Revista 3

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CAPITAL SOCIAL: UM DOS MAIORES INVESTIMENTOS DA VALE. A Companhia Vale do Rio Doce tem compromisso com o desenvolvimento sustentável em todas as comunidades das áreas onde atua. Através da Fundação Vale do Rio Doce e em parceria com a sociedade, fortalece o capital social das comunidades, respeitando a identidade cultural dos territórios e o meio ambiente. São programas estruturantes de cultura, educação e economia local, desenvolvidos para melhorar o dia-a-dia e obter resultados a longo prazo. Porque a Vale acredita que o crescimento de uma empresa está intimamente ligado ao crescimento das pessoas, da economia local e da proteção ao meio ambiente.


EXPEDIENTE Diretor: Odilon Luís Faccio Edição: Dauro Veras Emerson Gasperin Redação: Sara Caprario Edição de Arte: Maria José H. Coelho Sandra Werle Arte: Frank Maia Fotografia: Sérgio Vignes Colaboradores: Ana Claudia Farranha, Giovanni Barontini, Larissa Barros, Márcio Pochmann, Michelle Lopes, Oded Grajew, Pieter Sijbrandij, Rosi Rico, Ronaldo Baltar. Impressão: Gráfica Pallotti

SUMÁRIO 06 | POR EXEMPLO Como controlar dívidas | Projetos fiscais ganham incentivo | Consumo Verde | Capital solidário | RSE na universidade | Lâmpadas reaproveitadas | Filmes que fazem pensar | Caras do Brasil

23 | OPINIÃO Marcio Pochmann questiona os critérios que apontam redução na desigualdade de renda

26 | MUNDO DO TRABALHO Participação nos lucros | Igualdade racial | Domésticos formalizados | Assédio moral

29 | MESA DE TRABALHO Fotógrafo | Farmacêutica | Técnico em Informática | Relojoeiro

36 | RESPONSABILIDADE SOCIAL Empresas ampliam atuação | Ernst Ligteringen fala sobre balanços socioambientais | Empresas e eleições

Visconde de Ouro Preto, 308 Térreo - Centro – Florianópolis (SC) 88020-040 Tel: + 55 (48) 3025-3949 www.primeiroplano.org.br E-mail: contato@primeiroplano.org.br Parceiros Institucionais Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Eletrosul Centrais Elétricas S.A. Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) Instituto Observatório Social Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Rede de Tecnologia Social (RTS) Os artigos e reportagens assinados não representam, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da revista Primeiro Plano. A divulgação do material publicado é permitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

46 | INCLUIR Incubadoras geram oportunidades | Aplicação de conhecimentos | Transferência de tecnologia

54 | AMBIENTE Importação de pneus usados em xeque | Carbono na Bolsa | Dicas para o consumo sustentável | Computadores ecologicamente corretos

56 | AGENDA GLOBAL Setor privado fica devendo em serviços básicos | Mais água potável | Geração de renda premiada

62 | SOLUÇÕES Cana-de-açúcar “inteligente” | Sabâo de óleo de cozinha | Brindes solidários | Móveis de fibra de bananeira

64 | MONITOR Café certificado, orgânico e/ou especial | Além do mercado | Interesse japonês

66 | FRANK Selos que gostaríamos de ver


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BANCOS

Até que ponto eles realmente adotam as políticas sociais que tanto divulgam na forma de programas, fundações e institutos?

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SOJA De grão em grão, debate avança por todos os segmentos da sociedade

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ENSAIO FOTOGRÁFICO Portadores de necessidades especiais driblam as dificuldades e o preconceito para levar uma vida digna

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INCLUSÃO DIGITAL Modelo baseado em software livre vai além de ensinar a usar a internet, despertando vocações e carreiras

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ENTREVISTA Marcelo de Menezes, da Unimed, fala da ética, transparência e do público interno da empresa

APRESENTAÇÃO

ocê já deve ter reparado como as propagandas de muitos bancos estão diferentes. Em vez de enfatizar somente o lado financeiro – “a melhor rentabilidade do mercado”, “aqui seu dinheiro vale mais”, “crédito rápido e fácil” – a publicidade vem recorrendo cada vez mais a apelos socioambientais. De uns tempos para cá, a preservação à natureza, o respeito às minorias e os investimentos em educação estão se tornando fatores importantes nos investimentos e na análise de riscos para concessão de créditos por parte do setor financeiro. Mas até que ponto estes valores atendem as expectativas da sociedade ou estão inseridos nas políticas do setor que mais tem lucrado nos últimos anos? Para responder à pergunta, conversamos com executivos de responsabilidade social de vários bancos, representantes dos consumidores e dirigentes sindicais. Todos reconhecem os avanços, sem deixar de admitir que ainda há muito a ser feito – incluindo aí a sempre delicada relação com o cliente. Cliente este que também consome soja, mesmo que não perceba. Direta ou indiretamente onipresente na alimentação humana, o grão protagoniza um debate no qual interesses diversos são confrontados. Sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto, trazemos informações que dão uma idéia do tamanho do complexo soja, dos seus impactos socioambientais e as práticas que estão sendo adotado para promover a sustentabilidade da cultura. Novos caminhos que já pavimentam a inclusão digital, incrementada com o advento do software livre, uma solução útil a comunidades, governos e empresas. Como a Unimed, que não usa software livre, mas destaca-se pelas ações focadas em ética, transparência e no público interno. Na estréia da seção Entrevista, o consultor Marcelo de Menezes fala sobre as iniciativas empregadas na companhia neste sentido.


por exemplo

O planeta em movimento

Vermelho nunca mais

Medidas simples evitam que as contas virem um pesadelo

MANUAL DE CONSTRUÇÃO

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O Ministério do Meio Ambiente (MMA) lançou um manual com recomendações de licenciamento para áreas de manejo de resíduos da construção civil e resíduos volumosos. A expectativa é que os procedimentos propostos resultem em normas e diretrizes dos órgãos ambientais estaduais. Políticas públicas determinando o manejo sustentável desses resíduos surgiram em 2002, mas apenas recentemente foram normatizadas áreas para tal finalidade. Com isso, haverá a necessidade dos órgãos ambientais prepararem-se para o licenciamento e fiscalização de empreendimentos desse tipo. O manual está disponível no site do MMA. www.mma.gov.br

150 mil litros de água são gastos para se produzir um carro. O dado é da ong inglesa Watersise, que também calculou o consumo do líquido para a manufatura de outros itens, como um quilo de carne (100 mil litros), de arroz (200 litros), de batata (500 litros), um ovo (450 litros) ou um chip de computador (75 litros).

O aumento da oferta de crédito no mercado foi um dos bons indicadores da economia brasileira nos últimos anos, mas a facilidade veio acompanhada do crescimento da inadimplência. O problema pode ser causado pela ausência de um programa de educação financeira que oriente a população sobre as implicações de lidar com financiamentos e taxa de juros. “O tema do crédito é fundamental dentro

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do consumo consciente por causa da sua transversalidade”, afirma o gerente de projetos especiais do Instituto Akatu, Aron Belinky. “Saber gerir bem e gastar corretamente o seu dinheiro influi na maneira como as pessoas se realizam nos seus projetos de vida, na sua evolução profissional e cultural.” A entidade produziu um guia com oito passos para quem já contraiu dívidas e quer – ou melhor, precisa – se livrar delas.

8 PASSOS PARA SAIR DO ENDIVIDAMENTO Faça uma lista com o dinheiro que você recebe no mês. Inclua salário, pensão, rendimentos da poupança etc. Não inclua seu cheque especial ou limites de cartão. Faça uma lista com todas as contas que você paga no mês. Não inclua o pagamento das suas dívidas. Faça uma lista com todas as suas dívidas São consideradas dívidas todas as prestações. As dívidas com taxas de juros mais altas devem ser as primeiras da lista. Lembre-se: todo pagamento parcelado é maior dos que os feitos à vista. Veja se você tem dinheiro para pagar suas dívidas. Não esqueça que você não deve deixar de pagar ou atrasar uma parcela, pois os juros e multas fazem com que sua dívida aumente ainda mais. Diminua seus gastos. Pense como economizar em cada despesa: luz, água, lazer etc. Substitua suas velhas dívidas por novas dívidas que você consiga pagar. Você pode quitar sua antiga dívida fazendo um novo empréstimo, desde que tenha taxas de juros mais baixas do que as que você paga atualmente. Procure empresas que emprestam dinheiro. Identifique os financiamentos que têm taxas de juros menores que as suas dívidas atuais. Faça um novo empréstimo para quitar suas antigas dívidas. Só faça uma nova dívida para pagar as dívidas antigas se a taxa de juros for menor e se você tiver como pagar o novo empréstimo.


Estímulo fiscal para projetos ambientais Empresas e pessoas físicas poderão deduzir até 6% do Imposto de Renda devido, respectivamente, até 40% e 80% dos valores efetivamente doados a entidades sem fins lucrativos, para aplicação em projetos de conservação do meio ambiente e promoção do uso sustentável dos recursos naturais. Essa é a proposta do substitutivo ao Projeto de Lei N.º 5974/05 que foi aprovado por unanimidade em agosto pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. De autoria do Senado Federal, o projeto substitutivo foi redigido com o apoio do Grupo de Trabalho (GT) IR Ecológico, composto por

Capital solidário Vem aí uma inovação na gestão do investimento social privado. É o Fundo de Capital Solidário, criado para investir no desenvolvimento socioeconômico dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES). Segundo o coordenador executivo do fundo, Leonardo Ribeiro, a carteira de investimento será composta por empreendimentos com elevado potencial de retorno socioeconômico, com duas linhas prioritárias: criação de novos negócios e recuperação de empresas. A gestão ficará a cargo de uma organização da sociedade civil para o interesse público (oscip), com a participação de instituições como o Instituto Ethos, Fundação Banco do Brasil, Organização Intereclesiástica para a Cooperação ao Desenvolvimento (ICCO), Unisol Brasil e Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (Unitrabalho). A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também foi acionada para desenvolver regulamentação específica para investimentos em cooperativas. No governo federal, o Ministério da Ciência e Tecnologia avalia a possibilidade de o Fundo funcionar como elemento de politica pública para o desenvolvimento regional e inclusão de populações carentes. A perspectiva é de começar as operações em 2007.

representantes de ongs ambientais, empresas e voluntários comprometidos com o tema ambiental. O projeto prevê também incentivos para doações ao Fundo Nacional do Meio Ambiente e abre a possibilidade de benefício para outros fundos públicos ambientais, desde que sejam habilitados pelo governo federal para tal fim. Para chegar à proposta mais adequada, o GT IR Ecológico elaborou estudo mapeando o cenário nacional de incentivos fiscais e analisou diversos projetos em tramitação no Congresso. Até o fechamento desta edição, o projeto estava sendo analisado pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

Reaproveitamento de lâmpadas fluorescentes Em vez de irem para aterros ou mesmo serem descartadas de maneira errada, as lâmpadas fluorescentes podem ter seus componentes recuperados e voltar a servir como matéria-prima para fabricação de novas lâmpadas. A Tramppo Recicla Lâmpadas, empresa do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec) da Universidade de São Paulo (Usp), desenvolveu um sistema que permite reaproveitar 98% dos componentes. O processo separa alumínio, vidro, pó fosfórico e mercúrio por meio de um sistema de vácuo associado a alta temperatura. “A máquina descontamina a lâmpada fluorescente com a extração do mercúrio e possibilita a reciclagem dos outros materiais pela indústria.”, explica o diretor da Tramppo, Gilvan Xavier Araújo.

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A empresa iniciará as operações em escala comercial ainda este ano, depois que receber as certificações necessárias para o funcionamento. No Brasil são consumidos em média 100 milhões de lâmpadas fluorescentes por ano. Desse total, 94% são dispensadas em aterros sanitários sem nenhum tipo de tratamento, contaminando o solo e a água com metais pesados. www.tramppo.com.br


por exemplo

De olho na procedência de produtos florestais

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Mais de 80% da madeira tropical consumida no país provêm de exploração predatória e ilegal, uma prática que compromete a continuidade da produção e a imagem do setor empresarial brasileiro. Para reverter a situação, o Programa de Desenvolvimento de Mercados do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) criou o projeto Consumo Verde, que busca conscientizar empresas consumidoras de grande volume de produtos florestais e agrícolas sobre a necessidade de avaliar a procedência destes produtos em suas compras. Em dois anos, o projeto já lançou publicações sobre o assunto e reali-

zou oficinas com o setor da indústria gráfica e com produtores e empresários do ramo do café. Outra oficina deve ocorrer até o final do ano com representantes da indústria moveleira. A coordenadora do Programa de Desenvolvimento de Mercados do Imaflora, Maria Regina Mouer, conversou com PrimeiroPlano sobre o Consumo Verde. Quais são os objetivos do projeto Consumo Verde? Queremos estimular a inclusão de critérios de responsabilidade em todos os processos de compra das empresas, gerando demanda para influenciar a cadeia produtiva toda a ter cuidados.

Quais são os assuntos enfatizados nas oficinas? Em cada evento são levados exemplos de como todos podem se beneficiar com a busca por certificações de qualidade e de respeito ao meio ambiente. Empresários que já utilizam critérios de responsabilidade nas compras fazem palestra falando das vantagens em relação ao mercado, assim como os profissionais da Imaflora mostram dados sobre a importância da preservação de recursos naturais. Quem participa? Geralmente participam integrantes das diretorias de responsabilidade social, de desenvolvimento de produtos e da área de qualidade.

Evento debate RSE e premia empresas Em sua segunda edição, o Congresso Sul-Brasileiro de Responsabilidade Social realizado em Joinville (SC) no início de setembro teve como tema a formação de lideranças globalmente responsáveis. O assunto foi escolhido por conta de recente diagnóstico sobre o assunto, elaborado por empresas, escolas de negócios e centros de educação para a liderança de todo o mundo, sob a coordenação da European Foundation for Management Development (EFMD) e com o apoio da Onu. Marilise Einsfeldt, uma das coordenadoras do evento, explica que uma das constatações desse trabalho foi de que na maioria dos países não existem escolas de negócios preparando executivos para ser líderes afinados com a responsabilidade social global. “Esperamos que as universidades repensem seus currículos voltados à formação de líderes

e que o próprio empresariado conscientize-se de que é preciso buscar executivos éticos e comprometidos com a sustentabilidade”, diz. Durante o evento, foram divulgados os resultados da terceira Pesquisa de Responsabilidade Social Empresarial da Região Sul, baseada nos indicadores Ethos e realizada pela Editora Expressão. Das 91 empresas que responderam ao levantamento, 26 se destacaram em todos os temas abordados (Valores, Transparência e Governança; Público interno; Meio ambiente; Fornecedores; Consumidores e Clientes; Comunidade; Governo e Sociedade), revelando que as preocupações com problemas ambientais e sociais é incoporada à estratégia de negócios. Outras 47 companhias sobressaíram em pelo menos um dos sete temas. As empresas que se destacaram:

A. Guerra (RS), AGCO do Brasil (RS), Braskem (RS), Cia. Hering (SC), Cocamar (PR), Conpasul (RS), Copercampos (SC), Furukawa (PR), Itaipu Binacional (PR), KBH&C Tabacos (RS), Macedo Agroindustrial (SC), Marcopolo (RS) Mili (PR), Norske Skog Pisa (PR), Perdigão (SC), Refap (RS), Risotolândia (PR), Sesi Paraná (PR), Setrem (RS), Siemens (PR), Softway (SC), Springer Carrier (RS), Unimed Blum e n a u (SC), Unimed Florianópolis (SC), Unimed Nordeste-RS (RS) e Unisinos (RS).


Terra Quente

Conhecido como o “documentário de Al Gore”, chegou às telas Uma Verdade Inconveniente (An Inconvenient Truth), que alerta para os perigos do aquecimento global. Idealizado pelo ex-vice presidente norte-americano, o filme inclui uma campanha para conscientizar e mobilizar a opinião pública sobre as mudanças climáticas. A expectativa é de que o clamor dos eleitores pressione os congressistas a mudarem a política de Washington em relação ao Protocolo de Kyoto. Pelo tratado, estabelecido em 1997, 34 países comprometem-se a reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2012. O adversário político de Gore, o presidente George W. Bush, retirou os Estados Unidos da aliança, com o argumento de que as medidas afetariam a economia do seu país. A previsão é de que Uma Verdade Inconveniente estréie no Brasil em novembro. www.climatecrisis.net

Postura máxima | Alguns filmes para ver e refletir: Earthlings (EUA, 2003) – Narrado pelo ator Joaquim Phoenix, mostra como os humanos são dependentes dos animais e, a despeito disso, os tratam com requintes de crueldade. Repleto de cenas chocantes obtidas com câmeras escondidas, não é recomendado para pessoas com estômago fraco.

Quanto Vale Ou É Por Quilo? (Brasil, 2005) – O filme põe ongs e entidades assistenciais em xeque, fazendo uma analogia entre o comércio de escravos e o marketing da miséria. Na ausência do Estado, é o Terceiro Setor que acaba atendendo às demandas sociais, nem sempre com propósitos éticos. Ou, como diz a sinopse, “transformando as pautas sociais em verdadeiras feiras de negócios.”

www.isawearthlings.com

www.quantovaleoueporquilo.com.br

Ilha das Flores (Brasil, 1989) – Um tomate é plantado, colhido, vendido e acaba no lixo da ilha que dá título a este curta-metragem. Lá, é disputado por mulheres, crianças e porcos, em uma contundente crítica ao processo de geração de riqueza e a conseqüente desigualdade social.

The Corporation (EUA, 2003) – O documentário coloca as corporações no divã para descobrir que tipo de pessoa elas seriam se fossem humanas. O diagnóstico é devastador: as grandes empresas comportam-se como seres desequilibrados, capazes dos atos mais vis para alcançar os lucros almejados. Diversos cases de negligência, trapaças, mentiras e práticas predatórias refletem a gravidade da situação dos “pacientes”, acompanhados de entrevistas e depoimentos com empresários, intelectuais e ativistas. www.thecorporation.com

Cultura negra nas gôndolas O Pão de Açúcar vai comercializar produtos de grupos ligados à cultura negra. A iniciativa integra o programa Caras do Brasil, iniciado em 2003 e presente em 31 supermercados da rede. Com a parceria, utensílios de cerâmica – principalmente panelas e vasos – devem se juntar a outros produtos fornecidos por pequenas comunidades e organizações às unidades da empresa, como cestas, geléias, mel e teares. O próprio Pão de Açúcar vai até às comunidades buscar as mercadorias, resolvendo o problema de escoamen-

to dos produtos às praças mais distantes. O programa já inclui ostras cultivadas por uma comunidade quilombola (descendentes de escravos refugiados) de Cananéia, no sul de São Paulo. Além do fator racial, o Caras do Brasil tem como prioridade a questão ambiental. No final de 2004, PNUD e Pão de Açúcar fecharam um acordo que privilegia produtos elaborados por grupos que defendam o meio ambiente e que tenham o desenvolvimento sustentável como base de sua produção. www.carasdobrasil.com.br

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por exemplo PrimeiroPlano quer saber quais temas de responsabilidade socioambiental você acha que vão ditar a agenda das empresas nos próximos anos. Condições que afetarão o seu dia-a-dia, provocarão debates e campanhas, ocuparão espaço nos meios de comunicação e impactarão nas empresas.

ENVIE SUA OPINIÃO PARA

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futuro@primeiroplano.org.br

OU ACESSE www.primeiroplano.org.br

GIOVANNI BARONTINI Superintendente da Divisão de Desenvolvimento Sustentável do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC/SP.

Gerenciar ou “ser” a mudança? Narra uma história zen-budista que o discípulo perguntou ao mestre: “Como posso chegar à iluminação?”. O mestre respondeu: “Pergunte àquele poste”. O sagaz hermetismo metafórico das tradições orientais nos sugere que “o segredo é que não há algum segredo”. Tudo é exatamente assim como aparece. Nós já temos a Verdade toda (com “V” maiúsculo), pois ela é, ao mesmo tempo, imanente e transcendente. Trata-se, unicamente, de “lembrarmos” dela e de nós, especialmente de “quem somos” (Gurdjieff). Corporações no rumo da sustentabilidade estão ansiosas por se apropriarem de ferramentas que possam suportar o processo de mudança organizacional. Mas “a forma de fazer é ser” (Lao Tsu). Não posso construir uma empresa ética, responsável, sustentável, se, a montante, eu não tiver incorporado os valores correspondentes no meu próprio “ser”. Se a essência estiver imbuída desses valores, eles irradiarão, natural e sincronicamente, para as ações concretas. No debate corporativo entorno ao “ser socialmente responsável”, agitase o mesmo equívoco conceitual da miragem consumista do “ser feliz”. Em última análise, as organizações, como mera somatória de indivíduos, só evoluirão através de um processo de expansão da consciência individual rumo a uma “consciência de segunda ordem ou transpessoal” (Wilber), em que a percepção holística do nosso destino comum e de uma unidade que transcende os limites mensuráveis (falácia eterna dos indicadores, que tentam medir o “imensurável, indizível e inefável”), permita o surgimento de uma nova liderança empresarial, comprometida a um “fazer” derivado de um estado de consciência expandida. A capacidade de focalizar “a totalidade da vida e não seus fragmentos” (Bohm) será veículo de cura para as atitudes corporativas, indicando a es-

trada mestra para uma gestão socialmente responsável e intrinsecamente sustentável no longo prazo, pois, de alguma forma, “atemporal” na sua capacidade de capturar a essência da sua missão. As empresas lideradas por este “homem cósmico” (Rodhen) estarão em harmonia com a sociedade e o meio ambiente, já que sincronizadas com o próprio universo. A exortação de Gandhi – “Seja a mudança que você quer ver no mundo” – não precisará se municiar de ferramentas de gestão e indicadores de resultado, pois guiará o agir deste capitão de indústria no mundo real, pelo fio invisível de uma compreensão maior, desprovida de conflito, que tudo “transcende e inclui”. Como Arnoldo de Hoyos visualiza, “nessa transição da Nova Sociedade do Conhecimento para a Futura Sociedade da Consciência ou da Sabedoria, os CEOs precisarão contar cada vez mais com seus CVMs [Chief Values Management Officers]. Nesta nova Era da Consciência, as lideranças transformadoras serão co-responsáveis por manter vivos e atualizados não só a Missão, Visão e Valores da Organização, mas também o flow organizacional, isto é, um estado altamente estimulante e criativo de leveza, clareza, confiança e bem-aventurança”. Para um mundo corporativo aflito pela patologia da competição predatória, o desafio será o de operar uma reapropriação do significado etimológico das palavras, “redescobrindo” as maravilhas de um caminho coletivo, em que o termo “competir” (do latim: cum + petor = “ir juntos para algum lugar”) possa aludir a um novo paradigma de “concorrência” empresarial, em que o “correr contra” (contra a sociedade, contra o meio ambiente, contra os outros e, em definitivo, contra nós mesmos), seja substituído por um emocionante “correr com”.


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SETOR DA ECONOMIA QUE MAIS LUCROU NO ANO PASSADO INCORPORA PRÁTICAS QUE VÃO ALÉM DE DOAÇÕES E PATROCÍNIOS

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BANCOS


DINHEIRO PARA FAZER MAIS NÃO FALTA Rosi Rico

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rograma Parceiros em Ação, do Santander. Instituto HSBC de Solidariedade. Fundação Unibanco. Fundação Bradesco. Fundação Banco do Brasil. Concurso Talentos da Maturidade, do Real ABN Amro. Os bancos estão na linha de frente quando se trata de divulgar suas ações sociais. Todos têm iniciativas na área. A questão, agora, é saber se essas ações extrapolam o marketing e estão realmente inseridas nas políticas das instituições financeiras. É fato que nos últimos anos o tema vem se estendendo para outros departamentos que não apenas aquele de doações e

patrocínios. Aliás, essa área vem desaparecendo para dar lugar a estruturas mais organizadas e que trabalham para incorporar as práticas de responsabilidade social empresarial (RSE) em todos os setores do banco. No entanto, para um segmento recordista em lucratividade – os 11 maiores bancos do país lucraram R$ 23 bilhões em 2005 –, ainda há muito que avançar. As mudanças de postura das instituições financeiras – do assistencialismo para a gestão sustentável – começaram a ocorrer no final da década de 1990 e início dos anos 2000. “Foi a partir de 2001 que o Unibanco abandonou um pouco a filantro-

pia”, diz a coordenadora de voluntariado, projetos e relações institucionais do Instituto Unibanco, Luci Nicola. “Agora não fazemos mais apenas patrocínio, fazemos parcerias.” No HSBC, entre 1997 e 1999, existia o departamento de doações e patrocínios. Com o início do trabalho para incorporar as práticas de responsabilidade social em todos os setores da instituição, o setor ganhou o status de diretoria. “Começamos com assistencialismo e, à medida que outros conceitos de RSE foram incorporados, mudamos”, diz a diretora Ana Paula Gumy, que também comanda o Instituto HSBC de Solidariedade, criado em março deste ano.


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No Santander, a área existe há cinco anos. No princípio, o foco eram as relações do banco com a comunidade. Hoje tem duas frentes de atuação: cuidar dos investimentos sociais e prestar consultoria sobre o assunto para os outros departamentos do banco. Já na Caixa Econômica Federal (CEF), as modificações foram iniciadas em 2004, após a instituição fechar uma parceria com o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Agora que o tema entrou definitivamente na pauta dos bancos, o próximo passo é ampliar seu alcance. É esse o ponto no qual representantes das áreas de RSE das instituições, bem como dos sindicatos e das entidades não-governamentais, estão trabalhando. Um dos primeiros aspectos observados foi o tratamento dos recursos naturais. Todos os grandes bancos têm programas de coleta seletiva e de redução no consumo de água, luz e papel, bem

Procuramos materializar o conceito de sustentabilidade nos negócios e, com isso, gerar resultados econômicos Antonio Sergio Riede, do Banco do Brasil

como a utilização de papel reciclado. Para se ter uma idéia, no ano passado o Santander conseguiu diminuir o consumo de energia em 3%, bem como economizar 480 mil metros cúbicos de água e 340 mil resmas de papel. Na CEF, o número de impressoras utilizadas caiu 44,3%. “As 420 máquinas foram encaminhadas para projetos de inclusão digital”, informa a gerente operacional de responsabilidade social Sônia Batistella Guterres. São políticas que até podem demorar a ser implantadas por conta do tamanho de cada instituição, mas

que não enfrentam muita resistência. O mesmo ocorre com os projetos de voluntariado. “É absurda a mudança de postura dos funcionários em relação à responsabilidade social”, diz Luciana, há oito anos no Unibanco, sendo dois no Instituto Unibanco. “Antes a receptividade era morna. Hoje muitos funcionários – chamados de colaboradores – indicam projetos para investimento e dão sugestões sobre o andamento de ações internas”, conta a coordenadora. “Para a campanha do agasalho, por exemplo, enviei um e-mail comunicando sobre a doação e, em


Começamos com assistencialismo e, à medida que outros conceitos de RSE foram incorporados, mudamos Ana Paula Gumy, do HSBC

três minutos, já tinha recebido 80 respostas.” O desafio maior, porém, é incorporar outros pontos da RSE. O conceito engloba preocupação com o meio ambiente, práticas sociais e governança corporativa. Neste contexto, as empresas precisam aprimorar o relacionamento não apenas com as comunidades próximas, como também com acionistas, funcionários e consumidores. “Estamos preparando um plano de trabalho para incluir as áreas do banco que ainda não estão inseridas nas práticas de responsabilidade social”, diz Sônia, da CEF. São elas: relacionamento com fornecedores, políticas de crédito, políticas de patrocínio e de comunicação. A previsão é de concretizar tudo até o final do ano. PAPEL FUNDAMENTAL Em um país com enormes carências e desigualdades, a importância de práticas de RSE é ainda maior e as instituições financeiras ganham papel de destaque. Para o professor Ladislau Dowbor, titular da pós-graduação em Economia e Administração da PUC-SP, mais do que investir em cultura e projetos sociais, as instituições financeiras devem integrar a responsabilidade social ao seu negócio. “Os bancos possuem grande capilaridade e têm conhecimento dos mecanismos financeiros”, diz. “Então, podem agir como fomenta-

dores do desenvolvimento, financiando projetos que gerem emprego e coisas do gênero.” O economista Ciro Torres, coordenador de Responsabilidade Social e Ética nas Organizações do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), endossa a opinião de Dowbor. “O grande impacto para a sociedade não é o banco dizer que investe num projeto social. É colocar a questão da responsabilidade social como critério para definir sua carteira de investimentos. Afinal as instituições financeiras são o motor do desenvolvimento no país.” Experiências neste sentido vêm sendo testadas pelo Banco do Brasil (BB), principalmente após 2004, quando a área de responsabilidade social tornou-se uma diretoria. “Procuramos materializar o conceito de sustentabilidade nos negócios e, com isso, gerar resultados econômicos”, diz o gerente executivo de responsabilidade social do BB, Antonio Sergio Riede. Uma das ações é a expansão do crédito para pequenos empreendedores, por meio do programa Desenvolvimento Sustentável Regional (DSE). Além de fornecer crédito, o banco auxilia na estruturação do negócio, criando uma rede de apoio ao pequeno empresário com contatos no Sebrae, em associações de bairro e em cooperativas. Essa orientação, diz Riede, garante não apenas a expansão da carteira de

BNDES na mira A atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) também está na mira do Ibase. O instituto tem uma equipe que faz o monitoramento específico do banco. “Por ser um banco público, o BNDES deveria ser mais transparente. No entanto, muitas vezes temos dificuldade para obter informações sobre seus financiamentos”, diz o economista Ciro Torres, do Ibase. Segundo a assessoria de imprensa do banco, dentro das limitações impostas pelas leis que garantem o sigilo bancário de clientes e de determinadas operações, a instituição trabalha com o máximo de transparência possível. Foi informado também que está em estudo a adoção de uma norma determinando que 1% dos financiamentos do banco seja destinado a projetos de inclusão social. Para colocar a regra em prática é preciso a aprovação do conselho administrativo do banco. Hoje é estudado caso a caso.

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clientes do banco, como também reduz a inadimplência. “Não estamos fazendo filantropia e também não estamos desprezando o lado econômico”, afirma. O mesmo preceito – inserir responsabilidade social no core business do banco – rege a criação dos fundos socioambientais. Alguns bancos já perceberam que os fundos sociais podem ser rentáveis. Isso porque empresas empenhadas na adoção de práticas sustentáveis apresentam boa performance financeira e dificilmente irão se envolver em escândalos com produtos ou ações na Justiça, nem terão imprevistos financeiros decorrentes de multas ambientais. O pioneiro nesse tipo de iniciativa é o Real ABN Amro. O Fundo Ethical FIA foi lançado em 2001 e obteve rentabilidade (entre novembro de 2001 e o fim de 2004) de 163%, contra 131,6% do índice médio da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O fundo exclui da sua carteira de ações setores como fumo, bebidas, energia nuclear, armas, pornografia e jogos. “Temos diversas ações de filantropia e voluntariado, mas sustentabilidade é mais do que isso”, diz o superintendente de responsabilidade social do Real ABN Amro, Carlos Nomoto. Iniciativa semelhante foi feita pelo Itaú

A prioridade da matriz é a educação, mas as filiais têm liberdade para trabalhar as necessidades locais, como a saúde Vanda Pita, do Santander

com Itaú Excelência Social, que reúne papéis de empresas comprometidas socialmente. Metade da taxa de administração do fundo é destinada a projetos de entidades sociais. CRITÉRIOS DE ESCOLHA No fim do ano passado, foi a vez da Bovespa criar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), com papéis de 27 empresas, dentre as quais quatro instituições financeiras: Banco do Brasil, Bradesco, Unibanco e Itaú. Inspirado no Índice de Sustentabilidade Dow Jones, o ISE pode ser composto por até 40 companhias – todas selecionadas mediante análise de aspectos econômico-financeiros, sociais, ambientais e de governança corporativa. Mas quais os critérios para definir como serão distribuídos os investimentos e quem os define? A maioria dos bancos tem comissões internas que escolhem os projetos beneficiados seguindo as linhas de atuação e o orçamento definidos pela direção executiva ou presidência. Os projetos são monitorados por meio

de relatórios e visitas periódicas. No Real, o comitê é formado por funcionários do banco e também por consultores externos. O Unibanco também utiliza serviços de consultorias, mas apenas em alguns casos. A maior parte dos projetos é analisada por uma equipe interna que se reúne a cada dois meses para avaliar os resultados obtidos. No Santander, até o semestre passado era sua própria equipe de responsabilidade social que decidia sobre os investimentos. Atualmente, há um comitê (também formado por funcionários do banco), que dá notas para os projetos apresentados por ongs ou indicados por outros empregados. “É uma forma de compartilhar a responsabilidade pelas escolhas”, acredita a superintendente de responsabilidade social do banco, Vanda Pita. A prioridade, para a maioria, são os investimentos em educação básica. Este é o foco do Real, do Bradesco e do HSBC. “É uma das formas mais eficazes de contribuir para a transformação social, dando a pessoas carentes a oportunidade de ocupar posições no mercado de traba-


lho”, diz Milton Vargas, vice-presidente do Bradesco. O HSBC emprega 75% da verba destinada a ações sociais externas em projetos de educação, 15% em meio ambiente e 10% para a comunidade, principalmente em programas de geração de renda. Dentro dessas áreas, a cada ano o banco se concentra em um tema. “Pode ser escolas rurais em um ano e portadores de deficiência no outro. Em 2006, o foco são progra-

mas de energias renováveis”, diz Ana Paula. Todos os projetos apoiados têm pelo menos um padrinho dentro do banco, ou seja, um funcionário responsável. O Real, por sua vez, privilegia o atendimento a escolas públicas próximas de suas agências. No Santander, a orientação da matriz espanhola é para priorizar a educação universitária. “O banco acredita estar nas universidades o futuro próximo da sociedade”, jus-

tifica Vanda. Mas, segundo a executiva, as filiais têm liberdade para trabalhar as necessidades locais – que, no caso do Brasil, vão além das universidades. “Aqui também temos a preocupação de investir no ensino médio e fundamental e na humanização de hospitais.” No BB, os investimentos em cultura e esporte estão concentrados na Fundação Banco do Brasil e são definidos pela diretoria de marketing,

Olhar atento A ocasião era especial: José Roberto Vieira Barbosa iria batizar uma criança na capela ligada à Paróquia Nossa da Livração, no Jardim Brasil, zona norte de São Paulo. A conversa com a coordenadora do centro comunitário, no entanto, rendeu mais do que informações sobre o ritual religioso. “Descobri um talento”, diz Barbosa. “A Leni é uma mantenedora social.” Com o respaldo de quem trabalhava há 14 anos na comunidade local, Leni Rita Brito da Costa falou sobre os problemas da região. Um dos fundadores do Comitê Betinho dos Funcionários do Santander Banespa, Barbosa conseguiu o apoio da organização não-governamental para os projetos de Leni. Iniciava-se ali uma parceria que já dura nove anos. Com o dinheiro do comitê – mantido com doações dos funcionários e apoio do banco -, Leni já organizou aulas de artesanato e de teatro. Hoje coordena uma escolinha de informática, que atende gratuitamente 150 pessoas, incluindo uma turma de terceira idade. O centro comunitário também mantém uma farmácia popular e oferece cestas básicas para 50 famílias carentes da região. Um dos professores de informática é Natal Marcos da Silva, de 31 anos, que já foi aluno da escolinha e há cinco anos dá aulas no local. “É

ótimo voltar e ajudar pessoas que não têm condições de pagar um curso, como eu também não tinha na época”, comemora. Depois de oito meses freqüentando as aulas no centro comunitário, Silva fez um curso técnico e hoje, além das aulas, trabalha com manutenção de computadores. O trio Cleusalena Cardoso Cristofolo, Maria de Souza Santos (ambas com com 57 anos) e Maria Helena Menezes Alves, de 78 anos, está nas aulas de informática. “Eu via minha neta de 8 anos mexendo no computador e me perguntava se depois dos 50 anos era possível aprender”, diz Maria. “Hoje sei que é”, completa. “Estou adorando, pena que não tenho computador em casa para praticar”, lamenta Cleusalena. Leni, que já foi uma das professoras de informática, também trabalha informalmente como consultora do Comitê Betinho. “Ela tem olho de lince e nos indica projetos que estão necessitando de apoio”, conta Barbosa. Na ong, uma comissão avalia os programas e, em caso de aprovação, oferece ajuda financeira e também orientação para a estruturação dos projetos. Foi por intermédio da Leni que o comitê conheceu o Proerd, projeto de prevenção ao uso de drogas em escolas públicas.

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informa Riede. A formulação das políticas internas de RSE e a responsabilidade de aplicá-las em todas as áreas do banco ficam com a área dirigida por Izabela Campos. “Com a diretoria comercial, por exemplo, analisamos os financiamentos que seguem os Princípios do Equador. Já com a diretoria de logística, estabelecemos as melhores formas para racionalizar o consumo de água e papel”, explica a executiva. INFORMAÇÕES PÚBLICAS

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Um dos principais avanços na área é a transparência por meio da publicação de balanços sociais, que atualmente é feita por todos os principais bancos do país. Essa prática surgiu na França, na década de 1970. A primeira empresa a aderir foi a Singer, em 1972. No Brasil, somente no início dos anos 1990 foram divulgados os primeiros relatórios sociais. Entre os bancos, o pioneiro foi o Banespa, cuja publicação ocorreu em 1992. A principal função dos balanços é tornar pública a responsabilidade social das empresas, permitindo aos consumidores, acionistas e investidores acompanhar e comparar o que está sendo feito na área social. Um dos modelos de balanço mais adotados é o elaborado pelo Ibase. Contudo, segundo Torres, nem todas as empresas preenchem o questionário na íntegra. “Algumas suprimem li-

Temos diversas ações de filantropia e voluntariado, mas sustentabilidade é mais do que isso” Carlos Nomoto, do Real ABN Amro

nhas inteiras do balanço.” Para obter o selo Balanço Social Ibase/Betinho, é preciso seguir esta e outras regras. Este ano, o instituto incluiu a necessidade de as companhias colocarem o balanço em consulta pública por 60 dias. Para o coordenador, a novidade fez com que diminuísse o número de pedidos da certificação. “Nem todos querem se expor desta maneira para os consumidores e também para os funcionários”, atesta. Entre as 80 empresas que solicitaram o selo este ano, há apenas uma instituição financeira, o Banco do Brasil. De acordo com Torres, durante a consulta pública, o BB recebeu apenas uma crítica, referente ao atendimento de pessoas da terceira idade. “Nunca é bom ter alguém descontente, mas temos procurado aperfeiçoar o atendimento”, diz Izabela. Nos balanços sociais, é possível checar quanto as instituições investem em ações sociais e em projetos de meioambiente. Também são abordados a formação do quadro de funcionários e os gastos com recursos naturais, entre outros itens. “Ainda há um distanciamento grande entre o discurso social e a ação de colocar o dinheiro no bolso para realmente investir no social”, avalia Torres. Estudo do Ibase mostra que o percentual médio dos investimentos sociais externos dos 12 maiores bancos do país – incluindo Banco do

Brasil, Bradesco, Itaú, Santander, Unibanco e Banco da Amazônia – em relação à receita líquida foi de 0,57% em 2002 e 0,52% em 2003. Os dados de 2004 ainda estão sendo consolidados. Já o lucro líquido dos bancos foi de R$ 12,9 bilhões em 2002 e R$ 13,8 bilhões em 2003, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). São ganhos que continuam a crescer. No primeiro semestre deste ano, os lucros líquidos dos maiores bancos bateram recordes históricos e chegaram a R$ 11,9 bilhões, de acordo com levantamento da agência de classificação de risco Austin Ratings com 13 instituições de médio e grande porte. “O fato de os bancos terem entrado no tema da responsabilidade social é de extrema importância. Mas os investimentos ainda são muito pequenos diante dos lucros obtidos”, diz o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Luiz Cláudio Marcolino. Para Izabela, do Banco do Brasil, o valor do investimento em responsabilidade social não é definido facilmente e, portanto, pode não ser bem dimensionado no balanço social. “Quando um prédio precisa ser reformado para se adaptar ao programa de ecoeficiência, por exemplo, como separar o que é investimento em responsabilidade social do que é apenas investimento em infra-


estrutura?”, questiona a executiva. “Precisamos de uma fórmula mais abrangente.” RELAÇÃO AINDA DELICADA Recentemente os bancos conseguiram liminar que os desobriga a cumprir a regra de atender os clientes em, no máximo, 15 minutos. “É o tipo de ação que faz pensar sobre o que é respeitar os direitos do consumidor”, diz o coordenador execu-

tivo do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Marcos Pó. Segundo Izabela, os bancos estão preocupados em agilizar o atendimento, mas a liminar é uma forma das instituições se resguardarem. “É preciso lembrar que há dias de pico de movimento e, portanto, nem sempre podemos atender no tempo certo”, pondera. A questão das filas, no entanto, é apenas um ponto na, muitas vezes, delicada relação entre bancos e clientes. Em 2001, a Confederação Nacional de Sistema Financeiro (Consif) entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para desobrigar os bancos de obedecer as regras do Código de Defesa do Consumidor, alegando inconstitucionalidade. A Consif queria que a relação banco-cliente fosse regulamentada

Princípios do Equador

C

riada em 1956 pelo Banco Mundial, a Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês) promove o investimento sustentável do setor privado dos países em desenvolvimento. Seu primeiro financiamento foi aplicado justamente no Brasil: US$ 2 milhões para que a Siemens expandisse suas instalações no país, em 1957. Nestes 50 anos, a instituição destinou mais de US$ 49 bilhões de recursos próprios e obteve US$ 24 bilhões em consorciações para mais de 3 mil empresas em 140 países (o total de filiados é 178 países). Em 2003, lançou os Princípios do Equador, definidos oficialmente como “um conjunto de diretrizes ambientais e sociais voluntárias para empréstimos destinados ao financiamento de projetos baseados nos padrões da IFC”. Entre os bancos brasileiros que aderiram aos princípios estão Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Unibanco, Real e HSBC. A gerente de marketing do IFC no país, Karina Manasseh, conversou com PrimeiroPlano: Na prática, como funcionam os Princípios do Equador? Os Princípios do Equador são um acordo voluntário entre um grupo de bancos que se reuniu pela primeira vez em 2002 junto com a IFC porque tinha interesse em adotar critérios ambientais e sociais para financiamento de grandes projetos. Na época, os bancos resolveram adotar os padrões sociais e ambientais da IFC como referencial para projetos de financiamento acima de US$ 50 milhões. Desde então, os padrões da IFC foram revisados e os bancos também resolveram aplicar estes princípios para empréstimos menores do que essa quantia. Quais são as condições para obtenção de crédito? Os projetos são classificados de acordo com o impacto ambiental e social, usando os referenciais da IFC, que dividem os projetos em três categorias. De acordo com a categorização os clientes têm de completar estudos de impactos ambientais conforme as leis dos paises onde o projeto será financiado. Para projetos de impacto médio e alto, os clientes têm de preparar planos de ação descrevendo e priorizando medidas de mitigação e de monitoramento. Quais os principais casos nos quais os Princípios do Equador contribuíram para reduzir impactos ambientais e sociais? Este é um conjunto de medidas e de empréstimos e não podemos citar casos específicos. No entanto, em 2003 dez bancos internacionais adotaram os Princípios do Equador. Em 2006, esse número está em 41, representando mais de 80% do sistema global de financiamento de projetos.

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pelo Banco Central. “Foi uma irresponsabilidade social dos bancos quererem negar o direito do consumidor”, diz Pó. Em junho deste ano, porém, o STF determinou que o Código deve ser aplicado aos bancos, seguradoras e financeiras. Com isso, o consumidor pode continuar reclamando no Procon ou entrar na Justiça quando se sentir lesado de alguma forma, seja por informações incorretas passadas pela instituição, cobrança indevida de tarifas ou aplicações incorretas de juros, entre outras razões. “O código já era aplicável, então, a decisão não muda a situação atual. Felizmente o consumidor manteve seu instrumento de proteção”, completa o coordenador do Idec. “Os bancos também precisam avançar muito no relacionamento com os funcionários”, acrescenta Marcolino, lembrando que tratar os

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empregados de forma justa é um dos principais meios para que uma empresa cumpra seu papel social. Um dos acordos que o sindicato negocia diz respeito ao apoio à educação. “Hoje as instituições exigem que todos os empregados tenham curso superior ou estejam na faculdade. Mas as empresas não criam condições para que eles se mantenham nas escolas”, diz ele. A proposta do sindicato é de que os bancos paguem parte dos custos com o curso universitário, seguindo uma tabela que varia conforme o ano que o funcionário está cursando. Segundo o sindicalista, já foram feitos acordos com o HSBC e o Real ABN Amro. DIVERSIDADE Outro ponto utilizado nas propagandas que, na visão de Torres (Ibase), ainda precisa ser mais bem trabalhado, é a diversidade. Estudo dos balanços sociais dos 12 maiores bancos do país comprova que o número de negros aumentou, em média, de 10% em 2002 para 11% em 2003. Mas apenas 7% estão em cargos de chefia. Em relação aos portadores de deficiência, a lei estabelece cotas conforme o número de funcionários de uma empresa. Acima de 500 empregados, é preciso reservar 3% das vagas para eles. “Não conheço nenhum banco que tenha menos do que essa cota em seu quadro de funcionários”, garante o economista. Apesar disso, entre 2002 e 2003, o percentual aumentou, em média, apenas de 1% para 1,5%. Pequenos avanços para promover a diversidade foram obtidos. “No último acordo coletivo, ao estender os benefícios em relação ao plano de saúde dos funcionários para seus cônjuges, a CEF incluiu os parceiros de homossexuais”, informa Sônia.

Da imagem à prática Com agências e postos de atendimento nos 293 municípios catarinenses, o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) sempre foi visto como uma instituição presente nas ações de cada comunidade, por mais longínqua ou pequena que pudesse parecer. De fato, o banco sempre apoiou iniciativas de cunho social com repasse de recursos e patrocínios para pequenos ou grandes eventos. Mas tudo de maneira desarticulada e sem acompanhamento específico por gestores próprios. Segundo o diretor de administração do Besc, Jorge Lorenzetti, isso é passado. Para consolidar a imagem de cidadania partindo para uma prática de responsabilidade social mais efetiva e com resultados concretos para as comunidades, foram redefinidas as estratégias e está sendo implantada uma política neste sentido. Criou-se um comitê de responsabilidade social, com a participação de seis coordenadores de subgrupos, e cada um cuida de uma área específica. Em pouco mais de três meses de estruturação, o banco já está compartilhando as experiências com outras instituições financeiras estatais. “O Besc teve a iniciativa de trocar informações com outros bancos e assim compartilhar projetos com a adequação das áreas de abrangência de cada um”, diz o coordenador operacional das mudanças, Gert Schinke.


MEDIDAS ADOTADAS MUDANÇA DE ATITUDE Antes mesmo de definir a implantação de uma política de responsabilidade social, o Besc precisava mudar a forma de repassar recursos através do Besc Clube (órgão do Sistema Financeiro Besc que cuida das ações junto ao público externo). Em meados de fevereiro deste ano foram definidos critérios que indicariam quais projetos o banco participaria. Foram adotados três eixos de investimento: inclusão digital, geração de trabalho e renda e educação para o trabalho.

PLANEJAMENTO INTERNO Depois de organizar os métodos de trabalho e discutir as áreas emergenciais de atuação, incluindo público interno e público externo, foram escolhidos os colaboradores para gerir as questões de responsabilidade social apresentando as propostas à direção do banco.

CRIAÇÃO DOS GRUPOS Foram criados grupos de atuação para seis áreas escolhidas como prioritárias: Indicadores Ethos (adequar as ações aos indicadores do Instituto Ethos), Jovem Aprendiz (incentivar ações de capacitação, qualificação e preparação para o trabalho de jovens estudantes), Projetos para Portadores de Necessidades Especiais (adequar internamente acessibilidade e mobilidade destas pessoas, além de continuar com as ações de apoio à instituições da área), Reciclagem Total e Economia de Energia (ações tanto internas quanto externas), Capacitação em RSE (treinar colaboradores para uma prática responsável) e Besc Clube (ligação com o público externo por meio do apoio a projetos dentro dos três eixos de investimento).

COMITÊ DE RESPONSABILIDADE SOCIAL Cada grupo citado possui um coordenador e são eles que fazem parte do comitê de responsabilidade social junto com membros da diretoria. O comitê foi criado para manter o acompanhamento das ações e ser a instância de tomada de decisões nos rumos da política de RSE dentro do banco. São realizadas reuniões periódicas.

PLANO DE TRABALHO “Temos um plano de trabalho para este ano e para 2007, elaborado para iniciar a mudança dentro da instituição porque, além do público externo, devemos conscientizar todos os nossos colaboradores, fornecedores, enfim, toda a cadeia envolvida com o sistema financeiro Besc de que estamos com uma nova política de responsabilidade social. A partir daí as ações poderão ser realizadas com mais alcance social”, resume o diretor Jorge Lorenzetti.

TROCA DE EXPERIÊNCIAS Com a definição de apoiar prioritariamente projetos que se encaixem em um dos três eixos de investimento, o Besc quis saber dos outros bancos estatais quais as áreas de abrangência para apoio e patrocínio de projetos. A idéia vem dando certo. A troca de informações possibilita a otimização de recursos e a ampliação dos resultados quando as prioridades de investimentos são semelhantes.

Na outra ponta da cadeia, a dos fornecedores, as mudanças estão mais no discurso do que na prática. “Estamos em processo de convencimento para que essas empresas também incorporem práticas socialmente responsáveis. A idéia é mostrar que não se trata de bom mocismo”, diz Izabela, do BB. Segundo a executiva, como o banco é público, é preciso respeitar as regras das licitações para contratar fornecedores. “Ainda não dá para fazer certas exigências, mas estamos observando. Numa situação de igualdade, ser responsável socialmente é vantagem”, aposta. Entre os bancos privados, o Santander exclui companhias que utilizam mão-de-obra infantil ou sistema de trabalhos forçados, segundo Vanda. O Bradesco afirma exigir postura socialmente responsável de seus fornecedores. No Banco do Brasil e no Unibanco, a adoção de práticas de RSE é sugerida. “Achamos que é melhor alinhar o discurso internamente, antes de exigir qualquer posicionamento de fornecedores”, avalia Luciana, do Unibanco.

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Banco

Estrutura da área de RSE

Investimento

Banco do Brasil

Criada em 2004, a diretoria de responsabilidade social responde à vice-presidência de gestão de pessoas e responsabilidade sócio-ambiental. São 20 funcionários na sede e mais duas pessoas em cada regional.

R$ 258 milhões

Bradesco

A área de responsabilidade socioambiental existe há um ano e é formada por quatro funcionários. Está inserida no Departamento de Relações com o Mercado.

R$ 6,5 milhões

É uma das células da gerência nacional de planejamento estratégico. Conta com quatro funcionários.

R$ 140,8 milhões (1)

CEF

R$ 170 milhões

% sobre o faturamento

Principais ações

0,46 (3)

- Ecoeficência (prevê uso racional de recursos naturais, como água, luz e papel) - Fundação Banco do Brasil (foco em educação e geração de renda) - Universidade Corporativa - Ouvidoria

(1)

0,84

(4)

0,41 (3)

- Cursos de responsabilidade social na Universidade Corporativa Caixa (aulas estendidas a parceiros) - Gestão da Diversidade - Proged (uso racional de recursos naturais)

0,02 (3)

- Instituto HSBC de Solidariedade

0,71 (3)

- Itaú Social - Itaú Cultural - Fundo Itaú Excelência Social

R$ 1,1 milhão (2)

HSBC

Itaú

22 Real

Santander

Unibanco

- Fundação Bradesco (mantém 40 escolas) - Finasa Esportes

O comitê de responsabilidade social é responsável também pela direção do Instituto HSBC de Solidariedade, criado em março de 2006. Possui seis funcionários e reporta-se à diretoria executiva de relacionamentos institucionais.

R$ 10,8 milhões

Possui um comitê executivo de responsabilidade socioambiental, uma comissão de responsabilidade socioambiental e um comitê de diversidade. O Itaú Social e o Itaú Cultural são dirigidos por comissões.

R$ 79, 3 milhões (1)

A área de responsabilidade social está inserida na diretoria de Educação e Desenvolvimento Sustentável.

R$ 21,6 milhões

A diretoria está subordinada à vice-presidência executiva de assuntos corporativos, RH e Assuntos Jurídicos. Conta com nove funcionários.

R$ 43 milhões

Uma diretoria formada pelos executivos das principais áreas do banco coordena o Instituto Unibanco, que possui 28 funcionários.

R$ 17 milhões

(1)

R$ 419 mil

R$ 358 mil

(2)

(2)

0,26 (3) (5)

0,76 (3)

- Apoio às ongs internas - Programa Parceiros em Ação (investimentos de até R$ 50 mil em projetos sociais apresentados por ongs) - Portal Universia - Brinquedotecas em postos públicos de SP e em unidades básicas de saúde

0,3% (3)

- Instituto Unibanco - Instituto Moreira Salles (voltado a projetos culturais)

(1)

(1)

R$ 191 mil

- Fundo Ethical - Financiamento socioambiental - Ecoeficiência - Projeto Escola Brasil (educação na escola pública) - Concurso Talentos da Maturidade

(2)

(1) investimentos sociais externos (2005); (2) investimentos em programas e/ ou projetos externos de meio-ambiente; (3) percentual dos investimentos sociais externos em relação à receita líquida; (4) investimento na Fundação Bradesco; (5) investimentos sociais externos (2004)


Opinião

A desigualdade intangível

MÁRCIO POCHMANN Professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) São Paulo, Brasil pochmann@eco.unicamp.br

Recentemente, a retórica oficial ressaltou efusivamente a redução na desigualdade de renda, sem que isso, no entanto, possa ser efetivamente comprovado com dados empíricos mais abrangentes. Isso ocorre porque no Brasil pouco se avançou na medida da desigualdade da renda nacional, utilizando-se, com freqüência, tão somente as informações produzidas pelo IBGE, que procuram estimar – de fato – a desigualdade da renda fundamentalmente oriunda do trabalho. Praticamente não se usam as informações existentes sobre a renda dos proprietários, uma vez que o estágio da democracia ainda não chegou a conceder transparência aos dados que dispõem instituições como a Receita Federal, Banco Central e os cartórios. Simultaneamente, somente as informações da renda do trabalho são disponibilizadas por instituições como o Ministério do Trabalho, da Previdência Social, da Educação e Desenvolvimento Social. Por isso, quando se sistematiza um conjunto mais abrangente de dados sobre a renda nacional, como no caso das contas nacionais, observase, por exemplo, que durante o período recente de estabilização monetária (1995 a 2004), a renda do trabalho cresceu acumuladamente 7,6%, enquanto a renda do capital aumentou 37,7%. Nesse mesmo período, a renda nacional cresceu 24,4%, indicando que além de baixa a expansão da renda nacional (variação média anual de 2,4%), a maior parte foi apropriada pelos detentores de capital (lucro, juros e aluguéis de imóveis urbanos e rurais). Da mesma forma, percebe-se também que parte importante dos ganhos

da renda nacional tem sido apropriada, em crescente escala, pelo rentismo, que decorre do progressivo processo de financeirização de riqueza. Para isso, o Estado – principal responsável por sua sustentação – precisa ampliar a carga tributária, cortar gasto social e privatizar parcela do setor público para sustentar a transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos. Além do aumento da carga tributária pesar relativamente mais para as famílias mais pobres (estrutura de impostos regressiva), o ganho financeiro somente chega fundamentalmente às famílias que possuem conta bancária (10 milhões de famílias) e que conseguem aplicar recursos disponíveis no mercado financeiro (10% das famílias). Por conta disso, nota-se que entre 2001 e 2004, os 32% do Produto Interno Bruto (PIB) comprometidos com o rentismo no Brasil permitiram que o grupo dos 10% das famílias mais ricas tivesse os seus rendimentos crescidos acumuladamente em 66%. No mesmo período de tempo, as famílias que pertencem ao grupo dos 20% mais pobres viram crescer o seu rendimento em menos de 20%, apesar dos avanços dos programas sociais. Nesse sentido, qualquer afirmação sobre o sentido mais atual da desigualdade no Brasil não deveria desconsiderar o conjunto da renda nacional. Quando isso ocorre, percebe-se que não há comprovações de redução da desigualdade de renda. Muito antes pelo contrário, observa-se que o processo de financeirização de riqueza se constituiu no mais novo impulso ao aumento intangível da desigualdade da renda no Brasil.

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Nas próximas eleições, vamos ajudar você a escolher seu deputado: queremos mostrar todos os que votarem a favor do trabalho escravo no Brasil. Em breve, a Câmara dos Deputados deve votar a Proposta de Emenda Constitucional 438, que prevê o confisco de terras onde forem encontrados trabalhadores escravos. Nesse momento, toda a atenção por parte do eleitor é necessária. Por isso, estamos divulgando esta lista, com os nomes de todos os deputados do Brasil. Assim, você pode acompanhar exatamente quem vota contra e quem vota a favor do trabalho escravo. É a melhor maneira de separar os políticos que trabalham pela liberdade dos que não fazem nada pelo trabalhador. Informe-se, participe, cobre dos seus representantes. Faça a sua parte para acabar de vez com a escravidão no Brasil. ABELARDO LUPION - PFL - PR - dep.abelardolupion@camara.gov.br

CARLOS MOTA - PSB - MG - dep.carlosmota@camara.gov.br

FERNANDO FERRO - PT - PE - dep.fernandoferro@camara.gov.br

ADÃO PRETTO - PT - RS - dep.adaopretto@camara.gov.br

CARLOS NADER - PL - RJ - dep.carlosnader@camara.gov.br

FERNANDO GABEIRA - PV - RJ - dep.fernandogabeira@camara.gov.br

ADELOR VIEIRA - PMDB - SC - dep.adelorvieira@camara.gov.br

CARLOS SAMPAIO - PSDB - SP - dep.carlossampaio@camara.gov.br

FERNANDO GONÇALVES - PTB - RJ - dep.fernandogoncalves@camara.gov.br

ADEMIR CAMILO - PDT - MG - dep.ademircamilo@camara.gov.br

CARLOS SANTANA - PT - RJ - dep.carlossantana@camara.gov.br

FERNANDO LOPES - PMDB - RJ - dep.fernandolopes@camara.gov.br

AFFONSO CAMARGO - PSDB - PR - dep.affonsocamargo@camara.gov.br

CARLOS SOUZA - PP - AM - dep.carlossouza@camara.gov.br

FEU ROSA - PP - ES - dep.feurosa@camara.gov.br

AGNALDO MUNIZ - PP - RO - dep.agnaldomuniz@camara.gov.br

CARLOS WILLIAN - PTC - MG - dep.carloswillian@camara.gov.br

FLEURY - PTB - SP - dep.fleury@camara.gov.br

AGNELO QUEIROZ - PCdoB - DF - dep.agneloqueiroz@camara.gov.br

CELCITA PINHEIRO - PFL - MT - dep.celcitapinheiro@camara.gov.br

FRANCISCO APPIO - PP - RS - dep.franciscoappio@camara.gov.br

AIRTON ROVEDA - PPS - PR - dep.airtonroveda@camara.gov.br

CELSO RUSSOMANNO - PP - SP - dep.celsorussomanno@camara.gov.br

FRANCISCO DORNELLES - PP - RJ - dep.franciscodornelles@camara.gov.br

ALBÉRICO FILHO - PMDB - MA - dep.albericofilho@camara.gov.br

CÉSAR BANDEIRA - PFL - MA - dep.cesarbandeira@camara.gov.br

FRANCISCO ESCÓRCIO - PMDB - MA - dep.franciscoescorcio@camara.gov.br

ALBERTO FRAGA - PFL - DF - dep.albertofraga@camara.gov.br

CÉSAR MEDEIROS - PT - MG - dep.cesarmedeiros@camara.gov.br

FRANCISCO GARCIA - PP - AM - dep.franciscogarcia@camara.gov.br

ALBERTO GOLDMAN - PSDB - SP - dep.albertogoldman@camara.gov.br

CEZAR SCHIRMER - PMDB - RS - dep.cezarschirmer@camara.gov.br

FRANCISCO RODRIGUES - PFL - RR - dep.franciscorodrigues@camara.gov.br

ALCESTE ALMEIDA - PTB - RR - dep.alcestealmeida@camara.gov.br

CEZAR SILVESTRI - PPS - PR - dep.cezarsilvestri@camara.gov.br

FRANCISCO TURRA - PP - RS - dep.franciscoturra@camara.gov.br

ALCEU COLLARES - PDT - RS - dep.alceucollares@camara.gov.br

CHICÃO BRÍGIDO - PMDB - AC - dep.chicaobrigido@camara.gov.br

GASTÃO VIEIRA - PMDB - MA - dep.gastaovieira@camara.gov.br

ALDO REBELO - PCdoB - SP - dep.aldorebelo@camara.gov.br

CHICO ALENCAR - PSOL - RJ - dep.chicoalencar@camara.gov.br

GEDDEL VIEIRA LIMA - PMDB - BA - dep.geddelvieiralima@camara.gov.br

ALEX CANZIANI - PTB - PR - dep.alexcanziani@camara.gov.br

CHICO DA PRINCESA - PL - PR - dep.chicodaprincesa@camara.gov.br

GERALDO RESENDE - PPS - MS - dep.geraldoresende@camara.gov.br

ALEXANDRE CARDOSO - PSB - RJ - dep.alexandrecardoso@camara.gov.br

CIRO NOGUEIRA - PP - PI - dep.cironogueira@camara.gov.br

GERALDO THADEU - PPS - MG - dep.geraldothadeu@camara.gov.br

ALEXANDRE SANTOS - PMDB - RJ - dep.alexandresantos@camara.gov.br

CLAUDIO CAJADO - PFL - BA - dep.claudiocajado@camara.gov.br

GERSON GABRIELLI - PFL - BA - dep.gersongabrielli@camara.gov.br

ALICE PORTUGAL - PCdoB - BA - dep.aliceportugal@camara.gov.br

CLÁUDIO MAGRÃO - PPS - SP - dep.claudiomagrao@camara.gov.br

GERVÁSIO OLIVEIRA - PMDB - AP - dep.gervasiooliveira@camara.gov.br

ALMEIDA DE JESUS - PL - CE - dep.almeidadejesus@camara.gov.br

CLEONÂNCIO FONSECA - PP - SE - dep.cleonanciofonseca@camara.gov.br

GERVÁSIO SILVA - PFL - SC - dep.gervasiosilva@camara.gov.br

ALMERINDA DE CARVALHO - PMDB - RJ - dep.almerindadecarvalho@camara.gov.br

CLEUBER CARNEIRO - PTB - MG - dep.cleubercarneiro@camara.gov.br

GIACOBO - PL - PR - dep.giacobo@camara.gov.br

ALMIR MOURA - PFL - RJ - dep.almirmoura@camara.gov.br

COLBERT MARTINS - PPS - BA - dep.colbertmartins@camara.gov.br

GILBERTO NASCIMENTO - PMDB - SP - dep.gilbertonascimento@camara.gov.br

ALMIR SÁ - PL - RR - dep.almirsa@camara.gov.br

COLOMBO - PT - PR - dep.colombo@camara.gov.br

ÁLVARO DIAS - PDT - RN - dep.alvarodias@camara.gov.br

CORAUCI SOBRINHO - PFL - SP - dep.coraucisobrinho@camara.gov.br

GIVALDO CARIMBÃO - PSB - AL - dep.givaldocarimbao@camara.gov.br

AMAURI GASQUES - PL - SP - dep.amaurigasques@camara.gov.br

CORIOLANO SALES - PFL - BA - dep.coriolanosales@camara.gov.br

GONZAGA MOTA - PSDB - CE - dep.gonzagamota@camara.gov.br

ANA ALENCAR - PSDB - TO - dep.anaalencar@camara.gov.br

CORONEL ALVES - PL - AP - dep.coronelalves@camara.gov.br

GONZAGA PATRIOTA - PSB - PE - dep.gonzagapatriota@camara.gov.br

ANA GUERRA - PT - MG - dep.anaguerra@camara.gov.br

COSTA FERREIRA - PSC - MA - dep.costaferreira@camara.gov.br

GUILHERME MENEZES - PT - BA - dep.guilhermemenezes@camara.gov.br

ANDRÉ COSTA - PDT - RJ - dep.andrecosta@camara.gov.br

CUSTÓDIO MATTOS - PSDB - MG - dep.custodiomattos@camara.gov.br

GUSTAVO FRUET - PSDB - PR - dep.gustavofruet@camara.gov.br

ANDRÉ DE PAULA - PFL - PE - dep.andredepaula@camara.gov.br

DANIEL ALMEIDA - PCdoB - BA - dep.danielalmeida@camara.gov.br

HAMILTON CASARA - PSDB - RO - dep.hamiltoncasara@camara.gov.br

ANDRÉ FIGUEIREDO - PDT - CE - dep.andrefigueiredo@camara.gov.br

DARCÍSIO PERONDI - PMDB - RS - dep.darcisioperondi@camara.gov.br

HELENILDO RIBEIRO - PSDB - AL - dep.helenildoribeiro@camara.gov.br

ANDRÉ ZACHAROW - PMDB - PR - dep.andrezacharow@camara.gov.br

DAVI ALCOLUMBRE - PFL - AP - dep.davialcolumbre@camara.gov.br

HELENO SILVA - PL - SE - dep.helenosilva@camara.gov.br

ANGELA GUADAGNIN - PT - SP - dep.angelaguadagnin@camara.gov.br

DELEY - PSC - RJ - dep.deley@camara.gov.br

HÉLIO ESTEVES - PT - AP - dep.helioesteves@camara.gov.br

ANÍBAL GOMES - PMDB - CE - dep.anibalgomes@camara.gov.br

DELFIM NETTO - PMDB - SP - dep.delfimnetto@camara.gov.br

HENRIQUE AFONSO - PT - AC - dep.henriqueafonso@camara.gov.br

ANIVALDO VALE - PSDB - PA - dep.anivaldovale@camara.gov.br

DEVANIR RIBEIRO - PT - SP - dep.devanirribeiro@camara.gov.br

HENRIQUE E. ALVES - PMDB - RN - dep.henriqueeduardoalves@camara.gov.br

ANN PONTES - PMDB - PA - dep.annpontes@camara.gov.br

DILCEU SPERAFICO - PP - PR - dep.dilceusperafico@camara.gov.br

HENRIQUE FONTANA - PT - RS - dep.henriquefontana@camara.gov.br

ANSELMO - PT - RO - dep.anselmo@camara.gov.br

DIMAS RAMALHO - PPS - SP - dep.dimasramalho@camara.gov.br

HERCULANO ANGHINETTI - PP - MG - dep.herculanoanghinetti@camara.gov.br

ANTONIO CAMBRAIA - PSDB - CE - dep.antoniocambraia@camara.gov.br

DR. BENEDITO DIAS - PP - AP - dep.dr.beneditodias@camara.gov.br

HERMES PARCIANELLO - PMDB - PR - dep.hermesparcianello@camara.gov.br

ANTÔNIO CARLOS BIFFI - PT - MS - dep.antoniocarlosbiffi@camara.gov.br

DR. FRANCISCO GONÇALVES - PPS - MG - dep.dr.franciscogoncalves@camara.gov.br

HOMERO BARRETO - PTB - TO - dep.homerobarreto@camara.gov.br

ANTONIO CARLOS BISCAIA - PT - RJ - dep.biscaia@camara.gov.br

DR. HELENO - PSC - RJ - dep.dr.heleno@camara.gov.br

HUMBERTO MICHILES - PL - AM - dep.humbertomichiles@camara.gov.br

ANTONIO C. M. NETO - PFL - BA - dep.antoniocarlosmagalhaesneto@camara.gov.br

DR. PINOTTI - PFL - SP - dep.dr.pinotti@camara.gov.br

IARA BERNARDI - PT - SP - dep.iarabernardi@camara.gov.br

ANTONIO C. M. THAME - PSDB - SP - dep.antoniocarlosmendesthame@camara.gov.br

DR. RIBAMAR ALVES - PSB - MA - dep.dr.ribamaralves@camara.gov.br

IBERÊ FERREIRA - PSB - RN - dep.ibereferreira@camara.gov.br

ANTONIO C. PANNUNZIO - PSDB - SP - dep.antoniocarlospannunzio@camara.gov.br

DR. RODOLFO PEREIRA - PDT - RR - dep.dr.rodolfopereira@camara.gov.br

ILDEU ARAUJO - PP - SP - dep.ildeuaraujo@camara.gov.br

ANTONIO CRUZ - PP - MS - dep.antoniocruz@camara.gov.br

DR. ROSINHA - PT - PR - dep.dr.rosinha@camara.gov.br

INÁCIO ARRUDA - PCdoB - CE - dep.inacioarruda@camara.gov.br

ANTONIO JOAQUIM - PSDB - MA - dep.antoniojoaquim@camara.gov.br

DRA. CLAIR - PT - PR - dep.dra.clair@camara.gov.br

INALDO LEITÃO - PL - PB - dep.inaldoleitao@camara.gov.br

ARACELY DE PAULA - PL - MG - dep.aracelydepaula@camara.gov.br

DURVAL ORLATO - PT - SP - dep.durvalorlato@camara.gov.br

INOCÊNCIO OLIVEIRA - PL - PE - dep.inocenciooliveira@camara.gov.br

ARIOSTO HOLANDA - PSB - CE - dep.ariostoholanda@camara.gov.br

EDINHO BEZ - PMDB - SC - dep.edinhobez@camara.gov.br

IRINY LOPES - PT - ES - dep.irinylopes@camara.gov.br

ARLINDO CHINAGLIA - PT - SP - dep.arlindochinaglia@camara.gov.br

EDINHO MONTEMOR - PSB - SP - dep.edinhomontemor@camara.gov.br

ARMANDO MONTEIRO - PTB - PE - dep.armandomonteiro@camara.gov.br

EDIR OLIVEIRA - PTB - RS - dep.ediroliveira@camara.gov.br

ISAÍAS SILVESTRE - PSB - MG - dep.isaiassilvestre@camara.gov.br

ARNALDO FARIA DE SÁ - PTB - SP - dep.arnaldofariadesa@camara.gov.br

EDMAR MOREIRA - PFL - MG - dep.edmarmoreira@camara.gov.br

ITAMAR SERPA - PSDB - RJ - dep.itamarserpa@camara.gov.br

ARNALDO MADEIRA - PSDB - SP - dep.arnaldomadeira@camara.gov.br

EDNA MACEDO - PTB - SP - dep.ednamacedo@camara.gov.br

IVAN RANZOLIN - PFL - SC - dep.ivanranzolin@camara.gov.br

ARNON BEZERRA - PTB - CE - dep.arnonbezerra@camara.gov.br

GILMAR MACHADO - PT - MG - dep.gilmarmachado@camara.gov.br

IRIS SIMÕES - PTB - PR - dep.irissimoes@camara.gov.br

EDSON DUARTE - PV - BA - dep.edsonduarte@camara.gov.br

IVAN VALENTE - PSOL - SP - dep.ivanvalente@camara.gov.br

AROLDE DE OLIVEIRA - PFL - RJ - dep.aroldedeoliveira@camara.gov.br

EDSON EZEQUIEL - PMDB - RJ - dep.edsonezequiel@camara.gov.br

IVO JOSÉ - PT - MG - dep.ivojose@camara.gov.br

AROLDO CEDRAZ - PFL - BA - dep.aroldocedraz@camara.gov.br

EDUARDO BARBOSA - PSDB - MG - dep.eduardobarbosa@camara.gov.br

JACKSON BARRETO - PTB - SE - dep.jacksonbarreto@camara.gov.br

ARY KARA - PTB - SP - dep.arykara@camara.gov.br

EDUARDO CAMPOS - PSB - PE - dep.eduardocampos@camara.gov.br

JADER BARBALHO - PMDB - PA - dep.jaderbarbalho@camara.gov.br

ASDRUBAL BENTES - PMDB - PA - dep.asdrubalbentes@camara.gov.br

EDUARDO CUNHA - PMDB - RJ - dep.eduardocunha@camara.gov.br

JAIME MARTINS - PL - MG - dep.jaimemartins@camara.gov.br

ASSIS MIGUEL DO COUTO - PT - PR - dep.assismigueldocouto@camara.gov.br

EDUARDO GOMES - PSDB - TO - dep.eduardogomes@camara.gov.br

JAIR BOLSONARO - PP - RJ - dep.jairbolsonaro@camara.gov.br

ÁTILA LINS - PMDB - AM - dep.atilalins@camara.gov.br

EDUARDO PAES - PSDB - RJ - dep.eduardopaes@camara.gov.br

JAIR DE OLIVEIRA - PMDB - ES - dep.jairdeoliveira@camara.gov.br

ÁTILA LIRA - PSDB - PI - dep.atilalira@camara.gov.br

EDUARDO SCIARRA - PFL - PR - dep.eduardosciarra@camara.gov.br

JAIRO CARNEIRO - PFL - BA - dep.jairocarneiro@camara.gov.br

B. SÁ - PSB - PI - dep.b.sa@camara.gov.br

EDUARDO SEABRA - PTB - AP - dep.eduardoseabra@camara.gov.br

JAMIL MURAD - PCdoB - SP - dep.jamilmurad@camara.gov.br

BABÁ - PSOL - PA - dep.baba@camara.gov.br

EDUARDO VALVERDE - PT - RO - dep.eduardovalverde@camara.gov.br

JANDIRA FEGHALI - PCdoB - RJ - dep.jandirafeghali@camara.gov.br

BADU PICANÇO - PL - AP - dep.badupicanco@camara.gov.br

ELAINE COSTA - PTB - RJ - dep.elainecosta@camara.gov.br

JEFFERSON CAMPOS - PTB - SP - dep.jeffersoncampos@camara.gov.br

BARBOSA NETO - PSB - GO - dep.barbosaneto@camara.gov.br

ELIMAR M. DAMASCENO - PRONA - SP - dep.elimarmaximodamasceno@camara.gov.br

JOÃO ALFREDO - PSOL - CE - dep.joaoalfredo@camara.gov.br

BENEDITO DE LIRA - PP - AL - dep.beneditodelira@camara.gov.br

ELISEU PADILHA - PMDB - RS - dep.eliseupadilha@camara.gov.br

JOÃO ALMEIDA - PSDB - BA - dep.joaoalmeida@camara.gov.br

BENJAMIN MARANHÃO - PMDB - PB - dep.benjaminmaranhao@camara.gov.br

ELISEU RESENDE - PFL - MG - dep.eliseuresende@camara.gov.br

JOÃO BATISTA - PP - SP - dep.joaobatista@camara.gov.br

BERNARDO ARISTON - PMDB - RJ - dep.bernardoariston@camara.gov.br

ENÉAS - PRONA - SP - dep.eneas@camara.gov.br

JOÃO CALDAS - PL - AL - dep.joaocaldas@camara.gov.br

BETINHO ROSADO - PFL - RN - dep.betinhorosado@camara.gov.br

ENIO BACCI - PDT - RS - dep.eniobacci@camara.gov.br

JOÃO CAMPOS - PSDB - GO - dep.joaocampos@camara.gov.br

BETO ALBUQUERQUE - PSB - RS - dep.betoalbuquerque@camara.gov.br

ENIO TATICO - PTB - GO - dep.eniotatico@camara.gov.br

JOÃO CASTELO - PSDB - MA - dep.joaocastelo@camara.gov.br

BISMARCK MAIA - PSDB - CE - dep.bismarckmaia@camara.gov.br

ENIVALDO RIBEIRO - PP - PB - dep.enivaldoribeiro@camara.gov.br

JOÃO CORREIA - PMDB - AC - dep.joaocorreia@camara.gov.br

BONIFÁCIO DE ANDRADA - PSDB - MG - dep.bonifaciodeandrada@camara.gov.br

ÉRICO RIBEIRO - PP - RS - dep.ericoribeiro@camara.gov.br

JOÃO FONTES - PDT - SE - dep.joaofontes@camara.gov.br

BOSCO COSTA - PSDB - SE - dep.boscocosta@camara.gov.br

EUNÍCIO OLIVEIRA - PMDB - CE - dep.euniciooliveira@camara.gov.br

JOÃO GRANDÃO - PT - MS - dep.joaograndao@camara.gov.br

CABO JÚLIO - PMDB - MG - dep.cabojulio@camara.gov.br

EVANDRO MILHOMEN - PCdoB - AP - dep.evandromilhomen@camara.gov.br

JOÃO HERRMANN NETO - PDT - SP - dep.joaoherrmannneto@camara.gov.br

CARLITO MERSS - PT - SC - dep.carlitomerss@camara.gov.br

FÁBIO SOUTO - PFL - BA - dep.fabiosouto@camara.gov.br

JOÃO LEÃO - PP - BA - dep.joaoleao@camara.gov.br

CARLOS ABICALIL - PT - MT - dep.carlosabicalil@camara.gov.br

FÁTIMA BEZERRA - PT - RN - dep.fatimabezerra@camara.gov.br

JOÃO LYRA - PTB - AL - dep.joaolyra@camara.gov.br

CARLOS ALBERTO LERÉIA - PSDB - GO - dep.carlosalbertolereia@camara.gov.br

FÉLIX MENDONÇA - PFL - BA - dep.felixmendonca@camara.gov.br

JOÃO MAGALHÃES - PMDB - MG - dep.joaomagalhaes@camara.gov.br

CARLOS BATATA - PFL - PE - dep.carlosbatata@camara.gov.br

FERNANDO CORUJA - PPS - SC - dep.fernandocoruja@camara.gov.br

JOÃO MAGNO - PT - MG - dep.joaomagno@camara.gov.br

CARLOS DUNGA - PTB - PB - dep.carlosdunga@camara.gov.br

FERNANDO DE FABINHO - PFL - BA - dep.fernandodefabinho@camara.gov.br

JOÃO MATOS - PMDB - SC - dep.joaomatos@camara.gov.br

CARLOS E. CADOCA - PMDB - PE - dep.carloseduardocadoca@camara.gov.br

FERNANDO DINIZ - PMDB - MG - dep.fernandodiniz@camara.gov.br

JOÃO MENDES DE JESUS - PSB - RJ - dep.joaomendesdejesus@camara.gov.br

CARLOS MELLES - PFL - MG - dep.carlosmelles@camara.gov.br

FERNANDO ESTIMA - PPS - SP - dep.fernandoestima@camara.gov.br

JOÃO PAULO CUNHA - PT - SP - dep.joaopaulocunha@camara.gov.br


JOÃO PAULO G. DA SILVA - PSB - MG - dep.joaopaulogomesdasilva@camara.gov.br

MARIA HELENA - PSB - RR - dep.mariahelena@camara.gov.br

REINALDO BETÃO - PL - RJ - dep.reinaldobetao@camara.gov.br

JOÃO PIZZOLATTI - PP - SC - dep.joaopizzolatti@camara.gov.br

MARIÂNGELA DUARTE - PT - SP - dep.mariangeladuarte@camara.gov.br

REINALDO GRIPP - PL - RJ - dep.reinaldogripp@camara.gov.br

JOÃO TOTA - PP - AC - dep.joaotota@camara.gov.br

MARINHA RAUPP - PMDB - RO - dep.marinharaupp@camara.gov.br

REINHOLD STEPHANES - PMDB - PR - dep.reinholdstephanes@camara.gov.br

JOAQUIM FRANCISCO - PFL - PE - dep.joaquimfrancisco@camara.gov.br

MÁRIO ASSAD JÚNIOR - PSB - MG - dep.marioassadjunior@camara.gov.br

REMI TRINTA - PL - MA - dep.remitrinta@camara.gov.br

JOEL DE HOLLANDA - PFL - PE - dep.joeldehollanda@camara.gov.br

MÁRIO HERINGER - PDT - MG - dep.marioheringer@camara.gov.br

RENATO CASAGRANDE - PSB - ES - dep.renatocasagrande@camara.gov.br

JONIVAL LUCAS JUNIOR - PTB - BA - dep.jonivallucasjunior@camara.gov.br

MÁRIO NEGROMONTE - PP - BA - dep.marionegromonte@camara.gov.br

RENATO COZZOLINO - PDT - RJ - dep.renatocozzolino@camara.gov.br

JORGE ALBERTO - PMDB - SE - dep.jorgealberto@camara.gov.br

MAURÍCIO Q. LESSA - PDT - AL - dep.mauricioquintellalessa@camara.gov.br

RENILDO CALHEIROS - PCdoB - PE - dep.renildocalheiros@camara.gov.br

JORGE BITTAR - PT - RJ - dep.jorgebittar@camara.gov.br

MAURÍCIO RABELO - PL - TO - dep.mauriciorabelo@camara.gov.br

RICARDO BARROS - PP - PR - dep.ricardobarros@camara.gov.br

JORGE BOEIRA - PT - SC - dep.jorgeboeira@camara.gov.br

MAURÍCIO RANDS - PT - PE - dep.mauriciorands@camara.gov.br

RICARDO BERZOINI - PT - SP - dep.ricardoberzoini@camara.gov.br

JORGE GOMES - PSB - PE - dep.jorgegomes@camara.gov.br

MAURO BENEVIDES - PMDB - CE - dep.maurobenevides@camara.gov.br

RICARDO IZAR - PTB - SP - dep.ricardoizar@camara.gov.br

JORGE KHOURY - PFL - BA - dep.jorgekhoury@camara.gov.br

MAURO LOPES - PMDB - MG - dep.maurolopes@camara.gov.br

RICARDO RIQUE - PL - PB - dep.ricardorique@camara.gov.br

JORGE PINHEIRO - PL - DF - dep.jorgepinheiro@camara.gov.br

MAURO PASSOS - PT - SC - dep.mauropassos@camara.gov.br

JORGE VI - PSC - AL - dep.jorgevi@camara.gov.br

MAX ROSENMANN - PMDB - PR - dep.maxrosenmann@camara.gov.br

ROBÉRIO NUNES - PFL - BA - dep.roberionunes@camara.gov.br

JOSÉ CARLOS ALELUIA - PFL - BA - dep.josecarlosaleluia@camara.gov.br

MEDEIROS - PL - SP - dep.medeiros@camara.gov.br

ROBERTO BALESTRA - PP - GO - dep.robertobalestra@camara.gov.br

JOSÉ CARLOS ARAÚJO - PL - BA - dep.josecarlosaraujo@camara.gov.br

MENDES RIBEIRO FILHO - PMDB - RS - dep.mendesribeirofilho@camara.gov.br

ROBERTO BRANT - PFL - MG - dep.robertobrant@camara.gov.br

JOSÉ CARLOS MACHADO - PFL - SE - dep.josecarlosmachado@camara.gov.br

MENDONÇA PRADO - PFL - SE - dep.mendoncaprado@camara.gov.br

ROBERTO FREIRE - PPS - PE - dep.robertofreire@camara.gov.br

JOSÉ CHAVES - PTB - PE - dep.josechaves@camara.gov.br

MICHEL TEMER - PMDB - SP - dep.micheltemer@camara.gov.br

JOSÉ DIVINO - PRB - RJ - dep.josedivino@camara.gov.br

MIGUEL DE SOUZA - PL - RO - dep.migueldesouza@camara.gov.br

ROBERTO MAGALHÃES - PFL - PE - dep.robertomagalhaes@camara.gov.br

JOSÉ EDUARDO CARDOZO - PT - SP - dep.joseeduardocardozo@camara.gov.br

MILTON BARBOSA - PSC - BA - dep.miltonbarbosa@camara.gov.br

ROBSON TUMA - PFL - SP - dep.robsontuma@camara.gov.br

JOSÉ JANENE - PP - PR - dep.josejanene@camara.gov.br

MILTON MONTI - PL - SP - dep.miltonmonti@camara.gov.br

RODRIGO MAIA - PFL - RJ - dep.rodrigomaia@camara.gov.br

JOSÉ LINHARES - PP - CE - dep.joselinhares@camara.gov.br

MIRO TEIXEIRA - PDT - RJ - dep.miroteixeira@camara.gov.br

ROGÉRIO TEÓFILO - PPS - AL - dep.rogerioteofilo@camara.gov.br

JOSÉ M. BEZERRA - PFL - PE - dep.josemendoncabezerra@camara.gov.br

MOACIR MICHELETTO - PMDB - PR - dep.moacirmicheletto@camara.gov.br

ROMEL ANIZIO - PP - MG - dep.romelanizio@camara.gov.br

JOSÉ MENTOR - PT - SP - dep.josementor@camara.gov.br

MORAES SOUZA - PMDB - PI - dep.moraessouza@camara.gov.br

ROMEU QUEIROZ - PTB - MG - dep.romeuqueiroz@camara.gov.br

JOSÉ MILITÃO - PTB - MG - dep.josemilitao@camara.gov.br

MOREIRA FRANCO - PMDB - RJ - dep.moreirafranco@camara.gov.br

RONALDO CAIADO - PFL - GO - dep.ronaldocaiado@camara.gov.br

JOSÉ MÚCIO MONTEIRO - PTB - PE - dep.josemuciomonteiro@camara.gov.br

MORONI TORGAN - PFL - CE - dep.moronitorgan@camara.gov.br

RONALDO CEZAR COELHO - PSDB - RJ - dep.ronaldocezarcoelho@camara.gov.br

JOSÉ OTÁVIO GERMANO - PP - RS - dep.joseotaviogermano@camara.gov.br

MURILO ZAUITH - PFL - MS - dep.murilo@camara.gov.br

RONALDO CUNHA LIMA - PSDB - PB - dep.ronaldocunhalima@camara.gov.br

JOSÉ PIMENTEL - PT - CE - dep.josepimentel@camara.gov.br

MUSSA DEMES - PFL - PI - dep.mussademes@camara.gov.br

RONALDO DIMAS - PSDB - TO - dep.ronaldodimas@camara.gov.br

JOSÉ PRIANTE - PMDB - PA - dep.josepriante@camara.gov.br

NARCIO RODRIGUES - PSDB - MG - dep.narciorodrigues@camara.gov.br

ROSE DE FREITAS - PMDB - ES - dep.rosedefreitas@camara.gov.br

JOSÉ ROBERTO ARRUDA - PFL - DF - dep.joserobertoarruda@camara.gov.br

NATAN DONADON - PMDB - RO - dep.natandonadon@camara.gov.br

RUBENS OTONI - PT - GO - dep.rubensotoni@camara.gov.br

JOSÉ ROCHA - PFL - BA - dep.joserocha@camara.gov.br

NAZARENO FONTELES - PT - PI - dep.nazarenofonteles@camara.gov.br

SALATIEL CARVALHO - PFL - PE - dep.salatielcarvalho@camara.gov.br

JOSÉ S. DE VASCONCELLOS - PL - MG - dep.josesantanadevasconcellos@camara.gov.br

NEIVA MOREIRA - PDT - MA - dep.neivamoreira@camara.gov.br

SALVADOR ZIMBALDI - PSB - SP - dep.salvadorzimbaldi@camara.gov.br

JOSÉ THOMAZ NONÔ - PFL - AL - dep.josethomaznono@camara.gov.br

NÉLIO DIAS - PP - RN - dep.neliodias@camara.gov.br

SANDES JÚNIOR - PP - GO - dep.sandesjunior@camara.gov.br

JOSIAS GOMES - PTVBA - dep.josiasgomes@camara.gov.br

NELSON BORNIER - PMDB - RJ - dep.nelsonbornier@camara.gov.br

SANDRA ROSADO - PSB - RN - dep.sandrarosado@camara.gov.br

JOSIAS QUINTAL - PSB - RJ - dep.josiasquintal@camara.gov.br

NELSON MARQUEZELLI - PTB - SP - dep.nelsonmarquezelli@camara.gov.br

SANDRO MABEL - PL - GO - dep.sandromabel@camara.gov.br

JOSUÉ BENGTSON - PTB - PA - dep.josuebengtson@camara.gov.br

NELSON MEURER - PP - PR - dep.nelsonmeurer@camara.gov.br

SANDRO MATOS - PTB - RJ - dep.sandromatos@camara.gov.br

JOVAIR ARANTES - PTB - GO - dep.jovairarantes@camara.gov.br

NELSON PELLEGRINO - PT - BA - dep.nelsonpellegrino@camara.gov.br

SARAIVA FELIPE - PMDB - MG - dep.saraivafelipe@camara.gov.br

JOVINO CÂNDIDO - PV - SP - dep.jovinocandido@camara.gov.br

NELSON PROENÇA - PPS - RS - dep.nelsonproenca@camara.gov.br

SARNEY FILHO - PV - MA - dep.sarneyfilho@camara.gov.br

JUÍZA DENISE FROSSARD - PPS - RJ - dep.juizadenisefrossard@camara.gov.br

NELSON TRAD - PMDB - MS - dep.nelsontrad@camara.gov.br

SEBASTIÃO MADEIRA - PSDB - MA - dep.sebastiaomadeira@camara.gov.br

JÚLIO CESAR - PFL - PI - dep.juliocesar@camara.gov.br

NEUCIMAR FRAGA - PL - ES - dep.neucimarfraga@camara.gov.br

SELMA SCHONS - PT - PR - dep.selmaschons@camara.gov.br

JÚLIO DELGADO - PSBVMG - dep.juliodelgado@camara.gov.br

NEUTON LIMA - PTB - SP - dep.neutonlima@camara.gov.br

SÉRGIO MIRANDA - PDT - MG - dep.sergiomiranda@camara.gov.br

JULIO LOPES - PP - RJ - dep.juliolopes@camara.gov.br

NEY LOPES - PFL - RN - dep.neylopes@camara.gov.br

SEVERIANO ALVES - PDT - BA - dep.severianoalves@camara.gov.br

JÚLIO REDECKER - PSDB - RS - dep.julioredecker@camara.gov.br

NEYDE APARECIDA - PT - GO - dep.neydeaparecida@camara.gov.br

SIGMARINGA SEIXAS - PT - DF - dep.sigmaringaseixas@camara.gov.br

JULIO SEMEGHINI - PSDB - SP - dep.juliosemeghini@camara.gov.br

NICE LOBÃO - PFL - MA - dep.nicelobao@camara.gov.br

SILAS BRASILEIRO - PMDB - MG - dep.silasbrasileiro@camara.gov.br

JÚNIOR BETÃO - PL - AC - dep.juniorbetao@camara.gov.br

NICIAS RIBEIRO - PSDB - PA - dep.niciasribeiro@camara.gov.br

SILAS CÂMARA - PTB - AM - dep.silascamara@camara.gov.br

JUTAHY JUNIOR - PSDB - BA - dep.jutahyjunior@camara.gov.br

NILSON MOURÃO - PT - AC - dep.nilsonmourao@camara.gov.br

SIMÃO SESSIM - PP - RJ - dep.simaosessim@camara.gov.br

KÁTIA ABREU - PFL - TO - dep.katiaabreu@camara.gov.br

NILSON PINTO - PSDB - PA - dep.nilsonpinto@camara.gov.br

SIMPLÍCIO MÁRIO - PT - PI - dep.simpliciomario@camara.gov.br

KELLY MORAES - PTB - RS - dep.kellymoraes@camara.gov.br

NILTON BAIANO - PP - ES - dep.niltonbaiano@camara.gov.br

SOCORRO GOMES - PCdoB - PA - dep.socorrogomes@camara.gov.br

LAEL VARELLA - PFL - MG - dep.laelvarella@camara.gov.br

NILTON CAPIXABA - PTB - RO - dep.niltoncapixaba@camara.gov.br

SUELY CAMPOS - PP - RR - dep.suelycampos@camara.gov.br

LAURA CARNEIRO - PFL - RJ - dep.lauracarneiro@camara.gov.br

ODAIR CUNHA - PT - MG - dep.odaircunha@camara.gov.br

TADEU FILIPPELLI - PMDB - DF - dep.tadeufilippelli@camara.gov.br

LEANDRO VILELA - PMDB - GO - dep.leandrovilela@camara.gov.br

ODÍLIO BALBINOTTI - PMDB - PR - dep.odiliobalbinotti@camara.gov.br

TAKAYAMA - PMDB - PR - dep.takayama@camara.gov.br

LÉO ALCÂNTARA - PSDB - CE - dep.leoalcantara@camara.gov.br

OLIVEIRA FILHO - PL - PR - dep.oliveirafilho@camara.gov.br

TARCÍSIO ZIMMERMANN - PT - RS - dep.tarcisiozimmermann@camara.gov.br

LEODEGAR TISCOSKI - PP - SC - dep.leodegartiscoski@camara.gov.br

ONYX LORENZONI - PFL - RS - dep.onyxlorenzoni@camara.gov.br

TATICO - PTB - DF - dep.tatico@camara.gov.br

LEONARDO MATTOS - PV - MG - dep.leonardomattos@camara.gov.br

ORLANDO DESCONSI - PT - RS - dep.orlandodesconsi@camara.gov.br

TELMA DE SOUZA - PT - SP - dep.telmadesouza@camara.gov.br

LEONARDO MONTEIRO - PT - MG - dep.leonardomonteiro@camara.gov.br

ORLANDO FANTAZZINI - PSOL - SP - dep.orlandofantazzini@camara.gov.br

TEREZINHA FERNANDES - PT - MA - dep.terezinhafernandes@camara.gov.br

LEONARDO PICCIANI - PMDB - RJ - dep.leonardopicciani@camara.gov.br

OSMÂNIO PEREIRA - PTB - MG - dep.osmaniopereira@camara.gov.br

TETÉ BEZERRA - PMDB - MT - dep.tetebezerra@camara.gov.br

LEONARDO VILELA - PSDB - GO - dep.leonardovilela@camara.gov.br

OSMAR SERRAGLIO - PMDB - PR - dep.osmarserraglio@camara.gov.br

THAÍS BARBOSA - PMDB - MT - dep.thaisbarbosa@camara.gov.br

LINCOLN PORTELA - PL - MG - dep.lincolnportela@camara.gov.br

OSMAR TERRA - PMDB - RS - dep.osmarterra@camara.gov.br

THELMA DE OLIVEIRA - PSDB - MT - dep.thelmadeoliveira@camara.gov.br

LOBBE NETO - PSDB - SP - dep.lobbeneto@camara.gov.br

OSVALDO BIOLCHI - PMDB - RS - dep.osvaldobiolchi@camara.gov.br

VADÃO GOMES - PP - SP - dep.vadaogomes@camara.gov.br

LUCI CHOINACKI - PT - SC - dep.lucichoinacki@camara.gov.br

OSVALDO COELHO - PFL - PE - dep.osvaldocoelho@camara.gov.br

VADINHO BAIÃO - PT - MG - dep.vadinhobaiao@camara.gov.br

LÚCIA BRAGA - PMDB - PB - dep.luciabraga@camara.gov.br

OSVALDO REIS - PMDB - TO - dep.osvaldoreis@camara.gov.br

VANDER LOUBET - PT - MS - dep.vanderloubet@camara.gov.br

LUCIANA GENRO - PSOL - RS - dep.lucianagenro@camara.gov.br

PAES LANDIM - PTB - PI - dep.paeslandim@camara.gov.br

VANDERLEI ASSIS - PP - SP - dep.vanderleiassis@camara.gov.br

LUCIANO CASTRO - PL - RR - dep.lucianocastro@camara.gov.br

PASTOR AMARILDO - PSC - TO - dep.pastoramarildo@camara.gov.br

VANESSA GRAZZIOTIN - PCdoB - AM - dep.vanessagrazziotin@camara.gov.br

LUCIANO LEITOA - PSB - MA - dep.lucianoleitoa@camara.gov.br

PASTOR F. OLÍMPIO - PSB - PE - dep.pastorfranciscoolimpio@camara.gov.br

VIC PIRES FRANCO - PFL - PA - dep.vicpiresfranco@camara.gov.br

LUCIANO ZICA - PT - SP - dep.lucianozica@camara.gov.br

PASTOR FRANKEMBERGEN - PTB - RR - dep.pastorfrankembergen@camara.gov.br

VICENTE ARRUDA - PSDB - CE - dep.vicentearruda@camara.gov.br

LUIS CARLOS HEINZE - PP - RS - dep.luiscarlosheinze@camara.gov.br

PASTOR PEDRO RIBEIRO - PMDB - CE - dep.pastorpedroribeiro@camara.gov.br

VICENTE CASCIONE - PTB - SP - dep.vicentecascione@camara.gov.br

LUIZ ALBERTO - PT - BA - dep.luizalberto@camara.gov.br

PASTOR REINALDO - PTB - RS - dep.pastorreinaldo@camara.gov.br

VICENTINHO - PT - SP - dep.vicentinho@camara.gov.br

LUIZ BASSUMA - PT - BA - dep.luizbassuma@camara.gov.br

PAUDERNEY AVELINO - PFL - AM - dep.pauderneyavelino@camara.gov.br

VIEIRA REIS - PRB - RJ - dep.vieirareis@camara.gov.br

LUIZ BITTENCOURT - PMDB - GO - dep.luizbittencourt@camara.gov.br

PAULO AFONSO - PMDB - SC - dep.pauloafonso@camara.gov.br

VIGNATTI - PT - SC - dep.vignatti@camara.gov.br

LUIZ CARLOS HAULY - PSDB - PR - dep.luizcarloshauly@camara.gov.br

PAULO BALTAZAR - PSB - RJ - dep.paulobaltazar@camara.gov.br

VILMAR ROCHA - PFL - GO - dep.vilmarrocha@camara.gov.br

LUIZ CARLOS SANTOS - PFL - SP - dep.luizcarlossantos@camara.gov.br

PAULO BAUER - PSDB - SC - dep.paulobauer@camara.gov.br

VIRGÍLIO GUIMARÃES - PT - MG - dep.virgilioguimaraes@camara.gov.br

LUIZ CARREIRA - PFL - BA - dep.luizcarreira@camara.gov.br

PAULO DELGADO - PT - MG - dep.paulodelgado@camara.gov.br

VITORASSI - PT - PR - dep.vitorassi@camara.gov.br

LUIZ COUTO - PT - PB - dep.luizcouto@camara.gov.br

PAULO FEIJÓ - PSDB - RJ - dep.paulofeijo@camara.gov.br

VITTORIO MEDIOLI - PV - MG - dep.vittoriomedioli@camara.gov.br

LUIZ E. GREENHALGH - PT - SP - dep.luizeduardogreenhalgh@camara.gov.br

PAULO GOUVÊA - PL - RS - dep.paulogouvea@camara.gov.br

WAGNER LAGO - PDT - MA - dep.wagnerlago@camara.gov.br

LUIZ PIAUHYLINO - PDT - PE - dep.luizpiauhylino@camara.gov.br

PAULO LIMA - PMDB - SP - dep.paulolima@camara.gov.br

WALDEMIR MOKA - PMDB - MS - dep.waldemirmoka@camara.gov.br

LUIZ SÉRGIO - PT - RJ - dep.luizsergio@camara.gov.br

PAULO MAGALHÃES - PFL - BA - dep.paulomagalhaes@camara.gov.br

WALTER BARELLI - PSDB - SP - dep.walterbarelli@camara.gov.br

LUIZA ERUNDINA - PSB - SP - dep.luizaerundina@camara.gov.br

PAULO PIMENTA - PT - RS - dep.paulopimenta@camara.gov.br

WALTER FELDMAN - PSDB - SP - dep.walterfeldman@camara.gov.br

LUPÉRCIO RAMOS - PMDB - AM - dep.lupercioramos@camara.gov.br

PAULO RUBEM SANTIAGO - PT - PE - dep.paulorubemsantiago@camara.gov.br

WALTER PINHEIRO - PT - BA - dep.walterpinheiro@camara.gov.br

MANATO - PDT - ES - dep.manato@camara.gov.br

PEDRO CHAVES - PMDB - GO - dep.pedrochaves@camara.gov.br

WANDERVAL SANTOS - PL - SP - dep.wandervalsantos@camara.gov.br

MANINHA - PSOL - DF - dep.maninha@camara.gov.br

PEDRO FERNANDES - PTB - MA - dep.pedrofernandes@camara.gov.br

WELLINGTON FAGUNDES - PL - MT - dep.wellingtonfagundes@camara.gov.br

MANOEL SALVIANO - PSDB - CE - dep.manoelsalviano@camara.gov.br

PEDRO HENRY - PP - MT - dep.pedrohenry@camara.gov.br

WELLINGTON ROBERTO - PL - PB - dep.wellingtonroberto@camara.gov.br

MARCELINO FRAGA - PMDB - ES - dep.marcelinofraga@camara.gov.br

PEDRO IRUJO - PMDB - BA - dep.pedroirujo@camara.gov.br

WILSON SANTIAGO - PMDB - PB - dep.wilsonsantiago@camara.gov.br

MARCELLO SIQUEIRA - PMDB - MG - dep.marcellosiqueira@camara.gov.br

PEDRO NOVAIS - PMDB - MA - dep.pedronovais@camara.gov.br

WLADIMIR COSTA - PMDB - PA - dep.wladimircosta@camara.gov.br

MARCELO CASTRO - PMDB - PI - dep.marcelocastro@camara.gov.br

PERPÉTUA ALMEIDA - PCdoB - AC - dep.perpetuaalmeida@camara.gov.br

XICO GRAZIANO - PSDB - SP - dep.xicograziano@camara.gov.br

MARCELO G. FILHO - PFL - BA - dep.marceloguimaraesfilho@camara.gov.br

PHILEMON RODRIGUES - PTB - PB - dep.philemonrodrigues@camara.gov.br

YEDA CRUSIUS - PSDB - RS - dep.yedacrusius@camara.gov.br

MARCELO ORTIZ - PV - SP - dep.marceloortiz@camara.gov.br

POMPEO DE MATTOS - PDT - RS - dep.pompeodemattos@camara.gov.br

ZÉ GERALDO - PT - PA - dep.zegeraldo@camara.gov.br

MARCELO TEIXEIRA - PSDB - CE - dep.marceloteixeira@camara.gov.br

PROFº IRAPUAN TEIXEIRA - PP - SP - dep.professorirapuanteixeira@camara.gov.br

ZÉ GERARDO - PMDB - CE - dep.zegerardo@camara.gov.br

MÁRCIO R. MOREIRA - PP - MG - dep.marcioreinaldomoreira@camara.gov.br

PROFESSOR LUIZINHO - PT - SP - dep.professorluizinho@camara.gov.br

ZÉ LIMA - PP - PA - dep.zelima@camara.gov.br

MARCO MAIA - PT - RS - dep.marcomaia@camara.gov.br

PROFª RAQUEL TEIXEIRA - PSDB - GO - dep.professoraraquelteixeira@camara.gov.br

ZELINDA NOVAES - PFL - BA - dep.zelindanovaes@camara.gov.br

MARCONDES GADELHA - PSB - PB - dep.marcondesgadelha@camara.gov.br

RAFAEL GUERRA - PSDB - MG - dep.rafaelguerra@camara.gov.br

ZENALDO COUTINHO - PSDB - PA - dep.zenaldocoutinho@camara.gov.br

MARCOS ABRAMO - PP - SP - dep.marcosabramo@camara.gov.br

RAIMUNDO G. DE MATOS - PSDB - CE - dep.raimundogomesdematos@camara.gov.br

MARCOS DE JESUS - PFL - PE - dep.marcosdejesus@camara.gov.br

RAIMUNDO SANTOS - PL - PA - dep.raimundosantos@camara.gov.br

ZEZÉU RIBEIRO - PT - BA - dep.zezeuribeiro@camara.gov.br

MARCUS VICENTE - PTB - ES - dep.marcusvicente@camara.gov.br

RAUL JUNGMANN - PPS - PE - dep.rauljungmann@camara.gov.br

ZICO BRONZEADO - PT - AC - dep.zicobronzeado@camara.gov.br

MARIA DO CARMO LARA - PT - MG - dep.mariadocarmolara@camara.gov.br

REGINALDO GERMANO - PP - BA - dep.reginaldogermano@camara.gov.br

ZONTA - PP - SC - dep.zonta@camara.gov.br

MARIA DO ROSÁRIO - PT - RS - dep.mariadorosario@camara.gov.br

REGINALDO LOPES - PT - MG - dep.reginaldolopes@camara.gov.br

ZULAIÊ COBRA - PSDB - SP - dep.zulaiecobra@camara.gov.br

Trabalho Escravo. Vamos abolir de vez essa vergonha.

Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho

Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho

RICARTE DE FREITAS - PTB - MT - dep.ricartedefreitas@camara.gov.br

ROBERTO GOUVEIA - PT - SP - dep.robertogouveia@camara.gov.br

ZEQUINHA MARINHO - PSC - PA - dep.zequinhamarinho@camara.gov.br

Comissão Pastoral da Terra

ONG Repórter Brasil

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura


MUNDO DO TRABALHO

Qualidade na vida

Resultados repartidos ASSÉDIO MORAL AFETA SAÚDE

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Pesquisa realizada com 2.609 bancários de 25 estados, por iniciativa do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, em parceria com a Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e com o Fundo para Igualdade de Gênero (FIG), constatou que quatro em cada dez bancários brasileiros já passaram por situações constrangedoras no trabalho, o que caracteriza assédio moral. A forma como se estruturam as relações e o ambiente de trabalho é a principal causa do estresse sentido pelos profissionais. A pesquisa, parte do projeto Assédio Moral na Categoria Bancária, apurou que 60,72% dos trabalhadores entrevistados se sentem nervosos, tensos ou preocupados. Outros sintomas apresentados são cansaço, tristeza, insônia, dor de cabeça.

75

anos serão necessários para que as mulheres ganhem o mesmo que os homens se o mercado de trabalho continuar evoluindo no ritmo registrado entre 1996 e 2005. Fonte: boletim “Visão do Desenvolvimento”, divulgado pelo BNDES

Transparência e metas coletivas beneficiam trabalhadores na participação nos lucros As negociações coletivas em empresas que implantaram o Programa de Participação dos Trabalhadores nos Lucros ou Resultados (PLR) estão indo além da questão de remuneração e das demandas gerenciais. As discussões atuais incluem temas de interesse sindical relacionados ao ambiente e às condições de trabalho, qualificação dos trabalhadores e padrão tecnológico adotado pelos empregadores. Um estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) nas cinco regiões do país, com dados de 123 instrumentos normativos, buscou identificar os aspectos positivos e negativos deste processo de negociação, sob a perspectiva dos trabalhadores. Após a regulamentação da PLR, em 2000, o aumento da produtividade passou a ser referência para os programas para definir metas e resultados a serem combinados entre as partes. A negociação da PLR é condicionada ainda por aspectos como o contexto macroeconômico do país e as condições econômicas específicas do

setor de atividade ou da empresa. A pesquisa do Dieese aponta que um bom acordo de PLR para o trabalhador é aquele feito através de negociação com sindicato (ou comissão de negociação), que não tenha o lucro como condicionante para o pagamento dos resultados e que assegure a transparência nas informações por parte da empresa. Outras características importantes para um PLR efetivo levam em conta critérios baseados em metas coletivas, válidas para todos, a fim de evitar o surgimento de competição entre os trabalhadores. O aspecto positivo de maior destaque, conclui o levantamento do Dieese, é a participação dos sindicatos no processo de negociação, permitindo uma representatividade política importante e maior autonomia de ação aos prepostos dos trabalhadores. No entanto, quando a negociação é realizada via comissão de empregados, esses ainda continuam sem garantias de estabilidade no emprego, ao contrário do que assegura a lei aos dirigentes sindicais ou aos membros das comissões de conciliação prévia.


Direitos para domésticos Para incentivar a formalização do empregado doméstico em um mercado onde apenas 25,8% têm carteira de trabalho assinada, o Governo Federal editou Medida Provisória (MP) que permite ao empregador a dedução das despesas com o INSS de um empregado que ganha um salário mínimo. Durante a tramitação no Congresso foram incluídas a obrigatoriedade de contribuição patronal ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), a necessidade de pagamento pelo empregador da multa de 40% sobre o saldo do FGTS ao empregado dispensado sem justa

Cotas no comércio A contratação de negros no comércio paulista tem aumentado significativamente depois que o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, numa iniciativa inédita no país, passou a fazer acordos com as empresas para definir cotas de afro-descendentes no quadro de funcionários. As convenções coletivas renovadas a cada ano já contêm as cláusulas que valorizam a diversidade. Os primeiros acordos datam de 2003, como o fechado com a Camisaria Colombo, que se comprometeu a ter pelo menos 20% de negros no quadro da empresa. Depois vieram empresas como Têxtil Abril, Casas Bahia e a Unisys. Outra importante conquista para os profissionais negros foi a parceria com o sindicato patronal do setor de supermercados, que acertou a inclusão de 30% dos postos de trabalho para não brancos.

causa, extensão do salário-família ao empregado doméstico e a garantia de emprego à gestante desde a concepção até cinco meses após o parto. Mas tais

mudanças acabaram surtindo efeito inverso, diminuindo as chances de regularização do empregado doméstico. A análise do Dieese sobre os impactos desta MP considera que o que realmente poderá trazer impactos sobre a contratação será a indenização em caso de demissão sem justa causa. O incentivo fiscal ao empregador não tem muito alcance, porque só está previsto para o caso de declaração de rendimentos no formulário completo. Ainda assim, permanece um pequeno incentivo para salários inferiores a R$ 525,00 mensais, faixa na qual se encontra a esmagadora maioria dos empregados da categoria.

Crianças no batente Está disponível na internet um vídeo em 12 línguas (inclusive português) produzido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a situação das mais de 200 milhões de crianças trabalhadoras no mundo – metade delas nas piores condições. De 2000 a 2004, o número de trabalhadores infantis caiu 11%, de 246 milhões para 218 milhões. Nas atividades consideradas perigosas, a queda foi ainda maior: 26%, chegando a 126 milhões. Entre as razões para a diminuição, a OIT aponta o aumento da vontade política e ações concretas, principalmente na redução da pobreza e à educação em massa. No Brasil, a idade mínima estabelecida por lei para o ingresso no mercado é 16 anos. Mesmo assim, o IBGE calcula que hoje mais de 5,48 milhões de crianças e adolescentes trabalhem, sendo 40% menores de 14 anos. Mantidos os esforços atuais, a tendência é de que esse número baixe para 2,7 milhões. O progresso é significativo (eram 8,4 milhões em 1992), mas algumas áreas permanecem problemáticas, como a agricultura, onde sete em cada dez crianças estão ocupadas. O vídeo da OIT pode ser assistido ou baixado no site da instituição. www.ilo.org/public/english/bureau/inf/wdacl/index.htm

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MUNDO DO TRABALHO

Trabalho decente e a promoção da igualdade racial

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ANA CLAUDIA FARRANHA Coordenadora de Projeto na OIT/ Escritório do Brasil; Doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP

Falar em trabalho decente e igualdade racial no mercado de trabalho é, antes de mais nada, remontar os compromissos da OIT. Nesse sentido, o segmento da Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais do Trabalho, criado em 1998, elegeu como um dos principios fundamentais para a o exercício da dignidade no trabalho a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação. (Convenções no 100 e 111). No que se refere às medidas de promoção da igualdade racial, a Convenção 111 constitui um importante instrumento para a efetivação da igualdade de oportunidades, pois além de fornecer uma definição do que é discriminação, identifica, também, ações que podem ser implementadas nessa direção. Sendo assim, a promulgação de leis e promoção de programas educacionais desta natureza, a criação de organismos de monitoramento e execução das de ações afirmativas no mercado de trabalho e os processos de negociação coletiva são algumas das medidas descritas nesta Convenção. Procurando apoiar as iniciativas empresariais, govenamentais e de trabalhadores comprometidas com a construção dos princípios que norteiam o conceito de trabalho decente, o escritório da OIT no Brasil desenvolveu dois projetos com objetivo de promoção da eqüidade de gênero e raça. a) o Programa de Fortalecimento Institucional para a Igualdade de Gênero e Raça, Erradicação da Pobreza e Geração de Emprego – GRPE, cujo objetivo central foi fortalecer as dimensões de gênero e raça nas políticas públicas de combate à pobreza e geração de emprego, por meio das seguintes linhas: a) sensibilização, capacitação e formação de gestores públicos, organizações sindicais e de empregadores e outros atores sociais; b) desenvolvimento de assistência técnica às políticas públicas para a inclusão e/ou aperfeiçoamento da dimensão de gênero e raça; c) fortalecimento dos espaços de diálogo e concertação social em torno desses temas. b) Projeto Desenvolvimento de uma Política Nacional para eliminação da discriminação no emprego e na ocupação e promoção da igualdade racial no Brasil, cujas atividades referem-se ao apoio a construção de um marco normativo relativo à promoção da igualdade racial, a formulação de uma estratégia nacional de promoção de ações afirmativas no emprego e na ocupação e ao fortalecimento das instâncias de combate à discriminação de gênero e raça no âmbito do Ministério do Trabalho. Os principais resultados destes projetos podem ser acessados na página www.oitbrasil.org.br.


MESA DE TRABALHO

Ferramentas nossas de cada dia

Beto Silvy (48) fotógrafo, 30 anos de profissão O que tem na mesa: dois refletores e equipamento fotográfico Item mais usado: máquina fotográfica Item menos usado: filme fotográfico O que retiraria: tripés

Carla Bettoni (31) farmacêutica, 5 anos de profissão O que tem na mesa: vidraria, soluções hidroalcoólica, dosadores, succionador Item mais usado: frascos, succionador Item menos usado: preparo de seqüencia O que retiraria: nada

29 Rafael Torres Vasques (30), técnico em informárica, 5 anos de profissão O que tem na mesa: uma CPU, duas placas-mães, um HD Item mais usado: chave philips Item menos usado: alicate O que retiraria: conectores

Sérgio Luiz Cunha Vieira (39), relojoeiro, 20 anos de profissão O que tem na mesa: porta-retrato da filha, alicates, chaves de fenda, teste de circuito, multímetro e baterias Item mais usado: canivete, pinça e lupa Item menos usado: martelo O que retiraria: nada


A

soja está mais presente no seu dia-a-dia do que você imagina. Seus derivados aparecem na composição de centenas de produtos, alimentícios ou não. O grão é esmagado e transformado em óleo e farelo. Refinado, o óleo vai parar na sua cozinha ou na indústria de tintas e fármacos. O farelo vira ração animal, servida a bois, suínos e frangos que acabam na sua mesa. Outro subproduto, a gordura vegetal hidrogenada, aparece em margarinas, sorvetes, chocolates, margarinas, massas, bolos, biscoitos. Portanto, ainda que você não perceba, a soja é assunto de sua conta, sim. A perspectiva de a população mundial saltar dos atuais 6,5 bilhões para 9 bilhões de habitantes nos próximos 50 anos significa maior consumo de alimentos em proteína. A soja tem alto valor protéico, essencial na produção de carne, leite e ovos fornecidos por animais que comem a ração feita de farelo de soja. Então, a produção de soja deve crescer para atender a demanda. Na verdade, já está crescendo – e em um ritmo vertiginoso, com forte impacto econômico, ambiental e social. Basta ligar os pontos.

PLANETA Produção Mundial de Soja (milhões de toneladas)

30

País

2005

Part. %

EUA Brasil Argentina China Outros

85,0 51,1 39,0 17,4 22,8

39,5 23,7 18,1 8,1 10,6

59,2 25,7 12,1 13,5 16,5

46,7 20,2 9,5 10,6 13,0

215,3

100

127

100

TOTAL

1995 Part. %

Fonte: USDA

SOJ

Com a desvalorização do real em 1999 e a proibição de uso de ossos para ração animal, a soja tornou-se o “ouro verde”. Animados com a perspectiva de bons negócios, produtores emprestaram dinheiro para adquirir insumos (sementes, fertilizantes e agroquímicos) máquinas (tratores e colheitadeiras) e terras. Depois de cinco anos de exuberância, a safra 2004/2005 frustrou o setor em termos de cotação e rentabilidade. No ano passado, a saca de 60 quilos oscilou entre US$ 11,36 e 13,84 (Indicador Cepea/Esalq), valores baixos, mas dentro da média histórica. O problema foi a valorização do real perante o dólar: como o plantio, realizado em 2004, coincidiu com a alta nos insumos, o preço de venda obtido em reais ficou muito abaixo do esperado. Para se ter uma idéia da perda de renda, basta dizer que de 2002 a 2005 a quantidade de sacas necessárias para comprar uma colheitadeira dobrou para 10 mil, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

DESAFIOS E ALTERNATIVAS DE UM PRODUTO ESSENCIAL À SOCIEDADE


Se o agronegócio é uma das vedetes da economia nacional, a soja é a vedete do agronegócio. No ano passado, mais de ¾ da soja cultivada no Brasil foram vendidos para o exterior, o que representou 24% do comércio mundial da oleoginosa e rendeu US$ 9,47 bilhões. O número corresponde a 22% dos resultados do agronegócio e 8% do total gerado pelas exportações brasileiras. Por ser o produto agrícola que o país mais exporta, a soja contribui decisivamente para trazer divisas em dólar, equilibrando o balanço de pagamentos e contribuindo para o financiamento do desenvolvimento interno. Com a crescente demanda por soja, o cenário é promissor para o Brasil. Enquanto os Estados Unidos já estão com a produção estacionada, o Brasil país tem condições de expandir a produção e a produtividade no longo prazo. A questão é: qual modelo irá predominar?

A

O biodiesel produzido com matérias-primas vegetais vai aquecer ainda mais este mercado. Na Europa, o “combustível ecológico” é extraído da canola, mas a legislação local permite uma mistura de até 20% de óleo de soja. A demanda está aquecida também nos Estados Unidos, mesmo sem regulamentações específicas para esse tipo de combustível. A procura, claro, reflete no preço e especialistas já avisam que a demanda da soja como fonte de biodiesel acarretará aumentos dos preços de alimentos como a margarina, óleo de cozinha etc. Na comparação entre as médias de junho de 2006 e do ano passado das cotações de óleo refinado na Bolsa de Chicago, o óleo valorizou-se 4,24%, enquanto grão e farelo despencaram, respectivamente, 14,46% e 18,42%

Comércio Mundial de Soja (2004/5 – em mil de toneladas)

Maiores EXPORTADORES EUA Brasil Argentina Grão 30.011 20.538 9.513 Farelo 6.659 14.242 19.880 Óleo 600 2.414 4.720

Maiores IMPORTADORES China UE Grão 25.802 15.400 Farelo 69 22.000 Óleo 1.739 43

Japão 4.295 1.503 45 Fonte: USDA

Nos últimos dez anos, a expansão da produção e consumo de soja teve como mola propulsora a conversão de proteína vegetal em animal. Do volume colhido, 90% destinam-se ao esmagamento. Apesar de o óleo de soja corresponder a mais de 30% de todo o óleo vegetal produzido no mundo, 79% da soja esmagada vira farelo para a ração animal. Para a produção de um quilo de carne são necessários seis de ração. Em 40 anos, o apetite mundial por carne duplicou, chegando a quase 40 quilos per capita. No Brasil, a proporção de carne à mesa triplicou, passando dos 82 quilos anuais per capita no mesmo período, nível de paises desenvolvidos. Os norte-americanos são campeões de consumo, com mais de 120 quilos per capita ano. No mundo inteiro, há mais gente comendo mais carne em maior quantidade. De exportadora de soja, a China tornou-se a maior compradora do mercado, importando 27,6 milhões de toneladas de produtos de soja em 2005. Para Marcos Jank do Instituto de Estudos do Comércio e Negócios Internacionais (Icone), a forte demanda de soja naquele país está relacionada à limitação da terra disponível para agricultura (apenas 11% do território) e ao crescimento da população. “São 17 milhões de pessoas - uma Grande São Paulo – por ano migrando para os centros urbanos”, diz.

Das seis empresas que dominam o agronegócio brasileiro, quatro são multinacionais. Elas têm dinheiro para financiamento e logística para distribuição. Juntas, controlam o armazenamento, processamento e comercialização de grãos. Líder e vice-líder do setor estão entre as dez maiores exportadoras do Brasil: Bunge, em quarto, e Cargill, em oitavo. Bem longe delas vem ADM (13ª na lista das exportações), seguida pela Dreyfus (Coinbra) e pelas duas brasileiras. Caramuru Alimentos e Grupo Maggi. “Somente as quatro multinacionais compram 66% da produção de grãos de soja”, aponta o pesquisador Sergio Schlesinger no livro Que Agronegócio É Esse?. O esmagamento e a venda do farelo e do óleo adicionam um valor de 15% (US$ 9 bilhões ao ano) ao faturamento global das empresas do setor. A indústria de esmagamento de oleaginosas também está sofrendo um processo de grande concentração. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), cerca de 70% do volume de esmagamento do grão de soja no Brasil é realizado por dez empresas.

31


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A expansão da agricultura no Centro-Oeste foi acompanhada de alta produtividade obtida por meio de modernas técnicas de melhoramento genético, mecanização e intenso uso de fertilizantes. Além disso, a vegetação pouco densa e o relevo plano permitiram a rápida ocupação. Enquanto na Amazônia há um período de exploração da terra pela pecuária depois de derrubada a floresta, o Cerrado está apto para a agricultura em menos de um ano após o desmate. Considerando o ritmo atual de desmatamento e as áreas protegidas (2,2% em unidades de conservação e 2,3% em terras indígenas), a ong Conservação Internacional estima que o bioma deixe de existir até o ano de 2030. A ong divulgou que o plantio tradicional de soja, do jeito que é feito no Cerrado, acarreta na perda de 25 toneladas de solo por hectare ao ano. De acordo com Rodrigo Junqueira, do Instituto SocioAmbiental (ISA) a área desmatada de matas ciliares na bacia do rio Xingu aumentou 28% no período 2003/2005. Ao longo de seus cerca de 2,7 mil quilômetros, o Xingu corta o norte do Mato Grosso e atravessa o Pará até desembocar no rio Amazonas, formando uma bacia hidrográfica de 51,1 milhões de hectares. O desmatamento nas suas cabeceiras dobrou nos últimos dez anos e muitas nascentes estão secando, afetando a qualidade de vida de 250 mil pessoas, incluindo 18 povos indígenas. Até 2005, foram derrubados na região mais de 270 mil hectares de matas ciliares, vegetação que margeia e protege os cursos d’água. A redução prevista para a área plantada com soja na safra 2006/ 2007 não deve brecar a expansão dos transgênicos. Nos Estados Unidos, 80% da soja é geneticamente modificada; na Argentina, cerca de 90%. No Brasil, apesar da inexistência de dados oficiais, ainda predominam as sementes convencionais: calcula-se que a soja transgênica já deva representar cerca de 20 a 30%. Este quadro deve se reverter rapidamente. Levantamentos não-oficiais apontam que a soja geneticamente modificada deverá ocupar pelo menos metade da área semeada com o grão na próxima safra, motivada pela falta de sementes convencionais, prejudicadas pelo clima. A soja RR (Roundup Ready) é a principal semente geneticamente modificada cujo plantio é autorizado no Brasil pelo governo. Muitos agricultores alegam que precisam dos transgênicos para se manter na atividade. A RR é produzida pela Monsanto para resistir ao herbicida Roun-

dup (glifosato), fabricado pela mesma Monsanto. A empresa alega que a semente reduz custos e aumenta a produtividade. A RR exigiria menos pulverizações, o que resultaria em efeitos positivos para o meio ambiente e para as pessoas. Para muitas entidades contrárias ao uso da soja transgênica, a produtividade só cresce no curto prazo; depois há queda e seus efeitos ao meio ambiente são importantes. O engenheiro agrônomo João Augusto de Oliveira, da certificadora Ecocert Brasil, afirma que há outros importantes efeitos negativos sobre as demais sementes, causando a contaminação de outras culturas e uma diminuição da variabilidade genética que afetaria diretamente a biodiversidade. O dado mais importante, no entanto, é que ainda não existe um laudo definitivo sobre as eventuais conseqüências dos transgênicos à saúde. Fica a pergunta: é possível um modelo sustentável com o uso de sementes transgênicas?

A

área plantada com soja no Brasil está crescendo ano a ano. Em 1990, a leguminosa ocupava 9,7 milhões de hectares, menos do que o milho. Hoje, é cultivada em 23,3 milhões de hectares (cinco vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro), o mesmo pedaço destinado ao milho, feijão, arroz e algodão somados. As duas principais regiões produtoras de soja no Brasil são o Sul e o Centro-Oeste. O novo ciclo de produção e expansão da soja no Brasil avançou pelo Centro-Oeste, onde o clima e o relevo são adequados para o seu cultivo em grandes extensões. Ao mesmo tempo, é uma região ecologicamente sensível e detentora de uma biodiversidade altíssima. Mas, em percentuais, o Norte é a região onde a área plantada com soja mais cresceu no Brasil nos últimos 25 anos. De meros 6,3 mil hectares em 1990/1991, a estimativa é que feche 2005/2006 com 499,5 mil hectares. A Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) estima que a soja ocupe 7 milhões dos 510 milhões de hectares da Amazônia Legal. Para o pesquisador Daniel Nepstad, do The Woods Hole Reserch Center/Instituto de Pesquisa da Amazônia, “a força motriz do desmatamento são as criações do gado, responsáveis por 70% das derrubadas”. Há uma guerra de números e mapas, a favor e contra. O mais importante é reconhecer a correlação entre soja, pecuária e madeireiras com o desmatamento.


Um relatório do Greenpeace indica dez fabricantes de alimentos - Batavo, Brejeiro, Caramuru, Ferrero, Imcopa, Josapar, Perdigão, Sadia, Sakura e Unilever - e das redes supermercadistas Carrefour e Sonae, que adotaram a política contra a transgenia como forma de atender o mercado consumidor europeu contrário à aceitação e à utilização de organismos geneticamente modificados (OGMs). A Europa continua impondo pesadas restrições a alimentos produzidos a partir de transgênicos. De acordo com estudo do Greenpeace de 2005, 90% dos grandes varejistas e 73% dos fabricantes de alimentos e bebidas da União Européia adotam a política de não-utilização de transgênicos em seus negócios no mercado europeu.

Aos poucos, o cerco à exploração irracional da Amazônia vai se fechando. Em julho, depois de muita pressão de redes de supermercados, cadeias de fast food e do Greenpeace, as associações brasileiras das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e dos Exportadores de Cereais (Anec) declararam uma moratória de dois anos para a soja produzida no bioma amazônico. Pela negociação, as duas comprometeram-se a “implantar um programa de governança que objetiva não comercializar a soja da safra que será plantada a partir de outubro de 2006, oriunda de áreas que forem desflorestadas dentro do Bioma Amazônico”. No mesmo mês, o governo anunciou a criação do quarto maior parque nacional do Brasil, entre Mato Grosso e Amazonas. O Parque Nacional do Juruena espalha-se por uma área de 1,9 milhões de hectares e deve dificultar o avanço da grilagem, que move a fronteira agrícola cada vez mais para o norte da região. Com ele, o território amazônico chega a 48,3 milhões de hectares de áreas protegidas, quase 10% de sua extensão. Segundo o secretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Gilney Amorim Viana, a política do governo “é quebrar a lógica da curva ascendente do desflorestamento para uma curva descentente. Em 2002 foram deflorestados 23,2 mil quilômetros quadrados da Amazônia Legal, em 2006 cairá para 15 mil”.

A produção da soja orgânica já é praticada em mais de 100 países, sendo a Austrália a maior produtora, seguida de Argentina, Itália, Estados Unidos e Brasil. A soja orgânica brasileira vem crescendo entre 30% a 50% por ano. As causas que inibem a ampliação da soja orgânica é a liberação das sementes transgênicas e o aparecimento da ferrugem asiática. Embora seja mais difícil produzir soja orgânica, os preços aos produtores são vantajosos. A cotação gira em torno de US$ 380 a tonelada (contra US$ 280 da variedade convencional). Quando destinada à alimentação humana, os valores podem alcançar patamares de US$ 450 a US$ 580 a tonelada. Sua produção exigem cuidados especiais, como a rastreabilidade, a segregação, o teste, a identificação e a certificação. Um terço dos consumidores no mundo vive em países que têm normas obrigatórias de rotulagem de alimentos transgênicos, pelo menos para alguns produtos. Desde 2004, o Brasil exige que produtos destinados ao consumo humano e animal com transgenia acima de 1% sejam identificados. Passado o prazo de adaptação, porém, o triângulo amarelo com a letra “T” ainda não deu as caras nos supermercados. A Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) quer negociar a revisão do rótulo, assim como o percentual máximo para dispensar a informação ao consumidor. Para e entidade, a legislação deveria tolerar até 4%, proporção que superaria a contaminação involuntária de insumos usados na indústria de alimentos. Na União Européia, devem ser rotulados os produtos com composição de organismos geneticamente modificados acima de 0,9%.

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A

contradição entre a importância do produto, a forte demanda global por alimentos e os impactos negativos* do ponto de vista socioambiental está fazendo surgir um forte movimento internacional pela produção de soja sustentável ou com responsabilidade. Consumidores, empresas, produtores, exportadores, poder público, ambientalistas e sindicatos estão buscando alternativas. Há muitos consensos e muitas diferenças, algumas passíveis de acordos, outras de difícil entendimento. Os próximos passos do Fórum Global da Soja serão decisivos para confirmar se a “Soja Responsável” poderá ser uma ponte do atual modelo para outro, com produção sustentável.

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A Mesa Redonda sobre Soja Responsável (RTRS, em inglês), também conhecida como Fórum Global da Soja, reúne sociedade, iniciativa privada, poder público e terceiro setor com a intenção de usar o diálogo e a informação científica para desenvolver critérios e indicadores para acompanhar a cultura em termos de sustentabilidade. Das dezenas de entidades que participam nesta iniciativa, o banco Real ABN Amro, Grupo Maggi, Abiove, Unilever, COOP (rede de supermercados suíça), WWF, Associação Argentina de Produtores Rurais, Guayrá (Paraguai), Solidaridad (Holanda) e Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam) formam atualmente o seu comitê organizador.

O entendimento coletivo de que há impactos negativos é um ponto de partida relevante para o futuro da Mesa Redonda da Soja. A partir da identificação dos impactos, estão sendo definidos os princípios que nortearão a produção da soja responsável. São eles: 1. Impacto da infra-estrutura 2. Observância das regulamentações e exigências em matéria trabalhista 3. Respeito pelos direitos de propriedade da terra 4. Pequenos produtores e uso agrícola tradicional 5.Migração e comunidades rurais 6. A água como recurso-chave 7. O solo como recurso-chave 8. Proteção da diversidade biológica 9. Uso responsável dos agroquímicos Os tópicos foram discutidos na segunda reunião da RTRS, realizada no começo de setembro em Assunção, no Paraguai. Para o superintendente da área de risco do Banco Real ABN Amro, Christopher Wells, “os critérios da soja responsável serão um fator importante a ser considerado pelo banco no momento de conceder o crédito”. Desde 2002, o ABN já cortou crédito para 43 empresas que não atendiam alguns parâmetros internos do banco, entre elas algumas que praticavam trabalho escravo ou usavam amianto, produto que afeta a saúde.

www.responsiblesoy.org

O processo em curso da RTRS tem aspectos inéditos, mas é preciso avançar e superar o déficit em termos de representação de países e atores da cadeia produtiva. A ausência dos Estados Unidos e da China debilita o alcance das iniciativas em termos globais. No caso do Brasil, a Fetraf-Sul que é uma entidade representativa dos agricultores familiares, se retirou na Mesa Redonda, a partir do encontro de 2005. Também não está no processo a Confederação Nacio-

nal dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a maior da América Latina, representando 23 milhões de agricultores familiares, trabalhadores rurais assalariados e sem terras. Outra ausência é a de entidades dos consumidores, que são determinantes na consolidação de um modelo de produção e consumo de soja responsável. Nem todas as entidades da sociedade civil vêem o fórum com bons olhos. A Coordenação LatinoAmericana de Organizações do Campo (Cloc), da qual o MST faz parte, tem como crítica principal a incompatibilidade de uma monocultura como a soja com sustentabilidade. A GRAIN International alega que o uso da palavra “sustentável” é uma forma de “maquiagem verde” para proteger os interesses do agronegócio.

Já o diretor de assuntos corporativos da Cargill, Afonso Champi Jr, concorda com a RTRS porque “a visão de responsabilidade vai de encontro com os objetivos da empresa”. O executivo reconhece que o processo é complexo e os atores são diferentes, mas a metodologia adotada “permite que sejam encontradas convergências para as demandas colocadas”. Jan Gilhuis, da Solidaridad, avalia que “no geral o processo é positivo, mas tenho muita preocupação com a ausência de segmentos importantes, especialmente os agricultores familiares. Tenho preocupação também com a definição dos critérios de uma produção responsável de soja. Espero muito que eles, de fato, enfrentem os principais impactos negativos do ponto de vista social e ambiental que já


Independentemente da inexistência de dados consolidados, a soja predomina em grandes propriedades, a maioria altamente mecanizadas, gerando um número baixo de empregos diretos. Porém, a cadeia produtiva gera milhares de vagas, sendo uma cultura que dinamiza a vida econômica e social de muitas cidades. O grande empregador do campo é a agricultura familiar, responsável por oito em cada dez ocupações, absorvendo 14 milhões de trabalhadores.

A busca de modelo de produção responsável para a cadeia produtiva da soja deve levar em conta inúmeras iniciativas já existentes de sustentabilidade, seja em escala ou em diferentes países. Milhares de agricultores familiares, produtores médios ou grandes também desenvolvem boas e inovadoras práticas agrícolas. Ashok Kuman, da entidade indiana Pradan, cita o exemplo de pequenos produtores excluídos dos mercados tradicionais “O modo de produção familiar tem mais condições para combater ervas daninhas, pragas e produzir suas sementes”, diz. José Andriguetto, do Ministério da Agricultura, apresenta o projeto Produção Integrada de Frutas como um exemplo que pode ser utilizado pela soja responsável. O sistema inclui, boas práticas agrícolas, o monitoramento e a rastreabilidade dos produtos, o que “dá aos consumidores a confiança de que estão adquirindo um produto de acordo com normas técnicas e garante também que o produtor fique no mercado”. Através desse projeto, pequenos produtores do Nordeste estão conseguindo acessar mercados mais exigentes, como o da Inglaterra. A iniciativa privada também marca posição no assunto. Ocimar Villela do Grupo Maggi , afirma que “está havendo uma evolução em relação as boas práticas agrícolas”. Para conceder financiamentos, a empresa exige que não haja desmatamento nem utilização do trabalho infantil. A Campina, maior empresa produtora de leite da Holanda, divulgou que pretende adquirir 10 mil toneladas de soja sustentável, certificado segundo os Critérios Basel, para alimentar o rebanho dos seus cooperados. Nos próximos cinco anos, a meta é chegar a 150 mil toneladas, o suficiente para suprir toda a necessidade de seus cooperados na Holanda, Alemanha e Bélgica. A ação, desenvolvida em cooperação com as ongs WWF, Stichting Natuur en Milieu e Solidaridad foca especificamente a soja proveniente da América Latina. Campina e Solidaridad pretendem ainda estudar como a soja da agricultura familiar no Brasil pode ser incorporada na sua cadeia produtiva da ração animal.

Empregos diretos nas principais atividades agropecuárias em 2000 (em equivalente homem/ano, para cada 100 hectares)

Atividade Empregos Tomate 245 Uva 113 Fumo 70 Cebola 52 Café 49 Mandioca 38 Cacau 37 Batata 29 Algodão 24 Mamona 24 Caju 23 Laranja 16 Arroz 16 Feijão 11 Cana-de-açúcar 10 Milho 8 Soja 2 Pecuária de corte 0,24 Fonte: Fundação Seade/Sensor Rural

Critérios Basel para a ProduçãoResponsável de Soja Os Critérios Basel (Basiléia) foram lançados em 2004, como iniciativa da rede de supermercados suíça COOP. São 37 condições que se sustentam em normas internacionais, como as da OIT, e em outras experiências como o marco referencial do óleo de palma sustentável. Alguns aspectos destacados são:

- Áreas desmatadas após de 1994 tem que ser adequadamente compensadas para garantir a proteção dos ecossistemas naturais locais; - O controle e uso rigoroso dos agroquímicos; - Proteção dos direitos fundamentais dos trabalhadores como liberdade de associação, proibição do trabalho infantil e escravo; - A possibilidade de poder rastrear o produto sobre o qual for feita uma declaração de conformidade com os ao seu local de produção. - a proibição de sementes geneticamente modificadas; - a proibição de uso de áreas prioritárias para a conservação. Fonte: www.wwf.org.br & www.proforest.net

*O fórum consolidou nove impactos negativos da soja do ponto de vista socioambiental: - Transformação do hábitat e perda de biodiversidade I Degradação de erosão do Solo I Poluição e efeitos dos agroquímicos na saúde ambiental e humana I Mudanças hidrológicas qualitativas e quantitativas I Infra-estrutura I Não cumprimento dos direitos dos trabalhadores e dos padrões da Organização Internacional do Trabalho (OIT) I Perda dos meios de subsistência dos pequenos agricultores I Migração (rural ao urbano e rural a florestas) I Conflitos pela terra (aquisição ilegal, violação dos direitos de uso e direitos das comunidades indígenas)

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responsabilidade social

O novo jeito de fazer negócios

Setor privado amplia ações

E

PROGRAMA TEAR

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O Instituto Ethos e o Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) juntaram-se para criar o Programa Tear. Conforme o projeto, uma companhia de grande porte com experiência em RSE compromete-se a trabalhar para a incorporação e ampliação da gestão socialmente responsável em 15 pequenas e médias empresas (PMEs) que atuem em sua cadeia de valor. Cada “âncora” representa um segmento: Petrobras (petróleo e gás), CPFL (energia elétrica), Grupo Pão de Açúcar (varejo), Vale do Rio Doce (mineração), Belgo/Arcelor (siderurgia), Takaoka e Gafisa (construção civil/incorporações e edificações) e Camargo Corrêa (constução civil/grandes obras). Com um orçamento de US$ 2,6 milhões, o Tear espera incrementar em até 5% a produtividade das PMEs que participem das cadeias de valor assinaladas.

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em cada 100 empresas brasileiras realizam alguma ação social por razões filantrópicas. Questionadas sobre a existência de planos de expandir os recursos e os atendimentos às comunidades, 43% disseram que sim. Fonte: Pesquisa Ação Social das Empresas (Ipea)

Valor aplicado, no entanto, baixou para R$ 4,7 bilhões

ntre 2000 e 2004, a participação das companhias privadas em ações na área social aumentou de 59% para 69%, o que corresponde a 600 mil empresas. Considerando apenas 2004, o setor aplicou R$ 4,7 bilhões (0,27% do PIB daquele ano) na área. O valor foi obtido com somente 2% das empresas recorrendo aos benefícios tributários para investimentos com essa função – 40% dos empresários alegaram que o incentivo fiscal era muito pequeno e que não compensava, 16% não desenvolviam atividades que pudessem ser enquadradas nas isenções permitidas e 15% nem sabiam da existência do mecanismo. Os dados estão na segunda Pesquisa Ação Social das Empresas, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em todo o país. A comparação com o levantamento anterior aponta também que, entre as áreas de atuação, as ações voltadas para a alimentação tornaram-se prioritárias, com 52%, ultrapassando a assistência social (41%). As práticas privilegiam, sobretudo, o atendimento à criança (63%), embora tenha sido ve-

rificado um incremento expressivo nas iniciativas envolvendo idosos (40%) e portadores de doenças graves (17%). Quanto aos setores econômicos, a agricultura ampliou sua contribuição de 45% para 80%. Já a construção civil, mesmo crescendo 4 pontos percentuais, permanece com a menor atuação, com apenas 39% das empresas do ramo realizando ações sociais. Em sua edição atual, a pesquisa apurou ainda as razões que dificultam ou impedem o desenvolvimento de ações sociais. Para 63% dos consultados, o motivo principal é a falta de dinheiro, seguido da ausência de estímulos governamentais (11%). A proporção de empresas que não atuam porque nunca pensaram nisso ou porque acreditam que esta não seja sua função empata em 5%. Aliás, sobre essa última hipótese o estudo do Ipea investigou a percepção do empresariado a respeito de seu papel. Três em cada quatro executivos acreditam que o Estado é que tem a obrigação de cuidar do social. Contudo, 65% admitem que a necessidade de atuar em prol das comunidades é maior hoje do que no passado.

GASTO EM AÇÕES PARA A COMUNIDADE

Sudeste

Montante Investido 2000 2004 5,7 bilhões 3,3 bilhões

Montante / PIB 2000 2004 0,66 0,34

Nordeste

406,6 milhões

537 milhões

0,20

0,22

Sul

500 milhões

562,7 milhões

0,19

0,19

Centro-Oeste

184 milhões

240,8 milhões

0,16

0,18

Norte

75 milhões

93,8 milhões

0,10

0,11

Brasil

6,9 bilhões

4,7 bilhões

0,43

0,27

Região

Fonte: Pesquisa Ação Social das Empresas (Ipea)


Mais e melhores balanços O holandês Ernst Ligteringen tem mais de 20 anos de experiência em organismos como Oxfam, Cruz Vermelha e Crescente Vermelho. Desde 2002, é executivo da Global Reporting Initiative (GRI), entidade sem fins lucrativos criada para estabelecer padrões de sustentabilidade e promover a interação entre os aspectos econômicos, sociais e ambientais nas empresas. “Os balanços socioambientais vão se tornar tão necessários quanto os financeiros são hoje em dia”, disse Ligteringen durante entrevista exclusiva à PrimeiroPlano. A seguir, os principais trechos da conversa.

Estágio atual “Estamos em um processo evolutivo em que a maioria das empresas que lançam balanços socioambientais precisa aprender a desenvolver um conteúdo significativo. Muitas delas ainda tratam esses balanços como exercícios de relações públicas, em que o importante é a imagem. Isso não interessa aos stakeholders. Relatórios que falam de assuntos-chave, desafios que a sustentabilidade impõe às companhias, além de temas delicados, como os impactos sobre a sustentabilidade, pode ter certeza de que ganharão atenção.”

Transparência “Muitas organizações de stakeholders clamam por mais transparência, mas encontram dificuldade em estabelecer um relacionamento quando a transparência aumenta. Isso exige conhecimento, tempo e compreensão. A consolidação e desdobramento dos dados também é uma questão interessante. Todos esses dados não necessariamente sinalizam mais clareza ou mais transparência. Por exemplo: você pode ter em uma multinacional dados referentes à rotatividade de pessoal. Em uma companhia na Índia, este índice é de 12%; no Reino Unido, 4%. Então, você precisa en-

tender o contexto para ser capaz de avaliar isso. Doze por cento na Índia é bom ou ruim? Esse é o caso de muitos dados: nem sempre resultam em informação significativa.”

Abordagem

“Imagine uma grande companhia brasileira como a Petrobras. Se ela fizesse seu balanço com os dados desdobrados de todas as suas operações no país, você teria uma ‘lista telefônica’ de dados. Muitos stakeholders acharão dispensável esse bombardeio de dados. Um bom relatório enfoca os dados-chave, deixando muito clara a compreensão da companhia sobre os temas que ela considera desafiadores, mas também qual será a estratégia para abordar esses desafios. Um aspecto em que estamos muito centrados é em estiA Petrobras é uma das 19 mular empresas a companhias brasileiras (ou mencionarem quais instaladas no Brasil) encontradas no banco de dados do GRI cujos são seus objetivos e balanços socioambientais usam relatarem como preas diretrizes da instituição. tendem atingi-los. As demais são: - Banco Real - Alcoa Alumínio - Banco Itaú - Copel - Copesul - CPFL - Holcim Brazil - McDonald's Brazil - Natura - Samarco - Serasa - Shell Brasil - Siemens Brazil - Souza Cruz - Telefônica - Usiminas - Vivo - Y. Takaoka Empreendimentos

Tendências “Em geral, as empresas estão assumindo a necessidade de um balanço socioambiental muito mais do que qualquer outro setor. Mas esse não é um papel apenas delas. Outras organizações, agências públicas, ongs e fundações também têm impacto. Mas

se você examinar quem destes setores já está divulgando seus balanços, verá que ainda é uma pequena porção. Mesmo entre as empresas, há muito a ser feito. Acho que apenas 5% das companhias transnacionais estão produzindo este tipo de balanço. Entre essas empresas estão aquelas com impacto socioambiental pesado. São elas que devem encontrar os temas que os stakeholders querem saber mais detalhes, ter um melhor entendimento das oportunidades e riscos que podem aparecer.”

Exemplos “O CEO da Gap tem uma história para contar. Voltando para casa todo orgulhoso depois de ser promovido, ele sentou-se à mesa com seus filhos, que perguntaram: ‘Papai, agora que você é o CEO da Gap, o que nós vamos fazer quanto às sweat shops na Ásia?’. ‘O que se conclui disso’, disse ele, ‘é que não há como se esconder’. Os stakeholders atuais estão bem informados sobre os temas que os interessam. Então a Gap mudou, assim como a Nike: de empresas muito ‘protetoras’, tornaram-se mais abertas, contando o seu lado da história. Os stakeholders querem ouvir a versão da companhia. Ambas viram que teriam mais problemas se eles não soubessem. E perceberam que teriam de estabelecer uma boa base para um diálogo sério com seus stakeholders, o que é o primeiro passo para construir a confiança.”

Regulamentação “Há regulamentações brandas que causam grande impacto e normas severas que não causam impacto algum. Quantos países fazem leis maravilhosas e nada acontece? O importante são os resultados.”

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RESPONSABILIDADE SOCIAL

As empresas e as eleições 2006

38 ODED GRAJEW Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, membro do Conselho Internacional do Pacto Global; idealizador do Fórum Social Mundial; idealizador e expresidente da Fundação Abrinq (período 19901998); membro do Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico; ex-assessor do Presidente da República (2003)

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social lançou, no último dia 7 de agosto, a versão 2006 do manual “A Responsabilidade Social das Empresas No Processo Eleitoral”, em parceria com a Patri – Relações Governamentais & Políticas Públicas. Trata-se de uma cartilha que teve sua primeira edição distribuída nas eleições de 2000 e, na seqüência, em 2002 e 2004. Este ano, as eleições gerais ganham uma dimensão especial sob o ponto de vista da ética, da credibilidade das instituições democráticas e da própria idéia de nação. O Brasil vem mantendo um calendário eleitoral estável há quase 25 anos, em que pesem as sucessivas crises, mais graves e profundas a cada período. Os brasileiros a tudo vêm superando. Comparecem às urnas, demonstrando sua vontade de melhorar o país por meio da democracia e da justiça social. No entanto, desde junho de 2005, esta fé sofreu sérios abalos, a ponto de pôr em risco os avanços institucionais obtidos neste quarto de século. Desde que o então deputado federal Roberto Jefferson revelou um esquema que beneficiava um grande número de políticos e empresários por meio de métodos ilegais de financiamento de campanhas – o “mensalão”, não parece haver um fim visível para os escândalos que vão surgindo. Até o momento, não foram punidos pela Justiça nem os condenados no caso do “mensalão” pela Comissão de Ética do Congresso, nem aqueles listados na CPI das sanguessugas. A impunidade ainda continua sendo uma das marcas registradas de nossa sociedade. Desta vez, no entanto, a situação é muito mais séria. Está em jogo não a reputação de um ou outro político, mas a sobrevivência da nossa própria democracia, atingida no coração por tantos desmandos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os partidos políticos declararam estimativas de custos de campanhas em todos os níveis da ordem de R$ 20 bilhões, o equivalente aos gastos federais semestrais com o sistema de saúde. De onde virá essa dinheirama? Das empresas. Assim, o desafio para as empresas, nestas eleições, é participar ativamente do processo, independente de financiar ou não alguma candidatura. A publicação que lançamos lista sete princípios ou práticas socialmente responsáveis para que as empresas reflitam: a participação no processo eleitoral deve estar integrada à política de RSE da empresa; a ação deve obedecer as leis; deve, também, transformar-se numa escola de cidadania para clientes, fornecedores, funcionários e comunidade; ao apoiar candidatos, a empresa precisa certificar-se de que os nomes não constam de nenhuma lista de envolvidos em escândalos, nem fazer parte do grupo de parlamentares condenados pela Comissão de Ética do Congresso no caso do “mensalão”; os grupos impactados pelas decisões da empresa podem discutir a forma de participação no processo eleitoral; a contribuição financeira ao processo eleitoral deve estar desvinculada de qualquer expectativa de retorno econômico e comercial. As empresas, no entanto, podem adotar um engajamento de combate à corrupção que vá além das eleições. Uma das maneiras de fazer isso é aderir ao Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção. Trata-se de uma série de diretrizes e procedimentos que as empresas se comprometem a levar em conta nos seus processos internos e no seu relacionamento com os poderes públicos e com o mercado. O texto integral está no site do Instituto Ethos. A democracia brasileira passa novamente por uma dura prova e os empresários, o setor mais poderoso e organizado da sociedade, não podem omitir-se nesta hora. Agindo e votando com ética e consciência, vamos fortalecer nossas instituições democráticas e construir o país que todos almejamos.


O MUNDO PRECISA DE PROFISSIONAIS COMPLETOS, COMPETENTES. COMPROMETIDOS. PENSANDO E FAZENDO DIFERENTE

O Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina - CESUSC inova oferecendo uma perspectiva de ensino diferenciada, voltada para a transformação social, o compromisso com outras realidades e a necessária visão interdisciplinar. Hoje, de nada adianta sair da faculdade sem saber o que acontece ao seu redor. É preciso entender o mundo, interpretá-lo e agir para melhorá-lo.

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www.cesusc.edu.br

A QUALIDADE DE ENSINO COMO MARCA REGISTRADA


ENSAIO

VIDA DIGNA Comitê especial da ONU aprovou no final de agosto a Convenção Internacional para os Direitos dos Portadores de Deficiências, o primeiro tratado sobre direitos humanos ratificado neste século. O objetivo é promover acesso à educação e ao emprego, à informação e a sistemas de saúde adequados, além da mobilidade sem obstáculos físicos nem sociais aos deficientes.

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Segundo a entidade, há cerca de 650 milhões de portadores de deficiência. Entre as pessoas mais pobres do mundo, 20% são deficientes. A marginalidade começa na escola: 90% das crianças com necessidades especiais não a freqüentam. O índice mundial de alfabetização de adultos com deficiências não passa de 3% - 1% no caso das mulheres, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). No Brasil, há aproximadamente 25 milhões de deficientes. Quando o assunto é a contratação de deficientes físicos, a legislação do Ministério do Trabalho prevê que empresas com mais de mil funcionários são obrigadas a ter pelo menos 5% de portadores de necessidades especiais em seu quadro de pessoal.


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PEDRO SCHAMES PINHEIRO I 18 anos I estudante de química I O acidente que lhe tirou os movimentos das pernas ocorreu há quase dois anos, mas desde o início Pedro teve força de vontade e empenho em levar a vida como sempre levou. Sua mobilidade manteve-se com a compra de uma cadeira de rodas motorizada e é com ela que vai para a universidade, para a natação ou para compromissos sociais – em casa, utiliza uma cadeira comum. Os movimentos de reabilitação, como sair da cadeira para a cama, o futuro químico aprende de tempos em tempos no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, onde faz treinamento intensivo. No dia-a-dia, Pedro diz que se sente respeitado, apesar de enfrentar os obstáculos de acessibilidade em diversos lugares.


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ENSAIO


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RONNY NEUFELD I 28 anos I músico e estudante de marketing I Ao perder parte do braço esquerdo num acidente de carro há um ano, Ronny imaginou que iria demorar muito para voltar a dedilhar seu violão. Mas um amigo logo inventou um adaptador e o fez voltar a tocar como antes. O acidente provocou também queimaduras no rosto e na cabeça, mas nenhum destes problemas fez Ronny mudar muito seus hábitos em casa. Apesar de ainda estar afastado do trabalho, ele faz suas atividades rotineiras normalmente.


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ENSAIO


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JOSUÉ LEANDRO DA ROSA COELHO I 27 anos I estudante de jornalismo e estagiário do setor de braille da Biblioteca Estadual I Desde o nascimento Josué teve dificuldades para enxergar. Um glaucoma o deixou com somente 40% de visão e, aos 16 anos, ele ficou cego. Parou de estudar na sexta série, mas voltou para a sala de aula e hoje está na quinta fase de Jornalismo em Florianópolis. Sua vontade contagia os que o cercam, tanto que na faculdade onde estuda foi contratada uma estagiária para escanear material didático para ser transformado em arquivos de áudio. “A discriminação só afeta quem não tem auto-aceitação. Eu ando por todos os lugares sem problemas”, diz ele.


INCLUIR

Novas Tecnologias Sociais

Conexão de conhecimentos Larissa Barros e Michelle Lopes

PASSO-A-PASSO

Universidades e cooperativas ampliam parcerias para gerir incubadoras tecnológicas

1,5 milhão de pessoas atuam na economia solidária no Brasil. A maior parte dos empreendimentos está organizada sob a forma de associação (54%). Depois vêm os grupos informais (33%) e organizações cooperativas (11%) e outras formas de organização (2%). Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego

Nos últimos anos, grupos e departamentos das universidades brasileiras têm unido esforços para ultrapassar as fronteiras do campus e ir ao encontro da população. Exemplos dessa dinâmica são as 30 Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP) existentes no Brasil, diretamente ligadas ao ambiente acadêmico, sobretudo aos programas de extensão universitária. “Partimos do princípio de que não encontramos apenas problemas nas comunidades, mas soluções também”, diz o diretor da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), organização que acompanha os trabalhos das incubadoras de cooperativas

ARQUIVO COPPE/UFRJ

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Em linhas gerais, as etapas da incubação de empreendimentos solidários são: 1) Pré-incubação: Identificação de grupos com possibilidades de constituição de empreendimentos solidários. A duração dessa fase depende do nível de mobilização e de organização do grupo com o qual a incubadora passa a trabalhar. 2) Incubação: Capacitação do grupo nos conceitos de economia solidária; metodologia participativa; técnicas nas áreas de contabilidade e direito; cooperativismo; gestão e autogestão de negócios; elaboração de plano de negócios e estudos de mercado. 3) Desincubação: Preparação do empreendimento para autonomia. Em geral, as incubadoras continuam em contato com os grupos e realizam consultorias pontuais. A duração do processo de incubação varia entre dois a cinco anos, até a consolidação do grupo e da atividade de produção.

Arte e reciclagem com o apoio da Coppe/UFRJ

populares no país, Pedro Cunca Bocayuva. Tais incubadoras trabalham com uma metodologia de ensino, aprendizagem e transferência de tecnologia de gestão para a criação de empreendimentos, valorizando a autogestão e inclusão social. A incubação possibilita a transformação do potencial de um grupo em oportunidades de negócios, gerando trabalho e renda. Suas ações têm grande impacto na vida econômica e social de cada um dos participantes e nas comunidades, pois procuram incluir no tecido produtivo setores da população que não participavam ativamente do mercado, seja como produtores ou consumidores. A metodologia de incubação foi desenvolvida por diversas universidades gerando um novo sistema de saberes que, para ser bem sucedido, exigiu o desenvolvimento de métodos para articular o conhecimento acadêmico às exigências do ambiente econômico, aos princípios da economia solidária e às características dos integrantes dos empreendimentos solidários. Ou seja, proporcionou-se uma nova construção do conhecimento vinculada às demandas das camadas mais necessitadas da população. Após a consolidação de diversas incubadoras tecnológicas de cooperativas populares, os envolvidos começaram a pensar em alternativas para


difundir a prática. Era preciso que outras instituições dominassem a metodologia de incubação. Dessa maneira, dezenas de capacitações poderiam ser feitas simultaneamente. Assim, em 2005 surgiu a possibilidade de se “incubar incubadoras”. O conceito ainda está em formação, mas pode-se dizer que incubar uma incubadora é transferir a tecnologia de incubação de uma incubadora consolidada para alguma instituição que se proponha a incubar empreendimentos, mas ainda sem expertise nesta atividade. O analista da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) Teodoro Koracakis complementa a explicação: “É um desdobramento da ação tradicional das incubadoras. Antes, por exemplo, a equipe de uma incubadora ia até uma cidade, dava um curso de gestão para uma associação de bordadeiras e retornava. Agora, essa mesma equipe vai até a mesma cidade, mas forma uma nova incubadora que, por sua vez, poderá acompanhar os trabalhos de vários outros grupos, além das bordadeiras”.

Na intenção de multiplicar a criação de incubação de incubadoras, a Rede de Tecnologia Social (RTS) estimulou a publicação, em 2005, do edital Incubação de Empreendimentos Solidários. Lançada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com recursos de R$ 3,1 milhões advindos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), da CAIXA e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), a chamada pública teve como base o modelo de incubadora tecnológica universitária. A idéia é estimular a conexão de conhecimentos, a formação de novos quadros, a ampliação de recursos, a difusão e descentralização de ações e a mobilização de atores sociais. 21 projetos foram aprovados. As atividades priorizam incubação de empreendimentos solidários e incubação de incubadoras de empreendimentos solidários. A segunda ação está contemplada por meio de cinco projetos, no Paraná, Pernambuco, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro. “Entendemos a incubação como uma das inovações sociais mais relevantes desenvolvidas no âmbito dos programas operados pela Finep”, afirma o chefe do departamento de tecnologias sociais da instituição, Carlos Sartor.

A necessidade de investimento inicial dos empreendimentos e a dificuldade de acesso a recursos e a crédito são gargalos a serem superados pelas incubadoras. Esse é um dos problemas onde a complementaridade das instituições que compõem a RTS pode se apresentar como solução: enquanto algumas apóiam a reaplicação da metodologia de incubação, outras podem apoiar os próprios empreendimentos. Foi a partir dessa lógica que a CAIXA decidiu participar do edital. “Nos associamos na construção de uma parceria a fim de reaplicar uma tecnologia social que tem a ver com a missão da empresa”, diz o representante do banco no Comitê Coordenador da RTS, Paulo Magalhães. É também com o objetivo de investir na aprendizagem institucional e de aprimorar as políticas públicas nas quais aporta recursos que a Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan) do MDS aposta nos projetos aprovados. O coordenador geral de difusão de iniciativas inovadoras da Sesan, Alexandro Rodrigues Pinto, lembra que, ao final, a tecnologia será sistematizada e seu potencial de reaplicação, medido. “É importante termos esse retorno para redirecionar ações e aprender com erros e acertos”, afirma.

ARQUIVO COPPE/UFRJ

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ARQUIVO FASE

Reciclagem de resíduos com o apoio da ITCP Mesquita

MÁRCIA GOUTHIER

Empreendimento Solidário

Empreendimento solidário acompanhado pela Fase


INCLUIR

O

Transferência de tecnologia

projeto “Reaplicação de tecnologia social de incubação em quatro incubadoras municipais de cooperativas populares” é uma das iniciativas apoiadas pela Rede de Tecnologia Social (RTS). Consiste na assessoria e transferência de tecnologia de incubação para criação e implantação de três Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs) nos municípios de Mesquita (RJ), Nova Iguaçu (RJ), Osasco (SP) e, no caso de Santo André (SP), transferência de tecnologia de incubação para revisão e readequação de metodologia da ITCP. O coordenador João Guerreiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fala sobre o andamento dos João Guerreiro trabalhos.

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Quais os desafios no processo de se incubar incubadoras? Guerreiro - A principal dificuldade até o momento é conscientizar os próprios grupos sobre a mudança de cultura que o cooperativismo traz. De acordo com realidades locais, tem-se, ainda, que contar com o tempo político das ações. Mas isto faz parte do processo de construção de todos os projetos de fomento de políticas públicas. Difundir essa tecnologia social demanda uma equipe no lugar, exige um núcleo. Como é essa dinâmica? Guerreiro - Esse é um desafio, pois a construção de um núcleo depende muito da característica dos municípios. Aqueles sem universidade têm dificuldade de oferecer um corpo técnico qualificado. É preciso investir em cursos de capacitação na administração municipal. É o que nós fazemos, na Coppe/UFRJ.

Cooperativa Bom Apetite é uma das iniciativas apoiadas pelo projeto

Periodicamente, trazemos pessoas para o Rio de Janeiro e damos cursos de capacitação na incubadora. E quanto à sustentabilidade dessas incubadoras? Guerreiro - É um aspecto que exige o apoio do poder público, seja via Finep, seja via prefeitura. A institucionalização da incubadora dentro do município poderia garantir a sustentabilidade. Cada incubadora deveria ser uma autarquia com dotação orçamentária dentro do próprio orçamento municipal. Também deveria ser composta por um corpo técnico da própria prefeitura. Nos municípios mais pobres, poderíamos pensar num consórcio intermunicipal. Cada qual entraria de acordo com suas possibilidades, um com o corpo técnico, outro com verba e outro com infra-estrutura.

Quais foram os avanços até o momento? Guerreiro - O principal avanço está sendo em termos metodológicos. Desenvolvemos e implementamos o Sistema Integrado de Gestão (SIG), que permite trabalhar online o diagnóstico e a elaboração do plano de trabalho de cada cooperativa, além de possibilitar assessoria remota. Com essa ferramenta, a inexistência de formadores em determinadas áreas do conhecimento – direito cooperativo, por exemplo – não paralisa as atividades nas incubadoras locais. Significa redução de custos de deslocamento e possibilidade de espraiamento das ações para regiões que não tenham entidades com corpo técnico (formadores) com habilidades em todas as fases do processo de incubação. www.cooperativismopopular.ufrj.br


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Admirável mundo livre SOFTWARES E SISTEMAS REGIDOS POR CÓDIGOS ABERTOS AVANÇAM EM ÓRGÃOS PÚBLICOS, CONQUISTAM EMPRESAS E DÃO UM NOVO SENTIDO À INCLUSÃO DIGITAL

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Do ABC para a BBC. A vila Sacadura Cabral foi parar em um dos mais respeitados conglomerados de comunicação mundiais. Não por alguma ocorrência envolvendo segurança (ou falta de), tema recorrente na cobertura estrangeira sobre os problemas urbanos brasileiros. Muito menos por causa da polêmica envolvendo a construção de uma unidade da Febem por lá, repudiada pelos moradores porque o terreno situa-se em zona residencial, ao lado de uma escola e de um posto de gasolina. O bairro pobre de Santo André, município da Grande São Paulo, chamou a atenção da mídia britânica por abrigar um “esporo” do MetaReciclagem, como o grupo que recupera computadores usados – geralmente doados por empresas – chama o núcleo para onde os terminais vão para ser usados pela comunidade. Depois de reformadas, adaptadas, pintadas com motivos e cores diversas, as máquinas são equipadas com software livre.

Emerson Gasperin


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FRANK MAIA


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Telecentros que utilizam ferramentas e sistemas operacionais gratuitos, abertos e/ou regidos por licenças nãocomerciais multiplicam-se pelo Brasil. Sejam coordenados por idéias mais alternativas como a do MetaReciclagem, sejam integrantes de políticas públicas, o mantra é idêntico: promover a inclusão digital. Somente a Prefeitura de São Paulo mantém mais de 100 desses telecentros, a maioria localizados na periferia – o primeiro foi fundado em 2001, no bairro Cidade Tiradentes. A adoção de soluções com código aberto acaba despertando vocações, revelando talentos, proporcionando carreiras. Ou, simplesmente, divertindo. Conforme o antropólogo Hermano Vianna, ex-secretário do Ministério da Cultura e cabeça do Overmundo, um portal que os próprios internautas alimentam com reportagens, áudios, vídeos, programação e toda a sorte de informação cultural, “é uma revolução feita em regime colaborativo e descentralizado, sem um partido político no comando, mas com pedaços de código em computadores diferentes espalhados pelo planeta, comandados por gente que trabalha não para ficar rica, mas querendo o bem comum”. Sem falar no fato de não precisar comprar licenças para rodar os programas, tornando o papo ainda mais interessante para governos e iniciativa privada. Atraídas pelo pequeno custo e pela grande flexibilidade deste tipo de software, inúmeras companhias têm mudado para as plataformas abertas. A reboque desse movimento prospera uma cadeia produtiva formada por fornecedores, distribuidores e programadores. Imagine o monte de dinheiro que um cliente gigante como o Estado poupa com isso. O Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) calcu-

lou: R$ 14,8 milhões. Para atingir essa redução, foram necessários R$ 396 mil em serviços e treinamentos. O secretário de logística e tecnologia da informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, rima com Vianna. “A opção não pode ser motivada apenas por aspectos econômicos, mas pelas possibilidades que inaugura no campo da produção e da circulação de conhecimento, no acesso às novas tecnologias e no estímulo ao desenvolvimento de software em ambientes colaborativos”, disse. MENOS DEPENDENTE O advento do software livre mexe com um conceito no qual geralmente o ponto de partida – “usar a internet” – é confundido com o seu fim. “Não é à toa que durante o início do século XXI visualizamos a proliferação de inúmeros projetos de totens – computadores embutidos em caixas, quase sempre para uso em pé e sem nenhuma possibilidade de utilização de aplicativos além do browser – como a grande saída para a inclusão digital”, escreveu o presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), o sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira. Responsável pelos telecentros de São Paulo de 2001 a 2003, ele identificou três focos (não conflitantes) nos projetos de inclusão digital. Primeiro, surgiam voltados à profissionalização. Na seqüência, passaram a buscar a ampliação da cidadania, por meio da interação e da comunicação. O programa com o código aberto acrescentou à pauta o discurso pelo fomento da inteligência coletiva. Para Santanna, “é uma estratégia

de redução da dependência de fornecedores porque introduz a concorrência nesse ambiente, permitindo que a contratação se dê pelo serviço, que pode incluir o fornecimento da solução com o código livre, o suporte e o desenvolvimento, e não mais pela propriedade da licença”. A mesma idéia de não ficar “refém” de um software fechado inspirou a criação da Free Software Foundation (FSF), em 1985, pelo programador norte-americano Richard Stallman. Seus quatro conceitos básicos permanecem até hoje: liberdade de executar o programa, para qualquer propósito; liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades; liberdade de redistribuir cópias; liberdade para aperfeiçoar o programa. Pelo menos duas destas condições requerem acesso ao código fonte. As inovações desenvolvidas por Stallman e seus colegas receberam o nome de GNU. Para garantir seu compartilhamento, em 1989 a FSF lançou a Licença Pública Geral (GPL, em inglês), mais conhecida como copyleft em oposição ao tradicional e restrito copyright. Em 1991, o finlandês Linus Torvalds domou o GNU com um pingüim e chegou ao Linux, atualmente sinônimo de sistema operacional livre. Devagar, mas de um jeito irreversível, o movimento culminou na coexistência (nem sempre pacífica) de um regime de propriedade intelectual em que todos os direitos são reservados


com outro que protege alguns desses direitos, a critério do autor. Quando um player do setor tecnológico do porte da IBM decide trabalhar com o Linux, dá para perceber que não é brincadeira ou delírio de meia dúzia de estudantes idealistas.

NOVILÍNGUA

CRIATIVOS E COMUNS Um bom exemplo de solução que adota essas normas é a Wikipedia (e toda a família Wiki), estabelecida sob a GNU Free Documentary License. Você deve conhecê-la: em termos gerais, é uma enciclopédia online gratuita que, de um jeito muito simples e rápido, permite que cada usuário acrescente e modifique verbetes. Por ser produzida por voluntários, suspeitava-se, era suscetível a uma infinidade de erros, motivados por desconhecimento ou divergência de qualquer ordem. Até que, no final do ano passado, a conceituada revista Nature comparou a exatidão de uma série de verbetes científicos publicados na Wikipedia com a tradicional Enciclopédia Britânica. Para decepção de uns, felicidade de outros (muitas informações exibidas nes-

Código Aberto > Tipo de software cujo código fonte é público, respeita as quatro liberdades definidas pela Free Software Foundation, porém não estabelece certas restrições como as contidas na GPL.

ta matéria foram extraídas da Wikipedia) e surpresa de todos, a análise constatou que havia poucas diferenças entre as definições das duas. Atualmente, existem várias licenças, com as mais diversas atribuições, para acomodar os softwares livres. E não só eles – por meio do Creative Commons, vídeos, músicas, textos e outros bens culturais entram no jogo. No Brasil, quem coordena o projeto é a Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro, responsável pela sua adaptação à legislação nacional. São seis modelos que “podem ser combinados e recombinados”, explica o professor da escola de Direito da FGV, Ronaldo Lemos, uma das autoridades no assunto no país. “Um determinado autor pode escolher licenciar sua obra, por exemplo, pela modalidade “Atribuição-Vedados Usos Comerciais-Compar-

tilhamento pela mesma licença.” A coisa chegou a um nível de sofisticação tamanho que, durante o iSummit, encontro internacional do Cretive Commons realizado em junho no Rio, foi degustada a “cerveja livre”. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, provou e aprovou. Inventada por um dinamarquês, a bebida tem sua receita – ou melhor, seu “código fonte”, já na versão 3 – aberta, mas não é grátis: custa 40 coroas dinamarquesas, ou R$ 15 reais a garrafa de 600 ml. Aí também seria querer demais.

Linux > Sistema operacional livre, composto pelo núcleo Linux e por bibliotecas e ferramentas GNU, além de diversos programas igualmente livres. Seu símbolo é um pingüim.

Código Fonte > Conjunto de palavras escritas de forma ordenada, contendo instruções em uma das linguagens de programação existentes no mercado, de maneira lógica. Após compilado, transforma-se em software, ou seja, programas executáveis. Copyleft > Forma de proteção de diretos autorais que tem como objetivo evitar que sejam colocadas barreiras à utilização, difusão e modificação de uma obra criativa devido à aplicação clássica das normas de propriedade intelectual. Trocadilho com o termo copyright. GNU > Projeto com o objetivo de criar um sistema operacional totalmente livre, que qualquer pessoa teria direito de usar e distribuir sem ter de pagar licenças de uso, usando a lógica do UNIX, mas não seu código fonte. Daí o símbolo e o nome: além de designar o mamífero chifrudo, é uma sigla para GNU is Not Unix.

Software Livre > Qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído com algumas restrições. A liberdade de tais restrições é central ao conceito, o qual se opõe ao software proprietário, mas não ao software que é vendido almejando lucro (software comercial). A maneira usual de distribuição de software livre é anexar a este uma licença de software livre, e tornar o código fonte do programa disponível. Telecentros > Espaços com computadores conectados à internet em banda larga, para uso público, livre e gratuito. Geralmente são geridos por um conselho comunitário, que auxilia os administradores a manter a boa utilização do espaço de inclusão digital e a sua sustentabilidade. Wiki > Termos que identificam um tipo específico de coleção de documentos em hipertexto ou o software colaborativo usado para criá-lo. Fonte: Wikipedia

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AMBIENTE

Cuidando da vida

Freio para os pneus usados CARBONO NO PREGÃO

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A Bolsa de Valores do Rio de Janeiro planeja inaugurar até o fim do ano um sistema eletrônico de leilão de créditos de carbono pela internet. Para o chefe do Departamento de Projetos Especiais da BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros), Guilherme Fagundes, o pregão deve atrair boa parte dos créditos gerados pelos projetos de redução da emissão de poluentes. No ano passado, esse mercado movimentou cerca de US$ 2 bilhões, sendo 20% desse volume proveniente do Brasil. “Com a implantação do sistema, os créditos devem migrar gradativamente para o ambiente de Bolsa”, prevê o executivo. Poderão participar dos leilões eletrônicos empresas e corretoras cadastradas na BM&F. “Ao contrário do que acontece nas Bolsas comuns, um mercado nascente como esse não tem volume suficiente para ter negócio diariamente, por isso os leilões serão marcados”, explica Fagundes. www.bvrj.com.br/mbre

GOVERNO QUER BRECAR CARCAÇAS EUROPÉIAS NO PAÍS

4,4 milhões de hectares de lavouras geneticamente modificadas foram adicionadas à área cultivada do Brasil nos últimos dois anos – a maior adesão de um país aos transgênicos no mundo. Fonte: Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA)

A entrada de pneus reformados e usados no Brasil foi parar na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, na Suíça. Interessada em abrir as fronteiras brasileiras para os seus pneus, a União Européia solicitou a realização de um painel arbitral. Mas, de acordo com o ministério do Meio Ambiente (MMA), como o pneu não é biodegradável, a importação aumenta o volume de resíduos e o passivo ambiental no país. Além disso, o item de segunda mão vira lixo logo porque só pode ser reformado uma vez. O que fazer com esse tipo de material é um problema mundial. De acordo com dados divulgados recentemente pelo MMA, a Europa produz anualmente cerca de 300 milhões de carcaças e despeja 26% em aterros sanitários – o que agora é proibido por uma lei que entrou em vigor em junho deste ano. “A alternativa é enviar esse lixo para países em de-

senvolvimento e por isso querem que o Brasil autorize a entrada”, explica o secretário executivo do MMA, Cláudio Langone, que prevê conclusão do processo até outubro. O impasse começou em 2003, quando vendedores e recapeadores europeus de pneumáticos alegaram que a proibição da exportação para o Brasil estaria causando prejuízos comerciais. Uma coalizão de ongs apóia a decisão do governo brasileiro. Já os representantes dos pneus remoldados dizem que o governo federal está defendendo as fabricantes de pneus novos ao tentar impedir o trabalho das empresas que utilizam carcaças. “O que nós queremos é o direito de importar da Europa só as carcaças boas de pneus para continuar a fabricar aqui”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Pneus Remoldados, e da BS Colway Pneus, Francisco Simeão Rodrigues Neto. Rodrigues Neto é o principal responsável pela elaboração e aprovação da atual legislação, que obriga fabricantes e importadores de pneumáticos a coletar e destruir, de forma ambientalmente adequada, os pneus inservíveis existentes no território nacional. A associação mantém o programa Rodando Limpo, que já recolheu e reciclou mais de 8,5 milhões de pneus inutilizados. Apesar de a importação de bens usados ser proibida no Brasil, 11 milhões de pneus usados entram no país todo ano, com base em liminares judiciais – parte deles vêm do Uruguai, em razão de decisão do Tribunal Arbitral do Mercosul.


Consumir sem poluir O Manual de Educação para o Consumo Sustentável, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e Ministério da Educação foi criado para capacitar multiplicadores da idéia de que é possível contribuir com o desenvolvimento sustentável com pequenas ações no dia-a-dia. O público alvo são professores e profissionais de educação em geral, para que eles levem para sala de aula informações sobre consumo. Desde 1998, o Idec desenvolve trabalhos sobre consumo sustentável, mas só em 2001 saiu a primeira edição do manual, que aborda os te-

mas água, energia, transporte, alimento, lixo, biodiversidade, propaganda e consumo. Cada capítulo explica a relação desses itens com temas como alterações climáticas, desertificação e agravamento do efeito estufa. Segundo a publicação, para ser um consumidor consciente é preciso seguir três fundamentos: não exagerar nas compras (para evitar o desperdício), estar atento para não consumir produtos ilegais e, quando legalizados, preferir os que informam que foram produzidos respeitando o meio ambiente. O manual está disponível para download gratuito no site do Idec. www.idec.org.br

Computadores verdes Já batizados de computadores ecologicamente amigáveis, em breve chegarão ao mercado dos Estados Unidos equipamentos com componentes de fabricantes como Dell e HP que obedecem as exigências da Ferramenta de Avaliação de Produtos Eletrônicos (EPEAT), da Agência NorteAmericana de Proteção Ambiental (EPA). Os equipamentos com o selo da EPEAT deverão ter teores menores de cádmio, chumbo e mercúrio (nocivos à saúde), sendo fáceis de atualizar e reciclar, além de atingirem também padrões de eficiência energética concedidos pela própria EPA. Em pesquisa realizada pelo Greenpeace em nove países, a maioria dos usuários respondeu que aceitaria pagar mais caro por computadores que tivessem peças com essas características. O Brasil foi incluído no levantamento, que perguntou também sobre as responsabilidades do descarte de resíduos de equipamentos eletrônicos. Metade dos entrevistados brasileiros que vivem em áreas urbanas acha que os fabricantes são os principais responsáveis pelo custo desta destinação.

Dicas para o dia-a-dia Cuidado na hora de comprar detergentes. Alguns contêm nutrientes tóxicos aos cursos d’água. Vale a pena substituir por sabão de coco, que é menos agressivo, ou por produtos biodegradáveis. Uma regra é procurar por selos. Alimentos orgânicos, que são fabricados sem o uso de insumos químicos, são reconhecidos graças à certificação. Cosméticos e medicamentos com materiais extraídos das matas também devem ter selo de certificação florestal para comprovar que vieram de locais com plano de manejo. Se mais pessoas preferissem usar os transportes coletivos a poluição seria reduzida. Como isso não ocorre, há formas de amenizar o problema: checar a qualidade do escapamento do carro; abastecer sempre que possível no início da manhã ou à noite, pois a ação dos raios de sol mais fortes transforma os vapores que saem do tanque em ozônio. Escolha os eletrodomésticos aprovados pelo Inmetro.

A EPA estima que, nos próximos cinco anos, as compras de computadores certificados pelo EPEAT possam resultar em reduções de mais de 13 milhões de quilos de resíduos perigosos, mais de 3 milhões de resíduos não-perigosos e mais de 600 mil megawattshora de energia, o suficiente para abastecer 6 milhões de residências.

O chuveiro elétrico pode ter seu consumo reduzido em 30% quando é ligado na opção “verão” e o aquecimento a gás consome ainda menos energia. Para iluminar a casa, prefira lâmpadas fluorescentes, que consomem menos e duram mais tempo. Na hora do descarte, no entanto, são mais perigosas e devem ser devolvidas ao local da compra.

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AGENDA global

Por um mundo melhor

Só privatizar não resolve

3,13 SANEAMENTO BÁSICO

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Uma rede formada por universidades brasileiras e instituições governamentais vai desenvolver cursos para cerca de 5 mil gestores, técnicos e operadores de empresas de saneamento básico. As atividades abordarão quatro áreas: abastecimento de água, esgotamento sanitário, gestão das águas pluviais e gestão dos resíduos sólidos. Até o fim de 2007, deverão ser realizados 150 cursos sobre temas como tratamento de água e esgoto, tubulações, conservação de água e energia elétrica, controle de qualidade de água, resíduos sólidos e formação de gestores, entre outros.

bilhões de dólares foram doados por 32 países para o maior financiador de projetos ambientais no mundo, o Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF, na sigla em inglês). A contribuição é a mais vultosa já recebida pelo fundo, criado durante a conferência Rio 92.

Sem a mão do Estado, recursos para infra-estrutura caem nos países em desenvolvimento Um estudo sobre o processo de privatização dos serviços públicos – especialmente em água, saneamento e energia elétrica – e a adoção de modelos privados de administração nas áreas de saúde e educação, feito pelo Centro Internacional de Pobreza, ligado ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), detectou resultados nada animadores: essas ações aumentaram a exclusão

interesse do setor privado, não o dos pobres. “No início dos anos 1990 havia um otimismo substancial em relação aos investimentos do setor privado em infra-estrutura, e os resultados iniciais eram promissores. Entre 1995 e 2004, mais de 70% dos investimentos em infra-estrutura do setor privado foram para telecomunicação e menos de 3% para água e saneamento”, ressalta o documento. Na América

social nos países em desenvolvimento e falharam na tarefa de contribuir para o avanço nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Para os autores, Kate Bayliss e Tim Kessler, “o setor privado claramente não será a principal fonte de financiamento” das metas estipuladas na Cúpula do Milênio. Segundo o relatório, as privatizações, quando ampliaram os benefícios à população pobre, quase sempre o fizeram com recursos do próprio governo. Em geral, afirmam os pesquisadores, as reformas adotaram uma estratégia com viés mercadológico que, em graus variados, privilegiou o

Latina, “os níveis de investimento privado em infra-estrutura são em média entre 40% e 50% do que eram há 10 ou 15 anos”. Os serviços públicos não chegam à população pobre por três razões básicas, conforme o estudo: falta de recursos, governança deficiente e exclusão social. Para superar esses obstáculos e cumprir os ODM, os autores recomendam que os países busquem financiamento nos bancos de desenvolvimento e junto às nações ricas e melhorem as políticas regulatórias e os mecanismos de monitoramento e controle das companhias de serviços públicos.


Água tratada para beber O governo federal anunciou investimento de R$ 6 milhões para duplicar o número de estados beneficiados por um projeto que trata águas subterrâneas de maneira a tornálas próprias ao consumo humano. A prioridade são as localidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), uma adaptação do IDH aos indicadores regionais brasileiros, feita pelo PNUD e outros parceiros. As taxas de mortalidade infantil e os problemas provenientes da falta de chuva de cada área também serão levados em conta. O projeto chama-se Água Doce e é fruto de uma parceria entre a Secretaria Nacional de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente e o Banco Nacional de Desenvolvimen-

to Econômico e Social (BNDES). São realizadas instalações e recuperação de dessanilizadores, usados no aproveitamento de águas subterrâneas com alto teor de sal para o consumo humano. Hoje, o programa atende 60 regiões de cinco estados. A meta é aumentar esse número para dez. Além de tratar a água subterrânea, o dessalinizador permite que a parte não utilizada, chamada de concentrado, seja usada na produção de peixes e na irrigação de plantas para alimentação animal. Há no Brasil aproximadamente 2 mil dessalinizadores instalados, 60% deles desativados, segundo a Secretaria de Recursos Hídricos. A proposta do Água Doce é recuperar 1.500 desses equipamentos e criar estruturas para o funcionamento de mais 5 mil.

Prêmio estimula alcance das metas Uma iniciativa liderada pelo PNUD internacional vai premiar cinco projetos comunitários que comPrêmio Equatorial 2006 Indicado Agora! binem geração de renda e preservação da biodiversidade. O Prêmio Equatorial 2006 quer incentivar práticas que aliem melhoria social e preservação ambiental na região entre os trópicos ou, na prática, em todos os países em desenvolvimento. A idéia é dar maior visibilidade às ações de pequenas comunidades, que, apesar de não terem amplo alcance, são fundamentais para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Nesta terceira edição do prêmio, que é realizado a cada dois anos, os vencedores receberão US$ 30 mil para investir no projeto. Além disso, todos os indicados passarão a fazer parte de uma rede global de comunidades que desenvolvem ações socioambientais e integrarão um banco de dados de boas práticas na área de biodiversidade. A divulgação das iniciativas ganhadoras e a entrega dos prêmios serão em janeiro de 2007. Podem concorrer projetos promovidos por organizações da sociedade civil, por empreendimentos que exploram a biodiversidade – econegócios –, por comunidades indígenas, por ongs e por iniciativas associadas à Unesco. As inscrições podem ser feitas até 31 de outubro, por e-mail, fax ou carta.

Direitos Humanos no currículo

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eralmente discutido nas salas de aula somente por iniciativa do professor, o tema Direitos Humanos vai ser inserido na grade curricular dos cursos de licenciatura do Brasil. Trata-se do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, elaborado pela Secretaria Especial do assunto (SEDH) em parceria com outras instituições para aprofundar o princípio entre os educadores e assim disseminá-lo junto aos 56,47 milhões de alunos do ensino básico do país. O documento abrange também as áreas de pesquisa e extensão e pretende servir de guia para as futuras ações do governo, de organizações não-governamentais, de organismos internacionais, universidades, escolas de educação infantil e do ensino fundamental e médio e de instituições do sistema de segurança e Justiça. “É importante que a questão seja pensada em qualquer área e que não seja apenas uma disciplina de direitos humanos nos cursos”, destaca a coordenadora-geral do Programa de Educação em Direitos Humanos da SEDH, Maria de Nazareth Tavares Zenaide. “O assunto tem de permear vários conteúdos de educação.” O plano é resultado do trabalho do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, criado pela secretaria em 2003. O órgão foi responsável pela elaboração de uma primeira versão, apresentada a comissões formadas por entidades governamentais e instituições da sociedade civil em encontros estaduais, que acrescentaram novos pontos.

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AENTREVISTA

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Entusiasta do tema responsabilidade social, Marcelo de Menezes coordenador e consultor nacional de Responsabilidade Social da Unimed aprendeu na prática o que é efetivamente ação social de uma empresa e o que é utilizado simplesmente como estratégia de marketing. Ele fala animado da política que implantou em uma das maiores empresas de planos de saúde privados do Brasil, a Unimed, que congrega 345 cooperativas em todas as regiões do país. O foco das ações são a ética, a transparência e o público interno. Formado em Relações Públicas com pós-graduação em Comunicação Social, Menezes fez estágios nos serviços de saúde pública da França e de Buenos Aires e implantou o serviço de Atendimento Pré-Hospitalar, o SOS Unimed. Além das atividades dentro do Sistema Unimed, o consultor ainda faz palestras para eventos externos à cooperativa.

Como iniciou seu envolvimento com o tema responsabilidade social? Pela minha formação, sempre estive ligado em projetos especiais e, quando entrei na Unimed, há mais ou menos 15 anos, comecei a atuar com foco nas ações de humanização da Medicina. Depois de implantar o serviço de atendimento pré-hospitalar e póshospitalar com êxito, comecei a me interessar pelo tema de responsabilidade social em leituras e pesquisas. Iniciei na Unimed Florianópolis (SC) o projeto Unimed Cidadã, no qual várias ações de prevenção à saúde, educação e lazer atendiam o público que não tinha perfil para ser cliente da empresa. Esse projeto continua? Sim, e desde o início, em 1999, teve resultados efetivos, sendo até inserido no Banco de Práticas do Instituto Ethos e levado para servir de exemplo na implantação de uma


ENTREVISTAE MARCELO DE MENEZES Sara Caprario

política nacional de responsabilidade social da Unimed. Mas logo percebemos que havíamos ido primeiro para a rua, sem conhecer nosso público interno. Como isso foi corrigido? Quando apresentamos a sugestão de política nacional de responsabilidade social já colocamos o público interno como um dos alvos iniciais do trabalho. Em cada uma das 345 cooperativas do sistema Unimed havia ações, mas sempre com a visão assistencialista – além de não estarem inseridas na gestão do negócio. Por isso, nossa primeira missão foi disseminar a cultura da responsabilidade social entre todos os colaboradores e cooperados. O número de Unimeds que recebeu o selo vem em uma curva ascendente desde o lançamento do processo, há quatro anos. Em 2003, foram 55 cooperativas certificadas; em 2004, 87; em 2005, 144 e, neste ano, 165 do total de 200 inscritas. Os índices também mostram o mesmo incremento quando é feita a análise do número de programas sociais do sistema Unimed cadastrados. De 115 em 2003, o espaço registra hoje um total de 1019, distribuídos por todo o território nacional. Existe uma Fundação Unimed que

cuida destas ações? A Fundação já existia antes mesmo de organizarmos a política nacional de responsabilidade social, mas com objetivos mais educacionais. Existiam 53 projetos sociais que não estavam interligados. Quais são as prioridades para as ações de responsabilidade social no sistema Unimed? As atividades na área da saúde respondem por 58%, depois vêm educação, cultura e lazer. No balanço social consolidado de 2005 temos 165 cooperativas Unimed com o selo de responsabilidade social, uma certificação interna na qual 200 das 345 unidades se inscreveram. Estas cooperativas certificadas investiram cerca de R$ 520 milhões, sendo que R$ 370 milhões foram em ações voltadas ao público interno. Cerca de 4 milhões de pessoas foram beneficiadas. Nossa meta é conseguir que todas sigam os indicadores voltados para cooperativas que criamos com o intuito de nortear as ações de responsabilidade social para que sejam concretas e éticas. Estas ações são divulgadas, servem de modelo? Temos um banco de responsabilidade social que incentiva e facilita novas iniciativas,

por meio da formatação de um cadastro nacional de voluntários, segmentado por ramo de atuação, além de divulgarmos de um mailing de instituições para possíveis parcerias. Dentro do site da Unimed há uma área onde é possível cadastrar os projetos das Unimeds e realizar consultas às ações inseridas no espaço. Por meio dele, também é possível acessar o resumo do projeto, bem como obter mais informações a exemplo de público-alvo, data de lançamento e contatos, além de outros dados. Como motivar colaboradores e cooperados para que criem estas ações? Estamos em permanente sensibilização por meio das convenções anuais, das reuniões e eventos realizados pelo sistema. Os exemplos com resultados positivos são levados para os encontros, além de promovermos cursos freqüentes de capacitação de gestores, elaboração de balanço social, indicadores sociais, monitoramento e avaliação de projetos e capacitação de voluntariado. Além de cursos, a Unimed produziu manuais sobre o tema. Quem teve acesso a estas publicações? Distribuímos tanto dentro do

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AENTREVISTA auxiliem não apenas as cooperativas Unimed, como também os credenciados na administração dos resíduos de saúde e, assim, promove a saúde e a preservação do meio ambiente.

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sistema quanto para o público externo. O manual “Como Implantar um Projeto de Responsabilidade Social Ético e Correto” chegou em 5 mil endereços. Produzimos ainda os manuais de consumo consciente, de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde e um específico para preenchimento do balanço social. Como são abordados estes assuntos nos manuais? São informações objetivas que podem ser entendidas por jovens e adultos, estudantes e profissionais. O manual do consumo consciente serve para orientar os colaboradores e familiares a mudar pequenos hábitos no consumo diário. Esta publicação aborda quatro temas: coleta seletiva, reciclagem de lixo, consumo consciente e economia inteligente. Já o manual que fala de gerenciamento de resíduos certamente contribui para disseminação de práticas que

Quais as perguntas mais freqüentes nas suas palestras? A maioria das dúvidas ainda gira em torno dos conceitos básicos de responsabilidade social e quais as verdadeiras ações sociais das empresas. Mas o que impressiona é que tanto as pessoas do sistema Unimed quanto o público de outros eventos se comovem com os números de desigualdade social no país. Que tipos de números são apresentados? Números de concentração de renda, de acesso à educação, de saneamento e abastecimento de água, de mortalidade infantil nas regiões mais pobres, entre outros. Nas minhas viagens, encontro cenários terríveis de pobreza, de necessidades básicas que revelam como ainda precisamos melhorar nossas políticas. O foco dos projetos sociais no Brasil – não falo deste governo e do anterior apenas – está errado há muito tempo. Como seria o correto? O Estado deve fortalecer seu braço

Unimed

em números • Presente em 75% do território nacional • 378 cooperativas médicas • Mais de 13,3 milhões de clientes individuais • 70 mil empresas • 101 mil médicos cooperados • 3.596 hospitais credenciados • 33% do mercado nacional de planos de saúde • Faturamento de R$ 12 bilhões em 2005 • 67 hospitais próprios • 95 pronto-atendimentos, 25 laboratórios e 267 ambulâncias • 32 mil empregos diretos e 290 mil empregos indiretos • Mais de 58 milhões de consultas anuais


ENTREVISTAE social com ações de prevenção paralelas às ações de combate à criminalidade, por exemplo, e também atuar com a família inteira criando oportunidades de geração de renda, de acesso à escola e de planejamento familiar. Ações efetivas de trabalhos localizados, como as promovidas pela Pastoral da Criança, que atua com foco na desnutrição infantil e no cuidado com as famílias, são um bom exemplo. Outro exemplo que gosto de citar é o MV Bill, afinal ele veio da favela, conhece as regras deste tipo de comunidade marginalizada e expõe as mazelas de maneira legítima, mostrando que a maioria das pessoas são do bem e esperam apenas uma oportunidade. Na sua opinião, até onde as empresas devem agir para não substituir o papel do Estado? Minha sincera opinião é que o Estado é incompetente para assumir estas questões. Se esperarmos pela ação pública, certamente a desigualdade social aumentará. O braço social do Estado não está nas favelas, apenas o braço armado, e isso só permite que haja mais autoridade do crime organizado e do tráfico de drogas junto às comunidades, por exemplo. Então, as empresas devem assumir este papel?

Não exatamente, até porque as empresas existem em razão dos seus negócios. Mas o tema responsabilidade social hoje é imprescindível porque os consumidores exigem e a própria sobrevivência das empresas depende da diminuição da desigualdade social. A maioria das empresas não se preocupa com meio ambiente e com a comunidade que a cerca porque são boazinhas, mas porque o mercado pede isso, a legislação neste sentido está evoluindo também; enfim, porque todos estão se conscientizando de que é preciso atuar no coletivo. Quais os temas que deverão estar na pauta de responsabilidade social no futuro? Na minha opinião é preciso enfatizar o trabalho na cadeia produtiva, ou seja, não basta uma empresa ser socialmente responsável se seus fornecedores não são. Todos devem exigir da cadeia a mesma preocupação com recursos naturais e com as desigualdades sociais. Também acredito que as empresas vão se preocupar mais com sustentabilidade, com mortalidade infantil, com a área ambiental e, em especial, com a água. Temas como pacto contra corrupção também continuarão na pauta das ações no Brasil.

Cada vez mais empresas estarão se conscientizando de que é preciso investir em RSE? Isso é certo. Basta olharmos para trás e vermos que há 20, 15 anos as empresas que possuíam alguma ação social ainda eram destacadas como inovadoras. Hoje em dia é difícil termos alguma grande ou média empresa que não se preocupe com temas como sustentabilidade, ações sociais para funcionários ou para comunidades e preservação de recursos naturais. No entanto, muitas das ações devem ser feitas por força de lei, mas as iniciativas espontâneas são cada vez mais presentes. É possível diferenciar ações verdadeiras de responsabilidade social daquelas voltadas simplesmente para atender o marketing? Para quem entende um pouco do assunto, é evidente diferenciar quando as empresas fazem propaganda dizendo que contribuem com o meio ambiente e apenas produzem suas publicações com papel reciclado, mas na outra ponta não cuidam de importantes questões. Para a maioria da população talvez ainda seja mais difícil distinguir o que é obrigação e o que é responsabilidade social, mas o consumidor está cada vez mais atencioso e exigente.

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SOLUÇÕES

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Ao ser atacada, a planta contraataca naturalmente. Esta é a canade-açúcar “inteligente”, geneticamente modificada para liberar proteína com propriedade inseticida quando atingida pela broca-da-cana, praga bastante presente nos canaviais do Brasil e que registra um prejuízo anual de, aproximadamente, US$ 500 milhões aos produtores agrícolas. Segundo o professor Márcio de Castro Silva Filho, coordenador da equipe que estuda a espécie no Laboratório de Biologia Molecular de Plantas, do departamento de genética da Escola Superior Agrícola Luiz Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, a descoberta poderá reduzir vários problemas no futuro. O ciclo da broca tem início no campo, onde um inseto penetra no interior da planta e cava galerias internas, provocando a diminuição da massa vegetal da cana-deaçúcar e, conseqüentemente, causando graves perdas na produção de açúcar e álcool. Os orifícios perfurados pela praga permitem a entrada de fungos oportunistas que causam doenças, como, a podridão vermelha. No caso da produção de álcool, os microorganismos podem contaminar o caldo e concorrem com as leveduras na fermentação.

www.esalq.usp.br

Bons produtos do bem

O Instituto Ação Triângulo, uma organização não governamental de Santo André (SP), consegue preservar o ambiente, gerar emprego e renda e ainda oferecer qualificação com um único programa. Tratase da coleta de óleo de cozinha utilizada pelas famílias de três cidades do ABC paulista. Para isso, cerca de 60 agentes socioambientais do instituto visitam 60 mil residências por mês. O óleo recolhido – quase cinco toneladas mensais –é processado na usina da Ação Triângulo e transformado em sabão biodegradável seguindo uma receita antiga, na qual é misturado à soda cáustica e água. A soda é tóxica, mas indispensável no processo, que exige o uso luvas e máscaras pra evitar queimaduras na pele e problemas nas vias respiratórias. Por enquanto, as 500 unidades de sabão produzidas por dia são vendidas pelos agentes sócioambientais direto nas casas atendidas pelo projeto. Um quilo ou cinco barras custam R$ 2,50. www.triangulo.org.br

A procura por itens promocionais mais artesanais e personalizados está ajudando as iniciativas de ongs que trabalham com material reciclável para produzir brindes solidários. Além de respeitar o meio ambiente, tais produtos permitem adaptações de acordo com a necessidade da empresa cliente. Na Associação Mundaréu, uma ong de São Paulo que reúne vários outros grupos que trabalham com projetos sociais, artefatos como bandejas de cipó, caixas dos mais variados tipos e formatos, castiçais, gamelas e até um jogoda-velha de madeira já fazem sucesso em feiras especializadas. A presidente da entidade, Lizete Prata, explica que “os brindes solidários têm como diferencial o valor agregado, pois são resultantes de um projeto social e se transformam em renda para comunidades populares, que têm nesta venda a perspectiva de se manterem economicamente”. www.mundareu.org.br

A empresa Saccaro utiliza fibra de bananeira do Norte do país para compor alguns de seus mais requisitados móveis de luxo. O tronco é triturado para a retirada da resina do vegetal e passa por um sistema de branqueamento. A idéia surgiu em viagens que o diretor comercial João Saccaro fez a países do Extremo Oriente. O degradê natural, do bege ao marrom, é o grande destaque deste tipo de fibra. Segundo o empresário, a resistência do material é igual a de tecidos e couro, com a vantagem de não manchar. Uma cadeira revestida com fibra sai em torno de R$ 1 mil e uma poltrona pode custar R$ 5,9 mil. www.saccaro.com.br


Leo Burnett Brasil

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Quando você compra uma roupa, não está escolhendo apenas o que vai vestir hoje, mas o mundo onde vai viver amanhã. Prestigie empresas que investem no meio ambiente, na comunidade e em seus colaboradores.

Consuma sem consumir o mundo em que você vive.

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monitor

Por dentro dos números

Cafezinho com causa Certificação pode também levar em conta aspectos socioambientais

PROCESSO COMPROVADO

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Conforme a certificação desejada, todo o processo de beneficiamento do café pode ser avaliado. Nos orgânicos, são verificadas a origem e a qualidade. Nos especiais, a segurança do alimento (não uso de agrotóxico) e dos trabalhadores e cuidados com o meio ambiente também contam. No Brasil, um dos certificadores é o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), que fornece o selo da Rainforest Alliance. Na área de orgânicos, atuam 19 certificadoras, entre nacionais e estrangeiras, segundo o Sebrae. O Instituto Biodinâmico (IBD) é a única que possui reconhecimento internacional entre as brasileiras.

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quilos em cada tonelada de café colhido no Brasil são orgânicos, segundo a associação nacional dos cafeicultores dessa categoria. Com cerca de 50% da produção, Minas Gerais domina o mercado.

Grande parte da safra de 40 milhões de sacas (cada saca tem 60 quilos) do café brasileiro possui algum tipo de teste de qualidade, tanto na produção quanto na industrialização. Mas o que vem crescendo no país é a certificação que vai além do laudo de sabor, aroma e textura. A certificação de cafés orgânicos ou dos chamados especiais inclui outros aspectos e, dependendo do público ao qual se destina, o produtor ou o fabricante precisam comprovar formas de plantio em respeito ao meio ambiente, cuidado com os mananciais e com o manejo e seguir normas de conduta em relação à política de valorização da mão-deobra. A rastreabilidade dos tipos de café é fundamental para qualquer um que queira exportá-lo ou mesmo agregar valor na hora da venda, pois possibilita que qualquer tentativa de fraudar o processo seja identificada. As principais empresas estrangeiras compradoras de café brasileiro, que são a Sara Lee, Nestlé, Kraft Foods e Procter &Gamble, alegam manter políticas

de responsabilidade social voltadas ao público interno, ou seja, aos trabalhadores. Por isso, exigem certificações de qualidade e também que atestem o respeito aos aspectos socioambientais das fazendas produtoras. A conversão de uma lavoura convencional para orgânica leva pelo menos três anos. É o tempo mínimo para livrar o solo dos resíduos químicos utilizados anteriormente. Em média, a saca de um café orgânico custa entre US$ 120 e US$ 180. O preço mínimo é pelo menos 60% maior que o das sacas de café tradicional. Estudo encomendado pelo Sebrae em Minas Gerais mostrou que a cotação do café orgânico chega a quase 140% a mais que a do café do tipo superior (que não é o especial). Os cafés especiais brasileiros são grãos produzidos principalmente em Minas, São Paulo, Norte do Paraná, Espírito Santo e Bahia. Segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais, em todas as propriedades o manejo e as práticas culturais são sustentáveis, ecologicamente corretas e com alta tecnologia. A preservação da natureza é uma preocupação básica nas as atividades agrícolas praticadas nessas fazendas. Os resíduos sólidos e líquidos são usados como fertilizantes orgânicos, de modo a evitar a contaminação e preservar as espécies silvestres e a biodiversidade no ar, terra e água.


Grãos de saber Diversas marcas de café brasileiras estampam certificados em suas embalagens, desde os que atestam apenas a parte industrial – como o selo de qualidade fornecido pela Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) – até os mais exigentes, que fornecem credenciais para os grãos que vão chegar a consumidores de diversas partes do planeta. O grupo Astro Café é um exemplo que vai além da preocupação com o mercado. Com todos os certificados nas áreas ambientais e de qualidade, a empresa implantou uma ação de incentivo à leitura que inclui a formação de uma biblioteca na escola rural dentro de uma de suas fazendas produtoras. A proposta, batizada de Projeto Guias da História, foi ampliada em 2003, com a inclusão de mais uma escola e o início da parceria com a empresa norueguesa Kaffehuset Friele, que possibilitou a construção de um centro Educacional e Cultural para atender a população da zona rural de Poços de Caldas (MG). A coordenadora da ação, Patrícia Pereira Leite, conta que todos os professores, coordenadores pedagógicos e diretores das escolas e do Centro Educacional e Cultural receberam formação para “mediadores de leitura” e tiveram acompanhamento e supervisão mensal. Hoje, a atividades ligadas à leitura somam-se oficinas de informática, desenho, música e capoeira, que passaram a fazer parte da rotina das comunidades rurais em torno de Poços de Caldas (MG).

Japoneses pagam mais Maior produtor e segundo maior consumidor mundial de café, o Brasil está passando por um momento forte de expansão em cafés especiais – segmento que têm registrado crescimento anual de 15% a 20% no mundo, com um consumo estimado em 6 milhões de sacas/ano. A participação do país ainda é pequena: algo em torno de 6% a 8% do market share, mas a valorização dos tipos de café gourmet está motivando os produtores e fabricantes a aumentarem a plantação destes grãos. Os dados são da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), que em julho promoveu um leilão internacional, via internet, dos dez lotes vencedores do 3º Concurso de Cafés Naturais do

Brasil – Late Harvest, safra 2005/2006. No total, foram 263 sacas de 60 quilos, vendidas a um preço médio de R$ 703,19 a saca, sendo R$ 433,00 o valor mínimo registrado. A título de comparação, uma saca de café padrão CPR/BM&F estava cotada, na mesma data, em R$ 235,00. Os compradores foram todos japoneses, mas torrefações e lojas dos Estados Unidos, Inglaterra, Brasil, Noruega e Alemanha também disputaram os lotes. Para o presidente da BSCA, Alexandre Frossard Nogueira, um dos objetivos da entidade com este concurso, é despertar os consumidores para os cafés naturais, processo que exige maior tempo de descanso do grão para que revele todas as suas qualidades.

TrêsPerguntas Kátia Nogueira, gerente de desenvolvimento de negócios da SGS do Brasil A SGS do Brasil é credenciada pela Utz Kapeh, referência internacional para certificar a produção responsável de café. Não à toa, o nome da entidade significa “café bom” na língua maia: seus critérios obedecem a um código de conduta que estabelece padrões ambientais, sociais e econômicos na atividade cafeeira. Quais as principais exigências do mercado? As principais exigências dos compradores e consumidores estão baseadas no tripé: segurança do alimento, meio ambiente e segurança do trabalhador. Quando falo de segurança do alimento, entram principalmente as questões relacionadas a controle de resíduo, aplicação de agrotóxico e cumprimento de período de carência. A certificação é dividida em auditorias e análises? Sim, as auditorias são realizadas durante a produção, ou seja, no campo, e envolvem o cumprimento de uma série de requisitos de manejo, documental e análise laboratorial. Os requisitos auditados estão estabelecidos em uma norma pública e disponível entre os produtores interessados e a certificadora. Essa norma tem a função de estabelecer todas as regras do processo de certificação. É importante esclarecer que as certificações que realizamos estão focadas na fase de produção e, em alguns casos, no armazenamento do café. A classificação do café é uma segunda fase e é realizada por outras entidades. Neste caso, o foco está nas qualidades sensoriais do grão. Como o consumidor pode escolher o café certificado? Tanto a Utz Kapeh como o BSCA permitem que a logomarca vá na saca do café. Para aqueles que comercializam seu produto diretamente na rede varejista, também é permitido colocar a logomarca dessas entidades. Como exemplo de fazendas que comercializam seu café diretamente com o produtor final temos Turmalina, Suplicy, Astro Café, Spress etc.

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SELOS

que gostaríamos de ver...

Concedido a produtos e serviços que não possuem "cláusulas de exclusão" nem letras miúdas no contrato.

66 Popularmente conhecido como "fala que eu te escuto", o Serviço de Atendimento Humano ao Consumidor é um selo concedido a empresas que empregam gente de verdade para ouvir as reclamações, dúvidas e sugestões de seus consumidores.

Concedido a novelas, minisséries e seriados que não contenham situações inverossímeis e/ou que insultem a inteligência do telespectador.


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&OTO -ARC "OETTCHER !CTION!ID #ØD #3 -'0$

! $ANIELE NÎO TEM CASA

NÎO TEM ESTUDO NÎO TEM COMIDA -AS VOCÐ PODE DAR A ELA ESPERAN A ! DIFEREN A ENTRE VOCÐ E A $ANIELE SÎO AS OPORTUNIDADES QUE VOCÐ TEVE % A !CTION!ID TRABALHA HÉ ANOS EM MAIS DE PAÓSES PARA DIMINUIR ESSA DIFEREN A .O "RASIL A !CTION!ID ATUA COM DIVERSAS COMUNIDADES EXCLUÓDAS NA BUSCA DIÉRIA POR ACESSO A ÉGUA SAÞDE ALIMENTA ÎO E DIGNIDADE % VOCÐ PODE AJUDAR 0ARTICIPE DO 0ROGRAMA ! ÎO #OMUNIDADE E APØIE A TRANSFORMA ÎO DE UMA COMUNIDADE INTEIRA 6OCÐ VAI VER A DIFEREN A QUE A SUA AJUDA FAZ ATRAVÏS DE FOTOS E MENSAGENS ENVIADAS PELOS PRØPRIOS MORADORES #OM MENOS DE UM REAL POR DIA VOCÐ DÉ ESPERAN A DE UM FUTURO MELHOR PARA $ANIELE E MILHARES DE OUTRAS CRIAN AS

,IGUE HOJE E SAIBA MAIS SOBRE A !CTION!ID E COMO PARTICIPAR DO 0ROGRAMA ! ÎO #OMUNIDADE

WWW ACAOCOMUNIDADE ORG BR


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