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Museus, Memória e Cultura Afro-Brasileira
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CADERNO DE RESUMOS E PROGRAMAÇÃO II SEMINÁRIO: MUSEUS EM DIALOGOS E CONEXÕES Museus, Memória e Cultura Afro-Brasileira Museu de Arte Sacra de Mato Grosso Cuiabá - Setembro de 2013
I SEMINÁRIO: MUSEUS EM DIALOGOS E CONEXÕES Museu de Arte Sacra de Mato Grosso Cuiabá - Setembro de 2013
FICHA TÉCNICA COORDENAÇÃO GERAL Viviene Lozi Rodrigues
COMISSÃO ORGANIZADORA Tulasi Krishnadasi dos Santos Branco Carlos Eduardo dos Santos Espíndola Viviene Lozi Rodrigues
PROJETO GRÁFICO, IDENTIFCAÇÃO VISUAL E DIGRAMAÇÃO Luiz Anderson (Monstrinho) REVISÃO Marinaldo Custódio
EQUIPE DE MONITORES Maria Madalena da Silva Edla Jaqueline Rosa Almeida Pedro Paulo de Arruda
Ficha Catalográfica elaborada pela Ação Cultural - Ass. dos Produtores Culturais de Mato Grosso. Ponto Ação Cultural ISSN 2175-1862 (Setembro/2013) Tiragem 100 exemplares 2º Seminário: Museus em Diálogos e Conexões - MASMT Organização: Viviene Lozi Rodrigues / Cuiabá | Mato Grosso | Brasil
II Seminário - Museus em diálogos e conexões - MASMT - Cuiabá | Mato Grosso
CRONOGRAMA II SEMINÁRIO: MUSEUS EM DIÁLOGOS E CONEXÕES Quinta-feira, dia 26 14h CREDENCIAMENTO 14h30 SOLENIDADE DE ABERTURA 14h45 PALESTRA DE ABERTURA: Patrimônio Para Quem? As Ilusões Da Herança Do Passado E A Política De Identidade Em Torno Do Passado (Prof. Dr. Renilson Rosa Ribeiro - UFMT) 16h COFFEE BREAK 16h30 MESA-REDONDA: CULTURA AFROBRASILEIRA: PESQUISA, EDUCAÇÃO E PATRIMÔNIO 1. Os Museus e a Construção de uma História do Negro no Brasil ou "Infeliz do povo que não sabe de onde vem" (Prof.ª Dr.a Maria Lúcia Muller - NEPRE – UFMT) 2. Cultura Afro-Brasileira como instrumento de formação (Prof.ª Ms.ª Ângela Maria dos Santos Gerente da Diversidade da SEDUC) 3. De Crime a patrimônio nacional: A trajetória da capoeira rumo ao Reconhecimento (Marina Lacerda - Superintendente do IPHAN) Sexta-feira, dia 27 14h MESA-REDONDA: CULTURA AFROBRASILEIRA NO ENSINO DE HISTÓRIA 1. Entre Permanências E Mudanças: Notas Sobre A África No Ensino De História (Prof.ª Dr.a Alexandra Lima da Silva - UFMT) 2. Formação Docente Para A Diversidade Cultural: História E Cultura Afro-Brasileira Em Debate (Prof. Dr. Osvaldo Mariotto Cerezer -
UNEMAT) 16h COFFEE BREAK 16h30 SIMPÓSIOS TEMÁTICOS 1. Incursões Etnográficas Sobre Os Múltiplos Sentidos Do Espaço E Suas Relações Com O Poder Na Festança De Vila Bela Da Santíssima Trindade (Prof.ª Ms.ª Heloisa Afonso Ariano) 2. Relações Raciais e Instrução na Província de Mato Grosso (1834-1890) (Prof.ª Mestranda Nilma da Cunha Godoi) Sábado, dia 28 14h SIMPÓSIOS TEMÁTICOS 1. A Cultura Quilombola No Ensino Fundamental II (Prof.ª Mestranda Marcia Gomes Freire SEDUC-MT) 2. Professoras Negras Da Baixada Cuiabana: Histórias De Vida (Ms.ª Nilvaci Leite de Magalhães Moreira - UFMT) 3. Entre A (Des)Ordem E O Progresso: A Teoria Do Branqueamento E O Lugar De Negros E Mestiços Na Ordem Republicana (Prof.ª Ms.ª Manuela Arruda dos Santos Nunes da Silva CEFAPRO SEDUC-MT) 4. Memória E Patrimônio: As Incursões Etnográficas Por Meio Do Inrc (Igor Moura Danieleviz e Silva / Paulo César de Andrade) 16h30 COFFEE BREAK
17h PERFORMANCE "UMA VIAGEM POÉTICA AO SEIO DA MÃE ÁFRICA" (CIA. AYOLUWA)
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SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO............................................................................................................6 2. PALESTRA DE ABERTURA: Patrimônio Para Quem? As Ilusões Da Herança Do Passado E A Política De Identidade Em Torno Do Passado (Prof. Dr. Renilson Rosa Ribeiro - UFMT)...................................................................................................................7 3. MESAS REDONDAS.......................................................................................................8 3.1.Cultura Afro-brasileira: Pesquisa, Educação e Patrimônio................................9 Os Museus e a Construção de uma História do Negro no Brasil ou "Infeliz do povo que não sabe de onde vem" (Prof.ª Dr.a Maria Lúcia Muller - NEPRE – UFMT).................9 Cultura Afro-Brasileira como instrumento de formação (Prof.ª Ms.ª Ângela Maria dos Santos - Gerente da Diversidade da SEDUC)...............................................................9 De Crime a patrimônio nacional: A trajetória da capoeira rumo ao Reconhecimento (Marina Lacerda - Superintendente do IPHAN)...................................................................9 3.2.Cultura Afro-Brasileira no Ensino de História....................................................10 Entre Permanências E Mudanças: Notas Sobre A África No Ensino De História (Prof.ª Dr.a Alexandra Lima da Silva - UFMT)....................................................................10 Formação Docente Para A Diversidade Cultural: História E Cultura Afro-Brasileira Em Debate (Prof. Dr. Osvaldo Mariotto Cerezer - UNEMAT).............................................11 4. SIMPÓSIOS TEMÁTICOS.............................................................................................13 Incursões Etnográficas Sobre Os Múltiplos Sentidos Do Espaço E Suas Relações Com O Poder Na Festança De Vila Bela Da Santíssima Trindade (Prof.ª Ms.ª Heloisa Afonso Ariano)................................................................................................................................13 Relações Raciais e Instrução na Província de Mato Grosso (1834-1890) (Prof.ª Mestranda Nilma da Cunha Godoi)....................................................................................14 A Cultura Quilombola No Ensino Fundamental II (Prof.ª Mestranda Marcia Gomes Freire - SEDUC-MT)...........................................................................................................15 Professoras Negras Da Baixada Cuiabana: Histórias De Vida (Ms.ª Nilvaci Leite de Magalhães Moreira - UFMT)..............................................................................................15 Entre A (Des)Ordem E O Progresso: A Teoria Do Branqueamento E O Lugar De Negros E Mestiços Na Ordem Republicana (Prof.ª Ms.ª Manuela Arruda dos Santos Nunes da Silva - CEFAPRO SEDUC-MT)..........................................................................16 Memória E Patrimônio: As Incursões Etnográficas Por Meio Do Inrc (Igor Moura Danieleviz e Silva / Paulo César de Andrade)....................................................................17
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APRESENTAÇÃO O Seminário “Museus em Diálogos e Conexões” terá sua segunda edição promovida pelo Museu de Arte Sacra de Mato Grosso, em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura, Universidades Federal e Estadual de Mato Grosso e as ONGs Ação Cultural e Casa de Guimarães. O evento tem caráter científico e já se tornou um dos principais da área museal para divulgação e debates das produções que dialogam com o patrimônio cultural. O evento será realizado dentro da Programação da 7ª Primavera dos Museus que ocorre em diversos museus brasileiros de 23 a 29 de setembro. O seminário está estruturado com mesas-redondas, palestras e comunicações, oportunidade em que o público irá debater o tema que propõe reflexão sobre saberes e experiências das culturas afro, que valoriza e impulsiona o pensamento crítico, a diversidade, o conhecimento e as práticas sociais da pluralidade do que hoje entendemos como o que é ser brasileiro. O Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), ao definir o tema "Museus, memória e cultura afrobrasileira", busca refletir a ampliação dos olhares e das atitudes para a eliminação dos preconceitos e das discriminações raciais, a geração de conhecimentos para a eliminação do desconhecido, a contribuição da preservação da memória para a musealização da cultura afro, seja ela material ou imaterial. O objetivo principal: divulgar as produções desenvolvidas em torno da temática e aplicadas em museus, centros de memória e pesquisas, comunidades e instituições de ensino, entre outros, que possam nesse espaço apresentar reflexões teóricas, metodológicas e pesquisas voltadas para a cultura afro-brasileira. Os temas a serem tratados nas mesas, palestra, simpósio e apresentação artística em torno da cultura afro-brasileira motivam iniciativas diversas que enriquecem a programação do seminário, de modo a sintonizá-lo com questões fundamentais da realidade brasileira. No intuito de que esse seminário possa cada vez mais impulsionar o interesse sobre os museus e o patrimônio cultural, o evento é o fio condutor que nos convida a uma reflexão das contribuições da África para a sociedade brasileira e disseminar conhecimento e reflexão crítica sobre a realidade afrodescendente no país, contribuindo para a ampliação de olhares e a superação de preconceitos e discriminações raciais. Viviene Lozi Rodrigues Diretora do Museu de Arte Sacra de Mato Grosso
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2. PALESTRA DE ABERTURA PATRIMÔNIO PARA QUEM? AS ILUSÕES DA HERANÇA DO PASSADO E A POLÍTICA DE IDENTIDADE EM TORNO DO PASSADO Prof. Dr. Renilson Rosa Ribeiro Universidade Federal de Mato Grosso rrrenilson@yahoo.com Introdução A presente palestra tem a finalidade de debater os jogos de identidade presente nas disputas pelo passado que desejar lembrar/esquecer, evidenciando a concepção elitizada e raciológica de patrimônio que se constituiu no Brasil, que desconsiderou a cultura material e imaterial de grupos sociais populares – negros, indígenas, trabalhadores, mulheres, movimentos sociais. Para em seguida refletir sobre os lugares de memória “marginais” do Brasil/Mato Grosso, territórios marcados pela presença das culturas africanas e afrobrasileiras: quilombos e terreiros. Objetivo 1) discutir os embates em torno dos usos e apropriações do passado dentro do viés raciológico – valorizando uma cultura de elite; 2) apresentar possibilidades de estudo e reconhecimento dos territórios africanos e afrobrasileiros como patrimônio cultural, com destaque para os quilombos e terreiros; 3) abordar a necessidade de uma educação patrimonial em uma perspectiva multiculturalista – tendo a diversidade cultural como eixo norteador na formação de professores e alunos da educação básica. Metodologia 1) apresentação das formulações teóricas e metodológicas que subsidiam a relação entre patrimônio e identidade cultural, tomando por referência os estudos de Stuart Hall, Paul Gilroy e Néstor Canclini; 2) análise das concepções de patrimônio presentes na política cultural brasileira entre as décadas de 1940 e 2010, procurando evidenciar os marcos postos pelas Constituição de 1988 para a questão; 3) abordagem dos lugares de memória “marginais” do Brasil/Mato Grosso – dos chamados “excluídos da história”: negros, indígenas, trabalhadores mulheres, movimentos sociais entre outros; 4) reflexão sobre as possibilidades de estudo e reconhecimento dos territórios africanos e afro-brasileiros como patrimônio cultural – quilombos e terreiros. Resultado Com essa palestra, pretendemos desconstruir uma visão fechada, elitista e raciológica de cultura e patrimônio e recuperar territorialidades e modos de ser e fazer de grupos marginalizados historicamente pelas narrativas fundacionais do Brasil/Mato Grosso, com destaque para a história e cultura africana e afro-brasileira. Conclusão Ao refletir sobre as questões políticas e identitárias presentes na eleição do passado que deseja lembrar/esquecer, procuramos desmistificar visões sacralizadas em nome da
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“verdade histórica” e da “história pátria” e formular novas formas de ser, sentir e saber o mundo em uma perspectiva multicultural – reconhecendo as diferenças que formam esse “mosaico” chamado de Brasil/Mato Grosso. Palavras-chave: Patrimônio; Identidade; Cultura africana; afro-brasileira.
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3. MESAS-REDONDAS 3.1 CULTURA AFRO-BRASILEIRA: MUSEU, EDUCAÇÃO E PATRIMÔNIO OS MUSEUS E A CONSTRUÇÃO DE UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL OU “INFELIZ DO POVO QUE NÃO SABE DE ONDE VEM” Maria Lúcia Rodrigues Müller NEPRE/Universidade Federal de Mato Grosso rodriguesmarialucia10@gmail.com Ainda pouco se sabe sobre a contribuição de africanos e seus descendentes no processo civilizatório brasileiro. Uma das consequências desse desconhecimento, ainda hoje, é a naturalização das desigualdades raciais no Brasil. A comunicação se propõe discutir as seguintes questões: como se faz para fazer desaparecer, simbolicamente, um grupo racial? Quais são os processos que levaram à construção de uma imaginário social eivado de conceitos negativos contra esse grupo? Quais artifícios e processos de justificativa moral foram utilizados nas últimas décadas do século XIX e durante o século XX para o “branqueamento“ das posições sociais e econômicas de elite? Vale ressaltar que a pesquisa da história do negro, em especial da educação do negro, não é simples, pois as fontes são escassas e complicadas de achar. O obstáculo maior é nossa própria imersão, ainda que inconsciente, em um imaginário social muito preso a uma construção histórica, reiteradamente difundida, que nega ao grupo negro a possibilidade de ter exercido minimamente algum tipo de protagonismo social, ainda mais num período tão próximo à Abolição do Cativeiro. Procuro aqui trabalhar com duas perspectivas: a produção das ideias e sua consequente institucionalização. Como assinalou Geertz (1989), as ideias têm de ser institucionalizadas para terem uma existência material na sociedade “... devem ser apresentadas por grupos sociais poderosos para poderem ter efeitos sociais poderosos; alguém deve reverenciá-las, celebrá-las, impô-las.” Partindo desses pressupostos, pretendo explorar a importância dos museus como espaço de apresentação de uma história a ser contada, rememorada e celebrada. Palavras-chaves: Museu. História do Negro. Imaginário Social. CULTURA AFRO-BRASILEIRA COMO INSTRUMENTO DE FORMAÇÃO Prof.ª Ms.ª Ângela Maria dos Santos Gerente da Diversidade da SEDUC angelamar7@gmail.com Propõe refletir sobre as matrizes africana no nascimento da cultura negra brasileira e na formação da identidade nacional e sua importância enquanto conteúdo no processo de ensino e aprendizagem. Tem como objetivo abordar a cultura afro-brasileira como instrumento de formação para uma educação anti-racista. Concluindo a falta de informação e formação sobre a cultura afro-brasileira colabora para etnocentrismo cultural fortalecendo dessa forma para o embranquecimento da cultura brasileira. A educação tem um papel importante na desconstrução do preconceito e desinformação sobre o nascimento da cultura negra e seus elementos fundamentais na formação da identidade nacional. Palavras-Chaves: Cultura; Matrizes africanas; Desconstrução. Seminário - Museus em diálogos e conexões - MASMT - Cuiabá | Mato Grosso
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DE CRIME A PATRIMÔNIO NACIONAL: A TRAJETÓRIA DA CAPOEIRA RUMO AO RECONHECIMENTO Marina Lacerda Superintendente do IPHAN Mato Grosso marina.lacerda@iphan.gov.br A Capoeira foi proibida no início da República, por ser considerada prática de vadios, permaneceu por muito tempo rotulada, somente deixou de ser crime em 1937 durante o Governo de Getúlio Vargas em função do viés nacionalista que o governo pregava. A partir desta data as academias receberam permissão para funcionar e a cultura da prática se espalhou rapidamente. Superado o preconceito e as perseguições a capoeira legitimou-se como patrimônio nacional em julho de 2008, sendo hoje o único bem registrado que está presente em todo o território nacional. Grande símbolo da cultura brasileira, a roda de capoeira e o ofício dos mestres de Capoeira simbolizam a resistência de muitas das tradições de matriz africana. Hoje a roda de capoeira encontra-se inscrita no livro “Formas de Expressão” e o Ofício dos mestres de capoeira no livro dos “Saberes”. Esse reconhecimento cultural se dá através do Registro realizado pelo Ministério da Cultura por meio da Autarquia Federal- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN. Não são poucos os desafios postos após um registro, pois a salvaguarda de um bem tão representativo necessita de cuidados especiais. É grande o desafio imposto à preservação desta manifestação que mistura arte-marcial, cultura popular, dança e musica. Vida longa para Capoeira, vida longa para os nossos mestres desta arte tão genuinamente nacional. Palavras-Chave: Patrimônio; Capoeira; Cultura Popular. 3.2. CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO ENSINO DE HISTÓRIA ENTRE PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS: NOTAS SOBRE A ÁFRICA NO ENSINO DE HISTÓRIA Prof.ª Dr.ª Alexandra Lima da Silva Universidade Federal de Mato Grosso alexandralima1075@gmail.com O presente trabalho busca mapear e refletir sobre algumas abordagens e representações da África, do africano e do negro em livros didáticos de história do Brasil escritos entre finais do século XIX e até meados do século XX. Objetiva refletir sobre a produção de memórias e silêncios, indicando mudanças e permanências neste processo. O que sabemos sobre a África? Que lugares esta questão ocupou na produção didática de história do Brasil? Antes da lei 10.639, que institui a “obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos no currículo escolar”, que histórias e memórias foram construídas e/ou silenciadas através do ensino da História do Brasil e de alguns manuais? Quais as visões da “África” que nós temos a partir das histórias do Brasil ensinadas? É possível afirmar que há muitas permanências nas perspectivas ensinadas sobre a África no Brasil, o que em parte, justifica-se pela “longa duração” dos livros didáticos analisados na pesquisa, muitos dos quais, tiveram mais de 60
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reedições, ao longo de décadas. Assim, verifica-se que história contada sobre a África e os africanos, tirou destes sujeitos a potência de suas vozes, os colocando como passivos em sua própria história, uma vez que são remetidos à condição de seres passíveis de serem escravizados, pois “seriam mais propensos a isto”, e que ao longo desta escravidão, foram dignos da “filantropia” e caridade dos brancos, seja nos anos em que a escravidão perdurou, seja na própria abolição, que para muitos, é tida como um ato caridoso da generosa “princesa Isabel”, tirando das análises, toda e qualquer forma de luta dos negros enquanto atores e agentes de sua libertação. Palavras-chave: Livro didático; Ensino de História; África. FORMAÇÃO DOCENTE PARA A DIVERSIDADE CULTURAL: HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA EM DEBATE Prof. Dr. Osvaldo Mariotto Cerezer Universidade do Estado de Mato Grosso omcerezer@hotmail.com Desde o início dos anos 2000, com a promulgação da Lei 10.639/03, a sociedade brasileira tem se defrontado com intensos debates relacionados às políticas públicas voltadas à reparação da história e cultura das populações africana e afrodescendente. A interferência do Estado, por meio da criação de políticas públicas específicas, colocou em xeque velhos paradigmas e criou um espaço importante na agenda das discussões sobre o tratamento histórico dispensado a estas populações, suas condições de vida, educação, renda, marginalização, racismo e preconceito. O reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, da existência do racismo e do preconceito histórico contra os afrodescendentes e a tentativa de superação, através de políticas de ações afirmativas, representa um avanço na posição do Estado frente a essas problemáticas. A partir desse momento, um olhar mais crítico e minucioso volta-se para a análise da produção historiográfica sobre o continente africano e sobre os afrodescendentes. A questão central que colocamos nesse debate é: Como lidamos com as populações afrodescendentes, sua história, cultura, e sua participação na constituição da sociedade brasileira?; Que imagens/representações possuímos sobre a África?; Que história produzimos e reproduzimos sobre os afrodescendentes?; Como formamos os novos professores de História para lidar com tal problemática?; Como os professores em atuação na Educação Básica lidam com essas questões? Os debates sobre a temática afro-brasileira, acompanhada de valiosas contribuições de pesquisadores interessados na (re)elaboração de reflexões sobre essas populações e suas especificidades históricas e culturais, são elementos fundamentais para a superação histórica do descaso, negação e silenciamento a que esses povos foram submetidos. No entanto, diversas pesquisas têm demonstrado a existência de uma distância expressiva entre a produção acadêmica e a realidade das salas de aula, onde, muito pouco do saber histórico produzido sobre essa temática são, de fato, usadas para a construção de novas referências/interpretações históricas sobre os africanos e afro-brasileiros. A constatação dessa realidade demonstra a existência de uma “crise do saber” marcada, essencialmente, pela presença do distanciamento entre o que se produz no mundo acadêmico e a realidade das salas de aulas da Educação Básica. Nesse sentido, o acolhimento da diversidade cultural no interior dos currículos não tem sido uma tarefa fácil. Pesquisas demonstram a
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ocorrência de mudanças significativas com a adoção de políticas públicas voltadas para a integração e para o tratamento digno das denominadas “minorias sociais e étnicas” no contexto educacional. As mudanças no âmbito das políticas públicas de educação sinalizam para a necessidade de observarmos as dinâmicas, os saberes e as práticas produzidas por professores de História e alunos das universidades e escolas brasileiras a partir dos desafios lançados pela Lei 10.639/03. A compreensão dessa realidade vem acompanhada da constatação de que é necessário um grande investimento na formação docente multicultural que questione as tentativas de homogeneização que estão presentes nas políticas públicas e, em especial, nas políticas educacionais. Compreendemos que, apesar dos entraves e dos avanços tímidos constatados, o diálogo, envolvendo a diversidade cultural afro-brasileira foi aberto e, por si só, representa um avanço importante para a educação brasileira e para a formação voltada à cidadania e a justiça social. Palavras-chave: formação docente; diversidade cultural; ensino de História.
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4.SIMPÓSIOS TEMÁTICOS INCURSÕES ETNOGRÁFICAS SOBRE OS MÚLTIPLOS SENTIDOS DO ESPAÇO E SUAS RELAÇÕES COM O PODER NA FESTANÇA DE VILA BELA DA SANTÍSSIMA TRINDADE Prof.ª Ms.ª Heloisa Afonso Ariano Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Mato Grosso haariano@gmail.com O objetivo dessa comunicação é analisar como durante a temporalidade extraordinária do ritual da Festança de Vila Bela da Santíssima Trindade constituem-se novos sentidos aos espaços públicos e domésticos. Trata-se de um aglomerado de festas religiosas que reúne a Festa do Divino, A Festa de São Benedito e a Festa das Três pessoas da Santíssima Trindade. Os negros em Vila Bela, como afirma Maria de Lourdes Delamônica Freire (1988), usaram o espaço simbólico das festas religiosas católicas impostas pelos colonizadores para construir um lugar de organização socialrelativamente autônomo, no qual suas posições subalternas são, ao menos temporariamente, ultrapassadas. Posteriormente, com a perda da condição de capital e abandono da cidade, veio a se tornar o principal lócus de reorganização da vida comunitária. Essa manifestação cultural de caráter religioso envolve, pelo menos, dois níveis: um ligado a religiosidade popular e outro vinculado às atividades oficiais da igreja católica. Cada um deles acontece em espaços diferentes. As atividades oficiais se dão no interior da igreja. As celebrações do catolicismo popular ocorrem na rua ou no interior dos domicílios dos organizadores das festas. Por meio de observação participante, foi possível perceber que o espaço de religiosidade rústica, popular e não oficial constitui-se na instauração de um estado de liminaridade, que, como definiu Turner (1974), caracteriza-se por uma antiestrutura, ritos nos quais a ordem social estruturada fica em suspenso e uma nova ordem de classificações tem lugar. Tem início um estado de communitas e a abertura de uma brecha para a transformação social. Inaugura-se, com as festas, um tempo em que se invertemas relações de poder dominantes. Enquanto a religiosidade católica se passa no interior das igrejas, nos ritos missais, que centralizam o poder na figura masculina do padre, as rezas da festança acontecem no espaço doméstico, com as mulheres, mães de família, negras, assumindo a condução da atividade. O padre, o prefeito e outros personagens da política institucional ocupam o lugar de mais um participante da reza. O Congo, eminentemente masculino, com um ethos guerreiro, ocupa as ruas no início da Festa de São Benedito e institui um tempo simbólico de vigência de outro poder, o do Rei do Congo. Ao longo do ano, trabalhadores comuns como faxineiras, pedreiros, funcionários públicos ocuparão, em toda a rede que se constitui para a organização da festa, uma posição social de prestígio como rei, rainha, imperador e imperatriz, juiz ou juíza nas diferentes festas que a Festança aglutina. Palavras Chave: Festa; Espaço; Religiosidade.
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RELAÇÕES RACIAIS E INSTRUÇÃO NA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO (1834-1890) 1
Prof.ª Ms.ª Nilma da Cunha Godoi - (autora) nilmagodoi@gmail.com 2 Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Rodrigues Müller - (orientadora) Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso – Mestrado rodriguesmarialucia10@gmail.com Este trabalho objetiva apresentaras inquietudes e questionamentos sobre o percurso da Educação na sociedade imperial mato-grossense, destacando aspectos da Instrução e das Relações Raciais. Com objetivo de verificar como a população negra, na Província de Mato Grosso, particularmente, em Cuiabá no período de 1834 a 1890, foi se esgueirando e se entremeando onde pela natureza que lhe foi imputada, não era permitida sua presença – na escola. Constatar onde a população de cor se instruiu, além de, investigar quais aspectos devem ser considerados para entender a educação pela ótica da população negra. Como foram construídas e estabelecidas a identificação étnico-racial e a identidade da população negra dentro da amplitude das relações sociais e suas representações na província matogrossense? Apresente pesquisa realiza-se por meio de fontes primárias nos acervos públicos de Cuiabá, sendo ela de cunho histórico-documental e bibliográfico. Propomo-nos, a partir da análise da legislação e das normas escolares, dos diversos documentos oficiais como: ofícios, relatórios da instrução pública, mapas e lista escolares, relatórios e mensagens do poder público, censos de 1872 e 1890 e das notícias em jornais, contribuir para as pesquisas histórico-educacionais e demonstrar que o acesso e a permanecia dos negros no sistema educacional coexistem, permanentemente, com uma série de entraves. Neste, primeiro momento, é possível perceber que o Governo Imperial, e a sociedade da época, em busca do moderno Estado-Nação, baseado nos ideais de civilidade e progresso, impôs uma certa organização ao sistema de Instrução Pública, criando leis e mecanismos de controle, estendendo-os à mais distante província. Apesar dos desafios teóricometodológicos existentes nas discussões sobre educação dos negros, temos buscado nos estudiosos da história da educação brasileira e do negro, as bases e pressupostos do pensamento racista, das relações raciais e suas desigualdades, além de conhecer a história da educação de Mato Grosso, no momento, em que se objetivava construir e consolidar o Brasil como nação, visando dar sustentação a esta pesquisa. Palavras-chave: Instrução; População de cor; Relações raciais.
1 Professora Efetiva da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso, mestranda/2013 em Educação pela UFMT/PPGE, Linha: Movimentos Sociais, Política e Educação Popular. 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professora do Instituto de Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, onde Coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação – NEPRE.
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A CULTURA QUILOMBOLA NO ENSINO FUNDAMENTAL II Prof.ª Ms.ª Marcia Gomes Freire SEDUC_MT marciagomes.freire@gmail.com Esta comunicação trata das discussões relacionadas à implantação da Lei 10.639/03. A lei torna obrigatório o ensino voltado para a afirmação da diversidade cultural e da promoção de uma educação das relações etnicorraciais e contribui para que se construa um dialogo que nos permita dar visibilidade a diferentes identidades dentro da escola. Tem o objetivo de discutir os limites e possibilidades de um modelo de educação escolar que considere os saberes produzidos e socializados a partir de uma matriz curricular que contemple a diversidade. Para esta comunicação se recortou os dados relacionados à perspectiva dos alunos auto declarados negros sobre si mesmos e o modo como se vêem representados na cultura escolar e nos meios de comunicação e nas pesquisas dos alunos sobre quilombo e o impacto que estes saberes podem ter na construção de um modelo de educação escolar que considere a afirmação da identidade étnica considerando os saberes e os valores de resistência da cultura quilombola. A discussão teórica que referencia trabalho constitui-se principalmente dos textos de Kabengele Munanga referência na luta contra a desigualdade racial e para quem o conhecimento é fundamental para a busca de políticas e alternativas para o combate e a superação do preconceito, a discriminação e o racismo em nossa sociedade, Renato Emerson dos Santos que discute a complexidade da lei e sua aplicabilidade no ambiente escolar, e tem como pressuposto uma noção de educação informada por Paulo Freire e suas reflexões sobre educação como prática libertadora. O pensar de Freire entorno da natureza dialética do processo educativo, comprometido com as transformações da realidade social, e a participação dos educando na construção do conhecimento são os pressupostos sobre cuja base se desenvolve este projeto. Os resultados do projeto permitem concluir que o modo como a escola afirma a identidade se repercute na manutenção ou mistificação do processo de exclusão. Palavras-chave: Educação; Relações Raciais; Lei 10.369/03. PROFESSORAS NEGRAS DA BAIXADA CUIABANA: HISTÓRIAS DE VIDA Ms.ª Nilvaci Leite de Magalhães Moreira Universidade Federal de Mato Grosso nilvacimagalhaes@gmail.com Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Rodrigues Müller (Orientadora) Universidade Federal de Mato Grosso rodriguesmarialucia10@gmail.com Este estudo tem como objetivo investigar as trajetórias de vida de professoras negras da Baixada Cuiabana, tendo como foco as possíveis influências de seu pertencimento racial na sua prática pedagógica. A pesquisa teve abordagem qualitativa, tendo como metodologia a História Oral, utilizando como técnica para coleta de dados a história de vida de quatro professoras negras da Baixada Cuiabana e fundamentada pela revisão da literatura. Os depoimentos das professoras revelam que suas trajetórias de estudo foram marcadas por situações de preconceito e discriminação racial, as quais remetiam ao tipo de cabelo e a cor da pele. Constatou-se neste estudo, que essas professoras negras mesmo tendo seu Seminário - Museus em diálogos e conexões - MASMT - Cuiabá | Mato Grosso
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percurso escolar acidentado, conseguiram romper com obstáculos do preconceito e da discriminação racial, e tentam reverter essa situação propondo estratégias de combate ao racismo por meio de práticas pedagógicas diferenciadas na escola. A partir desta pesquisa também foi possível perceber que a escola atribui ao professor negro a responsabilidade em desenvolver a temática, afastando outros professores da obrigação. Em seus depoimentos as professoras destacam que todos os profissionais da escola devem estar envolvidos neste processo. Revelou ainda, a importância dos cursos de formação na mudança de postura das professoras. Palavras-chave: Professoras negras; Histórias de vida; Prática pedagógica. ENTRE A (DES)ORDEM E O PROGRESSO: A TEORIA DO BRANQUEAMENTO E O LUGAR DE NEGROS E MESTIÇOS NA ORDEM REPUBLICANA Prof.ª Ms.ª Manuela Arruda dos Santos Nunes da Silva CEFAPRO-SEDUC/MT manuela.arruda.santos@gmail.com Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Rodrigues Müller (Orientadora) NEPRE/UFMT rodriguesmarialucia10@gmail.com Este trabalho tem como objetivo analisar a formação e os ecos da teoria do branqueamento no Brasil, na virada entre os séculos XIX e XX. As discussões a respeito da composição étnico/racial do Brasil vieram à baila em um momento muito singular da história do país: em 1888 foi decretado oficialmente o fim da escravidão negra e, pouco mais de um ano depois, houve a queda do Império, dando início ao sistema republicano. Sob a égide da “Ordem e do Progresso” as elites atuantes queriam fazer surgir uma nova nação calcada nos ideais da modernidade vigentes na Europa. O pensamento formulado pelas elites a partir de fins do século XIX buscou desqualificar a heterogeneidade cultural e racial da população que vivia no Brasil, baseando-se em teorias pretensamente científicas produzidas na Europa e Estados Unidos, e que se disseminaram aqui através da formulação de idéias racistas que hierarquizam os indivíduos, dando destaque para brancos e subjugando índios e negros. Um dos recursos utilizados para cristalizar no imaginário da época e estereótipos negativos sobre a população negra foi a criação de competições nos Salões da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), onde os artistas premiados eram contemplados com bolsas de estudos fora do país e tinham suas telas adquiridas pelo governo. A partir da análise das obras premiadas nos Salões realizados entre os últimos anos do século XIX e as décadas inicias do século XX, podemos perceber que as temáticas que mais interessavam as elites e aceitas pelo chamado mundo oficial das artes representam indivíduos negros e mestiços, principalmente a mulheres, como trabalhadores pobres, alijados dos direitos civis que a República apregoava a margem da modernidade que se queria para o Brasil. Conforme pudemos analisar foi sendo fomentado, já nos primeiros anos da Primeira República, mecanismos para incutir no imaginário coletivo imagens e estereótipos negativos a respeito da população negra. A partir do golpe de 1930 que foi responsável pela ascensão de Getúlio Vargas ao poder houve um redimensionamento do Estado brasileiro no qual ocorreu a centralização das decisões mais importantes nos âmbitos econômicos, políticos e culturais do país nas mãos do governo federal. É nesse período que vai se institucionalizar a “a fábula das três raças fundadoras do Brasil” encontrando nos bancos escolares e centros de Seminário - Museus em diálogos e conexões - MASMT - Cuiabá | Mato Grosso
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formação de professores espaço para sua difusão e perpetuação ao longo da história. É interessante observar como a História, enquanto disciplina escolar foi um valioso instrumento de manipulação para viabilizar esse projeto racista e excludente, uma vez que as elites forjaram um passado “nacional” com direito a solidificar mitos de fundação que preteriram os componentes africanos e indígenas na construção de uma identidade nacional. Palavras-Chave: Teoria do Branqueamento; Educação Escolar; Primeira República. MEMÓRIA E PATRIMÔNIO: AS INCURSÕES ETNOGRÁFICAS POR MEIO DO INRC Igor Moura Danieleviz e Silva Universidade Federal de Mato Grosso igormourajornal@gmail.com Paulo César de Andrade Universidade Federal de Mato Grosso a.paulocesar@gmail.com Prof.ª Dr.ª Sonia Regina Lourenço (Orientadora) Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Mato Grosso soniaufmt@gmail.com Este resumo apresenta reflexões sobre o trabalho realizado por meio do Projeto de Extensão 2013/MEC-SESU Patrimônio Cultural e saberes tradicionais quilombolas de Chapada dos Guimarães-MT que vem sendo desenvolvido desde abril de 2012. Com objetivo principal de mapear e identificar o patrimônio cultural das comunidades remanescentes de quilombo Lagoinha de Cima e Lagoinha de Baixo. No caso de Lagoinha de Cima, onde foram realizados mais encontros com a comunidade, a mesma sofre processos de expropriação do seu território tradicional, que é de direito. Como forma de sustento, os moradores trabalham com a agricultura e a venda da mão-de-obra a outros fazendeiros da região. Esta comunidade constitui-se pelos seus modos de saber-fazer, formas de expressão, os lugares, os rituais, as celebrações e seus conhecimentos tradicionais. Seu modo de vida tem importante papel na construção da memória e história sociocultural da localidade e na construção da identidade quilombola. A aplicação do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) objetiva identificar o patrimônio imaterial em comunidades que obtiveram a Certidão de Auto-Reconhecimento emitida pela Fundação Cultural Palmares. Esse levantamento estabelece uma ordem: levantamento preliminar, identificação, documentação e participação da comunidade por meio do método etnográfico. Em Lagoinha de Cima, durante os encontros ocorreram oficinas para explicar as etapas do projeto e como os moradores participam da pesquisa. Esse diálogo também se desenvolve pelas diferentes formas de narrativa (linguagem musical, iconográfica e performática); elementos que dão significados a tradição da comunidade. O INRC é o instrumento de identificação e documentação que subsidiam a ação de salvaguarda do patrimônio imaterial. Os artigos 215 e 216 da Constituição de 1988 definem patrimônio como material e imaterial. O decreto nº 3551/2000 institui o registro das comunidades e da cultura imaterial. O patrimônio apresenta, enquanto categoria de análise, contornos semânticos em contextos históricos e sociais distintos. Pode ser interpretado por objetos móveis e imóveis, apropriados pelas comunidades. Observa-se que sua definição construída historicamente,
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recai mais aos aspectos valorativos compartilhados pelas pessoas em Lagoinha de Cima. O Iphan estabelece diretrizes em respeito ao patrimônio imaterial. Ele é entendido como manifestações da cultura popular e tradicional. Não exige proteção ou conservação, mas, sim, sua identificação e registro etnográfico. Que são etapas desenvolvidas mediante os encontros com a comunidade. De modo que o Estado possa atuar para dar continuidade ao bem cultural e preservar a identidade dos remanescentes de quilombo. Lagoinha de Cima é composta por cinco famílias, cerca de 30 pessoas, organizadas em Associação Negra Rural Quilombola Lagoinha de Cima. Os associados estão dentro e fora da comunidade, vivendo em Chapada dos Guimarães e Cuiabá. O Ato de Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT 68garante aos remanescentes de comunidades quilombolas a propriedade definitiva das terras. Atualmente, em Mato Grosso 74 comunidades são reconhecidas como remanescentes de quilombo, sendo que apenas a de Mata Cavalo possui titulação. Os pontos apresentados até aqui resultam das incursões etnográficas, entrevistas etranscrições que também ajudam a compor a estrutura do trabalho. Ressemantizam o olhar científico e acadêmico sobre comunidades invisibilizadas historicamente. Palavras-chave: Memória; Patrimônio; Remanescentes de Quilombo.
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