Revista Sebrae Ed.175

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[ ABR|JUN DE 2019 – ANO XXVII – Nº 175 ]

ÁGUA PARA TODOS Paracatu reverte crise hídrica com Zoneamento Ambiental Produtivo Histórias de empreendedoras são inspiração Olho na etiqueta ao comprar queijo Canastra

ISSN 2238-2178

9 772238 217000 www.sebrae/minasgerais

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27 E 28 DE JULHO

SÁBADO, DAS 10H ÀS 22H | DOMINGO, DAS 10H ÀS 20H

SERRARIA SOUZA PINTO | BH QUEIJO MINAS ARTESANAL

DAS SETE REGIÕES PRODUTORAS DO ESTADO. RENOMADOS CHEFS DE COZINHA,

APRESENTANDO PRATOS PREPARADOS COM O QUEIJO. CERVEJA ARTESANAL, CACHAÇA, VINHO, MEL E AZEITE MINEIROS. CAFÉ DAS REGIÕES DE MINAS. OFICINAS E CURSOS PARA

OS AMANTES DO QUEIJO.

ORGANIZAÇÃO

QUEIJO MINAS ARTESANAL. INIGUALÁVEL!

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ABR | JUN 2019

REALIZAÇÃO


MARIA TERESA LEAL

[C A R TA AO L E I TO R ]

CONDIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO

A

gestão eficiente do uso da água é uma das principais condições para o desenvolvimento sustentável. Ela se torna ainda mais necessária quando a economia local está fortemente baseada em ativi-

dades empresariais com alto consumo do recurso, como o agronegócio. Foi por essa razão que o Sebrae Minas liderou o projeto que resultou na aplicação do Zoneamento Ambiental Produtivo (ZAP) no Noroeste Mineiro. A metodologia, desenvolvida pelo Governo de Minas, foi aplicada na região por meio do programa de consultoria tecnológica do Sebrae, o Sebraetec. Os resultados são visíveis e comemorados por produtores e pela população local, como mostra a reportagem de capa da Passo a Passo. Esta edição também traz os resultados do programa que contribuiu para aumentar a capacidade competitiva de pequenos negócios do Triângulo Mineiro, fortalecendo a cadeia de fornecedores do setor sucroenergético. Para os que, assim como eu, acreditam no potencial transformador da educação, a Passo a Passo traz uma história inspiradora. A experiência de uma escola estadual de Montes Claros, no Norte do estado, reforça nossa crença de que é possível ampliar os horizontes das novas gerações por meio da educação empreendedora. Boa leitura!

ROBERTO SIMÕES Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas

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[EXPEDIENTE]

Passo a Passo é uma publicação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas). Registro no Cartório Jero Oliva nº 931. Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas: Roberto Simões Conselho Deliberativo do Sebrae Minas Banco do Brasil, BDMG, CDL-BH, Caixa, Ciemg, Faemg,

CAPA

Fapemig, Fecomércio, Federaminas, Fiemg, Indi, Ocemg, Sebrae NA, Seplag e Sedectes Superintendente: Afonso Maria Rocha Diretor Técnico: João Cruz Reis Filho Diretor de Operações: Marden Magalhães

Há dois anos, uma grave crise hídrica assolou a região de Paracatu. Mas, com a ação conjunta entre poder público, produtores rurais e Sebrae Minas, o cenário atual é bem diferente

Conselho editorial: Bárbara de Paula Sarto, Bruno Ventura, Catiuscia Souza, Danielle Fantini Lima Santos, Gustavo Moratori Nunes Coelho, Hebbe Carvalho, Jefferson Soares Ferreira, José Márcio Martins, Kamila Domingos, Karla Lamounier, Luciana Patrícia Rezende da Silva, Maria Teresa Bassi, Paulo César Barroso Veríssimo, Rafael Tunes Fonseca, Rosely Maria Soares Vaz, Vanessa Karla Silva Gerente de Comunicação: Leonardo Iglesias Jornalista responsável: Aline Freitas – MTb 09007/MG Produção editorial: Prefácio Comunicação Editoras: Ana Luiza Purri (MG05523 JP) e

[ 6 ] CAPACITAÇÃO

Empresas de segmentos diversos são capacitadas para atender às usinas de cana-de-açúcar do Triângulo Mineiro

Cristina Mota (MG08071 JP) Reportagem: Ana Paula de Oliveira, Bruno Assis, Fernanda Pereira, Guilherme Barbosa, Luiz Ribeiro e Marcela Káritas Revisão: Cibele Silva

[12] AGRONEGÓCIO

Soluções tecnológicas já são usadas no campo, mas há espaço para ampliá-las

Design e diagramação: Prefácio Comunicação Fotos: Agência i7 Impressão: Rona Editora Ltda. Periodicidade: Trimestral Tiragem: 10 mil exemplares

[16] TECNOLOGIA

Era digital potencializa a comunicação e o mercado de nicho, aproximando público e empresas

Redação: Av. Barão Homem de Melo, 329 Nova Granada – Belo Horizonte Minas Gerais – CEP: 30.431-285 – 0800 570 0800 sebrae.com.br/minasgerais

[22] GESTÃO

Falta de registro de marca pode gerar perdas ou anos de disputa judicial

[28] ENTREVISTA

Prof. Dr. Eduard Overes fala sobre o impacto das estratégias de inovação

[33] EMPREENDEDORISMO

Você tem um propósito? Os jovens dos dias de hoje são movidos por ele

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ABR | JUN 2019


[38] NEGÓCIOS

[72] ARTIGO

[49] EDUCAÇÃO

[74] CONSULTORIA

Ações de branding valorizam empresas mineiras de joias, semijoias e bijuterias

Escola de Montes Claros dá um salto de qualidade com o ensino do empreendedorismo

[54] MULHERES

Empreendedoras confirmam a máxima de que lugar de mulher é onde elas querem estar

[60] SERVIÇOS

Sala Mineira do Empreendedor é espaço de boas práticas de desenvolvimento

[64] MOBILIZAÇÃO

Sebrae participa de ações de novo programa federal para geração de emprego e renda

JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7

42

Paola Zorzin apresenta sete regras da Transformação Digital

O que você precisa saber antes de gravar um vídeo para a internet

[76] CONSULTORIA

Esqueça os clichês se quiser realmente inovar

[78] É BOM SABER

Edital do Sebraetec tem novidades

[80] É BOM SABER

Microempreendedores Individuais e as MPE já devem usar o e-Social

[82] NOTAS

[67] ALIMENTAÇÃO

Queijo Canastra recebe etiqueta que comprova sua autenticidade

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[ C A PAC I TAÇ ÃO

FORNECEDORES AFINADOS Projeto Encadeamento Produtivo prepara pequenas empresas para atender usinas sucroenergéticas do Triângulo Mineiro [G U I L H E R M E B A R B O S A ]

O

agronegócio está entre as ati-

lhões anuais, e de segundo maior produtor

vidades que mais impulsionam

de etanol exportado.

o Produto Interno Bruto (PIB)

Minas Gerais contribui de forma signifi-

do Brasil, sendo o setor sucro-

cativa para esses resultados. O estado ocupa

energético o segundo mais importante para

o segundo lugar no país em fabricação de

a balança comercial. Mais de 640 milhões de

açúcar e o terceiro em produção de cana e

toneladas de cana-de-açúcar foram proces-

etanol. E o Triângulo Mineiro é estratégico,

sados na safra 2017/18, rendendo ao país o

por abrigar grande parte das usinas mineiras

status de maior produtor mundial e viabi-

– são, ao todo, 22 unidades.

lizando a geração de aproximadamente 800

Os dados são do Sindicato da Indústria

mil empregos diretos. O Brasil detém, ainda,

da Fabricação de Álcool e Açúcar de Minas

os títulos de maior produtor e exportador

Gerais (Siamig) que, diante do potencial

mundial de açúcar, movimentando U$ 12 bi-

e da contribuição dada pelo setor sucro-

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ABR | JUN 2019


PARA AVANÇAR

O Triângulo Mineiro abriga 22 usinas sucroalcooleiras

A primeira ação do Encadeamento Produtivo prevê a realização de um diagnóstico de todos os participantes, a partir de um roteiro que inclui oito critérios para entender o estágio gerencial da empresa. “A partir dessa análise, montamos um plano de capacitação gerencial incluindo as áreas de finanças, marketing, vendas, processos e

do Sebrae Minas para o desenvolvimento de ações junto à cadeia de fornecedores. É onde entra o projeto Encadeamento Produtivo, por meio do qual pequenas empresas são qualificadas para atender a demandas diversas de grandes empreendimentos do setor. O projeto no Triângulo Mineiro teve início em 2017. A ação envolveu 89 empresas de diversas áreas, potenciais fornecedoras das usinas sucroenergéticas da região. A iniciativa trouxe ganhos para os pequenos negócios, que melhoraram sua gestão, e para as grandes indústrias, que têm agora a tranquilidade de contar com fornecedores aptos a participar de concorrências e oferecer serviços de qualidade.

pessoas, além de consultorias em segurança, meio ambiente e saúde (SMS) e preparação para a certificação ISO 9001. Realizamos também rodadas de negócios e ações de políticas corporativas de compras junto às usinas”, explica Simone Mendes, analista do Sebrae Minas. Os ciclos do projeto envolvem a identificação de gaps de competitividade, plano de ação personalizado, consultoria in loco, mensuração dos indicadores para avaliação da evolução e planejamento final para adequação de estratégia. Simone destaca que capacitar os empreendedores significa dar a eles ferramentas para que busquem melhores resultados e consigam atuar de forma diversificada no mercado, um aspecto importante, pois evita que o faturamento dependa de um único cliente. “Os trabalhos foram encerrados no

DEPOSITPHOTOS

energético ao Triângulo, buscou o apoio

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PEDRO VILELA / AGÊNCIA I7

[ C A PAC I TAÇ ÃO

Nas rodadas de negócios, Antônio e Vinícius Margato perceberam que alguns clientes não conheciam todo o portfólio da empresa

final de 2018, e obtivemos bons resultados.

tação proporcionada pelo projeto”, comenta

É uma iniciativa robusta, com investimento

Mário Campos, presidente do Siamig. “Esta-

subsidiado, por isso muito atrativa.”

mos felizes com a notícia de que já há empresas que estão fornecendo para as usinas.

DIVERSIFICAÇÃO

É importante que tenhamos uma oferta de

O projeto atraiu segmentos variados.

serviços adequada ao nosso negócio, no Tri-

Havia fabricantes de material de escritório,

ângulo Mineiro, que abriga um parque pro-

transporte, mecânica, insumos agrícolas,

dutivo relevante.”

ferramentas e material de construção, entre

Além de contribuir para que os fornece-

outros ramos de negócios. “As usinas pre-

dores consigam atender aos requisitos exigi-

cisam de um leque de serviços e produtos e

dos pelas grandes empresas, o projeto ainda

observam um rito próprio de compra, cujos

promove a aproximação entre demandantes e

critérios precisam ser seguidos. O processo

ofertantes, via rodas de negócios e feiras es-

se tornou mais profissional graças à capaci-

pecializadas. Foi em uma dessas oportunida-

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ABR | JUN 2019


des que Glauber Alves da Mata, proprietário

processos internos e contratou uma agência

da GG Auto Vidros, de Frutal, ampliou seu re-

de comunicação, que elaborou um material

lacionamento com as usinas, iniciando conta-

gráfico para divulgar a potenciais clientes o

tos com aquelas ainda não atendidas por ele.

portfólio de serviços e os certificados de segu-

Há dez anos no mercado, a GG Auto Vi-

rança do negócio, além de outros diferenciais.

dros presta serviços de troca de para-brisas,

Outra participante foi a Labfert Análises,

tapeçaria de veículo, confecção interna do

de Uberaba, que realiza ensaios (análises) de

carro, fechaduras, maçaneta, funilaria e sis-

amostras de fertilizantes, solos, tecido vege-

tema elétrico, tanto para carros quanto para

tal, água e efluentes líquidos. “Conseguimos

caminhões. Atualmente, tem 32 empregados

ter uma visão diferente do negócio. Diagnos-

atendendo a uma demanda em grande parte

ticamos alguns problemas que tínhamos na

proveniente das usinas. “Já tínhamos os do-

área de marketing, por exemplo, e adequamos

cumentos necessários para operar em locais

os rumos”, conta o proprietário da empresa,

que exigem treinamento de segurança, por

Vinícius Margato. Nas rodadas de negócios,

exemplo. A aproximação proposta pelo En-

o empresário percebeu que alguns clientes

cadeamento Produtivo nos permitiu mostrar

não sabiam que ele fornecia produtos de

esse diferencial e atrair novos clientes.”

outros segmentos. “Vi que nossos clientes desconheciam o que oferecíamos de fato. Já compravam da gente um perfil de produto e

as que mais chamaram a atenção de Glauber.

adquiriam de outro fornecedor materiais que

Ele conta que, após o projeto, reestruturou

também disponibilizamos. Percebemos essa

DEPOSITPHOTOS

As atividades com especialistas em gestão financeira, de marketing e redes sociais foram

SETOR DE PESO O Brasil reúne 367 usinas, e mais de mil municípios têm atividades vinculadas ao setor sucroenergético. Ele representa 2% do PIB nacional – movimentação equivalente a U$ 100 bilhões anuais. Cerca de 20% da produção global de açúcar é brasileira. E há margem de crescimento: ao as-

estufa. Para atingir a meta, foi criado o

sinar o acordo climático de Paris, o Bra-

RenovaBio, programa que incentiva a ex-

sil se comprometeu a reduzir em 43% a

pansão de biocombustíveis no país, entre

emissão de gases que causam o efeito

eles o etanol.

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[ C A PAC I TAÇ ÃO

PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7

O empreendedor Carlos Ferreira já está preparado para atender às grandes usinas

falha e apresentamos o nosso portfólio com-

de procedimentos internos que adotávamos

pleto aos clientes ativos, para que eles sai-

até então”, relata. “Chamaram nossa atenção

bam tudo o que fornecemos e não exista mais

as mídias digitais, como podemos explorá-

o risco de perdermos vendas.”

-las do ponto de vista comercial. É algo que utilizávamos muito pouco e, agora, vamos

APROXIMAÇÃO

intensificar. Já está em nosso plano de inves-

Carlos Ferreira de Assunção Júnior era

timento”, afirma.

empregado da Brastech Comércio e Enge-

O empreendedor ainda não atende de for-

nharia, em Iturama. Hoje, ele e o irmão são

ma ativa às usinas da região, já que o volume

sócios-proprietários da empresa. Desde que

comprado pelas grandes empresas faz com

assumiu a Brastech, que comercializa mate-

que elas busquem outro perfil de fornecedor.

rial elétrico, hidráulico e ferramentas para

No entanto, a aproximação proporcionada

construção civil, Carlos conseguiu triplicar

pelo projeto permitiu que ele passasse a fi-

o faturamento. Mesmo com bons números,

gurar na lista de empresas aptas a satisfazer

ele se interessou por participar do proje-

demandas pontuais, em caso de uma neces-

to. “De imediato, o que mais me atraiu foi a

sidade emergencial, por exemplo. A expecta-

consultoria in loco e personalizada, que me

tiva de Carlos é seguir atendendo às indús-

possibilitou fazer uma análise mais detalha-

trias e, gradativamente, ampliar a atuação da

da dos resultados financeiros e de uma série

Brastech na região do Triângulo.

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Pode não parecer, mas isto é um jeito de aprender. CER. A plataforma referência em Educação Empreendedora.

Se estamos aprendendo coisas novas, é preciso um novo jeito de ensinar. Foi pensando nisso que o Sebrae criou o CER, Centro Sebrae de Referência em Educação Empreendedora, uma plataforma de referência em estudos, pesquisas, ferramentas e tecnologias para unir conhecimento à atitude empreendedora. Uma maneira de trazer uma experiência transformadora para a educação. Bem-vindos ao CER. Um novo caminho para a

Acesse

cer.sebrae.com.br

educação vai se abrir no seu navegador.

e ajude a construir uma educação empreendedora que transforma. /cersebrae

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[ AG R O N E G ÓC I O

O CAMPO DO FUTURO Novas tecnologias chegam ao setor para agregar mais produtividade e qualidade [G U I L H E R M E B A R B O S A ]

D

e acordo com estudo de mapeamento da Nasa, a agência espacial americana, o mundo tem 1,87 bilhão de hectares de área plantada. A

maior parte dos países utiliza entre 20% e 30% do território com agricultura. Os da União Europeia usam entre 45% e 65%. Os Estados Unidos, 18,3%; a China, 17,7%; e a Índia, 60,5%. No Brasil, quase 64 milhões de hectares são dedicados à lavoura, o que representa 7,6% do território. Ainda há margem, portanto, para a abertura

O setor agropecuário representa 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, além de ser o responsável por metade de todas as exportações brasileiras

de novas áreas para plantio e pecuária, mas o principal desafio está no aumento da eficiência produtiva do agronegócio. Em outras palavras,

digitais para o agronegócio, desenvolvidas

será preciso produzir mais em um espaço físi-

principalmente por startups”, explica Priscilla

co cada vez mais reduzido. A ONU indica que a

Lins, gerente da Unidade de Agronegócio do

produção alimentar atual precisa aumentar em

Sebrae Minas.

70% para atender à demanda populacional futura. Para isso, o uso de novas tecnologias nas

CONTROLE A DISTÂNCIA

fazendas é fundamental para ajudar o agricultor

Fabrício Meireles, proprietário da Fazenda

e o pecuarista a melhorarem a produtividade e,

Cabeceiras, em Montes Claros, tem uma plan-

consequentemente, a rentabilidade do negócio.

tação de hortaliças, em um terreno de 4,5 mil

“As tecnologias digitais ganham terreno

metros quadrados. Há dois anos, ele adotou

entre os produtores rurais brasileiros, e isso é

um sistema de irrigação eletrônica chamado

ótimo para o país. Cada vez mais produtores

Agrowet. O maquinário é programado e con-

estão optando pelo uso de novas tecnologias

trolado eletronicamente, e seus indicadores

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ABR | JUN 2019


SOLON QUEIROZ

Fabrício Meireles controla o sistema de irrigação da cultura de hortaliças a distância

mostram se o fluxo de água é maior ou menor

o desenvolvimento de novas funcionalidades,

em alguma parte do terreno, possibilitando a

mas os primeiros resultados com os clientes

correção de forma ágil. O produtor estima uma

que apostaram no sistema têm surpreendido.

economia de água de 20% desde que começou

Os empreendedores de startups percebe-

a utilizar o sistema. “Antes, levava os produtos

ram a oportunidade de atuação no agronegócio

à feira e, muitas vezes, acabava vendendo para

e, atualmente, o leque de serviços que utilizam

um atravessador, porque tinha que voltar para

tecnologias inovadoras para o setor se expandiu

a fazenda rapidamente para programar e moni-

consideravelmente. No entanto, para Flávio Ba-

torar o equipamento. Ou seja, perdia os melho-

eta, analista do Sebrae Minas, é preciso ir além.

res preços. Agora, tudo é controlado por meio

“O grande e o médio empresário já têm acesso

do celular, e consigo vender por um valor mais

às novidades. O desafio é disponibilizar as tec-

adequado”, comemora.

nologias para o pequeno produtor. Vamos utili-

O Agrowet está em sua segunda versão,

zar nossa rede de canais, como cooperativas e

com funcionalidades conectadas à previsão

prefeituras, para que os pequenos produtores

do tempo, por exemplo. O aplicativo verifica

consigam investir, dentro da realidade de sua

se naquele determinado dia há possibilidade

fazenda.” O modelo de negócio adotado pelas

de chuvas, desativando a máquina de irriga-

startups, com desenvolvimento rápido de solu-

ção, se necessário. Ele é dotado ainda de um

ções a baixo custo, é o principal motivo que tem

sensor de umidade do solo, que evita que uma

levado o Sebrae Minas a contatar essas empre-

área seja irrigada desnecessariamente. Lucas

sas e propor estratégias para uma aproximação

Teixeira Soares, CEO da startup, explica que

entre empresários e produtores rurais que seja

o produto ainda está em fase de testes para

compensadora para as duas partes.

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[ AG R O N E G ÓC I O

PESAGEM FACILITADA Fazer o gado de corte engordar com saúde e otimizando recursos é o grande desafio de qualquer pecuarista. A Rural Smart, de Itajubá, desenvolveu um equipamento obrigatório para a atividade: a balança. Bem mais leve e com custo 50% menor do que as ofertadas no mercado, ela tem como diferencial a mobilidade. Além disso,

DESAFIO DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

quando o animal sobe na balança, dados relativos ao peso são enviados automaticamente para a nuvem do sistema. Como os bois são identificados por radiofrequência, o criador pode

POPULAÇÃO MUNDIAL

acompanhar a evolução de peso de cada um. Pelo fato de ser mais leve, a balança pode ser levada até o pasto, permitindo a pesagem fora do confinamento – o que estressa o gado

ATUAL 7,2 bilhões

e impacta diretamente na evolução do peso.

2050 9,8 bilhões

FONTE: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU)

“Com o equipamento ao ar livre, o processo se torna ainda mais seguro, pois não há o risco de o trabalhador rural, ao manejar o rebanho, sofrer

juntamente com o Serviço Nacional de Apren-

algum tipo de acidente”, explica o CEO da Rural

dizagem Rural (Senar), com o apoio da Federa-

Smart, Marcos Pamplona.

ção da Agricultura e Pecuária do Estado de Mi-

Além do sistema de monitoramento de

nas Gerais (Faemg). O trabalho foi chamado de

peso, a empresa ainda oferece software de ges-

Levantamento da Situação do Ecossistema de

tão para outras atividades, como gado leiteiro,

Startups para o Agronegócio.

lavoura e equinos. Os sistemas disponibilizam

Representantes das entidades visitaram

um serviço completo para administrar a pro-

um estado de cada região do país para traçar

priedade, com gestão de estoque, financeiro e

um diagnóstico mais preciso do uso de tecno-

indicadores de desempenho.

logias inovadoras no agronegócio, ouvir quais são as demandas de produtores, universidades,

CARÊNCIA

incubadoras, investidores e donos de startups.

“Existe uma enorme oferta de startups para

As experiências já apontaram a necessidade de

a indústria, mas isso não acontece na mesma

desenvolvimento de tecnologias para serviços

proporção com o agronegócio. É preciso evoluir

pontuais nas fazendas. Segundo Ronei, a maio-

muito.” A afirmação é de Ronei Corrêa, coorde-

ria da oferta de startups à disposição do agro é

nador de Tecnologia da Informação do Instituto

direcionada para sistemas de gestão e drones.

da Confederação da Agricultura e Pecuária do

“É preciso ampliar o leque de ideias para de-

Brasil (CNA). E é justamente um levantamen-

mandas específicas”.

to que traça a utilização de novas tecnologias

Em junho, o trabalho será apresentado

no setor no Brasil que a entidade está fazendo,

em Brasília por uma empresa finlandesa,

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DEPOSITPHOTOS

Empresários do agronegócio têm sido grandes consumidores dos drones

contratada para compilar os dados e propor

Aero Agro. Evandro Carmo, analista do Sebrae

plano de ação para o fomento de startups que

Minas, explica que a aplicabilidade do equipa-

atendam ao setor, suprindo o gap identifica-

mento em fazendas é mais simples do que em

do atualmente.

outros setores. Por isso, a oportunidade de reunir os empresários para a análise conjunta de

INOVAÇÃO NA TERRA E NO AR

propostas que melhorem ainda mais a atuação

Eles estão por toda parte. Os drones se po-

dos drones é valiosa. O evento gerou um plano

pularizaram, e o leque de funcionalidades é

de trabalho que servirá de base para um segun-

vasto. O empresário do agronegócio percebeu

do evento, em junho, quando novas ideias de-

a oportunidade e tem sido um grande consu-

verão ser apresentadas.

midor da tecnologia. De acordo com os orga-

Outra oportunidade em que o Sebrae

nizadores da DroneShow, evento especializa-

atuou para aproximar startups e empresários

do do setor, dos drones utilizados atualmente

do agro foi a Femec 2019, Feira de Máquinas

no Brasil, 40% têm como cliente o agronegó-

e Implementos Agrícolas de Minas Gerais,

cio, índice bem maior do que em outros países

realizada também em março, em Uberlândia.

– em torno de 25%. A estimativa da empresa

“Levamos 16 startups para se conectarem com

MicaSense, líder no fornecimento de câmeras

os produtores rurais. Elas apresentaram suas

e sensores para o setor, é de que o Brasil será,

soluções e puderam avaliar se as ideias estão

em dois anos, o maior mercado consumidor de

no caminho certo ou precisam de ajustes”,

drones do mundo.

comenta Fabiana Queiroz, analista do Sebrae

Para debater novas oportunidades com

Minas. O evento contou com uma mostra de

os integrantes dessa cadeia, que, além de fa-

startups, quatro seminários de inovação no

bricantes e produtores rurais, conta com em-

agronegócio e o Studio Agro 4.0, que gerou

presários que detêm tecnologias acopláveis ao

conteúdos informativos sobre melhoramento

drone, o Sebrae Minas realizou, em março, o

tecnológico no setor.

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[ T E C N O L OG I A

CAMINHO SEM VOLTA Pesquisa revela que uso de ferramentas digitais se tornou essencial à sobrevivência dos negócios

Cintia Caroline trabalha a acessibilidade nas peças que fabrica e na divulgação na internet

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JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7

[ F E R N A N DA P E R E I R A ]


A

transformação digital é tão presente em nosso dia a dia que é impossível ignorá-la. E, no que diz respeito aos negócios, não impor-

ta se a empresa é de pequeno, médio ou grande porte: as novas tecnologias se tornaram imprescindíveis para quem deseja manter-se no mercado. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 2018 avaliou como o setor empresarial está se adaptando à era digital e confir-

Até há pouco tempo, somente as grandes empresas tinham holofote por meio das mídias de massa. A transformação digital alterou o comportamento dos consumidores

mou o crescimento do grau de informatização

LORENA MAZZIEIRO ANALISTA DO SEBRAE MINAS

nas empresas. Feita junto a microempreendedores individuais (MEI) e pequenos empresários em todo o Brasil, a pesquisa mostrou que, sobre-

viços do governo (46%), a exposição de produ-

tudo nos últimos três anos, as tecnologias se

tos (43%), a venda online (23%) e a realização

tornaram essenciais para aumentar a compe-

de reuniões, conversas virtuais e conferências

titividade dos negócios. Novas ferramentas

(23%) figuravam entre as principais.

digitais, como redes sociais e sites e-commerce,

De acordo com a analista do Sebrae Mi-

são cada vez mais utilizadas. Dentre as em-

nas Lorena Mazzieiro, a tecnologia trouxe

presas pesquisadas, 27% possuíam página na

mudanças importantes que beneficiaram os

internet, 40% estavam no Facebook e 72% se

pequenos negócios. “Até há pouco tempo, so-

comunicavam com clientes pelo WhatsApp.

mente as grandes empresas tinham holofote

A consulta também revelou que os smar-

por meio das mídias de massa. A transfor-

tphones estão cada vez mais presentes e, para

mação digital alterou o comportamento dos

os pequenos negócios, eles se tornaram uma

consumidores, que hoje ocupam ambientes

importante ferramenta de acesso ao mundo

aos quais qualquer empresa tem acesso e que

tecnológico. Do total de entrevistados, 90%

permitem facilmente identificar seu público.

utilizavam celular como meio para acessar a

Isso permitiu estabelecer diálogos mais hori-

internet, e 43% o faziam com mais frequência

zontais entre as pessoas e os pequenos negó-

por meio desse dispositivo. WhatsApp, Face-

cios”, afirma.

book, GoogleMaps, Mercado Livre, YouTube e Instagram estavam entre os aplicativos mais

PENSAR NO OUTRO

utilizados, nessa ordem.

Inspirada pela paixão em conhecer a re-

Entre as razões para o uso da internet pela

alidade de outras pessoas, Cintia Caroline

empresa, o acesso a e-mail (75%), a consulta

criou a Costuras do Imaginário, uma marca

de preços e fornecedores (63%), o uso de ser-

de produtos com estampas em braille, aces-

viços bancários (58%), a compra de insumos

síveis para aqueles que, como ela diz, “enxer-

ou mercadorias (54%), a divulgação institu-

gam além do olhar”. O fato de os pais serem

cional da empresa (49%), a utilização de ser-

donos de uma confecção fez com que ela se

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[ T E C N O L OG I A

envolvesse desde muito cedo com o mundo dos tecidos e tomasse gosto pelo universo da estética e da criação. Após se formar em design e publicidade, Cintia se dedicou à produção de um livro que tinha como personagem um fotógrafo. Enquanto o texto ganhava forma, pensou: e se ele não enxergasse, como seria sua descoberta

A era digital potencializou a comunicação e o mercado de nicho, que aproximou público e empresas

do mundo? “A partir dessa pergunta, não parei mais de pesquisar sobre o braille e o universo das pessoas cegas”, relata. Nesse percurso, ela conheceu vários deficientes visuais e apren-

para o exterior. Seus maiores mercados são

deu a ler e a escrever em braille, em 2009.

Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janei-

A publicitária conectou o braille a ativi-

ro. Seu ponto forte ainda é o varejo, mas as

dades como design e serigrafia, técnica usada

vendas no atacado têm crescido desde o ano

para estampar tecidos. Até conceber a marca,

passado. Parte do faturamento é repassada a

ela desenvolveu uma série de produtos in-

projetos voltados para o empoderamento e a

clusivos, e hoje seu carro-chefe são objetos

conquista de autonomia por pessoas com de-

de decoração e peças de vestuário ilustradas

ficiência visual.

por frases motivacionais escritas em braille,

Para o futuro, Cintia planeja trilhar um ca-

mesma linguagem utilizada na produção das

minho inverso ao da maioria dos negócios, ou

etiquetas dos itens. É Cintia quem desenha e

seja, do e-commerce para a loja física, porém,

cria todas as coleções, produzidas na confec-

com um propósito. “O plano é estruturar um

ção da família.

projeto que vá além do e-commerce e ter uma

A intenção, como ela afirma, sempre foi

versão física da loja, com espaço para ofici-

trabalhar com recursos digitais. “Nas mídias

nas, cursos e capacitação, que atenda também

digitais, buscamos fazer com que as infor-

a pessoas com deficiência visual, com o ob-

mações estejam acessíveis a pessoas com

jetivo de desenvolver parcerias como a que

deficiência, inclusive visual. Por exemplo,

fizemos com o Lar das Cegas, que já produziu

nas postagens, sempre usamos a hashtag

peças de cerâmica para a marca”, afirma a jo-

#pracegover. Além disso, descrevemos em

vem empreendedora social, que recentemente

legenda todos os nossos vídeos que incluem

fechou contrato para produção de uma linha

fala para pessoas que têm deficiência audi-

destinada à marca Cantão.

tiva. Enfim, toda a comunicação da nossa marca parte do princípio de que ela deve ser

TRABALHO QUE DÁ GOSTO

o mais inclusiva possível.”

Como afirma a analista do Sebrae Minas,

Atualmente, a Costuras do Imaginário

a era digital potencializou a comunicação e

está mais presente no Instagram, Facebook

o mercado de nicho, que aproximou público

e YouTube. Por meio da loja online, os pro-

e empresas. “Hoje, muitos consumidores pre-

dutos são vendidos para todo o Brasil e até

ferem comprar de pequenos negócios e dão

[18]

ABR | JUN 2019


PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7

Após consultoria em marketing digital, Alaíde Carvalho registrou aumento de 20% nas vendas

mais valor para os produtos locais. Por essa

compotas e geleias produzidas com 11 sabo-

razão, pequenas empresas não precisam mais

res de frutas típicas do cerrado mineiro, entre

se posicionar como grandes, porque o seu di-

elas araticum, mangaba, jenipapo, araçá, buri-

ferencial está exatamente no fato de o cliente

ti, cagaita, mama cadela, pequi e jatobá. “São

conhecer de onde vem o produto.”

frutas pouco conhecidas, que muitas vezes

Criada em 2006, em Uberlândia, no Triân-

experimentamos e depois nunca mais vimos.

gulo Mineiro, a Chef Mineirim é um exemplo

Por isso, nossos produtos dessa linha são mui-

de empresa que soube explorar o mercado

to apreciados”, explica.

de produtos artesanais. O carro-chefe são as

A criadora de todas essas delícias é a

geleias de hortelã e jabuticaba, mas a marca

chefe Alaíde Carvalho. Ela conta que come-

também é conhecida pelos molhos para chur-

çou fabricando molhos para churrasco, mas

rasco, antepastos, chutneys, doces e compotas

a demanda foi crescendo e ela viu a oportu-

de frutas, tudo feito com ingredientes espe-

nidade de diversificar. “No começo, pensei

ciais e toque mineiro. Há ainda uma linha de

ser uma atividade paralela, que me ocuparia

www.sebrae/minasgerais

[19]


[ T E C N O L OG I A

INTERNET E NEGÓCIOS MINEIROS

45%

77% dos pequenos negócios mineiros utilizam a Internet para efetivar transações comerciais, e 85% acessam a rede pelo celular. Os principais usos são:

divulgação institucional

compra de insumos ou mercadorias

52% 60%

55% acesso a serviços

pesquisa de preço e de fornecedores

bancários

68%

consulta de e-mail Fonte: Sebrae

até o término do período de licença-mater-

o cliente de varejo quanto o de atacado”, con-

nidade. Mas acabei ficando e hoje me de-

ta. Segundo ela, a iniciativa resultou em um

dico em tempo integral.” Sua formação em

aumento de 20% das vendas no varejo.

Engenharia de Alimentos a ajudou na linha

Os produtos da Chef Mineirim são comer-

de produção – antes de empreender, ela era

cializados para todo o país, por meio das re-

instrutora de cursos no meio rural, na área

des Instagram, Facebook e YouTube, pela loja

de fabricação de doces e conservas. Seu ma-

online e em marketplaces. Ela ainda utiliza

rido e sócio, André Carvalho, hoje também

ferramentas como Google Ads, blog e e-mail

se dedica à empresa. Seus conhecimentos

marketing para divulgar o portfólio. “Admi-

como agrônomo permitem que pesquise e

nistramos todas as ferramentas, o que é um

sugira novos ingredientes da terra para uti-

pouco viciante”, confessa. “Quando começo a

lizar nas receitas. A mais recente é a do bri-

mexer, não paro mais.”

gadeiro de pequi.

Sua produção diária varia entre 50 kg e 60 kg

Há cerca de um ano, Alaíde se beneficiou

e, atualmente, a Chef Mineirim emprega cinco

de uma consultoria em marketing digital pro-

funcionários. Entre os clientes no atacado es-

movida pelo Sebrae. “O consultor esteve aqui

tão churrascarias, hotéis, empórios e lojas de

durante dois dias e nos ensinou a gerenciar

produtos turísticos.

vários canais, como o Instagram, a utilizar melhor as formas de relacionamento para es-

MAIS COMPETITIVAS

treitar contatos, a postar e usar as hashtags

A analista Lorena Mazzieiro acredita que

nas redes. Com isso, conseguimos atrair tanto

todos os negócios têm potencial para se in-

[20]

ABR | JUN 2019


serir no ambiente digital de diversas formas,

negócios a usarem as ferramentas digitais por

seja por meio da utilização de um aplicativo

meio de cursos, seminários, oficinas, eventos,

de finanças, seja por meio de uma mídia digi-

consultorias e projetos voltados para territó-

tal. “Essas ferramentas podem tornar as em-

rios específicos e nichos de mercado.

presas mais competitivas. Mas não é preciso

Uma delas é o Reload, lançado em 2017,

lançar mão de todas. É fundamental saber

que possibilita às empresas acompanhar e

quais se encaixam melhor no negócio e facili-

se preparar para as mudanças do mercado.

tam a vida do empresário”, orienta.

Sua primeira edição alcançou público total

Como afirma Lorena, antes de criar, adap-

de 400 pessoas. Em 2018, o sucesso foi ain-

tar ou migrar o negócio para uma plataforma

da maior, chegando a mil pessoas. Este ano,

digital, é importante acompanhar o mercado,

a programação do seminário de marketing

o público e, claro, as novidades que surgem

digital traz a participação de grandes nomes

a cada dia. O ideal é integrar as tecnologias

do e-commerce, mídias sociais, estratégias de

para ganhar competitividade. O Sebrae pro-

conteúdo e, ainda, cases de quem já obteve

move várias ações para capacitar os pequenos

sucesso no mundo digital.

MARQUE NA AGENDA Confira as datas do Reload na Estrada, a versão itinerante do Reload, e inscreva-se. Informações: http://www.inovacaosebraeminas.com.br/reload/2019/

30 E 31/5 1º/6

8/6

15/6

13/7

13/8

Belo Horizonte

Viçosa

Unaí

Uberaba

Uberlândia

23 E 24/8

31/8

31/8

19 E 20/9

21/9

Governador Valadares

Patos de Minas

Pouso Alegre

Montes Claros

Divinópolis

O Sebrae promove várias ações para capacitar os pequenos negócios a usarem as ferramentas digitais. Saiba mais em www.sebrae.com.br/minasgerais ou ligue para 0800 570 0800 FREEPIK

www.sebrae/minasgerais

[21]


[G E S TÃO

IDENTIDADE ASSEGURADA Pequenos empresários devem estar atentos ao registro de marca

Os irmãos e sócios Nicole e Mateus Marquez tiveram de mudar o nome da loja com o negócio já consolidado

[22]

ABR | JUN 2019

PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7

[BRUNO ASSIS]


A

ssim como o nome de uma pessoa é a sua identidade, a marca de uma empresa é o seu cartão de visitas, aquilo que a torna única e reflete

os seus valores. Muitas vezes, é tão marcante que apenas um símbolo já diz tudo. Pense, por exemplo, na Apple. A icônica maçã mordida se

A falta do registro pode gerar perdas imensuráveis para a empresa ou anos de disputa judicial

tornou sinônimo de tecnologia e inovação. O mesmo ocorre com marcas como Nike, Coca-Cola ou McDonald’s. “A marca é o ativo intangível mais impor-

Mas, mesmo com as dificuldades encon-

tante das empresas. Por isso é importante

tradas pelos micro e pequenos empresários,

resguardá-la, por meio do registro junto aos

essa é uma questão determinante para o fu-

órgãos responsáveis”, orienta Jefferson Soa-

turo do negócio. A falta do registro pode gerar

res Ferreira, analista do Sebrae Minas. Apesar

perdas imensuráveis para a empresa ou anos

disso, muitos micro e pequenos empresários

de disputa judicial. Foi o que ocorreu com a

ainda não atentaram para os possíveis impac-

cachaça Havana, produzida em Salinas, na re-

tos causados pela falta do registro.

gião Norte de Minas.

Uma pesquisa conduzida pelo Sebrae mos-

A tradicional aguardente mineira data de

trou que 84% das micro e pequenas empresas

1943 e foi eleita em diversas pesquisas como

(MPE) possuem nome fantasia, e 73%, logo-

uma das melhores do país. Até que, em 2001,

tipo. Apesar disso, somente 52% procuraram

a empresa Havana Club Holding S/A, de Cuba,

informações sobre o registro da marca e, das

reivindicou o uso do nome. Sem esperanças de

que já possuem uma identidade visual própria

reaver a marca, o proprietário Anísio Santiago

ou nome fantasia, 21% entraram com o pedido

colocou seu próprio nome no rótulo, mesmo

junto ao Instituto Nacional de Propriedade In-

com todos os riscos envolvidos.

dustrial (INPI). Das que entraram com o pedido

Ele veio a falecer poucos meses depois,

de registro de marca, menos de 50% conseguem

e os herdeiros empreenderam uma das mais

a concessão. No caso dos microempreendedo-

famosas disputas judiciais da área. Foram

res individuais (MEI), 68% têm nome fantasia,

necessários dez anos para que a Justiça con-

42% possuem um logotipo e, nesses dois gru-

cedesse a posse definitiva do nome à famí-

pos, 7% fizeram o pedido. “Ainda lidamos com

lia. “O mais comum é haver sobreposição

desconhecimento. Se o empreendedor não en-

de marcas, situação que confunde o consu-

tende a importância do registro, não tem razão

midor. De acordo com as regras brasileiras,

para fazê-lo”, diz Jefferson. Até mesmo quando

quem faz o registro primeiro tem o direito,

se convence da importância de registrar a mar-

mas é possível recorrer”, explica o analista

ca, esbarra em dois problemas: prazo e custo.

do Sebrae Minas.

Em média, o procedimento consome 18 meses

Caso semelhante ocorreu com a Tradipar,

e inclui taxas a serem pagas do início até a cer-

revendedora de parafusos sediada em Ipatin-

tificação final.

ga, no Vale do Aço. Nesse caso, contudo, o fi-

www.sebrae/minasgerais

[23]


[G E S TÃO

nal não foi feliz. “Na época, tínhamos outra marca e recebemos uma notificação extrajudicial pelo fato de ser muito parecida com a de outra empresa, situada em São Paulo. Eles queriam que pagássemos pelo aluguel do nome, mas não aceitamos”, conta o diretor comercial Mateus Marquez. A loja estava em funcionamento há três

Quando a marca tem elementos únicos, que a diferenciam no mercado, é ainda mais importante protegê-la

anos e já se consolidara no município. Mudar tudo era arriscado para o negócio, mas foi o caminho escolhido pelos sócios. Com o auxílio de uma empresa de registro de patentes

lectual”. Entre os serviços realizados estão o

e de um designer, teve início o processo de

registro de programas de computador, de pa-

construção de uma nova marca. O nome es-

tentes e, claro, das marcas.

colhido juntou as palavras “tradição” e “pa-

Antes de dar entrada no pedido, porém, é

rafuso” – Tradipar –, para refletir a imagem

preciso entender se o momento é adequado

a ser transmitida ao público. “O custo de re-

para obtê-lo. Afinal, como mostram os dados

fazer a marca, das propagandas e do registro

do DataSebrae, 23% das MPE não resistem aos

não foi pequeno. Até para a população acos-

dois primeiros anos de vida. “Como o processo

tumar-se à nova identidade foi difícil. Mas a

é longo, pode acontecer de o empresário fazer

mudança valeu.”

a solicitação logo no início das atividades e

Foram necessários três anos até que o re-

não sobreviver até vê-lo concretizado. Já no

gistro fosse deferido, período em que a em-

caso de startups, o registro pode ser realizado

presa se reinventou por completo. O visual da

antes mesmo de o produto ser lançado”, diz

loja mudou, uma nova dinâmica de trabalho

Jefferson Soares Ferreira.

foi implantada e, com o passar dos meses, o

A cervejaria Küd seguiu esse caminho

novo nome foi assimilado pelos públicos.

ao dar início ao processo de registro de sua

“Nunca tínhamos dado importância para o

marca. Tudo começou em 2008, quando Bru-

registro por falta de conhecimento. Se sou-

no Parreiras e um amigo se matricularam

béssemos disso, poderíamos ter consolidado a

em um curso de degustação de cervejas. “O

marca desde o início.”

sommelier falou que algumas pessoas estavam produzindo em casa. Meu amigo e eu

HORA CERTA

decidimos começar a brincar com isso tam-

No Brasil, todo o processo de registro de

bém”, conta Bruno.

uma marca é feito de forma eletrônica pelo

A cervejaria foi aberta em 2010, em Belo

portal do INPI. Em seu site, o órgão afirma ter

Horizonte. Até 2012, a Küd cresceu de forma

como missão “estimular a inovação e a com-

orgânica, mas em determinado momento os

petitividade a serviço do desenvolvimento

sócios se viram diante de uma escolha: pro-

tecnológico e econômico do Brasil, por meio

fissionalizar o negócio ou levá-lo adiante

da proteção eficiente da propriedade inte-

como um hobby. Eles decidiram abraçar a

[24]

ABR | JUN 2019


DIVULGAÇÃO/CERVEJARIA KÜD

Registro da cervejaria Küd foi importante para reforçar o conceito da marca, baseada na linguagem do rock’n’roll

primeira opção e, a partir daí, iniciaram o

duto. De fato, você consegue agregar valor

processo de registro da marca.

à marca com isso”, diz Bruno. Os produtos

“Um dos nossos sócios é advogado e sem-

da Küd são baseados em clássicos do rock,

pre nos alertou sobre a importância do regis-

como Blackbird (The Beatles), Smoke on the

tro. Tão logo começamos a ganhar projeção

water (Deep Purple) e God save the Queen

regional, nos convencemos de que era mes-

(Sex Pistols). Daí a importância de proteger

mo necessário”, diz o cervejeiro. Isso foi im-

a marca, que traz consigo um conceito que

portante para reforçar o conceito por detrás

pode ser utilizado para se criar uma comu-

da marca, que se baseia na linguagem do ro-

nicação direcionada.

ck’n’roll. A ideia, a propósito, esteve presente

No caso da Küd, o processo de registro foi

desde os primeiros encontros, quando os ami-

rápido. Em menos de um ano, todo o trâmite

gos se reuniam para ouvir música e fazer cer-

havia sido finalizado, e os proprietários esta-

veja em casa. No momento de montar a cerve-

vam seguros para continuar. “Entendemos o

jaria, a escolha se deu naturalmente.

valor da marca que estamos criando. Depois

“A cerveja artesanal se diferencia pela história que você conta por meio do pro-

disso, profissionalizamos o negócio”, completa Bruno.

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PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7

[G E S TÃO

Rosalinda Oliveira registrou a marca após alerta do consultor do Sebrae Minas

GARANTIA DE CONTINUIDADE Quando a marca tem elementos únicos, que a diferenciam no mercado, é ainda mais importante protegê-la. O Néctar da Canastra, um mel especial produzido por abelhas da Serra da Canastra, no Sudoeste de Minas, é outro rótulo que não dispensou o registro. Produtores de mel em Piumhi há mais de 35 anos, Rosalina de Oliveira e o marido

William Leite Praça possuem mais de mil colmeias na região e uma empresa para comercializar o produto. Quando decidiram fazer o Néctar da Canastra, após a sugestão de um consultor de Marketing do Sebrae Minas, entenderam a importância do registro e deram entrada no pedido junto ao INPI. Foram seis meses até o deferimento da marca, mas nem todos têm a sorte de tudo ser tão rápido. “Na pesquisa feita pelo Sebrae, vimos que uma das dificuldades está no próprio site

O Sebrae planeja disponibilizar plataforma digital para gerenciamento de marcas mais simplificado

do INPI. Não é possível encontrar as informações necessárias de forma simples, o que dificulta o processo”, diz o analista. Por essa razão, uma das tarefas assumidas pelo Sebrae é fazer chegar aos micro e pequenos empreendedores orientações específicas sobre o registro e disponibilizar a eles uma plataforma digital para gerenciamento de marcas mais simplificado.

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COMO REGISTRAR UMA MARCA

1 3 5 7 9 11

Para simplificar o processo de registro da marca, o INPI disponibiliza um passo a passo a ser seguido, ilustrado por materiais de apoio em texto e vídeo. Confira:

Efetue o seu cadastro no e-INPI.

2

Verifique no portal do INPI se a marca pretendida não está registrada. Consulte a lista de produtos e serviços disponível no site do INPI e escolha os que estarão vinculados à marca.

4

Emita a Guia de Recolhimento da União (GRU) e efetue o pagamento.

Após a compensação do pagamento, preencha o formulário no e-Marcas.

6

Anexe a imagem da marca e os demais documentos solicitados, em pdf.

Envie o pedido e salve o número do processo para acompanhar o andamento.

8

Verifique se após o exame formal há alguma exigência a ser atendida – neste caso, o prazo é de cinco dias. Com o pedido feito, estabelece-se um prazo de 60 dias para apresentação de oposição e outros 60 para defesa da marca.

Se for indeferido, um recurso pode ser apresentado em até 60 dias.

10

Após o julgamento, o pedido é deferido ou não. Se for deferido, pague as taxas do primeiro decênio e da expedição do certificado de registro.

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[ E N T R E V I S TA

DESAFIO: PENSAR DIFERENTE Passo a Passo conversou com o conferencista internacional Prof. Dr. Eduard Overes sobre o tema inovação [ F E R N A N DA P E R E I R A ]

Quando chamados a inovar, muitos empresários associam a atitude a recursos tecnológicos ou a aplicativos revolucionários. Mas não é só isso. Inovar significa, também, diferenciar-se no mercado, descobrir ou criar o valor que faz com que o seu produto seja escolhido pelo cliente, e não o da concorrência. E, quando descobrir o “mapa da mina”, não dar o caso por encerrado. Nesse ponto, é preciso pensar no próximo passo, se dedicar a criar novos valores que garantam a fidelização ao negócio. Esse foi um dos pontos tratados pelo conferencista internacional Prof. Dr. Eduard Overes, da Universidade Zuyd de Ciências Aplicadas, em Maastritch, Holanda, em entrevista à Passo a Passo. Overes se tornou um especialista respeitado no ensino de diversas disciplinas relacionadas a negócios, como Gestão Estratégica, Empreendedorismo, Ambientes de Negócios Internacionais e outros. Recentemente, ele participou, em Belo Horizonte, de um evento correalizado pelo Sebrae Minas e Faculdade Izabela Hendrix.

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DIVULGAÇÃO

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[ E N T R E V I S TA

Como a inovação tem impactado a

diferenciado e estar sempre à frente da com-

gestão das empresas e a relação com o

petição é inovar constantemente. Para peque-

consumidor?

nas e médias empresas, é sempre importante

A inovação nas empresas é voltada tanto

que estejam atentas ao próximo passo, nun-

para o produto quanto para o cliente, pois ali

ca se deem por satisfeitas ou fiquem presas a

trabalha-se com ambas as orientações. Pro-

uma qualidade ou valor que já existe. Sempre

dutos são fáceis de copiar e, se uma empresa

se deve fazer a pergunta: “Qual é o próximo

é mais voltada para o cliente, uma maneira

nível que devo alcançar?”

para diferenciar seu produto é no atendimento ao consumidor. As empresas têm que

O comportamento regional ainda tem

estar muito mais cientes de quem é seu pú-

papel determinante na gestão dos

blico-alvo, quais são suas necessidades, e

negócios?

atuar com base nisso.

O termo comum que deve ser utilizado aqui é o “pense global, aja local”. E isso vale também

Como um pequeno empresário deve

para as multinacionais, não só para as pequenas

utilizar as estratégias de inovação?

e médias empresas. Vejamos o McDonald’s. Eles

A única forma de sobreviver nos dias de

têm o Big Mac, que é mundial, mas na maior

hoje, inclusive para pequenas e médias em-

parte dos países são criados produtos que as

presas, é sendo diferenciado. Ou seja, a em-

pessoas podem reconhecer como locais. Por

presa tem de ter um valor agregado. E o pro-

exemplo, na Noruega existe o Mc Salmão; na

blema atual é que se você trabalha valor por

Holanda, tem o Mc Croquete; no México, há

um ou dois anos, começam a te copiar. Então,

um “enrolado”, que lembra um burrito. Ou seja,

se você não faz diferente, vai perder a sua di-

até uma potência mundial busca identificar um

ferenciação, de modo que a única forma de ser

apelo local, porque sabe que as pessoas procuram por identidade. Ele quer ser global, mas, ao mesmo tempo, quer ter algum tipo de identidade local, porque se o cliente consegue se relacionar com o produto, com a identidade, ele

É preciso ter a perspectiva global, especialmente em inovação, observando o que está acontecendo no mundo e o que pode ser adaptado ao mercado local

o compra. Paralelamente, é preciso ter a perspectiva global, especialmente em inovação, observando o que está acontecendo no mundo e o que pode ser adaptado ao mercado local. O senhor percebe diferenças no comportamento inovador entre empresas de portes diferentes? Os empresários de pequenos negócios são o real exemplo de “pense global, aja local”. É possível conhecer os avanços tecnológicos que acontecem globalmente, basta acessar a in-

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DIVULGAÇÃO

ternet, ver o Instagram. As pequenas e médias

esses dados em sua totalidade. De que

empresas são o fenômeno que permite a tra-

forma a gestão do conhecimento pode

dução dessas tecnologias para o mercado local,

auxiliar?

porque elas sabem as necessidades e os desejos

O poder processador da tecnologia não

das pessoas dali. Elas estão basicamente tra-

está sendo capaz de lidar com toda a infor-

duzindo as tendências globais em produtos e

mação produzida atualmente. O que não

aplicações para mercados específicos, enquan-

quer dizer que as empresas deveriam parar

to multinacionais normalmente ficam enges-

de investir em sistemas de conhecimento.

sadas por políticas corporativas, como tudo

Ao contrário, é preciso seguir e pensar em

tem que ser sincronizado mundo afora.

como otimizar isso. Considero importante buscar por colaboração, porque avalio que o

As informações são o maior patrimônio

maior erro de uma empresa é querer adquirir

das empresas, mas a maioria dos

todo o conhecimento por si mesma e mantê-

empresários ainda não consegue usar

-lo ali dentro. Se a empresa precisar investir

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[31]


[ E N T R E V I S TA

em conhecimento, sugiro que ela promova

Essa é uma boa pergunta. Talvez a respos-

um link entre o seu sistema de conhecimen-

ta seja criar uma estrutura em que um time

to e os sistemas de outras empresas, talvez

de inovação esteja dedicado a preservar o

até mesmo de competidoras, o que é, claro,

verdadeiro espírito empreendedor. Encontrar

um grande desafio. Porque, de outra forma,

uma estrutura organizacional que permita o

estariam apenas replicando conhecimento,

crescimento da empresa, ao mesmo tempo

ao invés de multiplicar. Então, o investi-

em que mantenha o trabalho em pequenas

mento no quesito tecnologia, especialmente

divisões. Ou mesmo participar de certas or-

para pequenas e médias empresas, deve se

ganizações nas quais é possível cooperar com

concentrar em buscar colaboração e come-

outros empreendedores. Mas não há uma

çar a criar ligação entre sua própria base de

resposta exata.

conhecimento e de outras, além de sistemas inteligentes que busquem as informações e

Que dicas o sr. pode dar aos jovens que

as relacionem.

querem entrar no mundo dos negócios ou que já ingressaram, mas buscam ser mais

Em outros países, existem exemplos

competitivos em termos de inovação?

de ações que aproximam a academia

Com sinceridade, o mais importante é não

e os grandes centros de pesquisa das

desistir dos sonhos. Não pensar “ah, eu tenho

pequenas empresas?

que fazer isso para seguir algum tipo de re-

Temos um ótimo exemplo, no qual estou

gra”. Sonhe, pense fora da caixa e realmente

envolvido, que é o campus de Brighton. Lá,

faça aquilo em que acredita. Pode acontecer

temos quatro campi localizados perto das

de quebrar a cara em algum momento e ficar

fontes de conhecimento, que são universida-

desapontado, mas não se entregue. Isso é o

des, abrigando pequenas e médias empresas.

mais importante, porque pensar fora da caixa

A ideia é basicamente facilitar o trabalho

que gera novas conquistas. Não desista das

conjunto de pequenas e médias empresas.

suas ideias. Essa seria minha sugestão para

Um outro bom exemplo é o campus da Phi-

os jovens no mundo dos negócios.

lips High Tech, na Holanda, que é conectado a uma multinacional e à universidade técnica de Eindhoven. Logo, alunos e empresários atuam juntos. Esses são exemplos muito legais, em que podemos ver governo, grandes empresas, investidores, alunos, universidades e professores se unindo para avaliar problemas e criar boas e inovadoras soluções. Quais são as soluções para os desafios dos pequenos negócios que buscam posicionamento no mercado internacional?

[32]

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O maior erro de uma empresa é querer adquirir todo o conhecimento por si mesma e mantê-lo ali dentro


JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7

E M P R E E N D E DO R I S M O ]

Marcelo e Arthur criaram a Sweet Trust para ajudar a promover a honestidade

ELES QUEREM TRANSFORMAR O MUNDO Cada vez mais jovens encontram, em negócios próprios, maneiras de cumprir um propósito de vida [ M A R C E L A K Á R I TA S ]

Q

ual o caminho para mudar o mun-

iniciam uma jornada no mercado de trabalho. E

do? Como ajudar a transformar a

um caminho para alcançar esses objetivos passa

sociedade, tornando-a mais justa,

necessariamente pelo empreendedorismo.

consciente e honesta? Cada vez

Uma pesquisa da Fundação Telefônica Vivo, em

mais, são essas as preocupações de jovens que

parceria com a ONG Rede Conhecimento Social e o

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[33]


[ E M P R E E N D E DO R I S M O

Ibope (veja mais na página 36), revela que a maio-

HONESTIDADE À PROVA

ria dos jovens ouvidos considera-se empreendedor

O negócio de Marcelo Carneiro, 18 anos, co-

e busca colocar em prática uma ideia de negócio próprio. Para eles, a atitude está associada mais à realização de propósitos do que a retorno financeiro. “Os jovens buscam no empreendedorismo a realização dos seus sonhos, mas também é importante, para eles, que essas ideias estejam relacionadas a um propósito maior, capaz de promover efeitos no seu entorno e gerar impacto positivo na sociedade”, comenta Fabiana Pinho, gerente de Educação e Empreendedorismo do Sebrae Minas. A boa notícia para o Brasil é que, cada vez mais, jovens estão conseguindo se estabelecer nesse universo com ideias inovadoras de mudança. De acordo com a edição 2018 do Global Entrepreneurship Monitor, pesquisa realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro Qualidade e Produtividade (IBQP) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), mais jovens têm optado por serem donos de um negócio. De 2017 para 2018, o percentual de brasileiros com idade entre 18 e 24 anos que possuem empresas (formais ou informais) com até três anos e meio de atividade aumentou de 18,9% para 22,2%. A estimativa é de que eles somem 5,4 milhões de pessoas.

meçou da mesma forma como surge uma startup: o primeiro passo é encontrar um problema ou necessidade. Para o estudante da Escola do Sebrae, em Belo Horizonte, a questão a ser solucionada não é pequena: ajudar a promover a honestidade. “As pessoas falam da desonestidade como um problema distante, mas sempre achei se tratar de algo bem próximo da nossa realidade. É por isso que minha ideia é confiar no consumidor”, comenta. Mas como estimular a reflexão e mostrar que um país sem corrupção deve ser sustentado por um conjunto de pequenas atitudes no dia a dia? A resposta de Marcelo está no Sweet Trust. “Nós somos uma empresa dedicada à mudança de pequenos hábitos, aqueles que ninguém percebe, mas que, se somados, podem contagiar a população”, comenta. O negócio criado pelo jovem, com o apoio do amigo Arthur Braga, é dedicado à venda de doces, sem nenhum vendedor e ninguém para vigiar. O cliente é o responsável por escolher o produto no estande, pagar por ele e coletar o troco, quando necessário. “O negócio é muito fácil de começar. Não precisa de vendedor, o produto se vende sozinho”, ressalta Arthur. Para o estudante de 17 anos, fazer parte do Sweet Trust é uma forma de cumprir o propósito de mudar a imagem do

Os jovens buscam no empreendedorismo a realização dos seus sonhos, mas também se preocupam que essas ideias estejam relacionadas a um propósito maior FA B I A N A P I N H O , G E R E N T E DO S E B R A E M I N A S

brasileiro em outros países. “Tive a oportunidade de morar na Dinamarca, onde muitas pessoas acham que o brasileiro não é muito honesto e busca vantagem em tudo. Quis fazer parte do negócio porque me senti motivado a redefinir essa noção que as pessoas têm da gente em outros países”, explica.

IMPACTO SOCIAL Na Escola do Sebrae, o negócio tem dado certo, mas a ideia dos jovens é expandir para outras escolas, de forma que cada vez

[34]

ABR | JUN 2019


JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7

Gabriela Pedrosa e Fernanda Abreu, da Coolringa: aposta no consumo consciente de roupas

mais estudantes sejam impactados. “Temos

atestar que a instituição está formando pessoas

um grande potencial de escala, porque é um

íntegras”, completa o jovem.

negócio fácil de ser replicado. Nossa meta é

Para Fabiana Pinho, exemplos como esse de-

expandir o máximo possível, e agregar valor a

monstram o potencial de trabalhar a educação

cada vez mais instituições por todo o Brasil”,

empreendedora na escola. “ O tema empreende-

projeta Marcelo.

dorismo é de extrema relevância para a educação

Na prática, a ideia é vender o modelo de ne-

pois prepara os estudantes para terem atitudes

gócios para jovens com perfil empreendedor que

positivas. O desenvolvimento das soft skills torna

queiram montar o negócio em suas escolas. O

o estudante apto a empreender em suas ideias

parceiro será chamado de “truster”, como expli-

ou a inovar em negócios já existentes”, ressalta.

cam os jovens. “Ele será o responsável por fazer

A estratégia tem dado certo para os jovens

o controle e a reposição do estoque de doces.

estudantes. O estande do Sweet Trust está insta-

Outra tarefa será controlar o caixa e observar

lado na Escola do Sebrae e, em breve, também será

se as pessoas estão efetivamente pagando pelo

montado em outras duas instituições de ensino

produto que consomem”, explica. Quanto menor

de Belo Horizonte. “Temos um grande potencial

a inadimplência, mais o negócio confirma a ho-

de escala, porque também podemos agregar valor

nestidade dos clientes. “Nossa meta é alcançar

às instituições com as quais fechamos parcerias.

um índice de 95% de honestidade. Quando a meta

Nossa meta é expandir o máximo possível, chegar

for batida, iremos oferecer à escola um selo para

a todo o Brasil”, projeta Marcelo.

www.sebrae/minasgerais

[35]


[ E M P R E E N D E DO R I S M O

Empreendedorismo jovem 56% dos jovens se consideram empreendedores;

61% avaliam que empreender é ter um propósito – índice maior do que o total de pessoas que acreditam na atitude como resultado da busca por um sonho ou pelo lucro.

DEPOSITPHOTOS

70% dos que se reconhecem como empreendedores buscam criar o próprio negócio ao invés de trilhar carreira em empresas;

Fonte: Pesquisa Juventude Conectada – edição especial empreendedorismo (Fundação Telefônica Vivo, Rede Conhecimento Social e Ibope)

CONSUMO CONSCIENTE NA MODA

marcas para incentivar o consumo consciente”,

Quando o assunto é roupa e moda, muitas

relembra Gabriela. Normalmente, as peças eram

pessoas seguem a lógica de renovar o guarda-

vendidas em feiras.

-roupa, sempre a partir da ideia de “quanto mais,

Quanto mais pesquisava sobre o assunto,

melhor”. Será possível estimular o consumo

mais a empreendedora conheceu sobre o movi-

consciente nessa área? Para Gabriela Pedrosa,

mento minimalista e as tendências desse nicho.

a resposta é sim. A empreendedora aliou a von-

“Fui crescendo no processo de desapego junto

tade de ter uma marca própria à tendência do

com a marca, meu propósito foi amadurecendo

minimalismo. “Eu me incomodava com o hábito

e percebi a importância de ampliar a consciência

de comprar sem precisar e, por isso, pensei em

das pessoas nessa vertente”, comenta.

criar um negócio dedicado a vender peças ‘co-

Em abril de 2018, a marca foi convidada a in-

ringas’, que possam ser usadas em várias com-

tegrar o evento Criativa Fashion, do Sebrae Minas,

binações”, explica.

dedicado a promover a discussão sobre democrati-

Foi dessa forma que nasceu a Coolringa, uma

zação da moda, consumo consciente, e-commerce e

marca de roupas que aposta na venda de peças

outras inovações, como o conceito de pop-up store,

de boa qualidade e extremamente versáteis. No

que prevê espaços de venda temporários, em locais

início, o negócio demandou coragem, improviso

que dialogam com a proposta de uma marca, per-

e criatividade. “Procurava por inspirações na

mitindo que ela transite por diversos territórios.

internet e pedia ajuda à mãe de uma amiga, que

A experiência inspirou Gabriela a ir além e não só

tem uma confecção, com os tecidos e a modela-

vender suas peças, mas proporcionar momentos

gem. Para compor uma coleção, também apostei

de diálogo e conversa sobre o minimalismo, ainda

na economia colaborativa e me aliei a outras

uma novidade para muitas pessoas.

[36]

ABR | JUN 2019


Agora dedicada à sua pop-up store, a jovem

FORMAÇÃO PARA A VIDA

coleciona vitórias. No fim do ano passado, con-

Para Gabriela, a formação na Escola do Sebrae foi

seguiu organizar o primeiro evento da marca

um alicerce importante no momento de tirar a ideia

nesse formato, promovendo discussões sobre

do papel. “Foi lá que construí uma visão muito boa

moda sustentável, consumo consciente e con-

de mercado, aprendi sobre administração financeira

sultoria e, claro, vendendo. E, entre os planos

e outros aspectos relacionados ao empreendedoris-

da jovem de 23 anos, está o de expandir o ne-

mo”, diz. A instituição busca contribuir para que cada

gócio. “O meu propósito foi se amarrando, se

vez mais jovens entrem para o mercado de trabalho

construindo. Hoje, consigo entender que atendo

com uma visão diferenciada sobre a própria vida e

a um chamado de cura do planeta, estimulan-

conscientes do seu papel como cidadãos. “Enten-

do as pessoas a ter apenas aquilo que amam.

demos que o empreendedorismo amplia a visão do

Quero aproveitar o conceito de loja itinerante

jovem sobre a importância do seu papel na socieda-

e expandir essa ideia, proporcionando essa co-

de. Por isso, formamos nossos estudantes utilizando

nexão entre pessoas que têm visões de mundo

práticas educacionais inovadoras, que estimulam o

parecidas”, vislumbra.

protagonismo e o olhar crítico”, ressalta Fabiana.

ESCOLA DO SEBRAE ARQUIVO EFG

A Escola do Sebrae é uma instituição de ensino que alia o Ensino Médio ao curso técnico em Administração. Por meio de uma metodologia de projetos, que propicia o aprendizado na prática, o estudante é capaz de desenvolver atitudes empreendedoras, habilidades em

A Feira de Empresas Simuladas é uma das atividades da Escola do Sebrae

gestão, solução de problemas, ideação e modelagem de negócios. É estimulado,

sociedade. O curso tem du-

Belo Horizonte, e nas escolas

ainda, a desenvolver carac-

ração de três anos e aconte-

licenciadas, além do projeto

terísticas como autonomia,

ce em horário integral.

social para jovens da rede pú-

proatividade e responsabi-

Em 2019, a Escola do Se-

blica, o Núcleo de Empreende-

lidade socioembiental, tor-

brae completa 25 anos, com

dorismo Juvenil). Conheça mais

nando-se um cidadão crítico

mais de 12 mil alunos forma-

sobre a Escola do Sebrae em

e consciente do seu papel na

dos (na escola própria, em

www.escoladosebrae.com.br.

www.sebrae/minasgerais

[37]


FOTOS: JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7

[ N E G ÓC I O S

Cláudia Santana Lima, o marido Euler e a filha Gabriela: sucesso em Paris

DETALHES PARA IMPRESSIONAR Etapa de branding coroa projeto de reposicionamento de mercado realizado com 20 marcas mineiras do segmento de joias, semijoias e bijuterias [ A N A PAU L A D E O L I V E I R A ]

J

á na embalagem, o produto impressiona.

A preocupação com os detalhes materializa o

Na caixa de madeira, a marca aparece

trabalho de branding realizado com a empresa e

impressa em fogo, em protesto contra

outras 19 dentro do projeto Identidade, iniciativa

as queimadas. Ao abri-la, outra surpre-

voltada para a reorganização e o fortalecimento do

sa: além do requinte da peça, é possível sentir o

setor, promovida pelo Sebrae Minas em parceria

cheiro das plantas do Cerrado, esse rico bioma que

com o Sindicato das Indústrias de Joalherias, Ou-

a empresa mineira Cerrad’Ouro tem mostrado ao

rivesarias, Lapidações e Obras de Pedras Preciosas,

mundo com suas biojoias.

Relojoarias, Folheados de Metais Preciosos e Biju-

[38]

ABR | JUN 2019


terias no Estado de Minas Gerais (Sindijoias-MG) e a Associação dos Joalheiros, Empresários de Pedras Preciosas, Relógios e Bijuterias de Minas Gerais (Ajomig) e executada pelo Instituto By Brasil (IBB), por meio do programa de consultoria tecnológica do Sebrae, o Sebraetec. Durante oito meses, os empreendimentos estiveram imersos em um projeto de design estratégico, desenvolvido para capacitá-los a divulgar corretamente seus produtos, com especial cuidado nos pontos de contato com os clientes e consumidores finais. Donos da Cerrad’Ouro, Cláudia Santana Lima, o marido, Euler Lima, e a filha, Gabriela Lima, se empenharam para colocar em prática todo o conteúdo aprendido. O resultado superou as expectativas: recentemente, a marca figurou entre o seleto grupo de expositores da Tranoi Paris, um

Preocupação com os detalhes na apresentação do produto materializa o trabalho de branding

dos mais renomados eventos de moda do mundo, realizado durante a Paris Fashion Week. Vale destacar que apenas seis empresas brasileiras foram convidadas para a edição outono/inverno,

alto luxo, em Nova Iorque, e para a próxima edição

realizada no Museu do Louvre, de 1º a 4 de março.

do São Paulo Fashion Week. Segundo Cláudia, a

“Eles foram certeiros na estratégia. Um exem-

guinada veio com o Identidade, que considera um

plo foi a modernização do estande. Bem decorado

divisor de águas. “Já tínhamos um produto e uma

e alinhado à identidade da marca, o espaço atraiu

história, mas fomos alertados sobre a necessidade

a atenção de compradores internacionais durante

de desenvolver algo mais sofisticado. Os consulto-

o Minas Trend, principal salão de negócios da

res viram o potencial de transformar nossas peças

indústria da moda mineira. O convite para a Tra-

em joias. Aprimoramos o design, dando cara nova

noi é uma consequência natural da visibilidade

ao produto, que ficou mais competitivo”, comenta.

alcançada com o reposicionamento”, explica a

Criada há cinco anos, a empresa tem uma his-

analista do Sebrae Minas Kenia Cardoso.

tória inusitada. Diante de um desafio, lançado em outra iniciativa do Sebrae – o Programa Sebrae

VOO ALTO

de Artesanato (PSA) –, Cláudia foi instigada pela

O evento parisiense não foi o primeiro flerte da

filha a remexer no passado em busca de inspiração.

Cerrad’Ouro com o mercado de moda internacio-

A proposta era conceber um produto com valor

nal. A empresa já estampou cinco edições da Vo-

agregado dado pela identidade com a cultura e a

gue Londres – em busca de joias extraordinárias,

história local, além de algo novo e com potencial

a revista chegou até a marca via redes sociais –,

para representar Minas Gerais no Brasil e, por que

participou de um showroom em Milão e, no mo-

não, no mundo. “Eu já havia comentado com ela

mento, estuda convites para a Coterrier, feira de

sobre um par de brincos que ganhei de uma amiga www.sebrae/minasgerais

[39]


[ N E G ÓC I O S

na adolescência e que perdi. Era simplesmente

feirinha em Lagoa Santa e fomos parar em Paris.

encantada por eles e nunca mais achei algo pare-

A sensação que tenho é de que estamos tocando

cido”. A peça em questão era uma biojoia, ramo no

o impossível”, orgulha-se Cláudia.

qual Cláudia e a família mergulharam de cabeça. Formatado o objetivo, a família foi atrás de

ESTILO PRÓPRIO

informação e de profissionalização – o marido,

O nome forte vai ao encontro da posição con-

Euler, por exemplo, fez até curso de Biologia. “Foi

solidada pela Lázara Design no mercado nacional.

quase impossível encontrar alguém que nos en-

Frequentemente estampada em revistas de moda

sinasse o processo de fabricação, mas consegui-

como Vogue, Elle e Corpo a Corpo, a marca, que

mos. Fizemos o curso e estamos aí, apaixonados

em 2019 completa 25 anos, conquistou diversas

pelo nosso trabalho”, destaca a empresária.

celebridades e já apareceu em novelas globais.

Após os erros, vieram os acertos, e hoje o trio

“Comecei a trabalhar como artesã em 1991.

tem encantado o público com um produto exclu-

Na época, era bancária e tinha uma barraca na

sivo e conceitual, inspirado no Cerrado mineiro.

Feira Hippie, ponto tradicional em Belo Horizonte,

Artesanais, as peças são feitas a partir de mate-

onde vendi meus produtos por mais de dez anos”,

riais orgânicos – como galhos de acerola e jabu-

relata a empresária Lázara Maria Alves Ferreira.

ticaba, orquídeas e sempre vivas – e folheadas a

Formada em Economia, ela conseguiu aliar o trato

ouro. Atualmente, a produção gira em torno de

com as questões financeiras e administrativas ao

100 a 150 peças por mês, e 70% das vendas estão

talento para a criação, garantindo a sobrevivência

concentradas no mercado interno, sendo grande

no ramo. “Nunca estudei moda, e a parte criativa

parte efetivada pelas redes sociais. A empresa

sempre levei de forma muito intuitiva. Por isso,

também tem parcerias com lojistas do Sudeste e

mesmo já consolidada no mercado, decidi buscar

do Sul do país, além de Portugal e Reino Unido.

o apoio do Sebrae para aprimorar o que faço. Além

“Ninguém faz nada sozinho. O Sebrae realmente

do que, todas as profissões exigem atualizações, e

ajudou a mudar nossa história. Saímos de uma

com a minha não é diferente”, explica.

MADE IN MINAS Conduzida em três etapas, a estratégia do projeto Identidade foi construída para melhorar o posicionamento das empresas no mercado. A iniciativa se apoiou no desenvolvimento de um trabalho de valorização das marcas e de abertura de novos canais de venda, bem como em ações de branding com as empresas para fortalecer atributos e diferenciais das marcas e possibilitar uma melhor integração ao mercado. “Além do contexto econômico não muito favorável e do aumento da concorrência com a entrada dos chineses, hoje é preciso lidar com mudanças no perfil do consumidor. Conectadas e bem informadas, as pessoas querem praticidade na hora da compra e estão mais exigentes com relação à qualidade e à sustentabilidade, entre outros pontos”, orienta a analista do Sebrae Minas Kenia Cardoso.

[40]

ABR | JUN 2019


Para Lázara Ferreira, a participação no Projeto Identidade ampliou seu olhar sobre o negócio

Lázara afirma que a participação no Identida-

Lázara propõe uma viagem ao interior de cada

de ampliou seu olhar sobre o negócio. “Aprendi

ser. “Parti do contexto turbulento que o país

bastante nesses três anos de projeto. Há inúme-

está vivendo para provocar essa reconexão

ras produções bonitas no mercado, além de gente

com a nossa essência em busca do que temos

talentosa, então é preciso encontrar uma identi-

de melhor. É um grande salto, pois sempre tive

dade, firmar um estilo. É isso que faz um cliente

dificuldade para dar nome às coleções, construir

bater o olho e identificar de quem é determinada

famílias de peças e apresentá-las com uma nar-

peça, por exemplo”, comenta.

rativa adequada.”

As técnicas e conceitos aprendidos na eta-

O logotipo também foi refeito: ganhou for-

pa de branding, como o emprego de storytelling,

mas mais leves e variações de cores para serem

têm revolucionado a forma como a marca vem

usadas de acordo com a proposta das peças – so-

apresentando as coleções. Na mais recente de-

fisticadas ou casuais, por exemplo. Mudanças nos

las, Essência, lançada na Primavera/Verão 2019,

estandes também estão programadas para breve.

Para saber mais sobre capacitações oferecidas pelo Sebrae nas áreas de design e identidade de marca, procure um ponto de atendimento da instituição em seu município, ou acesse www.sebrae.com.br/minasgerais

www.sebrae/minasgerais

[41]


[C A PA

EFICIÊNCIA HÍDRICA Iniciativa do Sebrae Minas contribui para melhorar a gestão do uso da água em Paracatu [ M A R C E L A K Á R I TA S ]

O

tempo era quente e úmido na ma-

preendedores locais, moradores e poder público

nhã de abril na cidade de Paraca-

foram diretamente impactados. Diante daque-

tu, Noroeste de Minas Gerais. Di-

la situação, muitos paracatuenses passaram a

ferentemente dos anos anteriores,

questionar o uso da água por produtores locais.

a terra ainda estava lamacenta, um vestígio das

E foi nesse momento que o pivô de Donizete se

chuvas que caíram na região nos últimos dias.

tornou o protagonista da crise.

Enquanto o sol das nove horas esquentava e se-

“Diante daquela situação difícil, alguns mo-

cava as plantações, o agricultor José Donizete

radores questionaram se eu estava utilizando os

Pinton conduziu a equipe da Passo a Passo ao

pivôs. Mas provei para eles e para o Ministério

equipamento do qual tem orgulho: o pivô.

Público que meus equipamentos permaneceram

A máquina que irriga a terra se estende por

desligados. E mostrei que a água que uso vem de

vários metros. Move-se de acordo com a deman-

um ponto de captação localizado depois de onde

da do agricultor, que pode programá-la via apli-

sai o abastecimento para consumo local”, lembra.

cativo de celular. Mas, se hoje o pivô pode ser

Na realidade, àquela altura, Donizete, assim

sinônimo de modernidade no campo, há pouco

como os demais produtores locais, acumulava

tempo foi o bode expiatório de uma grave crise

perdas com a crise. “Não havia água. Tínhamos

hídrica que assolou a região.

investimentos para pagar, mas a produtividade

Donizete recorda e não hesita em contar.

esperada não veio. O prejuízo foi grande”, con-

Em 2017, a cidade de Paracatu sofria com a fal-

ta. Por outro lado, a polêmica também foi um

ta d’água. A sub-bacia do Ribeirão Santa Isa-

estímulo para estreitar uma relação que estava

bel, que banha o município, passou por grande

se formando na época e pôr em prática uma me-

período de estiagem, que levou ao desabaste-

todologia com grande potencial: o Zoneamento

cimento de diversos bairros. Agricultores, em-

Ambiental Produtivo (ZAP).

[42]

ABR | JUN 2019


FOTOS: JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7

Para o produtor Guenter Neiva, os resultados do ZAP confirmaram conhecimentos empíricos que os agricultores da região já tinham, mas de forma mais precisa e organizada

www.sebrae/minasgerais

[43]


[C A PA

UM CAMINHO

nas importantes, pois o Brasil, de maneira geral,

Antes de a crise hídrica gerar essa dor de

precisa de maior eficiência na gestão de recur-

cabeça para moradores e produtores locais, o Sebrae Minas já procurava se aproximar do agronegócio na região. Motivados pelos resultados de uma análise profunda das vocações locais, os analistas constataram a importância de fornecer soluções que ajudassem a agricultura a prosperar. Para se aproximar dos produtores, o Sebrae estreitou relações com a Associação dos Produtores Rurais e Irrigantes do Noroeste de Minas Gerais (Irriganor). Um dos primeiros resultados dessa parceria foi um seminário sobre tendências do agrone-

sos hídricos. É preciso entender a real situação para definir a melhor estratégia”, comenta Marcos Alves, gerente da Regional Noroeste e Alto Paranaíba do Sebrae Minas. Ao mesmo tempo, o descontentamento e a falta de conhecimento da população sobre os motivos que levaram à falta d’água ameaçavam as duas principais atividades dinamizadoras do município: o agronegócio e a mineração. “Para o Sebrae, fez todo o sentido apoiar a cidade, pois o acesso à água é condição estratégica para o desenvolvimento de uma região”, avalia o gestor.

gócio, realizado em agosto de 2017. Depois, o Sebrae Minas passou a estar mais presente no

NA PRÁTICA

dia a dia do campo. “Quando a crise hídrica se

A análise tomou forma com a execução do

acentuou, fomos ao Sebrae para perguntar se

ZAP, uma metodologia desenvolvida pelo Go-

eles nos ajudariam. E essa parceria teve uma

verno de Minas para caracterizar, do ponto de

repercussão maior do que imaginávamos”, co-

vista socioeconômico e ambiental, as sub-ba-

menta a vice-presidente da Irriganor, Rowena

cias hidrográficas do estado. Essa avaliação

Betina Petroll. “A Irriganor nos mostrou lacu-

está prevista em lei e foi desenvolvida pelas

NOROESTE MINEIRO É considerada a maior área irrigada na América Latina. Tem milhares de nascentes em seus 19 municípios. Agropecuária é a principal atividade, com produção anual de 3 milhões de toneladas de grãos (milho, soja, feijão e sorgo)

[44]

ABR | JUN 2019


José Humberto Santiago Vilela construiu um barramento em sua propriedade,

secretarias de Estado de Meio Ambiente e De-

ZAP mostra muito claramente quais são as res-

senvolvimento Sustentável (Semad) e de Agri-

ponsabilidades de cada produtor, além de indi-

cultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A

car a causa dos acontecimentos e o efeito das

aplicação do ZAP foi viabilizada pelo Sebraetec,

decisões que podemos tomar. Ele também nos

programa de consultoria tecnológica do Sebrae

fornece todas as diretrizes e possibilidades de

que possibilitou que informações de diversas

desenvolvimento na sub-bacia. Acaba orientan-

fontes – dados de satélites, oficiais ou consta-

do a ação de cada produtor e nos ajudando nessa

tações de visitas técnicas – fossem compiladas

gestão”, avalia.

e disponibilizadas em uma mesma base. Foi as-

A vice-presidente da Irriganor concorda e rei-

sim que a população passou a ter acesso a da-

tera que todas as informações disponibilizadas

dos estruturados sobre a sub-bacia do Ribeirão

pela metodologia abrem caminho para mudar

Santa Isabel.

a realidade local para melhor. “Depois do ZAP,

O produtor Guenter Neiva lembra que os re-

todos os produtores passaram a entender qual

sultados vieram ao encontro dos conhecimen-

é seu papel e perceberam que, se trabalharmos

tos empíricos que ele e os outros dez produtores

unidos, podemos ampliar a disponibilidade hí-

da região já tinham, mas de forma muito mais

drica da bacia e solucionar o problema de abaste-

precisa e organizada e com caráter oficial. “O

cimento de água em Paracatu”, comenta Rowena.

www.sebrae/minasgerais

[45]


[C A PA

PROTAGONISMO DO PRODUTOR José Humberto Santiago Vilela levou a equipe da Passo a Passo até o barramento construído em sua propriedade, com a devida autorização do órgão ambiental. A área fica na parte mais baixa de um leve declive. Ao som da água atravessando uma pequena barreira de cimento, ele ressalta como o ZAP ofereceu novas possibilidades aos produtores. “A crise de 2017 ligou um alerta para

A visão ampla e multifacetada proporcionada pelo ZAP é um dos maiores benefícios da metodologia

nós e, com a metodologia, tivemos acesso a um diagnóstico mais fidedigno. Vimos que muitas vezes são necessárias ações pontuais para con-

apenas em uma propriedade. Ela deve envolver

tribuir. Se pudermos construir barramentos, por

todas as unidades de produção que estão na

exemplo, podemos estocar água da chuva e utili-

sub-bacia, todos os usos múltiplos da água.”

zá-la na época de seca, tanto na agricultura como

Segundo a secretária, a visão ampla e mul-

para abastecimento da população”, diz. Para o

tifacetada proporcionada pelo ZAP é um dos

agricultor, no entanto, é essencial o envolvimen-

maiores benefícios da metodologia. “O ZAP

to de todos os atores da região. “Se houver esfor-

mostra tudo o que deve ser feito para que a

ço dos produtores, da população e do governo, a

sub-bacia consiga atender, com sustentabi-

gente pode minimizar os problemas e melhorar.”

lidade, a seus múltiplos usos”, ressalta. Para

A secretária de estado de Agricultura, Pe-

contribuir com esses objetivos, o governo de

cuária e Abastecimento de Minas Gerais, Ana

Minas Gerais alocou R$ 500 mil para a sub-

Valentini, avalia que esse é o exemplo a ser se-

-bacia do Ribeirão Santa Isabel, como parte do

guido. Para ela, o produtor rural deve ampliar

projeto de revitalização do Rio São Francisco.

sua unidade de planejamento, considerando a

O recurso será utilizado na construção de 800

gestão da água dentro e fora das suas porteiras.

barraginhas e de 100 quilômetros de terraços,

“Não há eficiência em uma gestão hídrica feita

bem como na adequação ambiental de uma ex-

ETAPAS DO ZAP . Definição das principais características da sub-bacia e de sua vegetação e relevo. . Avaliação do uso de água já autorizado pelo estado, pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM).

. Análise do uso e da ocupação do solo, identificando os territórios onde há agricultura, pecuária, estradas e outros tipos de ocupação.

. Definição de possibilidades e caminhos para garantir a disponibilidade hídrica na região.

[46]

ABR | JUN 2019


A SUB-BACIA DO RIBEIRÃO

SANTA ISABEL

5.958 hectares de Áreas de Preservação Permanente Hídrica (quando o terreno está localizado em raio de até 30 metros de algum leito d’água natural)

907 nascentes

47% das APPs hídricas já foram impactadas pela ação humana e devem ser recuperadas

50 mil hectares de área total

PRINCIPAIS AÇÕES SUGERIDAS . Conservação e cercamento de APPs hídricas . Cercamento de nascentes . Recuperação de áreas degradadas e muito pisoteadas

. Reforma de estradas rurais e construção

de barraginhas, para permitir a infiltração de água nos locais em períodos chuvosos. . Construção de curvas de nível e barramentos de água, para armazenar água da chuva e liberar no período de seca.

Fonte: Zoneamento Ambiental Produtivo da Sub-bacia do Ribeirão Santa Isabel

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[47]


[C A PA

Durante a crise de 2017, os pivôs da propriedade de Donizete Pinton ficaram desligados

tensão de seis quilômetros de estradas vicinais.

por exemplo, se encontra afastada dos cam-

O trabalho desenvolvido pelo Sebrae Minas em

pos cultivados.

Paracatu se estendeu a Bonfinópolis, na sub-bacia do Ribeirão das Almas.

Na região, o principal problema revelado pela metodologia é o alto índice de degradação de pastagens, que exige grandes

EM BONFINÓPOLIS

investimentos para recuperação. Com as

Assim como em Paracatu, o ZAP de Bon-

informações, a Prefeitura de Bonfinópolis,

finópolis, que analisou a sub-bacia do Ri-

Irriganor e outros atores locais trabalham

beirão das Almas, constatou usos múltiplos

para garantir a captação de recursos para ga-

dos recursos hídricos – consumo da popula-

rantir a revitalização da área. Paralelamente

ção, dessedentação de animais e irrigação na

a essa atuação, comunidades ribeirinhas já

agricultura etc. A diferença está na distribui-

realizam atividades localizadas, alinhadas às

ção geográfica das atividades – a pecuária,

orientações do ZAP.

[48]

ABR | JUN 2019


E D U C AÇ ÃO ]

A GRANDE VIRADA O ensino do empreendedorismo pode mudar um cenário muito negativo? Exemplo em Montes Claros mostra que a resposta é sim [LUIZ RIBEIRO]

A

Escola Estadual Coronel Filomeno

somou novos conteúdos, incluindo a aborda-

Ribeiro, em Montes Claros, enfrenta-

gem da educação cooperativista e financeira.

va uma realidade infelizmente muito comum Brasil afora: registro de baixo

EM AÇÃO

rendimento escolar, violência, vandalismo, baixa

A cultura empreendedora e a educação finan-

frequência e uma série de outros problemas. Tudo

ceira e cooperativista são desenvolvidas por meio

derivava do fato de os alunos, em sua maioria,

de diversas atividades. Os educadores participam

serem provenientes de famílias moradoras de

de oficinas, treinamento e cursos, sendo capaci-

locais de alta vulnerabilidade social, o que tornou

tados para trabalhar a temática com os adoles-

a escola “temida” na região. De três anos para

centes. Estes, por sua vez, têm jogos vivenciais

cá, entretanto, tudo mudou. Os problemas foram

e desafios, com simulações do cotidiano de em-

superados. O rendimento escolar melhorou, os

preendedores. Um ponto alto é uma grande feira

alunos passaram a ter novas perspectivas, e a

de empreendedorismo, promovida no segundo

escola tornou-se um bom exemplo.

semestre, com o apoio da Sicoob/Credinor.

A virada se deu em função de uma mudança

Com as atividades, vários empreendimentos

nos conteúdos trabalhados. Junto a português,

surgiram dentro da escola. Destacam-se a ecopa-

matemática, ciências e outras disciplinas tradicionais, a escola passou a ensinar aos 328 alunos os princípios de educação empreendedora. A iniciativa foi implementada em 2016, a partir de uma parceria com o Sebrae Minas. A diretora Clelma Rodrigues Martins Mendes conheceu o projeto ao participar de um seminário no ano

Procuramos ensinar para os alunos que é possível gerar renda de forma honesta e ética

anterior. “Fiquei encantada e comecei a batalhar para implantar o projeto aqui”, recorda. A adesão da Cooperativa de Crédito Sicoob Credi-

CLELMA RODRIGUES D I R E TO R A DA E S CO L A

nor à parceria, por meio da Fundação Credinor,

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[49]


[ E D U C AÇ ÃO

pelaria, que trabalha com o reaproveitamento de

vestimentos com o leuro no Posto Pedagógico

material reciclável, as hortas orgânica e hidro-

de Atendimento (PPA), uma “agência lúdica” do

pônica e uma unidade de produção de tapetes. A

Sistema Sicoob Credinor dentro da escola.

renda da comercialização dos produtos é reverti-

“Procuramos ensinar para os alunos que é

da para os alunos e seus familiares, com um per-

possível gerar renda de forma honesta e ética,

centual destinado à escola.

sempre com vistas ao bem coletivo, da comunidade”, afirma a diretora Clelma. Ela diz que as

onde os alunos fazem empréstimo de livros, que

necessidades da comunidade escolar são muitas,

depois são trabalhados em sala de aula. Para

o que aguçou a criatividade dos alunos. “A partir

cada livro que lê, o aluno recebe o pagamen-

do desenvolvimento da educação empreendedo-

to na moeda criada para a ação, o leuro. Mes-

ra e cooperativista, os alunos passaram a praticar

mo simbólico, o leuro tem poder de compra e é

a cultura do protagonismo e resgataram a capa-

usado pelos alunos para o pagamento de sucos,

cidade de sonhar. Em função das próprias neces-

balas, salgados, cachorro-quente, vitamina, bi-

sidades, o desenvolvimento foi rápido”, relata.

juterias e outras mercadorias do Shopping do

Clelma ressalta que o relacionamento da escola

Bom Leitor. Os produtos são adquiridos com

com a comunidade mudou completamente. “Vi-

o percentual de 10% recebido pela escola nas

ramos a página. A comunidade passou a enxergar

vendas efetivadas nas feiras de empreendedo-

a escola como um lugar apropriado para buscar

rismo. E os estudantes podem, ainda, fazer in-

alternativas para a melhoria de vida”, conclui.

FOTOS: SOLON QUEIROZ

Outra iniciativa é a livraria Ler é Crescer,

[50]

Oficina de tapeçaria reforça os conceitos aprendidos nas aulas de geometria

ABR | JUN 2019


“Qual o seu sonho?” A pergunta instiga os alunos e estimula a ação dos professores da Escola Estadual Coronel Filomeno Ribeiro

CHAVE DO SUCESSO

pessoas tenham menos empregos e vendam ser-

A analista do Sebrae Minas Hebbe Cruz Car-

viços. E isso requer capacidade empreendedora,

valho Mendes avalia que o envolvimento da comunidade escolar foi um dos principais motivos do sucesso da educação empreendedora na Escola Estadual Coronel Filomeno. Ela relata que o interesse foi tamanho que impactos puderam ser percebidos também entre os professores e servidores, que criaram alternativas para complemento de renda. “Uma cantineira decidiu montar

criativa e inovadora”, pontua. O presidente do Sistema Sicoob/Credinor, Dario Colares, considera excepcionais os resultados da parceria com o Sebrae Minas e a escola. “Sempre levamos em conta os princípios e valores éticos que norteiam o cooperativismo. É de fundamental importância trabalhar com esses princípios na educação das crianças e dos adolescentes”, afirma.

um serviço de buffet. Uma professora optou por vender sapatos para colegas, oferecendo-lhes

MUITAS APROVAÇÕES

produtos de forma personalizada. Outra educa-

Os alunos da Escola Estadual Coronel Filome-

dora iniciou a venda de roupas.”

no Ribeiro demonstram entusiasmo com as ativi-

Hebbe enfatiza que, além de agregar novas

dades, e muitos revelam a intenção de seguir como

perspectivas para os jovens, a abordagem do

empreendedores. “Ao entrar na vida da gente, o em-

empreendedorismo na escola ganha maior re-

preendedorismo abre portas e novas oportunida-

levância diante das mudanças nas relações de

des. Acabamos descobrindo a vocação para o negó-

trabalho. “Quando as crianças e adolescentes de

cio próprio”, afirma o aluno Victor Tiago Schroder

hoje estiverem adultos, muitas profissões não

Damasio Santos, 17 anos. A partir do que aprendeu

existirão mais. Cada vez mais diminuem os em-

na escola, ele decidiu desenvolver um aplicativo de

pregos formais. A tendência é que, no futuro, as

jogos infantis, juntamente com quatro colegas.

www.sebrae/minasgerais

[51]


[ E D U C AÇ ÃO

Geovana Aguiar Santos, 15 anos, levou o aprendizado para casa: passou a ajudar a mãe, que vende tapioca em uma feira de alimentos. “O meu sonho é montar uma mercearia”, diz. Já Maria Clara Oliveira da Silva, 16 anos, afirma que, ao participar da produção de tapetes, adquiriu conhecimentos sobre como aproveitar materiais recicláveis e produzir peças de artesanato. “Também aprendi a cuidar melhor do meio ambiente e a reduzir a produção de lixo.” Wesley Ramos da Natividade, 16 anos, confessa que sempre teve dificuldade de aprender,

A tendência é que, no futuro, as pessoas tenham menos empregos e vendam serviços. E isso requer capacidade empreendedora, criativa e inovadora HEBBE MENDES A N A L I S TA DO S E B R A E M I N A S

mas não enfrentou qualquer limitação na educação empreendedora. Ele participou de atividades como horta orgânica, produção de tape-

Batista de Sá, que leciona língua portuguesa.

tes e reaproveitamento de materiais recicláveis.

“Fazemos pesquisas de histórias de sucesso,

“O empreendedorismo é uma forma de mostrar

por meio da escrita e de vídeos e filmes. Discu-

para as pessoas que a gente é capaz”, afirma.

timos em sala sobre as perspectivas de futuro.

E tem professor engajado? Muitos! “Tra-

Digo ‘nós’, porque mostro aos alunos que todos

balhamos com o empreendedorismo da for-

somos empreendedores, que empreender vai

ma mais abrangente possível”, explica Juliana

além de ter um negócio, que empreendemos

Alunos atuam em uma horta orgânica

[52]

ABR | JUN 2019


A venda de produtos feitos a partir de materiais recicláveis é revertida para os alunos e seus familiares, com um percentual destinado à escola

nos nossos talentos, nos nossos sonhos e na

se de ser um ‘bicho de sete cabeças’ e eles se inte-

nossa vida”, relata.

ressassem mais pela disciplina”, conta.

A professora de matemática Clarete Ferrei-

Guilherme de Oliveira Félix, também profes-

ra da Silva trabalha a geometria na oficina de

sor de matemática, é outro que considera a ex-

tapetes, feitos artesanalmente pelos estudan-

periência positiva. “Simulamos situações em que

tes nas formas de quadrado, retângulo, losango

os alunos são empreendedores e precisam fazer

etc. “Passamos a trabalhar com a disciplina de

cálculos dos preços de seus produtos, mas sem-

maneira mais agradável, os alunos aprendem a

pre de maneira que os valores das vendas sejam

calcular a área das figuras geométricas de forma

superiores aos custos”, explica, aludindo ao obje-

diferente. Isso fez com que a matemática deixas-

tivo básico de qualquer negócio: o lucro.

Interessado no projeto de Educação Empreendedora? Procure o Sebrae em sua cidade ou ligue para 0800 570 0800 para mais informações.

www.sebrae/minasgerais

[53]


[MULHERES

SIM,

ELAS PODEM! Conheça a história de três empreendedoras que ousaram ocupar espaços ainda dominados por homens

“É

pelo trabalho que a mulher vem

tude, têm em comum o fato de atuarem em

diminuindo a distância que a

áreas de negócio predominantemente mascu-

separava do homem”, senten-

linas. Vamos a elas.

ciou, no século passado, a filó-

sofa, intelectual e ativista francesa Simone de

DETERMINADA

Beauvoir. E, conforme os números mostram,

Para valorizar o trabalho de quem se dedi-

é pela via do empreendedorismo que muitas

ca ao campo, uma das informações incluídas na

têm se lançado no mercado. Dos 52 milhões

embalagem do café Fino Fruto, produzido em

de empreendedores brasileiros computados

Conceição, comunidade rural de Carangola, na

pela pesquisa Global Entrepreneurship Moni-

Zona da Mata mineira, é o nome do casal pro-

tor (GEM) em 2018, quase a metade (45%) é de

dutor. Porém, com uma particularidade: o da

mulheres. Registraram-se 24 milhões de bra-

mulher vem antes! Sutil, essa foi a forma que

sileiras à frente de um empreendimento – for-

Julenia Maria Lopes da Silva encontrou para

mal ou informal – ou realizando alguma ação

exaltar o trabalho feminino na lida com o fru-

visando a ter seu próprio negócio.

to, marcado por um cuidado que ela considera

Coordenado pelo Instituto Brasileiro da

fundamental para a qualidade do produto final.

Qualidade e Produtividade (IBQP), em par-

À frente do Centro Comunitário Rural de

ceria com o Sebrae, o estudo também revelou

Conceição, organização à qual os produtores do

que, das 11 milhões de mulheres que tinham

Fino Fruto, incluindo ela e o marido Helmuth

um negócio com até 3,5 anos de mercado, ou

Martens, estão ligados, Julenia carrega consigo

seja, em fase inicial, 56% decidiram empreen-

a inquietação feminina. A paixão pela língua

der “por oportunidade”, o que aumenta signi-

inglesa abriu seus horizontes. Estudou sozinha,

ficativamente as chances de sobrevivência do

cursou Letras e ganhou uma bolsa de mestrado

empreendimento.

na Inglaterra, onde dirigiu um renomado insti-

A Passo a Passo destaca três histórias de

tuto de línguas. Por obra do destino, foi parar

empreendedoras que, além do gênero e da ati-

em Portugal e na Alemanha – país de origem do

[54]

ABR | JUN 2019


AGÊNCIA NITRO

marido –, onde, pela primeira vez, teve a opor-

Duas importantes iniciativas marcam

tunidade de provar um bom expresso.

o papel do Sebrae Minas na trajetória

“Vivi 20 anos fora do Brasil e, quando trouxe

de Julenia Lopes (na foto, com o

o Helmut para conhecer o lugar onde nasci, ele

marido Helmuth): o apoio para a

se apaixonou. Compramos um pedaço de terra e

fundação, em 2012, do Capítulo Brasil,

nos tornamos cafeicultores, assim como foram

braço da Aliança Internacional das

meus avós, tios e pais”, conta.

Mulheres do Café (IWCA Brasil), da

Além de produtora, Julenia é líder. Atua em

qual ela faz parte, e o amplo trabalho

vários projetos voltados à melhoria da qualidade

de qualificação e valorização do café

de vida da comunidade. Já foi vereadora – a úni-

da Região das Matas de Minas.

ca mulher entre 12 cadeiras –, é mobilizadora da Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA Brasil), fundou e preside a Cooperativa Regional de Indústria e Comércio de Produtos

do. Representando os cerca de 140 cooperados,

Agrícolas Artesanais (Coolabore).

Julenia voltou do Rio de Janeiro vencedora da

“Foi aí que comecei a participar de um mun-

chamada pública da Marinha do Brasil, em uma

do, digamos, masculino. Nas chamadas públicas,

transação que envolveu 53 toneladas de café e

geralmente sou a única mulher concorrendo

R$ 1,2 milhão. “Claro que muitas vezes me vejo

para vender café”. E ela tem tido sucesso. Uma

na mira de olhares duvidosos. Mas, como acabei

das conquistas mais recentes foi no ano passa-

me aproximando muito da comunidade, conwww.sebrae/minasgerais

[55]


[MULHERES

quistei o respeito das pessoas. Sigo em frente,

cesso. Tudo começou quando, recém-formada

pois há trabalho a fazer”, afirma.

em Computação, ela se viu obrigada a repensar o sonho de atuar em uma grande corporação

AUTOESTIMA QUE LIBERTA

para dedicar-se à gravidez inesperada. “Na

Por um bom tempo, a única brecha que a em-

mesma época, o Junivan, meu marido, ficou de-

presária Etiene Rocha encontrou para estudar e

sempregado. De repente, estávamos ali, os dois

garantir sua evolução profissional foi das 5h às

formados em Computação, sem emprego e com

6h da manhã. Como a maioria das mulheres, ela

uma filha. A saída foi trabalhar em casa, desen-

se desdobra entre o trabalho, a administração

volvendo projetos de programação”, conta.

da casa, o acompanhamento das duas filhas e os cuidados com a saúde.

Esse foi o embrião da Adaptweb, empresa especializada em serviços e soluções tecnoló-

Embora sua estreia no empreendedorismo

gicas, fundada em 2007, em Alfenas, no Sul do

não tenha sido necessariamente por oportu-

estado. O casal também está envolvido em um

nidade, Etiene construiu uma carreira de su-

projeto promissor, a Car&Cia, uma startup do ramo automobilístico. Hoje, Etiene é responsável pela gerência de projetos do negócio e

O Sebrae Minas apoia eventos de

cuida das estratégias e da concepção de novos

estímulo ao empreendedorismo

produtos, entre outras funções. “Em algumas

feminino, como o Voe Mulher, realizado

reuniões com os clientes, principalmente nos

ARQUIVO SEBRAE MINAS

no mês de março, em Belo Horizonte.

[56]

ABR | JUN 2019


PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7

O Sebrae Minas acredita na jornada meios mais conservadores, percebo os olhares de desconfiança. É como se não bastasse ser competente, é preciso provar isso a todo momento. Mas não me abalo. Sei da minha capa-

empreendedora de Etiene Rocha, mantendo com ela contato permanente e estimulando-a na preparação para a próxima parceria: o Empretec.

cidade e no final dá tudo certo”, reflete. Etiene toca em um ponto determinante em qualquer jornada empreendedora: a autoestima.

apontada na pesquisa GEM, que é 40% mais

“Mesmo com habilidades técnicas superiores e

baixa entre as mulheres. “Elas acabam ficando

mais escolarizadas, a maioria das empreendedo-

no meio do caminho. Claro que há outras difi-

ras esbarra nas soft skills, que são competências

culdades, mas a autoconfiança é fundamental

do relacionamento, da negociação e da auto-

para seguir em frente”, explica.

estima, pois isso não é estimulado ao longo da

Etiene ressalta que trabalhar esse lado não

vida. E, sem autoestima, fica difícil fazer uma boa

foi fácil. “É como se a gente viesse formatada de

negociação, ainda mais diante do preconceito de

fábrica para as responsabilidades da casa – ca-

gênero”, pontua a analista de Educação e Empre-

sar e ser mãe. Ao aceitar essa crença, acabamos

endedorismo do Sebrae Minas Rachel Dornelas.

fechando os olhos para o mundo. Empreender

Ela explica que essa postura influencia

exigiu de mim uma nova postura, e hoje sei me

diretamente a taxa de conversão – transição

valorizar como gestora e tenho muitos planos

de empreendedor para dono de um negócio –

que espero tornar realidade.” www.sebrae/minasgerais

[57]


PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7

[MULHERES

Em 2018, a empresa de Márcia

VISÃO DO TODO

Alvernaz se lançou no mercado como

“Eu represento a mulher médica integrativa”,

franquia, em um processo conduzido

afirma, com orgulho, Márcia Freitas Alvernaz.

com o apoio do Sebrae Minas, por

Formada em Medicina há 20 anos, com especia-

meio do Programa Minas Franquia.

lização em Ginecologia e Obstetrícia, em 2017 ela fundou o que considera a primeira franquia de clínica integrativa do Brasil comandada por uma mulher, a Integrative – Núcleo Brasil de Saúde In-

adota, em sua clínica, todos os protocolos desses

tegrativa e Funcional.

países. “Os modelos integrativos com os melhores

Localizado em Ipatinga, no Vale do Aço, o es-

resultados do mundo são os americanos. Então,

paço é dedicado ao tratamento dos pacientes pela

para adotá-los, precisei criar o meu próprio em-

abordagem integrativa – foco na totalidade do in-

preendimento e assumir a responsabilidade de

divíduo – e na prevenção pela saúde e qualidade

implantá-los no país”, conta a empresária.

de vida. A proximidade da relação médico/pacien-

De acordo com ela, a área ainda é predomi-

te é um dos diferenciais da abordagem, também

nantemente masculina, o que explica o precon-

conhecida como “medicina a quatro mãos”.

ceito ainda latente. “As pessoas confundem mui-

Segundo Márcia, Estados Unidos, Inglaterra,

to a amorosidade da Medicina Integrativa com

Austrália, Canadá e Alemanha se destacam mun-

falta de objetividade. Já ouvi muito a expressão

dialmente em prevenção de doenças e restabele-

‘isso é coisa de mulherzinha’. Outro preconceito

cimento da saúde de forma biológica, por isso ela

foi por parte dos colegas que não acreditavam no

[58]

ABR | JUN 2019


meu potencial enquanto gestora, mas consegui

e acabei descobrindo a grande mulher que sou e

provar o contrário”, diz.

que todas nós somos. Esse papo de que mulher

A prova mais recente é que, em março des-

não nasceu para os negócios já caiu faz tempo.

te ano, Márcia alcançou uma carteira de 3 mil

Muitas vezes, o que dificulta é a falta de oportu-

pacientes. “O potencial feminino é enorme. Eu

nidade, mas quando ela vem, temos que confiar

fui movida por algumas insatisfações pessoais

no nosso potencial.

UM SEBRAE PARA ELAS O Sebrae Minas acaba de lançar

no evento Voe Mulher, programa de

o projeto Sebrae Delas – Mu-

capacitação apoiado pela enti-

lher de Negócios. O objetivo é

dade em março, no Mineirão,

atender às particularidades

em Belo Horizonte. O Sebrae

do empreendedorismo fe-

Delas é estruturado sobre

minino, como a necessidade

três pilares: sensibilização

de uma rede de apoio e fo-

da importância da equida-

mento, essencial para que as

de de gênero na sociedade;

mulheres consigam deslanchar

formação e fortalecimento de

nos negócios.

rede; e atendimentos focados em

“Na busca pela emancipação, uma

ferramentas de inovação e desenvolvi-

das libertações mais necessárias para as

mento das soft skills. A proposta é acompa-

mulheres é a financeira. Empreender vai ao

nhar um grupo-piloto de 200 mulheres, nas

encontro desse desejo, porém essa movi-

nove regionais do Sebrae no estado.

mentação ainda é muito guiada pela neces-

“Mesmo as que não estão nesse grupo po-

sidade, o que é perfeitamente compreen-

derão se beneficiar das iniciativas decorren-

sível pela série de dificuldades estruturais

tes do trabalho, como grandes eventos, pales-

impostas pela sociedade”, afirma Rachel

tras e materiais produzidos. Queremos que as

Dornelas, gestora do projeto.

mulheres se aproximem e percebam que o

Em fase piloto, a iniciativa foi anunciada

Sebrae também é para elas”, conclui Rachel.

Participe do Sebrae Delas! Procure o Sebrae em sua cidade ou ligue para 0800 570 0800 para mais informações.

www.sebrae/minasgerais

[59]


[ S E R V I ÇO S

BUROCRACIA NO PASSADO Sala Mineira do Empreendedor atua para simplificar a vida de quem deseja formalizar seu negócio

JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7

[ F E R N A N DA P E R E I R A ]

Samantha Teles conheceu os serviços da Sala Mineira na 1ª Mostra de Empreendedores de Contagem

A [60]

té há pouco tempo, uma das gran-

assemelhava-se a participar de uma gincana.

des reclamações dos empreendedo-

Felizmente, iniciativas como a Sala Mineira do

res era de que abrir, alterar ou mes-

Empreendedor têm tornado essa realidade cada

mo encerrar uma empresa no Brasil

vez mais distante. Resultado da parceria do Se-

ABR | JUN 2019


brae Minas com a Junta Comercial do Estado

endedores. Além dos serviços básicos ofereci-

(Jucemg) e prefeituras, a Sala Mineira vem co-

dos – inscrição de CNPJ, expedição de alvarás,

laborando para desburocratizar e acelerar a for-

licenciamentos diversos, entre outros –, elas

malização dos empreendimentos de pequeno e

têm se destacado pelas interações estabeleci-

médio portes.

das com os mais diversos agentes econômicos

Prestes a completar dois anos em junho, mês de inauguração do primeiro espaço, em Nova

locais, promovendo um ambiente favorável ao desenvolvimento.

Serrana, no Centro-Oeste do estado, o projeto é exemplo de integração eficiente entre poder

RITMO ACELERADO

público municipal e entidades setoriais, com a

Em Contagem, segundo município mineiro

missão de transformar o micro e pequeno em-

em número de Microempreendedores Individu-

preendedor em um agente de desenvolvimento

ais (MEI), a Sala Mineira do Empreendedor tem

local. De lá para cá, foram assinados 342 termos

parcerias com universidades que viabilizam a

de adesão, que já resultaram na instalação de

prestação de consultorias por estudantes nas

salas em 151 municípios. Os locais têm equipes

áreas de Administração e Qualidade, com acom-

de apoio em três frentes: orientação, serviços e

panhamento de um professor. A superintendente

capacitação, concentrando em um único local

de Apoio ao Empreendedor e Pequenos Negócios,

tudo o que o empreendedor precisa para for-

Cristina Romero, que coordena a Sala em Conta-

malizar e desenvolver o seu negócio, de forma

gem, explica como funciona: “O empresário vem

simples e rápida.

até nós, fazemos um levantamento prévio das in-

Segundo o analista do Sebrae Minas Bismarck

formações e, após isso, os consultores visitam a

Esteves, a Sala atua em duas frentes: a primeira é

empresa, analisam o cenário e dão as orientações

na gestão dos negócios, diretamente com o em-

necessárias para aperfeiçoar o negócio.”

presário; a outra é em melhorar e tornar o am-

Além dessa, são realizadas diversas outras

biente político-institucional mais propício. Nes-

ações e, segundo Cristina, a adesão é sempre

se caso, os agentes públicos recebem orientações

muito boa. “Os ganhos vão além do sucesso de

para reduzir ao máximo a burocracia e agilizar

público, pois vemos que muitos participantes

procedimentos. “A velocidade com que as em-

retornam para mais atividades após uma primei-

presas são abertas e a capacidade que temos de

ra participação e também para nos contar sobre

ouvir e entender as dores do empresário e trazer

o salto dos seus negócios”, relata. Por meio de

as soluções de forma muito objetiva geram im-

uma única iniciativa, o Programa Empreender,

pactos muito positivos nos municípios. Antiga-

foram realizadas 40 palestras em 2018. Para dar

mente, o empresário se sentia desmotivado para

mais visibilidade às ações, também foi criada a

legalizar sua empresa, porque tinha que ir a inú-

Sala Mineira Itinerante, que levou os serviços

meras repartições, as informações não cruzavam,

para as oito regionais do município.

o processo não era otimizado. Isso gerava muitos prejuízos para o município”, destaca.

Outro projeto de destaque foi a 1ª Mostra de Empreendedores de Contagem, que reuniu, em

Inauguradas há pouco mais de um ano, as

2018, cerca de 30 expositores e empreendedores

Salas de Contagem e de Três Pontas são con-

interessados em novas oportunidades de negó-

sideradas referência em atendimento a empre-

cios. Samantha Teles, proprietária da marca de www.sebrae/minasgerais

[61]


PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7

[ S E R V I ÇO S

Após dois anos atuando na informalidade, César Rodrigues tornou-se MEI com o auxlílio da equipe da Sala de Três Pontas

biscoitos veganos para pets Natu Croc, era um

JUNTOS PARA CRESCER

deles. “Participei de uma palestra, gostei e co-

Em geral, o município é responsável por pro-

mecei a ir a várias outras. E a cada vez a gente

ver espaço físico e os recursos humanos necessá-

sai com a visão muito mais ampliada do proces-

rios ao funcionamento das salas. Já em Três Pon-

so. Consegui aplicar muitas coisas.”

tas é diferente – a Sala Mineira do Empreendedor

Dentista por formação, Samantha nasceu em

é integrada à Associação Comercial e Agroindus-

uma família de empreendedores, o que natural-

trial (Acai-TP), por conta da sua representativi-

mente a inspirou a criar um negócio próprio.

dade e ligação com a economia local. Três Pontas

“Como já passo o dia inteiro no consultório, op-

é reconhecida como a Terra do Ouro Verde, uma

tei por uma atividade diferente. Sou apaixona-

referência à produção cafeeira, que ocupa uma das

da por cães e, pesquisando e conversando com

maiores áreas plantadas no estado.

amigos, surgiu a ideia de produzir biscoitinhos

De uns tempos para cá, entretanto, diversos

caninos”, conta. Uma amiga sugeriu que Saman-

atores locais, engajados em políticas públicas

tha crisse um produto vegano para diversificar o

de fomento ao desenvolvimento, sentiram a ne-

mercado já saturado de opções contendo ingre-

cessidade de diversificar as atividades e forta-

dientes de origem animal. Apesar de ainda não

lecer o turismo e o comércio, por exemplo. Um

ter formalizado a empresa, ela já obteve todas

dos pilares da Sala Mineira no município foi o

as informações necessárias na Sala Mineira do

envolvimento das pessoas, principalmente do

Empreendedor de Contagem e pretende fazê-lo

segmento empresarial, que formaram um Con-

em breve. A expectativa é de que, com isso, a

selho de Desenvolvimento Econômico. “Eles

Natu Croc se torne mais conhecida.

discutem, por exemplo, estratégias para atrair

[62]

ABR | JUN 2019


novos negócios, de acordo com os interesses da

planejamento. “Nosso cartão de visitas é o aco-

comunidade e do município. Além disso, têm

lhimento, porque temos em mente que aqui re-

total autonomia em questões que impactam di-

cebemos pessoas com um sonho. Não interferi-

retamente a economia e os negócios”, relata o

mos nas decisões, mas salientamos que sempre

analista do Sebrae Minas Arrison Tavares.

é necessário planejar, independentemente do

Além dos empresários, o grupo é formado

segmento em que elas vão atuar. Sem um plano

por três núcleos, que abrangem autoridades po-

de negócio, não há como ter sucesso”, enfatiza.

líticas, sociedade civil e entidades empresariais,

Foi assim com César Rodrigues. Por dois

como sindicatos e associações. Conta, ainda,

anos, ele vendeu produtos de moda masculina

com o trabalho de cinco câmaras técnicas, for-

pela internet, em paralelo ao trabalho em uma

madas por órgãos de desenvolvimento setorial,

loja. Deu tão certo que decidiu criar a marca In-

como Sebrae Minas, Epamig, Emater e OAB. O

victus Moda Masculina, à qual passou a se de-

presidente do Conselho, Bruno Dixine, explica

dicar exclusivamente. Pensava em formalizar,

que entre os trabalhos estão a revisão do plano

mas não sabia por onde começar. Foi, então,

diretor e o processamento de alvarás. “A inten-

até a Sala Mineira de Três Pontas, registrou-se

ção é fazer tudo de forma desburocratizada e

como MEI e conseguiu o alvará de funciona-

cada vez mais simplificada e automatizada, dan-

mento em menos de uma semana. “Não tinha

do mais clareza para os empresários”, explica.

ideia que fosse tão simples e rápido, eles foram

Diversas ações foram desencadeadas a partir da atuação do Conselho, como o programa de

muito atenciosos e me informaram tudo o que eu precisava saber”, diz.

compras públicas “Licitação Fácil”, que ampliou

Ao conhecer os serviços, César se interes-

significativamente as chances de empreende-

sou pelo curso de Canvas, que o auxiliou a es-

dores locais vencerem processos licitatórios

truturar o plano de negócio, com uma proposta

realizados pela prefeitura. Segundo o coorde-

diferente, e ampliou sua perspectiva e atuação.

nador da Sala de Três Pontas e gerente de Negó-

Com isso, ele diferenciou os produtos, ganhou

cios da Acai-TP, Helio de Carvalho Júnior, “um

mais poder de negociação com fornecedores e

bom contrato com órgão público traz inúmeras

clientes finais e ampliou suas margens de lu-

vantagens, tais como visibilidade, consolidação

cro. “Como o treinamento é mais complexo e

da marca e estabilidade”.

aprofundado, consegui entender melhor como

Ainda de acordo com Hélio, além de facili-

é a atuação dos fornecedores e amadureci o

tar cada vez mais a vida do empresário, a Sala

meu negócio”, afirma o empreendedor, que

Mineira do Empreendedor de Três Pontas dis-

efetiva 80% de suas vendas online, por meio

ponibiliza suporte técnico e de

das redes sociais.

Acesse salamineiradoempreendedor.com.br, conheça todos os serviços e encontre a Sala Mineira do Empreendedor mais próxima de você.

www.sebrae/minasgerais

[63]


[ M O B I L I Z AÇ ÃO

INCENTIVO AO SETOR PRODUTIVO Programa do Governo Federal, apoiado pelo Sebrae, vai mapear gargalos e estimular empresas na geração de emprego e renda

Mapear os principais problemas enfrentados pelo setor produtivo e debater políticas públicas que possam ajudar na geração de postos de trabalho e renda. Este é o objetivo do Programa Mobilização pelo Emprego e Produtividade, lançado pelo Governo Federal no início de maio, em Belo Horizonte. O Sebrae será um dos principais agentes nas ações a serem desenvolvidas em todos os estados brasileiros. A Passo a Passo conversou com o secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, sobre a iniciativa.

Quais os objetivos do programa Mobiliza-

faremos o lançamento em todas as capitais do

ção pelo Emprego e Produtividade? Quais

país, para nos reunir com os atores e encon-

os principais pontos da iniciativa?

trar, em conjunto, soluções que destravem a

O programa foi criado para que o diálogo com gestores públicos – estaduais e munici-

economia, aumentem a produtividade e, como consequência, gerem emprego e renda.

pais – empresários e empreendedores seja intensificado. É um canal direto para a discus-

Quais os principais obstáculos encon-

são de questões que impedem o incremento

trados pelos empreendedores brasileiros

da produtividade, na perspectiva regional.

para deslanchar seus negócios?

Alguns temas são relacionados à infraestru-

Criamos um aplicativo para que o setor pri-

tura necessária para a produção e exportação

vado informe o que tem afetado a sua realidade

de bens, marcos regulatórios que impedem o

empresarial. Para se ter uma ideia, em apenas

dia a dia das empresas, ambiente de negócios

três dias de lançamento do mobilizabrasil.eco-

pouco competitivo e a falta de mão de obra

nomia.gov.br, a burocracia estatal foi apontada

qualificada. Temas que de alguma maneira

como principal obstáculo para a produtividade.

impedem a retomada do crescimento. Por isso,

Vamos trabalhar para avançar nessas agendas.

[64]

ABR | JUN 2019


FOTOS: WASHINGTON COSTA – SEPEC/ECONOMIA

A Secretaria criou um canal para ou-

dutivos somente este ano) quanto por meio

vir os empresários sobre como estimular a

de sistemas eletrônicos. As informações se-

competitividade do setor produtivo brasi-

rão analisadas e traçaremos estratégicas de

leiro. É um canal permanente? Como serão

curto e médio prazos para atacar os princi-

feitos a triagem e o encaminhamento des-

pais problemas apresentados.

sas sugestões? O Mobiliza Brasil é um aplicativo. Qualquer cidadão pode acessá-lo e sugerir ações,

De que forma as ações serão articuladas com os governos estaduais e municipais?

cujo foco é o aumento da produtividade. É

Como sabemos, lidamos com legislações,

importante lembrarmos que as realidades

normas e tributos federais, estaduais e muni-

dos segmentos econômicos são distintas. Por

cipais. Além de regras para aberturas de em-

exemplo, a dificuldade de uma empresa de

presas e emissão de documentos. Tudo isso

joias e pedras preciosas é diferente dos per-

impacta o dia a dia das empresas. Nessas nos-

calços por que passam empresas do setor au-

sas reuniões, ouvimos dezenas de relatos de

tomotivo, ou de um empreendedor que quer

empresários que gostariam de contratar mais

abrir um salão de beleza. São essas questões

pessoas, mas não conseguem por diversos

que iremos atacar, mas precisamos do enga-

motivos, alguns deles, de simples resolução.

jamento de todos. Uma equipe de técnicos

O apoio de estados e municípios, portanto, é

está se debruçando sobre o que é coletado,

fundamental para traçarmos esse panorama e,

tanto nos encontros presenciais (já realiza-

juntos, alinharmos políticas que contemplem

mos mais de 400 reuniões com setores pro-

demandas do setor privado e da sociedade.

www.sebrae/minasgerais

[65]


[ M O B I L I Z AÇ ÃO

Há um cronograma previsto, quais os próximos passos pós-lançamento?

parlamentares, gestores públicos, divulgação, o aplicativo e, em seguida, avaliação de

O Programa foi lançado, nacionalmente,

tudo que foi feito – se realmente as políticas

em Belo Horizonte no último dia 3 de maio.

implementadas estão ou não possibilitando

Serão outros 16 lançamentos somente este

o aumento da produtividade e a retomada

ano. Vale destacar que o Mobiliza envolve

do emprego.

várias ações, encontros com empresários, Qual a importância da participação do Sebrae neste programa? O Sebrae é o principal parceiro nacional do Mobiliza. Essa parceria é fundamental, uma vez que os micro e pequenos negócios PELO MOBILIZAÇÃO

Emprego e produtividade

são responsáveis pela maior parte dos empregos gerados no País. Nada mais natural que trabalhássemos juntos nessa iniciativa. Precisamos entender o que os pequenos empreendedores necessitam para crescer e ampliar seus negócios. É importante criar

melhoria do tunidades de icípio. Conheça as opor cios no seu mun ambiente de negó

condições para que quem quer investir também encontre meios para isso. O Sebrae permite que esse diálogo seja mais direcio-

Uma cartilha foi disponibilizada no site mobilizabrasil.economia.gov.br

[66]

ABR | JUN 2019

nado e que os resultados atendam as realidades de cada localidade.


PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7

A L I M E N TAÇ ÃO ]

De geração a geração: Miguel Marcelio de Faria aprendeu a fabricar o queijo Canastra com os avós, tios e pais

É DA CANASTRA Região é a primeira no Brasil a usar etiquetas que comprovam a autenticidade dos queijos [ A N A PAU L A D E O L I V E I R A ]

www.sebrae/minasgerais

[67]


[ A L I M E N TAÇ ÃO

O

queijo produzido na região da

como o aumento considerável das falsificações.

Canastra ganhou um novo alia-

Muitos queijos feitos de leite cru começaram

do na batalha para resguardar

a ser comercializados como ‘Canastra’. A eti-

sua originalidade, conferida por

queta é uma estratégia de proteção contra a

mais de 200 anos de tradição. Desde fevereiro,

pirataria”, explica o presidente da Associação

os queijos do lugar estão sendo colocados no

dos Produtores de Queijo da Canastra (Apro-

mercado com uma etiqueta de caseína, proteína

can), João Carlos Leite. A entidade encabeçou

extraída do próprio leite. A iniciativa permite

a iniciativa, com o apoio do Sebrae Minas, da

aos produtores comprovar a procedência e a

Federação da Agricultura do Estado de Minas

legitimidade dos queijos produzidos nos sete

Gerais (Faemg), do Sindicato e Organização

municípios que formam a área delimitada pela

das Cooperativas do Estado de Minas Gerais

Indicação de Procedência Canastra – São Roque

(Ocemg), da Sertãobras, do Ministério da Agri-

de Minas, Medeiros, Vargem Bonita, Tapiraí,

cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da

Delfinópolis, Bambuí e Piumhi –, permitindo a

Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e

rastreabilidade e inibindo a falsificação.

Abastecimento (Seapa).

“A notoriedade conquistada pelo nosso pro-

É a primeira vez que essa ferramenta de ras-

duto trouxe vantagens, mas também desafios,

treabilidade é utilizada no Brasil. “Estudamos a possibilidade de adotar a etiqueta desde 2015, processo que exigiu o cumprimento de uma série de exigências legais junto aos órgãos de inspeção, bem como adequações por parte dos produtores”, conta João Carlos. O lançamento oficial do primeiro lote de queijos maturados com a etiqueta de caseína foi realizado no dia 19 de fevereiro, em São Roque de Minas. Inicialmente, 23 produtores ligados à Aprocan aderiram ao uso da etiqueta. Outros 15 estão em fase de adequação das queijarias e processos para entrar na próxima leva de importação, prevista para o próximo mês de julho.

Cada selo leva um código numérico. No caso da Aprocan, há oito dígitos: os três primeiros identificam o produtor e os outros cinco remetem a cada peça fabricada

“A aceitação do mercado tem superado as expectativas, e nossos compradores já estão exigindo o queijo com a etiqueta. Por isso, estamos agilizando o processo de adequação de mais produtores, já que, para receber o selo do queijo, o produtor deve estar regularizado junto aos órgãos de inspeção e obedecer ao modo de produção indicado pelo Caderno de Especificações Técnicas”, explica João Carlos.

[68]

ABR | JUN 2019


PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7

Allan Diego é um dos produtores que já utilizam a etiqueta. Seu número de identificação é 016

APROXIMAÇÃO

é feito com responsabilidade ambiental e social,

Comum na Europa, onde a maioria dos quei-

entre outros critérios que garantem a qualidade”,

jos de origem protegida utiliza o instrumento há

afirma João Carlos.

mais de 80 anos, a etiqueta de caseína é aplicada no momento de prensar as peças, antes da salga.

NADA DE “GATO POR LEBRE”

Cada selo leva um código numérico. No caso da

Sequências iniciadas pelos dígitos 007, por

Aprocan, são utilizados oito dígitos: os três pri-

exemplo, “abrem as porteiras” da Fazenda San-

meiros identificam o produtor e os outros cinco

tiago Monjolo, localizada a 16 quilômetros de

remetem a cada peça fabricada. É por meio dessa

São Roque de Minas. Foi lá que o produtor Mi-

sequência numérica que o consumidor consegue

guel Marcelio de Faria nasceu, cresceu e aprendeu

checar, de qualquer parte do mundo, onde e quan-

com os avós, tios e pais a fabricar a iguaria, que

do o queijo foi produzido – basta acessar o site

àquele tempo era produzida apenas para consumo

www.queijocanastra.com.br e informar o número

doméstico. “O queijo sempre esteve na base da

no campo específico.

minha alimentação. Aprecio tanto que, se deixar,

“Além de atestar a origem, outro ponto importante é que a etiqueta aproxima o consumidor do

como mais que os clientes nas degustações que promovo”, brinca.

nosso universo. Com o código, ele pode conhecer

Entre o apreciador e o comerciante do ramo,

um pouco da história do produtor, ver a fazenda

Miguel percorreu outros caminhos. Aos 18 anos,

onde o queijo é produzido, a forma como os ani-

deixou a fazenda da família em busca de trabalho.

mais são tratados, entender que aquele produto

Com a perda dos pais, há 15 anos, decidiu voltar

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[69]


[ A L I M E N TAÇ ÃO

às origens e reativar a propriedade. Com o apoio

sanal, construída pelo meu bisavô para a minha

de um sobrinho, o Queijo do Miguel conquistou

avó fazer os queijos. Claro que não a usamos na

fama e faturou diversos prêmios, como a medalha

produção, apenas como peça decorativa, mas ela

de ouro do Prêmio Queijo Brasil, em 2018. A pro-

é a prova viva de uma longa história que merece

dução gira em torno de 40 peças por dia, vendidas

ser preservada”, ressalta.

em pontos tradicionais da capital, como o Mercado

Orgulhoso do ofício, Allan é um dos produto-

Central e o Aeroporto de Confins, além da própria

res aptos a usar a etiqueta de caseína. Sua iden-

padaria, que ele toca junto da esposa, Maria da

tificação é a 016. “As pessoas confundem muito

Conceição, em Lagoa Santa.

queijo maturado com queijo Canastra. O queijo

“Vejo a etiqueta de caseína como uma ma-

Canastra não é uma modalidade, e sim um pro-

neira de preservar essa história. Já tive o des-

duto específico da nossa região, feito com muito

prazer de ter meu rótulo falsificado na praça,

critério. Acredito que a etiqueta vai clarear isso

e isso prejudica o nosso trabalho, desvaloriza

para o consumidor e ampliar nossa participação

o nosso esforço. Lidar com queijo não permite

no mercado”, aposta.

preguiça, e para ter um produto de qualidade é preciso muita dedicação. A gente se envolve desde o solo que alimenta o gado até a entrega ao consumidor”, comenta.

SÉRIE DE AÇÕES A conquista da etiqueta de caseína é parte de uma série de ações estruturadas que o Sebrae Minas vem realizando desde 2013, dentro do Projeto

HONRANDO AS GERAÇÕES

Queijo da Canastra. O objetivo é promover o de-

“Desde sempre”. É assim que o produtor

senvolvimento da região por meio da valorização

Allan Diego da Silva localiza no tempo a sua

do produto e a consequente melhoria da renda de

relação com o queijo. Filho, neto e bisneto de

seus produtores.

queijeiros, há cerca de cinco anos ele vem fa-

A analista do Sebrae Minas Fabiana Rodrigues

zendo dessa herança um negócio promissor.

Rocha conta que os ganhos para o território são

Assumiu a Fazenda Água Limpa, localizada a

crescentes. Entre outros exemplos, ela cita o au-

oito quilômetros de Piumhi, onde fabrica cerca

mento, em dois anos, de 120,6% no faturamento

de 15 peças por dia do Queijo do Dinho, nome

médio dos produtores, a inserção de mais pessoas

escolhido para homenagear o pai, seu Hildo.

no processo de fabricação e a integração com ou-

“Tenho uma banca de madeira totalmente arte-

tras atividades, como o turismo de experiência, que praticamente não existia antes da iniciativa. “O objetivo agora é aproveitar as novas opor-

A conquista da etiqueta de caseína é parte de uma série de ações realizadas pelo Sebrae Minas no Projeto Queijo da Canastra

tunidades de negócios que estão surgindo para o queijo da Canastra nas áreas do turismo e da gastronomia. Além do foco direto no mercado, continuamos apoiando a execução do plano de trabalho da Aprocan, tanto na estratégia de utilização do selo de Indicação de Procedência quanto no estabelecimento de parcerias com demais instituições de fomento que fortaleçam a cadeia”, afirma.

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ABR | JUN 2019


ARQUIVO SEBRAE MINAS

PESQUISA EM FAVOR DA QUALIDADE

Trabalho beneficiará cerca de 2,4 mil produtores de queijo do Cerrado Mineiro

Além do trabalho com o queijo da Canas-

que os resultados da pesquisa beneficiem cer-

tra, o Sebrae Minas está apoiando uma inicia-

ca de 2,4 mil produtores de 29 municípios de

tiva fundamental à qualificação e profissio-

ambas as regiões.

nalização do queijo Minas Artesanal feito nas

Segundo a analista do Sebrae Minas Ade-

regiões do Cerrado e do Triângulo. Durante um

nilce Moreira, a pesquisa é um dos frutos do

ano e meio, pesquisadores de Patos de Minas

Programa de Fortalecimento da Produção e

vão desenvolver um estudo aprofundado sobre

Comercialização do Queijo Minas Artesanal do

o tempo de maturação do produto.

Cerrado. Iniciado em 2016, em parceria com a

Lançado no dia 18 de março, na cidade de

Emater e com apoio do Sicoob Credicarpa, o

Carmo do Paranaíba, o projeto será viabili-

trabalho tem sido direcionado ao acesso ao

zado em parceria com a Emater, a Universi-

mercado, à cooperação e à capacitação dos

dade Federal de Uberlândia (UFU), o Centro

produtores da região.

Universitário de Patos de Minas (Unipam) e

“Essa pesquisa representa uma grande

a Associação dos Produtores de Queijo Minas

conquista para nós. Com a definição do tempo

Artesanal do Cerrado.

preciso de maturação dos queijos, vislumbra-se

Etapa sensível da fabricação de queijos

a profissionalização dos pequenos produtores,

artesanais feitos de leite cru, é durante a ma-

que terão um parâmetro de comprovação da se-

turação que ocorre uma série de reações mi-

gurança alimentar de seu produto artesanal e a

crobiológicas determinantes para a sanidade

oportunidade de agregar valor na divulgação do

do produto e o surgimento de características

seu produto, gerando renda e desenvolvimento

como textura, sabor e aroma. A previsão é de

para as regiões”, comemora.

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[ A R T I G O | PAO L A Z O R Z I N *

REGRAS DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL Elas são o oposto do que aprendemos na escola e exigem uma mudança de mentalidade

F

omos instruídos para ser aquele bom alu-

risco de desperdiçar tempo e dinheiro em algo que

no, que faz tudo certinho, dentro do es-

não trará resultado.

perado, de acordo com o que o professor mandava. Se dava bem quem fazia todos

2 – Você precisa fazer antes de ter certeza

os para-casas, não conversava em aula, obedecia

Por mais que você faça testes, sempre há um

sem questionar e tirava dez em todas as matérias.

elemento de incerteza. No desenvolvimento ágil de

Mas a Transformação Digital veio para colocar

softwares, as etapas são curtas, mas uma pequena

essa lógica de cabeça para baixo! E sem piedade...

fase concluída é um fim em si mesma. Não é algo

Sim, identifiquei sete regras que são exatamente o

incompleto. É a oportunidade de testar antes de

oposto do que aprendemos na escola.

continuar, de investir mais recursos. O planejamen-

É muito comum vermos empresas de todos os

to divide o processo em etapas de curtos espaços

portes querendo inovar no meio digital. Para isso,

de tempo, mas que geram produtos passíveis de

correm desesperadamente atrás das tecnologias

teste pelo usuário, para então se concluir por seguir

mais avançadas, de pessoas que saibam usá-las

adiante ou repensar o que deu errado e precisa ser

e que conheçam metodologias para projetos di-

mudado – ou, no jargão da área, “pivotado”.

gitais. Mas, para inovar nessa nova era, é preciso, antes de qualquer coisa, pensar diferente. É como

3 – Não confie em você

um edifício que você não consegue reconstruir se

Seja humilde. Você não tem as respostas.

não desconstruir antes. E, por isso, é muito mais

Mas ok! Você só tem que saber fazer as pergun-

difícil do que parece.

tas certas para as pessoas certas: os usuários do

Vamos, então, às regrinhas da Transformação Digital que você não aprendeu na escola:

seu produto. Por mais que tenha certeza do que é melhor para eles, não confie apenas em você. É importante testar principalmente se a necessida-

1 – Não aceite verdades prontas Ao invés disso, abuse da formulação de hipóteses. Porque ideias não são verdades prontas e nem

de (ou “dor”) daquelas pessoas realmente existe, e continuar testando cada hipótese e cada pequeno lançamento do seu produto.

partem de verdades absolutas. Ideias se baseiam em hipóteses que precisam ser testadas por meio

4 – Erre rápido! Você vai errar e está tudo bem

de experimentos controlados. Se você tratar o que

Você precisa melhorar sempre, mas não preci-

você “pensa que é” como uma verdade, corre sério

sa estar sempre certo. Não tenha medo de errar. O

[72]

ABR | JUN 2019


DEPOSITPHOTOS

erro é precioso. É impossível você acertar tudo de

dar as respostas, mas fazer o time chegar a elas. O

primeira, porque ninguém tem uma bola de cristal

líder continua existindo, mas sua função não é ser

que lhe diga exatamente o que precisa fazer. Então,

o dono da verdade e ditar as regras. E essa mesma

aceite logo que vai errar de qualquer jeito. O melhor

lógica serve para os meios educacionais: o professor

é errar rápido e verificar o que precisa ser mudado,

não é mais aquele que sabe tudo e nem o único dono

para conseguir acertar rápido também.

do saber. O aluno tem capacidade de desenvolver seu próprio conhecimento e interagir com o pro-

5 – Você não tem que ser bom em tudo

fessor em pé de igualdade.

Não é como quando você tinha que saber todas as matérias. Agora você tem é que saber escolher

7 – Você tem que aprender a desaprender

bem sua equipe, trabalhar com ela, compartilhar e

Saiba desaprender para poder aprender de novo,

cooperar. É muito importante que a equipe se com-

e de novo... Infinitamente... Para o resto da vida!

plete em termos de habilidades e conhecimentos

Você nunca estará preparado de forma definitiva.

e que a cooperação e o compartilhamento das in-

O aprendizado não é mais linear. É multidirecional

formações sejam constantes. Com outras empre-

e se manifesta em rede. Portanto, mantenha-se co-

sas (até competidores), uma atitude colaborativa

nectado a outras pessoas do mundo digital, conheça

também pode trazer muito mais retorno. Acredite!

experiências de outras empresas e busque aprendizado constante. Crie gosto por aprender. Não se

6 – Não existe hierarquia

engane: a Transformação Digital exige de nós uma

Essa frase choca, eu sei. Claro que continuarão

mentalidade muito diferente daquela que aprende-

existindo superiores, a hierarquia não desaparece

mos na escola, mas nunca antes foi tão importante

de fato. O ponto é que o novo papel do líder não é

ser um estudante aplicado! *Paola Zorzin é analista do Sebrae Minas

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[73]


[CO N S U L TO R I A

FAÇA A COISA CERTA DEPOSITPHOTOS

Vídeos podem ajudá-lo a aproximar-se do seu público, mas é preciso alguns cuidados antes de aderir ao formato

C

ada vez mais, o uso de vídeos é incen-

os alcancem números cada vez maiores. Dados do

tivado e valorizado no ambiente on-

MWC – Mobile World Congress 2019 – apontam

line. Nas redes sociais, o formato en-

que, neste ano, 80% do tráfego total de internet

controu um caminho favorável para

mobile será gerado por vídeos.

que as mensagens tenham maior alcance e gerem maior envolvimento por parte dos usuários.

Cresce a procura pelo formato e, com ele, aumentam também a expectativa da audiência e a

A necessidade tem feito, porém, com que mui-

responsabilidade dos criadores de conteúdo. Sa-

tas empresas iniciem suas experiências de manei-

ber que vídeo é um dos formatos mais adequados

ra amadora. Na maioria das vezes, é dos próprios

para compartilhar as mensagens de uma empresa

celulares dos empreendedores que partem as ima-

no ambiente online boa parte dos empreendedo-

gens que serão postadas. O aumento do número de

res já sabe, mas produzir conteúdo audiovisual

aparelhos e a facilidade de operar as ferramentas

de qualidade ainda é um desafio para gestores de

fazem com que a produção e a divulgação de víde-

micro e pequenas empresas.

[74]

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Alguns motivos listados para isso são: timidez, perfeccionismo, receio de reprovação, falta de preparo e de equipamento. No entanto, quando enumeramos os benefícios do uso de vídeos, a lista tende a ser bem maior do que a dos obstáculos. Este texto é um convite para que

80% do tráfego total de internet mobile em 2019 será gerado por vídeos

você, empreendedor(a), avalie a possibilidade de também utilizar vídeos para posicionar o seu negócio no ambiente online. Quer bons motivos? Vamos a eles:

microfone de lapela para melhorar a captação do

• O formato possibilita mostrar os bastido-

áudio, sempre que possível.

res do negócio, para aproximar a empresa do

• Seja o influenciador da sua marca. O cliente

público-alvo. Conte o que acontece quando as

de micro e pequenas empresas quer proximidade

portas estão fechadas ou quando você ainda está

e, para isso, superprodução ou contratação de

preparando algo.

equipes e modelos nem sempre são consideradas

• Apresentar as características e benefícios

soluções ideais para alavancar as vendas. Seus

dos produtos em vídeo fortalece a imagem e a cre-

clientes conhecem você. Converse com eles “olho

dibilidade da empresa. Experimente o que você

no olho”, por meio de vídeos.

vende e demonstre isso na gravação.

• Abuse das possibilidades de usar formatos

• O alcance do formato e a disponibilidade

e elementos criativos para incrementar e valo-

das pessoas em acompanhar conteúdo em vídeo

rizar aspectos dos vídeos. Mas fique de olho no

fazem com que suas chances de atingir novos

feedback dos seus usuários e seguidores. Isso dirá

públicos aumentem e, consequentemente, suas

se você está no caminho certo ou não.

vendas também. • Esclarecer dúvidas por meio de vídeos é mais

Por último, mas não menos importante, sem-

fácil para a empresa (por evitar confusões) e mais

pre sou questionada sobre o melhor equipamen-

atrativo para o consumidor.

to/dispositivo para captar as imagens. Acredito

• Só o vídeo possibilita contar histórias sobre

que a pergunta possa ser respondida conside-

a empresa e seus produtos, para mostrar a evo-

rando-se outro ponto: qual o melhor momento

lução da marca. Evolua! E conte isso na telinha

para produzir um vídeo? Se, no momento opor-

para seus consumidores.

tuno, você tem apenas um celular nas mãos, e o

• Mostrar, em vídeo, o brilho nos olhos

conteúdo a ser compartilhado é exclusivo, atra-

que uma vitória da sua marca proporciona

ente e pode aproximar você das pessoas, esse é o

não tem preço. Divida essa emoção com seus

melhor recurso. Caso haja tempo disponível para

clientes.

planejar a produção, busque equipamentos que

• Mesmo que você não tenha uma equipe, co-

tenham boa captação de áudio e garanta que a

mece a produzir seus próprios vídeos sozinho(a).

iluminação esteja jogando a seu favor! Depois

Use tripés quando precisar das mãos livres e um

disso, (luz, câmera...) ação!

Fonte: Paula Bento de Vasconcelos é analista do Sebrae Minas

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[75]


[CO N S U L TO R I A

VAMOS INOVAR? Um dos pressupostos mais importantes para isso é não se deixar impressionar por clichês DEPOSITPHOTOS

de organização e oferta de produtos e serviços do que, necessariamente, ao uso de tecnologias de última geração. No mundo real, inovar é criar valor para os clientes e, consequentemente, aumentar a rentabilidade, reduzir custos e minimizar os riscos do negócio. Se a empresa define uma estratégia de presença digital que permite aumentar vendas ou melhorar a relação com cliente, gerando fidelização; reestrutura seu layout para aumentar a produtividade ou visibilidade dos produtos; agrega serviços complementares ao portfólio; melhora a embalagem e a identidade do negócio ou implementa iniciativas para evitar

A

desperdício, tudo isso é inovação!!!

primeiro deles é que a inovação

empresa tem que fazer sozinha, escondido a sete

é algo próximo da ficção, acessível apenas a

chaves, para evitar que a concorrência me copie.

cientistas que habitam grandes laboratórios,

Ledo engano! Muito provavelmente aquela ideia

em meio a máquinas ultramodernas e produtos

super original já foi pensada por uma das bilhões

futurísticos, passíveis de serem concebidos

de mentes do planeta Terra. E se há uma boa lição

somente por meio de tecnologias disruptivas

que podemos aprender com o Vale do Silício é a

e, portanto, impenetráveis para meros mortais.

máxima de que uma ideia não vale nada, o que

Nada mais equivocado.

pesa é a capacidade de execução. Logo, o melhor

o pensar em inovar, a maioria das empresas geralmente é tomada por

MAIS OBSTÁCULOS

uma avalanche de estereótipos. O

Outro pressuposto muito comum é: minha

Não há dúvida de que a tecnologia pode

a fazer é colocar a mão na massa, produzir os

tornar um negócio mais competitivo. Mas ela é

protótipos e validá-los com toda a sua rede de

sempre insumo para o processo de inovação – e

relacionamentos para entender como a ideia

não a inovação em si mesma.

poderá ser agregada ao negócio.

Ultimamente, podemos perceber que as

Seguindo a trilha dos obstáculos que nos

inovações mais surpreendentes estão muito

impedem de inovar, temos outra pérola: inovar

mais ligadas ao modelo de negócio e sua forma

custa muito caro. Sim, se a ação não estiver

[76]

ABR | JUN 2019


alinhada ao propósito ou os objetivos não

é suficiente. Como bem nos ensina a Rainha

estiverem suficientemente claros, a empresa pode

Vermelha, “é preciso correr muito para ficar

perder tempo e dinheiro. Mas, como inovação é

no mesmo lugar”. Sabe o que isso quer dizer?

risco, se o resultado esperado não acontece, fica

Até para manter-se onde se encontra é preciso

o processo de aprendizagem.

inovar! As necessidades dos clientes mudam

Uma forma muito eficiente de acertar

rápido, a cada dia surgem produtos e serviços

o alvo é utilizar metodologias ágeis, que

concorrentes ou substitutos. Todos conhecem

aceleram o processo de identificação de

inúmeros negócios que tiveram seu auge,

problemas, ideação, desenvolvimento,

entraram em declínio rapidamente e não existem

validação e as primeiras vendas. Outra é co-

mais. Desenvolver a cultura de inovação no

criar com clientes, fornecedores, instituições

negócio para que ele incorpore a capacidade de

de fomento e universidades e familiarizar-se

reformular-se constantemente, adaptar-se às

com ambientes de geração de negócios. Use e

novas tendências, mitigar ameaças e aproveitar

abuse da diversidade, traga para a sua rede de

as oportunidades que forem surgindo no mercado

conexões pessoas capazes de perceber o mundo

garantirão a longevidade da empresa.

de forma diferente daquele a que a empresa está acostumada. Assim, além de acelerar a correção

SORTE?

de rumos, a construção do seu novo produto,

Por último, mas não menos equivocado, está

serviço ou modelo de atuação será mais assertiva

o mito de que a inovação é centrada em sorte,

e um bônus será adicionado ao negócio –

insights quase transcendentais ou intimamente

parceiros dispostos a atuar como embaixadores

ligados à criatividade e à inspiração. As empresas

e influenciadores da sua iniciativa.

mais admiradas como inovadoras não possuem

Se as grandes organizações, que possuem

um coletivo de gênios, ou seja, “Einsteins” e

uma escala maior de recursos e gente em seus

“Newtons” com a missão exclusiva de pensar e

departamentos de pesquisa e desenvolvimento,

inovar. O que elas têm são gênios coletivos, ou

têm buscado colaboração para inovar, é ainda

seja, um time plural, uma equipe que busca um

mais crucial para o pequeno negócio abraçar

diferencial de sucesso nos negócios e se conectar

essa estratégia.

a diversas fontes de aprendizagem. Há troca com

Também é comum ouvirmos: gosto que

muita disciplina, método e trabalho incansável

meu negócio seja pequeno e meu retorno já

no estabelecimento de rotinas que garantam a sustentação dessa cultura e um processo de produção contínuo de inovação, até que esse jeito de fazer se torne um hábito.

A tecnologia é sempre insumo para o processo de inovação – e não a inovação em si mesma

A palavra inovação carrega em si o termo ação. Então, basta se colocar em movimento para buscar conhecimento, compartilhamento e conexões. Abrir a mente é essencial para que o espaço para a inovação se estabeleça. Fonte: Carla Batista é analista do Sebrae Minas

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[77]


[É BOM SABER

CREDENCIAMENTO PARA O SEBRAETEC Programa deve habilitar cerca de 500 prestadores nas áreas de desenvolvimento tecnológico, produção e qualidade, design e sustentabilidade [C R I S T I N A M O TA ]

[78]

ABR | JUN 2019


O

Sebrae Minas publicou edital de cre-

encerrado. Os interessados deverão passar por

denciamento de prestadores de ser-

quatro etapas: inscrição (cadastro e preenchi-

viços interessados em participar do

mento eletrônico dos formulários), habilita-

programa Sebraetec no estado. Até

ção técnica (entrega e avaliação documental

o ano passado, somente entidades sem fins lucra-

da capacidade técnica) e avaliação documen-

tivos podiam se inscrever mas, a partir de agora,

tal (análise de documentos obrigatórios como

é permitida a participação de empresas privadas.

atos constitutivos e regularidade fiscal), além

A expectativa é de que cerca de 500 prestadores

de treinamento e alinhamento. Os selecionados

se credenciem em até cinco anos. O edital, que

terão um suporte do Sebrae Minas para a opera-

contém normas, orientações, procedimentos, es-

cionalização e gestão do programa.

pecificações, formulários, relação de documentos a serem apresentados e demais informações está

APOIO À INOVAÇÃO

disponível em www.sebrae.com.br/minasgerais.

Criado em 1994, o Sebraetec facilita o acesso

O Sebraetec é um programa nacional do Se-

das Micro e Pequenas Empresas (MPE), Microem-

brae que oferece aos pequenos negócios acesso

preendedores Individuais (MEI) e produtores rurais

subsidiado a consultorias em diversas áreas. Em

a serviços tecnológicos e à inovação para a melhoria

2019, o Sebrae Minas vai arcar com 70% dos recur-

de processos, produtos e serviços. “Com esse su-

sos necessários ao desenvolvimento dos projetos

porte, os pequenos negócios conseguem ampliar

aprovados por meio da iniciativa – os 30% restantes

sua competitividade e se posicionar melhor no

ficarão por conta do empreendedor. A previsão é

mercado. O Sebraetec também permite melhorar

de que mais de 2 mil pequenos negócios em Minas

a qualidade dos produtos, serviços e processos,

Gerais sejam beneficiados até o fim deste ano.

eliminar desperdícios, reduzir custos, aprimorar o design de ambientes, embalagens e produtos, além

QUEM PODE E ETAPAS

de facilitar a adequação a normas e regulamentos,

Os candidatos devem ser pessoas jurídicas,

pré-requisitos que resultam em agregação de valor

com atuação há pelo menos um ano nas áreas

às marcas”, explica a gerente do Sebrae Minas.

requisitadas para prestação de serviço: •Desenvolvimento tecnológico – desenvolvimento de produto e transformação digital • Design de ambiente e de comunicação • Produção e qualidade – mapeamento e melhoria de processos e gestão da qualidade • Sustentabilidade – eficiência energética, gestão da sustentabilidade e resíduos “Para atuar em cada uma dessas áreas, é necessário que tanto a pessoa jurídica quanto o prestador de serviços comprovem sua experiência profissional”, alerta a gerente de Inovação e Competitividade do Sebrae Minas, Lina Volpini.

O edital, que contém normas, orientações, procedimentos, especificações, formulários, relação de documentos a serem apresentados e demais informações está disponível em www.sebrae.com.br/ minasgerais.

O credenciamento não tem data para ser

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[79]


DEPOSITPHOTOS

[É BOM SABER

AGORA É HORA Desde janeiro, pequenos negócios devem utilizar o sistema de informações trabalhistas do governo federal [BRUNO ASSIS]

A

pós alguns anos de preparação, o

a definição de investimentos públicos”, explica

eSocial já é uma realidade para micro

Haroldo Santos, analista do Sebrae Minas.

e pequenos empresários brasileiros.

As dificuldades para a implantação já eram

Desde o início deste ano, optantes

previstas, pois o sistema traz uma nova forma de

pelo Simples Nacional, empregadores pessoa física

pensar o trabalho. Até mesmo por isso, foi preci-

(exceto domésticos), produtores rurais e entidades

so rever os prazos inicialmente previstos. Agora, a

sem fins lucrativos tornaram-se o terceiro grupo a

reta final começa a ser percorrida, embora muitas

utilizar o sistema, cuja implantação completa está

empresas ainda apresentem dúvidas sobre como

prevista para julho de 2020.

proceder. “Ainda há muito desconhecimento so-

Criado em 2013, o eSocial unificou o envio, ao governo federal, de informações relativas aos em-

bre a importância do eSocial e o que deve ser feito. Temos que romper com isso”, observa o analista.

pregados. Por meio do sistema, serão apontados os vínculos trabalhistas, os tipos de contribuições

POR PARTES

previdenciárias, as comunicações de acidentes

A implantação foi estruturada em seis etapas,

de trabalho, dentre outros documentos obriga-

para facilitar a adaptação à nova metodologia. As

tórios. “O eSocial unificou a forma de envio, sem

empresas foram divididas em quatro grupos, de

exigir nada além do que já estava na legislação.

acordo com o porte e o regime tributário adotado.

É um sistema que permite ter uma visão ampla

E as primeiras a aderir ao sistema foram as de maior

do negócio e pode servir de base até mesmo para

faturamento, que correspondem a 13.707 empresas

[80]

ABR | JUN 2019


e a aproximadamente 15 milhões de pessoas – cerca de 1/3 do total de trabalhadores do país. As micro e pequenas empresas estão enquadradas no Grupo 3, que tem eventos importantes a serem realizados neste semestre. “Em abril, o cadastramento dos dados dos trabalhadores se tornou obrigatório. A complexidade dessa fase varia de acordo com o tamanho da empresa, pois todas as informações precisam estar atualizadas. Se houver divergência, é necessário regularizar junto ao funcionário antes de preencher o sistema”, alerta Haroldo. Em julho, será o momento de enviar as informações relativas à folha de pagamento. Além de lançar os dados dos empregados, essa é a hora de rever as etapas anteriores. Nelas foram informados, por exemplo, os adicionais noturnos, os bônus oferecidos e o percentual do anuênio. Se tudo não estiver

Prazos do eSocial micro e pequenas empresas

Grupo 3

Cadastro do empregador e tabelas

10 de janeiro/2019

Dados dos trabalhadores e seus vínculos com as empresas (eventos não periódicos)

10 de abril/2019

Folha de pagamento

10 de julho/2019

Substituição da GFIP para recolhimento de contribuições previdenciárias

Outubro/2019

Substituição da GRF e da GRRF para recolhimento do FGTS

Outubro/2019

Dados de Saúde e Segurança do Trabalho

Julho/2020

correto, haverá um impacto na folha de pagamento – que pode até mesmo gerar multas. sos com antecedência. E diminui riscos porque é

OBRIGAÇÕES PARA MEI

um sistema único, que o próprio empresário pode

Por ser um sistema dedicado a prestar infor-

controlar, sem depender apenas da contabilidade”,

mações sobre relações trabalhistas, apenas MEIs

acrescenta o analista.

que contratam empregados serão obrigados a uti-

Para o governo federal, os benefícios serão

lizar o eSocial – no caso, o eSocial Web Simplifi-

sentidos, principalmente, no momento da fisca-

cado MEI. A versão é descomplicada e automatiza

lização. Da forma como o procedimento é feito

questões relativas aos cálculos e aos pagamentos

atualmente, é impossível que todos os dados se-

dos tributos e dos encargos trabalhistas.

jam analisados. Com o eSocial, a história é outra:

Vale lembrar, contudo, que o envio das informações desse tipo está atrasado. A previsão

o governo terá condição de identificar rapidamente os pontos discrepantes.

é de que, até julho, o governo comece a exigir o

Esse também é o maior ganho para o trabalha-

cadastro do microempreendedor e do funcioná-

dor. Com a necessidade de a empresa enviar todos

rio, além da folha de pagamento.

os dados relativos à contratação, ele tem a garantia de que os direitos trabalhistas serão respeitados. “O

VANTAGENS PARA TODOS

eSocial é um caminho sem volta. A modernização

Todo o processo de implantação do sistema

torna as coisas mais profissionais, substituindo um

tem um único propósito: facilitar a vida das em-

modelo amador de gestão que muitas empresas

presas. “O eSocial obriga os empregadores a pen-

ainda praticam. É mais uma importante etapa para

sar de forma estratégica e a planejar todos os pas-

a profissionalização”, conclui Haroldo.

www.sebrae/minasgerais

[81]


[ N O TA S

Mudanças na divisão regional do Sebrae Minas Em fevereiro, o Sebrae Minas anunciou mudanças em sua divisão administrativa no estado: as microrregiões de Patos de Minas e Patrocínio foram remanejadas da Regional Triângulo e Alto Paranaíba, passando a compor a Regional Noroeste e Alto Paranaíba. Segundo o gerente de Inteligência Empresarial do Sebrae Minas, Felipe Brandão, o ajuste segue a lógica de reunir, em uma mesma regional, territórios que abrangem setores produtivos com mais afinidade. “O Noroeste é um território que tem a agricultura como grande força, e a atividade é também forte no Alto Paranaíba”. Brandão destaca que o objetivo é, ainda, a melhoria contínua do atendimento, com mais equilíbrio entre demandas para os escritórios regionais.

Mais acesso ao crédito pelos pequenos negócios

[82]

O Governo Federal sancionou, em abril,

O objetivo com a criação da ESC é ofere-

a Lei que cria a Empresa Simples de Crédito

cer aos microempreendedores individuais e

(ESC). A medida pode injetar R$ 20 bilhões,

às micro e pequenas empresas uma alterna-

por ano, em novos recursos para os peque-

tiva de crédito de fácil acesso e mais barata

nos negócios no Brasil. Isso representa um

– a taxa de juros média para os pequenos

crescimento de 10% no mercado de con-

negócios atualmente é de 44% ao ano, quase

cessão de crédito para as micro e pequenas

o dobro da praticada para outras modalida-

empresas (MPE), que, em 2018, chegou ao

des de pessoa jurídica. Com sua efetivação,

montante de R$ 208 bilhões. De acordo

a tendência é que seja ampliada a compe-

com estimativa do Sebrae, o resultado deve

tição com os bancos, assim como a oferta

ser alcançado no momento em que as pri-

de financiamento em locais onde as grandes

meiras 1 mil ESC entrarem em atividade.

instituições bancárias não atuam.

ABR | JUN 2019


www.sebrae/minasgerais

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