Revista 5

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SUMÁRIO

CARTAS

“Gostaria de registrar nossas congratulações pela qualidade editorial da Revista Primeiro Plano, que tem tratado do tema responsabilidade social de modo extremante direto e sem desvios de foco, o que oportuniza ao meio empresarial e aos leitores em geral, aprimoramento no conhecimento relacionado ao tema. Outro grande mérito creditado à revista está principalmente por não limitarem a RSE ao setor industrial, como prova disso a excelente matéria de capa sobre os varejistas. Gostaria de compartilhar que a revista está sendo objeto de estudo de profissionais que estão cursando um MBA em Desenvolvimento Sustentável na Alemanha”. Andréia S. R. de Amorim, gestora do Centro SENAC de Desenvolvimento Social (www.sc.senac.br)

“A última edição foi de muita utilidade para o trabalho que estou desenvolvendo como Consultora da Visão Mundial em parceria com o Sebrae Nacional. A matéria que se refere ao comportamento das grandes redes varejistas foi bastante interessante. Estou fazendo um trabalho onde o grande desafio é posicionar a produção de pequenos produtores no mercado de forma estratégica, sustentável e profissionalizada, garantindo assim não somente a sua entrada, mas a sua permanência nestes mercados, a tudo isto somamos a necessidade do estabelecimento de relações justas entre produtores e mercado” Fátima Guaraná, Recife (PE)

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EXPEDIENTE Diretor: Odilon Luís Faccio Edição: Maria José H. Coelho (Mte/Pr930), Sandra Werle e Sara Caprario (MTe/Sc 625-JP) Redação: Sandra Werle (MTe/Sc 515-JP), Sara Caprario, Vanessa Pedro (MTe/Sc 831-JP) Revisão: Dauro Veras (MTb/Sc471-JP) Edição de Arte: Maria José H. Coelho e Sandra Werle Humor: Frank Maia Fotografia: Nica Azevedo, Sérgio Vignes Colaboradores: Geni Marques, Gabriela Michelotti, Luis Fernando Guedes Pinto, Marcelo Linguitte, Michelle Lopes, Paulo Itacarambi, Pieter Sijbrandij, Rosana Heringer, Ronaldo Baltar, Solange Sanches Secretaria e Distribuição: Luciano Marcondes e Lilian Franz Impressão: Gráfica Pallotti Parceiros Institucionais Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Eletrosul Centrais Elétricas S.A. Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) Instituto Observatório Social Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Rede de Tecnologia Social (RTS)

06 | POR EXEMPLO Robôs: inclusão e diversão | Pacto Global estuda iniciativa brasileira | Em rede: franquias sociais | Alimentos brasileiros terão índice de sustentabilidade | Racismo ambiental | Moda reciclável

22 | MUNDO DO TRABALHO Aposentadoria dentro de casa | Empresas exemplares | Desemprego no mundo em níveis sem precedentes

36 | RESPONSABILIDADE SOCIAL “Zero carbono” | Café para inglês beber | Iniciativas de educação

44 | INCLUIR Apoio ao desenvolvimento local no Brasil | Projetos vão receber R$ 8 milhões do MDS | 1º Fórum Nacional da RTS aponta próximos passos

48 | VIOLÊNCIA Horizonte mais colorido

50 | GREENPEACE Terra em Alerta | As principais conclusões do relatório do IPCC | Relatório diz que ainda há saída

52 | AMBIENTE Biocombustíves e Certificação | Comércio Justo e Solidário

56 | AGENDA GLOBAL Você pode ajudar a reduzir enchentes | Vassouras de plástico | Bolsa Família atende quilombolas | Problemas globais - O mar não está pra peixe

58 | ENTREVISTA Gerente de Sustentabilidade da Philips fala das ações da empresa em prol do planeta

62 | SOLUÇÕES Embalagem com selo FSC | Fralda biodegradável | Solteiros na caixa de leite | Memória de madeira

64 | MONITOR Mulheres diminuem diferenças salariais em relação aos homens

Visconde de Ouro Preto, 308 - Térreo - Centro – Florianópolis (SC) - 88020-040 Fone/fax: + 55 (48) 3025-3949 www.primeiroplano.org.br - contato@primeiroplano.org.br Os artigos e reportagens assinados não representam, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da revista Primeiro Plano. A divulgação do material publicado é permitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

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66 | HUMOR Aquecimento Global, quem se preocupa?


apresentação

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LINHAS CRUZADAS RSE não está na gestão do setor de telefonia, mas já há sinais de avanços

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PLANETA AGUA A água disponível no planeta, o uso que estamos fazendo dela e a grande reserva do Aqüífero Guarani

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GRI - GLOBAL REPORTING INITIATIVE Os melhores relatórios de sustentabilidade mostram o caminho

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ENSAIO FOTOGRÁFICO Mulher em todos os sentidos

ACTION AID

Mulheres que vivem da quebra do coco de babaçu passam por uma transformação

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escolha do nome da Revista Primeiro Plano não foi por acaso, foi para colocar em evidência a necessidade do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade sócio-ambiental das empresas. O social e o ambiental sempre foram colocados em segundo plano, encarados como problemas, entraves ou obstáculos ao crescimento. Os modelos tradicionais de crescimento, em particular no Brasil, agravaram a exclusão social e trouxeram graves prejuízos ao meio ambiente. Na era do aquecimento global, ao contrário do meio ambiente ser um entrave, pode se tornar um enorme diferencial competitivo do país e garantir que o desenvolvimento seja sustentável no longo prazo. Precisamos fazer agora, no presente, o que queremos no futuro para nossos filhos e netos, senão, vamos dar a eles um planeta difícil de se viver. A Revista Primeiro Plano inicia o segundo ano de existência, contribuindo com uma maior consciência nessa grande jornada de salvar as pessoas e o planeta. Nas quatro edições publicadas em 2006, tratamos dos assuntos relacionados à Energia, Amazônia, Responsabilidade Social dos bancos e supermercados, ISO 26000, Tecnologias Sociais, Aquecimento Global, Mundo do Trabalho e Inclusão Social, enfim, reportagens, artigos em alto padrão editorial e gráfico e qualidade fotográfica. Veiculando informações e principalmente soluções e bons exemplos. Isto foi possível porque atuamos em parceria e cooperação com diversas instituições, consolidada no Conselho Editorial da revista. Colocar em destaque o papel das empresas, por meio da responsabilidade sócio-ambiental, não significa minimizar as atribuições do Estado, mas sim dar destaque ao enorme poder que as empresas adquiriram em tempos de globalização. Quanto mais as empresas atuarem numa perspectiva responsável, melhor para a sustentabilidade e para a inclusão social. Esse assunto é destaque na entrevista com a representante da empresa Philips. Há avanços nesta direção por iniciativas das empresas ou por mobilização da sociedade e dos consumidores conscientes.Nesta edição, trazemos a responsabilidade social das empresas através de uma matéria especial sobre as empresas de telefonia, seja na sua relação com os usuários, nos seus projetos sociais. Neste sentido, responsabilidade social empresarial vive outra fase, a da importância de verificar e medir os resultados e impactos. Por isso, incluímos um artigo sobre os balanços sociais e os relatórios de sustentabilidade. O Greenpeace traz seu ponto de vista sobre aquecimento global, depois da apresentação do relatório do IPCC (Painel Inter-governamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU. O Dia Internacional da Mulher mereceu um espaço especial nessa edição. No ensaio fotográfico procuramos destacar “em todos os sentidos” a atuação das mulheres em diferentes esferas. Os artigos da OIT e o Monitor com dados do Dieese nos desafiam a refletir sobre o crescimento da inserção feminina no mercado de trabalho. Por fim, uma matéria da ActionAid traz a experiência da quebra do coco de babaçu, cuja a atividade econômica é essencialmente feminina, enfim, um exemplo das muitas mulheres que produzem, sofrem por um país mais digno e sustentável. PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

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por exemplo

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Uma história brasileira das tecnologias apropriadas, de Flávio Cruvinel, é um livro que trata dos conceitos, da ideologia e da história das tecnologias que hoje também são conhecidas como tecnologias sociais. Diz a obra que a história destas tecnologias começa na Índia, passa pela China e chega à Europa. O livro mostra como foi a sua introdução no Brasil. O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) absorveu o conceito a partir de um programa de transferência de tecnologias apropriadas ao meio rural que existiu de 1983 a 1988. Segundo o autor, tecnologia social é de certa maneira um aperfeiçoamento da idéia de tecnologia apropriada. É um conceito em evolução. Ele diz que se trata de tecnologia de baixo custo e de fácil reprodução, voltada para o desenvolvimento sustentável e a geração de emprego e renda, permitindo desenvolvimento local. www.abipti.org.br

Robôs: inclusão e diversão 25% é o índice que se espera de biomassa na matriz energética mundial, ao contrário dos 13% de hoje. A opinião é de José Goldemberg, ex-secretário de Estado de Meio Ambiente de São Paulo e um dos especialistas em energia do país, num artigo da Revista Science. Ele afirma que o etanol brasileiro, feito de cana-deaçúcar, é muito melhor em termos de balanço energético que o de milho, usado nos Estados Unidos, por exemplo.

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Crianças de uma escola pública têm acesso a um programa que estimula o conhecimento

acesso a tecnologias é um dos objetivos do Programa Sesi Indústria de Talentos, que, através de eventos do tipo Jornada de Educação Tecnológica, estimula a desenvolver as potencialidades de crianças e jovens em aulas, projetos, torneios e atividades na internet, sempre com uma orientação pedagógica. Para ocorrer, o Programa realizado pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) precisa ter o apoio de empresas patrocinadoras. Cada empresa define quem pode participar das aulas, se os filhos de funcionários, membros da comunidade ou de alguma instituição, já que é preciso investir R$ 50,00 por mês para cada aluno inscrito no programa. A Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate) resolveu adotar 30 crianças da Escola Estadual de Educação Básica Hilda Theodoro Vieira, em Florianópolis (SC), que estão entre a quinta e sétima série do ensino fundamental. Ao longo de 18 meses, com um total de 180 horas-aula, as crianças irão trabalhar com três uni-

DIVULGAÇÃO ACATE

TECNOLOGIAS APROPRIADAS

O planeta em movimento

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Meninas criam seus próprios robôs

dades temáticas. Um dos temas é a robótica: os participantes têm acesso a uma visão geral do que é e do seu papel como tecnologia a serviço do homem. Utilizando-se de diversos materiais, componentes e técnicas ligadas à mecânica, à eletrônica e a dispositivos programáveis e softwares, os alunos criam seus próprios projetos de robótica. Todas as aulas são realizadas no Condomínio Industrial de Informática da Acate, permitindo inclusive um contato ainda maior com o setor de tecnologia. “Precisamos identificar jovens talentos, pois futuramente eles farão parte da cadeia produtiva da indústria catarinense de tecnologia”, aponta o presidente da Associação, Alexandre d’Ávila da Cunha. Uma das condições para ser adotado no Programa é estar freqüentando a escola e ter notas acima da média. A diretora da Escola Hilda Theodoro Vieira, Viviane Poeta Vieira, afirma que “Os relatos dos participantes aos colegas têm sido de muita satisfação. O rendimento dos alunos que estão na atividade melhorou no último semestre e esperamos que isso continue”. Para que as crianças carentes pudessem participar do programa, as empresas associadas a Acate adotaram os alunos. A empresa madrinha tem todo o acompanhamento do desempenho do aluno ao longo dos 18 meses da Jornada. Em Santa Catarina, diversas empresas como Weg, Tupy, Celesc e Karsten já implantaram as atividades do programa em suas regiões.


Pacto Global estuda iniciativa brasileira A Bolsa de Valores Sociais (BVS), iniciativa da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), foi estudada pelo Pacto Global (Global Compact) através da universidade americana Case Western Reserve University, de Cleveland. Escrito pela cientista social Danielle Zandee, o estudo informa que a BVS “utiliza a força do mercado de capitais para favorecer a sociedade (...) e aumentar o lucro social”. Em seguida, estimula outras Bolsas de Valores a lançarem programas similares em seus respectivos países e pede a pessoas e organizações do resto do mundo que considerem a possibilidade de “investir nos projetos listados na BVS”. Como primeira bolsa no mundo a se tornar signatária do Pacto Global, a Bovespa anunciou seu apoio a dez princípios relacionados a direitos humanos, ao trabalho, ao meio ambiente e ao combate à corrupção.

O QUE É Investidores da Bovespa ou qualquer interessado que opte em doar

QUATRO RAZÕES PARA INVESTIR NA BOLSA DE VALORES SOCIAIS

Os recursos são transferidos integralmente para a Organização Social As atividades das ONGs listadas na BVS são supervisionadas Você acompanha a evolução dos seus Investimentos Sociais Você monta a sua Carteira de Ações Sociais

fundos a ações sociais podem escolher um dos 30 projetos que atualmente fazem parte da Bolsa de Valores Sociais. A exemplo do que acontece no mercado de ações, a Bovespa e suas corretoras associadas apresentam o portfólio de programas para o mercado investidor, buscando atrair recursos para as ONGs brasileiras listadas na BVS. Seguindo a mesma analogia, enquanto as organizações fortalecem seus negócios na Bovespa devolvendo o capital do investidor com lucros e dividendos, as ONGs tornam-se mais fortes e devolvem o investimento na forma de oportunidades para crianças e jovens. Reconhecido pela Unesco como único e primeiro do mundo, o projeto da Bovespa criou ainda os conceitos de Investidor Social, Ação Social e Lucro Social. As doações na BVS são coordenadas pela Bovespa, que divulga todos os procedimentos desde a escolha das ONGs listadas até a implementação de cada um dos projetos.

Em rede: franquias sociais O crescente interesse das empresas de franquias brasileiras em práticas de responsabilidade social empresarial fez nascer a Associação Franquia Solidária (Afras) que na sua fundação, há dois anos, teve a adesão de 32 empresas e mais seis empresas mantenedoras. Organização sem fins lucrativos, o papel da Afras é sensibilizar, educar e mobilizar o empresariado em questões socioambientais, envolvendo todas as empresas que fazem parte deste sistema – advogados, consultores, fornecedores, franqueados e franqueadores. A grande sacada é que os projetos apoiados ou realizados podem ser divulgados em rede, aproveitando a capilaridade das franquias que geralmente estão presentes em todos os cantos do país. Para operacionalizar a Associação, foram criadas ferramentas que possibilitam a efetiva realização de projetos. Um Banco de Dados de Projetos Sociais, por exemplo, é atualizado pelas empresas associadas diretamente pelo sistema de recadastramento online (Recad). Há um Catálogo no Portal da ABF (Associação Brasileira de Franchising) dos projetos realizados ou apoiados pelas empresas associadas e um monitoramento que faz a certificação das ações apresentadas pelas empresas associadas, validando a efetividade e a idoneidade dos mesmos. www.franquiasolidaria.com.br PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

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Alimentos brasileiros terão índice de sustentabilidade

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Um bom exemplo no setor de alimentação: a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária está preparando, em conjunto com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, (Mapa) um Índice de Sustentabilidade (IS) para produtos agropecuários. O índice relaciona a qualidade dos alimentos aos impactos ambientais nas áreas produtivas. Segundo a Embrapa, o IS resultou da demanda dos compradores internacionais por informações e a necessidade de conscientizar os consumidores brasileiros. O índice tem entre suas metas: ser reconhecido e aceito internacionalmente; possuir alta credibilidade, legitimidade e transparência; e apoiar a sustentabilidade do Agronegócio e as negociações internacionais. Os critérios e padrões para análise da sustentabilidade do produto ainda estão sendo definidos. A primeira cadeia produtiva a ter o IS da Embrapa será a do açúcar e do álcool, com previsão de lançamento em 2007. Adicionalmente, os coor-

denadores do projeto estão analisando a aplicação do IS nas cadeias da carne suína e de frango, café, soja e laranja. Para as empresas, o IS pretende funcionar como um instrumento de mercado que garante visibilidade, uma vez que agrega valor aos produtos que incorporam os princípios da sustentabilidade. Também é importante para o exercício do consumo consciente, já que, para os consumidores, representa mais um atributo para nortear suas escolhas, por disponibilizar informações sobre a conduta da empresa e a forma em que o produto foi gerado. O consumidor brasileiro vai se beneficiar muito da iniciativa pois passará a ter informações que hoje não estão disponíveis ou só estão com certa dificuldade. Para o consumidor consciente, que quer maximizar o impacto positivo de suas escolhas de consumo, as informações do IS serão ainda mais importantes. Fonte: Instituto Akatu

Moda reciclável “Se você é alguém engajado com as causas sociais e ambientais, adquira um produto Modelarte e fique em dia com a moda, exercendo sua responsabilidade social e contribuindo com o desenvolvimento sustentável.” O convite é das mulheres costureiras que fazem moda a partir da reciclagem de resíduos sólidos pós-consumo. A Cooperativa Modelarte Ateliê Mulheres das Pedrinhas foi fundada em 2004 no município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e conta com a participação de 30 mulheres da comunidade, sendo que outras 87 já passaram pelo projeto e foram capacitadas para atividades de corte e costura. O município de São Gonçalo está entre os dez municípios fluminenses que mais arrecadam impostos, mas apresenta graves problemas ambientais e sociais, o que valoriza ainda mais iniciativas como o Projeto Reciclagem Social, que deu origem à cooperativa. O projeto é desenvolvido pela Ong Guardiões do Mar e conta com o patrocíneo da Petrobras.

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Racismo ambiental A destinação do lixo é um problema para todos os espaços, e nas grandes cidades tem proporções ainda maiores. Nessas cidades, o lixo é o meio de sobrevivência de várias pessoas remanescentes da comunidade negra. Em muitos casos, o catador de lixo, dentro da estrutura social, é confundido com o próprio excedente que cata, sendo vítimas, portanto, de vulnerabilidade ambiental, econômica, de saúde e sóciopsíquica. Na Bahia, o Movimento Wangari Maathai busca, através da educação ambiental, promover justiça ambiental para a comunidade negra. Na comunidade Ferreira Santos, em Salvador, onde grande quantidade de pessoas trabalham catando lixo, a entidade incentivou um programa de coleta seletiva e buscou o empoderamento da comunidade através da educação ambiental. Para Taneska Santana, coordenadora do Movimento Wangari Maathai, “A reciclagem é uma atividade auto-sustentável e contribui no desenvolvimento nas localidades, estando vinculada ao desenvolvimento humano, rentabilidade, bom estado ambiental e saúde coletiva”. O movimento objetiva, ainda, a luta anti-racista e de gênero, buscando a valorização dessas pessoas e trabalhando a baixa estima marcada pelas representações infeirorizadas.



LINH CRU A

Algumas questões de RSE ainda passam ao largo na gestão das empresas de telefonia no Brasil, mas há avanços

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AS ZADAS Sara Caprario

Abordar o tema telefonia na realidade atual é muito complexo porque a chamada convergência digital faz com que as prestadoras de serviços do setor sejam também provedoras de internet e até transmissoras de sinal de televisão. As operadoras presentes no Brasil dividem-se em telefonia móvel e fixa. Nesta última estão separadas em locais e de longa distância. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) regula o setor que possui uma importante capilaridade de atua-

ção em todo o país, gerando empregos e colaborando com projetos sociais e culturais. Em troca essas empresas têm uma volumosa receita por conta da variedade de prestação de serviços a milhões de clientes. Essa importante representatividade para a economia aumenta ainda mais os compromissos com o desenvolvimento sustentável destas operadoras, concessionárias de serviços públicos como a oferta de telefonia fixa em todo o país. Uma das preocupações atuais é a concentra-

ção de investimentos (veja quadro). Ao abordarmos Responsabilidade Social Empresarial (RSE), abrangemos questões como a prioridade, com qualidade e respeito no atendimento ao consumidor, contratação de fornecedores, relações com o publico interno e, por fim, as ações para as comunidades. As respostas revelaram poucos avanços na gestão de Responsabilidade Social Empresarial no Brasil, o que difere um pouco do comportamento das controladoras internacionais.

Entre as empresas que atuam no Brasil, escolhemos seis – três da telefonia fixa (Embratel, Brasil Telecom e Telefônica) e três da comunicação móvel (Vivo, Claro e Tim) – para entrevistar. Quatro atenderam o pedido. A Brasil Telecom encaminhou as questões para vários departamentos, segundo a assessoria de imprensa, o que revelou a ausência de uma política consolidada de RSE, mas mesmo assim as respostas não vieram porque a empresa alegou falta de tempo. A Embratel também não respondeu as perguntas.

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LINHASCRUZADAS Após a privatização do setor, há uma evidente expansão quantitativa da telefonia. No entanto, sem falar dos custos das tarifas, esta expansão ainda não se transformou em avanços com alta qualidade no respeito aos usuários e nas relações com o público interno, com funcionários que trabalham nos calls centers ou em inovadoras relações com os fornecedores.

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RSE

No contexto internacional os relatórios de sustentabilidade são tidos como o grande referencial para conhecer e medir as políticas de RSE de cada empresa. Na área de telefonia o destaque mundial fica para a British Telecom, que em 2006 apresentou o melhor relatório de sustentabilidade segundo a avaliação da SustainAbility, UNEP e Standard & Poors( Tomorrow’s Value -The Global Reporters 2006 Survey of Corporate Sustainability Reporting - ver matéria página 32), em 2006, e está entre os 100 melhores no ranking geral da lista divulgada no Fórum Econômico Mundial dos 100 mais sustentáveis, segundo Corporate Knights

Inc. e Innovest Strategic Value Advisors Inc. Estas empresas estão à frente no relacionamento com seus stakeholders. A British Telecom, por exemplo, tem um excelente relatório socioambiental, um código de boas práticas e um código de vendas que rege as ações nesse sentido. E as questões vão além dos simples projetos sociais e culturais, ou contratação de pessoas com deficiência. A empresa da Inglaterra está preocupada em tornar-se neutra na emissão de gás carbônico para combater o aquecimento global, assim como ruma para estabelecer a privacidade numa economia digital em rede, ou seja, evitar que dados de seus clientes façam parte de listas de malas diretas ou outras ferramentas do marketing do tipo. Outros temas relevantes, e que por aqui ainda são incipientes, dizem respeito à rede mundial de computadores e a acessibilidade,


Bons exemplos

NICA AZEVEDO

como a censura de sites como o You Tube na China e recentemente no Brasil, o uso abusivo da internet para pornografia e crimes, e ainda a marginalidade virtual dos hackers e criadores de spams. Em terras verde e amarelas as ligações entre serviços de telefonia fixa, móvel, banda larga e vídeo com as questões de RSE ainda encontram linhas ocupadas. É que alguns obstáculos ainda precisam ser ultrapassados para que o tema possa estar na raiz da gestão das empresas. Aqui patina-se em temas como o atendimento ao consumidor, uma parte da RSE, portanto um assunto que precisa ser resolvido com competência e qualidade para que a responsabilidade avance no setor. A telefonia ocupa há tempos o segundo lugar do ranking de reclamações do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). A advogada da entidade, Daniela Trettel, diz que a principal reclamação são os atendimentos via call center. “Os consumidores dizem que não conseguem resolver quase nada por este canal e o pior, se sentem mais confusos”, diz ela e complementa: “Estes profissionais atuam sob pressão e em muitos casos são despreparados tecnicamente”. Outra reclamação constante dos consumidores diz respeito à própria prestação de serviços, que abrange problemas como cobranças indevidas e qualidade na cobertura do sinal . “As pessoas compram uma linha de celular com a promessa de poder usar em qualquer lugar, mas há sérios problemas de sinal em algumas regiões e tam-

- Entre alguns bons exemplos de comprometimento com questões de sustentabilidade, a Vivo revela a perspectiva em torno do assunto Emissões Eletromagnéticas. A empresa pretende implantar programas que propiciem educação e informação à comunidade sobre o tema, além de participar das discussões dos aspectos legais junto aos órgãos reguladores e criar ferramentas para atualização de pesquisas técnicas sobre o assunto e cumprimento das normas da Anatel. - Desde 2005 a Vivo promove o recolhimento de baterias de celular nas lojas para conscientizar os usuários sobre a importância dessa atitude de preservação do meio ambiente. Também foi realizada a reciclagem de baterias de estação rádio base, cujo valor arrecadado foi doado ao Instituto Vivo para ser aplicado em projetos sócio-ambientais. Seguindo a mesma linha, os resíduos recicláveis nos prédios administrativos, são coletados e vendidos pela empresa. O valor arrecadado é doado a Instituições e Projetos Sócio-Ambientais. - A Tim mantém um programa de participação nos lucros que abrange todo o quadro funcional. Apesar de a legislação trabalhista ter regulamentado, em 2000, a questão para ser discutida nos acordos coletivos, muitas empresas não implantaram programas do tipo. Os valores são calculados a partir de metas estipuladas para as três diferentes áreas do programa: MBO (Management By Objectives), para diretores, gerentes e coordenadores; PIR (Programa de Incentivo a Resultados) para a área de vendas; e o PPR (Programa de Participação nos Resultados) para as áreas administrativas da companhia. Em 2004 foram distribuídos entre todos os colaboradores R$ 6,1 milhões pela subsidiária Tim Sul e R$ 4, 5 milhões pela Tim Nordeste. - Funcionando oficialmente desde 2004, o Núcleo Voluntário da Claro permite a doação do tempo dos funcionários e estagiários, sem prejuízo das atividades profissionais, para atividades sociais. O Núcleo promove campanhas periódicas e realiza mensalmente uma ação em alguma comunidade durante meio dia de expediente. A empresa encerrou 2006 com mais de 800 voluntários em todo o país. - Através da inclusão digital, a Embratel quer estimular também a inclusão social. Com o projeto Embratel Educação, desenvolvido pelo Instituto Embratel, são disponibilizadas tecnologias de comunicação nas escolas rurais da rede pública, localizadas em regiões remotas ou de fronteiras. Com acesso à internet, as crianças, adolescentes e mesmos os adultos deixam de estar excluídos do mundo digital. São oferecidos ainda cursos on line para utilização de aplicativos, como editor de texto, planilha eletrônica e uso do correio eletrônico.

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LINHASCRUZADAS bém quando o cliente viaja”, diz Daniela. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

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NICA AZEVEDO

Na cobertura de um país continental como o Brasil há espaço para todas as empresas crescerem, apesar da acirrada concorrência. O que diferencia uma operadora da outra são quesitos como a qualidade dos serviços oferecidos, custos e atendimento ao consumidor. Segundo dados do balanço da Tim divulgado em setembro de 2006, são 24,1 milhões de clientes, com uma cobertura de 91% da população urbana em mais de 2400 cidades, 43% do total. Mas isso não significa que as outras regiões tenham acesso ao serviço através de outras operadoras. Uma pesquisa de setembro do ano pas-

sado da Associação Telebrasil, representante das indústrias e empresas de serviços de telecomunicações, mostra que 42,3% dos municípios brasileiros não são atendidos por nenhuma operadora de telefonia celular. Eles somam 10,5% da população do país. Os dados mostram que as operadoras concentram-se nos mercados mais lucrativos. Em 21% dos municípios, onde se aglomeram 47,4% da população do país, os clientes são disputados por quatro operadoras. Nesta situação se encontram, por exemplo, o Rio de Janeiro e o Distrito Federal. Em 17,3% dos municípios, que somam 35,3% da população, o mercado é disputado por três operadoras, o caso de São Paulo. Em 8,4% dos municípios, o serviço é prestado por

QUEM É DE QUEM

duas operadoras e em 10,9% só existe uma operadora. As informações repassadas pela empresa destacam que o Código de Ética e Conduta traduz a postura de relacionamento com funcionários, fornecedores e clientes. Em 2005 foi inaugurado em Santo André (SP) o projeto Pisa da Tim, um complexo de atendimento com tecnologia avançada e para a empresa evidencia a aposta de que a atenção ao cliente será um fator crucial para o futuro das operadoras. Os canais de comunicação hoje disponíveis incluem uma central de atendimento 24 horas, o site, a Ouvidoria e um Conselho de Clientes, sendo que este último funciona através de fóruns de discussão que ocorrem periodicamente e envolvem lideran-

TIM – Pertence ao Grupo Telecom Itália, um dos líderes do setor na Europa. No Brasil desde 1998, o Grupo atua através da TIM Brasil Serviços e Participações S.A. CLARO - A operadora é controlada pelo grupo America Movil, o maior do setor de telefonia celular da América Latina, com cerca de 116 milhões de clientes de linhas fixas e móveis em países como Argentina, Chile, Colômbia, El Salvador, Equador, EUA, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, Peru e Uruguai. A América Movil se fundiu com a América Telecom (antiga Carso Global Telecom) controladora também da Telmex (No Brasil controla a Embratel).

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VIVO - A integração dos ativos de telefonia móvel dos Grupos Portugal Telecom e Telefónica no Brasil formou a Vivo. Sob a marca Vivo estão abrigadas as holdings Telesp Celular Participações S.A., Celular, CRT Participações S.A., Tele Sudeste Celular Participações S.A., Tele Centro Oeste Celular Participações S.A. e Tele Leste Celular Participações S.A. BRASIL TELECOM – O Grupo Brasil Telecom Participações surgiu da privatização do Sistema Telebrás e detém 99% das ações de um grupo que inclui outras empresas como a Brasil Telecom Celular e a iBest, provedora de internet.

SÉRGIO VIGNES

ças de 10 regiões de Santa Catarina e do Paraná, cujas sugestões e idéias são faladas diretamente aos diretores da Tim. Na operadora de telefonia celular Claro, a responsável pela área de responsabilidade social, Flávia Constant, diz que a prioridade é atender ao consumidor final em todas as suas necessidades e para isso trata as solicitações dos clientes nos vários níveis de atendimento. “A companhia possui um escalonamento das questões solicitadas, desde as mais simples até questões que requerem outras necessidades para solucionar. A Claro não deixa de responder a nenhuma solicitação”, diz ela. Os canais são o número do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), para o qual o cliente pode

Empresas revelam esforço em atender melhor os consumidores

ligar, gratuitamente, do celular ou telefone fixo, e o serviço fale conosco, disponível no site. Na outra operadora na área de comunicação móvel, a Vivo, o cliente pode se comunicar pela

TELEFÔNICA – Faz parte do Grupo Telefônica, um dos dez maiores conglomerados globais em telecomunicações. Presente em mais de 40 países, o Grupo tem no Brasil a Vivo, uma jointventure com a Portugal Telecom e ainda as duas maiores operações do país em internet (Terra Lycos e a Atento, call center e contact center). EMBRATEL – A empresa é uma das controladas pela Telmex e Float. A Telefônica Mexicana atende todo o México e tem operações na Argentina, Colômbia, Chile, Peru e EUA, além do Brasil. Dentro do grupo destacamse as empresas Star One de satélites, Vésper e a Click 21.

Central de Relacionamento telefônico e pela rede de terminais de auto-atendimento, a segunda maior do Brasil, ficando atrás apenas do sistema bancário. Disponíveis em todas as lojas próprias da operadora, os equipamentos permitem que os clientes acessem serviços com facilidade e rapidez, realizando consulta de créditos, emissão de boletos ou segunda via da fatura, saldo parcial, emissão de conta resumida ou detalhada, extrato do Programa de Pontos, além de acessar informações sobre aparelhos, planos e promoções. Pela internet, os clientes também encontram um canal de informação. Por outro lado, os consumidores não estão satisfeitos porque sentem dificuldades na hora de solucionar problemas mais específicos, como inclusão de nomes em bancos de dados de proteção ao crédito e contas com cobranças. Segundo os rankings da Anatel, a média de reclamações gira em torno de 20 mil por mês em cada empresa. Embora existam programas das emprePrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

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LINHASCRUZADAS sas em atender, estes não são bem administrados e resolvidos. RELAÇÕES DE TRABALHO

SÉRGIO VIGNES

E é aí que está uma das preocupações atuais de RSE: as relações de trabalho, que inclui a terceirização, especialmente nos call centers. Segundo o Sinttel (Sindicato Nacional dos Telefônicos), menos de 10% dos trabalhadores do setor são funcionários das operadoras Estima-se que dos quase 700 mil funcioná-

rios do setor, 56% trabalhem para as indústrias e o setor de telecomunicações, vindo depois o setor do varejo. Mas o volume não significa qualidade. Segundo a advogada do Idec, as exigências de rapidez no atendimento é um dos problemas mais apresentados pelos consumidores. “A tela de atendimento de um call center geralmente possui sistemas de alertas ao operador para que ele resolva logo o problema, como a tela do computador ir mudan-

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Concorrência: lojas autorizadas estão lado a lado

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do de cor para vermelho, pressionando o funcionário a concluir o atendimento ou repassá-lo para outro setor rapidamente. Isso nem sempre significa resolver o pedido ou esclarecer uma questão”, diz Daniela. Outro grave problema está no cumprimento da legislação trabalhista. Todos os dias, o Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing (Sintratel) de São Paulo é procurado por mais de 30 trabalhadores todos os dias que se queixam de doenças relacionadas às atividades realizadas. Lesões por esforço repetitivo (LER), perda de audição, desenvolvimento de calos nas cordas vocais e até mesmo a perda da visão estão entre as principais doenças desenvolvidas pelos operadores de telemarketing. Atualmente, eles trabalham 36 horas por semana, mas o Sintratel quer limitar a jornada a 30 horas. Estes trabalhadores enfrentam sérios problemas trabalhistas que não são atribuídos às grandes empresas do setor e sim aos pequenos empresários terceirizados. A RSE significa uma co-responsabilidade na conduta de valor. Pelo enorme poder e faturamento, as grandes empresas de telefonia poderiam criar planos em conjunto com as empresas terceirizadas visando a melhoria das condições de trabalho. A melhor divisão do bolo ao longo da cadeia de valor seria um exemplo significativo em termos de RSE. Enquanto isso não ocorre, do outro lado da linha o consumidor continua reclamando. Uma pesquisa da TNS InterScience, em-


FORNECEDORES

A RSE se estende para cadeia de valor, portanto, as empresas, através de critérios que visem o desenvolvimento sustentável e social, podem induzir e gerar efeitos positivos ao longo da sua cadeia de fornecedores. E a parceria com fornecedores é importante no setor de telefonia por conta das lojas franqueadas e autorizadas a representar os serviços. Nesse sentido, a Claro exige que o processo de escolha seja feito com base em aspectos técnicos, profissionais e éticos. Segundo Flávia Constant, a relação comercial estabelecida é baseada na sinceridade, honestidade, cortesia, presteza e segundo as diretrizes estabelecidas na Política de Contratos da Empresa. “Fornecedores com reputação duvidosa, ou que comprovadamente não cumpram com suas obrigações legais, não devem ser contratados, não sendo tolerada a contratação de mão-de-obra forçada, compulsória ou infantil”. A Tim respondeu que só podem ser fornecedores as empresas que estejam em dia com suas obrigações fiscais e trabalhistas, assim como as empresas terceirizadas. A Vivo não quis abor-

Alô consumidor!

presa global do segmento de pesquisas encomendadas, concluiu que o percentual de consumidores insatisfeitos com atendimento em call center apresentado no estudo é elevado (38%), O grande causador da insatisfação foi o atendimento eletrônico, com esperas mal administradas e dificuldades de contato com o atendente.

Após muitos adiamentos e indefinições, a Anatel definiu o prazo para implantação da cobrança das ligações locais em minutos. Essa mudança é importante para aumentar os direitos do consumidor ao acesso de informações dos serviços utilizados. Entre março e julho deste ano as operadoras serão obrigadas a converter a forma de cobrança das ligações locais, de pulso para minuto, além de informar ao consumidor seu perfil de assinante (que tipo de ligação faz e o tempo de duração de cada uma), e ainda fornecer um plano básico e um plano alternativo, o PASOO (Plano Alternativo de Serviços de Oferecimento Obrigatório). O Idec divulga amplamente a mudança para evitar riscos de o consumidor pagar mais caro se não escolher o plano adequado ao seu perfil de consumo. Segundo a proposta colocada pela Anatel em consulta pública, a nova opção do consumidor será um plano alternativo. As concessionárias serão obrigadas a ofertar esse plano a todos os consumidores e o reajuste será o mesmo do plano básico. Nessa nova opção, o minuto custará um quarto do que custa o pulso hoje. A definição do melhor plano depende do perfil do consumidor, já que para quem faz mais ligações locais e mais curtas, de até 3 minutos, a melhor opção é ficar com o plano básico quando ocorrer a conversão para minutos. Quem usa muito o telefone para ligações com duração superior a 3 minutos, compensa optar pelo plano alternativo que a Anatel acaba de propor. Atualmente a conta vem sem informações claras, impedindo que o consumidor conheça seu perfil. PORTABILIDADE Outra mudança é a implantação da portabilidade numérica, que permitirá ao usuário permanecer com o número de telefone mesmo mudando de operadora. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix), José Fernandes Pauletti, a intenção do conselho diretor da Anatel era colocar o assunto em pauta no final de fevereiro (até o fechamento desta edição o assunto ainda estava indefinido). A proposta inicial, apresentada para consulta pública pela Anatel em setembro do ano passado, previa que até meados de 2008 a portabilidade começaria a ser implantada no País. Mas esse prazo deverá ser estendido para permitir todas as mudanças necessárias nas redes das empresas. De acordo com as regras, a portabilidade poderá se dar somente na mesma modalidade de serviço: entre operadoras de telefonia celular ou entre empresas de telefonia fixa. Se mudar de operadora, o cliente poderá preservar o número somente se permanecer morando no mesmo município, no caso da telefonia fixa. No caso dos celulares, a portabilidade poderá ser aplicada nas cidades com o mesmo código de área (DDD).

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LINHASCRUZADAS

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dar o assunto, mas no site a empresa divulga que realiza suas compras de acordo com um Modelo de Gestão comum, que se caracteriza pela globalização das compras, pela profissionalização dos seus compradores, pela transparência no processo e pela igualdade de oportunidades dadas a todos os fornecedores. A gestão das Compras é realizada em Mesa de Compras, um fórum onde participam as Regionais envolvidas, as áreas de clientes, e a coordenação é realizada pela Diretoria de Compras. Para determinadas aquisições também há a participação da matriz em Portugal e Espanha o que permite a realização de uma gestão local ou global das compras adequando-se às necessidades de cada momento. As mesmas características são divulgadas pelo Grupo Telefônica, que tem participação no controle da Vivo. A diferença é que a gestão das compras é rea-

lizada em nove Mesas de Compras sediadas em Madri, São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Santiago do Chile, Lima, Caracas, Bogotá e México. As informações levam a concluir que a questão de cadeia de

valor não está dentro das possibilidades de incluir a responsabilidade social, que exige critérios além do que estipula a legislação. Ou seja, além da Claro que adota na seleção critérios éticos e sociais, além dos comerciais, as outras empresas não destacam preocupação em comprar de fornecedores que seguem padrões socioambientais. Em relação ao público interno, as empresas possuem políticas diferentes de contratação e de valorização de gênero ou raça dentro dos quadros de funcionários. Na visão do Grupo Telefônica o capital humano é uma de suas fortalezas e as empresas norteiam suas políticas de tal forma a oferecer visão clara de oportunidades e de crescimento. Os Planos de Remuneração e de Carreira se dá através de políticas estruturadas que buscam a atração, retenção e fidelização dos talentos. São políticas constituídas de mecanismos de remu-

INOVAÇÃO

Tele... visão ou fone? A televisão sobre protocolo de internet, batizada de IPTV, era uma alternativa para as operadoras de telecomunicações completarem sua oferta de telefonia, vídeo e internet. A tecnologia permite ligar uma conexão de banda larga direto a um conversor para assistir ao conteúdo na televisão. Mas por impedimentos de regulamentação, as operadoras estão buscando parcerias com empresas de satélite e comprando companhias de TV a cabo para garantir a oferta do serviço. A regulamentação não deixa as operadoras oferecerem canais de televisão por IPTV, somente vídeos avulsos, sem programação. Enquanto aguardam a posição da Anatel, as empresas vão testando pilotos. A Telefônica fez acordo de TV via satélite com a DTHi. A Brasil Telecom e a Telemar com a Sky+DirecTV. Exemplos internacionais motivam a implantação desta tecnologia, mas que ainda não es-

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tará sendo usada em larga escala, já que as operadoras precisariam fazer volumosos investimentos para garantir o funcionamento. Nos Estados Unidos, a AT&T lançou um serviço chamado Home Zone. É uma mistura de televisão por satélite e vídeo por banda larga possível de assistir na televisão. No Brasil a briga inclui a concorrência com as empresas de televisão, que temem perder espaço. A Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil) fez um estudo em que defende a revisão do modelo de telecomunicações, com a entrada das teles em TV por assinatura pela IPTV e a TV via celular. No mundo inteiro há expectativas quanto ao desenvolvimento deste setor. Por enquanto somente duas empresas têm mais de 500 mil assinantes, a Free na França e a PCCW, em Hong Kong. Mas pesquisas estimam que até 2010 serão movimentados US$ 10 bilhões, com 25 milhões de usuários.


neração fixa e variável, aliando Planos de Benefícios e de Vantagens. A valorização dos funcionários da Tim se dá através de benefícios e programas de participação nos lucros. Mas não há claramente uma política de diversidade de gênero e raça, já que a empresa publicou no último Relatório de Sustentabilidade, em 2005, os indicadores de desempenho social que mostram um índice de 60% das mulheres na companhia, mas uma média de 25% ocupam cargos de chefia e nenhuma tem cargo na diretoria, e os salários, na média, são mais baixos que os homens em todos os níveis. A Claro também divulga no Balanço Social de 2005 seus indicadores, que mostram que 42% dos cargos de chefia são ocupados por mulheres e 4% por negros, sendo que as mulheres representam pouco mais de 50% do número de empregados e os negros cerca de 13%. Ao realizar esta matéria, podemos observar que o tema ainda precisa evoluir no setor. Apesar de estarem com foco no mercado, parecem não dar conta de que RSE deveria fazer parte do planejamento estratégico e ser incorporado no centro dos negócios. Para um setor importante para a economia de um país e que mexe com bilhões em recursos, sociedades de capital aberto e empresas multinacionais, ainda é preciso que incorporem a responsabilidade social como além das ações voltadas à comunidade através do esporte, lazer ou preservação do meio ambiente. É preciso gerir o todo com práticas responsáveis.

Projetos sociais e culturais ESPORTE NO FOCO Desde 2001, a Claro é a principal mantenedora do Instituto Bola Pra Frente, iniciativa dos tetracampeões brasileiros de futebol Jorginho e Bebeto para promover o resgate de meninos e meninas de 6 a 16 anos, em situação de risco social. Localizado em Guadalupe, comunidade de baixa renda da zona norte do Rio de Janeiro, o Bola Pra Frente utiliza a imagem de atletas consagrados para atrair os jovens e oferecer condições de um futuro melhor. O Instituto atende anualmente 700 crianças e adolescentes. Oferece, gratuitamente, diversas modalidades esportivas (futebol, futsal, caratê e vôlei), apoio pedagógico, preparação para o mercado de trabalho, aulas de informática e palestras. Na mesma área, a Vivo promove a Caravana do Esporte, oficinas de esporte com crianças e adolescentes de cidades brasileiras com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e curso de formação para professores da rede pública de ensino, capacitando-os para a continuidade do projeto. Atletas como Ana Moser (vôlei), Jacqueline Silva (surf) e Sócrates (futebol), juntamente com professores e coordenadores pedagógicos do Instituto Esporte e Educação viajaram para as dez cidades selecionadas pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

ACESSO À CULTURA Os dados fornecidos pela Tim destacam que a empresa desenvolve e apóia 40 programas sociais contínuos que, em 2006, beneficiaram 50 mil pessoas no país. O de maior alcance nacional é o Tim Música nas Escolas, implantado em oito cidades, que beneficia atualmente 15 mil crianças e adolescentes da rede pública de ensino. Iniciado em 2003, o programa conta com a parceria de secretarias municipais e estaduais de Educação para oferecer acesso ao aprendizado da música. As oficinas funcionam dentro das escolas. Com o programa Claro para Todos no Cinema, a operadora difunde a cultura levando crianças e jovens de baixa renda como convidados especiais para os eventos de pré-estréias de filmes apoiadas pela empresa. No ano passado mais de 350 crianças e adolescentes assistiram aos filmes “O Bicho vai Pegar”, “Carros” e “Os sem floresta”.

EDUCAÇÃO E RENDA Os encontros entre representantes da iniciativa privada, educadores, economistas, comunicadores e gestores públicos da educação, em 2005, para discutir caminhos e alternativas de efetivação do direito à educação pública de qualidade no Brasil deu origem ao compromisso Todos Pela Educação. A Vivo participa desta mobilização desde o início e difunde os princípios da mobilização e conscientização da sociedade sobre a importância do tema, além de manter programas como o Ler para Crer, em São Paulo, que transforma os livros do acervo das bibliotecas municipais em braile ou gravados (livro falado). Além de abranger vários estados, a Tim atinge necessidades regionais com programas mais específicos, como o Alfa 100, que tem o objetivo de diminuir o analfabetismo no Acre, detentor do maior índice brasileiro do problema. Mais de 60 mil jovens e adultos já passaram pelo programa, idealizado com base na educação popular do pedagogo Paulo Freire.

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Opinião

DIVULGAÇÃO ETHOS

O Sapo e o Escorpião

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MARCELO LINGUITTE Diretor-gerente da Terra Mater Empreendimentos Sustentáveis. Atuou durante oito anos no Instituto Ethos nas áreas de Relações Empresariais e de Relações Internacionais e Institucionais

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Acredito que todos conheçam a fábula do sapo e do escorpião. Nessa história, um escorpião precisava atravessar um rio e pediu a um sapo que o levasse para a outra margem. O sapo respondeu que nunca faria isso, pois temia que ele lhe desse uma ferroada durante o percurso. O escorpião disse ao sapo que isso nunca iria acontecer, já que os dois poderiam morrer. O sapo se convenceu e colocou o escorpião em suas costas. Durante a travessia, o escorpião deu uma ferroada no sapo, que, agonizando, perguntou: “Mas você não disse que não iria me ferroar? E o escorpião responde: “Desculpe, é meu instinto!”. Essa história ilustra bem um ponto que é fundamental quando se fala de incorporação da Responsabilidade Social (RSE) na gestão das empresas: para a maioria delas, “o instinto” natural de seu condottiere, o CEO, é promover uma gestão focada “apenas” nos próprios interesses e resultados da empresa, sem que aspectos sociais e ambientas mais amplos sejam levados em conta. Esse “instinto” do CEO busca atingir resultados restritos ao trimestre, e impede que ele perceba que, para o sucesso da empresa no longo prazo, é importante promover o desenvolvimento sustentado da sociedade e do meio ambiente. Esse “instinto” não aparece por acaso, pois a própria lógica de mercado impulsiona os CEOs no sentido contrário ao da RSE. Competição, carga tributária excessiva, globalização, cobrança dos acionistas etc. acabam desestimulando estratégias de negócio baseadas na RSE. Nesse cenário, fica evidente que uma gestão socialmente responsável somente pode ser conseguida com esforços firmes e coordenados. Isso significa, inicialmente, comprometimento da alta administração com o tema. Sem um compromisso e envolvimento genuínos desse público, a RSE ficará no discurso, sem maiores impactos nos negócios. O CEO deve buscar de forma intencional incorporar em suas análises ingredientes sociais e ambientais, ampliando seus parâmetros de sucesso para além da componente econômica, sem, é claro, desconsiderá-la. Afinal de contas, se não existir meio ambiente saudável e cidadãos com renda para comprar produtos e serviços, também não existirão empresas lucrativas. É bastante comum a rotatividade em cargos mais altos dentro das empresas. Muitas vezes, um CEO recém-contratado contratado vê sua nova empresa apenas como um trampolim para uma outra posição que considera mais interessante. Daí, desenvolve todo um conjunto de estratégias de curto prazo – nada alinhadas com a RSE - voltadas para valorizar a empresa e seu próprio “passe”. Assim fica realmente difícil pensar em incorporar o tema na empresa. Porém, há espaços importantes para que um CEO possa contribuir para a melhoria do desempenho de sua empresa através da incorporação da RSE. Seria certamente inovador e valorizaria muito mais o executivo perante o mercado, já que as questões da RSE e do Desenvolvimento Sustentável estão se tornando temas centrais no mundo e, quem estiver apto a lidar com eles, ganhará pontos importantes. Chegou a hora de os CEOs perceberem a sua responsabilidade nesse processo e darem sua parcela de contribuição.



MUNDO DO TRABALHO

Qualidade na vida

Aposentadoria dentro de casa CHEFIA MASCULINA

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No universo da administração pública federal, 64,7% dos cargos de Direção e Assessoramento Superiores (DAS), ou cargos de chefia comissionados, são ocupados por homens e apenas 35,3% por mulheres. É o que revela pesquisa de mestrado do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de Brasília (UnB), elaborada pela economista Tânia Fontenele Mourão. Há três hipóteses levantadas pela economista para explicar o fenômeno que reduz drasticamente o número de mulheres em cargos de chefia: “Em geral, homens convidam homens para cargos estratégicos e políticos e as mulheres também não querem abrir mão de ter mais qualidade de vida, além de não terem estímulo organizacional para que alcancem as lideranças”, comenta a pesquisadora.

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A

s donas de casa brasileiras conquistaram, através da Emenda Constitucional no 47 , o direito à aposentadoria para aquelas de baixa renda ou que não possuem nenhum rendimento. Mas não adianta ir ao INSS solicitar o benefício: mesmo aprovada em 2005, a Emenda ainda depende de regulamentação através de lei a ser aprovada no Congresso. A ex-deputada Luci Choinacki, que apresentou o projeto de Emenda Constitucional prevendo a aposentadoria para as donas de casa, afirma que sua aprovação é fruto da mobilização das mulheres: “Muitas dessas mulheres diziam que só trabalham em casa. Só? Elas cuidam de filhos, lavam, cozinham, passam, cuidam da creche, da escola, da comunidade, cuidam de pessoas com deficiência, dos idosos. Elas fazem o trabalho que o Estado não faz e dizem que não trabalham. Essa afirmação só existe porque esse trabalho culturalmente não foi reconheciFERNANDA PAPA / FES

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empresas públicas receberam o Selo do Programa Pró-Eqüidade de Gênero, por promover relação mais igualitária entre homens e mulheres. O prêmio é da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) e Organização Internacional do Trabalho (OIT). Entre as vencedoras, a Petrobras, que nomeou a primeira mulher para o comando de uma refinaria de petróleo; a Caixa Econômica, que tem uma mulher presidente e emite CPF gratuito para mulheres; e Eletrosul, Itaipu, Eletrobrás, Cepel, CGTEE, Eletronorte, Eletronuclear, Furnas, e Companhia Energética de Alagoas.

Mulheres buscam reconhecimento do trabalho doméstico através da inclusão previdenciária

Luci Choinacki: “Foi preciso a construção da consciência política das donas de casa sobre seu próprio direito.”

do no Brasil. Não foi reconhecido porque as mulheres não tinham espaço para se organizar e lutar.” Essa luta começou no ano 2000, quando as mulheres agricultoras passaram a gestionar pelo direito das donas de casa. A partir de 2001, as donas de casa, apoiadas pelo movimento de mulheres, movimento feminista, sindicatos, pastorais sociais e movimento popular saíram às ruas, realizaram grandes marchas nacionais e entregaram no Senado, em 2003, abaixo-assinado com um milhão de assinaturas defendendo seus direitos. O trabalho gratuito realizado dentro de casa não é valorado na economia e é desconsiderado nas estatísticas. Os economistas Hildete Pereira de Melo, Claudio Monteiro Considera e Alberto Di Sabbato procuraram calcular o valor dos afazeres domésticos executados por membros das famílias não remunerados, a partir das informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, que desde 2001 investiga o número de horas utilizado pela população na execução de afazeres domésticos. Eles concluíram que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro aumentaria 12,76% no ano de 2004, caso fosse mensurado o trabalho doméstico. Isso equivale a soma de R$ 225,4 bilhões, nesse mesmo ano, caso fosse computada uma renda equivalente à remuneração média dos serviços domésticos terceirizados. Distribuição de renda Para Choinacki, a inclusão previdenciária das donas de casa cumpre um papel fundamental na luta contra a pobreza e significa um avanço importante na direção da redução


das desigualdades sociais, econômicas e de gênero e na redução da violência. “A inclusão previdenciária é uma dívida que o Estado brasileiro tem com a população mais pobre e afro-descendente, principalmente as mulheres”, afirma. O universo estimado de pessoas que poderiam usufruir desse benefício (mulheres de 60 anos ou mais de idade, sem rendimento, em domicílios com rendimento menor que dois salários mínimos) é de 655.270 idosas, o que corresponde a um dispêndio aproximado de R$ 3 bilhões no primeiro ano, considerando o valor do salário mínimo de R$ 350,00. Polêmica Instituído o direito à aposentadoria às trabalhadoras doméstica sem rendimento, inicia-se o longo debate sobre a forma de conceder o benefício. Vários projetos foram apresentados, prevendo desde a não contribuição (reivindicada pelas donas de casa, que não têm salário) até a alíquota de 11% ou 20%. Na proposta apresentada pela então deputada Luci Choinaki, o sistema de inclusão dos novos benefícios seria inicialmente sem contribuição, mas é previsto um sistema progressivo de introdução da contribuição ao longo da implantação do sistema. O valor do benefício mensal não causa polêmicas, ficando estabelecido em um salário mínimo nas propostas apresentadas. As dúvidas estão em como comprovar que a mulher com mais de 60 anos é uma dona de casa sem renda. No caso das trabalhadoras rurais, que já contam com o direito de aposentadoria regulamentado, a comprovação da atividade se dá com prova testemunhal, declaração de associada ao sindicato da categoria ou escritura de propriedade no INCRA. As trabalhadoras urbanas têm sua carteira de trabalho para requerer seus direitos. No caso das donas de casa, a lei regulamentar deverá dar conta, também, da forma de comprovação. O certo é que a inclusão previdenciária das mulheres significa uma mudança cultural significativa em nossa sociedade e o reconhecimento de que a mulher e mãe presta um serviço que produz valor para toda a sociedade.

Empresas exemplares Cem grandes empresas pretendem se tornar “empregadores exemplares” e, para isso, aderiram a uma iniciativa do governo inglês de promover as oportunidades de emprego para as mulheres. Entre elas Wal-Mart (Asda), Shell, HSBC, Ford e IBM. Para se tornar um empregador exemplar, a empresa tem que se comprometer a reduzir a diferença de remuneração entre mulheres e homens e implantar projetos que facilitam o trabalho em tempo parcial para mulheres, além de estimulá-las a se tornar executivas. Os programas a serem adotados pelas empresas participantes do programa pode também ultrapassar os limites das fábricas, abrangendo por exemplo o estabelecimento de relações mais próximas com as escolas para promover o interesse das estudantes na escolha de carreiras tradicionalmente

dominadas por homens. Ou ainda formar grupos de apoio para mães trabalhadoras, melhorar os serviços de creche e estabelecer estágios em engenharia e construção específicamente direcionados às mulheres. Outra medida do governo ingês se aplica às entidades públicas britânicas, que a partir de abril serão obrigadas a realizar auditorias para garantir igualdade de remuneração entre homes e mulheres.

Desemprego no mundo em níveis sem precedentes O número de pessoas desempregadas no mundo manteve-se elevado a níveis sem precedentes em 2006, apesar do robusto crescimento econômico. A conclusão é do relatório anual Tendências Mundiais do Emprego, da Organização Internacional do Trabalho (OIT). De acordo com o relatório, embora haja mais pessoas trabalhando do que antes, o número de desempregados manteve-se na marca de 195,2 milhões de pessoas em 2006. Assim, a taxa mundial, de 6,3%, não teve mudanças em relação ao ano anterior. O relatório também destaca que: - Durante a última década o crescimento refletiu-se mais no aumento da produtividade que no de emprego. A produtividade aumentou 26%, enquanto o número de empregados no mundo aumentou somente 16,6%. - O desemprego atinge mais forte-

mente os jovens entre 15 e 24 anos, pois afeta a 86,3 milhões de pessoas desse grupo de idade, equivalente a 44 % de todos os desempregados do mundo em 2006. - Permanece o hiato de emprego entre mulheres e homens. Em 2006, 48,9% das mulheres de 15 anos ou mais estavam trabalhando, índice levemente abaixo dos 49,6% de 1996. Em comparação, a relação emprego-população dos homens foi de 75,7% em 1996 e de 74% em 2006. - Em 2006, a presença do setor de serviços como provedor de empregos aumentou de 39,5% para 40% e pela primeira vez superou a agricultura, que baixou de 39,7% para 38,7%. O setor industrial proporcionou 21,3% de todo o emprego. Fonte: www.oitbrasil.org.br PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

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Desafios para as mulheres

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SOLANGE SANCHES Socióloga, especialista em Economia e Gestão das Relações de Trabalho, Coord. nacional do Projeto Políticas de Emprego e Igualdade de Oportunidades de Gênero e Raça/Etnia nos Países do Mercosul e Chile da OIT.

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Os últimos anos foram de bons resultados na economia e no mercado de trabalho do país, invertendo uma tendência que havia se mantido ao longo da década de 90. O triênio 2004-2006 mostrou uma expressiva geração de postos de trabalho, marcadamente formais, diminuição das taxas de desemprego e o início de recuperação dos rendimentos reais do trabalho. Foi um período positivo para todos, homens e mulheres, brancos e negros, embora os resultados favoráveis ainda estejam longe de alterar a configuração geral do mercado de trabalho, em que as mulheres e a população negra continuam tendo a maior taxa de desemprego e os menores rendimentos, além de majoritária participação nas situações de inserção vulnerável e informal e com baixa ou nenhuma cobertura dos sistemas de proteção social. Esta circunstância favorável da economia brasileira é, por isso mesmo, um momento adequado para pensar em como garantir para as mulheres e, especialmente as mulheres negras, empregos e ocupações em que sejam remuneradas adequadamente, possam exercer suas funções em condições de saúde e com segurança, livres de discriminação e com direito a voz e representação, amparadas pelos sistemas de proteção social. É um excelente momento para construir um país com Trabalho Decente para elas e para todos. Na agenda de discussão nacional, dois processos serão importantes para as mulheres neste ano: o de realização da II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres – CNPM - e a instalação, discussões e resultados do Fórum Nacional da Previdência Social A II CNPM foi convocada através de Decreto Presidencial de 17 de janeiro de 2007 e será coordenada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e deverá contar com a participação de 2.800 delegadas. A etapa nacional da II CNPM ocorrerá em Brasília, de 18 a 21 de agosto, sendo precedida por Conferências municipais e/ou regionais. As atividades locais deverão discutir o temário proposto, que inclui análise da realidade brasileira e a participação das mulheres nos espaços de poder, e trazer conclusões e propostas. No dia 12 de fevereiro, foi instalado, pelo Presidente da República, o Fórum Nacional de Previdência Social, integrado por representantes dos trabalhadores, dos empregadores e do governo, para discutir a sustentabilidade da Previdência a longo prazo. Na primeira reunião do Fórum, em março, a Previdência Social irá propor três etapas: a primeira, para elaboração de um diagnóstico; a segunda, para discutir grandes temas, e a terceira, para formular propostas ao Congresso Nacional. O prazo para a conclusão dos trabalhos é de seis meses e o objetivo é estudar cenários futuros de trabalho e de sustentação previdenciária, criando um novo pacto entre gerações e mantendo o caráter de uma previdência pública, básica e solidária. Estes serão diálogos que interessam a esta e às futuras gerações de homens e mulheres, e aos quais as entidades de trabalhadores, de empregadores e governamentais precisam aportar sua contribuição para que a sociedade brasileira possa criar as condições de igualdade de oportunidades no trabalho, para a autonomia pessoal e econômica, de participação política e de proteção social que são de direito das mulheres como cidadãs deste país.



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©GREENPEACE/STEVE MORGAN

consumo mundial da água doce disponível dobrou nos últimos 50 anos e hoje corresponde à metade de todos os recursos hídricos acessíveis, sejam rios, alagados, lagos, aqüíferos subterrâneos ou águas de degelo sazonal de primavera, nos países temperados. Explorar tais recursos foi o motor do desenvolvimento econômico de muitos países, sobretudo na agricultura, geração de energia, indústria e transporte. Porém, a crescente competição por água entre tais setores vem degradando as fontes naturais, das quais o mundo depende. O ciclo natural da água tem sido interrompido ou alterado em regiões muito artificializadas - como as megacidades - e os ecossistemas que garantem a quantidade e qualidade da água estão sendo suprimidos ou sob forte pressão. Cerca de 50% das espécies de ecossistemas aquáticos também estão em sério declínio, em todos os continentes, reforçando os indicadores de degradação ambiental. As mudanças climáticas ainda somam, a tal cenário, desastres cada vez mais freqüentes e violentos, como secas severas, inundações de larga escala e tempestades. Em resumo, segundo indicam dados da entidade ambientalista WWF internacional, “o meio ambiente está enviando sinais de alerta que têm sido largamente ignorados até o presente momento”.

Megaproblema

PLANETA

ÁGU Falta d’água

SVONOG

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Existem 23 megacidades no mundo, com mais de 10 milhões de habitantes. Dezoito delas (São Paulo, inclusive) estão localizadas em países em desenvolvimento. De acordo com dados do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Pnuma), a cada ano, somamse 60 milhões de novos habitantes a estas megacidades, acirrando as demandas por água e multiplicando os problemas decorrentes da superexploração, poluição ou má gestão dos recursos hídricos disponíveis. Metade das cidades européias já explora águas subterrâneas acima da capacidade de reposição natural. A Cidade do México está “afundando”, literalmente, devido à retirada excessiva de água do subsolo. Diversos países têm sérias dificuldades com a poluição de seus aqüíferos, em alguns casos, diretamente relacionada à superexploração ou redução da recarga, como em Bangladesh, onde os poços de água de 59 distritos contém altos níveis de arsênio. O arsênio é um elemento natural, que se torna disponível como poluente depois de reações químicas derivadas do rebaixamento do nível das águas subterrâneas.

FOTO CIDADE

PrimeiroPLANO PrimeiroPLANO .. ano ano 22 .. nnoo55 .. março março 2007 2007

Percorrer milhares de quilômetros sem encontrar água. Esta realidade está presente em quase todos os continentes do mundo. Na África, o deserto do Saara possui 9 milhões de metros quadrados, e o Kalahari, 260 mil. A região desertificada na Ásia atinge 225,5 quilômetros quadrados na Arábia e 1,29 milhão em Gobi. O deserto do Atacama, no Chile, tem 78.268 km2. Onze países da Àfrica e nove do Oriente Médio já não têm água. A situação também é crítica no México, Hungria, Índia, China, Tailândia e Estados Unidos.

SINAIS DE ALERTA PEDEM A PRESERVAÇÃO

Com informações de: Água para todos - www.estadao.com.br/ext/ciencia/agua/ Universidade da Água - www.uniagua.org.br


ITAIPU BINACIONAL

Chove chuva A água da chuva é encarada pela legislação brasileira como esgoto, pois ela usualmente vai dos telhados e dos pisos para as bocas de lobo, onde segue carreando todo tipo de impurezas, dissolvidas, suspensas ou arrastadas mecanicamente, para um córrego que vai acabar num rio, que por sua vez vai acabar suprindo uma captação para Tratamento de Água Potável. Essa água sofreu um processo natural de diluição e autodepuração, ao longo de seu percurso hídrico, nem sempre suficiente para realmente depurá-la. Uma pesquisa da Universidade da Malásia deixou claro que as primeiras águas da chuva carreiam ácidos, microorganismos e outros poluentes atmosféricos, mas pouco tempo depois já adquirem caracte-

- Há 2 mil anos, a população mundial correspondia a 3% da população atual, enquanto a disponibilidade de água permanece a mesma.

- Segundo a ONU, cada mil litros de água utilizada pelo homem resultam em 10 mil litros de água poluída.

A ITAIPU BINACIONAL

- Responsável por 70% do total de água utilizada pelo homem, a irrigação é também a que apresenta o maior desperdício, pois cerca de metade da água utilizada para este fim não atinge as plantações e é perdida pela infiltração no solo e evaporação.

ITAIPU BINACIONAL

- O consumo médio de água, por habitante, foi ampliado em cerca de 50%.

rísticas de água destilada, que pode ser coletada em reservatórios fechados. Para uso humano, inclusive como água potável, ela deve sofrer filtração e cloração, o que pode ser feito com equipamento barato e muito simples. Em resumo, a água da chuva sofre uma destilação natural muito eficiente e gratuita. Esta utilização é especialmente indicada para o ambiente rural, chácaras, condomínios e indústrias. O baixo custo da água nas residências urbanas torna inviável esse reaproveitamento da água da chuva para beber, nas cidades. Já para as indústrias essa medida pode ser compensadora.

Saneamento básico para o país crescer Dados do Ministério das Cidades apontam que em 2005 havia 82,3% de domicílios brasileiros com água potável, 48,2% com ligação a rede de esgoto e 36% com destinação adequada do lixo. No Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) apresentado pelo governo federal, cujas medidas ainda serão analisadas no Congresso Nacional, o saneamento básico foi contemplado com investimentos no valor total de R$ 40 bilhões até 2010. A meta prevista é de atender 86% dos domicílios brasileiros com água po-

tável, 55% com esgoto e 47% com destinação adequada do lixo. O déficit maior de atendimento é na zona rural, onde apenas 1,35 milhões de domicílios - dos 7,46 milhões existentes - estão ligados às redes de abastecimento de água. E somente 960 mil estão ligados a redes coletoras de esgotos ou dispõem de fossas sépticas. Pelo menos 4,3 milhões de domicílios rurais dependem da água de nascentes ou poços localizados na propriedade, sem garantias de que seja uma água potável segura.

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29% da água doce existente no planeta

A 28

Terra é azul quando vista do espaço porque é basicamente coberta por água. Mas quanto dessa água é própria para o consumo humano? Percentualmente muito pouco, já que a maior parte é água salgada. Dos 70% de água que compõem a superfície da Terra, chegando a um volume de 1.385.984.610 quilômetros cúbicos, 97,5% são água salgada e apenas 2,5%, água doce. Com esses dados iniciais já é possível ter uma idéia da disponibilidade de água potável no planeta, sem contar outros fatores como poluição e falta de acesso a certos mananciais que reduzem ainda mais essa conta. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que 1,2 bilhão de pessoas no mundo não dispõem de água potável de boa qualidade. Da pequena porção de água doce existente, 68,9% estão nas geleiras e nas calotas polares que, mesmo em acelerado derretimento, estão se misturando à água salgada dos oceanos e não servindo para o consumo. Outros 0,9% da água doce são pântanos, solos gelados e umidade do solo, enquanto os rios e lagos representam 0,3% do total de toda a água doce, que já é bem pouca. A atenção se volta então ao manancial de água doce subterrânea que representa 29,9% da água doce existente no planeta. Para o geólogo e coordenador do Laboratório de Análise Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Fernando Scheibe, este potencial subterrâneo pode ser um alento ao mundo contemporâneo, já que, até hoje, ainda que muitos lugares so-

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ÁGUA

E as nossas PIETER SIJBRANDIJ

Aqüífero Guarani, na América do Sul, guarda

fram com a escassez de água, temos sobrevivido com a água dos rios e lagos, que representa uma parcela muito menor da água do mundo. O desafio, segundo o pesquisador, é conhecer este potencial hidrológico que se localiza embaixo da terra e

saber explorá-lo de modo que ele se refaça e continue a ser fonte de água. Porque a poluição que hoje afeta rio e lagos pode ser em certa medida revertida, ainda que com alto custo financeiro, mas, segundo Scheibe, a contaminação das fontes subterrâne-


Vanessa Pedro

reservas? as é irreversível. O Brasil, além de ser o país mais rico em água do mundo, possuindo a rede hidrográfica mais extensa do planeta e concentrando 12% de toda a água doce, tem também uma gigantesca reserva de água subterrânea. Chamado de Aqüífero Guarani, a reserva se estende por vários estados brasileiros, incluindo os três estados do Sul e por mais três países: Argentina, Paraguai e Uruguai. A maior extensão do Sistema Aqüífero Guarani fica no Brasil, atingindo 840 mil km2, de um total de 1,2 milhão de km2. A importância dos aqüíferos é observada de acordo com a qualidade da água, a vazão dos poços, a perenidade do suprimento, a capacidade de recarga, a vulnerabilidade à poluição e a sua importância estratégica como a localização onde existe estiagem. Estima-se que o Aqüífero Guarani possua uma capacidade de 46 mil km3 de água. Mas, segundo o professor Scheibe, a capacidade não é uniforme e, portanto, são necessários mais estudos para se conhecer melhor o complexo. A única certeza é que se trata de um manancial imenso de água que deve ser explorado de forma ordenada e sustentável para não ser poluído e esgotado. Com esse propósito, foi criado um projeto intergovernamental entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, com financiamento desses países e recursos do Banco Mundial. O Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani (PSAG) busca, por meio de esforços conjuntos e projetos em cada um desses países, conhecer mais o potencial

do aqüífero, mapear os usos da região e subsidiar políticas públicas para a utilização sustentável do manancial. Entre as contrapartidas dispensadas pelo governo brasileiro para o PSAG está um projeto de pesquisa realizado por diversas instituições nos três estados do Sul, chamado Rede Guarani/Serra Geral. O objetivo principal do projeto, que concentra suas explorações principalmente em Santa Catarina, é realizar um levantamento técnico da área para orientar políticas públicas, incluindo a utilização do Sistema Aqüífero Guarani e de outro aqüífero denominado de Serra Geral, localizado acima do Guarani. Para o professor Scheibe, um dos coordenadores técnicos do

Distribuição Relativa das Águas no Planeta*

Distribuição Relativa do Uso da Água por Setores no Brasil**

29 * Adaptado de Shiklomanov (1998). **Elaborado a partir de FAO (2002a). Ambos retirados do livro “Aquífero Guarani - A verdadeira Integração dos Países do Mercosul”

Representação Esquemática do Nível de Pressão nos Aqüíferos

Fonte: Aquífero Guarani - A verdadeira Integração dos Países do Mercosul

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projeto, é fundamental estudar os dois aqüíferos associados porque as atividades realizadas em um afetarão o outro. Além disso, em alguns momentos, apesar de o Guarani ser maior, o Serra Geral está mais acessível por estar localizado em uma profundidade menor. Deste modo, a exploração da água do Serra Geral acaba saindo mais barata, embora o Sistema Guarani tenha mais volume de água. O Aqüífero

30 30 Serra Geral tem vazão de 7 a 15 mil litros/hora enquanto o Guarani tem o potencial de 100 a 150 mil litros/ hora, mas um poço do primeiro custa R$ 50 mil, ao passo que do segundo custa em média R$ 2 milhões. O desafio da Rede Guarani/Serra Geral é conhecer de perto os dois sistemas, saber onde e como eles já são explorados e afirmar o potencial de cada região onde incidem para ir além dos dados gerais. O ideal é poder efetivar a sugestão de políticas de uso dessa reserva. Os pesquisadores sabem que 25 poços já utilizam água do Sistema Guarani em Santa Catarina entre indústrias, prefeituras e fontes de águas termais. Já em toda a região do Aqüífero Serra Geral são mais de 5 mil perfurações realizadas por pre-

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feituras, hotéis e até criadores de suínos. A Companhia de Abastecimento de Água de Santa Catarina/ Casan está implantando um poço no Sistema Guarani no município de Maravilha para fins de abastecimento público. No estado de São Paulo, há cidades inteiras abastecidas com água subterrânea, como é o caso de Presidente Prudente, que possui uma população de 1 milhão de habitantes. Em relação a ambos os sistemas, a principal preocupação é a utilização sem planejamento, que não leva em conta a contaminação da região e a capacidade de regeneração do sistema. “Todo projeto que prevê o uso dessa água deve considerar o processo de recarga”, alerta o professor da UFSC. Os aqüíferos são fontes de água renováveis, mas ainda não se conhece ao certo a maneira como esta recarga acontece no caso específico dos dois reservatórios estudados. De forma geral esses sistemas são recarregados pela água da chuva e pelas águas de rios e lagos que servem de fonte e de destino para a água dos aqüíferos. Dessa maneira, o desmatamento, a poluição e a contaminação das águas superficiais definem a vida dos aqüíferos. Os dois locais primeiramente estudados pelo projeto em Santa Catarina serão a Bacia do Rio Canoas, que nasce em Urubici até formar o Rio Uruguai, e a Bacia do Rio do Peixe, que nasce no município de Caçador até encontrar também o Rio Uruguai. “A partir da análise empírica dessas regiões, os pesquisadores vão identificar a situação de exploração dos aqüíferos; conhecer melhor a qualidade das águas dos poços já explorados; determinar as áreas de vulnerabilidade; determinar a efetiva capacidade de recarga; conhe-

cer as áreas de descarga natural e definir marcos legais que permitam a utilização sustentável”, explica o professor Scheibe. Sobre o futuro dos aqüíferos, o professor da UFSC garante que depende da pressão da sociedade e do quanto ela possuir de informação. “O esclarecimento dos governantes depende do conhecimento da população”, afirma.

FORMAÇÃO DO AQUÍFERO GUARANI Os aqüíferos são reservatórios de água subterrânea. , contida entre os poros e as fraturas das rochas, abaixo do nível freático. No caso do Guarani, trata-se de um conjunto de rochas arenosas cheias de água. Há cerca de 200 milhões de anos havia apenas a areia do deserto de Botucatu no fundo dessa área, que depois foi coberta por um manto de magma proveniente das fissuras tectônicas ocorridas durante a separação dos continentes. Essas camadas basálticas

Representação Esquemática da Localização do Aqüífero Guarani


Mapa Esquemática do Aqüífero Guarani

SAIBA MAIS SOBRE O PROJETO

REDE GUARANI

SERRA GERAL * Fonte: Modificado de CAS/SRH/MMA (2001) por Boscardin Borghetti et al. (2004).

transformaram a areia confinada num reservatório que aos poucos foi enchendo-se de água, proveniente de fontes diferentes, como a chuva. Desta maneira se formou o reservatório de água subterrânea. Mas esta água, por se encontrar entre os poros do arenito, não está liberada como se fosse um enorme caixa d’água. É, na verdade, como se enchêssemos um copo com areia e depois colocássemos água dentro. Desta forma ele se encontra disponível hoje. O aqüífero é formado por água e areia misturadas. A extração da água, que deve considerar a capacidade de renovação deste manancial, é feita na maior parte dos casos através de perfurações em profundidades que vão variar em média, no caso do Guarani, entre 50 e 1.800 metros. A água, nos locais mais profundos, pode atingir um aquecimento de 65°C. É como perfurar um grande poço artesiano. A areia vai sendo retirada até que se faça espaço para a água “brotar” naquele solo e poder ser retirada após passar por um filtro.

O projeto tem a participação de diversas instituições nos três estados do Sul. Para 2007 estão liberados, por emenda parlamentar, R$ 4,25 milhões que serão utilizados na compra de material permanente e equipamentos. Também há uma previsão pelas agências financiadoras federal (CNPq) e estadual (Fapesc) de R$ 325 mil e R$ 650 mil, respectivamente, para despesas de custeio. Trabalham 40 pesquisadores no projeto em Santa Catarina.

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES Uniplac - Universidade do Planalto Catarinense Unoesc - Universidade do Oeste de Santa Catarina UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina Epagri - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S. A. Funjab - Fundação José Arthur Boiteux Fapesc – Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina Fundação Araucária UFPR - Universidade Federal do Paraná UEL - Universidade Estadual de Londrina Fapergs – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul Univates - Centro Universitário Univates, além de diversas outras universidades e centros universitários. CT-Hidro - Fundo Setorial de Recursos Hídricos ANA - Agência Nacional de Águas CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fórum Parlamentar Catarinense em Brasília SAG - Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani Caixa Econômica Federal

*Retirados do livro “Aquífero Guarani - A verdadeira Integração dos Países do Mercosul”

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VALOR DE AMANHÃ Pieter Sijbrandij*

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Os relatórios de sustentabilidade melhoraram em qualidade. Esta é a boa notícia da publicação “Tomorrow’s Value” (O Valor de Amanhã), na qual a respeitada entidade inglesa SustainAbility em cooperação com a empresa Standard & Poor’s e o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), analisa e divulga pela quarta vez os 100 melhores relatórios de sustenta-bilidade do mundo. A má notícia é que o número de empresas que tornam públicas suas políticas, práticas e resultados está crescendo pouco. Mas há outras boas notícias. Cada vez se fala menos de balanços sociais e mais de relatórios de sustentabilidade, o que mostra a necessidade de integrar o econômico com o social e ambiental na urgente procura por um mundo sustentável. Dos 100 melhores relatórios, 56 são europeus e entre eles 20 são do Reino Unido. Nesta quarta edição, os bancos aparecem com 16 dos “top 100” e estão chegando com muita força entre as empresas dos setores com mais tradição de

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publicarem relatórios de sustentabilidade, como os de mineração, petróleo, indústria pesada e farmacêutica. Se no nível mundial o número de relatórios está estagnando, na América Latina o crescimento ainda é considerável. E não somente em número, as empresas também estão aprendendo rápido. Três empresas brasileiras foram consideradas entre as 100 líderes do mundo: Banco Real (11º), Natura (25º) e a Aracruz está entre as outras 50, mas aparece sem classificação. Normalmente é bom matarmos a curiosidade sabendo quem são os líderes de um ranking. Mais interessante ainda é saber o porquê, ou seja, o que faz a diferença e quais são as principais tendências. Parece que os departamentos de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) vão parar de ser o centro quando se trata de sustentabilidade, já que o tema está sendo integrado nos modelos de negócios como um todo e, portanto, sendo levado a sério pelos conselhos de administração e os altos execu-

tivos. As empresas líderes mostram nos seus relatórios que o maior nível de integração da sustentabilidade está na gestão dos stakeholders, mas mostram também que continuam encontrando desafios em contar como lidam com o lobby pelas políticas públicas e em convencer os seus investidores da relevância do tema de sustentabilidade. Os investidores ainda sentem dificuldades na hora de utilizar os atuais relatórios. Faltam informações que fazem entender como os temas socioambientais e de governança afetaram e, sobretudo, afetarão o negócio. Poder fazer o comparativo por setor e entre diferentes anos, complementando com mais claras projeções para o futuro, é essencial para analistas financeiros. O ideal é que tais relatórios fossem mais enxutos e focados no texto, com conjuntos consistentes de dados que permitiriam aos investidores utilizar os relatórios nos seus modelos de avaliação de risco e oportunidade. Outra tendência dos relatórios das empresas líderes consiste na


As Diretrizes GRI

OS MELHORES RELA TÓRIOS DE RELATÓRIOS SUSTENT ABILIDADE SUSTENTABILIDADE MOSTRAM O CAMINHO atenção para a materialidade, ou seja, na maior concentração nos temas de alta importância, o essencial, o relevante, deixando assim as tradicionais ações sociais definitivamente no segundo plano. Um bom relatório de sustentabilidade é fundamentado num reduzido conjunto de indicadores, freqüentemente os do Global Reporting Initiative (GRI) (veja quadros a seguir), e dedica mais atenção aos assuntos cruciais da empresa. Para o setor vestuário o principal seriam os padrões trabalhistas, para os bancos

Base de relatórios publicados em 2006

o acesso ao financiamento, para as empresas petroleiras o aquecimento global e assim por diante. Cabe apenas resolver o dilema de identificar o que é relevante para o futuro e ter a coragem de tornar isso público. Esta diferenciação por setor é complementada por um crescente número de relatórios adicionais que tratam de um único tema central. A Glaxo-Smith-Kline enfatiza o acesso a medicamentos, a Wal-Mart, os seus fornecedores, a Ford, o aquecimento global. E como as empresas lidam com públicos diversos,

Internacional

Brasil

Aderiram à GRI

632

13

Cumpriram integralmente a GRI

87

5

2011

28

Total

Fonte: www.CorporateRegister.com (acesso fevereiro 2007) * Diretor do Instituto Primeiro Plano

As Diretrizes da GRI foram estabelecidas para elevar as práticas de relatórios de sustentabilidade a um nível equivalente ao de relatórios financeiros, buscando comparabilidade, credibilidade, rigor, periodicidade e legitimidade da informação. O desenvolvimento da G3 envolveu por mais de dois anos o trabalho de um grupo multistakeholder. Por meio de reuniões e processos de consulta, com a participação de mais de 4 mil pessoas de todo o mundo, a terceira geração das Diretrizes foi elaborada de forma a incrementar os princípios de elaboração de relatórios de sustentabilidade e os protocolos técnicos para auxiliar na descrição de seus indicadores. A versão em português foi lançada em dezembro do ano passado. PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

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existe a quase obrigatoriedade de fornecer informação em formatos adaptados a cada publico em linguagem, detalhe, tema, meio etc. Uma terceira tendência tem a ver com o desenvolvimento. Embora não sejam o centro das operações de muitas empresas, os países em desenvolvimento, sobretudo Brasil, Rússia, Índia e China, prometem ser os maiores mercados de crescimento. Isso leva as empresas a divulgarem mais informações sobre a atuação nestes países e torna inevitável levar em conta o tema de desenvolvimento. As empresas líderes começam cada vez mais a vincular seu negócio a um contexto maior e tendem a utilizar referências internacionais como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas para explicitar isso. Mas, como um todo, talvez o mais interessante é que as empresas líderes evoluíram na forma como enxergam o tema de sustentabilidade e refletem isso nos seus relatórios. Na primeira versão as empresas se centravam no cumprimento das normas para evitar danos a sua reputação e litígios. A segunda versão se centrava na cidadania, nas relações com os stakeholders com gestão de risco através de uma atitude pró-ativa. A terceira e mais recente versão, porém, enxerga os desafios da sustentabilidade como uma oportunidade de inovação e criatividade. Isto é,

tório de sustentabilidade seja crucilidar com os desafios da sustentaal para garantir um processo contíbilidade como forma de gerar valor nuo de melhoria. Para divulgar há para o core-business que aumenta que medir, e o que não é medido o faturamento, lucratividade e valonão é administrado, e o que não é rização da empresa no longo prazo. administrado nos pode levar fora do A reação de algumas grandes corcaminho da sustentabilidade. Ernst porações ao aquecimento global talLigteringen, CEO do GRI, chama vez seja o exemplo mais evidente. isso “o rabo que abana o cachorro”. O paradoxo desta ultima tendênCom a prova de que empresas bracia é que, quando produtos e servisileiras são capazes de estar entre ços novos que atendem os desafios lideres do mundo, chegou a hora os da sustentabilidade viram corede tornar o exercício de elaborar rebusiness, uma empresa poderia latórios de sustentabilidade um moresolver não divulgar suas intenvimento de massa. ções por considerar a informação estratégica para o seu negócio. www.sustainability.com Será que o silêncio no relatório de www.global100.org sustentabilidade é o indicador de progresso? Sabiamente os autores não entram na discussão sobre se um bom relatório de sustentabilidade garante uma empresa responsável. Numa comparação entre os 100 lideres de relatórios de Banco Itaú Samarco sustentabilidade com Bunge Serasa a lista divulgada no Fórum Econômico MundiComgás Siemens Brasil al dos 100 mais sustenCopel Telesp táveis segundo Corporate Knights Inc. e Innovest CPFL Usiminas Strategic Value Advisors CST-Arcelor Inc., vemos 23 empresas * em preto as que figuram em ambas. que cumpriram Natura Talvez o ato de uma integralmente as Petrobras empresa se engajar na diretrizes GRI) elaboração de um rela-

GRI PERSONALIZADO Para facilitar que as empresas tratem os aspectos específicos do seu setor, a GRI elaborou uma série de suplementos setoriais. Já estão disponíveis suplementos para as seguintes setores: Financeiro, Transportes & Logística; Mineração & Metais; Agências Públicas; Operadores de turismo; Telecomunicações e Automotivo. Em elaboração estão os suplementos de Vestuário & Calçado e Energia. Haverá em breve suplementos nacionais.

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Empresas brasileiras usuárias das diretrizes GRI - 2006

GRI LAB (COZINHA GRI) Uma série de trabalhos inovadores estão sendo realizados no laboratório GRI. Está por sair a referência sobre biodiversidade. Com a GTZ da Alemanha a GRI está desenvolvendo um trabalho em torno de cadeia de suprimentos. Para as pequenas e médias empresas busca-se uma forma que permite informar de maneira compartilhada, a começar com o setor chileno de frutas. E junto com a KPMG a GRI está verificando como medir um indicador cada vez mais importante: implicações financeiras devido a mudanças climáticas. Todos são de alta relevância para o Brasil e sua comunidade empresarial. Nos bastidores já se brinca que o iPhone virá com o G3 integrado!


GRI-MANIA Com novos produtos e serviços a GRI ameaça tornar-se uma mania no Brasil e no mundo No coração da família está a G3, a terceira geração das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), lançada em outubro do ano passado. A palavra-chave é “materialidade”, isto é, a intenção de se limitar ao que é relevante, significativo. Destacamos as principais inovações. A versão G3, como conjunto, facilita a aplicação e melhora o resultado por ser mais focada e mais precisa.

Com princípios melhor definidos e pequenas “check-lists” o relator consegue definir de maneira mais precisa o que e como relatar. Nos relatórios futuros haverá uma descrição concisa sobre a estratégia de abordagem do tema de sustentabilidade e sua integração na gestão da empresa para obter resultados concretos. Os indicadores para descrever o desempenho são mais precisos; foram revisados e consolidados, resultando numa redução de 97 para 79. Cada indicador vem acompanhado de um protocolo que explica detalhadamente o porquê e como.

Número de relatórios GRI

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CLUB GRI A GRI se aliou a uma série de entidades no Brasil para acelerar o processo de aprendizagem das empresas que querem embarcar ou melhorar o uso da sua estrutura. A associação de aprendizagem que está sendo constituída desenvolverá metodologia, material e eventos para que a GRI-mania pegue firme no Brasil. No final de fevereiro saiu o primeiro produto: um manual para pequenas e médias empresas. Nesse manual é explicado passo a passo o processo de elaborar um relatório de sustentabilidade.

TATTOO-GRI Todas as empresas que usam o G3 devem autodeclarar o nível de aplicação que alcançaram. Para as empresas que querem ter certeza da correta aplicação das diretrizes GRI existe a possibilidade de a própria GRI verificar a conformidade. São três níveis, do básico para os iniciantes (C) ao quase perfeito para os líderes (A). Caso haja em qualquer dos níveis uma auditoria externa do relatório, as empresas receberão um plus. Em troca as empresas podem utilizar um cobiçado ícone nos seus relatórios. MAIS INFORMAÇÕES: www.globalreporting.org www.corporateregister.com

www.ethos.org.br

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responsabilidade social

O novo jeito de fazer negócios

Ações pelo “zero carbono” CIDADE VERDE

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Uma cidade inteira em busca de uma meta conjunta de redução de emissão de dióxido de carbono. Esse é o cenário que o prefeito de Londres, Ken Livingstone, pretende ver. Em fevereiro ele anunciou um plano para reduzir emissões em 60% nos próximos 20 anos. O plano inclui tornar as casas londrinas mais eficientes no uso de energia, convencer empresas a desligar luzes e computadores à noite e reduzir emissões por meios de transporte. Pelos cálculos da prefeitura, se nada for feito, as emissões de carbono na cidade vão crescer de 44 milhões de toneladas por ano para 52 milhões em 2025. Ao contrário, se alcançar seu objetivo, em 2025 a cidade estará produzindo 18 milhões de toneladas, menos dióxido de carbono do que emitia em 1990. "Os londrinos não precisam reduzir sua qualidade de vida para combater a mudança climática", disse Livingstone.

Todos têm alguma parcela de culpa pelo aquecimento global no Planeta, em menor ou maior grau. Mas as mudanças do clima não podem ser vistas como irreversíveis, já que existem ações que podem ser tomadas para que cada indivíduo ou empresa se torne "zero carbono" ou carbon neutral. Várias pessoas e organizações já estão fazendo o cálculo do seu inventário de emissões e neutralizando parte ou tudo por meio da compra de créditos, apoio a projetos de redução de emissões ou projetos de captura.

650 toneladas a menos de consumo plástico por ano foi o resultado que a fabricante de bebidas AmBev alcançou ao mudar o design das embalagens dos refrigerantes. A garrafa pet de dois litros ganhou contorno mais fino e o processo de produção demandou menos matériaprima. Isso chama-se ecodesign, um diferencial competitivo no mercado de embalagens.

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Alguns exemplos divulgados pelo Instituto Ethos:

• O Bradesco tornou-se em 2006 o primeiro banco brasileiro a fazer seu

inventário de emissões e obter a neutralização, por meio da compra de milhares de árvores do projeto SOS Mata Atlântica.

• O Banco ABN AMRO, também em 2006, executou seu inventário de emissões e pretende se tornar neutro em emissões ao longo de 2007.

• O Banco HSBC neutralizou suas emissões em alguns locais do mundo. • Grandes eventos mundiais, como Olimpíadas, Copa de Mundo de Futebol e Superbowl, estão se tornando neutros em carbono.

As regras da Fórmula 1 estão sendo alteradas para diminuir impactos no clima.

A edição deste ano do São Paulo Fashion Week fez o cálculo das emissões na montagem do evento e a organização vai plantar mais de 40 mil mudas de árvores no outono.

A Prefeitura de São Paulo pretende, ao longo dos próximos anos, estimular os promotores de feiras na cidade e neutralizar parte ou toda a emissão de gás estufa ou GHG (em inglês, Green House Gas).

Companhias aéreas vendem passagens com opção de neutralização das emissões individuais.

• Hotéis começam a oferecer acomodações neutras em carbono. •

Grandes conferências mundiais promovidas pela ONU neutralizam suas emissões.

• Bandas de rock, como Rolling Stones, estão promovendo turnês "carbon neutral".


Mercado ético Entrou no ar em fevereiro o portal Mercado Ético, que disponibiliza na internet conteúdo sobre o tema sustentabilidade no país. O portal é resultado de uma parceria entre os profissionais Hazel Henderson, especializado em sustentabilidade, e Christina Carvalho Pinto, da área de comunicação. No Brasil, o Mercado Ético deve repetir o modelo mundial do Ethical Markets lançado por Hazel nos Estados Unidos em 2005 e que hoje tem abrangência global, com operações nos cinco continentes e alcança 44 milhões de domicílios. No ambiente web, Ethical Markets está lançando, junto com o lançamento brasileiro, um novo formato através do sistema IPTV, Internet Protocol over Internet uma nova tecnologia em transmissão de TV via internet. www.mercadoetico.com.br

História afro-brasileira Iniciativas como o site Século XXI, iniciativa da MultiRio, e o programa Salto para o Futuro, realizado pela TV Escola, canal educativo da Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação, têm contribuído para a implementação da Lei 10.639/03, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade dos temas da história e cultura africana e afro-brasileira. Segundo matéria da agência Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), o destaque do ensino da história do Brasil, ao longo dos anos, esteve na

chegada dos portugueses, deixando em segundo plano a identidade construída pelos descendentes dos africanos. O site Século XXI contribui na capacitação de professores da rede municipal. O programa Salto para o futuro, criado há 15 anos, chega anualmente a mais de 250 mil professores em todo o Brasil. Os temas são apresentados a partir de pequenos vídeos, clipes musicais, reportagens, registros de situações em sala de aula, entrevistas, trechos de filmes, entre outros.

Café para inglês beber O café das fazendas certificadas pela Rede de Agricultura Sustentável (Rainforest Alliance Certified) estarão no balcão das unidades do McDonald's no Reino Unido. A Rede estabelece normas de produção sustentável, que incluem a conservação do meio ambiente e o respeito aos trabalhadores e a região onde as propriedades certificadas estão inseridas. A franquia norte-americana serve cerca de 143 mil xícaras de café por dia em suas lojas britânicas. Em toda a Europa o número chega a um milhão de xícaras por dia, o que corresponde a 50 mil sacas de café por ano. O grão será fornecido pela Kenco Coffee Company, subsidiária da Kraft Food Inc., fornecedor tradicional do McDonald's. A Kraft compra os grãos de várias fazendas no Brasil, inclusive da Daterra Atividades Rurais, localizada no Cerrado Mineiro e de fazendas certificadas da Colômbia. Todo o processo de auditoria da Daterra, certificada em 2003, foi realizado pelo Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola). A rede de fast food pretende estender a prática para toda sua rede européia até o final do ano.

www.imaflora.org

http://www.multirio.rj.gov.br/seculo21 PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

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Missão da empresa: bem-estar

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PAULO ITACARAMBI Diretor executivo do Instituto Ethos

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O tema da sustentabilidade e da responsabilidade social das empresas (RSE) ganha cada vez mais importância e cresce o número de empresas interessadas em obter o reconhecimento da sociedade e do mercado neste campo. Na sociedade, também se amplia o movimento da responsabilidade social que está canalizando uma grande esperança de mudança: a esperança de que poderá haver transformações reais no comportamento das organizações e nas relações de mercado em direção à construção de uma sociedade sustentável. O principal motor dos negócios no mercado são as expectativas das pessoas e das organizações consumidoras e investidoras quanto ao que deve ser produzido e comercializado pelas empresas e também quanto ao modo como devem fazê-lo. Após a queda do muro de Berlim, aumentaram as expectativas na sociedade de que o mercado seria capaz de produzir bem-estar social, resultado do aumento da promessa de que ele o faria. Esse aumento de expectativa, confundese com a esperança que as pessoas depositam na expectativa de que as empresas venham a cumprir com um novo papel social. Entretanto, e de forma contraditória, cresce também a desconfiança de que o mercado não entregue o que prometeu. O não cumprimento da promessa de produção de bem-estar social pelo mercado, evidenciado pelo crescimento da pobreza e da desigualdade, é o fator que sustenta os baixos índices de confiança nas empresas. Há um sentimento dominante de que muitas empresas vendem mais do que entregam. Essa desconfiança aumenta com o aumento da distância entre discurso e a prática. Assim, se a RSE for adotada pelas empresas sob um compromisso de produzir efetivas mudanças nos seus negócios, irá ao encontro das expectativas da sociedade e criará condições favoráveis ao progresso do movimento. Qual é o “bem-estar social” que a sociedade espera que o mercado produza? Hoje ainda é forte na sociedade o sonho de consumo em que o bem-estar é definido sob uma perspectiva individualista e determinado pelo nível de consumo de bens e serviços da pessoa. Entretanto, cresce a influência da perspectiva cidadã e do desenvolvimento sustentável. Cresce o interesse em viver em um ambiente social que ofereça a todos os cidadãos a possibilidade de realizar todo o seu potencial humano para: sustentar a sua própria existência com segurança e qualidade de vida; relacionar-se em igualdade com seus semelhantes e desfrutar as emoções de amar e ser amado; e para construir sua própria história que lhe permita transcender seu breve período de vida em sociedade. Um ambiente em que seja possível atingir, em vida, a paz e a serenidade que resulta da harmonia entre as necessidades do corpo, da razão, da emoção e do espírito de todo ser humano. Isto requer: Ética – leis internas baseadas em valores de respeito à vida, à integridade física e moral das pessoas e à dignidade humana; Justiça social – regras aplicadas a todos e que criam iguais oportunidades na sociedade; e Liberdade – autonomia para escolher onde e como produzir a nossa própria existência com ética e justiça social. A construção de uma sociedade sustentável, em que a cidadania é um pressuposto básico, é o fundamento da nova função social das empresas. E, considerando uma visão síntese da RSE como a gestão sustentável dos negócios com ética e cidadania, diríamos que o negócio do negócio da empresa socialmente responsável é produzir bem-estar social e sustentabilidade.



ENSAIO

MULHER

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1_Sara Regina Conceição dosSantos/Abayneh 3_Vanusa Silva da Cruz/Instituto AKATU

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2_Maria da Penha/S Químicos ABC 4_Maria Alaídes Maria Adelina/ActionAid

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O ENSAIO FOTOGRÁFICO DESTA EDIÇÃO É UMA HOMENAGEM A TODAS AS MULHERES PELO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, 08 DE MARÇO. ATRAVÉS DA REPRESENTAÇÃO DOS CINCO SENTIDOS APRESENTAMOS FOTOS FEITAS PELA FOTÓGRAFA NICA AZEVEDO, PAULISTA RADICADA EM FLORIANÓPOLIS. ABAIXO DAS FOTOS MAIORES, REVELAMOS VÁRIAS MULHERES QUE ATUAM EM DIVERSOS SETORES DA SOCIEDADE COM FOTOS ENVIADAS POR INSTITUIÇÕES A QUE SÃO LIGADAS. 6

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6_Viviani Remor/Celesc 7_Cida Moreira/Artista 9_Atiely Santos e Sherylain/Minas da Rima/FES

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8_Gabriela Sant’Ana/Embratel 10_ Adelaide Santana/Conexão

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ENSAIO

EM TODOS OS SENTIDOS

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11_Ana Paula Gumy/HSBC Solidariedade 12_Ana Cristina N. da Silva/Imaflora 13_Nilcéia Freire/Secretaria de Política para as Mulheres 14_Elisia J. Santos/Pérola Negra 15_Marilise K. Einsfeldt/Núcleo de RSE da ACIJ

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Mulheres simples ou que ocupam cargos de extrema importância para o país, todas nos revelam um pouco da força e da sensibilidade, da competência e do carisma, do amor materno e da sensualidade que toda mulher parece ter.

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16_Adines Ferreira/Vida Amiga-Tecnologias Sociais 17_Iza Barbosa/Unica 18_Rosa M.Tavares de Andrade/Curso Pré-vestibular Universitário 19_ Andreia S. Rosa e Amorim/Centro Senac Social 20_Dita/Igualdade Racial do MS/FES

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INCLUIR

Novas Tecnologias Sociais

Apoio ao desenvolvimento local no Brasil Instituições apresentam propostas para o fortalecimento dos pequenos produtores e iniciativas comunitárias Michelle Lopes O atual mandato do Governo Lula deverá concretizar uma consistente política de promoção do desenvolvimenUNIVERSIDADE to local, em parceria com organizações ABERTA Esse é o número sociais, empresas, universidades e oude Consads existros setores da sociedade. Essa é a O programa Unitentes no Brasil, expectativa de um grupo de instituiversidade Aberta atualmente. Estão ções que, com a coordenação do Inspara o Desenvolvidistribuídos por mento Sustentável, tituto Cidadania, discutiu a temática 26 estados, envolcriado pela Associado desenvolvimento local durante vendo 576 munição Arayara de Edudois anos. Após reuniões plenárias, cípios e uma pocação e Cultura, com seminários, oficinas, pesquisas qualipulação de 10 misede em Curitiba, retativas e quantitativas, foi produzida lhões de habitanúne um grupo de fates. uma publicação com 89 propostas cilitadores dispostos para o fortalecimento do desenvolviFonte: a auxiliar na dissemimento local, no país. Em dezembro o www.mds.gov.br nação de conceitos e documento foi entregue ao presidenpráticas, bem como te da República, Luiz Inácio Lula da na implementação Silva. de um desenvolvimento sustentável a “Trata-se de sugestões concretas e favor da vida. Particiviáveis para fortalecer os pam organizações, pequenos produtores e as instituições governainiciativas comunitárias. É mentais e redes foruma proposta de mobilimais e informais que zação da economia pela devem criar um probase, não pelo topo. Tamcesso de aprendizabém é uma proposta para gem contínuo e uma se evoluir das políticas ponte para práticas distributivas à inclusão sustentáveis no Paprodutiva”, explica o ecoraná. A Arayara é uma organização não-gonomista e coordenador vernamental criada científico do estudo, proem 1999 com ações fessor Ladislau Dowbor. focadas na educação Logo na introdução para a sustentabilido “Projeto Política Nadade nas escolas, cional de Apoio ao DeProfessor Ladislau Dowbor comunidades e emsenvolvimento Local”, presas. propõe-se uma profunda PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

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RONALDO NINA

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mudança de enfoque do ponto de vista da comunidade local. É preciso trocar a pergunta “o que o governo pode fazer por nós?”, por “como o governo pode apoiar o que estamos empreendendo”. Do ponto de vista das diversas instâncias de governo, das instituições públicas ou privadas de apoio e da própria academia, trata-se de entender que, somando-se às iniciativas que a comunidade assimila como suas, a produtividade dos esforços aumenta, maximizando resultados. Outro aspecto relevante é o conceito de desenvolvimento local. Nesse sentido, uma abordagem flexível foi a base do processo. O grupo de instituições resgatou diversos conceitos adotados no país. A Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), por exemplo, trabalha com comunidades que se organizam e tomam suas próprias decisões. Já em Santa Catarina, o Estado foi dividido em 30 conselhos regionais, pois houve um entendimento de que esse era um espaço mais racional de organização. Por sua vez, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) possui uma metodologia que divide as regiões adotando, como critério central, a identidade de cada localidade. Dowbor lembra que o conceito foi imensamente debatido em seus dois componentes: “Para nós, desenvolvimento vai além do crescimento econômico. É um processo economicamente viável, socialmente justo e


BRUNO SPADA

III Encontro Nacional dos Consads, realizado em Brasília

dos os estados do país. Por sua vez, o Instituto Polis realizou entrevistas qualitativas com 25 especialistas do Brasil e 34 de países sul-americanos. “O processo de pesquisa foi uma grande escuta. Perguntamos, por exemplo, que medidas facilitariam a vida profissional dessas pessoas. Esse foco básico permitiu organizar o Projeto”, complementa. Com base nas respostas dos entrevistados, o grupo executivo do Projeto percebeu que os entraves ao de- Juarez de Paula, do Sebrae senvolvimento local e as proPRÓXIMOS PASSOS postas correspondentes para superá-los podem ser agrupados em oito A entrega do documento ao presieixos: dente Lula foi o primeiro passo de um calendário de divulgação nacional. Quanto às 89 propostas, dezenas es1- Financiamento e tão sendo encaminhadas pontualmencomercialização te. Além disso, boa parte das sugestões já foi incorporada pelos ministéri2- Tecnologia os. Mas é preciso expandir: “O minis3- Desenvolvimento tro Tarso Genro propôs uma Câmara institucional Técnica para se apropriar do Projeto. Estamos discutindo e avançando gra4- Informação dualmente para inseri-lo nas ações do 5- Comunicação governo”, diz Ladislau. RONALDO NINA

ambientalmente sustentável. Quanto ao termo local, optamos por falar em territórios de forma plural. É importante lembrar, sobretudo, que, em sua expressão conjunta, desenvolvimento local exige a apropriação dos processos por parte da comunidade”. O Sebrae foi um dos principais interlocutores no Projeto. Dentre outras ações, dividiu, com o Instituto Cidadania, a responsabilidade por alguns eventos. O gerente de agronegócios do Sebrae Nacional, Juarez de Paula, explica como os micro e pequenos empresários podem contribuir com a implementação das propostas apresentadas. “No Brasil, 4 mil municípios possuem menos de 50 mil habitantes e, nessas localidades, a produção econômica ocorre basicamente por meio da agricultura, da pecuária e da transferência de renda, por parte do governo. Justamente nesses municípios, que são a maior parte, as micro e pequenas empresas podem fortalecer o desenvolvimento local. No aumento de sua competitividade, cabe a esses empresários gerar mais emprego e renda, promovendo a inclusão social”, explica. Como contribuição ao Projeto, a Fundação Banco do Brasil patrocinou uma extensa pesquisa junto aos agentes efetivos ou potenciais do desenvolvimento local. Com uma metodologia quali-quantitativa, a pesquisa recolheu contribuições de 5.637 brasileiros e brasileiras, em to-

Publicação apresenta propostas para o desenvolvimento local

6- Educação e capacitação 7- Trabalho, emprego e renda 8- Sustentabilidade ambiental

A íntegra do Projeto Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local está disponível em: www.desenvolvimentolocal.org.br. PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

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INCLUIR

PROJETOS VÃO RECEBER R$ 8 MILHÕES DO MDS

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Um dos diagnósticos do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento Local é que há diversas iniciativas de produção na base da sociedade brasileira, porém de forma desarticulada e insuficiente. As pequenas ações precisam se multiplicar e convergir em grandes políticas. Os Consórcios de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local (Consads) confirmam essa necessidade e apontam caminhos. Suas ações são exemplos que evidenciam a importância da parceria e da cooperação para a solução de antigos desafios: o combate à fome e a promoção dos desenvolvimentos nas regiões. Cada Consad é um arranjo territorial institucionalmente formalizado, envolvendo um número definido de municípios. Esses se reúnem a partir de afinidades históricas, econômicas, culturais ou sociais visando criar uma articulação territorial que possibilite a geração de projetos e investimentos. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), por seu lado, apóia a implantação, nestes territórios, de projetos de combate à pobreza relacionados a sistemas agroalimentares. Em janeiro deste ano foi realizado, em Brasília, o III Encontro Nacional dos Consads. O coordenador geral de Difusão de Iniciativas Inovadoras da Sesan/MDS, Alexandro Rodrigues Pinto, fala sobre os objetivos do encontro: “Tivemos como principal mote a necessidade da consolidação dos consórcios. Também buscamos identificar, em Brasília e nos dez encontros regionais, parceiros locais, âncoras fora do governo. É preciso dar sustentabilidade aos Consads construindo parcerias com a sociedade civil, com a iniciativa privada, de forma a trazê-las para dentro da discussão”. Quanto às ações para 2007, projetos que contemplem o combate à pobreza e à desnutrição e fomentem o desenvolvimento das regiões vão receber R$ 8 milhões do MDS. Parte dos recursos vão para projetos que prevejam a melhoria das condições socioeconômicas de famílias moradoras em regiões onde existem Consads. O restante dos investimentos, R$ 3 milhões, será destinado à capacitação dos integrantes de Consads, qualificação das famílias e comunidades. Outras informações: www.mds.gov.br Colaboração: Assessoria de imprensa do MDS

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1º Fórum Nacional da RTS aponta próximos passos A Rede de Tecnologia Social (RTS) está definindo suas ações para o biênio 2007/2008 com base em proposições de centenas de instituições. As propostas foram apresentadas durante o 1º Fórum Nacional da RTS, realizado em Salvador/BA, em dezembro do ano passado. A secretária executiva da Rede, Larissa Barros, traz reflexões sobre a realização do encontro e os próximos passos da RTS.

Qual é a avaliação quanto ao 1º Fórum Nacional da RTS? O Fórum da RTS foi a conclusão de um primeiro ciclo, de uma primeira etapa da formação da Rede. Foi um marco, pois, pela primeira vez, as instituições que aderiram a esse movimento se encontraram para discutir a rede. E quais são os passos prioritários? Existem alguns grandes desafios. É preciso fortalecer essa articulação nacional, criar espaços de participação efe-

1º Fórum Nacional da Rede de Tecnologia Social (RTS)

tiva das instituições. Outro grande desafio é fortalecer a difusão dos conhecimentos existentes, a partir de tecnologia sociais que estão sendo desenvolvidas, criadas e reaplicadas, em todas as regiões. As organizações levaram essa experiência. É preciso difundir para que outras comunidades e outras organizações que vivem aquela mesma realidade

ARQUIVO RTS

EXPERIÊNCIAS

Larissa Barros

possam também se apropriar desse conhecimento. E, a partir daí, recriar sua própria tecnologia social. Também é importante mais investimento e uma maior escala na reaplicação de tecnologia sociais. O Fórum da RTS foi realizado no espaço da Expo Brasil Desenvolvimento Local. O que significou essa parceria? A RTS optou por realizar o seu momento mais importante, desde sua constituição, no ambiente da Expo Brasil por reconhecer esse evento como principal espaço onde as experiências de desenvolvimento local - muitas delas utilizando tecnologias sociais - se encontram. Optamos por fortalecer a Expo, abrir a programação do Fórum para que outras pessoas também conhecessem a Rede. Queremos continuar reforçando essa parceria pela grande identidade de propósito que existe entre a Expo Brasil Desenvolvimento Local e a Rede de Tecnologia Social. Outras informações: www.rts.org.br http://expo.rededlis.org.br/ Colaboração: Alberto Perdigão e Elízio Costa



A

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violência é tema dos telejornais e do cotidiano das cidades. É tão constante que chega a ser banalizada por reportagens diárias sobre assaltos, balas perdidas e batidas policiais. Apenas quando há casos chocantes é que o debate se amplia e se mantém no ar por mais que um dia. Ainda assim, os temas se restringem em geral à redução da idade penal e ao tempo de pena previsto em lei, além dos detalhes sangrentos do ocorrido. Pouco se fala sobre porque a cada dia mais é produzido personagens que promovem essas e outras ações violentas e em que áreas atuar para que esses episódios sejam reduzidos e combatidos preventivamente. A pergunta é: será que atitudes e projetos sociais são eficientes como estratégia de combate à violência? Nas comunidades do Morro da Caixa e da Maloca, na parte continental de Florianópolis, a resposta é positiva. A comprovação está na redução dos indicadores de violência na região, como roubos, assaltos e arrombamentos. A comunidade, que antes estava exposta à violência e era também produtora de ações violentas em outras áreas, hoje vivencia a inclusão social através de projetos como os promovidos pela Fundação Casan (Fucas). A Fucas existia desde 1977 apenas para administrar os programas sociais voltados aos funcionários da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) como vale transporte, plano de saúde e áreas de lazer. A partir de 2003, como seu estatuto havia sido realizado sob forma de fundação, a Fucas decidiu passar a atuar como uma instituição do Terceiro Setor e criar projetos voltados à sociedade, com enfoque em crianças e adolescentes carentes em idade escolar. Foi daí em diante que tudo mudou. O antigo ginásio de esportes da associação dos funcionários, que estava caindo aos pedaços, foi renovado e transformado na base das atividades da fundação. Localizado na própria comunidade assistida, o Centro de Ação Social conta hoje com centro administrativo, sala de

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Horizonte mais

Projetos sociais da Fundação Casan incluíram crianças e jovens de regiões empobrecidas da capital catarinense

treinamento e capacitação, sala para acompanhamentos terapêuticos, quadra de esporte polivalente, academia de ginástica, dança, judô, espaço para teatro, música e circo, sala de informática, lazer, sauna, biblioteca, restaurante e lanchonete. Por meio do projeto guarda-chuva “Campões nas Quadras e na Vida”, que reúne iniciativas de assistência social e formação, a Fucas desenvolve 12 subprojetos que atendem hoje 150 crianças e adolescentes de 12 a 18 anos, além de jovens com mais de 18 anos e adultos através de cursos de capacitação profissional e de gestores do terceiro setor. As crianças e adolescentes passam o dia na instituição, quando não estão em horário de aula, realizando cursos, oficinas ou simplesmente brincando. A Fundação Casan oferece aulas de futsal, judô, informática, artesanato, percussão, artes circenses e teatro.

Todos os participantes recebem uniforme, almoço e lanche, além do material utilizado nas aulas. “A hora que uma criança sai de casa para um projeto desses, está saindo do ócio. Construímos este espaço para que ela ache o melhor lugar do mundo. Substituímos as ofertas da criminalidade e o ócio”, afirma o presidente da Fucas, Aparício José Mafra Neto. A fundação também chega aos jovens com mais de 18 anos e aos adultos através de atendimento fonoaudiológico e psicopedagógico, e ainda com o projeto de inclusão digital, que reúne 180 pessoas, e o Nova Chance, voltado à formação profissional como cursos de manutenção de computadores. A comunidade também tem acesso livre aos equipamentos da academia de ginástica. Até agora os recursos utilizados são provenientes da própria fundação, por meio de dividendos de investimentos do fundo da Fucas.


Homicídio

colorido Criação de oportunidades consegue diminuir indicadores de violência

Com isso, o propósito é permitir que a entidade, como parte do terceiro setor, agende as prioridades que deseja e não dependa das prioridades de governos e empresas. “As pessoas ficam seguindo apenas as regras do 1o e 2o setores, governo e mercado. Fazemos o que a sociedade precisa e queremos agendar os outros setores”, avalia Aparício Neto. Para 2007, a Fucas pretende ampliar a capacitação de gestores e promover cursos de capacitação a distância. A formação de gestores caminha junto com os projetos de assistência para que as pessoas que administram as entidades do Terceiro Setor conheçam a área e possam atuar com autonomia. A integração do Terceiro Setor também é um objetivo para 2007. Será realizado de 28 a 30 de março, em Florianópolis, o III Encontro Catarinense do 3 o Setor, promovido pela Fundação Casan com apoio do Ministério Público de Santa Catarina. O encontro vai reunir entidades da área além de empresas e representantes governamentais. Junto com o encontro do setor acontece uma Assembléia Geral da Associação Nacional de Procuradores e Promotores de Justiça de Fundações e Entidades de Interesse Social (Profis), que vai reunir representante de todo país. A meta agora é buscar parcerias em governos e empresas para ampliar e realizar novos projetos soci-

Vanessa Pedro

ais. Uma das iniciativas é a implantação de um centro terapêutico de tratamento de dependência química, além da criação de projetos sócio-ambientais, seguindo uma vocação da própria Casan na área de preservação ambiental e uso da água. Neste ano também será implantado um novo projeto voltado à urbanização da comunidade: o Pintando o Morro. Além disso, a fundação pretende criar uma Incubadora Social para o desenvolvimento de novos projetos. Outra iniciativa para 2007 é a implantação do projeto Primeira Chance, voltado a jovens que buscam o primeiro emprego. A proposta é capacitar e buscar oportunidades de colocação profissional em empresas privadas. Para isso a parceria é fundamental. A meta de aumento em 20% no atendimento à comunidade já foi atingida logo no começo do ano porque a procura pelas atividades da fundação tem aumentado a cada mês, dispen-

Fonte: Secretaria de Segurança Pública de SC

sando a estratégia inicial de ir até o morro para oferecer os cursos. Agora são os moradores que já criaram o hábito de ir à Fucas em busca de atividades de cultura, lazer e formação profissional. Por isso, também, outra meta para o ano é ampliar as instalações da entidade. O debate sobre como reduzir os índices de violência continua. Nos arredores do Morro da Caixa e da Maloca os dados demonstram que algo já aconteceu. De 2003 a 2005, o número de homicídios foi reduzido de 30 para 6, enquanto o de lesões corporais de 31 para 10 e o de arrombamentos ou furtos de veículos de 225 para 60.

DEPOIMENTOS A responsabilidade pela redução de todos os índices de criminalidade da região não é exclusiva da fundação, mas a inclusão que ela e outras organizações da região promovem parece ter influência no presente e no futuro dessas comunidades. É o que atestam depoimentos recebidos de moradores como Ângela Aparecida de Jesus, mãe de uma das crianças atendidas pela Fucas. “Olá, hoje escrevo para falar o que o projeto Fucas e os professores significam na minha vida e dos meus filhos. O Roger freqüenta o projeto desde o começo. Deu uma parada no começo do ano e depois retornou, foi a melhor coisa que aconteceu. Nos outros anos ele não fez judô, só futsal e as outras atividades, mas com o judô ele se tornou mais calmo, disciplinado e começou a estudar mais – até nos sábados, coisa que fazia anos que não via. Os meus filhos têm um problema de saúde e a alimentação da Fucas me ajuda a manter eles muito bem, além do amor, carinho e limites que eles aprendem a respeitar. Agradeço muito mesmo pelo que vocês fazem pelos meus filhos pois se não fosse o programa Fucas onde eles estariam hoje, quais seriam suas amizades, como poderia trabalhar descansada?” (Trecho de carta encaminha à Fucas) PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

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Gabriela Michelotti

RELATÓRIO CIENTÍFICO DEIXA CLARO QUE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CHEGARAM A UM NÍVEL PERIGOSO E QUE AS EMISSÕES DE CO2 GERADAS PELA POPULAÇÃO SÃO AS GRANDES CULPADAS, MAS AINDA HÁ TEMPO PARA ESTANCAR O PROCESSO tarde demais”) e o outro mostrava um termômetro gigante. Ao final do encontro, os cientistas e especialistas reunidos na cidade divulgaram seu relatório conjunto sobre as causas e efeitos do aquecimento global para os próximos cinco anos. Foi o quarto relatório do IPCC desde 1990. O penúltimo tinha sido divulgado em 2001.

NO BRASIL O Brasil é vítima e vilão ao mesmo tempo do aquecimento global. Isso porque é o quarto maior emissor de CO2, ficando atrás só dos Estados Unidos, China e Rússia. Apesar de termos pouca queima de combustíveis fósseis por aqui, os grandes desmatamentos e as quei-

©GREENPEACE/RODRIGO BALEIA ©GREENPEACE/FLÁVIO CANNALONGA

Terra em alerta

SÉRGIO VIGNES

O

último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC - sigla em inglês), órgão da ONU que congrega mais de 2 mil cientistas para pesquisar sobre mudanças climáticas, não deixa dúvidas: o planeta está sofrendo um processo de aquecimento constante que poderá causar muitos problemas para todos nós ainda neste século. Se os níveis de poluição continuarem do jeito que estão, as temperaturas globais poderão aumentar entre 1,1ºC e 6,4ºC até 2095, em relação aos níveis da época pré-industrial, do período de 1980 a 1999. Isso provocará mais secas, ondas de calor, enchentes e furacões mais fortes, derretendo rapidamente as calotas polares e aumentando o nível dos mares. O Brasil não ficará livre das conseqüências dramáticas desse aquecimento. Em agosto do ano passado, o Greenpeace divulgou o relatório “Mudanças do clima, mudanças de vidas”, mostrando que o aumento de temperatura trará mais seca para a Amazônia e a região do semi-árido brasileiro, perdas agrícolas para as lavouras do Sul do Brasil e aumento de tempestades intensas e furacões em várias regiões da costa brasileira. Stephannie Tumore, coordenadora da campanha de clima do Greenpeace Internacional, esteve no encontro de Paris. “A boa notícia é que sabemos hoje bem mais sobre o clima de nosso planeta e sobre o impacto que causamos nele. A má notícia é que, quanto mais sabemos, mais precário o futuro parece. Há uma mensagem clara aos governos aqui: o prazo para agir está acabando. Se a última notícia do IPCC fosse um chamado de alerta, com certeza essa sirene estaria tocando”. Para alertar o mundo sobre a gravidade do problema, o Greenpeace decidiu se manifestar no dia em que os cientistas do IPCC estavam reunidos em Paris para lançar seu quarto relatório, no dia 2 de fevereiro último. Ativistas do grupo escalaram a Torre Eiffel, símbolo da cidade, e estenderam dois cartazes da plataforma mais alta da torre, a 324 metros do chão: um dizia “It’s Not Too Late (“Não é

madas em nossas florestas nativas, principalmente na Amazônia, emitem anualmente enormes quantidades de CO2 na atmosfera. “Os governos precisam abrir os olhos e atacar a causa do problema. Ou seja, reduzir as emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis e, no caso do Brasil, do desmatamento e do uso do solo. Apenas a ação decisiva e imediata de todos os setores da sociedade, principalmente poder público e indústria, poderá reverter essa situação”, explica Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace Brasil. “Existem meios e, se agirmos agora, ainda há tempo. Esperamos que as notícias de Paris fortaleçam a vontade política da comunidade internacional”.


* A probabilidade de as mudanças climáticas serem causadas pela ação humana é de 90%, segundo o novo relatório. É o mais alto índice de confiança em todos os quatro relatórios do IPCC até aqui. Os resultados foram colhidos em vários países do mundo para se chegar à conclusão final.

©GREENPEACE

As principais conclusões do relatório do IPCC

* A sensibilidade climática do planeta aumentou. Antes, em caso de duplicação da quantidade de emissões de gases do efeito-estufa (em relação aos índices préindustriais), o aquecimento global previsto era de 2,5ºC. Agora esse valor aumentou para 3ºC. * Se as emissões de gases na atmosfera não forem reduzidas, o aquecimento global esperado para 2100 é de 1,1ºC a 6,4ºC até 2095 – com relação a dados de 1980-1999. * A intensidade das tempestades tropicais deve aumentar e isso está diretamente relacionado ao aumento da temperatura da superfície do mar. * As calotas polares da Antártica e da Groenlândia contribuíram para um aumento de cerca de 15% do aumento do nível do mar entre 1993 e 2003. Contudo, os modelos verificados pelos cientistas afirmam que a calota polar antártica deveria estar crescendo, devido à intensa precipitação, o que significa que ainda não é possível explicar o aumento no degelo especialmente no Pólo Sul. Não há previsão para um rápido derretimento e degelo na Groenlândia. Portanto, embora saibamos que o nível do mar aumentará, ainda é difícil determinar precisamente o quanto. * Um aquecimento entre 1,9ºC e 4,6ºC acima dos índices pré-industriais durante 100 anos provocaria a eliminação da calota polar da Groenlândia. Isso aumentaria o nível do mar por volta de sete metros. O relatório também descobriu que as temperaturas futuras projetadas para a região são comparáveis a um aquecimento ocorrido há 125 mil anos, quando o nível dos mares era de 4 m a 6 m maior do que é hoje.

Relatório diz que ainda há saída Em resposta ao IPCC, que reforçou em Paris a gravidade da crise climática global, o Greenpeace lançou em fevereiro o relatório [R]evolução Energética, um detalhado guia que mostra como é possível mudar a matriz energética até 2050, abandonando os combustíveis fósseis e adotando fontes renováveis de energia, sem alterar as taxas previstas de crescimento econômico e do consumo de energia da população. Entre as conclusões, o estudo mostra que o Brasil pode crescer até 2050 impulsionado por fontes renováveis de energia e eliminar as fontes sujas - petróleo, carvão e nuclear. Para isso, é preciso uma estruturação do setor em torno da conservação de energia e políticas públicas de apoio a energias renováveis. Os dados do relatório integram o capítulo brasileiro de um estudo global encomendado pelo Greenpeace e pela Comissão Européia de Energia Renovável (Erec) ao Centro Aero-

espacial da Alemanha (DLR), um dos mais conceituados institutos de pesquisa na área de cenários energéticos. No Brasil, a parceria foi com o GEPEA (Grupo de Engenharia de Energia e Automação de Elétricas da Escola Politécnica da USP) para projetar os cenários de geração de eletricidade no Brasil. Por meio de um software, o relatório [R]evolução Energética apresenta cenários futuros para a geração e distribuição de eletricidade no país até 2050, com base em avaliações de aumento populacional, crescimento do PIB e fontes e tecnologias de energia disponíveis. Durante o lançamento do relatório, o Greenpeace inaugurou 40 painéis solares fotovoltaicos na sede da organização em São Paulo, que captam a luz do Sol e podem gerar até 2.800 watts. O sistema foi conectado à rede pública de energia e repassará o excedente de energia gerado, o

que ainda não é permitido por lei. Praticamente, foi feito um chamado ‘gato’ ao contrário: em vez de roubar energia do sistema público de energia, a ONG está devolvendo energia à rede. A instalação deve suprir até 50% da demanda diária de eletricidade do escritório do Greenpeace. “Decidimos praticar este ato de desobediência civil para questionar o atual modelo de geração e distribuição de eletricidade”, explica Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace. “Em linha com a revolução energética que estamos propondo, acreditamos na descentralização da geração de energia e na criação de um mercado acessível ao consumidor final de energias renováveis como eólica, biomassa, solar e pequenas centrais hidrelétricas. Também vamos aplicar medidas de eficiência energética em nossa sede para demonstrar as vantagens econômicas da sustentabilidade”, afirma Furtado.

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AMBIENTE

Cuidando da vida

BIOCOMBUSTÍVEIS E CERTIFICAÇÃO Luís Fernando Guedes Pinto*

A biomassa deve se estabelecer como importante componente da matriz energética mundial O QUE JÁ EXISTE

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Sistemas de certificação agrícola com abordagem socioambiental já existentes e que podem ser adaptados para os biocombustíveis: · Certificação orgânica – Opera com diferentes normas, dependendo da legislação de cada país. · Comércio justo – O sistema da FLO (Fair Trade Labelling Organization) tem a maior abrangência internacional. É direcionado para beneficiar pequenos produtores, garantido relações comerciais diferenciadas e de longo prazo entre estes e os compradores. · Rede de Agricultura Sustentável – Criada por um grupo de ONGs da América Latina para promover mudanças socioambientais na produção agrícola desta região, é conhecida por usar o selo Rainforest Alliance Certified.

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milhões é o número de hectares cultivados com cana-de-açúcar no Brasil. Estimase que essa área possa dobrar nos próximos cinco anos, por causa do mercado nacional e internacional de álcool combustível.

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Embora a biomassa seja considerada uma matéria-prima renovável e, portanto, mais adequada do ponto vista ambiental que os combustíveis fósseis, sua produção pode ter significativos impactos ambientais e sociais, inclusive sobre o ciclo de carbono e o aquecimento global. Entre as matérias-primas potenciais para a produção de biocombustíveis, destacam-se culturas agrícolas, muitas delas já cultivadas intensamente para outros fins, como alimentos, incluindo commodities e outras espécies como cana-de-açúcar, soja, dendê, mamona. A expansão destas culturas para a produção de biocombustíveis tem finalmente mobilizado a sociedade civil a respeito da importância e dos impactos da atividade agrícola para o desenvolvimento sustentável. Os impactos mencionados estão relacionados principalmente à produção agrícola da biomassa. Eles são gerados nas unidades de produção ou propriedades rurais e englobam aspectos agronômicos, ecológicos e trabalhistas. Todavia, embora o impacto ocorra nas propriedades, seu efeito se amplifica para as bacias hidrográficas, para a paisagem e as comunidades que as circundam. Entre estes impactos, podemos citar o desmatamento, a poluição do solo e da água por fertilizantes, agrotóxicos e resíduos, trabalho precário, infantil ou forçado, entre outros. A produção de commodities agrícolas é freqüentemente relacionada com a degradação dos recursos naturais (água, solo e biodiversidade) e com a deterioração das relações trabalhistas e desrespeito aos direitos humanos. Há diversos estudos que comprovam esta afirmação. Por

outro lado, também há iniciativas de produção agrícola em diferentes escalas, com alto desempenho sociombiental, nas quais os recursos naturais são conservados e até recuperados, as questões trabalhistas e sociais são consideradas e contribui-se para uma melhoria da qualidade de trabalhadores e comunidades associadas. Portanto, é necessário haver mecanismos que estimulem a produção responsável e comprometida com o conceito de Desenvolvimento Sustentável e outros que desestimulem a produção irresponsável e degradadora de aspectos socioambientais. Além do contínuo avanço em ciência e tecnologia e o desenvolvimento e a aplicação de políticas públicas, deve haver outros instrumentos que estimulem e promovam a produção responsável. Entre estas, destacamos a certificação socioambiental. APLICAÇÃO PARA BIOCOMBUSTÍVEIS

As certificações de biocombustíveis pode ocorrer pela criação de um


dade de alimentos e não deve ser importante como opção para a compra de combustíveis. Além disso, embora seja crescente, ainda é relativamente pequeno o universo de produtores rurais com interesse em converter seus sistemas de produção em orgânicos. Finalmente, embora tanto os sistemas de comércio justo como os orgânicos estejam em constante evolução, seus padrões ainda não consideram ou consideram com pouca profundidade questões ambientais e sociais críticas para a produção de FOTOS: ARQUIVO IMAFLORA

sistema especial ou pela aplicação dos sistemas de certificação agrícola já existentes com abordagem socioambiental. Considerando a aplicação para combustíveis, há maiores limitações para os sistemas orgânicos e de comércio justo. O comércio justo é limitado para pequenos produtores, que não serão os únicos ou principais fornecedores de matéria-prima para a produção de biocombustíveis. Quanto à certificação orgânica, a maior motivação dos consumidores ainda está ligada à qualidade e sani-

Biocombustível chama a atenção para impactos da atividade agrícola

commodities que se transformarão em biocombustíveis. Já o sistema da Rede de Agricultura Sustentável (RAS) foi desenhado para influenciar os sistemas de produção de culturas agrícolas de grande impacto socioambiental na região tropical. Ele já é aplicado há algum tempo para culturas como banana, café e cacau. A grande lacuna do sistema da RAS e dos demais sistemas é a avaliação da eficiência energética, que passa a ser uma importante variável para os biocombustíveis. Há a opção de criar novos sistemas de certificação específicos para biocombustíveis ou biomassa. Todavia, isto requer grandes investimentos de recursos materiais e humanos, tanto para o processo político quanto técnico. Sugerimos a harmonização ou adaptação dos sistemas e normas já existentes como a melhor alternativa para que os esforços nacionais e internacionais de produção de biocombustíveis com origem responsável sejam implementados por meio de sistemas de verificação independente. *Secretário executivo da IMAFLORA (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), engenheiro agrônomo e doutor em Produção Vegetal pela ESALQ/USP.

COMÉRCIO JUSTO E SOLIDÁRIO O que é exatamente o comércio justo? O Comércio Justo é um movimento surgido na Europa por iniciativa de grupos de consumidores, inicialmente organizados em torno de ongs, ou mesmo das igrejas. Não é ação filantrópica, é comércio pra valer. Nas últimas décadas foram criadas redes de lojas especialiFelipe Sampaio zadas em Fair Trade e foram organizados sistemas de certificação e de distribuição de produtos, que hoje são comercializados até nas grandes redes de supermercados europeus. O movimento espalhou-se por outros países e hoje os consumidores “justos e solidários” dos EUA, Canadá e Japão já podem expressar sua responsabilidade social e ambiental comprando produtos do Comércio Justo. Quais as principais diferenças em relação ao comércio tradicional? O Comércio Justo é uma rede de organizações e empresas voltadas para a valorização de um tipo de comércio que se preocupa com as condições ambientais e sociais em que os produtos são produzidos. Quando um consumidor opta por comprar um produto

com o selo do Comércio Justo está fortalecendo sua relação com pequenos produtores que podem estar do outro lado do planeta. O foco do Comércio Justo e Solidário é a “agregação de valores” às relações econômicas, ao invés da “agregação de valor” aos produtos que predomina no comércio convencional. Qual a importância do comércio justo no Brasil? Através dos rótulos, selos, folders, sites e campanhas o consumidor fica sabendo quem produziu aquele produto; que o produtor está recebendo um pagamento justo; que não houve exploração de crianças e mulheres; que o ambiente está sendo respeitado; que o produto não contém transgênicos etc. Ou seja, são valorizadas atitudes que promovem a redução da desigualdade social e da devastação ambiental favorecendo o Desenvolvimento Econômico em bases sustentáveis. No Brasil o movimento adotou o nome de Comércio Justo e Solidário. O FACES do Brasil - uma rede de ongs e organizações de pequenos empreendedores rurais e urbanos - está criando o Sistema Brasileiro de Comércio Justo e Solidário, de maneira participativa e com apoio do Governo Federal. www.facesdobrasil.org.br

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ROMPENDO A QUE VIVEM DA QUEBRA CASCA... MULHERES DO COCO DE BABAÇU PASSAM

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pesar de não haver dados oficiais, calcula-se que, no Brasil, cerca de 400 mil extrativistas sobrevivam da quebra do coco babaçu, dos quais 90% são mulheres A região dos babaçuais está localizada na faixa de transição para a floresta Amazônica. Com cerca de 18,5 milhões de hectares, inclui terras do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins. A região é marcada por histórico conflito agrário, resultado de políticas públicas que favoreceram a concentração de terras e a expansão pecuária nos anos 70 e 80. Essas políticas levaram ao desmatamento dos palmeirais e à marginalização de comunidades rurais tradicionalmente extrativistas do coco do babaçu. A ferrenha defesa de seu direito à terra e seus recursos naturais levou os trabalhadores rurais a inúmeros embates com os novos donos de terra. Para as mulheres quebradeiras essa luta significou uma transformação social e pessoal.

“A ATIVIDADE É DURA E POUCO VALORIZADA. PORÉM, ACABOU SE TORNANDO UM SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO PARA MILHARES DE MULHERES”. “Quando o conflito agrário começou, passei a participar de protestos. Fui a São Luís e, numa reunião, achei bonito o que as pessoas diziam. Levamos aquela discussão para nossa comunidade e foi como tudo começou. Em 1989, criamos um grupo de estudo”, conta Maria Adelina de Souza Chagas, a Dada, ex-diPrimeiroPLANO . ano 2 . noo5 . março 2007

POR UMA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E PESSOAL

FOTOS: LUCA ZANETTI

A

Rosana Heringer*

retora da Assema, organização fundada por trabalhadores rurais e quebradeiras de coco. Além de regular a situação fundiária de várias famílias, a organização conseguiu garantir a liberdade de comercialização das amêndoas do babaçu, pois até então as quebradeiras de coco e os trabalhadores rurais eram forçados a vender sua produção a determinados comerciantes. Mas um importante mérito da Assema também foi permitir o reconhecimento do papel das mulheres no extrativismo da palmeira. “Costumo dizer que nasci duas vezes… acho que hoje sou uma outra pessoa, vejo o mundo de um outro jeito. Às vezes digo pra mim mesma, menina, acho que eu vivia dormindo”, diz Dada. “Quando me perguntavam se eu trabalhava, dizia que não. Eu quebrava coco, cuidava da roça, filhos, da casa, do marido, mas não valorizava isso. Acho que hoje o que aprendi, o entendi-

mento diferente que tenho hoje, eu devo à Assema”, avalia. A paixão pelas palmeiras de babaçu se explica pela sua generosidade para a economia local. Das palmeiras se pode extrair a palha para cestaria e artesanato. Do película interna do coco babaçu se faz farinha para enriquecer a alimentação. Das castanhas se extrai óleo que é vendido pelas quebradeiras da Assema para a empresa de cosméticos inglesa Body Shop ou a americana Aveda. Do óleo se faz sabonete. Da casca se prepara carvão vegetal. Na dinâmica local dos pequenos agricultores, os homens cuidam do roçado e as mulheres e crianças coletam coco. O coco pode ser coletado durante todo o ano. A roça depende dos ciclos de plantação e colheita e está sempre sujeita às intempéries. Gradualmente, as mulheres se organizaram em cooperativa e passaram a defender um preço maior para as castanhas do coco. O reconhecimento do


PERFIL DE QUEBRADEIRA Sebastiana Ferreira Costa e Silva, mais conhecida como Moça, é uma das coordenadoras do MIQCB. Quebradeira e mãe de cinco filhos, Moça é moradora de Lago do Junco, primeiro município a ter aprovada a Lei do Babaçu Livre. “Conquistamos um espaço porque criamos a coragem de dizer que somos quebradeiras. Somos quebradeiras e trabalhadoras rurais. Em casa há discriminação, mas isso tá mudando porque a gente tá saindo e repassando isso nas reuniões da comunidade onde tem outras mulheres que não tão informadas. O problema que atinge a todas é o machismo. Ele está nos dois lados, nas mulheres e nos homens, mas nós mulheres temos menos dificuldades de nos desarmar”.

seu papel mudou na família e nas comunidades. Elas já elegeram vereadoras, também quebradeiras, para defender a preservação das palmeiras de coco no Maranhão e nos estados vizinhos onde também existe a árvore. Apoio da sociedade civil - A luta das quebradeiras vem recebendo

HÁ VÁRIAS GERAÇÕES, LÁ ESTÃO ELAS COM UM MACHADO PRESO A UMA DAS PERNAS E UM PORRETE NA MÃO. apoio de muitas ONGs e organizações de cooperação internacional. Uma delas, a ActionAid, é parceira da Assema desde 1999, e do MIQCB (Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu) des-

de de 2004. A ActionAid é uma organização não-governamental que atua com comunidades pobres em todo o mundo. A luta por direitos é o objetivo central do trabalho, sobretudo o direito das mulheres. “O movimento das quebradeiras de coco expressa uma experiência concreta de mulheres que estavam restritas a espaços domésticos desvalorizados e passaram a ser protagonistas”, explica Rosana Heringer, Coordenadora Geral de Programas da ActionAid Brasil. “Elas construíram uma nova identidade social, antes invisível, e um movimento de conquistas políticas importantes com ampliação de direitos, inclusive ambientais, que trouxeram melhoria da renda para as famílias”, explica Rosana Heringer, Coordenadora Geral de Programas da ActionAid Brasil.

DIREITO DE SER LIVRE Uma das mais expressivas conquistas das quebradeiras tem sido a Lei do Babaçu Livre. A maioria das palmeiras está em fazendas cujos donos proibiam ou condicionavam o acesso ao coco mediante entrega de parte da quebra. A Lei, redigida por uma quebradeira e aprovada em 1997, garante o livre acesso das quebradeiras aos babaçuais, mesmo os localizados em propriedades particulares, e impede a derrubada, o uso de agrotóxicos ou o plantio de cultivos nocivos às palmeiras. Atualmente, vigora em treze municípios - seis no Maranhão, três em Tocantins e um no Pará. Os projetos de lei em âmbitos estadual e federal já foram encaminhados à Assembléia Legislativa do Maranhão e Congresso Nacional, em Brasília. Mas as quebradeiras sabem que não podem dar trégua: “Pra lei valer precisa o povo fazer com que a lei seja vivida, a gente faça ela ser cumprida. Pra gente a lei já existia, a gente conquistou na marra”, conta Sebastiana Gomes Siqueira, a Dona Sibá, quebradeira que gerencia a COOPALJ, Cooperativa Agrícola de Lago do Junco. A organização das quebradeiras de coco inspirou a criação, em 1995, do Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu – o MIQCB, do qual, Dada é coordenadora geral.

A ECONOMIA DO BABAÇU A palmeira do babaçu pode atingir até vinte metros de altura. E dela se pode extrair: - Palmeiras – gorduras - Folhas – palha - Mesocarpo do coco babaçu – farinha - Castanhas – óleo crul e óleo comestível - Estipe – adubo. - Palmeiras jovens – palmito e seiva que produz vinho - Amêndoas verdes – leite nutritivo - Casca do coco –carvão vegetal

... INVENTANDO A HISTÓRIA A ActionAid é uma organização não-governamental que atua em mais de 40 países para fortalecer as populações excluídas na afirmação e garantia de seus direitos. Em 2004, as iniciativas desenvolvidas pela ActionAid e seus parceiros alcançaram cerca de 13 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, atua desde 1999 no Norte, Nordeste e Sudeste brasileiros. A ActionAid apóia as mulheres quebradeiras de coco em projeto conjunto com a União Européia e a War on Want. *Coordenadora Geral de Programas da ActionAid Brasil.

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AGENDA GLOBAL

Por um mundo melhor

Você pode ajudar a reduzir enchentes

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Partículas plásticas conhecidas como “lágrimas de sereia” podem contribuir para a poluição dos oceanos de todo o mundo. Esta é a conclusão da pesquisa liderada pelo professor Richard Thompson, da Universidade de Plymouth, na Inglaterra. As lágrimas de sereia são resíduos plásticos (não biodegradáveis) resultantes dos excedentes de lixo industrial (redes de pesca) e doméstico (sacolas plásticas e garrafas de bebidas). Ao longo do tempo esses resíduos sofrem apenas uma redução de suas dimensões físicas, mantendo todas as propriedades originais. Diferentemente do constatado em 2004, quando os resíduos foram encontrados nas praias britânicas em pesquisa semelhante, dessa vez o estudo apontou a presença do material em todos os continentes. O relatório estima a presença de 300 mil partículas por quilômetro quadrado da superfície marinha.

74% da população brasileira compra ou já comprou produtos piratas. Para os setores de roupas, tênis e brinquedos, esse costume retira do país ao menos R$ 18,6 bilhões em arrecadação de impostos. Este é um dos resultados de uma pesquisa feita pelo Ibope para a Associação Nacional para Garantia dos Direitos Intelectuais (Angardi), Câmara de Comércio dos EUA e o Conselho Empresarial Brasil Estados Unidos.

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O aumento de volume de chuva no verão provoca alagamentos em diversas regiões do país e há uma relação bem próxima com as atividades humanas nas cidades. As principais causas para a elevação do nível de água nas cidades durante as chuvas são o volume de lixo depositado em locais inapropriados e a ocupação urbana de áreas cada vez maiores. A situação é pior nas regiões onde a prefeitura não destina o lixo de forma adequada, já que o lixo se mistura à água das inundações, aumentando a probabilidade de doenças. Boa parte dos gastos para solucionar esses problemas e para tratar das vítimas das águas são públicos, custeados pelos impostos. Conforme Renato Lima, coordenador do Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid) da Universidade Federal do Paraná e consultor da ONU para Desastres, as tubulações de esgoto, em geral, possuem um diâmetro ARQUIVO PRIMEIRO PLANO

OCEANOS

Lixo destinado de forma inadequada colabora com inundações e aumenta as doenças

suficiente para atender às necessidades de vazão de uma determinada região. Ele explica que o lixo jogado na rua, quando vai parar na tubulação, diminui a área útil do cano. O principal problema são os produtos feitos de plástico, como sacolas e garrafas PET, que não se decompõem e formam

uma barreira impermeável para a água. COMO AJUDAR O cidadão pode contribuir para a redução da incidência de alagamentos estimulando políticas públicas que busquem soluções e também atentando para a forma como descarta os produtos que consome. Além de não jogar lixo na rua, em terrenos baldios e rios, a recomendação da Defesa Civil é de que se limpe regularmente o telhado e as canaletas de água das residências. O Instituto Akatu lembra que, quando o consumidor planeja suas compras, reutiliza alimentos e produtos e separa o lixo reciclável do comum, enviando-o para uma coleta seletiva, também está contribuindo para reduzir o problema. Todos os dias são descartados mais de um milhão de quilos de lixo no Brasil, o suficiente para “pavimentar” uma estrada de 500 quilômetros, com duas pistas, e 11 centímetros de lixo. Mas, qualquer que seja o volume de lixo produzido diariamente pelo consumidor, se depositado em local incorreto, pode provocar enchentes e alagamentos. O despejo de resíduos de construção nos rios em algumas cidades é uma outra prática que, segundo Lima, provoca enchentes. Ela acontece quando o leito do rio extravasa a margem, causando prejuízos às populações ribeirinhas. Portanto, ao realizar uma obra, é importante certificar-se de que os resíduos de sua construção serão depositados em locais adequados e preferir projetos arquitetônicos que valorizem áreas de solo expostas, garantindo no terreno uma área maior para absorção das águas das chuvas.


Vassouras de plástico

Bolsa Família atende quilombolas

Jovens de 15 a 24 anos de um conjunto de favelas de Belo Horizonte formaram uma cooperativa para fabricar e vender vassouras com cerdas feitas de garrafa plástica reciclada. A iniciativa faz parte de um projeto apoiado pela ONG Contato – Centro de Referência da Juventude e pela PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), com o objetivo de auxiliá-los a conseguir trabalho e renda. Eles também vão fabricar vasos, copos, xícaras e bandejas de cerâmica. Com um financiamento do Banco do Brasil, a entidade comprou equipamentos e começou a fabricar os produtos. As técnicas de produção foram aperfeiçoadas ao longo de três anos e, nesse ano, eles firmaram um contrato com uma empresa de limpeza de Belo Horizonte para a venda de 156 vassouras por mês. As cerâmicas também são vendidas em uma feira organizada pela Prefeitura e geram cerca de R$ 300 mensais

O Ministério de Desenvolvimento Social incluiu no Bolsa Família mais de quatro mil famílias pobres que vivem em comunidades quilombolas, vilarejos remanescentes de quilombos de escravos. A ação abrangeu oito estados e identificou outros 7,3 mil lares que já estavam cadastrados no programa, embora não estivessem registrados como quilombolas. Os resultados sugerem que o número de famílias em áreas de antigos quilombos, estimado inicialmente em 20 mil, pode ser até três vezes maior, segundo o Ministério. A iniciativa, feita em parceria com as prefeituras, abrangeu Pará, Maranhão, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foram identificadas ao todo quase 17 mil famílias que viviam com renda per capita de até meio salário mínimo. Além de incluir estas famílias no programa, a operação abriu uma frente para que os governos estaduais e municipais dêem maior atenção às comunidades quilombolas, que em muitos casos ainda vivem isoladas, sem acesso a saúde e educação.

Problemas globais

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O mar não está pra peixe O destino da indústria de pesca representa um desafio que os governos deverão enfrentar em um mundo globalizado, revelou um novo relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), o GEO Year Book 2007 (Perspectivas para o Meio Ambiente). Cientistas estimam que a crescente demanda por alimentos e produtos marinhos vai gerar um colapso do atual estoque comercial de peixe até 2050, a não ser que seja introduzida uma nova conduta nesta área. Para piorar, as alterações climáticas podem agravar a situação por meio do crescimento da acidez dos mares e oceanos e do descoloração dos recifes de coral, importantes viveiros de peixes. Uma técnica de manejo para conter o colapso inclui uma dramática expansão do número de áreas marinhas protegidas, que atualmente cobrem somente 0,6% dos oceanos.

O GEO Year Book resume uma gama de opções que podem guiar a globalização a um curso mais inteligente, economicamente e ambientalmente responsável e sustentável. Outro assunto do relatório é o crescimento da nanotecnologia, a engenharia de superfícies e partículas em tamanho um bilhão de vezes menor que o metro. A tecnologia, que atualmente representa por volta de 0,1% da economia manufaturada, está fixada para ocupar 14% do mercado - ou o valor de 2,6 trilhões de dólares americanos – até 2014. Nanotecnologias aplicadas a técnicas e dispositivos são usadas como formas inovadoras e mais efetivas de monitoramento da poluição. Partículas anti-poluição podem tirar toxinas do ar, terra e água, dia após dia. Outros produtos incluem formas mais efetivas para o controle de pestes. No entanto, o relatório adverte:

“Não está claro se a estrutura regulatória atual é adequada para lidar com as características especiais da nanotecnologia. Até o momento, nenhum governo desenvolveu regulamentação específica para essa tecnologia. Um caminho balanceado é exigido para maximizar benefícios e minimizar riscos”. www.unep.org/geo/yearbook PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007


AENTREVISTA “Ser sustentável é um bom negócio”

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A Royal Philips Electronics da Holanda é um dos maiores fabricantes de equipamentos eletrônicos do mundo e o maior na Europa. Fundada em 1891, em Eindhoven, na Holanda, a empresa iniciou com a produção de lâmpadas de filamento de carbono. O primeiro barbeador elétrico da Philips foi lançado em 1939, momento em que a empresa já tinha 45 mil empregados em todo o mundo. Ao longo da década de 70, continuaram a ser apresentados novos produtos e idéias de grande relevância. A década de 90 trouxe alterações significativas para a Philips, com um importante programa de reestruturação, com o objetivo de reconquistar uma posição forte. À medida que entramos no novo milênio, a Philips também acompanha a revolução digital. A gerente geral de sustentabilidade na América Latina da Philips, Flávia Moraes, fala nesta entrevista exclusiva sobre como a atuação responsável faz parte da gestão e torna-se rentável para os negócios do grupo. PrimeiroPLANO . ano 2 . no5 . março 2007

Por que a sustentabilidade faz parte dos negócios da Philips? Além de fazer parte dos princípios e valores éticos da empresa, traz resultados financeiros? A sustentabilidade faz parte dos negócios da Philips desde sua criação. Está no DNA da empresa. A Philips tem trabalhado para melhorar sua participação social e sua qualidade ambiental, provando que negócios responsáveis são bons negócios. Agindo desta maneira, a empresa tem sido capaz de melhorar seu desempenho econômico, bem como o de seus acionistas e o da sociedade como um todo. Se um negócio trouxer benefícios sociais, individuais e ambientais e, além disso, resultados financeiros, ótimo. Esse é o nosso caso. Ser sustentável é um bom negócio. Com quem e como a Philips estabelece alianças e parcerias para o fortalecimento do desenvolvimento sustentável? A Philips entende que a atuação dela em prol do desenvolvimento sustentável tem que ser feita com os três setores da sociedade. O governo é quem dá a escala e que pode transformar uma causa em


ENTREVISTAE FLÁVIA MORAES uma política pública. Então para alcançarmos escala e o maior número de pessoas, acreditamos nas alianças e parcerias. O segundo setor é a empresa, contexto no qual estamos inseridos e temos algumas outras empresas como parceiras. Procuramos parceiros que tenham o mesmo comportamento ético e visão que nossa empresa. E, por último, o terceiro setor por hora representado por ONG´s, entidades e instituições. Estas são representações legítimas da sociedade e fazemos parceria com as que tenham causas que a Philips se identifica. Isto é ONG´s que tenham como objetivo de seu trabalho o meio ambiente, a saúde e a educação. A inclusão de pessoas com necessidades especiais é uma das preocupações da Philips. Quais as principais dificuldades da empresa para atingir a cota de 5% e como a empresa está superando estas dificuldades? A inclusão simboliza um ambiente onde todos possam participar plenamente da criação do sucesso do negócio, e onde cada pessoa seja valorizada pelos seus próprios talentos (habilidades, experiências, perspectivas, etc.) A Philips já atingiu essa cota em algumas de suas unidades. Há 2 motivos que dificultam a empresa para cumprir a meta nessas unidades. Um é a

grande procura por parte dos portadores de necessidades especiais às grandes empresas. E o outro é a política generalizada que determinou essa cota sem um levantamento e entendimento das dificuldades locais. Por exemplo, uma das nossas fábricas está situada em uma região que não tem 5% de deficientes em sua população. Como faço para incluílos se, nesse caso, não tenho demanda. Muitas empresas alegam que não deveria existir uma lei para promover a diversidade. Existe responsabilidade social voluntária ou existe outro caminho melhor para garantir avanços em termos da promoção da diversidade sem que seja preciso usar leis? Existem planos internos da Philips para incluir mulheres e negros em cargos de comando da empresa, especialmente na(s) diretoria(s)? Os caminhos para lidar com a questão da diversidade dependem da maneira com que a empresa encara a questão. A Philips absorve a cultura dos países em que atua, mas aproveita para criar iniciativas para garantir a igualdade visando a sustentabilidade. A ação mais focada neste sentido é o Projeto Singulares que, no Brasil, tem como objetivo conscientizar e disseminar, entre os colaboradores da empresa, a aceitação e o incentivo ao respeito a cada

indivíduo, motivando a interação e a integração de todos. Devido à abrangência do assunto, a Philips escolheu dois temas: a inclusão e diversidade. No caso das mulheres e negros, a empresa adota como uma das diretrizes basear o recrutamento e as promoções somente nas capacidades e competências individuais, construindo uma cultura baseada na performance, para que os programas de remuneração e de benefícios sejam justos. Prova disso é que a Philips tem feito um esforço para que as carreiras das mulheres na empresa alcancem escalões cada vez maiores. Independente de ter uma lei ou não, a Philips entende que o tema é inerente ao ambiente corporativo. Temos na América Latina a LatAm Women Network que é uma rede composta de mulheres executivas que recebem treinamento para seu desenvolvimento. Em nível mundial a Philips diz desenvolver produtos para a chamada “base da pirâmide”, ou seja, a grande massa de pobres em países em desenvolvimento. Há dados sobre um programa na Índia onde se desenvolve possibilidades de acesso a serviços de saúde móvel. A Philips está realizando iniciativas similares no Brasil? No Brasil, estamos estudando a vinda de produtos e projetos para a

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AENTREVISTA RAIO NO BRASIL X DA NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS: 4500 (aproximadamente) PHILIPS

O QUE PRODUZ: eletroeletrônicos, equipamentos para recepção de TV por assinatura via satélite, eletrodomésticos portáteis,produtos para cuidados pessoais e iluminação, a Philips do Brasil atua ainda nos setores de telecomunicações, informática e equipamentos médico-hospitalares

chamada base da pirâmide. Mas de concreto ainda não temos nada. Porém globalmente, como você mesmo citou, a empresa tem grandes conquistas.

FÁBRICAS: Manaus, Recife, Capuava (SP) e Varginha (MG)

NO MUNDO Empregos (por área) SISTEMAS MÉDICOS: 30 mil pessoas ELETRÔNICOS DE CONSUMO: 16 mil pessoas

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A Philips reconhece que as economias se transformaram e que hoje em dia são as idéias e tecnologias que determinam o êxito e não mais as fábricas e as máquinas. Que produtos são desenvolvidos no Brasil e até que ponto a Philips do Brasil traz tecnologia e conhecimento para a América Latina? Temos uma série de produtos desenvolvidos aqui. De lâmpadas à batedeiras, de ferros a vapor a televisores. No Brasil contamos com um laboratório de pesquisa e desenvolvimento em Manaus e uma gerência dedicada exclusivamente a novos negócios em Mercados Emergentes para toda a América Latina. Existe algo como um comitê nacional dos trabalhadores da Philips do Brasil para tratar de gestão e o futuro da empresa? Como funciona a negociação com os sindicatos no Brasil? No passado houve uma manifestação no sentido de se criar um Comitê Nacional, apoiada inclusive pela FNV (Sindicato da Holanda), mas tal iniciativa não foi levada adiante uma vez que não houve interesse dos Sindicatos no

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ELETRODOMÉSTICOS E CUIDADOS PESSOAIS: 8,2 mil pessoas ILUMINAÇÃO: 44 mil pessoas VENDAS: em 2006: 26.976 bilhões de euros, um aumento de 6% em relação a 2005.

Brasil de se unirem para tal fim. Esta falta de afinidade se deu em razão de que temos Sindicatos ligados a centrais distintas que de certa forma possuem orientações políticas bem distintas. Elas são realizadas com os Sindicatos nas bases/localidades onde nossas operações estão concentradas, conforme determina a legislação brasileira. O número de trabalhadores terceirizados da Philips é considerável. A empresa fornece benefícios para os terceirizados ou exige alguma coisa das empresas terceiras em comparação aos seus empregados diretos? A Philips tem cláusulas sociais em todos os contratos onde são previstos o respeito às leis trabalhistas, independente do vínculo. Todas as nossas atividades beneficiam os tercerizados. Procuramos não fazer nenhum tipo de distinção. Esses profissionais,

mesmo que tercerizados, são convidados a participarem de todos os projetos de voluntariado. Estendemos o que é feito em prol do bem-estar dos nossos funcionários aos funcionários tercerizados. A Philips está incluída na Dow Jones Sustainability Index (DJSIWorld). Qual a importância disto? Esse índice foi desenvolvido para mostrar que além dos critérios financeiros há outros que podem garantir ao investidor a certeza de que está fazendo um bom negócio. O posicionamento depende da pontuação da empresa nos três campos avaliados pelo Índice: desempenho nas áreas social, econômica e ambiental. O Índice Dow Jones de Sustentabilidade avalia 58 setores da indústria e acompanha o desempenho financeiro das companhias líderes mundiais em termos de sustentabilidade empresarial. Se você está nesse índice sigifica que


ENTREVISTAE sua empresa está inserida no futuro, na durabilidade do negócio. Resumindo, é uma segurança para o acionista e o investidor. Um dos gurus de administração, Michael Porter, alega que para fazer diferença as empresas devem dedicar sua ação social mais para os temas que tem ligação direta com o seu negócio. Como as ações sociais do Philips do Brasil são relacionadas com o próprio negócio da empresa? A constante busca pela excelência posiciona a Philips da América Latina à frente das demais regiões do mundo em responsabilidade social. O foco de atuação em responsabilidade social da Philips ultrapassa o limite do investimento social privado como patrocinadora de ações sociais. A empresa envolve-se profundamente com organizações não-governamentais e institutos do mundo inteiro para compreender e aplicar, cada vez mais, as melhores práticas existentes. Por meio de ações específicas na comunidade definida como público-alvo de cada projeto, definimos como focos de atuação as áreas de saúde e educação. Desde 2003 a Philips trabalha intensivamente com os seus fornecedores para desenvolver os sub-produtos e insumos. Como são incluídos critérios de

sustentabilidade neste trabalho e quais resultados foram alcançados? A Philips do Brasil promove um projeto que visa incentivar o crescimento das pequenas e médias empresas, com foco no desenvolvimento local. O principal objetivo do Projeto Vínculos é auxiliar na capacitação dos pequenos e médios fornecedores da Philips para a obtenção do Selo de Certificação ISO 14001, norma para Sistema de Gestão Ambiental e, conseqüentemente, a abertura de negócios entre pequenas e médias empresas nacionais e as multinacionais. O Projeto desenvolvido em parceria com a Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ), a organização internacional UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), e as instituições brasileiras Fundação Dom Cabral e o Instituto Ethos é um claro exemplo disso. No ano passado, dos cinco fornecedores escolhidos, apenas um ainda não recebeu a certificação, o que deve ocorrer até maio. O aquecimento global passou a fazer parte da agenda política mundial. Quais as medidas que a Philips está tomando e quais são as suas metas para enfrentar o aquecimento global? Em meados de 2006, o assunto passou a ser um dos principais temas discutidos pela empresa

globalmente. A Philips decidiu concentrar entre outros assuntos, o foco em soluções de eficiência energética para combater as mudanças climáticas. Cerca de 19% da eletricidade mundial é utilizada para iluminação. A Philips está liderando o movimento de uma mudança na indústria de iluminação para aumentar a eficiência energética, através de uma ação conjunta entre a indústria de iluminação, organizações não governamentais e governos para estimular o consumidor residencial a substituir as lâmpadas incandescentes por alternativas de baixo consumo. Só na Europa essa troca poderia acontecer dentro de um período de 10 anos, proporcionando ao consumidor residencial uma economia de até 80% dos custos com iluminação em suas contas de luz. Um dos produtos revolucionários da Philips nesse sentido é uma lâmpada halógena chamada Edore. Ela oferece uma iluminação clara e nítida e utiliza 50% a menos de energia em comparação com as lâmpadas residenciais comuns, e será lançada no segundo semestre de 2007. A Philips também oferece iluminação energeticamente eficient e a preços acessíveis para mercados emergentes. Outra área em que a Philips está se concentrando é o consumo oculto de energia dos televisores em standby.

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SOLUÇÕES

Bons produtos do bem

EMBALAGEM COM SELO FSC Está no mercado brasileiro a primeira embalagem de papel cartão com o selo FSC - Forest Stewardship Council (em português, Conselho de Manejo Florestal), entidade internacional que promove o uso responsável das florestas em todo o mundo. Uma parceria entre a Klabin, a gráfica Box Print e a Natura possibilitou que o produto da linha Chronos seja o primeiro no país a chegar ao consumidor em uma embalagem certificada. Isso significa que toda a cadeia de produção da embalagem, desde o manejo florestal, passando pela fabricação do papel e pela conversão e impressão da embalagem, ocorreu de forma ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável. A certificação também garante a rastreabilidade das matérias-primas em toda a cadeia produtiva. Para que uma embalagem possa ser comercializada com o selo FSC é necessário que todas as empresas envolvidas na cadeia de produção sejam certificadas. Klabin e Box Print passaram por avaliações rigorosas envolvendo estudos detalhados das áreas de produção, entrevistas com colaboradores, prestadores de serviço e outras entidades de classe, com auditorias. www.klabin.com.br

FRALDA BIODEGRADÁVEL

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Uma fralda descartável comum pode demorar 450 anos para se decompor no fundo de um oceano, já que, apesar de ter celulose na sua composição matéria-prima biodegradável - os outros componentes não são biodegradáveis. O principal problema é o revestimento de polietileno na parte externa. Se a fralda for toda biodegradável, como a que já está difundida no mercado norteamericano desde o ano passado, o material pode se decompor em um ano. A fabricante gDiaper garante que, depois de usada, basta jogar no vaso sanitário e dar descarga. Desenvolvida na Austrália em 1991, a ecofralda teve os direitos comprados pelos empresários americanos Jason e Kimberly Graham-Nye. De uma pequena loja de produtos naturais, ganhou distribuição nacional nos Estados Unidos e tornou-se a terceira mais vendida no mercado. Uma grande vantagem é que o preço não é tão diferente: um pacote com 32 fraldas biodegradáveis custa cerca de US$ 14, o mesmo que um pacote de 40 fraldas convencionais. www.gdiapers.com

MEMÓRIA DE MADEIRA SOLTEIROS NA CAIXA DE LEITE Um grupo de agricultoras e agricultores solteiros do País de Gales resolveram colocar suas fotos nas embalagens do leite produzido pela cooperativa onde trabalham, a Calon Wen, de leite orgânico, para atrair possíveis pretendentes. As fotos são acompanhadas do slogan “Fancy a Farmer?” (“Está a fim de um agricultor?”). No mesmo adesivo vem o endereço de um site onde os interessados podem procurar mais detalhes da pessoa. A iniciativa partiu de Iwan Jones, 30 anos, diretor da cooperativa, ao ficar sabendo de uma pesquisa realizada na região que revelava a solidão de um grande número de profissionais do campo. Nas entrevistas que deu depois da repercussão do fato, Jones aproveitou para agradar as interessadas: destacou que a comunidade onde vivem é agradável e tem um cenário muito bonito. Ele ressaltou que as famílias integrantes da cooperativa possuem um quarto dos membros solteiros, o que motiva a divulgação para garantir até mesmo a sustentabilidade do negócio! www.pishynwales.com

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As memórias removíveis, chamadas de pen-drives, que podem repassar arquivos de um computador para outro pela placa USB, receberam um estilo pra lá de charmoso nas mãos dos profissionais do estúdio de design Oooms, localizado em Eindhoven, Holanda. Cada vez mais comum no dia-a-dia dos escritórios, o produto recebeu revestimento de pequenos troncos de madeira e é fabricado manualmente com uma seleção cuidadosa do material. Quem tiver um desses certamente será único no seu ambiente de trabalho. O preço fica em torno de 45 euros (R$ 120,00) um pen-drive com 256 MB e 60 euros (R$ 160,00) com 512 MB. www.oooms.nl



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Por dentro dos números

Mais mulheres no mercado METAS DE CRESCIMENTO

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Para o Dieese, o principal aspecto positivo do Plano de Aceleração do Crescimento, anunciado no início do ano pelo governo federal, é a retomada do papel do Estado enquanto promotor e indutor do crescimento econômico, através de investimentos estratégicos, tanto na infra-estrutura econômica como social. Em Nota Técnica divulgada em janeiro, a entidade avalia como preocupante a manutenção das variáveis macroeconômicas que estruturam e dão consistência ao modelo econômico vigente, mantendo-se o sistema de metas de inflação e condicionando a taxa de juros à sua evolução. A ação sindical, através da manifestação das Centrais Sindicais, indica a disposição de aperfeiçoar algumas das medidas propostas, através de um amplo debate com a sociedade.

12,7 milhões de mulheres que estão no mercado de trabalho se encontram em condições de extrema precariedade, trabalhando na informalidade ou vinculadas a atividades com baixa ou nenhuma remuneração. Elas representam 34,4% das 37 milhões de mulheres inseridas no mercado de trabalho. Os dados foram divulgados pelo Observatório Social que cruzou as informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE,de 2004.

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participação da mulher no mercado de trabalho cresceu nos últimos 11 anos, de acordo com dados do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) para a Região Metropolitana de São Paulo. De 1995 a 2006, houve aumento de 6,6 pontos percentuais. A taxa de desemprego feminina, sempre maior que a masculina, passou de 15,3%, em 1995 para 21,1%, em 1998. Em 2006, caiu para 18,6%. Apesar da melhora nos números, a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho persiste. “Não podemos deixar de comemo-

rar o resultado, fruto do crescimento econômico e do aumento da sensibilização a respeito da discriminação existente no mercado de trabalho”, diz a economista do DIEESE, Patrícia Lino Costa. “No entanto, as mulheres ainda enfrentam desigualdades de oportunidades e remuneração,” afirma. RENDIMENTOS Entre 1995 e 2005, rendimentos de homens e mulheres mostraram tendência de queda na Região Metropolitana de SP. Para as ocupadas, a remuneração no período passou de R$ 1.118, em 1995, para R$ 1.164, em 1997.

Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego - Elaboração: DIEESE Nota: (1) PEA- População Economicamente Ativa dividida pela PIA -População em Idade Ativa


TrêsPerguntas LUCIA GARCIA, coordenadora nacional das pesquisas de emprego e desemprego do Dieese

Por que ainda há diferenças nos salários entre homens e mulheres? Desde as diferenças na inserção no mercado de trabalho até a construção de guetos ocupados por profissionais femininas, os fatores são construídos ao longo da história. Por estarem em ocupações ditas “femininas”, como as áreas da educação, saúde, assistência social e empregos domésticos, que reproduzem o papel desempenhado no espaço familiar, as mulheres estão em vagas de menores salários. Quando homens e mulheres ocupam os mesmos cargos e ainda assim há diferenças, as causas geralmente estão no fato da mulher ter jornada em casa e não poder fazer hora extra ou outros tipos de expediente que agregam valor ao salário.

Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego - Elaboração: DIEESE Obs.: Inflator utilizado: ICV-DIEESE/SP

A partir daí, despencou para R$ 827, em 2003, e voltou a subir em 2004 (R$ 848). Em 2006, registrou novamente ligeiro aumento e ficou em R$ 869. Já o rendimento dos homens apresenta trajetória de queda entre 1995 e 2003 e entre 2005 e 2006, permaneceu estável. A economista do DIEESE explica: “como as mulheres estão mais presentes em serviços com menor remuneração, como o doméstico, foram

favorecidas pelas políticas de valorização do salário mínimo”. PESQUISAS O DIEESE realiza a PED em convênio com a Fundação Seade e instituições regionais no Distrito Federal e em cinco regiões metropolitanas do país: São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre. Os dados referentes a 2006 do DF e das últimas cinco regiões ainda não estão disponíveis no fechamento desta edição.

Ser mãe ou esposa ainda é fator de discriminação na contratação? Esposa não, até porque os casamentos já são mais transitórios. Mas o fato de ter filhos menores de 15 ou 16 anos sobrecarrega a imagem de que a mulher não poderá se dedicar no mundo público do trabalho da mesma forma que o homem. Soma-se aos hábitos de que as mulheres são as responsáveis pela sobrecarga da vida privada, o fato de que no Brasil não há amparo e estrutura suficiente para garantir que os filhos estejam em locais adequados e por período integral. Quais as perspectivas de melhorias deste quadro no mercado? Como a política de renda tem base forte no salário mínimo e as mulheres, em sua maioria, estão em empregos baseados no mínimo, a perspectiva é que continue aumentando a renda feminina e diminuindo o abismo em relação aos homens. Mas houve queda de renda para os dois nos últimos anos. Estamos passando por processos importantes de mudança e as mulheres avançam nas carreiras de chefia, mas a caminhada ainda é muito longa, até mesmo porque as próprias mulheres precisam entender melhor estes aspectos da sua inserção no mercado e quais são os seus direitos.

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