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Economia
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Quanto custa a
felicidade
Governos e empresas se dedicam cada vez mais a medir o bem-estar. Um trabalhador satisfeito eleva em até 12% a produtividade
A
história pode ser vista sob o ângulo da transformação da natureza em riqueza. Começou com a busca do ser humano por conforto: carne, grãos e abrigo. Mas logo veio a ostentação, na forma de adornos, tótens, pirâmides, templos e palácios. A ciência surgiu como instrumento para a busca de avanços e também para a compreensão de nossa trajetória. Pouco mais de dois séculos atrás, começou a se desenhar a vertente do conhecimento dedicada à prosperidade: a economia. Assumiu-se como desafio teórico mostrar como conquistar o máximo possível de tudo o que é bom. Fórmulas surgiram para garantir que a produção só tenha um viés, o de alta. Questionar o postulado de que o dinheiro faz as pessoas mais felizes era coisa de mesa de bar, sem espaço sério na academia. Só que o jeito de ver as coisas está mudando. E num ritmo cada vez mais intenso, como mostrará série que o Correio publica a partir de hoje. “Dedicamos excessiva atenção à renda”, alerta o professor Bruno Frey, do Departamento de Economia da Universidade de Zurique, um dos maiores expoentes dos estudos da busca pela felicidade.“As pessoas precisam valorizar a relação com amigos e família”, recomenda ele, que integra a lista dos 50 economistas mais importantes do planeta. Pode-se argumentar que, para perceber essas coisas, a ciência econômica é supérflua. No entanto, ela vem oferecendo uma grande ajuda, com releituras sobre o conhecimento que se acumulou até hoje. A ideia não é mais ter o máximo. É saber o quanto é preciso — e possível — ter, além de identificar a medida do esforço que vale a pena aplicar na empreitada.
Processo de escolha As novas teorias permitem destrinchar algumas formas de decisão de que as pessoas não se dão conta, e que, muitas vezes, são nocivas para elas. Do mesmo modo que se calcula o valor presente de uma empresa presumindo todo o lucro que ela terá em décadas, e descontando-se a taxa de juros, os economistas conseguem explicar, por exemplo, por que nós resistimos tanto a fazer exercícios físicos e seguir dietas que nos permitirão ter uma vida melhor e mais longa. A diferença de morrer aos 80 ou aos 85 não aparenta ser um ganho de cinco anos aos olhos de um quarentão. Dá-se a essa deturpação o nome de desconto hiperbólico. A vantagem da descoberta é que se pode mostrar a coisa pelo lado inverso, destacando que um benefício que parece pequeno agora crescerá exponencialmente no futuro. Tudo isso parece um pouco com outra área de ciência. E muitas vezes é. Em 2002, o Prêmio
Nobel de Economia foi concedido a Daniel Kahneman, professor de psicologia da Universidade de Princeton que estudou os processos de escolhas financeiras. É como se tivéssemos dois cérebros, ele explica, um racional; outro, emocional. Ambos estão em constante diálogo e conflito. Foi um baque diante da racionalidade que se atribuía ao Homo economicus, o ser dentro de nós que toma decisões sobre consumo e poupança. Kahneman também mostrou que várias escolhas são equivocadas, porque as pessoas não conseguem prever o prazer que terão com determinada escolha. Gastam muito para comprar um carro zero, por exemplo, e acabam por descobrir que o cheiro de novo passa logo e que seria melhor usar o dinheiro de outra forma.
Amor e dinheiro Do Nobel de Kahneman para cá, o interesse pelo bem-estar das pessoas em suas decisões que envolvem dinheiro só cresceu. “Ninguém sabe por que a economia da felicidade tem ganhado tanta atenção de pesquisadores, governos e público. Mas deve ser pelas crescentes demonstrações de que não estamos ficando mais felizes, embora sejamos muito mais ricos que os nossos avós”, pondera o professor Andrew Oswald, da Universidade deWarwick, na Inglaterra. “Eu gosto de pensar que isso ocorre também porque os economistas estão começando a ver as coisas como elas devem ser. O que poderia ser mais importante do que a felicidade humana? A única surpresa que cabe é não terem percebido isso antes”, emenda. Um dos vários estudos de Oswald sobre a economia da felicidade mostra que trabalhadores satisfeitos conseguem elevar em 12% a produtividade. Mas, se é assim, por que há chefes que ainda acreditam mais na disseminação do medo e de ameaças para conseguir o máximo de suas equipes? “Muitas empresas ainda estão defasadas. Acham que os funcionários devem ser tratados na base da força, da ditadura, como se fossem soldados. Talvez isso funcionasse nos anos 1950, quando a indústria manufatureira era o que havia de mais importante. Mas não serve para o mundo de hoje, em que as pessoas trabalham em escritórios, usando o cérebro e a iniciativa”, ressalta. No Brasil, o assunto também tem atraído atenção de economistas de variadas tendências. “Isso é de enorme interesse. O amor ao dinheiro deve ser abandonado em favor da fruição.Temos de ter tempo de apreciar as obras de arte.Todo mundo está percebendo que a competição desenfreada destrói as pessoas”, afirma Luiz Gonzaga Belluzzo, professor de economia daUniversidadeEstadualdeCampinas (Unicamp). Ele nota que John Maynard Keynes já mencionava isso na década de 1920, quando escreveu o texto As consequências econômicas para os nossos netos.
Distribuição de renda Uma contribuição que não é nova para a compreensão do bem estar econômico, anterior até mesmo a John Maynard Keynes, é a teoria da utilidade marginal decrescente. Cada dólar, cada real, que alguém recebe tem importância menor que o anterior. Assim, torna-se necessário ganhar cada vez mais para conseguir uma satisfação no mínimo semelhante à de antes. Essa ideia serve de embasamento para os programas de distribuição de renda, pois demonstra que um pagamento extra de R$ 100 para uma pessoa miserável tem grande impacto em sua vida, ao passo de que será visto quase que com indiferença por alguém de classe média.
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» PAULO SILVA PINTO
A eterna insatisfação humana Quando se acostuma com determinado padrão de vida e, eventualmente, enfrenta-se dificuldade para pagar as contas, vive-se ansiedade e angústia. Por outro lado, há consenso de que ganhos elevados de renda têm efeito reduzido, ainda que não sejam nulos, para fazer as pessoas mais felizes. Um prêmio de loteria, por exemplo, traz grande alegria. Mas dura algumas semanas ou meses. Depois, o ganhador adapta suas expectativas ao padrão conquistado. Aumentos de renda não só tendem a proporcionar ganhos de felicidade de forma decrescente como acabam encontrando um teto, além do qual acréscimos de bemestar são neglicenciáveis, segundo economistas. “Eu duvido que os países fiquem mais felizes depois de atingir o nível de renda da Europa nos anos 1990 (cerca de US$ 40 mil anuais, ou R$ 107,3 mil). Acima desse patamar, a
única coisa que existe é a publicidade convencendo as pessoas a comprarem um carro mais potente que o do vizinho, ou um relógio mais caro, o que não traz ganho nenhum para a sociedade de modo mais amplo”, argumenta Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, na Inglaterra. Há controvérsias sobre esse patamar máximo da relação entre aumento de renda e felicidade. Economistas norte-americanos apontam US$ 13.500 mensais (R$ 36.200) como o limite. Uma coisa porém é livre de divergência: o que importa para as pessoas, muitas vezes, não é a renda em si, mas a comparação com os outros. Pesquisas mostram que uma pessoa que tem o salário dobrado fica muito aborrecida, em vez de comemorar, se descobre que o ganho dos colegas foi multiplicado por três. É uma descoberta que leva mais água para o moinho
dos defensores da equidade. Os ganhos da economia da felicidade vão além da compreensão das escolhas individuais. Para o economista Pedro Fernando Neri, consultor do Senado, há grande potencial para a concepção de políticas públicas, “desde que o governo tome o cuidado de não ser paternalista”. A mobilidade urbana, por exemplo, é algo que ajuda muito. Para a teoria econômica tradicional, se a pessoa mora longe do trabalho, o tempo gasto diariamente é contrabalançado pela vantagem de uma casa maior ou mais barata. Estudo de Bruno Frey, da Universidade de Zurique, mostra, porém, que a soma das vantagens de desvantagens de diferentes escolhas não tem soma equivalente: quanto mais tempo se gasta diariamente, menor o bemestar, ainda que se viva em uma casa melhor. (PSP)
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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 24 de dezembro de 2014 • Economia • 7
Quanto custa a felicidade No emprego, independentemente do cargo, as pessoas sempre esperam o reconhecimento de que executaram bem as funções. Funcionários sentem-se constrangidos quando descobrem que donos das empresas para as quais trabalham estão metidos em corrupção
Uma engrenagem perfeita
» PAULO SILVA PINTO
A
o mesmo tempo em que aponta para o futuro, a economia da felicidade representa uma volta ao passado, quando as ciências conversavam entre si e a busca do bem-estar do ser humano estava no centro das discussões. Roberto Romano, professor de filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) lembra que Adam Smith (1723-1790), o pai da economia moderna, buscava no livre mercado a otimização da qualidade de vida, assim como Karl Marx (1818-1883), o criador do comunismo, mirava a mesma direção por outro caminho. “Ele fez uma crítica ao modo de produção que destruía os corpos humanos”, relata Romano. “Era comum encontrar na Europa da época trabalhadores que tinham uma vida pior do que a dos escravos das Américas”, assinala o antropólogo Roberto DaMatta, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Ele explica que a preocupação da felicidade é algo próprio do processo civilizatório. Os índios Apynayé, que DaMatta estudou décadas atrás, “não procuram a felicidade, nem sabem o que é isso. Mas são felizes”. Se no iluminismo do século 18 a felicidade estava no centro das atenções, o que ocorreu de errado? “Vieram os séculos malditos 19 e 20, em que as religiões se voltaram mais para o pecado e tanto a esquerda quanto a direita se tornaram ascéticas”, diz Romano. Ele atribui à difusão das ideias do filósofo Immanuel Kant (1724-1804) a construção da ideia de um mundo que deve funcionar “como uma engrenagem perfeita”, sem espaço para as ideias de felicidade. Nesse processo, a ciência econômica transformou-se em algo cheio de fórmulas, “desumanizado” na opinião de Romano. Outras áreas, segundo ele, também foram prejudicadas por esse modo de ver as coisas, mesmo a filosofia, na qual os pesquisadores tendem a uma excessiva especialização. Às vezes constroem a carreira sobre um capítulo de
determinado autor, sem olhar para todo o seu trabalho e muito menos para outros nomes. Nesse ambiente, falta receptividade para discutir o sentido da vida. “Outro dia eu falei da importância da busca da felicidade em uma discussão pública e um dos participantes disse que era uma bobagem”, conta. DaMatta nota que o significado do que é viver bem varia conforme a cultura. Depois do doutorado em Harvard, ele ganhou uma cátedra na Universidade de Notre Dame, uma das mais importantes dos Estados Unidos. Mas voltou ao Brasil porque sentia que a vida dele era mais completa aqui. “Lá, quando se faz uma aula boa, ela termina e pronto. Aqui, se a aula é boa, todos continuam conversando depois que ela acaba”, diz. Um dos ingredientes essenciais, em qualquer sociedade, ressalta DaMatta, é a convivência com a família e com amigos. “Há homens de 50 anos que se reúnem para comer salaminho e contar mentiras sobre conquistas sexuais. Isso faz deles mais felizes”, comenta. Outro ponto que ele considera essencial é ter a clara noção daquilo que se consegue fazer e o que não se consegue. “Aprendi isso com os Alcoólicos Anônimos.” Ele frequentou reuniões do grupo quando acompanhava um filho, hoje falecido.
Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
PIB não diz tudo
Angústia O antropólogo identifica na grande quantidade de informações disponíveis hoje em dia uma das fontes de angústia moderna. “No passado, havia corrupção, mas nós nem nos dávamos conta disso. Agora, é impossível não tomar conhecimento. E também não se consegue ficar indiferente a tudo isso”, diz. Isso está longe de passar despercebido por funcionários de instituições que estão, ou estiveram, envolvidas com o problema. Para o gerente de suprimentos dos Correios, Ércole Tramontano, é necessário indignar-se. “Mas é possível fazer isso sem ser infeliz”, defende. Ele concorda que, para muitas pessoas, isso é difícil, não só pelas informações sobre a
Ércole Tramontano, dos Correios, comanda uma equipe de 150 pessoas. Para ele, é um exercício diário ser feliz corrupção, mas por todas as mazelas do mundo. “Tem muita gente que se sente constrangida em ser feliz com tanta notícia ruim”, afirma. Tramontano desenvolve ações de estímulo da felicidade em sua equipe de 150 pessoas, responsáveis por responder às necessidades de 10,3 mil pontos
de atendimento dos Correios em todo o país. Ele afirma que é possível ser rigoroso no trabalho sem causar grandes transtornos às pessoas. “Quando um fornecedor não cumpre os prazos, ele é chamado e eu comunico que terá de pagar multa. É simples assim. Não é necessário ser petulante”, destaca. Para Tramontano, a maior
dificuldade está no modo de as pessoas verem as coisas. “Ficamos sempre adiando o momento de ser feliz. Se cumprimos uma tarefa, ficamos na expectativa de ver o trabalho completo. E quando conseguimos isso, deixamos a felicidade para quando vier o reconhecimento de que aquele foi um bom trabalho”, conclui.
Povo fala
O modo de avaliar a evolução de qualquer país, e seu governo, é olhar para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Mas o indicador tem sido questionado como uma medida de bem-estar. Mesmo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que leva em conta a renda ao lado de indicadores sociais, como a expectativa de vida, dá margem a dúvidas sobre o quanto as pessoas estão realmente felizes. O primeiro desafio ao PIB veio em 1972 do distante reino do Butão, que fica aos pés do Himalaia, encravado entre a Índia e a China. O país criou a Felicidade Interna Bruta (FIB). Todos os anos, umaamostradoscidadãoséconvidada a responder 249 conjuntos de questões. Em um deles, por exemplo, as pessoas devem avaliar, em uma escala de seis pontos, seu nível de satisfação com a saúde, a relação com os familiares e o trabalho. Em outro conjunto, é indagado se acharam um sentido para a vida, se têm liberdade para expressar opiniões, se suas atividades proporcionam realização e se as pessoas em sua vida preocupam-se com elas. Não há um resultado numérico para o FIB, mas ele ajuda o governo a tomar várias decisões, segundo o administrador e publicitário Rogério Oliveira, 39 anos, que já foi três vezes ao país e lá conseguiu uma das fontes de inspiração para seu trabalho de consultoria em empresas. Oliveira explica que os valores do país não são necessariamente os que se usam em outros lugares. “Eles consideram a educação importante na medida em que permite às pessoas se expressarem. Mas fazer um doutorado, por exemplo, não é visto como algo que possa ampliar a felicidade”, diz. Uma crítica recorrente ao sistema butanês é o fato de o país ser uma monarquia, com resultados questionáveis em termos de democracia. Oliveira afirma, porém, que o rei leva uma vida simples, e que as liberdades vem sendo ampliadas.
Diferenças
DINHEIRO FAZ A PESSOA SER FELIZ? JÚNIOR ROCHA, 31 anos, instrutor de trânsito
RAIMUNDO DE FREITAS LANTYER, 56 anos, motorista
AMANDA ROSINA, 24 anos, vendedora
O dinheiro é um complemento da felicidade. Se eu ganhasse na MegaSena, eu poderia tornar as músicas que componho conhecidas mais rapidamente. Tenho 200 composições de reggae, MPB e até sertanejo. Ter muito dinheiro não é indispensável para ser feliz. Se a pessoa está com depressão, não adianta nada. Há pessoas que nascem e morrem infelizes. Não tem jeito. O importante é a gente viver cada dia como se fosse o último.
No meu modo de ver, o dinheiro não faz uma pessoa mais feliz.Vejo gente muito rica e infeliz e também conheço pessoas que moram em casa de taipa e são muito felizes. Eu sou espírita há 20 anos e acho que o que mais importa não é a materialidade, mas sim fazer o bem. É isso o que eu ensino aos meus filhos. É muito difícil eu jogar em loteria. Se ganhasse, iria usar o dinheiro para ajudar a família e instituições de caridade.
Dinheiro é coisa passageira, você gasta e acabou. Eu luto para ter dinheiro, mas não sou gananciosa. Não trabalharia em algo que eu não gosto, por exemplo, para ganhar mais. Até porque só quem trabalha no que gosta faz as coisas benfeitas, sente prazer em sair de casa todos os dias para produzir. Acho que a coisa mais importante para a felicidade é ter saúde.
O dinheiro ajuda a felicidade em parte, porque proporciona conforto. Mas também causa muita infelicidade em alguns casos, como nas situações de briga de irmãos em disputas por herança. O importante na vida é ter equilíbrio, saber dar o valor real às coisas. Infelizmente, nem sempre as pessoas conseguem.
RONI DOURADO, 26 anos, não estuda nem trabalha
FLÁVIA AMARAL, 34 anos, advogada
BILTIS BRAGA SOUZA, 30 anos, auxiliar de serviços gerais
DENNE RENE SOUSA ALVES, 19 anos, militar
Às vezes, o dinheiro ajuda a ser feliz. Se eu tivesse um pouco de dinheiro sobrando agora, passaria o fim de ano em Salvador. Mas, como deixei o emprego de vendedor em agosto, não será possível. Mas a minha vida está boa. Moro em Posse, na Bahia. É um lugar com menos empregos do nas cidades grandes, mas as pessoas são mais felizes, porque há menos correria e a violência é menor.
O dinheiro não traz toda a felicidade. Claro que ajuda nas despesas do dia a dia, traz conforto. É possível também ajudar a família. Mas também atrapalha ao trazer para perto da gente pessoas interesseiras. O trabalho é uma fonte de felicidade quando a gente pensa não só na remuneração, mas nos resultados. O que eu mais me realiza no meu trabalho é quando eu consigo ajudar as pessoas.
Para algumas coisas, o dinheiro ajuda. Para outras, não. É o caso das doenças incuráveis. Se eu tivesse mais dinheiro, compraria um carro e estudaria inglês. Mas farei isso de qualquer jeito, só vai demorar mais. Gosto muito do meu trabalho. Ficar em casa, não dá. No próximo ano, vou começar a estudar em um curso técnico de secretariado.
Felicidade é ter uma casa e uma família boa. Na vida, temos que correr atrás dessas coisas que nos fazem bem. E isso independe de dinheiro. Claro que se eu ganhasse na loteria tudo ficaria mais fácil, poderia ajudar, mas a gente não precisa disso para ser feliz. Se eu ganhar muito dinheiro, não vou mudar o que eu sou. A gente tem que ser humilde.
NATÁLIA DE OLIVEIRA, 28 anos, psicóloga
A experiência do Butão e o crescimento do foco da felicidade na economia tem levado governos a se preocupar com o assunto. A França contratou um grupo de vencedores do Nobel de Economia para avaliar como os franceses de sentem. O Reino Unido foi na mesma linha. As conclusões apresentadas até agora não fogem muito do que já é conhecido: o PIB é um indicador limitado e outras pesquisas, sobretudo na área social, se fazem necessárias. Em 2011, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução convidando os países membros a medir a felicidade de seus cidadãos e a usar os resultados para orientar políticas públicas. A busca da felicidade é apontada como objetivo humano fundamental, que abarca os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Um dos modos de medir e comparar a felicidade das pessoas é perguntar a elas o que pensam, por meio de pesquisas de opinião. O problema disso é que a avaliação da felicidade é algo subjetivo. E quando se levam em conta diferenças culturais, tudo fica ainda mais difícil. Para fugir da subjetividade, há a tentativa de sistematizar números globais. O World Happiness Report, dos economistas John Helliwell, Richard Layard e Jeffrey Sachs, foi feito pela última vez no ano passado e colocou o Brasil em 24º lugar entre 156 países. (PSP)
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Quanto custa a felicidade
Empresas oferecem bem-estar
para reter talentos Foi-se o tempo em que o ambiente de trabalho se restringia à cobrança por resultados. Companhias se conscientizam de que empregados felizes são mais comprometidos com o futuro dos negócios. E, melhor, reduzem as despesas com saúde » PAULO SILVA PINTO
Minervino Junior/CB/D.A Press - 12/12/14
Dilemas de servidores
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Valor social Além de agrados e perspectivas de avanço na carreira, o profissional fica mais feliz quando vê os resultados do que fez, na avaliação do diretor de Gestão de Pessoas do Banco do Brasil, Carlos Netto. “É fundamental para os funcionários ter noção do significado do valor social do trabalho. Isso faz toda a diferença. Como a escola não ensina isso, precisamos mostrar”, diz. Desde o ano passado, o tema faz parte de uma campanha interna do BB, mostrando, por exemplo, que o seguro de vida pode ajudar um jovem a pagar a faculdade na ausência do pai. Isso não substitui os benefícios. O banco gasta por ano
Antonio Oliveira Aguiar é responsável pelo programa de qualidade de vida da AGU: “Até amizades já reatamos com o nosso trabalho” Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
As pessoas precisam olhar para a frente e verem que há boas perspectivas profissionais. É o que nos move” Erdman Correia da Silva, recepcionista
Liberdade é fundamental
Licenças por doença O Banco do Brasil gastará R$ 953 milhões com a saúde dos funcionários em 2014, dos quais R$ 450 milhões com o seguro e R$ 53 milhões com outros procedimentos. Esse valor não tem diminuído porque grande parte só é destinada à medicina preventiva. Mas o número de licenças por razões de saúde, diz, é cada vez menor.
R$ 23 milhões no programa de qualidade de vida no trabalho, que existe há cinco anos. O recurso é distribuído entre as agências para pagar, por exemplo, massagens a funcionários e comprar lanches saudáveis, incluindo pão integral e frutas. A pesquisa de satisfação entre os funcionários teve, neste ano, o melhor resultado desde 2004.
» FRANCELLE MARZANO Belo Horizonte (MG) — Parte da felicidade nas empresas está relacionada à liberdade de ir e vir, dizem os sócios da KOT Engenharia, Bruno Miranda e João Gabriel Sá. Por isso, o clima sempre é de festa na empresa. Eles contam que, por ano, investem pelo menos R$ 170 mil na autoestima dos funcionários. Entre os benefícios estão a flexibilidade de horário, sala com tevê, games, sofá, pufs para descontração, tempo para ginástica laboral todos os dias, estrutura moderna, em vão livre, sem divisões entre as pessoas, alimentação saudável, capacitação e treinamentos. “Não custa quase nada ser feliz. O gasto que temos é o de tocar projetos que contribuam para a felicidade dos colaboradores. Contudo, os benefício que eles trazem, como a alta produtividade, são
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m tempos de escassez de mão de obra qualificada, reter talentos é a maior preocupação das empresas mais dinâmicas, que veem a felicidade no ambiente de trabalho como um alvo constante. Embora ofereçam benefícios vistosos a seus funcionários, elas sabem que isso está longe de ser suficiente. Erdman Correia da Silva, 26 anos, não tem dúvidas sobre a razão que o leva a querer continuar no laboratório Sabin por longo tempo: a perspectiva de crescer. “As pessoas precisam olhar para a frente e verem que há boas perspectivas profissionais. É o que nos move”, diz. Há um ano na companhia, ele foi promovido depois do terceiro contracheque. Entrou como recepcionista, cargo que ainda ocupa por meio período. O resto do tempo fica no departamento de audiovisual, onde escreve roteiros de filmes de treinamento. “Faço historinhas com personagens, para não ficar com cara de telecurso”, explica. Se pudesse escolher o trabalho ideal, Erdman gostaria de ser cineasta. Mas não deixa de fazer seus curta metragens nos momentos de folga. E garante que é feliz. Tem melhor remuneração, mais benefícios e perspectivas de crescimento do que no emprego anterior, na seção de filmes de uma grande livraria. “Eu gostava de conversar com clientes sobre filmes. Mas não conseguiria evoluir naquele emprego”, conta. Não teve que tomar iniciativa para sair. A solução veio com a entrada de um banco no bloco de controle da empresa, a que se seguiu a decisão de demitir os funcionários mais antigos e caros. No Sabin, a cobrança de metas é rigorosa, mas a ideia é manter os funcionários por muito tempo. Se Erdman ficar lá por cinco anos, ganhará um salário a mais. Se chegar a 20, levará um carro zero. Em dezembro, os funcionários recebem tíquete alimentação de R$ 880 em vez dos tradicionais R$ 440. “A felicidade da equipe é essencial para a cordialidade no atendimento ao público”, afirma a presidente da empresa, Lídia Abdalla. Mas há outros benefícios: a rotatividade média das firmas do setor é de 6% mensais; no Sabin, é de apenas 0,5% entre os 2.250 funcionários espalhados por nove cidades — em Brasília, sede da empresa, estão 1.450.
enormes. Não temos nem como mensurá-los. O que posso dizer é que 90% dos nossos clientes se mostram felizes”, afirma João Gabriel. “Mas que fique claro: toda a liberdade na empresa é atrelada a responsabilidades. Ninguém tem horário fixo, porém, sempre há prazos para a entrega de projetos. Ou seja, a pessoa pode trabalhar muitas horas em um dia e menos em outros. Se tem algum médico ou compromisso, pode sair para resolver sem se preocupar em ter que dar muita satisfação no trabalho”, complementa Bruno. Na Plan B, agência de comunicação, a felicidade dos colaboradores é um princípio básico. Sócio da empresa, Clécio Wains conta que depende muito da produção intelectual. “Sempre procuramos uma solução fantástica para os cliente. Assim, se não tivermos um bom ambiente de trabalho, onde as pessoas se sintam felizes,
não conseguimos chegar com uma boa solução para quem está nos pagando”, reflete. Ele ressalta que a busca pela felicidade levou a Plan B a buscar uma nova sede, com investimentos de R$ 700 mil. O objetivo foi proporcionar mais dinamismo e criatividade aos empregados, que passaram a contar com espaço pet para seus animais (eles podem levar seus cachorros para o trabalho), lounge para descanso, cozinha, minirrampa de skate e chuveiros para quem chega de bicicleta. Os próprios trabalhadores deram ideias para planejar o ambiente, envolveram-se com o projeto, o que faz com que se sintam um pouco donos do negócio e trabalhem mais felizes. Que o diga Paula Albino, 27 anos, há cinco na empresa. “Uma companhia que valoriza seus profissionais têm retornos maiores. Se somos felizes, somos mais produtivos. Ou seja, todos ganham”, diz.
O sonho de muitos brasileiros é virar funcionário público, em busca da estabilidade e de uma boa remuneração. Seria de esperar que, uma vez conquistado o cargo, ficassem felizes. “Mas o que se vê, quando se entra em muitos locais de trabalho, são servidores estudando para fazer novos concursos”, afirma Mário César Ferreira, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB). Em geral, os funcionários que continuam galgando novas posições querem ganhar melhor, conseguir uma jornada mais flexível ou um órgão que lhes garanta “maior prestígio social”, relata Ferreira. Entre as queixas na função que exercem está, muitas vezes, a irrelevância do que fazem, por ser algo aquém do que permite a formação que possuem. “O que se ouve é: consegui passar onde eu queria, mas estou infeliz, fazendo tarefas imbecis”, ressalta. Parao professor, o problema está no desenho dos concursos, que não permite a escolha das pessoas mais adequadas para os cargos.“O que se exige é memória de elefante para repetir um monte de informações que serão inúteis depois.” Outro problema recorrente nas repartições públicas, segundo Ferreira, é o assédio moral. No Banco Central, os funcionários podem procurar uma ouvidoria quando enfrentam esse tipo de dificuldade. A chefe do departamento de gestão de pessoas do BC, Nilvanete Ferreira da Costa, explica que é preciso distinguir quando uma pessoa é seguidamente desqualificada pelo chefe, quando há ofensas, que também são punidas, e outras situações. “Alguns tipos de conflitos são naturais”, explica. Mas os funcionários do BC não precisam quebrar a cabeça para saber se tem ou não razão nas situações que enfrentam. Podem procurar, a qualquer momento da jornada de trabalho, o serviço de atendimento psicológico para falar de seus problemas. A motivação tem a mesma cara no serviço público e nas empresas, defende o diretor de recursos humanos da Advocacia Geral da União (AGU), Antonio de Oliveira Aguiar. “Todo mundo quer fazer partedeumtimequeestáganhando”, explica ele, responsável pelos 11 mil funcionários da instituição. Auditor fiscal, ele pediu para ser transferido para a AGU exatamente porque não via as mesmas possibilidades de realização profissional no Ministério da Fazenda. Desde 2011, Aguiar toca um programa de qualidade de vida na AGU, com salas para que os funcionários possam descansar e outras para fazer as refeições. Todos os anos, há uma semana em que se discute o bem-estar e dicas para a qualidade de vida. Segundo ele, alguns benefícios foram imediatos: pessoas que não se falavam havia muito tempo fizeram as pazes. “No fundo, todo mundo sabe o que precisa para ser feliz, mas acaba criando vários obstáculos para isso”, sentencia Aguiar. (PSP)
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8 • Economia • Brasília, quinta-feira, 25 de dezembro de 2014 • CORREIO BRAZILIENSE
Quanto custa a felicidade A psicologia positiva mostra que fatores hereditários e o esforço pessoal respondem por 90% do que o homem precisa para ser feliz
A genética é determinante
» PAULO SILVA PINTO
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esde que estreamos no primeiro emprego até a aposentadoria, vão-se embora metade de nossos dias, considerando a média do que os brasileiros esperam viver. Durante esse período, de segunda a sexta-feira, ao menos, ficamos mais tempo no trabalho do que em qualquer outro lugar enquanto estamos com os olhos abertos. Convivemos mais com os colegas, clientes e fornecedores, com quem muitas vezes também nos sentamos à mesa para almoçar, do que com o cônjuge ou os filhos. Considerado o tempo em que se passa imerso na produção, é impossível imaginar uma pessoa que seja feliz se tiver uma vida profissional terrível ou mesmo insatisfatória. E é uma ilusão pensar que tem sorte quem não precisa trabalhar ou quem consegue um trabalho de baixa exigência. “Uma das realizações das pessoas é serem produtivas”, explica Mário César Ferreira, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em relações profissionais. Tampouco é necessário conquistar o emprego dos sonhos. Um caso famoso é o de um faxineiro da estação Grand Central, em NovaYork. Ele trabalhou lá durante décadas, sem mudar de função, limpando o local por onde passam milhares de pessoas por dia, e onde não se tem ideia se há sol, chuva ou neve lá fora. Ele se dizia uma pessoa extremamente feliz. E quem o encontrava não tinha dúvidas disso.
Estímulo A psicologia positiva, que, no lugar de decifrar as mazelas humanas tem como foco identificar o que o homem precisa para ser feliz, chegou à conclusão de que 50% das razões estão na genética — e o faxineiro de estação provavelmente teve uma sorte grande nesse quesito, ainda que não em outros. Outros 40% dependem do esforço pessoal, sobretudo o autoconhecimento. E apenas 10% são o resultado das contingências, incluindo o emprego que conseguimos conquistar, a economia do país e os infortúnios que ocorrem em nosso percurso. Na combinação das nossas escolhas e das contingências, porém, há grande chance de enfrentarmos problemas de menor ou maior gravidade. Do ponto de vista do patrão, as queixas são de funcionários que erram, faltam ou deixam de cumprir com suas responsabilidades. Para Ferreira, da UnB, as empresas teriam menos problemas caso colocassem o bem-estar no foco de suas atenções. “Em vez disso, fazem uma espécie de ofurô corporativo. Colocam atendentes de call center para fazer ioga por dez minutos. Só que eles saem de lá e encontram todos os problemas novamente. O resultado é uma enorme rotatividade. E os empresários acham que não tem outro jeito nesse tipo de atividade”, afirma. Estresse é algo necessário e benéfico, explica Ferreira. Com o estímulo, fica-se alerta, pronto para executar o trabalho. O problema é quando esse estímulo passa do limite, situação em que, tecnicamente, o que existe é o distresse. Se os trabalhadores da base são vítimas disso, não estão sozinhos. É grande o número de executivos que padecem do problema, conta o pesquisador e professor de administração da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Barcaui, que estuda a felicidade nas empresas. Na base da pirâmide há relativamente pouca pressão e pouca autonomia de decisão. Nos níveis
gerenciais, porém, há muita pressão e a autonomia também é pequena. “Eles são o sanduíche. É aí que se concentra grande parte da angústia da empresa”, conta Barcaui. No topo, a pressão é grande, mas não constante: há metas rigorosas, só os acionistas não estão o tempo todo cobrando. Porém, a autonomia é grande, o que é uma vantagem. “Nesse segmento, o maior problema é a solidão.” Quando a pressão é excessiva e a capacidade de reação, limitada, o resultado mais frequente é a doença. Isso não significa necessariamente absenteísmo, ressalta Barcaui, pois muitas pessoas preferem sofrer caladas em vez de perder o emprego. As doenças mais comuns são as dermatológicas, que se agravam porque as pessoas se coçam e provocam infecções. O segundo tipo mais frequente são as disfunções gastrointestinais. Em terceiro lugar vêm a ansiedade e a depressão. Evitar situações assim é tanto mais fácil quanto mais cedo a pessoa se antecipar a elas, avisa a psicóloga Fernanda Schröder Gonçalves, coordenadora de carreira do Ibmec. Ela recomenda, em primeiro lugar, que a pessoa saiba quem ela é. “A felicidade está profundamente ligada ao autoconhecimento.” Por isso, é importante buscar o máximo de informações sobre a carreira que se pretende seguir, incluindo o tipo de rotina dos profissionais. Isso também vale para a escolha do emprego: é preciso saber bem qual o perfil da empresa, quem compõe a equipe e, se possível, qual a personalidade do chefe. “As pessoas podem se adaptar a muitas situações. O que ninguém pode, porém, é enfrentar um obstáculo que mexa com seus valores”, explica Fernanda. Cobrança haverá em todos os lugares. O tom e a forma de tratamento, porém, poderá ser um problema para alguns, e para outros não. “Há funcionários que não se importam com uma reação exagerada do chefe, porque conseguem racionalizar. Outros não são assim. Não há um perfil correto e outro errado”, diz. Se a adaptação ao ambiente pode ser uma alternativa, há outra escolha que se transforma em convite automático para a frustração: esperar que o chefe ou os colegas mudem. “Não se pode ter esse tipo de coisa. O máximo que podemos fazer é tentarmos mudar nós mesmos.”
Nova geração Para Barcaui, da FGV, as empresas que ignoram a felicidade dos funcionários podem ter cada vez mais problemas para encontrar talentos. Os profissionais mais jovens, da chamada geraçãoY, não topam qualquer situação de trabalho. “Eles sofreram com a ausência dos pais, que trabalhavam demais, e viram também as consequências para a vida deles: divórcio, doenças. Não querem isso para eles”, destaca. O administrador de empresas Guilherme Pereira sabe bem o que é isso. Depois de trabalhar em várias empresas grandes, decidiu que não queria mais isso para ele. Criou, com outras pessoas, o Movimento Buenaonda, uma consultoria com sede em São Paulo que tem por objetivo exatamente prestar consultoria a empresas que pretendem se reorganizar para garantir mais felicidade no ambiente de trabalho. Com grandes clientes, incluindo multinacionais, o Buenaonda não oferece os serviços: trabalha apenas para quem bate à sua porta. O foco é desenvolver a comunicação, a autonomia e a excelência do resultado, que a equipe considera essenciais para a felicidade.
Ovo ou galinha O senso comum imagina que as conquistas, incluindo as profissionais, são decisivas para uma pessoa ser feliz. Mas a psicóloga Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia, mostra que é o oposto: pessoas felizes têm mais capacidade de perseguir seus objetivos e adquirir os meios para conquistálos. O ideal, portanto, é ter uma vida equilibrada, convivendo com amigos e a família. Isso torna qualquer um mais satisfeito, inclusive no trabalho.
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Economia
Editor: Vicente Nunes vicentenunes.df@dabr.com.br 3214-1148
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7 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sexta-feira, 26 de dezembro de 2014 Bovespa
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Quanto custa a felicidade
A arte de equilibrar desejos de
consumo e finanças
Satisfazer carências emocionais por meio de gastos descontrolados pode resultar em problemas que transformarão a vida em um inferno
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er feliz, entre tantas definições, pode ser entendido pela segurança de que não faltará nada para si nem para as pessoas de quem a gente gosta — o que implicitamente traz a ideia de um futuro em que será possível desfrutar do afeto delas com maior tranquilidade. “Felicidade é consumo”, resume, sem rodeios, o professor da escola de negócios Ibmec Marcos Sarmento Mello. Então as pessoas que já passaram por metade da trajetória da vida, aproveitaram seus prazeres e ainda construíram algum patrimônio devem ser as mais felizes da sociedade, certo? Não é bem assim. Essa hipótese não se confirma pelas evidências encontradas pelo Núcleo de Estudos sobre Felicidade e Comportamento Financeiro, da Fundação GetulioVargas (FGV) em São Paulo, um centro de pesquisas dedicado à nova onda da economia da felicidade. Pesquisa realizada pelo núcleo entre os paulistanos encontrou altos índices de satisfação entre os mais jovens e entre os mais velhos. Os piores números ficaram na faixa de 40 a 49 anos, formando um gráfico na forma de “u”. “Essa é a faixa etária com maior ansiedade, porque concentra pessoas que acham que já deveriam ter realizado muitas coisas, mas veem que as metas estão incompletas, aquém do que esperavam”, comenta Fábio Gallo, coordenador do núcleo da felicidade da FGV. “A partir dos 50, as pessoas tendem a se conformar, pensando que aquilo que elas têm é o que foi possível conseguir, portanto está bom”, completa. A ideia agora é partir para uma pesquisa nacional envolvendo satisfação e dinheiro. Gallo criou o núcleo exatamente por ter identificado carência de estudos envolvendo essa relação. “Havia tanta gente estudando a felicidade, por que não nas finanças?”, questiona.Trata-se de um viés, aliás, mais apropriado para entender as carências do que as realizações neste momento pouco auspicioso que atravessa quase todo o mundo, mas especialmente aqui. “Na Europa, as pessoas tiveram de adiar a aposentadoria por causa da queda de valor dos ativos com a crise iniciada em 2008. E, aqui, os bancos estão mais arredios para emprestar”, conta.
Endividamento Mesmo entre os funcionários públicos mais bem pagos, há muitos que estão pendurados em empréstimos. Na Advocacia-Geral da União (AGU), por exemplo, aproximadamente um quarto do quadro de 11 mil pessoas espalhadas pelo país tem parte do contracheque subtraído para o pagamento do consignado. Muitos recorrem a instituições financeiras menores, que cobram juros mais altos. E fazem isso exatamente porque já estão com excesso de débitos nos grandes bancos. Há casos de servidores que chegam a administrar uma dezena de empréstimos, muitos dos quais contraídos para pagar uma parte dos anteriores. Empresas privadas, que, diferentemente do setor público, precisam se esforçar para reter talentos, oferecem a seus funcionários serviços de apoio e
aconselhamento financeiro. O temor por trás desse benefício é que os problemas nessa seara se transformem em fonte de infortúnios, com o potencial de contaminar o desempenho no trabalho. Especialistas afirmam que a origem das angústias no orçamento familiar está na distância entre o padrão de vida que se quer e o que cabe na renda. Evita-se essa rota de dois modos: buscando um emprego melhor ou adaptando suas expectativas à realidade. “As pessoas que se dizem mais felizessão asque conseguiramcumprir o que planejaram para as suas vidas”, afirma Gallo. Doutor em filosofia, ele aponta para o fato de que há muitas interpretações possíveis para a felicidade. Exemplifica com o pensamento do pai da psicanálise, Sigmund Freud, para quem esse sentimento era algo externo ao homem, uma meta sempre inatingível, a não ser por breves momentos especiais de cada dia. Na linha da ironia germânica, o poeta Goethe dizia que não poderia haver nada mais chato do que uma série de dias felizes.
Filosofia Divergências acadêmicas à parte, uma certeza para Gallo é que “não é o grau de riqueza que determina a felicidade”, mas sim a capacidade de usufruir da vida em comunidade, compartilhando o tempo principalmente com a família e os amigos. Se, como dizia o filósofo Jean Paul Sartre,“o inferno são os outros”, o paraíso também parece estar no próximo. Até mesmo pesquisas com foco em consumo corroboram essa ideia. Entre os brasileiros, 69% dizem que sua prioridade é equilibrar a vida profissional e a pessoal, mostra levantamento que acaba de ser realizado pelo Instituto Qualibest, a pedido da American Express. E, para isso, 55% estão dispostos a ganhar menos a longo prazo, desde que isso não os deixe com a conta bancária no vermelho. Para o presidente da American Express no Brasil, José Carvalho, essa disposição das pessoas em agir com equilíbrio no lado pessoal e nas finanças “permitirá que tenham uma vida mais enriquecedora”.Masháinformaçõespreocupantes em pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) demonstrando que grande parte dos brasileiros compra por impulso em momentos de angústia, apenas para se livrar da tristeza. Isso está longe de ser um padrão saudável de consumo. Se comprar sem pensar com frequência é algo negativo, sobretudo para neutralizar a tristeza, “é bom que a gente se permita fazer isso de vez em quando, sem comprometer a conta bancária”, nota Sarmento, do Ibmec. É como dar um presente para si. Mas pesquisas mostram que presentear os outros também é uma grande fonte de alegria. Aliás, proporciona prazer mais duradouro do que quando se adquire algo para uso próprio. O dinheiro ajuda, portanto, a comprar a felicidade, só que, no caso da felicidade alheia, a relação custo benefício é ainda melhor.
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8 • Economia • Brasília, sexta-feira, 26 de dezembro de 2014 • CORREIO BRAZILIENSE
Quanto custa a felicidade
O poder da disciplina
Olhar para o futuro é vital para aqueles que buscam qualidade de vida. E isso passa pelo planejamento e pela poupança Ed Alves/CB/D.A Press - 7/2/13
Desrespeito é comum
» PAULO SILVA PINTO
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felicidade costuma visitar com maior frequência as pessoas ousadas e as espontâneas, mas também as que trabalham duro e as que sabem cuidar do futuro. Não há contradição entre os atributos da liberdade e os da disciplina. E, nessa segunda categoria, um item importante é a poupança. “Os brasileiros ainda não têm costume de se planejar, apesar de estarem melhorando. Isso se aprende com os pais, como hábito. E é algo que as gerações que são as mais velhas hoje não têm, porque o período de inflação alta, antes do Real, tornava isso inviável”, afirma Marcos Sarmento Mello, professor da escola de negócios Ibmec. Não há limitações, avisa Mello, que justifiquem deixar de guardar um pouco da renda. Aliás, não se deve falar nunca em sobra do fim do mês.“O dinheiro que se economiza tem de ser o primeiro item do orçamento doméstico, antes de todas as contas básicas. Nem que sejam apenas R$ 500. O nível de renda não é tão importante. Conta mais a disciplina ao longo do tempo”, avalia Sarmento, que é sócio da consultoriaValorum. “Há pessoas que recebem cinco salários mínimos e conseguem ter uma vida confortável e tranquila, enquanto funcionários públicos com altos salários vivem muitas vezes às voltas com problemas financeiros”, comenta. As pessoas que sabem poupar se livram do tipo de gasto que mais pune as famílias brasileiras: o custo dos empréstimos. Num país com baixíssima taxa de poupança, agravada pelo fato de o governo ser incapaz de conter os dispêndios, cobram-se juros que estão entre os mais altos do mundo. Além de não se submeter a taxas punitivas, os poupadores conseguem usar essa desvantagem
Consumidores costumam sair às compras atraídos por reduções de impostos, como no caso dos eletrodomésticos. Nem sempre a despesa compensa do país a seu favor. Embora as remunerações dos fundos de investimentos sejam bem inferiores às taxas cobradas pelos bancos dos devedores, também estão bem acima do patamar internacional. “Quem guarda uma parte do salário é capaz de trocar de carro a cada três anos, de fazer viagens internacionais e até mesmo de comprar a casa própria à vista ou com uma entrada considerável”, avisa Sarmento. Além de usar os juros para multiplicar a renda, os poupadores têm a seu favor o fato de terem caixa disponível. Podem, assim, aproveitar as boas oportunidades que aparecem, por meio de promoções, ou de reduções de impostos, como a que contemplou os carros e os eletrodomésticos no ano passado. No mercado imobiliário, quem tem reservas, paciência e atenção também consegue fazer bons negócios.
Teoria dos potes Não basta, porém, guardar. É preciso saber para quê. O planejador financeiro Felipe Chad, da DX Investimentos, aconselha que não se misturem os canais. Ele se baseia nos preceitos da teoria dos potes, criada na Wharton, escola da negócios da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. São três os recipientes separados da nossa poupança: o da dignidade, o do estilo de vida e o do conforto. No primeiro, é preciso ter algo para garantir a queda de renda, no caso de perder o emprego, por exemplo. É importante deixar ali algo em torno de 5% a 10% do total que se reserva a cada mês. Para um casal em que um dos dois cônjuges é funcionário público, por exemplo, esse risco é menor; portanto pode-se ficar no piso. Para um empresário, com gran-
de variação na renda, deve ficar no topo, ou mesmo acima dos 10%. Para alguém que tem um emprego com carteira assinada, o ideal é ficar no meio do caminho. O pote do estilo de vida deve ficar com uma parte maior, entre 10% e 15% do que se poupa. É isso o que vai garantir a compra do carro novo ou de outros bens de consumo duráveis que não cabem no orçamento do mês. Por fim, o pote do conforto é o que será destinado à aposentadoria. Ele fica com 70% a 80% do montante que se deixa de lado na renda mensal. Sobre o montante que se deve guardar, há diversas opiniões. Recomenda-se, em geral, 10% do salário. Chad coloca o piso um pouco acima disso: 15% da renda líquida, depois de todos os descontos. Algumas pessoas conseguem chegar a 30% ou 40% .
Sociedades igualitárias Morar em outro país depois de se aposentar pode ser uma boa alternativa para ampliar a qualidade de vida. Pesquisas mostram que as pessoas tendem a ser mais felizes em sociedades igualitárias e com bons serviços públicos, o que está ainda longe de ser o caso do Brasil. É melhor ter um padrão de classe média na Europa do que ser rico aqui, e enfrentar todo o estresse, da insegurança às ruas esburacadas. Conseguir visto de residência permanente em outro país não é difícil para quem já consegue amealhar um patrimônio razoável. Mas, além do conforto econômico, é preciso levar em conta outros fatores, como a convivência com amigos e família — itens primordiais para a felicidade, segundo especialistas.
Além de usar bem o dinheiro na hora de ir às compras e ficar de olho no extrato bancário para não cometer irresponsabilidade, é preciso, muitas vezes, ter paciência para recorrer aos lojistas e fabricantes nos casos em que o produto resulta em frustração, o que é uma grande fonte de desgosto para muitas pessoas. Carlos Thadeu de Oliveira, gerente do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), afirma que a relação entre empresas e clientes vem melhorando em alguns casos, mas não em todos. “Muitas delas são rápidas em resolver as coisas quando há reclamações em redes sociais, mas não apresentam a mesma disposição quando são procuradas diretamente”, conta. Outra contradição está no fato de que 80% dos problemas processados pelos Procons são resolvidos com uma simples ligação dos órgãos para os serviços de atendimentos ao consumidor das empresas.“Certamente, em quase todos esses casos, a pessoa já ligou antes para o SAC das companhias. Por que a empresa não resolveu o problema antes?”, indaga ele, já apresentando a resposta: “Porque é mais barato resolver só alguns casos, em que o cliente insiste, do que solucionar todas as queixas logo que aparecem”. Maria Inês Dolci, da Proteste, vai na mesma linha. “Muitas empresas são reticentes em dar solução aos consumidores”. Uma saída para resolver os impasses seria globalizar a relação com as companhias, algo em que o órgão vem investindo. “Devemos tornar a reclamação de qualquer consumidor em um caso internacional para forçar a solução”, frisa. (PSP)
>> entrevista RUBENS SAKAY Consultor afirma que os mais pobres são felizes porque o sentimento de conquista é passageiro. Daí, a importância de focar no pessoal
É um erro apostar tudo no material
Minervino Junior/CB/D.A Press - 9/12/14
anos em um setor que passa por muitas dificuldades. Empresas que já são eficientes podem ser beneficiadas pelo foco na felicidade? Sim. Pense no atendimento de balcão. Se o indivíduo consegue chegar ao trabalho feliz e transmitir um sorriso autêntico, que vem do coração, o cliente se sentirá acolhido. Empresas que colocam entre as exigências do funcionário o sorriso fazem com que muitas vezes ele entregue algo falso. Faz mal à saúde e não convence. O ser humano tem a capacidade de identificar o que não vem de dentro. Os bebê percebem.
O engenheiro Rubens Sakay, que enveredou pela área de recursos humanos em sua carreira, passou a se dedicar dez anos atrás ao estudo da felicidade. Para ele, é muito difícil uma pessoa ser feliz se apostar tudo nas coisas materiais.“O cheiro do carro novo passa logo. Isso explica por que pessoas pouco abastadas conseguem ser felizes”, diz. Ele aconselha às empresas que invistam no bem-estar de seus empregados, pois o retorno é enorme.“Um vendedor feliz vende o dobro”, assegura. Veja os principais trechos da entrevista de Sakay, que dá consultoria na área de petróleo e é autor do livro Hoje pode ser um dia melhor. (PSP)
As pessoas não deveriam se preocupar com dinheiro?
A preocupação deveria ser calibrada pela compreensão de que isso significa 10% da felicidade. Se a pessoa colocar o foco no crescimento pessoal, nos 40%, vai se beneficiar de algo interessante que se observa: os 10% conjunturais serão valorizados. E até o que você é pode ser usado a seu favor, conforme mostra a epigenética, uma fronteira da ciência. Mas, se não se esforçar, a pessoa perderá a grande chance de ser feliz. Correrá o risco de se dar conta de que a velhice chegou cedo demais e a sabedoria, tarde demais. Como é isso do ponto de vista das empresas? A pessoa feliz vende o dobro, erra menos, tem menos conflitos,
O trabalhador que entra em um ambiente ruim de uma empresa encontrará pessoas que escondem informações, fazem fofoca. Se ficar ali, pode produzir pouco e adoecer”
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O que faz a pessoa ser feliz? A explicação genética fica com 50%. Outros 40% têm a ver com o que o indivíduo traz de dentro de si: a intencionalidade, a atitude frente à vida. Aquilo que quase todo mundo aposta como a razão para a felicidade — o emprego bom, o bemestar financeiro — representa apenas 10% da pizza. É difícil a pessoa ser feliz se apostar tudo em cima de coisas materiais. Para todas essas coisas, o homem se adapta muito rapidamente. O cheiro do carro novo passa logo. Isso explica por que pessoas pouco abastadas conseguem ser felizes.
não rouba, resolve mais problemas. Médicos felizes fazem diagnóstico mais rápido e mais preciso. O Google, por exemplo, tem um ambiente muito descontraído. Por trás disso há o Chade Meng Tan. Tirando o Larry Page, é a pessoa mais conhecida na empresa. O maior benefício é para a saúde, o que reduz custos enormemente. Quando as pessoas são felizes, a ocitocina, um hormônio protetivo, é liberado. Isso explica por que a pessoa feliz falta, em média, 13 dias. A pessoa infeliz é debilitada. Por que, então, todas as empresas não fazem isso? Essa onda é recente. A ciência apresentou os resultados nas últimas três décadas. Hoje, nas
organizações, nós ainda vivemos um mundo que é do resultado, da eficiênica, da estratégia, da liderança. Tudo é explicado pelo produto. Há poucas empresas que têm alguma iniciativa deliberada em prol da felicidade, como o Google. Outro bom exemplo é a Southwest Airlines, que colocou o amor como valor máximo. O código das ações dela na bolsa é LUV (semelhante a love, amor em inglês). A empresa decidiu até demitir um executivo de alto escalão que não respeitava esse mandamento. Ele era tão eficiente que teve de ser substituído por duas pessoas. Mas, no cômputo geral, a prioridade do amor só aumenta o lucro empresa, que tem resultados positivos há 40
E já se está fazendo isso? Os avanços virão lentamente. No trabalho que eu faço nas empresas, eu noto que poucas veem isso do ponto de vista da felicidade. Valorizam a festa de aniversário, a animação. Essa parte é o verniz. Mas já é importante. Quais são os riscos de um ambiente ruim para o indivíduo? Ele vai encontrar pessoas que escondem informações, fazem fofoca. Se ficar ali, pode produzir pouco e adoecer; ou pode ir para outra empresa para ser feliz, mesmo ganhando menos, porque o salário faz parte dos 10%. Nas boas empresas, a cobrança não existe? Existe e é fundamental. Esse processo não é conflituoso. Resolver problemas é o nosso dia a dia. Mas eles serão resolvidos de modo mais saudável.