Projeto Feirô - Discussões, Trocas e Experiências sobre as Feiras de Goiânia

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um resgate de uma convivência humana mais direta, face à face, sem o intermédio da virtualidade. Para isso, as feiras se mostram essenciais nas suas trocas comerciais e culturais, mos “Os celulares, a eletricidade sem fio, os microchips implannhar, por um momenestão nadando no rio. reconheço uma delas. duras à alguns blocos to-as como está sendo as me respondem que ndo o período, enquanlogo voltarão aos seus m pouco distantes de ma visita a área. Bem velha me disse. Sugee cubículos dessa vez. se ela interessar pelo mos de decidir depois. meu espaço individuvaindo, as vozes dimincio tomou conta dos inha porta, tirei meus r. Daqui uns instantes ssa vez subiria para asde culinária, talvez. Ou verduras das crianças. sono penso nas dide hoje. Em um morias pessoas, cheiros mento estou aqui, soansiosamente voltar.”

Me desloco para uma nova troca. Vista bonita. Contraste. Pontos cheios e circulações ocupadas. O desejo de mudar novamente desperta ao longo do caminho. Termino minha terceira atividade e decido descer para o espaço intermediário. Gosto de frequentar ali. Apesar de não receber o mesmo fluxo de pessoas do espaço de trocas, enalteço a diversidade ali presente. A natureza pode ser tão grande quanto nossa vida na parte de cima. Pergunto-me se já estou satisfeito a ponto de voltar pro meu espaço de descanso. Não.

esta Utopia pretende unir conceitos importantes como mobilidade nos centros urbanos e efemeridade da feira. Assim, as feiras seriam instaladas em espécies de vagões que funcionam como transporte público e circulam nas linhas de ônibus comuns, tornando possível que as trocas culturais e comerde contato humano na ciais tão inerentes à esses eventos possam ércio, esta Utopia prevê ocorrer durante o deslocamento pela cidade. trocas simbólicas pream resgatadas, haven“Ao discutirmos sobre as feiras percebemos nde apropriação de esde que se trata de um fenômeno arquitetôonde são instaladas as nico e urbano extremamente complexo, e e onde essa recuperaque envolve não somente trocas comerciais, mas também socioculturais, ou as chamadas “trocas simbólicas”. Além disso, um outro fenômeno recorrente no modo de vida das grandes cidades atuais é a velocidade: a rapidez dos transportes que usamos todos os dias e a grande quantidade de tempo que passamos em trânsito, em deslocamento. Pensando nessa relação entre os dois aspectos e com referências de linguagem como o Superstudio e seu monumento contínuo, surgiu uma intervenção para o contexto de Goiânia, algo que pudesse unir a vivência da feira com a experiência do transporte, ou seja, uma espécie de “feira móvel”. Tomando por base as linhas de circulação do “eixão” de Goiânia (um marco visual de nossa cidade), bem como a linha do BRT, a ideia é

imagina-se um mundo em que o modo de vida da feira tomou conta do modo de vida da sociedade como um todo, conjeturando como seria a forma como nós interagimos com outros seres humanos se ela fosse simplesmente baseada em trocas. “O Sol está se pondo. Me levanto do dormitório, me preparo e me direciono à escadaria que leva ao plano superior para viver. Após alguns degraus, consigo ver a luz e começo a ouvir as vozes de outros moradores. A conversa é contínua e o plano está cheio nesse momento. Ele é extenso e infinito. Em cada espaço, vejo cores e alturas diferentes. Estranharia-me se não estivesse aqui diariamente. Para iniciar meu dia, dirijo-me à primeira banca de pão de queijo. O rapaz me cumprimenta e começamos as negociações. Ele oferece três opções por um período de limpeza. Eu retruco. Quatro. Então temos um acordo. No mesmo plano, posiciono-me, então, no espaço que ofereço meus serviços. Esse é um espaço de grandes dimensões, sem barreiras. É um lugar de compartilhamento com outros seres e está sempre em constante transformação. Trocadores se mudam de lá pra cá de acordo com seus anseios por viver um autêntico eu.

Esta primeira Utopia descreve em forma de conto um proposta de um mundo que é dividido em três planos, como se fossem três andares de convivência, cada um com uma experiência social diferente. O primeiro e segundo planos seriam a vida como indivíduo (local de descanso onde se vive com privacidade) e a vida em meio a natureza bem preservada, respectivamente. Já o terceiro plano é um local de convívio em sociedade, com experiências de trocas comerciais e culturais, da mesma forma como acontece em uma feira. Com isso,

aproveitar o tempo que passamos em deslocamento (e, neste caso, mais especificamente no transporte público) para instalar o que chamamos de FLT: Feira Livre sobre Trilhos. Tal feira seria montada dentro de uma estrutura semelhante aos ônibus que conhecemos, de tal forma que ela se moveria ao longo das linhas previamente citadas (circulando da mesma maneira que um coletivo comum o faria). Os pontos de parada e terminais serviriam ao propósito de, mais do que embarque e desembarque de passageiros, um local de carga e descarga de produtos a serem vendidos, tornando esses espaços ainda mais heterogêneos do que eles já são em seu formato atual. Além disso, no ponto de encontro entre as duas linhas, seria feita uma espécie de “rotatória elevada”, uma “ponte circular”, com o eixos de feira, evitando conflito entre as objetivo de melhorar a circulação dos dois duas linhas. Por fim, falando mais especificamente sobre os ônibus, eles teriam suas laterais feitas em grande parte com vidro, aumentando o contato direto da feira com a parte externa por meio dessas janelas e remetendo ao “ambiente natural” da feira: a rua. Também pensando nisso, o teto é feito de maneira retrátil, somente fechado para cobrir da chuva, mas aberto nos demais momentos para remeter à experiência mente a cada 150 anos, ninguém contava com da feira com a qual estamos acostumados. a intensidade dessa tempestade. Em 1859 Dessa forma, buscamos potencializar a ocorreu a explosão solar considerada, an-

DISCUSSÕES, TROCAS E EXPERIÊNCIAS SOBRE

AS FEIRAS DE GOIÂNIA

teriormente, a maior da história. O fenômeno, porém, passou despercebido por grande parte da população mundial, já que na época não havia vida tecnológica considerável. Mas a Terra ainda não havia presenciado uma supertempestade solar desde o início da era espacial e, sem dúvida, a tempestade de 2159 foi a pior. Ainda estávamos vivendo as consequências dela. A tempestade afetou a vida de toda a população mundial, éramos tão dependentes da tecnologia que não sabíamos viver sem ela. Ainda estamos perdidos, mas um pouco menos que antes.



TURMA 7 apresenta:

PROJETO FEIRÔ DISCUSSÕES, TROCAS E EXPERIÊNCIAS SOBRE AS FEIRAS DE GOIÂNIA

Trabalho acadêmico apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás, como produto da discussão realizada ao longo da disciplina de Projeto VII. Orientado pelo Prof. Dr. Camilo Vladimir de Lima Amaral.

Capa Ana Elisa Jawabri Editoração Gabrielle Ribeiro Revisão Bibliográfica Marília Gontijo

GOIÂNIA 2019


Livro Issuu

instagram.com/projetofeiro issuu.com/projetofeiro fav_ufg_projeto vii

Instagram

Guia Cartogrรกfico


“ A arquitetura só se considera completa com a intervenção do ser humano que a experimenta.” Tadao Ando

RESUMO

O presente trabalho consiste em um compilado de pesquisas e produtos gerados pela disciplina de Projeto VII do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás, e tem como objetivo compreender ao máximo a dinâmica e as características presentes nas feiras, mais especificamente naquelas da cidade de Goiânia. Por meio de estudos teóricos, coletas de dados, visitas à campo e demais levantamentos necessários, foi possível reunir informações relevantes sobre esse fenômeno tão inerente à cidade de Goiânia, buscando analisar a sua complexidade tanto de acordo com a visão teórica arquitetônica e acadêmica quanto através de uma abordagem mais sociológica, levando em conta não apenas seus aspectos físicos e construtivos mas também a sua relação com a cidade e com o usuário. Assim, a seguir serão apresentados os resultados obtidos por essas pesquisas, com o intuito de que elas possa ajudar futuros interessados em aprender, entender, ou pesquisar ainda mais à fundo a respeito do fenômeno urbano que são as feiras.



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sumário SUMÁRIO

introdução

22

utopia

50 76

cartografia

propostas

122 conclusão

conceitos categorização das feiras

10 20

os três planos do mundo o advento das feiras feira livre sobre trilhos a tempestade uma variação urbana cidades flutuantes 2074 feira flutuante

24 28 32 36 40 44 48

feira da lua feira da marreta feira hippie feira vila bela cepal jardim américa feira do cerrado

52 56 60 64 68 72

aplicativo feirô sobra container guia cartográfico para feiras mapa de cheiros a experiência apoio móvel protótipo-barraca atlas das feiras fava_moeda solidária da fav

80 86 90 94 98 106 112 116 120

referência bibliográfica participantes

124 126


Ao se discutir a respeito das feiras, foi percebida uma dificuldade em definir de forma simples um evento que é tão complexo e que lida com tantas variáveis para seu funcionamento. Para tanto, optou-se por investigar este fenômeno da cidade por diversos pontos de vista, buscando entender ao máximo sua heterogeneidade e multiplicidade, havendo sido feita, para isso, a divisão do trabalho em 4 frentes de abordagem. O grupo de Coleta de Dados, por exemplo, foi responsável por visitas às feiras, entrevistas e levantamentos, resultando na classificação das feiras de Goiânia em três tipos diferentes. O grupo de Representação estabeleceu uma linguagem visual para o projeto, definindo a base de como nossos produtos seriam apresentados e, juntamente com o grupo de Comunicação (que supervisionou e organizou todas as produções), produziu as imagens para divulgação online do trabalho (o Projeto Feirô). Por fim, o grupo de Teoria fez leituras e fichamentos que poderiam ser necessários para entender o tema, buscando definir conceitos importantes para a experiência da feira da maneira como pretendíamos investigá-la. Assim, em seguida serão abordados diversos tópicos que foram estipulados como relevantes para entender este fenômeno que é parte tradicional da cidade, especialmente de Goiânia, e que cria eventos que vão muito além de apenas trocas comerciais.

INTRODUÇÃO [8] introdução


Feira da Lua (Goiânia, 2019)

introdução

[9]


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COMÉRCIO E ESPAÇO/CIDADE

HISTÓRIA DA RELAÇÃO ENTRE COMÉRCIO E ESPAÇO/CIDADE A palavra comércio tem como significado “local de troca”. Historicamente, ele surgiu a partir de processos que aconteciam na Antiguidade, com determinados grupos trocando suas produções por outras, antes mesmo que houvesse dinheiro ou qualquer outra forma intermediária de pagamento. As mercadorias, portanto, circulavam por meio do escambo executado em um nível local, refletindo uma necessidade das comunidades de aproveitar os produtos perecíveis que advinham da agricultura e da pesca, já que essas produções não poderiam ser estocadas por períodos longos. Com a transição da Idade Média para a Idade Moderna houve uma mudança tanto do modo de produção adotado com a consolidação do Capitalismo, quanto da forma como os seres humanos viviam em sociedade. Por meio dessas mudanças, é possível perceber como os meios de consumo foram moldando os espaços da cidade, da mesma forma que os espaços foram influenciando o comportamento de seus usuários. Dessa maneira, percebe-se que o comércio contribuiu para a formação das cidades: as calçadas surgidas na Roma Antiga e revividas em Londres e as passagens parisienses como áreas exclusivas para tráfego de pedestre são exemplos de alguns elementos que surgem como modo de suprir as necessidades de fluxo de pessoas nos centros urbanos, gerado pelo movimento comercial. A posterior reintrodução e proliferação das calçadas e a atual “pedestrianização” reforçaram o urbano como espaço de consumo. Como é descrito por Koolhas, (2001) que as compras

[10] introdução

“O comércio contribuiu para a formação das cidades, e os “O comércio contribuiu para a formaprincípios de organização urbana também se moldam ção das cidades, e os princípios de orde acordo com o comércio.”

ganização urbana também se moldam de acordo com o comércio”

são o meio pelo qual o mercado solidificou seu controle nos espaços, construções, cidades, atividades e vidas. Os Princípios de organização da cidade também estão se moldando às compras, aos shoppings. Apesar de ter origem suburbana, o shopping está retornando à cidade, porém os centros se mantém espetacularizados, apenas como temas. O shopping, que antes era um componente da cidade, está se tornando um pré-requisito para a organização dela. Nada é mais fundamental para a sobrevivência do comércio que um contínuo fluxo de clientes e bens.


A correlação entre tráfego pedonal e volume de vendas fez a relação entre comércio e urbanismo indistinguível dos problemas de mobilidade, não apenas o comércio se torna o bloco de construção básico da cidade, mas é uma das melhores ferramentas para prover conectividade, acessibilidade e coesão urbana. Simultaneamente, a religião correlaciona com o comércio, uma vez que a palavra “feira” (latim) significa “dia santo” ou “feriado”. As pessoas se reuniam em lugares públicos a fim de venderem seus produtos artesanais e, a partir desse incremento, o poder público interveio a fim de disciplinar, fiscalizar e cobrar impostos.

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BREVE HISTÓRICO DE GOIÂNIA E SUA RELAÇÃO COM AS FEIRAS

pinas, hoje o mais antigo bairro de Goiânia, e no dia 24 de outubro daquele mesmo ano foi lançada a pedra fundamental que daria início aos trabalhos de construção da cidade. Por meio desse breve histórico, percebemos as raízes comerciais de Goiânia desde a sua criação na década de 30, pois o bairro de Campinas foi sofrendo modificações ao longo do tempo que hoje o configuram como um dos centros comerciais mais importantes do estado. Segundo Custódio (2018), várias feiras já funcionavam desde meados da década de 1940, principalmente aquelas dos bairros pioneiros da capital.

02_ BREVE

“Na data de 24 de outubro de 1932 foi HISTÓRICO DE lançada a pedra fundamental que daGOIÂNIA ria início aos trabalhos de construção da cidade de Goiânia.”

A cidade de Goiânia foi formada a partir das transformações políticas que marcaram a história do país na década de 1930: o projeto de mudança da capital goiana já já vinha sendo discutido porque a Cidade de Goiás, primeira capital goiana (criada no século XVIII) havia sido fundada em razão da atividade aurífera naquela época. Assim, após o período do ouro, as cidades envolvidas com a criação de gado e o desenvolvimento da agricultura, mais alocadas ao sul, passaram a ter maior importância para Goiás. Por isso, no ano de 1932, foi organizada uma comissão que deveria realizar a escolha da melhor região para a qual a nova capital seria transferida, a qual se deu em função de cidades que já existiam. Assim, entre as opções existentes, a nova capital veio a ser definida nas proximidades da cidade de Cam-

introdução [11]

“Na data de 24 de outubro de 1932 foi lançada a pedra fundamental que daria início aos trabalhos de construção da cidade de Goiânia.”


VE DE IA

ubro edra nício ução

No decorrer dos anos, como fruto da dinâmica urbana, houve um substancial aumento de seu número “É essencial conhecer a importânna cidade e, ainda, a inclusão de outros segmentos cia que as feiras têm para a cidade de de produtos, além dos alimentícios, e de novos hoGoiânia, não só em relação ao aspecto rários de funcionamento. Como projeto de aceleraeconômico, mas quanto a sua forma ção, a década de 90 por exemplo, foi marcada por de ocupação de espaço e estímulo à um estímulo governamental para a regularização trocas simbólicas.” de feiras na capital, havendo um “boom” de feiras, as quais passaram a ocupar diversos espaços públicos da capital. Foi a partir disso que Goiânia se tornou conhecida como a “cidade das feiras”. Hoje em dia, a economia da capital goiana se deve em grande parte às feiras, as quais têm a capacidade de envolver um público local e fiel, mas também de trazer turistas de todo o Brasil. Dessa forma, a valorização das feiras que acontecem na cidade 03_ RELAÇÃO DEse mostra importante não só no quesito econômico, GOIÂNIA COM A arquitetura deve se relacionar com os sentidos mas também nos aspectos culturais e sociais que AS FEIRAS do usuário. O espaço é um local de práticas sociais derivam dessa convivência tão heterogênea entre heterogêneas e, por vezes, antagônicas, mas sempessoas advindas de diversos locais. pre diversas. Isso é característico as formas de comércio como feiras, shoppings: aquele que tem a presença corporal do indivíduo. Segundo Monte-Mor (2006) hoje, o urbano-industrial impõe-se virtualmente a todo o espaço social. Caso a forma como o ser humano experiencia o espaço seja distante, ele não conseguirá abranger os aspectos sociais e sensoriais que envolvem uma experiência arquitetônica em sua forma mais completa. Assim, compreendendo o virtual como uma forma de arquitetura à distância, as feiras livres vêm, ao longo do tempo, resistindo às mudanças econômicas e à atual globalização do comércio, representando o que ficou dos anos sem a internet, sem aplicativos de compras, sem a comodidade de comprar com um clique. Afinal, se esse novo comércio virtual fosse adotado, a feira estaria negando a característica fundamental de sua existência: a troca. Não a troca de dinheiro por mercadorias,

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RELAÇÃO ATUAL DO ESPAÇO CONCRETO X VIRTUAL

[12] introdução

“É essencial conhecer a importância que as feiras têm para a cidade de Goiânia, não só em relação ao aspecto econômico, mas quanto a sua forma de ocupação de espaço e


mas sim a troca de experiências, já comentada anteriormente. Conforme cita Lefebvre (1973), a arquitetura tem o objetivo de criar condições e possibilidades de utilização do espaço de forma contraditória ou fora do esperado, rumo à uma arquitetura da satisfação, do divertimento, do prazer. Pensando nisso, a arquitetura das feiras livres como espaço físico, possibilita o cumprimento desse objetivo, já que cria diversas possibilidades de apropriação por parte de seus usuários. Nas feiras, surgem elementos diferentes das lojas tradicionais: há uma certa flexibilidade, informalidade e ocorrem experiências repentinas e imediatas. Em relação à atual virtualidade do comércio, a “disneyficação”, o “junkspace “ e o “espaço-lixo” são termos usados para as paisagens artificiais. Esses conceitos referenciam as formas de comércio através das imagens, deslocando o processo para uma nova forma de desejo e experiência, que distância quase totalmente da venda e troca real. Leva-se, então, ao processo de experiência com o comércio apenas na forma de obtenção do objeto, anulando a experiência sensorial e antropológica que o corpo e o estar no espaço proporcionam (a qual é a característica presente nas feiras que as mantém relevantes nos mundo atual). Portanto, o mundo virtual é, hoje, a principal forma de desenvolvimento: tudo se traduz em forma digital ou almeja chegar lá. As inovações definem novos desejos e necessidades, reduzem o tempo de giro do capital e reduzem a distância que antes limitava, a âmbito geográfico, fornecedor e cliente. Em contraposição à isso, as feiras estão fora desse patamar, devido a sua própria condição de existência, com características de efemeridade e de trocas simbólicas. Logo, cabe levar em consideração todos os fatores apontados anteriormente antes de

associar esses dois mundos distintos relacionados à arquitetura e ao comércio das feiras livres.

“Compreendendo o virtual como uma forma ”fria” de interações, as feiras livres vêm ao longo do tempo reagindo e resistindo às mudanças das relações econômicas e sociais inerentes ao comércio.”

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“Compreendendo o virtual como uma forma ”fria” de interações, as feiras livres vêm ao longo do tempo reagindo e resistindo às mudanças das relações econômicas e sociais inerentes ao comércio.”

ARQUITETURA EFÊMERA E FLEXÍVEL A arquitetura efêmera se dá quando uma construção possui características transitórias no espaço, algo definido não pela durabilidade potencial do objeto, mas sim pela durabilidade real da sua relação com o espaço. Portanto, segundo Paz (2008), o primeiro paradoxo do tema é que uma arquitetura só se torna efêmera de fato quando se desfaz de um dado lugar, assim, existe apenas quando cumprida sua efemeridade. Isso leva ao segundo paradoxo, que se configura como uma conseqüência do primeiro: não há relação direta entre a tecnologia

introdução [13]


CONCRETO X VIRTUAL construtiva e a efemeridade real da construção. Assim sendo, a arquitetura não pode ser desassociada de seu espaço, mas essa relação deve ser pensada para a concepção temporal que se tem pós Revolução Industrial, em contraposição com a concepção do Renascimento, por exemplo, visto que, após a Revolução Industrial a arquitetura ganha a possibilidade de perder seu vínculo secular com o solo. Dessa forma, ao aplicarmos todos esses conceitos à feira, percebemos como ela é um exemplo de arquitetura que se encontra em uma linha tênue entre efemeridade e permanência, pela forma como se apropria de um espaço, mas apenas por um curto espaço de tempo; flexibilidade e identidade, na maneira como tem uma disposição heterogênea de seus módulos (que são as barracas) mas ainda assim possui uma identidade visual; e independência do sítio e relação com os usuários, “Compreendendo o virtual como uma forma pelo modo como apesar ocuparasum ”fria”de de interações, feiras espaço livres vêm aopor do tempo reagindo e resistindo às o apenas algumas horas longo ou dias, seu vínculo com mudanças das relações econômicas e sociais usuário não é menos intenso do que aqueles ocorinerentes ao comércio.” ridos em uma arquitetura formal e fixa. Em resumo, para citar Marta Bogéa em seu livro Cidade Errante, de 2009: “o espaço é fluido, mas há estabilidade o bastante para permitir reorganizações através do tempo” Portanto, quando levamos em conta características como a montagem e desmontagem de barracas das feiras, a curta duração desse evento, sua capacidade de apropriação dos espaços urbanos e a aparente disposição de barracas ao acaso percebemos o quanto a efemeridade é um traço inerente à arquitetura da feira, e o quanto essa particularidade aprofunda e agrega nas possibilidades de estudos e abordagens em pesquisas sobre esse evento tão essencial dos centros urbanos, principalmente da cidade de Goiânia.

[14] introdução

“A feira é exemplo de uma linha tênue entre

“A feira é exemplo de uma linha tênue efemeridade e permanência, flexibilidade e identidade, independência do sítio e relação entre efemeridade e permanência, flecom os usuários, arquitetura fluida e xibilidade e identidade, independênidentidade visual.” cia do sítio e relação com os usuários, arquitetura fluida e identidade visual.”

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TROCAS SIMBÓLICAS O que é capaz de carregar tamanho valor coletivamente imaginado ao ponto de que esta concepção possa valer mais do que a matéria? Segundo Bourdieu (2003), algo que se titula alguém ou alguma coisa, mesmo que apenas no conhecimento coleti-


vo ou individual, desde que pudesse vir a ser significativo para essa pessoa, carrega capital simbólico. Algum tipo de capital não simbólico poderia se tornar um capital simbólico dependendo do ponto de vista e do significado daquilo para com alguém. Uma joia de família para um penhor deveria ter um capital financeiro específico, mas toda a história, o legado e o conhecimento adquirido acerca do bem o tornou carregado de valor simbólico para os membros da família em questão. Outro exemplo a ser disposto é o valor de um diploma universitário de um engenheiro, claramente ele representa um capital cultural já que o mesmo representa o agregado de conhecimento pelo qual o indivíduo veio a adquirir em sua estadia acadêmica, mas por outro, para o indivíduo aquilo vale mais do que isso, representa para ele o tempo que ele investiu para se tornar algo, ganhar um título, ser visto por si próprio e pela sociedade como um profissional reconhecido por todos, e a sociedade retribuiria o mesmo valor simbólico reconhecendo o valor do diploma, depositando nele sua confiança e outros capitais. De modo geral podemos entender que o capital simbólico de Bourdieu significa qualquer capital que possa significar algo para alguém, mesmo que involuntariamente. Claro que é complexo afirmar isso sem dar um respaldo mais concreto, mas, para o autor, o capital cultural, por exemplo, é algo que as classes dominantes usam para distinguir e segregar as classes. Quando uma classe dominante vê valor em algo coletivamente, aquilo passa a ser mais bem visto pelas demais classes, deixando assim aquele aspecto cultural com mais valor e o capital cultural a ele envolvido passa a ser uma moeda de troca mais valiosa. Podemos ver o exemplo da beleza, alguém que é bonito tem consigo capital cultural agregado, já que para a sociedade a beleza é um bem que se tem e agrega valor, por outro lado

“A feira configura-se como arquitetura dos sentidos, do corpo, da forma como o usuário se relaciona com a obra.” alguém feio, é alguém desprovido de beleza, já que ele não possui este capital cultural agregado, ele é selecionado para uma classe menos dominante, que no caso é classe bonita. Nesta mesma analogia podemos distinguir ricos de pobres em capital financeiro, cultos e ignorantes, fortes e fracos, sempre variando um ponto de comparação. Partindo do conhecimento do Capital Cultural e Simbólico podemos então relacioná-lo com as trocas simbólicas. Como foi possível perceber, o ca-

introdução [15]


pital simbólico está tão intrinsecamente ligado a outros capitais que quase sempre o estamos consumindo de uma maneira ou outra. Comprimentos, elogios e sugestões são sempre trocas de capitais culturais além disso carregados de valor simbólico agregado. Por isso, praças e parques são locais na cidade propensos à trocas simbólicas, onde as pessoas se divertem, conhecem umas às outras, revisitam a natureza, interagem em sociedade, gerando trocas diversas. Ainda assim, espaços comerciais podem ser antro de trocas simbólicas, já que num mercado tão concorrido, os comerciantes que podem oferecer mais do que valor monetário, adicionando valores culturais e sociais, podem sim interferir do pleno desenvolvimento da empresa e nas suas vendas. O mercado da experiência e numa era completamente marcada pelas avaliações dos usuários e clientes, o valor e capital simbólico nunca foi tão importante. Dessa forma, as feiras nas cidades se configuram como um exemplo perfeito de trocas simbólicas, pois mais do que adquirir bens e serviços, as pessoas frequentam para despertar memórias afetivas, estimular sua sensorialidade, diversificar sua cultura e experienciar uma convivência em sociedade.

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A FEIRA COMO EVENTO E A EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO A metáfora da máquina, tão em voga na arquitetura moderna dos anos 1960 e 1970, é colocada em pauta pela proposição de Bernard Tschumi de que a

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arquitetura é constantemente transformada pelos múltiplos eventos que ocorrem dentro e em volta dela. Esses eventos são tão variados que não conseguem ser contidos em nenhum programa arquitetônico preconcebido. A teoria ganha mais força ao se analisar o contexto urbano em grandes cidades, em que a metáfora da máquina não consegue abarcar as complexas interações inerentes à metrópole contemporânea (TSCHUMI, 1994). O planejamento urbano do pós-guerra, no geral, buscava categorizar e segregar as atividades urbanas a fim de facilitar o controle e a conceituação da prática arquitetônica. Em posição crítica ao contexto em que se encontrava, Bernard Tschumi, através de seu discurso arquitetônico e de sua prá-


“As feiras têm como característica efêmera a CORPOGRAFIA URBANA de resistência, pois os usuários ali, experimentam em seu corpo um espaço urbano não espetacular.”

tica projetual, busca contestar essa realidade, ao afirmar e tomar partido da desordem e aleatoriedade da vida metropolitana. Compreendendo o conceito de evento como a experiência espacial, o discurso de Tschumi afirma que “a arquitetura é a relação disjuntiva entre espaços e eventos, ou de outro modo, a relação disjuntiva entre a concepção do espaço e a experiência do espaço” (Sperling, 2008, p.20). Tendo em vista essa interrelação entre a construção e a prática espacial, Bernard Tschumi pontua duas mudanças necessárias no paradigma arquitetônico pós-moderno: primeiro a troca dos preceitos forma-função por espaço-evento, e segundo, extrair a hierarquia sobreposta a esses termos como a fala “a forma segue a função” do arquiteto Louis Sullivan (SPERLING, 2008). Na substituição de forma-função por espaço-evento, a concepção do objeto arquitetônico sai de um encargo rígido e fixo, passando a abarcar a influência intrínseca dos movimentos e dos usos no espaço (SPERLING, 2008). Algo que também não é exprimido pelos métodos tradicionais de representação arquitetônica. Dessa forma, seria necessária uma nova forma de desenho arquitetônico que conseguisse expressar as complexidades da relação da vivência com o construído. Posto isto, a interdependência entre espaço e evento dentro da

condição mutável e flexível da sociedade contemporânea, não admite hierarquia entre os termos (espaço e evento). Como expressão física de suas teorias, Bernard Tschumi realizou o projeto teórico The Manhattan Transcripts (1976-1981), que consiste de quatro séries de desenhos que transcrevem, através da combinação de diferentes tipos de representação bidimensional, eventos imaginados, específicos aos locais em que se ocorrem. Esse estudo vem contestar a disciplina da arquitetura como um desenho meramente técnico e enfatiza que os eventos e os movimentos que ocorrem na edificação são tão importantes para a definição do espaço arquitetônico quanto os desenhos tradicionais (plantas, fachadas, cortes, etc.) (TSCHUMI, 1994). Assim como no Manhattan Transcripts, no projeto do concurso do Parc de la Villette (1982), Bernard Tschumi faz uso das ferramentas da arquitetura para questionar a validade de suas próprias regras. Ao sobrepor três diferentes sistemas de racionalização arquitetônica: pontos, linhas e planos. A combinação da lógica de cada sistema forma contradições e acidentes que contesta e a racionalidade que pressupõem. A feira, pela sua própria essência efêmera e espontânea, contraria os métodos tradicionais do fazer arquitetônico. Além de lugar, a feira é evento e essas duas naturezas são indissociáveis. Dessa forma, é possível compreender o movimento e a experiência como fatores vitais na prática e na construção espacial da feira. Posto isto, o espaço da feira vai além de um conjunto de barracas, ele é composto pelos feirantes e pelos compradores, pelos que entram e pelos que apenas observam e pelas interações e trocas entre pessoas e lugar. No momento em que a vivência se míngua, a feira se encerra.

introdução [17]


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DIREITO À CIDADE

08_ DIREITO À CIDADE

direito à cidade é muito “O direito à cidade é“Omuito mais quemais a que a liberdade individual de ter acesso aos liberdade individual de ter acesso aos recursos urbanos: é um direito de mudar a si a cidade. É um direito recursos urbanos: épróprio, um mudando direito de mucoletivo e não individual.” dar a si próprio, mudando a cidade. É um direito coletivo e não individual.”

Compreender o que é ter direito à cidade é, antes de tudo, entender que o meio urbano não é apenas um resultado material, um fim, mas sim o produto das relações humanas, em todos os aspectos possíveis, as quais garantem a diversida-

[18] introdução

de e o dinamismo comum a este meio. A partir disso torna-se imprescindível refletir sobre como os problemas urbanos não são simplesmente problemas técnicos, mas 09_ sim CONFLITOS sociais, que DE conINTERESSE sequentemente refletem nos outros aspectos. Lefebvre (1973) afirma que a reflexão teórica sobre a realidade urbana passa a reconhecer novas necessidades de investigação que dão abertura e redefinem um novo modelo que ele denomina como “ciência da cidade”. Ele explica que “uma ciência analítica da cidade, necessária, está hoje ainda em esboço. Conceito e teorias, no começo de sua elaboração, só podem avançar com a realidade urbana em formação, com a práxis (prática social) da sociedade urbana. ” Fica evidente que, para o autor, essa ciência precisa ser repensada já que as ideias que a ordenam são extremamente simplistas e que por isso não conseguem englobar toda a complexidade que esta temática abrange. A cidade contemporânea possui um novo papel. Cabe agora aos pensadores e cientistas articularem as novas demandas ao cenário urbano. Quando se pensa nesse tema relacionado com as feiras, percebe-se que há uma disputa muito grande sobre o uso da cidade entre os feirantes, os usuários e o poder público. A apropriação de espaços públicos para esse comércio, gera diversos questionamentos e conflitos em esfe“A estrutura de uma feira, sua ras privadas, legais e culturais, que seus demonstram localização, produtos e seu público são permeados por conflitos como ainda não temos uma solução clara para entre o público e privado, e coletividade” inserir e valorizar as feiras, individualidade da maneira como elas se configuram tão livremente, na cidade. Por isso garantir o direito à cidade é garantir a dignidade das pessoas. A cidade, nessa perspectiva, é palco da vida cotidiana. Trabalhar é agora só mais uma das infinitas atividades possíveis de serem feitas nela. Sendo assim, torna-se um dever pensá-la e desenvolvê-la de forma democrática, pois a cidade é o resultado da ação e vida de todos.


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CONFLITOS DE INTERESSE

08_ DIREITO À CIDADE

Historicamente, as cidades surgiram nos lugares onde havia produção de excedentes, ou seja, itens que iam além das necessidades de subsistência de uma população. Com a efetiva consolidação do urbano como meio de maior convivência humana, houve a tomada desse espaço pela indústria, trazendo a produção e o proletariado para um só espaço: o espaço do poder. A urbanização, portanto, sempre foi um fenômeno de classes, uma vez que o controle sobre o uso dessa sobre-produção tradicionalmente fica na mão de poucos. Dessa forma, a cidade expressa a divisão socioespacial do trabalho. Sua configuração, segundo Lefebvre (1973), ocorre em um contínuo que se estende desde a cidade política até o espaço urbano, finalizando com a sua dominação sobre o campo: ou seja, as cidades cada vez mais se tornam o centro da organização econômica mundial. Nessa dinâmica, percebe-se que o modo de produção capitalista está intimamente relacionado com “O direito à cidade é muito mais que a a formação do urbano e, consequentemente com liberdade individual de ter acesso aosos recursos urbanos: é um direito de mudar a si conflitos políticos, sociaispróprio, e espaciais gerados a parmudando a cidade. É um direito tir dos interesses das diferentes esferas de encoletivo e nãopoder individual.” volvidas nesse processo. No objetivo de gerar lucro a partir de todo e qualquer tipo de produção, percebe-se como as leis de competição necessariamente criam lados que ficam em constante oposição. Tais conflitos no caso dos espaços das feiras na cidade, podem ser exemplificados na apropriação de ruas e praças versus a impermanência

“A estrutura de uma 09_ feira,CONFLITOS sua locali- DE zação, seus produtos e seu público são INTERESSE permeados por conflitos entre o público e privado, individualidade e coletividade”

nesses espaços, nos desacordos em relação ao direito à cidade (conforme já abordado anteriormente), nos interesses do público e privado, na estrutura de uma feira, sua competição entre feirantes localização, e “Alojistas regulares, seus produtos e seu público são permeados por conflitos em disputas entre coletividade e individualidaentre o público e privado, de, no caso da efemeridade indo contraeacoletividade” espetaindividualidade cularização promovida pelos shoppings, na linha tênue entre legalidade e ilegalidade de algumas formas de comércio, na contraposição entre tradição e adaptação ao contemporâneo… Ou seja, a feira, sendo esse espaço tão heterogêneo, se mostra como um local em que interesses aparentemente paradoxais convivem lado a lado.

introdução [19]


9

CATEGORIZAÇÃO DAS FEIRAS Após uma análise geral sobre o surgimento das feiras num contexto amplo e mundial e de uma pesquisa sobre a relação historicamente próxima entre as feiras e Goiânia, achou-se necessária uma investigação mais aprofundada sobre as características atuais desses eventos especificamente nessa cidade. Assim, a partir da listagem de feiras feita pela Prefeitura de Goiânia, foram determinadas três classificações que segmentam os tipos de feira na cidade conforme os principais produtos que são vendidos em cada uma. Tais categorias serão importantes para o entendimento de diversas metodologias e caminhos adotados durante todo o desenvolvimento do trabalho. Portanto, com base nesses conceitos pesquisados, foi estabelecido que o trabalho será pautado na questão das trocas simbólicas, algo que foi definido como sendo o cerne para as feiras da forma como as entendemos, abrangendo seus aspectos comerciais e efêmeros, ao mesmo tempo em que se reconhece que são as trocas culturais e sociais ocorrentes nesse evento que o tornam tão inerente ao meio urbano e tão importantes na memória afetiva dos usuários.

[20] introdução


FEIRAS DE ABASTECIMENTO

São feiras de abastecimento, ou seja, vendem frutas, verduras e outros alimentos orgânicos. Geralmente, ocorrem uma vez na semana, atraindo um público fiel que busca uma alimentação mais saudável.

FEIRAS ESPECIAIS

São feiras que vendem produtos variados. A maioria reúne em um só local bancas de vestuário e alimentos, podendo também apresentar artesanato, brinquedos, animais de estimação , entre outros. Assim como nas feiras livres, normalmente ocorrem semanalmente.

FEIRAS ALTERNATIVAS

são feiras que vendem itens mais específicos que as demais. Surgidas nos últimos anos, se diferenciam pelos produtos vendidos (como por exemplo artesanatos, comidas veganas), pela maneira de vender/trocar (não necessariamente há uso de dinheiro) ou pela frequência com que acontecem (sendo muitas delas itinerantes, sem data e locais pré definidos, ou ainda mensais e anuais).

introdução [21]


Depois de estabelecidos os principais conceitos com os quais a nossa pesquisa teria que lidar, a etapa seguinte do trabalho propôs uma abordagem utópica do tema da feira, uma das ferramentas mais tradicionais e exploradas na arquitetura. Levando em conta que o significado da palavra “Utopia” é de “não-lugar”, busca-se com essa atividade estimular o pensamento sociopolítico e as relações entre a teoria vista na etapa anterior e proposta projetual a ser feita em seguida, a partir da reorganização de espaço e sociedade e abstração das limitações para sua realização. Utilizando vários métodos para se desenvolver utopias (que podem explorar propostas ideais, retroativas, satíricas, fantasias, desejos coletivos ou imagens impactantes), o exercício funciona como um brainstorm que visa produzir alternativas que articulem as contradições observadas, potencialidades não exploradas, conceitos, visões de futuro e o projeto de seus respectivos espaços, gerando produtos que buscam entender e investigar os significados da feira para a cidade e para os seus usuários Como resultado, foram produzidas sete Utopias que serão mostradas a seguir, as quais exploram conceitos relevantes para o entendimento das feiras, originando imagens que representam tais propostas, cada qual acompanhada de um texto que explique o conteúdo abordado por cada grupo.

UTOPIAS [22] utopias


Manhattan Geodesic (Buckminster Fuller, 1960)

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OS TRÊS PLANOS DO MUNDO

(textos e imagens por Gabrielle Ribeiro, Giovana Netto, Matheus Isaac e Suzy Coelho)

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Esta primeira Utopia descreve em forma de conto um proposta de um mundo que é dividido em três planos, como se fossem três andares de convivência, cada um com uma experiência social diferente. O primeiro e segundo planos seriam a vida como indivíduo (local de descanso onde se vive com privacidade) e a vida em meio a natureza bem preservada, respectivamente. Já o terceiro plano é um local de convívio em sociedade, com experiências de trocas comerciais e culturais, da mesma forma como acontece em uma feira. Com isso, imagina-se um mundo em que o modo de vida da feira tomou conta do modo de vida da sociedade como um todo, conjeturando como seria a forma como nós interagimos com outros seres humanos se ela fosse simplesmente baseada em trocas.

“O Sol está se pondo. Me levanto do dormitório, me preparo e me direciono à escadaria que leva ao plano superior para viver. Após alguns degraus, consigo ver a luz e começo a ouvir as vozes de outros moradores. A conversa é contínua e o plano está cheio nesse momento. Ele é extenso e infinito. Em cada espaço, vejo cores e alturas diferentes. Estranharia-me se não estivesse aqui diariamente. Para iniciar meu dia, dirijo-me à primeira banca de pão de queijo. O rapaz me cumprimenta e começamos as negociações. Ele oferece três opções por um período de limpeza. Eu retruco. Quatro. Então temos um acordo. No mesmo plano, posiciono-me, então, no espaço que ofereço meus serviços. Esse é um espaço de grandes dimensões, sem barreiras. É um lugar de compartilhamento com outros seres e está sempre em constante transformação. Trocadores se mudam de lá pra cá de acordo com seus anseios por viver um autêntico eu. Me desloco para uma nova troca. Vista bonita. Contraste. Pontos cheios e circulações ocupadas. O desejo de mudar novamente desperta ao longo do caminho. Termino minha terceira atividade e decido descer para o espaço intermediário. Gosto de frequentar ali. Apesar de não receber o mesmo fluxo de pessoas do espaço de trocas, enalteço a diversidade ali presente. A natureza pode ser tão grande quanto nossa vida na parte de cima. Pergunto-me se já estou satisfeito a ponto de voltar pro meu espaço de descanso. Não. Talvez deva acompanhar, por um momento, as crianças que estão nadando no rio. Quando me aproximo reconheço uma delas. Cuida da horta de verduras à alguns blocos do meu ponto. Pergunto-as como está sendo seu dia. Algumas delas me respondem que estão apenas começando o período, enquanto outras afirmam que logo voltarão aos seus cubículos. Eles são um pouco distantes de onde estamos - era uma visita a área. Bem interessante, a mais velha me disse. Sugeri uma nova troca, de cubículos dessa vez. Pode ser temporário, se ela interessar pelo novo ponto, mas ficamos de decidir depois. Descendo de volta a meu espaço individual, vi baixa luz se esvaindo, as vozes diminuindo, até que o silêncio tomou conta dos degraus. Cheguei à minha porta, tirei meus trajes e voltei a deitar. Daqui uns instantes acordaria de novo. Dessa vez subiria para assistir algumas aulas de culinária, talvez. Ou procuraria a horta de verduras das crianças. Antes de pegar no sono penso nas diversas experiências de hoje. Em um momento estava lá, várias pessoas, cheiros e cores, no outro momento estou aqui, sozinho, esperando ansiosamente voltar.”


Corte

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O ADVENTO DAS FEIRAS

(textos e imagens por Caio Weber, Larissa Fleury, Priscilla Freire e Rafaela Lobo)

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Após anos de perda de contato humano na forma de se fazer comércio, esta Utopia prevê um mundo em que as trocas simbólicas presentes nas feiras foram resgatadas, havendo para isso uma grande apropriação de espaços urbanos onde onde são instaladas as estruturas das feiras e onde essa recuperação da convivência social se torne possível.

“Estamos em uma dimensão em que o comércio formal como o conhecemos já não é bem visto. Após séculos de avanço de tecnologia as pessoas buscam de alguma forma um contato social mais próximo do humano, procuram por mais liberdade de locomoção e de expressão. Os shopping centers tornaram-se meros galpões sem vida, grandes ruas abandonadas, caídas no esquecimento por quem ali frequentava, em nada lembra seus dias de glamour e multidões. Há quem ainda se lembre vagamente dos grandes centros de compras, famosos pela grande variedade de produtos e preços, alguns empresários ainda tentam se manter de pé, mas sem muito sucesso. As vitrines expõem o desespero de quem tenta chamar a atenção de alguma forma de quem passa por ali. As ruas tornam-se meros locais de passagem, de quem está sempre em busca de algo. Não há permanência e nem vivência no espaço público. É neste cenário que nos deparamos com a feira, uma fonte de vida em meio ao vazio das cidades, dezenas de aromas, sons e histórias. A feira que traz consigo aquela tradição da família, seja por parte do feirante, seja por parte do consumidor. A feira que traz a família para abastecer a sua casa com frutas e verduras fresquinhas, ou para aquele tradicional pastel com garapa. A feira que traz o comerciante às cinco da manhã para preparar sua banquinha com o que há de mais selecionado em sua produção. A feira, que em escala local, já era uma força de resistência diante dos grandes comércios formais, mas em meio à crise comercial, se potencializa e ganha forças. As pessoas voltam a buscar as feiras por toda a sua história e tradição, na busca de reconquistar as experiências sociais tão vitais para a vida humana. Como solução desesperada para evitar a recessão da economia local, os governantes liberam o direito à apropriação das ruas para os feirantes. As feiras ganham o direito à cidade e gradualmente a feira e o espaço urbano se alimentam e se fundem, tornando-se essencialmente a mesma realidade. Podemos ver agora feiras por todos os lados, grandes avenidas que eram ocupadas por carros, agora esbanjam cor e diversidade para quem ali passa. Grandes passarelas foram construídas para a instalação de mais feiras, mostrando a necessidade da população em ocupar a cidade e dar novo sentido às ruas. As pessoas não satisfeitas ocupam os edifícios, desde o térreo até os terraços, intervindo nas formas urbanas. A cidade que antes era vazia e sem vida, agora se mostra fervorosa em diversa, cheia de aromas, pessoas e histórias. Com as feiras se alastrando pelos espaços urbanos o projeto Feirô dos alunos da FAV – UFG se torna mais pertinente do que nunca. Em busca de uma maior compreensão dessa nova realidade e dinâmica das cidades, profissionais e pesquisadores de diversas áreas se unem ao projeto, que cresce e ganha repercussão. Através das parcerias e financiamentos que foram conquistados ao longo do processo, o projeto Feirô se torna um grande símbolo do movimento de democratização das cidades e da conquista das feiras. Com essa nova face das cidades, arquitetos e urbanistas pelo mundo estão se adaptando e criando novos métodos, mais horizontais, de contribuir para o espaço urbano. No geral, o sentimento é de entusiasmo e esperança com a conquista do tão almejado direito à cidade.”


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FEIRA LIVRE SOBRE TRILHOS

(textos e imagens por Ana Elisa Jawabri, Crystal Yumi, Guilherme Ferreira e MarĂ­lia Gontijo)

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Ao pensar nas feiras como eventos móveis, esta Utopia pretende unir conceitos importantes como mobilidade nos centros urbanos e efemeridade da feira. Assim, as feiras seriam instaladas em espécies de vagões que funcionam como transporte público e circulam nas linhas de ônibus comuns, tornando possível que as trocas culturais e comerciais tão inerentes à esses eventos possam ocorrer durante o deslocamento pela cidade.

“Ao discutirmos sobre as feiras percebemos de que se trata de um fenômeno arquitetônico e urbano extremamente complexo, e que envolve não somente trocas comerciais, mas também socioculturais, ou as chamadas “trocas simbólicas”. Além disso, um outro fenômeno recorrente no modo de vida das grandes cidades atuais é a velocidade: a rapidez dos transportes que usamos todos os dias e a grande quantidade de tempo que passamos em trânsito, em deslocamento. Pensando nessa relação entre os dois aspectos e com referências de linguagem como o Superstudio e seu monumento contínuo, surgiu uma intervenção para o contexto de Goiânia, algo que pudesse unir a vivência da feira com a experiência do transporte, ou seja, uma espécie de “feira móvel”. Tomando por base as linhas de circulação do “eixão” de Goiânia (um marco visual de nossa cidade), bem como a linha do BRT, a ideia é aproveitar o tempo que passamos em deslocamento (e, neste caso, mais especificamente no transporte público) para instalar o que chamamos de FLT: Feira Livre sobre Trilhos. Tal feira seria montada dentro de uma estrutura semelhante aos ônibus que conhecemos, de tal forma que ela se moveria ao longo das linhas previamente citadas (circulando da mesma maneira que um coletivo comum o faria). Os pontos de parada e terminais serviriam ao propósito de, mais do que embarque e desembarque de passageiros, um local de carga e descarga de produtos a serem vendidos, tornando esses espaços ainda mais heterogêneos do que eles já são em seu formato atual. Além disso, no ponto de encontro entre as duas linhas, seria feita uma espécie de “rotatória elevada”, uma “ponte circular”, com o objetivo de melhorar a circulação dos dois eixos de feira, evitando conflito entre as duas linhas. Por fim, falando mais especificamente sobre os ônibus, eles teriam suas laterais feitas em grande parte com vidro, aumentando o contato direto da feira com a parte externa por meio dessas janelas e remetendo ao “ambiente natural” da feira: a rua. Também pensando nisso, o teto é feito de maneira retrátil, somente fechado para cobrir da chuva, mas aberto nos demais momentos para remeter à experiência da feira com a qual estamos acostumados. Dessa forma, buscamos potencializar a discussão sobre alguns conceitos inerentes à feira, tais quais a sua efemeridade, a sua forma de se portar como um evento na cidade, a diferença entre sua mobilidade (montagem e desmontagem) para a nossa abordagem sobre seu movimento, o seu aspecto de integração entre pessoas e espaços urbanos e, por fim, sua complexidade e heterogeneidade.”


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A TEMPESTADE

(textos e imagens por Ana Carla Paiva, LetĂ­cia Mastrela, Luccas Chaves e Maria Eduarda Alves)

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Ao imaginar um futuro após uma tempestade solar que nos priva de todos os aparelhos tecnológicos aos quais estamos acostumados, essa Utopia mostra uma sociedade que é obrigada a encarar os problemas sociais e ambientais que a vida moderna nos trouxe, e que precisa fazer um resgate de uma convivência humana mais direta, face à face, sem o intermédio da virtualidade. Para isso, as feiras se mostram essenciais nas suas trocas comerciais e culturais, mostrando que este fenômeno pode resistir à qualquer mudança de hábitos da sociedade. “Os celulares, a eletricidade sem fio, os microchips implantados sob a pele, os computadores, os robôs. Tudo parou de funcionar na supertempestade solar. Apesar das tempestades solares de grandes dimensões serem um fenômeno comum que acontece praticamente a cada 150 anos, ninguém contava com a intensidade dessa tempestade. Em 1859 ocorreu a explosão solar considerada, anteriormente, a maior da história. O fenômeno, porém, passou despercebido por grande parte da população mundial, já que na época não havia vida tecnológica considerável. Mas a Terra ainda não havia presenciado uma supertempestade solar desde o início da era espacial e, sem dúvida, a tempestade de 2159 foi a pior. Ainda estávamos vivendo as consequências dela. A tempestade afetou a vida de toda a população mundial, éramos tão dependentes da tecnologia que não sabíamos viver sem ela. Ainda estamos perdidos, mas um pouco menos que antes. A tempestade magnética causou apagão, afetou os sistemas eletrônicos, aéreo, de GPS, os satélites em órbita, paralisou redes de comunicação e diversos sistemas desenvolvidos pelo homem. A força da explosão foi tanta, que causou um efeito de aurora boreal no céu noturno em diversas partes do globo. Mas a beleza do efeito se perdeu em meio ao caos. Pelo menos, é o que minha mãe me conta, tenho 20 anos, e quando aconteceu a tempestade ela estava grávida de mim. Ainda não foi possível restabelecer toda a tecnologia, certa radiação ainda permanece afetando os computadores. O ponto positivo? As pessoas voltaram a se conectar mais, a conexão humana se reestabeleceu. No meio do caos, as pessoas que antes viviam em um estilo de vida individualista e recluso em seus apartamentos tiveram que abandoná-los, já que edifícios altos ficaram inviáveis a permanência. O sistema bancário entrou em pane e foram perdidos todos os dados, ricos e pobres se encontraram na mesma classe: a humana. Buscando juntar forças e ideais as pessoas procuraram se agrupar em centros de convivência. Uma nova rotina surgiu e sem moedas circulando o escambo voltou acontecer. O tempo mudou. O mundo moderno fez o ser humano acreditar que o seu natural era asfalto, eletricidade, máquinas e computadores. Na tempestade o universo nos mostrou a fragilidade do sistema, por muito tempo usamos a tecnologia para nos distanciar dos problemas ambientais que causamos mas agora nossa convivência é direta com eles. Nós, a primeira geração pós- tempestade, crescemos com o tempo da natureza. Nos centros de convivência estruturamos a cozinha coletiva, um espaço para as crianças, um espaço para a reunião de cada grupo e ao lado uma horta para as necessidades mais básicas de alimentação, algumas casas pela cidade foram ocupadas mas a maioria das pessoas prefere se unir nos centros. Sem transmissão de satélites a distância entre as cidades agora obedece a geografia terrestre e em decorrência das deficiências de produção de cada cidade as feiras permaneceram sobreviventes. Esse evento efêmero resiste independente da tecnologia, seu princípio vital são as trocas, algo intrínseco ao ser humano. Elas se reinventam e com toda essa reviravolta não foi diferente. No alvoroço das permutas as complexidades das relações humanas se afloram. Trocas de alimentos, instrumentos, informações e afeto, tão perdidas em meio aos robôs. Nos descobrimos fortalecidos nesses encontros. Encontros estes que estão sendo novamente o grande ponto de partida para o compartilhamento, pesquisa e melhorias em busca de um mundo melhor, transcendendo as amarras que a tecnologia trouxe para muitas gerações e nos comunicando muito mais com o nossa natureza.”


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UMA VARIAÇÃO URBANA

(textos e imagens por João Henrique Silva, Leonardo Frecchiami, Oriane Menegati e Weverson Gomes)

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Tomando por base os problemas atuais associados com a mobilidade, esta Utopia prevê um mundo sem combustíveis fósseis e sem espaço livre para ser ocupado na superfície da Terra, gerando a necessidade de ocupação do espaço aéreo. Dessa forma, os zepelins tomam conta dos céus do planeta e passam a ser a solução para o transporte de produtos e pessoas, gerando um evento de trocas comerciais e sociais a cada vez que param para abastecer algum local, tal qual uma feira o faz na cidade.

“Nos anos 2000, muitos se perguntavam como seria o futuro da humanidade, se haveria carros voadores, a descoberta de curas para disfunções corporais e psicológicas, e o tão sonhado fim da guerra contra a fome. Em meio a muito caos, desastres naturais, governos totalitários, disputas cada vez mais ferozes entre os homens, ocorreu o inevitável colapso da internet (quem imaginaria tal fato possível?). E, diretamente ligado à essa crise, sucedeu o esgotamento dos combustíveis fósseis que abasteciam a população na maioria de suas necessidades. Após décadas de caos e sofrimentos, os humanos persistem tentando alcançar consciência da união e do respeito entre si. Essa busca por melhorias começa a mostrar resultado para solucionar parte de seus problemas: o transporte de mercadorias. Em meio ao trânsito cada vez mais caótico e o crescimento descontrolado da população que tem como consequência o esgotamento do espaço, o deslocamento por terra se tornou inviável e mesquinho. Tomando como inspiração os projetos de grandes arquitetos que pensaram em utopias futuristas para as cidades, foi necessário encontrar soluções alternativas para o transporte de mercadorias, e o resultado veio voando. Literalmente. A solução foi usar uma antiga tecnologia, há muito tempo não usada, os zepelins. Inventado no ano de 1874, inspirado em “Cloud Nine”, teoria de cidades flutuantes formulada por Buckminster Fuller em meados do início do século XX. A tecnologia do avião não era viável em um ambiente urbano, pois como já falado anteriormente, há pouco ou nenhum espaço para construção de pistas para pousos e decolagens. Os zepelins passaram por uma fase de sucessivos estudos e aprimoração até serem utilizados para muitos serviços, inclusive o transporte de pessoas e alimentos. Seu uso foi amplamente abraçado e incentivado por consumir combustível limpo e se adaptar muito bem aos grandes aglomerados urbanos porque não ocupa grandes espaços terrestres. O pouso dos dirigíveis é visto como um evento muito desejado pela população, já que transportam alimentos e produtos não gerados na localidade (verduras e legumes comuns são produzidos em hortas caseiras comunitárias). Já mercadorias, provisões, artigos, peças e objetos são trazidos pelo ar por empresários responsáveis pela venda. E esses comerciantes se organizam em sindicatos e grupos auto geridos. É interessante perceber também que a transação é feita por dinheiro ou trocas. Todas as mercadorias tem preço justo e alcançável por qualquer morador. De maneira prática, para esse comércio acontecer mercadores e feirantes são arriados até o chão por meio de cordas, e instantaneamente montam suas barracas, transformando o espaço em uma grande feira. Todo o processo é muito ágil e de fácil montagem e organização, por isso é um acontecimento frequente, periódico e muito estimado transformando-se em uma conjuntura cultural e de identificação regional.”


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CIDADES FLUTUANTES 2074

(textos e imagens por Giulliano Lodardoni, Graziele Gabriel e Hugo Lessa)

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Com uma proposta de contrapor o comércio das feiras (repleto de heterogeneidade e trocas culturais) com o comércio virtual e automatizado, esta Utopia pensa em uma sociedade em que essa oposição de mercados está refletida na espacialidade urbana: há uma cidade flutuante com drones que entregam produtos personalizados e uma outra cidade no chão, a qual permanece com o hábito da feira e valoriza suas trocas simbólicas. “Após as cidades do chão serem consideradas muito caóticas e impossíveis de ordenar, a população privilegiada passa a viver em cidades flutuantes. Com essa disposição espacial propicia, drones fazem entregas de produtos, constituindo o comércio automatizado e frio, sem trocas, baseado em algoritmos, porém, ainda há pessoas que ficaram pra trás nas cidades do chão, sobrevivendo através de produção e troca de produtos entre si e, apesar de possuírem tecnologia rudimentar, é o suficiente para alcançar as cidades flutuantes quando há a necessidade de trocas. Assim, após a construção das cidades flutuantes foi estabelecida uma dicotomia entre dois tipos de comércio: um completamente automatizado que envolve drones e algoritmos, sem interação entre pessoas e com entrega de produtos baseada na preferência do cliente; e outro baseado em trocas, praticado somente entre as pessoas que ficaram nas cidades do chão. Com essa proposta, busca-se estimular uma discussão sobre trocas, efemeridade, a complexidade da convivência em sociedade, a privacidade e o comércio “espetacularizado” em oposição às trocas tradicionais.”


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FEIRA FLUTUANTES

(textos e imagens por Aira Fontenelle, Gabriela Vieira, Victor Taffarel e Victor Hugo)

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Este último exercício de Utopia imagina um mundo em que as feiras acontecem num espaço que flutua e se desloca entre as cidades, algo que foi possível graças a uma tempestade que enroscou diversos balões que serviam para o transporte de produtos. A partir de tal acontecimento, todas as pessoas puderam ter acesso à experiência da feira (mesmo que desse modo itinerante) desde cidades de interior até grandes metrópoles, havendo uma multiplicação de tais balões pelo mundo todo, os quais se adaptam dependendo do tipo de trocas e necessidades de cada local.

“Comerciantes viajavam de cidade a cidade com seus balões, vendendo produtos e fazendo trocas. Em um dia qualquer, uma forte tempestade fez com que os balões se entrelaçassem, impedindo com que fossem separados e que os comerciantes pudessem continuar a vender suas mercadorias. Como viviam das vendas de seus produtos, a única saída foi adaptar-se. Juntos, os comerciantes construíram passarelas; pontes; escadas; acoplaram aerogeradores ao grande balão, para que ele pudesse movimentar-se e produzir energia; instalaram placas fotovoltaicas, para complementar a produção de energia; programaram um sistema de piloto automático orientado por GPS, para que se pudesse estabelecer uma rota fixa. Em resumo, fizeram de tudo para que o emaranhado de balões pudesse se autossustentar. Estabeleceram que o balão passaria ao menos uma vez durante a semana, a velocidade máxima de 20km/h. Não haveria pontos fixos, cada comerciante poderia subir no grande balão no momento em que quisesse e vender seus produtos, completamente isento de pagar quaisquer taxas ou impostos. Em pouco tempo observou-se que as vendas aumentaram. As pessoas se interessavam pelo balão grande e devagar que estava passando em sua rua e, por curiosidade, subiam. Ao encontrar todos os tipos de produtos reunidos, decidiam fazer suas compras ali. Podiam comprar roupas, calçados, verduras, frutas, o cafezinho da tarde, tudo em um só local e, além de tudo, contar com vistas maravilhosas da cidade. Com o tempo, mais e mais pessoas optavam por comprar nos balões. Já era notícia em muitas cidades do mundo, todos queriam conhecer a grande feira flutuante. Os comerciantes, então, pensaram em expandir a rota, colocando o balão para passar em outras cidades. A ideia foi um sucesso ainda maior. Aquele pão de queijo que só a senhorinha do interior fazia, chegava nas grandes cidades. A roupa da grife que só era vendida na capital, chegava na cidadezinha do interior. Foram surgindo muitas outras feiras flutuantes ao redor do mundo: as organizadas, em que todos os mínimos detalhes eram calculados e decididos; as planejadas, muito similares ao shoppings, onde o ambiente era controlado, era necessário alugar o local para se vender; e as livres, montadas de acordo com a necessidade e disponibilidade de materiais, não havia regras, tudo era aceito. De acordo com a necessidade do local, a feira flutuante assumia um tamanho e estilo único, por exemplo, uma mais tecnológica, outra mais bagunçada, ou até mais sustentável. As vantagens eram infinitas: era possível ter produtos de todos os lugares do mundo, encontrava-se pessoas de muitas cidades diferentes (o que favorecia as trocas culturais), possibilitava uma experiência espacial totalmente diferente, entre muitas outras.”


Terminadas as propostas de Utopia, foi chegada a etapa de visitas às feiras, com o objetivo de fazer levantamentos das suas principais características. Partiu-se, portanto, para a fase de Cartografias, ou seja, buscou-se usar essa ciência que busca representar visualmente a superfície da Terra com mapas para, assim, traduzir a experiência da feira em forma de imagens. A partir disso, o Grupo de Representação visitou a Feira da Lua para estabelecer os dados a serem catalogados, como fluxos, temperatura, sons, cheiros e entre outras informações, para em seguida padronizar a representação de tais dados em mapas 3D, 2D, mapas psicogeográficos e paletas de cores. Com isso, os demais grupos ficaram responsáveis pela visita às demais feiras que pudessem exemplificar as três tipologias estabelecidas no início do trabalho: feiras especiais (Feira da Marreta e Feira Hippie), feiras livres (Feira Vila Bela e Feira do Cepal do Jardim América) e feiras alternativas (Feira do Cerrado). Para cada uma delas foram geradas algumas imagens e um texto que explica como a experiência daquela feira em específico está traduzida nesses produtos. Portanto, a seguir serão mostradas as produções de cada grupo, desenvolvidas a partir do Guia Cartográfico para Feiras (que será mostrado mais detalhadamente no capítulo seguinte), o qual foi o elemento base elaborado para ensinar as instruções e ferramentas necessárias para representar os levantamentos feitos, não apenas para os fins desta disciplina, mas para qualquer interessado em estudar ou pesquisar sobre as feiras.

CARTOGRAFIA [50] cartografia


Cartografia Insurgente - Mapeando a SĂŁo Paulo ocupada (SĂŁo Paulo, 2015)

cartografia [51]


FEIRA ESPECIAL: Cartografias Feira da Lua

(produto por Ana Carla Barbosa, Ana Elisa Jawabri, Giovana Netto, João Henrique Silva, Leonardo Frecchiami)

MAPA 3D

Volumetria axonométrica da Feira da Lua e seu entorno imediato

A Feira da Lua ocorre todos os sábados na Praça Tamandaré no Setor Oeste e se trata de uma feira muito bem organizada, sendo uma das mais conhecidas de Goiânia e do estado de Goiás. Justamente por isso, a sua visita revelou diversas características que explicam o porquê da grande quantidade de pessoas que frequentam esse local, bem como a quantidade de barracas e feirantes que ali se instalam e disputam por lugar.

[52] cartografia

Sendo assim, as análises dos fluxos da feira mostram que estes são, em geral, ordenados e uniformes. Alguns trechos da praça possuem um corredor apenas, enquanto outros apresentam até três corredores de circulação e, talvez por isso, as aglomerações só ocorrem nos pontos onde há barracas de alimentação e nos trechos em que a Avenida República do Líbano cruza com a Praça Tamandaré.


MAPA 2D

MAPA DE MULTIDÕES E FLUXOS Multidões Fluxo intenso Fluxo médio Fluxo leve

MAPA DE RUÍDOS Música

Pessoas Pássaros

MAPA DE ODORES Lona Têxtil

Trânsito Comida Esgoto

MAPA DE TEMPERATURAS Quente Média Amena

Sobre os barulhos, foi percebido que o ruído mais expressivo é proveniente, também, das zonas de alimentação. Fora dessas regiões é possível ouvir barracas de venda de CDs e, de forma surpreendente, o canto dos pássaros no lado da feira voltado para a Avenida Assis Chateaubriand, um local em que era esperado ouvir somente o barulho dos carros. Já em relação aos cheiros, o odor mais característico da Feira da Lua é originário das lonas usadas para a cobertura das barracas, sendo seguido pelo mal cheiro vindo da Assis Chateaubriand, oriundo da fumaça dos carros que passam. O cheiro de couro e tecidos em geral, além do cheiro de comida, também são característicos do local, e um ponto chama atenção por apresentar um forte mal cheiro de esgoto. Por fim, uma outra característica observada na fei ra foi em relação à sua temperatura, já que as lonas de cobertura na Feira da Lua (que cobrem não só as barracas, mas também a circulação) são montadas numa altura muito baixa, e esse abafamento causa mal estar, tendo em vista que a temperatura é alta. Enquanto isso, nos pontos em que a lona é mais alta ou inexistente, a sensação térmica é bem mais confortável. Assim, buscou-se por meio dos mapas e colagens representar de forma visual essas particularidades, tendo em vista que são estes traços (ou apesar deles) que fazem a Feira da Lua ser este fenômeno na cidade de Goiânia, um evento semanal que atinge centenas de pessoas.

cartografia [53]


MAPA PSICOGEOGRÁFICO [54] cartografia


COLAGEM


FEIRA ESPECIAL: Cartografias Feira da Marreta

(produto por Larissa Fleury, Letícia Mastrela, Luccas Chaves, Maria Eduarda Alves e Priscilla Freire)

MAPA 3D

Volumetria axonométrica da Feira da Marreta e seu entorno imediato

Com a visita à Feira da Marreta, que ocorre semanalmente no Setor Leste Vila Nova, foi possível notar algumas particularidades presentes no local, além tentar catalogar de forma visual algumas de suas dinâmicas, pontuando quais informações pré-concebidas eram verdadeiras ou não, e quais são as características mais marcantes dessa feira tão famosa na cidade de Goiânia. Dessa forma, foi possível perceber que os fluxos

[56] cartografia

presentes na feira são desordenados e maiores nos seus acessos e no centro. Além disso, há uma aglomeração mais intensa próxima a um quiosque existente no local, onde ocorre a venda irregular de celulares. Outro elemento que foi notado foram os odores. Pelo fato de não existir uma setorização clara na disposição de produtos na feira, foi possível sentir diferentes odores ao longo de todo o percurso.


MAPA 2D

MAPA DE MULTIDÕES E FLUXOS Multidões Fluxo intenso Fluxo médio Fluxo leve

MAPA DE RUÍDOS Música

Propaganda Conversa

MAPA DE ODORES Comida

Odores fortes Plantas

MAPA DE TEMPERATURAS Quente Amena

Os cheiros mais fortes variam entre aqueles vindos das barracas que vendiam mercadorias como pneus novos e usados, gasolina equipamentos de carro, utensílios empoeirados, dentre outros, e os cheiros presentes no entorno da feira, principalmente de urina e lixo, locais onde também ocorre a venda de mercadorias. Além destes, também foi possível perceber odores de comidas tradicionais como churrasquinho, pastel e bolinho de milho, espalhados ao longo da feira, e, em um ponto específico, o cheiro de plantas e hortaliças frescas vendidas em uma barraca. Em relação aos sons percebidos, estes foram marcados por propagandas de algumas barracas, conversas altas e músicas de todos os tipos. As músicas tocadas percorreram todos os estilos, ora para a venda de discos e de aparelhos de som ora como fonte de lazer. Por fim, sobre a temperatura, no geral as áreas arborizadas proporcionam grandes sombras que refrescam o ambiente e nos locais onde não existem árvores ou há barracas e coberturas de lona a temperatura fica maior, tornando desconfortável a permanência. Este fato é evidenciado pela falta de aglomerações no final da feira, próximo à marginal, que é menos arborizado e, portanto, mais quente. Assim, tentou-se representar essa experiência por meio de mapas que catalogam essas características encontradas na feira, buscando retratar a diversidade e a desordem presentes neste espaço, sem desvalorizar ou estereotipar essas peculiaridades, apenas mostrá-las como são.

cartografia [57]


MAPA PSICOGEOGRÁFICO [58] cartografia


COLAGEM


FEIRA ESPECIAL: Cartografias Feira Hippie (produto por Giulliano Lonardoni, Graziele Gabriel e Hugo Lessa)

MAPA 3D

Volumetria axonométrica da Feira Hippie e seu entorno imediato

A Feira Hippie é a maior feira ao ar livre da América Latina, como pode ser percebido nas suas mais de 6000 mil barracas. Apesar de ser agendada para ocorrer apenas aos domingos, ela inicia a sua montagem por volta de quinta-feira, por muitas vezes nem chegando a ser desmontada no restante da semana. Devido às suas grandes proporções, à proximidade com os comércios da rua 44, bem como da rodovi-

[60] cartografia

ária, e ao fato de ocorrer na Praça do Trabalhador (próxima ao edifício tombado da Estação Ferroviária de Goiânia), a Feira Hippie tem muita visibilidade tanto em Goiânia quanto no restante do país, e possui muitas particularidades que tentaram ser traduzidas em mapas e colagens. Em relação ao seu fluxo, por exemplo, a grande quantidade de pessoas e de barracas torna difícil a circulação na feira, havendo fluxo intenso em


MAPA 2D

MAPA DE MULTIDÕES E FLUXOS Multidões Fluxo intenso Fluxo médio Fluxo leve

MAPA DE TRÁFEGO EXTERNO Trânsito intenso Trânsito leve

MAPA DE TIPOLOGIAS Têxtil Artesanato Comida Sanitários

MAPA DE SENSAÇÕES E ACESSOS Boas sensações

todos os principais acessos, mediano por todo o percurso da feira e grandes aglomerações de pessoas em diversos pontos. Como adicional, há no entorno um tráfego constante de veículos. A maior parte da feira é dedicada à venda de roupas e calçados, seguida de comidas e acessórios (muitas vezes para dar suporte aos feirantes e usuários) porém há uma deficiência muito grande de sanitários e outras estruturas de assistência às pessoas. Toda essa heterogeneidade buscou ser representada nos mapas produzidos, incluindo aspectos subjetivos (como se determinado local da feira causa sensações boas ou ruins), tudo com o intuito de catalogar experiência proporcionada por esse símbolo da cidade de Goiânia.

Sensações ruins Entradas Saídas

cartografia [61]


MAPA PSICOGEOGRÁFICO [62] cartografia


COLAGEM


FEIRA LIVRE: Cartografias Feira Vila Bela (produto por Oriane Menegati e Weverson Gomes)

MAPA 3D

Volumetria axonométrica da Feira Vila Bela e seu entorno imediato

Uma típica feira de bairro determina a Feira Vila Bela, que ocorre todas as quintas-feiras neste setor. Alimentação e abastecimento são seu foco principal, com divisão marcante entre dois segmentos: são ofertados alimentos prontos para o consumo no próprio local ou são vendidos alimentos como verduras e temperos para serem preparados em casa. As multidões se aglomeram na parte inicial da

[64] cartografia

feira, onde se tem brinquedos e barracas que servem comidas nas mesas, e também é neste local em que é possível ouvir barulho de música. Já na parte central, há uma espécie de aglomeração de pessoas próximas às barracas que vendem comidas pronta (gerando muito ruído de conversas) antes da circulação se dividir em dois fluxos mais fracos, os quais levam até a outra extremidade da feira, caracterizada por ser menos movimentada e,


MAPA 2D

MAPA DE MULTIDÕES E FLUXOS Multidões Fluxo intenso Fluxo médio Fluxo leve

MAPA DE RUÍDOS Carros Pessoas Música

MAPA DE TIPOLOGIAS Verduras/temperos Comida Sanitários

MAPA DE VENTOS Muito vento Pouco vento

portanto, mais silenciosa. O local onde essa feira acontece é uma característica particularmente marcante, pois os edifícios ao redor formam uma espécie de “vale” que canaliza os ventos, os quais percorrem todo o trajeto da feira, tornando o ambiente termicamente agradável, ao contrário do que ocorre na grande maioria das demais feiras de Goiânia. Assim, todos esses aspectos desta pequena feira estão refletidos nos mapas que foram produzidos, com o objetivo que representar uma das tipologias de feira e esperando que suas particularidades tenham sido bem traduzidas.


MAPA PSICOGEOGRÁFICO [66] cartografia


COLAGEM


FEIRA LIVRE: Cartografias Feira Cepal do Jardim América (produto por Gabrielle Ribeiro, Guilherme Ferreira, Marília Gontijo, Rafaela Lobo e Suzy Coelho)

MAPA 3D

Volumetria axonométrica da Feira Cepal do Jardim América e seu entorno imediato

A Feira do Jardim América ocorre aos domingos neste setor, possuindo uma pequena escala e se voltando especialmente para o público residente do bairro. Por se tratar de uma tipologia de feira delimitada espacialmente por sua cobertura, a Feira do Jardim América têm alguns aspectos que a diferencia das demais feiras de Goiânia, as quais podem ser chamadas de mais “livres”, no sentido de que normalmente se apro-

[68] cartografia

priam de espaços públicos como praças e ruas para sua instalação e não possuem um limite claro, podendo se expandir para todas as direções. Sendo assim, foi percebido que a cobertura é um traço distinto que define diversas características presentes na feira, por isso ela é o principal elemento no mapa psicogeográfico produzido, englobando e, em certa medida, homogeneizando tudo o que acontece no evento.


MAPA 2D

MAPA DE MULTIDÕES E FLUXOS Multidões Fluxo intenso Fluxo médio Fluxo leve

MAPA DE RUÍDOS Equipamentos Pessoas Carros Galos Crianças Música

MAPA DE ODORES Fritura Café Laranja Queijo Milho Carnes Temperos

MAPA DECOBERTURAS INTERNAS Barraquinhas Bancas

Uma das particulares percebidas foi em relação à sua organização, já que as barracas não são “coladas” umas às outras, o que gera um fluxo em muitas direções diferentes e sem muita clareza. Porém, algo que poderia se tornar confuso acaba por ser facilmente assimilado pelo usuário, que pode se deslocar para onde quiser, criando seu próprio percurso. Com isso, pôde ser notada uma aglomeração de pessoas próxima a uma barraca de venda de garapa, enquanto houve um vazio constante próximo às barracas de venda de carne. Em relação aos odores percebidos, todos foram referentes aos cheiros dos produtos comercializados, como temperos, milho e café. Já os sons, estes não eram em um volume muito alto, sendo caracterizados em sua maioria por conversas e, vez ou outra, uma música de determinada barraca ou um cantar de galo vindo de outra. Portanto, foi percebido que um único elemento pode influenciar muito um espaço e a experiência que se tem nele. Neste caso, a cobertura do Cepal homogeneizou a feira e a diferenciou de demais feiras que ocorrem ao ar livre, e tais diferenciações buscaram ser traduzidas de maneira visual nos mapas e colagens produzidos.

cartografia [69]


MAPA PSICOGEOGRÁFICO [70] cartografia


COLAGEM


FEIRA ALTERNATIVA: Cartografias Feira do Cerrado (produto por Aira Fontenelle, Caio Weber, Crystal Yumi, Gabriela Vieira, Matheus Isaac)

MAPA 3D

Volumetria axonométrica da Feira do Cerrado e seu entorno imediato

A Feira do Cerrado é classificada como alternativa por possuir uma característica própria de valorizar produtos artesanais e acontece aos domingos no Parque da Criança, ao lado do Estádio Serra Dourada no Jardim Goiás, de 9h da manhã à 13h da tarde. Diferente da maioria das feiras em Goiânia, ela possui uma estrutura física muito completa: com banheiros, praça central (onde acontecem apresentações), uma grande área para estacionamento

[72] cartografia

e um arco central que direciona aos diversos caminhos de acesso à diferentes tipos de barraquinhas. Dentre os produtos comercializados, destacam-se: quadros de tinta à óleo, brinquedos em madeira, bolsas, origamis, panos de prato, toalhas de mesa, colchas, produtos em couro e muita comida local. A feira inclusive possui um site no qual é possível ter um acesso prévio à descrição dos produtos que estão sendo vendidos e quais são seus feirantes.


MAPA 2D

MAPA DE MULTIDÕES E FLUXOS Multidões Fluxo intenso Fluxo médio Fluxo leve

MAPA DE RUÍDOS Pessoas Música

MAPA DE ODORES Sabonetes Tinta à óleo Madeira Aromatizantes Fritura Couro

MAPA DE CORES Quadros (artes) Bancas azuis

No dia da visita à feira, houve contação de histórias para crianças e música ao vivo. A música foi constante e atraiu muitas pessoas para praça central, algumas sentadas nos bancos ali perto, outras se animaram à dançar. Próximo a praça central se localizam as movimentadas barracas de comida e nelas se encontra de tudo: biscoitos caseiros, pastel, galinhada, crepes, caldo de cana e muito mais... Do centro saem 4 caminhos diferentes, passeando por eles percebemos uma diversidade enorme de produtos, de artesanato à pequenos móveis para casa. Trata-se de uma feira nem um pouco ortogonal, seus caminhos são sinuosos e permeados por vegetação, característica essa que te faz sentir-se quase que escondido na mata, porque de fato, enquanto andamos pela feira, não percebemos a cidade, os prédios ou nem mesmo o Estádio Serra Dourada ali perto. Com tantos pontos positivos, a única dificuldade e ponto negativo que encontramos na feira foi sua localização. É relativamente fácil chegar até ela de carro, mas não tão fácil de transporte público, mas isso é uma característica relacionada ao próprio bairro em que a feira é realizada e não particularmente uma dificuldade da feira em si. Além de todas as características mencionadas sobre a Feira do Cerrado, o que não faltou foram pessoas alegres e simpáticas, feirantes bastante educados e buscando oferecer o melhor para seus clientes. Crianças se divertiam, senhores e senhoras dançaram, famílias levando seus cachorrinhos para passear. A Feira do Cerrado, com certeza, é um local para um bom passeio de final de semana. clientes. Crianças se divertiam, senhores e senhoras dançaram, famílias levando seus cachorrinhos para passear. A Feira do Cerrado, com certeza, é um local para um bom passeio de final de semana.

Bancas amarelas Bancas verdes Bancas vemelhas

cartografia [73]


MAPA PSICOGEOGRÁFICO [74] cartografia


COLAGEM


Com as discussões teóricas completas e os devidos levantamentos realizados, a ideia de finalização do trabalho consiste na criação de diversos produtos que possam explorar tudo o que foi abordado nos estudos feitos. Foram decididas algumas palavras-chave e expressões que foram consideradas essenciais para o entendimento das feiras: trocas simbólicas, efemeridade, identidade, espaço público e tradição. A partir delas tornou-se possível a definição dos cinco objetivos principais, que serviram de inspiração para os produtos gerados, os quais serão enumerados e explicados a seguir:

PROPOSTAS [76] produtos finais


Mapa de cheiros - A Experiência (Goiânia, 2019)

propostas [77]


OBJETIVOS

1

EXPLORAR OS ASPECTOS DAS TROCAS SIMBÓLICAS PARA ENFATIZAR A IDENTIDADE E TRADIÇÃO DAS FEIRAS Entendendo que as trocas culturais e sociais são aspectos tão importantes para a feira quanto as trocas comerciais, busca-se explorar esse aspectos criando produtos que possam valorizá-los, ao mesmo tempo em que seja enfatizada a identidade da feira que sofrerá a intervenção (tanto no sentido de identidade visual da feiras em geral quanto de particularidades que diferenciam uma feira das demais). Além disso, a intenção é que o trabalho criado possa exaltar as feiras como sendo parte inerente da cidade de Goiânia, um evento tradicional que reflete a experiência de quem o frequenta e lida com memórias afetivas e hábitos de convivência e consumo de toda a população.

2

EXPLORAR A EFEMERIDADE DA FEIRA COMO FORMA DE SE APROPRIAR DO ESPAÇO PÚBLICO

[78] propostas

A feira se configura como um acontecimento efêmero, já que suas barracas são montadas e desmontadas pelos feirantes e isso gera a capacidade de ocupar um espaço público (como uma rua ou uma praça) e se apropriar dele, criando evento momentâneo. Pensando nesse sentido, é como se a feira potencializasse os usos possíveis dos espaços na cidade, logo, os produtos gerados devem considerar que a efemeridade e a apropriação são aspectos que diferenciam a feira de outras formas de troca comercial, explorando essas características, enfatizando-as e mostrando sua importância.


3

5

VALORIZAR A CULTURA COMO FOR- IDENTIFICAR AS NECESSIDADES MA DE DIVERSIDADE DA CIDADE INFRAESTRUTURAIS DAS FEIRAS As feiras são um marco cultural da cidade de Goiânia e o hábito de frequentá-las se torna uma característica comum dos moradores da cidade, tornando-se um costume cultural. O traço cultural das feiras também pode ser observado na quantidade de frequentadores de outras cidades e estados que se deslocam para experienciar e consumir em Goiânia, demonstrando mais uma vez o quão marcante é esse evento para a economia e para as trocas simbólicas da cidade. Com isso em mente, os produtos criados a partir desse objetivo devem levar em conta e enfatizar o espaço heterogêneo gerado pela feira, tanto na sua forma física com a fluidez de disposição de barracas, a diferença de cores e materiais e confusão de fluxos e sentidos, quanto na suas experiências, nos seus estímulos sensoriais e na sua diversidade de pessoas, pois isso estabelece um evento definido pela pluralidade e que abarca todos os tipos de usuário.

4

FACILITAR O ACESSO E CONHECIMENTO SOBRE AS FEIRAS DE GOIÂNIA Apesar de ser um traço cultural importante da cidade de Goiânia, as feiras acabam sendo negligenciadas em alguns sentidos, principalmente na questão de divulgação e conhecimento a seu respeito. Para solucionar esses problemas, é preciso pensar na valorização da feira tanto na escala da população quanto na escala acadêmica. Assim, o objetivo é divulgar todos as descobertas feitas com os estudos das feiras, estimulando a curiosidade para a pesquisa e o aprofundamento de estudos à respeito desse evento, além de disseminar informações para a população em geral, com dados objetivos sobre as feiras, como seus locais, seus horários e seus produtos.

A partir dos levantamentos feitos nas feiras da cidade foi percebida a necessidade de alguns equipamentos que pudessem auxiliar a vivência da feira tanto para os feirantes quanto para os usuários. Assim, por meio de algumas estruturas físicas é possível intervir nos espaços das feiras, sempre levando em conta seus aspectos de efemeridade, de modo a melhorar a experiência das pessoas envolvidas nesse evento. Por isso é importante que os produtos gerados avaliem objetivamente as necessidades desse espaço, prevejam como seria feita essa intervenção, quais seriam os indivíduos atingidos pelo advento dessas estruturas e, por fim, se elas realmente farão uma diferença positiva na vivência da feira, tudo isso pensando no objetivo de tornar os espaços das feiras mais eficientes e confortáveis sem haver a perda dos traços que as diferenciam de outros espaços dedicados à trocas comerciais.

Portanto, apresentados esses objetivos e mantendo-os em mente, a seguir serão apresentados os produtos que foram concebidos de forma a atingir uma ou mais dessas metas estabelecidas.

propostas [79]


APLICATIVO FEIRÔ

(produto por Ana Carla Barbosa, Graziele Gabriel, Maria Eduarda Alves e Victor Hugo Almeida)

O Aplicativo Feirô é um produto pensado para facilitar a vida dos feirantes e usuários de feiras em Goiânia. Partindo do lema “As feiras de Goiânia na palma da sua mão”, o aplicativo permite uma integração do usuário /consumidor e comerciante de feiras livres da capital, facilitando a localização, acesso e utilização das principais feiras da cidade. O aplicativo tem como foco principal os moradores de Goiânia, pessoas com o hábito de frequentarem feiras, feirantes e organizações ou associações das feiras. O aplicativo permite e facilita ao público localizar a feira mais próxima, escolher a categoria da feira desejada, saber os horários de funcionamento das feiras, entre outras funções, possibilitando assim, boas experiências aos usuários de feiras da capital. Para agradar o usuário em foco e atender suas principais necessidades, o aplicativo conta com diversas funções divididas em várias páginas ou telas diferentes, oferecendo utilidades como calendários de feiras, horários de feiras, mapas de localização, curiosidades sobre as feiras, localização das feiras, tipologia e informações detalhadas sobre cada feira, espaço de sugestões sobre compras para o usuário, entre outros. Sempre buscando apresentar um design limpo, moderno e intuitivo.

[80] propostas


Página de localização


PÁGINA INICIAL DO CELULAR (1)

PÁGINA DE CARREGAMENTO DO APLICAIVO (2)

POP-UP (3)

INFORMAÇÕES DA FEIRA (14)

ROTAS (16)

PÁGINA INICIAL DO APLICATIVO (4)

CALENDÁRIO MENSAL (5)

CALENDÁRIO SEMANAL (6)

MAPA (8)

CALENDÁRIO DIÁRIO (7)

+INFO (11)

INFORMAÇÕES DA FEIRA (14) Esquema de funcionamento do aplicativo

CLASSIFICAÇÃO (10)

CRÉDITOS (13)

ROTAS (16)

ÍCONE DE BUSCA (15)

[82] propostas

CURIOSIDADES (9)

DICAS (12)


1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

propostas [83]


POP-UP

PÁGINA INICIAL DO APLICATIVO

CALENDÁRIO DIÁRIO

MAPA

+ INFOS

DICAS

[84] propostas


CALENDÁRIO MENSAL

CALENDÁRIO SEMANAL

CURIOSIDADES

CLASSIFICAÇÃO

CRÉDITOS

INFORMAÇÕES DA FEIRA

propostas [85]


SOBRA CONTAINER

(produto por Leonardo Frecchiami, Oriane Menegati, Rafaela Lobo e Weverson Oliveira) Em busca da resolução de problemas relacionados ao desperdício de produtos nas feiras, debatemos e pensamos o seguinte: em primeiro momento, a proposta de um mecanismo que auxilie na redução dos produtos que são descartados de forma errada e consequente reaproveitamento. Para isso, criamos um protótipo que utiliza um container como forma principal, e nele há divisões para cada tipo de lixo que será descartado. Esse container funcionaria da seguinte forma: ele é dividido em quatro células, que são revestidas por um material isolante, para manter a temperatura adequada e reter os odores que pudessem ser gerados pelos resíduos. Cada célula terá uma base constituída de trilhos, sendo dois para cada e roldanas que deslizam sobre elas para que possam ser retiradas, e recolocadas no lugar. As células terão uma abertura de forma basculante para que o feirante faça o descarte de seus resíduos. Cada célula será destinada para um tipo de resíduo: orgânico, orgânico não reaproveitável, reciclável e não reciclável. A célula destinada aos orgânicos reaproveitáveis terá uma diferenciação, ela será composta por prateleiras para divisão dos diferentes tipos de resíduos dessa categoria, esse acesso será feito pela lateral para facilitar a coleta, ela terá um sistema de refrigeração para que não haja a perda desses alimentos. Para ajudar essa divisão, cada célula terá uma cor específica para diferenciar os dife-

[86] propostas

rentes tipos de resíduos. Em um segundo momento, uma proposta de ação determinante encontrada para promover a conscientização e engajamento dos feirantes para promover um aproveitamento dos alimentos residuais da feira será dada da seguinte forma: a cada semana, no dia da feira, o feirante disponibilizaria sua barraca para que acontecesse um “banquete”, esse “banquete” seria para os feirantes e também para os moradores de rua e necessitados, das redondezas da região da feira, e o mais importante nesse movimento seria o aproveitamento dos alimentos descartados, mas que ainda podem ser consumidos. A longo prazo, essas ações ajudariam em questões sociais, ambientais e de limpeza dos espaços em que ocorrem as feiras. Pensar em políticas sustentáveis que protejam e preservem o ambiente, é um investimento na qualidade de vida e bem estar da população. A logística do uso dos equipamentos seria da seguinte maneira, as feiras menores que geram menos resíduos utilizariam apenas um container com as quatro células; já as feiras maiores que geram uma grande quantidade de resíduos usariam dois containers para a captação desses resíduos, sendo um exclusivo para resíduos orgânicos e o outro para os demais tipos. A separação dos resíduos seria feita em parte pelos próprios feirantes, por isso a necessidade de uma reeducação dos mesmos


Perspectiva_Lixos e Alimentos


Diagrama_fluxo de depรณsito

Diagrama_fluxo de coleta

Corte longitudinal_alimentos

Planta baixa_alimentos

Corte longitudinal_lixos

Planta baixa_geral

Planta baixa_lixos


Isométrica explodida_lixos

Isométrica explodida_alimentos


GUIA DE CARTOGRAFIA

(produto por Ana Elisa Jawabri, )

A partir dos estudos sobre as feiras de Goiânia da disciplina de Projeto VII na Universidade Federal de Goiás, viu-se a necessidade de que esse espaços pudessem ser representados de forma imagética e de fácil entendimento, tanto para quem os pesquisa quanto para quem se interessa pelo assunto. Visto que a Cartografia se trata de uma ciência que busca representar visualmente a superfície terrestre, o seguinte guia cartográfico busca estabelecer um molde, uma sugestão de como cartografar as feiras, com o objetivo de auxiliar qualquer um que se interesse por esse fenômeno urbano e que busque estudá-lo, estabelecendo tópicos relevantes para levantamentos que sejam feitos em eventuais visitas à campo. Assim, foi percebido que as feiras são caracterizadas pelo efêmero, pela impermanência, pela apropriação de espaços públicos dos centros urbanos como ruas e praças, enfim, pela criação de um evento social, uma experiência que vai muito além das trocas comerciais feitas, sendo inerente a presença de trocas sociais e culturais nestes espaços. Logo, sua representação gráfica não poderia se dar

[90] propostas

da mesma forma que um edifício fixo, exigindo que os levantamentos feitos levassem em conta as especificidades de cada feira e quais as experiências particulares ela fornece ao usuário. Por isso, foram geradas representações em forma de mapas 3D, 2D e mapas psicogeográficos, de forma a traduzir a heterogeneidade da feira por meio de imagens, sendo possível através delas fazer a catalogação de cheiros, sons, fluxos, acessos, multidões, temperatura ou quaisquer traços que sejam considerados necessários para o melhor entendimento da feira estudada. Para isso, foi tomada por base a Feira da Lua, que ocorre em Goiânia todos os sábados, a qual serviu como ponto de partida para serem captados todos esses dados e foi exemplo para outros grupos na concepção de suas próprias cartografias. Portanto, a seguir serão fornecidas as instruções e as ferramentas necessárias para fazer essa catalogação, além dos produtos finais de cada grupo, que geraram representações com diversas características e tipologias diferentes, assim como as feiras que serviram de base para tal.


Capa_Guia de Cartografias para feiras


Página de sumário

[92] propostas

Página de padronização gráfica


Pรกgina representativa

Pรกgina representativa

propostas [93]


MAPA DE CHEIROS

(produto por Gabrielle Ribeiro)

O objetivo deste produto é de aproximar a vivência nas feiras ao cotidiano da população em geral, destacando concepções subjetivas a partir da memória olfativa. Inicialmente, a partir de uma visita à feira x foram armazenados 20 produtos diferentes encontrados ao longo do percurso, de modo que fosse possível mapear essa zona olfativamente. Os frascos foram armazenados, além de um levantamento pessoal sobre os feirantes desse local. Esse mapa de cheiros gerou uma análise textual narrada pelo Prof. Dr. Camilo Vladimir e a proposta de instigar um ensaio experimental complementar ao mapa. A experiência foi realizada no evento Espaço das Profissões da Universidade Federal de Goiás, local em que foram expostas diversas fases, propostas e resultados do nosso trabalho. Foram preenchidos 8 frascos com diferentes produtos que possuem odores característicos (páprica, açafrão, alecrim, chimichurri, erva doce, pipoca

[94] propostas

doce, orégano e um ingrediente secreto). O propósito era que os visitantes do evento quebrassem a barreira da curiosidade e interagissem com os objetos desconhecidos. A partir disso, eram instigados a escreverem suas percepções, concretas ou abstratas, dos cheiros em um papel e o prendessem ao frasco. Essa experiência nos forneceu resultados concretos que foram separados de modo a compreender como as respostas dos participantes nos mostra relação do público comum à abstração da realidade em uma análise espontânea. Verificamos, portanto, que na maioria das situações as pessoas não se sentem confortáveis em dar sua opinião subjetiva quando já se reconhece o odor. Porém, tiveram outros que apesar da fácil identificação conseguiram extrapolar o óbvio e resgataram na memória um sentido pessoal ao cheiro. Os produtos e algumas dessas respostas estão destacados na página 97.


ExperiĂŞncia dos cheiros_foto por Gabrielle Ribeiro


MAPA IMPERMANENTE

MEMÓRIAS COLETIVAS DA FEIRA DA VILA QUE NÃO EXISTE MAIS Dizem que esta feira é a mais antiga da cidade. Tão antiga que nem o bairro onde ela acontece existe mais. O lugar onde ela acontecia antes, também já não existe. Essa feira não está na lista das feiras, não está indicada no site, nem disponível na internet. E, agora de tarde, a feira já não vai existir mais. Ela vai desaparecer, para só reaparecer semana que vem, como toda semana, como todas as 6256 vezes. Assim, a feira permanece impermanentemente. A feira é como os cheiros que coletamos nela. O cheiro é o sentido mais ligado à memória. O mesmo lugar do cérebro que processa o cheiro, também processa a memória. Por isso, o cheiro nos faz lembrar de coisas que vivemos. Portanto, os cheiros da feira, que são tantos, são uma memória coletiva da cidade. E essa caixa é um mapa dos cheiros dessa feira. Os cheiros só existem quando se sente. Inalados, desaparecem num suspiro. Assim, esses cheiros são um índice de memórias coletivas que desconhecemos. Só quem sente é que se lembra, revelando algo no mesmo momento em que os cheiros desaparecem. Assim, os cheiros da feira permanecem, impermanentemente, na nossa memória.

[96] propostas


PÁPRICA

AÇAFRÃO

ALECRIM

CHIMICHURRI

Sazon

Temperos da minha mãe

Mercado central

Sopa na casa da vó

Feira de domingo

Remédio caseiro

Música do alecrim

Mistura de temperos

Sopa

Mel + açafrão + limão

Pizza

Miojo

Gripe

Chá

Comida da minha mãe

ERVA DOCE

ORÉGANO

PIPOCA DOCE

INGREDIENTE SECRETO

Chá

Pizza

Infância

Casa de vó

Sabonete

Pizza

Festa Junina

Molho bolonhesa

Barraquinha de temperos

Pizza

Lembrancinha de aniversário

Pão com maionese

Tempero da carne da mi- Bolacha sabor pepperoni nha avó

Almoço de domingo

propostas [97]


A EXPERIÊNCIA

(produto por Larissa Fleury, Letícia Mastrele, Priscilla Freire e Suzy Coelho)

A feira possui sua essência na espontaneidade e na sua realização efêmera. Seu conceito vai muito além de sua simples construção espacial. O conjunto de barracas, os feirantes, os compradores e o espaço em si promovem incontáveis interações e vivências, só experimentadas por quem passa um tempo pertencendo ali. O evento feira é caracterizado, primordialmente, por essa experiência de troca. Troca de produtos, troca de palavras, troca de conhecimentos, troca de experiências. As trocas não seriam relevantes sem as pessoas que as propõem. A fim de entender tudo que envolve o espaço e evento feira e buscar novas interpretações das ações de troca, foi proposto a realização de atividades que pudessem trazer resultados a serem analisados, como parte do trabalho de Projeto 7. Os principais objetivos eram criar instrumentos capazes de instigar as pessoas e tentar criar oportunidades para trocas físicas, sem que essas anulem as trocas espontâneas no decorrer do momento. Com base em atividades já realizadas em outras situações, o grupo promove o uso de uma caixa e de uma roleta de trocas como instrumentos para alcançar os objetivos citados. A caixa foi utilizada ao visitar uma feira polêmica de Goiânia: a Feira da

[98] propostas

Marreta, realizada aos domingos. Já a roleta de trocas esteve presente em uma atividade nos corredores Faculdade de Artes Visuais da UFG, com os alunos. Os resultados são pertinentes e relevantes para discussões relacionadas ao tema do trabalho.

REFERÊNCIAS E METODOLOGIAS A CAIXA Ao pensar em um dispositivo que promovesse a participação do público heterogêneo das feiras, partimos do estudo das obras da artista mineira Lygia Clark, conhecida pelas suas produções interativas em forma de instalações e body art. Clark usava as suas obras para incitar o público a conhecer e experimentar o próprio corpo de uma nova maneira, promovendo novas relações sensoriais através de dispositivos que sujeitavam o público a acionar os sentidos de modos estranhos e desconhecidos (FABBRINI, 1991). Através das obras de Lygia Clark, chegou-se ao conceito de wearables. Uma concepção mais recente de arte interativa com forte influência da obra da artista. Os wearables são essencialmente a vinculação da interface participativa com a tecnologia têxtil. A maleabilidade e a leveza do tecido


ExperiĂŞncia da caixa_acervo do projeto


leva ao contato mais espontâneo entre público e obra. A principal referência para o dispositivo criado foi da coleção Cognitive Experiences (2002), de Francesca Perona. Nessa obra a visão é inibida e o usuário é levado a experimentar o seu corpo com a intermediação das esculturas em tecido através do tato e da sonoridade (PERONA, 2012). Unindo o conceito wearable de Francesca Perona com a proposição de percepções sensoriais inéditas de Lygia Clark, o dispositivo proposto sugere uma forma alternativa de praticar a troca. Ao privar a visão, retira-se o principal meio de atribuição de valor da sociedade imagética da atualidade. Dessa forma, confiando somente no tato, o usuário estabelece uma nova experiência de troca e de concessão de valor, em que não detém total controle sobre o que recebe e estima mais a vivência e o evento do que o próprio objeto. A interface foi uma caixa de papelão revestida em tecido chita. Sem conhecimento prévio dos objetos que fariam parte do evento, a estrutura da caixa foi necessária para dar estabilidade e solidez ao dispositivo. Para a interação do usuário com os objetos foram recortados dois círculos, cobertos por dentro com tecido opaco amarelo para inibir a visão do interior da caixa. Durante o evento as integrantes do grupo caminhavam pela feira segurando a caixa nos braços, parando em pontos estratégicos com maior passagem de pedestres. O tamanho avantajado da caixa e as cores vivas do tecido chita foram importantes para despertar o interesse dos transeuntes e levá-los a relacionar-se com o dispositivo

Experiência da roleta_acervo do projeto

cipantes do projeto Feirô. Por ser um ambiente controlado e por haver uma comunicação facilitada entre alunos, professores e funcionários para a divulgação das atividades, a experiência de trocas da FAV poderia ser mais complexa e abranger um público maior. Com base nisso, pensou-se em um A ROLETA jogo de trocas. Através de um conjunto de regras e A FAV (Faculdade de Artes Visuais) abriga o cur- dispositivos tentou-se introduzir o lúdico, o risco so de Arquitetura e Urbanismo dos alunos parti- e a surpresa para a prática da troca com o objetivo

[100] propostas


Francesca Perona. Cognitive Experiences Crafting human perception. 2012. Fonte: Vimeo

Lygia Clark. Diálogos - Óculos. 1968. Fonte: multissenso.blogspot.com

de tornar a vivência do evento o prêmio absoluto. A ideia de uma roleta se originou do jogo de sorte e azar criado pelo grupo UrbanDE, exposto no livro Corpocidade (2010). O jogo era baseado na aposta. Em cada uma das seis casas era colocado um objeto brasileiro. Os participantes do jogo apostavam no objeto que desejavam colocando o seu próprio objeto na casa. Então, rodavam a roleta, ganhando o souvenir brasileiro, aquele que havia apostado na casa sorteada. Com o desenrolar do jogo o interesse para participar foi crescendo, e começaram a surgir os objetos mais diversos como “carta” de aposta (CORPOCIDADE, 2010). A fim de gerar mais complexidade para a roleta de trocas proposta pelo grupo, pensou-se em diversas interfaces interativas que poderiam ser incorporadas à roleta. Para isso foi pensado em um conjunto de cartas, um dado e uma caixa de objetos. Através da roleta como elemento central, os participantes seriam destituídos de grande parte do seu poder de escolha do objeto que receberão na troca. Ao se fundamentar na sorte e na estratégia, a experiência torna-se emocionante, promovendo a competição e a torcida entre os participantes. (ver regras do jogo). A construção da roleta foi realizada com papel Bismarck neutro com um pino de alfaiataria ao centro para permitir o giro da seta. A base e as casas foram feitas de tecido, de fácil transporte e manutenção, costurados pelas próprias integrantes do grupo. Além disso o tecido, atraente ao toque, promove interações despretensiosas dos participantes com os dispositivos do jogo. A roleta foi pensado para acontecer em qualquer lugar com pessoas dispostas a correr o risco do jogo. As diversas casas que necessitam ser preenchidas para que jogo ocorra indicam a necessidade de ser realizado em grupo, e deixam o convite para que os passantes não se contentam em apenas assistir a comoção.

propostas [101]


A CAIXA

UrbanDE. Corpocidade. 2010. Fonte: Livro Corpocidade - UFBA

UrbanDE. Corpocidade. 2010. Fonte: Livro Corpocidade - UFBA

[102] propostas

Logo cedo, por volta das nove horas da manhã de um domingo ensolarado de Junho, começam os preparativos para experiência da Feira da Marreta. As quatro integrantes do grupo se encontram às margens do alvoroço da feira para traçar o plano de ação. Eis que o plano de ação é não ter plano algum, é a deriva. Retira-se a caixa do porta-malas e dá uma ajeitada na chita que cobre os objetos. Vagando pela feira, caixa em mãos, interagem com os transeuntes curiosos passando com olhares especulativos. - É cachorro!? - O que é isso aí!? - Vocês ‘trabalha’ na Globo, né!? A cada pergunta, uma tentativa de estabelecer um diálogo e explicar a proposta. Informam que é um jogo de trocas, que não tem nada que morde lá dentro, que é um trabalho faculdade, que não pode olhar, que não pode devolver o objeto se não gostou. Escutam com feições desconfiadas. Muitos tentam se afastar desesperadamente não querendo se envolver com essas estranhezas. - E se eu levar ré!? - Trocar mesmo!? - Vou alí e já volto! - ‘Tô’ velho demais pra brincar. - Tá doido eu ‘metê’ minha mão aí dentro?! - Ah, ta bom. - Deus me livre! Quanto mais interações, mais comoção em volta da caixa. Primeira parada: entre a barraca do pastel e a barraca da garapa. Mais pessoas curiosas, mais pessoas se afastando com medo. A proposta causa estranhamento, insegurança, não querem assumir o risco. Como atribuir valor à algo que não podem ver? Os donos da barraca do pastel desa-


fiam um de seus clientes fiéis. - Tenta aí, moço! Desafio aceito. O primeiro participante! Ele entrega uma caixa de pasta dental lacrada e coloca um braço dentro da caixa. Inicialmente suspeitoso, logo fica decidido a encontrar algo de valor. Retira uma garrafa contendo uma miniatura de navio. O olhar inicialmente desapontado se transforma em risada. - Tem coisa melhor aí dentro não!? Um rapaz parece interessado pela experiência, mas diz não ter objeto. Foi chamar um amigo. - Ô, João! Nem o rapaz, nem o João foram vistos novamente. Um homem carregando três frascos se aproxima. Ao ouvir a proposta da caixa se anima. Conversador, começa a contar a sua história. Solta uma voz de locutor de rádio. Pede para filmar. Aceita fazer a experiência. Entrega um pote de sabonete íntimo de morango e champanhe e insere os dois braços dentro da caixa. As mãos agitadas procuram algo de interesse. Sem pressa. Finalmente escolhe um objeto. Um livro de receitas. Tira foto com o livro. Faz vídeo com o livro. É o único que entendeu a intenção do jogo. O valor não tá no objeto, tá na experiência. [em voz de locutor] O dono da barraca da garapa parece zangado. - Estamos te atrapalhando, moço? - ‘Tá’ sim. Retomam a caminhada pela feira. Mais olhares desconfiados, mais perguntas, mais pessoas em fuga. Em um hora de feira apenas dois participantes. Contudo, ficam as interações curiosas, inusitadas e cômicas de uma manhã no mínimo memorável. - Se vocês tem algum defeito é por dentro porque por fora não tem, não!

O JOGO Tecido, roleta, cartas, dado e uma caixa sobre piso, assim estava montado o tabuleiro para o jogo de trocas, às 10 hrs de uma manhã de segunda-feira na entrada da FAV. Nossa experiência buscou a interação e o desapego de forma lúdica. Já em meio a alguns objetos dispostos para a barganha, aguardamos os primeiros jogadores animados a apostarem seus próprios objetos à sorte. Junto a olhares curiosos e atentos para assimilar as regras do jogo, começamos as rodadas. Lá estavam uma disputadíssima borracha, colares, brincos, uma caixinha parisiense, um dvd do pequeno príncipe, pasta de dente, bolachas, livretos, o icónico sabonete íntimo de morango e champanhe, entre outros. A brincadeira começou tímida. As primeiras jogadas não tiveram a influência das cartas, estas que trouxeram dinamismo, surpresa e entusiasmo nas jogadas seguintes. Em pouco tempo a roda que se formava em volta do tabuleiro já estava envolvida nos rumos do jogo de quem se arriscava. Já se notava uma torcida em torno dos objetos. A borracha foi o objeto mais aclamado, onde participantes entravam no jogo para tentar ganhá-la. Do lado oposto estava o sabonete íntimo, sempre jogado para escanteio na primeira possibilidade concedida pelas cartas. Tivemos apostadores que logo se contentaram com seus objetos trocados, alguns que tentaram duas ou mais vezes e tivemos os persistentes, esses jogavam emocionantes e incessantes rodadas em busca da sorte de seus objetos preferidos. Ao final das rodadas reunimos um sortudo, que ao tirar a carta coringa, escolheu um potinho amarelo dos minions; uma azarada que em troca de uma lingerie saiu apenas com sua experiência, já que acabou apanhando a carta “perdeu playboy”; além dos que se permitiram experimentar a troca e a aposta.

propostas [103]


Ao focar nas trocas simbólicas que as feiras oferecem aos seus participantes em meio a uma realidade tão viciada em trocas monetárias, além de querermos instigar a neutralização do olhar e seu juízo de valor imediato, podemos observar que nossa proposta e nossos dispositivos causaram diversas emoções, tanto o estranhamento (em grande número) quanto a curiosidade e participação. Enquanto a caixa trouxe estranhamento para as pessoas da feira, que tinham receio de entrarem no desafio, a roleta, paralelamente, teve um efeito contrário. As pessoas se interessaram pela atividade e a movimentação chamou a atenção dos que não estavam jogando. Ao anularmos a visão, com a proposta da caixa, nota-se a insegurança provocada nas pessoas e por consequência uma maior recusa da aposta. Ao incentivarmos a troca através de uma roleta, nota-se um certo entusiasmo, primeiramente a visão e seu juízo entram no jogo, segundamente a ambição por um objeto preferido somado a adrenalina proporcionada por um jogo da sorte atraíram um maior número de participantes. Logo, com as experiências e suas distinções podemos observar que existe um grande receio em se lançar e se desprender de valores monetários, já que existe o medo de sair com algo que seja “menos” valioso do que o objeto oferecido na troca. No entanto, acreditamos que é possível proporcionar, com algum empenho e continuidade, vivências como as propostas no projeto que instiguem e tragam reflexão acerca das trocas simbólicas que estabelecemos no dia-a-dia, fortalecendo novos valores e desprendimentos.

[104] propostas



APOIO MÓVEL

(produto por Giulliano Lonardoni, Guilherme Ferreira e João Henrique Silva)

Apesar das feiras livres de Goiânia serem importantes lugares de encontro, lazer e comércio, estas não são propriamente servidas de infraestrutura adequada para atender tanto os feirantes quanto os frequentadores do local, sendo perceptível a falta de equipamentos como banheiros públicos, que, apesar de serem presentes em modelos químicos portáteis, ainda assim não atendem a requisitos do público por quantidade, qualidade, higiene e conforto, ocasionando assim um déficit no atendimento aos usuários do referido espaço urbano, gerando incômodo aos frequentadores e os feirantes, estes que possuem ainda maior tempo de permanêcia no local. Sendo a feira uma ocupação efêmera, o equipamento proposto funcionaria melhor seguindo esse princípio de ocupação do espaço, e com isso em mente foi pensado o uso do container como infraestrutura de apoio móvel, que por sua natureza itinerante,

[106] propostas

um único equipamento poderia servir diversas feiras ao longo da semana utilizando o transporte por meio de caminhões, proporcionando à esses espaços um equipamento sanitário mais humanizado que atenda melhor os frequentadores e feirantes. A valorização do espaço da feira também valoriza a experiência do usuário, incentivando a ocupação mesmo que efêmera do espaço, gerando maior sensação de pertencimento e acolhimento. O programa de necessidades foi pensado para acomodar sanitários comuns e um acessível que também possa atender como fraldário, um lavatório na parte externa para uso comum e um espaço como depósito para equipamentos que possam servir de apoio para os espaços de convivência das feiras, servindo mais especificamente ao público infantil, com equipamentos lúdicos para serem montados nos locais de lazer.


Perspectiva Apoio Mรณvel


SITUAÇÃO ATUAL Forte Odor Falta de Higiene Falta de Ventilação Desconfortável Pouca Qualidade

Banheiros Químicos_fonte - camaracorumba

PONTOS PRINCIPAIS DO CONTAINER Guardar os itens de interação das crianças Sanitários mais humanizados Lavabo com água Ventilação Fraldário Acessibilidade Tratamento termo/acústico

Modelo da proposta

[108] propostas


PORQUE O CONTAINER MÉDIO? Acomodação correta do Programa de necessidades Viabilização do transporte por meio de caminhão Possibilidade de se usar mais de 1 por Feira Dimensões não ocupam muito espaço da Feira

Revestimento e isolamento _fonte - mycontainerhome

TECTÔNICA Painel DryWall + Estrutura de sustentação Isolamento térmico (manta PET) Encanamento Revestimento Reservatório Fossa química Depósito

Revestimento e isolamento _fonte - mycontainerhome

propostas [109]


Vistas do modelo

[110] propostas


RESERVATÓRIO DE ÁGUA

BANCADA MÓVEL COM FUNÇÃO FRALDÁRIO

Planta baixa

VENTOKIT

DETALHE

RESERVATÓRIO QUÍMICO

Corte transversal e longitudinal

Detalhe construtivo do container

propostas [111]


PROTÓTIPO BARRACA

(produto por Gabriela Vieira, Luccas Chaves e Matheus Isaac)

A partir dos levantamentos, dados coletados e entrevistas realizadas nas feiras de Goiânia, observa-se que, em sua maioria, tanto feirantes como usuários carecem de algumas infraestruturas para facilitar e melhorar a experiência de ambos nas feiras. Uma das infraestruturas observadas em carência em grande parte das feiras de Goiânia, é uma cobertura que protegesse, tanto feirantes como usuários, do sol e das chuvas, permitindo que todas as atividades realizadas nas feiras fossem feitas livremente sem incômodos. Portanto decidiu-se desenvolver um projeto de cobertura ou barraca de atendesse às necessidades de usuários e feirantes. Esse projeto, atenderá o quarto objetivo da disciplina, previamente definido, denomidado como: “Identificar as necessida-

[112] propostas

des infraestruturais das feiras”. Inicialmente foram definidos alguns requisitos mínimos para o projeto, com o objetivo de beneficiar tanto feirantes como usuários das feiras, sendo eles: - Ser viável financeiramente e estruturalmente; - A execução deve ser realizada pelos próprios feirantes; - Não é permitido danificar ou alterar significativamente o local onde a feira acontece; - Possibilitar a livre circulação de tudo e todos. Primeiramente, pensou-se em desenvolver uma cobertura que seria instalada envolvendo toda a largura da feira, cobrindo tanto o corredor de circulação, como as barracas dos feirantes de ambos lados.


Figura 1_Aplicação do Projeto Barraca-Cobertura, em feiras com apenas um corredor de circulação


Foram feitos e discutidos vários modelos de cober- Figura 2_croqui do projeto tura que atendessem essas condições, mas todos necessitavam de uma fixação no chão ou atrapalhavam a acessibilidade das pessoas, o que inviabilizava a cobertura. Então, a partir desses estudos prévios e percebendo que o modelo inicialmente proposto não seria possível de ser executado, decidiu-se desenvolver um projeto de barraca que já possuiria uma cobertura, o que atenderia todos os requisitos. Considerando que, na maior parte das feiras, normalmente existe uma barraca disposta de frente a outra, pensou-se em desenvolver um modelo de barraca que possibilitasse a conexão entre uma barraca e outra, formando uma cobertura (Figura 2). A adição e multiplicação do número de barracas, faria com que se formasse um grande corredor coberto. Essa barraca-cobertura utilizaria os mesmos materiais já utilizados nas barracas dos feirantes atualmente (Figura 3), como as lonas e as estruturas metálicas. Além desses materiais, adicionaria-se dois outros: as hastes flexíveis, para possibilitar a formação da cobertura e a conexão com a outra barraca; e a lona microperfurada, podendo ser utilizada como cobertura nos locais onde se é comercializado comidas e bebidas. O projeto foi desenvolvido baseado nas dimensões reais de uma barraca, possuindo 1,50m de comprimeto por 0,80m de largura. As imagens selecionadas mostram possíveis aplicações do projeto barraca-cobertura: aplicação da barraca em feiras pequenas, onde só existe um corredor de circulação (Figura 1); aplicação para venda de roupas, plantas e comida (Figura 4); e aplicação em feiras maiores onde existem dois corredores paralelos (Figura 5). Figura 3_especificações de projeto

[114] propostas

lona opaca

metalon

ripa de madeira


Figura 5_aplicação do projeto em feiras com circulações paralelas

Figura 4_aplicação do projeto (da esquerda para direita: venda de roupas, venda de plantas, venda de comida)

propostas [115]


ATLAS DAS FEIRAS

(produto por Aira Fontenelle, Caio Weber e Crystal Yumi)

No capítulo ‘’Pensar por Atlas’’ do livro ‘’Nebulosas do pensamento urbanístico’’, Ricardo Trevisan busca compreender o que é um atlas e como por ele podemos pensar sobre algo, sendo desde algo físico ou não físico, algo mutável ou estático. No capítulo, Trevisan nos apresenta seus questionamentos sobre o livro ‘’Atlas de Nuvens’’ de David Mitchell, nos fazendo imergir em seus pensamentos : ‘’ Seria pela efemeridade e inconstância inerentes à forma das nuvens? Seria pelo entendimento do atlas como um objeto que reflita o passar do tempo, o movimento, a transposição de algo? Ou seria pelas particularidades que cada imagem nos traz, criando a cada composição, a cada sobreposição de tempos distintos, uma narrativa reveladora? Nesse romance, as nuvens podem ser as diferentes histórias e narrativas, recortadas e agrupadas conforme o olhar do espectador’’. (TREVISAN, 2018) Partindo dessa visão de TREVISAN, sobre como

[116] propostas

um atlas pode deixar de ser apenas um objeto convencional de acesso à informações para se tornar um ‘’dispositivo motriz’’, uma forma de pensar sobre determinado assunto, vimos a necessidade de elaborar um atlas que materializaria a efemeridade das feiras, dispostas em um grande mapa e informações sobre elas que vão além das percepções de tempo e espaço (hora e local em que acontecem), mostrando também nossas percepções sensoriais, presenciadas durante o trabalho. Com isso, buscamos a notoriedade das feiras em diversos aspectos e assim valorizá-las não somente através da divulgação, como também da exposição de diferentes formas de percepções em tempos distintos, demonstrando como sua efemeridade possibilita diversas histórias sobre diversos tipos de olhares diferentes, convidando o explorador do Atlas das Feiras a interagir, expressando suas percepções e sua trajetória pelas feiras em Goiânia.


Lost in the city with touris map + Flickr_Janne Rakkolainen


COLETÂNEA: MAPAS PSICOGEOGRÁFICOS DAS FEIRAS DE GOIANIA FEIRA DA LUA

FEIRA DA MARRETA

FEIRA DO CEPAL (JD. AMÉRICA)

FEIRA DO CERRADO


N 16 ílio

Cec

11

Av. 136

8

Av. 85

1 5

1

16

ÁS

4

Av. GOI

14

6

6 11

11

9

9

8 10

7

TERMINAL PRAÇA A

TERMINAL PRAÇA DA BÍBLIA

17

4

11

AEROPORTO STA. GENOVEVA

11

3

DE OLHO NAS FEIRAS |GOIÂNIA |QUARTA-FEIRA

|TERÇA-FEIRA

.

.

|QUINTA-FEIRA

3. Feira Pq. Amazônia

1. Feira Dom Bosco

.

. FL . Diurna . Praça Sen. José Rodri gues e Morais

FL .Diurna Rua 01

2. Feira Da Nv. Suíça FL . Noturna. Rua T-38

.

3. Feira Conjunto Riviera

FL . Diurna . Av.Liberd.

.

4. Feira Bairro João Vaz

. FL.Diurna . R.Rio Branco

.

5. Feira Pq. Oeste Ind.

.

.

6 9 TERMINAL ISIDÓRIO

mel

. Ja

Av .D ep

1

3 6

4 Av. ASS

7

D

2 5

4

RODOVIÁRIA

FL . Noturna . R. Egerineu Teixeira

.

6. Feira Pq. Anhanguera

FL . Noturna. Av. Mal. Deodoro

.

7. Feira Castelo Branco

. FL . Diurna . Rua leopoldino de Azevedo .

5 10

7

1

5 TERMINAL BANDEIRAS

3

8

5 IAN TEAUBR IS CHA

10

13

7 5

3

8 4

13

11 TERMINAL DERGO

9

6

9 2

.

4. Feira Jd. Novo Mundo

.

FL . Diurna . Rua 11-A

.

FL . Noturna . Praça 108

.

2. Feira Setor Aerop.

FL . Diurna . Praça Washington

5. Feira Vila Canaã

FL . Noturna . Av.Brasil

.

1. Feira St. Sudoeste

FL . Noturna . R. Vf 102

.

FL . Diurna . Praça C-8

.

1. Feira das Minas

5. Feira Vila Redenção

.

FA

FL . Diurna . R. L-1

6. Feira St. Palmito

3. Feira Bairro Goiá

. .

. FL . Diurna . Praça da Feira Pedro Ludovico

7. Feira Pq. das Laranj. FL . Diurna . R. C-2

8. Feira St. Bueno

FL . Diurna . R. T-49

FL . Diurna . R-U-55

.

FL . Diurna . 9 Av.

.

2. Feira do Troca FA

F.E. = Feira especial Feiras especiais são as feiras que vendem uma variação de produtos:vestuário, comida, brinquedos, etc.

10. Feira St. União

11. Feira St. Centro Oeste 13. Feira Praça Univ.

FL . Diurna . R. 74

16. Feira do Cerrado

FL . Diurna . Rua 71

.

FA

F.L. = Feira Livre Feiras livres são as feiras de abastencimento, ou seja, vendem alimentos, em geral frutas, verduras, carnes e produtos naturais da região.

9. Feira Vila Nova

FL . Diurna . R. 510

.

F.A. - Feira Alternativa Feiras alternativas, são feiras que fogem do convencional, feiras específicas de determinados profutos, como é o caso da Feira do Cerrado, que vende artesanatos locais.

. FL . Diurna . Praça universitária

11. Feira dos Orgânicos 13. Feira Jd. América

FL . Diurna . Rua 01

.

3. Go Vegan

|LEGENDA

8. Feira CEPAL (Jd. Amér.)

. FL . Diurna . Cepal Jd. América

6. Feira Setor Perim

. FL . Noturna . Av. dos Timbiras

.

|ITINERANTES

|DOMINGO

1. Feira Jd. Novo Mundo

. FL . Diurna . Praça Pindorama

2. Feira Vila Finsocial

7. Feira St. Pedro Ludov.

4. Feira CEPAL (St. Sul) FL . Diurna . R. 115

5. Feira São Francisco

. FL . Noturna. R Rocha Pombo

FL . Diurna . Rua 01

6. Feira de Campinas

. FL . Diurna . Rua Pouso Alto

.

8. Feira bairro Feliz

FL . Diurna. R.823

9. Feira Vila Regina

.

13. Feira Jd. Guanab. II

FL . Noturna . Av. GB-5

. FL . Diurna . Praça C-170

15. Feira St. Faiçalville

FL . Noturna . Rua Jequitiba

. FL . Diurna . Av. cristóvão Colombo

. FL . Noturna . Av. Felipe Camarão

3.Feira Crimeia Leste

. FL . Diurna . Av. Engenho Correia Lima

3. Feira St.Centro Oeste

.

.

4. Feira Vila São José

. FL . Diurna . Av. Padre Wendel

4. Feira Bairro Capuava

5. Feira Dom Bosco

.

5. Feira Jd.Planalto

FL . Diurna . Av. Marco Pólo

7. Feira Cidade Jd.

.

8. Feira Modelo

. FL . Noturna . R. São Miguel

. FL. Noturna . Praça inspetor João Ferreira

.

9. Feira Conj. Vila Bela

.

. FL . Noturna. Av. Isamerino Soares de Carvalho

10. Feira St. Univers. .

.

ACESSE O MAPA VIRTUAL:

17. Feira da Marreta

16. Feira Jd. Novo Mundo

FL . Diurna . Rua 262

13. Feira VIla Nova

. FL . Noturna . R. Londina

11. Feira St. Neg. de Lima

.

|SÁBADO

|SEXTA-FEIRA

1. Feira CEPAL (Jd.Am.)

FL . Diurna . R. P-25

FL . Diurna . Av.Aderup

6. Feira CEPAL (st.sul)

. FL . Diurna . Av. Tomás Antônio Gonzaga

FL . Diurna . Rua 115

7. Feira Setor Ferroviário FL . Diurna . Rua 44

FL . Noturna . Rua Sta Rosa

.

8. Feira Urias Magalhães FL . Noturna . Rua Sergipe

9. Feira Jd. nv. Esperança FL . Noturna . Av. do Sol Nascente

10.Feira Orgânica Vila N.

8. Feira da Família

FL . Noturna .Noturna . Av. do Sol Nascente

FE. Noturna . R.C-70

11.Feira Pq.Ind.João B.

FL . Diurna . 10 Avenida

.

FL . Noturna . R. Cândido das neves


FAVA MOEDA SOLIDÁRIA (produto por Hugo Lessa e Victor Taffarel)

Uma moeda artística para uma faculdade de artes. A Fava vem com um ideal de promover trocas num local de pleno desenvolvimento artístico. Existe para que sirva de forma a estimular as atividades acadêmicas entre os estudantes e professores. Sendo utilizada como crédito para trocas por serviços no meio acadêmico e troca em produtos artísticos produzido por estudantes. Num meio acadêmico público, a Fava precisaria ser controlada e gerida por um corpo competente e organizado, para isso o Banco da FAV surgiria. Um corpo gestor capaz de comandar os rumos monetários do projeto. Este corpo seria responsável pelo controle financeiro de produção, circulação e disposição da moeda no mercado. Por mais simbólico que a moeda venha a ter em seu cerne, ela é uma moeda como qualquer outra. Sua fabricação seguiria modelos de produção colaborativa, através de oficinas oferecidas pelo banco da Fav, assim como editais e concursos para escolha da arte sazonal da moeda. Num aspecto artístico, as obras expostas nas moedas deveriam receber novas artes a cada 6 meses, feitas nas oficinas colaborativas para o novo lote de moedas. As características físicas da moeda seguiriam padrões de produção modernos e artísticos artesanais para valorização de todos os modos de pro-

[120] propostas

dução artísticos da atualidade. A moeda teria sua forma e suas marcações de identificação através da impressão e corte a laser e sua arte e demais informações da moeda como valor e instituições seriam gravados por diferentes tipos de gravura e/ ou serigrafia, a ser definido pelo artista selecionado no semestre em questão. O principal meio de distribuição da moeda seria através de trabalhos acadêmicos feitos pelos alunos para com os professores da FAV, Coordenadores, diretores, agentes administrativos e colaboradores da FAV de outras instituições. Estes por sua vez entrariam com uma requisição no Banco da FAV para recompensar os alunos de uma maneira mais atrativa do que a tradicional “horas complementares”, cabe ao banco decidir a equivalência monetária da FAVA para com a quantidades de horas de trabalho exercidas. Com o requerimento aprovado o Banco disponibilizaria uma determinada quantidade para o requerente para compensação dos alunos. Através deste modelo a FAV teria uma economia solidária, mais capacidade de desenvolvimento de projetos e maior capital humano para o desenvolvimento de qualquer bem material e imaterial para a universidade e a sociedade.



O estudo das feiras nos mostra o grande potencial de análises que partem desses eventos, e demonstra a sua importância na configuração das cidades como um todo e, mais especificamente, de Goiânia. Graças à complexidade do tema, foram possíveis abordagens de diversas perspectivas e vertentes e, seguindo uma ordem de trabalho que se desdobrou a partir dos referenciais teóricos, identificamos os conceitos importantes para as feiras e características marcantes por meio de levantamentos, visitas à campo e exercícios de utopia, tudo com o objetivo final de chegar em produtos que resultassem em possíveis intervenções a serem feitas nesses espaços. Assim, estabelecidas as principais problemáticas, puderam ser definidos objetivos finais a serem atingidos com o trabalho e os produtos gerados puderam atingir essas metas, mostrando que a feira é um espaço tão heterogêneo que permite intervenções de ordem arquitetônica e urbana, social, cultural, virtual e tecnológica, acadêmica, teórica, econômica… Portanto, a partir dessa pesquisa, espera-se que o tema das feiras possa ter ficado mais claro e que tenham sido despertados interesses a respeito dessa temática tão complexa, com ramificações tanto na esfera acadêmica quanto na esfera cotidiana.

CONCLUSÃO [122] conclusão


Feira de Trocas (Goiânia, 2019)

conclusão [123]


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BERENSTEIN, Paola Jacques. Estética da Ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra/Rioarte, 2001. BERENSTEIN, Paola Jacques. Corpografias urbanas. Salvador: Cadernos PPG – AU –UFBA, 2007. BOGÉA, Marta. Cidade Errante: arquitetura em movimento. São Paulo: Editora Senac, 2009. GEHL, Jan; GEMZOE, Lars. Novos Espaços Urbanos. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. JAMESON, Fredric. A Cidade do Futuro. In: Libertas, Juiz de Fora, v.4, n.1, p. 117 - 135, jul / 2010. KOOLHAAS, Rem, et al. Project on the City 2, Harvard Design School Guide to Shopping. Colônia: Taschen, 2001. LEFEBVRE, H. (2014) Toward an Architecture of Enjoyment. Minneapolis: University of Minnesota Press. LEFEBVRE, H. A Revolução Urbana. Belo Horizonte: Ed. UFGM, 1999. MASCARÓ, Juan Luis. O custo das decisões arquitetônicas. Porto Alegre: MasQuatro Editora, 2006. MEYER, Regina Maria Prosperi (org.). Os Centros das Metrópoles: reflexões e propostas para a cidade democrática do século XXI. São Paulo: Associação Viva o Centro, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Terceiro Nome, 2001. MONEO, Rafael. Inquietação Teórica e Estratégia Projetual na Obra de Oito Arquitetos Contemporâneos. São Paulo: Cosac Naify, 2008. MONTE MÓR, R. L. M. O que é o urbano, no mundo contemporâneo. (Texto para discussão n. 281). Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2006c. disponível: <www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/sub_pes_ tex_dis.php> NEUFERT, Ernst; NEUFERT, Peter. Arte de Projetar em Arquitetura. Barcelona: Gustavo Gili, 2008. RABELO, F.; AMARAL, E. Formas Culturais e Percepção Social dos Frequentadores de Feiras de Arte e alimentação de Goiânia. Caderno de Pesquisa 02. Goiânia: LIST/UFG, 1998. Disponível em: https://osf.io/qf7hs ROSA, M. Handmade urbanism: from community initiatives to participatory models. Berlin: Jovis, 2014.

[124] conclusão



PARTICIPANTES Camilo Vladimir de Lima Amaral (Orientador) Camila Borges da Silva (Co-orientadora) Matheus André Gomes Mota (Co-orientador) Aira Gonella Fontenelle Ana Carla Barbosa Paiva Ana Elisa Chaves Melo Jawabri Caio Gabriel Weber Crystal Yumi Shiraishi

João Henrique De Morais Silva Larissa Peixoto Fleury Leonardo Frecchiami Leticia Mastrela Gomide Luccas Chaves Da Costa Henriques Maria Eduarda Da Costa Alves Marilia De Paula Gontijo Macedo Matheus Isaac Rezende Da Rocha

Gabriela Vieira Vilela

Oriane Marla Menegati

Gabrielle Ribeiro Costa

Priscilla Freire Da Silva

Giovana De Carvalho Netto Giulliano Lonardoni Alves Alvarenga Graziele Gabriel Goncalves Guilherme Cirqueira Ferreira Hugo Lessa Pereira

[126] conclusão

Rafaela Menezes Lobo Macêdo Suzy Lima Coelho Victor Hugo Almeida Bezerra Victor Taffarel Da Costa Weverson Gomes De Oliveira



em ocupar a cidade e dar novo ruas. As pessoas não satisfeim os edifícios, desde o térreo até s, intervindo nas formas urbaade que antes era vazia e sem a se mostra fervorosa em diverde aromas, pessoas e histórias. iras se alastrando pelos espaços projeto Feirô dos alunos da FAV – na mais pertinente do que nunca. de uma maior compreensão dessa dade e dinâmica das cidades, proe pesquisadores de diversas áreas o projeto, que cresce e ganha reAtravés das parcerias e financiae foram conquistados ao longo do o projeto Feirô se torna um grano do movimento de democratizadades e da conquista das feiras. nova face das cidades, arquibanistas pelo mundo estão se e criando novos métodos, zontais, de contribuir para o esno. No geral, o sentimento é

plantados sob a pele, os computadores, os robôs. Tudo parou de funcionar na supertempestade solar. Apesar das tempestades solares de toda essa reviravolta não foi diferente. No alvoroço das permutas as complexidades das relações humanas se afloram. Trocas de alimentos, instrumentos, informações e afeto, tão perdidas em meio aos robôs. Nos descobrimos fortalecidos nesses encontros. Encontros estes que estão sendo novamente o grande ponto de partida para o compartilhamento, pesquisa e melhorias em busca de um mundo melhor, transcendendo as amarras que a tecnologia trouxe para muitas gerações e nos comunicando muito mais com o nossa natureza.” Tomando por base os problemas atuais associados com a mobilidade, esta Utopia prevê um mundo sem combustíveis fósseis e sem espaço livre para ser ocupado na superfície da Terra, gerando a necessidade de ocupação do espaço aéreo. Dessa forma, os zepelins tomam conta dos céus do planeta e passam a ser a solução para o transporte de produtos e pessoas, gerando um evento de trocas comerciais e sociais a cada vez que param para abastecer algum local, tal qual uma feira o faz na cidade.

entos para remeter à experiência m a qual estamos acostumados. ma, buscamos potencializar a sobre alguns conceitos ineeira, tais quais a sua efemeria forma de se portar como um cidade, a diferença entre sua e (montagem e desmontagem) ssa abordagem sobre seu moviseu aspecto de integração ens e espaços urbanos e, por fim, tradição da família, seja por parte do feiplexidade e heterogeneidade.” rante, seja por parte do consumidor. A feira que traz a família para abastecer a sua casa com frutas e verduras fresquinhas, ou para aquele tradicional pastel com garapa. A feira que traz o comerciante às cinco da manhã para preparar sua banquinha com o que há de mais selecionado em sua produção. A feira, que em escala local, já era uma força de resistência diante dos grandes comércios formais, mas em meio à crise comercial, se potencializa e ganha forças. As pessoas voltam a buscar as feiras por a asfalto, eletricidade, máquinas toda a sua história e tradição, na busdores. Na tempestade o universo ca de reconquistar as experiências soou a fragilidade do sistema, por ciais tão vitais para a vida humana. po usamos a tecnologia para nos Como solução desesperada para evitar a redos problemas ambientais que cessão da economia local, os governantes limas agora nossa convivência beram o direito à apropriação das ruas para om eles. Nós, a primeira geração os feirantes. As feiras ganham o direito à ciestade, crescemos com o tempo dade e gradualmente a feira e o espaço urbaza. Nos centros de convivência no se alimentam e se fundem, tornando-se mos a cozinha coletiva, um espaço essencialmente a mesma realidade. Poanças, um espaço para a reunião demos ver agora feiras por todos os lados, upo e ao lado uma a terrestre e grandes avenidas que eram ocupadas por ência das deficiências de produ- carros, agora esbanjam cor e diversidada cidade as feiras permaneceeviventes. Esse evento efêmero de para passarelas dependente da tecnologia, seu foram construídas para a instalação de vital são as trocas, algo intrínseco mais feiras, mostrando a necessidade da mano. Elas se reinventam e com

LIVRO

carar os Ao imaginar sociais e a um futuro que a vid após uma na nos tro tempestade precisa solar que nos resgate de priva de todos vivência os aparelhos mais dire tecnológicos face, sem aos quais esdio da vi tamos acosPara isso tumados, essa se mostra Utopia mostra ciais nas s uma socie- comerciais e culturais, mos presente. A natureza pode ser t dade que é “Os celulares, a eletricidade quanto nossa vida na parte de obrigada a en- sem fio, os microchips im- gunto-me se já estou satisfeito a voltar pro meu espaço de desc Talvez deva acompanhar, por um to, as crianças que estão nadan Quando me aproximo reconheço Cuida da horta de verduras à alg do meu ponto. Pergunto-as como seu dia. Algumas delas me respo estão apenas começando o períod to outras afirmam que logo voltarã cubículos. Eles são um pouco di onde estamos - era uma visita a interessante, a mais velha me di ri uma nova troca, de cubículos Pode ser temporário, se ela inter novo ponto, mas ficamos de deci Descendo de volta a meu espaço al, vi baixa luz se esvaindo, as v sentes nas feiras foram resgatadas, haven- nuindo, até que o silêncio tomou do para isso uma grande apropriação de es- degraus. Cheguei à minha porta, paços urbanos onde onde são instaladas as trajes e voltei a deitar. Daqui uns estruturas das feiras e onde essa recupera- acordaria de novo. Dessa vez subir ção da convivência social se torne possível. sistir algumas aulas de culinária procuraria a horta de verduras da “Estamos em uma dimensão em que o Antes de pegar no sono pens comércio formal como o conhecemos já versas experiências de hoje. Em não é bem visto. Após séculos de avan- mento estava lá, várias pessoa ço de tecnologia as pessoas buscam de e cores, no outro momento esto alguma forma um contato social mais zinho, esperando ansiosamen próximo do humano, procuram por mais liberdade de locomoção e de expressão. Após anos de perda de contato h Os shopping centers tornaram-se meros forma de se fazer comércio, esta U galpões sem vida, grandes ruas abando- um mundo em que as trocas simb nadas, caídas no esquecimento por quem ali frequentava, em nada lembra seus dias de glamour e multidões. Há quem ainda se lembre vagamente dos grandes centros de compras, famosos pela grande variedade de produtos e preços, alguns empresários ainda tentam se manter de pé, mas sem muito sucesso. As vitrines expõem o desespero de quem tenta chamar a atenção de alguma forma de quem passa por ali. As ruas tornam-se meros locais de passagem, de quem está sempre em busca de algo. Não há permanência e nem vivência no espaço público. É neste cenário que nos deparamos com a feira, uma fonte de vida em meio ao vazio das cidades, dezenas de aromas, sons e histórias. A feira que traz consigo aquela


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