Homenagem póstuma a HarveySpencer Lewis

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Homenagem póstuma a Harvey Spencer Lewis V Publicado no Rosicrucian Digest de setembro de 1939 por seu filho Ralph M. Lewis, Imperator da AMORC de 1939 a 1987

A TRANSIÇÃO DE NOSSO IMPERATOR, elevado à mais alta Iniciação, ocorreu às 13h15min da quarta-feira, 2 de agosto de 1939 ão escrevo sobre a morte de um homem, mas sobre alguém cuja influência faz e fará época. Sempre houve e sempre haverá homens cuja audácia, espírito de conquista e de realizações intelectuais deixam tal marca na consciência de seus contemporâneos que eles viverão para sempre na mente dos homens do futuro como seres notáveis por seus atos. O homem sobre quem escrevo nunca revolucionou qualquer campo da ciência nem pavimentou qualquer caminho

atravessando uma floresta virgem para revelar novos espaços, e talvez não tenha jamais construído qualquer dispositivo maior ou mais elaborado que seus compatriotas contemporâneos. Em vez disso, estou prestando contas da transição de um humanista – Harvey Spencer Lewis – para quem o sucesso consistia em elevar as vidas e as consciências dos seres humanos, e era nisso que ele encontrava sua felicidade. Sua glória e o renome que justamente alcançou não devem ser procurados entre as coisas de ordem material que construiu ou que fundou, pois seus brilhos passarão. Em vez disso, o que o distingue deve ser buscado em sua inventividade, em sua

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visão da vida e na forma de enfrentar as dificuldades da vida, que ele instilou no espírito de milhares de pessoas através de seus conselhos. Nos arquivos do tempo, serão creditados a ele não um ou dois atos extraordinários, mas dez mil projetos ainda não concretizados. Por trás das ideias ainda não materializadas ancoradas no espírito de milhares de pessoas, ideias que a qualquer momento no futuro receberão aclamações, encontra-se a influência dos preceitos que prezou, ensinou e colocou em prática. O coração de cada uma dessas pessoas permanece sempre pleno de gratidão a ele, por tê-las mostrado o caminho. Sua vida não deve ser considerada retrospectivamente e com pesar pelo fato de ele não ter podido continuar vivendo por mais tempo; na verdade, basta contactar uma pessoa à sua volta para perceber nela a presença de seus princípios e de seus ideais, pois ele continua vivendo no espírito e na personalidade de todos aqueles a quem ensinou de forma tão sincera os caminhos da vida e que, com dedicação, colocam em prática aquilo em que acreditava de todo o seu coração. Não sei se foi uma provação pela qual todo humanista deve passar ou o resultado de uma combinação de circunstâncias provocada por sua vida – como aconteceu com seus predecessores rosacruzes eminentes –, mas o fato é que ele foi o mais incompreendido dos homens. Quando se tratava de um presente que ele dava a alguém, era acusado de “querer aparecer”. Se, através de seus sacrifícios pessoais, considerasse necessário enfrentar uma situação adversa de natureza financeira, também recebia invectivas do tipo: “Se você é um Mestre das riquezas materiais, deveria possuí-las em profusão”. Quando, mais tarde no decorrer da vida, procurou atenuar suas preocupações simplesmente

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assumindo alguma atividade que lhe proporcionasse algum conforto, eram-lhe lançadas acusações de “negociante”, insinuando que ele estava prostituindo a confiança que tinha sido depositada nele assim como seus talentos. Cada vez que revelava que tinha recebido uma honraria – entre as incontáveis que recebeu da parte de pessoas ou de instituições famosas devido a suas realizações pessoais – sempre havia alguém que o acusava de “querer tirar vantagens” e, quando se abstinha de mencionar essas honrarias, era então afrontado e desafiado a provar que era digno de ocupar a função que era sua. Contudo, cada avanço da AMORC na América do Norte e do Sul, dentro do serviço que esta prestava aos membros, pelas facilidades e vantagens de que estes podiam então se beneficiar, foi resultado de seu planejamento, de sua visão e de sua excelente capacidade de execução. Retirá-lo da Ordem ou fazê-lo se afastar dela, durante os primeiros anos de seu restabelecimento, teria sido como suprimir as fundações de um grande edifício, pois era em seu gênio que ela se apoiava. No entanto, à medida que a AMORC, nesta jurisdição, ganhava reconhecimento como instituição cultural, educativa e humanista e mesmo humanitária – tudo isso tendo sabidamente uma base material sólida – isso provocava involuntariamente e sem que se desse conta disso, a inveja, a rivalidade e o ódio de certos indivíduos contra ele. Essa maldade era dirigida basicamente não contra a AMORC, mas contra a personalidade principal da qual dependia sua evolução, em outras palavras, contra nosso Imperator H. Spencer Lewis. Há provavelmente poucos homens na época moderna que tenham sido objeto de tantas conspirações, intrigas e tentativas deliberadas de caluniar seu caráter, de destruir


H. S. Lewis por volta de 1939.

também a reputação de sua família, de arruinar o trabalho de sua vida e mesmo de importuná-lo até a morte, se possível. Nenhum romance melodramático, com todos os embelezamentos que uma imaginação fértil pode conceber, chega perto dos artifícios e dispositivos empregados pelos inimigos da luz para darem fim ao Imperator e o destruírem com sua obra. […] Mas em todos esses processos litigiosos nos quais seu caráter, suas atividades e a reputação da organização foram contestados, tanto ele quanto a AMORC sempre saíram vitoriosos, pois as acusações apresentadas nunca tiveram fundamento. […] Nem uma só vez durante todos esses anos em que teve que enfrentar essas ofensivas sempre mais fortes, nem uma única das acusações feitas contra ele foi sustentada por qualquer prova, seja em audiência pública ou em qualquer outro local onde surgisse a oportunidade de uma defesa pessoal justa. Sua mente e vontade permaneceram indomáveis. Foi sempre do Cósmico que lhe vinha imediatamente uma suplementação de força que o revigorava no momento em que tinha mais necessidade, e até seus adversários admiravam sua capacidade de defesa e sua mestria

quando tinha que enfrentar cada ataque dirigido a ele. A defesa da AMORC, era com isso que ele se preocupava permanentemente. Sua devoção pela Rosacruz era mais do que amor. Era uma paixão que estava profundamente ancorada dentro dele. Uma calúnia contra a Ordem e seu rosto empalidecia, como se tivesse sofrido um golpe físico dirigido à sua pessoa. Jamais se desviou dos princípios aos quais aderiu desde o início quando restabeleceu a Ordem nesta Jurisdição, depois que, de terras distantes, lhe foram concedidas a confiança e a autoridade para fazê-lo. Uma comparação entre seus escritos recentes e aqueles que datam de mais de vinte anos mostra o exato paralelismo entre seu idealismo, sua fé e suas esperanças de então e as de agora. Em tudo o que fez, não se consegue encontrar nada que apresente um desvio perceptível em relação a seus princípios. Ser um verdadeiro humanista requer basicamente não ser egoísta e gostar de doar. Em relação à ausência de egoísmo, todos que o conheciam perceberam isso. Dotado de grandes talentos que se manifestaram cedo em sua vida, e se beneficiando de um excelente patrimônio enquanto concluía seus anos de estudos escolares em Nova Iorque, dedicou-se, ainda jovem, a pesquisas científicas em algumas áreas e a uma profissão na área das artes. Após um período em que esteve ligado a um grande jornal de Nova Iorque, entrou no mundo da publicidade, tornouse um eminente consultor em publicidade, em nível nacional, dentro de uma das maiores agências publicitárias dos Estados Unidos. Ainda numa idade precoce, acumulou uma fortuna considerável, mas seu interesse principal continuava sendo o misticismo e a filosofia. Após ter, em momento oportuno, se beneficiado de alguns contatos aqui e no exterior, e

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depois ter sido devidamente iniciado e preparado e após lhe ter sido confiada a autoridade necessária para estabelecer a AMORC em nosso país (E.U.A.), afastou-se parcialmente do mundo dos negócios e começou, sem qualquer ajuda financeira externa, a utilizar seus recursos financeiros pessoais para dar prosseguimento ao rosacrucianismo, lutando contra as adversidades. Finalmente, seus recursos particulares acabaram. Nessa época, ele dedicava todo o seu tempo à AMORC e não tinha qualquer outra renda. A luta foi, evidentemente, difícil. Como outros Mestres e Instrutores que o precederam, sofreu traição da parte de alguns em que tinha depositado sua confiança, e sofreu um grande número de infortúnios e contratempos que teriam alquebrado o espírito de homens menos fortes ou cosmicamente menos inspirados. Não tendo mais nada de ordem

Ralph M. e H. Spencer Lewis.

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material a doar, empreendeu aquilo que foi seu maior sacrifício: a doação de si mesmo. Durante longas horas do dia, e até altas horas da noite, com a ajuda e o afeto de sua mulher, ele trabalhava. Domingos e feriados eram dedicados a pesquisas ou aos trabalhos tediosos de secretaria, pois não havia fundos disponíveis para pagamento de datilógrafos ou de assistentes. Até equipamentos muitas vezes simples, usados para realizar tarefas de administração, eram adquiridos – com sacrifício suplementar – com o que lhe restava de fundos pessoais, recursos que ele necessitava não tanto para seu conforto material, mas acima de tudo para sua própria sobrevivência. Poucos membros da época, e bem poucos membros de agora, têm conhecimento disso. […] Mas é preciso reconhecer que muitos se deram conta da vastidão de sua tarefa e o apoiaram em inúmeras horas de tristeza que, na maioria das vezes, ele guardava à chave, no fundo de si mesmo. Não posso deixar de relatar que, no momento de suas provações mais duras, ninguém mais o acusou de “negociante”, de dilapidar nem de desviar os recursos da Ordem para seu uso pessoal; devo também dizer que foi nesse período que houve um esforço combinado de conspiradores tentando eliminá-lo da Ordem ou de apoderar-se da AMORC, se isso tivesse sido possível. A razão é simples: os recursos da AMORC eram pouco importantes e suas responsabilidades imensas, seus bens de pouco valor, seu futuro, a longo prazo, grandioso e a recompensa esperada por isso, longínqua. A Ordem tinha um número tão pequeno de membros que não representava qualquer valor para os grupos, sociedades ou indivíduos que se consideravam então como rivais, para tentarem por meios dissimulados – como ainda fazem atualmente sem


sucesso – desviar da Ordem seus membros construindo uma falsa visão dela. No decorrer dos anos que se seguiram, em sua vida pessoal, em casa, foi submerso – por telégrafo ou por telefone, a quase todas as horas do dia e da noite – com pedidos de ajuda, de doações que os membros solicitavam. Doou de sua energia e de sua força em milhares de entrevistas pessoais e em contatos psíquicos e Cósmicos, durante toda a vida. Todos os que o conheceram pessoalmente sabem que ele tinha o hábito de trabalhar até altas horas da noite – além de suas obrigações normais – em qualquer assunto de pesquisa de caráter científico, demonstrando os princípios da Ordem. O órgão de cores, conhecido pelo nome de Luxatom, e o Planetário que ele projetou e construiu são apenas duas entre as inúmeras coisas que realizou, que exigiram dele longas horas de trabalho, à noite, durante semanas. Decorou pessoalmente inúmeros Templos desta Jurisdição da Ordem e projetou várias edificações do Parque Rosacruz. Cada capa do Rosicrucian Digest e das publicações que o precederam foram o resultado de seus talentos artísticos pessoais. Alguns de seus muitos quadros estão afixados nas paredes dos prédios do Parque Rosacruz. Escreveu várias obras que lhe valeram distinções internacionais e, durante todos esses anos, projetou, organizou e escreveu a maior parte da literatura publicada pela AMORC – que, incidentalmente, tem sido assiduamente plagiada e copiada tanto do ponto de vista da concepção quando da expressão, sem qualquer permissão, por organizações que se dizem místicas, algumas mesmo se autorizando a levar o título de Rosacruzes. Seu talento em oratória fazia com que ele fosse bastante solicitado por diversas sociedades e organizações como orador emi-

Ralph Maxwell Lewis, Imperator de 1939 a 1987.

nente, tanto aqui como na Europa. Falava frequentemente sem usar anotações e era com uma notável clareza que conseguia animar uma palestra sobre algum assunto especial por duas horas ou mais, se as circunstâncias exigissem, mantendo de forma intensa o interesse de seu auditório, que podia ser de cinquenta ou de dez mil pessoas. Passou pela transição à idade relativamente jovem dos cinquenta e cinco anos. É bem verdade que ele poderia – com o conhecimento que tinha das Leis da natureza e com aquele que tinha dos Princípios Cósmicos – preservar a si mesmo por longos anos. Quando advertido por amigos ou por conhecidos próximos que estava colocando sua vida em risco por causa de seu trabalho, sua resposta era: “Sei que violo certas leis, e quero e devo compensar por tal violação; mas tenho um serviço a fazer – um dever a cumprir antes de desaparecer, e não posso me furtar a isso. E isso é mais importante para mim do que minha própria vida!” E ele comprovou tudo isso. Z

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