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ENTRELAÇANDO GRAFIAS: O DESENHO PARA ENSINAR APRENDER E DIVULGAR A ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Antropologia engajada.
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KATIANNE DE SOUSA ALMEIDA
RESUMO
Os desenhos selecionados integram minha pesquisa de doutorado intitulada "Fissuras Epistêmicas na Antropologia: Desenhar para Conhecer". Os objetivos da tese são compreender o uso do desenho tanto como artifício pedagógico para a formação antropológica, dentro da estrutura disciplinar acadêmica na Universidade, quanto método e análise incorporados nas pesquisas acadêmicas brasileiras.
APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
Nesta pesquisa destaco o desenho como um caminho possível para a produção etnográfica, além de ser um recurso pedagógico para o ensino. Com o aprofundamento do conceito de Antropologia Gráfica desmistifica-se o uso dos desenhos nas pesquisas e os ressignificam, trazendo autoridade para o seu uso dentro da divulgação do conhecimento científico.
Para esta mostra selecionei algumas produções a partir da "participação observante" nas aulas, cursos, oficinas e palestras que versaram sobre a relação da Antropologia
com o desenho, assumindo outra temporalidade, atenção, olhar e sensibilidade para compreender as diversas dinâmicas em se ensinar, aprender e divulgar a Antropologia no Brasil.
APRESENTAÇÃO EXPANDIDA
Frequentemente, as(os) antropólogas(os), em suas etnografias, precisam criar estratégias para compreender as complexas subjetividades de seus campos de estudo, sendo assim, os desenhos podem assumir o lugar de um recurso criativo de diálogo com seus interlocutores, promovendo uma relação dialógica entre os conjuntos de pensamentos científicos trazidos pela academia e as histórias silenciadas dos grupos sociais. Desenhar como método é assumir o desafio de romper com os limites das palavras que, várias vezes, não são ditas ou pela dor, ou pela disputa por narrativas universalizantes.
A aproximação epistêmica entre escrita e desenho vem das falas, dos textos e dos desenhos das pesquisas das antropólogas Karina Kuschnir e Aina Azevedo (minhas principais interlocutoras) que têm refletido sobre os desafios das pesquisas antropológicas, as perguntas e soluções que emergem do ato de se ensinar a desenhar e construir narrativas gráficas no (e sobre o) trabalho de campo.
Quando se evoca a linguagem dos desenhos, busca-se traduzir para além das palavras (estas que são canonicamente aceitas como instrumentos capazes de produzir e reproduzir o pensamento científico) interpretações visuais de conceitos. Sendo assim, é imperativo abrir o debate e forçar as concepções dos modos de se comunicar o pensamento científico.
O desenho, a partir de uma leitura inicial, que seria um exercício de identificação, admite a interpretação que resulta de um esforço analítico, dedutivo e comparativo. Logo, ele como documento, como fonte, revela aspectos da vida material que, algumas vezes, a compreensão de fontes escritas não revela. Desta forma, a produção de conhecimento antropológico com desenhos contribui para a promoção do rompimento da construção canônica do pensamento científico e a ampliação dos horizontes epistêmicos.
Posto isto, sabe-se da multiplicidade das linguagens de apresentação da diversidade cultural dos grupos sociais, contudo para o campo da produção científica essa pluralidade é questionada no momento de validá-la como um argumento científico, quero dizer que, academicamente somente a escrita é o formato ratificado na ciência. Tal aprisionamento das ideias é questionado pela filósofa, socióloga negra norte-americana Patrícia Hill Collins (2012), em seus argumentos ela explicita a linguagem como um campo de disputa. A produção do conhecimento não deve ter seu alicerce ancorado apenas em um tipo de linguagem (a escrita), pois as epistemes são também táteis e não exclusivamente abstratas.
O recorte principal da pesquisa é a interlocução com professores e pesquisadores e, eventualmente, os alunos que fizerem parte das aulas, oficinas, palestras que versem sobre Antropologia e Desenho.
A intenção da pesquisa, portanto, é impulsionar a visibilidade do desenho dentro da Antropologia e estimular a polissemia da linguagem na formação antropológica no Brasil.
As diferentes linguagens e metodologias precisam ser celebradas, pois é por meio da ebulição das misturas heterogêneas que surgem os questionamentos, as criações, as inovações, logo os pensamentos críticos. Almeja-se que os resultados das produções científicas sejam dinâmicos, consequentemente que sejam ampliados os horizontes epistêmicos. Desenhar conceitos é debruçar sobre os seus significados de dentro para fora. Quando nos colocamos diante do exercício de criar linhas, formas, texturas e cores aprofundamos na análise dos temas que estamos nos propondo a estudar e, consequentemente, a analisar.
O desenho é também um caminho escolhido para criar afetos com o desenvolvimento da produção do conhecimento. Essa linguagem mostra o quanto, muitas vezes, o processo de se expressar é tão complexo e tão profundo que as palavras não são suficientes.
Na contemporaneidade a Antropologia precisa ser um campo disciplinar de novas ideias e ter um espírito inquieto, consequentemente, das antropólogas e dos antropólogos exige-se o máximo das suas capacidades de criarem meios para a fissura das metodologias clássicas de pesquisa e das
epistemologias tradicionais, ou seja, experimentar o seu potencial criativo para aguçar o olhar diante do contexto à sua volta e das possibilidades de expressões dos grupos sociais.
MINIBIOGRAFIA
KATIANNE DE SOUSA ALMEIDA é artista Visual e Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Mestre em Antropologia Social pela UFG, Especialista em História Cultural pela UFG, Especialista em Processos e Produtos Criativos pela UFG. Bacharel em Ciências Sociais com Habilitação em Antropologia, como também Licenciada em Ciências Sociais pela UnB e Bacharel em Design de Moda pela UFG. Integrante do LABareDA (laboratório de Antropologia & Desenho), integrante do Grupo de Desenho coordenado pela Prof. Dra. Patrícia Reinheimer. Participou da I Mostra de Desenhos Etnográficos Prêmio Pierre Verger, 2020, e da II Mostra Digital de Ensaios Visuais promovido pelo NAVIS, 2021.