Curiosidades Históricas de Maringá

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2017


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Projeto com 3 objetivos Nada mais oportuno falar da história de Maringá no ano que a cidade completa 70 anos de fundação. Se bem que, pelo menos 11 anos antes do 10 de maio de 1947, já podemos falar de Maringá, em seu estágio primordial. Os textos que aparecerão nesse espaço, perseguirão três objetivos. O primeiro é o de divulgar as informações históricas sobre a trajetória espaço-temporal de Maringá nas 9 décadas de sua existência (1936 – 2017), primando pelos aspectos inusitados, mas nem por isso menos interessantes e relevantes. Essa característica conecta-se com o segundo objetivo, que é de provocar e instigar os pesquisadores, sejam acadêmicos ou não, a investigarem novos objetos, problemáticas e abordagens, já que os assuntos escolhidos terão essa marca, o insólito, entretanto, ainda carentes de aprofundamento para o seu entendimento.

A terceira meta se localiza na divulgação dos trabalhos de coleta, acondicionamento e difusão de documentos, executados pela Gerência de Patrimônio Histórico. A ideia é mostrar que o setor público municipal é passagem obrigatória aos envolvidos na atividade de pesquisa histórica acerca de Maringá, independente do tema eleito. As modalidades que estarão presentes nos artigos serão as seguintes: personalidades, lugares, instituições, práticas, eventos, objetos, ideias e lendas. Talvez surja outra categoria diferente, pois as possibilidades da cobertura histórica de Maringá são praticamente ilimitadas, mas acreditamos que os itens contemplados anteriormente representam muito bem as diversas dimensões de análise da história de Maringá. Concluindo, esperamos que as ideias expostas nos textos semanais, contribuam para uma compreensão mais criativa e imaginativa sobre uma cidade dotada de história altamente complexa e sofisticada, fugindo aos lugares e sensos comuns existentes sobre ela. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


O maringaense e Camboriú: um caso de amor.

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Quando se pretende estudar o comportamento social de um povo num lugar, um dos caminhos possíveis é o apontamento de seus costumes, bem como qual classe social estamos nos referindo, caso contrário, corremos o risco de transmitirmos a ideia de que o hábito em questão pertence à totalidade doas habitantes do local em foco. Desde a década de 1950, a elite maringaense vem frequentando as praias de Balneário Camboriú, município litorâneo catarinense localizado a mais de 600km de Maringá. Acreditava-se até pouco tempo atrás, que esse movimento migratório veranista tinha começado nos anos 1970. Ledo engano. Na verdade, no decênio setentista iniciou o processo de popularização do deslocamento de maringaenses para essa parte do litoral 'barriga verde'. As excursões coletivas realizadas por meio de ônibus massificaram a viagem, transformando a prática num verdadeiro objeto de desejo de praticamente todos os estratos sociais de Maringá, concentrado principalmente no período denominado de “alta temporada”, que vai de novembro a fevereiro. É óbvio que, ao longo de sua trajetória histórica, a população de Maringá escolheu como destino de vilegiatura marinha outras praias brasileiras, tais como as do litoral paulista (Guarujá, Ubatuba, São Sebastião, Caraguatatuba, entre outras), as do Paraná (Caiobá, Matinhos, Guaratuba, Praia de Leste, Ilha do Mel e etc…). Porém, nenhuma opção se compara tanto quantitativamente, quanto qualitativamente, com Camboriú. Cremos que a busca do entendimento desse fenômeno social deve ser procurada nos instrumentais de investigação fornecidos pela história cultural e pela história das mentalidades. No prefácio de seu livro “O Território do Vazio – A Praia e o Imaginário Ocidental”, o historiador francês Alain Corbin, diz o seguinte: “Os especialistas em história cultural sabem hoje como estudar as instituições, os objetos, as práticas, mais não ousam abordar os dispositivos afetivos cujo simples conhecimento conferiria um sentido às suas pacientes e frutuosas pesquisas.” Levando em consideração o que o autor francês quis dizer, quem se debruçar sobre essa problemática, a de tentar desvendar os inúmeros motivos que levaram historicamente os maringaenses a eleger o Balneário Camboriú como seu ponto de recreio favorito, vai se defrontar com tema por demais interessante. Terá que necessariamente enveredar pelos caminhos decifradores dos sentimentos, emoções, prazeres e desejos, e não ficar somente nos campos do saber tradicionalmente consagrados, como a economia, a política e o social. O pesquisador, seja ele historiador ou não, terá que lançar mão desbragadamente da história oral, dos jornais impressos, principalmente analisando as colunas sociais, e se possível, se deslocar para a cidade do litoral centro-norte de Santa Catarina, a fim de identificar o que tanto atrai os norte paranaenses de Maringá. Enfim, fica a dica para quem pensa em desenvolver uma pesquisa original e significativa, seja em âmbito acadêmico ou não. Afinal, a informação histórica não tem fronteiras. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


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A agroindústria em Maringá: advento e extinção

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Sabemos que a história de Maringá tem forte vínculo com o mundo rural. Afinal, a repartição das terras em chácaras, sítios e fazendas em seus primórdios, atesta para isso. Mesmo depois, quando a zona urbana encontrou-se devidamente instalada, o campo insistia em se fazer presente, tanto no plano material quanto no imaginário da população. No interior da lógica agrária, Maringá ocupava e ainda ocupa um lugar de centralidade no plano regional, espécie de capital da região noroeste do Paraná. A situação geográfica e econômica faz com que a cidade seja referência em vários setores. Um setor dinâmico, responsável por movimentar parte significativa da vida socioeconômica de Maringá, nas décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980, foi o da agroindústria. Empresas como Germani, Norpa, Conti óleos, Nata, Neva, Sanbra, Volkart, Anderson Clayton, Willie Dixon, Irmãos Esteves , Cocamar, Trigomil, entre outras, criaram um mundo a parte em Maringá. Elas ocupavam grandes extensões de terrenos com as instalações, empregavam milhares de trabalhadores, processavam diversas culturas agrícolas tais como soja, algodão, trigo, milho, amendoim e etc... Algumas organizações eram compostas por capital local, montadas por empresários do município, mas grande maioria constituía-se de investimentos forâneos, inclusive de estrangeiros. Além disso, o mercado maringaense era inundado com produtos alimentícios (óleo, margarina, macarrão, polenta, e etc...) oriundos dessas fábricas. O estudo da origem, desenvolvimento e declínio, resultando no fechamento dessas instituições privadas, é de vital importância para a compreensão de significativo segmento da economia maringaense, pois os estabelecimentos em foco possuíam conotações sociais, culturais, econômicas, esportivas e muito mais. Quem se dedicar ao assunto, seja trabalhando com uma empresa, ou o conjunto delas, encontrará na história oral e jornais impressos, somados às fotografias de época, um fértil manancial de dados e informações. Vale a pena pesquisar, pois a agroindústria é marca das mais intensas na história de Maringá, e sua extinção é tão curiosa quanto seu advento. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Joubert de Carvalho: personagem histórica mais homenageada

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De longe, a personalidade histórica mais homenageada em locais públicos e privados em Maringá é o compositor e médico mineiro Joubert de Carvalho. Procurar saber como isso aconteceu e o que significa para a cidade é muito importante. Porém, o que mais importa é tentar saber qual o uso ou usos que a sociedade maringaense faz desse nome da Música Popular Brasileira (MPB) em seu cotidiano dentro do espaço urbano local, e também no imaginário coletivo. Para início de conversa, o músico empresta o nome de sua criação artística para a emergente localidade situada no norte do Paraná, em 1936. Primeiro, batizou-se o ribeirão Maringá, e em seguida imprimiu-se a denominação ao patrimônio. Passados 17 anos desse batismo territorial, em 1956, o primeiro prefeito municipal de Maringá (Inocente Villanova Júnior) determina o nome de Joubert de Carvalho para a banda musical do município. É a segunda deferência ao compositor. Em 1958 teve lugar talvez o maior tributo prestado por Maringá ao músico mineiro. De autoria do vereador Alceu Hauare, por intermédio da lei n°110/58, a rua Bandeirantes passou a se chamar rua Joubert de Carvalho. Com a presença do homenageado, em abril de 1959 realizou-se a solenidade pública de nomeação da via urbana. Inclusive, o ato foi materializado com a instalação de uma placa de bronze na parede do prédio da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), contendo a seguinte inscrição: “Rua Joubert de Carvalho – Compositor da música que deu o nome à cidade”. Ao chegar o ano de 1962 mais um ato de reverência é prestado. Por meio do chefe da administração pública municipal, Antenor Sanches, é criada a alcunha “Cidade Canção”, denominação em que será doravante conhecida a cidade de Maringá. É uma das iniciativas mais exitosas na história de Maringá, sendo a expressão de uso geral e corrente. O próximo laurel direcionado ao compositor da canção Maringá foi o título de cidadão honorário dado pela Câmara Municipal de Maringá, através da lei n°144/70, do vereador Antenor Sanches. E, na esteira dessa saudação, em 1972 é inaugurado o busto de Joubert de Carvalho na praça Raposo Tavares, contando com a participação do mesmo, sendo famosa a fotografia do evento, registrando o descerramento do monumento, mostrando o músico e o prefeito Adriano Valente. Por essa época, o prefeito Adriano nomeia o bardo das alterosas como embaixador de Maringá no Estado da Guanabara. Todas as ações de reverência a Joubert de Carvalho até agora relatadas são de iniciativa do poder público. Entretanto, nos anos 1980, dois empreendimentos imobiliários de direito privado louvarão o referido ilustre. Em 1982, na avenida Herval, esquina com a avenida XV de Novembro, um edifício comercial e residencial recebe a famosa denominação, enquanto em 1987, na rua Joubert de Carvalho, é erigido um centro empresarial com tal designação. Em 1990, como sinal de veneração ao médico mineiro, a prefeitura de Maringá comprou da família do músico o piano Steinway, de propriedade do artista. Inclusive, teria sido nesse instrumento que Joubert compôs a canção Maringá. Logo em seguida, em 1991, o auditório da biblioteca municipal foi denominado de Sala Joubert de Carvalho. Mais uma deferência prestada a ele. Foi nesse contexto que a prefeitura municipal tentou adquirir os direitos autorais da canção Maringá, porém, a editora Vitale não aceitou negociar. Um outro sinal de respeito e admiração pelo músico ocorreu em 1998, quando uma exposição do piano, de fotografias e de uma réplica de gesso do busto do compositor foi organizada no Teatro Calil Haddad, permanecendo durante três meses em cartaz. Nesse breve texto dá para perceber o quanto Joubert de Carvalho é incensado em Maringá. Se somarmos todas essas honrarias prestadas pelo município, mais as presenças do citado na cidade, que são no mínimo dez vezes, teremos a dimensão da importância dele para Maringá. Não podemos falar da história de Maringá sem nos remetermos a esse nome. Portanto, acredito que estudos mais profundos, pesquisas mais abrangentes sobre este tema, em muito ajudaria a entender a formação e o desenvolvimento da identidade de Maringá, que sem dúvida nenhuma passa pelo médico e compositor Joubert de Carvalho. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Prefeitura: a mais importante instituição maringaense

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Maringá é dotada de várias organizações que se formaram ao longo de sua história, todas possuidoras de grande importância para a formação e desenvolvimento do município. No campo privado podemos citar a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), a Usina Santa Terezinha, a Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim), entre outras. Na área pública temos a Câmara de Vereadores, o Poder Judiciário, a Universidade Estadual de Maringá (UEM)... No setor religioso, contamos com a igreja católica, as denominações protestantes e aquelas de orientação espírita. Entretanto, existe uma instituição que lidera em grau de relevância às demais citadas anteriormente. Estamos nos referindo à Prefeitura Municipal. Desde que ela surgiu, em 1952, quando o primeiro prefeito municipal tomou posse, seu poder já se fez notar, por meio de promulgação de leis que afetavam a vida de toda a sociedade, como por exemplo a criação do código de posturas, o lançamento de impostos, taxas e demais tributos municipais, a elaboração do orçamento municipal para 1953, e outras ações legais. Apesar de ocupar um espaço físico modesto, a ponto do escritor e jornalista Ary de Lima chamá-lo de “curral velho”, a prefeitura agregava poderes monumentais, investidos de indiscutível legalidade constitucional. Ficou marcado na história local o conflito envolvendo o poder público municipal e a CMNP, tendo como pomo de discórdia a cobrança de impostos territoriais. A medida que o tempo foi passando, a Prefeitura de Maringá encorpou-se, impulsionada pelo crescimento econômico e social da cidade. Ganhou nova sede administrativa (paço municipal) e espraiou seus tentáculos físicos a todas as latitudes do município, chegando aos dias atuais com presença de mais de 500 pontos materiais, tanto no ambiente urbano quanto no rural. Por ponto material ou próprios públicos, entendase postos de saúde, escolas, creches, teatros, bibliotecas e outras edificações. No meio dessas centenas de representações materiais no interior das fronteiras municipais, destaca-se a expressividade visual e cultural de 10 equipamentos públicos, que denominamos “As Jóias da Coroa”, sendo as seguintes: Teatro Calil Haddad, Vila Olímpica, Cemitério Municipal, Parque de Exposições, Paço Municipal, Parque do Ingá, Parque Alfredo Nyffeller, Bosque 2, Estação Rodoviária e Aeroporto. Esses lugares têm vida própria, quer dizer, são detentores de complexidade específica, cada qual com suas características peculiares, demonstrando o quanto é heterogêneo a Prefeitura Municipal, pois todos estão subordinados a ela. Nenhuma organização em Maringá administra tantos bens desse jeito. Atualmente, o poder público municipal conta com pouco mais de 12.000 servidores para tocar essa gigantesca máquina, e a questão humana é um capítulo a parte dessa fantástica história, que está completando em 2017, 65 anos de existência. Fica a sugestão para quem estiver disposto a realizar portentosa empreitada, a de pesquisar a origem, crescimento e transformação da maior entidade organizativa de Maringá. Desde já, informamos que há muita documentação sobre o objeto, basta ter disposição e força de vontade, pois o tema é interessantíssimo. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Um parque de vários significados

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Concebido originalmente como reserva de mata nativa dentro do plano urbanístico de Maringá, em 1945, o conhecido bosque tornou-se parque em 1971, na gestão do prefeito Adriano Valente. Nas palavras do próprio prefeito em entrevista concedida ao Patrimônio Histórico em 1993, a ideia norteadora dessa transformação foi a de oferecer ao povo carente de Maringá uma opção de lazer e entretenimento, pois eles não podiam frequentar clubes sociais, motivados pela falta de recursos financeiros para bancar o título de sócio e as mensalidades da instituição. Esse lado social quanto ao seu advento é apenas um dos vários aspectos presentes na história do Parque do Ingá, local dos mais importantes na estrutura urbana de Maringá. Nos quase 50 anos de existência, o espaço produziu inúmeros significados, não limitando-se apenas ao ecológico e ambiental, vocações naturais e intrínsecas quando se pensa no lugar. O alcance do Parque do Ingá vai muito além, ocupando áreas do conhecimento como turismo, esporte, paisagismo, religião, história, segurança, urbanismo e educação, sem contar o território afetivo-emocional que contagia pelo menos três gerações de maringaenses. Reforçando o citado anteriormente, quem se aventurar em pesquisar o percurso histórico do fragmento de vegetação situado no perímetro urbano de Maringá, deve atentar para dois eventos em sua fase pré-parque. Primeiramente, a utilização da nascente do córrego Moscados, localizado em seu interior, pelas mulheres lavadeiras de roupas, moradoras em sua maioria na Vila Operária. No imaginário popular ficaram intituladas de “Lavadeiras do Ingá”. O outro episódio vem a ser o incêndio de grandes proporções ocorrido em 1963, e que somado à retirada ilegal de madeira da reserva, serviram de inspiração para criação do futuro parque urbano. Como se vê, há muita matéria a ser investigada, e, entrando no período de formação e montagem do refúgio ambiental, podemos mencionar a construção do lago-represa e do minizoológico, dois elementos identitários que fizeram a alegria de muita gente. Para finalizar, devemos dizer que ainda falta um estudo profundo e abrangente desse lugar-monumento de 473. 300 m², que juntamente com a Catedral Nossa Senhora da Glória, são os emblemas mais difundidos de Maringá pelo mundo afora. Lembramos a existência de múltiplas fontes de pesquisa sobre o Parque do Ingá, como por exemplo, fotografias, jornais, livros, revistas e depoimentos orais, mas antes de tudo, o próprio parque, constituindo-se tanto em sujeito como objeto. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


A Agitação de uma Avenida

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Nos vários tempos históricos de Maringá, muitas ruas e avenidas se notabilizaram por reunir expressiva quantidade de pessoas atrás de diversão, lazer e entretenimento, mormente a parcela jovem da população. Podemos citar a avenida Getúlio Vargas nas décadas de 1950 e 1960, onde, alavancada pelas presenças do Cine Maringá, dos bares Colúmbia e Cinelândia e da Padaria Copacabana, concentrava expressiva massa humana nos fins de semana, convertendo-se em referência na cidade quando o assunto era descontração. Porém, em se tratando de concentração demográfica por metro quadrado em sentido linear, nada é comparável em toda a história da cidade de Maringá, até agora pelo menos, com a avenida Herval, durante o final dos anos 1970, todo o decênio de 1980, até o início da década de 1990. São aproximadamente 20 anos de supremacia absoluta. Por toda a semana, mas principalmente às sextas-feiras, sábados e domingos, a partir das 18 horas, até a madrugada, as cinco quadras da avenida Herval, começando na avenida Tiradentes até alcançar a avenida Brasil, tornavam-se intransitáveis. Eram 500 metros dotados de bares (Chaplin's, Chopódromo, Calvados e Travessia), boates (Manhattan e Degraus), casa de jogos eletrônicos (Fliperama), sorveterias (Espucreme e Sem Nome) e lanchonetes (Kikão e Itararé). Embalados pelos estabelecimentos, as pessoas se aglomeravam sentadas ou em pé para beber, conversar, paquerar, enfim, se relacionarem. Esse foi sem dúvida alguma, um dos maiores exemplos de convivência social da cidade. Detectar a origem, o desenvolvimento e o declínio desse fenômeno de massa, pode ser interessante objeto de pesquisa, adentrando os terrenos da história, da sociologia e antropologia urbana e também do urbanismo. Como dica, vale lembrar que nas décadas de 1950 e 1960, a avenida Herval sediava a Rádio Cultura, com seu magistral e lendário auditório, por onde passou incontáveis nomes da música sertaneja brasileira. As apresentações eram acompanhadas de grande público, tanto do lado de dentro quanto do lado de fora, lotando de gente as imediações da emissora. Pode estar ai quem sabe o embrião da multidão que marcou a história desta seminal avenida de Maringá, pois, juntamente com a rádio, havia as padarias Herval e Suíssa, também pontos receptores e mobilizadores de público. Convém salientar que, o esvaziamento da população frequentadora desta artéria inicia-se no alvorecer dos anos 1990, deslocando-se para a avenida Tiradentes, mas isso já é outra história. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Incêndios marcam História de Maringá

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Uma história exitosa e complexa como a de Maringá, não é feita somente de episódios alegres e idílicos, muito pelo contrário, sua trajetória é marcada por eventos trágicos e tristes. São exemplos claros desses sentimentos as edificações, objetos e lugares vitimados pela força destruidora do fogo, elemento tão útil para o homem, mas que pode revelar-se inimigo implacável. Desde a década de 1940 os incêndios fizeram-se presentes na Maringá urbana. Citemos os casos do Cine Primor e da Escola Isolada do Maringá Velho, ambos consumidos pelas chamas. É oportuno rememorar que os trabalhadores do campo faziam uso do fogo ao preparar o terreno para o plantio das culturas agrícolas, e algumas vezes a prática colocava em risco a zona urbana, haja vista a distância ser miníma. Tem ainda o fato das construções serem de madeira, material altamente inflamável. Em 1956, ficou célebre o ateamento de fogo à casa do senhor Aníbal Goulart, provocado por massa humana enfurecida em represália a agressão sofrida pelo prefeito Américo Ferraz, mandada por Aníbal. No ano seguinte, assistiu-se a queda do avião da Força Aérea Brasileira, no centro da cidade, que ao cair, incendiou-se e explodiu. A aeronave exibia-se por conta das comemorações dos 10 anos de Maringá. No ano de 1963 foi a vez do bosque, futuro Parque do Ingá, arder no fogaréu. Alguns dizem que foi proposital, outros afirmam que foi em decorrência da geada do ano anterior, deixando a mata extremamente seca, portanto, suscetível à queimadas. No natal de 1969 as labaredas devoraram a igreja Santo Antônio, um dos templos de madeira mais bonitos da cidade. Em meados dos anos 1970 ocorreu o incêndio e o posterior desabamento do teto do Supermercado Superbom, localizado no antigo terreno do Aeroclube. Ao final da década aconteceu da Boate Senzala ser engolida pelas chamas, não sobrando nada. A empresa atacadista “Casas Alô Brasil” ficou reduzida a cinzas em 1984, depois de um incêndio de grandes proporções, talvez o maior da história de Maringá. Até o mais alto edifício residencial da cidade, o “Royal Garden”, em fase de construção, sofreu nessa década um princípio de incêndio, comprometendo alguns andares na parte superior. Esse pequeno apanhado histórico, e existem vários outros casos à espera de identificação e pesquisa, mostra o quanto esse assunto é palpitante, mas também desconhecido e esquecido. Além dos aspectos humanos e econômicos das tragédias, os sinistros demonstram a indomável vontade do homem de ressurgir, de se erguer das cinzas, de se curar e de aprender, mesmo diante de uma catástrofe com consequências indescritíveis, e nesse ponto Maringá confere lições. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


A Força do Comércio Atacadista

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Em meio ao nascimento da economia urbana maringaense nas décadas de 1940 e 1950, registra-se o surgimento de uma atividade mercantil que notabilizou a cidade por muitas décadas a nível nacional. Referimo-nos ao comércio atacadista, que tem na empresa “Dias Martins”, estabelecida no início dos anos 1950, na avenida Paraná, o seu ponto de partida. A partir desse marco fundador, outras firmas entraram na cidade, transformando Maringá numa espécie de centro distribuidor de secos e molhados para boa parte do Brasil. Os estabelecimentos principais do segmento foram os seguintes: Dias Martins, Casas Alô Brasil, J. Veríssimo, F. Monteiro, Casa Vila Real, Importadora São Marcos, Casa Moreira, Parizotto e Atacadão. A princípio, duas características chamam atenção nas instituições anteriormente mencionadas. Primeiro, a maioria situava-se nas zonas 1 e 7. Segundo, praticamente todas são de propriedade de portugueses ou descendentes, demonstrando a hegemonia da nacionalidade lusitana no setor em questão. A modalidade comercial em tela empregava expressiva quantidade de mão de obra, indo desde pessoal administrativo e operacional, até os vendedores internos e externos, motoristas e entregadores dos produtos negociados e estocados em gigantescos armazéns de depósito. Em larga medida, durante 50 anos (décadas de 1950, 1960, 1970, 1980 e 1990), os atacadistas foram responsáveis por maciça divulgação de Maringá pelo Brasil afora, pois, somadas todas as empresas, mais de 600 caminhões com placas da cidade saíam todas as semanas para entregar as mercadorias em cinco estados do país (Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina). O impacto social, econômico, político e cultural das companhias citadas, ainda não foi avaliado por nenhum trabalho analítico ou mesmo descritivo. Para se ter a ideia do poder do tema, basta apontar que Maringá na década de 1980, foi considerada o segundo pólo atacadista do Brasil, estando atrás somente da cidade de São Paulo. Esses nomes empresariais deixaram marcas indeléveis na memória do maringaense. Há cerca de vinte e poucos anos eles desapareceram enquanto empresas, entretanto, seu valor histórico permanece e sua importância econômica permanece também. E se hoje em dia Maringá é conhecida bem além dos seus limites territoriais, deve em larga medida a eles. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Américo Dias Ferraz: prefeito menosprezado

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É comum, nas avaliações sobre o desempenho dos prefeitos municipais de Maringá, classificar a gestão do administrador Américo Dias Ferraz (1956-1960) como a pior delas, ou entre as mais fracas. Deve-se dizer, para o bem da verdade histórica, que tal afirmação não corresponde a realidade dos fatos. Ao contrário dos que advogam a tese do caos total, o governo Américo Dias foi responsável pela criação e desenvolvimento de inúmeras iniciativas valiosíssimas para a cidade na década de 1950. Podemos citar o princípio da pavimentação asfáltica, a construção de várias escolas, a criação da Biblioteca Municipal, o apoio material e financeiro para o 1° Festival do Cinema Nacional de Maringá, a aprovação da lei e destacamento do terreno para a edificação da 3° rodoviária de Maringá, a promulgação dos códigos tributários e de postura do município, entre outros projetos de interesse público. A imagem negativa forjada em torno do gestor público mineiro provém de suas posições firmes e convictas que, colidiram com interesses de parcelas significativas das classes dominantes locais, a despeito do próprio ser um dos homens mais ricos de Maringá nessa época. Suas indisposições sistemáticas com a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) contribuíram para formar a ideia de incompetência e inabilidade administrativa. Somado a tudo isso, tem ainda sua origem humilde e falta de intimidade com a língua portuguesa. Nesse caso, percebe-se um nítido preconceito social. É impressionante como a maioria dos trabalhos históricos sobre Maringá desabona sua conduta como prefeito. Até parece que há uma orquestração deliberada em diminuir ou detonar completamente sua trajetória politica. Quando não o detratam explicitamente, ressaltam os aspectos folclóricos e jocosos, não creditando mérito algum ao seu trabalho. Existe um vasto campo de estudos sobre a gestão Américo Dias Ferraz, onde muitas questões permanecem numa espécie de “zona cinzenta”. Ou se ainda preferir, pode-se desenvolver pesquisas para tentar compreender os motivos que levaram boa parte dos escritores da história maringaense a macular a reputação do politico das Minas Gerais. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Fazendas de Maringá na sombra da história

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Proporcionalmente à sua enorme dimensão física, existe um vazio historiográfico em Maringá quando o assunto é mundo rural. Apesar da história maringaense nascer no espaço campestre, as abordagens sobre seu surgimento e desenvolvimento continuam escassas, para não dizer praticamente inexistentes. Poucos estudos elegeram o campo como objeto de preocupação, dando a impressão de algo sem importância. É lamentável esse tipo de comportamento, pois, ao deixar de lado o complexo universo agrário, deixa-se de compreender o setor vital que gerou o município de Maringá, com todas as implicações econômicas, sociais, políticas e culturais inerentes à sua estrutura de composição. Só para termos ínfima noção do resultado da ausência de pesquisas sobre o universo rural maringaense, produziu-se ao longo do tempo a imagem de que Maringá na sua fase de formação, somente possuiu propriedades agrícolas de pequeno e médio porte, ou seja, chácaras e sítios. Grandes extensões de terras, as chamadas fazendas, só existiam algumas unidades. Na verdade, a história não é bem assim. Segundo números fornecidos pelos arquivos da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), de 1938 à 1973 foram comercializadas no território maringaense 36 grandes propriedades. Essas fazendas tinham no mínimo 100 alqueires. É bom frisar que, esses latifúndios somados não ultrapassavam 5% do total da área rural de Maringá, demonstrando que a parte esmagadora desse mundo era composta de pequenas e médias propriedades. O que interessa nesse texto é evidenciar que o desprezo por essa dimensão da história local, passou essas fazendas à condição de “objetos invisíveis”, como se jamais tivessem existido, não possuindo portanto a cidadania e o estatuto histórico. Nomes tais como Fazenda São Bonifácio, Fazenda Maringá, Fazenda Santa Lina, Fazenda Carlos Borges e Fazenda Diamante, são denominações conhecidas, familiares, haja vista a ocorrência nesses lugares de eventos conhecidos na história narrativa de Maringá. Mas o que dizer de instituições fundiárias como Fazenda Santa Helena, Fazenda Montenegro, Fazenda Vitória, Fazenda Marajó, Fazenda Petralha, entre outras, que não se sabe quase nada a respeito de seus funcionamentos. O elemento fazendário é apenas um aspecto no interior do conjunto maior batizado de “História Rural de Maringá”, capítulo este que encontra-se a espera de pesquisadores e estudiosos dispostos a revelarem mais essa dimensão oculta da nossa história. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Napoleão Moreira da Silva: Uma praça no coração da cidade

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As praças revelam-se elementos urbanos dos mais relevantes dentro da paisagem citadina. Na cidade de Maringá, diversas praças ocuparam papel de destaque nos seus tempos históricos, uma delas vem a ser a praça Napoleão Moreira da Silva, localizada na área central. Várias histórias marcantes ocorreram nesta praça, bem como no seu entorno. Esses acontecimentos fazem parte do acervo de eventos constituintes da formação e desenvolvimento de um dos logradouros públicos mais importantes de Maringá. Quando a Prefeitura de Mandaguari construiu a estação rodoviária no centro da sede do distrito de Maringá, em 1948, ela não estava apenas investindo em equipamento público de primeira necessidade, mas também contrariava os planos da Companhia de Terras Norte do Paraná (CNTP), que jamais imaginou ter numa quadra central do plano urbanístico um local de embarque e desembarque de passageiros de ônibus. Para compensar a contrariedade, a empresa colonizadora destinou uma parte da “Praça da Rodoviária” para o plantio do bosque das essências, espécie de reserva de espécimes vegetais que ela julgava serem importantes para a posteridade, além de representar um sinal de posse. O projeto foi executado, mas não durou muito, sendo as árvores arrancadas pela administração Américo Dias Ferraz em 1958, depois de desavença com a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP - em 1951 a empresa mudou de nome). O próprio Américo protagonizou, antes do ecocídio, outra passagem inesquecível tendo a praça como testemunha. Recém-eleito prefeito de Maringá (1956), foi espancado na Barbearia Líder (rua General Câmara- atual Basílio Sautchuk) a mando de Aníbal Goulart. Em 1957, a Praça da Rodoviária, também conhecida como praça dos carroceiros, em função do ponto de carroças situado no seu interior, teve sua denominação alterada. Passou a se chamar Napoleão Moreira da Silva, por conta da homenagem prestada pelo poder público ao antigo vereador e comerciante, morto em acidente aéreo no mesmo ano. Além do nome, a praça recebe o busto do político e pioneiro, constituindo-se no primeiro monumento da imaginária urbana erigido na cidade e posto em local público. É bom lembrarmos que a praça na década de 1950 não é urbanizada, nem mesmo pavimentada, encontrando-se em estado terral. Nessa época utilizava-se o espaço para a realização de comícios, modalidade de campanha política praticada inicialmente nesse lugar em Maringá. Constata-se ainda nesse período a existência de ponto de táxi no logradouro, bem como a presença itinerante de parques de diversões. Com a transferência da estação rodoviária para a praça em frente a estação ferroviária (praça Raposo Tavares), a CMNP resolve, em 1962, urbanizar a Napoleão Moreira da Silva. Para isso, contrata os serviços do arquiteto paulistano José Augusto Bellucci, responsável pelo projeto dotado de formas geométricas abstratas. O centro da praça é elevado em 60 cm, como se fosse uma ilha, possibilitando aos usuários que ali sentassem, observar as ruas com a mesma perspectiva de altura em relação as pessoas que por ali caminhavam. Concluída a obra, a CMNP doa o espaço público para a Prefeitura Municipal de Maringá, concretizada em ato solene. O acontecimento em si é bem estranho, pois, acreditava-se que a praça já pertencia ao município. Data desse instante histórico o plantio da seringueira, localizada no canto entre a rua Santos Dumont e a rua General Câmara. Durante muitos anos essa árvore foi símbolo da praça, sendo erradicada em 2012. Ainda na década de 1960, a praça também é conhecida popularmente como praça da Pernambucana, em alusão ao estabelecimento fixado na esquina das avenidas Brasil e Duque de Caxias. Essa referência nominal sobrevive até os dias atuais. Em 1969, é instalada na praça a Unidade Satélite de Ação à Pré-Escola (Usape). A instituição era uma escola infantil componente do projeto educacional criado pelo prefeito Adriano Valente. No ano de 1979 a escola é retirada, dando lugar a um parquinho infantil. Em 1972, a rua General Câmara passa a se chamar rua Basílio Sautchuk. Em meados dos anos 1970, a praça recebe vários pontos de ônibus, transformando-se numa espécie de terminal urbano de transporte coletivo. Essa situação perdurou até o início da década de 1990, quando se inaugurou o terminal da avenida Tamandaré. A casa do Papai Noel é outro elemento acrescido no logradouro, ocorrendo em 1996. Desde então, a estrutura é montada e desmontada de acordo com a temporada natalina. Esse breve percurso histórico cronológico, mostra a riqueza de informações e dinamismo que cerca esse local público. Certamente, pesquisas aprofundadas podem descobrir novos dados, enriquecendo dessa forma o entendimento deste lugar icônico de Maringá. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


A real origem da 1ª instituição de ensino de maringá

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A história conhecida e popularizada de Maringá está repleta de equívocos e pontos cegos. Esse fenômeno deve-se principalmente ao fio condutor produzido pelos relatos disponíveis até agora, onde pratica-se uma apologia incondicional em relação à figura do pioneiro. Como se esse personagem fosse responsável único pela construção e desenvolvimento de Maringá. Personalizar a narrativa histórica de uma cidade, é antes de tudo reduzir o rico universo existente numa área de colonização recente. Ao atribuir os feitos exclusivamente aos desbravadores, negligenciase outros agentes participantes do processo, caindo num positivismo rastaquera e empobrecedor. Dentro dessa lógica, o capítulo dedicado a gênese da educação maringaense contém certas incorreções não mais toleráveis nos dias atuais. Sob a luz de documentações orais e escritas, observa-se a emergência de informações contrastantes àquelas consagradas na historiografia tradicional sobre Maringá. Não interessa nesse texto identificar se as omissões são deliberadas ou não pelos elementos difusores, ficando a discussão para os pesquisadores do tema. O mais importante nesse momento é restabelecer a realidade dos fatos como ocorreram e não mais perpetuar as distorções reinantes até então. Pela versão corrente e aceita, a primeira escola surgida em Maringá aconteceu oficialmente em 9 de julho de 1946, localizada no Patrimônio Maringá, na área conhecida como Maringá Velho. Até aí tudo bem, o problema é quanto a autoria do empreendimento. Batizada de Casa Escolar, a instituição seria criação de três pioneiros eminentes: os senhores Napoleão Moreira da Silva, Angelo Planas e Octávio Periotto. Nessa época, o Patrimônio Maringá pertencia ao município de Apucarana, e qualquer iniciativa pública tinha obrigatoriamente que passar pelo crivo apucaranense. O trio de comerciantes maringaenses foram efetivamente representantes ou indutores do desejo da comunidade incipiente. Atuaram como intermediários da sociedade junto ao prefeito de Apucarana que, sensibilizado, atendeu a reivindicação da nascente cidade. Portanto, o advento da primeira escola de Maringá, também chamada de Escola Isolada do Maringá Velho, é obra da prefeitura de Apucarana, ou seja, do poder público, e não da iniciativa privada ou civil, como fez crer memorialistas, historiadores, jornalistas e outros escritores. Apenas a administração pública é investida da competência de nomear e remunerar professores nessa época, além de expedir boletins e listas de chamadas. Somente ela pode conferir legalidade e validade à instituição escolar. Ainda falta muita coisa a ser descoberta sobre a primeira escola de Maringá. Fica a sugestão aos interessados nesse tema que, perscrutar o percurso dessa instituição é buscar compreender um dos setores seminais para a construção da cidade de Maringá. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


A história da Vila Morangueira

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Os bairros de Maringá são portadores de histórias fascinantes, em especial àquelas voltadas para suas origens e evoluções. Um desses bairros é a Vila Morangueira, região situada na zona norte do município de Maringá, e que teve seus primórdios localizados nos anos 1930. Ao penetrarem na mata do norte novo paranaense, na década de 1930, com o intuito de demarcarem as áreas pertencentes a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), os engenheiros, topógrafos, e agrimensores, juntamente com os peões derrubadores de árvores, decidiram por um método prático e eficaz no estabelecimento de marcos referenciais. Deparando-se com fartos recursos hídricos, entenda-se minas, ribeirões e córregos, pois os rios já possuíam denominações, os técnicos nomearam as águas e passaram a usá-las também como identificação das glebas. Quer dizer, toda gleba corresponde ao ribeirão que atravessa suas dimensões, contando assim ambas com o mesmo nome. No caso específico de Maringá, por volta de 1937, as equipes de campo batizaram a nascente de um ribeirão afluente do rio Pirapó, de Morangueiro, em alusão a planta geradora do fruto morango. Os primeiros lotes vendidos na Gleba Morangueiro remontam de 1938, sendo que uma das propriedades mais importantes da região nos anos 1940 era a fazenda “Colônia Mineira”, do pioneiro José Longuinho. A particularidade desse fazendeiro era a de empregar somente colonos procedentes do estado de Minas Gerais. Atualmente, parte dessas terras corresponde ao parque de exposições “Francisco Feio Ribeiro”. Outro estabelecimento rural seminal dessa época na região, foi a Fazenda Maringá, tendo como dono o gerente da CTNP, o senhor Alfredo Werner Nyffeler. Consistindo basicamente em plantações de café, as terras eram administradas por João Matheus. No início do decênio 1950, o senhor Alfredo adquiriu a fazenda “Colônia Mineira”, ampliando suas posses na gleba. Desde 1941, a comunidade japonesa se faz presente na Morangueira, só perdendo em antiguidade para o Guaiapó. Alguns pioneiros desse período foram: Fusakiti Kusamoto, Jinroku Kubota, Yoshizo Arai, entre outros. Eles contribuíram para a fixação da identidade ao bairro, ainda na fase rural, quando Maringá ostentava a condição administrativa de patrimônio de Londrina. Nota-se intensa movimentação social na área da Morangueira, bem antes dela transformar-se em vila, evento ocorrido em 05 de dezembro de 1961, na gestão do prefeito João Paulino Vieira Filho. A criação do bairro organizou, delimitou e disciplinou um território que até então não dispunha de fronteiras claras e definidas, restringindo-se a um conjunto de sítios e fazendas, num legítimo ambiente campestre. A Vila Morangueira carece ainda de estudos históricos pormenorizados, voltados para o entendimento de seu povo, das instituições e movimentos sociais, econômicos, políticos e culturais que marcaram essa vital região da cidade de Maringá. Está aí um belo tema de pesquisa a ser desenvolvido. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Maringá, terra de colonizadoras

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A história de Maringá contém realmente lances pouco estudados ou intocados. Um deles nos remete ao papel de abrigar várias empresas colonizadoras, estabelecidas nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Talvez motivadas pelo estrondoso sucesso registrado pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), fundadora de Maringá, que passou a ter sede no distrito no ano de 1951, essas outras firmas assumiram Maringá para centralizar suas atividades loteadoras, seja através de filiais ou mesmo a sede, focadas em sua maioria na região noroeste do Paraná. Cidades como: Altônia, Xambrê, Pérola, Formosa do Oeste, Iporã, Jesuítas, Assis Chateaubriand, entre outras, tiveram Maringá como ponto de origem, pois, as colonizadoras que fundaram esses municípios localizavam-se na cidade canção. Sob certo sentido, a experiência exitosa do caso maringaense fez com que organizações do como Sociedade Imobiliária Noroeste Paraná (Sinop), Bentheim, Promoções e Vendas Maringá (Promag), Byington e Cia, Pinho e Terras Colonização, Companhia de Colonização e Desenvolvimento Rural e Colonizadora Norte do Paraná (Codal), e mais algumas ainda não identificadas, entendessem e achassem que seus projetos pudessem triunfar nos moldes de Maringá. Sabemos que os resultados não foram bem assim, entretanto, esses lugares prosperaram, cada um com característica própria, personalidade e identidade. Procurar entender as causas, origens e desenvolvimento dessas instituições privadas, que tinham como objetivo o alargamento das fronteiras territoriais do Paraná, pode se revelar em instigante tema de estudo. Tem-se que avaliar também a repercussão provocada por elas na economia, na política, na sociedade e na cultura maringaense, pois, a presença delas foi temporalmente longa na cidade. O trabalho de pesquisa pode abordar as empresas colonizadoras de forma individual, ou se preferir, em bloco, buscando perceber suas ações em conjunto e o que isso representou para Maringá em todas as modalidades. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Maringá, a cidade do handebol

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Na relação dos assuntos menos conhecidos e estudados na história de Maringá, figura o tema dos esportes, em especial a sua dimensão amadora, aquela a princípio sem fins lucrativos. Nessa lógica, sobressaiu ao longo dos tempos a prática do handebol, uma modalidade nascida na cidade na década de 1960 e que encontrou grande receptividade, superando em número de adeptos o basquetebol e o voleibol, desportos mais antigos e jogados em Maringá. Quando evocamos a trajetória histórica do handebol em Maringá, automaticamente temos que falar do Clube Olímpico, entidade que há 5 décadas vem investindo pesado no esporte, revelando vários talentos e não raro fornecendo atletas para o Brasil e para o mundo. Desde os anos 1970, as escolas estaduais e particulares em suas aulas de educação física, vem fazendo o trabalho de triagem dos alunos mais habilidosos no handebol, e a partir daí indicá-los para a instituição clubística, que pode aproveitá-los ou não. É necessário estudar mais profundamente essa conexão entre o Clube Olímpico e a rede de ensino de Maringá, pois, ela tem se mostrado um celeiro inesgotável de novos valores. Para ficarmos em dois exemplos históricos, citemos os nomes de Teixeira e Bicudo, dois expoentes do handebol local, saídos do Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal. Os Jogos Escolares de Maringá também são outra sementeira responsável pela aparição de grandes jogadores de handebol. A hegemonia de Maringá nos Jogos Abertos do Paraná, no que tange ao handebol, prova o quanto essa modalidade é levada a sério na cidade. Aos interessados em pesquisar e escrever sobre a história do handebol em Maringá, é obrigatório conversar com o professor João Marin Mechia, verdadeiro mito do esporte em Maringá, que muito contribuiu para que o handebol se tornasse no município a modalidade mais tempo presente com representante na liga nacional, indicador dos mais significativos ao se avaliar a importância dessa prática na cidade. Ampliando as possibilidades de percepção que esse esporte tem e teve para Maringá, pensemos na divulgação do nome da cidade pelo Paraná e Brasil afora, por conta das incontáveis competições disputadas. Em 1987, passeando pela praia de Icaraí, em Niterói (RJ), encontrei um rapaz que, sabendo da minha procedência maringaense, rapidamente associou o nome da cidade ao time de handebol do Clube Olímpico, pois ele jogava pela equipe de Niterói, e dizia maravilhas da equipe de Maringá, muito difícil, segundo ele, de bater. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


As serrarias de Maringá

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Na história de Maringá existem casos de atividades econômicas que foram decisivas para a origem e consolidação da cidade. O problema de estudá-las reside na sua extinção material, quer dizer, com o passar dos anos sua presença não foi mais necessária, sendo substituída ou superada por outras formas de organização da produção de valores. Um desses casos, é o da serraria. Essa instituição foi crucial na gênese e desenvolvimento de Maringá, entretanto, seu desaparecimento total ocorreu na década de 1980, se bem que a decadência começou para valer nos anos 1970. Tendo como período áureo os decênios de 1940, 1950 e 1960, as serrarias eram impulsionadas pela fartura de matéria-prima, ou seja, recursos naturais disponíveis em Maringá durante sua fase de nascimento e crescimento. Estamos falando das inúmeras espécies de árvores presentes nesse pedaço de mata atlântica, vindo a ser chamado de Maringá. Exemplares como peroba, cedro, canafístula, figueira branca, marfim, entre outras qualidades de plantas com que se depararam os colonizadores, fizeram com que o extrativismo vegetal se constituísse na segunda atividade econômica surgida em Maringá, sendo superada somente pela primazia da venda de terras, essa sim, a indiscutível inauguradora maneira de ganhar dinheiro na região. Com essa floresta fantástica a ser explorada, não tardou a aparecer as primeiras unidades de processamento dessa madeira abundante ao alcance das mãos dos investidores. Na década de 1940, registrou-se o advento das seguintes serrarias pioneiras: Serraria da CTNP- Companhia de Terras Norte do Paraná, localizada no Maringá Velho, a Serraria Villanova, situada na Vila Operária, a Serraria Santo Antônio, na Estrada Borba Gato, a Serraria Santos e Santiago, posicionada no Maringá Velho, a Serraria Santa Helena, na saída para Mandaguaçu ( onde hoje se encontra o Clube Olímpico) e a Serraria Nossa Senhora de Fátima, estabelecida na Estrada Mandacarú. Mais do que beneficiar a madeira, um recurso natural procedente da mata nativa da região, e fornecer material para construção de casas, móveis, dormentes de estrada de ferro, entre outros fins, essas empresas empregavam grande quantidade de mão de obra. Para facilitar o deslocamento desses funcionários até o local de trabalho, a maioria delas construiu colônias de trabalhadores em torno da fábrica, uma característica deveras interessante, pois, a iniciativa agregadora foi responsável em larga medida pela origem ou deslanchamento de muitos bairros da cidade, verificando que o núcleo de moradores agrupados alavancou muitas regiões de Maringá. Só por adentrar no mundo econômico e social, já justificaria o estudo das serrarias em Maringá, contudo, assistimos ainda o lado político da coisa. Como era uma atividade altamente rentável, muitos madeireiros entraram para a disputa eleitoral. É o caso de Inocente Villanova Júnior e Vanor Henriques, o primeiro eleito prefeito em 1952, e o segundo quase chegou lá em 1960. Essa dimensão merece ser trabalhada, já que o uso dessas firmas para fins políticos pode-se revelar algo promissor nas pesquisas históricas. Finalizando, afirmamos não haver por enquanto trabalhos sobre esse tema, e pensar que, durante as três décadas iniciais de formação de Maringá, mais de 30 serrarias funcionaram concomitantemente, gerando uma movimentação econômica, social, política e cultural difícil de avaliar, mas que sem dúvida alguma impactou profundamente a vida de Maringá. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Zona 2: O bairro para os selecionados

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Os bairros projetados no plano urbanístico de Maringá em 1945 possuem características originais bem delimitadas. Os seus autores, os engenheiros Cássio Vidigal, Gastão Mesquita Filho e Jorge de Macedo Vieira, pensaram nas funções e nas classes sociais que essas unidades urbanas deveriam comportar. Para a Zona 2, não bastava o adquirente ter dinheiro suficiente para comprar o lote. A Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) começou a vender datas nesse bairro a partir de 1949, dois anos após a fundação da cidade. A empresa reservou essa região para os membros da diretoria e aos funcionários de alto escalão da instituição. Além deles, foram privilegiados os profissionais liberais, pioneiros aliados politicamente com a firma e os amigos que a empresa angariou durante sua permanência em Maringá. Para quem se interessar em estudar a origem e o desenvolvimento da Zona 2, deve levar em conta que a elite econômica de Maringá não é um bloco homogêneo, muito pelo contrário, há diversos subgrupos ou matizes, traduzidos em diferenças ideológicas, religiosas, politicas e projetos de hegemonia. A Zona 2 exemplifica bem essas discrepâncias, pois, a parcela da classe dominante que inicialmente ocupou o bairro, tinha relações estreitas com a empresa de colonização. O bairro dispõe de aspectos singulares dentro do processo de ocupação do solo maringaense. Para começar, ele foi o primeiro a ser completamente pavimentado com asfalto, trabalho que começou em 1961 com a empresa Conterpavi, na gestão do prefeito João Paulino Vieira Filho. Abrigou o primeiro clube social, o Maringá Clube, na fase municipal de Maringá, fato ocorrido em 1956, já que o Aeroclube remontava a 1948, época que Maringá era distrito de Mandaguari. O alto padrão das residências da Zona 2 é um show à parte. Renderia no mínimo uma dissertação de mestrado. As casas de madeira remanescentes são verdadeiros fósseis, contrastantes em relação as mansões nababescas. Isso sem contar com as árvores maravilhosas e exuberantes (sibipirunas) que ladeiam as ruas e avenidas do bairro, proporcionando um espetáculo visual incomparável. Estudos geológicos apontam que a maior parte do bairro encontra-se assentada numa enorme massa rochosa, o que não permitiu que os moradores instalassem os icônicos poços caipiras para a retirada de água do lençol freático, localizado de 25 à 30 metros de profundidade. Até 1962, ano que foi implantada a água encanada em Maringá atráves da Codemar, os residentes da Zona 2 tinham que apelar para os poços artesianos, as empresas artesanais de distribuição de água, os caminhões pipa ou buscar água nas minas do bosque, futuro Parque do Ingá. Como se vê, a Zona 2 é um bairro com uma história muito interessante, com outros elementos esperando serem descobertos. Atualmente, não se pode edificar prédios com mais de três andares na região, o que demonstra um alto grau de organização dos moradores, que desejam manter as configurações primordiais do bairro. Esse é mais um fator digno de ser entendido, pois, uma cidade obcecada desde suas origens pela especulação imobiliária, tem um lugar no seu coração geográfico contrário a essa lógica. Essa é a Zona 2. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


O Futebol amador de Maringá

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Como é sabido, o futebol profissional em Maringá nasceu em 1961, com a fundação do Grêmio Esportivo Maringá. Esse movimento só foi possível por causa da cena futebolística amadora que existia na cidade desde a década de 1940. Não existem trabalhos, sejam científicos ou não, a respeito da origem, desenvolvimento e atual estágio do futebol amador em Maringá. Essa história é tão antiga como a própria cidade, sendo que surgiu em 1948, com a criação da Sociedade Esportiva e Recreativa Maringá (Serm), baseado no Maringá Velho e dispondo inclusive de estádio próprio. Essas agremiações amadoras estavam muito identificadas com seus locais de origem, ou seja, os bairros, ou ainda com categorias profissionais. Isso fez com que se criasse uma rivalidade acirrada entre as regiões de Maringá, pois, desde o início organizaramse campeonatos e torneios onde as equipes visitavam os bairros vizinhos e eram também visitados pelos oponentes. A interação ao mesmo tempo desenvolvia o antagonismo entre os bairros, mas ajudava também a consolidar um sentimento de afeto e pertencimento do povo em relação a sua zona de residência. Na década de 1950, assistiu-se o aparecimento da maioria das agremiações tais como Esporte Clube Mandacarú (ECM), fundado em 1956, mas que existia desde 1953, com a denominação de Esporte Clube Madeira Phillips. Era a equipe dos madeireiros. Clube Atlético Paulistano (CAP), criado em 1953, considerado o time mais querido da cidade. Esporte Clube Operário (ECO), fundado em 1955, localizava-se na Vila Operária e possuía estádio próprio, a praça de esporte posteriormente chamada de “Brinco da Vila”. Companhia Melhoramentos Futebol Clube (CMFC), nascido em 1956, o time representava a empresa colonizadora da cidade. Indústria Futebol Clube (IFC), aparecido em 1956, situava-se na rua Santos Dumont e defendia as cores das indústrias de Maringá. Esporte Clube Paissandú (ECP), organizado em 1956, foi a primeira equipe pertencente a um distrito de Maringá. 10 de Maio Futebol Clube, antiga equipe dos “Veteranos”, representava a elite sócio-econômica da cidade. As disputas entre essas associações tornaram-se mais organizadas e sérias com a criação em 1956, da Liga de Futebol Regional de Maringá, entidade que existe até hoje. É bom frisar que, apesar do advento do futebol profissional em 1961, as competições amadoras não terminaram, muito pelo contrário, elas continuaram, e com mais força, surgindo inclusive novos clubes, como por exemplo, o Ferroviário, o Botafogo, o Baveloni, o Central, entre outros. Muitos atletas amadores acabaram sendo aproveitados no futebol profissional, o que demonstra mais uma importância dessa dimensão futebolística. A história do futebol amador em Maringá é um território a ser explorado por estudiosos do esporte local. Sua compreensão ultrapassa os limites desportivos, atingindo também o mundo social, politico, econômico e cultural, enfim, um tema pródigo em significados. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Monumentos Celebram História de Maringá

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A cidade de Maringá chegou aos 70 anos de idade, com aproximadamente 415 mil habitantes. Essa rapidez de crescimento demográfico e físico territorial urbano, fez com que algumas percepções dos homens e das mulheres comuns passassem batidas no interior do espaço urbano. Estamos exatamente nos referindo ao enorme repertório da imaginária presente na cidade, que simplesmente encontra-se ao largo das preocupações dos seus habitantes. Por imaginária entendemos os vários monumentos históricos e artísticos que povoam aos borbotões os logradouros públicos e os lugares privados de Maringá. São por exemplo: estátuas, bustos, hermas, cabeças, obeliscos, totens, efígies, colunas, pedras, painéis, entre outros elementos dessa natureza. Num levantamento preliminar, o poder público municipal mapeou a existência de pelo menos 100 exemplares com essa tipificação. São peças erigidas com fins de homenagem, comemoração, sinal de posse, identificação histórica, embelezamento e mais uma série de motivos. A presença maciça desse material em Maringá, explica-se no primeiro momento, por conta da extensa galeria de lendas, mitos e heróis produzida ao longo do percurso histórico do município. A tendência ao ufanismo e apologia dos agentes sociais envolvidos na construção da cidade, produziu essa gigantesca quantidade de objetos concretos de culto aos fatos e celebridades, sejam eles locais, regionais, nacionais ou internacionais. Passar despercebido do cidadão comum, até se entende, pois, a correria e a pressa do dia a dia não permite as pessoas prestarem atenção nessas coisas. O que é inconcebível é o descaso da inteligência maringaense, leia-se os historiadores, jornalistas, memorialistas, entre outros intelectuais, em relação a esse verdadeiro tesouro histórico disponível em Maringá. Além da identificação dos monumentos, pode-se empreender a tarefa de procurar saber o motivo de tal ereção do bem, o material empregado na sua construção, o autor da obra, a localização, a dimensão simbólica, o uso que o povo faz ou fez da peça. Em síntese, há uma gama de possibilidades de problematizações acerca de um tema que podemos de chamar de mais um “território inexplorado da história local”. Está ai um assunto para ser perscrutado com acuidade e preocupação de contribuir para o entendimento da formação e desenvolvimento de uma cidade complexa e sofisticada em se tratando de trajetória histórica. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Igreja São José: um espaço jesuíta e anticomunista

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Quem quiser estudar ou compreender a história da Igreja Católica em Maringá, obrigatoriamente precisa ler o livro “A igreja que brotou da mata”, de autoria do padre Orivaldo Robles, publicado em 2007. Trabalho de pesquisa muito bem executado e brilhante quanto ao levantamento de dados e informações, ele não esgota em hipótese alguma as infinitas ações e práticas impetradas pelo catolicismo em Maringá. O livro funciona mais como um excelente guia de orientação para novas investigações acerca desse importante agente social na formação e desenvolvimento da história maringaense, que é a Igreja Católica, onde, juntamente com a CTNP/CMNP, o empresariado privado, o poder público de modo geral e a classe trabalhadora, formam os 5 elementos motrizes mais importantes na geração do município chamado Maringá. Lembrando que existem outros sujeitos históricos participantes da construção e funcionamento de Maringá, mas por ora, ficaremos com esse quinteto. No caso específico da Igreja Católica, enfocaremos nesse texto uma paróquia que chama a atenção. Trata-se da Igreja São José, localizada na Vila Operária, mais precisamente na Praça Emiliano Perneta. Criada em 1954 como paróquia, sua origem remonta a 1950, quando ostentava a condição de capela, numa construção rústica de madeira. A posição geográfica no bairro é ponto salutar, ocupando área de visibilidade privilegiada, tanto para os que passam pelo bairro, como para os moradores da Zona 3. Outro aspecto a destacar vem a ser a procedência dos párocos que administram o templo. São todos oriundos da Ordem Jesuíta, pelo menos durante a maior parte de sua história. Nos últimos anos, sacerdotes de diferentes organizações assumiram o controle da igreja. Entretanto, o predomínio temporal dos jesuítas é um assunto a ser explorado, procurando saber as razões que levaram a essa escolha da cúpula da Igreja Católica. Aliás, foi numa decisão das instâncias superiores da Igreja Católica, que reside talvez a característica mais marcante dessa vital instituição espiritual e material da Vila Operária. Estamos nos referindo ao seu nome identificatório, ou seja, São José. Até onde sabemos, a determinação aconteceu em 1950, quando a capela foi inaugurada, e o nome é uma homenagem ao um dos santos mais queridos e cultuados do catolicismo, o pai terreno de Jesus Cristo, esposo de Maria. Tinha também o fato de José ter sido carpinteiro, função típica de operário, daí combinar com o bairro recém-criado, pois, o nascimento da Vila Operária remonta de 1947, e foi o local destinado para abrigar os trabalhadores braçais e pessoas mais humildes na colonização de Maringá. Asseverando a máxima de que, o conhecimento histórico e precário e provisório, na obra “O Livro dos Santos”, de Rogério de Campos, editado em 2012, há um tópico na página 237, intitulado “São José, o anticomunista”. O texto reproduzido rigorosamente diz o seguinte: “No dia 19 de março de 1937, o Papa Pio XI proclamou São José patrono daqueles que combatem o comunismo ateu”. Muito oportuno, porque naquele momento havia muitos guerreiros cristãos contra o comunismo (e contra o anarquismo, socialismo, ou qualquer tipo de esquerdismo) em países da Europa, como Alemanha, Espanha, Portugal e Itália. Foi a maneira que o papa encontrou para abençoá-los. E a benção talvez tenha funcionado, porque, poucos anos depois, esses combatentes do anticomunismo tomaram a França e quase todo o Leste Europeu. São José era o melhor dos exemplos para os operários: humilde, nunca reclamou nem questionou a Autoridade, apenas obedeceu sempre calado. “Com uma vida de fidelíssimo cumprimento do dever cotidiano, deixou um exemplo de vida a todos os que tem de ganhar o pão com o trabalho de suas mãos”, nas palavras do papa Pio XI em sua Encíclica Contra o Comunismo Ateu. Um exemplo tão perfeito que, em 1955, para se contrapor ao Primeiro de Maio do anarco-comunismo ateu, o papa Pio XII proclamou esse o Dia de São José Operário”. Não podemos afirmar categoricamente que a Igreja Católica batizou a capela São José com esse nome, pressentindo que a Vila Operária fosse se tornar um reduto de comunistas em Maringá, o que de fato confirmou-se. Porém, pesquisas mais aprofundadas podem dissipar ou não essa dúvida. O fato é que, nunca conhecemos a totalidade das informações históricas, mas temos que continuar a fazer perguntas e manter a mente aberta para novas descobertas. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Fábrica de osso era uma das 5 da América Latina

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Aqueles que se dedicam ao estudo da história de Maringá, em todos os tempos cronológicos, percebe que a indústria não é a área econômica mais ativa da cidade. Talvez, por falta de política pública deliberada e ausência de interesse de investimentos privados mais pesados, a atividade do setor secundário sempre esteve atrás da agricultura, do comércio e da prestação de serviços. Todavia, essa situação de desvantagem não significa que o município esteja desprovido de experiências curiosas no âmbito industrial. Além de contribuírem na geração de renda, tributos e empregos, as indústrias implantadas em Maringá são donas de narrativas singulares, que permanecem envoltas em sombras, a espera de serem descobertas por pesquisadores da história local. Um desses exemplos é a criação em 1968/1971, durante a gestão do prefeito Adriano Valente, da fábrica de carvão de osso ativo, localizada no Parque Industrial I, região pioneira concebida para concentrar as empresas industriais de Maringá. Inclusive, essa fábrica em tela foi a primeira a se estabelecer no local. Sob a denominação de Z. Krosnowski e Cia. Ltda, indústria, comércio e exportação de carvão de osso ativo e subprodutos de origem animal, a firma estava comandada pelo seu diretor e proprietário, e ainda idealizador do projeto, o engenheiro químico Zigmunt Krosnowski. Nascido na Polônia e radicado no Brasil desde 1956, chegou em Maringá na década de 1960, e logo iniciou negociações com a Prefeitura para a implantação de tal estabelecimento. No seu livro “Maringá, ontem, hoje e amanhã”, publicado em 1979, o historiador Arthur Andrade, na página 274, diz o seguinte sobre a iniciativa do empresário polonês: “Para que se possa aquilatar a importância dessa empresa, basta observar que existem no mundo apenas seis indústrias de carvão de osso, sendo que esta é a única na América do Sul, bem como, a segunda do mundo em termos comerciais, já que a primeira é a “Stauffer Company” localizada nos Estados Unidos”. “O carvão de osso é utilizado em escala comercial para o branqueamento do açúcar, para a purificação da água e para melhorar a qualidade do vinho. Como subprodutos podemos mencionar a farinha calcinada e a farinha de osso para ração, as quais são amplamente consumidas pelo mercado interno”. “A matéria prima utilizada pela Indústria Krosnowski é obtida de todas as regiões de nosso Estado, além de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Além da comercialização do produto ser na grande maioria absorvida pelo mercado interno, parte destina-se ao mercado externo, como os Estados Unidos, a Inglaterra, o Canadá, o Uruguai e a Austrália”. Pelas informações apresentadas, dá para avaliarmos a expressiva dimensão e alcance da empresa. Porém, deve-se ir mais a fundo no conhecimento sobre a prática, ainda mais que, esse tipo de indústria lida com o universo bovino e pecuário, tão presentes na história de Maringá. Outro motivo da relevância do tema, é que a Prefeitura de Maringá, por meio da Lei N°2.266/87,alterou a denominação da Rua “A”, localizada no Parque Industrial I, para Rua Zigmunt Krosnowski, em toda sua extensão. O homenageado faleceu em 17 de maio de 1987, e a Lei foi assinada em 12 de novembro do mesmo ano. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


A indústria da carne bovina em Maringá

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Ao estudar a história de Maringá, o capítulo dedicado a alimentação está repleto de lacunas. Pelo atual estágio das pesquisas sobre o tema, ainda não sabemos qual era o hábito alimentar dos moradores primitivos do município, seja no universo rural ou no urbano. O que se pode apurar com os registros históricos já conhecidos, é que a carne bovina começa a ser mais consumida a partir dos anos 1950, pois, antes disso, somente alguns privilegiados tinham acesso a este tipo de alimento. Na região do Maringá Velho, existem depoimentos orais dando conta da existência de rústicos açougues e abatedouros rudimentares de bois. Tudo isso na década de 1940. Apesar de ter surgido em 1947, pelas mãos do alemão Reinold Ferdinand Baudisch, o Frigorífico Maringá (Frigma) intensifica sua produção na década de 1950. A ele vem somar o matadouro municipal, criado em 1953 pelo prefeito Inocente Villanova Júnior. Em 1955, os amigos portugueses Joaquim Duarte Moleirinho e Joaquim Caetano, fundam o Frigorífico Luso Brasileiro Central. Com essa composição, está formada a base para transformar Maringá num dos maiores centros abatedouros de carne bovina do Brasil. Essa condição será alcançada no decênio 1980, onde essas indústrias, mais o Frigorífico Parplan, serão responsáveis pelo abate de mais de 5 mil cabeças de boi por dia. A produção hipertrofiada de carne bovina e derivados voltou-se para o mercado nacional e internacional, projetando Maringá por meio de numerosa frota de caminhões que os frigoríficos possuíam. Como as empresas frigoríficas empregavam farta mão de obra, era comum as indústrias contarem em suas instalações com áreas de lazer para os funcionários, como por exemplo, churrasqueiras, parque de diversões, campos de futebol, e assim por diante. Os aspectos ligados aos trabalhadores revelam-se interessantíssimos, apontando para as preocupações dos empregadores em criar alternativas de entretenimento aos colaboradores. Investir tempo e energia em uma pesquisa sobre esse assunto, faz-se necessário, pois, juntamente com a agroindústria e o comércio atacadista, a industrialização e comercialização da carne bovina, eram os carros chefes da economia maringaense na década de 1980. Entender como formou-se essa situação, ainda é um vácuo na historiografia local, bem como a decadência dessas atividades, já que, hoje em dia, nenhuma delas encontra-se na liderança do cenário socioeconômico de Maringá. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


As máquinas de café de Maringá

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No transcorrer de sua jornada histórica, o município de Maringá produziu diversos mitos e símbolos caros a sua população residente. São elementos que, quando evocados, disparam memórias e significados repletos de importância para o reconhecimento e identidade de uma sociedade que, inculcou através dos anos a imagem desses ícones, verdadeiros marcos referenciais e balizadores de existência social. O café enquadra-se perfeitamente nesse perfil. Um típico emblema contribuidor da formação e crescimento de Maringá. Tanto isso é verdade que, diversas distorções e equívocos históricos sobre ele foram fabricados ao longo da produção historiográfica acerca de Maringá. Primeiramente, deve-se deixar bem claro o papel desempenhado pela cafeicultura em Maringá. Ela não foi a causa do surgimento do município, mas sim consequência do projeto de colonização empreendido pela CTNP/CMNP. Em segundo lugar, o território municipal maringaense nunca foi um expressivo produtor de café, mas como ocupou uma posição de polo regional, a massa cafeeira do seu entorno acabou vindo para a cidade, a fim de ser comercializado, processado e seguir caminho adiante. No interior dessa lógica, chegou a funcionar simultaneamente em Maringá, durante as décadas de 1950 e 1960, aproximadamente 70 máquinas de café. Essas unidades de beneficiamento responsabilizavam-se pela compra da produção dos cafeicultores, o processamento desse café, bem como sua seleção qualitativa, o ensacamento do produto e por fim o embarque e envio da carga para os destinos consumidores. Algumas dessas máquinas existentes foram as seguintes: “A Luzitana” (Avenida Carneiro Leão), “A. Martinez e Sciarra” (Avenida Colombo), “Cafeeira Germani” (Avenida Mauá), “Cafeeira Campos Lima” (Avenida Mauá), “Cafeeira Maringaense” (Rua Fernão Dias), “Cafeeira Socomar” (Rua Caramuru), “Com. Ind. Sahão” (Rua Fernão Dias), “Com. Ind. Taguchi” (Estrada para Marialva), “Máquina 25 de julho” (Estrada Borba Gato) e “Máquina Brascafé” (Rua Guarani). O entendimento do sistema de funcionamento dessas pequenas e médias agroindústrias é por demais interessante. Muitas empregavam mão de obra feminina para fazer o trabalho de triagem dos grãos mais nobres, enquanto o serviço de ensacamento e embarque do café, era realizado em sua maioria por homens negros e de origem nordestina. Essas unidades de processamento de café, revelam-se em um objeto de estudo valioso para a compreensão de uma fase histórica decisiva para Maringá, e a abordagem pode ser efetuada com ênfase nos aspectos econômicos, sociais e políticos. Basta lembrarmos que, o segundo prefeito de Maringá, o senhor Américo Dias Ferraz, foi proprietário da “Cafeeira Santa Luzia”, localizada no Maringá Velho. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


As árvores de Maringá e suas infinitas possibilidades

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Não restam dúvidas que, um dos maiores símbolos identitários de Maringá, é sua arborização urbana, ideia e iniciativa encetadas pela empresa privada que colonizou a cidade. Contratado pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), o engenheiro agrônomo, Dr. Luiz Teixeira Mendes elaborou um projeto arrojado de instalação de árvores de várias espécies nas vias urbanas do traçado da cidade. Só para nos situarmos temporalmente, o plano urbanístico é de 1945 e ficou pronto, aplicado no sítio topográfico, em 1947. Enquanto o início do plantio arbóreo deu-se em 1952, e continuou por todas as décadas de 1950 e 1960. Existem alguns trabalhos escritos que versam sobre as origens históricas e conceitos teóricos desse gigantesco esforço de vestir a cidade com essa cobertura vegetal. Devemos apontar os nomes de Rogério Recco, Renato Leão Rego e Miguel Fernando Perez, que inclusive desenvolveram a noção de cidade-jardim, que teria inspirado Dr. Luiz Teixeira Mendes a conceber o projeto de arborização e ajardinamento de Maringá. Além do jornalista, do arquiteto e do turismólogo, anteriormente citados, a arborização maringaense já foi objeto de apreciação de outros profissionais, tais como: advogados, biólogos, historiadores, engenheiros agrônomos, engenheiros florestais, geógrafos e memorialistas em geral. Todos os textos produzidos sobre o verde em Maringá, e são muitos, ajudaram bastante a montarmos um quadro amplo sobre a instituição da vegetação, porém, ainda sente-se a ausência de estudos por exemplo, da participação do poder público municipal sobre a questão, e também da inserção da população da cidade frente a instalação e desenvolvimento dessa cobertura arbórea. O município de Maringá teve um crescimento físico e demográfico acelerado. Isso fez com que a cidade registrasse diversas temporalidades, onde o que vale para uma determinada década ou lustro, na seguinte pode alterar profundamente o estado das coisas. O tempo das permanências e transformações, deve ser analisado com muita cautela para o caso de Maringá, sob pena de atribuirmos percepções e atitudes homogêneas para todos os períodos cronológicos. No caso específico da arborização urbana, notamos numa primeira apreensão que, a receptividade ao plantio, cuidados preliminares e consolidação das árvores no espaço urbano, foi um processo de ensino e aprendizagem, onde nem sempre a prefeitura e o povo de modo geral, aceitavam de forma positiva. Podemos depreender por meio de entrevistas orais e matérias jornalísticas que, a consciência ecológica e ambiental foi uma construção histórica, um fazer constante, que mantém-se inacabada e dinâmica, afastando a ideia de que o afeto e o culto as árvores é um dado natural. Em razão da extrema significação apresentada pelas árvores em Maringá, e suas infinitas possibilidades de abordagem, acreditamos que o tema precisa ser mais cultivado e problematizado para todos aqueles interessados no assunto. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


O transporte coletivo urbano em Maringá

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A fase distrital de Maringá (1947-1951), quando ela dependia politicamente e administrativamente de Mandaguari, consagra-se como um período extremamente profícuo em realizações institucionais, tanto em âmbito privado como público. Para se ter ideia da fecundidade de ocorrências dessa época, basta citarmos o estabelecimento da Colonizadora SINOP, a criação da Sociedade Médica de Maringá, a fundação da Sociedade Beneficente dos Trabalhadores, a fixação da subprefeitura de Mandaguari em Maringá, a entrada da agência coletora de impostos do Estado do Paraná, abertura do horto florestal, entre outras. Na esteira desse frutífero e próspero contexto, enquadra-se o surgimento do transporte coletivo urbano, serviço esse só possível de ser feito graças a autorização da Prefeitura de Mandaguari. Isso ocorreu em 1948, e a primeira empresa a explorar a atividade foi o “Transporte Meneguetti”, pertencente a Geraldo Meneguetti, que percorria a linha Vila Operária/Maringá Velho e vice-versa. Com o passar do tempo, apareceram novos bairros, e Maringá adquiriu a condição de município. Novas linhas foram necessárias para atender a crescente demanda. É nesse momento, já na década de 1950, que nasce o “Transporte Ubirajara”, substituto da antiga firma. Ainda nos anos 1950, uma terceira empresa desponta, pondo fim a segunda. É a Companhia dos Irmãos Polônio, baseada na Vila Operária (Avenida Mauá). Essa empresa contava com grande frota de ônibus, cobrindo praticamente todo o território urbano de Maringá, que encontrava-se em franca expansão. Convém salientar que essas instituições tinham concessão do poder público municipal, e somente uma podia atuar no ramo de transporte de pessoas. No decênio 1960, os Irmãos Polônio negociam o serviço e a empresa com o “Transporte Gianoto”, que permanecerá trabalhando até o ano de 1975. Nessa data, o serviço de transporte coletivo urbano de Maringá, foi assumido pela empresa TCCC – Transporte Coletivo Cidade Canção, continuando até os dias atuais. Ainda não existe uma história minuciosa dessa evolução do transporte coletivo urbano em Maringá. É preciso esclarecer muita coisa, como por exemplo, quais seriam os critérios que definem a instalação dos pontos de embarque e desembarque de passageiros, a maneira como se deram as mudanças de uma empresa para outra, o papel da prefeitura nessa concessão pública, entre outros aspectos. Com esse roteiro básico, esperamos que estudiosos da história de Maringá, se interessem em procurar investigar a origem e desenvolvimento desse importante setor da vida humana maringaense, com todas as significações políticas, econômicas, sociais e culturais. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo


Maringá, a terra da hortelã

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A maior parte dos trabalhos escritos sobre a história econômica de Maringá, enfocam o café como a principal cultura agrícola do município. Esse protagonismo é relativo, dependendo do tempo cronológico a que estamos nos referindo. Se tratarmos do período formador de Maringá, os anos 1930, 1940 e 1950, encontraremos no café um agente histórico importantíssimo, para não dizer crucial, na origem e desenvolvimento da fase primordial da cidade. Entretanto, a partir da década de 1960, a rubiácea começa a perder terreno no grau de relevância para a continuidade histórica do município. É uma pena que os estudiosos da história de Maringá, não atentem para esse detalhe. Essa negligência fez com que se ignorasse a presença, e consequentemente, a memória de uma cultura agrícola por demais significativa na história local. Trata-se da hortelã, uma planta esquecida e desconhecida na história narrativa da cidade, mas que contribuiu em muito para o deslanchar socioeconômico de Maringá. Vários pequenos proprietários de terras, os chamados sitiantes, plantavam hortelã e montavam o maquinário (alambique de extração do óleo da hortelã) para beneficiar a planta. Uma vez transformada em óleo, vendiam para empresários compradores da produção, baseados em Maringá. O ápice dessa atividade foi na década de 1960, e os principais adquirentes do material eram: “Comércio e Representação Memper” (Rua Santos Dumont), “Importação e Exportação Braswel” (Avenida Brasil), “Indústria e Comércio Genducts” (Rua Néo Alves Martins), “Nagaoka do Brasil” (Rua Joubert de Carvalho), “Paulo Shiraishi” (Avenida Brasil), “Massanobu Tanaka” (Avenida Brasil) e “Tetsuo Yamaguchi” (Rua Joubert de Carvalho). O índice de organização do setor foi tão grande que, em 1962, um grupo de empresários e produtores de hortelã, se uniram e formalizaram a “Cooperativa Agropecuária do Norte do Paraná”. A entidade foi criada por: Aloysio Lima Bastos, Christopher Peter Bueno Netto, Ariosto Linhares Monteiro, Claus Paul Thornern, Ruben Garcia Bastos, Waldemar Gomes da Cunha, Anatalino Boeira de Souza, entre outros. Há registros históricos sobre o cultivo da hortelã, principalmente entre agricultores japoneses e descendentes, caso típico da família Kimura, situada no distrito de Floriano. Alguns pioneiros relatam que, nas décadas de 1950 e 1960, o Maringá Velho cheirava à menta (substância derivada da hortelã). Convém salientar que, esse óleo da hortelã era destinado a indústria farmacêutica e cosmetológica. Para quem se interessar por essa temática, estará ingressando num campo fértil de pesquisa. Boa parte dos pioneiros que participaram dessa empreitada continuam vivos, além de sobreviver documentos escritos e imagéticos, que atestam tal experiência em Maringá, e que infelizmente, entrou em declínio, até ser extinta completamente. Historiador (texto): João Laércio Lopes Leal Gerente de Patrimônio Histórico: Leila Domenici Secretário de Cultura: Rael Toffolo



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