Jornalismo e sustentabilidade Quando o Instituto Primeiro Plano decidiu investir tempo, força de trabalho e recursos financeiros numa publicação em parceria com importantes instituições, o objetivo era democratizar a informação sobre os temas da responsabilidade social e desenvolvimento sustentável para que discussões mais técnicas estivessem ao alcance de um público mais amplo. Estamos conseguindo.
EXPEDIENTE Diretor: Odilon Luís Faccio Edição: Sara Caprario (MTe/Sc 625-JP) Redação: Sara Caprario, Vanessa Pedro (MTe/Sc 831-JP), Alessandra Mathyas Edição de Arte: Maria José H. Coelho (Mte/Pr930) Diagramação e arte: Sandra Werle (MTe/Sc 515-JP) Assistentes de diagramação e arte: Leo Brettas Fotografia: Sérgio Vignes Colaboradores: Carolina M. Vilalva, Clemente Ganz Lúcio, Larissa Barros, Michelle Lopes, Paulo Itacarambi, Pieter Sijbrandij, Raquel Sabrina, Ronaldo Baltar Secretaria : Lilian Franz Distribuição: Mônica Funfgelt Parceiros Institucionais Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) Instituto Observatório Social Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Rede de Tecnologia Social (RTS) Abril de 2008
R. João Pinto, 30, Ed. Joana de Gusmão, s 803 Florianópolis - SC - Brasil - 88010-420 F: (48) 3025-3949 / Fax:3028-4615 contato@primeiroplano.org.br
Os artigos e reportagens assinados não representam, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da revista Primeiro Plano. A divulgação do material publicado é permitida (e incentivada), desde que citada a fonte.
A Revista Primeiro Plano entra no terceiro ano de vida com boas perspectivas de trabalho. Além do reconhecimento pelos leitores, conquistamos a credibilidade das instituições com as quais nos relacionamos. Os membros do Instituto foram convidados a participar de eventos em todo o Brasil, em debates e premiações, e em maio passa fazer a parte do Comitê Consultivo da Rede Ethos de Jornalistas, cuja posse será realizada durante a Conferência Internacional do Ethos 2008. Esse grande evento é um dos momentos mais importantes no país para quem atua na área de responsabilidade social. Os profissionais convidados e o próprio público qualificado trazem à tona o que há de mais atual em relação aos temas debatidos e conseguem aprofundar as iniciativas em prol da sustentabilidade, difundindo-as e aperfeiçoando-as. Esse é o papel da Revista Primeiro Plano, que contribui para a conscientização das pessoas e instituições. O jornalismo diário ainda não abriu o espaço ideal para que haja transformação nas rotinas dos consumidores e mesmo das empresas. A sustentabilidade precisa deste espaço para tornar-se um assunto real e prático. Mantemos nossa linha editorial de aprofundar os temas com simplicidade, mas com fortes argumentos e exemplos para transformar a realidade que vivemos. Nesta edição inauguramos algumas alterações no projeto gráfico para tornar ainda mais prático o acesso aos temas, por isso dividimos as seções por cores. Vermelho é responsabilidade social, o azul está nas matérias e seções sobre desenvolvimento sustentável e o verde encerra a Revista com as seções da Entrevista, Soluções e Meu Mundo. Boa leitura!
REVISTA NOVE
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FUSÕES E AQUISIÇÕES
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ENERGIA SOLAR
ENTREVISTA
Como a concentração das marcas influencia na política de RSE
Pesquisas e alternativas domésticas dinamizam o uso desta fonte energética
Diretora da Basf fala como o diálogo tem ajudado nas relações da empresa
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06 | POR EXEMPLO
24 | PLANETA LIXO
64 | SOLUÇÕES
14 | ARTIGO Carolina Vilalva | OIT
38 | INCLUIR
66 | MEU MUNDO PRIMEIRO PLANO . ANO 3 . NO 9 . ABRIL 2008
20 | MUNDO DO TRABALHO 16 | MUNDO DO TRABALHO 42 | CIDADES 18 | ARTIGO Clemente Ganz Lúcio | DIEESE
48 | AGENDA GLOBAL
20 | AVALIAÇÃO DOS BANCOS
50 | AMBIENTE
26 | OPINIÃO Paulo Itacarambi | ETHOS
54 | DESENVOLVIMENTO LOCAL
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PRIMEIRO PLANO . ANO 3 . NO 9 . ABRIL 2008
você sabia? A Ticket, em parceria com o projeto Click Árvore da Fundação SOS Mata Atlântica, iniciou o plantio de sete mil árvores das espécies ipê, peroba, ingá, palmito juçara, jequitibá-rosa, aroeira, cedro, entre outras. Grande parte (6.700) será plantada na região de Presidente Prudente, interior de São Paulo, recuperando uma área de mata ciliar nativa de 3.89 hectares, equivalente a quatro campos de futebol. Além disso, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, a Ticket destinará outras 300 mudas para plantio no Parque Nabuco, em Cidade Ademar, zona sul de São Paulo. A iniciativa é resultado da campanha “Ser Ticket é Ser Fundamental: plante votos para a Ticket e colha árvores para o mundo”, na qual a empresa se comprometeu a agradecer com a plantação de uma árvore cada voto recebido no Prêmio Top of Mind, categoria fornecedores de RH. O desenvolvimento das sete mil árvores será acompanhado pela empresa nos próximos cinco anos. Sobre a empresa - Em 32 anos de atuação no Brasil, a empresa também ampliou seu leque de atuação, com o lançamento de produtos inovadores como o Ticket Alimentação, Ticket Car e Ticket Transporte. Com abrangência nacional, a Ticket atende a 50 mil empresas-clientes e 4,5 milhões de usuários por meio de uma rede de 280 mil estabelecimentos credenciados nos 4,8 mil municípios brasileiros. A Ticket é uma empresa Accor Services – que integra as empresas Ticket, Ticket Seg, Accentiv´ e Build Up - braço de serviços do grupo Accor no Brasil, grupo mundial e líder europeu no segmento de hotéis e serviços.
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Referências num só lugar Lançado no Brasil um guia com o levantamento das várias ferramentas desenvolvidas por centros de pesquisa e organizações na área de gestão de responsabilidade socioambiental A publicação Gestão do Conhecimento Compêndio para a Sustentabilidade - Ferramentas de Gestão de Responsabilidade Socioambiental, organizada por Anne Louette, reúne ferramentas de 33 países com o objetivo de ampliar a adoção de práticas de responsabilidade social à cultura e sistemas de gestão de pequenas, médias e grandes organizações de vários portes, incluindo os três setores - esferas públicas, privadas e organizações não-governamentais. Estas ferramentas atendem às necessidades dessas organizações em diversas etapas de gestão, contribuindo para processos de aprendizagem, auto-avaliação, prestação
de contas e incorporação de princípios de responsabilidade socioambiental nas suas atividades. Anne Louette é formada em administração, diretora estatutária e voluntária do Reciclar desde 1998, trabalhou no Instituto Ethos de Empresa e Responsabilidade Social como coordenadora de um novo projeto que era o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, e aceitou o desafio de criar a área de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo com o objetivo de incluir a RSE na agenda dos seus milhares de associados. Na Funap (Fundação de Amparo ao Preso, vinculada a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de SP) era Diretora de Atendimento e Promoção Humana. Com patrocínio da Petrobras e da Comgas, além do patrocínio cultural (Lei Rouanet) da Anglo American e da Aes Tietê, a autora diz que esta publicação não tem a pretensão de abranger a totalidade de ferramentas existentes. Não estão contemplados no guia, por exemplo, os Bancos de Práticas e Códigos de Ética e Conduta, que merecem a atenção das organizações. “Trata-se de uma visão estratégica da responsabilidade socioambiental como um dos elementos de base para garantir concretamente a evolução sustentável das atividades humanas”, diz Anne. O Compêndio mostra que RSE é um processo que demanda pos-
O Wal-Mart Brasil e a Coca-Cola Brasil, por meio de seus institutos socioambientais, lançaram no final de março, em São Paulo, programa conjunto de coleta e reciclagem de resíduos. A Estação de Reciclagem representa um novo modelo para a preservação do meio ambiente, com a associação entre uma empresa varejista, o Wal-Mart, e um de seus fornecedores, a CocaCola Brasil, para promover a coleta e o correto processamento de resíduos sólidos. A iniciativa deve ajudar a aumentar o valor econômico dos materiais coletados. A Estação de Reciclagem vai instalar postos de coleta de metal, plástico, papel, vidro e óleo de cozinha em mais de 300 lojas da rede WalMart em todo o Brasil até 2009. O diferencial do programa é que, além da oportunidade de geração de renda, a Estação de Reciclagem
vai oferecer capacitação profissional e treinamento às cooperativas, além de melhorias em sua infraestrutura de coleta e processamento de materiais. Para garantir a infra-estrutura adequada, o Instituto Wal-Mart e o Instituto CocaCola Brasil fizeram um convênio com o CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem), uma associação sem fins lucrativos dedicada à promoção da reciclagem dentro do conceito de gerenciamento integrado do lixo. O Wal-Mart Brasil já implementa estações de reciclagem em suas lojas desde 2005, sempre com ações de apoio ao desenvolvimento das cooperativas parceiras. Em 2007, a empresa ampliou para 40 o número de estações de coleta e passou a separar também os resíduos de 38 lojas na Bahia, além de envolver todos os escritórios.
POR EXEMPLO
NA INTERNET O Compêndio para a Sustentabilidade On-line disponibiliza o conteúdo da publicação na Internet,no site www.compendiosustentabilidade.com.br, de modo que seja constantemente atualizado. E esta atualização poderá ser feita pelas próprias organizações que criaram as ferramentas a partir de credenciamento realizado on-line. Além disso, será possível a inclusão de novas ferramentas, que ainda não constam da publicação impressa, e o intercâmbio de experiências e procedimentos bem-sucedidos entre as várias organizações, usuárias das ferramentas, potencializando soluções efetivas na adoção de práticas de responsabilidade socioambiental e desenvolvimento sustentável.
Estação da reciclagem
D IVULGAÇÃO C OCA-C OLA
tura, princípios, valores, DNA: uma forma de ser, pensar, decidir, agir, conduzir e reagir diante de todas as atividades.
ORGANIZAÇÕES APOIADORAS *Centro de Estudo em Sustentabilidade da FGV (Ces) *Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) *Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (Fides)
*Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (Ethos) *Núcleo AG de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da Fundação Dom Cabral (FDC), *Instituto Akatu pelo Consumo Consciente (Akatu) *Willis Harman House (WHH)
Apoio à comunidade A Alcoa está entre os 50 casos bem-sucedidos de aplicação de esforços corporativos em iniciativas positivas, que merecem ser reconhecidas e replicadas, segundo a revista Dinheiro, edição de março último. A Alcoa é reconhecida na categoria Apoio à Comunidade, que destaca as ações voluntárias da Empresa, por meio do Programa BRAVO!. Meg McDonald, presidente da Alcoa Foundation, declarou que os brasileiros são exemplos por usarem tecnologia, comunicação e integração pessoal para garantir que o voluntariado seja parte importante e integral do comprometimento com a comunidade. Por meio do Programa BRAVO!, mais de quatro mil funcionários (67%) da Alcoa no Brasil realizaram atividades voluntárias no ano passado, o que demonstra o compromisso dos funcionários com as comunidades onde suas unidades estão instaladas. Os voluntários da Empresa somaram um total de 202 mil horas de dedicação às entidades. O Programa Bravo! foi lançado em 2002 em todas as unidades da Alcoa no mundo e destina o equivalente a US$ 250 para cada instituição na qual o funcionário realiza, pelo menos, 50 horas de trabalho voluntário, fora do expediente de trabalho. Sobre a Alcoa - Há 43 anos no Brasil, a Alcoa Alumínio S.A. é subsidiária da Alcoa Inc., líder mundial na produção e transformação do alumínio, que atua nos mercados aeroespacial, automotivo, embalagens, construção, transportes comerciais e no mercado industrial.
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*Grupo de Instituto Fundações e Empresas (Gife),
UM É POUCO
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A
fusão das duas maiores empresas do mundo em siderurgia é um exemplo de como o mercado globalizado pode reunir em poucas organizações o domínio de um setor inteiro no planeta. A siderurgia de Luxemburgo se uniu ao conglomerado britânico-indiano e a Arcelor-Mittal passou a ser a líder do mercado de aço. Em relação às empresas que
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O RITMO DAS FUSÕES E AQUISIÇÕES DE ORGANIZAÇÕES PELO MUNDO INTEIRO ESTÁ ACELERADO. RESTA SABER SE É POSSÍVEL CONSTRUIR IMPÉRIOS COM RESPONSABILIDADE E CONSOLIDAR AS POLÍTICAS DE SUSTENTABILIDADE
não lidam com o consumidor final as uniões parecem algo indiferente e até mesmo saudável, já que as competências se consolidam. Mas como em qualquer transação que foca em primeiro lugar o aspecto econômico, há impactos negativos e alguns pontos positivos. Imagine que dentro do limite da sua cidade todas as lojas ou supermercados sejam do mesmo dono ou pertençam à mesma organização.
O comprometimento da diversidade pode resultar em monopólio, políticas de exclusão e até desigualdade social. O respeito à pluralidade é um dos princípios da cidadania e no mundo corporativo isso pode ser restringido pela velocidade de fusões e aquisições entre as organizações. Exceto nos casos onde as empresas conseguem manter suas políticas estabelecidas e assim ga-
TRÊS É MELHOR AINDA
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A Arcelor-Mittal detém quase 10% da produção de aço mundial, o que corresponde a 110 milhões de toneladas. É mais que a soma dos principais concorrentes: Nippon Steel, Posco e JFE. O faturamento soma cerca de 60 bilhões de euros. Com 360 mil funcionários, o conglomerado tem sede em Luxemburgo. A promessa é que as diretrizes empresariais da Arcelor seriam mantidas após a fusão. Isso significa, por exemplo, que qualidade e rentabilidade mantêm-se fatores mais importantes que quantidade. A Mittal também se comprometeu a garantir um desenvolvimento sustentável e a integração dos funcionários. Em relação ao Brasil, a fusão acabou atraindo compradores para o que é produzido nas usinas daqui. Apontadas como possíveis alvos de grupos estrangeiros, as brasileiras Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Usiminas se mantêm firmes na estratégia defensiva de internacionalização. O que estas empresas fazem é comprar pequenas unidades lá
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DOIS É BOM
rantem a identidade, abrangendo apenas o que é bom da empresa incorporadora ou da incorporada. No Brasil, o ano de 2007 foi recorde no número de fusões e aquisições. Foram 548 operações que movimentaram um volume de US$ 46 bilhões. No ano anterior, foram registradas 264 transações. De acordo com estudo da Thomson Financial, as fusões e aquisições em todo mundo atingiram o volume recorde de US$ 4,5 trilhões no ano passado, contra US$ 3,6 trilhões em 2006. Ao todo, foram 42,5 mil operações.
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fora para reduzir a dependência do mercado brasileiro e escapar de eventuais barreiras tarifárias. Jorge Gerdau, o principal executivo do grupo, foi enfático ao ser perguntado se estava preocupado com os novos rumos do setor: “A Gerdau é uma consolidadora de empresas”, disparou. Hoje, 20 de suas 31 unidades estão situadas fora do Brasil. Apesar disso, ele não deixa de reconhecer o impacto da fusão da Arcelor-Mittal “foi um divisor de águas no setor”. Apesar da fusão ter ocorrido em 2006, ainda é cedo para comprovar quais os resultados que a incorporação promoveram em prol da política de sustentabilidade. A preocupação ambiental no Brasil é um dos focos que mais transparecem nas negociações realizadas. As Empresas ArcelorMittal Brasil mantêm programas de educação ambiental conduzidos internamente e para as comunidades onde se localizam suas instalações. Nos Centros de Educação Ambiental promovem a visita de estudantes e da comunidade, envolvidos em ações com o objetivo de despertar a consciência crítica e a mudança do comportamento ambiental. A Política de Gestão Ambiental contempla, entre outros aspectos, o
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desenvolvimento de programas de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Mas os grandes projetos globais das duas empresas agora unidas parecem ser mantidos e em alguns casos aperfeiçoados. COMUNICAÇÃO COM NOVELA Em fevereiro deste ano a ArcelorMittal estreou o "Inside Transforming Tomorrow" (Por Dentro do Transformando o Amanhã), a segunda temporada da sua Web TV no site www.arcelormittal.tv. A nova temporada monitora a performance e o progresso da companhia após a fusão, enquanto busca cumprir com a promessa do seu lema de 'transformar o amanhã'. Ela também se concentra nos desafios enfrentados como a maior companhia siderúrgica do mundo, mas também como uma das 50 maiores companhias do mundo, com negócios em mais de 60 países. O principal objetivo da primeira temporada da Web TV foi oferecer um canal de comunicação eficaz para os 320 mil funcionários da ArcelorMittal em todo o mundo durante a fase delicada de integração após a fusão da Arce-
lor com a Mittal Steel em 2006. Este foi comprovadamente um exercício de comunicação de sucesso feito pela companhia, tanto interna quanto externamente, com 15 episódios, 544.431 visitantes únicos, 882.054 visualizações de páginas e quase 250.000 visualizações dos episódios de vídeo. "O Web TV foi criado com uma das ferramentas em separado para o processo de integração", disse Nicola Davidson, vice presidente de Comunicação Corporativa. "No entanto, tivemos um retorno positivo – principalmente de dentro da empresa – que reconhecemos o seu valor como uma forma transparente de permitir que os funcionários compartilhassem suas opiniões sobre a companhia e compartilhassem dos desafios e dos sucessos globais da empresa para a qual eles trabalham. Realizamos uma fusão de sucesso mas isso não quer dizer que não tenhamos nenhum desafio à frente. No ano passado, lançamos o novo lema 'transforming tomorrow' com os valores de 'Sustentabilidade, Qualidade e Liderança'. Consideramos estes valores o centro para o nosso sucesso contínuo como um novo release comercial e a Web TV é uma ferramenta importante que nos permite acompanhar a nossa performance diante desta promessa". Aditya Mittal, CFO e membro da Diretoria do Grupo, e também responsável pela comunicação, disse: "A Temporada II tem uma abordagem pessoal e mais humana, onde o telespectador é convidado a compartilhar os momentos das vidas dos homens e das mulheres que são a essência da ArcelorMittal. Em todo o mundo o telespectador viverá os desafios e as aspirações da nossa vida diária, e fará
BANCO E CONSÓRCIO A recente venda do banco ABN Amro para o consórcio formado pelo britânico Royal Bank of Scotland (RBS), o espanhol Santander e o belga-holandês Fortis, em outubro do ano passado, é outro exemplo de concentração de um setor. Apesar das regulamentações dos setores governamentais, a ingerência não pode interferir nas leis de livre mercado. A transação foi aprovada pelo governo holandês e depois passou por uma comissão européia. Segundo o Financial Times, no comunicado da autorização da venda do ABN, o ministro de Finanças da Holanda, Wouter Bos, incluiu recomendações do banco central (BC) local. Uma delas era a apresentação de um plano detalhado da aquisição. Além disso, os bancos não poderão fazer mudanças fundamentais na organização, divisão de tarefas e responsabilidades do ABN antes da compra. Em fevereiro último, o superintendente de desenvolvimento sustentável do ABN Amro Real, Carlos Nomoto, disse em entrevista à Primeiro Plano que "por enquanto,
MUITOS EXEMPLOS PELO MUNDO A The Body Shop foi fundada em 1976 pelo casal Anita e Gordon Roddick com um investimento de US$ 6,5 mil. A empresa era uma pequena loja que vendia xampus, maquiagens, cremes e outros produtos naturais em Brighton, na Inglaterra. Era uma conhecida e diferente loja que tinha até acordos de fornecimento de insumos com aldeias indígenas do Brasil. Tornou-se uma rede mundial, com mais de 2 mil lojas em 53 países e a francesa L'Oréal abocanhou por US$ 1,14 bilhão em 2006, ficando com o casal Roddick 18% das ações. Um ano e meio depois a fundadora faleceu, talvez tranquila com a venda, porque seus ideais já não conseguiam mais ser mantidos com tanta força pela dimensão que a empresa ganhou. Eram muitas lojas, muitos fornecedores, muitos ingredientes. A poderosa organização francesa certamente ganhou com a compra de uma marca ligada ao verde. A pressão da concorrência era grande em torno da marca de Anita, que ficou conhecida pelo empenho em manter seus princípios de cidadania, valorização de extratos naturais e de respeito ao meio ambiente. A empresa é contra o teste em animais e manteve o foco de oferecer produtos 100% ecológicos. Anita Roddick participou da entrevista à imprensa para anunciar a venda e disse que estava "surpresa", mas também "feliz" pelo casamento com a maior empresa de cosméticos do mundo. Para ela, a L'Oréal entendeu muito bem a originalidade demonstrada pela Body Shop no mundo dos negócios e a que ponto contribuiu para mudar as regras, nos aspectos de "direitos do Homem, da proteção dos animais, do meio ambiente e do comércio eqüitativo". No anúncio ficou acertado que a Body Shop continuaria sendo uma entidade independente dentro do grupo. Sua rede de distribuição vende somente produtos da marca Body Shop. Para a L'Oréal a decisão marcou um momento importante para a distribuição de produtos. No Brasil a Fundação Body Shop instalou na Amazônia, através da AmazonCoop, cooperativa com 1.400 índios, a Farmácia Verde e um resort ecoturístico (Tataquara Lodge). Todas as iniciativas ainda estão mantidas. Escreveu em seu blog uma mensagem para os novos executivos que passaram a ter direitos sobre "aquela louca e complicada companhia que eu fundei": "Seja bravo, seja corajoso, seja diferente. E se ouvirem de alguém que alguma coisa não pode ser feita e que os consumidores não dão a mínima para nada mais que não seja o produto em si, não dêem ouvidos".
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parte das comunidades que constróem esta próspera companhia". O primeiro episódio mostra o projeto Libéria da companhia. Com a aquisição dos direitos de mineração de um principal depósito de minério de ferro em 2006, o projeto Libéria é uma parte importante da ambição divulgada do Grupo de aumentar a sua auto-suficiência em minério de ferro para 75%. O episódio acompanha os desafios que a companhia enfrenta em um país que passou por muitos anos de instabilidade civil e cujo progresso ainda está em andamento.
INCORPORAÇÃO ESTATAL
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Desde o ano 2000 o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) estava no Programa Nacional de Desestatização (PND) para ser privatizado. Em 2003 o governo federal concedeu ao banco a possibilidade de flexibilizar suas operações e assim mostrar sua viabilidade econômico-financeira. Este ano o Besc foi incorporado ao Banco do Brasil, saindo do PND e, portanto, fugindo da privatização. Um dos trunfos da instituição financeira que tem 45 anos de história é estar presente em todos os municípios do Estado, o que lhe permite contribuir para o desenvolvimento de todas as regiões. São 441 pontos de atendimento que agora unem-se à estrutura do Banco do Brasil. Segundo a administração do banco, isso significa uma dinamização das iniciativas e ações voltadas à inclusão e sustentabilidade.
nada mudou por lá”. Ele confirmou o que a assessoria de imprensa já havia nos informado, de que a fonte oficial para falar da fusão é o consórcio. Nomoto apenas reafirmou que "acredita que todo o trabalho que o Real tem feito, reconhecido pelos muitos prêmios e por tantas pesquisas, deve ser valorizado pelo Santander". Uma das pesquisas a que ele se referiu é a do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), que avaliou o discurso dos oito maiores bancos de atuação nacional (com mais de 1 milhão de clientes, exceto os estaduais) e o resultado foi de que os melhores colocados (ABN Amro Real e Bradesco), obtiveram apenas a classificação "regular"; os piores (Santander e Unibanco), ficaram pouco acima da pior classificação, "péssimo", no limiar da nota "ruim"; já no bloco intermediário, na faixa "ruim", estão, pela ordem, Itaú, Banco do Brasil, Caixa Econômica e HSBC Pelo jeito o ABN tem muito mais a ensinar do que aprender quando o assunto é responsabilidade social. Sergio Midlin, presidente da Fundação Telefônica e membro do conselho curador do Instituto Ethos, acredita que "a importância das lideranças nesse processo da sustentabilidade é fundamental,
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como o trabalho excelente que o Fábio Barbosa (presidente do ABN Amro Real) realiza. A nossa expectativa é que os espanhóis reconheçam o diferencial do banco. Se não ocorrer isso, que ele leve essa excelência para onde ele for". Mas Fábio Barbosa ficou. O presidente do ABN Amro Real foi escolhido para para comandar o
processo de fusão no país, e o consórcio colocou o colombiano Gabriel Jaramillo, presidente do Santander no Brasil, no posto de diretor do banco para a América Latina. Na prática essa decisão abre espaço para Barbosa assumir o comando da operação brasileira e fincar no novo banco sua política de responsabilidade social e res-
NEGÓCIOS A compra do ABN Amro pelo consórcio formado pelo espanhol Santander vai provocar uma reviravolta no ranking do setor bancário brasileiro. Os dois bancos juntos formam a terceira maior instituição financeira do País, atrás apenas do Banco do Brasil e do Itaú. Segundo levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating, com a aquisição, o Santander passará a contar com ativos da ordem de R$ 277 bilhões, valor superior aos R$ 255 bilhões do Itaú e menor que os R$ 290 bilhões do Bradesco. Com números tão próximos, as três instituições devem travar uma briga acirrada por fatias do mercado nacional e espera-se que isso reflita em benefícios aos clientes. As mudanças recentemente anunciadas no sistema financeiro já mostram uma preocupação do governo com o
futuro que as fusões podem proporcionar. Outros bancos podem adotar estratégias mais agressivas de crescimento e isso significa comprar outras instituições. Outro efeito da aquisição do ABN será o aumento de concentração do setor bancário brasileiro. Levantamento da Austin Rating mostrou que as cinco maiores instituições do País (Banco do Brasil, Bradesco, Santander + ABN, Itaú e Caixa) passam a deter 66% dos ativos totais dos bancos no País ante 60,5%, no desenho anterior. Em relação ao volume de depósitos, a concentração subirá de 65,8% para 70%. Já no total de crédito, subirá de 61,5% para 66,9%. Para os funcionários dos dois bancos, essa concentração deve trazer demissões e tarifas altas. Segundo informações da Federação dos Bancários do Rio de Janeiro e Espírito Santo desde o início das negociações de venda do ABN, muitos executivos de médio e alto escalão da operação brasileira do banco holandês já deixaram a empresa. Estes profissionais preferem pedir demissão a serem demitidos. Para os bancários comuns, o futuro pode ser ainda mais incerto, já que são anunciadas 19 mil demissões em todo o mundo. Tanto o presidente atual do ABN Amro quanto os presidentes dos três bancos que formam o consórcio já escreveram comunicados aos funcionários avisando que as oportuni-
dades de crescimento do novo negócio são grandes e que isto é bom para todos. Em relação à responsabilidade social, os bancários acreditam que por não ter construído uma identidade forte, o Santander nunca chegou a se destacar nacionalmente. Já o Real é visto como um banco que se preocupa com o patrocínio a projetos de preservação do patrimônio histórico, com o meio ambiente e com as manifestações culturais. Na Holanda, ainda durante as negociações, um acordo entre o Conselho Europeu dos Trabalhadores do ABN Amro e consórcio garantiu que não haveria dispensa de muitos funcionários ao mesmo tempo e que os que fossem desligados de suas funções seriam recolocados dentro da própria empresa ou receberiam orientação e treinamento para conseguirem novo emprego. Para o movimento sindical brasileiro, o momento é delicado e vai exigir muito empenho.
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peito ao meio ambiente. E apesar da decisão surpreender o mercado, já que os espanhóis do Santander é que adquiriram o controle do Real, revela uma boa perspectiva para que o trabalho de sustentabilidade seja mantido. Afável e apelidado de “banqueiro verde” por conta dos programas de responsabilidade social e respeito ao meio ambiente que desenvolveu no Real, Fábio Barbosa lançou antes da concorrência uma carteira de produtos sócio-ambientais que inclui de contas para universitários a créditos de carbono, além de financiamento para projetos de energia alternativa, fundos de investimento em empresas comprovadamente éticas e microcrédito. O banco não autoriza financiamento a companhias e projetos potencialmente danosos ao meio ambiente, como madeireiras não certificadas.
OPINIÃO
Financiar com responsabilidade
A
CAROLINA M. VILALVA
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Coordenadora de Responsabilidade Social na OIT Brasil
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OIT tem alocado recursos técnicos para identificar mecanismos de apoio às instituições do mercado financeiro para a aplicação efetiva das normas internacionais do trabalho nas suas políticas de investimento. O motivo é simples: empresas de todos os tipos e tamanhos precisam do acesso ao crédito. Portanto, as instituições financeiras podem ser um dos veículos mais eficazes para promover o trabalho decente . Quando os mercados financeiros investem com responsabilidade social, a gama de oportunidades que as empresas têm para crescer, obter mais investimentos e aumentar sua produtividade de maneira sustentável, e assim, contribuir para a criação de novos empregos decentes, é automaticamente ampliada. No que se refere às políticas de inclusão para melhorar o acesso ao crédito para as micros, pequenas e médias empresas, o Brasil tem adotado uma postura ativa, por meio de ações afirmativas e incentivos à criação de fundos – como a Criatec do BNDES – para apoiar o crescimento dessas empresas com empregos decentes. Embora há muito ainda a se fazer no âmbito das micro, pequenas e médias empresas no país, existe uma brecha ainda maior quando o assunto é a responsabilidade social relacionada com a gestão de risco na concessão de crédito e investimentos em geral. Hoje não basta somente cobrar o QUE os bancos e outras instituições financeiras nacionais fazem em termos de responsabilidade social, é preciso também saber AONDE e COMO elas estão aplicando as suas linhas de crédito. Os grandes seminários de responsabilidade social organizados pelos bancos e outras instituições financeiras no Brasil demonstram que o setor está bem conscientizado sobre as questões ambientais. Sem desmerecer a importância que se deve dar a responsabilidade ambiental no Brasil, não há como falar em sustentabilidade sem tratar das questões propriamente sociais. A primeira grande iniciativa global que considerou a dimensão trabalhista foi a adoção dos Princípios do Equador em 2003. Com mais de 40 bancos signatários (Banco Real, Unibanco, Itaú e o Banco do Brasil, entre eles), os Princípios do Equador são um marco voluntário que estabelece normas de performance para administrar os riscos sociais e ambientais associados com financiamento de projetos acima de US$ 10 milhões (o que no Brasil, representa 1% dos financiamentos privados). Para cumprir com os Princípios, basta verificar se os clientes financeiros estão tomando medidas reais para cumprir com as normas internacionais do trabalho e do meio ambiente nos seus negócios. Como difusora do trabalho decente, essa cadeia tem um potencial imenso, mas a idéia iria bem mais longe se considerasse escalas menores de crédito financeiro. Para isso, a OIT vem consultando o setor bancário para entender como instituições financeiras poderiam inserir claúsulas ou questões sobre trabalho decente em seus contratos de capital. A BOVESPA, o Ministério do Trabalho e outros bancos privados já estão discutindo a possibilidade de sediar uma Conferência Regional da América Latina sobre Trabalho Decente e finanças sustentáveis em 2008. Certamente, isso seria um grande passo rumo a consolidação do compromisso do setor financeiro com o trabalho decente.
Satisfação entre bancários
você sabia?
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...que para participar da pesquisa sobre salário e condições de trabalho, basta acessar o site www.meusalario.com.br. O questionário é fácil, rápido e sigiloso.
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PESQUISA REALIZADA ENTRE QUATRO CATEGORIAS PROFISSIONAIS REVELA QUE 60% DOS BANCÁRIOS ESTÃO DE BEM COM A VIDA O site MeuSalário (meusalario.com.br) fez uma pesquisa com trabalhadores de quatro categorias profissionais e o resultado mostrou que os bancários são os que estão mais satisfeitos com a vida. O questionário, respondido pelos visitantes da página, mostra que 60,9% dos bancários se declararam satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida, de um modo geral. Em segundo lugar na sondagem apareceram os profissionais da área de tecnologia de informação, com índice de satisfação de 57,2%. Do outro lado do estudo, os segmentos cujos profissionais se declararam mais insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a vida foram o comércio e o setor de saúde, com 18% e 17,7% dos respondentes, respectivamente. A pesquisa, respondida de forma on line, considerou as quatro categorias profissionais que apresentaram maior expressividade em número de questionários respondidos. A tabulação dos resultados do questionário revelou o índice de satisfação dos internautas em relação
a sua própria vida como um todo, incluindo aspectos profissionais, pessoais, familiares, financeiros etc. Os resultados aferidos alimentam um banco de dados que serve de base para uma comparação internacional de salários e mercados de trabalho. Eles se destinam a todos os que buscam informações sobre o tema, como trabalhadores, sindicalistas, negociadores, comunidades científicas, organizações internacionais e outros. Sobre o website MeuSalário é um site gerido pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e faz parte de um projeto internacional coordenado pela Wage Indicator Foundation (Fundação Indicador Salarial), com apoio do Instituto de Estudos Avançados sobre o Trabalho de Amsterdã e a Universidade Erasmus de Rotterdã/Escola de Administração de Rotterdã (EUR/ RSM). A Wage Indicator Foundation coordena e supervisiona o projeto e os websites em 20 países, o que ga-
Desde o lançamento no Brasil, em 2006, MeuSalário tem passado por um constante processo de aprimoramento que envolve uma série de iniciativas, entre elas, uma parceria firmada com o portal Uol, que garantiu ainda maior visibilidade ao site e favoreceu a visitação por parte do público. Segundo o coordenador do projeto MeuSalário no Brasil, o economista do DIEESE, Paulo Roberto Arantes do Valle, uma iniciativa que merece destaque é uma pesquisapiloto com os empregados do setor bancário de São Paulo, realizada recentemente. “A pesquisa com os bancários é importante para aprimorar o questionário como instrumento para realização de perfis de categoria”, afirmou. Apesar das grandes possibilidades de gerar conhecimento e dados acerca do mercado de trabalho e dos trabalhadores dos diversos setores, o site tem um desafio a enfrentar a partir deste ano. Até 2007, a sustentabilidade era garantida pelo projeto internacional, ou seja, pela Fundação Wage Indicator. Agora, MeuSalário terá que, por conta própria, gerar recursos para garantir sua continuidade.
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MUNDO DO TRABALHO
PERFIS DAS CATEGORIAS E AUTO-SUSTENTABILIDADE
PRIMEIRO PLANO . ANO 3 . NO 9 . ABRIL 2008
Projeto internacional MeuSalário nasceu em 2000, na Holanda, para comparar salários de homens e mulheres e hoje reúne informações sobre mais de 8.000 ocupações nos países participantes.
rante que todos os países utilizem a mesma metodologia e que os dados obtidos sejam integrados para a realização de pesquisas e estudos o mundo do trabalho. Atualmente, além do Brasil, o projeto é desenvolvido na Holanda, Bélgica, Finlândia, Hungria, Dinamarca, Itália, Polônia, Espanha, Inglaterra, Alemanha, EUA, Coréia do Sul, África do Sul, Índia, China, Argentina, Rússia, Suécia e México. A idéia é, no futuro, cruzar as informações destes países a fim de obter um panorama global e propiciar comparações regionais. MeuSalário nasceu em 2000, na Holanda, para comparar salários de homens e mulheres e hoje reúne informações sobre mais de 8.000 ocupações nos países que se integraram ao projeto. O site tem como finalidade básica fornecer informações e subsídios relativos a salários, emprego e condições de trabalho. O objetivo é aumentar a transparência do mercado de trabalho ao tornar pública informação atualizada sobre salários no Brasil e em outros países. Ao navegar pelo MeuSalário, o internauta vai encontrar matérias sobre mercado de trabalho, legislação e direitos trabalhistas, comportamento, tendências, emprego, renda, saúde e segurança no trabalho, entre outras. Há também reportagens voltadas especialmente para a mulher trabalhadora, com temas como pausa para amamentação e licença-maternidade, por exemplo. Outra ferramenta gratuita de grande utilidade para o trabalhador e que merece destaque é a comparação salarial. Por meio dela, o internauta pode obter uma referência sobre os salários pagos para sua ocupação no mercado. É necessário que o usuário responda algumas perguntas sobre seu perfil profissional para que a ferramenta indique a faixa salarial média para a ocupação.
OPINIÃO
O que revela o mercado de trabalho em 2007
CLEMENTE GANZ LÚCIO
PRIMEIRO PLANO . ANO 3 . NO 9 . ABRIL 2008
Diretor técnico do DIEESE
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O crescimento econômico do Brasil, medido pelo PIB, acumulará mais de 18% de aumento entre 2004 e 2007. Poderíamos – se as opções de política econômica fossem outras, e precisávamos, para superar as desastrosas desigualdades existentes – ter crescido mais. Porém, a novidade é que o país cresceu de forma continuada em todos os trimestres. Esse resultado econômico trouxe reflexos sobre as relações sociais presentes no mercado de trabalho que contestam as teses propugnadas de que: o emprego acabou; a precariedade do trabalho é crescente; os direitos trabalhistas e encargos sociais só fazem aumentar a informalidade; cada um é responsável pela sua empregabilidade; o aumento do salário mínimo aumentará a informalidade e quebrará a Previdência Social. Os resultados anuais da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada pelo DIEESE, Fundação SEADE, Ministério do Trabalho e Emprego e parceiros regionais em cinco regiões metropolitanas (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo) e no Distrito Federal, revelam que a taxa de desemprego, em 2007, foi de 15,5% , o menor patamar desde 1998. Desde 2004, a taxa de desemprego tem continuadamente caído, acompanhando o movimento de crescimento econômico. Em 2007, foram criadas 553 mil ocupações. Nos últimos quatro anos, mais de 770 mil pessoas deixaram a situação de desemprego nessas regiões metropolitanas. Há ainda um contingente de mais de três milhões de desempregados que, para poderem estar ocupados, dependem da sustentabilidade econômica do crescimento. Os resultados revelam que a queda no desemprego veio por meio do crescimento da ocupação em todos os segmentos. Nesse último ano, a maior taxa de crescimento da ocupação ficou com a Construção Civil – impulsionada pelo crédito, pelo aumento da renda e, mais recentemente, pelo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) –, seguida pelo comércio. Esses dois setores são responsáveis pela incorporação no mercado de trabalho de boa parcela da população com menor qualificação profissional. Predomina nesse crescimento da ocupação a formalização da relação de trabalho, pois a maior parte das ocupações geradas no mercado de trabalho metropolitano possui carteira de trabalho assinada – em 2007 foram geradas 443 mil novos postos com essa característica e diminuíram em 20 mil as ocupações sem carteira. Mas há outros resultados interessantes como: a redução da participação de crianças e adolescentes no mercado de trabalho; a contratação de pessoas de 40 anos e mais; a busca pelo trabalho qualificado, a maior queda no desemprego pelo trabalho precário e no desemprego pelo desalento (aquele em que o indivíduo desiste de procurar emprego). O resultado para o mercado de trabalho foi a geração de empregos, lembrando sempre que, como dizia Celso Furtado, este é o melhor instrumento para inserção social e para a cidadania econômica nesta sociedade. Um projeto de sociedade justa deve encarar três desafios: 1) gerar emprego de qualidade para os trabalhadores; 2) promover desenvolvimento econômico que gere bem-estar social a todos; 3) fazer com que este desenvolvimento seja sustentável, ou seja, capaz de renovar e preservar o mundo em todas suas dimensões. Os resultados de 2007 revelam que esses três desafios podem ser perseguidos, pois aquelas teses do apocalipse não se confirmam em um ambiente de crescimento econômico. Porém, não cabem simplificações. É necessário observar que para se avançar nesses desafios há exigências de altíssima capacidade política para articular um projeto estratégico de longo prazo, uma competência econômica diferenciada para conceber uma economia de dinâmica produtiva para a preservação sócio-ambiental e não do consumo desenfreado e a necessidade de construção de outra relação entre Estado e mercado.
INDICADORES:
bancos evoluem devagar Raquel Sabrina
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Em escala de 1 a 5, as instituições não chegaram à média 3 em indicadores de sustentabilidade Os bancos que operam no Brasil ainda deixam a desejar quando o assunto é sustentabilidade, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). As instituições com os melhores desempenhos foram classificadas como "regulares", ficando a média do setor em 2 pontos. Realizada entre maio e dezembro de 2007, a pesquisa focou indicadores de responsabilidade social, em 69 questões respondidas pelos próprios bancos. O Idec divulgou os resultados da "Avaliação Comparativa da Responsabilidade Socioambiental dos Bancos no Brasil" em evento realizado na Fundação Getúlio Vargas, em fevereiro. Foram pesquisados os oito maiores bancos de atuação nacional, com mais de 1 milhão de clientes: Bradesco, Itaú, ABN AMRO Real, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Unibanco, HSBC e Santander. Segundo o Instituto, o principal objetivo da avaliação é proporcionar um instrumento que permita aos consumidores compreender o signi-
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ficado prático da responsabilidade socioambiental e também fazer uma comparação entre as diferentes empresas. "Os bancos hoje possuem um discurso forte de responsabilidade social, ainda não incorporado às ações cotidianas", diz Marilena Lazzarini, coordenadora-executiva do Idec. Os melhores desempenhos apresentados foram do ABN AMRO Real (2,75) e do Bradesco (2,60). Na classificação “ruim” ficou o Itaú, com nota 2,4, seguido pelo Banco do Brasil (2,21), a Caixa Econômica Federal (1,93) e o HSBC (1,73). Por último, mais perto da avaliação de “péssimo” ficaram o Santander e Unibanco, ambos com 1,51. Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor, o resultado da pesquisa não surpreendeu: em uma escala de 1 a 5 pontos, nenhuma das instituições chegou a 3 pontos, e a média do setor ficou abaixo do considerado razoável. No tema relações com consumidores, por exemplo, os bancos tiveram as notas mais baixas. O discurso e a prática O estudo se baseou na resposta das próprias instituições, mas o indicador sobre as relações com consumidores teve as respostas com-
paradas com a prática vivenciada nas agências bancárias. Para checar as informações prestadas pelos bancos, os técnicos do Idec abriram contas nas empresas. O principal foco de avaliação foi o cumprimento do código de defesa do consumidor, que segundo o Instituto foi ignorado na maioria das solicitações realizadas. Como exemplo de problemas encontrados, foi citada a solicitação de entrega de contrato, reforçada pelos pesquisadores na abertura das contas e requisito cumprido apenas pela Caixa Econômica Federal. O Instituto ressaltou que as tarifas precisam ser previstas em contrato, para que o consumidor conheça as regras do jogo. Outras questões importantes foram levantadas, como a necessidade de critérios transparentes para aumento de tarifas, exigência não apresentada por nenhum dos bancos avaliados. Segundo os técnicos do Idec, nenhum dos bancos indicou políticas consistentes para redução de filas em suas agências ou apresentou resposta satisfatória às reclamações recebidas. Um outro indicador que evidencia a diferença entre os discursos comunicados pelas instituições na mídia e as práticas internas diz res-
peito às políticas pela valorização da diversidade. Apesar de ser um tema de bastante evolução nos últimos anos, nenhum dos bancos pesquisados atingiu a cota de 5% para pessoas com deficiência. O mais próximo do cumprimento da Lei 8.213 é o Real, com 92,9% da cota, mas que segue muito à frente do segundo lugar. A posição é ocupada pelo Banco do Brasil, que alcançou apenas 22% do requisito legal.
sas podem ajudar as empresas que queiram trabalhar seriamente essas questões”. O representante do conselho do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, Sergio Mindlin, também ressaltou a importância da pesquisa, mas fez algumas reflexões: “O que vai impulsionar a solução das questões apontadas? O discurso da sustentabilidade faz parte hoje do mundo empresarial, mas como as empresas vão colocar essas questões na prática é o grande desafio”. Para desenvolver o estudo, o Idec contou com a colaboração de algumas instituições parceiras, como Amigos da Terra, Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), DIEESE, Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Centro de Pesquisa de Empresas Multinacionais da Holanda (SOMO), entre outras. Para a próxima avaliação, o Instituto pretende ser mais rígido em suas avaliações. “Esperamos que os próximos resultados mostrem evoluções. Nós vamos continuar monitorando e avaliando esse setor, pela importância do assunto para os consumidores e para o mercado”, assegura a coordenadora do Idec, Marilena Lazzarini.
Resultados da pesquisa Segundo Marcos Pó, responsável do Idec pela pesquisa, a avaliação mostrou dados poucos satisfatórios "que não condizem com a imagem dos bancos apresentada para conquistar clientes". No indicador relações com consumidores, os bancos tiveram as notas mais baixas: Itaú, HSBC, Unibanco e Santander alcançaram 1,33 (péssimo) e Real, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa ficaram com 2 (ruim). Ele ressalta, no entanto, que a pesquisa mostra diferenças significativas entre os bancos. O Itaú foi o mais bem avaliado em “trabalhadores” enquanto o pior foi o Unibanco. No indicador “meio ambiente”, foram analisadas desde as políticas de ecoeficiência (redução no consumo de água e energia, reciclagem), até a adoção de critérios ambientais para concessão de crédito. O Santander foi o banco com pior pontuação, seguido do Unibanco e da Caixa Econômica Federal. As melhores pontuações ambientais foram do Real, do Bradesco e do Itaú.
Da esq. para a dir.:Ciro Torres, Sérgio Mindlin, Marcos Pó e Marilena Lazzarini
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A visão dos bancos O diretor da área de relações com mercado do Bradesco, Jean Leroy, diz que o estudo mostra um processo de melhoria contínua. Para o diretor-executivo de relações institucionais do HSBC, Hélio Duarte, "as notas frustraram, mas sustentabilidade é um assunto novo para as empresas. Vamos usar isso como um incentivo.” Para Carlos Nomoto, coordenador de sustentabilidade do ABN AMRO Real, citado positivamente em diversos itens da pesquisa, o estudo é importante porque mostra as fraquezas e oportunidades da empresa. No evento de divulgação, o representante do Real convidou o Idec para construir um plano de ação conjunto, para que as questões apontadas na pesquisa possam ser melhoradas. A superintendente de sustentabilidade do Unibanco, Valerie Adem, questionou a pesquisa aplicada pelo Idec. "Nossos números mostram resultados diferentes. Os critérios apresentados são muito subjetivos", disse a executiva, por meio da assessoria do banco. Segundo ela, itens importantes não foram considerados. Isabela Lemos, diretora de relações com funcionários do Banco do Brasil, avaliou o estudo como positivo, mas ressalta que algumas políticas do BB receberam pontuação abaixo do esperado. "Temos dez produtos com enfoque socioambiental, como linhas de crédito específicas para reflorestamento e agricultura orgânica que não foram pontuados". Instituições referência em responsabilidade social e sustentabilidade comentaram os resultados da avaliação. Ciro Torres, coordenador do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) diz que a transparência e a responsabilidade vão acontecer quando o controle social for eficiente. “O lado positivo é que os bancos hoje estão na vitrine e pesqui-
Seminário divulga resultados da pesquisa realizada nos bancos pelo Idec
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OPINIÃO
D IVULGAÇÃO
Enxergando a “pauta invisível”
PAULO ITACARAMBI
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Diretor-executivo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
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As expressões “Sustentável” e “Responsabilidade Social” já estão adquirindo o status de chavão. Freqüentam com desenvoltura o noticiário e a propaganda. A maioria das empresas quer o título para si e para seus produtos. Mas no meio jornalístico permanece a dúvida: o interesse pelo assunto é genuíno, ou apenas uma “bolha”? Se o tema veio para ficar, como traduzir os jargões para uma linguagem acessível? Qual é a notícia? Como tratar um assunto complexo, com uma multiplicidade de novos conceitos e muita confusão na sua utilização? Como produzir uma abordagem crítica com a rapidez demandada pelos meios de comunicação? Essas questões, entre muitas outras, fazem parte da reflexão reproduzida na publicação “RSE na mídia: pauta e gestão da sustentabilidade”, lançada pelo Instituto Ethos no final de 2007, que sistematiza os debates organizados no âmbito da Rede Ethos de Jornalistas. Durante o primeiro semestre de 2007 foi realizada uma seqüência de três debates com o objetivo de identificar os dilemas e as soluções que os próprios jornalistas apontavam para cobrir os temas da responsabilidade social empresarial e sustentabilidade bem como para internalizá-los na estratégia e nas práticas cotidianas do negócio da comunicação. Nos debates predominou a visão de que o interesse das redações pela sustentabilidade é uma resposta à pressão da sociedade para obter informações sobre assuntos que agora fazem parte das preocupações cotidianas como aquecimento global, devastação da Amazônia, degelo dos pólos, etc.. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU apresentou evidências da responsabilidade humana no aquecimento global e listou os efeitos trágicos para a civilização e os caminhos para evitar este desastre anunciado. A repercussão do filme “Uma Verdade Inconveniente”, do ex-vicepresidente dos EUA Al Gore, popularizou o assunto. Ficou também uma forte impressão de que a questão climática poderá levar as redações brasileiras a um novo patamar no tratamento editorial desses temas: passando da cobertura factual de eventos científicos e de desastres naturais (como furacões e maremotos) para reportagens mais abrangentes e transversais às diversas editorias sobre iniciativas de governos, empresas e ongs voltadas para a promoção do equilíbrio socioambiental e econômico. Esta mudança de abordagem requer o enfrentamento dos dilemas enunciados no início deste artigo e também a superação das dificuldades de se obter boas informações e evidências que facilitem comparações e contextualizações das matérias, bem como ultrapassar as resistências à “boa notícia”, alcunha dada às notícias sobre o terceiro setor ou sobre os investimentos sociais das empresas. Temos defendido a opinião de que não se trata de buscar novos fatos, mas sim de mudar o olhar. À medida que a sociedade muda sua visão sobre os fatos, mudam-se os problemas. Não há dúvidas de que há uma pressão social pela maior responsabilização das organizações empresariais pelos impactos de suas atividades. Esta pressão cresce à medida que fica evidente que o desequilíbrio ecológico, as desigualdades sociais e a desagregação dos valores são fortemente determinados pelo modo como produzimos e consumimos nossos bens e produtos e pela forma como realizamos as nossas relações comerciais, políticas e sociais. Esta é a força que alimenta o movimento de responsabilidade social. A resposta das empresas que no início se limitava a atitudes filantrópicas, avançando posteriormente para investimento social privado, hoje se traduz na implantação da gestão sustentável do negócio. O que as pessoas e as organizações da sociedade demandam das empresas é que elas conheçam e administrem os impactos de suas atividades e que sejam pró-ativas em implementar as mudanças necessárias. Perceber o desenrolar desse processo é a chave para enxergar a “pauta invisível” e capturar a notícia escondida no cotidiano que, aparentemente, continua o mesmo. Há uma nova luz que cintila. Anunciando, talvez, o limiar de um novo padrão civilizatório.
D IVULGAÇÃO
Conferência Mundial dos catadores em Bogotá, Colômbia
Vanessa Pedro
Lixo e reciclagem O QUE É O LIXO? É basicamente todo material descartado, proveniente das atividades humanas. O lixo gerado individualmente é uma parte da montanha gerada todos os dias, composta pelos resíduos de outros setores. Os diferentes tipos de lixo se classificam de acordo com sua origem: dos espaços públicos, dos estabelecimentos comerciais, das casas, das fábricas e dos hospitais, farmácias e casas de saúde. Mais de 50% do que chamamos lixo e que formará os "lixões" é com-
gem de embalagens de aço é de 63%. Já nas embalagens de alumínio o Brasil desponta na frente de muitos países industrializados e também da Argentina. A Europa Ocidental reciclou 52% de suas latas de alumínio (o equivalente a 25 bilhões de latas). O Brasil recicla 96,2%. O Brasil recicla 20% do seu plástico e se destaca reciclando 47% das garrafas pet utilizadas no país, enquanto os Estados Unidos reciclam 22%. No papel e papelão, segundo o CEMPRE, o Brasil supera o índice de reciclagem de papelão dos Estados Unidos e de diversos outros países na reciclagem de papel, sem contar que tem espaço para atingir os níveis dos países europeus que são os campeões globais na reciclagem de papel. O índice nacional de reciclagem de papel é de 46,9% e o de apenas de papelão chega 77,4%. No vidro o Brasil alcança 45% de aproveitamento e 23% nas embalagens longa vida.
PLANETA
LIXO PRIMEIRO PLANO . ANO 3 . NO 9 . ABRIL 2008
posto de materiais que podem ser reutilizados ou reciclados. O lixo é caro, gasta energia, leva tempo para decompor e demanda muito espaço. Para lidar com o lixo é preciso pensar em três fatores: REDUÇÃO, REUTILIZAÇÃO e RECICLAGEM. O país recicla 29% das embalagens de aço. Embora já ultrapasse Portugal, na Europa, de acordo com a Association of European Producers of Steel (APEAL), o índice de recicla-
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Ações de governo para reciclagem O aumento da produção de lixo, a crescente urbanização, a dificuldade de encontrar espaços para destinação de resíduos e inclusão de milhares de trabalhadores informais no mercado da reciclagem gerou uma demanda aos governos para que criassem leis e outros instrumentos para organizar o setor, promover maior adesão das pessoas e garantir dignidade no trabalho dos catadores. É necessário buscar alternativas que facilitem a operacionalização do sistema, que atendam a população em relação à limpeza urbana e à qualidade de vida e beneficiem esses trabalhadores do lixo que geram uma macroeconomia e beneficiam a sociedade como um todo. O Governo Federal criou o site www.coletasolidaria.gov.br para reunir as ações públicas que hoje regulam e organizam o setor. A constituição do Comitê interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis, o Decreto nº 5.940/06 e a Lei nº 11.445/07 são exemplos de formalização de políticas públicas que têm o desafio de contribuir para a inclusão social e econômica dos catadores de materiais recicláveis.
Desde 25 de outubro de 2006, o Decreto Federal nº 5.940 institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, determinando que a sua destinação seja para as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis. As Comissões da Coleta Seletiva Solidária, criadas para conduzir a implementação das medidas estabelecidas pelo decreto nº 5.940, devem apresentar semestralmente ao Comitê Interministerial a avaliação do processo de separação dos resíduos recicláveis descartados em suas unidades. Para acompanhar esse processo e apoiar os órgãos públicos federais, o Comitê estruturou uma Secretaria Executiva. Significa dizer que os cerca de 10.000 prédios públicos federais, presentes em 1.400 municípios, devem destinar os diversos tipos de materiais recicláveis, usados no dia-a-dia das repartições (jornais, envelopes, revistas, materiais de reformas e de construção, plástico e outros materiais) para as organizações de catadores do seu município.
LEI Nº 11.445 Sancionada em 2007, a lei 11.445 determina a política nacional para o saneamento básico, que inclui a universalização de vários serviços como acesso à água potável, manejo das águas pluviais urbanas e também coleta e destino ao lixo. A lei determina para limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos “um conjunto de atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas”. Além de estabelecer responsabilidades ao poder público, aos fabricantes e revendedores, a Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê obrigações dos consumidores em relação ao reaproveitamento e à disponibilização de resíduos para coleta.
L.MARCIO_RAMALHO
6 milhões de toneladas é o volume anual reciclado de materiais no Brasil. De acordo com levantamento da Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE), organização criada por grandes empresas com atuação no país, o Brasil recicla 11% dos resíduos sólidos urbanos produzidos no país e está acima da República Tcheca, Portugal, Argentina, Colômbia e Hungria e chega perto do Reino Unido.
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CC
DECRETO FEDERAL Nº 5.940
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Fórum Nacional Lixo e Cidadania
O Fórum Nacional Lixo e Cidadania é uma articulação de cerca de 50 instituições governamentais e não governamentais, criada em 1998 por estímulo e sob a coordenação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). O objetivo é erradicar o trabalho infantil com lixo no Brasil. Para isso, o Fórum propõe um Programa que tem três objetivos principais:
. Retirar todas as crianças e adolescentes do trabalho com lixo nos lixões e nas ruas, promovendo sua inclusão educacional; . Promover a inclusão social e econômica dos catadores de materiais recicláveis, especialmente por meio de apoio à sua organização e de programas de coleta seletiva; . Erradicar os lixões, implantando sistemas de gestão integrada e sustentável dos resíduos sólidos, com participação de todos os envolvidos, especialmente os catadores. O Fórum Nacional se articula com uma rede de fóruns estaduais implantados em quase todo o país e com fóruns municipais, que constituem espaços de gestão compartilhada entre os diversos atores do poder público e da sociedade civil que atuam em resíduos sólidos e em áreas correlatas no nível local. www.lixoecidadania.org.br CC
GASPA
CC
DANIEL L EININGER
Oceanos infectados
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Um estudo publicado na revista Science indica que não existe mais nenhuma gota de água nos oceanos que não tenha sido afetada pelo homem. Quase metade da superfície oceânica (41%) está sob forte pressão de atividades humanas, como pesca, poluição e introdução de espécies invasoras. Só 4% estão relativamente livres de impacto, principalmente no Ártico e na Antártida, onde o homem tem dificuldade para chegar. Os resultados foram apresentados durante a conferência anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência em Boston (EUA). “Muitos estudos já mostraram que os oceanos enfrentam problemas. A novidade é que agora sabemos o tamanho do problema”, disse a pesquisadora Fiorenza Micheli, da Universidade Stanford.
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A equipe mapeou o efeito combinado de 17 atividades impactantes sobre 20 tipos de ecossistema marinho. Os efeitos mais severos têm relação com o aquecimento global: aumento de temperatura e da incidência de radiação ultravioleta e acidificação. Os pontos mais críticos estão onde estes fatores se sobrepõem a pressões mais localizadas, como poluição e pesca. Segundo os cientistas, 2,2 milhões de quilômetros quadrados de oceano já foram impactados.
Confira o estudo no site www.sciencemag.org
Lâmpadas recicladas: vagalume CC
O projeto busca reduzir o impacto ambiental da empresa através da correta destinação de 100% das lâmpadas descartadas na administração central e na diretoria regional de Brasília. Muitas delas possuem mercúrio, substância tóxica, nociva ao meio ambiente e à saúde. O mercúrio é capaz de contaminar até 350km de distância e é cumulativo. O produto danifica células do sistema nervoso central, afeta rins, fígado e sistema reprodutor. O mercúrio é capturado através de exaustão para filtros de carvão e removido dos componentes recicláveis, que são descontaminados. São destinados corretamente para reciclagem 99% dos componentes das lâmpadas. O vidro é triturado e
BRYAN_CHAN
pode ser utilizado misturado ao asfalto, em indústrias de cerâmicas, em empresas fabricantes de vernizes, artesanatos e embalagens para produtos não alimentícios. Alumínio, cobre e latão são separados e aproveitados na indústria de eletro-eletrônicos e de metalurgia. O pó de fósforo pode ser utilizado em indústrias de tintas. O próprio mercúrio pode ser utilizado em diversas aplicações industriais, como na produção de cloro, na fabricação de pvc, termômetro e na construção de novas lâmpadas. A previsão de custos anual a partir de 2007 é de R$3.000,00 por ano, considerando a quantidade de lâmpadas descartadas anualmente nesses setores e a capacidade de estocagem nos depósitos.
CC WOODLEYWONDERWORKS
SAIBA MAIS
O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) existe há 4 anos e vem organizando os catadores e catadoras de materiais recicláveis pelo Brasil. Os catadores buscam a autogestão do seu trabalho e o controle da cadeia produtiva de reciclagem. Nesse sentido procuram organizar o movimento em cooperativas, associações, entrepostos e grupos. O Movimento dos Catadores surgiu em 1999 com o 1º Encontro Nacional de Catadores de Papel. Em 2001 ocorreu 1º Congresso Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis em Brasília, evento que reuniu mais de 1.700 catadores e catadoras. No congresso é lançada a Carta de Brasília, documento que expressa as necessidades dos que sobrevivem da coleta de materiais recicláveis. No ano de 2003 acontece o 1º Congresso Latino-americano de Catadores em Caxias do Sul (RS).
www.coletasolidaria.gov.br Site oficial da Coleta Seletiva Solidária, instituída a partir do Decreto Presidencial no 5.940, de 20 de outubro de 2006. www.coletasolidaria.gov.br/menu/ material-de-apoio/ passo%20a%20passo.pdf/view Roteiro para implementação da coleta seletiva solidária. mncr.org.br Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. Lixo no Brasil www.ufv.br/Pcd/Reciclar/ lixo_brasil.htm
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Catadores têm movimento nacional
www.lixo.com.br/ Práticas sustentáveis na área de resíduos sólidos no Brasil e principalmente no estado do Rio de Janeiro.
www.cempre.org.br Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE) www.abrelpe.org.br Associação Brasileira de Empresas Públicas e Resíduos Especiais
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FORÇA SUB
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IDEAAS
NUM PAÍS TROPICAL, A FONTE DE ENERGIA MAIS ÓBVIA NÃO POSSUI ESTÍMULO PÚBLICO. MAS O CENÁRIO COMEÇOU A MELHORAR E ESTÁ ENSOLARADO
Alessandra Mathyas
Desde a década de 1970, quando pensou e iniciou o Próálcool, o físico José Bautista Vidal já afirmava: “o Brasil é o grande continente tropical do planeta, foi premiado com um reator de fusão nuclear particular: o sol”. No entanto, passados 40 anos, a energia solar pouco avançou no país. E não pela ausência de estudos e de empresas interessadas no setor, mas pela falta de estímulo público em adotar esta que é considerada a mais sublime das energias limpas. Conforme o Atlas Brasileiro de Energia Solar, publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em 2006, o país recebe anualmente 15 trilhões de MWh em energia solar (potencial equivalente a 2200 horas de insolação por ano). Isso corresponde a quase 40 mil vezes o consumo nacional de eletricidade do ano de 2006. Apesar do imenso potencial do Brasil e América Latina para a energia solar, seus defensores não pretendem mudar completamente a matriz energética atual, no caso do Brasil, a das grandes hidrelétricas. Entendem, no entanto, que a energia do sol poderá ter uma grande contribuição como coadjuvante, suprindo a carência em períodos de seca – quando os reservatórios das usinas chegam a níveis preocupantes – e levando energia às comunidades isoladas, onde nem mesmo o Estado consegue chegar com linhas de transmissão e distribuição.
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LIME DO SOL
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Para Fábio Rosa, diretor do IDEAAS – Instituto para o Desenvolvimento de Energia Alternativa e da Auto Sustentabilidade, com sede em Porto Alegre, a energia solar tem um importante papel social a cumprir. Como exemplo, ele destaca o Projeto LUZ AGORA, que entrega energia elétrica no meio rural sem conexão com redes de distribuidores tradicionais de energia. “Trabalhando em diversas comunidades no Rio Grande do Sul, o projeto tem um teste de mercado concluído e em pleno funcionamento, com 40 sistemas solares fotovoltaicos instalados e em funcionamento no município de Encruzilhada do Sul, 20 sistemas em São José do Norte e um modelo experimental em Osório”, explica Fábio Rosa. Além da instalação, a entidade faz um acompanhamento permanente das famílias, que pagam pelo serviço. “Fazemos um cálculo médio de quanto a família gastava com querosene, diesel e outros combustíveis para geração de energia. Ao adquirir os painéis fotovoltaicos, dividimos seu custo em parcelas que ficam até menores que o gasto médio das famílias com energia suja”, explica Rosa. Um exemplo é a família da senhora Celanira Paulo Gomes, da cidade de Encruzilhada do Sul. Na época da instalação dos painéis fotovoltaicos, a família tinha um gasto médio mensal de R$ 78,00 com o lampião a gás. Agora, paga R$ 32,00 para ter energia solar. Em casas como a da senhora Celanira, a geração de energia é suficiente para quatro lâmpadas, chuveiro, eletrodomésticos, como geladeira, televisão, rádio, carregador de celular, bomba d’água e demais utensílios domésticos eletrônicos. Ao lembrar desta família especialmente, Fábio Rosa emociona-se ao lembrar da matriarca, senhora Filomena, já falecida. Quando da instalação elétrica, ela pediu que colocasse uma lâmpada do lado de fora, em cima da porta da sua casa. E a explicação dá uma idéia do que significa para milhares de famílias terem energia em casa. Disse a senhora Filomena ao coordenador do IDEAAS: “Se tiver uma lâmpada do lado de fora, de noite as
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Com a energia solar, a família Gomes economiza 50% na conta de luz pessoas vão ver minha casa e eu vou receber visitas porque eu tenho luz, e a vida será mais alegre”. Essa alegria e economia a entidade gaúcha quer levar agora aos pescadores da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul e na Lagoa de Imarui, em Santa Catarina. O IDEAAS fez um levantamento que só na Lagoa dos Patos existem 30 mil lampiões em embarcações para a pesca de camarão, atividade econômica principal de 15 mil famílias que hoje gastam, cada uma, uma média de R$ 4 mil por ano com o combustível do lampião. Através de um convênio com a Universidade de Michigan, dos Estados Unidos, o IDEAAS está desenvolvendo o projeto Farol do Sol, um protótipo de luminária para a pesca de camarão com painéis fotovoltaicos. Segundo Rosa,
que é engenheiro agrônomo, com a mudança do lampião para a luminária solar, em cada temporada de pesca, que vai de fevereiro a maio, deixarão de ser emitidas 12,5 toneladas de gás carbono. O Laboratório de Energia Solar, da Universidade Federal de Santa Catarina, estuda para este projeto uma lâmpada que garanta a mesma luminosidade do lampião. Isso sem falar no ganho de tempo, pois não será mais necessário o abastecimento do lampião em terra nem haverá riscos à saúde, como as freqüentes queimaduras. O projeto tem um custo de R$ 210 mil, sendo que R$ 50 mil já foram liberados através de um convênio do IDEAAS com o Instituto HSBC de Solidariedade. Além da iluminação para os pescadores de camarão, o IDEAAS através do projeto
Luz Agora na Amazônia, com recursos da fundação Lemelson dos Estados Unidos, já dispõe de 220 mil dólares para a instalação elétrica solar em 133 casas na Reserva Extrativista de Tapajós. Tais iniciativas mostram que a energia solar é viável e tem um grande alcance social. O próprio Programa Luz para Todos, do Ministério de Minas e Energia, financia os projetos solares fotovoltaicos que tiverem viabilidade econômica. Neste caso, a responsabilidade pela instalação e gestão é das companhias energéticas estaduais. Entre as que já realizaram projetos de energia solar em comunidades isoladas estão a Coelba da Bahia, a Ampla S.A (antiga CERJ), no Rio de Janeiro, a CEAL de Alagoas e a Cemig de Minas Gerais. Esta, com o Programa Luz So-
lar, já levou energia a cerca de 500 residências, 150 escolas e 50 centros comunitários de áreas rurais do estado mineiro. Para viabilizar economicamente este programa, a Cemig configurou sistemas com potências diferentes considerando as necessidades básicas de cada um desses setores. Assim, à época do início do projeto, início do ano 2000, as instalações nas escolas e centros comunitários foram patrocinadas pelo Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios – PRODEEM. Instituído com o propósito de levar eletricidade às áreas rurais e em comunidades isoladas, este programa realizou projetos de energia solar em instalações de caráter comunitário em 117 comunidades de 18 estados, com investimento de R$ 1,5 milhão, conforme relatório do Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito – Cresesb, do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica – Cepel, do Rio de Janeiro. Na época, os principais benefícios sociais desta iniciativa foram o aumento do número de alunos em escolas noturnas, incremento da produção de alimentos com a irrigação comunitária e geração de emprego e renda e maior acesso à informação e conscientização com a TV-comunitária e a TV-escola. No entanto, uma auditoria do Tribunal de Contas da União no segundo semestre de 2002 constatou alguns problemas no programa, como o baixo envolvimento das comunidades beneficiárias, a indefinição quanto às responsabilidades dos agentes envolvidos, ausência de capacitação para operação, manutenção, assistência técnica e sustentabilidade dos sistemas e inexistência de tombamento e controle patrimonial dos ativos do PRODEEM. Havia muitas queixas que depois do equipamento instalado, as comunidades ficavam abandonadas, sem saber o que fazer em caso de falha técnica. Assim, o TCU recomendou, no Acórdão 598/2003, a revisão do modelo até então vigente com o aumento da participação das comunidades, a promoção descentralizada na execução dos programas com parcerias junto a instituições de reconhecimento técnico, treinamento e capacitação para operação em sis-
temas fotovoltaicos e a instituição de indicadores de desempenho. Ao todo foram 14 recomendações e oito determinações, que motivaram debates, liderados principalmente pelo Cepel. No Plano de Revitalização e Capacitação – PRC – do PRODEEM ficou estabelecido que, além do treinamento e da revitalização dos sistemas já instalados, era preciso efetuar a regularização patrimonial correspondente, em 2003, a nove mil sistemas adquiridos correspondentes a um valor aproximado de 37 milhões de dólares. Reestruturado, o PRODEEM passou a integrar o Luz para Todos. Após esta estruturação, as concessionárias estaduais voltaram a instalar sistemas fotovoltaicos em comunidades rurais e isoladas. Um exemplo é a Eletroacre, que instalou 20 mil sistemas através do Programa Luz para Todos. Saindo do meio rural e da pesca, indo para os grandes centros urbanos, aos poucos se percebe uma importante mudança a favor da energia solar. É cada vez maior o número de casas de classe média e alta que usam aquecedores solares já no projeto das edificações. Nas últimas décadas esta tecnologia tem se multiplicado e o preço ficou mais acessível, sendo inúmeras as empresas que oferecem no Brasil serviços de planejamento, engenharia e instalação destes equipamentos. No entanto, faltava ainda a iniciativa do poder público, o que, sobretudo em 2007, teve um grande salto com a Lei 14.459/07, na cidade de São Paulo, instituindo que as novas construções sejam planejadas de forma eficiente, prevendo maior aproveitamento da luz e aquecimento solar. Segundo os defensores da iniciativa, como as entidades que compõem a RENOVE – Rede Nacional de ONGs de Energias Renováveis (sediada em Brasília), a economia estimada de energia em sistemas bem dimensionados pode chegar a 70%. Isso é bastante significativo quando se avalia a pesquisa da Eletrobrás divulgada em 2007, que aponta o pico no consumo de energia do país entre 18 e 21 horas, motivado pelo uso dos chuveiros: 60% de toda a eletricidade do país. Há nesse meio muitas dúvidas, como um eventual desperdício da água aquecida ou a necessidade de
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em tamanho ao lago de Itaipu (1350 km2) fosse coberta com sistema solar fotovoltaico, a potência instalada seria de 94,5 GW. O entrave ainda são os custos. Enquanto os últimos leilões de energia nova têm registrado um valor médio de 130 reias por MWh, nas chamadas fontes convencionais – hidro e térmicas –, para as energias renováveis o custo é bem mais alto. “Os leilões de energia, como agora nas usinas do Rio Madeira, têm o preço inicial da obra de geração, sem contar os custos e a perda de energia na transmissão e na distribuição até chegar na tomada do consumidor. A energia solar é a tomada, sem custos extras e sem perdas”, afirma. O especialista argumenta ainda que, enquanto no Brasil a energia elétrica de fontes convencionais tem tido um reajuste médio ao ano de 14%, a indústria da energia solar vem registrando uma queda nos custos de produção em 5% ao ano. “Nossa estimativa é que em 2017 esses valores estejam equiparados”, afirma. Ausência de legislação Onde há o apoio do poder público, a sociedade responde ao apelo ecológico e investe nos diversos
usos da energia solar - ou pelo menos no mais barato: para aquecimento de água. Apesar de simples, no entanto, são poucas as leis municipais ou estaduais que definem regras e benefícios a quem usa os coletores solares que substituem os chuveiros elétricos. Para citar alguns municípios, além da capital paulista, Birigui/SP, Varginha/MG e Porto Alegre/RS. Nesta última, a prefeitura concede incentivos fiscais para residências e empresas que promovam medidas necessárias ao fomento do uso e ao desenvolvimento tecnológico de sistemas de aproveitamento de energia solar. Há ainda inúmeros projetos em tramitação, mas sem previsão de tornarem-se leis, como em Americanas, Peruíbe, Piracicaba, São José dos Campos e Campinas, em São Paulo, Curitiba, no Paraná, Juiz de Fora, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Na Câmara dos Deputados também há projetos para regulamentar não só a fonte de energia para aquecimento de água, como o uso da tecnologia fotovoltaica para gerar eletricidade. Entre eles, o que mais vem motivando o debate junto aos cientistas, empresários e representantes de governo é o PL 1563/2007, do
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aquecedores elétricos para uso em dias nublados. Mas na balança, os benefícios sociais, ambientais e econômicos acabam pesando mais. Há uma considerável redução na conta de energia elétrica, são gerados novos e qualificados empregos – hoje se estima mais de 30 mil trabalhadores neste setor, em todos os estados, não há a emissão de gases do efeito estufa como nas energias convencionais e a adoção destas medidas está em sintonia com os discursos mundiais para conter o aquecimento global. Quanto à geração de energia elétrica através da tecnologia fotovoltaica, não existem estudos que quantifiquem o potencial brasileiro em GW, mas há como fazer comparações com outras fontes localizadas, como a Usina de Itaipu, por exemplo. Esta, que por décadas foi a maior hidrelétrica do mundo, contribui com cerca de 20% da energia consumida no Brasil, tendo uma potência instalada de 12,6 GW, conforme o Balanço Energético 2007 disponibilizado pelo Ministério de Minas e Energia. Segundo o professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Ricardo Rüther, PhD em energia solar, se uma área equivalente
Iniciativa no mar: placas alimentam lampiões usados na pesca do camarão
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ARQUIVO PP
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QUINSPREUS
CC BLOGDELAMANCHA
S ÉRGIO VIGNES
PESQUISAS NÃO FALTAM São muitos os centros de pesquisa e ensino que disseminam as vantagens da energia solar, seja através do uso de sua componente luminosa (fótons) – painéis fotovoltaicos para produção de energia elétrica –, seja através do uso de sua componente térmica – coletores termo-solares para aquecimento de água. Em 2004, através de um acordo técnico-científico entre o Ministério de Ciência e Tecnologia, a PUC-RS e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, foi criado o Centro Brasileiro para Desenvolvimento de Energia Solar Fotovoltaica (CB-Solar), no Núcleo Tecnológico de Energia Solar (NT-Solar) da Faculdade de Física daquela universidade. Os laboratórios foram projetados especificamente para desenvolver células e módulos convencionais e concentradores bem como para implementar e analisar sistemas fotovoltaicos e certificar os componentes. Como o CB-Solar de Porto Alegre, destaque nacional também tem o LABSOLAR-UFSC – Laboratório de Energia Solar da UFSC – onde no momento está a sede da ISES do Brasil (International Solar Energy Society, Seção Brasil). E ainda têm grande contribuição à pesquisa neste setor o Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito (CRESESB), situado no Centro de Pesquisa em Energia Elétrica (CEPEL) no Rio de Janeiro, o Grupo de Estudos em Energia Solar da PUC-MG, o Departamento de Energia Elétrica da Universidade Federal do Ceará, o Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal da Paraíba, o Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas da Universidade Federal do Pará e o Núcleo de Energias Alternativas da Universidade Federal do Maranhão. tir a importância da energia solar nas três esferas de governo – federal, estadual e municipal, falta muito para o Brasil avançar. E o grande entrave é a legislação. Hoje, quem produz energia através da tecnologia fotovoltaica não tem a possibilidade de ofertar nas redes de distribuição o excedente de sua geração própria, o que não atrai o investimento por parte das empresas ou dos consumidores do setor residencial. Ainda assim, quando o gestor público acredita na tecnologia, busca caminhos para o avanço. Foi o que fez a Eletrosul Centrais Elétricas S. A . Através de um convênio com o KFW – banco de fomento alemão –, a empresa solicitou um estudo de viabilidade técnica para geração de energia solar no seu prédio sede, em Florianópolis. O estudo, feito pelo LABSOLAR-UFSC – Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina e pelo IDEAL – Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina, prevê placas fotovoltaicas em estacionamentos cobertos – o que dará visibilidade externa ao
projeto – e na cobertura do prédio. Com as obras concluídas, o prédio praticamente irá produzir a energia elétrica que consome e a Eletrosul será a primeira empresa pública do país auto-sustentável em energia solar. O projeto, no entanto, terá que ser aprovado pelo Senado Federal, mas a matéria já está na pauta para o mês de março. Muito antes, no entanto, a empresa já mostrava publicamente seu interesse pela energia limpa. No mesmo terreno da sede está um protótipo que é exemplo nacional em eficiência energética, uso de energia solar e aproveitamento de água: a Casa Eficiente (www.eletrosul.gov.br/casaeficiente). Bom negócio Cientes do potencial brasileiro, sobretudo na geração de energia através da tecnologia fotovoltaica, grandes empresas internacionais com tecnologia de ponta estão de olho no mercado brasileiro. Um exemplo é a empresa Kyocera Solar, líder mundial na fabricação de painéis fotovoltaicos. Segundo Antônio Granadeiro, presidente da em-
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deputado federal Paulo Teixeira (PTSP) que, além da geração distribuída e racionalização energética, quer modificar o PROINFA e aumentar a participação de fontes alternativas na matriz energética nacional. Este e todos os demais projetos de lei anteriores e posteriores relacionados ao tema foram apensados para discussão numa única comissão especial formada ainda em agosto do ano passado, mas cujos debates até agora não avançaram. Decisões tomadas por comissões como esta não precisam passar pela votação em plenário, sendo encaminhadas diretamente para o Senado Federal e depois ao Presidente da República. No Congresso Nacional há ainda a Frente Parlamentar em Defesa da Energia de Fontes Renováveis e a Subcomissão de Fontes Renováveis e Uso Múltiplo da Água. Já na estrutura de Governo também há espaço para as energias renováveis, como a Coordenadoria Geral de Energias Renováveis do Ministério de Minas e Energia, responsável pelo PROINFA. No entanto, apesar de se discu-
DIFERENÇAS ENTRE ENERGIA FOTOVOLTAICA E TÉRMICA:
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Famílias atendidas onde a rede de transmissão não chega presa no Brasil, hoje o faturamento da indústria solar no mundo está em torno de três bilhões de dólares. Destes, o Brasil responde por modestos 20 milhões, sendo que a maior parte foi implantada através do Programa Luz para Todos. Mas segundo Granadeiro, o seu custo aqui ainda é muito alto, acima de R$ 14 mil para uma instalação de médio porte. Apesar da pouca procura nacional, a empresa aposta no mercado brasileiro, a exemplo do que vem acontecendo em outros países, onde tem se destacado, sobretudo, na venda de painéis solares para geradores fotovoltaicos conectados à rede elétrica. “Nossos principais clientes são particulares, pessoas que compram sistemas para gerar energia em suas residências e ligar à rede”, afirma Granadeiro. Isso acontece em outros países, especialmente na Alemanha, Japão e Estados Unidos, e mais recentemente Espanha e Portugal, onde há forte estímulo através de legislação com subsídios favoráveis. “Somente no ano passado foram instalados no mundo 2,5 GW”, comenta o empresário. As mais novas fábricas da Kyocera Solar estão no México, China e República Tcheca e a produção é praticamente toda exportada para
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os países onde há estímulo para a energia solar. “O Brasil deveria adotar uma política de incentivos de pelo menos uns dez anos para viabilizar uma produção nacional. Um programa de conexão à rede como existe na Alemanha, ajudaria a indústria a se estabelecer aqui e reduzir os custos”, opina Granadeiro. Ao que parece, a redução dos custos da indústria da energia solar é uma tendência mundial. Conforme cálculos da ISES (International Solar Energy Society), o custo está diminuindo gradativamente. Na Europa, a tecnologia é antiga. No Hemisfério Norte, desde a década de 1970 a energia solar está na pauta permanente dos governos. Descoberta ainda no século XIX pelo físico francês Edmund Bequerel, quando experimentava o efeito fotovoltaico com dois eletrodos metálicos numa solução condutora, percebendo o aumento na geração de energia elétrica com a luz, a tecnologia fotovoltaica passou por vários estágios até chegar ao uso em grande escala do silício. Em 1873, Willoughby Smith descobriu o efeito fotovoltaico em sólidos com o selênio. A produção da primeira célula fotovoltaica neste metal veio quatro anos mais tarde, com W. G. Adams e
A principal diferença entre os módulos solares fotovoltaicos e os coletores solares térmicos está no princípio de funcionamento. Nos módulos solares fotovoltaicos, os fótons da radiação solar (a “luz do sol”) excitam elétrons de um material semicondutor (normalmente o silício) e geram eletricidade em corrente contínua. Essa energia pode ser usada diretamente ou armazenada em baterias para uso posterior. Já nos coletores termo-solares, a energia térmica da radiação solar (o “calor do sol”) aquece uma superfície (normalmente de cobre) pintada de preto para absorver melhor o calor que logo em seguida é transferido para uma serpentina através da qual a água circula no coletor. A água é aquecida ao passar por essa serpentina aquecida e depois armazenada em um reservatório com bom isolamento térmico. Por serem tecnologias distintas, os preços também são bem diferentes. Por exemplo: um coletor térmico para aquecer a água de banho de uma família de quatro pessoas custa em torno de R$ 3.000,00. Já para atender ao consumo de energia elétrica da mesma família, um gerador solar fotovoltaico custa de R$ 25.000,00 a R$ 30.000,00. Isso explica em parte a ausência de fábricas de painéis fotovoltaicos no Brasil, até o momento, enquanto que coletores térmicos são fabricados em toda parte, até com materiais recicláveis, como garrafas pet e caixas longa vida.
mento de 10% ao ano, com ênfase nos painéis fotovoltaicos e coletores termo-solares. Segundo Johannes Kissel, assessor do Conselho Mundial de Energia Renovável – WCRE, o KFW, banco de fomento alemão, disponibiliza créditos com juros baixos, acessíveis à população em geral. Estas definições, somadas à determinação da União Européia em reduzir as emissões de gases do efeito estufa e ampliar o uso de fontes renováveis de energia, fizeram com que, até 2007, tenham sido instalados na Alemanha 1,4 MWp (megawatts-pico) em sistemas fotovoltaicos. De acordo com o relatório do Governo Alemão, em 2006 o país exportou seis bilhões de euros em equipamentos neste setor enquanto no ano 2000 a cifra não passou dos 500 milhões de euros. Do total de painéis já instalados na Alemanha, um a cada três é produzido no próprio país, o que tem permitido seu barateamento. O exemplo da Alemanha mostra também que a indústria da energia solar não tem se mostrado apenas ecologicamente viável, mas criou uma necessidade de profissionais qualificados que interferiu inclusive nos cursos tecnológicos. Até o momento este setor já conta com cerca de 170 mil pessoas trabalhando, mas com o crescimento previsto, estima-se a necessidade de 510 mil pessoas em poucos anos. Caminhos semelhantes trilham 18 dos 27 países membros da União Européia que já estabeleceram leis para fomentar as energias renováveis. Com isso, além da Alemanha, até o ano passado foram instalados na Espa-
nha cerca de 600 MWp em sistemas solares fotovoltaicos, o suficiente para atender à demanda de eletricidade de 210 mil vilarejos espanhóis. A informação é da Associação da Indústria Fotovoltaica (sigla em espanhol ASIF), que registrou um crescimento de 440% em relação a 2006, com investimentos de cinco bilhões de euros, considerando as instalações de sistemas, as novas fábricas de equipamentos e a atuação em bolsa das empresas espanholas do setor. Na Espanha a indústria fotovoltaica também responde por um considerável incremento na oferta de vagas de emprego. Segundo a ASIF, são 23 mil empregos e mais de 15 mil pessoas são proprietárias de suas instalações. Conforme dados disponibilizados pela EPIA, Associação da Indústria Fotovoltaica Européia, até o momento estão instalados em todo o mundo 2,7 GWp de sistemas que utilizam essa tecnologia limpa para gerar energia elétrica. Ainda na Europa, a Hungria destaca-se na fabricação de painéis. Os Estados Unidos também avançaram nos parques solares, dispondo até o ano passado de 260 MWp instalados, onde destaca-se o estado da Califórnia. No outro lado do globo, a Índia, que criou uma empresa púbica de fabricação de painéis fotovoltaicos, entra com força neste mercado. O governo indiano assegura que seu produto tem a mesma qualidade que os produzidos na Europa e nos Estados Unidos, e a um custo bem menor Neste contexto mundial é que se verificam as promissoras possibili-
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R.E. Day. Em 1904 Albert Einstein publicou um artigo sobre o efeito fotovoltaico, ao mesmo tempo em que divulgava ao mundo sua teoria da relatividade. E foi com a explicação do efeito fotovoltaico que Einstein ganhou seu primeiro Prêmio Nobel, em 1923. A primeira célula de silício foi produzida em 1954 nos Laboratórios Bell, em Murray Hill, Nova Jérsei, Estados Unidos. E no ano seguinte começou no mesmo país a produção de elementos solares fotovoltaicos para aplicação espacial. Daí por diante esta indústria foi se aprimorando e as placas tornaramse mais eficientes. Em 1980 Israel foi o primeiro país a estabelecer uma política pública de aplicação da tecnologia solar fotovoltaica. Nesta década, a produção mundial ainda era pequena. Em 1983, por exemplo, não passava de 20 MWp (megawattspico). Em 1994, aconteceu a primeira Conferência Mundial Fotovoltaica, no Havaí e o século XX terminou com pouco mais de 1000 MWp em sistemas fotovoltaicos instalados no mundo. O discurso do desenvolvimento sustentável impulsionou o mercado no século XXI, destacando sobretudo a Alemanha. Ao estabelecer uma legislação que fixa o valor para cada kWh para cobrir os custos totais dos investimentos em placas fotovoltaicas, incluindo o financiamento, o país vem registrando um aumento significativo na produção de energia elétrica através da tecnologia fotovoltaica. Com esta política de investimentos e incentivos, a indústria de equipamentos para fontes renováveis de energia tem tido um cresci-
Nos lugares mais distantes, a solução é a energia solar
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INICIATIVAS NO AEROPORTOS SOLARES é o projeto que o professor Ricardo Rüther, da Universidade Federal de Santa Catarina tenta viabilizar junto à INFRAERO e a bancos de fomento. A idéia é integrar geradores solares fotovoltaicos aos aeroportos do Brasil, com o objetivo de compensar a emissão de gases do efeito estufa relacionada à aviação comercial. Pelo estudo do professor Rüther e sua equipe, em uma viagem de ida e volta Florianópolis-Brasília, por exemplo, cada passageiro é responsável pela emissão de cerca de 680 kg de gases do efeito estufa na atmosfera, o que corresponde a uma cotação média no mer-
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DIEGODACAL
FÁBRICA DE GELO SOLAR: uma máquina de refrigeração que funciona com energia térmica solar podendo produzir até 10 kg de gelo por dia é um dos projetos do Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal da Paraíba (LES-UFPB). Em Alagoas, a Fundação Teotônio Vilela desenvolveu projeto similar, criado pela empresa norte-americana SIC SOLAR ICE COMPANY, e instalou a fábrica de gelo em pequenos municípios do estado.
cado internacional de quase R$ 40,00. Tomando o aeroporto de Florianópolis como exemplo, para que o mesmo seja completamente abastecido por energia solar, seria necessário que, ao longo de um ano, cada um dos mais de 100 milhões de passageiros que viajam de avião no Brasil pagassem menos de 25 centavos. Já para o aeroporto de Brasília, este investimento individual ficaria em torno de R$ 1,40. Para o professor Rüther, "num primeiro momento parece caro, no entanto mais caro será o custo de nossa falta de ação para o uso das fontes renováveis de energia e no combate ao aquecimento global".
MOTO SOLAR: Também foi desenvolvida na Universidade Federal de Santa Catarina uma adaptação para mover uma motocicleta elétrica através de energia solar. A Mobilec, como é chamada pelos pesquisadores em Florianópolis, tem uma autonomia de até 40 quilômetros com as baterias carregadas, não emite nenhum barulho ou poluição. Através de painéis solares fotovoltaicos as baterias são carregadas enquanto a moto fica estacionada. O motor da Mobilec fica junto à roda traseira e o freio é regenerativo. Assim, a cada freada a energia liberada também carrega as baterias. D IVULGAÇÃO I DEAL
dades de negócio que a geração de energia elétrica de forma limpa, através da tecnologia fotovoltaica, poderá trazer ao Brasil e à América Latina. Depois do PRODEEM, o grande programa do Governo Federal para fomentar as energias alternativas é o PROINFA, que ampliou consideravelmente a geração de energia elétrica através de fontes eólica e de biomassa no país. No entanto, para a energia solar as iniciativas são modestas. E ainda que se discuta o assunto na academia e na imprensa, dificilmente a energia solar entrará definitivamente na pauta dos governos latino-americanos enquanto não houver legislações que regulem o mercado, como acontece hoje na Europa e nos Estados Unidos. A opinião é do presidente do Instituto IDEAL, Mauro Passos, ao se referir, por exemplo, ao estudo de planejamento integrado dos recursos energéticos realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE, do Ministério de Minas e Energia) intitulado Plano Nacional de Energia – 2030 , apresentado no primeiro semestre de 2007. Em nenhum momento este estudo cita a necessidade ou a intenção do governo investir em tecnologia solar fotovoltaica pelas próximas duas décadas. “Enquanto o país não estabelecer condições estáveis que atrairão investidores para a fabricação deste tipo de equipamento e geração de trabalho, com vigência de pelos menos dez anos, a energia solar não irá além das boas, mas poucas ainda, iniciativas de empreendedores sociais, ONGs e pesquisas científicas”, comenta Passos. Para ele é preciso regulamentar o PROINFA II, incluindo nele a energia solar, já que o PROINFA, mesmo contratando apenas 3.300 MW de energia de fontes renováveis que está sendo incluída no sistema interligado, garantiu financiamento do BNDES de até 80% dos empreendimentos em contratos com concessão de 20 anos. Esta também é a opinião de Johannes Kissel, do WCRE, especialista em legislação de energias renováveis na Europa. Para ele o PROINFA II com energia solar irá alavancar este mercado no Brasil.
SHOW MUSICAL SOLAR: O LABSOLAR-UFSC, em parceria com o Greenpeace, realizou em 15 de Novembro de 1998, o Brasil Solar: o primeiro evento cultural musical da América Latina alimentado pela energia elétrica gerada por módulos solares fotovoltaicos. O show foi completamente movido por energia solar, sendo que parte da energia necessária foi fornecida por uma unidade fotovoltaica autônoma de 5 kWp financiada pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O restante de energia necessário veio do crédito que o LABSOLAR dispunha com as Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC). Esse crédito foi gerado por uma central fotovoltaica de 2 kWp interligada à rede elétrica, instalada nas dependências do LABSOLAR. O evento foi realizado no campus da UFSC em Florianópolis-SC, e teve como atrações a apresentação do grupo JOTA QUEST e de bandas locais. Todos eles apresentaram-se sem cobrar cachê. Estiveram presentes mais de 25 mil pessoas. Na abertura do evento e nos intervalos entre as atrações musicais, foi apresentado num telão um curta-metragem informativo sobre a tecnologia de conversão de energia elétrica através de módulos solares fotovoltaicos. Após o evento o conjunto de módulos fotovoltaicos, baterias e demais acessórios que compunham o sistema autônomo foi instalado na Ilha de Ratones, de acordo com o projeto original, onde está operando até o presente, substituindo um gerador Diesel e economizando para a UFSC aproximadamente mil litros de Diesel por mês.
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AQUECEDOR SOLAR DE BAIXO CUSTO: a ONG Sociedade do Sol, sigla SoSol, sediada no CIETEC - Centro Incubador de Empresas Tecnológicas, no Campus da USP/ IPEN está testando um aquecedor solar de água, de 200 a 1.000 litros, destinado a substituir parcialmente a energia elétrica consumida por 36 milhões de famílias brasileiras usuárias do chuveiro elétrico, em casas e apartamentos. Também já é comum o uso de aquecedores de baixo custo com garrafas pet e caixas do tipo longa vida. Diversas escolas no país desenvolvem trabalhos de confecção destes aquecedores com os estudantes, o que é positivo, pois é um exemplo prático do uso e da importância da reciclagem. No entanto, este tipo de aquecedor ainda não passou por avaliações técnicas que garantam sua eficácia e longevidade. Um dos críticos desta disseminação do aquecedor de pet é o professor Ricardo Rüther, da UFSC. “A água dentro de um balde preto exposta ao sol irá aquecer, o mesmo acontece com as pet. Mas ninguém disse ainda quanto tempo isso irá durar. Provavelmente, as garrafas terão que ser trocadas com freqüência, além da necessária limpeza, com gasto de água e energia. Então, qual a eficácia prática?”
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ÔNIBUS SOLAR: Esta tecnologia ainda não se vê nas ruas do Brasil. Um exemplar do ônibus abastecido 100% com energia solar está em funcionamento na cidade australiana de Adelaide. Produzido pela empresa NeoZelandesa Designline International a partir de componentes de alta qualidade fornecidos por companhias de transporte e tecnologia como as gigantes MAN e Siemens, o veículo não possui um motor a combustão, o que o torna silencioso e sem emissões.
MM ANDAMON
BRASIL COM ENERGIA SOLAR
OUTROS PRODUTOS SOLARES JÁ NO MERCADO: CABINE TELEFÔNICA, CARREGADOR DE CELULAR, LUMINÁRIAS DE JARDIM, AQUECEDOR DE PISCINA, BOMBAS D’ÁGUA ETC
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INOVAÇÕES SOCIAIS
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O Prêmio surgiu em 1998, na região Sul, com 48 projetos inscritos. No ano 2000, foi lançado em todas as regiões do país, com 279 inscrições. Em 2007, atingiu o número de 732 propostas.
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A Cooperativa foi criada em 1999, numa região onde predominava a economia da cana-de-açúcar. Karla lembra detalhes daquele tempo: “Surgimos com um projeto de flores, FOTOS : A RQUIVO POLOPROBIO
PRÓXIMA EDIÇÃO Enquanto os vencedores do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, na categoria “Inovação Social” avançam em suas ações e projetos, a Financiadora de Estudos e Projetos inicia os preparativos para a 11 a edição do Prêmio, que acontecerá este ano. “Avaliamos que o Prêmio já alcançou seu patamar numérico. Para ser considerada uma tecnologia inovadora, é preciso que esteja produzindo resultados. Esse tipo de critério estará no novo regulamento. Não estamos preocupados com a estatística quantitativa, o Prêmio vai se referenciar pela alta qualidade”, anuncia Carlos Ganem, superintendente de articulação institucional da Finep. Quanto à categoria “Inovação Social”, Ganem chama atenção: “As iniciativas devem ser reaplicáveis e ter um agente de transformação tecnológica que leve à transformação social”. E complementa: “Esperamos uma categoria de inovação social forte em 2008, sobretudo pelas conexões que geramos a partir do Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social, e articulações dos inovadores sociais, estimulados pela RTS”.
Na Região Nordeste, no município de Pilões, a 140 quilômetros de João Pessoa, 21 mulheres aumentaram sua renda média mensal em mais de 250% plantando flores. Se antes elas recebiam R$ 200 por mês no corte da cana, hoje ganham até dois salários mínimos com a venda dos crisântemos de corte – flores sem raiz usadas na ornamentação de ambientes. Pioneiras no cultivo dessa planta, as integrantes da Cooperativa dos Floricultores do Estado da Paraíba (Cofep) desejam transformar o município no pólo de flores da Paraíba. Atualmente, há 38 estufas cobertas em uma área de cinco mil metros quadrados, o equivalente a um campo de futebol. A cada semana, são colhidos de cada estufa aproximadamente 8.750 crisântemos. O pacote, com 25 flores, é vendido a R$ 12 na Paraíba e em Pernambuco. A iniciativa da Cofep foi vencedora na etapa nacional do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica – Categoria “Inovação Social”, cuja cerimônia final foi realizada em Brasília, dia 12 de dezembro de 2007. O Prêmio visa estimular os esforços inovadores de empresas, cooperativas e instituições de ciência e tecnologia que geram resultados positivos para a sociedade brasileira. Além da categoria “Inovação Social”, há as seguintes: “Produto”, “Processo”, “Grande Empresa”, “Pequena Empresa”, e “Instituição de Ciência e Tecnologia”. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) possui a categoria “Inovação Social” no Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, desde 2005. Na última edição, houve cinco vencedores regionais, dentre esses a Cooperativa dos Floricultores do Estado da Paraíba. “Conquistar o primeiro lugar na etapa nacional do Prêmio significa o reconhecimento de nosso trabalho. É um sinal de que o projeto está no caminho certo, com as pessoas e parceiros corretos”, reflete Karla Cristina Paiva Rocha, presidenta da Cofep.
liderado por um grupo de mulheres. Imagine o que tivemos de enfrentar!” Foram anos buscando recursos, pois o banco não acreditou em nosso trabalho, questionou a presença apenas de mulheres no grupo”, revela Karla. Finalmente, a Cooperativa conseguiu apoio em outras instituições - Banco Mundial e governo do Estado da Paraíba. Em 2002, deram início aos trabalhos. Recentemente, Cofep e Fundação Banco do Brasil firmaram parceria. “Iremos dobrar a produção e, na ampliação, as flores serão diversificadas. Conseguiremos ampliar o número de estufas e adquirir um caminhão”, explica Karla. Para o bom andamento da Cooperativa, as mulheres consideram as parcerias fundamentais. Talvez por isso, Karla tenha sido tão criteriosa durante a entrevista: “Por favor, cite o nome de todos os parceiros. É importante fazer esse reconhecimento. Temos sonhos, vontade de trabalhar. Mas, para tanto, precisamos de parceiros ao nosso lado.” Também apóiam o trabalho da Cofep: o Banco do Brasil – DRS, o Mi-
com colaboração da assessoria de comunicação da Finep
nistério da Agricultura, a Prefeitura Municipal de Pilões e o Sebrae. Além do cultivo e comercialização de flores, o Prêmio Finep também contribuiu para a visibilidade de outras iniciativas. Na Região Norte, a vencedora na categoria “Inovação Social” foi a série de produtos denominados “Encauchados de Vegetais”, desenvolvida pelo Pólo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais (Poloprobio). Porta-lápis, embalagens, toalhas, bolsas, tapetes e capas para celular são alguns dos itens produzidos a partir do processo de pré-vulcanização acelerada do látex. Até telhas de borracha e tijolos para a construção de casas populares são produzidos a partir desta técnica. Existem 16 unidades produtivas de encauchados em funcionamento no Acre. Cada uma incorpora 50 pessoas e gera uma renda bruta mensal de cerca de R$ 30 mil, com renda mínima de R$ 600 para cada seringueiro. Já em Pirenópolis/GO, a preocupação do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado é aproveitar
os potenciais da natureza e evitar o desperdício de água. Foi com a tecnologia social denominada Húmus Sapiens que o Ecocentro Ipec conquistou o Prêmio Finep, na Região Centro-oeste. Trata-se de um sistema integrado de aproveitamento dos dejetos humanos constituído de sanitários compostáveis e um minhocário. Nos sanitários, os dejetos são lançados diretamente em câmaras de compostagem, sem o uso de água para a descarga. Por isso, costumam ser chamados de “banheiros secos”. O composto é levado posteriormente para um minhocário onde é produzido o húmus, um adubo orgânico para a agricultura. Na Região Sudeste, o primeiro lugar na categoria “Inovação Social” coube à Embrapa Gado de Leite, de Minas Gerais. Diminuir a contaminação microbiana, melhorando a qualidade do leite e a oferta de produtos mais seguros para o consumo humano é o objetivo do projeto desenvolvido pelo Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite da Embrapa. O Instituto lançou o Kit Embrapa de Ordenha Manual, que
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Michelle Lopes,
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TRABALHO, RENDA E QUALIDADE DE VIDA
ensina, aos pequenos produtores, medidas simples e de fácil compreensão. Como resultado, os clientes chegam a pagar até 10% a mais que o valor médio do litro do leite, pela aquisição de produtos de melhor qualidade. Lançado em julho de 2007, o treinamento da Embrapa já foi realizado em 89 pequenas propriedades de Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. A inovação social vencedora do Prêmio Finep na Região Sul veio do estado gaúcho: o óleo vegetal usado como biocombustível. Em Montenegro, município a 80 quilômetros de Porto Alegre (RS), o Instituto Morro da Cutia de Agroecologia (Imca) desenvolve atividades para a utilização integrada dos recursos naturais. Uma delas é o reaproveitamento do óleo de cozinha na produção de biocombustível. Por mês, cerca de 2.000 litros de óleo são reciclados, gerando aproximadamente 1.200 litros de combustível. A cada 15 dias, o óleo é recolhido em estabelecimentos comerciais do município. Com a proposta de incentivar a coleta receptiva, o Instituto mantém um posto que recebe o material entregue pela população. Paulo Lenhart, permacultor e um dos fundadores da Rede Ecovida, afirma que o aproveitamento do óleo vegetal é extremamente reconhecido pela comunidade. Também há adesão na questão da coleta do óleo. “Além da vitória regional no Prêmio Finep, fomos vencedores no Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social. Estamos nos equipando mais, vamos fazer campanhas nas escolas e será criado o Disque Azeite”.
Outras informações www.finep.gov.br www.rts.org.br
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No coração do Brasil, na cidade de Pirenópolis/GO, está instalada uma das instituições mais respeitadas, na área de permacultura. Trata-se do Ecocentro Ipec (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado). Surgiu em 1998 visando ser um modelo em sustentabilidade para o Cerrado brasileiro, apresentando inovações nas áreas de habitações sustentáveis, segurança alimentar, manejo ecológico da água, tratamento de resíduos e geração de energia renovável. Uma de suas tecnologias sociais mais conhecidas é o sanitário compostável Húmus Sapiens que, por não utilizar água, também é conhecido como “banheiro seco”. A proposta foi vencedora regional Centro-oeste do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica – categoria “Inovação Social”. A vitória inspirou a entrevista concedida por Lucy Legan, diretora da área de educação e cofundadora do Ecocentro Ipec. A seguir, os principais trechos. Como anda a instalação de sanitários compostáveis, também conhecidos como “banheiros secos”, Brasil afora? Lucy – Vale a pena lembrar quando tudo começou. O Ipec foi a primeira instituição a construir um sanitário compostável, no país, em 1999. Eu sou australiana e, lá, há muitos sanitários compostáveis. O governo implementou esse tipo de banheiro no parque nacional, por exemplo. No Brasil, a reação inicial das pessoas foi de estranhamento. Eles pensavam que iria cheirar mal, por ser um sanitário com utilização de serragem em vez de água. Finalmente, quando usavam o banheiro, ficam muito impressionadas. Atualmente, vários grupos fazem cursos no Ipec. E sabemos de pessoas que construíram sanitários secos de Norte a Sul do país, de Bagé, no Rio Grande do Sul, ao Rio Branco, Acre. Então, a senhora trouxe a proposta do sanitário
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LUCY LEGAN DIRETORA DA ÁREA DE EDUCAÇÃO E CO-FUNDADORA DO ECOCENTRO IPEC
compostável quando veio da Austrália para o Brasil? Lucy – Sim. Ainda na Austrália, eu era uma típica urbana. Mas, há 17 anos, quando fiquei grávida, comecei a pensar que uma nova pessoa chegaria ao mundo e iniciei reflexões sobre uma série de assuntos. Por exemplo, a presença de agrotóxicos nos alimentos. Era preciso mudar. Passei, então, a estudar bastante sobre a permacultura. Meu marido, André, é brasileiro e, em 1998, viemos passar férias no país. Compramos um terreno, em Pirenópolis/GO, e começamos a trabalhar. Eu admiro muito os talentos do povo brasileiro. Atualmente, o Ecocentro Ipec é reconhecido como um dos melhores exemplos de permacultura do mundo. Isso ocorre principalmente graças à energia e criatividade dos jovens brasileiros. É possível implementar o sanitário compostável em um ambiente urbano? Lucy – Claro, sobretudo em cidades como Brasília, onde há períodos de forte seca. O governo poderia colaborar, aprovando leis sobre o assunto, determinando que edifícios em construção tivessem um sistema de banheiro sem utilização de água no sanitário. Em vez de produzir esgoto, as pessoas produziriam adubo. É algo que já está ocorrendo na área rural. O sanitário compostável faz parte dessa proposta muito mais ampla, que é a permacultura. Como definir esse conceito? Lucy – A permacultura integra todos os aspectos da sobrevivência e da
existência de comunidades humanas. Engloba economia associativa, sistemas de captação e tratamento de água, tecnologia solar e bioconstrução. É um sistema holístico de planejamento para a permanência humana no planeta Terra. É preciso dialogar, com jovens e crianças, sobre essa proposta, pois eles são o nosso futuro. O interessante é que, quando eles visitam o Ipec, não têm problema algum com o sanitário compostável. Como o Ecocentro Ipec trabalha com jovens e crianças? Lucy - Temos o Programa Habitats Sua Escola Sustentável. Percebemos que muitas escolas públicas, no Brasil, tinham apenas concreto. Nossa proposta é bem prática: quebramos o concreto, de fato, e criamos novos espaços, considerando as sugestões das crianças. Ainda como uma ação do Programa, quatro escolas públicas, em Pirenópolis, estão implementando energia renovável, com catavento, painel solar, aquecedor solar e sistema para secar frutas. Alguma consideração final? Lucy - Gostaria de lembrar que sustentabilidade não é uma proposta alternativa. Se, em casa, você recicla seu lixo, reduz o consumo de água ou utiliza energia solar, já tem práticas sustentáveis. As pessoas podem dar esses passos, no ambiente urbano. São pequenas ações. Mas, se feitas por todos, trazem grandes resultados. É preciso ter coragem para a mudança. Às vezes, a prática de uma única pessoa estimula um grupo, o coletivo.
PRÉDIOS VERDES COM CONFORTO Escolher a localização da casa em função da posição do sol e do vento, usar duas camadas de tijolos com recheio de lã de vidro para reduzir o calor do verão e manter o ambiente aquecido no inverno, reutilizar água da chuva e da máquina de lavar para regar o jardim ou dar descarga no banheiro são estratégias para manter a qualidade e o conforto de uma habitação enquanto se busca economia e conservação dos recursos naturais. Essas e outras escolhas aplicadas na construção civil são a base dos novos projetos verdes, construções sustentáveis ou os chamados greenbuildings.
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Vanessa Pedro
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A preocupação que alia busca por economia, preocupação com o meio ambiente e combate à má utilização de material está cada vez mais presente numa área que, segundo pesquisa da Escola Politécnica da USP, desperdiça em média nas obras 56% de cimento, 44% de areia, 30% de gesso, 27% dos condutores e 15% dos tubos de PVC e eletrodutos. Segundo o Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (Idhea) A construção civil é o segmento que mais consome matérias-primas e recursos naturais no planeta e é o terceiro maior responsável pela emissão de gases do efeito estufa à atmosfera, compreendendo toda a cadeia que une fabricantes de materiais e usuários finais. Pensar quais materiais utilizar e de que maneira serem usados na obra é fundamental para um projeto ser considerado sustentável. Em muitos casos isso significa aumentar ainda em muito o custo da obra, em outros é apenas uma questão de pesquisa, criatividade, observação da natureza e, acima de tudo, planejamento. As construções sustentáveis começam no projeto e esta é a parte mais importante desde novo conceito, que começou a ser desenvolvido ainda nos anos 70 por arquitetos e ecologistas, mas que no início do século 21 que ganha força e passa aos poucos a ser assimilado e difundido. Tudo que faz parte de uma construção sustentável começa a ser previsto, criado e experimentado no projeto. No projeto são ampliadas as visões em relação à obra, que passa ser olhada além inclusive da sua área de construção civil, e são previstos os novos itens que garantem a sustentabilidade do empreendimento com mais custo ou garantindo economia. Entre os itens que podem garantir economia estão, por exemplo, a atenção à direção do vento e à posição e à incidência de luz natural. Utilizar a luz natural garante economia de energia e pensar na direção do vento proporciona resfriamento do ambiente no verão e evita perda de temperatura no
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inverno. A escolha adequada do terreno e a utilização de materiais da região também podem proporcionar melhora na qualidade e redução de gastos. Ainda há modificações no projeto que não são acessíveis para um grande número de pessoas porque pode resultar em aumento do valor da obra como mais tijolos para a construção de paredes duplas, que oferecem mais conforto térmico, sistemas para coleta da água da chuva ou reaproveitamento de água das pias e outros materiais que implicam em aquisição e não em remanejamento de itens. O sistema de aquecimento solar ainda não é de viabilidade popular ou de grande número de pessoas. Cada vez mais se populariza a utilização de energia solar para aquecimento da água, mas ainda é restrito o uso de energia do sol para produção de energia elétrica em moradias. As placas em sua maioria são produtos importados de alto custo, que agora começam a ser desenvolvidos no Brasil, mas ainda não em grande escala. Há outras iniciativas que fazem parte dos novos projetos de sustentabilidade que vão além da economia ou aumento de gastos. Observar e
considerar as comunidades em torno do empreendimento em questão precisam ser considerados também em construções sustentáveis, especialmente em empreendimentos coletivos, para que não sejam ilhas que apenas servem de modelo. Soluções sustentáveis cabem em todos os bolsos em maior ou menor escala. Se serão disseminadas cabe ao desenvolvimento de mais soluções que consideram o meio ambiente e a redução do consumo de energia, o bem-estar com bom uso dos recursos naturais e a preocupação com a qualidade de vida de todas as pessoas. A unanimidade é que o necessário é planejamento e visão sustentável. O Brasil já possui, por exemplo, um Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) para promover o desenvolvimento sustentável através da informação e da mobilização da cadeia produtiva da construção civil. Essas iniciativas, públicas e privadas, junto com a incorporação do conceito para construtores, governos, empresários e usuários levam ao desenvolvimento e ao uso cada vez maior de empreendimentos greenbuilding ou sustentáveis.
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DOS EDIFÍCIOS SUSTENTÁVEIS • Gestão sustentável da implantação da obra • Consumir mínima quantidade de energia e água na implantação da obra e ao longo de sua vida útil • Uso de matérias-primas ecoeficientes • Gerar mínimo de resíduos e contaminação ao longo de sua vida útil • Utilizar mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural • Não provocar ou reduzir impactos no entorno – paisagem, temperaturas e concentração de calor, sensação de bem-estar • Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários • Criar um ambiente interior saudável • Proporcionar saúde e bem-estar aos usuários Fonte: Idhea
Lançado há nove anos, o projeto da Cidade Pedra Branca, localizado a 10 quilômetros do Centro de Florianópolis, no município vizinho de Palhoça, agora provoca arquitetos e engenheiros de diferentes empresas para construir quadras inteiras dentro do conceito de sustentabilidade. Chamado pelos idealizados do empreendimento de “novo urbanismo”, o novo projeto pretende manter o objetivo inicial de oferecer trabalho, escola e lazer a poucos metros de casa, mas agora que introduzir conceitos de construção verde. Cada quadra está sendo projetada por profissionais e escritórios de arquitetura de Santa Catarina e do Brasil, coordenados pela Duany Plater-Zyberk & Company (DPZ), empresa norte-americana especializada em greenbuilding, que conta com 250 projetos construídos em todo o mundo. A metodologia de trabalho empregada incluiu encontros que reúnem especialistas de vários campos para a resolução dos projetos e garantir que as quadras serão sustentáveis. Seguindo os preceitos das construções sustentáveis, cada escritório pensa para a sua quadra, como localizar os prédios e outras construções previstas de acordo com a insolação, com a velocidade e posição do vento, observando a temperatura, o material utilizado, as necessidades do empreendimento específico, a circulação de pessoas, o acesso e outras decisões que agora precisam ser mais planejadas e aproveitar melhor seu potencial verde. O Escritório Marchetti + Bonetti Arquitetos Associados é responsável por três quadras do novo empreendimento, realizando o projeto desde a sua concepção inicial. Para Geovani Bonetti, sócio do escritório, o novo conceito urbanismo sustentável ou novo urbanismo já traz uma série de novas concepções para a concepção do projeto como a possibilidade de ventilação natural e um melhor aproveitamento da insolação. Para ele, o encontro de todos os arquitetos envolvidos para discutir suas quadras e a presença do especialista norte-americano em greenbuilding, Tom Paladino (ler entrevista), que esteve em Florianópolis em um dos encontros programados para “esverdear” os projetos, serve para depurar o
que já estava sendo desenvolvido e pensar melhor em temas específico e como resolver certos problemas. Para o arquiteto, no Brasil conceitos de sustentabilidade já vêm sendo incluídos aos projetos, mas quase de uma forma inconsciente, sem que se pense numa sistematização no repasse e na discussão desses conhecimentos. “É importante para nós profissionais discutir sustentabilidade como um todo, não apenas em pontos específicos como ventilação, mas ter uma idéia geral de como esse conceito pode ser incorporado à arquitetura”, afirmou Bonetti. “Nós discutimos com Paladino outras questões também como a vizinhança, a estrutura do prédio, o uso de materiais e outras questões que também precisam ser sustentáveis e fazer parte dos projetos”. Os idealizadores do projeto garantem que serão feitos espaços de convivência para que os usuários, que também são consumidores, que terão à mão tudo o que precisam no seu dia-a-dia. Para isso foram elaborados espaços públicos e que viabilizam a adoção de padrões de vida menos estressantes, além da mistura de pessoas de diferentes classes sociais, etnias e níveis culturais, prevendo a acessibilidade a todos. O planejamento também prevê instalações de drenagem, esgoto e pavimentação. O bairro abriga mais de 600 famílias, uma das maiores universidades do estado, a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), que atende cerca de sete mil alunos. A instalação de um Centro Empresarial, Shopping Universitário, Techno Park com 204 lotes destinados a operação de empresas não-poluentes e a recém inauguração da Softway Contact Center deve gerar, segundo os empreendedores, aproximadamente cinco mil empregos. Questionado sobre a possibilidade de irradiar esses conceitos para outros locais ou manter essas diretrizes fechadas em pequenos projetos, o arquiteto aposta na expansão dependendo da atuação de diversos atores envolvidos no planejamento urbano. “Ele pode virar um ícone para a região, para o estado e talvez até para o Brasil. A irradiação disso vai depender do sucesso que o projeto tiver aqui e também da vontade de realizar políticas públicas nesse setor e vontade empreendedora de outros locais”, conclui.
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CONDOMÍNIO SUSTENTÁVEL
Masdar: a cidade carbono zero e desperdício zero
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Seguindo os moldes atuais, há estimativas que o planeta precise de um aumento de 2 milhões de metros cúbicos de água por dia, 75 milhões de megawatts/hora de energia, produzindo 3,5 milhões de toneladas de resíduos e 300 milhões de toneladas de emissões de carbono por ano. Este é um nível de desenvolvimento sustentável? Para tentar responder ao aumento das necessidades atuais e buscar um consumo de recursos naturais que seja sustentável, os Emirados Árabes estão desenvolvendo um projeto de uma cidade inteira seguindo regras de sustentabilidade. Já chamada de oásis, a nova cidade de Masdar é um projeto de 6 km2 para uma população de cerca de 47 mil habitantes. “The Masdar Developement”, resultado de cooperação internacional, será uma cidade sustentável, livre de emissões de carbono e sem uso de petróleo. O projeto é desenvolvido pelo escritório de arquitetura britânico Foster and Partners. “Masdar promete estabelecer padrões para cidades sustentáveis do futuro”, diz um comunicado da empresa. As principais fontes de energia são a solar e a eólica, estando os edifícios projetados com uma proximidade que permitam criar sombras uns sobre os outros como forma de diminuir o impacto das altas temperaturas que o deserto produz. Em Masdar, não haverá carros para poluir, mas ninguém ficará sem transporte. O projeto garante que a rede compacta de ruas e um eficiente e rápido sistema público de transporte vão garantir o acesso dos habitantes e todos os locais da cidade. As casas não desperdiçarão energia com ar-condicionado, mas as pessoas não passarão frio ou calor. Haverá uma universidade com cursos sobre energias do futuro, em colaboração com o Instituto Tecnológico de Massachusetts (EUA). Estima-se que serão investidos R$ 22 bilhões na primeira etapa. A inauguração da cidade de Masdar, que fica próximo ao aeroporto de Abu Dhabi, está prevista para o final de 2009. A dúvida é se Masdar será uma utopia e apenas um exemplo no meio do deserto sem que seus experimentos ou ideais sejam assimilados, copiados, expandidos para outras experiências e para as cidades que já existem mundo afora ou se pode se transformar num exemplo a ser seguido em maior ou menor escala.
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Nova de O engenheiro mecânico com mestrado em arquitetura e urbanista norte-americano Tom Paladino, 51 anos, é uma autoridade internacional no conceito de greenbuilding ou construções ambientalmente sustentáveis. Ele esteve em Santa Catarina no final de janeiro para participar do lançamento do projeto Novo Urbanismo, na Cidade Universitária Pedra Branca, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Primeiramente, gostaria que você explicasse o conceito de greenbuilding. O conceito vem do movimento ambiental. Nos anos 1960 e 1970, na Europa e nos Estados Unidos, houve uma redução da oferta de energia e nós aprendemos como administrar impactos ambientais e uso de energia. Mas não chegamos a pensar nas implicações sociais e para a comunidade e até econômicas. Agora, 30 anos depois, com a internet, a habilidade de dividir informação pelo mundo, nós estamos descobrindo que os impactos do uso dos recursos naturais são sociais, financeiros e para as comunidades. Sustentabilidade está achando um equilíbrio entre atividades econômicas, proteção ambiental e crescimento da sociedade. O mais difícil é encontrar um balanço entre as três partes em qualquer lugar. A comunidade em Pedra Branca é muito diferente de uma comunidade na cidade de Nova York. Então as soluções precisam ser diferentes. Não basta ir para a internet e encontrar a melhor resposta para dizer o que é sustentabilidade. Você precisa ir para a sua região e descobrir você mesmo qual é o melhor caminho. Você começa a falar de sustentabilidade pelos problemas como o que fazer com o lixo ou o que fazer com o número excessivo
de carros? Quando você fala dos problemas você cria muitos conflitos tentando achar um caminho que o tire do problema. Nós descobrimos que é preciso olhar para a situação como um todo porque você tem mais elementos para lidar com ela. Você pode dizer que lixo é um problema ou que você tem na sua comunidade uma quantidade grande de produtos orgânicos que podem se transformar em fonte de algo. Então vamos criar um parque, uma horta, onde as crianças vão cuidar com adubo orgânico. Essa é uma nova maneira de pensar. Então você tem que pensar o que uma comunidade precisa? Você deve pensar nas necessidades e no que a comunidade tem em grande quantidade e como transformar isso em algo positivo. Você pode ter muitas pessoas vivendo nos centros urbanos e pessoas desempregadas. Você pode dizer que isto é um problema. Que tal pensar em ensiná-la a como lidar com madeira e criar para si uma forma de sustento. Isso é reverter o pensamento. Então o conceito de greenbuilding não é apenas ensinar as pessoas como construir melhor suas casas, é mais que isso? O que nós aprendemos nos Estados Unidos é que o greenbuilding é
No que um projeto dentro de um conceito de greenbuilding é diferente de um projeto convencional? Ele trabalha com o clima e com os recursos naturais que dependem do lugar. Em Florianópolis, a parte norte recebe bastante sombra mas tem que acessar os ventos do norte e do sul para ajudar a refrescar. Então os prédios começaram a ter direção. Muitos arquitetos estão acostumados a simetria e composição formal. No caso do greenbuilding é como se o prédio soubesse onde ele se encontra. Você provavelmente verá partes do prédio exercendo funções múltiplas. Você tem uma cobertura que protege as pessoas da chuva e também comportam captadores para a luz solar. O bom disso é que você gasta os mesmos reais para construir uma coisa que tem mais de uma função, o que a torna mais fácil de adquirir. Tornam-se prédios de alta performance, que fazem muitas coisas. O projeto é uma parte importante de um greenbuilding e esse projeto tem que ser diferente para cada lugar? Você tem que pensar mais no começo. E os princípios podem ser os mesmos, mas em cada lugar você tem necessidades e materiais diferentes. Você pode comparar necessidades semelhantes e cidades diferentes. Você pode ter a mesma quantidade média de chuva em Seattle e em Florianópolis então você pode usar um mesmo telhado nos dois lugares. Mas condições até de comércio nos dois lugares podem ser diferentes, então os projetos podem servir de exemplos uns para os outros mas também são diferentes de lugar para lugar.
Como ensinar as pessoas a incorporar os conceitos de sustentabilidade? Observar construções verdes como modelo pode ajudar. Se os governos acreditarem no conceito podem promover incentivos para esse tipo de obras como redução de taxas. Os jornalistas podem ajudar a disseminar informações, criar interesse e as pessoas começam a pensar que vão economizar. Na verdade não importa a motivação. As pessoas podem pagar projetos verdes? Há duas maneiras de lidar com projetos greenbuilding. Eu estou numa construção e vou tentar usar alguns conceitos de sustentabilidade, pensando no que eu posso gastar com isso. Por definição um projeto convencional quase sempre vai ganhar. É convencional porque é barato. É muito difícil ultrapassar isso. A diferença é ter um orçamento, que é mesmo para o projeto convencional mas eu vou utilizá-lo de uma forma diferente. Vou repriorizar. Quando você faz isso você não gasta mais, apenas gasta de outro jeito. Talvez minha obra seja menor, talvez não tenha materiais caros em alguns lugares ou eu tenha reservado parte do imóvel para alugue, coisa que eu não havia pensado antes. No entorno do projeto Pedra Branca há uma comunidade pobre, com muitas necessidades. Há muitos projetos que se isolam como cidades medievais sustentáveis. Como resolver isso? Essa separação é um problema social que precisa ser encarado. Eu não fiquei aqui o suficiente para conhecer bem o lugar, então eu não tenho respostas claras sobre isso, mas tenho algumas pistas em sustentabilidade. Se você tem um projeto em pequena escala que se auto-sustenta já significa que ele não está roubando recursos ou esforços econômicos de outro grupo de pessoas. Este é um começo. Hoje os ricos têm mais condições de experimentar essas mudanças de conceito, mas não quer dizer que eles não tenham que começar porque eu não sei se nós temos tempo para reparar primeiro as diferenças econômicas para depois pensar em sustentabilidade. Então temos que começar com o que cada comunidade pode oferecer e continuar. É por isso que eu faço o que eu faço.
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maneira pensar
uma porta de entrada para a questão da sustentabilidade. Pedra Branca é um exemplo. Esse projeto veio para nós com a necessidade de construir apenas um prédio verde. E nós pensamos por que não fazer todos os prédios com esse conceito? E se será assim, o que a comunidade deseja com essas construções e qual o seu conceito de sustentabilidade? Começa num prédio, passar para um conjunto de prédios, depois para a comunidade e depois para o negócio e você começa a se perguntar se o seu negócio é sustentável. Então greenbuilding é o começo de um questão maior.
você sabia? A Conferência de Bali marcou os 15 anos da Conferência do Rio e 10 anos do Protocolo de Kyoto, que é o único instrumento efetivo em vigor para reduzir as emissões dos gases que estão provocando o aquecimento global e as mudanças climáticas. Esse protocolo, adotado em 1997, se encerra em 2012. Considerando a lentidão das negociações internacionais, que envolvem mais de 180 países, pode-se dizer que em Bali o objetivo maior era obter o compromisso dos países em desenvolvimento de negociar medidas nacionais voluntárias que levem a reduções “mensuráveis, relatáveis e verificáveis” das suas emissões. Em Kyoto os países em desenvolvimento não estipularam metas de redução.
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M AC_SOKULSKI
Acordo para substituir Kyoto CONFERÊNCIA DE BALI CONSEGUE PROMOVER UM ACORDO MESMO COM RESISTÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
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o último momento, depois de 13 dias de debate e com a explícita resistência norteamericana a Conferência das Partes sobre o Clima (COP-13) chegou a um acordo para um novo desenho de acordo para substituir o Protocolo de Kyoto, que vai expirar em 2012. A Conferência da ONU sobre Mudança Climática, que aconteceu na ilha de Bali (Indonésia) chegou a um acordo depois de os Estados Unidos cederem a reivindicações dos países pobres. O consenso abriu o caminho para negociar um novo acordo sobre mudança climática, mais ambicioso, para substituir o Protocolo de Kyoto. Todos os delegados aplaudiram a martelada na mesa, dada pelo presidente da assembléia, o ministro do Meio Ambiente da Indonésia, Rachmat Witoelar, para selar o compromisso. O evento da ONU reuniu representantes de cerca de 190 países. A Conferência estabeleceu um caminho para as negociações nos próximos dois anos e manteve as metas de redução de gazes que causam o efeito estufa. A posição da delegação americana, liderada pela subsecretária de Estado para a Democracia e os Assuntos Globais, Paula Dobriansky, contrária a assumir compromissos pontuais, manteve em suspense o resultado da conferência até o últi-
CC PYRATE
mo minuto. O último capítulo do encontro precisou da reunião de todos os presentes contra o mais forte. Foi incluído no acordo um texto que reforça que os países ricos transferirão tecnologia e financiarão projetos. Mas os Estados Unidos recusou a proposta, indo contra o apoio da União Européia. A divergência
CC G.NAHARRO
ONGs movimentam conferência do clima Enquanto os negociadores ocupavam as salas e plenários em reuniões oficiais e grupos de trabalho, as organizações não-governamentais (ONGs) se movimentavam pe-
No Brasil: evento sobre mudanças climáticas Legisladores dos países do G8 e do Brasil, China, Índia, México e África do Sul (o G8+5) se reuniram em Brasília, em fevereiro, para avaliar politicamente uma proposta da Estratégia sobre Mudanças Climáticas pós-2012, que foi desenvolvida pela Organização Mundial de Legisladores para um Meio Ambiente Equilibrado (GLOBE). A estratégia pode ser formalmente apresentada aos líderes do G8 em sua reunião de cúpula na cidade de Toyako, no Japão, de 7 a 9 de julho. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, deverá fazer o principal discurso de abertura da sessão. Entre outras autoridades participantes estão a Vice-Presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, Pamela Cox, líderes de empresas como a Petrobras, Vale do Rio Doce e Holcim, representantes seniores de organizações internacionais e mais de 100 legisladores do G8 e de países emergentes. O fórum de dois dias, organizado pela GLOBE International é o mais recente de uma série de fóruns mundiais sobre mudanças climáticas diretamente vinculados ao processo do G8. Elliot Morley, parlamentar, Presidente da GLOBE e representante do primeiroministro do Reino Unido no Diálogo de Gleneagles, afirmou: “No Fórum da GLOBE em Washington, no Senado dos EUA, em fevereiro de 2007, e no de junho, em Berlim, avançamos significativamente no debate sobre mudanças climáticas, mostrando aos nossos líderes onde o consenso político pode ser alcançado. Em Brasília, buscamos avaliar e chegar a acordos sobre a estratégia política para as mudanças climáticas e as propostas de políticas de apoio, abrangendo biocombustíveis e os mecanismos de mercado que poderão ser apresentados aos chefes de governo participantes do G8+5”. GLOBE www.globeinternational.org Fonte: Banco Mundial
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AGENDA GLOBAL
los corredores, nos estandes montados para distribuição de material, nos eventos paralelos e em protestos marcando posição e pressionando. A participação dessas organizações em eventos como a COP-13 faz parte do processo das Nações Unidas, que os inclui como observadores das negociações e do andamento dos trabalhos. “O papel da sociedade civil é tentar manter as coisas nos trilhos. É estar aqui como testemunhas oculares para lembrar aos países que estão negociando textos ou papéis com conseqüências são planetárias”, disse Marcello Furtado, coordenador de campanhas do Greenpeace. De acordo com Furtado, a integração entre ONGs e a comunidade científica também dá a chance para que as entidades colaborem tecnicamente nas negociações. Diariamente, estudos e revisões científicas de temas relacionados às mudanças climáticas são apresentados em eventos paralelos aos encontros oficiais. “Parte do nosso papel é trocar informações, fazer propostas positivas com pontos que podem estar bloqueados na agenda e também promover de uma maneira informal um outro tipo de visão para os governos”, acrescenta Karen Suassuna, da ONG WWF. Entre os protestos, como a instalação de um termômetro gigante para alertar sobre o aumento da temperatura da terra e de ursos polares derretendo com o calor ou o protótipo de um táxi solar - que, segundo a organização, foi da Suíça até Bali em uma viagem inaugural - os manifestantes usam o bom humor e a ironia para chamar a atenção dos delegados dos países participantes da reunião. A presença das ONGs também se dá de forma irreverente, como o prêmio Fóssil do Dia, entregue diariamente pela rede Climate Action Network para homenagear as delegações que, do ponto de vista das organizações, estão bloqueando as negociações. Num dos dias o troféu - um saco de carvão - foi para o Canadá, que se recusou a assumir metas de redução de gases de efeito estufa após o fim do primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto.
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principal entre a União Européia e os Estados Unidos está nos compromissos de redução de emissões de gases do efeito estufa que os países desenvolvidos devem assumir. A África do Sul se manifestou, alegando que não é verdade a acusação dos Estados Unidos de que os países em desenvolvimento se recusam a assumir responsabilidades. Até o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, modificou sua agenda para retornar neste a Bali e desbloquear o diálogo, arrancando um acordo de todos os delegados "pelo bem da humanidade". Todos estavam contra os Estados Unidos e o país acabou se rendendo, acatando, então, o acordo.
Equipe de profissionais que representam as instituições do Diálogos
Movimento pela transformação
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Fórum permanente de discussões realizou evento sobre os impactos gerados por uma gestão sustentável
Encontro contou com palestras de representantes dos três setores
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Disseminar a cultura de Responsabilidade Social das Empresas é a missão do “Diálogos pela Responsabilidade Social”, um fórum integrado por instituições e empresas de Santa Catarina que promoveu no dia 10 de abril a mesa redonda com o tema “Os impactos gerados por uma gestão sustentável”. Tendo como mediador o coordenador do escritório catarinense da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, o debate teve como palestrantes o diretor executivo do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, o conselheiro do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa) Roberto Gonzalez e o diretor presidente da Eletrosul, Ronaldo Custódio.
Cada um abordou um aspecto da gestão sustentável, complementando os assuntos já que estavam representados os três setores – governo, empresas e instituições sem fins lucrativos. Na platéia estavam gestores e profissionais que atuam com os temas, o que propiciou um encontro importante para estreitar as relações das instituições já participantes e das outras convidadas a integrarem o fórum. Conhecer e administrar os impactos é uma das ações responsáveis, mas as palestras revelaram que é preciso desenvolver valores e fortalecer a parte prática das iniciativas em prol da sustentabilidade.
MOURA/VITA PRODUÇÕES DE
FOTOS: M AURI
PAULO ITACARAMBI, Diretor executivo do Instituto Ethos
“Estamos virando a página para a discussão da responsabilidade social da empresa para a discussão de um mercado socialmente sustentável. Todos nós estamos preocupados com desenvolvimento sustentável e qual nossa responsabilidade sobre isso? Essa é a ligação entre os dois temas. Uma empresa ser responsável com a sociedade é fazer a gestão sustentável. As dimensões da insustentabilidade são o desequilíbrio ecológico, social e o de valores. A relação entre o consumo dos recursos naturais que nós temos e a capacidade do nosso planeta de prover estes recursos que sustentam a vida é desequlibrado. E o que precisamos para equilibrar essas relações é da nossa responsabilidade. Vivemos um momento crítico do movimento, porque ou os resultados aparecem ou o movimento perde a credibilidade. A expectativa é grande da população, e há boa vontade, mas as mudanças das empresas não estão sendo percebidas e estamos perdendo oportunidades”.
ROBERTO GONZALEZ, Conselheiro do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa) e membro da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais)
Diretor presidente da Eletrosul
“A Eletrosul por vários momentos diferentes em relação aos temas da sustentabilidade. Ao consolidar o último planejamento estratégico, com foco nos anos de 2008 a 2016, dividimos a trajetória da empresa em ciclos. De 1968 a 1998 as questões econômicas, ambientais e sociais eram tratadas isoladamente. Com a privatização de parte da empresa, em 1998, surgiu um novo ciclo, de 1999 a 2002. Foi um período de incertezas quanto ao futuro e nessa época a sobrevivência era o foco da empresa. A partir de 2003 até 2006 iniciou-se um processo de consolidação e crescimento, o que gerou uma atenção maior às questões de sustentabilidade. Hoje temos uma estrutura de governança corporativa, com a criação de uma ouvidoria geral e comitês estratégicos ligados à presidência, incluindo o Comitê de Sustentabilidade Empresarial”
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“A sustentabilidade contribui para o fortalecimento do mercado de capitais Precisamos ser pragmáticos, porque apesar de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável serem temas ideológicos e filosóficos é preciso ter prática. A Apimec procurou a Bovespa para pleitear que se medisse os riscos e oportunidades das empresas analisando as questões socioambientais, solicitando até que se publicassem os balanços sociais. Em 2001 saiu o primeiro fundo mútuo de responsabilidade social e em 2005 foi lançada a primeira carteira do ISE, que tem avaliação anual dos integrantes. Um novo padrão contábil no mundo aborda ativos intangíveis, questão ambiental, questões humanas no ambiente de trabalho e o Brasil está caminhando junto com 107 países nesse sentido”
RONALDO CUSTÓDIO,
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EXEMPLO INDIANO As transformações em Kerala, na Índia, foram amplamente expostas durante a Conferência sobre Desenvolvimento das Cidades pelo sociólogo George Mathew, diretor fundador do Instituto de Ciências Sociais na Comunicação. Mathew tem trabalhado no sistema de governo local (Panchayati Raj), na descentralização e na governabilidade local. O projeto visa desenvolver a região através de ações junto às comunidades. Para isso, cada local tem um grupo de cerca de 15 a 20 famílias que expressam suas exigências e, a partir dessas solicitações, são criados seminários. Desses seminários são feitos planos documentados. Para todas as ações complexas houve treinamento de pessoas do governo e ainda capacitação de 75 mil voluntários para mudar a situação nas regiões do estado. Também houve um mapeamento dos recursos para ver onde melhor investir. Entre os resultados, houve um processo de tomada de poder das mulheres e fluxo de recursos para áreas mais atrasadas. Além disso, 498 mil casas foram construídas em cinco anos. De acordo com Mathew, o fator principal para o sucesso do projeto foi a participação do governo local nas ações realizadas em Kerala e esse modelo, segundo o representante indiano, deve ser repetido em outras cidades do mundo.
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CIDADES Porto Alegre foi palco para discussões de sustentabilidade com a Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento das Cidades
O
tema da Conferência foi “Inovação Democrática e Transformação Social para cidades inclusivas no Século 21” e o objetivo era criar um ambiente de reflexão coletiva, de discussão e apresentação de experiências, que permitam uma abordagem da temática do desenvolvimento de cidades sob seus mais diversos ângulos. O evento, ocorrido em fevereiro, foi promovido pelas prefeituras de Porto Alegre (Brasil) e de Roma (Itália), pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Ministério das Cidades e Confederação Nacional dos Municípios e conta com o apoio do Banco Mundial, Unesco e Banco Interamericano de Desenvolvimento. Durante os quatro dias foram debatidos temas centrais como o Direito à Cidade (políticas locais sobre direitos e responsabilidades dos cidadãos); Governança e Democracia em Cidades (experiências inovadoras de gestão e participação democrática); Desenvolvimento Local em Cidades (processos de investimentos em capital social para desenvolver ativos econômicos, ambientais, humanos, sociais e políticos), Sustentabilidade e CidadeRede (cidade sustentável do futuro). O prefeito municipal Olímpio José Tomio e o secretário de saneamento ambiental, Alberto Sell estiveram em Porto Alegre – RS, participando da Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento de Cidades, realizada de 13 a 16 de fevereiro. O evento reuniu quase sete mil pessoas, entre gestores públicos, lideranças comunitárias e promotores governamentais, que representavam aproximadamente 90 países de
todo o mundo. No último dia da Conferência o debate foi em torno do tema Sustentabilidade e Cidade-Rede – A Emergência das Redes Sociais e a Cidade Sustentável do Futuro. As relações entre sustentabilidade das cidades, democracia local e sistemas de governança com a participação da sociedade em novos modelos de gestão pública entraram na pauta. Um dos questionamentos também diz respeito à mudança de perfil do cidadão. Hoje, um indivíduo consegue se conectar com outras pessoas através de redes sociais para tratar de assuntos de interesse privado ou público. Bogotá - No terceiro dia da Conferência Mundial Sobre Desenvolvimento de Cidades, Tito Yepes, economista responsável pelo setor de Finanças Privado e de Infraestrutura do Banco Mundial para América Latina e Caribe – Washington/EUA, apresentou o tema “Crescimento Econômico: combatendo a pobreza como estratégia para o desenvolvimento: a experiência de Medelin”. Para falar sobre isso, Yepes apresentou um caso de melhoramento de bairros em Bogotá, Colômbia, com 515 mil prédios em processo de consolidação que requerem assistência técnica e linhas de financiamento para seu desenvolvimento. Ao todo são 14 mil famílias em zonas de risco em 1.440 assentamentos informais. De acordo com o economista, a discussão é recente porque trata da capacidade que as pessoas pobres têm para construir moradias com melhores condições que as costumeiras favelas e vilas ocupadas por grande parte dessa população.
DO FUTURO STUTTGART TEM MODELO NO TRÁFEGO
O elogiado modelo de gestão do tráfego de veículos posto em prática na Copa da Alemanha, em 2006, foi descrito na palestra Rede Internacional sobre Mobilidade Sustentável: Stuttgart. Representando o país europeu estavam Martin Schairer e Rainer Rothfuss, representantes do governo da cidade. Os alemães exemplificaram o sistema integrado e totalmente informatizado da cidade européia. Schairer lembra que não houve grandes congestionamentos na época da competição. “A experiência deu muito certo e estamos dispostos a fazer um intercâmbio de idéias com o Brasil, para ajudá-los na Copa de 2014”, disse. Algumas das medidas implementadas na época incluem a instalação de câmeras para monitoramento do trânsito, painéis eletrônicos customizáveis para comunicação com motoristas e público, redirecionamento do tráfego e outros recursos que facilitaram a convivência dos cidadãos locais com os turistas que vieram para assistir a competição. O mês do torneio não registrou nenhum grande problema no trânsito. Também não houve registro de pessoas não conseguindo chegar aos estádios ou aos locais dos telões onde eram transmitidas as partidas. Ainda, segundo relataram, os alemães, a imprensa internacional só fez elogio ao sistema implantado na Copa, mas que permanece ativo até hoje.
PORTO ALEGRE E ROMA CONECTADAS PELO MEIO AMBIENTE O italiano Antonio Fragiacomo, secretário do Meio Ambiente de Roma mostrou interesse na cidade de Porto Alegre durante a Conferência das Cidades. Fragiacomo fez questão de se comunicar em português, comentando a semelhança entre a cidade italiana de Roma e a capital gaúcha. Segundo ele, os dois municípios são semelhantes principalmente nos aspectos urbanísticos. “Porto Alegre é uma das referências no mundo quando o assunto é meio-ambiente”, acrescentou Fragiacomo. O projeto que mais chamou sua atenção na CMDC foi o Atlas Ambiental, projeto que prevê o mapeamento para o meio ambiente. O palestrante ainda garantiu que levará as idéias da publicação para colocar em prática na capital italiana. O secretário também manifestou sua vontade de sediar a próxima edição da CMDC ao expressar que “gostaria que a II Conferência Mundial Sobre Desenvolvimento de Cidades fosse em Roma”. www.cmdc2008.com.br MONTREAL TEM ALTO ÍNDICE DE EMPREGO
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Exemplificando a importância da economia social com sua experiência em Montreal, o canadense e diretor executivo da Community Economic Development Corporation in Montreal (RESO), Pierre Morrissette, foi o palestrante do tema "A Economia Social e o Desenvolvimento Local em Cidades", durante a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades. Segundo Morrissette, o número de empregos de Montreal é muito alto. "Varia entre 5 e 10% do número total do Canadá". A cidade é a segunda maior região metropolitana do país, com 7,5 milhões de habitantes. “Tem também a mais elevada taxa de pobreza no Canadá, mas é uma cidade democrática e inovadora socialmente”. Morrissette explica que Montreal passou por diversas mudanças nos últimos 35 anos, fazendo com que as empresas e os órgãos públicos aplicassem um novo modelo social, revitalizando a cidade. “Cada vez mais a economia é baseada pelos ganhos financeiros ao invés de seguir a necessidade social. Em Montreal, as empresas passaram a priorizar os seres humanos antes do capital”, comenta.
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AMAZテ年IA
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A WWF-BRASIL ESTÁ REALIZANDO ESTUDO SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA. PARA ISSO, BASEIA-SE NO CONCEITO ECORREGIONAL, QUE LEVA EM CONTA A DIVERSIDADE DE PAISAGENS DO BIOMA E O IMPACTO QUE QUALQUER ELEMENTO FÍSICO OU BIOLÓGICO TEM SOBRE OS DEMAIS. AS PRIORIDADES SÃO AS FLORESTAS, OS RIOS E LAGOS, COM SUA FLORA, FAUNA E OS POVOS QUE ALI HABITAM. A IDÉIA BÁSICA É VALORIZAR A VOCAÇÃO FLORESTAL E AQUÁTICA DA REGIÃO, CONSERVANDO E UTILIZANDO OS RECURSOS NATURAIS DE FORMA RACIONAL E DURADOURA PARA BENEFICIAR TODOS OS SEGMENTOS SOCIAIS DA REGIÃO AMAZÔNICA, EM PARTICULAR, E DO BRASIL. OU SEJA, ASSEGURAR O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DA REGIÃO E DO PAÍS DE FORMA CONTINUADA.
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UMA EQUIPE COMPOSTA POR REPRESENTANTES DO IBAMA, DO WWF-BRASIL, DOS ÍNDIOS WAJÃPI E DE MORADORES DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO IRATAPURU FIZERAM UMA EXPEDIÇÃO DE TRÊS SEMANAS PELO MÉDIO E ALTO CURSO DO RIO JARI, DENTRO DO PARQUE NACIONAL MONTANHAS DO TUMUCUMAQUE (PNMT), A MAIOR ÁREA PROTEGIDA EM FAIXA TROPICAL DO MUNDO. AS FOTOS TIRADAS DURANTE AS BUSCAS POR INFORMAÇÕES SOBRE A GEOMORFOLOGIA DA REGIÃO REVELAM BELEZAS AINDA INTOCADAS. FRONTEIRA NATURAL ENTRE OS ESTADOS DO AMAPÁ E PARÁ, O RIO JARI É A PRINCIPAL VIA DE PENETRAÇÃO A UMA DAS REGIÕES MAIS REMOTAS DA AMAZÔNIA, QUE ATÉ A DÉCADA DE 1960 ERA CONTROLADA POR POVOS INDÍGENAS DA REGIÃO. SEGUNDO INFORMAÇÕES DE CHRISTOPH JASTER, CHEFE DO PNMT, ESSE PEDAÇO DO RIO JARI FOI PERCORRIDO ATÉ SEU ALTO CURSO PREDOMINANTEMENTE POR ÍNDIOS E POR GARIMPEIROS.
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ENSAIO
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ENTREVISTA ENTREV REVISTA ENTREVISTA
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ANA LUCIA SUZUKI,
gerente de responsabilidade social corporativa
No Brasil o processo da gestão integrada já existe? Nós desenvolvemos, com a ajuda de consultoria, uma ferramenta de gestão chamada Matriz de Sustentabilidade. Essa matriz é a forma de combinar o econômico com o social e ambiental nas decisões de negócio. Os diretores e gerentes tomam decisões considerando não só o impacto econômico, mas também questões de RSE e ambiental Isso já está sendo feito na prática? É possível que algum dirigente tome uma decisão pela menor rentabilidade a favor das questões ambientais e sociais? A Matriz se propõe a avaliar as opções e vê qual a melhor decisão para todas as áreas. Considerase o equilíbrio dos três pilares: o econômico, o social e o ambiental. Entre 2004 e 2006, gerentes de departamento, diretores e vice-
presidentes da Basf no Brasil passaram por treinamentos de implementação de uma metodologia que avalia a inserção de critérios de sustentabilidade nos processos e nas estratégias dos diversos negócios da empresa. O trabalho foi concluído com o mapeamento das iniciativas sustentáveis em andamento. No total, são 216 ações, incluindo processos corporativos e relacionados diretamente aos negócios. No Brasil, a Basf é a única indústria química a adotar a matriz da sustentabilidade como uma metodologia de avaliação de suas estratégias e impactos. O trabalho teve o apoio das consultorias Atitude e Rever Consulting, em parceria com a AccountAbility, organização internacional que fornece padrões para uma contabilidade mais ética e transparente.
ENTREVISTA
Quando uma empresa passa a lidar com o tema sustentabilidade de maneira sistematizada e forte, percebe que é preciso atuar rápido para minimizar os impactos negativos e otimizar os impactos positivos. Mas junto com a agilidade é preciso ter planejamento para que as ações sejam duradouras. Esse equilíbrio é o que a gerente de responsabilidade social corporativa da BASF, Ana Lucia Suzuki, chama de arte. Nesta entrevista ela diz que balancear o curto e o longo prazo é o grande desafio, e conta como a empresa está fazendo isso no Brasil, na América do Sul e no mundo. A segurança química, que é entendida como um conjunto de estratégias para o controle e a prevenção dos impactos da extração, produção, armazenagem, transporte, manuseio e descarte de substâncias químicas, foi inserida na Agenda 21, definida na ECO 92, realizada no Rio de Janeiro. Este foi um reconhecimento dos muitos e sérios problemas essenciais a serem enfrentados globalmente, necessitando-se ampliar não só a colaboração entre governos, mas também com inúmeros outros atores não governamentais. Antes mesmo do final da década de 80 a BASF já se debruçava sobre os temas, adotando em 1990, o Responsible Care?, que no Brasil recebe o nome Programa Atuação Responsável. Aqui, ele é coordenado pela Associação Brasileira da Indústria Química e foi implementado a partir de 1992 e a filial da Basf brasileira foi uma das primeiras signatárias.
Como lidar com a política de RSE no mundo inteiro, respeitando demandas e características regionais? Nós temos um sistema de governança que tem um Conselho internacional na matriz, na Alemanha, e tem representantes de alto nível hierárquico de todas as regiões. Aqui, no nosso caso, a vicepresidente é responsável pelo Comitê de Sustentabilidade na América do Sul, e representa a nossa região na matriz, onde há representantes do Nafta, da Europa e da Ásia. Esse Conselho delibera sobre as diretrizes globais e o que a Basf quer fazer em relação ao desenvolvimento sustentável que é nosso pilar estratégico. Eles definem as diretrizes gerais e as regiões implementam a seu modo. Cada região tem demandas sociais e ambientais muito diferentes, tem culturas diferentes e diferentes níveis de entendimento do que é sustentabilidade. Nós queremos, no mundo inteiro, integrar a gestão social e ambiental dentro da gestão econômica. Desenvolver isso é o desafio que está em andamento.
Nós queremos, no mundo inteiro, integrar a gestão social e ambiental dentro da gestão econômica. Em relação ao meio ambiente, como você avalia a evolução das preocupações em relação a essa área e como a Basf vem cuidando dessas questões? Há uma área específica dentro da Basf para cuidar do meio ambiente. Mas eu posso citar algo em linhas gerais. Uma questão global da empresa, nos últimos anos, tem sido a proteção climática e, nesse sentido, temos reduzido drasticamente as emissões de gases causadores de efeito estufa.
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A arte de aliar o curto e o longo prazo
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ENTREVISTA ENTREV REVISTA ENTREVISTA
Nós somos membros da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), que coordena o Programa Atuação Responsável, implementado a partir de 1992 e a filial da Basf brasileira foi uma das primeiras signatárias. A iniciativa prevê a gestão responsável pelas indústrias químicas de todo o ciclo de vida do produto, desde a concepção até o descarte final. Esse sistema, adotado pela Basf como base para a gestão ambiental, também atende os requisitos das normas, como a ISO 14001.
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Na área da responsabilidade social vocês atuam internamente e externamente? Na nossa área de RSE, além da área técnica, nós temos vários projetos de relacionamento com a comunidade que visam a educação ambiental. Eles tratam com as comunidades no entorno, de baixa renda, que lidam com o entendimento dos impactos, e ainda o próprio aproach no âmbito pessoal dentro da empresa. Isto é, houve treinamento com os colaboradores para saber sobre comportamento pessoal, como as decisões de consumo influenciam e impactam nas questões globais de mudanças climáticas, quando você decide comprar um carro flex ou se você viaja muito, não recicla, compra muitos produtos industrializados. Fazemos um treinamento bem amplo. Na Basf sabemos que a empresa é mais que processos, é mais que máquinas e paredes, nós somos pessoas. Nosso conjunto precisa entender sobre estes impactos ambientais. Temos essa abordagem na gestão de pessoas.
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SOBRE A BASF A BASF é uma empresa de origem alemã, com sede em Ludwigshafen e foi fundada em 1865. Iniciou suas atividades na América do Sul em 1911 com a comercialização de anilina, alizarina e anil para a indústria brasileira de produtos têxteis e de couro. UNIDADES DE PRODUÇÃO - EM 39 PAÍSES PORTFÓLIO DE 8.000 PRODUTOS desde tintas e vernizes, produtos químicos, plásticos, produtos de performance, para agricultura e química fina (humana e animal), até óleo cru e gás natural.
A BASF NO BRASIL Centros de produção em: Camaçari(BA), Guaratinguetá(SP), Jaboatão (PE), Mauá (SP), São Bernardo do Campo (SP), São José dos Campos (SP).
to com o público externo, nossa linha de atuação é principalmente a transformação através do conhecimento. Nós temos programas voltados para a educação e em várias áreas programáticas, como saúde, meio ambiente e cultura. Temos programas internos e externos, com o intuito de transformação duradoura. Qual a prática do diálogo com os stakeholders? A cadeia produtiva tem espaços para interagir? De forma sistemática, nós temos conselhos consultivos comunitários e temos reuniões periódicas. São quatro reuniões por ano, onde a comunidade pode se manifestar, as pessoas entram em contato através da área de comunicação. Quando envolve alguma ação da empresa, o diretor do negócio é chamado e participa da reunião para discutir o assunto e as soluções. Nos outros casos, quando há algo além das reuniões periódicas, marca-se outra reunião. A Basf é completamente acessível e o canal é aberto e tranqüilo. Temos uma linha de telefone 24 horas, o Disque-Ecologia, onde as comunidades podem entrar em contato. Para o público interno há uma linha 0800. Os colaboradores podem usar essa linha e as informações são tratadas de forma confidencial e muito seriamente. As questões levantadas são tratadas de forma a melhorar o ambiente de trabalho.
Como é feito o acompanhamento das diretrizes globais, definidas em 2003? O acompanhamento é feito pelo Conselho internacional e há um controle na Alemanha.
Existe alguma política de contratação de fornecedores? Nós temos um filtro de avaliação na contratação de fornecedores, isso está no nosso Código de Conduta e faz parte dos nossos valores e princípios. Além disso, há a exigência legal. Não aceitamos trabalho escravo e infantil, que não estejam em acordo com nossas regras de saúde, segurança e meio ambiente e com a legislação local.
Na relação com os funcionários, quais as linhas de atuação mais importantes? Tanto com o público interno, quan-
Como é o envolvimento da área de RSE no ambiente da empresa? Nosso dia-a-dia é totalmente in-
Toda empresa passa por obstáculos, incidentes ou situações de maior impacto na sociedade. Na Basf ocorreu algo recentemente que foi melhor resolvido por conta da atuação responsável? Essa área quem administra é a diretoria de segurança, saúde e meio ambiente, que cuida do Programa Atuação Responsável. Mas posso dizer que temos uma postura de diálogo permanente com a comunidade, tanto interna quanto externa. Isso nos permite ganhar agilidade e velocidade na solução dos problemas. Por exemplo, quando existe algum problema relacionado ao processo de produção, o colaborador que está ali já aciona as áreas competentes para que não implique em algo mais grave. Quando temos um acidente com um caminhão de alguma transportadora, o motorista é treinado para acionar os ser-
Toda empresa gera impactos, sejam positivos ou negativos, como a Basf mantém a preocupação de minimizar os impactos negativos? O nosso diferencial é a gestão, ou seja, como vivenciamos as situações. Revertemos a situação que poderia ser um problema ou causar prejuízo através do diálogo aberto, da discussão e da busca da solução.
Nós fazemos sustentabilidade concreta e não só filosófica. Especificamente no Brasil, como isso funciona? Temos uma estratégia de desenvolvimento da competência da sustentabilidade não só da organização, mas dos indivíduos que fazem parte das organizações. Na América do Sul, a estratégia onde a implementação será via desenvolvimento e consolidação da sustentabilidade como competência individual e organizacional, focamos primeiro na individual. A organizacional é a soma das competências individuais. Iniciamos um processo em 2006 de sistematização dessa competência. Precisamos garantir que todos, desde o estagiário até o presidente, tenham reflexões antes de tomar decisões, levando em conta os impactos não só econômicos,
mas sociais e ambientais. Desde 2006 estamos trabalhando na nossa estratégia, oferecendo a ferramenta que ajuda na tomada de decisão, também nos projetos futuros. Estamos trabalhando na competência organizacional e incluímos isso na rotina. Isso faz parte de um grande planejamento estratégico? Temos um planejamento estratégico que é diferente da maioria das grandes empresas. Fizemos um em 2007, mas nosso foco é sempre prático. Temos objetivos claros e nossa ambição de sustentabilidade, desenvolvida pela alta direção, é para dois anos, para não fugir da nossa realidade. Se o prazo for muito amplo, as pessoas podem desacreditar dos resultados. Nós temos que ser sustentáveis hoje.
ENTREVISTA
viços de emergência. Temos um plano de segurança com treinamento e orientações e, principalmente, uma política pró-ativa de diálogo estabelecida que avisa as autoridades, a comunidade, a imprensa e todos os envolvidos.
Mas a empresa tem uma preocupação a longo prazo também? Essa é a arte da sustentabilidade: balancear o curto e o longo prazo. É o futuro hoje. Temos um programa lançado no final de 2007 que foca os talentos da empresa. Temos um grupo de 30 talentos. São pessoas com potencial, que foram indicados pela alta liderança, que estão sendo preparadas para se tornarem líderes sustentáveis. É como uma incubadora. Foi uma idéia do comitê de formar os líderes para ajudar na capilarização e incorporação da cultura organizacional no nível de média gerência para baixo, onde há mais heterogeneidade de entendimento das responsabilidades. Vamos trabalhar com eles durante um ano inteiro com programas de treinamento para atuarem como braços da sustentabilidade, na implementação e no maior entendimento da ferramenta matriz. São os agentes de mudança dentro da organização. Envolvem pessoas do recursos humanos, da área jurídica, da logística, enfim, de várias áreas. Vamos ter outros grupos a cada ano, de forma a aumentar este contingente de pessoas mobilizadoras dentro da empresa.
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tegrado aos negócios. Para começar, nós temos um comitê de sustentabilidade que é formado por pessoas espalhadas em todos os níveis. O presidente do comitê é o vice-presidente da unidade de tintas e vernizes; ainda temos a diretora de comunicação, o diretor de RH, o diretor de negócio agro, o diretor de infra-estrutura, saúde, segurança e meio ambiente, todos representam a América do Sul. Tem a presidente da Fundação Espaço Eco (organização criada pelo Grupo Basf), e tem o representante da área de suporte... enfim, emvárias partes da empresa, para que tudo que tenha a ver com sustentabilidade esteja alinhado ao negócio. Este comitê delibera pontos estratégicos e a minha área mobiliza e fomenta para que sejam implementados dentro dos negócios. Minha área é pequena, são oito pessoas, entre a gerência, analistas, estagiários e uma intercambista internacional. Nós temos a função e missão de mobilizar as áreas de negócio, para que aquilo que foi deliberado no comitê seja aplicado. Nós fazemos sustentabilidade concreta e não só filosófica.
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MEU MUNDO soluções
Quebra do carbono Alessandra Mathias grande desafio da humanidade neste milênio é reverter o atual quadro de aquecimento global. Idéias simples podem ajudar a diminuir as emissões de gases causadores do efeito estufa. A empresa Carbono Brasil Tecnologia e Serviços Ambientais, sediada em Santa Catarina, desenvolveu um processo sem similar que utiliza o plasma térmico para degradar e transformar as moléculas de gases da combustão provenientes de usinas termoelétricas, chaminés de indústrias e escapamentos de veículos. O presidente da CarbonoBrasil, Rui Fernando Muller, destaca que o estudo é viável porque pode ser adaptado em qualquer fonte emissora de gases poluentes e de efeito estufa. O sistema da CarbonoBrasil foi desenvolvido em parceria com a Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (FEESC) e o Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Na prática - A tecnologia foi testada com sucesso em laboratório, degradando 100% do CO2 injetado na tocha. No primeiro semestre de 2008, será instalada como projeto-piloto em uma unidade da usina termoelétrica do Aterro Bandeirante, na cidade de São Paulo, com o objetivo de tornar todo o processo livre de emissões de carbono. Depois de realizados os testes, a tecnologia da CarbonoBrasil poderá ser adotada em larga escala em processos emissores de gases dos mais variados setores industriais. As empresas que a adotarem poderão se beneficiar com a venda de créditos de carbono, assim como a de resíduos resultantes do processo.
ORIGEM NAS FRONTEIRAS Contar histórias parecidas, representar características comuns, aproximar hábitos populares. Integrar povos, valorizar suas identidades e fechar os olhos para as fronteiras. Conhecer a América Latina e descobrir suas características e semelhanças foram os objetivos das expedições feitas pela Natura, que deram origem à linha Natura Amor América. “Queremos apenas valorizar ambientes, geográficos, culturais e naturais, que hoje são divididos geograficamente, quer seja entre países, ou entre regiões. Nosso objetivo é mostrar esses novos olhares do coração através de novos produtos”, diz o diretor de marketing de inovação da Natura, Joel Ponte. Os primeiros ativos escolhidos para representar a biodiversidade latino-americana foram a Paramela e o Palo Santo. Eles expressam as riquezas e culturas de duas regiões emblemáticas de nosso continente, a Patagônia e o Altiplano Andino, respectivamente. A Paramela, também conhecida como Yagneu ou Té Silvestre, é encontrada nos campos desérticos e frios da Patagônia, no sul da Argentina e do Chile. O Palo Santo é uma madeira perfumada, popularmente usada como incenso na região andina. O Palo Santo usado pela Natura é extraído no Equador.
Lingerie orgânica A marca de roupas íntimas masculinas Upman lançou uma coleção que inclui peças que utilizam cotton orgânico. O cotton orgânico é desenvolvido em um processo de produção totalmente sustentável, sua origem é certificada da plantação à fiação, tendo sido cultivado em solo livre de produtos químicos, há pelo menos três anos, e tratado apenas com adubos naturais. A fabricante diz que além de contribuir para a preservação do meio ambiente, as cuecas feitas com o tecido apresentam maior maciez e durabilidade. A marca está no mercado há dois anos e já lançou também produtos como a cueca perfumada e a linha em fibra de bambu. A cueca perfumada utiliza o conceito de LYCRA® Body Care e contém no tecido microcápsulas de perfume que estimulam os sentidos. É o conceito de aromaterapia. As microcápsulas são presas na fibra do tecido e se rompem em função do atrito da peça fazendo com que seu ingrediente passe para a pele, exalando perfume.
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André
MEU MUNDO
Trigueiro
HÁBITOS RESPONSÁVEIS "Tenho alguns hábitos que posso considerar favoráveis às causas ambientais. A começar pelo consumo consciente. Recuso sempre que possível embrulhos e embalagens. Evito isopor, que é um material desprezado na reciclagem."
"Não tenho a preocupação de renovar periodicamente o guarda-roupa. Realmente não vejo problema em usar por mais tempo as mesmas roupas, ou seja, posso dizer que mantenho a elegância sem precisar seguir tendências de moda." "Aprendi a valorizar muito os selos de certificação, como o do Procel nos eletrodomésticos, que atestam a eficiência energética do aparelho. Além disso, tenho um filtro de linha onde desligo o "stand by" de todos os aparelhos." "Na hora das compras rotineiras tenho prevenção a alguns produtos cujos fabricantes são reconhecidamente envolvidos com atitudes como trabalho infantil, escravo ou que prejudicam o ambiente."
PRIMEIRO PLANO . ANO 3 . NO 9 . ABRIL 2008
INICIATIVAS COLETIVAS "Em casa separamos o lixo seco para fins de reciclagem. Antes de haver a coleta seletiva instituída pela Prefeitura, eu levava o lixo no carro até uma cooperativa de catadores. Na Globo eu pertenci ao grupo de pessoas inquietas que impulsionou muito as ações de reciclagem e de reutilização do papel branco." "Recentemente criei o Clube da Caneca entre os amigos da redação. Eu mesmo presenteei os mais interessados numa idéia lúdica que muda a rotina e permite a redução do volume de copos plásticos descartáveis." "O uso do carro é um dos hábitos que gostaria muito de evitar. Mas como trabalho em três lugares ain-
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"O que importa é a atitude"
Jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental, André Trigueiro, apresentador do Jornal das Dez da Globonews, é professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC do Rio de Janeiro. Sua paixão pelos temas relacionados à sustentabilidade vão além dos prêmios que já recebeu, da apresentação do programa "Cidades e Soluções" também na Globonews e dos dois livros que escreveu (é autor do livro Mundo Sustentável - "Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação", da Editora Globo, 2005, e coordenador editorial e um dos autores do livro "Meio Ambiente no século XXI", da Editora Sextante, 2003). Aqui ele conta como no dia-a-dia ele faz sua parte para minimizar os impactos negativos ao planeta.
da dependo dele, por isso escolhi um modelo simples que tem motor flex e sempre abasteço com álcool." "Sei que o mais importante é a atitude. Não importa o que eu fale ou o que eu escreva se a ação no diaa-dia for ao contrário."
CONSELHOS AMIGÁVEIS "Nas relações sempre respeito o direito de escolha dos outros, mas não tenho pudor em sugerir um caminho diferente. Eu perdi o medo de incomodar e de eleger o momento de ser inconveniente." "Um ato que considero consciente foi me despir da vaidade de algumas formas de consumo. Sei que não poderemos resolver 100% os impactos, mas podemos atenuar muito."