Livro Tipo Sergipano

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CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS - CECH DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS E DESIGN - DAVD

CURSO DE DESIGN GRÁFICO

Equipe TIPO SERGIPANO COORDENAÇÃO Isabela Ewerton - Coordenação geral e de Identidade Visual Germana G. de Araújo - Coordenação gráfica do livro Márcio Renan - Coordenação gráfica do site EXECUÇÃO Bruna Mainara V. de Carvalho - Diagramação do livro impresso Bárbara Costa Idalino - Desenvolvimento do site Cryslane Isnaele - Diagramação do livro digital Mariana Rocha Morato - Desenvolvimento da Identidade visual Mariana Rocha, Bruna Mainara, Bárbara Idalino, Ellen Pereira Costa Cruz e Thaylane Marina Souza Melo e Isabela Ewerton - Ilustrações REVISÃO Igor Miranda IMPRESSÃO Gráfica J. Andrade REALIZAÇÃO Igor Miranda Fundação de Cultura e Arte Aperipê - Funcap EWERTON, Isabela Pinheiro (org.)

Tipo Sergipano / Isabela Pinheiro Ewerton (Organizadora). Universidade Federal de Sergipe. Centro de Educação e Ciências Humanas - CECH, Departamento de Artes Visuais e Design - DAVD - Curso de Design Gráfico - São Cristóvão: J. Andrade, 2019.

128 p., il. p&b, 22 cm ISBN - 978-85-8253-354-3 1.Tipografia (Sergipe)

2. Design

3. Artes Visuais

4. Metodologia

I. Título II. Isabela Pinheiro Ewerton (org) III. Assunto Catalogação - Claudia Stocker -

CRB 5/1202

CDU 655.24(813.7)


Criações tipográficas Adriana Oliveira Andrade - Tipografia Renda Sergipana Antonielle Castro - Tipografia Boquim Aitley Sobral Santos - Tipografia Sergipana Bruna R. da Costa - Tipografia Gradil Catarina Aragão Paes - Tipografia Sc Sergipe Darlei da Silva N. Santana - Tipografia Rock Darlei Edivangel A. dos Santos - Tipografia Catedral Eriane Montalvão Pereira - Tipografia Parafusos Gabriel Gomes Lemos -Tipografia Cajus de Ara Gilson Anderson Santos - Tipografia Arte Mar Sergipe Jackeline Batista Santos - Tipografia Arcos Históricos Karla Letícia O. Andrade - Tipografia Cidade Dormitório Laysa Silva - Tipografia Castanha Leve Luan R. R. Cavalcante - Tipografia Rio dos siris Maria Carolina C. Santos - Tipografia Mangue Type Marcelly Gomes de Jesus - Tipografia Datilografia Aju Marlone S. Santana - Tipografia Serigy Paula R. G. Neves - Tipografia Sinuosa Rafael R. Florencio - Tipografia Caju Monumental Taynara Fernandes dos Santos - Tipografia Zé Vitor de Araújo Rodrigues - Tipografia Fitas Sergipe




APRESENTAÇÃO

6 TIPO SERGIPANO

por Isabela Ewerton

Este livro nasce com o planejamento da disciplina Tipografia Digital, ministrada na graduação em Design Gráfico da Universidade Federal de Sergipe (UFS), no segundo semestre de 2018. Fruto de anseios motivados pela necessidade de um meio que promovesse a usabilidade pela comunidade dos projetos produzidos pelos discentes, foi planejada com os alunos a utilização das tipografias originais produzidas na disciplina mencionada, tendo como principal referência o livro “Desenhe suas próprias fontes” de Tony Seddon, traduzido por Eliane Chaccur, do Senac SP (2014). Posto isso, entendemos que o livro, resultante do projeto Tipos de Sergipe, propicia uma maior visibilidade, tanto para as produções/pesquisas aqui apresentadas (e consequentemente para o curso de Design) como para os futuros profissionais, hoje alunos universitários. A identidade local foi utilizada como referência para os projetos tipográficos aqui presentes. Trabalhamos representação e reconhecimento para criação dos glifos, possibilitando a percepção de “pertencimento” à cultura sergipana, provocando identificação, passo necessário de apropriação e posterior utilização pela comunidade interna e externa aos limites da universidade. Este trabalho prevê a viabilidade de aplicações mercadológicas e ou sociais, seja através da utilização dos caracteres criados, ou mesmo sua metodologia para concepção de futuros projetos. Neste sentido, a escolha da equipe de produção criativa para os produtos derivados do projeto teve seu recorte no gênero motivado pelo


desequilíbrio entre o número superior de homens em relação ao número de mulheres absorvidos pelo mercado criativo de Sergipe. Integraram-se seis alunas de Design Gráfico da UFS: Mariana Rocha, Bruna Mainara, Bárbara Idalino, Cryslane Isnaele, Ellen Pereira Costa Cruz e Thaylane Marina Souza Melo. Para a execução do projeto e seus quatro produtos, a saber: identidade visual, livro impresso, livro virtual e site para acesso às famílias tipográficas, foram pensadas ações transversais, inicialmente com a criação e posterior catalogação de famílias tipográficas originais criadas por vinte alunos em sala de aula, em seguida com a construção da identidade visual gráfica, ainda com artigos e ilustrações que auxiliam o entendimento e discussões do processo criativo, ambos orientados por mim. Em seguida a adequação das fonts e da identidade para um livro impresso (também virtual) com a competência da profa. Dra. Germana Araújo para orientação de suas produções, por fim a orientação assertiva do prof. Msc. Márcio Rabelo para construção do site, meio correspondente de apresentação e download dos tipos. Não posso deixar de agradecer a coordenação do curso de Design UFS, tendo o prof. Dr. Luís Américo Bonfim como representante, pelo apoio no desenvolvimento das ações apresentadas, ações essas que reforçam a interdisciplinaridade dos saberes da tipografia digital, identidade visual, diagramação e editoração, virtual e impressa, que tanto defendemos na transdisciplinaridade do curso.


Sobre as construções tipográficas 8 TIPO SERGIPANO

por Isabela Ewerton Falar de tipografia é analisar um aspecto emergente da necessidade de comunicação: a escrita. Advém do desejo em registrar nossa existência, a passagem em determinado lugar e em dado momento, gravar nossas experiências para as gerações futuras, ou mesmo demarcar um território para que consigamos voltar. Na escrita, em sua forma e processo de cunho, conseguimos extrair contextos políticos, históricos e identitários. Cada caractere representa “EUs” (o que identificamos e reconhecemos) e “Outros” (o que negamos ou não nos é familiar)1, ou seja, apresentar a construção anatômica de tipografias experimentais com o tema Sergipe2, além de reafirmar a identidade local — leituras do entorno apreendido — elucida “EUs” próprios, visões de pertencimento desenhadas em glifos originais que enriquecem esse universo semântico da forma tipográfica. Para melhor entendimento das construções tipográficas apresentadas nos capítulos a seguir, faz-se necessário a familiarização com teorias, classificações e terminologias usadas pelos alunos, assim como as metodologias utilizadas no processo criativo, além de conceitos como legibilidade, leiturabilidade e pregnância da Gestalt3 contidos nos relatos de construção.

1- Ver Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Organizado por Tomaz Tadeu da Silva sobre os estudos de Stuart Hall e Kathryn Woodward - Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. 2- Criadas por alunos do quarto período da Universidade Federal de Sergipe. 3- Ver Sintaxe da linguagem visual. Donis A. Dondis, São Paulo: Martins Fontes, 1997.


A tipografia, segundo Priscila Farias (2001), são práticas e processos próprios ao desenvolvimento criativo de símbolos gráficos classificados como caracteres ortográficos (letras) e paraortográficos (números, sinais de pontuação etc.) prevendo usabilidade e reprodução. É importante salientar que nos referimos tanto ao design de tipos quanto ao design com tipos. Fontoura e Fukushima (2006) definem “tipo” como termo derivado do grego typos, clichê de metal fundido ou de madeira responsável pela impressão dos glifos, que por sua vez são a representações visuais de um caractere. Quando escolhemos determinada tipografia para composição de layout4, na produção de design com tipos, buscamos justapor a mensagem em continuidade ou contraste com a ideia proposta, para isso fazemos uma classificação mental de seus aspectos, estilos e pesos por meio da leitura de formas impressas em sua anatomia. Retomando este caminho, em sentido contrário, quando criamos uma tipografia, agora referimo-nos ao design de tipos, seguimos algumas etapas que agregam significado à mancha gráfica: previsão e busca de expressões, desenho de pesos e estilos, demarcação do tempo, seja passado, presente ou futuro. O desenvolvimento das fontes partiu do briefing5 sugerido em sala de aula. Assumindo essa ferramenta como norte, os alunos tiveram que apresentar formas e signos de identificação com a cultura sergipana por meio de mapa semântico, seguindo modelo propositivo de Stein (2012). Segundo a metodologia proposta por ele, “o mapa” complementa a ideia ou objeto principal (tema), em um exercício de soma e subtração de significados, estruturando o processo criativo em fluxo facilitando a percepção de possibilidades gráficas.

4- Layout ou leiaute - Conjunto de elementos do design (cor, forma, texto, disposição etc.) pertencente a uma composição gráfica. HURLBURT, Allen. Layout: o design da página impressa. São Paulo: Nobel, 2002. 5- Briefing - Documento descritivo que informa o “problema a ser resolvido”, o público e tema buscado, orientando o processo criativo. DOMINGOS, Carlos. Criação sem pistolão. Rio de Janeiro: Campus, 2003.


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Exemplo de mapa semântico para construção das fontes:

O termo “fonte” também pode ser utilizado como sinônimo de tipografia. Segundo definição de Tony Seddon (2014) a fonte é um ajuntamento de glifos com tamanho e peso específicos, como também “dá nome” aos arquivos digitais instalados nos computadores, permitindo a utilização e impressão das tipografias digitais. Priscila Farias (2004) sugere que a nomenclatura “fonte” pode ser utilizada em grupos de caracteres pertencentes ao mesmo estilo e à mesma construção métrica de continuidade e de similaridade de formas. Ao narrar os experimentos de Jean Anisson em 1790 e Emile Javal em 1879, ela recorre a percepções da Gestalt não só para classificações e análise de unidade e segregação, mas também como fundamentação teórica da legibilidade, que consiste na possibilidade de reconhecimento dos caracteres, além da leiturabilidade, que é o processo fluido de leitura e compreensão de um texto. Em continuidade com a percepção de unidade semântica na criação de uma família tipográfica, onde formas e contraformas carregam significados e conotações, os alunos foram orientados a utilizarem um grid básico para planejamento e construção tanto da métrica tipográfica quanto da anatomia dos tipos, buscando referência do mapa semântico construído anteriormente e antevendo soluções gráficas condizentes com a temática abordada: Sergipe.


Grids para construção tipográfica:

Ainda como metodologia de construção tipográfica para prever uma melhor leiturabilidade, partimos de um retângulo vertical, com a utilização do glifo “H” em caixa alta para derivação das maiúsculas e do glifo “n”, em caixa baixa, para a derivação das minúsculas, dispondo sempre que possível da proporção 4x5. O glifo “n” também aparece nos modelos de diagramação apresentados por Ellen Lupton (2013), na identificação das medida M e N (onde ene é metade de um eme) para definição ou métrica de espacejamento entreletras e entrepalavras. Outras técnicas foram utilizadas para produção das fontes originais aqui apresentadas, a exemplo da derivação automática da Mergenthaler Linotype Company6, método que utiliza a justaposições, sobreposições e rotações dos caracteres S, O, H, P, V, 0, 8 e 1 para construções de novos glifos. Algumas assimilações aparecem no exercício do fazer tipográfico, a exemplo da definição da altura X, também conhecida como tamanho do corpo da fonte, que após análise entre tipografias com alta legibilidade, aparece comumente medindo entre 60% a 80% da altura versal; assim como a construção anatômica, onde a largura das barras variam entre 20% a 50% das hastes, ou seja, tendem a ser mais finas. Da mesma forma, bojos e espinhas, por serem 6 - ADAMS, 1986, apud BUGGY, 2018.


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curvas, são geralmente mais grossas em sua porção média do que hastes (retas verticais), a fim de se obter uma aparência equilibrada. Ainda é possível ressaltar que junções apertadas ou de traços oblíquos devem ser suavemente abertas para que não apareçam pontos mais grossos no desenho dos glifos.

Fonte: Buggy (2018, p. 235).


O entendimento didático da anatomia dos tipos, integrando serifa, bojo, olho, vértice, ombro, barra, haste, pernas, braços, bandeiras etc. é melhor apresentado nas imagens a seguir:

Depois da representação da anatomia tipográfica é necessário voltarmos para as definições de espacejamento para prever aplicações dos tipos em textos diversos e a construção de layouts. No fazer tipográfico existem cuidados especiais com o ajuste das entreletras (kerning), que é a distância entre dois caracteres específicos, visto que alguns caracteres como AV, AY, TO, FF, WA, VA e KO acabam criando espaços e formas estranhas, caminhos de rato, que dificultariam a leitura e formação de palavras, já que não lemos letra por letra e sim o “espectro” da palavra. A mesma atenção devemos dispender para a definição de entrelinhas (leading), distância entre as linhas base da tipografia, pois o leading negativo, uma vez que a linha da descendente dos caracteres de cima colide com a linha da ascendente dos caracteres de baixo, tornando-se um bloco sólido demais e provocando um emaranhado de letras. Não podemos esquecer das entrepalavras (tracking), ajuste proporcional entre um bloco de caracteres em um determinado texto, fundamental para criação de design com tipos.


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Prosseguimos com a anatomia de tipos e adentramos nas classificações necessárias para compreensão das construções gráficas apresentadas neste livro. Assim, toda tipografia pode ser inicialmente classificada com serifa e sem serifa. A serifa é um pequeno filete de acabamento que se estende nas terminações das hastes dos caracteres. Estas hastes se diferenciam dos terminais, que podem ser lacrimais (forma de lágrima), circulares (forma de círculo) e abruptos (quadrados ou pontiagudos). As tipografias serifadas podem ser classificadas tanto por seu acabamento (apoiadas com ligação curva e não apoiadas com ligação angular) quanto por sua forma: triangulares (forma de triângulo), filete (finas e contínuas), quadradas (espessura da haste) e exageradas (extravagantes ou mais espessas que a haste). A compreensão das várias possibilidades de classificação tipográfica foi de extrema importância para construção da representação de identidades sergipanas presentes nas fontes aqui apresentadas. Ao analisar essas classificações, fazemos a leitura de suas formas e, ao propor essas segmentações, orientamos o olhar e construímos sentido. Quase todas as fontes possuem, no mínimo, um par de glifos: caixa-alta (letras maiúsculas) e caixa-baixa (letras minúsculas). As tipografias tidas como versaletes possuem todos os glifos dentro da altura X em caixa-alta. Aqui já temos uma segunda possibilidade de classificação tipográfica capaz de comunicar, por exemplo, a hierarquia de leitura com título e texto, ou mesmo indicar uma onomatopeia de grito ou sussurro em um diálogo de história em quadrinhos. As famílias de tipos são constituídas por uma fonte matriz e suas variações de estilo que, por sua vez, são atributos da correlação entre as formas do desenho tipográfico. Os vários estilos dão diferentes vozes à mesma personagem, defende Buggy (2018) que também nos apresenta alguns estilos classificados por peso (light, regular, bold), por largura e posição (extended, italic, normal, condensed, extended italic, condensend italic), segundo sua forma e contraforma (regular ou outline) e quanto à variação de espessura entre hastes, barras e bojo (sem estresse ou com estresse, angulação variando entre 7o e 20o). Karen Cheng (2006) chama-nos a atenção para a percepção no contrastes


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entre hastes finas e grossas, pois a utilização desta estética pode delinear o nível de sedução e sofisticação de uma fonte. O estilo regular é o “estilo base”, usualmente utilizado como matriz para construção de novos estilos no design de tipos, e na composição de grande parte do texto no design com tipos. No estilo regular, as letras são retas e seguem a proporção dos caracteres do alfabeto romano. O oblíquo ou itálico (italic) é uma versão do estilo regular que se inclina para a direita, geralmente com eixo de inclinação entre de 7o e 20o graus. O condensado (condensed) possui um estreitamento de entreletras (menor tamanho de kerning) se comparado ao regular. Já o estendido (extended) apresenta alargamento das entreletras (maior tamanho de kerning). O negrito (bold) contém hastes e bojos mais espessos do que o estilo regular. O claro ou fino (light) é uma variação de estilo com hastes e bojos mais finos (leves). As variações condensado itálico e estendido itálico, possuem a somatória das características de ambos os estilos que denominam sua nomenclatura. O mesmo acontece com variações de classificações distintas, a exemplo do estilo negrito itálico, que combina aspectos de peso com aspectos de forma. O outline exibe o contorno do caractere, neste estilo a contraforma é predominante. Ter ou não ter estresse significa também usar ou não variação de grosso e fino na composição dos glifos. Esta última classificação demarca historicamente a passagem de utilização das Romanas com estresse, para as modernas sem estresse, tendo as transicionais como comunicação dessa transformação na criação tipográfica. Lucy Niemeyer (2010) e Cláudio Rocha (2004) apresentam o quadro a seguir relacionando a história e a estética das famílias tipográficas. Esta classificação apresenta uma categoria primária de serifadas e não serifadas; dentro destas aparece uma nova divisão que elenca as tipografias em três grupos: Caligráficas, Romanas e Modernas. Esta segunda classificação apresenta novas subcategorias, em terceira instância, a exemplo da tipografia Avant-Gard, classificada como geométrica na subcategoria das Modernas e a tipografia Trajan Pro, classificada como Incisa e Caligráfica.


Fonte: Claudio Rocha (2004) e Lucy Niemeyer (2010).


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Dentro de uma percepção mais ampla, mergulhar na descrição e análise do design de e com tipos considerando suas múltiplas constituições e variadas classificações são etapas necessárias no processos criativo para a obtenção das famílias tipográficas e, por isso, foram apresentadas com riqueza de detalhes. Embora vários processos, manuais ou digitais, possam resultar em uma fonte do ponto de vista do design de tipos, Priscila Farias (2001) explica que é importante diferenciar a tipografia da caligrafia, resultante de processo manual para a obtenção de letras únicas a partir de traçados contínuos à mão livre, do letreiramento, que consiste em processo manual para a obtenção de letras únicas a partir de desenhos. Esses processos e suas respectivas diferenças são melhor desenvolvidos nos capítulos finais pelas alunas Taynara Fernandes dos Santos e Cryslane Isnaele dos Santos, o primeiro abordando o Letreiramento Manual e o segundo definindo epigrafias arquitetônicas como paisagens tipográficas. Vale lembrar que a construção de tipos digitais adota a medida em paica (medida de impressão tipográfica analógica empregada na Inglaterra e nos países de língua inglesa), fazendo uma adaptação em relação à unidade e tomando a polegada como referência. Neste caso, uma paica equivale a 1/6 de polegada, ou seja, 1 paica digital (4,233 mm) é igual a 12 pontos. Por esse motivo habitualmente utilizamos o corpo de tamanho 12 para a fonte de referência ou inicial, e a medida utilizada nos softwares deve ser pt (pontos). Os programas utilizados para construção das tipografias presentes neste livro foram o Adobe Illustrator para construção dos glifos em vetor e o BirdFont para finalização dos arquivos em formato TTF (true type font) assim como para derivação dos estilos de cada família tipográfica.


Referências BUGGY, Leonardo A. da Costa. Mecotipo: método de ensino de desenho coletivo de caracteres tipográficos. Recife: Serifa Fina; Brasília: Esteriográfica, 2018. CHENG, Karen. Diseñar tipografia. Tradução: Mela Davila. São Paulo: Gustavo Gili, 2006. DOMINGOS, Carlos. Criação sem pistolão: segredos para você se tornar um criativo de sucesso. Rio de Janeiro: Campus, 2003. DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. FARIAS, Priscila. Tipografia digital: o impacto das novas tecnologias. 3. ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2001. FARIAS, P. L.; GOUVEIA, A. P. S. Notas para uma normatização da nomenclatura tipográfica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN, 6, 2004, São Paulo. Anais eletrônicos [...]. São Paulo: FAAP, 2004. Disponível em: <arcomodular.com. br>. Acesso em: 22 out. 2018. FONTOURA, Antonio M.; FUKUSHIMA, Noatake. Vade-mécum de tipografia. 2. ed. Curitiba: Insight, 2006. HALL, Stuart. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Tomaz Tadeu da Silva, Stuart Hall e Kathryn Woodward (org.), Petrópolis: Vozes, 2000. HURLBURT, Allen. Layout: o design da pagina impressa. Tradução: Edmilson O. Conceição e Flávio M. Martins. São Paulo: Nobel, 2002. LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: guia para designers, escritores, editores e estudantes. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2013. NIEMEYER, Lucy. Tipografia: uma apresentação. Teresópolis: 2AB, 2010. ROCHA, Cláudio. Tipografia Comparada. São Paulo: Rosari, 2004. SEDDON, Tony. Desenhe suas próprias fontes. São Paulo: Senac, 2014. STEIN, M. Mapas semânticos. Santa Catarina: UFSC, 2012.


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Tipos Decorativos


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Adriana Oliveira Andrade A tipografia Renda Sergipana foi inspirada no padrão estético da Renda Irlandesa, elaborada através de técnica artesanal que, segundo o IPHAN, é produzida em várias localidades de Sergipe, tendo hoje sua maior concentração em Divina Pastora.

de seu enxoval. Esteticamente a Renda Irlandesa trás um cordão sedoso achatado chamado lacê, de brilho suave, emoldurando os desenhos riscados previamente no papel pelas bordadeiras, que finalizam suas peças com temas florais e arabescos.

Desde o século XVIII a técnica é associada aos saberes femininos e por isso, marca ensinamentos maternos que reforçam os ritos de passagens, da menina para a mulher adulta com a construção

Essa técnica confere unidade ao artesanato local, diferenciando-o das demais rendas do nordeste brasileiro e com isso assina uma proposição gráfica de identidade sergipana.

É uma tipografia decorativa também podendo ser usada como font display para títulos e cartazes, além de identidades visuais que referencie o artesanato e a cultura local sergipana.


Características gráficas: mesmo com todos os detalhes decorativos é extremamente legível, podendo ter sua estrutura comparada a uma tipografia geométrica se retirada sua malha rendada; elegante ao obedecer os mesmo parâmetros de hastes e bojos; fácil aplicação e fácil leitura. Alta pregnância e legibilidade.


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A tipografia Gradil tem como referência de construção os gradis da cidade histórica de São Cristóvão, quarta cidade mais antiga do Brasil e, por isso, carregada de símbolos de identidade cultural. São Cristóvão, assim como outras cidades do Estado de Sergipe, recebeu influência da arquitetura colonial, preservando em suas fachadas padrões gráficos de identidade local. As fachadas coloniais seguem o modelo de varandas ou balcões corridos (inicialmente feitos com madeira e posteriormente de ferro com o surgimento das fundições) que quebraram as semelhanças das fachadas através dos gradis de modelos diversos. Os gradis reduziam a monotonia da repetição de portas e janelas, com formas abstratas e geométricas retorcidas e espiraladas.

Bruna Rodrigues da Costa

É uma tipografia decorativa, podendo ser usada como font display ou mesmo em pequenos textos promocionais, de folheterias a elegantes convites culturais.


Características gráficas: rica em detalhes. Seus contornos, que imitam as estruturas das janelas e parapeitos, estão em perfeita harmonia com os arabescos do gradil; sutileza ao trazer nos signos históricos a própria disposição espacial das fachadas coloniais. Estrutura verticalizada, legibilidade e alta pregnância.

Cidade Histórica Sergipe

História Arquitetura

Gradil


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Catarina Paes

A tipografia SC Sergipe também tem como referência de construção os gradis da cidade de São Cristóvão (por sua importância histórica e cultural), porém o ponto de partida é a Igreja São Francisco, marco de tombamento histórico na cidade. Trazer a Igreja Católica como signo para construção tipográfica é falar também do sistema de poderes sociais sergipanos.

É uma tipografia decorativa e caligráfica, podendo ser utilizada em títulos e subtítulos assim como em pequenos textos para convites e outros layouts intimistas.

Essas construções opulentas são carregadas de significados e mensagens de poder. A altura dos portões, as gárgulas, as paredes largas, os púlpitos e os bancos foram construídos com semânticas específicas de segmentações sociais, e os gradis, não desassociados a este construto, carregam para os dias atuais mensagens de uma cidade sergipana “de histórias”.


Características gráficas: a riqueza dos detalhes não está na quantidade de elementos e sim nos terminais exagerados; seus filetes exprimem a renúncia franciscana com o poder da Igreja representado em pernas e braços que giram em torno de si, reforçando a ideia de centralização do poder eclesiástico. É fiel na reprodução da estética do gradil da Igreja São Francisco, possui pregnância e legibilidade, porém baixa leiturabilidade em textos longos.

Sergipe

Cidade Histórica

São Cristóvão Gradil

Arquitetura

Igreja

Poder


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Paula Ruhama A tipografia Sinuosa tem como referência estética o calçadão do centro comercial de Aracaju. Vemos no desenho gráfico do arquiteto Max André Amaral a representação da sinuosidade dos rios que cruzam a cidade, aspecto importante para valorização de um lugar que tem em suas águas (e em todos os costumes cultuais de uma cidade cercada de rios, mares e mangues) um marco de afirmação identitária e riqueza. Seguindo essa percepção de fluidez e sinuosidade das águas, foi construído a base do padrão estético da font. O desenvolvimento foi combinar os círculos com as formas ondulares resultando em

uma tipografia decorativa com aspectos geométricos. A sinuosidade é repetida em constantes ondas de caracteres. Características gráficas: elementos simples em repetição, resultante dos círculos sinuosos que se formam quando jogamos uma pedra em um espelho d’água; referência à brincadeira, ao calor da cidade nordestina e litorânea; círculos e semicírculos que agrupamos por proximidade e unidade no padrão criado por Max André Amaral; ondas sinuosas que desenham cada caractere. A tipografia possui legibilidade, média pregnância e baixa leiturabilidade em textos longos. Calor

Aracaju

Rios Mar

Sergipe Arquitetura

Centro Comercial Calçadão


É uma tipografia decorativa display em filete que flerta com as incisas, podendo ser utilizada em títulos, padrões tipográficos ou na composição de identidades visuais.


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Gabriel Gomes Lemos

A tipografia Cajus de Ara tem como principal referência a forma gráfica do fruto caju, que está na origem do topônimo Aracaju: palavra derivada da expressão indígena “ará acaiú”, que em tupi-guarani significa “cajueiro dos papagaios” (“ará” significa papagaio e “acaiú”, fruto do cajueiro).

Também referencia a estética do grafite nas tipografias experimentais, revisitando percepções gráficas que caracterizam os hieroglifos e suas concepções, onde os caracteres podem ser lidos em conjunto, como palavra, ou como ilustração sem que se perca o sentido e intenção da mensagem passada.

Sergipe

Grafite

Arte de rua

Aracaju

Caju


É uma tipografia decorativa display podendo ser reproduzida manualmente. Sua utilização varia entre títulos, pequenos textos e aplicações artísticas experimentais como o grafite.

Características gráficas: os caracteres são construídos para reprodução rápida de cajus em traços estéticos de spray, sem perder a legibilidade de cada glifo. A ilustração tem alta pregnância. A leiturabilidade fica comprometida em textos longos.


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Tipos Display


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Vitor de Araújo Rodrigues

A tipografia Fitas Sergipe tem como referência primária as fitas coloridas presentes em grande parte das vestimentas e alegorias de folguedos, brincadeiras e danças da cultura popular sergipana. Portanto, a base orgânica da tipografia, com preponderância de formas circulares em face das barras retas, simulam o movimento das fitas. É perceptível, inclusive, que as formas são geometricamente baseadas em um módulo circular que se repete.


Sergipe Cultura Dança

Fitas

Alegorias

Folguedos

Características gráficas: formas e contra formas modulares exprimem movimento por semelhança; classificada como versalete, possui construção anatômica onde a altura “X” é a mesma para caixa alta e para caixa baixa. Apresenta legibilidade de caracteres, média pregnância e média leiturabilidade em longos textos.

Trata-se de uma tipografia display podendo ser utilizada em títulos, subtítulos, composições artísticotipográficas assim como identidades visuais.


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Eriane Montalvão Pereira A tipografia Parafusos tem como referência o manifesto popular sergipano ‘’Parafusos’’ que retrata as soluções criativas dos escravisados para fugirem de seu estado servil e desumano. Conta-se que os escravisados furtavam as anáguas da Sinhá e vestiam em três unidades distribuídas pelo corpo, fugiam rodando e contorcendo o corpo pela madrugada, assustando a casa grande.

Muitos associavam tais figuras a assombrações. Suas silhuetas lembravam parafusos com veios e estrias. Ainda hoje, em festas sazonais de resgate cultural, são desenhadas representações de identidade local, tal como os Parafusos, temos também as Taieiras, Bacamarteiros, São Gonçalo, entre outras manifestações que assinam a história e cultura sergipana.


Características gráficas: com forma orgânicas essa tipografia experimental apresenta possibilidades gráficas únicas. Sua rusticidade imprime identidade em cada caractere, e fica quase imperceptível a derivação de bojos e hastes, mesmo que estejam lá. Por agrupamento, observamos terminais estriados, referenciando muito mais as saias esvoaçantes que a geométrica frieza das ranhuras próprias dos parafusos. Dispõe de legibilidade, média pregnância e baixa leiturabilidade em longos textos.

Sergipe História

Cultura

Festas populares

Manifestações Culturais

Parafusos Trata-se de uma tipografia display podendo ser utilizada em títulos, experimentos e padrões tipográficos, além de identidades visuais.


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A F K P U

B G L Q W

C H M R X

D I N S Y

E J O T Z

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b c g h l m q r w x

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e j o t z


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Taynara Fernandes dos Santos A tipografia Zé tem como referência José Martins Ribeiro Nunes (conhecido como Zé Peixe), brasileiro que se tornou uma figura lendária no Estado de Sergipe, devido a seu modo incomum de exercer a atividade de conduzir embarcações que entravam e saíam de Aracaju, pelo Rio Sergipe, sem necessitar de embarcação ou apoio para transportá-lo até o navio. Foi agraciado com diversos prêmios e homenagens, ganhou destaque em diversas publicações jornais, revistas e reportagens televisivas, servindo de inspiração para músicas, livro infantil, peça teatral e exposições.

Hoje, ele é lembrado como figura notória de representação identitária da cidade litorânea onde nasceu e nunca saiu. Características gráficas: foi estabelecido um signo de alta pregnância para a fonte, a onda do mar, construindo assim, uma relação de continuidade e semelhança com a nomenclatura “Zé Peixe”; a tipografia apresenta fluidez afim de se assemelhar ao balanço do mar e suas ondas, tento também um aspecto geométrico decorrente de sua construção modular. Possui alta pregnância, legibilidade e média leiturabilidade em longos textos.

Sergipe

Zé Peixe

Aracaju

Rio

Litoral

Rio


Trata-se de uma tipografia display podendo ser utilizada em títulos, subtítulos, e ainda pequenos textos, em construções gráficas que busquem a semântica fluida das águas.


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Maria Carolina Chagas Santos A tipografia Mangue Type tem como referência as raízes aéreas do manguezal, com galhos que sobrepõe-se e padrões gráficos que caracterizam uma trama de hastes múltiplas. Grande parte da cidade de Aracaju pos-

A tipografia display em outline pode ser utilizada em títulos, subtítulos, construções de identidade e layouts tipográficos experimentais.

sui o mangue como vegetação predominante, portanto, esse ecossistema presente na paisagem cotidiana dos habitantes, carrega signos em formas e cores, modelando representações identitárias sergipanas.


Sergipe Aracaju

Vegetação Mangue Raízes

Características gráficas: construída para títulos, não possui serifa, apenas traços firmes em construções geométricas somadas à estética vazada do outline. A dureza das hastes e bojos em sobreposição é balanceada pela ausência de preenchimento, impregnando a referida tipografia de linhas emaranhadas leves, porém marcantes, característica gráfica prevalecente. Dispõe de legibilidade e média pregnância, possui baixa leiturabilidade em longos textos.


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Gilson Anderson Santos A tipografia Arte Mar Sergipe tem como referência dois elementos que representam respectivamente o litoral e o artesanato, ou seja, caracterizam referências estéticas de Sergipe, seja culturalmente ou geograficamente. O primeiro elemento de alusão é o bilro, instrumento necessário para construção de bordados artesanais e “varandas” de redes de dormir. Seu formato singular é largamente encontrado no estado, principalmente no Município de Poço Redondo (SE). O segundo elemento é a representação gráfica do mar, inspirado nas ondas que banham o litoral de Aracaju, trazendo dinamismo e movimento à anatomia tipográfica.

Características gráficas: tipografia moderna e não serifada, com traços retos somados ao ritmo propiciado pela repetição, continuidade e semelhança de formas que lembram as ondas do mar e conferem dinamismo e movimento sem comprometer a legibilidade reiterada pela composição de caracteres com traços e contraste bem definidos, além de design que não compete a anatomia da font; os terminais circulares referenciam os bilros e acrescentam o equilíbrio necessário para melhor harmonização da tipografia. Possui leiturabilidade mesmo em longos textos, porém média pregnância.Voloris at esti autemod igenis dolor

Sergipe Cultura Artesanato Bilros

Aracaju Litoral Ondas


A tipografia geométrica foi desenvolvida em repetições modulares, e pode ser utilizada em textos e títulos, assim como em composições gráficas que utilizem a identidade sergipana, a cultura e o litoral como argumento.


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Jackeline Batista Santos

A tipografia Arcos Históricos tem como referência os arcos coloniais presentes na arquitetura da cidade histórica de São Cristóvão. Essa representação estética aparece logo no Portal de entrada da cidade, situado na

rodovia João Bebe Água, além das fachadas do Museu de Arte Sacra, Museu Histórico de Sergipe, entre outras edificações da quarta cidade mais antiga do Brasil, por isso, referência identitária sergipana.

A tipografia geométrica de extremidades arredondadas, foi idealizada no estilo bold. Em consequência a seu rigor métrico e concepção desprovida de ornamentos, pode ser utilizada em títulos, subtítulos, pequenos e longos textos, além de possibilitar construções gráficas dos mais variados temas.


Arcos

São Cristóvão Sergipe

Arquitetura

Hitória

Características gráficas: o peso da simetria e semicírculos dos arcos coloniais assinam esta tipografia de hastes retas e muitos bojos. Corpulenta e de terminais arredondados, pode facilmente ser deslocada para outras significações que ultrapassam os limites geográficos do Estado, visto sua baixa pregnância. O que não inviabiliza sua catalogação em Tipo Sergipano, uma vez que sua concepção criativa parte da estética arquitetônica encontrada na cidade de São Cristóvão, primeira capital de Sergipe. Possui legibilidade e leiturabilidade em vários formatos textuais.


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Aitley Sobral Santos

A tipografia Sergipana tem como referência a Mangabeira, instituída como árvore símbolo do Estado de Sergipe por meio do decreto nº. 12.723, de 20 de janeiro de 1992 (Brasil, 1992). A escolha desse símbolo reporta, não somente à tenacidade da planta, mesmo com a aridez presente na vegetação de caatinga, como também recorre ao significado “resistir” em varia-

dos âmbitos, sejam eles culturais ou geográficos. A própria capital, sofreu sucessivas mudanças até finalizar seu ciclo com a construção de Aracaju, projetada para furtar-se de conflitos e invasões. Em síntese, força e adaptação de um povo, mais a exuberância e resistência de uma árvore, compõem os pilares referenciais para concepção estética tipográfica.


Sendo uma fonte geométrica e regular, Sergipana, abrange toda a gama de utilização que uma tipografia pode abarcar: de textos aos mais variados layouts e identidades.

Características gráficas: formas sóbrias e simetria matemática indispensável para que a geometria de sua estrutura não dispute espaço com a mensagem a ser transmitida; objetiva, sem perder a meta em referenciar Sergipe. Cumpre seu papel com alta legibilidade e leiturabilidade, mesmo com baixa pregnância.

Sergipe Força

Adaptação

Resistência

Mangabeira

Signos de representação


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Darlei da Silva Nunes Santana A tipografia Rock Darlei tem como referência as cavernas de Simão Dias. Pedras e terreno irregular demarcam o turismo de aventura explorado em Simão Dias, existente não só nesse município em questão, mas em toda extensão

do Estado de Sergipe, visto que existem mais de 100 cavernas naturais já catalogadas. Dessa maneira, a estética de pontas afiadas e estridentes com a irregularidade de formas, carimbam a identidade do explorador sergipano.

A tipografia é geométrica em estilo bold, também pode ser percebida como display, podendo ser utilizada em títulos, subtítulos, além de construções gráficas e experimentos tipográficos.


Sergipe Simão Dias Geografia Pessoas Turismo Cavernas

Características gráficas: geometria construída através da repetição de blocos; suas hastes são grossas e pesadas; bojos em diagonal reiteram a rusticidade inevitável para construção estética irregular sem perder a legibilidade. Possui média leiturabilidade e baixa pregnância.


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Luan Raphael Ramos Cavalcante A tipografia Rio dos Siris tem como referência a etimologia da palavra que em tupi significa “si’riu pe” ou “rio dos siris”, esclarecimento que permitiu ao designer um retorno às suas origens, onde o Rio Sergipe fazia parte do cotidiano familiar entre a Barra dos Coqueiros e Aracaju. O siri é utilizado como signo principal na elaboração da

font, tendo sua morfologia de patas pontiagudas e carapaça achatada representada nos caracteres. Dispomos de um resgate estético amparado por memórias afetivas onde “pescar siri” com a família confere pertencimento, consolidando um hábito de vários sergipanos e por conseguinte cultura e história local.


Características gráficas: com mesma espessura de hastes e barras, possui terminais pontiagudos, tais quais as patas frontais do siri; a anatomia de ocos e ou olhos utiliza a forma arredondada das patas traseiras; a silhueta da carapaça do animal é utilizada na representação de bojos e ombros que configuram caracteres como o O e o zero. Possui legibilidade, leiturabilidade e pregnância.

Memória afetiva

Etimologia

Signos Sergipe

Siri

Rio dos Siris

Incisa e simétrica, a tipografia pode ser utilizada em títulos, subtítulos, textos longos ou pequenas frases, assim como em diversas composições gráficas e identidades.

Rio Sergipe


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Marcelly Gomes de Jesus A tipografia Datilografia Aju tem como referência o contraponto estético entre a cidade moderna e vertical Aracaju, com a opulência de seus monumentos, a exemplo da Ponte do Imperador, o Palácio do Governo, a Ponte Construtor João Alves (Aracaju – Barra), Arcos da Orla, Igreja do Santo Antônio, entre outros. A datilografia, impressão que já simbolizou a modernidade da escrita e hoje referencia o passado, foi usada como signo representativo, capaz de traduzir a dicotomia entre a contemporaneidade geométrica e as construções histórias de representação identitária. Sendo assim, para essa construção cria-

tiva, também foram analisadas algumas tipografias da época em que os registros textuais eram gerados ao som da máquina de escrever. São elas: a Typewriter For Me, Courier Prime e Erica Type Font Family. Características gráficas: tipografia em filete serifada, apresenta características de construção geométricas, com hastes e barras que revezam entre a leveza da linha e o peso do retângulo. O estilo outline acrescenta a harmonia necessária nesse jogo estético dicotômico. Sóbria e elegante, possui legibilidade em seus glifos, média leiturabilidade e baixa pregnância.

Sergipe Datilografia

Monumentos Tradição

Textos históricos Colunas


Incisa outline, a tipografia pode ser utilizada em títulos e pequenos textos, além de construções gráficas experimentais, podendo navegar do conceito tradicional ao moderno, dependendo das as construções gráficas de entorno.


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Rafael Rodrigues Florêncio

A tipografia Caju Monumental tem como referência um dos monumentos mais conhecidos do artista plástico Eurico Luiz, o “Caju”, situado em uma das cabeceiras da ponte que liga o bairro 13 de Julho ao bairro Coroa do Meio na capital de Sergipe. Esta obra de arte já foi tema de poemas e músicas. A tipografia tem em sua anatomia fragmentos da pintura presente na escultura, reportando a organicidade da mesma. Características gráficas: tipografia caligráfica e sem serifa, construída através da repetição de fragmentos da pintura presente no monumento caju; suas hastes, barras e terminais reproduzem as pinceladas orgânicas da obra de arte. Possui legibilidade, média leiturabilidade em longos textos e baixa pregnância.


Trata-se de uma tipografia manual podendo ser utilizada em títulos, subtítulos, e ainda pequenos textos ou construções gráficas que busquem a estética da caligrafia rústica.

Sergipe Artes Plásticas

Aracaju

Monumentos

Urbanidade

Turismo


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Marlone Santana A tipografia Serigy tem como referência o grafite, uma manifestação artística característica de cenários urbanos, responsável por novas padronagens em paredes, casarões, prédios comerciais e toda superfície que possa servir de transmissor de mensagens. Presente principalmente na capital Aracaju, essa expressão artística traz uma alternativa de comunicação, oferecendo cor, relatos, personagens e reflexão sobre costumes, cultura e cotidianos dos sergipanos, portanto,

apresentando em traços de spray a identidade local. Características gráficas: tipografia bold e sem serifa com terminais aguçados; hastes, barras e bojos orgânicos; a construção de cada caractere é percorrer uma nova construção criativa sem que se perca a unidade da font; unidade de aspereza não modular nessa tipografia dinâmica e estridente. Apresenta alta pregnância, legibilidade e baixa leiturabilidade em longos textos.

A tipografia é geométrica em estilo bold, também pode ser percebida como display, podendo ser utilizada em títulos, subtítulos, além de construções gráficas e experimentos tipográficos.


Sergipe

Aracaju Urbanidade

Arte

Grafite

ExpressĂŁo


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Laysa Silva

A tipografia Castanha leve tem como referência a silhueta da castanha, verdadeiro fruto do cajueiro e, por isso, também símbolo do Estado além de ícone gastronômico da cultura sergipana. Produto de exportação, tem seu peculiar processo de torra conhecido e apreciado em vários lugares do país, sendo uma mercadoria constantemente procurada por turistas. Seu contorno delgado e inconfundível deu forma a uma tipografia leve e elegante.

Características gráficas: tipografia caligráfica e sem serifa, com terminais sinuosos que fazem referência ao contorno da castanha de caju; elegante na construção de hastes e bojos, conjuntamente, informal ao dispor de múltiplas possibilidades de utilização em diversos conceitos, o que lhe confere moderada pregnância. Habilidosa ao trazer legibilidade e leiturabilidade em longos textos.


Trata-se de uma tipografia manual e caligráfica, podendo ser utilizada em títulos, subtítulos, e longos textos, ainda em materiais turísticos, convites e outros projetos gráficos que busquem a estética da escrita à mão.

Sergipe

Culinária Castanha de Caju

Aracaju

Símbolos culturais


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Antonielle Castro

A tipografia Boquim tem como referência a cidade de mesmo nome, do centro-sul do Estado de Sergipe. Essa cidade teve o seu desenvolvimento a partir do ano de 1913, com a ampliação da via férrea, proporcionando desenvolvimento econômico acelerado,

Tipografia mecânica com serifas não apoiadas e quadradas, pode ser utilizada em textos, títulos e subtítulos, materiais gráficos com referências histórias e identidade sergipana.

marco histórico para a região. A tipografia foi idealizada através da percepção gráfica dos glifos paraortográficos (números) presentes na arquitetura das antigas casas construídas em torno da via férrea da estação de Boquim.


Características gráficas: foi desenvolvida com hastes e bojos irregular, típicas do processo de impressão tipográfica de bilhetes do auge da via férrea de Boquim e da instalação dos números das edificações em seu entorno, ou seja, buscava-se uma geometria simétrica que devido às ferramentas, clichês e processos de execução da época, não era alcançada. Possui pregnância, legibilidade e leiturabilidade em longos e curtos textos.

Sergipe História

Boquim

Trem Trilho

Casas antigas Bilhetes

Números


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Edivangel Alves dos Santos A tipografia Catedral tem como referência a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1862, no Parque Teófilo Dantas, no centro de Aracaju (SE). É atualmente a catedral

metropolitana. A font produzida apresenta em sua anatomia elementos marcantes do Neoclassicismo e do Neogótico, tal qual a igreja matriz. Também foram utilizadas como fonte de inspiração as tipografias góticas e a geométrica (presentes no Neoclassicismo) sem distanciar-se do reconhecimento com a identidade cultural local que o monumento representa.


Características gráficas: tipografia desenvolvida em hastes e barras bem marcadas, anatomia geométrica com simetria matemática, possuindo quase todos seus ângulos em 90o. Séria e pesada, dispõe de uma inteligente composição constituída a partir da desconstrução e identificação com a Catedral de Aracaju. Possui legibilidade, média pregnância e leiturabilidade em pequenos textos.

Sergipe

Aracaju

Catedral

Neoclássico Harmonia

Mecânica com serifa quadrada, pode ser utilizada em títulos e pequenos textos para composição de peças gráficas que traduzam o estilo gótico além das representações clássicas de identificação histórica da cidade de Aracaju.

Traços fortes

Neogótico Geometria


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Karla Letícia Oliveira Andrade A tipografia Cidade Dormitório tem como referência a ponte Construtor João Alves, popularmente conhecida como Ponte Aracaju-Barra, acesso viário entre a capital Aracaju e o município de Barra dos Coqueiros sobre o Rio Sergipe, ponte essa que

substituiu a tradicional travessia de balsa. Sendo assim, essa nova forma de travessia é signo de inovação, conversando com os tempos acelerados da modernidade e, por isso, escolhida para representar a identidade contemporânea em Sergipe.


Características gráficas: a font foi desenvolvida em formas retas e ângulos precisos, tal qual a engenharia da ponte Aracaju-Barra. A estrutura da ponte foi utilizada para construção dos glifos tipográficos, ressaltando-se formas como: base, pilares e cabos. Base e pilares deram origem à anatomia das serifas. Pernas e barras em conjunto com os cabos de sustentação dão forma às hastes em composição de média pregnância. Possui legibilidade e leiturabilidade mesmo em longos textos.

Mecânica com serifa triangular, pode ser utilizada em textos, títulos e subtítulos de projetos gráficos que buscam, além da identificação com Sergipe, uma proposta estética de regularidade e geometria.

Sergipe

Aracaju

Litoral

Aquitetura

Ponte Aracaju Barra dos Coqueiros


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Paisagens tipográficas de Aracaju 118 TIPO SERGIPANO

por Cryslane Isnaele Dos Santos Estudar tipografia é observar a estética de seus glifos e compreender a construção da linguagem e suas influências na comunicação. As paisagens tipográficas de Aracaju possibilitam a reverberação de suas formas e de suas respectivas influências para a memória visual da população. O termo tipografia será tratado neste capítulo como sinônimo para font. De acordo com a definição de Farias (2004), a tipografia se refere a determinado tipo de letra e caractere utilizado em alguma aplicação específica, que contém várias informações culturais, desde a escrita cuneiforme até os meios digitais. Através de suas formas podemos descobrir as tecnologias envolvidas no processo de execução, por exemplo as serifas incisas que denunciam o “talhar dos tipos” em pedras de mármore nos remetendo à tradição Romana. Sendo assim, apresentam especificidades, estilos estéticos e técnicas utilizadas em cada época (Frutiger, 2002). A tipografia arquitetônica está presente no ocidente desde o Império Romano, sendo utilizada na ornamentação e na comunicação. Essas representações gráficas aparecem em prédios remanescentes das primeiras construções da cidade de Aracaju, localizadas no Centro Histórico da cidade. Através da análise dos tipos presentes nas fachadas inseridas nesse recorte, podemos identificar classificações tipográficas variadas, como: modernas, romanas e caligráficas — datadas entre os séculos XVIII e XIX — que trazem em suas formas registros


funcionais da época que foram aplicadas nas edificações, demarcando representações culturais. Nessa perspectiva, as tipografias aplicadas nas fachadas de prédios no fim do século XIX, conferem a correlação cultural apresentada acima. Sua existência nos permite perceber resquícios históricos, onde a superfície gravada revela formatos únicos e insubstituíveis, apresentando de forma tangível os símbolos de seu momento de cunha, que podemos classificar como lugar de memória. Na definição de Pierre Nora (apud Gonçalves, 2012): O lugar de memória supõe, para início de jogo, a justaposição de duas ordens de realidades: uma realidade tangível e apreensível, às vezes material, às vezes menos, inscrita no espaço, no tempo, na linguagem, na tradição, e uma realidade puramente simbólica, portadora de uma história [...] Lugar de memória, então: toda unidade significativa, de ordem material ou ideal, que a vontade dos homens ou o trabalho do tempo converteu em elemento simbólico do patrimônio memorial de uma comunidade qualquer. (NORA, 1997 apud GONÇALVES, 2012, p. 34)

O centro histórico constitui-se na “sucessão de testemunhos de várias épocas, monumento que nos traz vivo o passado, nos dá a dimensão temporal com a sequência dos factos que estruturam as identidades” (SEBASTIÃO, 2010, p. 20) Esses tipos enquanto construções gráficas destacam-se em meio a formas e aplicações contemporâneas transformando-se em elementos de distinção e singularidade da cidade. Assim, uma identidade é gerada e com esta um processo de diferenciação em relação a outros espaços. No que se refere à identidade no processo de preservação, Feiber (2008) articula:


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A formação de uma identidade passa não apenas por processos sociais e programas políticos e culturais, mas também pela preservação e modificação de artefatos e objetos físicos que formam o palco desses processos com os seus referidos valores e significados. Neste contexto, são os próprios símbolos na sua existência material que permitem forjar uma identidade. Eles tornam-se instrumentos que agregam grupos sociais e regionais diferenciados, muitas vezes, em diferentes escalas simultâneas (FEIBER, 2008, p. 24).

O estudo cultural a partir da memória material de um lugar específico, como as tipografias da paisagem urbana de Aracaju, pode fornecer importantes informações e referências aos designers, para conhecimento de sua história e desenvolvimento de seus projetos. Rafael Cardoso cita em seu livro “Design para o mundo complexo” (2016) que a primeira reação do designer na tentativa de inovar é recorrer ao uso da memória e formas antigas. Os bons designers utilizam esse método de maneira estratégica armazenando seus projetos mais significativos: “O registro cuidadoso destes elementos de design pode servir de auxílio em processos de restauração e recomposição do patrimônio danificado, e de reconstrução do desenho original” (GOUVEIA, 2007) permitindo a comparação de casos em diferentes regiões e em tempos distintos.

Referências CARDOSO, R. Design para um mundo complexo. São Paulo: Ubu Editora, 2016. FARIAS, P. L.; GOUVEIA, A. P. S. Notas para uma normatização da nomenclatura tipográfica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN, 6, 2004, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: FAAP, 2004. FEIBER, D. S. O patrimônio histórico como lugar social. Revista O espaço geográfico em análise, Curitiba, n. 16, p. 23-35, Editora UFPR, 2008. FRUTIGER, A. Em torno a la tipografia. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, AS, 2002. GONÇALVES, J. Pierre Nora e o tempo presente: entre a memória e o patrimônio cultural. Revista Historiæ, Rio Grande, v. 3, n. 3, p. 27-46, 2012. GOUVEIA, A. P. S., et al. Paisagens tipográficas: lendo as letras nas cidades. Revista Infodesign, São Paulo, v. 4, n. 1, 2007. SEBASTIÃO, A. S. C. Planejamento estratégico para o centro histórico de Torres Vedras. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade de Lisboa, 2010.


Tipografia vernacular e letreiramento por Taynara Fernandes dos Santos

A tipografia esteve desde o seu surgimento aliada à comunicação, carregando em si o conhecimento, passando por evoluções e revoluções, acompanhando as mudanças históricas ocorridas: A origem das palavras está nos gestos do corpo. Os primeiros tipos foram modelados diretamente sobre a forma de caligrafia. No entanto, elas não são gestos corporais, mas imagens manufaturadas para repetição infinita (LUPTON, 2004, p. 9).

Na história da tipografia, sempre esteve presente a constante transição entre a mão e a máquina, o que ocorre até hoje. É em uma dessas transições, que no início do século XV nascem as letras impressas, revolucionando a escrita. Johannes Gutenberg foi um importante inventor, gravador e gráfico que revolucionou a forma de impressão por meio da prensa móvel e dos tipos móveis de metais, contudo ele não foi o pioneiro na invenção de tipos móveis. Os tipos móveis haviam sido empregados antes disso na China, mas lá foram menos úteis. Enquanto o sistema chinês contém dezenas de milhares de caracteres distintos, o alfabeto latino traduz os sons da fala em um pequeno conjunto de sinais apropriados à mecanização (LUPTON, 2004, p. 9).

Os tipos móveis (caractere - letra - produzido de metal) permitiu uma maior produção em massa de livros, por sua agilidade na impressão e economia. Após serem utilizados, eram guardados em caixas sub-


divididas, as caixas altas chamadas de maiúsculas e as caixas baixas de minúsculas, a fim de facilitar na reutilização. Diferentemente dos escribas que fabricavam os livros e documentos à mão, o que durava maior tempo de produção. No entanto a Bíblia de Gutenberg foi inspirada nos manuscritos.

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Emulando a densa e escura escrita manual conhecida como letra gótica, ele reproduziu sua textura errática criando variações de cada letra, bem como inúmeras ligaturas (caractere que combinam duas ou mais letras em uma única forma) (LUPTON, 2004, p .9).

No século XV, na Itália, os tipos góticos não foram bem aceitos, por esse motivo foi aderido a lettera antica, uma escrita clássica manual com formas mais largas e abertas. Esse estilo estava inserido na estética renascentista. Logo depois surgiram as letras itálicas1 , estas foram modeladas a partir do estilo manuscrito casual, diferente das letras humanistas, as letras cursivas ganharam espaços em gráficas mais baratas e livros pequenos, pelo fato de serem escritas de forma mais rápida, por sua economia de espaço e dinheiro. Aldus Manutius (impressor, editor e acadêmico veneziano) utilizou bastante as formas itálicas em livros pequenos e baratos distribuídos pelo mundo. A Revolução Industrial que ocorreu inicialmente na Inglaterra e depois por toda Europa, entre o século XVII e XIX, favoreceu a economia da época, repercutindo nos meios de divulgação comercial, dando assim espaço para os letreiros em fachadas de lojas e anúncios cada vez mais exuberantes, a fim de atrair o público alvo: “O letreiramento comercial se caracterizava por sua letras fantasia, geralmente em tamanho, cor

1- No século XV, os impressores começaram a integrar as formas romanas e itálica em famílias tipográficas com pesos e alturas-x (a altura do corpo principal da letra em caixa-baixa) correspondentes. O itálico, na maioria da fontes, não é apenas uma versão inclinada do romano; ele incorpora curvas, os ângulos e as proporções mais estreitas das formas cursivas. Francesco Griffo desenhou tipos romanos e itálicos (concebidos como duas fontes distintas) para Aldus Manutius (LUPTON, 2004 p. 11).


e formas exageradas, com o intuito de chamar a atenção da clientela” (FINIZOLA, 2010, p. 46). Antes de entendermos o significado de letreiramento é importante conhecer as diferenças entre tipografia, caligrafia e letreiramento. A Tipografia é definida como: o conjunto de práticas subjacentes à criação e utilização de símbolos visíveis relacionados aos caracteres ortográficos (letras) e para-ortográficos (tais como números e sinais de pontuação) para fins de reprodução, independentemente do modo como foram criados (à mão livre, por meios mecânicos) ou reproduzidos (impressos em papel, gravados em um documento digital) (FARIAS, 1998, p. 2).

A Caligrafia está atada à arte da escrita, buscando apresentar por meio de suas ferramentas (pincéis e canetas) uma escrita cada vez mais bela (FINIZOLA, 2010 p. 38). Letreiramento ou lettering, comumente mais usado, é simplesmente o desenho de letras, que envolve planejamento em sua construção. A preocupação com o suporte de aplicação, seja ele uma parede ou papel, e com a construção do leiaute, acentuam a liberdade nos desenhos dos caracteres, traçando seu diferencial da caligrafia que, por sua vez, obedece a um grid linear, com ascendentes2 , descendentes3 e versaletes4 bem marcados. Sabemos que a tipografia é um importante meio de comunicação, por carregar em si a difusão de conhecimento através da escrita, seja analógica ou no meio digital. No Brasil, a tipografia vernacular é uma prática comum, pois, por meio de sua linguagem visual única, 2- Ascendentes: Altura da parte superior do corpo da letra. Alguns elementos podem estender-se levemente acima da altura de versal (distância da linha de base ao topo da maiúscula). (LUPTON, Ellen, 2004 p. 33). 3- Descendentes: Altura da parte inferior do corpo da letra, que se inicia da linha de base (é onde todas as letras repousam. Ela é o eixo mais estável ao longo de uma linha de texto), seu comprimento contribui para seu estilo e atitude no todo (LUPTON, Ellen, 2004 p. 33). 4- Versaletes: Os versaletes [Small Caps] são projetadas para alinhar-se com a altura-x (é a altura do corpo principal da letra minúscula - ou a altura de um x caixa-baixa -, excluindo seus ascendentes e descendentes) das minúsculas (LUPTON, Ellen, 2004 p. 33/48)..


são transmitidos os signos de nossa cultura que, segundo Stuart Hall, engendram nossa identidade. Considera-se vernacular toda produção de uma identidade cultural local de um povo. Para Fátima Finizola, sendo tais produções de âmbito não acadêmico, projetam hábitos locais que ganham forma e, por sua vez, compõem linguagens. Lupton (1996) afirma que:

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É importante não minimizar o vernáculo pois faz parte de uma história cultural, transmitindo assim o dialeto local de um povo, gerando então identificação e valorização dos mesmos (LUPTON, 1996 apud DONES, 2004, p. 2).

A tipografia vernacular tem suas peculiaridades, algumas delas comumente utilizam caracteres em caixa alta (maiúsculas), com diversas variações de estilo, com proporções que se adaptam ao suporte ainda utilizando-se de meios decorativos. Atualmente a tipografia popular, geralmente difundida de forma manual, vem ganhando espaço no meio da produção tipográfica digital, sendo fonte de inspiração para tipógrafos. Um exemplo é a designer Fátima Finizola, que se inspira na tipografia popular de Recife/PE. O letreiramento é conceituado conceituado como uma criação manual de letras, ou seja, a liberdade criativa, de poder desenhá-las onde há integração do imaginário e texto. Conforme cita Martina Flor refere-se a uma expressão tipográfica única, personalizada, feita para certa aplicação, combinando formas e elementos gráficos, tais como cor e textura, de modo a transmitir um conjunto de atributos, uma mensagem, ou uma ideia (FLOR, 2018, p. 12 ).

O letreiramento costuma ser confundido tanto com o conceito de tipografia quanto com o da caligrafia. Embora o lettering se inspire em tipos e caligrafias já existentes, ele difere em sua produção, pois existem letterings que são caligráficos mas não necessariamente o contrário. O letreiramento traz em sua composição uma história por meio de suas formas, diferentemente do design de tipos que tem como objetivo a


Estudo de grid do tipo Zé

criação de alfabetos completos para reprodução, formando palavras e frases, podendo ter diferentes sentidos dependendo de como é utilizada em combinação com imagens e cores no leiaute. Para o desenvolvimento de um lettering é necessário a preocupação com as formas, em que estilo as letras serão desenhadas e dispostas sobre o suporte, enquanto depende a caligrafia de como se domina a ferramenta para se obter o melhor resultado, já que sua definição é a “arte da bela escrita”. Martina Flor, designer e letrista em colaboração ao calígrafo Giuseppe Salerno, realizou em 2012 o projeto Lettering vs Calligraphy. Segundo Martina, o projeto consiste em um diálogo visual entre um letrista e um calígrafo, onde ambos ilustram ou escrevem uma carta respondendo a uma palavra-chave dada por um moderador. A aventura visa explorar as capacidades das duas abordagens técnicas. Ele oferece uma carta diariamente e acontece online, onde os visitantes são convidados a votar em seus favoritos5. O letreiramento tem como características a diversidade de estilos gráficos e tipográficos para seu desenvolvimento, contudo existem alguns estilos de letreiramento comumente mais utilizados atualmente é o hand-lettering, o brush lettering e o chalkboard lettering. Hand-Lettering (mão + letra) é a criação de letras em caráter manual, onde se desenha letra por letra de uma palavra ou frase. Em seu desenvolvimento 5 - Ver www.behance.net/gallery/6275681/Lettering-vs-Calligraphy.


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essas letras podem ter inspiração de estilos tipográficos diferentes, além de aliar elementos decorativos em sua composição conferindo um estilo único. O conceito de brush lettering é semelhante ao conceito de caligrafia, pois trata-se do letreiramento feito com ferramenta específica, a caneta pincel, contudo está associado ao lettering pela liberdade artística na composição. O chalkboard lettering é o letreiramento produzido com giz em lousas. A construção de letreiramento envolve planejamento, tanto do estilo de lettering a ser adotado, como do seu leiaute, que por sua vez costuma ter um grid flexível. Grid é “um sistema de planejamento geométrico que divide a informação em partes e ajudam o observador a entender o significado entre os elementos informativos, sejam estes imagens ou palavras.” (SAMARA, 2007, 30). Os grids tipográficos permitem o controle da disposição de conteúdo, lidando com questões internas (textos, imagens, dados) e externas (páginas, telas e outros suportes). Grids são estruturas que se ajustam em concordância com as informações. No século XIX, um novo tempo surgiu: o grid deixou sua rigidez de séculos

Tipografia Lettering Zé Regular


passados e passou a ser mais flexível, crítico e sistemático. Vanguardistas derrubaram barreiras que afastavam a arte do cotidiano, logo houve criação de novos objetos e práticas combinadas com experiências urbanas. Dessa forma, percebe-se que o grid é um importante aliado na composição do letreiramento, independente de seu suporte – de inúmeras possiblidades, variando de acordo com o projeto –, por proporcionar uma organização, a fim de que o conteúdo seja interpretado para quem o vê. “A história da tipografia reflete uma tensão contínua entre a mão e a máquina, o orgânico e o geométrico, o corpo humano e o sistema abstrato.” (Lupton, 2004, p. 27). Uma das revoluções na história da tipografia foi a tipografia digital, como resposta a comunicação eletrônica em constante crescimento. Logo surgiram projetistas que propuseram tipos para esse ambiente digital, Zuzana Licko6 foi uma dessas, onde junto ao marido, Rudy Vander Lans autointitulavam-se como “novos primitivos”, sendo precursores de um novo tempo na tecnologia. A medida que a internet ascendia, novos tipos surgiam, atendendo as necessidades desse ambiente digital. Assim como a tipografia passou a existir no ambiente digital, o letreiramento também; porém há lettering que originalmente têm caráter manual sendo posteriormente transferido para o digital, contudo é possível a criação de lettering em ambiente digital com finalidades diversas, desde sites a livros digitais. São infinitas as possibilidades de aplicação do letreiramento. Nas décadas de 70 e 80 eles costumavam estar inseridos principalmente em capa de disco e cartazes para divulgação. No entanto atualmente sua aplicabilidade é mais abrangente, fazendo parte de logotipos e até mesmo do branding7 6- Zuzana Licko criou fontes de baixa resolução para telas e impressoras em 1985. Desde então, essas fontes foram integradas à extensa família tipográfica Lo-Res, projetada para meios impressos e digitais. 7- É o conjunto de práticas e técnicas que visam a construção e o fortalecimento de uma marca. Refere aos atributos descritivos verbais e símbolos concretos, como o nome, logo, slogan e identidade visual que representam a essência de uma empresa, produto ou serviço. (Dicionário de Comunicação Social, 2015).


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de empresas como forma de diferenciação e identificação da marca. Outra forma de utilização é na área editorial, em impressos diversificados como cartazes. No segmento têxtil, funciona também em peças de design de interiores, em embalagens e tantas outras alternativas. O atual cenário do letreiramento, revela uma grande ascensão deste como um forte comunicador, onde é possível a integração em diversas áreas como potencializador de conteúdo. Recentemente, a empresa Google apresentou em seu doodle8 uma série de letreiramentos de diferentes artistas de todo o mundo, com citações inspiradoras de mulheres pioneiras tanto do passado como do presente, como a escritora Clarice Lispector, NL Beno Zephine diplomata indiana, Frida Kahlo artista mexicana, Yoko Ono artista multimídia japonesa, entre tantas outras personalidades. 8- Os doodles são versões divertidas, surpreendentes e, muitas vezes, espontâneas do logotipo do Google para comemorar feriados, aniversários e a vida de artistas famosos, pioneiros e cientistas.

Referências FLOR, Martina; Os segredos de ouro do Lettering. São Paulo: Editorial Gustavo Gili SL, 2018. LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: guia para designers, escritores, editores e estudantes. Tradução: , André Stolarski 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2013. FINIZOLA, Fátima. Tipografia vernacular urbana: uma análise dos letreiramentos populares. São Paulo: Blucher, 2010. AURÉLIO, Dicionário. Dicionário Online Português. 2019. Disponível em: <https:// www.dicio.com.br/artesao/>. Acesso em: 15 mar. 2019. FLOR, Martina; Portfólio online. Lettering vs Calligraphy. 2012. Disponível em: <https:// www.behance.net/gallery/6275681/Lettering-vs-Calligraphy>. Acesso em: 10 mar. 2019.




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