RESIDÊNCIA CRIATIVA
A CRUZAR TRADIÇÃO E INOVAÇÃO
PROJECTO TASA Técnicas Ancestrais, Soluções Actuais No Algarve remanesce a sabedoria secular de se viver com o que a terra dá. As mãos reproduzem gestos que valeram os artefactos de gerações e gerações das nossas gentes. São sabedorias ancestrais que dominam os materiais e as melhores maneiras de o trabalhar. Ainda que oculta por entre o ideal de sol e praia, a população algarvia é fortemente marcada pela ruralidade. Existem serras que até há pouco permaneciam isoladas. Vivia-se da agricultura, da pesca, do marisqueio. Fazia-se o que se usava e usava-se o mínimo, feito com o que se tinha. Os tempos mudaram, assim como as necessidades. Consumimos desregradamente. Esquecemos a terra. Agora preocupamo-nos com o desgaste que provocamos nos recursos naturais, cansamo-nos do igual reproduzido ao milhão. Precisamos retomar o essencial e regressar à essência. Recuperar a nossa identidade, a nossa história. Voltar à terra. Mas precisamos de viver neste tempo, de trazer o artesanato para o uso e para o gosto do presente. Necessariamente, de o ligar ao design. Os produtos TASA respondem a estes apelos. Trazem a alma do Algarve, incorporam as suas tradições e cultura, os materiais, técnicas e saberes. Materializam a sinergia do trabalho entre o artesão e o designer. Ficam bem no nosso tempo e são bons para usar.
Residência Criativa
TASalém Fronteiras
Quisemos envolver as pessoas com as artes tradicionais, ligá-las à sua história, relembrar a sua identidade e com isso despertar memórias e valores. Quisemos mostrar como é que as artes tradicionais se podem ligar ao presente, através do design, da combinação entre técnicas e materiais, da aplicação da arte no uso. Inventámos o “Ligações” promovido pela Câmara Municipal de Loulé e acolhido de setembro a outubro de 2013 no Cecal – Centro de Experimentação e Criação Artística de Loulé. Fizemos uma exposição, workshops para crianças, conversas sobre o passado, o presente e o futuro das artes tradicionais e uma residência criativa internacional. Imaginámos que numa semana intensa de trabalho conseguíamos juntar jovens designers, portugueses e estrangeiros, a artesãos do Algarve, para a criação de novos produtos que respondessem a desafios lançados pelo mercado. Queríamos que houvesse: . novos produtos utilitários e sustentáveis, aliando as técnicas e materiais artesanais, . interdisciplinaridade e transmissão de saberes entre o Design e as suas metodologias (estéticas e utilitárias) e a arte e técnica do Artesão, . conhecimento das matérias-primas locais e técnicas artesanais e mecânicas associadas à sua transformação e utilização, . troca de saberes e sensibilidades estéticas, funcionais e culturais entre os participantes nacionais e internacionais, . inovação, experimentação, criatividade e originalidade.
A residência estava aberta a inscrições por parte de profissionais e estudantes de Design de Produto/Equipamento. Inscreveram-se 19. Selecionámos 8, com base nos portefólios, avaliando fatores técnicos e a sua sensibilidade em relação às artes tradicionais e à sustentabilidade e ecologia do produto. Tínhamos um “briefing” e as quatro equipas (constituídas por dois designers) poderiam escolher criar um destes produtos sugeridos pelo mercado: 1. Espantador de Pássaros (para jardins - hortas de varandas) 2. Contentor de plantas para jardins - hortas de varandas 3. Bolsa - mala de caminhante (para conter mapa, telemóvel, garrafa de agua) 4. Kit de bolsas amovíveis - para bicicletas 5. Kit cooler & decantador 6. Contentor de vinho (5L) para restauração O trabalho decorreu entre o dia 21 e o dia 26 de outubro de 2013. 1º dia. Realizaram-se as visitas às oficinas de 9 artesãos. Os designers conheceram os artesãos, as técnicas e os materiais com que trabalham. No final do dia compuseram-se os grupos multinacionais de Designers (1 português e 1 estrangeiro) com base no produto elegido. 2º dia. As equipas fizeram a pesquisa e desenvolvimento de soluções para novos protótipos e debateram-nas com os artesãos. 3º, 4º e 5º dia. Experimentação e desenvolvimento das propostas nas oficinas com os artesãos. 6º dia. Apresentação dos protótipos ao público. O resultado final foi na opinião de todos os envolvidos muito satisfatório. Deveu-se sobretudo à relação entre designers e artesãos que funcionou muito bem. Houve diálogo, abertura, aprendizagem mútua e total respeito. A essência do TASA está lá em cada um dos 4 produtos e nestes jovens que podem agora disseminá-la além fronteiras. ProActiveTur, Querença, Loulé, novembro de 2013
Tia Anica a companheira do caminhante “Tia Anica” é uma mala de viajante criada a partir da necessidade de se ter fácil acesso a um mapa, telemóvel, garrafa de água e outros objetos durante uma caminhada. A mala é maioritariamente feita em empreita de palma, esta escolha deve-se à flexibilidade, leveza e beleza rústica do material. A empreita é uma técnica ancestral da tradição algarvia, usada em diversos objetos de uso diário como por exemplo em alcofas para transportar frutos e sementes.
Andreia Rocha Tem 30
anos. Acredita que o mundo é demasiado grande para se viver uma vida inteira no mesmo sítio. Viveu em 5 países diferentes, atualmente está em Amsterdão mas continua em busca de novas aventuras. Estudou design, trabalha como freelancer nas mais diversas áreas, desde a iluminação até ao design social, passando pelas tendências. Pensar e pesquisar sobre o futuro fá-la considerar o presente e o modo como pretende projetar a sua vida. Handprint Crafts é o seu mais recente projeto com o objetivo de apoiar artesãos que produzem artesanato amigo do ambiente.
Érico Branco Nasceu em
Curitiba, no sul do Brasil em 1991. Estuda Design há 4 anos e meio, mas ainda não concluiu o bacharelado, pois descobriu a sua paixão por intercâmbios. Acha que essa é a forma mais eficaz de ampliar sua visão de mundo e de ser criativo. Estudou durante um ano em Odense, na Dinamarca, e atualmente estuda em Umeå, na Suécia. Já trabalhou como designer gráfico, fazendo livros escolares para crianças, mas o seu grande interesse está na área de produto, interesse este desenvolvido através de vários workshops com que teve contato durante o percurso da sua vida.
Tia Anica é uma mala que utiliza exclusivamente materiais naturais, traz consigo a tradição do Algarve, o amor e a dedicação dos artesãos que a produziram. É a companheira perfeita para um passeio.
TI
A C I AN
TIA A C I AN A companheira do caminhante Andreia Rocha & Érico da Silva Branco Maria Cremilde Da Torre
Pinga. um corpo elegante para as caixas de vinho O vinho sempre foi um elemento importante na mesa portuguesa. Em casa ou no restaurante, não se dispensa uma boa ‘pinga’. O Pinga é um recipiente para caixas de vinho de 5 litros, concebido como solução para mudar das caixas de vinho de cartão para uma peça elegante que domine a mesa ou o balcão. A simplicidade de suas formas é inspirada nos tradicionais objetos de armazenamento e transporte de vinho, tais como pipas, barris e ânforas.
Vanda Gábrišová.
Concluiu o bacharelato em design de produto na Faculdade de Arquitetura em Bratislava na Eslováquia. No primeiro ano de mestrado fez um Erasmus na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Contatou com o “design thinking” através do professor André Gouveia e decidiu terminar o seu mestrado em Lisboa. Aprofundou a sua formação em “design thinking e design de serviços e também na área da cerâmica. Atualmente encontra-se a desenvolver a sua tese de mestrado sobre processos de design sustentáveis e de baixa tecnologia, que também incluem as técnicas artesanais.
Isabel Bourbon.
Licenciou-se em Design de Interiores e Equipamento (ESART, IPCB). Colaborou com o gabinete de arquitetura António Gradim, Lda, participou na residência ‘More Design. More Industry’ em Paredes e colaborou na decoração e conceção de mobiliário da Fundação José Saramago. Em 2013 cofundou o estúdio multidisciplinar |Elas Duas| que procura através do design, da interação e da intervenção no espaço encontrar novas relações entre a tradição e a tecnologia. Frequenta o mestrado em Design e Desenvolvimento de Produto (IPCA), onde criou e coordena o projeto ‘Da Panela, a gastronomia revisitada pelo design’.
Os materiais escolhidos têm também uma ligação ao vinho: a cortiça e o barro. A alça de couro completa a peça com um detalhe que tem uma função decorativa e também prática. Existem duas versões do Pinga, e a versão mais alta e versão mais baixa e também duas variações de cor – vidrado branco ou a cor natural do barro.
PIN GA
PIN GA UM CORPO ELEGANTE PARA AS CAIXAS DE VINHO Isabel Bourbon Vanda Gábrišová António Luz Fernando Zuñiga Pedro Piedade
A R R A T Ana Rita Aguiar Tem
22 anos, é natural de Almada. Fez o curso Técnico-profissional de Design de Interiores e Exteriores na Etic em Lisboa e depois concluiu a licenciatura em Design de Ambientes na ESAD.CR nas Caldas da Rainha. Fez o ERASMUS em Inglaterra, na faculdade Nottingham Trent University onde frequentou o curso de Design de Equipamento. O seu interesse pelo design consiste na relação do objeto com o utilizador, e a interação entre ambos, gosta de experimentar materiais novos e não habituais, tem um fascínio pelo redesign onde o velho se torna novo. Neste momento colabora com a Bold. ponto criativo em Portimão.
Tarra para o computador, na bicicleta ou no ombro
Sandra Louro Nasceu
em Faro, em 1976. Licenciou-se em Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa em 1999. Trabalha na área de Museografia e design gráfico da Divisão de Museus da Câmara Municipal de Faro. Frequentou o curso de curta duração de Exhibition Design na Domus Academy de Milão. Desenvolve projectos de mobiliário e acessórios em cortiça, inspirando-se na cultura e no artesanato Algarvio, combina a cortiça com outros materiais de modo a valorizar este material. Cria em 2012 a marca Likecork. Pertence à comissão organizadora do projecto Design&Ofícios que liga o artesanato ao design.
É uma mala de computador para bicicletas, inspirada nas tradicionais marmitas, feitas de cortiça - os tarros. Com um toque de modernidade, a Tarra combina dois materiais tradicionais: a cortiça, pelas suas capacidades de impermeabilização e amortecedoras; e a pele, pela sua suavidade e carácter ajustável. A Tarra tem um formato idêntico a uma caixa, por ser seguro para colocar o portátil e levá-lo na bicicleta sem estar preocupado com a trepidação.
TARRA MALA PARA LEVAR O COMPUTADOR NA BICICLETA E TIRA-COLO Ana Rita Aguiar Sandra Louro Ant贸nio Luz Fernando Zu帽iga
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CH Yelena Tyo Nasceu em
Almaty no Cazaquistão em 1987. Começou a estudar belas artes com seis anos de idade. Frequentou os estudos de arquitetura no Cazaquistão. Trabalhava em gabinetes de arquitetura quando decidiu mudar para ilustração e fotografia. Neste momento trabalha num estúdio de animação como animadora de 2d e designer gráfica. Continua a dedicar-se às belas artes e interessa-se pelas artes tradicionais como uma forma de encontro com a nossa humanidade. Gosta de descobrir a essência da verdade ancestral e também de abrir novos horizontes. Não é um passatempo, é uma forma de vida.
Chi^mni da chaminé algarvia a um espantador de pássaros
Joana Regojo É uma
designer luso-espanhola, apaixonada por percorrer o mundo em busca de novas culturas e tesouros escondidos. Acredita que em cada recanto é possível adquirir conhecimentos que passam de geração para geração e assim alcançar novas perspetivas. Entre 2005 e 2009, viveu em Barcelona onde tirou o curso de Design na Universidade ELISAVA. Posteriormente mudou-se para Lille, para fazer um estágio profissional na Decathlon. De regresso a Portugal, trabalhou em diversas empresas e projetos, os quais lhe permitiram trabalhar em Design Research, Design de Produto e Gráfico, Inovação Social, entre outros.
É um espanta-pássaros para hortas, varandas e jardins. Serve para afastar as aves onde e quando elas não são bem-vindas. É feito de cana e barro. Utilizou-se o sisal para unir os elementos e pedaços de cortiça para limitar os movimentos. O colorido e vidrado do barro produz reflexos que, associados ao som do bater das canas, afasta os pássaros. Foi inspirado nas chaminés algarvias com a sua variedade de padrões nas aberturas e formas mais arredondadas ou mais retilíneas. Inspirou-se no mar, nos peixes, nas barbatanas e nos frutos do Algarve.
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DA CHAMINÉ ALGARVIA A UM ESPANTADOR DE PÁSSAROS Yelena Tyo Joana Regojo Ana Silva Pedro Piedade
Residência Criativa - Artesãos
TASalém Fronteiras
Ana Silva.
António Luz.
Da Torre.
Trabalha com fibras vegetais. A sua oficina fica em Messines, no concelho de Silves. É oriunda do meio rural, tem o saber ancestral com ela, domina os materiais e as técnicas, usa a vegetação autóctone, inova com a criatividade. Apanha no campo o que precisa, trata a matéria de forma natural como o fizeram gerações antes dela.
Filho e residente de São Brás de Alportel, da terra da cortiça. Foi marceneiro de profissão. Usou esse saber para inventar e adaptar as ferramentas e máquinas que agora usa para trabalhar a cortiça. Aprecia a utilidade. Gosta de inventar e de improvisar. Não desiste de encontrar uma solução. Rir é o seu lema.
A marca dos brinquedos de madeira que fazem relembra o nome da sua terra, no concelho de Loulé. Ocuparam a antiga escola primária, desativada por falta de crianças, para perpetuar o imaginário infantil nos carrinhos e brinquedos de madeira. Conjugam este material com sementes, plantas, caroços, para produzir bijuteria.
É a artesã da cana.
É o artesão da cortiça.
Ana, Silvina e Arliete são as artesãs da madeira.
Fernando Zuñiga.
Maria Cremilde.
Pedro Piedade.
Nasceu no Chile, frequentou Biologia Marinha e aquando do golpe de estado saiu do país. Observava o trabalho de modista da mãe, colaborava com ideias para confeções de roupa e calçado. Instalou-se em Benafim há quase 30 anos, é lá a sua oficina. Gosta da investigação e da inovação que transporta para o seu trabalho.
Representa a hospitalidade da zona rural de Loulé. É pequena de estatura, mas grande em humilde e sabedoria. Não acredita na sua profunda sabedoria. Tem a inteligência e a criatividade nas mãos. Domina a empreita, feita com a palma, uma planta endémica. Dedica-se ao detalhe e não dorme até que veja perfeição no que faz.
Pedro Piedade é natural de Loulé. Aos 16 anos deixou de estudar e iniciou a sua atividade na olaria do pai, junto deste e do irmão mais velho, que foram os seus grandes mentores. Passados 24 anos, a paixão a esta arte mantém a funcionar aquela que é a única olaria da cidade. Trabalha com a mãe e as irmãs na confeção de peças de artesanato de barro.
Eis o artesão do couro.
É a artesã da empreita.
É a artesão do barro.