora de madeira, Véspera de cinza Dispersa à ventania.
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IzaIaS gOMeS Menção Honrosa
Izaias gomes
a p erereCa A menina, que é sapeca, Pegou uma perereca Que pulou lá na caneca. A perereca escorregou, Pulou da mão da moleca. Veja só pra onde saltou. Ela, aquela perereca, Pulou na careca do vovô. Hô, hô, hô! Depois a perereca pulou E caiu numa meleca. Eca! Ela saiu da meleca, A pequena perereca, Pulou fora e escapou. Ôh!
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Izaias gomes
C açadOr
peNSatIvO
Um caçador pensando... Debaixo duma árvore, Perto de algum lugar por lá. -Ah! Bom seria que as vacas voassem! Dizia ele: -E os passarinhos vivessem nos currais. Plaf! Um cocozinho dum passarinho Cai bem na cabeça dele, Como que por um propósito do Divino. -Vixe Maria! Se fosse uma vaca?
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Izaias gomes
f ObIa
aNIMal
Olha só o rato Morre de medo Das unhas do gato. Já o gato então Corre com medo Do seu inimigo: o cão. Mas, o bravo cão Se péla de medo Do felídeo leão. O leão tão possante, Ele não se tromba Com o forte elefante. E o elefante, pacato, Esse foge com medo, Com medo do rato.
67
Izaias gomes
O
g r I l O
O grilo tão magro, Coitado! Porque canta? Será que espanta A solidão? Ou será de fome? Ou outra razão? Coitadinho do grilo Se não for isso Ou aquilo? Porque canta então?
69
Izaias gomes
Q ueM
Me dera
Ah! Quem me dera seu Assis Estares aqui pra contar-me Aquelas estórias de Trancoso. Quem me dera ouvi de novo Os contos de Quingalaquingu Ou as presepadas do Malazarte. Quem me dera ter você comigo Só um pouquinho pra descascar cana E fazer aqueles roletes pra eu chupar. Quem me dera ficar assombrado Com aquelas estórias de lobisomens E dormi enroladinho como se tivesse frio. Quem me dera voltar a ser criança E sentar na calçada lá de casa E ouvi tua voz mais uma vez. Ah! Quem me dera.
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adrIaNO gray CaldaS Menção Honrosa
adriano gray Caldas
S ObraS Sigo o caminho sob o silêncio. Afasto o vazio cambaleante, temerário. Trago bem junto a mim um resto de esperança doce só a usarei aos poucos, no compasso justo de uma vida, sem glórias nem encantos. Arrasto-me neste pó seco que a tudo macula. Entre a areia dos astros e os dejetos do homem. Sobras da morte.
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adriano gray Caldas
N etuNO Somente um lento torpor entre as cinzas de antigas glórias, que se espalham em vão pela casa velha. Caminhos traçados em giz e sonhos a relva cobre agora a boca do deus marítimo. Netuno não cospe mais o rubro jato de luz e sangue. Todo o mistério se esvai naquele jardim de sombras das alvoradas claras, perfumadas de almíscar e jasmim, trago apenas o tilintar dos sinos, a musicalidade dos gestos e formas. Só o lento torpor, entre as cinzas de tão tristes glórias.
77
adriano gray Caldas
C Olher
eStrelaS
Costumava sair a ver estrelas com os pés descalços, passos largos, confiantes, em direção ao abismo. Buscava o caminho entre os astros antigo cemitério astral. Gostava da noite da brisa marinha, da presença inquieta das ondas face aos meus pensamentos. Costumava ser feliz na hora mágica deste estranho vício de noites tão solitárias. Costumava sair a colher estrelas.
79
adriano gray Caldas
C arrOSSel O dia agoniza. Veia impura, mendiga inútil das migalhas de luz. Reflexos dos amantes. Sob suas sombras trêmulas, escondem-se os gritos, habilmente sufocados. A noite enfim, evoca suas orquídeas negras. Mergulho neste vazio úmido da criação. Carrossel de sentidos opostos. Medo e astúcia, ódio e sangue. Código inscrito na pele. Encontro mudo das almas.
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adriano gray Caldas
v ertIgeM Uma réstia de luz reacende o instante. Som de outras fontes embargam de lágrimas a memória. Emerge o que está adormecido fogo vivo, animal inquieto, retorcendo-se nas sombras. Sob seu corpo, a vertigem da queda girando ao redor do abismo. Por tanto tempo estive distante que não reconheço mais estas veias gastas. Mergulho indeciso na imensidão noturna. Onde não há dor ou angústia apenas um leve torpor arrastado de sono.
83
MarCOS ferreIra Menção Honrosa
Marcos ferreira
d IaNte
dO eSpelhO
Não sou eu este homem que diviso na moldura do espelho à minha frente, sem a mínima sombra de um sorriso a pender-lhe do lábio descontente. Não são meus estes olhos de granizo, que me encaram completa e friamente, nem o queixo rotundo e tão conciso sob os fios da barba intermitente. Não são meus estes lóbulos caídos como estranhos e lânguidos badalos na capela insondável dos ouvidos. Pois não sou este espírito a esmo, que me busca entre sombras e abalos na infinita procura de si mesmo.
87
Marcos ferreira
e XtreMa - uNçãO Arde em teus graves olhos a tristonha e muda exposição do amor desfeito - esse encanto fugaz que a gente sonha conservar toda a vida em nosso peito. É que o mundo é este antro de peçonha que adultera o que é puro e o que é perfeito. A ventura mais longa e mais risonha morre sob os lençóis do próprio leito. Entretanto prossegue, não desiste; fecha logo o caixão dos sonhos mortos e sepulta isso tudo quanto é triste! Não te afogues no amor que se desfez - ser feliz é seguir por muitos portos e morrer por amor mais de uma vez.
89
Marcos ferreira
O fíCIO
pOétICO
Sentado sobre a cama, a luz da vela duplica a solidão que o penaliza. Escreve num papel, que se amarela ao foco dessa luz tão imprecisa. Levanta e vai fumar junto à janela - o peito aberto à esmola de uma brisa. Recorda com desgosto o beijo dela, ainda no batom preso à camisa. Apóia os cotovelos no batente. Inclina-se um bocado, espreita a rua, e cospe na roseira à sua frente. É tarde. Um galo canta no vizinho. Então ele retorna e continua os versos que deixou pelo caminho.
91
Marcos ferreira
a uSêNCIa É Noite de Natal... O mundo se alumia. Sentamo-nos tranqüilos em redor da mesa. Alguém sugere um brinde, com delicadeza. As taças se entrechocam em desarmonia. Remoto um galo tece uma oração baldia, e aqui nos irmanamos sob a luz acesa. Há vírgulas de pranto, olhos de incerteza, perante esta cadeira agora assim vazia. Já quase meia-noite, o vinho tinto exala um cheiro de saudade que percorre a sala e vem se amotinar no coração da gente. É Noite de Natal, é meia-noite e meia, e todos contemplamos, junto à Santa Ceia, a foto na parede de meu pai ausente.
93
Marcos ferreira
p rOfISSãO
de fé
Este é um momento que me dá muita alegria, apesar dos pesares e do pouco apreço em torno de quem lida com a Poesia e teima em conduzi-la sem saber seu preço. Pois sigo indiferente a muita gente fria, avesso à voz avessa do meu próprio avesso, que diz que eu não prossiga nesta litania, que tanto não tem fim, como não tem começo. Mas este é o grande prêmio que me recompensa: a luz deste minuto... a minha voz suspensa nas sílabas do verso que se faz canção... O resto?!... É só um resumo do meu grande vício - os ossos deste velho e tão querido ofício que exerço na oficina do meu coração.
95
aNNe guIMarãeS Menção Honrosa
anne guimarães
d eSeNCONtrOS Foram tantos beijos, medos Foram tantos porres Tantos arrependimentos. Olhares sedentos de amor Adeuses sedentos de amor E encontros com desejos Escorrendo pela alma Seiva de coração escoando... Esperança verde de amar como se nunca tivesse amado Anseio de outros jardins, outras flores, outras cores e paz. Foram tantas tentativas e ainda somos os mesmos com mãos vazias
99
anne guimarães
p erdIçãO Enquanto ele não vem eu finjo ter alegria E até danço de vermelho - Para outros olhos tristes Como quem morre de amor pra renascer...
101
anne guimarães
d Ia
eStraNhO
Não importa a época tudo aqui é outono-inverno É verão lá fora e em meu peito só chove. Vendavais em minh'alma... Aqui dentro é tudo cinza, folhas caem Só águas de solidão. Aqui em mim é sempre junho É sempre espera, é tudo saudade: O domingo amanhece frio, já nasce noite é tudo vazio sem amor Não há estrelas.
103
anne guimarães
a
Outra COr
Ouvir sua voz e arder de desejos púrpuros Enquanto a canção toca pela casa e enfeita o coração com luzes A alma se aquece escarlate para ser amor até doer... A pele rubra Os disfarces corais O deleite por fim vinho pra recomeçar com risos e rosas vermelhas.
105
anne guimarĂŁes
I NQuIetude Todas as dores acumuladas No espelho Todas as sombras e o silĂŞncio Todos os sonhos que negaste de olhos fechados No atalho Todas as cenas Todas as sĂşplicas e o amor: Todos os sinos perdidos.
107
MarIa vergílIe Neta Menção Honrosa
Maria vergílie Neta
l ábIOS S edeNtOS Momentos ausentes Flores artificiais, Pele no surto da alma, Lágrimas cortantes. Não esperes um dilúvio, Serei teu orvalho, Singelo e infinito. Não hesites em afagar Meus seios com sua boca, Pois a solidão tortura. Anseio a loucura Líquida do teu fruto Derramando em meus lábios sedentos.
111
Maria vergílie Neta
v erSO a baNdONadO No meu verso só a tristeza É infinita. O que brilha são lágrimas, O que rima é melancolia. Falta vida, Ausente alegria, Falta amor na minha poesia. No meu verso não há beleza, Só uma tristeza, Uma tristeza infinita.
113
Maria vergílie Neta
v INagre A febre não passa, A dor é tamanha, Solidão na enfermidade Parece convite para a morte. Entre as telhas vejo risos, Parecem gargalharem De minha desgraça mórbida. Logo agora que saboreava A loucura em meus seios, Cálices de vinho e orgasmos Transformaram-se em vinagre.
115
Maria vergílie Neta
d eSgruda Não me procure Amanhã perguntando Por ontem. Não me pergunte Se amanhã irei procurar. Aliás, não procure, Não pergunte, não apareça. Deixe a porta aberta, Estarei na janela esperando outro dia.
117
Maria vergílie Neta
a COrde f INal Só há uma ida Sem despedida, Sua última remada. Último olhar, Único abraço, Ontem ouvia suas risadas... Pranto, revolta, loucura, Verso, orgasmo, passos, Pedido negado, último pedido, Conselho, mentira, verdade. Dúvida e certeza só na morte, Antes e depois da ilusão da vida.
119
pIlar fazItO Menção Honrosa
pilar fazito
C aNtOS Surpreenda-me Pelos cantos da boca Pelos cantos dos olhos Pelo canto da voz. Apreenda-me Pelos contos de fadas e Pelos contos de rĂŠis. E possua-me Pelos cantos da casa...
123
pilar fazito
l eve
lavaNda
Essas águas turvas e plácidas Um dia desaguarão Na velhice da minha vida. Sem pressa. As águas turvas Outonais do Rhône Testemunham Minha transmutação. Num lugar algum Confrontada comigo mesma Desejosa de leveza Ainda hei de ser Lavanda Levemente levada Pelo ar de Provença.
125
pilar fazito
M eM贸rIa Teu rosto rasgado amarrotado na minha hist贸ria Tua voz louca invade meus poros acende e inibe enquanto traga a nicotina que me evapora: tua. Em teus olhos me perco em tuas veias me deito e te poso: nua.
127
pilar fazito
p Or
tráS de .
Minhas palavras Soltas ao vento... Palavras umas Que me expõem, Palavras outras Que se me impõem. A forma, Se não me importa, Exporta-se Pelo fútil conteúdo Contido E pela consistência Do que está Por trás De.
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pilar fazito
Q ueIMa
O CarvãO
Queima o carvão, menino! A cor da tua infância Estampada em teu rosto Envelhecido antes do tempo O corpo franzino Abriga o esforço descomunal Incapaz de satisfazer O desejo do teu dono Queima o carvão, menino! Queima a tua infância E a tua juventude Queima o teu futuro Nos fornos da injustiça.
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rONNe grey freItaS Menção Honrosa
ronne grey freitas
e jaCulaçãO Sob que máscara Aparecerá esse palhaço? Em riso engoliu o próprio Vômito. Sufocando gritou: Poeta que pariu! Versos ejaculam, O óbvio não. Poesia delira, delira...
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ronne grey freitas
h IStórIa
Mal
C ONtada
Faltam-me canetas que não falhem, Poetas que não se calem. Onde esconderam os revolucionários? Não acredito nessa história de heróis maquiados, Meus ancestrais foram massacrados.
Pai ensina-me a ser índio, Não acreditei na mentira, Chamaram-me de louco. Em que século surgirá um novo lampião? Prestes no verso que resta, Esqueceram de zumbi. Pai debaixo de que tapete esconderam os índios? Faltaram com a verdade. Sou poeta e não fingidor....
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ronne grey freitas
e lIte l IXO Insônia de versos sonolentos, Onde sussurros são gritos, Nessa noite de tantas horas, Que se misturam pensamentos e versos. Procuro palavras que Queiram ser livres De tempo e espaço... O silêncio rima. Os sábios são humildes! Gritei esperando resposta, Nem eco nessa noite se ouviu, Nem vira latas vagueiam... Elite lixo, Não suporto tuas vaidades.
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ronne grey freitas
I MageNS N OvaS Imagine novas ilusões, Sonhando no cálice De uma vagabunda. Procure a poesia Que acordou na tua insônia. Plante árvores irrigando Com as lágrimas do Tempo que perdestes Acumulando vaidades. Fique balançando Na rede quando Disserem que és louco.
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ronne grey freitas
S uSpIreI Escapastes entre meus dedos, Mas não queria prendê-la. O vinho tirou meu disfarce, Não consegui permanecer contido. Aos meus olhos estavas Despida. Palavras eram gotas, O silêncio. Um rio corrente de veneração. Escapastes entre meus olhos, Mas não queria cegá-la, Partistes e apenas suspirei.
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ISMael pIMeNta Menção Honrosa
Ismael pimenta
d evaSSa Na tênue linha Que nos perpassa O amor ditou Em profecia Versos inumados Em rude oráculo Que o sol expôs À luz do dia. Desde então Em praça pública Somos vistos E comentados: Dois amantes Entranhados, Sol e lua Entrelaçados. Na tênue linha Que nos devassa A paixão pariu Intermitente sina: Tu és o porto Que me abarca, O apocalipse Que me termina.
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Ismael pimenta
a MeNdOIM Quebro O casulo crocante Do teu vestuário E tua liberdade Termina aí. Desnudo nasci Ao contrário de ti. Vestido serei sepultado Enquanto nu Tu morres em mim.
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Ismael pimenta
b OrbOleta Não vês o intransponível Na vidraça que te detém? Almejas o clima saturado Do meu quarto E eu a liberdade do teu vôo. Vai-te, beleza frágil, Que eu tenho um gato Que nada perdoa: Sofás, tapetes e bichos, Principalmente os que voam!
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Ismael pimenta
p aIOl
de leMbraNçaS
O ex-menino revê a velha casa De histórias revestida E de ancestrais lavrada No calcário da memória polida. Reconstrói crepúsculos Anoitecidos na poeira vencida E no silêncio-sepulcro Décadas desnudam-se em horas. No espelho enrugado do tempo A criança entretecida À luz de vétero candeeiro Busca a sacra teta guarnecida. E sobrevive à profecia Sinistra aniquilação E ao pó do decrépito destino Da terra sem neos horizontes. O ex-menino sitiou o mundo Mas a velha casa Paiol de lembranças e ritos, Amálgama de santos e mitos Esta sempre teve consigo.
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Ismael pimenta
v eStígIOS Ondas claras Do mar de Ponta Negra Onde te vi Umedecer teu rosto de porcelana. Qual delas Beijou tua tez? Qual delas Ungiu-te os pés? Nesse código engarrafado No delírio da paixão Nenhum corsário desalmado Poderá ater as mãos. A ti somente tenho Vasto mar de Ponta Negra, Novelo de calmas brisas, Como cálida testemunha Dos vestígios do meu amor. Em tuas ondas emudecidas, Espumas que a praia sugou, O tempo lavrou felicidade Tendo o céu por cobertor.
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bIaNOr paulINO Menção Honrosa
bianor paulino
C ajueIrO Nas dunas o sol Verdes sombreiros Frutos virgulados
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bianor paulino
C huva Cabelos manhĂŁs Marejam no mar LĂĄgrimas do cĂŠu
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bianor paulino
M INguaNte Luana Nua
Luna
Lua A cĂŠu aberto
163
bianor paulino
O
jOgadOr
No CĂrculo verde Carteio incerto Desfilam Valetes
Rei
Beijo sem sexo Discreto Gesto convexo: Ele ama Dasnove
165
Dama
bianor paulino
N ONada Revôo Do novo ovo Nonada Do mesmo vôo Medula e osso Óculos no lodo do cosmo oco Que nonadoa nonadoa nonadoa No pluriuno do logos Gula e elo E revôo do demo - momo gozo Do zero vôo Sem sul Sem sal Sem sol Vácuo Verbo no multisolo do óvulo Sem poros nem glóbulos Sem uva nem Eva Sem avo nem ova Sem ave nem ovo O marco-mar e arco Nada mais da cova O olho do corvo no inóvulo Re-vôo yin yang
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guStavO heNrIQue MedeIrOS Menção Honrosa
gustavo henrique Medeiros
a MONíaCO Vapor sinuoso de amoníaco, Que exala sensações grotescas E imagens de caráter bestial, Atingindo meu cérebro, hipocondríaco, Invertendo-me as atitudes, simiescas, E revoltando, em mim, o animal, O entre das trevas, demoníaco, Que com a humanidade tem parentesco E geme em voz lasciva e gutural; Vapor sibilante, afrodisíaco, Tentador, viperino, carnavalesco, Eis-me aqui ao seu beijo glacial!
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gustavo henrique Medeiros
rr A água rola barrenta e abundante Sobre o asfalto, a tarde já ia Longe. Só você não sorria. Desce de minha pele A alma revoltada, incontida, Muda. Foge de sua própria vida. Todos os séculos contorcidos, Em brandas chamas se banhavam. Fechados; Só seus olhos não olhavam.
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gustavo henrique Medeiros
NO
Mar
Sob imenso azul, Rasgando azuis, Segue em meus passos e meu limbo, Intermezzo para silenciar os ouvidos, Água fria, Frio toque de seda em seda Que resvala, tomba, cambaleia... E segue... Bailarinas sonâmbulas se equilibrando sobre lâmina de machado, Carícia de pétala baça e perfume doce de amêndoa; E ele segue a espalmar seu casco ríspido, As hélices a girar, heliantos em catracas, Serras raspando sal... Sob imenso azul, Rasgando azuis, Segue em meus sonhos, Imenso dragão de fogo, Monstro marinho de citrino incandescente a reluzir, A divino sal e sal, gotículas marejadas na extensão do metal rútilo Arrancam frêmitos no azul derramando, escorrido; Rajas de serpentes a progredir sobre a superfície frouxa, Carretéis a desenrolar, loucos, riscando fatias, E meus sonhos a se enlear Traçando-se com fantasias e lágrimas, acalantos, tombos, delírios... E braços a se abrir, mágicos, solícitos, Sequiosos de lampejos Que falem na mesma língua, Tinindo, grunhindo, sorrindo...
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gustavo henrique Medeiros
e Ntrega
eSpeCIal
Que entre o vento pra varrer As folhas secas deste meu coração Que agora pulsa; Que, entre a cor da tarde Que o perfume da noite Surjam cantilenas que embalem a alma; Pois, Dos teus olhos, Estrelas se perdem Aqui dentro E se apagam aquecidas Por beijos Que teus braços revelam.
177
gustavo henrique Medeiros
C aNçãO
de aMOr NãO - CaNtadO
Foges de mim como gota d´água no mármore, A escorrer/ a escorrer; És mancha que se apaga Aos poucos em mim Como uma vibração esculpida em marfim Que os carunchos roem, E como me doem As têmporas por pensar em ti... ...Por pensar em ti como páginas rabiscadas Que o vento leva, Como papel grudento que se amassa E não quer mais se abrir, Como gota de tinta no mármore E escorrer/ a escorrer, Como um tiro em minha testa Que sangra após eu morrer.
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jOSé delfINO NetO Menção Honrosa
josé delfino Neto
ú ltIMa
fOrMa
Não mais oceano, não mais o Tejo, nem as ondas, que enchem meu mar de desejo. Não os reinvento mais, o cais, o mar... não mais os vejo, às vezes, o rio, e rio, às vezes, e sinto o cheiro que vem do ar.
183
josé delfino Neto
C afé Amargo excita, doce, açula, como a noite, de mar e lua, cavando o escuro, o fundo do poço, e dele o som e a luz com gula.
185
josé delfino Neto
S íNteSe Oh! Desvario do meu afeto. Minha forma de amar à tua fôrma de amor entrego. E em desvios me integro, aos quatro ventos, aos gritos do silêncio, a todos os arrepios.
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este livro foi viabilizado graças às seguintes instituições e empresas:
este livro foi viabilizado graças às seguintes instituições e empresas:
CâMara MuniCipal de arez
TRANSPORTES NOVO NORDESTE
Câmara Mu n icip al d e M ac a í ba
Impresso na Opção Gráfica Agosto de 2007