[ MÚSICA ]
Quando escolher entre seguir um sonho ou cair na real e seguir uma profissão didática? por Amanda Digilio, Amanda Garcia, Daniele Torres, 1 Rolling Stone Brasil, Dezembro, 2009
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sono e são odiados pelos vizinhos por causa das janelas trincadas: os pais. Muitos são contra os filhos seguirem uma vida artística e querem empurrar um diploma goela a baixo dos adolescentes. Além disso, o medo do futuro, as incertezas e o mercado altamente competitivo fazem muitos desistir do sonho e seguir uma carreira mais “previsível”. O que fazer na hora de decisão? Qual caminho seguir? A Rolling Stone traz essas e outras respostas para você decidir se vai, ou se fica!
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o mercado altamente competitivo faze muitos desistirem do sonho e seguir uma carreira mais “previsível”.
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inal de ano, época de vestibular e muitos adolescentes entram em paranóia. Muitos já sabem qual profissão seguir, em qual universidade estudar e possuem um plano traçado de estudo por pelo menos quatro anos. Mas, essa não é a realidade de quem vive na garagem de casa acabando com a tranquilidade e bons costumes da vizinhança. Ao mesmo tempo que sonham em tocar nas rádios e lançar clipes na MTV, convivem com aquela dúvida: quando vou começar a viver de música? Ganhar dinheiro com a minha banda, com o meu talento? Eles não sabem quando, mas têm certeza que uma hora isso vai acontecer. Porém, em meio a planos e ensaios surgem aqueles que compraram o tapete pra colocar a bateria em cima, os que perdem os domingos de
Sonho meu... Tentar uma vaga no mercado musical não é tarefa fácil. Em um mercado em que todos os dias aparecem novas bandas e novos artistas, conseguir uma oportunidade é como encontrar uma agulha no palheiro: enquanto alguns têm contatos e conseguem se lançar com certa facilidade (já ouviram falar do
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famoso QI? Ou, o Quem Indica?), outros (mas não menos talentosos) ainda precisam tentar por um bom tempo. Mas, e quando a realidade bate à porta? Muitos músicos precisam deixar a paixão pela arte em segundo plano e recorrer a trabalhos comuns para pagar as contas. Antes de ser um dos integrantes da banda Fake Number, que ao lado de outras como Fresno, Nx Zero e Cine, faz a cabeça do público adolescente, Gabriel Wollermann passou por uma série de dificuldades. Hoje, com 21 anos,
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Gabriel – ou Gah, como é chamado pelos fãs – toca guitarra desde os 14 e já passou por várias bandas antes de entrar na Fake Number. “Tive bandas dos 15 aos 18 anos que não deram em nada. Corremos atrás, mas era um som que não era aceitável no mercado”, relembra. Há quase três anos como guitarrista da banda, Gabriel definiu suas prioridades desde o primeiro contato com a música e com o apoio da família para seguir sua paixão, apesar das adversidades que poderia encontrar. “Nem precisei
[ MÚSICA ] Rock and Roll all night Tarefa: formar uma banda de rock! Nível um, ter talento e afinidades nos gostos musicais. Nível dois, amigos em comum. Nível três, uma garagem para os ensaios. Essa é a receita para o início de uma carreira de sucesso. Foi assim que as bandas Diastoli e Paralelos S/A começaram, e hoje, ganharam os palcos de muitas cidades pelo Brasil. O interesse pela música começa logo na adolescência. Em alguns casos, a influência musical é tamanha, que a ideia de montar uma banda faz parte de um ciclo natural entre os jovens. Porém, acertar na formação dos integrantes é um desafio e tanto. A banda Diastoli começou em 2007 e já passou por várias reformulações de integrantes. Já deixaram a banda dois baixis-
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Tive bandas dos 15 aos 18 anos que não deram em nada. Corremos atrás, mas era um som que não era aceitável no mercado.
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pensar muito para largar estudos, trabalho e coisa do tipo para fazer o que gosto. Meus pais sempre me ajudaram, e o que era hobby virou trabalho, sustento e tudo mais!”. Entretanto, nem todos têm essa sorte. “Sempre encontro com meus amigos, integrantes de minhas antigas bandas, e eles me falam que eu era o mais descompromissado de todos, só pensava em música, e agora estou trabalhando no que gosto, enquanto eles tiveram de voltar a trabalhar e estudar”, conta. Conhecida pelo hit “Aquela Música”, a banda Fake Number tem um público essencialmente adolescente, que vai dos 12 aos 19 anos. A vocalista Elektra é acompanhada pelos guitarristas Gah e Pingüim, pelo baterista Tony e pelo baixista Mark. Sorte a do Gabriel, não é? Mas, anime-se ele não é o último dos sobreviventes!
Gabriel,guitarrista da banda Fake Number
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tas, dois bateristas e um guitarrista, e atualmente apenas o vocalista, Igor Marques, está desde a formação original. E aquelas bandas do colegial, que sempre se apresentam nas festas da galera e nos eventos do colégio? O Paralelos S/A começou assim, amigos que tinham em comum o gosto pela música, e desde então continuam juntos. Houveram poucas alterações nos integrantes, mas isso não significa que eles não passaram por dificuldades para adquirir estabilidade profissional no início da carreira. Os pais geralmente não incentivam a decisão dos filhos em querer formar uma banda. Eles preferem acreditar que, talvez, seja uma decisão baseada na empolgação da adolescência. Porém, para os integrantes do Paralelos S/A isso não aconteceu. Quatro anos depois da formatura, eles priorizam ainda mais o trabalho com a
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música. “Eles respeitam, entenderam que é um projeto sério, não é molecagem e se orgulham do que fazemos”, completa Vinícius sobre a relação dos pais com o projeto da banda. Atingir o sucesso profissional com a música é um caminho longo e que requer paciência. A disputa por espaço é muito grande, principalmente entre bandas de rock. Diante disso, os músicos precisam estudar e trabalhar em outras áreas também, para construir uma carreira paralela para a própria sobrevivência. “Todos os integrantes trabalham. Apesar de ser difícil de conciliar o trabalho e a música, não é impossível”, afirma Erick Rubinelli, baixista da banda Diastoli. Os músicos da Paralelos S/A acreditam que não há garantias exatas em qualquer profissão, principalmente na música. Mesmo assim, todos os integrantes trabalham
[ MÚSICA ] túdio para a gravação do primeiro CD da banda. “Uma vez músico, sempre músico. É muito difícil alguém que teve a experiência de subir no palco e gravar, parar de tocar” completou Erick, sobre a ideia de seguir carreira profissional na música. Não há obstáculos que não possam ser superados para estes jovens músicos. Isso fica evidente pela força de vontade e ambição em crescer e ganhar o reconhecimento do público. Persistir é a palavra de ordem para todas as bandas iniciantes.
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Todos os integrantes trabalham. Apesar de ser difícil de conciliar o trabalho e a música, não é impossível.
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em outras áreas e não deixam de valorizar a expressão artística. “Acreditamos que o reconhecimento vem se o trabalho for feito com verdade e amor”, conclui. Apesar da vida profissional ser bastante movimentada, os músicos da banda Diastoli não tem folga na agenda de shows. Já se apresentaram para grandes públicos em várias cidades do país, como Campinas e Limeira, no interior de São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. Os shows mais frequentes são feitos na capital paulista. Abriram o show da banda internacional Sugar Kane, e das bandas nacionais Granada, Rancore, Glória, Eyes set to Kill e Cardiac. Os projetos não param nunca. Mesmo com a rotina da vida pessoal, a correria da profissão e os ensaios com a banda, o projeto para o novo trabalho da Diastoli está a todo vapor. Estão em es-
Erick Rubinelli, baixista da banda Diastoli
Objetivo? Realização pessoal! Quem vê hoje as bandas jovens famosas como Nx Zero, Fresno e CPM 22 imagina que a realidade de todas as bandas que estão começando buscam o mesmo sucesso que elas. Porém, para alguns o principal não é atingir o sucesso e sim se
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realizar como musico. Um bom exemplo disso são os músicos da banda Kayena. Composta por Victor Cremasco, Raphael Amoroso, Fernando da Silva, Guilherme Garcia e Marcus Lopes, a banda ganhou vida aos poucos. Em 2006, Victor e mais dois integrantes começaram a fazer reuniões musicais na porta da escola em que estudavam. O intuito era apenas promover uma integração dos amigos e fazer um “som descontraído”. As primeiras composições, no entanto, apresentaram uma possibilidade de vislumbrar algo mais sério. Logo, fizeram alguns experimentos em estúdio e, com o passar do tempo, somaram outros dois membros, completando a estrutura atual da banda. Embora dedicados a banda, não deixaram os estudos pra traz, os rapazes dividem seu tempo entre a banda e a faculdade. Victor estuda Letras; Raphael faz Publicidade e Propagan-
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da; Fernando, Gastronomia; Guilherme, Aviação Civil e Marcus, cursa Ciências da Computação. Mais uma vez contrariando as histórias que acontecem entre as bandas jovens de hoje, os integrantes da banda Kayena contam com o total apoio dos pais. "Não houve nenhum pai que foi contra. Houveram alguns pés atrás, e isso é normal dentro da visão de um pai não deixar seu filho entrar de cabeça num sonho não tão confiável e certo. Posso falar pelo meu pai: tirei a sorte grande." diz Raphael. Augusto Amoroso, pai de Raphael confessa que inicialmente teve medo pelo futuro de seu filho, por ser uma carreira que contém muitos obstáculos. Mas, deu total apoio quando viu que era o que ele realmente queria. "No começo tinha medo. Mas, quando vi que a musica era mais um hobby do que um objetivo financeiro, fiquei mais tranquilo, pois ele não abandonou
[ MÚSICA ] arte, igualmente valioso. Reforça essa tese o fato de que, dentro de um seleto grupo de inspirações, existem inúmeras bandas realizadas na essência das suas músicas, mas não no “sucesso”. A banda que toca MPB e pop se define como uma banda “pública” e intimista. Onde houver um espaço e um sistema de som, haverá disposição. No mais, não existe um interesse específico para um determinado foco de público. Porém, a própria música acaba por garimpar e selecionar ouvidos. "De um modo geral, nossa meta maior de público é a faixa jovem, mas graças a alguns requintes e características musicais particulares da banda, e ao contrário do que o Pop possa preconceituar, há uma grande infiltração da nossa música no gosto de gerações mais velhas, o que nos causa ligeira surpresa." ressalta Marcus Lopes, guitarrista. Para eles, seria hipocri-
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Não houve nenhum pai que foi contra. Houveram alguns pés atrás, e isso é normal dentro da visão de um pai não deixar seu filho entrar de cabeça num sonho não tão confiável e certo. Posso falar pelo meu pai: tirei a sorte grande.
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os estudos", afirma Augusto. O futuro da banda Kayena é incerto, pois nem todos sabem se é essa a profissão que querem seguir. "Ainda não é certa a profissão de músico para nenhum integrante. As dúvidas que o mercado fonográfico de hoje impõe resultam, quase sempre, num início de carreira defensivo e escoltado por funções paralelas. Alguns mais, outros menos, compartilham de um sonho, mas, em nenhum caso, ainda, de uma certeza de vida", acredita Guilherme, baixista. Para a banda, o sucesso é um item muito relativo. "Não somos uma banda ambicionada em reunir multidões e seguir os padrões que regem o que é uma banda 'bemsucedida' ou não" diz Fernando, baterista. A filosofia deles se baseia na teoria de que, pro músico, atingir profundamente uma ou cem mil pessoas é, no objetivo da
Rafael Cremasco da banda Kayena
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sia dizer que não gostariam de ficarem famosos ou serem reconhecidos por todos, porém, isso deve ser uma consequência de um trabalho bem desenvolvido e verdadeiro, onde a essência da música esteja em primeiro lugar e o prazer esteja acima do dinheiro. "Posso falar que quero tocar no maior palco do mundo, pro maior público já visto, mas às vezes, quer dizer na maioria das vezes não é isso que importa no final, quero tocar e ser ouvido por quem realmente quer estar ali, ouvindo o que temos pra dizer. No quintal da minha casa pra meia dúzia de amigos e familiares ou pro meu cachorro", afirma Raphael.
serve como exemplo para quem quer “jogar tudo para o alto” e investir na carreira musical. Alto astral e paixão pela música é o que eles têm de sobra. A banda paulista que há dez anos chegou de mansinho ao mercado musical tem uma história inusitada. Quando se reuniram pela primeira vez “A ideia era tocar pagode de mesa para poder beber cerveja, fazer uma bagunça com os amigos e poder curtir uma coisa animada, sempre nos intervalos das aulas ou nas horas vagas na faculdade, nada sério”, conta Sebá, vocalista do grupo. Mas, o que eles não sabiam era que esses encontros iriam se transformar em sucesso e suas músicas seriam tocadas em (quase) todas as rádios. Universitários e amigos
Cerveja, roda de samba e sete em comum, que entre garotos universitários uma aula e outra, acabaOkay! Roda de samba não é exatamente o que você está acostumado a ler aqui. Mas, a história do grupo Inimigos da HP
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ram formando um grupo de pagode pop. O nome é uma bem sacada brincadeira. Fazem parte do grupo cinco engenheiros,
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da música. “Com o passar dos anos e com um pequeno sucesso todos estes bares e boates começaram a nos chamar pra tocar e foi muito bom poder ver estes (que um dia falaram não) querendo nos contratar.” Completa o vocalista. Aos poucos, o reconhecimento do trabalho foi se concretizando e os Inimigos hoje são famosos pelas letras e melodias que falam de amor não correspondido e traição (óbvio, para bandas de pagode, não é?).
Viver de música pode ser ainda mais difícil? Pode!
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A ideia era tocar pagode de mesa para poder beber cerveja, fazer uma bagunça com os amigos e poder curtir uma coisa animada.
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um publicitário, e um administrador de empresas que, durante a chamada carreira acadêmica, “quebraram a cabeça” com a calculadora HP - HewlettPackard. Nas horas de descontração, deixavam as calculadoras de lado e se dedicavam ao samba, daí a escolha do nome que hoje é reconhecido nacionalmente. Mas, a briga com a maquininha ainda não foi totalmente resolvida. “Ela ainda está em casa, na gaveta, mas preferimos os instrumentos. Deixa ela guardadinha por lá que está melhor”, brinca Sebá. Os ex-estudantes nunca trabalharam na área de formação. Assim que terminaram a faculdade fizeram de tudo para que o sonho de um dia terem suas músicas cantadas por todos e ouvidas nas grandes rádios se tornasse realidade. Os que ainda eram garotos passaram por muitas dificuldades e receberam muitos NÃO na cara, mas nada disso os fez desistir
Sebá, vocalista Inimigos da HP
Lembra daquela história de lançar músicas nas
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grandes rádios e clipes na MTV? Pois, então. E quando isso não pode ser realidade nem quando você é famoso na área em que toca? Essa é a realidade de quem vive de música gospel no Brasil. Se lançar um CD e viver de música quando você toca pop, rock ou pagode já é difícil, fazer sucesso e colocar uma música na boca da galera quando o assunto é religião, é ainda mais difícil. É o caso da banda Forjoc. Há sete anos na estrada e um sonho a ser realizado, eles sabem que a vida tocar em missas e eventos católicos (sem ganhar grana nenhuma) é realmente muito difícil. “Tocamos desde os 15 anos em média, e já participamos de grandes even-
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tos. Mas, lançar um CD e ganhar dinheiro quando o som não tem um apelo comercial é quase impossível”, afirma Gisele Chagas, tecladista da banda. Por isso, todos os integrantes levam vida dupla. Trabalham de segunda à sexta-feira e, aos finais de semana, se dedicam à banda. Mas, neste caso a família dá apoio total. “Nossos pais também fazem parte da igreja, para eles é um orgulhos nos virem tocar por um bem tão grande”, completa Gisele. Os próximos passos da banda católica são: compor músicas, gravar um CD e levar mensagens de paz, amor e esperança para cada vez mais jovens. Boa sorte para eles!
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Se depois de todos esses depoimentos e histórias você ainda não se decidiu, o caso é grave. Mentira! Mas, para apoiá-lo nessa decisão tão complicada, a Rolling Stone conversou com a psicóloga Marina Alves, especialista em terapia vocacional. A entrevista é em ping-pong. Quem sabe, você não desiste de tudo e tenta uma vaga na seleção olímpica? Mentira, de novo. Acompanhe: Rolling Stone: há casos em que jovens ao fazer o teste vocacional, se deparam com dúvidas sobre seguir a carreira musical ou outra profissão? Marina Alves: sim, é muito comum as preferências do jovem oscilarem entre uma vocação profissional e uma vocaçãoartística. RS: existe uma grande diferença entre o talento musical e a afinidade musical. Isso confunde os adolescentes? Como é possível mostrar que os caminhos são diferentes? MA: ainda não dispomos de instrumentos de investigação capaz de determinar estas diferenças sutis. O melhor método de avaliação ainda é a experimentação. O jovem vivenciará a experiência, o nível de dificuldade encontrada será significativo caso não tenha o que chamamos de vocação musical. RS: os pais geralmente não aprovam que seus filhos formem uma banda. Como o orientador profissional se posiciona nesse tipo de situação? MA: se não existe outra forma de
especialista
avaliar a real afinidade musical ou vocação é necessário dar a chance para uma primeira experiência. Porém, é fundamental que se coloque os limites quanto a gastos que devem estar por conta do próprio jovem e não patrocinados pela família. As dificuldades encontradas neste sentido são o primeiro obstáculo a ser ultrapassado e superado caso haja realmente a vocação. RS: no seu ponto de vista, os pais influenciam os filhos a escolher uma determinada profissão? MA: implícita ou explicitamente acabam influenciando. Hoje, em menor grau do em décadas passadas. Felizmente hoje o jovem tem maior autonomia na sua escolha profissional. O maior empecilho para a sua opção é o próprio mercado de trabalho. RS: como você orienta seus pacientes que estão em dúvida entre seguir uma carreira musical e ingressa na universidade? MA: embora não se possa avaliar a diferença entre vocação e afinidade artística, temos instrumentos que avaliam as principais áreas de interesse , que estão divididas entre: biológicas, exatas, persuasivas, educacionais e artísticas . Desta forma pode-se ter um parâmetro para avaliar uma tendência artística. RS: e, se o jovem optar por seguir as duas “vocações” estudar e continuar com o projeto da banda. É saudável, ou isso pode prejudicar o foco e a atenção dos adolescentes? MA: se o jovem conseguir se dedicar a ambos, sem prejuízo
de nenhum, isso seria o ideal. É preciso, no entanto, estar atento às possíveis dificuldades no desenvolvimento das atividades. RS: qual deve ser o posicionamento dos pais diante da decisão dos filhos em seguir a carreira musical ao invés de uma profissão “estável”? MA: os pais devem especialmente prestar atenção se estão projetando frustrações pessoais para que seus filhos a realizem por eles, (eu sempre quis ter uma banda e meu pai não permitiu) ou se consegue ser crítico o suficiente. Essa crítica inclui encorajamento sem ser fã, posicionando o jovem a respeito das dificuldades, mas estando por perto para auxiliálo como faria se estivesse cursando qualquer outra área. RS: qual é o momento que os jovens devem procurar uma ajuda profissional? MA: quando percebe que não consegue fazer a escolha, que sente que não gosta de nada, ou que gosta de tudo. É isso, caro leitor. Leia, releia e reflita sobre todos os casos. Pese os prós e os contras e tome a melhor decisão. Os caminhos, na maioria das vezes, têm volta. Por isso, não tenha medo de errar e traçar outras rotas. E, se resolver lançar um CD, mande para nós. Quem sabe você e sua banda não viram capa da
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