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MÍDIAS E EDUCAÇÃO: LINGUAGENS, CULTURA E PRÁTICA PEDAGÓGICA

Ademilde Sartori Jucimara Roesler

A presença cada vez mais intensa das mídias na agenda do entretenimento e nos processos de criação, lazer, trabalho e formação, exige dos educadores que concebam novos procedimentos didático-metodológicos e apresentem posturas que contemplem processos diferenciados de ensino e de aprendizagem, respeitando as sensibilidades e subjetividades advindas de um convívio maior com as mídias, suas linguagens1 e processos comunicacionais que viabilizam. As mídias2 são muito mais do que recursos de ensino, são agentes sociais que abrem espaço para discussões a respeito da produção de sentido em nossa sociedade, ou seja, do modo como sentimos, entendemos, agimos e nos comunicamos no mundo em que vivemos, ampliando os horizontes da discussão sobre a formação de cidadãos capazes de agir no contexto social vigente. Cabe, diante das novas dinâmicas culturais inauguradas pelas tecnologias comunicacionais, que educadores reconsiderem seu papel diante das aprendizagens que são proporcionadas pelos diversos modos de produção e circulação dos sentidos, da informação e do conhecimento e “[...] assegure um processo educativo que seja relevante para o sujeito ou sujeitos que aprendem, relevante para o seu desenvolvimento como ser humano e social, que participa de comunidades e de países específicos.” (OROZCO GOMES, 2002. p. 68).

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Para ter uma atitude pró-ativa diante dos diálogos possíveis com as mídias e a sociedade, educadores necessitam atualizar suas práticas pedagógicas em face das mudanças nos modos de produzir e socializar o conhecimento, apresentando um constante esforço para a formação dos educandos para compreender as linguagens e os processos de comunicação que formam o ecossistema comunicativo3 contemporâneo. Nesse sentido, Citelli (2000, p. 18) chama a atenção para as possibilidades do diálogo da educação com as mídias que podem cumprir dois objetivos: um, vinculado ao princípio da abertura do discurso pedagógico para os discursos das comunicações; outro, de inserção crítica da voz da diferença representada pela imposição sistematizadora e de produção dos saberes que devem motivar e estimular o mundo da escola. Nessa perspectiva, cresce a importância do desenvolvimento de práticas pedagógicas que não oponham saberes e manifestações culturais4 adquiridos no convívio com mídias e os objetivos educacionais que se pretende atingir. [...] intentando fugir de dois perigos que comumente circundam tal tipo de análise. De um lado, a adesão acrítica ao narcisismo tecnológico que tanto seduz como reduz e, de outro, o repúdio apocalíptico, que responsabiliza os meios de massa pela alienação que abastarda o saber e desfigura os valores humanos. (2000b, p.17-18).

Não opor as mídias e a educação evita atitudes que perdem a oportunidade de construir processos coletivos de reflexão sobre os sentidos em circulação, da ressignificação de práticas culturais, da vivência de espaços criativos. A adesão acrítica, por outro lado, corre o risco de a prática pedagógica abandonar-se ao sabor das novidades, como se outros agentes sociais fossem responsáveis pela formação de nossas crianças, ou ainda, como se artefatos tecnológicos, por si só, resolvessem todas as questões relativas à educação. É bom lembrarmos que, quando Henry Ford lançou sua política de produção em massa baseada no consumo em massa, inaugurou, também, a sociedade da comunicação de massa. Nessa sociedade, éramos receptores, por que poucos eram os emissores. Esse tempo foi chamado de era da industria cultural5, da comunicação de mão única, das teorias da recepção passiva e influenciável – para justificar tanto investimento em propaganda e publicidade. Pouco mais de um século depois, no início do século XXI, as chamadas Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação inauguram os tempos da hibridação fonte-receptor. Vivemos tempos de mudanças constantes, mas, principalmente, tempos de iniciativa, de cooperação, de coautoria. A educação para este tempo precisa pautar-se em uma comunicação multidirecional6, sem fontes e receptores definidos, mas híbridos, cambiáveis, e cooperantes. Uma prática pedagógica crítica e criativa visualiza as diversas possibilidades viáveis para atingir os objetivos educacionais desejados, definindo claramente os pressupostos pedagógicos

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que irão norteá-la. Isso quer dizer que educadores devem perceber as relações entre linguagem e conteúdo, tanto no sentido da aquisição e construção do conhecimento quanto do desenvolvimento de valores e atitudes que possibilitem um olhar crítico para as produções das mídias e, ao mesmo tempo, desenvolva a expressão individual e coletiva. Afinal, é por meio das linguagens, visuais, auditivas, audiovisuais e hipertextuais que as mídias viabilizam a expressão criativa e a inserção nos processos de produção e circulação de bens culturais e, também por meio delas, educa. O desafio aos educadores é entender as mídias como produtoras de cultura, conhecer as linguagens e reconhecê-las como um elemento constituinte de uma prática pedagógica educomunicativa7. A compreensão das mídias e possibilidades comunicativas como agentes culturais que participam da aprendizagem, ainda que educandos não tenham acesso a equipamentos tecnológicos sofisticados, alimenta processos coletivos que surgem de uma prática pedagógica alicerçada em planejamento consistente e, principalmente, na criatividade e colaboração. Um exemplo desse olhar atento à pluralidade cultural é o “Projeto Acorda Cordel na Sala de aula. A literatura de Cordel como ferramenta auxiliar na educação” (LIMA, 2005) que propõe a revitalização do gênero e sua utilização na alfabetização de crianças, na educação de jovens e adultos e no Ensino Fundamental e Médio. O material paradidático consiste em uma caixa contendo 12 folhetos de diferentes autores, um livro, com o título do projeto, contendo informações sobre as origens da Literatura de Cordel, suas regras e modalidades, e um curso prático com dicas para educadores acerca da utilização dos folhetos na sala de aula. Esse projeto faz parte do movimento de recuperação de uma prática cultural, traz de volta à cena o “professor folheto”. As diversas linguagens com as quais convivemos, denominadas não escolares por Adilson Citelli (2000b; 2000c), dizem respeito aos nossos modos de ser, viver, sentir e agir no mundo e, por isso mesmo, precisamos “[...] considerar os meios como instâncias com papel estratégico no terreno da cultura [...]” (CITELLI, 2000c, p. 21-22). Para Jesús Martín-Barbero (2001), nossa atenção deve ser dirigida para “[...] as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as diferentes temporalidades e para a pluralidade de matrizes culturais” (p. 270). Propor uma prática pedagógica pertinente aos nossos tempos, que leve em consideração a cultura dos educandos e como as mídias estão inseridas nela, implica, por um lado, resgatar a importância do diálogo e por outro, o papel mediador cultural que elas desempenham. Paulo Freire define o diálogo como “problematização do próprio conhecimento e sua indiscutível relação com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicála, transformá-la” (FREIRE, p. 52). O papel mediador que as mídias desempenham em nossa sociedade é complexo por envolver tecnologias com graus maiores ou menores de sofisticação, grupos de pessoas com seus desejos e interesses, lógicas e procedimentos comunicacionais,

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percepções do que seja público ou privado, e os processos de produção com suas lógicas, limites e objetivos. Nesse contexto, dialogar significa compreender, explicar, agir e transformar uma realidade embebida em processos de produção e circulação de significados no qual reconhecemos a nós mesmos como mediadores. “Todos nós somos mediadores, e os significados que criamos são eles próprios, nômades” (SILVERSTONE, 2002, p. 42). A relação entre as mídias e educação é, antes de tudo, uma relação entre as pessoas, com ou sem instrumentos tecnológicos, sofisticados ou não. Velhas ou novas tecnologias, todas contribuem com a construção humana, como viabilizadoras de processos de criação e circulação de significados que fazem parte do modo como vivemos e queremos que a vida seja. Uma prática pedagógica que tenha o diálogo como orientador vê a relação entre as mídias e a escola como fenômeno complexo sobre o qual refletir, agir, questionar, mas também com o qual reconhecer-se. Neste sentido, não se trata de nos apaixonarmos por nossa própria imagem, como Narciso, nem nos condenarmos à morte por encará-la de frente, como a Medusa. Antes disso, trata-se de reconhecer como as mídias constroem e permeiam as relações e, em nome das pessoas, agir. AS MÍDIAS NA SALA DE AULA A seguir apresentamos algumas considerações a respeito das possibilidades da utilização das mídias na sala de aula. Essa apresentação será sucinta uma vez que o espaço é curto e cada mídia provoca infinitas possibilidades, tanto por suas especificidades técnicas e recursos que disponibilizam quanto pela prática criativa de nossos professores e alunos. Algumas pistas, algumas possibilidades, algumas sugestões. O mais importante é a criatividade para o desenvolvimento de práticas pedagógicas que dialogam com o mundo contemporâneo, com crianças conectadas e que interagem com tecnologias sofisticadas e com pessoas em situações que não existiam há pouco mais de uma década apenas. A única certeza de que temos, neste momento, é que vale a pena aceitar o desafio e deixar-se banhar pelas inúmeras possibilidades que temos de desenvolver práticas interessantes, instigantes, produtivas e cativantes com nossos alunos. A produção de um jornal Práticas com esta tônica podem, por exemplo, valorizar o processo de produção e redação de notícias mesmo que não se possa adquirir jornais ou revistas, impressos e online, e não se tenha a disposição uma imprensa como Celestin Freinet que, além da ideia da imprensa escolar, no início do século XX, desenvolveu a correspondência escolar:

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As crianças com as quais Freinet trabalhava (...) discutiam a diagramação e também o tipo de ilustração que acompanharia o texto depois de impresso. Quando chegavam a um acordo, com tudo decidido, dividiam-se em grupos que assumiam diferentes tarefas: preparação das linhas com os tipos de impressora, ilustrações, preparação do papel e contagem das folhas a serem impressas e arrumação da mesa de trabalho. Cada grupo sabia de sua responsabilidade e assim um texto individual se transformava num produto de toda a classe. (...) O “jornal de textos livres” estava pronto para ser distribuído. (...) As crianças de Freinet mandavam o seu jornal para seus colegas lá no outro extremo da França. (SAMPAIO, p. 25-26)

Cabe ao educador perceber as contribuições que o processo de produção da notícia traz para a construção do conhecimento, desenvolvimento de valores e atitudes relativas aos fatos que nos interessam, ao trabalho de equipe e a valorização da contribuição de cada educando. Ao desenvolver uma atividade que tenha como fio condutor o processo de elaboração e publicação de um jornal, o educador deve levar em consideração que, se a publicação de uma notícia segue uma lógica definida pelo interesse ou importância que o fato possa ter, estando comprometida com a noção de verdade relacionada com o ocorrido, não está isenta de contingências históricas, de compromissos dos jornalistas e dos editores8. A clareza em relação à não neutralidade política, ideológica e cultural das agências jornalísticas permite ao educador planejar a atividade de modo a levar os educandos a perceber intencionalidades e interesses de quem produz um jornal. Intencionalidades e interesses revelam-se desde a seleção dos eventos, na ordenação dos fatos relacionados à notícia, que a explicam e esclarecem, até a escolha do vocabulário que será utilizado para expor o assunto ao público pretendido. Durante este processo de elaboração de um jornal, os educandos precisam discutir e estabelecer os critérios que utilizarão para considerar algo publicável ou não, discutir como exporão de modo claro e sucinto o assunto, tornando-o convidativo e interessante o suficiente para ser lido e, principalmente, adequado ao público que se destina. A produção de um jornal pode ser proposta pelo educador como modo de chamar atenção para a importância deles como fontes de informações, levantando o acesso e a influência que estes têm na vida dos educandos e da comunidade. A produção pode ser posterior à observação deles; situação na qual os educandos podem apreender a estrutura espacial ou interna – onde se localizam as manchetes, para que servem, como se distribuem os assuntos ao longo do jornal, que tipo de notícias são veiculadas, que tipo são consideradas mais importantes, as diferenças de tamanho entre diversos jornais, a disposição das imagens, a postura e a linguagem utilizada pelo apresentador na TV, o tipo de voz e de “jeito de falar” usados no jornalismo televisionado e radiofônico, como os assuntos são abordados nos jornais de diferentes empresas de comunicação, entre outros.

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O jornal produzido pelos educandos pode ser impresso em mimeógrafo, em papel ofício pela impressora de um computador, ou publicado em um blog na Internet, a depender do acesso tecnológico dos educandos e da escola. Por outro lado, também podem observar e discutir as diferenças de organização e publicação de jornais em mídias diferentes: a organização de um jornal é igual quando o lemos em papel ou em um site pelo computador, ou em um tablet? Cada uma dessas mídias tem suas características específicas e demandam certas habilidades, contudo, a vivência de um processo coletivo pode ser comum a todos eles, desde que educadores conduzam as atividades de modo a valorizar o processo vivido pelos educandos, independentemente do produto mais ou menos sofisticado em termos tecnológicos. Nos casos em que a impressão de um jornal seja inviável, o educador pode produzir dramatizações com seus educandos, situação na qual montam as notícias, reportagens, entrevistas (inventadas ou selecionadas de jornais reais), simulam um jornal e o inserem em uma programação de rádio ou TV, criando os comerciais, elegendo a lista de músicas e inventando tipos e formatos diferentes de programas. Durante o processo, estarão exercitando a leitura, a imaginação criadora, aprendendo a trabalhar em equipe, aperfeiçoando a escrita, a dicção e construindo espaços de expressão. Além disso, o estudo pode avançar e os educandos podem identificar as diferenças de cada mídia ao comparar tipos e grades de programação, formato de programas, e da simulação de um jornal, podem partir para a simulação de uma novela, minissérie ou programa de auditório. Nesses casos, além da análise dos meios de comunicação, os educandos desenvolverão a criatividade, a imaginação, a expressão corporal; podem aprender a identificar e redigir textos de diferentes gêneros (reportagens, notícias, comerciais, crônicas, artigos científicos), a negociar ideias e propostas, a organizar o tempo e o espaço, a manipular fontes de informações, realizar pesquisas e recortes de assuntos de interesse do grupo, emitir opiniões de modo organizado e reflexivo, elaborar relatórios, entre outros. Fotografia Um trabalho interessante utilizando fotografia pode levar em consideração as fotos dos acervos familiares dos estudantes. Pode-se solicitar que tragam fotos que tenham algum determinado aspecto: fotos de quando eram bem pequenos para avaliar a passagem do tempo, avaliar o crescimento, os hábitos familiares. As fotos podem ser de pessoas trabalhando para discutir profissões, mudanças nas atividades econômicas da região, entre tantas possibilidades.

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A atividade com fotografia dos acervos familiares pode inspirar a turma a fazer fotos da escola e das suas rotinas. Registrar atividades realizadas para falar sobre ela depois em sala. O professor pode propor um ensaio fotográfico sobre a vida na escola e organizar uma exposição fotográfica. As fotos podem ser publicadas no blog da turma ou na página no Facebook9. As fotos podem ser feitas por máquinas fotográficas digitais ou por celulares e propiciarem momentos de lazer, descontração, criatividade e oportunidade para muitas discussões. O professor também pode trabalhar com imagens disponíveis na Internet. Com o motor de busca do Google, é possível encontrar imagens na Internet, escolher algumas conforme os assuntos que irá trabalhar em sala, dividir a turma em equipes, distribuir uma imagem para cada uma e fazer o seguinte desfio: o grupo deve decidir sobre o tema da imagem e fazer um trabalho sobre o assunto. Para instigar a turma, o professor pode mostrar uma imagem e sugerir temas que possam estar relacionados com a imagem. A imagem de uma canoa furada na beira do mar pode, por exemplo, sugerir um maremoto, a situação de pescadores artesanais, enfim, confie na criatividade dos alunos! Trabalhando com audiovisuais: TV, cinema, YouTube... Produções audiovisuais podem ser filmes, programas gravados da televisão, ou vídeos da TV Escola10 ou YouTube, celular dos alunos, enfim, não importa a fonte, mas qualquer audiovisual deve receber o mesmo tratamento cuidadoso ao ser trabalhado em sala. O educador deve ter em mente que alguns procedimentos possuem grande importância para atingir de modo satisfatório os objetivos que traçou para as atividades a realizar. Entre eles estão o esclarecimento dos objetivos e dos critérios que ajudaram na seleção da obra e informar às crianças o que se espera ao final da audiência e da discussão. Explicitar a tônica do interesse pela obra ou obras que escolheu, deixar espaço para as sugestões da turma, nunca desprezar o tempo para a discussão, que deve seguir a audiência ou audição, e explicitar e(ou) construir relações com a vida das crianças e sua comunidade são atitudes que se esperam de uma prática pedagógica educomunicativa. A discussão em torno do conteúdo a ser trabalhado não pode, no entanto, tolher as interpretações que se mostrarem presentes, pois obras audiovisuais são antes de tudo peças de cultura, produções intencionais, com visões de mundo e interesses determinados pelos seus autores. Nesse sentido, a razão – a compreensão do assunto, se relaciona de modo dialético com a emoção – o sentir e perceber o mundo, o que permite a inserção e o agir crítico e comprometido na sociedade.

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A escolha de uma obra audiovisual é função do tema a discutir e das atividades que se quer desenvolver com as crianças. A partir do tema que você escolheu, elabore um roteiro de observação e de pesquisas para que as crianças realizem na biblioteca da escola ou na da cidade, em museus, jornais, revistas ou outros vídeos que a sua escola disponha, como os que são fornecidos pelo Programa TV na Escola, no YouTube ou qualquer outro site da Internet. É muito importante que você conheça todos os recursos que a escola possui para poder decidir quais e como utilizar. Um criterioso planejamento ajuda o professor a situar as atividades dentro de sua programação de modo a atingir os objetivos educacionais desejados e, para tal, deve observar o tempo de que dispõe, ou seja, em que etapa do ano letivo se encontra, a idade das crianças com quem trabalha, as caraterísticas e os interesses que identificou na turma. Tal atitude lhe conferirá flexibilidade em relação ao tipo de atividade e o grau de exigência quanto aos resultados obtidos. É necessário elaborar um cronograma que possibilite a progressão equilibrada das atividades, partindo do que as crianças já conhecem e dedicando tempo necessário para trabalhar as dificuldades apresentadas, garantindo a aprendizagem dos pontos considerando importantes para a aquisição de conceitos, atitudes e valores. A contribuição da linguagem audiovisual ultrapassa a relação com produtos e atinge o processo de produção, com a utilização de câmeras digitais mais acessíveis, inclusive em celulares. A experiência de escolha do tema, elaboração da história ou roteiro, captação das imagens, com dramatização ou não, proporcionam momentos de trabalho em equipe, de coautoria, de pesquisa em outros documentos, de organização das atividades, de socialização dos resultados e de avaliação coletiva, pois é obra de todos. Aqui cabe transformar os celulares de inimigos barulhentos que roubam a atenção dos alunos, em aliados poderosos na aprendizagem, como ferramentas criativas, fáceis de usar e cada vez mais disponíveis. Não apenas na produção de vídeos pelos alunos, mas as possibilidades de compartilhamento pela publicação dos vídeos produzidos no YouTube, nas redes sociais e blogs da turma ou da escola. UTILIZANDO MÍDIAS SOCIAIS Twitter O Twitter11 é um site de microblogging, isto é, para emitir e receber mensagens curtas, pois devem ser escritas com no máximo, 140 caracteres. Tornou-se uma rede social baseada no conceito de comunidade de seguidores – “followers” em inglês quer dizer seguidores. Assim, a mensagem publicada (ou “tuitada”!) é recebida apenas pelos seguidores de quem a publicou, e

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não por toda a comunidade, como no caso do Facebook ou Orkut. Qualquer pessoa pode ter uma conta no Twitter, basta inscrever-se e criar um perfil. A partir daí, pode seguir quem quiser ou ser seguido por seus fãs. É possível comentar sobre as mensagens publicadas, “retuitar” a mensagem para outros, publicar fotos, links e vídeos. Tuitar e retuitar tornaram-se verbos comuns para os que utilizam essa rede social, e ter sua mensagem retuitada é motivo de comemoração e orgulho, pois demonstra o valor da mensagem publicada, tornando popular o seu autor ou autora. O símbolo do Twitter é um pássaro e foi escolhido por causa do chilreado, gorjeio, dos pássaros, ou seja, porque emitem sons agradáveis, de curta duração, os “piu-pius”. Afinal, quem não ouviu o poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias: “minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá!”? O símbolo @ é usado antes dos nomes para identificar um usuário e o símbolo # é usado para criar as “hashtags” que são palavras-chave que se utiliza para localizar assuntos no Twitter. Um professor “conectado” pode aproveitar a característica de ferramenta de comunicação versátil que o Twitter possui e tornar o ecossistema comunicativo da sua sala de aula muito mais dinâmico. O professor pode abrir uma conta no Twitter e convidar seus alunos para serem seus seguidores e sugerir que os alunos façam o mesmo, tornando-se uma comunidade que utiliza o Twitter para manter-se a par do que acontece em sala, compartilhar textos, resultado de estudos, divulgação de informações pertinentes às atividades realizadas em sala, buscar assuntos assinalados como hashtags e muitas outras possibilidades. Afinal, um lembrete sobre a aproximação das datas das avaliações, da apresentação do trabalho, da proximidade das férias etc., pode aproximar a turma do professor ou mesmo dos pais ou de toda a comunidade escolar. A própria escola pode ter uma conta no Twitter como canal aberto à comunidade de pais para mantê-los informados, divulgando suas atividades ou chamando a atenção para assuntos pertinentes à vida escolar de seus filhos. Como as mensagens devem ser curtas, os alunos aproveitariam a oportunidade e desenvolveriam a habilidade da síntese e objetividade na escrita, uma vez que a correção de acordo com a norma culta poderia ser atividade desenvolvida pela, ou com, a professora de Português. Um concurso de frases ou de explicação de conceitos pode animar qualquer conteúdo curricular. Seria oportuna a discussão sobre ética e etiqueta a se utilizar em espaços públicos. Esses temas podem se trabalhados pela escola de modo a possibilitar aos estudantes espaço para refletir sobre questões de cidadania que o ciberespaço nos trouxe.

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Facebook O Facebook é um serviço baseado na Internet que possibilita que uma pessoa, o usuário, crie um perfil público e compartilhe informações com uma rede de contatos. No ambiente, é possível enviar e receber mensagens públicas ou privadas; publicar fotos, links e vídeos. A comunicação pode ser realizada também em tempo real por meio de uma sala de bate-papo ativa quando o usuário está conectado. Por meio de um sinal verde, sabe-se quem está conectado naquele momento. O chat permite que se tire alguma dúvida em tempo real, mas não apenas as dúvidas, a interação carinhosa e interessada também pode ocorrer. O Facebook possibilita a experimentação de novas abordagens metodológicas, a aprendizagem colaborativa que extrapola o trabalho realizado em sala, principalmente o desenvolvimento de habilidades relacionadas à comunicação e produção coletiva, como escrever de modo objetivo, esperar a resposta do outro, realizar a síntese do que foi exposto. Por envolver a contribuição de todos os envolvidos e reunir informações de diversas fontes e linguagens, o ambiente do Facebook proporciona a construção de conhecimentos além dos propostos pelo professor, diversificando a discussão, viabilizando aprendizagens diferentes para contextos pessoais diferentes dos estudantes. É importante, nesse momento, que o professor perceba e aceite que divide com os estudantes a tarefa de disponibilizar informações, passando a desempenhar o papel de gestor de projetos, administrando conteúdos, documentos, recursos audiovisuais e hipertextos. As possibilidades das linguagens se potencializam e é necessário lidar com fotos, textos, vídeos e links para outros sites. As habilidades de líder presencial desenvolvidas na sala de aula devem se complementar com habilidades de liderança no espaço virtual, presença, proatividade, sensibilidade para perceber quando o aluno tem dificuldades de manipular ou participar no ambiente, capacidade de lançar e enfrentar desafios e abertura para o inesperado. Afinal, a escola 2.0 é complexa, hibrida, multifacetada, conectada e em constante atualização. Aqui, novamente, um professor conectado percebe as possibilidades de ferramenta de comunicação poderosa que o Facebook é, pois viabiliza informações para a turma sem ser necessário entrar em contato individualmente, ao postar um aviso sobre alguma atividade da classe, todos os alunos terão acesso à informação. Mesmo assim, tudo o que acontece no ambiente, o professor fica sabendo por correio eletrônico, se assim desejar. O Facebook está sendo utilizado por inúmeras instituições escolares como ambiente de aprendizagem no ciberespaço, desenvolvendo os mais variados projetos. Para dar um exemplo de utilização, podemos citar a ferramenta MyTrips (minhas viagens) que possibilitam que o usuário

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marque locais e cidades que conheceu. Essa ferramenta pode ser utilizada de muitas maneiras diferentes, uma delas, por exemplo, é criar um jogo em que a turma viaje pelas capitais do país e as marquem no mapa, adicionando fotos encontradas na Internet e localizando lugares interessantes nessas cidades. Pode ser no contexto das aulas de Geografia ou de História, ou mesmo nas aulas sobre literatura brasileira, localizando as cidades de nascimento de nossos escritores mais queridos. As possibilidades interativas do “Face” são tantas que não vale a pena tentar expô-las, mais vale criar uma conta e explorá-las, descobrindo-as no uso concreto, divertindo-se, fazendo amigos, retomando velhas amizades, e assim propor atividades em sala, com abertura para as propostas dos alunos. Foursquare É um serviço disponível para dispositivos móveis, como celulares e tablets, mas pode ser acessado por um microcomputador, desde que conectados à Internet. É uma rede social baseada no compartilhamento da localização, que é realizada por meio de GPS. Consiste em fazer “check in” nos lugares que visitamos ou frequentamos. Um sistema de pontuação por ordem de chegada, pela frequência em algum local, se a livraria visitada é universitária ou não, e outros tantos critérios agitam uma rede de amigos para saber quem é o “prefeito” deste ou daquele lugar, quem mais obteve pontos na semana por estar em diversos lugares diferentes ou quem obteve mais “badgets”, que são selos que indicam um tipo de atividade e distinguem o usuário. Em cada check in, podemos deixar dicas sobre o lugar visitado e enviar fotos ou acessar as dicas dos amigos e as fotos que eles fizeram. Estabelecimentos comerciais oferecem algum tipo de vantagem para quem der um determinado número de check in, como descontos em compras, por exemplo. É uma maneira de compartilhar com amigos sobre os lugares que conhecemos, saber onde nossos amigos estão ou tornar sabido onde estamos ou por onde e com quem estivemos. O Foursquare possui um banco de dados alimentado pelos usuários que cadastram os locais visitados e compartilham essas informações também por meio do Facebook e do Twitter. Essa rede social apresenta uma lógica de jogo e dispõe de tantas informações e dicas dos usuários sobre lugares que é utilizada como guia turístico e gastronômico. Do ponto de vista das empresas, é uma excelente ferramenta de marketing e faz parte das preocupações estar “bem” no Foursquare. Um professor criativo pode utilizar essa lógica de jogo para, por exemplo, organizar um campeonato com a turma para ver quem faz mais “check ins” na biblioteca da escola, em museus, ou nos lugares que foram escolhidos por alguma razão especial, como, por exemplo: quem visitou

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o maior número de bairros da cidade para organizar um mapa, quem visitou o Jardim Botânico, ou quem esteve em prédios da administração pública etc. O professor de educação física pode traçar itinerários para desenvolver atividades antissedentarismo ou discutir se os restaurantes e lanchonetes frequentados pelos alunos oferecem alimentos recomendáveis à saúde. Enfim, é só dar “asas à imaginação” e relacionar as características do jogo com os conteúdos curriculares e objetivos pedagógicos. REFERÊNCIAS CITELLI, Adilson. Comunicação e Educação. A linguagem em movimento. São Paulo: SENAC, 2000. _____(b). Escola e Meios de Massa. In CHIAPINI, L. Aprender e ensinar com Textos não Escolares. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2000, p 17-28. _____(c). Educação e mudanças: novos modos de conhecer. In: _____. (Coord.). Outras linguagens na escola: publicidade, cinema e TV, rádio, jogos, informática. São Paulo: Cortez, (Coleção Aprender e ensinar com textos; v. 6), 2000. FONSECA, Cláudia Chaves. Os meios de comunicação vão à escola? Belo Horizonte: Autêntica/FCHFUMEC, 2004. LIMA, Arievaldo Viana. Acorda Cordel na sala de aula. A literatura popular como ferramenta auxiliar na Educação. Fortaleza: Tupynanquim Editora/Queima-Bucha, 2006. MARTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Comunicação, Cultura e Hegemonia. Trad. De Ronald Polito e Sérgio Alcides. Rio de Janeiro: 2001. MORAN, José Manuel, et all. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000. OROZCO-GOMES, Guilherme. Comunicação, educação e novas tecnologias: tríade do século XXI. In Revista Comunicação e Educação, São Paulo: (23): 7 a 15, jan./abr. 2002. SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker Ferreira. Freinet. Evolução histórica e atualidades. São Paulo: Scipione, 1989. SILVERSTONE. Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2002. SOARES, I. de O . Gestão comunicativa e educação: caminhos da educomunicação. In: Revista Comunicação & Educação, Salesiana: São Paulo, n. 23, jan./abr. 2002, p. 16-25.

Links: Para saber mais sobre o Facebook consulte os links http://mlearningpedia.com.br/facebook-como-ferramenta-educacional http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/como-funciona-facebook-624752.shtml

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Para saber mais sobre o Foursquare consulte os links: http://www.foursquarebrasil.com.br/ Para saber mais sobre o Twitter consulte os links: Para saber mais sobre o YouTube consulte os links http://www.youtube.com/watch?v=pFWza8CUrSs Links interessantes: Site da Revista Nova Escola: http://www.escolanova.com.br/ Para consultas e leituras relativas à escola. Site da Revista Linhas, do PPGE da UDESC: http://www.periodicos.udesc.br/index.php/linhas/ Para manter-se atualizados nas pesquisas e discussões das temáticas Educação, Comunicação e Tecnologia Site da Revista Comunicação e Educação, da ECA/ USP: http://www.eca.usp.br/comueduc/expediente_revista.htm Para acompanhar as pesquisas e discussões nas temáticas educação e comunicação. Entrevista com o professor Adilson Citelli: educomunicação http://educomusp.wordpress.com/2011/08/22/citelli-fala-sobre-educomunicacao-no-programa-educacaobrasileira/ Site do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da USP: http://www.usp.br/nce/aeducomunicacao/saibamais/textos/ Para saber sobre projetos educomunicativos e conhecer projetos de pesquisa e de extensão.

DEFINIÇÕES E NOTAS EXPLICATIVA 1

Linguagens – Lugar de vários cruzamentos sígnicos em que se elaboram as cadeias de sentidos (CITELLI, 2000). As linguagens dizem respeito a todo conjunto de significação (atribuição de sentido), além da fala e diferentes dela, como a televisiva, a cinematográfca, a fotográfica, a multimídica etc.

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Mídias – Meio de comunicação/mídia, em sentido mais amplo, é a agência intermediária que permite que a comunicação aconteça. Mais especificamente, consiste em desenvolvimento tecnológico que estende os canais, o alcance ou a velocidade da comunicação (O” SILLIVANN, 2001). Mídia é todo e qualquer meio que viabiliza a comunicação, seja uma empresa de comunicação social, como a televisão, seja de comunicação pessoal, como um tablet, seja um meio que porta a informação, como um jornal impresso ou um DVD.

3 Ecossitema comunicativo – Para Ismar Soares (2002), compreende “a organização do ambiente, a disponibilidade dos recursos, o modus faciendi dos sujeitos envolvidos e o conjunto das ações que caracterizam determinado tipo de ação comunicacional”. Desse modo, englobaria os modos como a comunicação se viabiliza em termos sociais, tecnológicos e culturais. O ecossistema comunicativo contemporâneo envolve as mídias e as possibilidades que inauguram, com a portabilidade e as possibilidades interativas de comunicação em tempo real ou não.

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4 Manifestações culturais – Compreender a cultura como resultado de uma comunicação mediada pelas interações com as diferentes linguagens – expressão de sistemas de códigos produzidos pela humanidade – e do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, são reconhecidos como elementos centrais que influenciam na formação de práticas culturais por autores como Castells (1999) e Martín_ Barbeiro (2003). 5 Indústria cultural – É um termo utilizado por Adorno e Horckeimer para designar o conjunto de ações e práticas desenvolvidas no intuito de se produzir um bem cultural. No sistema de produção cultural encaixam-se a TV, o rádio, jornais, revistas, entretenimento em geral; que são elaborados de forma a aumentar o consumo, modificar hábitos, educar, informar, podendo pretender ainda, em alguns casos, a capacidade de atingir a sociedade em sua totalidade. Fonte: <http://pt.wikipedia.org> 6

Comunicação multidirecional – Comunicação multidirecional – processo comunicativo em que não há uma direção privilegiada de emissão e recepção de mensagens, mas todos os envolvidos podem ser fontes e receptores.

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Prática pedagógica educomunicativa – Prática pedagógica que dialoga com o ecossistema comunicativo em que alunos e professores estão envolvidos, com intuito de elevar as possibilidades comunicativas, criando ambientes amigáveis de diálogo em que a relação com as mídias é planejada para propiciar aprendizagem colaborativa. Trata-se de superar a utilização instrumental das mídias em sala, possibilitando a criação e circulação de sentidos, ou seja, tornar significativo o que acontece em sala de aula.

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Editor – Aquele que decide o que será publicado e como a matéria/notícia será apresentada.

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Facebook – Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Chris Hughes e o brasileiro Eduardo Saverin criaram o site de relacionamento Facebook em 2004 para ser usado pelos estudantes da Universidade de Harvard, Estados Unidos, porém, aos poucos, foi permitindo que outras universidades se conectassem e em 2006 foi, finalmente, disponibilizada para todos. No Brasil o número de usuários do Facebook ultrapassou os do Orkut em dezembro de 2011, tornando-se a maior comunidade virtual do Brasil. Ao se registrarem, gratuitamente, os usuários criam uma conta e definem um perfil que gostariam de tornar público e passam a ter acesso a um enorme número de facilidades que o site oferece atualmente, como organizar amigos por grupos de interesse, compartilhar fotos, vídeos, músicas, deixar recados de voz, falar em tempo real etc.

10 Programa TV Escola – Oferece formação a professores com a utilização de um canal de televisão via satélite e está no ar desde 1996. Sua finalidade é contribuir para a melhoria do ensino fundamental e médio e, para isso, tem como principais objetivos o enriquecimento do processo ensino-aprendizagem, a aproximação da escola-comunidade e o desenvolvimento profissional de professores e gestores. Cada escola participante do projeto recebe um kit tecnológico, com uma televisão, um videocassete, uma antena parabólica com receptor de satélite e dez fitas de vídeo VHS. 11 Twitter – É uma rede social baseada em microblogging (mensagens curtas, com apenas 140 caracteres). Utiliza-se para criar uma lista de contatos (seguidores) que o usuário constrói para si e participa de outras listas dos usuários a quem “segue” e permite a comunicação real entre usuários conectados. As empresas utilizam o Twitter como ferramenta de marketing extremamente poderosa, pela versatilidade, velocidade e alcance das mensagens publicadas. Link: <https://twitter.com>.

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