Revista 13

Page 1




O futuro é verde

EXPEDIENTE Diretor: Odilon Luís Faccio Direção de Redação: Maria José H. Coelho (Mte/PR 930- JP) Editora chefe Alessandra Mathyas (MTe/SC 755-JP) Redação: Alessandra Mathyas Edição de Arte: Maria José H. Coelho (Mte/PR 930-JP) Cristiane Cardoso (Mte/SC 634-JP) Fotografia: Sérgio Vignes Júlio Pavese Colaboradores: Clemente Ganz Lúcio, Larissa Barros, Michelle Lopes, Roberta de Biasi, Paula Scheidt, Paulo Itacarambi, Ronaldo Baltar, Vanessa Campos Secretaria e Distribuição: Lilian Franz

Parceiros Institucionais Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) Instituto Observatório Social Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Rede de Tecnologia Social (RTS) Março de 2009

R. João Pinto, 30, Ed. Joana de Gusmão, s 803 Florianópolis - SC - Brasil - 88010-420 F: (48) 3025-3949 / Fax:3028-4615 contato@primeiroplano.org.br

Os artigos e reportagens assinados não representam, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da revista Primeiro Plano. A divulgação do material publicado é permitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

Desde o segundo semestre do ano passado o mundo vive uma expectativa quanto ao seu futuro. A tão comentada “crise econômica internacional” repercute também no Brasil, com contenção de gastos em diversas áreas. No entanto há um setor em crescimento, sobretudo depois do anúncio do novo presidente dos Estados Unidos, Barach Obama, de manter os incentivos às ações que contenham as mudanças climáticas. Os “empregos verdes” em alta, e necessitando cada vez mais de mão-de-obra qualificada, são destaques nesta edição. Diretamente ligado a esta demanda de novos profissionais, o mercado de carbono mundial, que desde o Protocolo de Quioto vem gerando uma nova forma econômica de compensação às emissões de gases do efeito estufa, apresenta-se como uma forma rentável ao Brasil, através dos projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo – MDLs. Quem nos conta esta história, suas polêmicas e perspectivas é a jornalista Vanessa Campos. Somam-se à temática ambiental deste número da PP, o uso do hidrogênio como fonte de energia limpa e as iniciativas que acreditam no consumo responsável que pode levar-nos ao utópico – mas possível – controle de lixo, ou até mesmo, ao “lixo zero”. Outro tema na pauta permanente em tempos de crise é a posição do sistema bancário com relação às ações sustentáveis. A maturidade dos grandes bancos brasileiros no trato a esta questão foi ressaltada na entrevista com a Diretora de Sustentabilidade da Febraban, Sonia Favaretto. Ela, além da sua atividade profissional, conta como é o seu dia-a-dia e sua contribuição para um mundo melhor. Quem também nos fala de sua vida e seu comprometimento social é o jornalista Chico Pinheiro, na seção MEU MUNDO. A ação humana ao meio ambiente e suas repercussões sociais são o enfoque do ENSAIO fotográfico, que traz uma visão sociológica da construção de uma barragem na Bahia. As imagens, que têm mais de 20 anos, são o único registro de uma das primeiras hidrelétricas do país: a Usina de Bananeiras, no Rio Paraguaçu. Assim, a proposta desta edição é abordar passado, presente e futuro. Mostrar que problemas antigos, como a situação de atingidos por barragens, é bastante atual, mas que o horizonte não é pessimista. Afinal, acreditar no potencial verde e nas novas tecnologias nos dá a esperança de dias melhores. Boa leitura!


REVISTA TREZE EMPREGOS VERDES

30

52

CARBONO QUE VALE EURO

ENTREVISTA

Consciência ambiental pode alavancar negócios

Créditos de carbono em destaque na esfera econômica

Sonia Favaretto: Sustentabilidade é bom negócio

14 | ARTIGO Clemente Ganz Lúcio | DIEESE

26 | PLANETA HIDROGÊNIO

42 | ENSAIO: DILEMA DAS ÁGUAS

15 | DIÁLOGO SOCIAL

30 | CO2: CARBONO QUE VALE EURO

46 | LIXO ZERO

38 | TECNOLOGIAS SOCIAIS E DESENVOLVIMENTO RURAL

50 | O PAPEL DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

06

52 | ENTREVISTA 56 | MEU MUNDO: CHICO PINHEIRO

5


6

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009


Empregos verdes P

or se tratar de uma questão nova, o conceito ou entendimento do que é a “economia verde” ainda precisa ser melhor desenvolvido. Seria algo como a junção de uma consciência ambiental crescente, a adoção de políticas públicas que incentivam a sustentabilidade e o aumento da produção e uso de produtos ecológicos nas mais diversas atividades econômicas mundiais. Ainda não há parâmetros sólidos reconhecidos internacionalmente para comprovar que fazer negócios sustentáveis é mais rentável, porém há vários estudos e indícios concretos de que a “economia verde” vem sendo a responsável pelo crescimento dos empregos verdes (green jobs). São assim chamadas todas as atividades geradas diretamente a partir do ambi-

ente ou que se destinam a proporcionar uma melhor qualidade de vida ao ser humano na sua relação com a natureza.São atividades profissionais, da construção civil à agricultura, do mercado energético à reciclagem, da educação básica às mudanças de legislação. Só no Brasil, estima a OIT – Organização Internacional do Trabalho, já existe mais de um milhão de pessoas trabalhando nisso. E, ao contrário do que se possa pensar, a crise econômica ainda não chegou a este pujante mercado de trabalho. No olho do furacão da crise, o Governo de Portugal acaba de anunciar medidas de promoção de energias renováveis e da eficiência energética. Uma delas será o incentivo à instalação de painéis solares térmicos em residências. A meta é que neste ano mais de 65 mil casas instalem os siste-

7

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Diante de uma perversa crise global, fortalecer a chamada “economia verde” parece ser uma boa saída para enfrentar os efeitos de um modelo de produção e de consumo insustentáveis e ao mesmo tempo alavancar negócios.


mas, gerando cerca de 2500 empregos diretos. Para isso, os portugueses terão amplo apoio governamental que totalizará 225 milhões de euros: pagarão menos da metade do custo do equipamento, a fatura de energia terá uma redução anual de 20% e receberão um benefício fiscal de 30% do custo de investimento no primeiro ano. Outra medida será a realização de auditorias nos 100 prédios públicos que mais consomem energia. A ordem, conforme anunciou José Sócrates, Primeiro-Ministro português, é ampliar a eficiência energética e associar a “recuperação econômica à modernização estrutural da sociedade portuguesa”. Soma-se a isso o Programa de Mobilidade Elétrica que irá massificar o uso de veículos movidos à eletricidade. Ações como esta em Portugal vêm sendo desenvolvidas em vários países do mundo. Praticamente toda a Comunidade Européia, signatária do Protocolo de Quioto, está envolvida nesta causa. A energia eólica na Alemanha, por exemplo, já responde por 20% da matriz energética do país. O Parlamento Alemão aprovou leis de investimento em renováveis para que até 2020 o país consiga reduzir as suas emissões de carbono em 250 milhões de toneladas. Para isso a tec-

nologia ambiental terá que ser quadruplicada e irá, em 2030, superar a indústria automobilística e de máquinas e ferramentas. Em todo o mundo, a indústria da energia renovável já criou cerca de 2,5 milhões de empregos e o potencial de crescimento está mantido. Segundo as associações das indústrias eólica e solar da Europa (siglas em inglês EWEA e EPIA, respectivamente), num futuro próximo ainda se vislumbra mais 2,1 milhões de empregos em energia eólica e outros 6,3 milhões na solar. China e Índia, os gigantes do oriente, também não ficam para trás. A primeira está se tornando a maior produtora de painéis fotovoltaicos e de energia térmica solar do mundo e o setor de reciclagem e gestão de dejetos emprega dez milhões de pessoas. Tudo isso é resultado da “Revolução Verde” chinesa. Já a América Latina, ainda “patinando” no quesito energia renovável (a exceção são os biocombustíveis), é uma das grandes apostas do setor, dada a insolação, a velocidade constante dos ventos, a ainda abundância de água (o que garante a matriz energética mais limpa do mundo em função das hidroelétricas) e o potencial de biomassa para usinas térmicas.

Desde o Protocolo de Quioto e a verdadeira encruzilhada global que iniciou para a descarbonização do Planeta, a ecoeficiência energética entrou de vez na pauta dos chamados “econegócios”. E para isso é preciso muita mão-de-obra especializada. A constatação foi apresentada no relatório Green Jobs no Worldwatch Institute – WWI. Este estudo mostra, por exemplo, que só os investimentos para eficiência energética em edifícios deverão gerar 3,5 milhões de empregos na Europa e Estados Unidos. Para se ter uma idéia, atualmente a indústria da energia renovável já gera mais trabalhos que os combustíveis fósseis. E com os investimentos previstos de 630 bilhões de dólares até 2030, pelo menos 20 milhões de novos empregos neste setor serão criados. Segundo Eduardo Athayde, diretor do WWI no Brasil, as atenções e movimentos internacionais voltam-se agora para a Cúpula das Nações Unidas sobre o Clima, que acontecerá em Copenhaguem, na Dinamarca, no final de 2009. “Até lá, pesquisas, inventos e investimentos estarão no dia-a-dia das pessoas”. Por aqui existem iniciativas pontuais bastante relevantes. Há leis municipais e estaduais determinando

ALLA LEITUS

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

A instalação de painéis solares em mais de 65 mil casas portuguesas vai gerar cerca de 2500 empregos diretos

8

Empregos Verdes no Brasil


que as novas construções levem em conta a sustentabilidade. O Governo do Estado do Rio de Janeiro e o município de São Paulo são bons exemplos desta política. O Estado do Ceará é outro que vem apostando no crescimento sustentável. Atualmente um dos principais eixos da economia está voltado para a produção de energia eólica, com mais de 50 Mw instalados em seis parques. Perde apenas para o Rio Grande do Sul, que tem o maior parque eólico da América Latina, em Osório, com mais de 150 Mw e em fase de expansão. Ainda assim, a aposta é grande para as energias limpas no Nordeste, em função do que aponta o Atlas Brasileiro de Energia Eólica. Por este estudo a região tem 52% do potencial de geração de todo o país (75 Gw), o que equivale a seis vezes a produção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Daí a instalação, em Pernambuco, da segunda fábrica de turbinas eólicas do país. Até então somente uma, cuja matriz fica em Sorocaba/SP, atendia o mercado nacional e exportava boa parte para a Europa. Soma-se a aos esforços de diversificar a matriz energética com fontes renováveis, o potencial brasileiro de biodiversidade, que também precisa de profissionais capacitados.

SEAT GURSOZLU

A energia eólica na Alemanha já responde por 20% da matriz energética do país. O Parlamento Alemão aprovou leis de investimento em renováveis para que até 2020 o país consiga reduzir as suas emissões de carbono em 250 milhões de toneladas. Para isso a tecnologia ambiental terá que ser quadruplicada e irá, em 2030, superar a indústria automobilística e de máquinas e ferramentas

STEFAN KRILLA

1 milhão no total 500 mil em reciclagem

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

500 mil em biocombustíveis

9


D ORA KALMAR

Assim o panorama nacional mostra-se bastante propício a uma nova geração de empregos verdes. Como o estudo do WWI, também a OIT apresentou em dezembro de 2008 um relatório sobre este tema: Empregos Verdes: Trabalho decente em um mundo sustentável e com baixas emissões de carbono. O documento, que tem a parceria do PNUMAPrograma das Nações Unidas para o Meio Ambiente, da Cornell University Global Labour Institute, da Organização Internacional de Empregadores – OIE – e da Confederação Sindical Internacional –CSI, mostra que mercados prosperam nos países onde há apoio político forte, incentivo a empresários qualificados e investimentos em trabalhadores capacitados. Uma demonstração disso foi a declaração do conselheiro para o desenvolvimento sustentável da OIT na Alemanha, Peter Poschen. Segundo ele, a crise seria uma oportunidade favorável para as políticas

ambientais e a consequente criação de empregos verdes. “Em crises anteriores, como a de 1929, as ações do governo para reverter os problemas econômicos acabaram se tornando as obras que alavancaram o desenvolvimento de países. Com a crise financeira, os investimentos governamentais vão se repetir e é a oportunidade de pensar no que vai ser a infraestrutura do século 21”. Para elo conselheiro a decisão não é meramente ambiental, mas econômica: “A inconsciência energética é um desperdício de recursos”, avalia. E dá um exemplo: “Quando um país investe em economia de energia na construção civil, está apostando numa tecnologia que dará retorno financeiro ao longo dos anos, quando aquele prédio construído deixar de gastar”. Os Estados Unidos, antes mesmo da eleição do presidente Barach Obama, já haviam anunciado um pacote para a geração de dois milhões

de novos postos de trabalho considerados “verdes”, num total de 100 bilhões de dólares. Após a posse, o presidente norte americano ratificou a decisão do governo em ampliar esta política, destinando mais 50 bilhões de dólares para o estímulo à geração de energia limpa. Também fixou limites mais rígidos para o controle de emissão de gases poluentes na indústria automobilística. Estas medidas têm um efeito cascata positivo em termos globais. A opinião é de um dos mais renomados ambientalistas do mundo, o americano Lester Brown, presidente da ONG Earth Policy Institute, que esteve no Brasil recentemente. Para ele, a política ambiental de Barack Obama permitirá a criação de empregos verdes, fortalecendo a economia neste momento de recessão. Segundo Brown, a crise terá o seu lado positivo ao acelerar o processo de conscientização e também, com a desaceleração dos negócios, de provocar uma redução conside-

“Em crises anteriores, como a de 1929, as ações do governo para reverter os problemas econômicos acabaram se tornando as obras que alavancaram o desenvolvimento de países. A decisão não é meramente ambiental, mas econômica. A inconsciência energética é um desperdício de recursos”

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

PETER POSCHEN conselheiro para o desenvolvimento sustentável da OIT na Alemanha

10


rável no consumo de energia. No entanto, ressalta: “O colapso da economia não é solução para o aquecimento global”. E não é mesmo, pois temerosos com o futuro, alguns projetos vão ter seus investimentos adiados ou ainda reduzidos. Esta é a constatação do relatório Global Futures 2009, divulgado agora em março em Londres pela companhia New Energy Finance (NEF). De acordo com o estudo, a taxa de crescimento dos investimentos em energias renováveis está estável o que poderá significar a redução para U$350 bilhões dos U$500 bilhões necessários para neutralizar as emissões dos gases poluidores para 350 bilhões. “O relatório deveria ser encarado como um alerta, um despertador para a sociedade. Não é mais possível dizer que estamos no caminho de minimizar as emissões de CO2 até 2020. Alguma coisa tem que acontecer,” afirma Michael Liebreich, presidente da NEF.

Retratos da Crise no Brasil

O freio a novos investimentos – ainda que com a certeza do retorno – é previsível num momento de crise. A redação da PP entrou em contato com algumas empresas do país, que atuam nos mercados energéticos, financeiro, químico, automotivo e de construção. A redação recebeu ainda informes dos sindicatos ou das próprias empresas para verificar como está a política de recursos humanos. Os retornos foram diferenciados conforme os setores econômicos. Retrato da situação atual. De um modo geral, o que se percebe é a contenção de gastos em patrocínios e projetos culturais, externos às empresas. Algumas, que precisam de mão-de-obra especializada ou voltadas ao mercado interno cujos contratos estão pré-estabelecidos (como no setor elétrico), têm mantido os empregos verdes ou até aberto vagas. Por mais controversas que sejam as hidroelétricas, o início da construção da usina Jirau no rio Ma-

deira está aquecendo o mercado de trabalho de Rondônia. Serão 8,8 mil moradores de municípios em torno da capital Porto Velho que receberão qualificação profissional. Nos Estados Unidos há também um bom exemplo. No estado de Minnesota o governo criou uma zona livre de impostos para as empresas criarem empregos verdes. Para compensar o aumento anunciou cortes para cursos de extensão de universidades e em programas de saúde rural. Tudo para criar fundos de incentivo à criação de vagas ecologicamente corretas estimados em 20 milhões de dólares. Cobertor pequeno, não há como não deixar os pés de fora. Neste caso, a opção pelo “menos pior” é o que conta. A própria ONU anunciou agora em março que os empregos verdes poderão conter o desemprego causado pela crise. A grande aposta da Organização é no reflorestamento para conter as mudanças climáticas. Com isso, a FAO (órgão da ONU nas áreas T IM MEIJER

“A crise terá o seu lado positivo ao acelerar o processo de conscientização e também, com a desaceleração dos negócios, de provocar uma redução considerável no consumo de energia. No entanto, o colapso da economia não é solução para o aquecimento global”

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

LESTER BROWN presidente da ONG Earth Policy Institute

11


Profissões Verdes Algumas das áreas profissionais associadas ao ambiente que já atuam em todo o mundo - advocacia ambiental - marketing ambiental - arquitetura ambiental (gestão de espaços verdes) - engenharia civil ambiental - saúde ambiental (epidemiologia) - agricultura biológica (ou mais sustentável em termos econômicos) - cozinha/restauração (produtos macrobióticos, vegetarianos e slow food) - comércio (produtos biológicos e macrobióticos, roupas e produtos ecológicos, lojas de comércio justo) - forças de segurança (formação de sub-agrupamentos de controle a crimes ambientais) - sistemas de informação e investigação (auditorias e diagnósticos ambientais, avaliação de impactos)

- ecoeficiência e ecodesign (promoção de produtos mais duráveis e recuperáveis, menor uso de substâncias perigosas e desaceleração no uso dos recursos ambientais) - planejamento energético e uso de energias renováveis - gestão de áreas protegidas, recursos hídricos e zonas costeiras - jardinagem e floricultura - monitorização do ruído e isolamentos acústicos - jornalismo (cobertura mais ampla e especialização na área do ambiente) - psicossociologia do ambiente (avaliação das atitudes e condutas individuais e coletivas para a sensibilização e novas formas de ação)

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Fonte: Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza de Portugal

de agricultura e alimentação) estima a criação de uns dez milhões de empregos ao redor do mundo. O diretor-geral do Departamento Florestal da FAO, Jan Heino, acredita que os empregos verdes ajudarão também a reduzir a pobreza. Estes dados estão no relatório feito pela instituição que avalia a situação das florestas do planeta. Com tanta esperança nos green jobs, as universidades estão tendo que se adequar à nova realidade. Aumentou a procura por cursos da área ambiental e técnica nas instituições de ensino superior de todo o país, como engenharias que se dedicam à pesquisa de energias renováveis e ao saneamento. Novos cursos profissionalizantes e de ensino superior nos níveis de graduação e pós-graduação foram criados nos últimos anos para atender a este mercado. Até pouco tempo, especialistas em energias renováveis para trabalhar no Brasil, por exemplo, vinham da Europa, o que também encarecia o investimento. Daí a necessidade de uma mão-deobra nacional especializada. Até porque o país tem muito a avançar em se tratando de empregos verdes.

12

Do total de um milhão de green jobs no Brasil contabilizados no relatório da Organização Internacional do Trabalho, metade está na área da reciclagem de resíduos e a outra parte atuando com biocombustíveis. Para o conselheiro Poschen da OIT, o Brasil tem uma situação curiosa: “é líder em áreas como biocombustíveis e reciclagem, mas ainda não há políticas voltadas para a geração de empregos nas construções econômicas, ou na preservação da Amazônia, que trazem um bom retorno econômico”, analisa. Segundo ele, a energia economizada com a reciclagem de alumínio seria suficiente para sustentar uma cidade de um milhão de habitantes por um ano. Ao mesmo tempo, o investimento em lavouras de cana-de-açúcar e em hidrelétricas não vai gerar muitos postos de trabalho “verdes”. O relatório da OIT apela para que haja uma transição justa nas condições de trabalho em atividades em expansão, como a agricultura e a reciclagem. Questões como baixos salários, insegurança nos contratos de trabalho e exposição a materiais perigosos são os pontos

destacados pela organização. O relatório mostra ainda que os trabalhadores pobres (os que sobrevivem com dois dólares por dia) têm poucas oportunidades para atuar no mercado verde. No mundo respondem por 43% da força de trabalho, somando algo em torno de 1,3 bilhão de pessoas. Por isso, também a OIT defende a necessidade da criação de empregos que reduzam a pobreza e ao mesmo tempo projetem o meio ambiente. Somandose essa necessidade social à perspectiva de que o mercado global de produtos e serviços ambientais aumente dos atuais 1,370 bilhão de dólares/ano para 2,740 bilhões de dólares em 2020 – em ações de eficiência energética, transporte sustentável, fornecimento de água, gestão de serviços sanitários e de dejetos – teremos o quadro perfeito para uma nova cultura no trabalho. Mas para isso será necessária a sensibilização de governos, empresas, universidades e blocos econômicos, de que se não unirmos forças, as mudanças climáticas serão um caminho sem volta. E, pelo menos por enquanto, não temos como nos mudar de planeta.



Ações para enfrentar a crise

OPINIÃO

O Brasil já sente os efeitos da crise internacional e não sabemos ao certo por quanto tempo sentiremos os efeitos desta fase difícil. Conhecemos as graves conseq uências de uma desaceleração cíclica do nível de atividade econômica para o tecido social e para as estratégias em curso para enfrentar os problemas que temos no Brasil. A convicção que nos orienta é a de minimizar a queda do nível de produção e de emprego por meio de medidas de investimento produtivo e de apoio ao consumo, já anunciadas por governos de todo o mundo.

CLEMENTE GANZ LÚCIO Diretor técnico do DIEESE

Temos que envidar todos os esforços nacionais nesse mesmo sentido, para desviar ao máximo o país da crise. A gravidade deve nos orient ar a tomar as decisões radicais de mobilização da vontade política, da capacidade econômica e do desejo social. Assim poderemos encontrar alternativas que exigem, sem sombra de dúvida, o aumento do gasto público; a aposta das empresas em investir e não demitir; que os bancos voltem a oferecer crédito. Podemos e devemos transformar as nossas fraquezas em oportunidades. Temos uma situação de extrema desigualdade que se materializa em déficits sociais de grande tamanho: habitacional, saneamento, educação, saúde, entre outros. Nos espaços urbanos e no meio rural, há inúmeras carências urgentes. Assim, é essencial que sejam tomadas as seguintes medidas: • garantir e avançar nos investimentos do PAC • promover crédito às empresas, com destaque aos investimentos; • recuperar o crédito ao consumidor; • priorizar obras e serviços públicos que gerem ocupações e possam receber inversões rápidas; • olhar com atenção para as demandas das micro e pequenas empresas, proporcionando ágil capital de giro, oferta de qualificação e possibilidade para o fluxo dos negócios; • mobilizar os agentes financeiros públicos, em especial o BNDES, para garantir minimamente a taxa de investimento, inclusive em inovação, já que este ano chegamos a uma taxa correspondente a 17,7% do PIB; • agilizar a alocação dos recursos já disponíveis do FGTS para habitação, em especial para os trabalhadores de baixa renda e para o saneamento; • viabilizar o financiamento das safras, com garantia de preços mínimos, e um cuidado especial para as dívidas, diante de situações de perdas, entre tantas outras medidas cuja base é também o orçamento fiscal.

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

O medo da recessão ou do baixo crescimento e do desemprego já se faz presente. Existem, do ponto de vista dos trabalhadores, uma prioridade e uma oportunidade. A prioridade deve ser a preservação do nível de emprego. Os desafios são conceber e viabilizar, por meio de complexas negociações, um arranjo político, econômico e social capaz de mobilizar a vontade da nação em usar seu forte mercado interno para manter o nível de atividade econômica. Existe ainda oportunidade de se investir para avançar na revisão do modelo de crescimento econômico assentado na exaustão dos recursos naturais e no uso da energia fóssil. Existe uma nova economia a ser criada, que exige investimento e criação, na qual manter, preservar e recuperar possa ser mais vantajoso que poluir e destruir. Criar tecnologia limpa, valorizar a mata em pé, os biomas, ver o rio limpo, o ar saudável, o esgoto tratado, entre tantas outras dimensões de uma sociedade que descobre a riqueza em outros sentidos econômicos, podem ser a base e a oportunidade para a geração de milhares de novos empregos.

14


DIÁLOGO SOCIAL PARA AMPLIAR A CULTURA DEMOCRÁTICA NO BRASIL


As entidades que atualmente compõem o Grupo de Trabalho Diálogo Social são: Abong – Associação Brasileira de Ongs Luana Vilutis E-mail: luana@paulofreire.org Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos Crystiane Peres E-mail: crysperes@dieese.org.br Joana Biava E-mail: joanabiava@dieese.org.br Paulo Roberto Arantes do Valle E-mail: pravalle@dieese.org.br

SUMÁRIO Apresentação

17

Objetivos

19

Condições

20

FES – Fundação Friedrich Ebert Jochen Steinhilber E-mail: jochen.steinhilber@fes.org.br Waldeli Meleiro E-mail: fesbrasil@fes.org.br IDEC - Instituto de Defesa do Consumidor Lisa Gun E-mail: lisa@idec.org.br Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial Paulo Itacarambi E-mail: pitacarambi@ethos.org.br Ana Letícia Silva E-mail: analeticia@ethos.org.br Instituto Observatório Social Amarildo Dudu Bolito E-mail: dudubolito@os.org.br Ana Yara Paulino E-mail: anayara@os.org.br Regina Queiroz E-mail: regina@os.org.br Instituto Primeiro Plano Odilon Luís Faccio E-mail: odilon@primeiroplano.org.br OIT - Organização Internacional do Trabalho Lais Abramo E-mail: abramo@oitbrasil.org.br Maria Beatriz Cunha E-mail: cunha@oitbrasil.org.br Antonio Mello E-mail: mello@oitbrasil.org.br Oxfam Internacional Nathalie Beghin E-mail: nbeghin@oxfam.org.br

EXPEDIENTE GRUPO DE TRABALHO - DIÁLOGO SOCIAL EDIÇÃO - SECRETARIA DO GT - DIÁLOGO SOCIAL PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO - INSTITUTO PRIMEIRO PLANO FOTOGRAFIAS - Sindicato dos Químicos ABC - CONSEA - INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL - ETHOS INFORMAÇÕES RUA JOÃO PINTO, 30 SALA 803 FLORIANÓPOLIS - SC (48) 3025-3949 Março 2009

16


APRESENTAÇÃO Este documento apresenta o ponto de vista inicial de instituições que pretendem promover o diálogo social para fortalecer a democracia no Brasil. Vivemos uma realidade que passa por grandes mudanças nos mercados, nas empresas, nos governos, na sociedade civil e na atitude das pessoas. As crises econômicas ou crescimento econômico insuficiente, muitas vezes excludente ou insustentável, debilitam a confiança na democracia. Os estudos sobre as mudanças climáticas, e atual crise econômica global confirmam e indicam a necessidade de um novo padrão de produção e consumo mais sustentável. A realização de diálogo social envolvendo os principais atores da sociedade pode ser um importante caminho para encontrar soluções conjuntas frente a esses desafios. No mesmo tempo histórico novos e velhos dilemas desafiam a agenda das organizações. Um deles é como aprimorar a governança democrática que seja capaz de incorporar as expectativas da sociedade nos rumos do país. Prescindimos de uma democracia que, ao mesmo tempo, seja capaz de ampliar a participação da sociedade em geral com o diálogo sistemático com os cidadãos, com grupos sociais que querem melhorar suas condições de vida e de direitos, ou que querem um padrão sustentável de desenvolvimento e consumo. No Brasil a democracia avançou nos últimos anos, mas ainda é preciso consolidar uma cultura democrática entre governos, empresas e a sociedade. Nosso horizonte é uma sociedade democrática e plural, onde a promoção e a institucionalização do diálogo social entre os atores, crie um ambiente favorável para que os diversos interesses sejam tratados de maneira equilibrada. Quando o diálogo existe, os conflitos e as disputas de interesse não terminam, mas podem se desenvolver em padrões democráticos. Ao garantir a participação, a cooperação e a negociação com diferentes atores, a realização do diálogo social é uma forma de garantir a governabilidade e a ampliação da democracia. É a fusão da quantidade com a qualidade. Ao mesmo tempo, na medida em que o diálogo social ocorre, abrem-se algumas “janelas” para que outros temas não previstos sejam tratados, criando novas agendas de possibilidades. O diálogo social possibilita ter metas de cooperação e/ou a convergência de objetivos, inclusive entre atores antagônicos. Tal mecanismo, a depender de como é implementado, pode ajudar a resolver questões comuns, resultando em ganhos concretos para os grupos sociais envolvidos: comunidades, cidadãos, empresas, governos, sociedade e, em última instância fortalecer a democracia. Para que as mudanças socioeconômicas sejam duradouras e promovam a sustentabilidade, é decisiva a sua legitimação. O processo do diálogo social pode contribuir para uma maior legitimidade e qualidade das políticas públicas, na gestão dos negócios das empresas e, principalmente, na maior participação da sociedade civil nos rumos do país. Grupo de Trabalho Diálogo Social

17


CRIAÇÃO DO GRUPO DE TRABALHO

“Nos países com diálogo social podemos observar várias modalidades de diálogo, em função dos atores envolvidos no processo, seja ele bipartite (quando envolve apenas empresários e trabalhadores) ou tripartite (quando conta também com a participação do governo). O caráter do diálogo social é sempre o resultado das lutas sociais concretas e por isso também muda constantemente. Portanto, não há um único sentido do diálogo social. O diálogo social pode significar o direito de instalar representações dos trabalhadores e dos sindicatos na empresa, um diálogo entre chefias e comissões de fábrica, entre sindicatos e o Estado etc. Pode significar um diálogo sobre um problema concreto na empresa ou sobre o futuro modelo do desenvolvimento de um país. Em suma, há muitos canais possíveis de diálogo social nos diferentes níveis”. Jochen Steinhilber - Representante da FES no Brasil

18

Considerando a importância de valorizar a dimensão do diálogo social enquanto meio eficaz para fortalecer a cultura democrática na sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, tornar-se uma ferramenta promotora de mudanças na gestão das políticas públicas ou das empresas, diversas organizações tomaram a iniciativa de constituir um Grupo de Trabalho (GT) com a clara intenção de investir energia e recursos para criar uma cultura em favor do diálogo social e da democracia. A consolidação de uma cultura democrática trará dividendos para todos os segmentos envolvidos, especialmente para aqueles que querem deixar um legado democrático para as próximas gerações.

ENTENDIMENTO SOBRE DIÁLOGO SOCIAL O Grupo de Trabalho parte do pressuposto de que há vários entendimentos legítimos sobre o significado do que seja o diálogo social. Diálogo é negociação ou é cooperação? É possível a convivência de diálogo com o conflito e a tensão? Seria o diálogo social uma tensão em processo? Outro assunto importante a ressaltar é que, na medida em que o diálogo avança, os conflitos tendem a diminuir, porém não desaparecem os diversos interesses das partes envolvidas. É uma visão de longo prazo, onde deverão ser ouvidas as partes para formular propostas de consenso. Mas, independente de existir diferentes entendimentos, o GT considera que o mais importante, neste momento, é contribuir para formular e apoiar as condições ou pressupostos essenciais que possam favorecer a realização do diálogo social.

CONCEITO DE DIÁLOGO SOCIAL DO GRUPO DE TRABALHO Diálogo social é o processo no qual atores sociais, econômicos, políticos, ou grupos sociais, legitimamente reconhecidos, se reúnem institucionalmente para compartilhar ideias, cooperar, buscar convergência de objetivos ou negociar assuntos de interesse comum. Apesar das frequentes tensões e dos diversos conflitos que, muitas vezes permeiam o diálogo, este pode resultar no alinhamento de propósitos, em troca de informações, em novas agendas de possibilidades não planejadas ou pode proceder em acordos ou projetos compartilhados, fortalecendo a governança democrática e a sustentabilidade das instituições envolvidas.


OBJETIVOS OBJETIVO GERAL O Grupo de Trabalho Diálogo Social é uma articulação que reúne diferentes instituições que têm por objetivo sistematizar, refletir, formular conteúdos e realizar atividades, visando à promoção do diálogo social como elemento essencial para a consolidação de uma sociedade democrática, plural e justa.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O Grupo de Trabalho pretende alcançar os seguintes objetivos específicos: 1) Conhecer e acompanhar as diversas experiências existentes, sistematizando e identificando os principais avanços e dificuldades, objetivando desenvolver orientações que contribuam para consolidar novas experiências de diálogo social. 2) Formular e disseminar conteúdos para os meios de comunicação e eventos relacionados ao tema, contribuindo para a associação de entidades interessadas no diálogo social. 3) Realizar atividades, encontros ou seminários específicos, para o aprofundamento temático e a análise de experiências nacionais ou internacionais que possam gerar subsídios para o desenvolvimento do diálogo social no Brasil.

“Compreendemos o diálogo social como um processo que deve proporcionar a ampliação da participação social e o aprofundamento da democracia. O diálogo social é também um espaço de aprendizagem, de transformação da cultura política da sociedade. Embora as experiências de diálogo social sejam diversas e ocorram em níveis diferenciados, podemos identificar pressupostos comuns entre elas. Tanto no contexto de negociações entre capital e trabalho, quanto na efetivação de políticas públicas, o diálogo social requer uma ação permanente, continuada e coletiva que contribua intencionalmente com a institucionalização de espaços de participação social. Acreditamos que a interação dialógica deve ser permeada por relações de cooperação e confiança, pois o diálogo social ganha sentido se houver uma escuta efetiva dos sujeitos envolvidos e uma construção coletiva das condições do diálogo. A formação para o diálogo, a sistematização de suas práticas e a transparência na sua difusão são requisitos para a sua realização. Por atuar no campo da constituição e expansão de direitos e da promoção da justiça social, a Abong aposta no diálogo social como um mecanismo de ampliação do espaço público, partilha de poder e fortalecimento das lutas sociais”. Luana Vilutis – Representante da Abong

2a Conferência Nacional de Segurança Alimentar - CONSEA - Março 2004

19


CONDIÇÕES NECESSÁRIAS À REALIZAÇÃO DO DIÁLOGO SOCIAL O Grupo de Trabalho identificou pressupostos que devem orientar a prática do diálogo social no Brasil. São eles:

Com relação aos atores sociais envolvidos

“O diálogo social representa a integração no ambiente de trabalho de um dos mais relevantes direitos de cidadania, possibilitando que trabalhadores e empregadores obtenham um maior comprometimento com os objetivos da empresa, pela decisão comum de resultados a atingir. O diálogo social representa uma oportunidade para a obtenção de compromissos que envolvam motivações de cada uma das partes sobre oportunidades de desenvolvimento das pessoas, das organizações e da sociedade”. Lais Abramo – Diretora da OIT Brasil

20

É importante que as experiências de diálogo social considerem a grande diversidade da sociedade brasileira e dos grupos que a representam. Assim, ao lado do Estado, trabalhadores e empresários, atores sociais protagonistas em uma sociedade capitalista, é importante que se assegure espaço para a manifestação e posicionamento de grupos como consumidores, academia (universidades e instituições de pesquisa), organizações não governamentais de defesa de direitos e mídia. Dessa forma, esses grupos estarão desempenhando papel importante na promoção dessa modalidade de diálogo. Embora a diversidade seja um elemento fundamental para o êxito do processo, é fundamental também que se leve em conta a legitimidade do espaço do diálogo e dos participantes. Assim, a observação ou não de aspectos como a pertinência das questões colocadas, os interesses das entidades nas discussões propostas, a capacidade técnica e a representatividade política das entidades podem resultar em êxito ou fracasso do processo. Não menos importante é a necessidade de se considerar a possibilidade de que atores sociais, organizações ou entidades que não estejam diretamente envolvidas possam ter um papel de indutores, facilitadores e apoiadores do processo. Assim, o apoio da academia e da mídia, por exemplo, pode contribuir com informações para a tomada de decisão e para a divulgação social das questões tratadas no espaço do Diálogo Social. Os promotores do diálogo social devem considerar, também, o desequilíbrio em termos de correlação de forças presentes, por exemplo, em decorrência de fatores como poder econômico, poder político, mobilização, entre outros. Destaca-se o papel peculiar que cabe ao Estado nesse processo, dado que esse ator social expressa o resultado da disputa de interesses presentes na sociedade em um dado momento. Dessa forma, o Estado tem no diálogo social um instrumento para envolver os principais agentes sociais e econômicos nas discussões da gestão pública.


A importância do ator social Estado destacada anteriormente não implica, necessariamente, sua participação nos diversos espaços do diálogo social. Nesse sentido, há situações, inclusive, em que os demais atores sociais podem não desejar a intervenção estatal, caso típico, por exemplo, de situações relacionadas a certos temas da relação capital e trabalho.

COMPROMETIMENTO, ABERTURA PARA A DIVERSIDADE E CONFIANÇA NA PRÁTICA DO DIÁLOGO SOCIAL É importante que cada um dos atores sociais participantes do processo esteja comprometido com o diálogo buscando acordos e entendimentos com os demais. O respeito à diversidade das organizações amplia a possibilidade da leitura da realidade e de seus problemas, contribuindo para a busca do atendimento de determinados objetivos. Nesse sentido, é fundamental que as representações estejam cientes das situações de alta complexidade que normalmente estão envolvidas na prática do diálogo social, com visões de mundo diferenciadas, fortes expectativas e interesses contraditórios. É importante ainda, que essa complexidade seja vista como algo enriquecedor. Cada ator contribui e reconhece no outro um interlocutor que, mesmo com diferentes visões e interesses, vê a realidade e as ações para transformá-la de maneira distinta. Nesse sentido, o diálogo social é um processo de aprendizado que envolve se posicionar frente a um problema, ouvir o que o outro tem a dizer, refletir sobre as visões distintas e avaliar possibilidades de resultados que sejam de interesse dos atores sociais. Finalmente, é importante que os atores reconheçam no diálogo social um instrumento para se chegar a resultados que tenham maior densidade, o que poderá, no futuro, gerar políticas mais sustentáveis.

Diálogo social como processo O diálogo social é um espaço de construção contínua, inclusive entre os pares. Dada a pouca prática dessa modali-

“Lidar com o diálogo social do ponto de vista de negociação é prática do trabalho que desenvolvemos no IOS no acompanhamento de algumas redes de trabalhadores em empresas multinacionais. Entretanto, como instituição de estudos e pesquisas sobre condições de trabalho, entendemos que o diálogo social é também um processo de amadurecimento na busca de soluções consensadas para conflitos de interesses. Sendo assim, ora como uma explícita negociação ora como processo, se faz necessário estabelecer metodologias diferenciadas para que o objetivo seja atingido. Se, para um momento negocial as técnicas e metodologias já são bastante conhecidas e difundidas, para o processo de diálogo que objetiva uma construção de solução entre partes (pode ser a própria negociação tradicional) ainda merece maior estudo e muita troca de experiências entre instituições predispostas a criar novos caminhos. A atual consciência do entroncamento das dimensões econômica, social e ambiental traz para dentro da relação trabalho/capital um desafio que poderá ser melhor orquestrado por meio do diálogo social. Para o IOS, participar e contribuir com o GT Diálogo Social também é uma forma de consolidar seu trabalho sobre a agenda do Trabalho Decente junto ao movimento sindical. Diálogo social é um dos quatro pilares do Trabalho Decente, o mais falado na atualidade e o mais desconhecido: sabe-se que não se resume a negociação coletiva, mas muitas vezes somente esse indicador é lembrado. Ultrapassar essa visão restrita e alargar as bases do diálogo, sem perder a identidade, pode também ser uma estratégia para o movimento sindical.” Amarildo Dudu Bolito – Supervisor Institucional do Observatório Social Ana Yara Paulino – Pesquisadora Observatório Social Regina Queiroz – Responsável pelo projeto Responsabilidade Social Empresarial

21


“Nossa instituição está envolvida com a organização do Grupo de Trabalho por considerar que a realização de diálogos sociais contribui muito para a democratização das relações sociais e econômicas. A realização de diálogos sociais provoca e induz a maior cooperação entre as organizações participantes. Se o diálogo ocorre efetivamente, ajuda a equilibrar o poder. Quando o processo de diálogo alcança algum nível de institucionalização e, os atores são valorizados como representantes dos segmentos envolvidos, a tendência é produzir mudanças positivas para as partes durante um período maior de tempo. Sem dúvida, processos mais democráticos sempre são mais demorados, mas sempre são melhores porque, de alguma forma, as diferentes expectativas dos atores envolvidos, em grande medida, são contempladas. Isto dá maior qualidade e estabilidade aos processos de decisão e de mudanças. No Brasil, por diversas razões, sabemos que não é um assunto ainda devidamente considerado. No fundo, é um investimento no futuro”. Odilon Luís Faccio – Instituto Primeiro Plano

22

dade de diálogo em nossa sociedade, as atividades planejadas para sua efetivação devem ser cuidadosamente preparadas, com a organização prévia dos atores envolvidos no diálogo por meio de encontros, diálogos internos e reuniões. Além do conteúdo a ser discutido, as regras do processo e a participação dos atores envolvidos devem ser definidos. Além disso, o acesso à informação de forma equânime entre os participantes do processo associado a mecanismos que facilitem a comunicação, a exemplo das redes apoiadas por tecnologias de informação, são elementos fundamentais que devem ser cuidadosamente observados pelos promotores do diálogo social. Destaca-se ainda, que o trabalho para se avançar em assuntos mais gerais pode influenciar positivamente o tratamento conjunto de outras questões, não necessariamente associadas às questões iniciais. Assim, o contato entre os atores pode gerar o início de novos compromissos e iniciativas conjuntas para tratar de novas questões que, direta ou indiretamente, tenham surgido a partir da reunião inicial dos atores. Estabelece-se, dessa forma, um processo de diálogo permanente que tem em vista a institucionalização de espaços de participação social. Nesse sentido, o diálogo social pode ser visto, também, como um tipo especial de aprendizagem onde os participantes aprimoram sua capacidade de intervir cotidianamente nos temas sociais que lhes dizem respeito. É importante que os espaços para o diálogo social permaneçam abertos à participação de novas representações que, por qualquer motivo, tenham optado por não participarem do começo do processo ou que tenham sido posteriormente identificadas pelo grupo como entidades importantes para o trabalho. A complexidade do trabalho com os atores sociais requer que as atividades que envolvam o diálogo social sejam objeto de constante reflexão dos responsáveis pela implementação do trabalho. Nesse sentido, há a necessidade de aprofundar os passos metodológicos que podem aprimorar o processo de diálogo social, envolvendo apoio institucional às iniciativas, suporte técnico externo para apoiar o processo de diálogo e o apoio à reflexão, à busca de convergências entre os participantes e à sistematização do trabalho dos atores. De forma particular, há a necessidade de avanços no sentido de examinar como se dá a discussão de problemas da realidade social e de como este pode se tornar momento importante para a mobilização social.


Acerca dos problemas identificados pelo grupo A identificação dos problemas deve ser feita de forma cuidadosa, de tal maneira que os atores se concentrem naqueles que sejam primordiais para a realidade que está sendo discutida. É importante que os promotores do diálogo social trabalhem os problemas como desafios colocados pela realidade aos participantes do processo, algo que requer uma intervenção para que se atinja uma situação desejada. Isso será fundamental para os momentos posteriores de identificação dos objetivos do grupo em relação ao problema e das ações a serem implementadas.

Acerca dos objetivos propostos para atacar o problema Identificado o problema, cuidado especial deve ser dado à identificação dos objetivos propostos para sua solução. É fundamental que a atividade caminhe no sentido de que sejam definidos objetivos alcançáveis e mensuráveis.Atenção especial deve ser dada à governabilidade do grupo em relação a o que for estabelecido como objetivo. É importante ainda que se evitem metas muito ambiciosas, pois podem resultar em entraves à formação de consensos ou frustração diante da baixa resolutividade do colegiado. Nesse sentido, é importante que se busque sempre equilíbrio entre demandas sociais, expectativas do grupo e respostas públicas às demandas. Quando da identificação das ações para se alcançar os objetivos propostos, é importante que as atribuições e responsabilidades dos participantes do grupo estejam claramente estabelecidas e que possam ser acompanhadas por todos. O cumprimento do pactuado é fundamental para consolidar a confiança entre os participantes e para criar progressivamente uma cultura de diálogo social. Sistematizados os resultados do trabalho, é importante que se assegure a transparência das informações aí geradas, de tal maneira que todos tenham acesso ao resultado do mesmo e que possam acompanhar o trabalho dos demais nos momentos seguintes.

Acerca dos resultados do processo Um aspecto fundamental para assegurar que uma experiência de diálogo social seja referência para experiências semelhantes, é a implementação efetiva das ações propostas pelo grupo. Dessa forma, é muito importante que as entida-

“Entendemos o diálogo com outro objetivo que não somente a negociação. Pensamos no diálogo para mudança de visão de sociedade, porque não podemos fazer incrementos sem mensurar os impactos, caso contrário fica tudo igual. Nosso entendimento sobre diálogo é o de um espaço de aprendizagem. Um espaço de abertura onde os atores estão dispostos a novas reflexões. Se agirmos apenas como espaço de compromissos, os atores já vão com propostas fechadas e isto dificulta avanços. Pensamos o diálogo com o propósito de legitimação e de construção da confiança entre as partes envolvidas. Concebemos que o diálogo pode ser espaço de aprendizagem, que proporcione mudanças do padrão de mercado, de novas relações na sociedade, visando atingir os seguintes objetivos: a) o controle social – o diálogo social facilita que a sociedade exerça o controle social por meio de regulamentos e leis; b) retorno para todos – a competição e os conflitos não trazem resultados bons, porque há desequilíbrio entre as partes; c) cooperação – o diálogo deve ser um espaço de cooperação”. Paulo Itacarambi – Diretor executivo do Instituto Ethos

23


des envolvidas no processo se empenhem na transformação do resultado do trabalho em ações efetivas, sob o risco de que o resultado seja visto como negativo pelos participantes, e se torne uma referência negativa para outros processos semelhantes. Finalmente, é importante que haja, entre as ações propostas, iniciativas que visem assegurar a ampliação e disseminação do diálogo, de tal forma que a experiência seja vista como parte de um processo que não termina aí, mas que tem continuidade e que tem como um de seus resultados contínuos o aumento da participação social na definição dos rumos da sociedade. “Oxfam Internacional aposta em processos e mecanismos que auxiliem no combate à desigualdade e à pobreza. O diálogo social é um deles, na medida em que pode contribuir para fortalecer cidadãos ativos e Estados efetivos. Entendemos que existem diversos formatos de diálogo social que vão desde o processo preparatório de uma negociação entre trabalhadores e empregadores, passando por mesas redondas sobre determinados temas que interessam trabalhadores, empresários, governos e organizações não governamentais, até conselhos de políticas que são espaços de deliberação onde cidadãos acreditados têm a possibilidade de expressar livremente suas opiniões e de influenciar a elaboração, implementação e monitoramento de políticas públicas. A qualidade do diálogo depende do equilíbrio de forças dos atores envolvidos. Neste sentido, entendemos que alguns requisitos mínimos devem ser observados para que um diálogo social possa efetivamente ser chamado de diálogo, tais como: ampla participação das partes interessadas; autonomia dos participantes; regras e normas de funcionamento claras, conhecidas e respeitadas por todos os participantes; objetivos alcançáveis e mensuráveis; atribuições e responsabilidades dos participantes claramente estabelecidos e transparência das ações”. Nathalie Beghin - Assessora de Advocacy de Oxfam Internacional

24

EXPERIÊNCIAS Existe um leque diversificado de experiências de diálogo social que contempla distintos objetivos e modalidades de participação dos atores: governos e empresas, governos, empresas e sindicatos, governos, empresas e sociedade civil ou, empresas e sindicatos. Algumas dessas experiências são iniciativas de governos, de empresas ou fruto das conquistas sociais. O diálogo social é um instrumento que favorece a democracia participativa e negociada. É um espaço de discussão onde cidadãos têm a possibilidade de expressar livremente suas opiniões e de influenciar a elaboração, implementação e monitoramento das políticas públicas. É um espaço de aprendizagem e de negociação, que pode trazer resultados benéficos para os atores envolvidos.

Reunião do Diálogo Social entre empresa e sindicatos da BASF/América do Sul - Santiago do Chile/maio 2008


Na primeira etapa de trabalho, o GT identificou 4 tipos diferentes de Diálogo, e vem sistematizando e analisando estas experiências: a - Participação social na implementação e monitoramento de políticas públicas: a experiência do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA e os fóruns de participação social do Plano PluriAnual – PPA 2004-2007 (multipartismo): Oxfam Internacional e ABONG. b - Diálogo social entre empresas privadas e trabalhadores (bipartismo), em âmbitos nacional e internacional (BASF e BAYER): Instituto Observatório Social e Fundação Friederich Ebert. c - Elaboração de diagnósticos participativos sobre problemas do mercado de trabalho (tripartismo): DIEESE. d - Conexões Sustentáveis - experiência que visa comprometer as empresas a não comprarem produtos (soja, madeira etc.) que utilizam o trabalho escravo na cadeia de produção: Instituto Ethos.

“Entendemos o diálogo social como um espaço onde os atores sociais são ouvidos e reconhecidos enquanto representantes da diversidade de interesses e de visões de mundo presentes na sociedade. Os atores envolvidos têm diferentes interesses e visões de mundo, o que dificulta, porém não implica, na maioria dos casos, em restrições ao diálogo. Pelo contrário, essas diferenças dão riqueza ao processo. O pressuposto é que estas diferenças sejam respeitadas e preservadas, daí privilegiarmos em nosso trabalho a busca de pontos de convergência, e não necessariamente de consenso. Embora o modelo mais comum de diálogo social seja o tripartismo, consideramos a necessidade de outros agentes que podem contribuir para o debate ao serem envolvidos no diálogo, aumentando ainda mais a riqueza do processo”. Crystiane Leandro Peres – Técnica

Seminário Conexões Sustentáveis São Paulo / dezembro 2008

25


PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Planeta Hidrogênio O hidrogênio pode ser encontrado em diferentes fontes renováveis de energia: no sol, no vento, na biomassa, no biogás e na água. Mas ele sozinho não é energia, precisa passar por transformações químicas. E essas transformações custam caro. Por Alessandra Mathyas

26

As células a combustível foram inventadas em 1839 por William Grove, antes mesmo das máquinas a combustão. No entanto as últimas foram as primeiras a cair no gosto da indústria, já que a gasolina, além da grande energia gerada quando em combustão, apresentou-se como combustível barato, abundante, de fácil transporte e abastecimento. Em comparação à gasolina, o hidrogênio não é fonte de energia, mas uma bateria, um transportador de energia. Em temperatura e pressão ambientes, ele ocupa 300 vezes mais espaço que a gasolina para conter a mesma quantidade energética. Ainda assim, ele já é utilizado há muito tempo, basicamente de duas formas: a partir de combustíveis fósseis (96%) e com água (4%). Suas aplicações mais comuns são na fabricação de fertilizantes, na conversão de óleo líquido em margarina, na fabrica-

ção de plásticos e resfriamento de geradores e motores. O desafio é mudar os números acima, pois com o anúncio do fim da era do petróleo para as próximas décadas, chega a ser uma provocação usar combustível fóssil (gás natural, por exemplo) para produzir hidrogênio. Até porque, desta forma continuará a dependência aos combustíveis fósseis. Então as pesquisas agora se centram no uso de fontes renováveis para a produção de hidrogênio através da eletrólise da água, o que não é, em termos de eficiência energética, algo ainda produtivo. Por exemplo: para se ter uma unidade de hidrogênio são necessárias três turbinas eólicas ou nove células fotovoltaicas. Outra forma de se obter a energia do hidrogênio é com biomassa, mas também com esta fonte existem os pontos contrários. Em primeiro lugar há a sazonalidade. Na sequência, o que


F O T O DIVULGAÇÃO

O Elding, que leva turistas pa ra a Islând ia para observ a as em seu r as baleihabitat, é o primeiro na vio com um sistema de propulsão a hidrogên io. Ele forn ec e rá e n e rg ia e lé tr ic a para a em ba s il ê n c io a rcação e b s o lu to (o que favore ce a obse rvação de c e tá c e o s e aves mari nhas), alé m de ter red uz são poluen ida emiste. O navio é a b a s te c id o n a p ri meira esta ção de rea b a s te c im e n drogênio re to d e h inovável do mundo – a n a c a p it a l R e il ia v ík , is la n d e s a . Esta estaçã o está em operação e aberta a o público de sde 2003.

metais fortes para conter o hidrogênio, com certeza custa mais caro que o normal. Quanto ao transporte, a comparação com os combustíveis fósseis é cruel ao nobre gás. Um mesmo caminhão tanque, por exemplo, pode transportar combustível para 800 veículos (cerca de 38 mil litros) enquanto para o hidrogênio – por conta da estrutura de armazenamento mais reforçada – levaria 400 kg do gás liquefeito, e este poderia ser usado em apenas 60 carros. Já o uso de dutos, como os que cruzam o Brasil com gás natural, tornar-se-ia ainda mais oneroso. Nos Estados Unidos, onde há 322 mil quilômetros de gasodutos ao preço médio de um milhão de dólares por 1,6km, a construção de um sistema de dutos para hidrogênio similar ao usado pelo gás natural não sairia por menos de 200 bilhões de dólares.

Investimento presente, aposta no futuro

Todo pioneirismo custa caro. E é isso que a necessidade pela busca de matrizes energéticas limpas, forçada pelos tempos de aquecimento global e mudanças climáticas, vem motivando governos e empresas a investir em novas tecnologias como a do hidrogênio. Os estudos e experimentos em andamento dão conta de que ele pode vir a se consolidar como um combustível sustentável e limpo utilizado em automóveis, residências, indústrias, robôs, laptops e outros equipamentos portáteis. Países como Estados Unidos, Japão, Alemanha e França vêm se destacando neste segmento. Neste último, o Comissariado de Energia Atômica da cidade de Ripault, estabeleceu metas para até 2010 reduzir pela metade a quantidade de platina, elemento bastante caro e usado na composição de pilhas de

27

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

pesa é a umidade, que impõe a necessidade da estocagem, secagem e gaseificação. Além disso é preciso uma grande quantidade de terra para produzir biomassa (cerca de 10 toneladas por hectare). E, para preservar o solo, não se deve retirar grandes quantidades desta matéria orgânica. Por isso a oferta de biomassa não é grande o suficiente para a produção de hidrogênio em larga escala. Soma-se a isso os custos de transporte até a central de produção de energia e a perda energética com o uso de fertilizantes. Outros obstáculos técnicos ao avanço de hidrogênio são a estocagem e o transporte. Por ser o mais leve dos gases, sempre está sujeito a “escapar” do armazenamento, o que força que os tanques tenham um reforço. Esse gás também costuma deixar os metais quebradiços e pode gerar vazamentos, sobretudo em encanamentos. O uso de


metaNa segunda , JúIII XV de do século dos maium e, rn lio Ve re s d a to ri c s o re s e o st a va e m F ra n ça , a p energética uma matriz rtir do elelimpa, a pa bundana mento mais o hidroa: et te no plan la época, gênio. Naque : “Acredito disse Verne se rá e m a u g á que a dia como pregada um decomA . el combustív água em p o si çã o d a s primito seus elemen ente se lm ra tivos, natu s da eletridará atravé tornar-secidade, que sa força ro de po á uma A c re d it o m a n e já v e l. ê n io e o g ro id que o h porcionaoxigênio pro nte inesgorão uma fo lo r e lu z. ca tá ve l d e e, quando Acredito qu d e ca rs to o s d e p ó si rirem, nós au ex vão se os a q u e c e re m nos hiO . io n ê g com hidro ão rv ca rá o drogênio se do futuro.” m anos Mais de ce morte, o fuapós a sua chegou tu ro q u e já as muitas aponta para s do uso e possibilidad to como n e m deste ele l sustentácombustíve . M a s su a ve l e lim p o n ib ili d a po g ra n d e d is sf e ra n ã o o tm a a n de esta cae u q significa ja fácil. minhada se

hidrogênio. Segundo esta instituição, nos últimos anos o custo da matéria prima permitiu que a PSA Peugeot Citröen trabalhasse na fabricação de uma pilha compatível com a tecnologia dos veículos. Outras empresas mundiais do setor automobilístico também experimentam a tecnologia do combustível limpo à base de hidrogênio. A General Motors, por exemplo, aposta que para o ano que vem, ou no mais tardar em 2012, estará produzindo veículos competitivos e não poluentes à pilhas de hidrogênio. A Honda também já desenvolve um veículo com esta tecnologia. É o FCX Clarity, que promete oferecer três vezes mais eficiência em combustível que os carros convencionais à gasolina. Até o momento, a meta é concluir a construção de 200 unidades, cuja venda está sendo feita por leasing de três anos, a um valor de USS 600 por mês. Além disso a Honda, que já produziu dez gerações de carros movidos a células de energia, tem veículos em fase experimental em vários países. As motocicletas são outra aposta do setor automoti-

De Júlio Verne aos novos tempos F O T O DIVULGAÇÃO

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

vo. A Suzuki já desenvolveu uma moto conceito cuja propulsão é feita por um sistema de células de combustível de hidrogênio. A Crosscage, no entanto, ainda está longe de estar desfilando pelas estradas do mundo. Outra instituição internacionalmente reconhecida que vem apostando no hidrogênio é a NASA, a Agência Espacial dos Estados Unidos. Percebendo que o hidrogênio quando é queimado com oxigênio puro produz, como sub-produtos apenas calor e água, a agência tem usado esta associação para a propulsão de foguetes em substituição a outros combustíveis fósseis. O baixo peso, a compactação e a capacidade de grande armazenamento de energia também influenciaram nesta decisão. Quando o hidrogênio é usado em células a combustível, a água resultante deste processo é consumida pelos astronautas. Além dos ônibus, carros,motos e em foguetes, as células a combustível já fornecem energia limpa e eficiente a fazendas, hospitais e shoppings em vários países do mundo, inclusive no Brasil.

F O T O DIVULGAÇÃO

Ônibus futurista inglês Honda FCX Clarity: três vezes mais eficiência

28


ROOSEWELT PINHEIRO/AB R

N

osso país também vem se dedicando à temática do hidrogênio. Na prática, já estão sendo usados ônibus híbridos em várias linhas municipais, como no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. O fabricante é a gaúcha Marcopolo e os modelos são Viale Híbrido e Viale Articulado Híbrido. Estes ônibus possuem baixo nível de emissão de poluentes, baixo consumo e índices reduzidos de poluição sonora. O transporte com uso de hidrogênio é apenas um dos temas que vêm sendo debatidos no país. Tanto que existe o Centro Nacional de Referência em Hidrogênio e o Programa Brasileiro de Sistemas de Célula a Combustível, mantidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Desde sua implantação, no início da década, já foram realizados diversos workshops. As discussões que visam introduzir o hidrogênio na matriz energética nacional vêm tratando basicamente dos marcos legais – normas, padrões, regulação, a produção,

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva testa protótipo de carro elétrico da Fiat em parceria com a Itaipu Binacional, no Palácio do Planalto. logística, sistemas de conversão, aplicações e atividades transversais, já que, como visto anteriormente, o hidrogênio é utilizado em inúmeras atividades econômicas. O Brasil integra ainda a Parceria Internacional para a Economia do Hidrogênio (IPHE). Trata-se de um fórum de discussão e fomentador da colaboração internacional, composto por 14 países e a Comissão Européia. Desde o início a Itaipu Binacional vem participando destes debates. No seu parque tecnológico em Foz do Iguaçu iniciou pesquisas de células a combustível e veículos elétricos e apostou num Programa do Hidrogênio. Esta iniciativa foi incluída no Plano Empresarial 20042011 destacando, no objetivo energético nº 9, a intenção com esta fonte: “constituir-se como referência no desenvolvimento de investigação tecnológica de hidrogênio, como fonte alternativa de energia.” Entre as ações previstas neste programa estão o estudo para produção industrial, a implantação de planta gera-

dora, o desenvolvimento de projeto e aquisição de infra-estrutura, utilização de veículos a hidrogênio e análise de viabilidade econômica e ambiental. Para isso firmou convênio com a Unicamp, onde está instalado o Centro de Referência do Hidrogênio, para assessoria técnica e científica. A empresa já apresentou seu veículo híbrido – elétrico e a hidrogênio – e pretende que em 2011 este automóvel tenha características de um popular e com preço equivalente. O próximo passo será o veículo totalmente a hidrogênio. Aliás, um desafio não só dos pesquisadores brasileiros, mas de todo o mundo, pois com custos de infraestrutura ainda altos, o gás mais abundante do planeta ainda espera novas descobertas para que possa ser aproveitado ao máximo em termos energéticos.

SAIBA MAIS SOBRE CARROS MOVIDOS A HIDROGÊNIO EM: www.hydrogencarsnow.com

29

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Hidrogênio no Brasil


F O T O CHRISTOPHER BROWN

CO2 CARBONO QUE VALE EURO


Em 36 anos de debates ambientais, desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em 1972, até o início do primeiro período de compromisso de redução de emissões dos gases de efeito estufa, em 2008, estabelecido pelo Protocolo de Quioto, o meio ambiente passou a ter destaque na esfera econômica. Hoje, o mercado de créditos de carbono, fruto deste tratado internacional, já movimenta 63 bilhões de euros.

O

carbono tornou-se alvo não somente dos comprometidos com o Protocolo de Quioto, mas também do mercado voluntário, no qual a comercialização dos créditos existe, porém com valor inferior aos que são gerados por projetos aprovados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Surgiu em pararelo ao mercado formal, o mercado voluntário, que incentiva entidades públicas, privadas, ONG´s e cooperativas a buscar neutralização de carbono emitida, por exemplo, em eventos, festas, palestras ou até mesmo em partos. Os resultados desses projetos são mudas plantadas, fundos sociais criados com a venda dos créditos, remunerações para

pessoas que vivem em torno de florestas e não desmatam, e inúmeras outras ações que provêm do objetivo de se capturar, reduzir ou neutralizar o gás carbônico. O motivo pela disputa na redução de emissões não está somente ligado a preocupações ambientais, mas sim na criação de um mercado promissor e de crescimento econômico. O carbono será a futura commodity (termo utilizado no mercado globalizado para caracterizar produtos de alto consumo e de alcance global em negociações financeiras) mais valiosa do planeta. No relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) elaborado em 2007, constatou-se que houve o aumento relevante de 70% de emissão de GEE (gases de efeito estu-

31

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Por Vanessa Campos


F O T O DIVULGAÇÃO

O desmatamento representa hoje de 15% a 20% das emissões de gases de efeito estufa no planeta, segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). No Brasil, esse valor sobe para 75%. fa) nos últimos 150 anos. As principais emissões decorrentes de atividades humanas são resultados do uso excessivo de combustíveis fósseis em processos industriais, geração de energia e transporte, desmatamento, expan-

são urbana e agricultura. Os gases que estão nas primeiras colocações do ranking de poluição são: dióxido de carbono - CO2 (resultante da queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e derivados),

metano - CH4 (produzido pela decomposição da matéria orgânica, geralmente proveniente de aterros sanitários e lixões) e óxido nitroso - N2O (produzido a partir de compostos agrícolas, pela atividade das bactérias no solo). Desde então, discussões e estratégias sobre como reduzir o potencial do efeito estufa tomaram frente no combate ao aquecimento global. É importante ressaltar que o efeito estufa é um fenômeno natural e essencial para a manutenção da vida no planeta. Os gases de efeito estufa são responsáveis por capturar o calor, o que permite refleti-los na atmosfera. Porém, o aquecimento global, assunto em pauta na mídia, nas conferências e nos encontros mundiais sobre o meio ambiente, nada mais é que o aumento significativo da concentração desses gases na superfície atmosférica, resultado de atividades antrópicas (humanas). Ainda segundo dados do IPCC, a temperatura da Terra está 0,7ºC mais quente em relação ao que era há 140 anos, e é responsável pelos eventos climáticos que têm ocorrido em todo

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Metas do Protocolo de Quioto O Protocolo de Quioto foi criado em 1997, durante a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 3), em Quioto, no Japão. O tratado internacional é um acordo estabelecido por 166 países, cujo objetivo é implantar medidas para diminuir a emissão de GEE. Foi determinado que os países desenvolvidos e grandes poluidores reduzam em 5,2% a poluição ambiental provocada pelos GEE (com base em dados de 1990). O prazo para o cumprimento do primeiro período de compromisso é entre os anos 2008 e 2012. Brasil, China e Índia, considerados pelo tratado países em desenvolvimento, não possuem meta de redução de emissão e, portanto, não são os maiores responsáveis pelos estoques de GEE na atmosfera do planeta. A poluição acumulada ao longo dos anos, entre a revolução industrial e os

32

dias de hoje, é conseqüência do elevado crescimento dos países desenvolvidos. Os países que mais emitem CO2 e representam 76% do total de emissão são: Estados Unidos, Rússia, Japão, Alemanha, Reino Unido, Canadá, Itália e China. Na época da assinatura do tratado, o considerado maior poluidor ficou fora da obrigação de redução de emissão. Para os Estados Unidos, ter qualquer compromisso em relação à produção de gases de efeito estufa, seria prejudicial ao seu crescimento econômico. Vale destacar que agora quem mais polui é a China. Devido ao disparo de seu crescimento econômico, passou a ser responsável por 24% das emissões globais de dióxido de carbono. Os EUA estão em 2º lugar, com 22%. União Européia, Índia e Rússia produzem, respectivamente, 12%, 8%, e 6%.

O acordo em nível mundial procura estabelecer metas aos países desenvolvidos quanto às emissões de alguns gases poluentes, que ajudam a provocar o aumento da temperatura na atmosfera.


o mundo, como enchentes, furacões e tornados. Cenários futuros, até 2050, que simulam sociedades com um alto processo de industrialização global e com crescimento econômico acelerado, ou sociedades preocupadas com a sustentabilidade ambiental e soluções econômicas sociais, foram criados e estudados pelo IPCC para tratar a questão do futuro da humanidade em relação à mudança global do clima como otimista ou pessimista. Para Gustavo Mozzer, assessor técnico da Coordenação de Mudanças Globais do Clima, do Ministério da Ciência e Tecnologia, energia é o ponto chave na tentativa de se estabilizar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, pois vivemos numa sociedade eminentemente dependente do petróleo. “Hoje não existe substituto nem a médio, nem em longo prazo para o petróleo, e o aquecimento global está intrinsecamente relacionado ao nosso modo de viver”, afirma Mozzer. Brasil, MDL e o mercado

Um dos mecanismos de mercado cria-

dos em 2003 (artigo 12 do Protocolo de Quioto) para diminuir o aquecimento global é fruto de uma ideia brasileira. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) contribuiu para que os países desenvolvidos, com meta de redução de emissões de GEE, possam comprar créditos de carbono gerados a partir de MDLs feitos em países em desenvolvimento, sobretudo Brasil, China e Índia. Os projetos de MDL sempre envolvem metodologias aprovadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), que visam a redução da emissão de GEE e a difusão de tecnologias ambientalmente saudáveis. Para Roulien Paiva Vieira, mestre em economia ambiental e diretor técnico da Mar Assessoria Ambiental e Internacional, as pessoas precisam em primeiro lugar entender que o processo de créditos de carbono é um processo meio e não fim. “Trocar combustível fóssil por renovável é exercer uma atividade, que ao trocar por créditos de carbono, ganha-se o direito econômico no processo de implantação da atividade, e no auxílio

“Trocar combustível fóssil por renovável é exercer uma atividade que, ao trocar por créditos de carbono, dá direito econômico no processo de implantação da atividade e no auxílio da manutenção do projeto” Roulien Paiva Vieira, mestre em economia ambiental da manutenção do projeto”, explica. Ele afirma ainda que se no próximo regime climático fosse imposto a mesma meta de redução de emissão para a China, a Ìndia, a Rússia e o Brasil, o nosso país não teria condições econômicas de suportar tal exigência pela parte de infraestrutura. “Do ponto de vista industrial, sistemas de transporte e de energia, se o Brasil desenvol-

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

F O T O DIVULGAÇÃO

33


Mercado Oficial de Carbono 1 - Comércio de emissões Venda ou transferência de redução ou remoção de emissões entre países desenvolvidos.

Países desenvolvidos

2 - Implementação conjunta Projetos nos quais créditos e dívidas são somente negociados entre países desenvolvidos. Conhecida como contratos de gaveta. Um polui outro não, mas dividem a conta.

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

3 - Mecanismo de desenvolvimento limpo Projetos somente elaborados por países em desenvolvimento, porém negociados com os desenvolvidos para o cumprimento das metas de redução. Nesse mecanismo de gases poluentes entram, por exemplo, o Brasil, a Índia e a China, que vendem créditos aos países desenvolvidos para que reduzam suas emissões em 5,2%, referentes às emissões geradas em 1990. Essa meta deve ser cumprida até 2012, quando acaba o primeiro período de compromisso do Protocolo.

ver mais e crescer, vai gerar uma quantidade maior de GEE para a camada de ozônio”, diz Roulien. O especialista também critica quem fala que o mercado de créditos de carbono veio somente para dar o direito de poluir aos países desenvolvidos. “Enquanto a Alemanha e a Inglaterra têm capacidade de desenvolver e compensar a poluição gerada dentro do próprio país, o Brasil precisa de ajuda financeira para que esse processo de crescimento e desenvolvimento sustentável ocorra, e isso pode ser resolvido pela negociação dos créditos de carbono. Então não é simplesmente uma postura de “estamos dando o direito a outros países de poluir”. É uma questão de incentivar financeiramente o crescimento sustentável de países em desenvolvimento, enfatiza Roulien. Já Guarany Osório, coordenador da Campanha de Clima do Greeanpeace Brasil, acredita que o mercado de

34

Os países que mais poluem, os industrializados, têm três alternativas oficiais (veja no quadro à esquerda) para cumprir a meta de redução de emissão dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera por eles.

carbono pode aumentar a eficiência econômica de algumas reduções de emissões, mas ele não é suficiente para alcançar as reduções globais de GEE necessárias. Afirma ainda, que o mercado de carbono deve ser suplementar aos esforços internos dos países para reduções de emissões. Como ambientalista, Osório explica que esse novo mercado deve ser estruturado para garantir que o desenvolvimento sustentável realmente seja efetivo. “O mercado de carbono sozinho não é capaz de dar o suporte suficiente e de transferência de recursos aos países em desenvolvimento para adotarem medidas de mitigação e de adaptação. É necessário que sejam desenvolvidos também mecanismos de financiamento para que se alcance realmente a transferência financeira visando a mitigação, a adaptação e a redução do desmatamento, conforme propostas que o Greenpeace vem desenvolvendo”, diz. Segun-

do Osório, as negociações internacionais no combate às mudanças climáticas apresentam avanços. Entretanto, o aperfeiçoamento do atual sistema, a entrada dos EUA, o comprometimento dos países em desenvolvimento (principalmente Brasil, China e Índia) em reduzir suas emissões e o aumento dos índices de redução para atingir os 50% até 2050, são objetivos extremamente urgentes. Críticas à proposta

Os projetos voltados ao Protocolo de Quioto geralmente visam a redução ou compensação dos gases de efeito estufa, e não a eliminação do que ainda é produzido. A questão problemática é o excesso de CO2 já existente na atmosfera. Para o presidente da Carbono Brasil Tecnologia e Serviços Ambientais, Rui Fernando Muller, esse é o grande equívoco do tratado internacional. “O problema deve ser tratado na sua origem para que realmente


Países em desenvolvimento

Os projetos para gerarem créditos de carbono precisam passar por etapas exigidas pela ONU para assim serem aprovados.

haja efeito”, afirma Rui. Segundo ele, a metodologia da ONU é muito complexa e pesada. As empresas não conseguem se habilitar e a demora é grande para o projeto ser aprovado. Já para o pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, Nito Debacher, é um grande avanço que o Protocolo de Quioto levante o problema dos gases de efeito estufa. Porém, sugerir que o mercado de créditos de carbono irá ajudar a combater o aquecimento global é ilusão. “É uma idéia simples de fazer um toma lá dá cá Eu tenho aqui uma montanha de carbono e você não tem nenhuma, então eu passo um pouco para você e ficamos felizes. Mas isso não resolve o problema. É paliativo”, garante o químico. Debacher afirma ainda que o mercado de créditos não é uma estratégia eficaz para solucionar o problema da poluição no planeta, pois a Terra é finita. “Se eu produzo duas toneladas de CO2 e a África não produz nada, e

nós dividimos essa conta, a média dos países abaixa, mas o total de CO2 no planeta não. A Terra continua com a mesma quantidade total”, explica. O pesquisador diz que os projetos elaborados para o mercado de créditos de carbono não são voltados para eliminar o gás. Exemplo disso são os projetos de aterros sanitários, que propõem reduzir metano, mas continuam jogando carbono na atmosfera. “Ganha créditos, mas o problema continua. A verdade é que o mercado de créditos de carbono foi criado simplesmente para amenizar o problema de quem está produzindo muitos gases de efeito estufa”, completa. O valor das florestas preservadas

Preservar as florestas e mantê-las em pé ainda não é considerado um mecanismo para gerar créditos de carbono. Motivo relevante quando o assunto é cumprir metas de redução de emissão para os países desenvolvidos.

“Sugerir que o mercado de créditos de carbono irá ajudar a combater o aquecimento global é ilusão. É uma ideia simples de fazer um toma lá dá cá. Eu tenho aqui uma montanha de carbono e você não tem nenhuma, então eu passo um pouco para você e ficamos felizes. Mas isso não resolve o problema. É paliativo” Nito Debacher, pesquisador da UFSC

35

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Nos países em desenvolvimento, as negociações só podem ser feitas pelo MDL, terceiro mecanismo. Esse mercado é extremamente criteiroso e rigoroso.


PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Sem créditos, não há interesse econômico em evitar o desmatamento. Em contrapartida, alianças de entidades não governamentais e empresas privadas trabalham em prol do desmatamento evitado, e bolsas de valores, como a Chicago Climate Exchange (CCX), investem em projetos voltados à preservação das florestas no mercado voluntário. O desmatamento representa hoje de 15% a 20% das emissões de gases de efeito estufa no planeta, segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Sendo que, no Brasil, esse valor sobe para 75%. Já é uma boa razão para se investir na manutenção das florestas e frear sua derrubada. No último relatório do IPCC, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a diminuição do desmatamento tropical nos próximos anos é o investimento mais barato entre todas as opções para diminuir as emissões mundiais, pois não há impedimentos técnicos. O potencial econômico da venda de créditos de carbono das 34 unidades de conservação do Amazonas, por exemplo, pode chegar a 100 milhões de dólares por ano, segundo dados da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Os pesquisadores Josep Canadell e Michael Raupach, do Global Carbon Project, afirmam no artigo “Managing forests for climate change mitigation” (Manejo das florestas para a mitigação das alterações climáticas), publicado em junho de 2008 na revista Science, que a redução das emissões decorrentes do desmatamento e da degradação tem o maior potencial para “contribuir de maneira custo-efetiva” para a proteção do clima no combate ao aquecimento global. Eles destacam que 4 bilhões de hectares de ecossistemas florestais, o que corresponde a 30% da área terrestre do globo, estocam o equivalente a duas vezes a quantidade de carbono na atmosfera. Porém, o maior impasse no palco das discussões é quem vai pagar a conta da redução de emissão sem os

36

B ILL SILVERMINTZ

“A diminuição do desmatamento tropical nos próximos anos é o investimento mais barato entre todas as opções para diminuir as emissões mundiais, pois não há impedimentos técnicos”.

Dados do último relatório do IPCC

créditos no bolso. Afinal, custa caro preservar as florestas, combater a exploração ilegal de madeiras e apoiar usos alternativos para agricultura. De 330 milhões a 1 bilhão de dólares é o custo estimado, levantado a partir dos atuais preços de carbono no mercado, num estudo recente caso cessem o desmatamento em quase todo o estado do Amazonas e em dois terços das terras de Mato Grosso. Essa conta corresponderia a reduzir 360 milhões de toneladas de gases de efeito estufa em dez anos, por exemplo. Outro estudo do Center for International Forestry Research (Cifor), realizado pelo economista Sven Wunder em parceria com Jan Börner, economista agrícola, indica ainda que a conta para se evitar a emissão de 6,3 bilhões de toneladas de carbono na Amazônia brasileira, chegaria a 8,2 bilhões de dólares. A visão então fica clara. De um lado está quem defende o crédito de carbono para aqueles que mantiverem as florestas sem queimadas e derrubadas, e de outro a cúpula de cientistas e políticos que consideram inviável pagar a conta do desmatamento evitado em qualquer parte do planeta sem o mecanismo de mercado regulado para gerar os créditos. Entretanto, no mercado vo-

luntário existem vários projetos em tramitação, mas poucos geram créditos. O preço pago pelos compradores que não estão no mercado de Quioto na tonelada de redução varia entre 1 a 3 dólares, sendo que nas bolsas voluntárias, quando o projeto é aprovado, esse valor é de 6 a 7 dólares. Comparando ainda ao mercado oficial de créditos de carbono, no caso do projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, o valor sobe para 31 dólares. Os reflorestamentos e florestamentos são aceitos como mecanismos de flexibilidade na redução dos gases de efeito estufa. Nesse caso, entram no cenário de linha de base, ou seja, com metodologias aprovadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). O desmatamento evitado, não. Ou ainda não, como afirmam seus defensores. Para Mariano Colini Cenamo, secretário executivo da ONG Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas), o mercado de créditos de carbono é uma ferramenta essencial para a inclusão do desmatamento evitado no mercado regulado de créditos, “principalmente como forma de envolvimento do setor privado nos esforços mundiais de redução de GEE”, no qual também se destacam as iniciativas voluntárias”, afirma. “É importante respeitar os aspectos relacionados à adicionalidade e manutenção dos objetivos de longo prazo do Protocolo de Quioto, pois isso é garantir que a emissão de créditos não gere um “balanço neutro” em termos de redução de emissões. As emissões atingidas por créditos devem estar sempre acompanhadas de metas mandatórias aos países industrializados”, enfatiza. Cenamo também destaca programas de fundos criados a partir de projetos voltados à proteção das florestas que ajudam comunidades carentes. “A geração de benefícios para as comunidades é sempre ponto fundamental em qualquer projeto relacionado ao uso da terra. O Programa Bolsa Floresta, da Amazônia, é exemplo disso”, diz o ambientalista.


Depois de crescimentos espetaculares nos últimos três anos, a dúvida agora é se o mercado de carbono terá fôlego para enfrentar os reflexos da crise econômica e continuará em ascensão em 2009. Especialistas deixam claro que o volume de negociações seguirá em alta, porém o ritmo será bem menor do que o alcançado no ano passado, quando o aumento, em termos financeiros, foi de 84% em relação a 2007. As negociações no mercado de carbono mundial chegaram a US$118 bilhões em 2008. O principal impacto da crise econômica está relacionado com as emissões das empresas que participam no sistema de comercio de emissões da União Européia (EU ETS). Com a desaceleração da produção, há uma diminuição no volume de gases do efeito estufa lançados na atmosfera. “Isto significa uma redução na demanda por licenças de emissões e, portanto, no seu preço”, alerta o gerente sênior de créditos de carbono da filial latino-americano da Suez Energy, Philip Hauser. No entanto, em um relatório de análise do mercado para este primeiro trimestre do ano, o banco francês Societe Generale afirma que as emissões da União Européia ficarão acima das cotas distribuídas no EU ETS. A previsão é de falta de permissões (chamadas de EUAs), porém a importação de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs) deve ser suficiente para suprir esta demanda. Com isso, nenhuma redução de emissões precisará ser promovida dentro das indústrias e prestadoras de serviço do bloco. Hauser diz que, para fazer uma avaliação do mercado, é preciso entender os fatores que influenciam três variáveis: o volume de créditos de carbono disponíveis, os preços e o giro. “No caso das permissões, não acho que haverá grande impacto no volume ou no giro. Portanto o montante negociado em 2009 deve ser inferior ao do ano passado, simplesmente porque o preço médio deve se manter bem abaixo da média do ano anterior”. Apesar de um pouco tardio se comparado com o início da crise, colapso dos preços das RCEs e das EUAs foi comparável ao que aconteceu com outros ativos financeiros por todo o mundo, assim como o aumento da volatilidade que atingiu o EU ETS. Como em qualquer bolsa de valores, com o grande volume de ofertas, o preço dos créditos de carbono está caindo vertiginosamente desde o início do ano. Em fevereiro foi registrada uma baixa recorde de • 8,05, o menor valor desde a criação do EU ETS, que já alcançou • 31 no ano passado.

OPINIÃO

Comércio de carbono não ficará imune à crise em 2009

F O T O DIVULGAÇÃO

PAULA SCHEIDT Editora do portal Carbono Brasil

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

BRASIL E PROJETOS MDL Para os desenvolvedores de projetos de redução ou mitigação de emissões de gases do efeito estufa sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que estão nos países em desenvolvimento, esta baixa traz o risco de inviabilidade financeira para o projeto e, mais do que isso, leva os proprietários a preferirem segurar os créditos à espera de uma futura recuperação do mercado O diretor comercial da consultoria Mundus Carbo, Felipe Bittencourt, ressalta que os países com metas a cumprir no Protocolo de Quioto estarão mais dispostos a pagar um preço maior pelas RCEs quanto mais próximo de 2012, quando termina o acordo climático. “Por isso, a tendência é que os projetos sejam vendidos a médio prazo”, explica Bittencourt.

37


PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

INCLUIR

Tecnologias Sociais e

E

xistem no Brasil diversas experiências em inovação técnica e social. Entretanto, nem sempre são devidamente conhecidas. A fim de registrar e difundir possíveis soluções para o incremento da produção na agricultura familiar, o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) criou o Fórum de Difusão Científica sobre Tecnologia Social. O Fórum é virtual, permitindo a constituição de ampla rede de participantes. A idéia é disponibilizar estudos, relatos e experiências. Ao longo do tempo, será organizado um sistema de gestão e difusão de conhecimento sobre inovação e Tecnologia Social na agricultura familiar em assentamentos e nos Territórios da Cidadania. Por meio de uma chamada de trabalhos, o Nead/MDA reuniu contribuições de pesquisadores, gestores, técnicos em redes de assistência e extensão e assessorias populares. Tais informações têm a função de gerar as bases conceituais e empíricas do Fórum. Os trabalhos foram habilitados por uma comissão técnica, com base nos seguintes critérios: efetiva adesão social e mobilização, potencial de inovação sociotécnica pelos próprios atores e de construção de redes, associação, cooperativa e organização de empreendimento econômico solidário. Em fevereiro foram divulgados os 50 trabalhos habilitados. Veja ao lado alguns exemplos .

Fórum de Difusão Científica www.nead.org.br/tecnologiassociais http://comunidades.mda.gov.br

38

de Guaraciaba ia nc riê pe ex a e: ad sid er iv Kit D para o autoconsumo na produção de alimentos saúde das pesSanta Catarina para a melhoria da rgiu su de da rsi ve Di t nte. O cultivo de A ideia do Ki soas e do ambie sociaAs da o içã cie s m an ej ad as titu pé ns es di fe re nt es a partir da co cro Mi da to en im re s co ns er va e ção de Desenvolv pe lo s ag ric ul to , em es or Fl o ersidade enRi a bio fic plia a agro div am bacia Hidrográ s. da cia so as ílias ndo a preserva2004, com 145 fam contrada, estimula tural. nco um r po o na O Kit é formad ção do equilíbrio ses de diferentes ição e troca de bu tri dis A junto de semente m dis bé e m ta s s ida oduz família mentes entre as espécies locais pr riculaag pli de am s e o ília m çã fa en tribuídas entre provoca a manut odução existenpr is a cia r so ula s tim õe es laç ção das re tores. Visa ra autoconsumo. des, bem como de alimentos pa tes nas comunida ra pa ta en m rra s saberes pofe do a o a disseminaçã Além disso, é um be so a e a ranç os ao cultivo e promover a segu pulares relacionad entes. O asos er nd ee pr m sem co conservação de rania aliment ar, ad e e lid ria to rri é de st ac ad o, te da ico el em en to s ct o ec on ôm pe o m co ia og ec ol mílias produzem pois quando as fa pr om ov er a ag ro nv ol vi m en to se oc or re um a de óp rio al im en to , es tra té gi a do pr o re ia, nc a po r m ei o da experiê m el ho ria da re nd sustentável. Essa construída de e s com compras alizada no Brasil redução de gasto contriite rm pe usão do Kit Di, dif iva A at em mercados. forma particip e a gic oló ec são itada no meio ru buições na dimen versidade é facil riôag on a ec m l, co cia ão so e laç ral devido à sua re de sustentabilidad st itu cio na l, ge oas t ambém pode m ica , po lít ico -in cultura familiar, m bano onde se ur ocorrer no espaço gráfica e cultural. ao Kit intertaliças, as frutího as m As ações ligadas ca sta de ntas exóticas. e o consumo de feras nativas e pla gram a produção os xic tó ro ag de al im en to s liv re s (49) 3645-0249 a gri.sc.gov.br / ep a@ ad gu o: at Cont

Organização dos catadores de materiais reciclados de Manaus Amazonas O projeto Inovar, Empreender e Reciclar surgiu de chamada pública, no âmbito da Rede de Tecnologia Social (RTS). Discute a organização dos catadores e catadoras no cenário das preocupações ambientais, utilizando os princípios da economia solidária para organizar, criar empreendimentos que pro-

movam transformação social, inclusão e melhoria econômica. O projeto sempre teve como meta criar oportunidades para os catadores se organizarem em rede de comercialização. Ao longo de dois anos, a equipe realizou troca de saberes na territorialidade da cadeia dos re-


desenvolvimento rural Projeto Rede Ribeirinha de Comunicação

FOTOS DIVULGAÇÃO

Amazonas O projeto Rede Ribeirinha de Comunicação tem, como objetivo, a ampliação e o fortalecimento da atuação de jovens das comunidades em ações educativas por meio de sua capacitação como comunicadores populares. Eles são responsáveis pela produção de entrevistas e notícias para a comunidade e a transmissão destas nas Rádios Postes e no programa de rádio Ligado no Mamirauá, alcançando uma grande extensão de ouvintes na Amazônia. As ações do projeto alcançam populações tradicionais ribeirinhas, moradoras e do respectivo entorno, de duas Unidades de Conservação de Uso Sustentável (as Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã), localizadas no Estado do Amazonas. As atividades foram iniciadas em 2006, pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A rede de informação interliga 17 comunidades através do “O Comunicador”, jornal comunitário idealizado pelos comunicadores populares. Nove comunicadores de diferentes comunidades possuem rádios gravadores e enviam informações e entrevistas ao programa Ligado no Mamirauá. Outras três comunidades - Boa Esperança, Boca do Mamirauá e Porto Braga utilizam as Rádios Postes, possibilitando um espaço de fortalecimento da organização e da cidadania, por meio do acesso e construção de informações sobre a conservação da floresta amazônica. É importante lembrar que a população envolvida possui baixo índice de escolaridade, um grande desafio para o desenvolvimento de projetos desta natureza. A proposta do projeto inclui o uso de energia fotovoltaica, através de placas solares, uma vez que essas comunidades ainda não foram contempladas com a universalização da energia elétrica.

ciclados em Manaus. Pesquisouse as principais fontes geradoras, o perfil dos catadores, os atravessadores e as empresas recicladoras. Foi possível trabalhar com mais de 200 catadores, sendo que 109 deles participaram de capacitações, 68 realizam comercialização em rede e 58 encontramse organizados em duas associações: Arpa e Aliança. Tal organização é considerada um dos prin-

cipais resultados obtidos. O projeto também viabilizou o conhecimento das rotas de comercialização dos produtos reciclados em Manaus, incluindo a sua cadeia produtiva, desde a catação até a reciclagem, assim como os preços praticados e a sua constante variação. Os resíduos sólidos são commodities. Como metodologia para a implementação da tecnologia da organização do trabalho social, foram rea-

lizados cursos, oficinas, reuniões e acompanhamento sistemático aos livros, controles internos e documentação do empreendimento. Houve, ainda, orientação técnica sobre as condições de armazenamento e manuseio dos resíduos coletados. Contato: antonieta@vivax.com.br (92) 3648-6134

39

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Contato: thiago@mamiraua.org.br / (91) 3222-7800


INCLUIR

Inovação sociotécnica e Tecnologia Social no processamento de frutas nativas da Caatinga

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Bahia A Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc) desenvolve ações apoiadas na convivência com o Semiárido brasileiro, com uma proposta de contextualização do saber produzir, viver e conceber o bioma a partir de suas limitações e potencialidades. A Coopercuc, por meio de seu programa de aproveitamento e processamento de frutas nativas da caatinga, coloca em prática uma das diretrizes da convivência, que é a conservação e utilização sustentável da biodiversidade e da agro biodiversidade da região. Utiliza-se ainda de ações sociotécnicas (educação, formação e comunicação) com agricultores familiares cooperados para manter a rede de produção entre a fábrica central e um conjunto de minifábricas estabelecidas nas comunidades rurais dos três municípios de sua atuação. A mobilização de dezenas de agricultores familiares se faz tanto para viabilizar a sustentabilidade dessa atividade quanto para estimular o bom uso da biodiversidade da caatinga. Nesse sentido, promove uma nova relação entre comunidades rurais e o patrimônio físico, cultural e simbólico do semiárido . O modo de produzir aponta formas de Tecnologia Social desenvolvidas pela Cooperativa, num sentido de afirmar uma diferença no resultado dos produtos, inserí-los no mercado orgânico, sustentável e solidário e afirmar a proproposta de convivência como modelo de desenvolvimento rural. A produção vai desde a coleta dos frutos, o manejo na fabricação dos produtos (doces, sucos e geléias) até a água que se utiliza, que é proveniente das cisternas de captação da água de chuvas. Contato: luzidourado@hotmail.com (75) 9952-1400

40

Habitação social, rural e popular Rio Grande do Sul A questão da moradia popular é um dos mais graves problemas sociais brasileiros. O projeto apropria uma moderna tecnologia arquitetônica e construtiva à necessidade de prover solução de baixo custo para a construção de habitações populares. O objetivo é reduzir o déficit habitacional e atender demandas dos movimentos sociais vinculados à agricultura familiar, aos assentamentos da reforma agrária, aos Territórios da Cidadania, às comunidades carentes localizadas em territórios rurais e periferias urbanas e aos movimentos populares organizados sob regime cooperativado e associativista. O módulo habitacional proposto reúne grande simplicidade

construtiva e baixo custo, o que permite ampliar o nível de implementação das políticas de habitação popular a serem desenvolvidas por Estados, por entidades civis da sociedade organizada e pelas redes sociais já mencionadas. O projeto em questão oferece uma proposta de uma habitação com 45 m² de área construída, elaborada com modulação arquitetônica, inovação tecnológica e racionalização no uso dos materiais. O valor investido ou financiado na construção por unidade habitacional proposta é de cerca de R$ 10.000,00 (dez mil reais). A proposta arquitetônica contempla funcionalidade e lay out alternativo, permitindo a ampliação ou exclusão de peças.

Contato: margareteg@ufpel.edu.br / (53) 3275-7236

Aproveitamento de resíduos de sisal Bahia mentou ações A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical imple ção e forpromo na as junto às unidades de produção familiar, focad local e saber do te resga com res, mação de agricultores multiplicado o. técnic saber sua integração com o apresentada por O projeto teve, como ponto de partida, a demanda ada no Selocaliz Fé, Boa mulheres moradoras da comunidade rural DominSão de ípio munic no se situamiárido baiano. A comunidade maior de to produ O sisal. do cultivo no a basei gos, cuja economia se nbarba s, corda o de valor é a fibra de suas folhas, base para o fabric raexplo eram folhas as s tes, tapetes etc. Apesar desse uso, apena l, chamado de “sapadas, abandonando-se no campo o bulbo centra culo floral. pedún o é que , “seta” a e ta”, pela população local dos resíduos do ento eitam aprov de de bilida possi a Verificou-se agem, consjardin e gismo sisal na elaboração de produtos para paisa a mãoeitaria aprov que mica econô de tituindo-se em uma nova ativida nda. dema r meno de os períod de-obra familiar nos realizadas ações Consultados os agricultores e agricultoras, foram com a finalidaitação capac de sensibilização seguidas de cursos de mínimo, era ento ssam proce um de de de demonstrar que, por meio a e de alto rústic a belez de s objeto em os resídu possível transformar valor agregado. 5760 Contato: graca@cnpmf.embrapa.br / (75) 3621-


Evento internacional debate papel da tecnologia para a inclusão social

G

estores de instituições públicas e privadas, lideranças comunitárias, empreendedores sociais e representantes de organizações de pesquisa de oito países (Argentina, Brasil, Canadá, Espanha, México, Peru, Uruguai e Venezuela) participarão, entre os dias 15 e 17 de abril, em Brasília/DF, da 2ª Conferência Internacional de Tecnologia Social. Fundada em 2005, a RTS reúne, articula e integra um conjunto de 695 instituições com o propósito de contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável mediante a difusão e a reaplicação em escala de tecnologias sociais, que compreendem “produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social”. Integram a Rede organizações não governamentais, centros de pesquisa, cooperativas, empresas, escolas de ensino médio, fundações e institutos, sindicatos, universidades e órgãos de governo nos níveis federal, estadual e municipal. As instituições mantenedoras da RTS já investiram, desde a fundação da Rede, mais de R$ 220 milhões em TSs geradoras de trabalho e renda em áreas como agroecologia, reciclagem, bioenergia, incubação de empreendimentos solidários e captação de água da chuva para a produção de alimentos, entre outras. Os recursos foram aplicados na Amazônia Legal, no sem iárido e em periferias de grandes centros urbanos. Entre os temas a serem debatidos na 2ª Conferência Internacional, estão as relações entre ciência e democracia, as novas oportunidades abertas às tecnologias sociais diante da crise econômica mundial e a necessidade de aproximar o conhecimento científico dos saberes populares. Os idiomas oficiais da Conferência serão português, inglês e espanhol. Du-

rante o evento, estarão à disposição dos participantes equipamentos de tradução simultânea. A inscrição custa R$ 70. A 1ª Conferência Internacional de Tecnologia Social foi realizada de 17 a 19 de novembro de 2004, em São Paulo (SP), patrocinada pela Fundação Banco do Brasil, Petrobras, Ministério da Ciência e Tecnologia, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti). Durante três dias, estiveram reunidas cerca de 400 pessoas, em mesas-redondas e outras atividades, para discutir conceitos e apresentar propostas de operacionalização da RTS, que viria a se formar no ano seguinte. 2º Fórum O 2º Fórum Nacional da RTS será realizado também em Brasília, entre os dias 13 e 15 de abril. Com caráter consultivo e propositivo, o encontro orientará o planejamento da Rede para 2009 e 2010. Está previsto para este fórum a realização dos encontros regionais. O objetivo é articular debates sobre o papel das tecnologias sociais para o desenvolvimento das cinco grandes regiões do país, de acordo com suas respectivas peculiaridades e potencialidades. A programação prevê ainda momentos de partilha como forma de estímulo à interação entre as instituições associadas à RTS. O último dia do Fórum será destinado à discussão em eixos temáticos, incluindo a articulação de tecnologias sociais à geração de trabalho e renda nos seguintes temas: Segurança Alimentar e Agroecologia; Energias Renováveis; Cidades Sustentáveis; Água e Agroextrativismo.

http://conferencia.rts.org.br http://forum.rts.org.br

41

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Com o tema “Caminhos para Sustentabilidade”, o encontro trará palestras e mesas-redondas, além de painéis onde serão apresentadas experiências nacionais e internacionais no campo das Tecnologias Sociais (TSs), tanto na área urbana como na rural.


Dilema das águas

Agricultores observam projeto para futuros lotes....

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

... e o lugar de suas futuras casas é decidido em sorteio nos seus chapéus

42

J

úlio Pavese é sociólogo por formação e fotógrafo por opção. Prestes a se aposentar, depois de trabalhar por mais de 35 anos com populações atingidas por barragens e usinas hidrelétricas, acumula um acervo fotográfico privilegiado dos rincões do Brasil. Neste ensaio, mostra a realidade de uma transição, ocorrida nos anos 80, na Bahia. Na época, para a construção da barragem Pedra do Cavalo, cuja promessa era de acabar com qualquer possibilidade de inundação nas cidades ribeirinhas de São Félix e Cachoeira, na Chapada Diamantina, sumiu do mapa uma das primeiras usinas hidrelétricas do país. A Usina de Bananeiras, que entrou em operação no início do Século XX, era um ícone da energia elétrica até então. Mas dela nada sobrou para contar a história.


ENSAIO PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

As cidades de São Félix e Cachoeira, divididas pelo Rio Paraguaçu e ligadas pela ponte inaugurada por Dom Pedro, foram o cenário de progresso e tristeza das famílias que tiveram que ser removidas às pressas. Abaixo, morador posa orgulhoso em frente à Casa de Máquinas da antiga usina. Hoje toda esta região está embaixo d’água.

43


PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

O maquinário que não foi vendido “a preço de banana” está há 70 metros da lâmina d’água do atual reservatório da Pedra do Cavalo. E além da perda material, o fotógrafo/sociólogo registrou a vida das dezenas de famílias que deixaram suas casas, algumas até sem necessidade. “Tivemos que trabalhar rápido para salvar as pessoas, pois por um erro no manuseio das compotas da barragem, o lago que deveria levar um ano para encher, ficou praticamente com sua capacidade máxima em apenas dez dias. Precisamos de helicóptero para retirar famílias, ajudar doentes a sair de suas casas”, relembra Pavese. O que ficou para a história desta obra, no entanto, foi o efeito inverso. Em vez de conter inundações, as duas cidades ligadas pela ponte inaugurada pelo próprio Dom Pedro, ficaram totalmente embaixo d’água já no primeiro ano da construção. Depois, o problema foi sanado. Em 2005 a barragem, que ainda é a responsável pelo abastecimento de água à Região Metropolitana de Salvador, cedeu uma parte de sua estrutura para a construção da Usina Hidrelétrica Pedra do Cavalo.

44


45

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

ENSAIO


Lixo Zero: realidade ou utopia?

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Por Alessandra Mathyas

46

Há pouco mais de um ano em Florianópolis, a empresa Novo Ciclo Ambiental é exemplo de que lixo zero é possível. Em parceria com duas empresas – uma de comunicação e outra de energia elétrica – a Novo Ciclo está apostando na educação ambiental e atuando concomitantemente em quatro frentes: engenharia, design, marketing e educação. O mentor da ideia é o engenheiro Rodrigo Ribeiro Sabatini. Viajando pelo mundo, ele encontrou experiências muito interessantes e acredita que no Brasil é possível adotar medidas que aos poucos irão se tornar uma rotina. Como primeira orientação, está a eliminação das lixeiras. “Lixeira chama lixo e ninguém gosta de lixo. Quando algo vai para a lixeira, estamos inconscientemente dizendo: isso não é mais minha responsabilidade. Então, sem onde depositar seus resíduos, o cidadão precisa pensar o que fazer com eles” explica o engenheiro. E é aí que estão as primeiras ações da Novo Ciclo.

Para acabar com o descarte e dar um destino aos papéis velhos como revistas, jornais, livros e apostilas, a empresa apostou na Estante do Saber para uso em condomínios. Trata-se de um móvel simples e bonito, “decorado” com orientações ambientais, onde os moradores depositam o que antes iria para o lixo. Ali, segundo Sabatini, há uma experiência de troca muito interessante. “As pesF O T O DIVULGAÇÃO

É possível pensar em lixo zero, numa sociedade capitalista e consumista? Para muitos isso é impossível quando se sabe que cada pessoa produz em média um quilo de resíduos diariamente. Para outros, que tratam esses resíduos como material a ser reutilizável, o lixo zero deixa de ser uma utopia.


AMBIENTE

ILUSTRAÇÃO DANIEL WILDMAN

soas levam o material e trocam por outros disponíveis na estante. O que sobra – que não interessou às pessoas que circulam nesse ambiente – nós recolhemos e doamos para hospitais e escolas. Afinal, ninguém se incomoda de ir ao dentista e esperar pelo atendimento lendo uma revista velha!” Avenda para a reciclagem é a última opção para os papéis da Estante do Saber, que no mês de março, já estará implantada em 250 condo-

mínios da capital catarinense. Outra iniciativa da empresa é o coletor de pilhas. Para isso foi desenvolvido um recipiente com design moderno, que, assim como a Estante, divulga os apoiadores e atua como uma ferramenta de marketing direto. “Pilhas, lâmpadas e baterias são os resíduos que precisamos pagar para dar um fim. E são coisas que geralmente as pessoas não colocam no lixo comum, querem um lugar adequado

para depositá-las. Oferecemos esta oportunidade e, quando o “coletor” está cheio, encaminhamos à única empresa no país que trabalha com este tipo de material descartado”. Além destas ações já em andamento, entre as próximas iniciativas da Novo Ciclo está a instalação de Bibliotecas Livres, mantidas com o material arrecadado nas Estantes do Saber. Para a Novo Ciclo é preciso ir além do que pensar os resíduos

47

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

“Lixeira chama lixo e ninguém gosta de lixo. Quando algo vai para a lixeira, estamos inconscientemente dizendo: isso não é mais minha responsabilidade. Então, sem onde depositar seus resíduos, o cidadão precisa pensar o que fazer com ele”


F O T O DIVULGAÇÃO

como algo descartável, sem valor. “Na nossa casa, no nosso trabalho, tudo é selecionado, separado, organizado em algum lugar. Por que com o material que foi usado não continuamos com este procedimento? Já sabemos como se faz, basta praticar”, sugere Sabatini.

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

O que é lixo?

SAIBA MAIS EM: www.novocicloambiental.com.br www.naturvardsverket.se

48

“Temos que entender que nem tudo é lixo. O resíduo lavado, como latas, recipientes plásticos e de vidro, deixam de ser lixo e assim podem ser armazenados em lugares próprios sem o risco de infestação de insetos ou transmissão de doenças”, explica Rodrigo Sabatini. E por isso, defende o engenheiro, as pessoas podem manter este material em casa até que se dê uma destinação correta. Segundo ele, as pessoas têm boa vontade em ajudar, em preservar o meio ambiente, precisam dos instrumentos para isso.

Um exemplo ocorre na China. Lá não existe coleta de lixo. As pessoas entregam os seus resíduos e recebem dinheiro por isso. Incentivadas, não acumulam material nocivo à saúde em suas residências e, por fazerem o transporte até os pontos de coleta, separam e limpam os resíduos. É a política dos três Rs em prática: Reduzir, reutilizar, reciclar. Diferente daqui, onde os cidadãos pagam uma taxa anual pelo serviço ligado ao lixo e o poder público tem a obrigação de coletar e dar um destino final, via de regra os aterros sanitários, na China as pessoas buscam aproveitar ao máximo os materiais para não terem que ficar transportando. Afinal, tanto aqui quanto lá, o preço pelo material a ser reciclado é ainda baixo. Outro país que está caminhando para uma nova forma de tratar os resíduos é a Suécia. O governo decidiu acabar com os aterros sanitários. Sem ter onde depositar, governos e população terão que atuar com força para evitar o desperdício e no máximo reaproveitamento de materiais. Esforço que já começou. Cerca de 5% da energia consumida no país vem da energia térmica produzida com a queima de resíduos (as já conhecidas usinas de lixo). Associado a uma série de instrumentos legais de incentivo à sustentabilidade, o volume de lixo doméstico para aterros sanitários na Suécia diminuiu de 1.380.000 toneladas em 1994 para 226.000 toneladas em 2006. Não à toa que o país agora quer se ver livre dos lixões.


Subsídio à compra de imóveis:

oportunidade para a construção sustentável

Diretor executivo do Instituto Ethos

- O próprio conceito de habitação popular. Mesmo de baixo custo, a moradia para a população de baixa renda pode seguir padrões mais saudáveis, como pé direito mais alto, melhor aproveitamento da luz natural e mais arejamento. Os locais destas construções também deveriam ser escolhidos levando em conta a proximidade com equipamentos públicos já existentes (redes elétrica e de água, saneamento, transporte público, ruas já abertas e asfaltadas, escolas, comércio, etc), para evitar maior impacto ambiental - Utilização de materiais de menor impacto ambiental e de resíduos da própria construção, bem como reuso de água, aproveitamento de água da chuva e instalação de placas solares para aquecimento e iluminação; prioridade à madeira certificada; - Estímulo à inovação, usando as tecnologias sustentáveis já existentes (como telhado verde, torres de água que captam água da chuva e são movidas a energia solar, etc), promovendo pesquisas em construção civil para o surgimento de novas tecnologias. - Incentivo à participação desta população nos projetos de construção, priorizando o emprego e a capacitação dos trabalhadores que morem nas regiões beneficiadas pelos projetos. Com isso, a casa popular, além da moradia, vai garantir a inclusão social e o equilíbrio ambiental, tão necessários ao desenvolvimento sustentável que buscamos. O debate sobre os critérios socioambientais, infelizmente, nem começou e já perdeu espaço para a arenga “analítica” sobre os impactos desta iniciativa nas eleições de 2010.

49

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

PAULO ITACARAMBI

A crise vem trazendo de volta à economia a “mão forte” do Estado que, aliás, nunca foi “leve”, nem mesmo no auge do neoliberalismo. Os esforços eram destinados para outros segmentos, não o consumo direto. Agora, com o colapso do sistema financeiro e a escassez de crédito, os agentes públicos governamentais passam a atuar diretamente em setores que podem gerar trabalho, emprego e renda, mantendo a atividade econômica aquecida. Um dos setores mais visados, nesta estratégia de evitar recessão profunda, é a construção civil, pois gera milhares de empregos e mantém uma extensa cadeia produtiva funcionando, de fabricação de telhas a eletrodomésticos. No entanto este é talvez o setor que mais impacto ambiental cause. Por isso, atualmente, estão sob escrutínio da sociedade, em qualquer país, as grandes obras de infraestrutura e os projetos habitacionais. Não se trata de “não construir mais”, e sim de construir levando em conta o tripé da sustentabilidade. No Brasil, os governos também vêm atuando para evitar desemprego em massa e desaceleração econômica, incrementando obras públicas. O mais recente exemplo é a compra de imóvel subsidiada, novo plano que o governo federal anunciou em março sua parceria com os governos estaduais e municipais. Espécie de “Bolsa-Habitação”, programa dará subsídio para mutuários pobres (renda até R$ 1.345,00) , que pagariam entre R$ 15 e R$ 20 reais pela prestação da casa própria, sendo o restante coberto com recursos do orçamento da União. Os cálculos de especialistas em habitação indicam que 85% do déficit de 7 milhões de moradias do país concentram-se nesta faixa de renda. Por isso, o governo federal, além de subsidiar, quer a construção de unidades habitacionais mais baratas. Independente das controvérsias geradas pelo simples anúncio deste programa, vale a pena comentá-lo do ponto de vista da responsabilidade social empresarial. Este programa pode ser uma excelente oportunidade para os governos federal, estaduais e municipais est abelecerem um novo padrão de habitação popular, levando em conta quatro dimensões:


O papel do Fórum Social Mundial

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Por Alessandra Mathyas

50

D

e volta ao Brasil, a nona edição do Fórum Social Mundial levou para o norte do país uma cesta de temas que afligem a atualidade, com destaque para o futuro da Amazônia. Naquela semana quente de janeiro, o FSM em Belém foi palco para diversas tribos e envolveu mais de 130 mil pessoas. Lá se reuniram cinco presidentes latino americanos, entre eles o do Brasil. Pesquisadores, pensadores e militantes sociais debateram da crise econômica à produção de alimentos e energia renovável. Como sempre, um espaço rico de manifestações, e que mantém ainda viva, mais como in-

dagação que afirmação: Um outro mundo é possível? O colapso financeiro, que aos poucos dá sinais de melhora, foi para os participantes do Fórum Social, o “gancho” para mostrar que, ou se repensa os modos de consumo e de produção mundiais, ou não haverá outro mundo possível. E nisso, as opiniões foram as mais diversas. Para o pesquisador Michael Löwy, do Centre National des Recherches Scientifiques (CNRS) da França, é preciso pensar alternativas radicais, “que arranquem o mal pela raiz”. Essa é a resposta que vê às três grandes crises atuais apontadas por ele: a econômica, a alimentar e a ecológica. “A solução não é uma versão mais


AGENDA GLOBAL

FOTOS : FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/ ABR

1

2

1 - Participante assina uma faixa da delegação japonesa presente na UFPA para o primeiro dia dos debates e apresentações do FSM 2 - O representante do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti, fala durante debate no Fórum Mundial de Educação, realizado paralelamente ao FSM. Ao lado, a senadora Marina Silva e o teólogo Leonardo Boff

verde, mais civilizada, mais ética e regulada do modo de produção capitalista. Nós temos que pensar em uma alternativa revolucionária”, apregoa. Independente do teor rico dos debates, o que foi bastante questionada é a forma como o evento vem acontecendo. Verificou-se a necessidade de mudanças profundas na estrutura da organização. O sociólogo Emir Sader é um dos que quer a mudança. “Para os que acreditam que o fim do FSM é o intercâmbio de experiências, devem estar contentes. Para os que chegaram angustiados com a necessidade de respostas urgentes aos grandes problemas que o mundo enfrenta, a

3 - Participante da Guatemala faz uma evocação do espírito da terra em homenagem à Amazônia.

frustração, o sentimento de que se o FSM não quer se diluir na intranscendência, tem que mudar de forma e passar a direção para os movimentos sociais.” Este debate promete continuar. Afinal o próximo FSM será somente em 2011, “em algum país da África”. Esta indefinição já aponta algumas dificuldades. A agência Carta Maior mantém no seu sítio da internet, uma ampla cobertura sobre todas as edições do Fórum Social e destaca bastante esta encruzilhada que o evento se encontra. É uma boa fonte para comparações, verificar avanços, retrocessos, discursos e práticas. www.cartamaior.com.br

Emir Sader, um dos idealizadores do FSM

51

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

3


ENTREVISTA

entrevista ENTREVISTA 52

Sustentabilidade é bom negócio A jornalista paulistana Sonia Consiglio Favaretto encontrou na área de sustentabilidade um grande desafio profissional e pessoal. Especializada em comunicação empresarial, atualmente é a responsável pela área de Sustentabilidade e Comunicação Interna e Institucional do Banco Itaú e também Diretora Setorial de Responsabilidade Social e Sustentabilidade da Federação Brasileira de Bancos – Febraban. Nesta entrevista, ela fala das ações da Federação, dos avanços nesta temática e do reconhecimento dos clientes pela adoção de práticas sustentáveis no sistema bancário

PP: Como o tema “responsabilidade social” vem sendo pautado junto às instituições bancárias nacionais pela Febraban? Há um planejamento para este segmento orientado pela federação ou cada instituição define o que e como fazer?

... o banco tem que ter lucro com sustentabilidade. E as instituições estão preocupadas em prestar contas à sociedade

Sonia: A Federação não tem um papel regulador, mas de articulação, de alinhamento de conceito. Lá recomendamos, sugerimos, mas cada banco é autônomo em suas decisões. Na estrutura da Febraban há 25 comissões técnicas onde são abordadas todas as temáticas relativas às instituições. Estas comissões estão divididas em três Comitês. A comissão que dirijo faz parte do Comitê de Relações Institucionais. Todos os diretores de comissões trabalham voluntariamente na Federação, mas cada comissão tem um assessor técnico, este sim funcionário. Temos reuniões mensais e a cada dois meses nos reunimos nos comitês. No caso da Comissão de Responsabilidade Social e Sustentabilidade, temos um planejamento anual. Adotamos algumas ações, como o Café com Sustentabilidade, onde todo mês convidamos dois especialistas para discutir determinado tema. Cada “Café” gera uma publicação e então constituímos a memória do debate e enviamos a pessoas e instituições que buscam sempre novas informações. Isso é disseminar conhecimento. Na Febraban há um projeto próprio de operação direta, que é o Projeto Cisternas, em onze estados do semiárido nordestino. Nesta iniciativa, somos o principal investidor. Também desenvolvemos uma camp anha anual pelos direitos da criança e adolescente, estimulando


ENTREVISTA PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

F O T O DIVULGAÇÃO

Sonia Favaretto Superintendente de Sustentabilidade e Comunicação Interna e Institucional do Banco Itaú e Diretora Setorial de Responsabilidade Social e Sustentabilidade da Febraban

53


ENTREVISTA

entrevista ENTREVISTA 54

os bancos a repassar recursos aos conselhos municipais de infância. E também temos uma parceria com o Instituto Ethos nos Indicadores Setoriais de Responsabilidade Social. Está no planejamento deste ano a realização de workshops sobre os Indicadores para orientar e estimular os bancos a utilizarem este instrumento em sua gestão. Com ações como essas, acreditamos que estamos promovendo o tema e estimulando o sistema financeiro nacional a adotar cada vez mais ações de sustentabilidade.

Ainda não é uma prática corrente a escolha de um banco porque ele adota mais práticas sustentáveis do que outro, este é um caminho em evolução.

PP: Vários bancos já adotaram práticas sustentáveis. Alguns brasileiros, inclusive já têm destaque internacional neste quesito (como na edição 2008 do FT Sustainable Banking Awards e no relatório de fevereiro da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável – FBDS). Mas que trabalho vem sendo desenvolvido para que sustentabilidade e ganhos capitais possam andar lado a lado? Sonia: Há uns três ou quatro anos temos sentido que essa dicotomia vem perdendo a força. Agora já se entende que um não é oposto ao outro: o banco tem que ter lucro com sustentabilidade. E as instituições estão preocupadas em prestar contas à sociedade. PP: Como se dá a relação entre os bancos que tomaram iniciativas socioambientais de bastante relevância (Banco do Planeta do Bradesco, Uso consciente do dinheiro do Itaú, Sistema de Gestão Ambiental do Banco Real, o Desenvolvimento Regional Sustentável do Banco do Brasil, entre outros)? Você acha que ações como estas interferem na escolha dos clientes ao optar por um banco? Sonia: Ainda não é uma prática corrente a escolha de um banco porque ele adota mais práticas sustentáveis do que outro, este é

um caminho em evolução. Da mesma forma, por exemplo, quando vamos ao supermercado, muitas vezes é o preço que define a escolha do produto, e não características “ecológicas”. Este é um processo demorado, de mudança de atitude, mas que já começou. Hoje, os clientes já questionam o que os bancos estão fazendo e se sentem felizes quando sabem que o seu banco se preocupa com questões sociais e ambientais. Ou seja, as políticas de sustentabilidade sem dúvida ajudam da fidelização do cliente. Em relação à publicidade, cada instituição tem sua lógica, o que também ajuda na visibilidade de suas ações. Porém a eficácia das propagandas é questionada pelo público. O Instituto Ibope fez uma pesquisa onde cerca de 45% dos entrevistados disseram que, para elas, as empresas desenvolvem ações sustentáveis apenas para fazer marketing. Ou seja, ações como acesso ao crédito, financiamento sustentável e inúmeras importantes ações nesta área, para boa parte da população, não passam de discurso, quando, na verdade, as instituições que adotam tais práticas estão sim comprometidas com a causa. PP: E a “crise econômica internacional”.... isso tem influenciado nas ações de sustentabilidade dos bancos? Sonia: É nessa hora que se percebe se a sustentabilidade está arraigada na instituição ou apenas se é uma ação de marketing. Isso é mais fácil de avaliar em projetos sociais. Se a empresa está com uma agenda inicial de sustentabilidade, é possível que haja um freio. Isso tem acontecido. Mas esse momento difícil da economia mundial também serve para testar o comprometimento das ações com a sustentabilidade. Instituições que tratam a temática com uma visão estratégica, de médio e longo prazo, não cortam investimentos. No Itaú estamos mantendo, pois aqui a sustentabilidade tem valor agregado, faz parte da estratégia, do negócio. Toda crise


impacta, mas é um novo momento.

PP: O relatório anual de sustentabilidade do Itaú foi recentemente avaliado pela FBDS como um dos dez melhores do Brasil. Quais foram as sugestões desta fundação para a melhoria do relatório do banco? Sonia: Uma das principais recomendações da FBDS é que a sustentabilidade tenha um tratamento transversal ao longo do relatório, pois assim é na prática. Que ela não deve ficar “confinada” a apenas um capítulo, pois permeia as ações de todos os setores. PP: O que a fusão Unibanco/ Itaú significará para os projetos de responsabilidade social já em andamento? Sonia: Há naturalmente uma expectativa de mudança de patamar. Tínhamos duas agendas de sustentabilidade importantes e muito complementares. O microcrédito é um exemplo disso. Agora teremos uma atuação mais “par-

Café com Sustentabilidade e cartilha Orçamento Familiar: ações que disseminam conhecimento sobre desenvolvimento sustentável

...ações como acesso ao crédito, financiamento sustentável e inúmeras importantes ações nesta área, para boa parte da população, não passam de discurso, quando, na verdade, as instituições que adotam tais práticas estão sim comprometidas com a causa.

ruda”, mais ampla, à altura do maior banco do Hemisfério Sul e um dos vinte maiores do mundo. PP: Falamos de instituições gigantes responsáveis pela circulação diária de bilhões de reais.... Mas do público para o privado... Como é a vida da cidadã Sonia.... Seu dia-a-dia... Sonia: Atuar na área de sustentabilidade é estar em um nível

de tensão permanente, necessário para que a agenda evolua. Pessoalmente é um desafio muito grande. Escrevo artigos a respeito, tenho a preocupação com os recursos naturais no meu dia a dia, com a economia de água, luz, compras etc. Faço e também cobro da minha família. Pode parecer pouco, mas se cada um fizer a sua parte podemos, sim, melhorar o mundo.

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Sonia: Este é um projeto que lançamos pioneiramente em 2004. Entendemos que devemos emprestar dinheiro sim, mas não a qualquer custo. É exatamente o mote desta campanha: o dinheiro é para realizar sonhos, e não para você ter pesadelos. Este é um tema que incluímos como parte do nosso papel de instituição financeira: o de conscientização. E está sendo muito interessante. Os clientes enviam e-mails, retiram as cartilhas, ficam felizes em saber que o seu banco se preocupa com isso. E é claro que a campanha também ajuda a mantermos um elo de fidelidade na relação instituição-cliente.

ENTREVISTA

PP: Falando agora especificamente do Banco Itaú... quais foram as conseqüências imediatas para a instituição após o lançamento da Cartilha Uso Consciente do Dinheiro?

55


PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

MEU MUNDO

ARQUIVO PESSOAL

O jornalista Chico Pinheiro, 55 anos, nasceu Francisco de Assis. Apresenta sua naturalidade como “mineiro de Santa Maria da Boca do Monte”. O nascimento na cidade gaúcha, brinca, foi um “acaso de rota”, pois cresceu e formou-se em jornalismo nas Minas Gerais. Na infância conheceu muitos estados, acompanhando o trabalho do pai, que era topógrafo. O gosto pela música brasileira, retratado no programa Sarau da Globo News, herdou da mãe. Profissionalmente, trabalhou em rádio, jornal, em assessoria de imprensa (com o cantor Milton Nascimento),além de ter sido Superintendente de Desenvolvimento Cultural do Governo de MG. Foi professor de jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais e há anos atua como âncora de telejornais da TV Globo. Pela atuação profissional foi reconhecido como jornalista amigo da criança pela Unicef/ Andi, é cidadão honorário de São Paulo, entre outros destaques.

CHICO PINHEIRO

Sou um homem de esperança

56


LEMBRANÇA INESQUECÍVEL DA INFÂNCIA “Em 1958, antes de existir a cidade ou qualquer vestígio dela, eu morei em Brasília. Meu pai foi fazer o trabalho de topografia para a construção. Só havia um acampamento, barracas de lona, luz de lampião. A única coisa que tinha era o céu iluminado só de lua e muita estrela. O céu mais lindo que já vi em toda a minha vida. Tinha lobo guará e onça pintada.”

O JORNALISMO “Quando jovem, fiz um teste vocacional e deu comunicação. Pensei que era para a parte técnica, telecomunicações. Achei legal e entrei na faculdade de jornalismo. Não foi nada pensado, nenhuma influência da infância ou família. Mais de 30 anos de profissão e para mim o jornalismo tem que ser mais que registrar fatos. Precisa contribuir com a formação da sociedade, ajudar as pessoas a tomar decisões, a formar opinião.”

DESVALIDOS “Em 1976, eu trabalhava no Jornal do Brasil e o bispo de Minas Gerais falou de outro, considerado comunista. Era Dom Pedro Casaldáglia, em São Félix do Araguaia (desde 1971 na região, o religioso apoiou declaradamente a guerrilha). Fui lá, para ouvir a versão do bispo e, ao final da entrevista ele meu deu um anel de tucum. Eu perguntei: é um desafio? E ele respondeu: não, apenas é para testar sua consciência. Nunca mais tirei o anel do dedo. O significado para mim é o mesmo de todos os que o usam: compromisso com os desvalidos, opção preferencial com todas as pessoas que precisam de ajuda. Naquela época, pouca gente usava.”

ALÉM DA PROFISSÃO

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

“Não tenho tido tempo para praticar esporte, tenho que corrigir isso. Mas me orgulho de ser conselheiro vitalício do Atlético Mineiro, o Galo. Tento ainda contribuir com instituições como o Instituto Sou da Paz, o qual fui um dos fundadores, sou conselheiro do Instituto Ayrton Senna e ainda mantenho ligação ao Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), do Betinho. A nossa correria só tem sentido se for para um mundo melhor . Por isso me envolvo com as coisas que nos cercam”.

PARA ONDE CAMINHA O MUNDO “Por uma questão de fé, acredito no ponto ômega, para onde tudo converge, de uma maneira irresistível (a referência é ao pensamento do padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês Pierre Teilhard de Chardin). O final já foi dado na história. E é um final feliz porque é a vitória do amor, que se fundamenta na ternura, no cuidado e, claro, na justiça. Sou um homem de esperança. Se não fosse, não teria cinco filhos. Aliás, meus filhos e meus amigos são os prêmios que ganhei na minha vida”.

57


Crédito para o meio ambiente

PRIMEIRO PLANO . ANO 4 . NO 13 . MARÇO 2009

Já é bastante divulgada a reciclagem de garrafas PET no país e o crescimento neste setor impulsiona boas e criativas iniciativas. Aliando a necessidade de redução de sacolas plásticas com a conscientização da reciclagem das garrafas PET, a empresa Wantage Ltda, conhecida como SacolaRetornavel.com. apostou neste tipo de confecção e tornou-se até o momento a única do país a desenvolver este produto. Os fornecedores da matéria-prima são cooperativas de catadores. Hoje 250 mil famílias no Brasil têm a captação de materiais recicláveis como principal fonte de renda. O país descarta sete bilhões de garrafas PET anualmente. Sua aplicação em tecidos, como o usado na fabricação nestas sacolas, economizam 76% da energia e reduzem em 71% a emissão de CO².

58

Empréstimo Programático de Políticas de Desenvolvimento em Gestão Ambiental Sustentável. Esta é a operação lançada na primeira semana de março pelo Banco Mundial (Bird) para financiar projetos ambientais no Brasil. Serão R$ 1,3 bilhão, o maior montante de crédito já repassado pela instituição ao país. O combate ao desmatamento da

Amazônia, à falta de proteção ao que restou do bioma Mata Atlântica e questões relacionadas à qualidade e disponibilidade da água deverão ser os principais focos de investimentos deste programa de crédito. A liberação efetiva dos recursos depende de aprovação do Senado Federal, que avalia as operações de empréstimos internacionais ao país.

Farol do Sol

F O T O DIVU LGA ÇÃO

F O T O DIVULGAÇÃO

soluÇões

Do lixo para os ombros

senvolvimento de O Instituto para o De s e da Auto SusEnergias Alternativa AS – recebeu em tentabilidade – IDEA Mudança do Itaú, março o Prêmio Eco Sol. Este trabapelo Projeto Farol do po r lâ m pa da s à lh o vis a su bs tit ui r inhos” a queroenergia solar os “liqu ados na pesca de sene dos barcos us dos Patos (RS). camarão na Lagoa 90 mil o IDEAAS Com o prêmio de R$ sta dos pequeal e tornar-se o avali av de o nd fu um energia irá criar r a substituição por ze fa em er qu e qu nos pescadores ão é a fonte de . A pesca do camar os rc ba us se em l ve renová região gaúcha. as mil famílias desta renda de mais de du

Plásticos e refrigerantes A empresa China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) está, desde 2007, transformando o CO2 que emite em plásticos biodegradáveis. O produto é um copolímero, matéria-prima utilizada na indústria, na agricultura e até na medicina. A estimativa é que a cada ano sejam reutilizadas 2,1 mil toneladas de CO2

para a produção de três mil toneladas do plástico. Outro projeto industrial da CNOOC promete reciclar 24 milhões de metros cúbicos do gás anualmente para a produção de bebidas carbonadas, como refrigerantes e energéticos. O primeiro lote das bebidas já teria sido comercializado em Hong Kong em janeiro de 2009.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.