apresenta
Projeto editorial Ziraldo Alves Pinto
Coordenação geral Sergio Martins
Curadoria Rick Goodwin
Design gráfico Fernanda Precioso
Consultoria André Lucas
Equipe de apoio Charles Bertho Marcelo Alcântara Regina Martins Yvonne Prieto
CARICATURAS DE Afonso Carlos * Amarildo * Amorim * Aroeira * Baptistão * Brito * Camilo Riani * Cárcamo * Cássio Loredano * Cau Gomez * Cavalcante * Celso Mathias * César Lobo * Chico Caruso * Cláudio * Dalcio Machado * Érico Ayres * Fernandes * Ferreth * Fraga * Frata * Gil * Gilmar * Humberto * Ique * Jr. Lopes * Kacio * Lan * Léo Martins * Lézio * Lula * Manga * Mário Alberto * Monteiro * Nei Lima * Paffaro * Paixão * Paulo Branco * Paulo Caruso * Quinho * Ricardo Soares * Rossi * Ulisses Araújo * Xande * Ziraldo
apresenta
1º edição 2007
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) É Mentira, Chico? / Organização Ziraldo. – – 1. Ed. – – São Paulo : Editora Resultado, 2007.
Vários autores.
1. Anysio, Chico, 1931 2. Caricaturas e desenhos humorísticos 3. Humorismo brasileiro 4. Personagens e tipos I. Ziraldo.
ISBN 978-85-60782-08-6
07-2846
CDD-809.7
Índice para catálogo sitemático: 1. Humoristas : Biografia e obra
Ilustrações © dos autores cedidos para esta publicação Direitos de publicação: © 2007 Editora Resultado 1ª edição, 2007 Impresso no Brasil
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carta do patrocinador F
ui nascido e criado por aqui mesmo, onde os verdes mares nos embalam num ritmo tranqüilo e fascinante pelo amor à natureza e valores simples que fazem nossos olhos brilhar clareando o viver. Deixa a vida me levar é algo que nunca soou muito bem para alguém que, de origem bem humilde, sempre visualizou levar a vida num ritmo diferente, repleto de sonhos e desejos. Segui uma trilha que indicava pelos seus seguros rastros que eu poderia chegar a um porto seguro. Esta trilha é fruto de um longo percurso que um senhor amparado em muita força de trabalho, ética e, sobretudo, muito mais transpiração do que inspiração, percorreu. Senhor Raimundo Delfino Silva é meu pai, uma daquelas pessoas extraordinárias que são professores da vida mesmo sem saber por quê. Com ele aprendi que o sucesso era possível e que a conquista está dentro de cada um de nós. Foi assim que construímos a Santana Têxtil do Brasil, hoje responsável por inúmeras famílias e reconhecida em diversos cantos do mundo. Mas, foi nesse cantinho do mundo aqui, chamado de Ceará, que muitos desbravadores fizeram com que o Brasil e o mundo direcionassem o foco dos holofotes para si. Como se não bastasse a sua luz própria, um deles tratou de criar mais um sem número de personagens para multiplicar exponencialmente sua inesgotável capacidade de mobilizar os sentimentos das pessoas em torno de emoções altamente positivas. O rei do estímulo ao sorriso é meu amigo desse cantinho aqui, e dentre muitos desbravadores ganhou asas e voou. Sua arte virou escolinha; fundou uma cidade: “Chico City”. E o que mais poderia fazer? Livros, roteiros de cinema, quadros, enfim, em se tratando de mestres da arte, tudo é possível. Esta obra é mais do que uma referência, mais do que um tributo, é um marco histórico a um artista brasileiro. Envolvidos na sua essência, tramitando pelas mesmas terras e valorizando os mesmos princípios e valores, decidimos que a história da Santana Têxtil cairia muito bem num projeto de vida como este. Somos assim, desbravadores, brasileiros, ricos em desenvolvimento de seres humanos, e reconhecedores a quilômetros de distância de um grande talento, pois é exatamente isso que move a nossa organização. Pessoas talentosas. E aqui no nosso dicionário talento tem definição clara: Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho No seu aí deve estar como CHICO ANYSIO. É mentira, Chico? Raimundo Delfino Filho Presidente – Santana Têxtil do Brasil
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Para o velho Chico — o outro.
A
lguém já disse que Chico Anísio é um ator mediúnico: ele recebe seus personagens. Mas, não é bem assim. Chico cria seus personagens através de um processo interessante: imagina que eles existam de verdade (às vezes se inspira em um ou outro conhecido) e, em seguida, em sua imaginação, cria sua vida: seu endereço, sua família, seus amigos, seus hábitos. Aí, fica – para ele – fácil faze-los viver. Chico também imagina a cara que cada um deles tem. É ele que escolhe suas cabeleiras, seus bigodes, suas roupas e, sob as luzes intensas de seu camarim, é ele mesmo que se maqueia, que cria e desenha o rosto de cada um de seus amigos imaginários. Neste livro que inventamos de fazer para perpetuar sua memória é para evitar que, no dia em que ele, “por acaso, venha a faltar”, não morra – com ele – quase cem amigos nossos de longa data, o que seria uma tragédia.
APRESENTAÇÃO
Chico criou quase duzentos personagens durante seu mais de meio século de rádio e televisão. Aqui selecionamos os oitenta mais conhecidos, os que realmente permanecem na memória recente de qualquer brasileiro. Encomendamos a quarenta dos maiores caricaturistas brasileiros duas caricaturas de cada um desses personagens, num resultado emocionante, num trabalho feito com o maior amor; cada um desses caricaturistas sentiu como se estivesse desenhando a cara de um amigo pessoal. Pedimos ao Chico, de acordo com a informação que nos dera sobre seu método de criação, que ele escrevesse os dados biográficos de cada personagem e nos passasse o texto de uma cena típica vivida por eles. André Lucas, filho do Chico, e o jornalista Sérgio Martins trataram da pesquisa; o velho Ricky Goodwin, do Pasquim, fez a curadoria da coleção de caricaturas e a Fernanda Precioso fez o projeto gráfico. Como tem autor demais neste livro, decidimos que nossos direitos autorais, resultantes da sua venda, serão entregues ao Stepan Nercessian para o devido uso da Casa dos Artistas, coisa que o Chico Anísio aprovaria sem ser consultado. Nenhum astro de primeira grandeza da televisão brasileira abriu mais espaço para que velhos artistas não desaparecessem sob as chamadas nuvens do olvido. Quanto a mim, que trabalhei algum tempo como um dos ghostwriters do Chico com textos para suas peças e para um ou outro de seus personagens, mais para as peças, – não tem nem um texto meu aproveitado neste livro – comandei esta empresa, na certeza de que, em nome do Brasil, estou fazendo ao Chico a merecida justiça.
Loredano
a escolinha do Professor Raimundo
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C
hico Anysio é, na Terra, um fenômeno humano único. Quando uso assim esta expressão em itálico quero dizer que ela se refere a uma categoria de pessoas que não têm, claro, cópia ou clone. Vou ter que usá-la sempre deste jeito – destacável no texto por
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qualquer recurso gráfico – porque a pessoa assim nomeada pode parecer um figurante do Livro dos Recordes e não é isto que quero dizer. Ali, todos são ímpares, únicos, sem semelhantes, mas não estou tratando desta gente. Os meus fenômenos humanos únicos são seres irrepetíveis que não têm nada a ver com essa idéia de vencer o outro, de fazer mais coisas do que seu concorrente, de alcançar recordes jamais atingidos por seus iguais. Meus exemplos serão de pessoas que, por seu talento, aptidões, histórias ou comportamento, viveram existências impossíveis de serem repetidas com a mesma intensidade. O primeiro exemplo da minha lista, é, naturalmente, Leonardo Da Vinci. Quinhentos anos transcorreram depois de sua passagem pela Terra e a humanidade ainda não assistiu sua repetição. Não vai ser preciso aqui destacar feitos e fatos de sua vida para justificar sua inclusão na categoria que aqui tentarei explicar com mais detalhes. Por exemplo, eis aqui um outro fenômeno humano único por quem tenho a maior admiração e respeito. E motivos para colocá-lo nesta minha lista para que ela fique bem entendida. Vocês já ouviram falar em Monsieur Pujol? Ele foi descoberto, para o Brasil, pelo Nelson Motta e pelo Miele, que aqui fizeram um show contando sua história e criaram um bar com seu nome. O que Pujol fez em vida não foi repetido ainda na Terra. Ele era um artista do Moulin Rouge que, em cena, solfejava a Marselhesa e outras canções menos dignas, sorvia água e a lançava ao ar, como um chafariz, assoviava, tragava um cigarro e fazia, no ar, rodinhas de fumaça. Fazia todas essas coisas triviais, apenas com uma diferença das pessoas comuns: ele não as fazia com a boca, se me entenderam. Isto porém, não impediu que ele fosse um respeitadíssimo cidadão francês, pai de família, bem casado, vivendo uma vida da maior dignidade, um homem fino e elegante. Nunca houve um artista como Monsieur Pujol. Ninguém, até hoje, repetiu – independente ou não de sua famosa classe e finura – seus feitos. Ele está na minha lista na mesma medida em que está
nome
Leonardo Da Vinci: ninguém, que eu saiba, repetiu seus feitos, sem estarem batendo records ou vivendo para isto. Há nomes que vêm, imediatamente, à nossa lembrança quando queremos lembrar esses fenômenos: os nomes dos gênios da humanidade. Vamos logo querendo colocar na lista o Isaac Newton. Ele foi realmente um gênio. Mas tem paralelo: Einstein e outros grandes matemáticos da história. Não vale quem tem paralelo. Sem falar do Shakespeare que é um caso especial, há um gênio que tem que entrar na minha lista pela sua irrepetidez: Victor Hugo. Nunca houve um escritor com maior glória em vida, nunca houve um escritor tão amado e tão lido por seus contemporâneos, nunca houve uma prova de amor dada por uma nação inteira como aconteceu na sua morte. Mesmo sem televisão ou cinema, ele foi sepultado por uma multidão de mais de um milhão de pessoas que seguiram seu féretro pelas ruas de Paris. É claro que nessa história toda não podia faltar meu co-horoscopiano Pablo Diego José Feliciano de Paula Juan Nepomuceno Crispin Crispiniano de la Santíssima Trinidad Ruiz Blasco Lopez y Picasso. Quem conheceu sua Primera Comuñon, pintada aos quatorze anos e, depois, toda a sua obra subseqüente, sabe que ele foi o mais extraordinário pintor – ou artista plástico, se assim querem – que a Terra jamais conheceu, um fenômeno único. Talvez a escultura de Rodin e de Camile Claudel e mais as suas vidas sejam também fenômenos humanos únicos nesta medida aqui exposta, dificilmente, o mundo vai conhecer uma outra história igual. Minha lista pode se estender por inúmeros exemplos que exigiriam de mim uma enorme pesquisa que não me parece necessária para justificar as conclusões a que quero chegar. Estão faltando, de maneira importante neste meu elenco a presença do atleta, desses que pertencem a uma raça humana cujos exemplares perfeitos e acabados não se repetem. Vejam só: não posso imaginar como um ser humano
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de dois metros e dezesseis centímetros de altura, com uma massa corpórea de mais de cento e cinqüenta quilos pode lançar-se com todo esse peso no espaço, num salto de mais de cinco metros de extensão, tomar uma bola nas mãos numa altura inalcançável por qualquer outro semelhante seu, mudar a direção no meio do salto, como num leve vôo de pássaro e colocar a bola dentro de um aro, como quem enche uma taça de champanhe. Pois vi, ainda que pela televisão, Michael Jordan fazer isto várias vezes. Jamais haverá um jogador de basquete que se compare – ou repita –, a Jordan, como estou seguro de que jamais voltarei a ver – como vi, de corpo presente – um jogador de futebol fazer o que fez Pelé. Acredito que nem eu nem as próximas futuras gerações. E isto se estamos ainda falando de humanos, como um garçon argentino me disse quando concordou que eu afirmasse que Pelé era o maior jogador de futebol de todos os tempos. Perguntei-lhe por Maradona e ele me respondeu: “Senhor, estávamos falando de humanos.” Mas, Maradona me perdoe, vocês sabem esses argentinos como são. É aqui que quero chegar: ao Brasil. Na minha lista de fenômenos humanos únicos, nós, os brasileiros, só temos, até agora, dois representantes: um, claro, é Pelé; e o outro, meus amigos, é Chico Anysio! Se ele tivesse feito sua carreira nos Estados Unidos ou na Europa – if you make it there, you make it anywhere – seria considerado o maior ator do mundo, em todos os tempos. Vamos nomear seus feitos e fazer comparações. Em que história do cinema mundial, do teatro ou da recente televisão (que sintetiza as duas expressões de arte anteriores) um ator criou mais de duzentos tipos completamente diferentes uns dos outros? Em que país seu povo conheceu ou conviveu durante anos com cada um desses tipos como se eles fossem pessoas de verdade, reconhecíveis, palpáveis, vizinhos de porta? Com Chico Anysio, o povo brasileiro viveu uma espécie de promiscuidade boa, como pode ser a inveja
boa, invenção do Zuenir Ventura. Na sua espantosa criação de tipos, Chico usou o Humor. A humanidade, porém, tende a menosprezar essa qualidade no artista que é capaz de revelar, com escárnio, ironia, deboche, desprezo pela falibilidade humana, abusado desvendamento por sua pequenez (e com o mais absoluto distanciamento), os bufões que nós – a humanidade inteira – somos. Em conjunto, nós não queremos ser vistos assim, como bufões mas, olhados com a rigorosidade do Humor, somos todos ridículos. A defesa da humanidade é achar que humorista é um artista menor. É isto: analisados com a acuidade do Humor, somos salvos por parecermos apenas engraçados. Chico Anysio, possivelmente não passará para a História como um dos nossos grandes intelectuais. A posteridade, é claro, não faz jus aos humoristas. Dificilmente colocarão seu nome em uma enciclopédia – das antigas, opinativa – como um dos nossos maiores ficcionistas. No entretanto, ele criou a mais perfeita e completa galeria de tipos humanos brasileiros – autenticamente brasileiros, unicamente brasileiros, só existentes no Brasil – da ficção nacional. Se nos recordarmos bem de todos os seus tipos – que a ligeireza da televisão pode fazer com que nós, de memória curta, nos esqueçamos – veremos que ali não falta um só dos nossos average Brazilians. Millôr, uma vez, me disse que todos os tipos do Chico eram atrabiliários. Concordo. Se há um bom adjetivo para qualificar-nos a nós, brasileiros, veremos que atrabiliário é o adjetivo que melhor nos assenta. Nosso homem médio é atrabiliário, nossos bandidos são atrabiliários, nossos sindicalistas também são, nossos scholars, quando, por exemplo, chegam à presidência do país se revelam, de tão atrabiliários, quase ridículos; nossos meninos bonitos são atrabiliários, nossas meninas das revistas fesceninas são atrabiliários, tanto quanto nosso Congresso, nossos deputados, nossos gays e nossos machões.
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Há, em nossa ficção, alguém mais brasileiro que o Deputado Justo Veríssimo? Do que Popó, o velho autoritário e ranzinza? Do que Bozó, meu Deus, na porta da Globo se fazendo de importante? O Brasil é o país dos Bozós e, se eles entram lá, se transformam no Alberto Roberto. Há algum brasileiro mais acabado, esculpido e escarrado do que o Zé do Tamborim, para mim, a maior criação do Chico? Quem não conhece Salomé, a velha gaúcha, tão verossímil. Tavares é um canalha brasileiro de deixar o Padilha – aquele que comia até as cunhadas do Nelson Rodrigues – no chinelo. E o Paínho? O Roberval, o locutor das nossas rádios do interior? E o Coalhada? E o velho Limoeiro? Nós todos – todos – conhecemos essas pessoas, elas existem, nós já convivemos com elas e quem está me lendo aqui agora, se se esqueceu, vai começar a ter saudade de sua convivência, pois eles não nos incomodavam, só diziam como somos. Para que todo este trabalho de criação de Chico Anysio o colocasse na lista nossos mais competentes ficcionistas, de nossos maiores escritores, de nossos maiores romancistas, só faltou que ele os colocasse em livros, com a palavra exata, o domínio do grande escritor. De uma certa forma, porém, Chico fez mais: ele construiu cada um desses seus personagens – e suas vidas reais – com suas vísceras, seus nervos, seus miasmas, fluidos e humores, seu olhar prescrutante, seus gestos perfeitos no ar – como se tivesse dois braços descartáveis para usar em cada personagem diferente. Seu Popó, por exemplo, como dizia um amigo meu, era interpretado até pelos seus dedos: “Chico interpreta o Popó com as unhas.” Seus personagens podem ser tocados com nossas mãos. Posso acrescentar, sem fazer comparações ou diminuir a qualidade de nossa melhor ficção, que ninguém – acredito – entre os ficcionistas brasileiros revelou-nos, a nós, brasileiros, com tamanha proficiência. Apenas para terminar este panegírico deixa eu contar uma pequena história.
Uma vez, logo nos albores do vídeo-tape, quando Carlos Manga começou a fazer televisão como se estivesse fazendo cinema, estávamos, um jornalista francês, meu amigo, e eu, assistindo ao recém-estreado programa Chico City na televisão. O francês conhecia profundamente o Brasil, já havia morado aqui e, depois de algum tempo, estava voltando ao país. Achou o programa muito bem feito: “Parece cinema”, disse. “Não há um programa assim na Europa, com essa qualidade cênica, esse tratamento. E tem mais: que elenco fantástico de humoristas!” Ele se referia à galeria de tipos que Chico fazia no programa e não acreditou quando lhe disse que o protagonista de cada quadro era o mesmo ator. Fernandel estava em moda como um dos maiores atores da Europa e meu amigo completou: “Esse cara vale por cem fernandéis.” Mas, como Deus é gozador, adora brincadeira e pra botar no mundo tinha o mundo inteiro, achou muito engraçado botar, cabreiro e na barriga da miséria, este outro Chico que, também, nasceu brasileiro. Mas, não tem importância. Fiz este livro para que a memória futura de Chico não se apague e, como o livro é uma instituição permanente – ao contrário da televisão – o mundo sempre saberá, através das caricaturas criadas por um elenco constante dos melhores caricaturistas do mundo – os brasileiros – quem é esta figura única nascida no Crato e que foi absorvida totalmente pelo velho Rio, de um jeito que só esta cidade sabe fazer com a gente (e que, no mínimo, transformou o Ceará no estado mais engraçado do Brasil). Nós, que vivemos toda a segunda metade do século XX na companhia de todos os brasileiros que Chico Anysio recriou, não podemos esquecê-los. Ou melhor, não podemos esquecê-lo.
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índice
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Carta do patrocinador 5 apresentação 8 introdução 11
Chico Anysio 6 por Lan 9 por Loredano 96 por Chico Caruso (Vários personagens) 118 por Paulo Caruso (Brasil da Peste) 190 Biografia
personagens e suas histórias 21 a 96 / 122 a 181 biografias dos personagens 97 a 117
os caricaturistas 182
das caricaturas Alberto Roberto
22
Dr Logulo
59
Paulo Jeton
125
Alfacinha
54
Dr Napoleão
40
Popó
148
Alfinete
25
Dr Salgado
42
Profeta
180
Apolo
30
Escolinha Prof. Raimundo 10
Quem-Quem
153
Azambuja
31
Franciscano
85
Roberval Taylor
152
Baiano
122
Gamação
142
Roda Presa
168
Beira-Baixa
139
Gastão
155
Sacadura
41
Bento Carneiro
38
Gavião
128
Salomé
135
Bexiga
43
Haroldo
72
Santelmo
86
Bozó
64
Jovem
50
Savicevic
27
Brazuca
57
Justo Veríssimo
53
Setembrino
126
Bruce Kane
56
Lingote
124
Silva
151
Calheiros
28
Linguinha
84
Sudênio
143
Canarinho
26
Mariano
154
Tan-Tan
129
Canavieira
45
Marmo Carrara
79
Tavares
95
Cascata
37
Mauro Maurício
73
Teteu
156
Charles Westminster
71
Meinha
83
Tim Tones
136
Cleofas
141
Milton Gama
127
Urubulino
171
Coalhada
67
Nazareno
87
Valentino
173
Coronel Bezerra
92
Neyde Taubaté
82
Véio Zuza
165
Coronel Lidu
29
Nicanor
55
Vieira Souto
172
Coronel Limoeiro
69
Nico Bondade
170
Washington
178
Dedé
68
Osvaldão
138
Ze da Silva
157
Delegado Matoso
44
Padre Miguel
58
Ze Tamborim
166
Divino
70
Painho
162
Zelberto Zel
169
Dr Hilário
140
Pantaleão
80
19
21
personagens e suas hist贸rias
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23 em quando vocês finge que vão cairem: (MOSTRA) Vocês fazem que vão, não vão, e acabam “vondo”. Outro – Mas o senhor é simplesmente um gênio.
AULA DE INTERPRETAÇÃO Alberto Roberto – Hoje vocês vão aprenderem como se representa um bêbado. Vamos então à parte técnica. Atenção: esbugalhar bem os olhos (MOSTRA) Assim, como se estivesse vendo a Luísa Erondina em traje de banho, duas peças... Outro – (IMITA) Assim? Alberto Roberto – Não, não. Assim é como se você estivesse vendo mim em traje de banho. Eu quero a Erondina. (ALUNO REPETE) Agora sim. (T) O segundo passo é ficar se balançando levemente, a princípio sem tirar os pés do chão. (MOSTRA) Assim, como o “João Bobo”. Outro – E tem algum João Específico? Alberto Roberto – Não. Pode ser qualquer “João”, desde que seja bobo. Tem o Figueiredo, tem o Quadros... Outro – Mas o Quadros é “Jânio”, não é “João”... Alberto Roberto – É verdade... Aliás, ele é Jânio porque ele não é bobo de ser João, porque se ele fosse João ele seria bobo e se fosse bobo... não estou entendendo mais nada... Outro – (REPRESENTANDO E SE BALANÇANDO) É assim, professor? Alberto Roberto – Está quase. (CONTINUANDO A MOSTRAR) Agora vocês podem começarem a darem passos desencontrados; (MOSTRA) um longo, outro curto, sempre com as pernas bambas, balançando a cabeça; e de vez
Alberto Roberto – É importante não esquecer de falar como bêbado. (COMEÇA A FALAR DESAFINADO ENQUANTO EXPLICA) Assim, bem fino, depois bem grosso, uma oitava acima e uma oitava abaixo... Todos – (PALMAS DE TODOS) Bravo! Demais! O senhor é um bêbado sem tirar nem pôr, professor. Alberto Roberto – Calmem, calmem! Falta o principal. O “ic”! Se não tiver “ic” não é um bêbado de verdade. Olhem a pronúncia: (TOM) “Hic”. Outro – Vê se é assim, professor. (TOM) “Hic”! Alberto Roberto – Este eu diria que é um tipo de “ic”! É um “ic” novela das sete: “ic”. Agora este outro já é um “ic” mas traumático, mas intempestivo, tipo novela das oito “ic”! Entenderam? Então todos repetindo comigo: novela das sete, “ic”! Novela das oito, “ic”! Novela das sete, “ic”! Novela das oito, “ic”!... (À LENTE) Representar é fácil, é só ser bem natural...
Alberto roberto
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FRENTE DE UM TEATRO. MOVIMENTAÇÃO DE CARROS PARANDO, GENTE CHEGANDO ETC. ALFINETE AO LADO DE UMA MENINA. Alfinete – Filhinha... vamos vender o drops. Menina – Não sem antes receber o que o senhor me deve, tio Alfinete. Alfinete – Não gosto de gente interesseira. Quanto o titio te deve? Menina – 50 reais. Alfinete – Vais levar um chequezinho quente e...
apesar de ser em reais, estes reais estão...cruzados. (CHAMA) Vovô... amendoim... leva um? Velho 1 – Era o que tava faltannnndo... (PEGA E SAI) Alfinete – Ali dá negócio... DIRIGE-SE A UMA SENHORA PORTUGUESA. COM ELA VEM OUTRA SENHORA IGUALMENTE LUSITANA. Alfinete – Ingressos? Custam o preço da tabela e um pequeno acréscimo pelo fato de ser um ingresso altamente privilegiado. Lusa – (PEGA OS TICKETS) Fila “U”... Esse lugar é bom?
Amiguinho – Não aplica, Alfinete. Não aplica...
Alfinete – Pode ser melhor, madame? A, E, I, O, U... Quinta fila.
Alfinete – Geremoabo, no dia em que estiveres doente e o enfermeiro for te aplicar uma injeção, eu vou ficar do lado dele dizendo exatamente isso: “Não aplica”. Aí tu vais morrer, Geremoabo.
UM GAROTO CORRENDO, CARREGANDO DOIS SANDUÍCHES.
Amiguinho – Pra que enganar a menina, Alfinete? Tu deve cinqüenta pratas; cinqüentinha e queres dar um cheque? E você ainda cruzou? Alfinete – Para lembrar a moeda antiga e valorizar o cheque que
Lusa – Me dá... (E PAGA)
Garoto – Dá licença. Tá afim de um cachorro-quente, Alfinete? Alfinete – Claro. E agradeço. Vejam. Isto é o exemplo maior de uma gentileza espontânea. (COMENDO) Como é o seu nome, jovenzinho? Garoto – Me chamam de Picuinha. Alfinete – Picuinha. (VAI COMENDO) Posso usar você no meu grupo... (TOM) Por que me deu o sanduíche, Picuinha? Para cair no meu agrado e entrar para o meu grupo, acertei? Garoto – Errou. É que um desses dois sanduíches tá com veneno. Eu queria ver qual o que não tava. (JOGA FORA O OUTRO) Obrigado. Alfinete – (CORTADO) Picuinha. Entrar para o meu grupo como? Esse, já deve ter o grupinho dele.
ALFINETE