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entrevista

a cervo pessoal

Referência no projeto de pontes e viadutos, o engenheiro Filemon Botto de Barros é diretor da Projconsult, empresa de consultoria em engenharia, especializada em empreendimentos de grande porte. No seu portfólio estão obras que foram consideradas referências, seja pelo desafio técnico superado, seja pela estética obtida. É o caso do viaduto metroviário sobre a avenida Francisco Bicalho, com um arco metálico que cobre um vão de 110 m, no Rio de Janeiro. Outro projeto importante em que Filemon esteve envolvido foi o da Ponte Juscelino Kubitschek, em Brasília, premiado pelo IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) e pela Abcem (Associação Brasileira da Construção Metálica). Em entrevista exclusiva concedida à Pontes de Aço, o engenheiro fala mais sobre sua experiência e sobre os avanços tecnológicos que favoreceram o uso, cada vez mais recorrente, de pontes com estruturas de aço e mistas. Confira a seguir:

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Pontes de Aço – O senhor é uma das referências quando o assunto é projeto de pontes no Brasil. Poderia comentar como foi o início de sua carreira? Filemon Botto de Barros – Comecei como projetista e desenhista na construção da Ponte Rio-Niterói, participando de projetos de estruturas diversas. Depois disso, trabalhei na empresa do engenheiro Mário Vila Verde, onde tive a oportunidade de realizar uma série de detalhamentos de estruturas de aço. Durante três anos, morei no canteiro da barragem de Itaipu, e por seis anos, estive em Tucuruí (PA), projetando toda a parte de estrutura metálica dessa obra. De volta ao Rio, trabalhei em diversas pontes e viadutos estruturados com aço, concreto e com pré-moldados. Mais recentemente participei do projeto das baias metálicas que estão na ponte rio Niterói, construídas com estrutura mista. Essas duas baias foram dimensionadas e construídas para receber trem tipo do metrô.

PA – O senhor projetou recentemente duas obras emblemáticas que utilizam arcos metálicos: a ponte Juscelino Kubitschek, em Brasília, e o viaduto sobre a avenida Francisco Bicalho, no Rio. Poderia comentar esses dois projetos? FBB – O viaduto metroviário no Rio liga São Cristóvão à estação Cidade Nova, na cidade do Rio de Janeiro. São 1.200 metros de viaduto e mais um arco metálico de 110 metros sobre a avenida Francisco Bicalho. O viaduto foi executado em concreto e o arco é metálico. Esse elemento tem um papel importante para dar estabilidade e rigidez. Em função da passagem de metrô e trem, a obra de arte exigia uma deformação mínima para minimizar o risco de descarrilamento. Em Brasília, projetamos uma ponte composta por arcos metálicos que vencem 240 m de vão e por um tabuleiro em placa ortotrópica de 25 m de largura estaiado nesses arcos. Os trechos de acesso foram executados com caixão metálico e estrutura mista (laje de concreto e viga de aço) para vencer vãos de 45 m.

PA – Sobre as estruturas mistas, como o senhor vê a evolução dessa solução nos últimos anos? FBB – A estrutura mista para a construção de pontes vem ganhando muita utilização na medida em que propicia encurtar o prazo de execução da obra. Uma vantagem desse sistema é que enquanto a fundação é executada, a superestrutura é fabricada, simultaneamente. Além disso, esse tipo de solução tem uma montagem muito facilitada por ser mais leve.

“Os melhores resultados (no projeto de pontes e viadutos) surgem quando se aproveita a grande capacidade de resistência do aço para criar estruturas mais esbeltas e menos impactantes à paisagem das cidades“

PA – Em que casos a estrutura mista é indicada no projeto de pontes e viadutos? FBB – Toda vez que a obra apresenta alguma dificuldade de acesso e de montagem, a estrutura mista acaba sendo a escolha natural. O interessante da estrutura mista é que permite aproveitar as melhores propriedades de cada material. O aço, que tem excelente desempenho quando submetido à tração, tem um uso nobre na parte de vigas. Já o concreto, que resiste bem à compressão, é utilizado nas lajes, que demandam esse comportamento.

PA – Ainda há resistência entre os contratantes quanto ao uso da estrutura de aço no projeto de pontes e viadutos? FBB – Não mais. Houve uma restrição muito grande no passado em função da qualidade dos aços produzidos e que exigiam uma manutenção muito atuante. Mas na medida em que os aços de alto desempenho e de resistência à corrosão se difundiram, esse receio deixou de existir. O desenvolvimento de novas ligas de alta resistência à corrosão trouxe um benefício muito grande. Hoje os contratantes já não têm motivo técnico para evitar as pontes de aço ou mistas. O avanço da qualidade dos aços foi determinante para que pudéssemos ter um uso mais frequente desse material, com mais segurança, durabilidade e com menos manutenção.

PA – Quando comparada ao concreto, em quais situações as estruturas de aço e mistas são competitivas? FBB – No caso de pontes simples, de pequenas dimensões, e sem qualquer restrição ou dificuldade de construção, o concreto pode ser mais competitivo. Mas quando você tem um programa de pontes em estradas vicinais no qual a questão do transporte e da montagem da estrutura pode ser dificultada, o aço tende a ser mais vantajoso. Toda vez que há qualquer dificuldade de logística, de montagem ou necessidade de vencer grandes vãos, o aço passa a ser uma alternativa viável e interessante. PA – De que forma um projetista pode maximizar as virtudes do aço? FBB – Penso que os melhores resultados surgem quando se aproveita a grande capacidade de resistência do aço para criar estruturas mais esbeltas e menos impactantes à paisagem das cidades. Essa é uma virtude importante e cada vez mais valorizada. Os conselhos municipais arquitetônicos, inclusive, têm exigido uma melhor adequação das pontes e viadutos ao contexto urbano no qual elas se inserem. Utilizando o aço, temos mais facilidade para agregar leveza a essas grandes estruturas. M

rojconsult p Divulgação

p rojconsult Divulgação

No alto, a Ponte Juscelino Kubitschek, em Brasília (DF), projetada pelo arquiteto Alexandre Chan. Com 1.200m de extensão, a obra-de-arte é composta por três vãos de 240 m em arco metálico e por tabuleiro metálico estaiado. Embaixo, obras para a construção de um dos viadutos da TransCarioca e que faz parte pacote de obras proposto pela prefeitura para melhorar o transporte público da cidade para os Jogos Olímpicos de 2016. Estrutura combina estrutura mista com caixão metálico e laje de concreto e arco metálico

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