catálogo da exposição itinerante
Para não perder a memória
Dona Zica 100 anos
A Exposição Para Não Perder a Memória: Dona Zica - 100 anos, que é parte da nossa parceria com o Centro Cultural Cartola, valoriza a atuação feminina no samba carioca. A reunião de documentos que possam ajudar a manter a tradição das mulheres no mundo do samba vai de encontro à nossa intenção de contemplar a diversidade cultural. Entre os objetivos do Petrobras Cultural estão o resgate das tradições, a sua manutenção e a possibilidade de levar o conhecimento e a arte à frente, atraindo o público e fortalecendo a cadeia produtiva. Os nomes de D. Zica e de Cartola são referência não só para o Rio de Janeiro, mas para toda a história do samba. Acreditamos nesta parceria com o Centro Cultural Cartola para continuar com o nosso intuito de preservar a memória da música brasileira. Através do Petrobras Cultural, buscamos abordar a cultura brasileira em suas mais diversas manifestações, além de contribuir para a permanente construção da memória cultural. Ao patrocinar este projeto, reafirmamos o objetivo de incentivar o trabalho de resgate e organização do acervo material e imaterial da nossa cultura, com a intenção firme de ampliar a oportunidade de acesso público a esses acervos. Este projeto foi contemplado na seleção pública do Petrobras Cultural. Em nove edições, patrocinamos mais de 1,4 mil projetos em todas as regiões do país, em diferentes áreas. Buscamos, desta forma, abordar a cultura brasileira em suas mais diversas manifestações. Petrobras
A Secretaria de Estado de Cultura tem muito orgulho em patrocinar, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, a exposição Para Não Perder a Memória: Dona Zica - 100 anos. Ela não apenas retrata a trajetória da musa e companheira de Cartola, matriarca da Estação Primeira de Mangueira e empreendedora, como também amplia o foco para documentar as grandes mulheres do samba e do carnaval e nos transporta numa viagem pelo tempo e através de continentes para traçar as ligações culturais e históricas entre África e Brasil. É um trabalho de fôlego, que parte de uma personagem seminal do samba carioca para falar de uma das mais importantes tradições culturais de nosso país – e para homenagear o papel da mulher nesse panorama.
Adriana Rattes - Secretária de Estado de Cultura
As ações educacionais praticadas pelo Centro Cultural Cartola são fruto da reflexão sobre o papel das instituições de memória na contemporaneidade. Mais do que apresentar o visível ou produzir conhecimento, por visitas guiadas ou mediadas, tais ações visam promover sentimentos, fazer conhecer o passado para entender o presente e, acima de tudo, despertar desejos, provocar mudanças nos indivíduos, atuando de forma positiva na transformação das sociedades. Fazer circular a exposição “Para Não Perder a Memória: Dona Zica - 100 anos”, que integra o Projeto “Memória das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro”, é um exercício de cidadania, de protagonismo social, com o Brasil real contando sua história, apresentando a cultura popular. Essa parceria entre a PETROBRAS, a SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA, o ensino formal e a sociedade civil é marco de uma agenda política construída coletivamente, da necessidade de mostrar ao Brasil a sua cara, a sua gente, levando em consideração nossa produção simbólica, nossa memória afetiva, proporcionando vivência, troca de saberes, permitindo construção de múltiplos significados aos indivíduos e fazendo despertar o interesse pelo nosso patrimônio cultural – o samba carioca – valorizando nossa identidade cultural. Centro Cultural Cartola
Samba
em revista
O samba carioca e o legado da última geração de africanos escravizados do sudeste 8
9
Martha Abreu Departamento de História da UFF Anthony Nadaes Pereira e Eline Cypriano Pesquisadores
O
s especialistas em cultura negra nas Américas dividem-se entre os que defendem as continuidades
e persistências do legado africano – os chamados africanismos – e os que argumentam que tudo o que os africanos criaram nas Américas é novo e original. Esses últimos - que buscaram entender os chamados processos de crioulização - levam em conta as heranças africanas
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sim, mas destacam a criatividade e inovação dos africanos e seus descendentes, a partir de trocas e negociações, na luta pela sua afirmação no Novo Mundo.1 Os estudos sobre a história do samba, ou dos sambas, no Brasil e no Rio de Janeiro, podem ser situados nessa encruzilhada, entre africanismos e crioulizações, entre continuidades e mudanças – pares inseparáveis de qualquer História. Nos termos propostos por Nei Lopes,
1. Ver Price, Richard. O Milagre da Crioulização: Retrospectiva. Estudos Afro-asiáticos, ano 25, n. 3, 2003, p. 383-419.
Mas como foi possível surgir um produto negro, ao mesmo tempo novo e moderno, chamado de samba, nas primeiras décadas do século XX?
Samba
em revista
“entre tradições e recriações”;2 nos termos de Robert
importante destacar a atuação de um grupo específico
do cativeiro nos cafezais7. Entre as matrizes centro-
com as expressões culturais negras da cidade, com seus
Slenes, entre “recordações e esperanças”, bases para a
de migrantes negros: os descendentes da última geração
africanas da cultura escrava, os africanos escravizados
lundus, cordões e ternos de reis, e em diálogo com os
formação de memórias, identidades e projetos futuros .
de africanos e escravizados do sudeste, oriundos dos
reconstruíram em terras de café o canto responsório
baianos recém-chegados10, esses migrantes, entre o final
Nei Lopes procurou mostrar, há algum tempo, o
velhos vales de café do interior do estado do Rio de
(chamado e resposta), a interação entre o solista e
do século XIX e primeiras décadas do século XX, foram
quanto o chamado samba moderno e urbano do Rio
Janeiro, Minas Gerais e São Paulo (grupo formado por
o coro, o verso e o desafio verbal nos momentos de
atores imprescindíveis na renovação e fundação dos
de Janeiro, e o partido-alto em particular, nasceu, ao
fluminenses, mineiros e paulistas, nas palavras de Nei
trabalho, diversão ou devoção, expressos em seus
patrimônios culturais negros modernos: o samba de
mesmo tempo negro e “absolutamente novo e carioca” ,
Lopes). Seus representantes provinham de diferentes
jongos, calangos, folias de reis e calangos . Seus filhos e
partido alto e as escolas de samba.
pouco tempo depois da abolição da escravidão, em
áreas do sudeste, mas trouxeram para a cidade do Rio
netos, ao migrarem para o Rio de Janeiro renovaram a
1888. Como arte e cultura política, esse samba tornou-
de Janeiro uma experiência histórica e cultural comum,
África dos povos Bantus e as fontes centro-africanas em
se um dos melhores caminhos para os descendentes de
logo visível e localizável nos morros, subúrbios e áreas
plena Belle Époque carioca.
africanos projetarem seu mundo e suas esperanças nas
rurais da Baixada fluminense5, através de seus jongos,
Mas além de compartilharem expressões culturais
primeiras décadas do século XX.
calangos, folias de reis, macumbas e umbandas. O
e religiosas, os migrantes dos velhos vales do café
Mas como foi possível surgir um produto negro, ao
calango e principalmente o desafio calangueado, já
possuíam um passado e uma história comuns. Foram
mesmo tempo novo e moderno, chamado de samba,
mostrou Nei Lopes, teria sido decisivo para a formatação
protagonistas do desmonte e deslegitimação da
nas primeiras décadas do século XX?
do partido-alto.6 Por outro lado, fluminenses, mineiros
escravidão, na segunda metade do século XIX, através
Para Nei Lopes, valorizando o protagonismo dos
e paulistas, também calangueiros, jongueiros e foliões
das lutas pela alforria, pelo acesso à roça, à família e pelo
atores sociais, as novidades devem ser buscadas e
de reis, foram presença marcante na fundação das
direito de festejar; estiveram presentes nas lutas finais
explicadas a partir da chegada de novas migrações de
escolas de samba, a partir do final da década 1920.
pela abolição, através de fugas coletivas e desestabilização
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trabalhadores negros - baianos, fluminenses, mineiros
E o que esses migrantes, descendentes da última
da dominação senhorial. As memórias do cativeiro e da
e paulistas - ex-escravos, seus filhos e netos, para a
geração de africanos e escravizados do sudeste, tinham
vitória da abolição não seriam esquecidas rapidamente9.
então capital do país, a partir do final do século XIX e
em comum?
Assim, ao se encontrarem nos morros cariocas e
primeiras décadas do século XX. Os novos migrantes,
A grande maioria dos escravizados do sudeste
nas periferias rurais da cidade, os migrantes do interior
com diferentes recordações negras, não apenas da
cafeeiro, na primeira metade do século XIX, veio da
do Rio de Janeiro e Minas Gerais poderiam facilmente
África, trariam suas famílias, memórias, patrimônio
África centro ocidental, região conhecida como Congo-
encontrar pontos em comum na bagagem cultural que
cultural, musical e artístico - expressões duramente
Angola – eram negros Bantus. Esses africanos, mesmo
traziam, tanto na lembrança de seus antepassados, como
construídas nos tempos de cativeiro em diferentes
que de diferentes povos, como Benguelas, Congos,
nas memórias do cativeiro e da liberdade. Devem ter se
partes do Brasil.
Cabindas, compartilhavam proximidades linguísticas,
reconhecido rapidamente, formando redes de vizinhos,
Para além da reconhecida importância dos baianos
religiosas, musicais e políticas, que facilitaram a criação
amigos e parceiros de rodas de samba e trabalho, ao
no nascimento do samba carioca, entendemos que é
de elementos de coesão e solidariedade nas experiências
circularem entre a região do porto, dos morros da
2. Lopes, Nei. O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical. Partido-Alto, Calango, Chula e outras Cantorias. Rio de Janeiro, Pallas, 1992, p.61. 3. Slenes, Robert. Na Senzala, uma Flor. Esperanças e Recordações na Formação da Família Escrava, Brasil, Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999, p .13. 4. Embora novo, o autor não descartou a ideia de que esse mesmo samba devia muito a “tradições e matérias primas anteriores”, criadas pelos africanos e seus descendentes em várias partes do Brasil, sempre em diálogo com os batuques de Angola e Congo. “O Negro no Rio de Janeiro”, p. 53.
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Tijuca e das estações de trem dos subúrbios. Em diálogo 5. Sobre a Baixada Fluminense, principalmente a região de Nova Iguaçu, ver Costa, Carlos Eduardo. Campesinato Negro no Pós Abolição: Migração, Estabilização e os Registros Civis de Nascimento. Vale Paraíba e Baixada Fluminense, RJ (1888-1940). Dissertação de Mestrado em História. Rio de Janeiro: UFRJ,2008. http://teses2.ufrj.br/Teses/IFCS_M/ CarlosEduardoCoutinhodaCosta.pdf 6. Lopes, Nei. Partido Alto: Samba de Bamba. Rio de Janeiro, Pallas, 2005.
7. Slenes, Robert. “Na Senzala” Na Senzala, uma Flor. Esperanças e Recordações na Formação da Família Escrava, Brasil, Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999. 8. Ver Passados Presentes (Mattos, H. e Abreu, Martha, orgs). Coletânea de Filmes. Labhoi/UFF. http://www.labhoi.uff.br/ passadospresentes/filmes_passados.php. 9. Mattos, Hebe e Rios, Ana Lugão, Memórias do Cativeiro. Família, Trabalho e Cidadania no Pós-Abolição. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005.
10. Gomes, Tiago. Para Além da Casa da Tia. Outras Experiências no Universo Cultural Carioca, 1830-1930. Revista Afro-Asia 29/30 (2003). http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n29_30_p175.pdf
Samba
em revista
Para compreender o carnaval
12
Felipe Ferreira Coordenador do Centro de Referência do Carnaval, professor do Instituto de Artes da Uerj e autor de diversos livros sobre o tema carnavalesco.
O
As primeiras manifestações carnavalescas
no Brasil foram trazidas pelos colonizadores portugueses que começavam a chegar ao país já na primeira metade do século XVI. As brincadeiras aconteciam nos dias que antecediam a “entrada” da Quaresma e, por causa disso, ficaram conhecidos pelo nome de Entrudo. Durante trezentos anos cada cidade brasileira tinha sua forma de comemorar esse período. Festas, danças nas ruas e encenações populares, organizadas pelas autoridades, pelas corporações de ofício ou pelo próprio povo ocupavam as praças dos centros urbanos do país. Mas o maior divertimento era mesmo as pessoas pregarem todo tipo de peças umas nas outras. A coisa chegou
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ENTRUDO
a tal ponto que, nos primeiros anos do século XIX a
A partir daí, o Entrudo – que acontecia de forma
eram os bailes mascarados e os passeios de carruagem,
diferente dentro e fora das casas e ruas das cidades
ambos devidamente importados para cá com o nome
brasileiras – passou a ser descrito como uma festa “suja
de Carnaval pra não se confundir com o indesejado
e brutal” pela imprensa da época. O resultado disso foi
Entrudo. Se no frio Carnaval de Paris, os bailes
que logo após a independência do país já havia uma
realizados em grandes salões acabavam superando os
verdadeira campanha contra essa diversão. “Precisamos
passeios de carruagem pelas ruas muitas vezes cobertas
acabar com essa imundície”, comentavam os jornais.
de neve ou gelo, na capital brasileira, o calor de fevereiro
“Temos que exterminar o Entrudo”, conclamava parte da
incentivava os eventos externos. O resultado é que os
burguesia brasileira. “O governo precisa inventar uma nova
deslocamentos dos foliões de sua casa para os bailes,
diversão carnavalesca”, bradavam os políticos.
geralmente realizados em carruagens abertas lotadas de pessoas fantasiadas se tornariam uma diversão em
cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil,
O carnaval mostra que está vivo como nunca, respondendo a novos anseios e novas tecnologias.
tornou-se conhecida mundialmente pela bagunça que
OS PASSEIOS
si. Foi então que, no Carnaval de 1855, um grupo de
ocupava suas ruas durante os dias de folia. “Nesses dias”
A solução e a resposta para este problema estava bem
foliões elegantes decidiu organizar um grupo de dezenas
comentavam os viajantes que por aqui passavam, “uma
longe no Brasil, mais precisamente em Paris, cidade
de carruagens, juntar uma banda de música e turmas de
pessoa não pode passear pelas estreitas ruas da cidade sem
que, já naquela época, lançava modas copiadas em todo
rapazes a cavalo abrindo e fechando o cortejo e realizar
levar baldes de água sobre a cabeça, ou receber esguichos das
o mundo ocidental. E a moda do carnaval parisiense,
um verdadeiro desfile pelas principais ruas da cidade.
grandes seringas cheias de líquidos de proveniência duvidosa”.
o mais famoso do mundo a partir da década de 1830,
O desfile desse grupo, chamado de Congresso das
Samba
em revista
14
Sumidades Carnavalescas, teve um sucesso tão grande
A ORGANIZAÇÃO
melodias que lembravam as marchas portuguesas.
abrindo as portas das quadras e dos próprios desfiles
que acabou inspirando outras turmas a se organizar
A riqueza da folia carioca nas duas primeiras
Era preciso valorizar o que fosse “nosso” afastando-
aos diferentes grupos sociais da cidade a partir dos anos
para passear pelo Rio de Janeiro durante o carnaval
décadas do século XX nunca mais foi igualada. A
se o mais possível das raízes carnavalescas europeias.
50. As transformações decorrentes desse movimento
surgindo assim as Sociedades Carnavalescas.
aparente “confusão carnavalesca” era, na verdade,
É nesse momento que a “descoberta” do samba
se refletirão na organização das agremiações e em sua
um grande caldeirão que reunia povo, elite, brancos,
como novo ritmo brasileiro vai chamar a atenção da
forma de desfilar. Deixando de serem vistas como
A CONFUSÃO
negros, mulatos, homens, mulheres e crianças
intelectualidade para os grupos de “samba de morro”
espaços intocáveis da cultura popular, as escolas passam
Em poucos anos, dezenas de Sociedades já
em manifestações carnavalescas que associavam a
que começavam a aparecer nas favelas cariocas. Atraídos
a incorporar a ideia de espetáculo em suas apresentações
desfilavam pelas ruas do centro da cidade, disputando
sofisticação e beleza do carnaval dos bailes e passeios à
para o “asfalto”, esses grupos musicais chamavam a
conquistando, com isso, um novo público. Com o
entre si o exíguo espaço urbano carioca e inspirando
espontaneidade e descontração da folia popular. É desta
atenção pelo novo estilo de samba “batucado”, diferente
advento do televisionamento na década de 1970, essa
outros centros urbanos Brasil a fora. “O Carnaval está
rica mistura que, pouco a pouco, seriam identificadas as
do samba “maxixado” que fazia sucesso na época, e pela
fama torna-se cada vez mais planetária impondo novos
vencendo o Entrudo”, proclamava a elite nos estandartes
formas carnavalescas que marcaram os antigos carnavais
harmonia das vozes das pastoras. Em pouco tempo
padrões estéticos e organizacionais que se refletem na
montados sobre suas carruagens e sobre os carros
cariocas e fariam dela a maior festa popular do mundo.
esses grupos começaram a ser chamados de “escolas do
criação da LIESA e na construção do Sambódromo e,
alegóricos que começavam a aparecer em alguns grupos.
Ranchos, Blocos, Cordões e Sociedades, categorias que
samba”, uma referência ao nome “rancho-escola” pelo
mais tarde, da Cidade do Samba.
Apesar disso, o povo das ruas e boa parte da própria
dominariam o carnaval da primeira metade do século
qual muitos Ranchos eram conhecidos. Nos primeiros
elite não abria mão das brincadeiras menos sofisticadas
XX, são todos provenientes dessa “confusão” original,
anos da década de 1930, este grupos, já conhecidos
MAIS CONFUSÃO
e a bagunça “entrudística” teimava em continuar
gerada nas ruas do Rio de Janeiro. O interesse dos
como “escolas de samba”, participavam de concursos
Com a chegada do século XXI e a expansão da
existindo sob a forma dos antigos foliões avulsos, com
jornais, do turismo, dos políticos e da intelectualidade
promovidos pelos jornais, atraindo para a Praça Onze,
Internet através dos grupos de discussão, fóruns e mídias
suas seringas e baldes de água, e dos grupos populares
de então incentivaria a divulgação desses grupos e as
local das disputas, uma grande massa popular, além
sociais o Carnaval adquire novas faces, traduzidas pela
semi-organizados, verdadeiros “blocos de sujos”,
disputas entre eles determinando as características de
do apoio de intelectuais encarregados de julgar as
facilidade de organização de grupos de foliões e das
conhecidos então como Zé Pereiras. Juntavam-se a isto,
cada um, suas “origens” e peculiaridades. O Carnaval
apresentações. Nesse período a questão mais importante
análises críticas dos desfiles das escolas. O resultado é,
os grupos negros, conhecidos como Cucumbis, que
carioca se organizava, assumindo a primazia da festa
para as escolas de samba era a afirmação de sua tradição
de um lado, o questionamento constante do formato
se aproveitavam da liberalidade das autoridades para
brasileira e atraindo os olhares do mundo.
(característica que as diferenciava dos outros grupos
dos desfiles e da organização das escolas de samba e,
carnavalescos). A raiz negra e popular era a base que
de outro, o surgimento de uma nova “onda” de grupos
Agosto de 2014 Ano 6
Número 5
desfilar nos dias de Carnaval. O resultado do encontro de toda esta gente pelas ruas do Rio de Janeiro durante
O SAMBA
sustentava as escolas, o que explica a obrigatoriedade da
populares, caracterizada pela formação de diferentes
os três dias de carnaval seria o surgimento de grupos
Nunca será suficiente louvar o papel dos Ranchos,
ala de baianas e a proibição de instrumentos de sopro
“blocos” com formatos e interesses diferentes que
misturando as diferentes formas de brincadeira num
Cordões, Blocos e Sociedades para a organização e
nas baterias, já presentes no primeiro regulamento
passaram a ocupar as ruas do Rio de Janeiro e do Brasil.
verdadeira “confusão carnavalesca” composta dos mais
divulgação do carnaval brasileiro. Entretanto, já nos
conhecido dos desfiles, de 1933.
diferentes tipos de associações. Na passagem do século
anos 1920, muitos intelectuais começavam a criticar o
Durante as primeiras décadas de sua existência,
respondendo a novos anseios e novas tecnologias. O
XIX para o XX, a variedade de formas e organizações
excesso de “espetacularidade” das principais brincadeiras
as escolas vão reafirmar seu caráter “tradicional” sem
Rio de Janeiro reafirma sua centralidade carnavalesca,
criadas para a folia era tanta que ficava impossível para
carnavalescas cariocas. As antigas Sociedades se
abrir mão, entretanto, da incorporação de novidades
propondo, mais uma vez, novos formatos de diversões.
um observador entender as diferenças entre cada grupo.
transformaram nas Grandes Sociedades com suas
capazes de criar as identidades de cada agremiação.
O futuro está nas nossas mãos, mas não estamos
A sensação daquela elite que havia importado para o
gigantescas alegorias. Os Cordões, eminentemente
É esta capacidade de responder de forma prática
sozinhos, junto conosco encontram-se todos aquele
Brasil a festa parisiense era a de que o novo Carnaval
negros, nunca gozaram de boa reputação. Os Ranchos
aos desafios que se apresentavam que fará com que
foliões do passado que nos ensinaram que o Carnaval é
tinha sucumbido frente ao Entrudo e que tudo estava
e os Blocos se sofisticavam, apresentando enredos
as escolas de samba assimilem a participação da
nossa maior herança cultural.
perdido.
mirabolantes e fantasias ricas e grandiosas ao som de
intelectualidade de esquerda em seu processo criativo
O carnaval mostra que está vivo como nunca,
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Samba
em revista
O Samba e a fundamental força feminina
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Nei Lopes escritor e sambista
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D
urante a escravidão africana nas Américas, o pa pel desempenhado pelas mulheres negras foi de
primeira plana. Muito menos numerosas que os ho mens, com suas canções de ninar, histórias e danças, elas foram durante séculos o único elo entre a realidade da escravidão e o continente de origem. Sem esse elo, a herança negro-africana, sustentáculo cultural de toda a Diáspora, estaria irremediavelmente perdida. Como trabalhadoras, elas serviram no campo e nas cidades, como criadas domésticas e vendedoras de rua (dando percentagens das vendas aos seus donos), num ramo de atividade em que muitas, por seu tino empresarial, che
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garam a conquistar alforria, amealhar fortuna e chefiar famílias numerosas. No universo do samba não foi diferente. Desde a Bahia, a presença feminina afrodescendente foi determinante. Não só pela elegância de suas vestes, que acabaram por tornar-se traje típico nacional, mas também pela graça de seus passos e de toda a sua coreografia, que moldou e consolidou a dança do samba, mulheres afro-baianas se tornaram efetivamente as grandes matriarcas do samba. Vai daí que, tanto nas agremiações
Não só pela elegância de suas vestes, que acabaram por tornar-se traje típico nacional, mas também pela graça de seus passos e de toda a sua coreografia, que moldou e consolidou a dança do samba, mulheres afro-baianas se tornaram efetivamente as grandes matriarcas do samba.
Samba
em revista
(...) tanto nas agremiações carnavalescas quanto em outros ambientes e ocasiões em que a cultura sambística se manifesta, a presença feminina é determinante: ela se impõe como reflexo da experiência histórica da mulher na sociedade brasileira; em especial daquela vivida pelas afrodescendentes.
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(...) a participação feminina na construção e manutenção do samba vai muito além dos clichês da “mulata”, “cabrocha” ou “jambete”.
carnavalescas quanto em outros ambientes e ocasiões
Pires, citada por Sérgio Cabral no livro “As escolas de
A referida Carmelita Brasil teria sido também a
do mesmo autor; e a década seguinte vê surgirem,
em que a cultura sambística se manifesta, a presença
samba do Rio de Janeiro”. Mais tarde revelaram-se as
primeira mulher a dirigir uma escola de samba na região
no cenário do samba gravado, as vozes de Carmem
feminina é determinante: ela se impõe como reflexo da
primeiras mulheres compositoras no recém-nascido
metropolitana do Rio, tendo exercido a presidência da
Miranda, Araci de Almeida, Marília Batista e outras.
experiência histórica da mulher na sociedade brasileira;
gênero samba-enredo. Neste aspecto o pioneirismo,
Ponte de 1957 até 1979. Depois dela, registram-se os
Observemos que além dessas pioneiras, outras
em especial daquela vivida pelas afrodescendentes.
segundo os registros históricos, cabe a Carmelita Brasil,
exemplos de Terezinha Monte (Unidos do Cabuçu, 1984);
como Pérola Negra, Déo Maia e Horacina Correia, por
Nas escolas de samba, desde os primórdios, a
fundadora e primeira presidente da escola de samba
Elizabeth Nunes (Acadêmicos do Salgueiro, 1986); Neide
exemplo, foram também responsáveis por levar o samba
atuação das mulheres foi decisiva em termos musicais
Unidos da Ponte, de São João de Meriti. Assinando,
Coimbra (Império Serrano, 2004); Vera Lúcia Corrêa
ao teatro, ao rádio e ao cinema.
e coreográficos, constituindo-se elas – como pastoras
sozinha ou em parceria, os sambas de 1958 a 1961, e o de
(Império Serrano, 2010); e Regina Céli (Salgueiro, 2008).
Vemos então que a participação feminina na
(“damas”) ou “baianas” – no grande suporte do
1964, Dona Carmelita foi também a criadora de vários
Convém destacar, ainda, nas escolas, a participação das
construção e manutenção do samba vai muito além dos
canto coral, da evolução e da harmonia. Em face
dos temas desenvolvidos por sua escola nas décadas de
mulheres como porta-bandeiras e passistas.
clichês da “mulata”, “cabrocha” ou “jambete”. Pelos
dessa importância, até meados da década de 1970,
1950 e 60. No carnaval de 1965, ainda mencionada
No ambiente do disco, talvez a primeira participação
exemplos citados – além de outros contemporâneos --
aproximadamente, dançar nos terreiros (hoje, quadras)
como Ivone dos Santos, a mais tarde consagrada Dona
feminina na gravação de um samba tenha sido a da
fica patente a importância artística e política da mulher
das escolas era privilégio e obrigação das pastoras,
Ivone Lara surgia como coautora do samba-enredo do
cantora Izaltina, que, em 1920, gravou em dupla com
na condução dos destinos do principal e inquebrantável
exatamente como ocorre com as iniciadas nos terreiros
Império Serrano “Cinco bailes da história do Rio”.
o intérprete criador do “Pelo telefone”, Baiano, o
símbolo da identidade nacional brasileira.
tradicionais de culto aos orixás.
Na condição de intérprete, no desfile principal, a
samba carnavalesco “Quem vem atrás fecha a porta”, de
Outro segmento em que as mulheres garantiram
primazia parece caber à cantora Carmem Silvana que,
Caninha. Ainda naquela década, o mesmo cantor trazia
participação foi no de ritmistas. Assim, já em 1938, a
na década de 1960, gravou um LP intitulado O rouxinol
à cera Maria Marzulo, dividindo com ela a interpretação
legendária Dagmar, cunhada do legendário Natal da
do Império. A ela coube, em 1964, a função de puxadora
de “O casaco da mulata”, Em 1927, a cantora e atriz
Portela, destacava-se como a primeira mulher a participar
do samba-enredo “Aquarela brasileira”, de Silas de
Rosa Negra, projetada a partir da Companhia Negra de
de uma bateria, tocando surdo no desfile de sua escola.
Oliveira. Dois anos depois, em 1966, Surica da Portela
Revistas, grava em dupla com Francisco Alves o samba
ajudava a puxar o samba “Memórias de um sargento de
“Não quero saber mais dela”, de autoria de Sinhô.
milícias” no desfile de sua escola.
Dois anos depois, Araci Cortes grava o célebre “Jura”,
No terreno da criação musical, em 1933, a Unidos da Tijuca tinha em seus quadros a compositora Amélia
** REF.: “Dicionário da História Social do Samba” (Nei Lopes e Luiz Antônio Simas, inédito)
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Samba
em revista
“A força que faz a vida valer a pena” 20
Nilcemar Nogueira Doutoranda em Psicologia Social pela UERJ Luciano Nascimento Doutorando em Teoria Literária pela UFSC Desirree Reis Mestranda em História pela PUC-Rio
A
música popular brasileira e, em particular, o samba carioca devem muito a 1913, o ano em que nasceu
Dona Zica. Como bem disse o jornalista Sergio Cabral, ela é uma fantástica lição de amor à vida. Mesmo quando a vida a submeteu a provas difíceis, sua resposta sempre foi o amor – quase sempre acompanhado de bom humor. Nascida em 06 de fevereiro de 1913, um domingo de Carnaval, no bairro de Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro, a filha de Dona Gertrudes Efigênia dos Santos foi registrada com o nome de “Euzébia” em homenagem ao pai, Euzébio Silva, guarda-freios da Estação Central do Brasil, que morreu num trágico acidente de trem,
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quando a filha tinha apenas um ano de idade. O apelido foi dado por sua madrinha, Cabocla, no dia do batizado. Grande amiga de D. Gertrudes, Cabocla não se agradou ao saber que a pequena menina se chamaria “Euzébia”. O apelido ficou e, como a própria Zica reconheceu anos mais tarde, ele foi sua primeira identidade, sua grande marca. Quando tinha quatro anos, por dificuldades financeiras, mudou com sua mãe e mais quatro irmãos para o morro da Mangueira. Seu primeiro emprego,
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Samba
em revista
D. Zica voltou a morar na Mangueira. Lá, reencontrou Cartola, um velho conhecido, (...) Foi um reencontro que gerou uma nova vida. Eu sou feliz, muito feliz, nunca deixei nada me abater.
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Hoje o CCC se transformou em um importante
ainda menina, foi o de empregada doméstica em
Quando perdeu o marido, D. Zica voltou a morar
Copacabana, numa casa cuja dona sempre a maltratava.
na Mangueira. Lá, reencontrou Cartola, um velho
Permaneceu no emprego dos sete aos doze anos de
conhecido, que também tinha ficado viúvo de sua
Esses encontros acabaram contribuindo para o
abriga não só a memória de Dona Zica e de Cartola, mas
idade. Autodidata, aprendeu a ler sozinha para não
primeira mulher, Deolinda. Foi um reencontro que
surgimento do Zicartola, a primeira casa de samba
a história do samba e a de tantos outros personagens
errar nas compras da patroa.
gerou uma nova vida. Cartola, que morava no Caju,
do Brasil. Nele, Cartola ficaria responsável pela parte
que ajudaram a fazer desse ritmo uma das principais
Mais tarde sua família foi morar no Engenho Novo.
estava desempregado e afastado do samba, decidiu
musical, e Zica, pela comida. Muito mais do que um
referências culturais do povo brasileiro.
Lá D. Zica conheceu Carlos Dias do Nascimento, com
voltar a morar no morro, para ele e Zica ficarem juntos.
bar e restaurante, o Zicartola foi um espaço de reunião
Diante de uma biografia tão rica, nada melhor
quem se casaria, aos 19 anos de idade. O casal foi
A dificuldade era grande, mas bem maiores eram o
de grandes compositores, pessoas conhecidas do meio
que encerrar a narrativa com as sábias palavras de sua
morar na Abolição. Com o marido, Zica participava
amor e a esperança. Cartola tinha arranjado um emprego
artístico, jornalistas, políticos e estudantes. Um lugar
protagonista:
dos ensaios da Escola de Samba Estação Primeira de
de lavador de carros em Ipanema. Nas proximidades da
que uniu sambistas do morro e do asfalto, mas que,
Mangueira quase todos os fins de semana. Para ajudar
garagem onde trabalhava, encontrou um dia o jornalista
infelizmente, não durou muito.
nas despesas da casa, passou a trabalhar como tecelã
Sérgio Porto, um reencontro decisivo na carreira do
De volta à Mangueira, Zica trabalhou muito pela
pisando, mesmo que nunca mais volte a pisar nele outra vez.
numa fábrica instalada no mesmo bairro da Escola.
compositor da Mangueira. Nessa época, Zica, além de
comunidade e pela Escola de Samba do morro, projetando-
É verdade que nasci pobre, fui empregada, tive cinco filhos e
Anos depois trocou a fábrica de tecidos pela cozinha
trabalhar como lavadeira e cozinheira, conseguiu, com
se como uma das grandes figuras femininas do samba
quatro morreram, três ainda bem pequenos; mas nada me
na Embaixada do Sossego, uma das chamadas Grandes
Guilherme Romano, um emprego público para o marido.
carioca. Foi diretora feminina, uma das fundadoras da
derrubou. Pior que ser pobre é se entregar e não saber tirar de
Sociedades do carnaval carioca. Lá trabalhou como
Foi então que o diretor do Departamento de Turismo
“Mangueira do Amanhã” – escola mirim idealizada pela
si mesmo a força que faz a vida valer a pena. A minha valeu.”
lavadora de pratos, depois, passou a ajudante de
da Prefeitura carioca, Mário Saladini, designou o casal
cantora Alcione e que ajudou na implementação dos
Dona Zica (1913-2013)
cozinha. A seguir, transferiu-se para o Clube Bola Preta,
para exercer a função de zeladores de um velho prédio
projetos sociais que tanto mudaram o destino de jovens
onde foi cozinheira.
do casal sempre tinha um feijão, uma carne assada, uma carne seca com abóbora para o “tira-gosto”.
na Rua dos Andradas, que seria a sede para a Associação
da comunidade verde-e-rosa. D. Zica foi também a grande
Teve cinco filhos biológicos: Glória Regina – a
das Escolas de Sambas. Lá não tardaram a acontecer
articuladora para a materialização do sonho de seus netos
primeira, hoje com 81 anos –, Reginaldo, Reinaldo
rodas de samba, onde não faltavam as comidas de Dona
Nilcemar e Pedro Paulo: ela conseguiu junto ao poder
e Ruth – que morreram ainda crianças – e Vilma – a
Zica, que de dia fazia marmitas para vender no terminal
público o espaço físico para que fosse erguida a sede do
caçula, que faleceu aos 22 anos.
de ônibus para motoristas e cobradores. Assim, na casa
Centro Cultural Cartola, o CCC.
Centro de Referência do Samba Carioca, um lugar que
“Eu sou feliz, muito feliz, nunca deixei nada me abater. Sigo em frente procurando a beleza do caminho que estou
** Referência Bibliográfica: CABRAL, Sérgio. “D. Zica: uma lição de amor à vida”. In: NOGUEIRA, Nilcemar. D. Zica, tempero, amor e arte. Rio de Janeiro: Mauad, 2004.
23
Samba
em revista
“[...] nem os mortos estarão em segurança se o inimigo vencer.” (Walter Benjamin, filósofo alemão)
A
na Bahia entre os séculos XVII e XIX, atravessa o Oceano
parceria do Centro Cultural Cartola/ Museu do
Atlântico no porão do primeiro navio negreiro que trouxe
Samba Carioca (CCC/MSC) com a Secretaria de Estado
negros escravizados da África para as Américas, ainda
de Cultura e a Petrobras, e integra o Projeto Memória das
no século XVI, e chega à costa ocidental do continente
Matrizes do Samba do Rio de Janeiro. O Projeto, por sua
africano, onde, até então, o negro vivia livre. Em paz ou
vez, complementa e fortalece o Plano de Salvaguarda das
em guerra (como qualquer ser humano desde sempre
Matrizes do Samba Carioca – partido alto, samba de terreiro
viveu, solitário ou em grupo); mas livre da prática do
e samba-enredo – expressões artísticas reconhecidas como
comércio de escravos humanos transformada em política
Patrimônio Cultural do Brasil em dezembro de 2007, e
de estado pelo colonizador branco europeu. É esse percurso memorialístico e histórico-cultural
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
que a exposição D. Zica – 100 anos deseja, em primeiro
– IPHAN. Considerando essa imensa rede de ações e de
lugar, apresentar. Ele é parte relevante do caminho
instituições direta ou indiretamente envolvidas com a
escolhido pelo CCC/MSC no desenvolvimento do
realização da Exposição, fica fácil entrever que não se trata
projeto Memória das Matrizes do Samba do Rio de Janeiro
apenas de um evento comemorativo.
e do Plano de Salvaguarda das Matrizes do Samba Carioca.
O vínculo entre Euzébia Silva de Oliveira, a D.
Toda essa estrutura tem como objetivo maior o exercício
Zica, e o samba é tão profundo e natural que talvez
e a promoção da Educação Patrimonial. Ou seja: todas
pareça dispensar maiores explicações. Entretanto,
essas são ações que partem do compromisso do CCC/
nunca é demais evidenciar que a ligação entre essa
MSC com práticas que fomentem, por um lado, um
manifestação cultural e a eterna primeira-dama da
senso estético que (re)conheça e valorize nuances
Estação Primeira de Mangueira dá testemunho do
legitimamente negras/africanas da cultura brasileira;
Número 5
inscritas no Livro de Registro das Formas de Expressão
papel central desempenhado pelas mulheres no samba
e, por outro lado, a consciência crítica e histórica que
e no carnaval como um todo. E mais: essa ligação tem
desperte nas pessoas o desejo de reivindicar o respeito e
características que também colaboram decisivamente
a valorização tantas vezes ainda hoje negados ao negro e
Agosto de 2014 Ano 6
24
Exposição D. Zica – 100 anos é fruto de uma
para se compreender de maneira mais nítida a própria
às suas manifestações culturais.
grandeza do gênero na cultura brasileira.
A fim de alcançarmos esse objetivo e de cumprirmos
Uma grandeza, aliás, bidimensional, pois se expande
nosso compromisso, a Mostra foi dividida em quatro
no espaço e no tempo, e nos leva a uma longa viagem
seções: “Matrizes africanas da(s) cultura(s) brasileira(s)”,
que se inicia nas favelas cariocas contemporâneas, vai aos
“Samba: herança africana em terras brasileiras”, “A mulher
portos e mercados de escravos negros no Rio de Janeiro e
do samba e do carnaval” e, por fim, “D. Zica - 100 anos”.
25
1ª Seção: “Matrizes africanas da(s) cultura(s) brasileira(s) Nesta seção podem-se ver fotos, esculturas,
e a egiptologia muitas vezes se esforçam por apagar a
de fé religiosa, e considerando em primeiro plano o
e trazidos para as Américas pelos brancos europeus,
utensílios de origem africana, e uma amostra de alguns
lembrança de que grandes civilizações se formaram
aspecto mítico-literário dessas narrativas, destacam-se
quanto dos grandes reis e rainhas negros, de Kêtu, do
dos produtos mais frequentemente comercializados por
e viveram na África antes da chegada do europeu
as histórias das iabás, as orixás femininas, como: Nanã,
Daomé, do Congo, de Angola... das candaces do Império
mulheres naquele continente. Todos esses elementos
colonizador. A dissociação entre o esplendor do Império
Obá, Iansã, Iemanjá, Oxum...
Kush... dos negros e negras egípcios cujo avanço cultural
compõem um rápido panorama de aspectos da vida
Egípcio e a história do restante das terras africanas
Iabás e candaces (como algumas daquelas rainhas
e tecnológico até hoje intriga e fascina a humanidade
sociocultural na África. Neles a presença, a influência
talvez seja a maior prova dessa aparente “negligência”.
“de carne e osso” eram chamadas) tinham muito em
inteira... e até dos primeiros hominídeos que forjaram
da mulher é inegável. Além disso, observando-os, é
Para citar um exemplo apenas dessa estratégia, basta
comum. Mulheres de personalidade forte, buscavam
o ferro e lascaram a pedra há milênios, muito antes de
possível perceber que há muito do continente africano
lembrar que o rosto hollywoodiano de Cleópatra tem
realizar seus desejos com disposição e sabedoria; mães
qualquer europeu, portanto, pois também foi na África
em nós, brasileiros: na arte, na culinária, mas também
traços europeus: os de Elizabeth Taylor. Entretanto, a
zelosas, cuidavam da subsistência de seus filhos e, mais
que o Homo sapiens surgiu e começou a dominar essas
nas representações e relações sociais... Esses elementos
menção a Cleópatra é pertinente, ainda, por um outro
especificamente no caso das últimas, eram responsáveis
tecnologias. O segundo grande objetivo dessa seção é
demonstram ainda que, ao contrário do que vários
aspecto também muito importante para se compreender
pela educação que os conduziria ao trono, garantindo,
evidenciar que a herança gloriosa desses grandes homens
programas de TV, reportagens e até livros didáticos
a visão de mundo africana: a centralidade da mulher na
assim, a manutenção da dinastia (as candaces eram
e mulheres negros do passado está muito viva entre nós,
parecem se esforçar por mostrar, o “continente negro”
organização social.
“rainhas-mães”). A bravura é outro traço arquetípico
afrobrasileiros: na nossa capacidade e na nossa maneira
não é um espaço homogêneo, marcado por uma única
Cleópatra não foi a única rainha africana. Houve
comum entre candaces e iabás: se subestimadas, tanto
de resistir às adversidades, e de superá-las; na força, na
paisagem natural, intocada, “berço da vida original”, e,
muitas outras, fortes e respeitadas – não raro, temidas.
umas quanto outras lutavam com todas as forças e
garra, na fibra das “mulheres-mães-leoas”, que protegem,
por isso mesmo, rudimentar, “não-civilizado”. A África
Um exemplo disso é a fama da Rainha Ginga (nome
todas as armas para derrotar seus oponentes, fossem
alimentam e (muitas vezes) ensinam as próprias “crias” a
é enorme e diversa sob todos os aspectos: geográfico,
abrasileirado de “Nzinga Mbande”, de Angola), ainda
eles físicos (uma pessoa ou um exército por exemplo)
“caçar” e a “sobreviver” na “selva de letras e números” do
climático, étnico, cultural...
hoje alimentada pelas congadas brasileiras. Revelando
ou metafísicos (sentimentos, crenças ou convenções
cotidiano; no comércio – de subsistência – de pequenas
Já em seu enredo para o desfile magistral da Beija-
grande habilidade diplomática, Nzinga articulou
sociais). Faziam de tudo em prol de seus filhos, de seus
mercadorias e produtos artesanais dos mercados
Flor de Nilópolis no ano de 1988 (“Sou negro, do Egito
tratados e liderou vários exércitos na resistência africana
protegidos, de sua comunidade, enfim.
populares; na nossa musicalidade mundialmente
à liberdade”), Joãozinho Trinta advertia para o fato de
diante da investida portuguesa; foram décadas de luta!
Essa primeira seção tem, então, dois objetivos
reconhecida... Toda essa herança é, sem dúvida, motivo
as correntes mais conservadoras das várias ciências
Além das histórias de rainhas “de carne e osso”,
principais. O primeiro é mostrar aos espectadores da
de muito orgulho para todos nós, afrobrasileiros.
sociais costumarem negligenciar o valor cultural das
narrativas sobre divindades femininas são muito
Exposição que o negro brasileiro de hoje é herdeiro
Reconhecê-la é libertador, é vital.
comunidades autóctones africanas. A historiografia
comuns em várias regiões da África. À parte questões
tanto dos homens e mulheres humilhados, escravizados
2ª Seção: “Samba: herança africana em terras brasileiras” O carnaval brasileiro é o resultado da mistura da cultura africana com a festa trazida pelos Portugueses, o
(em coro), no acompanhamento rítmico (batucando,
uma sucessão de círculos concêntricos e contíguos. No
É por isso que o objetivo dessa seção é mostrar
arrastando os pés, batendo palmas...) ou na dança.
centro deles está a “essência do samba”: uma abstração
que, muito mais do que só mais um ritmo musical, o
entrudo, uma festa que sofreu diversas modificações ao
Portanto, bem ao contrário da verticalização
que se pode entender como a soma das potências de
“samba é uma maneira de viver”, uma manifestação
longo dos anos e que tem características diferentes em
hierarquizante imposta pela própria disposição espacial
todos os caracteres que compõem essa manifestação
cultural que veicula uma visão de mundo tipicamente
cada estado do nosso Brasil. No Rio de Janeiro os blocos
de uma sala de concerto ou de balé europeia, por exemplo
cultural. Quanto mais próximo de centro dessa espiral
africana, não discricionária, mas que se sustenta na
carnavalescos e as Escolas de Samba promovem a maior
(com os artistas num plano e o público em outro), o
imaginária um sujeito está, maior seu capital simbólico
equidade, no respeito, num senso de solidariedade
festa popular do mundo. Para mostrar tudo isso, essa
samba promove a equidade, porque nele se privilegia um
na grande comunidade do samba.
quase parental... Em suma, o samba se fundamenta e
seção também traz fotos, vídeos, utensílios, instrumentos
só plano: o horizontal. Na roda de samba, forma original
Pulsando significados nesse arranjo peculiar,
fomenta o senso de pertencimento a uma comunidade.
etc; é parte dela, ainda, uma pequena oficina de
e consagrada de materialização e experimentação do
estimulando uma profusão de sentidos, provocando
Indo um pouco mais longe: a grande comunidade que
percussão, ministrada por ritmistas da Mangueira. E,
ritmo, músicos, cantores e ouvintes se confundem, todos
múltiplas sensações corpóreas, o samba gera, então,
o samba fez e faz surgir é profundamente influenciada
para não perder de vista o objetivo geral da exposição,
são participantes. A roda é uma celebração com canto e
sentimento e comportamento opostos ao ascetismo
por práticas matriarcais bastante antigas, mas ainda
vamos destacar traços marcadamente africanos em alguns
dança coletivos. Tudo isso, em geral, permeado por muita
geralmente
e
comuns em terras africanas, e que, em decorrência do
caracteres da manifestação artística “samba”, a dança e o
comida e bebida. É a “Kizomba”.
imobilizante da ópera, do balé ou mesmo do teatro.
tráfico e da escravidão, também podem ser facilmente
Entretanto, a disposição espacial horizontal e o
Conjugando em si características comuns a todas essas
observadas entre nós, afrobrasileiros. Basta lembrar,
Naturalmente múltiplo – por envolver canto
clima de festa não se traduzem, absolutamente, em
outras formas de expressão, o samba provoca em seus
por exemplo, dos mitos africanos das mulheres mães-
vocal, dança e acompanhamento rítmico instrumental
ausência de hierarquia. A roda de samba, o giro anti-
sujeitos o movimento dançarino; ele é “o dono do
guerreiras – as candaces –, e da atualização desses mitos
harmônico e/ou percussivo –, o samba é ainda mais
horário da comunidade na quadra da escola de samba
corpo”, como diz Muniz Sodré, porque a síncopa (a
no papel de mediadoras culturais desempenhado
complexo por implicar o componente humano
e dos fiéis no toque ou na gira do terreiro religioso,
substituição de um som forte por um fraco na marcação
pelas “tias” baianas no Rio de Janeiro, na virada do
de maneira muito peculiar: nele, no samba, todos
todas essas são manifestações de uma visão holística
do compasso) que tipifica o samba (e outros ritmos
séc. XIX para o XX. Essa mediação foi uma força
são sujeitos. Ele é uma expressão artístico-cultural
de mundo, perfeitamente identificada com a forma
de matriz africana, como o jazz e o reggae), promove a
que gerou e alimentou o samba, e ainda hoje ensina
essencialmente performativa, que só se realiza em
geométrica do círculo. Assim, em todas essas versões de
resposta espacial do corpo – o movimento, a dança –
muitos sambistas a sobreviver... Esse é um dos pontos
plenitude com a imediata participação de todos os
“roda” em que o samba se materializa ou se inspira, é
a um estímulo de ordem temporal (qualquer ritmo só
principais tratados na terceira seção da Exposição.
envolvidos – e não só dos “artistas” –, seja no canto
possível imaginar uma espécie de “espiral de sentidos”:
existe no tempo).
ritmo que identificam o carnaval brasileiro.
exigido
pelo
acento
confortável
3ª seção: “A mulher do samba e do carnaval” Esta seção apresenta gravuras, fotos e depoimentos
lavando e passando roupa para fora, cozinhando quitutes
para o Morro da Mangueira vem sendo atualizada, há
mulher em muitas comunidades africanas de hoje e de
gravados em vídeo. É nela também que se evocam os
para depois vendê-los em ruas, praças e quermesses.
anos, pelo ativismo de Nilcemar Nogueira, neta de Zica
outrora se repete em todos os momentos da história
nomes de grandes personagens femininas do samba e
As mulheres intelectuais, musicistas, intérpretes e
e diretora do Centro Cultural Cartola. Nilcemar é uma
do samba e do carnaval, a despeito de todo machismo
do carnaval, como: as “tias” baianas (dentre elas, a mais
presidentes de agremiações até hoje enfrentam o desafio
das principais responsáveis pela patrimonialização do
sempre presente na sociedade brasileira. O samba
famosa, Tia Ciata); Teresinha Monte, Ruça, Regina Celi
do machismo e do preconceito...
samba carioca.
carioca nasceu, cresceu e ainda hoje vive fortemente
– presidentes de agremiações carnavalescas; Clementina
Talvez por isso hoje em dia haja poucas tias como
Por tudo isso hoje, ao lado de feijoadas, angus,
influenciado
por
personagens
femininas
sábias,
de Jesus, Clara Nunes, D. Ivone Lara, Alcione, Beth
aquelas de antigamente; mas elas ainda podem ser vistas
carurus, acarajés etc, oportunidades de ascensão
guerreiras, provedoras... enfim: constantes atualizações
Carvalho, Leci Brandão e outras intérpretes e/ou
nas feijoadas ou angus com roda de samba, comuns no
socioeconômica e intelectual fazem parte do cardápio
das figuras míticas das iabás e das candaces.
compositoras de destaque no cenário musical brasileiro;
Rio de Janeiro, ou na recente “Feira das iabás”, evento
e do arsenal de subsistência que as mulheres do samba
D. Neuma da Mangueira, D. Dodô e Tia Surica da
de música, dança e gastronomia que mensalmente
e do carnaval têm colocado à disposição de crianças,
Portela, Tia Nilda da Mocidade, Raquel Valença,
reúne samba, jongo, comida e bebida em Madureira,
jovens e até adultos de tantas comunidades pobres do
Selminha Sorriso, personalidades marcantes na vida das
próximo à quadra da Escola de Samba Portela. “Novo
Rio de Janeiro e de outros lugares do Brasil. Os versos
escolas de samba; além da homenageada D. Zica, é claro.
mundo, novos tempos”: as tias agora – já há algum
de uma dessas “novas velhas tias”, a mangueirense Leci
Como não ver nas mulheres do samba e do carnaval,
tempo, na verdade – cada vez mais colaboram para a
Brandão, são um emblema dessa nova postura: “E na
de ontem e de hoje, reflexo das iabás, das candaces, da
sobrevivência de seus sobrinhos por meio de projetos
hora que a televisão brasileira/ distrai toda gente com a sua
mulher africana, enfim? As “tias” baianas, na virada dos
sociais que promovem a intervenção político-ideológica
novela/ é que o Zé põe a boca no mundo,/ ele faz um discurso
séculos XIX - XX, transformavam suas casas em pontos de
que abre portas, gera oportunidades e consciência
profundo,/ ele quer ver o bem da favela.// Está nascendo um
acolhida de imigrantes nordestinos trabalhadores no Rio
crítica, preserva e celebra nossa memória histórica e
novo líder/ no Morro do Pau da Bandeira [...]”.
de Janeiro, dando a eles teto, alimento e, com frequência,
social. Um exemplo claro disso: a atuação de D. Zica e
Diante de uma rede de significações tão vasta e
conforto espiritual. Essas mesmas tias sustentaram com
de D. Neuma na luta por melhorias em infraestrutura
intrincada, o objetivo principal da terceira seção é bem
a força dos próprios braços muitos desses “sobrinhos”:
e serviços públicos (creches, escolas, posto de saúde etc)
pontual: demonstrar que a inegável nuclearidade da
Dona Zica, a homenageada maior dessa Exposição, foi, sem dúvida, uma candace.
4ª Seção: “Dona Zica - 100 anos” A quarta seção, como as demais, também recorre
Mas o objetivo dessa seção não é fazer um apanhado
querem reafirmá-la em seu lugar de fato e de direito: o
Mais cedo ou mais tarde, direta ou indiretamente, todos
a suportes audiovisuais (fotos, vídeos, depoimentos,
cronológico e superficial da biografia de D. Zica. Aqui
de típica matriarca afrobrasileira, mãe-poeta do abraço,
foram atraídos pelo cheiro da comida da quituteira ou
recortes de jornal...). Em comum, todos esses elementos
o que se pretende é colocar em evidência aquela que
do sorriso, do cheiro e do gosto.
por seu tempero (que ganhou fama), por seu sorriso fácil
têm um aspecto muito significativo: D. Zica dificilmente
talvez seja a característica mais substantiva de sua vida:
Não se trata, é claro, de tentar embaçar o valor das
e luminoso, ou por seu afago maternal e quente, que
aparece sozinha. Sempre há pessoas ao seu lado –
a poesia viva e sensorial de seu constante exercício da
palavras e melodias de Cartola. Tentar isso seria inútil,
nem a frieza quilométrica das câmeras de TV abalava. A
famosos e anônimos abraçados por ela ou a abraçando
maternidade. Maternidade em sentido amplo, africano:
porque é impossível: Angenor de Oliveira foi um gênio
partir daí, a exemplo do que tias baianas de outrora já
–; há quase sempre um sorriso em seus lábios, e,
o de “mãe maior” de uma comunidade inteira. Um
de nossa música, de nossas Letras, da cultura brasileira.
tinham feito, D. Zica usou essa sua influência na busca
quando há lágrimas nos olhos, tampouco são lágrimas
sentimento que ultrapassa os laços consanguíneos
Tampouco se quer estabelecer aqui qualquer tipo de
por conquistas para sua comunidade: escolas, creches...
solitárias. D. Zica tinha um espírito agregador. Esse
da família, os vínculos afetivos com a “nação
“guerra dos sexos” entre os cônjuges. Nossa intenção
atenção e atuação do Estado quase sempre omisso,
espírito agregador, contudo, não constrangia a força da
mangueirense”, e abraça simbolicamente a todos os
é, sim, trazer à tona algo tão naturalizado que às vezes
maternidade, enfim, para filhos até então enjeitados da
guerreira que lutava pela vida com dedicação integral à
amantes do samba. Maternidade que, em última análise,
passa despercebido: a necessidade humana de afeto dá,
“Pátria amada, mãe gentil”.
família, aos amigos, à sua escola de samba de coração, a
alça D. Zica à condição de mediadora cultural, de ponte
dentro da comunidade, importância e efetivo poder a
Cartola compunha; tinha e tem uma legião de
Estação Primeira, e ao Morro da Mangueira.
entre a comunidade da Mangueira e artistas – outros –
quem abraça, afaga, cuida e alimenta. Quanto maiores
apaixonados admiradores da poesia de suas palavras e
renomados, intelectuais da elite, políticos influentes...
são a capacidade de acolhimento e a generosidade que
suas melodias; uma multidão que ainda hoje se extasia
Os dados biográficos de Euzébia Silva de Oliveira, a D. Zica, demonstram a vida de sacrifícios, lutas e vitórias
Falamos também em “poesia sensorial” de maneira
uma pessoa revela, quanto mais variadas forem as formas
pela audição, em primeira instância. Zica tocava e se
dessa carioca de Piedade que virou a grande matriarca
intencionalmente provocadora. Em pleno séc. XXI,
de realização dessa generosidade, maior a ascendência
deixava tocar, sorria e fazia sorrir, alimentava corpos e
da Mangueira. Casou-se pela primeira vez ainda bem
um tempo de busca pelo respeito e pela efetivação da
dessa pessoa sobre outras, maior é o número daqueles
almas... Era a matriz comunitária da poesia cotidiana
jovem e teve cinco filhos; depois de ficar viúva, casou-se
igualdade de direitos entre os gêneros, e num espaço
que se colocam sob sua proteção.
viva no tato, na visão, no olfato e no paladar. Era a
novamente, com Angenor de Oliveira, o Cartola; era
ainda bastante machista (como o mundo do samba
Foi essa relação de ascendência – afetiva e efetiva –
guerreira, conquistadora e guardiã de direitos coletivos
cozinheira de profissão e, na década de 1960, abriu com
é), queremos também ressaltar: por mais importante
que D. Zica consolidou ao longo de sua vida. Familiares,
alienados, negados historicamente. Era a poeta que
seu segundo marido o famoso bar “Zicartola”, ponto
e simbólico que esse dado biográfico seja, D. Zica
velhos amigos, desconhecidos que se tornaram grandes
rimava afeição com compromisso.
de encontro de artistas e de intelectuais; foi diretora
era muito mais do que “apenas” a esposa de Cartola,
amigos, jovens militantes da UNE, intelectuais
da ala de pastoras da agremiação carnavalesca verde-e-
grande entre os grandes poetas do som. No centenário
resistentes ao regime ditatorial brasileiro na década de
rosa; morreu dormindo em casa, em janeiro de 2003.
de Euzébia Silva de Oliveira, o CCC/MSC e a Petrobras
60, artistas, foliões anônimos na quadra da Mangueira...
D. Zica, a Tia Zica, mais que sobrinhos, teve filhos. Inúmeros. Como as candaces... e as iabás...
Samba
em revista
Lília Gutman Mestre em Letras pela UERJ Desirree Reis Mestranda em História pela PUC-Rio Rondelly Cavulla Mestranda em Museologia pela UNIRIO
50
51
Atividades Pedagógicas
A
exposição itinerante “Para não Perder a
compõe de uma parte coral (refrão ou “primeira”) e uma
Memória: Dona Zica - 100 anos” pretende
parte solada com versos improvisados ou do repertório
promover o reconhecimento, respeito e a valorização
tradicional, os quais podem ou não se referir ao assunto
da contribuição negra/africana à cultura brasileira. A
do refrão”. Samba de terreiro, também denominado
exposição pode ser abordada e trabalhada de diferentes
Samba de Quadra, é aquele criado e cantado, durante o
maneiras. A ideia aqui é apresentar oportunidades
ano nas rodas que acontecem nos terreiros das escolas. Já
de desenvolvimento e desdobramento do tema,
o Samba-enredo, que é o mais conhecido quando se fala
utilizando o conteúdo exposto como fonte primária de
em carnaval e escolas de samba, é aquele composto para
conhecimento, associado às disciplinas estudadas no
os desfiles anuais e que descreve uma história: o enredo.
Parte das atividades propostas tem como referência
pelas atividades pedagógicas, que visam contribuir
Número 5
A exposição será potencializada e desdobrada
o dossiê encaminhado ao Instituto do Patrimônio
para a formação de um cidadão consciente e sensível
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para o registro
à sua trajetória, considerando que a habilidade de
do Samba Carioca como Patrimônio Cultural Imaterial
interpretação de objetos e manifestações culturais
Agosto de 2014 Ano 6
ensino fundamental e médio.
do Brasil. Esse documento considera como matrizes
aumenta a nossa capacidade de leitura, de compreensão
desse gênero musical três tipos de práticas socioculturais:
do mundo. Tais atividades são um exercício lúdico
Partido-alto, Samba de Terreiro e Samba-enredo. De
e prazeroso da História e Cultura Afro-brasileira e
acordo com o pesquisador (sambista e partideiro) Nei
Africana, que, por sua vez, contemplam a Lei 10.639/03,
Lopes, partido-alto é “uma espécie de samba cantado em
tornando obrigatório seu ensino em escolas públicas e
forma de desafio por dois ou mais contendores e que se
particulares do nível fundamental ao médio.
Samba
em revista
Material usado em oficina no Centro Cultural Cartola, 2013.
Recado ao Professor
Atividade “Álbum de bamba”
Desenvolvimento - Iniciar conversa sobre as característi-
As atividades pedagógicas aqui apresentadas foram criadas a partir de
Objetivo - Reforçar elementos e personalidades ligadas
cas da população africana relacionando com o ambiente
experiências bem-sucedidas com grupos visitantes no Centro Cultural
ao samba carioca, a partir da exposição Samba Patrimô-
quente e úmido. Em seguida, disponibilizar ou pedir que
Cartola. Todas as atividades têm a indicação de áreas do conhecimento
nio Imaterial.
os alunos levem de casa, qualquer tecido com aproxima-
que são contempladas mais diretamente pela temática ou pela
Desenvolvimento - Após visita à exposição, reunir o
damente 150 cm (comprimento) x 50 (largura) cm.
metodologia proposta, embora os desdobramentos sejam possíveis numa
grupo e iniciar uma conversa voltada para a valorização
Recursos - tecido para turbante, na proporção de 150
perspectiva transdisciplinar. Cada professor ou monitor poderá seguir a
das personalidades vistas. Em seguida, pedir que eles
cm (comprimento) x 50 cm (largura) para cada turban-
proposta e adaptá-la de acordo com sua experiência com o grupo.
montem um Álbum de Bambas do Samba Carioca no
te; tesoura.
intuito de apresentarem esse patrimônio imaterial para
Complexidade - Média.
das mesmas, podendo variar conforme a faixa etária e particularidades
outras pessoas, como se faz com um álbum de família.
Indicação - Geografia.
do grupo, além da indicação de complexidade: “baixa”, “média”, “alta”.
Recursos - Recortes de jornais e revistas relacionados
Duração - 1h30min.
Os recursos necessários à realização das atividades são, na maioria
ao samba carioca. Papel, retalhos de carnaval, cola,
Tutorial - http://migre.me/jeDjH ; http://migre.me/
dos casos, os já disponíveis nas escolas. Alguns textos de apoio,
grampeador e tesoura.
jeDl2 ; http://migre.me/jeDlz
figuras ou esquemas são apresentados junto à atividade, para facilitar
Complexidade - Baixa.
o trabalho do professor ou monitor quando for necessária utilização
Indicação - Arte, História e Geografia.
Agosto de 2014 Ano 6
Número 5
Para facilitar o planejamento das atividades, há indicação da duração
53
de material específico. Caso você tenha alguma sugestão ou queira relatar sua experiência
Atividade “Turbante”
na realização das atividades com seus alunos, fique à vontade para
Objetivo - Promover conversa sobre a estética dos traços
compartilhar conosco fotos ou materiais produzidos através do e-mail
africanos: cabelo e nariz. Valorização do cabelo cacheado,
cartola@cartola.org.br .
crespo e liso, a partir de um artigo de beleza muito usado
Bom trabalho!
por mulheres em diferentes países, principalmente do con-
Equipe Caderno Pedagógico
tinente africano e também, pelas “tias” baianas: o turbante.
Encontro Baianas do Acarajé, 2014.
52
Samba
em revista
Atividade “A Imaterialidade”
de Quadra. Já o Samba-enredo, talvez o mais popular
A necessidade e o desejo de preservação são o, o que
Objetivo - Desenvolver associação entre o tema da ex-
entre os três, é aquele que fala sobre um tema específico
mudam são os mecanismos de proteção. Várias relações
posição e a disciplina de Ciências, relacionando a imate-
(o enredo) e é feito para ser cantado em cortejo.
entre essas duas iniciativas são possíveis. Fonte: http://
Atividade “Exposição: Quem é a sua Dona Zica?”
rialidade do Samba Carioca, registrado como Patrimônio
O professor pode continuar as associações descrevendo
migre.me/jeDpr ; http://migre.me/jeDpO ; http://
Objetivo - Estabelecer uma relação direta entre a re-
Imaterial, com o Ar, também de característica imaterial.
as características dos gases citados acima. Fonte: http://
migre.me/jeDqj
alidade diária dos alunos com a exposição, no que se
Desenvolvimento - A partir da exposição, abordar o
www.brasilescola.com/biologia/composicao-do-ar.htm
Complexidade - Média.
refere ao papel de cuidado, acolhimento e luta tão car-
Indicação - Ciências.
acterísticos das mulheres citadas.
registro do Samba Carioca como Patrimônio Imaterial.
54
Estabelecer associação entre o teor intangível e seus ele-
Atividade “Preservação da Memória”
mentos de formação do Samba Carioca e do Ar.
Objetivo - Sensibilizar os alunos para a questão da preser-
Atividade “Minha Tia Baiana”
com ênfase na importância da mulher no processo de
Complexidade - Média.
vação das características essenciais de determinada mani-
Objetivo - Promover a reflexão acerca do reconhecimen-
legitimação do samba, pedir que os alunos levem uma
Indicação - Ciências.
festação cultural, como exemplo as três Matrizes do Sam-
to das figuras que ocupam o lugar das Tias Baianas na
foto, objeto ou desenho de quem representa para eles a
ba Carioca, estabelecendo relação com a importância da
vida desses jovens. Estimular associações no que se ref-
figura de mulher forte e acolhedora, como a de Dona
Texto de Apoio
preservação de animais em perigo de extinção.
ere à figura das Tias Baianas, a partir da exposição.
Zica da Mangueira. Reunir as fotos em formato de
Nossos hábitos e costumes contam bastante sobre quem
Desenvolvimento - Após conversa introdutória, pedir que
Desenvolvimento - Relembrar o que foi visto na ex-
exposição em que cada um possa apresentar sua con-
somos, ou seja, o que comemos, o que vestimos, nossas
cada aluno cite uma medida de preservação e comente.
posição, reforçando a importância e o papel da mulher
tribuição para outros alunos e ou turma.
guerreira e acolhedora. Pedir que cada aluno divida
Recursos - Fio de nylon e fita adesiva para compor a
Agosto de 2014 Ano 6
Número 5
danças, comidas e músicas falam sobre nós mesmos.
Desenvolvimento - Após conversa sobre a exposição
Esses elementos culturais são considerados Patrimônio
Texto de apoio
com a turma quem é a “Tia Baiana” da vida dele. Quem
exposição.
Cultural, pois estão ligados à forma com que nos desen-
O processo de extinção de espécies é muito semelhante
é a pessoa que o cria ou criou, quem é a pessoa que
Complexidade - Média.
volvemos e nos relacionamos com o mundo, enquanto
ao processo de extinção de determinada prática cultur-
cuida de várias crianças na vizinhança, etc.
Indicação - Geografia e Artes
seres humanos.
al. A Ciência considera a extinção, um evento natural,
Complexidade - Média.
O Patrimônio Cultural é composto por aspectos pre-
o mesmo ocorre com as expressões sócio-culturais já
Indicação - Língua Portuguesa, Geografia e História.
dominantes de natureza material e imaterial. Conforme
que a cultura é uma força viva e dinâmica. É possível
abordado na exposição, o Samba Carioca foi registra-
fazer analogias sobre esse assunto com o nosso patrimô-
Atividade “Tem Rainha aqui”
do como Patrimônio Imaterial devido à imaterialidade
nio, o Samba: o Brasil assinou uma série de acordos
Objetivo - Valorizar as mulheres fortes e respeitadas af-
do ritmo. O Samba Carioca, enquanto ritmo, não tem
e convenções nacionais e internacionais relacionadas
ricanas e brasileiras de acordo com relevância de suas
cor, nem cheiro e nem gosto, assim como o Ar. O Ar
tanto com a conservação de espécies e habitats em
ações, relacionando-as com a exposição. Abordar figuras
que respiramos é formado por diversos gases, principal-
perigo quanto com a salvaguarda (preservação) de ele-
como as Iabás e Candaces.
mente pelo gás nitrogênio, gás oxigênio e o gás carbôni-
mentos fundamentais de nossa cultura sob ameaça de
Desenvolvimento - Pedir que cada aluno escolha uma
co. O mesmo acontece com o Samba Carioca, que é
desaparecimento. No primeiro caso, a Convenção para
das mulheres citadas na exposição e pesquise em casa
formado pelo Samba de Partido-Alto, Samba-enredo e
a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas
sobre elas, em diversas fontes: internet, com a família,
Samba de Terreiro.
Naturais dos Países da América, em vigor desde 1965,
vizinhos, livros, instituições próximas, entre outras. Na
O Samba de Partido-Alto é caracterizado por uma parte
visa garantir que os países adotem medidas para evitar a
aula seguinte, solicitar que eles apresentem para a tur-
fixa cantada em coral e uma parte improvisada canta-
extinção de espécies, já no que se refere aos elementos
ma quem eles escolheram, o motivo da escolha, quem
da por dois ou mais partideiros em forma de desafio.
culturais, podemos citar a Convenção para a Salvaguar-
elas foram ou são e o que elas realizaram.
Cantado durante as festividades das escolas de samba,
da do Patrimônio Cultural Imaterial, de 2003, que reg-
Complexidade - Alta.
o Samba de Terreiro é também conhecido como Samba
ulamenta a proteção ampla do patrimônio imaterial.
Indicação - Língua Portuguesa, História, Geografia, Artes.
Dona Zica com crianças na quadra da Mangueira.
55
Samba
em revista
Atividade “Tô fazendo a minha música”
Duração - 50 min.
porta-bandeira, mestre de bateria, ritmista, passista,
Objetivo - Compor uma versão vivenciada a partir da
Complexidade - Baixa.
coreógrafo, pavilhão, samba-enredo, África, compos-
música “Ensaboa, Mulata”, de Cartola.
Indicação - Língua Portuguesa, Ed. Física, Dança.
itor, musa, rainha, ala, surdo, agogô, chocalho, triângulo, cuíca, repique, tamborim, pandeiro, comissão
Desenvolvimento - Fazer uma roda com o grupo de visitantes para ouvirem a música. Ensinar, através da ob-
Atividade “O que é um Museu?”
de frente, baluarte, velha-guarda, carro alegórico, pur-
servação de movimentos, uma coreografia simples que
Objetivo - Construir um conceito básico de “MUSEU”
purina, destaque, desfile, avenida, lantejoula, ensaio,
represente o conteúdo da música, com gestos de fácil
com o visitante à exposição.
ritmo, compasso, Mangueira, harmonia, figurino, car-
execução e entendimento.
Desenvolvimento - Perguntar ao grupo quem já visitou
navalesco, pluma, paetê, fantasia, adereço,dança, canto,
um museu, ou quem sabe o que é um museu. A partir
quadra, barracão, etc.
Ensaboa (Cartola)
das falas dos visitantes, apresentar 4 cartazes:
E também a mesma quantidade de outras palavras que
Ensaboa mulata, ensaboa
OLHAR
não tenham significação específica voltada para “Samba”.
Atividade “Quem é você?”
Cada visitante pega uma palavra do saco (se possível
Objetivo - Combinar peças de um quebra-cabeça para
OUVIR
FAZER
PENSAR
Ensaboa
56
Tô ensaboando
Dividir o grupo em 4 subgrupos e pedir que cada um
de TNT), a lê em voz alta e a coloca em uma das duas
compor rostos de personagens emblemáticos do uni-
Ensaboa mulata, ensaboa
represente uma de cada proposta do cartaz. Entregar
caixas dispostas no centro da roda. A caixa 1 deverá es-
verso do samba. Trabalhar com o grupo as biografias,
Ensaboa
uma folha identificada com os referidos verbos para um
tar identificada por ser colorida, enfeitada (se possível
estimulando a inserção de elementos de ficção e reali-
Tô ensaboando
“representante” do grupo e pedir que escrevam o que
com elementos que eles mesmos carnavalizaram previa-
dade, permitindo que os alunos agreguem a perspectiva
Tô lavando a minha roupa
OLHARAM/OUVIRAM/FIZERAM/PENSARAM.
mente) e a caixa 2 coberta com papel de uma só cor ou
afetiva na construção de suas narrativas.
Lá em casa estão me chamando Dondon
Ex. “Nós ouvimos a música do Cartola”; “nós olhamos
recortes de jornal. A classificação das palavras se dará
Desenvolvimento - O grupo de visitantes é dividido em
Ensaboa mulata, ensaboa
a foto da D.Zica”; “nós fizemos uma roda e sambamos”;
pela colocação na caixa 1 de palavras relacionadas a
tantos quantos forem os rostos disponíveis para montar.
Ensaboa
“nós pensamos como era viver no tempo em que Car-
“samba”. Na caixa 2 serão colocadas as demais palavras.
As fotos cortadas em tiras são misturadas para os grupos
Tô ensaboando
tola nasceu “, etc.
Desenvolvimento 2 - Usar as palavras de cada caixa para
buscarem as peças e montarem os rostos de Dona Zica,
Os fio que é meu, que é meu
Duração - 50 min.
a realização de operações matemáticas como somar o
Cartola, Tia Surica, Dona Neuma, Paulo da Portela,
E que é dela
Recursos - Cartolina, caneta hidrocor, lápis, caneta es-
total das palavras do saco, subtrair algumas a partir de
Donga, etc. Após a montagem, cada grupo apresenta
Rebenta a goela de tanto chorá
ferográfica.
critério estabelecido pelo professor, etc. Pode-se, tam-
para os demais o que ele aprendeu ou sabe sobre a figu-
O rio tá seco, o sol não vem não
Complexidade - Baixa.
bém, usar uma terceira caixa para formar o conjunto
ra representada.
Vortemos pra casa
Indicação - Língua Portuguesa, Artes, Filosofia.
de todos os elementos que são comuns a dois ou mais
Recursos - Fotos impressas de Dona Zica, Cartola, Tia
conjuntos (interseção, na teoria dos Conjuntos).
Surica, Dona Neuma, Paulo da Portela, Donga, entre
Atividade “Mundo do Samba”
Recursos - Papel cartão, caneta, 3 caixas, material de car-
outros, coladas em cartolina, plastificadas com material
Uma vez aprendido e repetido com facilidade pelo
Objetivo - Ampliar vocabulário pela classificação de
naval (sobras ou recicláveis), recortes de jornal e 1 saco.
tipo Contact e cortadas em tiras.
grupo, propor alternativas para o refrão “Tô lavando a
palavras que pertençam ao campo semântico “samba”
Duração - 50 min cada.
Duração - 50 min.
minha roupa”, usando o verbo no gerúndio para gestos
através de ludicidade.
Complexidade - Média.
Complexidade - Média.
que eles mesmos sugiram. Todo o grupo canta e repete
Desenvolvimento 1 - Após visita à exposição, faz-se uma
Indicação - Arte, Língua Portuguesa e Matemática.
Indicação - História, Língua Portuguesa.
com aquele que o inventou, sob o estímulo do moni-
roda. Apresenta-se ao grupo um saco de tecido com pa-
tor/professor.
lavras escritas em papel cartão (se possível, plastificado),
Ex.: “Tô estendendo a roupa”; “tô tocando violão”; “tô
a saber:
mexendo a panela”, etc.
Do campo semântico “Samba”: escola, mestre-sala,
Número 5
Chamando Dondon
Agosto de 2014 Ano 6
Roda de conversa durante visita mediada com alunos do ensino fundamental, 2014.
57
Samba
em revista
Atividade “Oficina de contas”
exposição e receber pistas. Ganha a dupla que acertar
Objetivo - Confeccionar estandarte a partir de elemen-
Objetivo - Criar colares, semelhantes aos usados pelas
mais perguntas.
tos que representem a escola de samba (cor, origem,
baianas da exposição, usando lógica matemática para a
Recursos - Papel e caneta.
fundação, etc.)
confecção dos mesmos.
Duração - 50 min.
Desenvolvimento 1 - Disponibilizar tecido de algodão
Desenvolvimento 1 - Selecionar peças por COR, FOR-
Complexidade - Baixa.
Atividade “Você apresentador de TV”
(tipo morim) para que sejam colados elementos caracter-
MATO, TAMANHO, MATERIAL, etc. Dar aos alunos
Indicação - Português, Artes e Geografia.
Objetivo - Incentivar a fala em público, raciocínio lógi-
izadores da escola de samba criada por eles e também
um fio colorido e dar instruções para utilizar os recursos
para que desenhem com canetas hidrocores e escrevam o
seguindo as orientações dadas.
Atividade “Quem sou eu?”
ba carioca.
nome da agremiação, o lema, a data de fundação, etc.
Ex.: Colocar 5 peças triangulares no fio; separá-las com
Objetivo - Conhecer algumas personalidades e carac-
Desenvolvimento - Pesquisar com os alunos a respeito da
Desenvolvimento 2 - Fazer o cortejo da sala de aula até
um nó e colocar uma peça da cor X como separador
terísticas do samba e do carnaval.
escola de samba campeã no último carnaval. Pedir que es-
o local da exposição – ou outro circuito adaptado ao
para uma sequência das 3 menores peças disponíveis.
Desenvolvimento - Após visitar a exposição, propomos
crevam qual o enredo, quais os profissionais envolvidos,
local de realização da atividade – levando o estandarte
Fazer uma exposição ou desfile com os colares.
uma atividade lúdica com elementos-chave da mesma. É
qual o samba-enredo, número de componentes, alas, etc.
pronto à frente dos alunos. Escolher um samba que eles
Desenvolvimento 2 - Selecionar peças por COR, FOR-
um jogo de adivinhação realizado em sala de aula, onde
Simular um talk-show sobre a escola de samba campeã do
conheçam para cantar durante o cortejo.
MATO, TAMANHO, MATERIAL, etc. Atribuir um
apenas um aluno de cada vez levanta-se e vai à frente da
último desfile de carnaval, em que todos da turma desem-
Recursos - Algodão (tipo morim), cola, caneta hidro-
valor para cada tipo de peça disponível. Dar instruções
turma. O professor cola com uma fita adesiva na testa
penhem um papel. Distribuir uma função para cada alu-
cor e elementos carnavalizantes (enfeites de carnaval),
para que escolham X peças que totalizem Y; X peças que
desse aluno um papel com a informação que ele precisa
no. Por exemplo: 2 apresentadores, 3 cinegrafistas, 1 di-
instrumentos musicais.
somadas a Z sejam divisíveis por W, etc.
adivinhar, pode ser uma personalidade, um instrumen-
retor, alguns entrevistados (5 baianas, 2 porta-bandeiras,
Duração - 50 min cada.
Trocar os colares entre os grupos para que façam a con-
to, gênero musical, entre outros elementos que foram
2 mestres-salas, 6 ritmistas, 1 carnavalesco, 3 passistas, 1
Complexidade - Alta.
ferência dos valores quanto aos critérios dados e ava-
estudados durante a visita à exposição itinerante. O alu-
intérprete e 2 pesquisadores de samba),1 sonoplasta, 2
Indicação - Ed. Física, Artes e Geografia.
liem o resultado estético final.
no com papel na testa tenta descobrir “quem sou eu?”
roteiristas, 2 produtores, entre outros.
Recursos - peças de bijouterias (para reciclar), argolas,
a partir de perguntas como “Sou um homem?”, “Sou
Duração - 2h
fios coloridos, pinos, contas, correntes, etc.
um instrumento?”, “Sou jovem?” e assim por diante. O
Complexidade - Média.
Duração - 50 min.
restante da turma pode responder somente “sim” ou
Indicação - Língua Portuguesa, Artes, Teatro, Filosofia
Complexidade - Alta.
“não” até que o participante consiga adivinhar o que
e História.
Indicação - Matemática e Artes.
está escrito no papel. Depois de muitas tentativas, sob
Agosto de 2014 Ano 6
Número 5
58
Sugestões para turmas do ENSINO MÉDIO
Atividade “Carrego meu estandarte”
Crianças em cortejo durante atividade do Centro Cultural Cartola.
co, domínio da língua e da temática envolvendo o sam-
organização do professor, é permitido que o grupo dê
Atividade “O Samba”
Atividade “Jogo: Enigmas da exposição”
dicas ao participante para facilitar a adivinhação.
Objetivo - Analisar as composições de samba através de
Objetivo - Estimular a observação, foco, atenção e con-
Duração - 50 minutos.
exercícios de gramática e propor que os alunos produ-
centração dos alunos.
Recursos - Papel, caneta hidrocor, fita adesiva.
zam versos de samba.
Desenvolvimento - Após visita à exposição, pedir para
Complexidade - Baixa.
Cada qual com suas especificidades, podemos perceber
que em dupla, os alunos elaborarem um questionário
Indicação - Todas as disciplinas.
tanto no partido-alto, como no samba de terreiro e no
com 10 perguntas sobre pequenos detalhes, conceitos,
samba-enredo uma característica em comum: a cria-
cores, formatos e localização de qualquer elemento visual
tividade dos compositores. A criação de palavras para
na exposição. Em seguida, as duplas trocam e respondem
enriquecer suas composições, as temáticas abordadas
uns aos questionários dos outros. Podendo consultar a
nas músicas são marcas do talento desses sambistas e
59
Samba
Atividade “Cada um no seu quadrado”
Fonte mencionada - Samba-enredo: “Chico Buarque da
Atividade “Samba-Enredo: História, Política e Cultura”
com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), em
Mangueira” (1998) – Compositores: Nelson D. Rosa,
Objetivo - Analisar a relação entre História e Sam-
do Rio de Janeiro
que os estudos interdisciplinares são valorizados, bus-
Vilas Boas, Nelson Cispai e Carlinhos das Camisas.
ba-Enredo.
Desenvolvimento 1 - Fazer levantamento das escolas de
camos atentar para exercícios que contemplem mais de
Desenvolvimento 2 - Exercícios gramaticais também
Desenvolvimento - Analisar determinadas manifes-
samba da Cidade do Rio de Janeiro. Escolher critério
uma disciplina, enriquecendo, assim, o processo de en-
são bastante interessantes para explorar os sambas em
tações artísticas de algumas épocas implica estudar
para selecionar quais serão identificadas no mapa. Ex.:
sino-aprendizagem. A seguir, propomos três atividades
sala de aula. Nesse sentido, propomos que os profes-
História, Política e Cultura. Muitos artistas e intelectu-
todas as escolas que tenham a cor X no pavilhão; todas as
utilizando como fonte as matrizes do samba carioca
sores levem para sala de aula alguns sambas de terreiro
ais utilizaram de seus talentos na escrita e nas artes para
escolas que ficam em bairros onde haja estação de trem;
contempladas no referido Dossiê.
de diferentes agremiações. As características desse gêne-
discutir e questionar realidades, momentos históricos
todas as escolas com mais de 60 anos de fundação, etc.
Desenvolvimento 1 - As figuras de linguagem são uti-
ro musical bem como alguns exemplos de “sambas de
que viviam. Sendo assim, afirmamos que, com os sam-
Desenvolvimento 2 - Fazer um levantamento de dados
lizadas com frequência por sambistas na composição
quadra” podem ser vistos no Dossiê das Matrizes do
bas-enredo, isso não aconteceu de maneira diferente.
(IBGE) a respeito dos bairros identificados, com pesqui-
das canções. Em 1998, a Estação Primeira de Mangueira
Samba no Rio de Janeiro, sendo este uma boa fonte de
Muitas Escolas de Samba defendiam, nos carnavais,
sa das características econômicas e culturais de cada
consagrou-se campeã do carnaval (junto com a Beija-Flor
pesquisa para estudar sobre o samba carioca no planeja-
sambas que apontavam para um engajamento político,
região/bairro. Construir um gráfico com dados apura-
de Nilópolis) com o samba-enredo “Chico Buarque da
mento das aulas sobre o tema.
mesmo que não necessariamente seus representantes
dos na pesquisa.
Mangueira”. Para homenagear Chico Buarque, os com-
Após apresentar o que é samba de terreiro e relacioná-lo
fossem ligados a algum partido ou organização política.
Recurso - Mapa da cidade do Rio de Janeiro.
positores desse samba utilizam de metáforas, onomato-
à história do samba, o professor pode trabalhar aspectos
Refletir sobre a conjuntura histórica foi preocupação da
Duração - 50 min.
peias, neologismos, entre outras figuras de linguagem.
gramaticais em cada verso.
União da Ilha, em 1985. Na época da Campanha pe-
Complexidade - Alta.
Exalta-se o poeta por meio da criação de um verbo com
Duração - 50 minutos.
las “Diretas, já!”, quando o Brasil saía de uma ditadura
Indicação - Geografia, Informática, História.
seu nome, já que “seu canto de fé (...) vai buarquean-
Complexidade - Alta.
militar que perdurou por mais de 20 anos, a União da
do com muito axé”. O samba-enredo da Mangueira de
Indicação - Língua Portuguesa.
Ilha (num cenário em que não havia mais o rigor da
1998 é um exemplo de texto para se trabalhar figuras de
Exemplos de Samba de Terreiro - Samba Velho Amigo,
censura política), com o samba-enredo “Um herói, uma
linguagem. Propomos, então, que os alunos façam um
de Monarco, e Luz da Inspiração, de Candeia.
canção, um enredo” falava de tortura, liberdade e anis-
levantamento de sambas-enredo a partir das figuras de
Desenvolvimento 3 - Atividade intitulada “Seja um
tia, num momento em que essas temáticas eram debates
linguagem (classificando-as) estudadas em sala de aula e
partideiro!”. Seguindo a definição de Nei Lopes sobre
nacionais, como podemos conferir nos seguintes versos:
que constam no livro didático. Este trabalho pode ser
Partido-alto, propomos que os alunos também possam
“Se o sangue assina a tortura/O sangue se apaga com
feito individualmente ou em grupo. A pesquisa será re-
criar seus versos. As criações deles devem estar de acor-
amor(...) A mentira veio no fantasma da Anistia/ O
alizada tendo como referência as diferentes escolas de
do com a matéria estudada em LP sobre modos verbais.
amor nunca afogou/As ondas que agitam a liberdade”.
Número 5
samba do Rio de Janeiro (grupo especial e da série A).
Sendo assim, os elementos versados devem ser finaliza-
Assim como o da União da Ilha, outros sambas podem
Sendo assim, cada grupo – ou cada aluno – buscará os
dos por verbos no Particípio, Gerúndio ou no Infini-
ser explorados em sala de aula como ferramenta para
sambas de uma determinada agremiação, analisando as
tivo. Cabe ao professor escolher quais modos verbais
refletir sobre História através das produções artísticas
Agosto de 2014 Ano 6
em revista
figuras de linguagem utilizadas nas composições. Cabe
serão seguidos. Essa proposta didática pode ser utilizada
de uma época.
ao professor estabelecer quais escolas de samba serão
também nas aulas de música.
Duração - Indeterminada.
abordadas nesse exercício. Essa atividade fica restrita à
Duração - 50 min.
Complexidade - Média.
análise de sambas-enredo.
Complexidade - Alta.
Indicação - História.
Duração - Indeterminada
Indicação - Língua Portuguesa, Música e Artes.
60
podem ser utilizadas em salas de aula para trabalhar
Indicação - Língua Portuguesa.
aspectos relevantes de diversas disciplinas. De acordo
Complexidade - Baixa.
Objetivo - Identificar a “geografia” do samba na cidade
Criança em atividade do projeto “Os Aventureiros”, 2014.
61
Estrela do Mar – Alas Acauã e Amigos do Embalo. Mangueira/2014.
Atividade “Festas populares do Brasil nos enredos das Escolas de Samba”
Curadoria: Nilcemar Nogueira Cultural Cartola, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2007. ANDRADE, Regina G N e MACEDO, Cibele M V (org.). Território Verde e Rosa; Construções psicossociais no Centro Cultural Cartola. Rio de Janeiro: Companhia de Freud: FAPERJ, 2010. BRASIL, Processo n° 01450.011404/2004-25. Dossiê
brasileiras a partir de sambas-enredo, usando a criativi-
das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro. Rio de
Desenvolvimento - Com o enredo “A festança brasileira
Janeiro, 2006. Disponível em: http://portal.iphan.
FARIAS, Julio Cesar. Aprendendo Português com Samba-
na passarela do samba em 2014. Assim como a Verde-e-
Enredo. Rio de Janeiro: Litteris Ed., 2004. HORTA, Maria de Lourdes; GRUNBERG, Evelina;
Elaboração de Texto: Luciano Nascimento Consultoria Pedagógica: Lilia Gutman
Lindemann, Cadu Mendonça (desenho artístico de Dona Zica), Acervo Centro Cultural Cartola, Arquivo João Carlos Botezelli, Acervo Instituto Feminino da Bahia, Agência O Globo, Agência O Dia e Instituto de
Assistente de Curadoria: Desirree Reis, Luciano Nascimento e Rondelly Cavulla Assistente de Pesquisa: Ygor Lioi e Leon Araújo Revisor de texto: Rachel Valença
Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros (IPEAFRO).
Agradecimentos Ivo Barreto, Célia Maria Corsino, Mônica da Costa,
Design Gráfico: Marcos Corrêa/Ato Gráfico
Nei Lopes, Felipe Ferreira, Estação Primeira de
Webdesigner: Hélio Ricardo/BSConsult
Mangueira, Claudia Gonzaga, Sayonara Tarouco, Ivanísia, Cadu Mendonça, Diego Mendes, Elisa Larkin (IPEAFRO), Departamento Cultural da Portela,
Serralheiro: José Maranhão
Portela Web, E.M. Nilo Peçanha, E.M. Uruguai, E.M.
Patrimonial. Brasília: IPHAN, Museu Imperial, 1999.
Adereçamento: José Carlos Ferreira Vieira
Marechal Trompowsky, E.M. Cardeal Leme, FAETEC
como parte do seu enredo. A partir dessa escolha, propor
LOPES, Nei. Partido Alto: Samba de bamba. Rio de
Construção de peça interativa: Cid Carvalho
que desenhem uma fantasia (um croqui, como o inserido
Janeiro: Pallas, 2005.
que grupos com até 5 integrantes pesquisem e escolham
MONTEIRO, Adriane. Guia Básico de Educação
uma escola de samba que já tenha abordado esse tema
abaixo) que demonstre a festa típica escolhida. As imagens montadas serão apresentadas ao restante da turma, junto a uma breve exposição oral do grupo sobre a festa
MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FUNARTE/INM/Divisão de Música Popular, 1983.
trabalhada e o enredo da escola de samba em questão. Podem ser utilizadas as cores da agremiação escolhida Número 5
Fotógrafos, Acervos, Arquivos, Agências e Coleções Lucia Helena Pinto, Luciano Nascimento, Rodolfo
Pesquisa: Desirree Reis e Rondelly Cavulla
Cenotécnica: Fátima de Souza e Mario Jorge Kugler
Rosa, várias Escolas de Samba homenagearam no carna-
Agosto de 2014 Ano 6
Projeto Museográfico: Afonnso Drumond
gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=771
cai no Samba da Mangueira”, a Estação Primeira desfilou
val festas típicas dos brasileiros. Sendo assim, propomos
Ficha técnica
A Força Feminina do Samba. Rio de Janeiro: Centro
Objetivo - Aprender e dialogar sobre as festas populares dade como fazem os carnavalescos.
62
Referências bibliográficas - Atividades Pedagógicas:
para montar a fantasia. A imagem precisa ter como título o nome da fantasia inventada de sua ala.
NOGUEIRA, Nilcemar. D. Zica, tempero, amor e arte. Rio de Janeiro: Mauad, 2004. SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRASIL, Érico.
Recursos - Folha de papel A3, lápis de cor, giz de cera,
Mulheres Negras do Brasil. Rio de Janeiro: SENAC
papel crepom e outros materiais diversos. Estimular cri-
Nacional, 2007.
atividade do aluno na montagem e no uso dos recursos. Duração - Indeterminada Complexidade - Baixa.
SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
Indicação - Geografia e Artes.
VILA, Martinho da. Kizombas, Andanças e Festanças.
Imagens disponíveis em - http://www.mangueira.com.br/
Rio de Janeiro: Record, 1998.
Produção Executiva: Wagner Uchoa Divulgação: Jean Claudio Santana e Ágata Cunha Coordenação de produção: Afonnso Drumond Coordenação Administrativa: Janaina Reis Pinheiro e Wolff Nunes Coordenação Geral: Nilcemar Nogueira Realização: Centro Cultural Cartola
Adolpho Bloch, E.M. Gonzaga da Gama Filho, CIEP Nação Mangueirense e Escola Tia Neuma.
Agosto de 2014 Ano 6
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