[ ABR|JUN DE 2019 – ANO XXVII – Nº 175 ]
ÁGUA PARA TODOS Paracatu reverte crise hídrica com Zoneamento Ambiental Produtivo Histórias de empreendedoras são inspiração Olho na etiqueta ao comprar queijo Canastra
ISSN 2238-2178
9 772238 217000 www.sebrae/minasgerais
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27 E 28 DE JULHO
SÁBADO, DAS 10H ÀS 22H | DOMINGO, DAS 10H ÀS 20H
SERRARIA SOUZA PINTO | BH QUEIJO MINAS ARTESANAL
DAS SETE REGIÕES PRODUTORAS DO ESTADO. RENOMADOS CHEFS DE COZINHA,
APRESENTANDO PRATOS PREPARADOS COM O QUEIJO. CERVEJA ARTESANAL, CACHAÇA, VINHO, MEL E AZEITE MINEIROS. CAFÉ DAS REGIÕES DE MINAS. OFICINAS E CURSOS PARA
OS AMANTES DO QUEIJO.
ORGANIZAÇÃO
QUEIJO MINAS ARTESANAL. INIGUALÁVEL!
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ABR | JUN 2019
REALIZAÇÃO
MARIA TERESA LEAL
[C A R TA AO L E I TO R ]
CONDIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO
A
gestão eficiente do uso da água é uma das principais condições para o desenvolvimento sustentável. Ela se torna ainda mais necessária quando a economia local está fortemente baseada em ativi-
dades empresariais com alto consumo do recurso, como o agronegócio. Foi por essa razão que o Sebrae Minas liderou o projeto que resultou na aplicação do Zoneamento Ambiental Produtivo (ZAP) no Noroeste Mineiro. A metodologia, desenvolvida pelo Governo de Minas, foi aplicada na região por meio do programa de consultoria tecnológica do Sebrae, o Sebraetec. Os resultados são visíveis e comemorados por produtores e pela população local, como mostra a reportagem de capa da Passo a Passo. Esta edição também traz os resultados do programa que contribuiu para aumentar a capacidade competitiva de pequenos negócios do Triângulo Mineiro, fortalecendo a cadeia de fornecedores do setor sucroenergético. Para os que, assim como eu, acreditam no potencial transformador da educação, a Passo a Passo traz uma história inspiradora. A experiência de uma escola estadual de Montes Claros, no Norte do estado, reforça nossa crença de que é possível ampliar os horizontes das novas gerações por meio da educação empreendedora. Boa leitura!
ROBERTO SIMÕES Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas
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[EXPEDIENTE]
Passo a Passo é uma publicação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas). Registro no Cartório Jero Oliva nº 931. Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas: Roberto Simões Conselho Deliberativo do Sebrae Minas Banco do Brasil, BDMG, CDL-BH, Caixa, Ciemg, Faemg,
CAPA
Fapemig, Fecomércio, Federaminas, Fiemg, Indi, Ocemg, Sebrae NA, Seplag e Sedectes Superintendente: Afonso Maria Rocha Diretor Técnico: João Cruz Reis Filho Diretor de Operações: Marden Magalhães
Há dois anos, uma grave crise hídrica assolou a região de Paracatu. Mas, com a ação conjunta entre poder público, produtores rurais e Sebrae Minas, o cenário atual é bem diferente
Conselho editorial: Bárbara de Paula Sarto, Bruno Ventura, Catiuscia Souza, Danielle Fantini Lima Santos, Gustavo Moratori Nunes Coelho, Hebbe Carvalho, Jefferson Soares Ferreira, José Márcio Martins, Kamila Domingos, Karla Lamounier, Luciana Patrícia Rezende da Silva, Maria Teresa Bassi, Paulo César Barroso Veríssimo, Rafael Tunes Fonseca, Rosely Maria Soares Vaz, Vanessa Karla Silva Gerente de Comunicação: Leonardo Iglesias Jornalista responsável: Aline Freitas – MTb 09007/MG Produção editorial: Prefácio Comunicação Editoras: Ana Luiza Purri (MG05523 JP) e
[ 6 ] CAPACITAÇÃO
Empresas de segmentos diversos são capacitadas para atender às usinas de cana-de-açúcar do Triângulo Mineiro
Cristina Mota (MG08071 JP) Reportagem: Ana Paula de Oliveira, Bruno Assis, Fernanda Pereira, Guilherme Barbosa, Luiz Ribeiro e Marcela Káritas Revisão: Cibele Silva
[12] AGRONEGÓCIO
Soluções tecnológicas já são usadas no campo, mas há espaço para ampliá-las
Design e diagramação: Prefácio Comunicação Fotos: Agência i7 Impressão: Rona Editora Ltda. Periodicidade: Trimestral Tiragem: 10 mil exemplares
[16] TECNOLOGIA
Era digital potencializa a comunicação e o mercado de nicho, aproximando público e empresas
Redação: Av. Barão Homem de Melo, 329 Nova Granada – Belo Horizonte Minas Gerais – CEP: 30.431-285 – 0800 570 0800 sebrae.com.br/minasgerais
[22] GESTÃO
Falta de registro de marca pode gerar perdas ou anos de disputa judicial
[28] ENTREVISTA
Prof. Dr. Eduard Overes fala sobre o impacto das estratégias de inovação
[33] EMPREENDEDORISMO
Você tem um propósito? Os jovens dos dias de hoje são movidos por ele
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ABR | JUN 2019
[38] NEGÓCIOS
[72] ARTIGO
[49] EDUCAÇÃO
[74] CONSULTORIA
Ações de branding valorizam empresas mineiras de joias, semijoias e bijuterias
Escola de Montes Claros dá um salto de qualidade com o ensino do empreendedorismo
[54] MULHERES
Empreendedoras confirmam a máxima de que lugar de mulher é onde elas querem estar
[60] SERVIÇOS
Sala Mineira do Empreendedor é espaço de boas práticas de desenvolvimento
[64] MOBILIZAÇÃO
Sebrae participa de ações de novo programa federal para geração de emprego e renda
JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7
42
Paola Zorzin apresenta sete regras da Transformação Digital
O que você precisa saber antes de gravar um vídeo para a internet
[76] CONSULTORIA
Esqueça os clichês se quiser realmente inovar
[78] É BOM SABER
Edital do Sebraetec tem novidades
[80] É BOM SABER
Microempreendedores Individuais e as MPE já devem usar o e-Social
[82] NOTAS
[67] ALIMENTAÇÃO
Queijo Canastra recebe etiqueta que comprova sua autenticidade
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[ C A PAC I TAÇ ÃO
FORNECEDORES AFINADOS Projeto Encadeamento Produtivo prepara pequenas empresas para atender usinas sucroenergéticas do Triângulo Mineiro [G U I L H E R M E B A R B O S A ]
O
agronegócio está entre as ati-
lhões anuais, e de segundo maior produtor
vidades que mais impulsionam
de etanol exportado.
o Produto Interno Bruto (PIB)
Minas Gerais contribui de forma signifi-
do Brasil, sendo o setor sucro-
cativa para esses resultados. O estado ocupa
energético o segundo mais importante para
o segundo lugar no país em fabricação de
a balança comercial. Mais de 640 milhões de
açúcar e o terceiro em produção de cana e
toneladas de cana-de-açúcar foram proces-
etanol. E o Triângulo Mineiro é estratégico,
sados na safra 2017/18, rendendo ao país o
por abrigar grande parte das usinas mineiras
status de maior produtor mundial e viabi-
– são, ao todo, 22 unidades.
lizando a geração de aproximadamente 800
Os dados são do Sindicato da Indústria
mil empregos diretos. O Brasil detém, ainda,
da Fabricação de Álcool e Açúcar de Minas
os títulos de maior produtor e exportador
Gerais (Siamig) que, diante do potencial
mundial de açúcar, movimentando U$ 12 bi-
e da contribuição dada pelo setor sucro-
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ABR | JUN 2019
PARA AVANÇAR
O Triângulo Mineiro abriga 22 usinas sucroalcooleiras
A primeira ação do Encadeamento Produtivo prevê a realização de um diagnóstico de todos os participantes, a partir de um roteiro que inclui oito critérios para entender o estágio gerencial da empresa. “A partir dessa análise, montamos um plano de capacitação gerencial incluindo as áreas de finanças, marketing, vendas, processos e
do Sebrae Minas para o desenvolvimento de ações junto à cadeia de fornecedores. É onde entra o projeto Encadeamento Produtivo, por meio do qual pequenas empresas são qualificadas para atender a demandas diversas de grandes empreendimentos do setor. O projeto no Triângulo Mineiro teve início em 2017. A ação envolveu 89 empresas de diversas áreas, potenciais fornecedoras das usinas sucroenergéticas da região. A iniciativa trouxe ganhos para os pequenos negócios, que melhoraram sua gestão, e para as grandes indústrias, que têm agora a tranquilidade de contar com fornecedores aptos a participar de concorrências e oferecer serviços de qualidade.
pessoas, além de consultorias em segurança, meio ambiente e saúde (SMS) e preparação para a certificação ISO 9001. Realizamos também rodadas de negócios e ações de políticas corporativas de compras junto às usinas”, explica Simone Mendes, analista do Sebrae Minas. Os ciclos do projeto envolvem a identificação de gaps de competitividade, plano de ação personalizado, consultoria in loco, mensuração dos indicadores para avaliação da evolução e planejamento final para adequação de estratégia. Simone destaca que capacitar os empreendedores significa dar a eles ferramentas para que busquem melhores resultados e consigam atuar de forma diversificada no mercado, um aspecto importante, pois evita que o faturamento dependa de um único cliente. “Os trabalhos foram encerrados no
DEPOSITPHOTOS
energético ao Triângulo, buscou o apoio
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PEDRO VILELA / AGÊNCIA I7
[ C A PAC I TAÇ ÃO
Nas rodadas de negócios, Antônio e Vinícius Margato perceberam que alguns clientes não conheciam todo o portfólio da empresa
final de 2018, e obtivemos bons resultados.
tação proporcionada pelo projeto”, comenta
É uma iniciativa robusta, com investimento
Mário Campos, presidente do Siamig. “Esta-
subsidiado, por isso muito atrativa.”
mos felizes com a notícia de que já há empresas que estão fornecendo para as usinas.
DIVERSIFICAÇÃO
É importante que tenhamos uma oferta de
O projeto atraiu segmentos variados.
serviços adequada ao nosso negócio, no Tri-
Havia fabricantes de material de escritório,
ângulo Mineiro, que abriga um parque pro-
transporte, mecânica, insumos agrícolas,
dutivo relevante.”
ferramentas e material de construção, entre
Além de contribuir para que os fornece-
outros ramos de negócios. “As usinas pre-
dores consigam atender aos requisitos exigi-
cisam de um leque de serviços e produtos e
dos pelas grandes empresas, o projeto ainda
observam um rito próprio de compra, cujos
promove a aproximação entre demandantes e
critérios precisam ser seguidos. O processo
ofertantes, via rodas de negócios e feiras es-
se tornou mais profissional graças à capaci-
pecializadas. Foi em uma dessas oportunida-
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ABR | JUN 2019
des que Glauber Alves da Mata, proprietário
processos internos e contratou uma agência
da GG Auto Vidros, de Frutal, ampliou seu re-
de comunicação, que elaborou um material
lacionamento com as usinas, iniciando conta-
gráfico para divulgar a potenciais clientes o
tos com aquelas ainda não atendidas por ele.
portfólio de serviços e os certificados de segu-
Há dez anos no mercado, a GG Auto Vi-
rança do negócio, além de outros diferenciais.
dros presta serviços de troca de para-brisas,
Outra participante foi a Labfert Análises,
tapeçaria de veículo, confecção interna do
de Uberaba, que realiza ensaios (análises) de
carro, fechaduras, maçaneta, funilaria e sis-
amostras de fertilizantes, solos, tecido vege-
tema elétrico, tanto para carros quanto para
tal, água e efluentes líquidos. “Conseguimos
caminhões. Atualmente, tem 32 empregados
ter uma visão diferente do negócio. Diagnos-
atendendo a uma demanda em grande parte
ticamos alguns problemas que tínhamos na
proveniente das usinas. “Já tínhamos os do-
área de marketing, por exemplo, e adequamos
cumentos necessários para operar em locais
os rumos”, conta o proprietário da empresa,
que exigem treinamento de segurança, por
Vinícius Margato. Nas rodadas de negócios,
exemplo. A aproximação proposta pelo En-
o empresário percebeu que alguns clientes
cadeamento Produtivo nos permitiu mostrar
não sabiam que ele fornecia produtos de
esse diferencial e atrair novos clientes.”
outros segmentos. “Vi que nossos clientes desconheciam o que oferecíamos de fato. Já compravam da gente um perfil de produto e
as que mais chamaram a atenção de Glauber.
adquiriam de outro fornecedor materiais que
Ele conta que, após o projeto, reestruturou
também disponibilizamos. Percebemos essa
DEPOSITPHOTOS
As atividades com especialistas em gestão financeira, de marketing e redes sociais foram
SETOR DE PESO O Brasil reúne 367 usinas, e mais de mil municípios têm atividades vinculadas ao setor sucroenergético. Ele representa 2% do PIB nacional – movimentação equivalente a U$ 100 bilhões anuais. Cerca de 20% da produção global de açúcar é brasileira. E há margem de crescimento: ao as-
estufa. Para atingir a meta, foi criado o
sinar o acordo climático de Paris, o Bra-
RenovaBio, programa que incentiva a ex-
sil se comprometeu a reduzir em 43% a
pansão de biocombustíveis no país, entre
emissão de gases que causam o efeito
eles o etanol.
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[ C A PAC I TAÇ ÃO
PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7
O empreendedor Carlos Ferreira já está preparado para atender às grandes usinas
falha e apresentamos o nosso portfólio com-
de procedimentos internos que adotávamos
pleto aos clientes ativos, para que eles sai-
até então”, relata. “Chamaram nossa atenção
bam tudo o que fornecemos e não exista mais
as mídias digitais, como podemos explorá-
o risco de perdermos vendas.”
-las do ponto de vista comercial. É algo que utilizávamos muito pouco e, agora, vamos
APROXIMAÇÃO
intensificar. Já está em nosso plano de inves-
Carlos Ferreira de Assunção Júnior era
timento”, afirma.
empregado da Brastech Comércio e Enge-
O empreendedor ainda não atende de for-
nharia, em Iturama. Hoje, ele e o irmão são
ma ativa às usinas da região, já que o volume
sócios-proprietários da empresa. Desde que
comprado pelas grandes empresas faz com
assumiu a Brastech, que comercializa mate-
que elas busquem outro perfil de fornecedor.
rial elétrico, hidráulico e ferramentas para
No entanto, a aproximação proporcionada
construção civil, Carlos conseguiu triplicar
pelo projeto permitiu que ele passasse a fi-
o faturamento. Mesmo com bons números,
gurar na lista de empresas aptas a satisfazer
ele se interessou por participar do proje-
demandas pontuais, em caso de uma neces-
to. “De imediato, o que mais me atraiu foi a
sidade emergencial, por exemplo. A expecta-
consultoria in loco e personalizada, que me
tiva de Carlos é seguir atendendo às indús-
possibilitou fazer uma análise mais detalha-
trias e, gradativamente, ampliar a atuação da
da dos resultados financeiros e de uma série
Brastech na região do Triângulo.
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Pode não parecer, mas isto é um jeito de aprender. CER. A plataforma referência em Educação Empreendedora.
Se estamos aprendendo coisas novas, é preciso um novo jeito de ensinar. Foi pensando nisso que o Sebrae criou o CER, Centro Sebrae de Referência em Educação Empreendedora, uma plataforma de referência em estudos, pesquisas, ferramentas e tecnologias para unir conhecimento à atitude empreendedora. Uma maneira de trazer uma experiência transformadora para a educação. Bem-vindos ao CER. Um novo caminho para a
Acesse
cer.sebrae.com.br
educação vai se abrir no seu navegador.
e ajude a construir uma educação empreendedora que transforma. /cersebrae
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[ AG R O N E G ÓC I O
O CAMPO DO FUTURO Novas tecnologias chegam ao setor para agregar mais produtividade e qualidade [G U I L H E R M E B A R B O S A ]
D
e acordo com estudo de mapeamento da Nasa, a agência espacial americana, o mundo tem 1,87 bilhão de hectares de área plantada. A
maior parte dos países utiliza entre 20% e 30% do território com agricultura. Os da União Europeia usam entre 45% e 65%. Os Estados Unidos, 18,3%; a China, 17,7%; e a Índia, 60,5%. No Brasil, quase 64 milhões de hectares são dedicados à lavoura, o que representa 7,6% do território. Ainda há margem, portanto, para a abertura
O setor agropecuário representa 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, além de ser o responsável por metade de todas as exportações brasileiras
de novas áreas para plantio e pecuária, mas o principal desafio está no aumento da eficiência produtiva do agronegócio. Em outras palavras,
digitais para o agronegócio, desenvolvidas
será preciso produzir mais em um espaço físi-
principalmente por startups”, explica Priscilla
co cada vez mais reduzido. A ONU indica que a
Lins, gerente da Unidade de Agronegócio do
produção alimentar atual precisa aumentar em
Sebrae Minas.
70% para atender à demanda populacional futura. Para isso, o uso de novas tecnologias nas
CONTROLE A DISTÂNCIA
fazendas é fundamental para ajudar o agricultor
Fabrício Meireles, proprietário da Fazenda
e o pecuarista a melhorarem a produtividade e,
Cabeceiras, em Montes Claros, tem uma plan-
consequentemente, a rentabilidade do negócio.
tação de hortaliças, em um terreno de 4,5 mil
“As tecnologias digitais ganham terreno
metros quadrados. Há dois anos, ele adotou
entre os produtores rurais brasileiros, e isso é
um sistema de irrigação eletrônica chamado
ótimo para o país. Cada vez mais produtores
Agrowet. O maquinário é programado e con-
estão optando pelo uso de novas tecnologias
trolado eletronicamente, e seus indicadores
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SOLON QUEIROZ
Fabrício Meireles controla o sistema de irrigação da cultura de hortaliças a distância
mostram se o fluxo de água é maior ou menor
o desenvolvimento de novas funcionalidades,
em alguma parte do terreno, possibilitando a
mas os primeiros resultados com os clientes
correção de forma ágil. O produtor estima uma
que apostaram no sistema têm surpreendido.
economia de água de 20% desde que começou
Os empreendedores de startups percebe-
a utilizar o sistema. “Antes, levava os produtos
ram a oportunidade de atuação no agronegócio
à feira e, muitas vezes, acabava vendendo para
e, atualmente, o leque de serviços que utilizam
um atravessador, porque tinha que voltar para
tecnologias inovadoras para o setor se expandiu
a fazenda rapidamente para programar e moni-
consideravelmente. No entanto, para Flávio Ba-
torar o equipamento. Ou seja, perdia os melho-
eta, analista do Sebrae Minas, é preciso ir além.
res preços. Agora, tudo é controlado por meio
“O grande e o médio empresário já têm acesso
do celular, e consigo vender por um valor mais
às novidades. O desafio é disponibilizar as tec-
adequado”, comemora.
nologias para o pequeno produtor. Vamos utili-
O Agrowet está em sua segunda versão,
zar nossa rede de canais, como cooperativas e
com funcionalidades conectadas à previsão
prefeituras, para que os pequenos produtores
do tempo, por exemplo. O aplicativo verifica
consigam investir, dentro da realidade de sua
se naquele determinado dia há possibilidade
fazenda.” O modelo de negócio adotado pelas
de chuvas, desativando a máquina de irriga-
startups, com desenvolvimento rápido de solu-
ção, se necessário. Ele é dotado ainda de um
ções a baixo custo, é o principal motivo que tem
sensor de umidade do solo, que evita que uma
levado o Sebrae Minas a contatar essas empre-
área seja irrigada desnecessariamente. Lucas
sas e propor estratégias para uma aproximação
Teixeira Soares, CEO da startup, explica que
entre empresários e produtores rurais que seja
o produto ainda está em fase de testes para
compensadora para as duas partes.
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[ AG R O N E G ÓC I O
PESAGEM FACILITADA Fazer o gado de corte engordar com saúde e otimizando recursos é o grande desafio de qualquer pecuarista. A Rural Smart, de Itajubá, desenvolveu um equipamento obrigatório para a atividade: a balança. Bem mais leve e com custo 50% menor do que as ofertadas no mercado, ela tem como diferencial a mobilidade. Além disso,
DESAFIO DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
quando o animal sobe na balança, dados relativos ao peso são enviados automaticamente para a nuvem do sistema. Como os bois são identificados por radiofrequência, o criador pode
POPULAÇÃO MUNDIAL
acompanhar a evolução de peso de cada um. Pelo fato de ser mais leve, a balança pode ser levada até o pasto, permitindo a pesagem fora do confinamento – o que estressa o gado
ATUAL 7,2 bilhões
e impacta diretamente na evolução do peso.
2050 9,8 bilhões
FONTE: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU)
“Com o equipamento ao ar livre, o processo se torna ainda mais seguro, pois não há o risco de o trabalhador rural, ao manejar o rebanho, sofrer
juntamente com o Serviço Nacional de Apren-
algum tipo de acidente”, explica o CEO da Rural
dizagem Rural (Senar), com o apoio da Federa-
Smart, Marcos Pamplona.
ção da Agricultura e Pecuária do Estado de Mi-
Além do sistema de monitoramento de
nas Gerais (Faemg). O trabalho foi chamado de
peso, a empresa ainda oferece software de ges-
Levantamento da Situação do Ecossistema de
tão para outras atividades, como gado leiteiro,
Startups para o Agronegócio.
lavoura e equinos. Os sistemas disponibilizam
Representantes das entidades visitaram
um serviço completo para administrar a pro-
um estado de cada região do país para traçar
priedade, com gestão de estoque, financeiro e
um diagnóstico mais preciso do uso de tecno-
indicadores de desempenho.
logias inovadoras no agronegócio, ouvir quais são as demandas de produtores, universidades,
CARÊNCIA
incubadoras, investidores e donos de startups.
“Existe uma enorme oferta de startups para
As experiências já apontaram a necessidade de
a indústria, mas isso não acontece na mesma
desenvolvimento de tecnologias para serviços
proporção com o agronegócio. É preciso evoluir
pontuais nas fazendas. Segundo Ronei, a maio-
muito.” A afirmação é de Ronei Corrêa, coorde-
ria da oferta de startups à disposição do agro é
nador de Tecnologia da Informação do Instituto
direcionada para sistemas de gestão e drones.
da Confederação da Agricultura e Pecuária do
“É preciso ampliar o leque de ideias para de-
Brasil (CNA). E é justamente um levantamen-
mandas específicas”.
to que traça a utilização de novas tecnologias
Em junho, o trabalho será apresentado
no setor no Brasil que a entidade está fazendo,
em Brasília por uma empresa finlandesa,
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DEPOSITPHOTOS
Empresários do agronegócio têm sido grandes consumidores dos drones
contratada para compilar os dados e propor
Aero Agro. Evandro Carmo, analista do Sebrae
plano de ação para o fomento de startups que
Minas, explica que a aplicabilidade do equipa-
atendam ao setor, suprindo o gap identifica-
mento em fazendas é mais simples do que em
do atualmente.
outros setores. Por isso, a oportunidade de reunir os empresários para a análise conjunta de
INOVAÇÃO NA TERRA E NO AR
propostas que melhorem ainda mais a atuação
Eles estão por toda parte. Os drones se po-
dos drones é valiosa. O evento gerou um plano
pularizaram, e o leque de funcionalidades é
de trabalho que servirá de base para um segun-
vasto. O empresário do agronegócio percebeu
do evento, em junho, quando novas ideias de-
a oportunidade e tem sido um grande consu-
verão ser apresentadas.
midor da tecnologia. De acordo com os orga-
Outra oportunidade em que o Sebrae
nizadores da DroneShow, evento especializa-
atuou para aproximar startups e empresários
do do setor, dos drones utilizados atualmente
do agro foi a Femec 2019, Feira de Máquinas
no Brasil, 40% têm como cliente o agronegó-
e Implementos Agrícolas de Minas Gerais,
cio, índice bem maior do que em outros países
realizada também em março, em Uberlândia.
– em torno de 25%. A estimativa da empresa
“Levamos 16 startups para se conectarem com
MicaSense, líder no fornecimento de câmeras
os produtores rurais. Elas apresentaram suas
e sensores para o setor, é de que o Brasil será,
soluções e puderam avaliar se as ideias estão
em dois anos, o maior mercado consumidor de
no caminho certo ou precisam de ajustes”,
drones do mundo.
comenta Fabiana Queiroz, analista do Sebrae
Para debater novas oportunidades com
Minas. O evento contou com uma mostra de
os integrantes dessa cadeia, que, além de fa-
startups, quatro seminários de inovação no
bricantes e produtores rurais, conta com em-
agronegócio e o Studio Agro 4.0, que gerou
presários que detêm tecnologias acopláveis ao
conteúdos informativos sobre melhoramento
drone, o Sebrae Minas realizou, em março, o
tecnológico no setor.
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[ T E C N O L OG I A
CAMINHO SEM VOLTA Pesquisa revela que uso de ferramentas digitais se tornou essencial à sobrevivência dos negócios
Cintia Caroline trabalha a acessibilidade nas peças que fabrica e na divulgação na internet
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JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7
[ F E R N A N DA P E R E I R A ]
A
transformação digital é tão presente em nosso dia a dia que é impossível ignorá-la. E, no que diz respeito aos negócios, não impor-
ta se a empresa é de pequeno, médio ou grande porte: as novas tecnologias se tornaram imprescindíveis para quem deseja manter-se no mercado. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 2018 avaliou como o setor empresarial está se adaptando à era digital e confir-
Até há pouco tempo, somente as grandes empresas tinham holofote por meio das mídias de massa. A transformação digital alterou o comportamento dos consumidores
mou o crescimento do grau de informatização
LORENA MAZZIEIRO ANALISTA DO SEBRAE MINAS
nas empresas. Feita junto a microempreendedores individuais (MEI) e pequenos empresários em todo o Brasil, a pesquisa mostrou que, sobre-
viços do governo (46%), a exposição de produ-
tudo nos últimos três anos, as tecnologias se
tos (43%), a venda online (23%) e a realização
tornaram essenciais para aumentar a compe-
de reuniões, conversas virtuais e conferências
titividade dos negócios. Novas ferramentas
(23%) figuravam entre as principais.
digitais, como redes sociais e sites e-commerce,
De acordo com a analista do Sebrae Mi-
são cada vez mais utilizadas. Dentre as em-
nas Lorena Mazzieiro, a tecnologia trouxe
presas pesquisadas, 27% possuíam página na
mudanças importantes que beneficiaram os
internet, 40% estavam no Facebook e 72% se
pequenos negócios. “Até há pouco tempo, so-
comunicavam com clientes pelo WhatsApp.
mente as grandes empresas tinham holofote
A consulta também revelou que os smar-
por meio das mídias de massa. A transfor-
tphones estão cada vez mais presentes e, para
mação digital alterou o comportamento dos
os pequenos negócios, eles se tornaram uma
consumidores, que hoje ocupam ambientes
importante ferramenta de acesso ao mundo
aos quais qualquer empresa tem acesso e que
tecnológico. Do total de entrevistados, 90%
permitem facilmente identificar seu público.
utilizavam celular como meio para acessar a
Isso permitiu estabelecer diálogos mais hori-
internet, e 43% o faziam com mais frequência
zontais entre as pessoas e os pequenos negó-
por meio desse dispositivo. WhatsApp, Face-
cios”, afirma.
book, GoogleMaps, Mercado Livre, YouTube e Instagram estavam entre os aplicativos mais
PENSAR NO OUTRO
utilizados, nessa ordem.
Inspirada pela paixão em conhecer a re-
Entre as razões para o uso da internet pela
alidade de outras pessoas, Cintia Caroline
empresa, o acesso a e-mail (75%), a consulta
criou a Costuras do Imaginário, uma marca
de preços e fornecedores (63%), o uso de ser-
de produtos com estampas em braille, aces-
viços bancários (58%), a compra de insumos
síveis para aqueles que, como ela diz, “enxer-
ou mercadorias (54%), a divulgação institu-
gam além do olhar”. O fato de os pais serem
cional da empresa (49%), a utilização de ser-
donos de uma confecção fez com que ela se
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[ T E C N O L OG I A
envolvesse desde muito cedo com o mundo dos tecidos e tomasse gosto pelo universo da estética e da criação. Após se formar em design e publicidade, Cintia se dedicou à produção de um livro que tinha como personagem um fotógrafo. Enquanto o texto ganhava forma, pensou: e se ele não enxergasse, como seria sua descoberta
A era digital potencializou a comunicação e o mercado de nicho, que aproximou público e empresas
do mundo? “A partir dessa pergunta, não parei mais de pesquisar sobre o braille e o universo das pessoas cegas”, relata. Nesse percurso, ela conheceu vários deficientes visuais e apren-
para o exterior. Seus maiores mercados são
deu a ler e a escrever em braille, em 2009.
Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janei-
A publicitária conectou o braille a ativi-
ro. Seu ponto forte ainda é o varejo, mas as
dades como design e serigrafia, técnica usada
vendas no atacado têm crescido desde o ano
para estampar tecidos. Até conceber a marca,
passado. Parte do faturamento é repassada a
ela desenvolveu uma série de produtos in-
projetos voltados para o empoderamento e a
clusivos, e hoje seu carro-chefe são objetos
conquista de autonomia por pessoas com de-
de decoração e peças de vestuário ilustradas
ficiência visual.
por frases motivacionais escritas em braille,
Para o futuro, Cintia planeja trilhar um ca-
mesma linguagem utilizada na produção das
minho inverso ao da maioria dos negócios, ou
etiquetas dos itens. É Cintia quem desenha e
seja, do e-commerce para a loja física, porém,
cria todas as coleções, produzidas na confec-
com um propósito. “O plano é estruturar um
ção da família.
projeto que vá além do e-commerce e ter uma
A intenção, como ela afirma, sempre foi
versão física da loja, com espaço para ofici-
trabalhar com recursos digitais. “Nas mídias
nas, cursos e capacitação, que atenda também
digitais, buscamos fazer com que as infor-
a pessoas com deficiência visual, com o ob-
mações estejam acessíveis a pessoas com
jetivo de desenvolver parcerias como a que
deficiência, inclusive visual. Por exemplo,
fizemos com o Lar das Cegas, que já produziu
nas postagens, sempre usamos a hashtag
peças de cerâmica para a marca”, afirma a jo-
#pracegover. Além disso, descrevemos em
vem empreendedora social, que recentemente
legenda todos os nossos vídeos que incluem
fechou contrato para produção de uma linha
fala para pessoas que têm deficiência audi-
destinada à marca Cantão.
tiva. Enfim, toda a comunicação da nossa marca parte do princípio de que ela deve ser
TRABALHO QUE DÁ GOSTO
o mais inclusiva possível.”
Como afirma a analista do Sebrae Minas,
Atualmente, a Costuras do Imaginário
a era digital potencializou a comunicação e
está mais presente no Instagram, Facebook
o mercado de nicho, que aproximou público
e YouTube. Por meio da loja online, os pro-
e empresas. “Hoje, muitos consumidores pre-
dutos são vendidos para todo o Brasil e até
ferem comprar de pequenos negócios e dão
[18]
ABR | JUN 2019
PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7
Após consultoria em marketing digital, Alaíde Carvalho registrou aumento de 20% nas vendas
mais valor para os produtos locais. Por essa
compotas e geleias produzidas com 11 sabo-
razão, pequenas empresas não precisam mais
res de frutas típicas do cerrado mineiro, entre
se posicionar como grandes, porque o seu di-
elas araticum, mangaba, jenipapo, araçá, buri-
ferencial está exatamente no fato de o cliente
ti, cagaita, mama cadela, pequi e jatobá. “São
conhecer de onde vem o produto.”
frutas pouco conhecidas, que muitas vezes
Criada em 2006, em Uberlândia, no Triân-
experimentamos e depois nunca mais vimos.
gulo Mineiro, a Chef Mineirim é um exemplo
Por isso, nossos produtos dessa linha são mui-
de empresa que soube explorar o mercado
to apreciados”, explica.
de produtos artesanais. O carro-chefe são as
A criadora de todas essas delícias é a
geleias de hortelã e jabuticaba, mas a marca
chefe Alaíde Carvalho. Ela conta que come-
também é conhecida pelos molhos para chur-
çou fabricando molhos para churrasco, mas
rasco, antepastos, chutneys, doces e compotas
a demanda foi crescendo e ela viu a oportu-
de frutas, tudo feito com ingredientes espe-
nidade de diversificar. “No começo, pensei
ciais e toque mineiro. Há ainda uma linha de
ser uma atividade paralela, que me ocuparia
www.sebrae/minasgerais
[19]
[ T E C N O L OG I A
INTERNET E NEGÓCIOS MINEIROS
45%
77% dos pequenos negócios mineiros utilizam a Internet para efetivar transações comerciais, e 85% acessam a rede pelo celular. Os principais usos são:
divulgação institucional
compra de insumos ou mercadorias
52% 60%
55% acesso a serviços
pesquisa de preço e de fornecedores
bancários
68%
consulta de e-mail Fonte: Sebrae
até o término do período de licença-mater-
o cliente de varejo quanto o de atacado”, con-
nidade. Mas acabei ficando e hoje me de-
ta. Segundo ela, a iniciativa resultou em um
dico em tempo integral.” Sua formação em
aumento de 20% das vendas no varejo.
Engenharia de Alimentos a ajudou na linha
Os produtos da Chef Mineirim são comer-
de produção – antes de empreender, ela era
cializados para todo o país, por meio das re-
instrutora de cursos no meio rural, na área
des Instagram, Facebook e YouTube, pela loja
de fabricação de doces e conservas. Seu ma-
online e em marketplaces. Ela ainda utiliza
rido e sócio, André Carvalho, hoje também
ferramentas como Google Ads, blog e e-mail
se dedica à empresa. Seus conhecimentos
marketing para divulgar o portfólio. “Admi-
como agrônomo permitem que pesquise e
nistramos todas as ferramentas, o que é um
sugira novos ingredientes da terra para uti-
pouco viciante”, confessa. “Quando começo a
lizar nas receitas. A mais recente é a do bri-
mexer, não paro mais.”
gadeiro de pequi.
Sua produção diária varia entre 50 kg e 60 kg
Há cerca de um ano, Alaíde se beneficiou
e, atualmente, a Chef Mineirim emprega cinco
de uma consultoria em marketing digital pro-
funcionários. Entre os clientes no atacado es-
movida pelo Sebrae. “O consultor esteve aqui
tão churrascarias, hotéis, empórios e lojas de
durante dois dias e nos ensinou a gerenciar
produtos turísticos.
vários canais, como o Instagram, a utilizar melhor as formas de relacionamento para es-
MAIS COMPETITIVAS
treitar contatos, a postar e usar as hashtags
A analista Lorena Mazzieiro acredita que
nas redes. Com isso, conseguimos atrair tanto
todos os negócios têm potencial para se in-
[20]
ABR | JUN 2019
serir no ambiente digital de diversas formas,
negócios a usarem as ferramentas digitais por
seja por meio da utilização de um aplicativo
meio de cursos, seminários, oficinas, eventos,
de finanças, seja por meio de uma mídia digi-
consultorias e projetos voltados para territó-
tal. “Essas ferramentas podem tornar as em-
rios específicos e nichos de mercado.
presas mais competitivas. Mas não é preciso
Uma delas é o Reload, lançado em 2017,
lançar mão de todas. É fundamental saber
que possibilita às empresas acompanhar e
quais se encaixam melhor no negócio e facili-
se preparar para as mudanças do mercado.
tam a vida do empresário”, orienta.
Sua primeira edição alcançou público total
Como afirma Lorena, antes de criar, adap-
de 400 pessoas. Em 2018, o sucesso foi ain-
tar ou migrar o negócio para uma plataforma
da maior, chegando a mil pessoas. Este ano,
digital, é importante acompanhar o mercado,
a programação do seminário de marketing
o público e, claro, as novidades que surgem
digital traz a participação de grandes nomes
a cada dia. O ideal é integrar as tecnologias
do e-commerce, mídias sociais, estratégias de
para ganhar competitividade. O Sebrae pro-
conteúdo e, ainda, cases de quem já obteve
move várias ações para capacitar os pequenos
sucesso no mundo digital.
MARQUE NA AGENDA Confira as datas do Reload na Estrada, a versão itinerante do Reload, e inscreva-se. Informações: http://www.inovacaosebraeminas.com.br/reload/2019/
30 E 31/5 1º/6
8/6
15/6
13/7
13/8
Belo Horizonte
Viçosa
Unaí
Uberaba
Uberlândia
23 E 24/8
31/8
31/8
19 E 20/9
21/9
Governador Valadares
Patos de Minas
Pouso Alegre
Montes Claros
Divinópolis
O Sebrae promove várias ações para capacitar os pequenos negócios a usarem as ferramentas digitais. Saiba mais em www.sebrae.com.br/minasgerais ou ligue para 0800 570 0800 FREEPIK
www.sebrae/minasgerais
[21]
[G E S TÃO
IDENTIDADE ASSEGURADA Pequenos empresários devem estar atentos ao registro de marca
Os irmãos e sócios Nicole e Mateus Marquez tiveram de mudar o nome da loja com o negócio já consolidado
[22]
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PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7
[BRUNO ASSIS]
A
ssim como o nome de uma pessoa é a sua identidade, a marca de uma empresa é o seu cartão de visitas, aquilo que a torna única e reflete
os seus valores. Muitas vezes, é tão marcante que apenas um símbolo já diz tudo. Pense, por exemplo, na Apple. A icônica maçã mordida se
A falta do registro pode gerar perdas imensuráveis para a empresa ou anos de disputa judicial
tornou sinônimo de tecnologia e inovação. O mesmo ocorre com marcas como Nike, Coca-Cola ou McDonald’s. “A marca é o ativo intangível mais impor-
Mas, mesmo com as dificuldades encon-
tante das empresas. Por isso é importante
tradas pelos micro e pequenos empresários,
resguardá-la, por meio do registro junto aos
essa é uma questão determinante para o fu-
órgãos responsáveis”, orienta Jefferson Soa-
turo do negócio. A falta do registro pode gerar
res Ferreira, analista do Sebrae Minas. Apesar
perdas imensuráveis para a empresa ou anos
disso, muitos micro e pequenos empresários
de disputa judicial. Foi o que ocorreu com a
ainda não atentaram para os possíveis impac-
cachaça Havana, produzida em Salinas, na re-
tos causados pela falta do registro.
gião Norte de Minas.
Uma pesquisa conduzida pelo Sebrae mos-
A tradicional aguardente mineira data de
trou que 84% das micro e pequenas empresas
1943 e foi eleita em diversas pesquisas como
(MPE) possuem nome fantasia, e 73%, logo-
uma das melhores do país. Até que, em 2001,
tipo. Apesar disso, somente 52% procuraram
a empresa Havana Club Holding S/A, de Cuba,
informações sobre o registro da marca e, das
reivindicou o uso do nome. Sem esperanças de
que já possuem uma identidade visual própria
reaver a marca, o proprietário Anísio Santiago
ou nome fantasia, 21% entraram com o pedido
colocou seu próprio nome no rótulo, mesmo
junto ao Instituto Nacional de Propriedade In-
com todos os riscos envolvidos.
dustrial (INPI). Das que entraram com o pedido
Ele veio a falecer poucos meses depois,
de registro de marca, menos de 50% conseguem
e os herdeiros empreenderam uma das mais
a concessão. No caso dos microempreendedo-
famosas disputas judiciais da área. Foram
res individuais (MEI), 68% têm nome fantasia,
necessários dez anos para que a Justiça con-
42% possuem um logotipo e, nesses dois gru-
cedesse a posse definitiva do nome à famí-
pos, 7% fizeram o pedido. “Ainda lidamos com
lia. “O mais comum é haver sobreposição
desconhecimento. Se o empreendedor não en-
de marcas, situação que confunde o consu-
tende a importância do registro, não tem razão
midor. De acordo com as regras brasileiras,
para fazê-lo”, diz Jefferson. Até mesmo quando
quem faz o registro primeiro tem o direito,
se convence da importância de registrar a mar-
mas é possível recorrer”, explica o analista
ca, esbarra em dois problemas: prazo e custo.
do Sebrae Minas.
Em média, o procedimento consome 18 meses
Caso semelhante ocorreu com a Tradipar,
e inclui taxas a serem pagas do início até a cer-
revendedora de parafusos sediada em Ipatin-
tificação final.
ga, no Vale do Aço. Nesse caso, contudo, o fi-
www.sebrae/minasgerais
[23]
[G E S TÃO
nal não foi feliz. “Na época, tínhamos outra marca e recebemos uma notificação extrajudicial pelo fato de ser muito parecida com a de outra empresa, situada em São Paulo. Eles queriam que pagássemos pelo aluguel do nome, mas não aceitamos”, conta o diretor comercial Mateus Marquez. A loja estava em funcionamento há três
Quando a marca tem elementos únicos, que a diferenciam no mercado, é ainda mais importante protegê-la
anos e já se consolidara no município. Mudar tudo era arriscado para o negócio, mas foi o caminho escolhido pelos sócios. Com o auxílio de uma empresa de registro de patentes
lectual”. Entre os serviços realizados estão o
e de um designer, teve início o processo de
registro de programas de computador, de pa-
construção de uma nova marca. O nome es-
tentes e, claro, das marcas.
colhido juntou as palavras “tradição” e “pa-
Antes de dar entrada no pedido, porém, é
rafuso” – Tradipar –, para refletir a imagem
preciso entender se o momento é adequado
a ser transmitida ao público. “O custo de re-
para obtê-lo. Afinal, como mostram os dados
fazer a marca, das propagandas e do registro
do DataSebrae, 23% das MPE não resistem aos
não foi pequeno. Até para a população acos-
dois primeiros anos de vida. “Como o processo
tumar-se à nova identidade foi difícil. Mas a
é longo, pode acontecer de o empresário fazer
mudança valeu.”
a solicitação logo no início das atividades e
Foram necessários três anos até que o re-
não sobreviver até vê-lo concretizado. Já no
gistro fosse deferido, período em que a em-
caso de startups, o registro pode ser realizado
presa se reinventou por completo. O visual da
antes mesmo de o produto ser lançado”, diz
loja mudou, uma nova dinâmica de trabalho
Jefferson Soares Ferreira.
foi implantada e, com o passar dos meses, o
A cervejaria Küd seguiu esse caminho
novo nome foi assimilado pelos públicos.
ao dar início ao processo de registro de sua
“Nunca tínhamos dado importância para o
marca. Tudo começou em 2008, quando Bru-
registro por falta de conhecimento. Se sou-
no Parreiras e um amigo se matricularam
béssemos disso, poderíamos ter consolidado a
em um curso de degustação de cervejas. “O
marca desde o início.”
sommelier falou que algumas pessoas estavam produzindo em casa. Meu amigo e eu
HORA CERTA
decidimos começar a brincar com isso tam-
No Brasil, todo o processo de registro de
bém”, conta Bruno.
uma marca é feito de forma eletrônica pelo
A cervejaria foi aberta em 2010, em Belo
portal do INPI. Em seu site, o órgão afirma ter
Horizonte. Até 2012, a Küd cresceu de forma
como missão “estimular a inovação e a com-
orgânica, mas em determinado momento os
petitividade a serviço do desenvolvimento
sócios se viram diante de uma escolha: pro-
tecnológico e econômico do Brasil, por meio
fissionalizar o negócio ou levá-lo adiante
da proteção eficiente da propriedade inte-
como um hobby. Eles decidiram abraçar a
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DIVULGAÇÃO/CERVEJARIA KÜD
Registro da cervejaria Küd foi importante para reforçar o conceito da marca, baseada na linguagem do rock’n’roll
primeira opção e, a partir daí, iniciaram o
duto. De fato, você consegue agregar valor
processo de registro da marca.
à marca com isso”, diz Bruno. Os produtos
“Um dos nossos sócios é advogado e sem-
da Küd são baseados em clássicos do rock,
pre nos alertou sobre a importância do regis-
como Blackbird (The Beatles), Smoke on the
tro. Tão logo começamos a ganhar projeção
water (Deep Purple) e God save the Queen
regional, nos convencemos de que era mes-
(Sex Pistols). Daí a importância de proteger
mo necessário”, diz o cervejeiro. Isso foi im-
a marca, que traz consigo um conceito que
portante para reforçar o conceito por detrás
pode ser utilizado para se criar uma comu-
da marca, que se baseia na linguagem do ro-
nicação direcionada.
ck’n’roll. A ideia, a propósito, esteve presente
No caso da Küd, o processo de registro foi
desde os primeiros encontros, quando os ami-
rápido. Em menos de um ano, todo o trâmite
gos se reuniam para ouvir música e fazer cer-
havia sido finalizado, e os proprietários esta-
veja em casa. No momento de montar a cerve-
vam seguros para continuar. “Entendemos o
jaria, a escolha se deu naturalmente.
valor da marca que estamos criando. Depois
“A cerveja artesanal se diferencia pela história que você conta por meio do pro-
disso, profissionalizamos o negócio”, completa Bruno.
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[25]
PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7
[G E S TÃO
Rosalinda Oliveira registrou a marca após alerta do consultor do Sebrae Minas
GARANTIA DE CONTINUIDADE Quando a marca tem elementos únicos, que a diferenciam no mercado, é ainda mais importante protegê-la. O Néctar da Canastra, um mel especial produzido por abelhas da Serra da Canastra, no Sudoeste de Minas, é outro rótulo que não dispensou o registro. Produtores de mel em Piumhi há mais de 35 anos, Rosalina de Oliveira e o marido
William Leite Praça possuem mais de mil colmeias na região e uma empresa para comercializar o produto. Quando decidiram fazer o Néctar da Canastra, após a sugestão de um consultor de Marketing do Sebrae Minas, entenderam a importância do registro e deram entrada no pedido junto ao INPI. Foram seis meses até o deferimento da marca, mas nem todos têm a sorte de tudo ser tão rápido. “Na pesquisa feita pelo Sebrae, vimos que uma das dificuldades está no próprio site
O Sebrae planeja disponibilizar plataforma digital para gerenciamento de marcas mais simplificado
do INPI. Não é possível encontrar as informações necessárias de forma simples, o que dificulta o processo”, diz o analista. Por essa razão, uma das tarefas assumidas pelo Sebrae é fazer chegar aos micro e pequenos empreendedores orientações específicas sobre o registro e disponibilizar a eles uma plataforma digital para gerenciamento de marcas mais simplificado.
[26]
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COMO REGISTRAR UMA MARCA
1 3 5 7 9 11
Para simplificar o processo de registro da marca, o INPI disponibiliza um passo a passo a ser seguido, ilustrado por materiais de apoio em texto e vídeo. Confira:
Efetue o seu cadastro no e-INPI.
2
Verifique no portal do INPI se a marca pretendida não está registrada. Consulte a lista de produtos e serviços disponível no site do INPI e escolha os que estarão vinculados à marca.
4
Emita a Guia de Recolhimento da União (GRU) e efetue o pagamento.
Após a compensação do pagamento, preencha o formulário no e-Marcas.
6
Anexe a imagem da marca e os demais documentos solicitados, em pdf.
Envie o pedido e salve o número do processo para acompanhar o andamento.
8
Verifique se após o exame formal há alguma exigência a ser atendida – neste caso, o prazo é de cinco dias. Com o pedido feito, estabelece-se um prazo de 60 dias para apresentação de oposição e outros 60 para defesa da marca.
Se for indeferido, um recurso pode ser apresentado em até 60 dias.
10
Após o julgamento, o pedido é deferido ou não. Se for deferido, pague as taxas do primeiro decênio e da expedição do certificado de registro.
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[27]
[ E N T R E V I S TA
DESAFIO: PENSAR DIFERENTE Passo a Passo conversou com o conferencista internacional Prof. Dr. Eduard Overes sobre o tema inovação [ F E R N A N DA P E R E I R A ]
Quando chamados a inovar, muitos empresários associam a atitude a recursos tecnológicos ou a aplicativos revolucionários. Mas não é só isso. Inovar significa, também, diferenciar-se no mercado, descobrir ou criar o valor que faz com que o seu produto seja escolhido pelo cliente, e não o da concorrência. E, quando descobrir o “mapa da mina”, não dar o caso por encerrado. Nesse ponto, é preciso pensar no próximo passo, se dedicar a criar novos valores que garantam a fidelização ao negócio. Esse foi um dos pontos tratados pelo conferencista internacional Prof. Dr. Eduard Overes, da Universidade Zuyd de Ciências Aplicadas, em Maastritch, Holanda, em entrevista à Passo a Passo. Overes se tornou um especialista respeitado no ensino de diversas disciplinas relacionadas a negócios, como Gestão Estratégica, Empreendedorismo, Ambientes de Negócios Internacionais e outros. Recentemente, ele participou, em Belo Horizonte, de um evento correalizado pelo Sebrae Minas e Faculdade Izabela Hendrix.
[28]
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DIVULGAÇÃO
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[29]
[ E N T R E V I S TA
Como a inovação tem impactado a
diferenciado e estar sempre à frente da com-
gestão das empresas e a relação com o
petição é inovar constantemente. Para peque-
consumidor?
nas e médias empresas, é sempre importante
A inovação nas empresas é voltada tanto
que estejam atentas ao próximo passo, nun-
para o produto quanto para o cliente, pois ali
ca se deem por satisfeitas ou fiquem presas a
trabalha-se com ambas as orientações. Pro-
uma qualidade ou valor que já existe. Sempre
dutos são fáceis de copiar e, se uma empresa
se deve fazer a pergunta: “Qual é o próximo
é mais voltada para o cliente, uma maneira
nível que devo alcançar?”
para diferenciar seu produto é no atendimento ao consumidor. As empresas têm que
O comportamento regional ainda tem
estar muito mais cientes de quem é seu pú-
papel determinante na gestão dos
blico-alvo, quais são suas necessidades, e
negócios?
atuar com base nisso.
O termo comum que deve ser utilizado aqui é o “pense global, aja local”. E isso vale também
Como um pequeno empresário deve
para as multinacionais, não só para as pequenas
utilizar as estratégias de inovação?
e médias empresas. Vejamos o McDonald’s. Eles
A única forma de sobreviver nos dias de
têm o Big Mac, que é mundial, mas na maior
hoje, inclusive para pequenas e médias em-
parte dos países são criados produtos que as
presas, é sendo diferenciado. Ou seja, a em-
pessoas podem reconhecer como locais. Por
presa tem de ter um valor agregado. E o pro-
exemplo, na Noruega existe o Mc Salmão; na
blema atual é que se você trabalha valor por
Holanda, tem o Mc Croquete; no México, há
um ou dois anos, começam a te copiar. Então,
um “enrolado”, que lembra um burrito. Ou seja,
se você não faz diferente, vai perder a sua di-
até uma potência mundial busca identificar um
ferenciação, de modo que a única forma de ser
apelo local, porque sabe que as pessoas procuram por identidade. Ele quer ser global, mas, ao mesmo tempo, quer ter algum tipo de identidade local, porque se o cliente consegue se relacionar com o produto, com a identidade, ele
É preciso ter a perspectiva global, especialmente em inovação, observando o que está acontecendo no mundo e o que pode ser adaptado ao mercado local
o compra. Paralelamente, é preciso ter a perspectiva global, especialmente em inovação, observando o que está acontecendo no mundo e o que pode ser adaptado ao mercado local. O senhor percebe diferenças no comportamento inovador entre empresas de portes diferentes? Os empresários de pequenos negócios são o real exemplo de “pense global, aja local”. É possível conhecer os avanços tecnológicos que acontecem globalmente, basta acessar a in-
[30]
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DIVULGAÇÃO
ternet, ver o Instagram. As pequenas e médias
esses dados em sua totalidade. De que
empresas são o fenômeno que permite a tra-
forma a gestão do conhecimento pode
dução dessas tecnologias para o mercado local,
auxiliar?
porque elas sabem as necessidades e os desejos
O poder processador da tecnologia não
das pessoas dali. Elas estão basicamente tra-
está sendo capaz de lidar com toda a infor-
duzindo as tendências globais em produtos e
mação produzida atualmente. O que não
aplicações para mercados específicos, enquan-
quer dizer que as empresas deveriam parar
to multinacionais normalmente ficam enges-
de investir em sistemas de conhecimento.
sadas por políticas corporativas, como tudo
Ao contrário, é preciso seguir e pensar em
tem que ser sincronizado mundo afora.
como otimizar isso. Considero importante buscar por colaboração, porque avalio que o
As informações são o maior patrimônio
maior erro de uma empresa é querer adquirir
das empresas, mas a maioria dos
todo o conhecimento por si mesma e mantê-
empresários ainda não consegue usar
-lo ali dentro. Se a empresa precisar investir
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[31]
[ E N T R E V I S TA
em conhecimento, sugiro que ela promova
Essa é uma boa pergunta. Talvez a respos-
um link entre o seu sistema de conhecimen-
ta seja criar uma estrutura em que um time
to e os sistemas de outras empresas, talvez
de inovação esteja dedicado a preservar o
até mesmo de competidoras, o que é, claro,
verdadeiro espírito empreendedor. Encontrar
um grande desafio. Porque, de outra forma,
uma estrutura organizacional que permita o
estariam apenas replicando conhecimento,
crescimento da empresa, ao mesmo tempo
ao invés de multiplicar. Então, o investi-
em que mantenha o trabalho em pequenas
mento no quesito tecnologia, especialmente
divisões. Ou mesmo participar de certas or-
para pequenas e médias empresas, deve se
ganizações nas quais é possível cooperar com
concentrar em buscar colaboração e come-
outros empreendedores. Mas não há uma
çar a criar ligação entre sua própria base de
resposta exata.
conhecimento e de outras, além de sistemas inteligentes que busquem as informações e
Que dicas o sr. pode dar aos jovens que
as relacionem.
querem entrar no mundo dos negócios ou que já ingressaram, mas buscam ser mais
Em outros países, existem exemplos
competitivos em termos de inovação?
de ações que aproximam a academia
Com sinceridade, o mais importante é não
e os grandes centros de pesquisa das
desistir dos sonhos. Não pensar “ah, eu tenho
pequenas empresas?
que fazer isso para seguir algum tipo de re-
Temos um ótimo exemplo, no qual estou
gra”. Sonhe, pense fora da caixa e realmente
envolvido, que é o campus de Brighton. Lá,
faça aquilo em que acredita. Pode acontecer
temos quatro campi localizados perto das
de quebrar a cara em algum momento e ficar
fontes de conhecimento, que são universida-
desapontado, mas não se entregue. Isso é o
des, abrigando pequenas e médias empresas.
mais importante, porque pensar fora da caixa
A ideia é basicamente facilitar o trabalho
que gera novas conquistas. Não desista das
conjunto de pequenas e médias empresas.
suas ideias. Essa seria minha sugestão para
Um outro bom exemplo é o campus da Phi-
os jovens no mundo dos negócios.
lips High Tech, na Holanda, que é conectado a uma multinacional e à universidade técnica de Eindhoven. Logo, alunos e empresários atuam juntos. Esses são exemplos muito legais, em que podemos ver governo, grandes empresas, investidores, alunos, universidades e professores se unindo para avaliar problemas e criar boas e inovadoras soluções. Quais são as soluções para os desafios dos pequenos negócios que buscam posicionamento no mercado internacional?
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O maior erro de uma empresa é querer adquirir todo o conhecimento por si mesma e mantê-lo ali dentro
JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7
E M P R E E N D E DO R I S M O ]
Marcelo e Arthur criaram a Sweet Trust para ajudar a promover a honestidade
ELES QUEREM TRANSFORMAR O MUNDO Cada vez mais jovens encontram, em negócios próprios, maneiras de cumprir um propósito de vida [ M A R C E L A K Á R I TA S ]
Q
ual o caminho para mudar o mun-
iniciam uma jornada no mercado de trabalho. E
do? Como ajudar a transformar a
um caminho para alcançar esses objetivos passa
sociedade, tornando-a mais justa,
necessariamente pelo empreendedorismo.
consciente e honesta? Cada vez
Uma pesquisa da Fundação Telefônica Vivo, em
mais, são essas as preocupações de jovens que
parceria com a ONG Rede Conhecimento Social e o
www.sebrae/minasgerais
[33]
[ E M P R E E N D E DO R I S M O
Ibope (veja mais na página 36), revela que a maio-
HONESTIDADE À PROVA
ria dos jovens ouvidos considera-se empreendedor
O negócio de Marcelo Carneiro, 18 anos, co-
e busca colocar em prática uma ideia de negócio próprio. Para eles, a atitude está associada mais à realização de propósitos do que a retorno financeiro. “Os jovens buscam no empreendedorismo a realização dos seus sonhos, mas também é importante, para eles, que essas ideias estejam relacionadas a um propósito maior, capaz de promover efeitos no seu entorno e gerar impacto positivo na sociedade”, comenta Fabiana Pinho, gerente de Educação e Empreendedorismo do Sebrae Minas. A boa notícia para o Brasil é que, cada vez mais, jovens estão conseguindo se estabelecer nesse universo com ideias inovadoras de mudança. De acordo com a edição 2018 do Global Entrepreneurship Monitor, pesquisa realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro Qualidade e Produtividade (IBQP) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), mais jovens têm optado por serem donos de um negócio. De 2017 para 2018, o percentual de brasileiros com idade entre 18 e 24 anos que possuem empresas (formais ou informais) com até três anos e meio de atividade aumentou de 18,9% para 22,2%. A estimativa é de que eles somem 5,4 milhões de pessoas.
meçou da mesma forma como surge uma startup: o primeiro passo é encontrar um problema ou necessidade. Para o estudante da Escola do Sebrae, em Belo Horizonte, a questão a ser solucionada não é pequena: ajudar a promover a honestidade. “As pessoas falam da desonestidade como um problema distante, mas sempre achei se tratar de algo bem próximo da nossa realidade. É por isso que minha ideia é confiar no consumidor”, comenta. Mas como estimular a reflexão e mostrar que um país sem corrupção deve ser sustentado por um conjunto de pequenas atitudes no dia a dia? A resposta de Marcelo está no Sweet Trust. “Nós somos uma empresa dedicada à mudança de pequenos hábitos, aqueles que ninguém percebe, mas que, se somados, podem contagiar a população”, comenta. O negócio criado pelo jovem, com o apoio do amigo Arthur Braga, é dedicado à venda de doces, sem nenhum vendedor e ninguém para vigiar. O cliente é o responsável por escolher o produto no estande, pagar por ele e coletar o troco, quando necessário. “O negócio é muito fácil de começar. Não precisa de vendedor, o produto se vende sozinho”, ressalta Arthur. Para o estudante de 17 anos, fazer parte do Sweet Trust é uma forma de cumprir o propósito de mudar a imagem do
Os jovens buscam no empreendedorismo a realização dos seus sonhos, mas também se preocupam que essas ideias estejam relacionadas a um propósito maior FA B I A N A P I N H O , G E R E N T E DO S E B R A E M I N A S
brasileiro em outros países. “Tive a oportunidade de morar na Dinamarca, onde muitas pessoas acham que o brasileiro não é muito honesto e busca vantagem em tudo. Quis fazer parte do negócio porque me senti motivado a redefinir essa noção que as pessoas têm da gente em outros países”, explica.
IMPACTO SOCIAL Na Escola do Sebrae, o negócio tem dado certo, mas a ideia dos jovens é expandir para outras escolas, de forma que cada vez
[34]
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JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7
Gabriela Pedrosa e Fernanda Abreu, da Coolringa: aposta no consumo consciente de roupas
mais estudantes sejam impactados. “Temos
atestar que a instituição está formando pessoas
um grande potencial de escala, porque é um
íntegras”, completa o jovem.
negócio fácil de ser replicado. Nossa meta é
Para Fabiana Pinho, exemplos como esse de-
expandir o máximo possível, e agregar valor a
monstram o potencial de trabalhar a educação
cada vez mais instituições por todo o Brasil”,
empreendedora na escola. “ O tema empreende-
projeta Marcelo.
dorismo é de extrema relevância para a educação
Na prática, a ideia é vender o modelo de ne-
pois prepara os estudantes para terem atitudes
gócios para jovens com perfil empreendedor que
positivas. O desenvolvimento das soft skills torna
queiram montar o negócio em suas escolas. O
o estudante apto a empreender em suas ideias
parceiro será chamado de “truster”, como expli-
ou a inovar em negócios já existentes”, ressalta.
cam os jovens. “Ele será o responsável por fazer
A estratégia tem dado certo para os jovens
o controle e a reposição do estoque de doces.
estudantes. O estande do Sweet Trust está insta-
Outra tarefa será controlar o caixa e observar
lado na Escola do Sebrae e, em breve, também será
se as pessoas estão efetivamente pagando pelo
montado em outras duas instituições de ensino
produto que consomem”, explica. Quanto menor
de Belo Horizonte. “Temos um grande potencial
a inadimplência, mais o negócio confirma a ho-
de escala, porque também podemos agregar valor
nestidade dos clientes. “Nossa meta é alcançar
às instituições com as quais fechamos parcerias.
um índice de 95% de honestidade. Quando a meta
Nossa meta é expandir o máximo possível, chegar
for batida, iremos oferecer à escola um selo para
a todo o Brasil”, projeta Marcelo.
www.sebrae/minasgerais
[35]
[ E M P R E E N D E DO R I S M O
Empreendedorismo jovem 56% dos jovens se consideram empreendedores;
61% avaliam que empreender é ter um propósito – índice maior do que o total de pessoas que acreditam na atitude como resultado da busca por um sonho ou pelo lucro.
DEPOSITPHOTOS
70% dos que se reconhecem como empreendedores buscam criar o próprio negócio ao invés de trilhar carreira em empresas;
Fonte: Pesquisa Juventude Conectada – edição especial empreendedorismo (Fundação Telefônica Vivo, Rede Conhecimento Social e Ibope)
CONSUMO CONSCIENTE NA MODA
marcas para incentivar o consumo consciente”,
Quando o assunto é roupa e moda, muitas
relembra Gabriela. Normalmente, as peças eram
pessoas seguem a lógica de renovar o guarda-
vendidas em feiras.
-roupa, sempre a partir da ideia de “quanto mais,
Quanto mais pesquisava sobre o assunto,
melhor”. Será possível estimular o consumo
mais a empreendedora conheceu sobre o movi-
consciente nessa área? Para Gabriela Pedrosa,
mento minimalista e as tendências desse nicho.
a resposta é sim. A empreendedora aliou a von-
“Fui crescendo no processo de desapego junto
tade de ter uma marca própria à tendência do
com a marca, meu propósito foi amadurecendo
minimalismo. “Eu me incomodava com o hábito
e percebi a importância de ampliar a consciência
de comprar sem precisar e, por isso, pensei em
das pessoas nessa vertente”, comenta.
criar um negócio dedicado a vender peças ‘co-
Em abril de 2018, a marca foi convidada a in-
ringas’, que possam ser usadas em várias com-
tegrar o evento Criativa Fashion, do Sebrae Minas,
binações”, explica.
dedicado a promover a discussão sobre democrati-
Foi dessa forma que nasceu a Coolringa, uma
zação da moda, consumo consciente, e-commerce e
marca de roupas que aposta na venda de peças
outras inovações, como o conceito de pop-up store,
de boa qualidade e extremamente versáteis. No
que prevê espaços de venda temporários, em locais
início, o negócio demandou coragem, improviso
que dialogam com a proposta de uma marca, per-
e criatividade. “Procurava por inspirações na
mitindo que ela transite por diversos territórios.
internet e pedia ajuda à mãe de uma amiga, que
A experiência inspirou Gabriela a ir além e não só
tem uma confecção, com os tecidos e a modela-
vender suas peças, mas proporcionar momentos
gem. Para compor uma coleção, também apostei
de diálogo e conversa sobre o minimalismo, ainda
na economia colaborativa e me aliei a outras
uma novidade para muitas pessoas.
[36]
ABR | JUN 2019
Agora dedicada à sua pop-up store, a jovem
FORMAÇÃO PARA A VIDA
coleciona vitórias. No fim do ano passado, con-
Para Gabriela, a formação na Escola do Sebrae foi
seguiu organizar o primeiro evento da marca
um alicerce importante no momento de tirar a ideia
nesse formato, promovendo discussões sobre
do papel. “Foi lá que construí uma visão muito boa
moda sustentável, consumo consciente e con-
de mercado, aprendi sobre administração financeira
sultoria e, claro, vendendo. E, entre os planos
e outros aspectos relacionados ao empreendedoris-
da jovem de 23 anos, está o de expandir o ne-
mo”, diz. A instituição busca contribuir para que cada
gócio. “O meu propósito foi se amarrando, se
vez mais jovens entrem para o mercado de trabalho
construindo. Hoje, consigo entender que atendo
com uma visão diferenciada sobre a própria vida e
a um chamado de cura do planeta, estimulan-
conscientes do seu papel como cidadãos. “Enten-
do as pessoas a ter apenas aquilo que amam.
demos que o empreendedorismo amplia a visão do
Quero aproveitar o conceito de loja itinerante
jovem sobre a importância do seu papel na socieda-
e expandir essa ideia, proporcionando essa co-
de. Por isso, formamos nossos estudantes utilizando
nexão entre pessoas que têm visões de mundo
práticas educacionais inovadoras, que estimulam o
parecidas”, vislumbra.
protagonismo e o olhar crítico”, ressalta Fabiana.
ESCOLA DO SEBRAE ARQUIVO EFG
A Escola do Sebrae é uma instituição de ensino que alia o Ensino Médio ao curso técnico em Administração. Por meio de uma metodologia de projetos, que propicia o aprendizado na prática, o estudante é capaz de desenvolver atitudes empreendedoras, habilidades em
A Feira de Empresas Simuladas é uma das atividades da Escola do Sebrae
gestão, solução de problemas, ideação e modelagem de negócios. É estimulado,
sociedade. O curso tem du-
Belo Horizonte, e nas escolas
ainda, a desenvolver carac-
ração de três anos e aconte-
licenciadas, além do projeto
terísticas como autonomia,
ce em horário integral.
social para jovens da rede pú-
proatividade e responsabi-
Em 2019, a Escola do Se-
blica, o Núcleo de Empreende-
lidade socioembiental, tor-
brae completa 25 anos, com
dorismo Juvenil). Conheça mais
nando-se um cidadão crítico
mais de 12 mil alunos forma-
sobre a Escola do Sebrae em
e consciente do seu papel na
dos (na escola própria, em
www.escoladosebrae.com.br.
www.sebrae/minasgerais
[37]
FOTOS: JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7
[ N E G ÓC I O S
Cláudia Santana Lima, o marido Euler e a filha Gabriela: sucesso em Paris
DETALHES PARA IMPRESSIONAR Etapa de branding coroa projeto de reposicionamento de mercado realizado com 20 marcas mineiras do segmento de joias, semijoias e bijuterias [ A N A PAU L A D E O L I V E I R A ]
J
á na embalagem, o produto impressiona.
A preocupação com os detalhes materializa o
Na caixa de madeira, a marca aparece
trabalho de branding realizado com a empresa e
impressa em fogo, em protesto contra
outras 19 dentro do projeto Identidade, iniciativa
as queimadas. Ao abri-la, outra surpre-
voltada para a reorganização e o fortalecimento do
sa: além do requinte da peça, é possível sentir o
setor, promovida pelo Sebrae Minas em parceria
cheiro das plantas do Cerrado, esse rico bioma que
com o Sindicato das Indústrias de Joalherias, Ou-
a empresa mineira Cerrad’Ouro tem mostrado ao
rivesarias, Lapidações e Obras de Pedras Preciosas,
mundo com suas biojoias.
Relojoarias, Folheados de Metais Preciosos e Biju-
[38]
ABR | JUN 2019
terias no Estado de Minas Gerais (Sindijoias-MG) e a Associação dos Joalheiros, Empresários de Pedras Preciosas, Relógios e Bijuterias de Minas Gerais (Ajomig) e executada pelo Instituto By Brasil (IBB), por meio do programa de consultoria tecnológica do Sebrae, o Sebraetec. Durante oito meses, os empreendimentos estiveram imersos em um projeto de design estratégico, desenvolvido para capacitá-los a divulgar corretamente seus produtos, com especial cuidado nos pontos de contato com os clientes e consumidores finais. Donos da Cerrad’Ouro, Cláudia Santana Lima, o marido, Euler Lima, e a filha, Gabriela Lima, se empenharam para colocar em prática todo o conteúdo aprendido. O resultado superou as expectativas: recentemente, a marca figurou entre o seleto grupo de expositores da Tranoi Paris, um
Preocupação com os detalhes na apresentação do produto materializa o trabalho de branding
dos mais renomados eventos de moda do mundo, realizado durante a Paris Fashion Week. Vale destacar que apenas seis empresas brasileiras foram convidadas para a edição outono/inverno,
alto luxo, em Nova Iorque, e para a próxima edição
realizada no Museu do Louvre, de 1º a 4 de março.
do São Paulo Fashion Week. Segundo Cláudia, a
“Eles foram certeiros na estratégia. Um exem-
guinada veio com o Identidade, que considera um
plo foi a modernização do estande. Bem decorado
divisor de águas. “Já tínhamos um produto e uma
e alinhado à identidade da marca, o espaço atraiu
história, mas fomos alertados sobre a necessidade
a atenção de compradores internacionais durante
de desenvolver algo mais sofisticado. Os consulto-
o Minas Trend, principal salão de negócios da
res viram o potencial de transformar nossas peças
indústria da moda mineira. O convite para a Tra-
em joias. Aprimoramos o design, dando cara nova
noi é uma consequência natural da visibilidade
ao produto, que ficou mais competitivo”, comenta.
alcançada com o reposicionamento”, explica a
Criada há cinco anos, a empresa tem uma his-
analista do Sebrae Minas Kenia Cardoso.
tória inusitada. Diante de um desafio, lançado em outra iniciativa do Sebrae – o Programa Sebrae
VOO ALTO
de Artesanato (PSA) –, Cláudia foi instigada pela
O evento parisiense não foi o primeiro flerte da
filha a remexer no passado em busca de inspiração.
Cerrad’Ouro com o mercado de moda internacio-
A proposta era conceber um produto com valor
nal. A empresa já estampou cinco edições da Vo-
agregado dado pela identidade com a cultura e a
gue Londres – em busca de joias extraordinárias,
história local, além de algo novo e com potencial
a revista chegou até a marca via redes sociais –,
para representar Minas Gerais no Brasil e, por que
participou de um showroom em Milão e, no mo-
não, no mundo. “Eu já havia comentado com ela
mento, estuda convites para a Coterrier, feira de
sobre um par de brincos que ganhei de uma amiga www.sebrae/minasgerais
[39]
[ N E G ÓC I O S
na adolescência e que perdi. Era simplesmente
feirinha em Lagoa Santa e fomos parar em Paris.
encantada por eles e nunca mais achei algo pare-
A sensação que tenho é de que estamos tocando
cido”. A peça em questão era uma biojoia, ramo no
o impossível”, orgulha-se Cláudia.
qual Cláudia e a família mergulharam de cabeça. Formatado o objetivo, a família foi atrás de
ESTILO PRÓPRIO
informação e de profissionalização – o marido,
O nome forte vai ao encontro da posição con-
Euler, por exemplo, fez até curso de Biologia. “Foi
solidada pela Lázara Design no mercado nacional.
quase impossível encontrar alguém que nos en-
Frequentemente estampada em revistas de moda
sinasse o processo de fabricação, mas consegui-
como Vogue, Elle e Corpo a Corpo, a marca, que
mos. Fizemos o curso e estamos aí, apaixonados
em 2019 completa 25 anos, conquistou diversas
pelo nosso trabalho”, destaca a empresária.
celebridades e já apareceu em novelas globais.
Após os erros, vieram os acertos, e hoje o trio
“Comecei a trabalhar como artesã em 1991.
tem encantado o público com um produto exclu-
Na época, era bancária e tinha uma barraca na
sivo e conceitual, inspirado no Cerrado mineiro.
Feira Hippie, ponto tradicional em Belo Horizonte,
Artesanais, as peças são feitas a partir de mate-
onde vendi meus produtos por mais de dez anos”,
riais orgânicos – como galhos de acerola e jabu-
relata a empresária Lázara Maria Alves Ferreira.
ticaba, orquídeas e sempre vivas – e folheadas a
Formada em Economia, ela conseguiu aliar o trato
ouro. Atualmente, a produção gira em torno de
com as questões financeiras e administrativas ao
100 a 150 peças por mês, e 70% das vendas estão
talento para a criação, garantindo a sobrevivência
concentradas no mercado interno, sendo grande
no ramo. “Nunca estudei moda, e a parte criativa
parte efetivada pelas redes sociais. A empresa
sempre levei de forma muito intuitiva. Por isso,
também tem parcerias com lojistas do Sudeste e
mesmo já consolidada no mercado, decidi buscar
do Sul do país, além de Portugal e Reino Unido.
o apoio do Sebrae para aprimorar o que faço. Além
“Ninguém faz nada sozinho. O Sebrae realmente
do que, todas as profissões exigem atualizações, e
ajudou a mudar nossa história. Saímos de uma
com a minha não é diferente”, explica.
MADE IN MINAS Conduzida em três etapas, a estratégia do projeto Identidade foi construída para melhorar o posicionamento das empresas no mercado. A iniciativa se apoiou no desenvolvimento de um trabalho de valorização das marcas e de abertura de novos canais de venda, bem como em ações de branding com as empresas para fortalecer atributos e diferenciais das marcas e possibilitar uma melhor integração ao mercado. “Além do contexto econômico não muito favorável e do aumento da concorrência com a entrada dos chineses, hoje é preciso lidar com mudanças no perfil do consumidor. Conectadas e bem informadas, as pessoas querem praticidade na hora da compra e estão mais exigentes com relação à qualidade e à sustentabilidade, entre outros pontos”, orienta a analista do Sebrae Minas Kenia Cardoso.
[40]
ABR | JUN 2019
Para Lázara Ferreira, a participação no Projeto Identidade ampliou seu olhar sobre o negócio
Lázara afirma que a participação no Identida-
Lázara propõe uma viagem ao interior de cada
de ampliou seu olhar sobre o negócio. “Aprendi
ser. “Parti do contexto turbulento que o país
bastante nesses três anos de projeto. Há inúme-
está vivendo para provocar essa reconexão
ras produções bonitas no mercado, além de gente
com a nossa essência em busca do que temos
talentosa, então é preciso encontrar uma identi-
de melhor. É um grande salto, pois sempre tive
dade, firmar um estilo. É isso que faz um cliente
dificuldade para dar nome às coleções, construir
bater o olho e identificar de quem é determinada
famílias de peças e apresentá-las com uma nar-
peça, por exemplo”, comenta.
rativa adequada.”
As técnicas e conceitos aprendidos na eta-
O logotipo também foi refeito: ganhou for-
pa de branding, como o emprego de storytelling,
mas mais leves e variações de cores para serem
têm revolucionado a forma como a marca vem
usadas de acordo com a proposta das peças – so-
apresentando as coleções. Na mais recente de-
fisticadas ou casuais, por exemplo. Mudanças nos
las, Essência, lançada na Primavera/Verão 2019,
estandes também estão programadas para breve.
Para saber mais sobre capacitações oferecidas pelo Sebrae nas áreas de design e identidade de marca, procure um ponto de atendimento da instituição em seu município, ou acesse www.sebrae.com.br/minasgerais
www.sebrae/minasgerais
[41]
[C A PA
EFICIÊNCIA HÍDRICA Iniciativa do Sebrae Minas contribui para melhorar a gestão do uso da água em Paracatu [ M A R C E L A K Á R I TA S ]
O
tempo era quente e úmido na ma-
preendedores locais, moradores e poder público
nhã de abril na cidade de Paraca-
foram diretamente impactados. Diante daque-
tu, Noroeste de Minas Gerais. Di-
la situação, muitos paracatuenses passaram a
ferentemente dos anos anteriores,
questionar o uso da água por produtores locais.
a terra ainda estava lamacenta, um vestígio das
E foi nesse momento que o pivô de Donizete se
chuvas que caíram na região nos últimos dias.
tornou o protagonista da crise.
Enquanto o sol das nove horas esquentava e se-
“Diante daquela situação difícil, alguns mo-
cava as plantações, o agricultor José Donizete
radores questionaram se eu estava utilizando os
Pinton conduziu a equipe da Passo a Passo ao
pivôs. Mas provei para eles e para o Ministério
equipamento do qual tem orgulho: o pivô.
Público que meus equipamentos permaneceram
A máquina que irriga a terra se estende por
desligados. E mostrei que a água que uso vem de
vários metros. Move-se de acordo com a deman-
um ponto de captação localizado depois de onde
da do agricultor, que pode programá-la via apli-
sai o abastecimento para consumo local”, lembra.
cativo de celular. Mas, se hoje o pivô pode ser
Na realidade, àquela altura, Donizete, assim
sinônimo de modernidade no campo, há pouco
como os demais produtores locais, acumulava
tempo foi o bode expiatório de uma grave crise
perdas com a crise. “Não havia água. Tínhamos
hídrica que assolou a região.
investimentos para pagar, mas a produtividade
Donizete recorda e não hesita em contar.
esperada não veio. O prejuízo foi grande”, con-
Em 2017, a cidade de Paracatu sofria com a fal-
ta. Por outro lado, a polêmica também foi um
ta d’água. A sub-bacia do Ribeirão Santa Isa-
estímulo para estreitar uma relação que estava
bel, que banha o município, passou por grande
se formando na época e pôr em prática uma me-
período de estiagem, que levou ao desabaste-
todologia com grande potencial: o Zoneamento
cimento de diversos bairros. Agricultores, em-
Ambiental Produtivo (ZAP).
[42]
ABR | JUN 2019
FOTOS: JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7
Para o produtor Guenter Neiva, os resultados do ZAP confirmaram conhecimentos empíricos que os agricultores da região já tinham, mas de forma mais precisa e organizada
www.sebrae/minasgerais
[43]
[C A PA
UM CAMINHO
nas importantes, pois o Brasil, de maneira geral,
Antes de a crise hídrica gerar essa dor de
precisa de maior eficiência na gestão de recur-
cabeça para moradores e produtores locais, o Sebrae Minas já procurava se aproximar do agronegócio na região. Motivados pelos resultados de uma análise profunda das vocações locais, os analistas constataram a importância de fornecer soluções que ajudassem a agricultura a prosperar. Para se aproximar dos produtores, o Sebrae estreitou relações com a Associação dos Produtores Rurais e Irrigantes do Noroeste de Minas Gerais (Irriganor). Um dos primeiros resultados dessa parceria foi um seminário sobre tendências do agrone-
sos hídricos. É preciso entender a real situação para definir a melhor estratégia”, comenta Marcos Alves, gerente da Regional Noroeste e Alto Paranaíba do Sebrae Minas. Ao mesmo tempo, o descontentamento e a falta de conhecimento da população sobre os motivos que levaram à falta d’água ameaçavam as duas principais atividades dinamizadoras do município: o agronegócio e a mineração. “Para o Sebrae, fez todo o sentido apoiar a cidade, pois o acesso à água é condição estratégica para o desenvolvimento de uma região”, avalia o gestor.
gócio, realizado em agosto de 2017. Depois, o Sebrae Minas passou a estar mais presente no
NA PRÁTICA
dia a dia do campo. “Quando a crise hídrica se
A análise tomou forma com a execução do
acentuou, fomos ao Sebrae para perguntar se
ZAP, uma metodologia desenvolvida pelo Go-
eles nos ajudariam. E essa parceria teve uma
verno de Minas para caracterizar, do ponto de
repercussão maior do que imaginávamos”, co-
vista socioeconômico e ambiental, as sub-ba-
menta a vice-presidente da Irriganor, Rowena
cias hidrográficas do estado. Essa avaliação
Betina Petroll. “A Irriganor nos mostrou lacu-
está prevista em lei e foi desenvolvida pelas
NOROESTE MINEIRO É considerada a maior área irrigada na América Latina. Tem milhares de nascentes em seus 19 municípios. Agropecuária é a principal atividade, com produção anual de 3 milhões de toneladas de grãos (milho, soja, feijão e sorgo)
[44]
ABR | JUN 2019
José Humberto Santiago Vilela construiu um barramento em sua propriedade,
secretarias de Estado de Meio Ambiente e De-
ZAP mostra muito claramente quais são as res-
senvolvimento Sustentável (Semad) e de Agri-
ponsabilidades de cada produtor, além de indi-
cultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A
car a causa dos acontecimentos e o efeito das
aplicação do ZAP foi viabilizada pelo Sebraetec,
decisões que podemos tomar. Ele também nos
programa de consultoria tecnológica do Sebrae
fornece todas as diretrizes e possibilidades de
que possibilitou que informações de diversas
desenvolvimento na sub-bacia. Acaba orientan-
fontes – dados de satélites, oficiais ou consta-
do a ação de cada produtor e nos ajudando nessa
tações de visitas técnicas – fossem compiladas
gestão”, avalia.
e disponibilizadas em uma mesma base. Foi as-
A vice-presidente da Irriganor concorda e rei-
sim que a população passou a ter acesso a da-
tera que todas as informações disponibilizadas
dos estruturados sobre a sub-bacia do Ribeirão
pela metodologia abrem caminho para mudar
Santa Isabel.
a realidade local para melhor. “Depois do ZAP,
O produtor Guenter Neiva lembra que os re-
todos os produtores passaram a entender qual
sultados vieram ao encontro dos conhecimen-
é seu papel e perceberam que, se trabalharmos
tos empíricos que ele e os outros dez produtores
unidos, podemos ampliar a disponibilidade hí-
da região já tinham, mas de forma muito mais
drica da bacia e solucionar o problema de abaste-
precisa e organizada e com caráter oficial. “O
cimento de água em Paracatu”, comenta Rowena.
www.sebrae/minasgerais
[45]
[C A PA
PROTAGONISMO DO PRODUTOR José Humberto Santiago Vilela levou a equipe da Passo a Passo até o barramento construído em sua propriedade, com a devida autorização do órgão ambiental. A área fica na parte mais baixa de um leve declive. Ao som da água atravessando uma pequena barreira de cimento, ele ressalta como o ZAP ofereceu novas possibilidades aos produtores. “A crise de 2017 ligou um alerta para
A visão ampla e multifacetada proporcionada pelo ZAP é um dos maiores benefícios da metodologia
nós e, com a metodologia, tivemos acesso a um diagnóstico mais fidedigno. Vimos que muitas vezes são necessárias ações pontuais para con-
apenas em uma propriedade. Ela deve envolver
tribuir. Se pudermos construir barramentos, por
todas as unidades de produção que estão na
exemplo, podemos estocar água da chuva e utili-
sub-bacia, todos os usos múltiplos da água.”
zá-la na época de seca, tanto na agricultura como
Segundo a secretária, a visão ampla e mul-
para abastecimento da população”, diz. Para o
tifacetada proporcionada pelo ZAP é um dos
agricultor, no entanto, é essencial o envolvimen-
maiores benefícios da metodologia. “O ZAP
to de todos os atores da região. “Se houver esfor-
mostra tudo o que deve ser feito para que a
ço dos produtores, da população e do governo, a
sub-bacia consiga atender, com sustentabi-
gente pode minimizar os problemas e melhorar.”
lidade, a seus múltiplos usos”, ressalta. Para
A secretária de estado de Agricultura, Pe-
contribuir com esses objetivos, o governo de
cuária e Abastecimento de Minas Gerais, Ana
Minas Gerais alocou R$ 500 mil para a sub-
Valentini, avalia que esse é o exemplo a ser se-
-bacia do Ribeirão Santa Isabel, como parte do
guido. Para ela, o produtor rural deve ampliar
projeto de revitalização do Rio São Francisco.
sua unidade de planejamento, considerando a
O recurso será utilizado na construção de 800
gestão da água dentro e fora das suas porteiras.
barraginhas e de 100 quilômetros de terraços,
“Não há eficiência em uma gestão hídrica feita
bem como na adequação ambiental de uma ex-
ETAPAS DO ZAP . Definição das principais características da sub-bacia e de sua vegetação e relevo. . Avaliação do uso de água já autorizado pelo estado, pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM).
. Análise do uso e da ocupação do solo, identificando os territórios onde há agricultura, pecuária, estradas e outros tipos de ocupação.
. Definição de possibilidades e caminhos para garantir a disponibilidade hídrica na região.
[46]
ABR | JUN 2019
A SUB-BACIA DO RIBEIRÃO
SANTA ISABEL
5.958 hectares de Áreas de Preservação Permanente Hídrica (quando o terreno está localizado em raio de até 30 metros de algum leito d’água natural)
907 nascentes
47% das APPs hídricas já foram impactadas pela ação humana e devem ser recuperadas
50 mil hectares de área total
PRINCIPAIS AÇÕES SUGERIDAS . Conservação e cercamento de APPs hídricas . Cercamento de nascentes . Recuperação de áreas degradadas e muito pisoteadas
. Reforma de estradas rurais e construção
de barraginhas, para permitir a infiltração de água nos locais em períodos chuvosos. . Construção de curvas de nível e barramentos de água, para armazenar água da chuva e liberar no período de seca.
Fonte: Zoneamento Ambiental Produtivo da Sub-bacia do Ribeirão Santa Isabel
www.sebrae/minasgerais
[47]
[C A PA
Durante a crise de 2017, os pivôs da propriedade de Donizete Pinton ficaram desligados
tensão de seis quilômetros de estradas vicinais.
por exemplo, se encontra afastada dos cam-
O trabalho desenvolvido pelo Sebrae Minas em
pos cultivados.
Paracatu se estendeu a Bonfinópolis, na sub-bacia do Ribeirão das Almas.
Na região, o principal problema revelado pela metodologia é o alto índice de degradação de pastagens, que exige grandes
EM BONFINÓPOLIS
investimentos para recuperação. Com as
Assim como em Paracatu, o ZAP de Bon-
informações, a Prefeitura de Bonfinópolis,
finópolis, que analisou a sub-bacia do Ri-
Irriganor e outros atores locais trabalham
beirão das Almas, constatou usos múltiplos
para garantir a captação de recursos para ga-
dos recursos hídricos – consumo da popula-
rantir a revitalização da área. Paralelamente
ção, dessedentação de animais e irrigação na
a essa atuação, comunidades ribeirinhas já
agricultura etc. A diferença está na distribui-
realizam atividades localizadas, alinhadas às
ção geográfica das atividades – a pecuária,
orientações do ZAP.
[48]
ABR | JUN 2019
E D U C AÇ ÃO ]
A GRANDE VIRADA O ensino do empreendedorismo pode mudar um cenário muito negativo? Exemplo em Montes Claros mostra que a resposta é sim [LUIZ RIBEIRO]
A
Escola Estadual Coronel Filomeno
somou novos conteúdos, incluindo a aborda-
Ribeiro, em Montes Claros, enfrenta-
gem da educação cooperativista e financeira.
va uma realidade infelizmente muito comum Brasil afora: registro de baixo
EM AÇÃO
rendimento escolar, violência, vandalismo, baixa
A cultura empreendedora e a educação finan-
frequência e uma série de outros problemas. Tudo
ceira e cooperativista são desenvolvidas por meio
derivava do fato de os alunos, em sua maioria,
de diversas atividades. Os educadores participam
serem provenientes de famílias moradoras de
de oficinas, treinamento e cursos, sendo capaci-
locais de alta vulnerabilidade social, o que tornou
tados para trabalhar a temática com os adoles-
a escola “temida” na região. De três anos para
centes. Estes, por sua vez, têm jogos vivenciais
cá, entretanto, tudo mudou. Os problemas foram
e desafios, com simulações do cotidiano de em-
superados. O rendimento escolar melhorou, os
preendedores. Um ponto alto é uma grande feira
alunos passaram a ter novas perspectivas, e a
de empreendedorismo, promovida no segundo
escola tornou-se um bom exemplo.
semestre, com o apoio da Sicoob/Credinor.
A virada se deu em função de uma mudança
Com as atividades, vários empreendimentos
nos conteúdos trabalhados. Junto a português,
surgiram dentro da escola. Destacam-se a ecopa-
matemática, ciências e outras disciplinas tradicionais, a escola passou a ensinar aos 328 alunos os princípios de educação empreendedora. A iniciativa foi implementada em 2016, a partir de uma parceria com o Sebrae Minas. A diretora Clelma Rodrigues Martins Mendes conheceu o projeto ao participar de um seminário no ano
Procuramos ensinar para os alunos que é possível gerar renda de forma honesta e ética
anterior. “Fiquei encantada e comecei a batalhar para implantar o projeto aqui”, recorda. A adesão da Cooperativa de Crédito Sicoob Credi-
CLELMA RODRIGUES D I R E TO R A DA E S CO L A
nor à parceria, por meio da Fundação Credinor,
www.sebrae/minasgerais
[49]
[ E D U C AÇ ÃO
pelaria, que trabalha com o reaproveitamento de
vestimentos com o leuro no Posto Pedagógico
material reciclável, as hortas orgânica e hidro-
de Atendimento (PPA), uma “agência lúdica” do
pônica e uma unidade de produção de tapetes. A
Sistema Sicoob Credinor dentro da escola.
renda da comercialização dos produtos é reverti-
“Procuramos ensinar para os alunos que é
da para os alunos e seus familiares, com um per-
possível gerar renda de forma honesta e ética,
centual destinado à escola.
sempre com vistas ao bem coletivo, da comunidade”, afirma a diretora Clelma. Ela diz que as
onde os alunos fazem empréstimo de livros, que
necessidades da comunidade escolar são muitas,
depois são trabalhados em sala de aula. Para
o que aguçou a criatividade dos alunos. “A partir
cada livro que lê, o aluno recebe o pagamen-
do desenvolvimento da educação empreendedo-
to na moeda criada para a ação, o leuro. Mes-
ra e cooperativista, os alunos passaram a praticar
mo simbólico, o leuro tem poder de compra e é
a cultura do protagonismo e resgataram a capa-
usado pelos alunos para o pagamento de sucos,
cidade de sonhar. Em função das próprias neces-
balas, salgados, cachorro-quente, vitamina, bi-
sidades, o desenvolvimento foi rápido”, relata.
juterias e outras mercadorias do Shopping do
Clelma ressalta que o relacionamento da escola
Bom Leitor. Os produtos são adquiridos com
com a comunidade mudou completamente. “Vi-
o percentual de 10% recebido pela escola nas
ramos a página. A comunidade passou a enxergar
vendas efetivadas nas feiras de empreendedo-
a escola como um lugar apropriado para buscar
rismo. E os estudantes podem, ainda, fazer in-
alternativas para a melhoria de vida”, conclui.
FOTOS: SOLON QUEIROZ
Outra iniciativa é a livraria Ler é Crescer,
[50]
Oficina de tapeçaria reforça os conceitos aprendidos nas aulas de geometria
ABR | JUN 2019
“Qual o seu sonho?” A pergunta instiga os alunos e estimula a ação dos professores da Escola Estadual Coronel Filomeno Ribeiro
CHAVE DO SUCESSO
pessoas tenham menos empregos e vendam ser-
A analista do Sebrae Minas Hebbe Cruz Car-
viços. E isso requer capacidade empreendedora,
valho Mendes avalia que o envolvimento da comunidade escolar foi um dos principais motivos do sucesso da educação empreendedora na Escola Estadual Coronel Filomeno. Ela relata que o interesse foi tamanho que impactos puderam ser percebidos também entre os professores e servidores, que criaram alternativas para complemento de renda. “Uma cantineira decidiu montar
criativa e inovadora”, pontua. O presidente do Sistema Sicoob/Credinor, Dario Colares, considera excepcionais os resultados da parceria com o Sebrae Minas e a escola. “Sempre levamos em conta os princípios e valores éticos que norteiam o cooperativismo. É de fundamental importância trabalhar com esses princípios na educação das crianças e dos adolescentes”, afirma.
um serviço de buffet. Uma professora optou por vender sapatos para colegas, oferecendo-lhes
MUITAS APROVAÇÕES
produtos de forma personalizada. Outra educa-
Os alunos da Escola Estadual Coronel Filome-
dora iniciou a venda de roupas.”
no Ribeiro demonstram entusiasmo com as ativi-
Hebbe enfatiza que, além de agregar novas
dades, e muitos revelam a intenção de seguir como
perspectivas para os jovens, a abordagem do
empreendedores. “Ao entrar na vida da gente, o em-
empreendedorismo na escola ganha maior re-
preendedorismo abre portas e novas oportunida-
levância diante das mudanças nas relações de
des. Acabamos descobrindo a vocação para o negó-
trabalho. “Quando as crianças e adolescentes de
cio próprio”, afirma o aluno Victor Tiago Schroder
hoje estiverem adultos, muitas profissões não
Damasio Santos, 17 anos. A partir do que aprendeu
existirão mais. Cada vez mais diminuem os em-
na escola, ele decidiu desenvolver um aplicativo de
pregos formais. A tendência é que, no futuro, as
jogos infantis, juntamente com quatro colegas.
www.sebrae/minasgerais
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[ E D U C AÇ ÃO
Geovana Aguiar Santos, 15 anos, levou o aprendizado para casa: passou a ajudar a mãe, que vende tapioca em uma feira de alimentos. “O meu sonho é montar uma mercearia”, diz. Já Maria Clara Oliveira da Silva, 16 anos, afirma que, ao participar da produção de tapetes, adquiriu conhecimentos sobre como aproveitar materiais recicláveis e produzir peças de artesanato. “Também aprendi a cuidar melhor do meio ambiente e a reduzir a produção de lixo.” Wesley Ramos da Natividade, 16 anos, confessa que sempre teve dificuldade de aprender,
A tendência é que, no futuro, as pessoas tenham menos empregos e vendam serviços. E isso requer capacidade empreendedora, criativa e inovadora HEBBE MENDES A N A L I S TA DO S E B R A E M I N A S
mas não enfrentou qualquer limitação na educação empreendedora. Ele participou de atividades como horta orgânica, produção de tape-
Batista de Sá, que leciona língua portuguesa.
tes e reaproveitamento de materiais recicláveis.
“Fazemos pesquisas de histórias de sucesso,
“O empreendedorismo é uma forma de mostrar
por meio da escrita e de vídeos e filmes. Discu-
para as pessoas que a gente é capaz”, afirma.
timos em sala sobre as perspectivas de futuro.
E tem professor engajado? Muitos! “Tra-
Digo ‘nós’, porque mostro aos alunos que todos
balhamos com o empreendedorismo da for-
somos empreendedores, que empreender vai
ma mais abrangente possível”, explica Juliana
além de ter um negócio, que empreendemos
Alunos atuam em uma horta orgânica
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A venda de produtos feitos a partir de materiais recicláveis é revertida para os alunos e seus familiares, com um percentual destinado à escola
nos nossos talentos, nos nossos sonhos e na
se de ser um ‘bicho de sete cabeças’ e eles se inte-
nossa vida”, relata.
ressassem mais pela disciplina”, conta.
A professora de matemática Clarete Ferrei-
Guilherme de Oliveira Félix, também profes-
ra da Silva trabalha a geometria na oficina de
sor de matemática, é outro que considera a ex-
tapetes, feitos artesanalmente pelos estudan-
periência positiva. “Simulamos situações em que
tes nas formas de quadrado, retângulo, losango
os alunos são empreendedores e precisam fazer
etc. “Passamos a trabalhar com a disciplina de
cálculos dos preços de seus produtos, mas sem-
maneira mais agradável, os alunos aprendem a
pre de maneira que os valores das vendas sejam
calcular a área das figuras geométricas de forma
superiores aos custos”, explica, aludindo ao obje-
diferente. Isso fez com que a matemática deixas-
tivo básico de qualquer negócio: o lucro.
Interessado no projeto de Educação Empreendedora? Procure o Sebrae em sua cidade ou ligue para 0800 570 0800 para mais informações.
www.sebrae/minasgerais
[53]
[MULHERES
SIM,
ELAS PODEM! Conheça a história de três empreendedoras que ousaram ocupar espaços ainda dominados por homens
“É
pelo trabalho que a mulher vem
tude, têm em comum o fato de atuarem em
diminuindo a distância que a
áreas de negócio predominantemente mascu-
separava do homem”, senten-
linas. Vamos a elas.
ciou, no século passado, a filó-
sofa, intelectual e ativista francesa Simone de
DETERMINADA
Beauvoir. E, conforme os números mostram,
Para valorizar o trabalho de quem se dedi-
é pela via do empreendedorismo que muitas
ca ao campo, uma das informações incluídas na
têm se lançado no mercado. Dos 52 milhões
embalagem do café Fino Fruto, produzido em
de empreendedores brasileiros computados
Conceição, comunidade rural de Carangola, na
pela pesquisa Global Entrepreneurship Moni-
Zona da Mata mineira, é o nome do casal pro-
tor (GEM) em 2018, quase a metade (45%) é de
dutor. Porém, com uma particularidade: o da
mulheres. Registraram-se 24 milhões de bra-
mulher vem antes! Sutil, essa foi a forma que
sileiras à frente de um empreendimento – for-
Julenia Maria Lopes da Silva encontrou para
mal ou informal – ou realizando alguma ação
exaltar o trabalho feminino na lida com o fru-
visando a ter seu próprio negócio.
to, marcado por um cuidado que ela considera
Coordenado pelo Instituto Brasileiro da
fundamental para a qualidade do produto final.
Qualidade e Produtividade (IBQP), em par-
À frente do Centro Comunitário Rural de
ceria com o Sebrae, o estudo também revelou
Conceição, organização à qual os produtores do
que, das 11 milhões de mulheres que tinham
Fino Fruto, incluindo ela e o marido Helmuth
um negócio com até 3,5 anos de mercado, ou
Martens, estão ligados, Julenia carrega consigo
seja, em fase inicial, 56% decidiram empreen-
a inquietação feminina. A paixão pela língua
der “por oportunidade”, o que aumenta signi-
inglesa abriu seus horizontes. Estudou sozinha,
ficativamente as chances de sobrevivência do
cursou Letras e ganhou uma bolsa de mestrado
empreendimento.
na Inglaterra, onde dirigiu um renomado insti-
A Passo a Passo destaca três histórias de
tuto de línguas. Por obra do destino, foi parar
empreendedoras que, além do gênero e da ati-
em Portugal e na Alemanha – país de origem do
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AGÊNCIA NITRO
marido –, onde, pela primeira vez, teve a opor-
Duas importantes iniciativas marcam
tunidade de provar um bom expresso.
o papel do Sebrae Minas na trajetória
“Vivi 20 anos fora do Brasil e, quando trouxe
de Julenia Lopes (na foto, com o
o Helmut para conhecer o lugar onde nasci, ele
marido Helmuth): o apoio para a
se apaixonou. Compramos um pedaço de terra e
fundação, em 2012, do Capítulo Brasil,
nos tornamos cafeicultores, assim como foram
braço da Aliança Internacional das
meus avós, tios e pais”, conta.
Mulheres do Café (IWCA Brasil), da
Além de produtora, Julenia é líder. Atua em
qual ela faz parte, e o amplo trabalho
vários projetos voltados à melhoria da qualidade
de qualificação e valorização do café
de vida da comunidade. Já foi vereadora – a úni-
da Região das Matas de Minas.
ca mulher entre 12 cadeiras –, é mobilizadora da Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA Brasil), fundou e preside a Cooperativa Regional de Indústria e Comércio de Produtos
do. Representando os cerca de 140 cooperados,
Agrícolas Artesanais (Coolabore).
Julenia voltou do Rio de Janeiro vencedora da
“Foi aí que comecei a participar de um mun-
chamada pública da Marinha do Brasil, em uma
do, digamos, masculino. Nas chamadas públicas,
transação que envolveu 53 toneladas de café e
geralmente sou a única mulher concorrendo
R$ 1,2 milhão. “Claro que muitas vezes me vejo
para vender café”. E ela tem tido sucesso. Uma
na mira de olhares duvidosos. Mas, como acabei
das conquistas mais recentes foi no ano passa-
me aproximando muito da comunidade, conwww.sebrae/minasgerais
[55]
[MULHERES
quistei o respeito das pessoas. Sigo em frente,
cesso. Tudo começou quando, recém-formada
pois há trabalho a fazer”, afirma.
em Computação, ela se viu obrigada a repensar o sonho de atuar em uma grande corporação
AUTOESTIMA QUE LIBERTA
para dedicar-se à gravidez inesperada. “Na
Por um bom tempo, a única brecha que a em-
mesma época, o Junivan, meu marido, ficou de-
presária Etiene Rocha encontrou para estudar e
sempregado. De repente, estávamos ali, os dois
garantir sua evolução profissional foi das 5h às
formados em Computação, sem emprego e com
6h da manhã. Como a maioria das mulheres, ela
uma filha. A saída foi trabalhar em casa, desen-
se desdobra entre o trabalho, a administração
volvendo projetos de programação”, conta.
da casa, o acompanhamento das duas filhas e os cuidados com a saúde.
Esse foi o embrião da Adaptweb, empresa especializada em serviços e soluções tecnoló-
Embora sua estreia no empreendedorismo
gicas, fundada em 2007, em Alfenas, no Sul do
não tenha sido necessariamente por oportu-
estado. O casal também está envolvido em um
nidade, Etiene construiu uma carreira de su-
projeto promissor, a Car&Cia, uma startup do ramo automobilístico. Hoje, Etiene é responsável pela gerência de projetos do negócio e
O Sebrae Minas apoia eventos de
cuida das estratégias e da concepção de novos
estímulo ao empreendedorismo
produtos, entre outras funções. “Em algumas
feminino, como o Voe Mulher, realizado
reuniões com os clientes, principalmente nos
ARQUIVO SEBRAE MINAS
no mês de março, em Belo Horizonte.
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PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7
O Sebrae Minas acredita na jornada meios mais conservadores, percebo os olhares de desconfiança. É como se não bastasse ser competente, é preciso provar isso a todo momento. Mas não me abalo. Sei da minha capa-
empreendedora de Etiene Rocha, mantendo com ela contato permanente e estimulando-a na preparação para a próxima parceria: o Empretec.
cidade e no final dá tudo certo”, reflete. Etiene toca em um ponto determinante em qualquer jornada empreendedora: a autoestima.
apontada na pesquisa GEM, que é 40% mais
“Mesmo com habilidades técnicas superiores e
baixa entre as mulheres. “Elas acabam ficando
mais escolarizadas, a maioria das empreendedo-
no meio do caminho. Claro que há outras difi-
ras esbarra nas soft skills, que são competências
culdades, mas a autoconfiança é fundamental
do relacionamento, da negociação e da auto-
para seguir em frente”, explica.
estima, pois isso não é estimulado ao longo da
Etiene ressalta que trabalhar esse lado não
vida. E, sem autoestima, fica difícil fazer uma boa
foi fácil. “É como se a gente viesse formatada de
negociação, ainda mais diante do preconceito de
fábrica para as responsabilidades da casa – ca-
gênero”, pontua a analista de Educação e Empre-
sar e ser mãe. Ao aceitar essa crença, acabamos
endedorismo do Sebrae Minas Rachel Dornelas.
fechando os olhos para o mundo. Empreender
Ela explica que essa postura influencia
exigiu de mim uma nova postura, e hoje sei me
diretamente a taxa de conversão – transição
valorizar como gestora e tenho muitos planos
de empreendedor para dono de um negócio –
que espero tornar realidade.” www.sebrae/minasgerais
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PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7
[MULHERES
Em 2018, a empresa de Márcia
VISÃO DO TODO
Alvernaz se lançou no mercado como
“Eu represento a mulher médica integrativa”,
franquia, em um processo conduzido
afirma, com orgulho, Márcia Freitas Alvernaz.
com o apoio do Sebrae Minas, por
Formada em Medicina há 20 anos, com especia-
meio do Programa Minas Franquia.
lização em Ginecologia e Obstetrícia, em 2017 ela fundou o que considera a primeira franquia de clínica integrativa do Brasil comandada por uma mulher, a Integrative – Núcleo Brasil de Saúde In-
adota, em sua clínica, todos os protocolos desses
tegrativa e Funcional.
países. “Os modelos integrativos com os melhores
Localizado em Ipatinga, no Vale do Aço, o es-
resultados do mundo são os americanos. Então,
paço é dedicado ao tratamento dos pacientes pela
para adotá-los, precisei criar o meu próprio em-
abordagem integrativa – foco na totalidade do in-
preendimento e assumir a responsabilidade de
divíduo – e na prevenção pela saúde e qualidade
implantá-los no país”, conta a empresária.
de vida. A proximidade da relação médico/pacien-
De acordo com ela, a área ainda é predomi-
te é um dos diferenciais da abordagem, também
nantemente masculina, o que explica o precon-
conhecida como “medicina a quatro mãos”.
ceito ainda latente. “As pessoas confundem mui-
Segundo Márcia, Estados Unidos, Inglaterra,
to a amorosidade da Medicina Integrativa com
Austrália, Canadá e Alemanha se destacam mun-
falta de objetividade. Já ouvi muito a expressão
dialmente em prevenção de doenças e restabele-
‘isso é coisa de mulherzinha’. Outro preconceito
cimento da saúde de forma biológica, por isso ela
foi por parte dos colegas que não acreditavam no
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ABR | JUN 2019
meu potencial enquanto gestora, mas consegui
e acabei descobrindo a grande mulher que sou e
provar o contrário”, diz.
que todas nós somos. Esse papo de que mulher
A prova mais recente é que, em março des-
não nasceu para os negócios já caiu faz tempo.
te ano, Márcia alcançou uma carteira de 3 mil
Muitas vezes, o que dificulta é a falta de oportu-
pacientes. “O potencial feminino é enorme. Eu
nidade, mas quando ela vem, temos que confiar
fui movida por algumas insatisfações pessoais
no nosso potencial.
UM SEBRAE PARA ELAS O Sebrae Minas acaba de lançar
no evento Voe Mulher, programa de
o projeto Sebrae Delas – Mu-
capacitação apoiado pela enti-
lher de Negócios. O objetivo é
dade em março, no Mineirão,
atender às particularidades
em Belo Horizonte. O Sebrae
do empreendedorismo fe-
Delas é estruturado sobre
minino, como a necessidade
três pilares: sensibilização
de uma rede de apoio e fo-
da importância da equida-
mento, essencial para que as
de de gênero na sociedade;
mulheres consigam deslanchar
formação e fortalecimento de
nos negócios.
rede; e atendimentos focados em
“Na busca pela emancipação, uma
ferramentas de inovação e desenvolvi-
das libertações mais necessárias para as
mento das soft skills. A proposta é acompa-
mulheres é a financeira. Empreender vai ao
nhar um grupo-piloto de 200 mulheres, nas
encontro desse desejo, porém essa movi-
nove regionais do Sebrae no estado.
mentação ainda é muito guiada pela neces-
“Mesmo as que não estão nesse grupo po-
sidade, o que é perfeitamente compreen-
derão se beneficiar das iniciativas decorren-
sível pela série de dificuldades estruturais
tes do trabalho, como grandes eventos, pales-
impostas pela sociedade”, afirma Rachel
tras e materiais produzidos. Queremos que as
Dornelas, gestora do projeto.
mulheres se aproximem e percebam que o
Em fase piloto, a iniciativa foi anunciada
Sebrae também é para elas”, conclui Rachel.
Participe do Sebrae Delas! Procure o Sebrae em sua cidade ou ligue para 0800 570 0800 para mais informações.
www.sebrae/minasgerais
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[ S E R V I ÇO S
BUROCRACIA NO PASSADO Sala Mineira do Empreendedor atua para simplificar a vida de quem deseja formalizar seu negócio
JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7
[ F E R N A N DA P E R E I R A ]
Samantha Teles conheceu os serviços da Sala Mineira na 1ª Mostra de Empreendedores de Contagem
A [60]
té há pouco tempo, uma das gran-
assemelhava-se a participar de uma gincana.
des reclamações dos empreendedo-
Felizmente, iniciativas como a Sala Mineira do
res era de que abrir, alterar ou mes-
Empreendedor têm tornado essa realidade cada
mo encerrar uma empresa no Brasil
vez mais distante. Resultado da parceria do Se-
ABR | JUN 2019
brae Minas com a Junta Comercial do Estado
endedores. Além dos serviços básicos ofereci-
(Jucemg) e prefeituras, a Sala Mineira vem co-
dos – inscrição de CNPJ, expedição de alvarás,
laborando para desburocratizar e acelerar a for-
licenciamentos diversos, entre outros –, elas
malização dos empreendimentos de pequeno e
têm se destacado pelas interações estabeleci-
médio portes.
das com os mais diversos agentes econômicos
Prestes a completar dois anos em junho, mês de inauguração do primeiro espaço, em Nova
locais, promovendo um ambiente favorável ao desenvolvimento.
Serrana, no Centro-Oeste do estado, o projeto é exemplo de integração eficiente entre poder
RITMO ACELERADO
público municipal e entidades setoriais, com a
Em Contagem, segundo município mineiro
missão de transformar o micro e pequeno em-
em número de Microempreendedores Individu-
preendedor em um agente de desenvolvimento
ais (MEI), a Sala Mineira do Empreendedor tem
local. De lá para cá, foram assinados 342 termos
parcerias com universidades que viabilizam a
de adesão, que já resultaram na instalação de
prestação de consultorias por estudantes nas
salas em 151 municípios. Os locais têm equipes
áreas de Administração e Qualidade, com acom-
de apoio em três frentes: orientação, serviços e
panhamento de um professor. A superintendente
capacitação, concentrando em um único local
de Apoio ao Empreendedor e Pequenos Negócios,
tudo o que o empreendedor precisa para for-
Cristina Romero, que coordena a Sala em Conta-
malizar e desenvolver o seu negócio, de forma
gem, explica como funciona: “O empresário vem
simples e rápida.
até nós, fazemos um levantamento prévio das in-
Segundo o analista do Sebrae Minas Bismarck
formações e, após isso, os consultores visitam a
Esteves, a Sala atua em duas frentes: a primeira é
empresa, analisam o cenário e dão as orientações
na gestão dos negócios, diretamente com o em-
necessárias para aperfeiçoar o negócio.”
presário; a outra é em melhorar e tornar o am-
Além dessa, são realizadas diversas outras
biente político-institucional mais propício. Nes-
ações e, segundo Cristina, a adesão é sempre
se caso, os agentes públicos recebem orientações
muito boa. “Os ganhos vão além do sucesso de
para reduzir ao máximo a burocracia e agilizar
público, pois vemos que muitos participantes
procedimentos. “A velocidade com que as em-
retornam para mais atividades após uma primei-
presas são abertas e a capacidade que temos de
ra participação e também para nos contar sobre
ouvir e entender as dores do empresário e trazer
o salto dos seus negócios”, relata. Por meio de
as soluções de forma muito objetiva geram im-
uma única iniciativa, o Programa Empreender,
pactos muito positivos nos municípios. Antiga-
foram realizadas 40 palestras em 2018. Para dar
mente, o empresário se sentia desmotivado para
mais visibilidade às ações, também foi criada a
legalizar sua empresa, porque tinha que ir a inú-
Sala Mineira Itinerante, que levou os serviços
meras repartições, as informações não cruzavam,
para as oito regionais do município.
o processo não era otimizado. Isso gerava muitos prejuízos para o município”, destaca.
Outro projeto de destaque foi a 1ª Mostra de Empreendedores de Contagem, que reuniu, em
Inauguradas há pouco mais de um ano, as
2018, cerca de 30 expositores e empreendedores
Salas de Contagem e de Três Pontas são con-
interessados em novas oportunidades de negó-
sideradas referência em atendimento a empre-
cios. Samantha Teles, proprietária da marca de www.sebrae/minasgerais
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PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7
[ S E R V I ÇO S
Após dois anos atuando na informalidade, César Rodrigues tornou-se MEI com o auxlílio da equipe da Sala de Três Pontas
biscoitos veganos para pets Natu Croc, era um
JUNTOS PARA CRESCER
deles. “Participei de uma palestra, gostei e co-
Em geral, o município é responsável por pro-
mecei a ir a várias outras. E a cada vez a gente
ver espaço físico e os recursos humanos necessá-
sai com a visão muito mais ampliada do proces-
rios ao funcionamento das salas. Já em Três Pon-
so. Consegui aplicar muitas coisas.”
tas é diferente – a Sala Mineira do Empreendedor
Dentista por formação, Samantha nasceu em
é integrada à Associação Comercial e Agroindus-
uma família de empreendedores, o que natural-
trial (Acai-TP), por conta da sua representativi-
mente a inspirou a criar um negócio próprio.
dade e ligação com a economia local. Três Pontas
“Como já passo o dia inteiro no consultório, op-
é reconhecida como a Terra do Ouro Verde, uma
tei por uma atividade diferente. Sou apaixona-
referência à produção cafeeira, que ocupa uma das
da por cães e, pesquisando e conversando com
maiores áreas plantadas no estado.
amigos, surgiu a ideia de produzir biscoitinhos
De uns tempos para cá, entretanto, diversos
caninos”, conta. Uma amiga sugeriu que Saman-
atores locais, engajados em políticas públicas
tha crisse um produto vegano para diversificar o
de fomento ao desenvolvimento, sentiram a ne-
mercado já saturado de opções contendo ingre-
cessidade de diversificar as atividades e forta-
dientes de origem animal. Apesar de ainda não
lecer o turismo e o comércio, por exemplo. Um
ter formalizado a empresa, ela já obteve todas
dos pilares da Sala Mineira no município foi o
as informações necessárias na Sala Mineira do
envolvimento das pessoas, principalmente do
Empreendedor de Contagem e pretende fazê-lo
segmento empresarial, que formaram um Con-
em breve. A expectativa é de que, com isso, a
selho de Desenvolvimento Econômico. “Eles
Natu Croc se torne mais conhecida.
discutem, por exemplo, estratégias para atrair
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ABR | JUN 2019
novos negócios, de acordo com os interesses da
planejamento. “Nosso cartão de visitas é o aco-
comunidade e do município. Além disso, têm
lhimento, porque temos em mente que aqui re-
total autonomia em questões que impactam di-
cebemos pessoas com um sonho. Não interferi-
retamente a economia e os negócios”, relata o
mos nas decisões, mas salientamos que sempre
analista do Sebrae Minas Arrison Tavares.
é necessário planejar, independentemente do
Além dos empresários, o grupo é formado
segmento em que elas vão atuar. Sem um plano
por três núcleos, que abrangem autoridades po-
de negócio, não há como ter sucesso”, enfatiza.
líticas, sociedade civil e entidades empresariais,
Foi assim com César Rodrigues. Por dois
como sindicatos e associações. Conta, ainda,
anos, ele vendeu produtos de moda masculina
com o trabalho de cinco câmaras técnicas, for-
pela internet, em paralelo ao trabalho em uma
madas por órgãos de desenvolvimento setorial,
loja. Deu tão certo que decidiu criar a marca In-
como Sebrae Minas, Epamig, Emater e OAB. O
victus Moda Masculina, à qual passou a se de-
presidente do Conselho, Bruno Dixine, explica
dicar exclusivamente. Pensava em formalizar,
que entre os trabalhos estão a revisão do plano
mas não sabia por onde começar. Foi, então,
diretor e o processamento de alvarás. “A inten-
até a Sala Mineira de Três Pontas, registrou-se
ção é fazer tudo de forma desburocratizada e
como MEI e conseguiu o alvará de funciona-
cada vez mais simplificada e automatizada, dan-
mento em menos de uma semana. “Não tinha
do mais clareza para os empresários”, explica.
ideia que fosse tão simples e rápido, eles foram
Diversas ações foram desencadeadas a partir da atuação do Conselho, como o programa de
muito atenciosos e me informaram tudo o que eu precisava saber”, diz.
compras públicas “Licitação Fácil”, que ampliou
Ao conhecer os serviços, César se interes-
significativamente as chances de empreende-
sou pelo curso de Canvas, que o auxiliou a es-
dores locais vencerem processos licitatórios
truturar o plano de negócio, com uma proposta
realizados pela prefeitura. Segundo o coorde-
diferente, e ampliou sua perspectiva e atuação.
nador da Sala de Três Pontas e gerente de Negó-
Com isso, ele diferenciou os produtos, ganhou
cios da Acai-TP, Helio de Carvalho Júnior, “um
mais poder de negociação com fornecedores e
bom contrato com órgão público traz inúmeras
clientes finais e ampliou suas margens de lu-
vantagens, tais como visibilidade, consolidação
cro. “Como o treinamento é mais complexo e
da marca e estabilidade”.
aprofundado, consegui entender melhor como
Ainda de acordo com Hélio, além de facili-
é a atuação dos fornecedores e amadureci o
tar cada vez mais a vida do empresário, a Sala
meu negócio”, afirma o empreendedor, que
Mineira do Empreendedor de Três Pontas dis-
efetiva 80% de suas vendas online, por meio
ponibiliza suporte técnico e de
das redes sociais.
Acesse salamineiradoempreendedor.com.br, conheça todos os serviços e encontre a Sala Mineira do Empreendedor mais próxima de você.
www.sebrae/minasgerais
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[ M O B I L I Z AÇ ÃO
INCENTIVO AO SETOR PRODUTIVO Programa do Governo Federal, apoiado pelo Sebrae, vai mapear gargalos e estimular empresas na geração de emprego e renda
Mapear os principais problemas enfrentados pelo setor produtivo e debater políticas públicas que possam ajudar na geração de postos de trabalho e renda. Este é o objetivo do Programa Mobilização pelo Emprego e Produtividade, lançado pelo Governo Federal no início de maio, em Belo Horizonte. O Sebrae será um dos principais agentes nas ações a serem desenvolvidas em todos os estados brasileiros. A Passo a Passo conversou com o secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, sobre a iniciativa.
Quais os objetivos do programa Mobiliza-
faremos o lançamento em todas as capitais do
ção pelo Emprego e Produtividade? Quais
país, para nos reunir com os atores e encon-
os principais pontos da iniciativa?
trar, em conjunto, soluções que destravem a
O programa foi criado para que o diálogo com gestores públicos – estaduais e munici-
economia, aumentem a produtividade e, como consequência, gerem emprego e renda.
pais – empresários e empreendedores seja intensificado. É um canal direto para a discus-
Quais os principais obstáculos encon-
são de questões que impedem o incremento
trados pelos empreendedores brasileiros
da produtividade, na perspectiva regional.
para deslanchar seus negócios?
Alguns temas são relacionados à infraestru-
Criamos um aplicativo para que o setor pri-
tura necessária para a produção e exportação
vado informe o que tem afetado a sua realidade
de bens, marcos regulatórios que impedem o
empresarial. Para se ter uma ideia, em apenas
dia a dia das empresas, ambiente de negócios
três dias de lançamento do mobilizabrasil.eco-
pouco competitivo e a falta de mão de obra
nomia.gov.br, a burocracia estatal foi apontada
qualificada. Temas que de alguma maneira
como principal obstáculo para a produtividade.
impedem a retomada do crescimento. Por isso,
Vamos trabalhar para avançar nessas agendas.
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ABR | JUN 2019
FOTOS: WASHINGTON COSTA – SEPEC/ECONOMIA
A Secretaria criou um canal para ou-
dutivos somente este ano) quanto por meio
vir os empresários sobre como estimular a
de sistemas eletrônicos. As informações se-
competitividade do setor produtivo brasi-
rão analisadas e traçaremos estratégicas de
leiro. É um canal permanente? Como serão
curto e médio prazos para atacar os princi-
feitos a triagem e o encaminhamento des-
pais problemas apresentados.
sas sugestões? O Mobiliza Brasil é um aplicativo. Qualquer cidadão pode acessá-lo e sugerir ações,
De que forma as ações serão articuladas com os governos estaduais e municipais?
cujo foco é o aumento da produtividade. É
Como sabemos, lidamos com legislações,
importante lembrarmos que as realidades
normas e tributos federais, estaduais e muni-
dos segmentos econômicos são distintas. Por
cipais. Além de regras para aberturas de em-
exemplo, a dificuldade de uma empresa de
presas e emissão de documentos. Tudo isso
joias e pedras preciosas é diferente dos per-
impacta o dia a dia das empresas. Nessas nos-
calços por que passam empresas do setor au-
sas reuniões, ouvimos dezenas de relatos de
tomotivo, ou de um empreendedor que quer
empresários que gostariam de contratar mais
abrir um salão de beleza. São essas questões
pessoas, mas não conseguem por diversos
que iremos atacar, mas precisamos do enga-
motivos, alguns deles, de simples resolução.
jamento de todos. Uma equipe de técnicos
O apoio de estados e municípios, portanto, é
está se debruçando sobre o que é coletado,
fundamental para traçarmos esse panorama e,
tanto nos encontros presenciais (já realiza-
juntos, alinharmos políticas que contemplem
mos mais de 400 reuniões com setores pro-
demandas do setor privado e da sociedade.
www.sebrae/minasgerais
[65]
[ M O B I L I Z AÇ ÃO
Há um cronograma previsto, quais os próximos passos pós-lançamento?
parlamentares, gestores públicos, divulgação, o aplicativo e, em seguida, avaliação de
O Programa foi lançado, nacionalmente,
tudo que foi feito – se realmente as políticas
em Belo Horizonte no último dia 3 de maio.
implementadas estão ou não possibilitando
Serão outros 16 lançamentos somente este
o aumento da produtividade e a retomada
ano. Vale destacar que o Mobiliza envolve
do emprego.
várias ações, encontros com empresários, Qual a importância da participação do Sebrae neste programa? O Sebrae é o principal parceiro nacional do Mobiliza. Essa parceria é fundamental, uma vez que os micro e pequenos negócios PELO MOBILIZAÇÃO
Emprego e produtividade
são responsáveis pela maior parte dos empregos gerados no País. Nada mais natural que trabalhássemos juntos nessa iniciativa. Precisamos entender o que os pequenos empreendedores necessitam para crescer e ampliar seus negócios. É importante criar
melhoria do tunidades de icípio. Conheça as opor cios no seu mun ambiente de negó
condições para que quem quer investir também encontre meios para isso. O Sebrae permite que esse diálogo seja mais direcio-
Uma cartilha foi disponibilizada no site mobilizabrasil.economia.gov.br
[66]
ABR | JUN 2019
nado e que os resultados atendam as realidades de cada localidade.
PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7
A L I M E N TAÇ ÃO ]
De geração a geração: Miguel Marcelio de Faria aprendeu a fabricar o queijo Canastra com os avós, tios e pais
É DA CANASTRA Região é a primeira no Brasil a usar etiquetas que comprovam a autenticidade dos queijos [ A N A PAU L A D E O L I V E I R A ]
www.sebrae/minasgerais
[67]
[ A L I M E N TAÇ ÃO
O
queijo produzido na região da
como o aumento considerável das falsificações.
Canastra ganhou um novo alia-
Muitos queijos feitos de leite cru começaram
do na batalha para resguardar
a ser comercializados como ‘Canastra’. A eti-
sua originalidade, conferida por
queta é uma estratégia de proteção contra a
mais de 200 anos de tradição. Desde fevereiro,
pirataria”, explica o presidente da Associação
os queijos do lugar estão sendo colocados no
dos Produtores de Queijo da Canastra (Apro-
mercado com uma etiqueta de caseína, proteína
can), João Carlos Leite. A entidade encabeçou
extraída do próprio leite. A iniciativa permite
a iniciativa, com o apoio do Sebrae Minas, da
aos produtores comprovar a procedência e a
Federação da Agricultura do Estado de Minas
legitimidade dos queijos produzidos nos sete
Gerais (Faemg), do Sindicato e Organização
municípios que formam a área delimitada pela
das Cooperativas do Estado de Minas Gerais
Indicação de Procedência Canastra – São Roque
(Ocemg), da Sertãobras, do Ministério da Agri-
de Minas, Medeiros, Vargem Bonita, Tapiraí,
cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da
Delfinópolis, Bambuí e Piumhi –, permitindo a
Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e
rastreabilidade e inibindo a falsificação.
Abastecimento (Seapa).
“A notoriedade conquistada pelo nosso pro-
É a primeira vez que essa ferramenta de ras-
duto trouxe vantagens, mas também desafios,
treabilidade é utilizada no Brasil. “Estudamos a possibilidade de adotar a etiqueta desde 2015, processo que exigiu o cumprimento de uma série de exigências legais junto aos órgãos de inspeção, bem como adequações por parte dos produtores”, conta João Carlos. O lançamento oficial do primeiro lote de queijos maturados com a etiqueta de caseína foi realizado no dia 19 de fevereiro, em São Roque de Minas. Inicialmente, 23 produtores ligados à Aprocan aderiram ao uso da etiqueta. Outros 15 estão em fase de adequação das queijarias e processos para entrar na próxima leva de importação, prevista para o próximo mês de julho.
Cada selo leva um código numérico. No caso da Aprocan, há oito dígitos: os três primeiros identificam o produtor e os outros cinco remetem a cada peça fabricada
“A aceitação do mercado tem superado as expectativas, e nossos compradores já estão exigindo o queijo com a etiqueta. Por isso, estamos agilizando o processo de adequação de mais produtores, já que, para receber o selo do queijo, o produtor deve estar regularizado junto aos órgãos de inspeção e obedecer ao modo de produção indicado pelo Caderno de Especificações Técnicas”, explica João Carlos.
[68]
ABR | JUN 2019
PEDRO VILELA/AGÊNCIA I7
Allan Diego é um dos produtores que já utilizam a etiqueta. Seu número de identificação é 016
APROXIMAÇÃO
é feito com responsabilidade ambiental e social,
Comum na Europa, onde a maioria dos quei-
entre outros critérios que garantem a qualidade”,
jos de origem protegida utiliza o instrumento há
afirma João Carlos.
mais de 80 anos, a etiqueta de caseína é aplicada no momento de prensar as peças, antes da salga.
NADA DE “GATO POR LEBRE”
Cada selo leva um código numérico. No caso da
Sequências iniciadas pelos dígitos 007, por
Aprocan, são utilizados oito dígitos: os três pri-
exemplo, “abrem as porteiras” da Fazenda San-
meiros identificam o produtor e os outros cinco
tiago Monjolo, localizada a 16 quilômetros de
remetem a cada peça fabricada. É por meio dessa
São Roque de Minas. Foi lá que o produtor Mi-
sequência numérica que o consumidor consegue
guel Marcelio de Faria nasceu, cresceu e aprendeu
checar, de qualquer parte do mundo, onde e quan-
com os avós, tios e pais a fabricar a iguaria, que
do o queijo foi produzido – basta acessar o site
àquele tempo era produzida apenas para consumo
www.queijocanastra.com.br e informar o número
doméstico. “O queijo sempre esteve na base da
no campo específico.
minha alimentação. Aprecio tanto que, se deixar,
“Além de atestar a origem, outro ponto importante é que a etiqueta aproxima o consumidor do
como mais que os clientes nas degustações que promovo”, brinca.
nosso universo. Com o código, ele pode conhecer
Entre o apreciador e o comerciante do ramo,
um pouco da história do produtor, ver a fazenda
Miguel percorreu outros caminhos. Aos 18 anos,
onde o queijo é produzido, a forma como os ani-
deixou a fazenda da família em busca de trabalho.
mais são tratados, entender que aquele produto
Com a perda dos pais, há 15 anos, decidiu voltar
www.sebrae/minasgerais
[69]
[ A L I M E N TAÇ ÃO
às origens e reativar a propriedade. Com o apoio
sanal, construída pelo meu bisavô para a minha
de um sobrinho, o Queijo do Miguel conquistou
avó fazer os queijos. Claro que não a usamos na
fama e faturou diversos prêmios, como a medalha
produção, apenas como peça decorativa, mas ela
de ouro do Prêmio Queijo Brasil, em 2018. A pro-
é a prova viva de uma longa história que merece
dução gira em torno de 40 peças por dia, vendidas
ser preservada”, ressalta.
em pontos tradicionais da capital, como o Mercado
Orgulhoso do ofício, Allan é um dos produto-
Central e o Aeroporto de Confins, além da própria
res aptos a usar a etiqueta de caseína. Sua iden-
padaria, que ele toca junto da esposa, Maria da
tificação é a 016. “As pessoas confundem muito
Conceição, em Lagoa Santa.
queijo maturado com queijo Canastra. O queijo
“Vejo a etiqueta de caseína como uma ma-
Canastra não é uma modalidade, e sim um pro-
neira de preservar essa história. Já tive o des-
duto específico da nossa região, feito com muito
prazer de ter meu rótulo falsificado na praça,
critério. Acredito que a etiqueta vai clarear isso
e isso prejudica o nosso trabalho, desvaloriza
para o consumidor e ampliar nossa participação
o nosso esforço. Lidar com queijo não permite
no mercado”, aposta.
preguiça, e para ter um produto de qualidade é preciso muita dedicação. A gente se envolve desde o solo que alimenta o gado até a entrega ao consumidor”, comenta.
SÉRIE DE AÇÕES A conquista da etiqueta de caseína é parte de uma série de ações estruturadas que o Sebrae Minas vem realizando desde 2013, dentro do Projeto
HONRANDO AS GERAÇÕES
Queijo da Canastra. O objetivo é promover o de-
“Desde sempre”. É assim que o produtor
senvolvimento da região por meio da valorização
Allan Diego da Silva localiza no tempo a sua
do produto e a consequente melhoria da renda de
relação com o queijo. Filho, neto e bisneto de
seus produtores.
queijeiros, há cerca de cinco anos ele vem fa-
A analista do Sebrae Minas Fabiana Rodrigues
zendo dessa herança um negócio promissor.
Rocha conta que os ganhos para o território são
Assumiu a Fazenda Água Limpa, localizada a
crescentes. Entre outros exemplos, ela cita o au-
oito quilômetros de Piumhi, onde fabrica cerca
mento, em dois anos, de 120,6% no faturamento
de 15 peças por dia do Queijo do Dinho, nome
médio dos produtores, a inserção de mais pessoas
escolhido para homenagear o pai, seu Hildo.
no processo de fabricação e a integração com ou-
“Tenho uma banca de madeira totalmente arte-
tras atividades, como o turismo de experiência, que praticamente não existia antes da iniciativa. “O objetivo agora é aproveitar as novas opor-
A conquista da etiqueta de caseína é parte de uma série de ações realizadas pelo Sebrae Minas no Projeto Queijo da Canastra
tunidades de negócios que estão surgindo para o queijo da Canastra nas áreas do turismo e da gastronomia. Além do foco direto no mercado, continuamos apoiando a execução do plano de trabalho da Aprocan, tanto na estratégia de utilização do selo de Indicação de Procedência quanto no estabelecimento de parcerias com demais instituições de fomento que fortaleçam a cadeia”, afirma.
[70]
ABR | JUN 2019
ARQUIVO SEBRAE MINAS
PESQUISA EM FAVOR DA QUALIDADE
Trabalho beneficiará cerca de 2,4 mil produtores de queijo do Cerrado Mineiro
Além do trabalho com o queijo da Canas-
que os resultados da pesquisa beneficiem cer-
tra, o Sebrae Minas está apoiando uma inicia-
ca de 2,4 mil produtores de 29 municípios de
tiva fundamental à qualificação e profissio-
ambas as regiões.
nalização do queijo Minas Artesanal feito nas
Segundo a analista do Sebrae Minas Ade-
regiões do Cerrado e do Triângulo. Durante um
nilce Moreira, a pesquisa é um dos frutos do
ano e meio, pesquisadores de Patos de Minas
Programa de Fortalecimento da Produção e
vão desenvolver um estudo aprofundado sobre
Comercialização do Queijo Minas Artesanal do
o tempo de maturação do produto.
Cerrado. Iniciado em 2016, em parceria com a
Lançado no dia 18 de março, na cidade de
Emater e com apoio do Sicoob Credicarpa, o
Carmo do Paranaíba, o projeto será viabili-
trabalho tem sido direcionado ao acesso ao
zado em parceria com a Emater, a Universi-
mercado, à cooperação e à capacitação dos
dade Federal de Uberlândia (UFU), o Centro
produtores da região.
Universitário de Patos de Minas (Unipam) e
“Essa pesquisa representa uma grande
a Associação dos Produtores de Queijo Minas
conquista para nós. Com a definição do tempo
Artesanal do Cerrado.
preciso de maturação dos queijos, vislumbra-se
Etapa sensível da fabricação de queijos
a profissionalização dos pequenos produtores,
artesanais feitos de leite cru, é durante a ma-
que terão um parâmetro de comprovação da se-
turação que ocorre uma série de reações mi-
gurança alimentar de seu produto artesanal e a
crobiológicas determinantes para a sanidade
oportunidade de agregar valor na divulgação do
do produto e o surgimento de características
seu produto, gerando renda e desenvolvimento
como textura, sabor e aroma. A previsão é de
para as regiões”, comemora.
www.sebrae/minasgerais
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[ A R T I G O | PAO L A Z O R Z I N *
REGRAS DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL Elas são o oposto do que aprendemos na escola e exigem uma mudança de mentalidade
F
omos instruídos para ser aquele bom alu-
risco de desperdiçar tempo e dinheiro em algo que
no, que faz tudo certinho, dentro do es-
não trará resultado.
perado, de acordo com o que o professor mandava. Se dava bem quem fazia todos
2 – Você precisa fazer antes de ter certeza
os para-casas, não conversava em aula, obedecia
Por mais que você faça testes, sempre há um
sem questionar e tirava dez em todas as matérias.
elemento de incerteza. No desenvolvimento ágil de
Mas a Transformação Digital veio para colocar
softwares, as etapas são curtas, mas uma pequena
essa lógica de cabeça para baixo! E sem piedade...
fase concluída é um fim em si mesma. Não é algo
Sim, identifiquei sete regras que são exatamente o
incompleto. É a oportunidade de testar antes de
oposto do que aprendemos na escola.
continuar, de investir mais recursos. O planejamen-
É muito comum vermos empresas de todos os
to divide o processo em etapas de curtos espaços
portes querendo inovar no meio digital. Para isso,
de tempo, mas que geram produtos passíveis de
correm desesperadamente atrás das tecnologias
teste pelo usuário, para então se concluir por seguir
mais avançadas, de pessoas que saibam usá-las
adiante ou repensar o que deu errado e precisa ser
e que conheçam metodologias para projetos di-
mudado – ou, no jargão da área, “pivotado”.
gitais. Mas, para inovar nessa nova era, é preciso, antes de qualquer coisa, pensar diferente. É como
3 – Não confie em você
um edifício que você não consegue reconstruir se
Seja humilde. Você não tem as respostas.
não desconstruir antes. E, por isso, é muito mais
Mas ok! Você só tem que saber fazer as pergun-
difícil do que parece.
tas certas para as pessoas certas: os usuários do
Vamos, então, às regrinhas da Transformação Digital que você não aprendeu na escola:
seu produto. Por mais que tenha certeza do que é melhor para eles, não confie apenas em você. É importante testar principalmente se a necessida-
1 – Não aceite verdades prontas Ao invés disso, abuse da formulação de hipóteses. Porque ideias não são verdades prontas e nem
de (ou “dor”) daquelas pessoas realmente existe, e continuar testando cada hipótese e cada pequeno lançamento do seu produto.
partem de verdades absolutas. Ideias se baseiam em hipóteses que precisam ser testadas por meio
4 – Erre rápido! Você vai errar e está tudo bem
de experimentos controlados. Se você tratar o que
Você precisa melhorar sempre, mas não preci-
você “pensa que é” como uma verdade, corre sério
sa estar sempre certo. Não tenha medo de errar. O
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ABR | JUN 2019
DEPOSITPHOTOS
erro é precioso. É impossível você acertar tudo de
dar as respostas, mas fazer o time chegar a elas. O
primeira, porque ninguém tem uma bola de cristal
líder continua existindo, mas sua função não é ser
que lhe diga exatamente o que precisa fazer. Então,
o dono da verdade e ditar as regras. E essa mesma
aceite logo que vai errar de qualquer jeito. O melhor
lógica serve para os meios educacionais: o professor
é errar rápido e verificar o que precisa ser mudado,
não é mais aquele que sabe tudo e nem o único dono
para conseguir acertar rápido também.
do saber. O aluno tem capacidade de desenvolver seu próprio conhecimento e interagir com o pro-
5 – Você não tem que ser bom em tudo
fessor em pé de igualdade.
Não é como quando você tinha que saber todas as matérias. Agora você tem é que saber escolher
7 – Você tem que aprender a desaprender
bem sua equipe, trabalhar com ela, compartilhar e
Saiba desaprender para poder aprender de novo,
cooperar. É muito importante que a equipe se com-
e de novo... Infinitamente... Para o resto da vida!
plete em termos de habilidades e conhecimentos
Você nunca estará preparado de forma definitiva.
e que a cooperação e o compartilhamento das in-
O aprendizado não é mais linear. É multidirecional
formações sejam constantes. Com outras empre-
e se manifesta em rede. Portanto, mantenha-se co-
sas (até competidores), uma atitude colaborativa
nectado a outras pessoas do mundo digital, conheça
também pode trazer muito mais retorno. Acredite!
experiências de outras empresas e busque aprendizado constante. Crie gosto por aprender. Não se
6 – Não existe hierarquia
engane: a Transformação Digital exige de nós uma
Essa frase choca, eu sei. Claro que continuarão
mentalidade muito diferente daquela que aprende-
existindo superiores, a hierarquia não desaparece
mos na escola, mas nunca antes foi tão importante
de fato. O ponto é que o novo papel do líder não é
ser um estudante aplicado! *Paola Zorzin é analista do Sebrae Minas
www.sebrae/minasgerais
[73]
[CO N S U L TO R I A
FAÇA A COISA CERTA DEPOSITPHOTOS
Vídeos podem ajudá-lo a aproximar-se do seu público, mas é preciso alguns cuidados antes de aderir ao formato
C
ada vez mais, o uso de vídeos é incen-
os alcancem números cada vez maiores. Dados do
tivado e valorizado no ambiente on-
MWC – Mobile World Congress 2019 – apontam
line. Nas redes sociais, o formato en-
que, neste ano, 80% do tráfego total de internet
controu um caminho favorável para
mobile será gerado por vídeos.
que as mensagens tenham maior alcance e gerem maior envolvimento por parte dos usuários.
Cresce a procura pelo formato e, com ele, aumentam também a expectativa da audiência e a
A necessidade tem feito, porém, com que mui-
responsabilidade dos criadores de conteúdo. Sa-
tas empresas iniciem suas experiências de manei-
ber que vídeo é um dos formatos mais adequados
ra amadora. Na maioria das vezes, é dos próprios
para compartilhar as mensagens de uma empresa
celulares dos empreendedores que partem as ima-
no ambiente online boa parte dos empreendedo-
gens que serão postadas. O aumento do número de
res já sabe, mas produzir conteúdo audiovisual
aparelhos e a facilidade de operar as ferramentas
de qualidade ainda é um desafio para gestores de
fazem com que a produção e a divulgação de víde-
micro e pequenas empresas.
[74]
ABR | JUN 2019
Alguns motivos listados para isso são: timidez, perfeccionismo, receio de reprovação, falta de preparo e de equipamento. No entanto, quando enumeramos os benefícios do uso de vídeos, a lista tende a ser bem maior do que a dos obstáculos. Este texto é um convite para que
80% do tráfego total de internet mobile em 2019 será gerado por vídeos
você, empreendedor(a), avalie a possibilidade de também utilizar vídeos para posicionar o seu negócio no ambiente online. Quer bons motivos? Vamos a eles:
microfone de lapela para melhorar a captação do
• O formato possibilita mostrar os bastido-
áudio, sempre que possível.
res do negócio, para aproximar a empresa do
• Seja o influenciador da sua marca. O cliente
público-alvo. Conte o que acontece quando as
de micro e pequenas empresas quer proximidade
portas estão fechadas ou quando você ainda está
e, para isso, superprodução ou contratação de
preparando algo.
equipes e modelos nem sempre são consideradas
• Apresentar as características e benefícios
soluções ideais para alavancar as vendas. Seus
dos produtos em vídeo fortalece a imagem e a cre-
clientes conhecem você. Converse com eles “olho
dibilidade da empresa. Experimente o que você
no olho”, por meio de vídeos.
vende e demonstre isso na gravação.
• Abuse das possibilidades de usar formatos
• O alcance do formato e a disponibilidade
e elementos criativos para incrementar e valo-
das pessoas em acompanhar conteúdo em vídeo
rizar aspectos dos vídeos. Mas fique de olho no
fazem com que suas chances de atingir novos
feedback dos seus usuários e seguidores. Isso dirá
públicos aumentem e, consequentemente, suas
se você está no caminho certo ou não.
vendas também. • Esclarecer dúvidas por meio de vídeos é mais
Por último, mas não menos importante, sem-
fácil para a empresa (por evitar confusões) e mais
pre sou questionada sobre o melhor equipamen-
atrativo para o consumidor.
to/dispositivo para captar as imagens. Acredito
• Só o vídeo possibilita contar histórias sobre
que a pergunta possa ser respondida conside-
a empresa e seus produtos, para mostrar a evo-
rando-se outro ponto: qual o melhor momento
lução da marca. Evolua! E conte isso na telinha
para produzir um vídeo? Se, no momento opor-
para seus consumidores.
tuno, você tem apenas um celular nas mãos, e o
• Mostrar, em vídeo, o brilho nos olhos
conteúdo a ser compartilhado é exclusivo, atra-
que uma vitória da sua marca proporciona
ente e pode aproximar você das pessoas, esse é o
não tem preço. Divida essa emoção com seus
melhor recurso. Caso haja tempo disponível para
clientes.
planejar a produção, busque equipamentos que
• Mesmo que você não tenha uma equipe, co-
tenham boa captação de áudio e garanta que a
mece a produzir seus próprios vídeos sozinho(a).
iluminação esteja jogando a seu favor! Depois
Use tripés quando precisar das mãos livres e um
disso, (luz, câmera...) ação!
Fonte: Paula Bento de Vasconcelos é analista do Sebrae Minas
www.sebrae/minasgerais
[75]
[CO N S U L TO R I A
VAMOS INOVAR? Um dos pressupostos mais importantes para isso é não se deixar impressionar por clichês DEPOSITPHOTOS
de organização e oferta de produtos e serviços do que, necessariamente, ao uso de tecnologias de última geração. No mundo real, inovar é criar valor para os clientes e, consequentemente, aumentar a rentabilidade, reduzir custos e minimizar os riscos do negócio. Se a empresa define uma estratégia de presença digital que permite aumentar vendas ou melhorar a relação com cliente, gerando fidelização; reestrutura seu layout para aumentar a produtividade ou visibilidade dos produtos; agrega serviços complementares ao portfólio; melhora a embalagem e a identidade do negócio ou implementa iniciativas para evitar
A
desperdício, tudo isso é inovação!!!
primeiro deles é que a inovação
empresa tem que fazer sozinha, escondido a sete
é algo próximo da ficção, acessível apenas a
chaves, para evitar que a concorrência me copie.
cientistas que habitam grandes laboratórios,
Ledo engano! Muito provavelmente aquela ideia
em meio a máquinas ultramodernas e produtos
super original já foi pensada por uma das bilhões
futurísticos, passíveis de serem concebidos
de mentes do planeta Terra. E se há uma boa lição
somente por meio de tecnologias disruptivas
que podemos aprender com o Vale do Silício é a
e, portanto, impenetráveis para meros mortais.
máxima de que uma ideia não vale nada, o que
Nada mais equivocado.
pesa é a capacidade de execução. Logo, o melhor
o pensar em inovar, a maioria das empresas geralmente é tomada por
MAIS OBSTÁCULOS
uma avalanche de estereótipos. O
Outro pressuposto muito comum é: minha
Não há dúvida de que a tecnologia pode
a fazer é colocar a mão na massa, produzir os
tornar um negócio mais competitivo. Mas ela é
protótipos e validá-los com toda a sua rede de
sempre insumo para o processo de inovação – e
relacionamentos para entender como a ideia
não a inovação em si mesma.
poderá ser agregada ao negócio.
Ultimamente, podemos perceber que as
Seguindo a trilha dos obstáculos que nos
inovações mais surpreendentes estão muito
impedem de inovar, temos outra pérola: inovar
mais ligadas ao modelo de negócio e sua forma
custa muito caro. Sim, se a ação não estiver
[76]
ABR | JUN 2019
alinhada ao propósito ou os objetivos não
é suficiente. Como bem nos ensina a Rainha
estiverem suficientemente claros, a empresa pode
Vermelha, “é preciso correr muito para ficar
perder tempo e dinheiro. Mas, como inovação é
no mesmo lugar”. Sabe o que isso quer dizer?
risco, se o resultado esperado não acontece, fica
Até para manter-se onde se encontra é preciso
o processo de aprendizagem.
inovar! As necessidades dos clientes mudam
Uma forma muito eficiente de acertar
rápido, a cada dia surgem produtos e serviços
o alvo é utilizar metodologias ágeis, que
concorrentes ou substitutos. Todos conhecem
aceleram o processo de identificação de
inúmeros negócios que tiveram seu auge,
problemas, ideação, desenvolvimento,
entraram em declínio rapidamente e não existem
validação e as primeiras vendas. Outra é co-
mais. Desenvolver a cultura de inovação no
criar com clientes, fornecedores, instituições
negócio para que ele incorpore a capacidade de
de fomento e universidades e familiarizar-se
reformular-se constantemente, adaptar-se às
com ambientes de geração de negócios. Use e
novas tendências, mitigar ameaças e aproveitar
abuse da diversidade, traga para a sua rede de
as oportunidades que forem surgindo no mercado
conexões pessoas capazes de perceber o mundo
garantirão a longevidade da empresa.
de forma diferente daquele a que a empresa está acostumada. Assim, além de acelerar a correção
SORTE?
de rumos, a construção do seu novo produto,
Por último, mas não menos equivocado, está
serviço ou modelo de atuação será mais assertiva
o mito de que a inovação é centrada em sorte,
e um bônus será adicionado ao negócio –
insights quase transcendentais ou intimamente
parceiros dispostos a atuar como embaixadores
ligados à criatividade e à inspiração. As empresas
e influenciadores da sua iniciativa.
mais admiradas como inovadoras não possuem
Se as grandes organizações, que possuem
um coletivo de gênios, ou seja, “Einsteins” e
uma escala maior de recursos e gente em seus
“Newtons” com a missão exclusiva de pensar e
departamentos de pesquisa e desenvolvimento,
inovar. O que elas têm são gênios coletivos, ou
têm buscado colaboração para inovar, é ainda
seja, um time plural, uma equipe que busca um
mais crucial para o pequeno negócio abraçar
diferencial de sucesso nos negócios e se conectar
essa estratégia.
a diversas fontes de aprendizagem. Há troca com
Também é comum ouvirmos: gosto que
muita disciplina, método e trabalho incansável
meu negócio seja pequeno e meu retorno já
no estabelecimento de rotinas que garantam a sustentação dessa cultura e um processo de produção contínuo de inovação, até que esse jeito de fazer se torne um hábito.
A tecnologia é sempre insumo para o processo de inovação – e não a inovação em si mesma
A palavra inovação carrega em si o termo ação. Então, basta se colocar em movimento para buscar conhecimento, compartilhamento e conexões. Abrir a mente é essencial para que o espaço para a inovação se estabeleça. Fonte: Carla Batista é analista do Sebrae Minas
www.sebrae/minasgerais
[77]
[É BOM SABER
CREDENCIAMENTO PARA O SEBRAETEC Programa deve habilitar cerca de 500 prestadores nas áreas de desenvolvimento tecnológico, produção e qualidade, design e sustentabilidade [C R I S T I N A M O TA ]
[78]
ABR | JUN 2019
O
Sebrae Minas publicou edital de cre-
encerrado. Os interessados deverão passar por
denciamento de prestadores de ser-
quatro etapas: inscrição (cadastro e preenchi-
viços interessados em participar do
mento eletrônico dos formulários), habilita-
programa Sebraetec no estado. Até
ção técnica (entrega e avaliação documental
o ano passado, somente entidades sem fins lucra-
da capacidade técnica) e avaliação documen-
tivos podiam se inscrever mas, a partir de agora,
tal (análise de documentos obrigatórios como
é permitida a participação de empresas privadas.
atos constitutivos e regularidade fiscal), além
A expectativa é de que cerca de 500 prestadores
de treinamento e alinhamento. Os selecionados
se credenciem em até cinco anos. O edital, que
terão um suporte do Sebrae Minas para a opera-
contém normas, orientações, procedimentos, es-
cionalização e gestão do programa.
pecificações, formulários, relação de documentos a serem apresentados e demais informações está
APOIO À INOVAÇÃO
disponível em www.sebrae.com.br/minasgerais.
Criado em 1994, o Sebraetec facilita o acesso
O Sebraetec é um programa nacional do Se-
das Micro e Pequenas Empresas (MPE), Microem-
brae que oferece aos pequenos negócios acesso
preendedores Individuais (MEI) e produtores rurais
subsidiado a consultorias em diversas áreas. Em
a serviços tecnológicos e à inovação para a melhoria
2019, o Sebrae Minas vai arcar com 70% dos recur-
de processos, produtos e serviços. “Com esse su-
sos necessários ao desenvolvimento dos projetos
porte, os pequenos negócios conseguem ampliar
aprovados por meio da iniciativa – os 30% restantes
sua competitividade e se posicionar melhor no
ficarão por conta do empreendedor. A previsão é
mercado. O Sebraetec também permite melhorar
de que mais de 2 mil pequenos negócios em Minas
a qualidade dos produtos, serviços e processos,
Gerais sejam beneficiados até o fim deste ano.
eliminar desperdícios, reduzir custos, aprimorar o design de ambientes, embalagens e produtos, além
QUEM PODE E ETAPAS
de facilitar a adequação a normas e regulamentos,
Os candidatos devem ser pessoas jurídicas,
pré-requisitos que resultam em agregação de valor
com atuação há pelo menos um ano nas áreas
às marcas”, explica a gerente do Sebrae Minas.
requisitadas para prestação de serviço: •Desenvolvimento tecnológico – desenvolvimento de produto e transformação digital • Design de ambiente e de comunicação • Produção e qualidade – mapeamento e melhoria de processos e gestão da qualidade • Sustentabilidade – eficiência energética, gestão da sustentabilidade e resíduos “Para atuar em cada uma dessas áreas, é necessário que tanto a pessoa jurídica quanto o prestador de serviços comprovem sua experiência profissional”, alerta a gerente de Inovação e Competitividade do Sebrae Minas, Lina Volpini.
O edital, que contém normas, orientações, procedimentos, especificações, formulários, relação de documentos a serem apresentados e demais informações está disponível em www.sebrae.com.br/ minasgerais.
O credenciamento não tem data para ser
www.sebrae/minasgerais
[79]
DEPOSITPHOTOS
[É BOM SABER
AGORA É HORA Desde janeiro, pequenos negócios devem utilizar o sistema de informações trabalhistas do governo federal [BRUNO ASSIS]
A
pós alguns anos de preparação, o
a definição de investimentos públicos”, explica
eSocial já é uma realidade para micro
Haroldo Santos, analista do Sebrae Minas.
e pequenos empresários brasileiros.
As dificuldades para a implantação já eram
Desde o início deste ano, optantes
previstas, pois o sistema traz uma nova forma de
pelo Simples Nacional, empregadores pessoa física
pensar o trabalho. Até mesmo por isso, foi preci-
(exceto domésticos), produtores rurais e entidades
so rever os prazos inicialmente previstos. Agora, a
sem fins lucrativos tornaram-se o terceiro grupo a
reta final começa a ser percorrida, embora muitas
utilizar o sistema, cuja implantação completa está
empresas ainda apresentem dúvidas sobre como
prevista para julho de 2020.
proceder. “Ainda há muito desconhecimento so-
Criado em 2013, o eSocial unificou o envio, ao governo federal, de informações relativas aos em-
bre a importância do eSocial e o que deve ser feito. Temos que romper com isso”, observa o analista.
pregados. Por meio do sistema, serão apontados os vínculos trabalhistas, os tipos de contribuições
POR PARTES
previdenciárias, as comunicações de acidentes
A implantação foi estruturada em seis etapas,
de trabalho, dentre outros documentos obriga-
para facilitar a adaptação à nova metodologia. As
tórios. “O eSocial unificou a forma de envio, sem
empresas foram divididas em quatro grupos, de
exigir nada além do que já estava na legislação.
acordo com o porte e o regime tributário adotado.
É um sistema que permite ter uma visão ampla
E as primeiras a aderir ao sistema foram as de maior
do negócio e pode servir de base até mesmo para
faturamento, que correspondem a 13.707 empresas
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e a aproximadamente 15 milhões de pessoas – cerca de 1/3 do total de trabalhadores do país. As micro e pequenas empresas estão enquadradas no Grupo 3, que tem eventos importantes a serem realizados neste semestre. “Em abril, o cadastramento dos dados dos trabalhadores se tornou obrigatório. A complexidade dessa fase varia de acordo com o tamanho da empresa, pois todas as informações precisam estar atualizadas. Se houver divergência, é necessário regularizar junto ao funcionário antes de preencher o sistema”, alerta Haroldo. Em julho, será o momento de enviar as informações relativas à folha de pagamento. Além de lançar os dados dos empregados, essa é a hora de rever as etapas anteriores. Nelas foram informados, por exemplo, os adicionais noturnos, os bônus oferecidos e o percentual do anuênio. Se tudo não estiver
Prazos do eSocial micro e pequenas empresas
Grupo 3
Cadastro do empregador e tabelas
10 de janeiro/2019
Dados dos trabalhadores e seus vínculos com as empresas (eventos não periódicos)
10 de abril/2019
Folha de pagamento
10 de julho/2019
Substituição da GFIP para recolhimento de contribuições previdenciárias
Outubro/2019
Substituição da GRF e da GRRF para recolhimento do FGTS
Outubro/2019
Dados de Saúde e Segurança do Trabalho
Julho/2020
correto, haverá um impacto na folha de pagamento – que pode até mesmo gerar multas. sos com antecedência. E diminui riscos porque é
OBRIGAÇÕES PARA MEI
um sistema único, que o próprio empresário pode
Por ser um sistema dedicado a prestar infor-
controlar, sem depender apenas da contabilidade”,
mações sobre relações trabalhistas, apenas MEIs
acrescenta o analista.
que contratam empregados serão obrigados a uti-
Para o governo federal, os benefícios serão
lizar o eSocial – no caso, o eSocial Web Simplifi-
sentidos, principalmente, no momento da fisca-
cado MEI. A versão é descomplicada e automatiza
lização. Da forma como o procedimento é feito
questões relativas aos cálculos e aos pagamentos
atualmente, é impossível que todos os dados se-
dos tributos e dos encargos trabalhistas.
jam analisados. Com o eSocial, a história é outra:
Vale lembrar, contudo, que o envio das informações desse tipo está atrasado. A previsão
o governo terá condição de identificar rapidamente os pontos discrepantes.
é de que, até julho, o governo comece a exigir o
Esse também é o maior ganho para o trabalha-
cadastro do microempreendedor e do funcioná-
dor. Com a necessidade de a empresa enviar todos
rio, além da folha de pagamento.
os dados relativos à contratação, ele tem a garantia de que os direitos trabalhistas serão respeitados. “O
VANTAGENS PARA TODOS
eSocial é um caminho sem volta. A modernização
Todo o processo de implantação do sistema
torna as coisas mais profissionais, substituindo um
tem um único propósito: facilitar a vida das em-
modelo amador de gestão que muitas empresas
presas. “O eSocial obriga os empregadores a pen-
ainda praticam. É mais uma importante etapa para
sar de forma estratégica e a planejar todos os pas-
a profissionalização”, conclui Haroldo.
www.sebrae/minasgerais
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[ N O TA S
Mudanças na divisão regional do Sebrae Minas Em fevereiro, o Sebrae Minas anunciou mudanças em sua divisão administrativa no estado: as microrregiões de Patos de Minas e Patrocínio foram remanejadas da Regional Triângulo e Alto Paranaíba, passando a compor a Regional Noroeste e Alto Paranaíba. Segundo o gerente de Inteligência Empresarial do Sebrae Minas, Felipe Brandão, o ajuste segue a lógica de reunir, em uma mesma regional, territórios que abrangem setores produtivos com mais afinidade. “O Noroeste é um território que tem a agricultura como grande força, e a atividade é também forte no Alto Paranaíba”. Brandão destaca que o objetivo é, ainda, a melhoria contínua do atendimento, com mais equilíbrio entre demandas para os escritórios regionais.
Mais acesso ao crédito pelos pequenos negócios
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O Governo Federal sancionou, em abril,
O objetivo com a criação da ESC é ofere-
a Lei que cria a Empresa Simples de Crédito
cer aos microempreendedores individuais e
(ESC). A medida pode injetar R$ 20 bilhões,
às micro e pequenas empresas uma alterna-
por ano, em novos recursos para os peque-
tiva de crédito de fácil acesso e mais barata
nos negócios no Brasil. Isso representa um
– a taxa de juros média para os pequenos
crescimento de 10% no mercado de con-
negócios atualmente é de 44% ao ano, quase
cessão de crédito para as micro e pequenas
o dobro da praticada para outras modalida-
empresas (MPE), que, em 2018, chegou ao
des de pessoa jurídica. Com sua efetivação,
montante de R$ 208 bilhões. De acordo
a tendência é que seja ampliada a compe-
com estimativa do Sebrae, o resultado deve
tição com os bancos, assim como a oferta
ser alcançado no momento em que as pri-
de financiamento em locais onde as grandes
meiras 1 mil ESC entrarem em atividade.
instituições bancárias não atuam.
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