- DECLARAÇÃO DE SALVADOR -
Nós, 80 pessoas representantes de 67 organizações de 9 países (Alemanha, Austrália, Brasil, Benin, Canadá, Chile, Coréia do Sul, Índia e Inglaterra), incluindo representantes de 9 estados brasileiros (Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe) reunidas na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, no município de Salvador, Estado da Bahia, Brasil, durante os dias 14 e 15 de março de 2018, realizamos o II Fórum Global de Turismo Sustentável – II FGTS como uma atividade autogestionária integrante eixo temático Democratização da Economia do Fórum Social Mundial- FSM 2018.
O II FGTS construiu o posicionamento da sociedade civil e seus apoiadores perante questões contemporâneas do turismo convencional e da sociedade em geral que afetam os povos e comunidades, bem como da discussão e afirmação de um turismo comunitário e sustentável em todo o mundo, como uma estratégia de criação, resistência e transformação da atividade turística convencional para um turismo desejável sob os princípios da sustentabilidade e da solidariedade.
Os participantes do II FGTS reafirmam o potencial do turismo comunitário como ferramenta de desenvolvimento local com sustentabilidade, a partir de experiências exitosas protagonizadas por povos e comunidades, que são conduzidas sob os princípios de referenciais como a economia solidária, que contestam as formas hegemônicas de turismo convencional e de massa, que muitas vezes se apresentam como insustentáveis: segregadoras, predatórias e invasivas contra os povos, seu ambiente e suas culturas.
Entendemos que resistimos de forma global, mas agimos de forma local. Dessa forma:
Resistimos contra quê? Nos encontramos em um momento planetário em que a vida na terra nos faz refletir frente a fatos que acontecem e que demandam um posicionamento. Nossa postura está intimamente ligada à nossa evolução enquanto seres humanos. Assim, precisamos resistir aos modelos de desenvolvimento que estabelecem consumos não conscientes a partir de projetos e empreendimentos que priorizam o turismo de massa,
predatório, excludente. Fatos que se repetem em desdobramentos tais como: a exploração do trabalho, a depredação dos recursos naturais, culturais e históricos, a violação dos direitos humanos, em especial dos povos excluídos e discriminados. Como consequência, também precisamos resistir a uma mercantilização de nosso patrimônio material e imaterial, que leva à padronização de um modelo hegemônico, que culmina na descaracterização da nossa identidade e banalização de nossas culturas. O que vivenciamos hoje é um contexto de políticas públicas de manutenção de privilégios com o estabelecimento de uma competividade perversa e a acumulação de renda para os grandes capitais, com a transferência de recursos e oportunidades para uma minoria corporativista. Além disso, resistimos à omissão dos governos a esta realidade, que desfavorece o diálogo e caminha para a eliminação dos espaços da cidadania. O que fragiliza ainda a implantação de uma educação e capacitação condizentes com a diversidade de nossos territórios, aliadas à economia solidária.
Transformar e criar com quais ações? Diante do contexto acima (resistências) identifica-se a necessidade de fortalecimento das redes de turismo de base comunitária considerando a legitimação da autonomia das iniciativas e das comunidades. Ressalta-se a importância de conferir às comunidades o protagonismo do seu desenvolvimento com aportes de instrumentos e ferramentas de apoio, tecnologias sociais e marcos regulatórios de maneira a promover: A formação e o diálogo entre as instituições de educação formais e não formais, os órgãos de fomento e iniciativas no sentido de criar metodologias, conteúdos e práticas que atendam às reais necessidades das comunidades e visitantes e que estejam alinhadas à ecologia dos saberes; O fortalecimento e integração da rede englobando as iniciativas de turismo comunitário existentes e atuantes no país e a conexão com outras redes regionais e nacionais; A participação efetiva nos processos de tomada de decisão e na criação de ações e políticas que congreguem as necessidades das comunidades e articulação com organizações públicas e privadas, nacionais e internacionais visando à captação de recursos; A inventariação da memória, do patrimônio material e imaterial para fortalecimento da identidades e territórios e sua utilização como base para a criação de um sistema de registro de iniciativas do turismo de base comunitária; A utilização de canais já existentes como as redes sociais e outras plataformas de divulgação e promoção de turismo sustentável para dar mais visibilidade às iniciativas de turismo de base comunitária do Brasil e do mundo; O estímulo ao relacionamento do turismo de base comunitária com a economia solidaria e o consumo consciente.
Como e quando serão realizadas as ações? Foi entendimento do grupo que a Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário (TURISOL) pode e deve ser fortalecida pela união e trabalho de voluntários que querem e podem contribuir para o fortalecimento de um outro turismo. Nesse sentido, para fortalecer os trabalhos dentro da Rede Turisol de forma pragmática, estão se estabelecendo Grupos de Trabalho (GTs) compostos por voluntários dispostos a colaborar com os temas (1) Políticas Públicas, (2) Comunicação e Comercialização e (3) Articulação em Rede. O GT de Políticas Públicas deverá criar uma solicitação formal ao Ministério do Turismo para a criação de um Programa de Apoio ao Turismo Solidário e Comunitário. Esse GT também deverá buscar apoio interministerial
e acionar pastas como Trabalho, Meio Ambiente, Cultura, entre outros. Boas práticas de estados e municípios, bem como de outros países, deverão ser sintetizadas e compartilhadas para inspirar outras localidades. O GT de Comunicação e Comercialização será responsável pelo levantamento de informações sobre as iniciativas de turismo comunitário e solidário do Brasil e deverá criar parcerias para divulgação dessas inciativas em curto prazo. Em médio prazo será pensada uma plataforma de divulgação unificada, bem como outras estratégias de ampliação da visibilidade territorial e identitária. As ações do GT de Articulação incluem a organização de encontros virtuais e presenciais para dar vida à Rede e aos GTs. Inclui ações de articulação da rede nacional com as redes da América Latina e do mundo, bem como a oxigenação da rede com o convite a novos membros. Deverá, também, fomentar o fortalecimento institucional da Rede Turisol. Foram apontadas, ainda, ações práticas que podem criar impacto rápido e empoderamento como (1) a criação de um grupo de comunicação por mídias sociais para as comunidades com a finalidade de trocar experiências e mesmo intercâmbios entre as iniciativas; (2) realização do cadastro das iniciativas de turismo comunitário no CADSOL; (3) criação de redes regionais para o fortalecimento local e (4) aproximação das inciativas de turismo comunitário com os grupos e ações da Economia Solidária.
--------------- *** ---------------Organizações presentes: ABBTUR, Agência de Turismo Comunitário Rocinha Original Tour, APTS, Apoemas, Arariba Turismo & Cultura, Associação de Moradores da Prainha do Canto Verde CE, EBA (UFBA), Caiçara – Icapuí (Ceará), Casa do Boneco de Itacaré BA, Chamman, ComuniCulturi, Coopafeba/MLT, Eco-Benin (Benin), Equations (India), Fórum de Turismo da Rocinha RJ, Fundação Casa Grande – CE, Fundação de Petitinga – Salvador, Grupo Guarapés Paraná, Grupo de Pesquisa UFV-Caminho do Sertão, GAPIS UFRJ, Instituto de Permacultura EcoVida São Miguel, Instituto Brasil de Políticas Públicas e desenvolvimento Sustentável, ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Instituto Cultural e Ambiental, Lopes Trovão o Hokague da Vila do Pincel, Rosa e Sertão, IFBA, MNU-CE, Imagine Peace, MNLM, Movimento Regenera Rio Doce, ONG Rede Brasilidade Solidária, Na Chapada Turismo – Seabra (BA), PlaTur Salvador, Projeto Bagagem, Projeto Tainha TBC, Projeto Mutirão Mais Cultura, Pueblo Mapuche (Chile), Raizes Desenvolvimento Sustentável, Rede Tucum CE, ROC-Rio, Rede Caiçara de Turismo de Base Comunitário, Rota da Liberdade BA, Slow Food Brasil, SKTour-Salvador, TAAF Tourism Advocacy and Action Forum, Teia dos Povos, Toursbahia, Tourism Concern, Tourism Watch – Bread for the World, Travindy, Turismo e Afins, T+M Produções, UCSAL, UFBA, UFMG, UFRN – Natal, UFRRJ, UFSB, UFMS, UNEB – Salvador, UnB, Unirio, Universidade Unisa (Austrália), ViverTur de Matarandiba.