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Frente das Próquias e Santuários: Frei João fala sobre inspiração catecumenal e conversão pastoral
FRENTE DAS PARÓQUIAS E SANTUÁRIOS Frei João fala sobre inspiração catecumenal e conversão pastoral
Frente de Evangelização das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento da Província se reuniu no dia 13 de julho por vídeoconferência para mais um momento formativo, desta vez com a assessoria de Frei João Reinert.
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Segundo o coordenador da Frente, Frei Antônio Michels, o assunto que ele traz - Iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal e Conversão Pastoral/Estrutural - é de extrema importância: como iniciar novas gerações na fé sempre foi uma questão importantíssima na evangelização, mais ainda nos dias de hoje e a Igreja está apostando no modelo catecumenal. O Ministro Provincial Frei César Külkamp, de Roma, onde participava do Capítulo Geral, desejou um “encontro de profundidade, de proximidade para todos nós”.
Este tema é o título do livro de Frei João pela Paulus. O livro está estruturado a partir das duas dimensões, as duas colunas do catecumenato, que são o querigma e a mistagogia, que ele aborda neste encontro.
Segundo o frade, o catecumenato, que se entende como uma caminhada de fé, um itinerário de introdução e aprofundamento no mistério de Jesus Cristo e da comunidade eclesial, tem levado todas as dioceses a se empenharem, de fato, para acontecer esse modelo catecumenal. “Mas a questão é que não podemos pensar apenas a iniciação sem pensar também a conversão das estruturas, um renovado modelo paroquial. Então, sempre essa relação dialética. Quem inicia também são as estruturas. Iniciar na fé é também pensar os espaços de vivência eclesial, caso contrário seria nadar e morrer na praia, numa linguagem comparativa”, observa o palestrante.
Para o Frei João, temos um bom projeto de iniciação, que vai iniciar pessoas na vida cristã, mas no dia a dia nossas estruturas acabam não dando continuidade. Às vezes, “infantiliza quem foi iniciado. À medida que a inspiração catecumenal for sendo implantada na Paróquia, as estruturas vão se renovando simultaneamente”, observa. “Se nós quisermos adultos na fé, que é o objetivo da iniciação, nós também então necessitamos de estruturas eclesiais adultas”.
Segundo Frei João, a estrutura catecumenal está organizada com base nessa autocompreensão, ou seja: se o catecumenato se entende como caminho de introdução no mistério de Cristo e da Igreja, então seus elementos pastorais revelam essa disposição; tem-se clareza de onde se parte e aonde se pretende chegar.
O que essa inspiração catecumenal pede de nós, frades? Qual pode ser a nossa grande
Acontribuição para, de fato, termos uma Igreja iniciada, uma Igreja que inicia, uma igreja não só sacramentalista? Frei João explica que a palavra catecumenato vem do Grego “Kata kein”, formada por “kata”, “do alto”, mais “ekhein”, “ecoar”; é a Palavra que vem do alto e ecoa na existência do humano.
“Então qual é o DNA, o que está por trás dessas duas realidades: Iniciação e conversão paroquial? Por trás dessas duas realidades está a relação, novas relações eclesiais, teológicas e humanas. Iniciação à vida cristã é nada mais do que essa nova relação com o mistério e com a Igreja”, explica Frei João.
O frade lembra que a nova Paróquia (Documento 100 da CNBB) é entendida como comunidade de comunidades. “O que está por trás dessa definição são novas relações. Relações entre clero e leigos, pastorais e movimentos, matriz e comunidades, etc. O que está por trás delas são as relações. Pensar em iniciação à vida cristã é pensar na relação com o mistério, mas não pensar
as relações eclesiais é nadar e morrer na praia. Então, a questão central é essa: é preciso pensar uma paróquia não somente que realiza a iniciação, mas uma paróquia que seja toda ela iniciática?”, acrescenta.
Para o frade, na paróquia iniciática a iniciação acaba sendo um paradigma evangelizador. “Ela não é mais uma pastoral. Na verdade, tudo que é feito na Igreja é iniciação”, ressalta, deixando algumas perguntas: O atual “modelo” paroquial é iniciático e/ ou, ao contrário, contribui para o abandono religioso? A nossa paróquia é modelo onde os ‘cristãos nascem’ ou ‘se tornam’? Como seria uma estrutura em que se “torna cristãos”? Que perfil de evangelizador é preciso para a consolidação do catecumenato?
Mas segundo ele, está em voga outro paradigma que se conhece bem: o retorno desse fenômeno do fundamentalismo, que é o paradigma da instrução/doutrinação. “Nosso ministério pastoral está pautado em qual paradigma? Nossas estruturas estão pautadas em qual paradigma?
Paradigma do catecismo, da objetivação da fé, do saber sobre, da moral. Não que essas dimensões não sejam importantes, mas quando nesse paradigma essas dimensões se tornam prioridades, pressupondo desse primeiro anúncio, então esse o cristianismo passa a ser mera doutrina”, explicou, indicando um livro sobre o tema: “A força do passado na fraqueza do presente. O tradicionalismo e suas expressões”, do teólogo João Décio Passos. “Está retornando com força o fundamentalismo que entende a evangelização pelo paradigma da doutrinação e no sentido mais negativo da palavra. Vejamos bem: se a iniciação é um paradigma, então a nova identidade do evangelizador é a identidade mistagógica”, orienta.
Palavras que ajudam a entender os dois paradigmas:
No paradigma dos
‘Cristãos nascem’: massa, sacramentalização, enfase no conteúdo doutrinal, obrigaçao e dever.
No paradigma dos ‘Cristãos se
tornam’: pessoa, experiência, querigma, discernimento, apaixonamento
Iniciação como paradigma pastoral
Frei João explicou que a própria etimologia de iniciação - entrar para dentro, quer ensinar viver como cristãos em todas as dimensões. O objetivo não é a catequese mas é a iniciação. Ela ensina viver como cristãos. Ela quer iniciar em todas as dimensões: na vida litúrgica, na vida social, na vida caritativa, na vida sacramental, na vida comunitária, etc. “Urge entender cada vez mais a evangelização como iniciação, a partir desse paradigma evangelizador”, enfatiza o frade.
O que significa, de fato, mistagogia?
A Paróquia mistagógica é aquela que consegue fazer essa passagem de uma prestadora de serviços para uma paróquia, de fato, que prioriza o anúncio, a experiência, o encontro pessoal, o testemunho e todas outras dimensões da fé.
Onde está a missionariedade da inspiração catecumenal?
No Percurso de fé
Ao dizer que iniciação é um percurso de fé, significa que no centro está a pessoa e não programas definidos. Frei João destaca a pastoral deve ser entendida cada vez mais como percurso. “E é uma diferença muito grande entre percurso x curso. No centro está a pessoa, seu ritmo, a sua descoberta, a sua abertura ao mistério”, assinala.
Outra riqueza dessa metodologia: não pressupõe o anúncio, tanto é que o processo começa pelo pré- catecumenato. Pré-catecumenato é a parte mais missionária do percurso porque começa pelo anúncio. Uma evangelização, muitas vezes, que não parte do anúncio, pressupõe, talvez esteja no paradigma da doutrinação.
Pressupor-impor-propor. O fundamentalismo é uma forma de impor, o autoritarismo é uma forma de impor. O propor, o cativar, oferecer parece a lógica do paradigma da iniciação. Então, para nós, é muito interessante: no cristianismo sociológico em que havia mais crença do que fé, mais religião do que fé, mais dogmas do que experiência, nós éramos mais pessoas da doutrinação, digamos assim. Nós contávamos com a força da instituição. Ora, hoje, isso cai por terra, o que nos provoca a rever nossa identidade. O que é ser homem do querigma, do anúncio, dessa presença, dessa densidade cristológica?.
Para Frei João, para nós esse tempo do pré-catecumenato é essa forma de reencantamento, de redescoberta.
Outra riqueza desse percurso é a clare-
za em quem se é iniciado; clareza sobre o que é vida cristã; o lugar dos sacramentos no processo; clareza por onde começar; clareza onde se quer chegar; clareza de quem inicia; clareza da centralidade da comunidade, etc.
“Todo problema de moralismo - pessoas moralistas em nome da religião – se deve a não clareza do núcleo da fé cristã, ou seja, coloca o canal no lugar da fonte.
Clareza sobre o que é o querigma
Segundo Frei João, nessa perspectiva, o Papa Francisco é um dos papas mais querigmáticos e mistagógicos que a Igreja já teve. “Ele tem clareza sobre o que é querigma. Ele entende, de fato, o cristianismo não como doutrina mas como experiência. Não é por nada que ele está sendo atacado por pessoas que
colocam o querigma abaixo da doutrinação”, observa o frade. O anúncio querigmático é realizado mistagogicamente, torna-se algo contagiante e envolvente, apaixonante, provocativo, dinâmico, convicto.
Regra de ouro: Aquilo que não é celebrado não pode ser apreendido em sua profundidade e em seu significado para a vida. É nesta perspectiva que outra riqueza do processo catecumenal é o casamento catequese-liturgia.
Mistagogia
Outra riqueza da inspiração catecumenal é o que a iniciação não termina com os sacramentos; há o tempo da mistagogia. O que a etapa da mistagogia diz à conversão pastoral? Perguntou e resumiu Frei João: superar as lacunas pastorais pós-sacramentos”.
Segundo o frade, a mistagogia na inspiração catecumenal está em todo processo: Na linguagem, nos ritos celebrativos, na gradualidade do processo, na densidade da experiência, na acolhida, no catequista, no introdutor, no padrinho, na Palavra, nos sacramentos celebrativos e vividos.
“Para além da última etapa, a mistagogia é uma eclesiologia. Onde está a mistagogia na vida franciscana?”, perguntou, completando rapidamente com temas como a primeira etapa do pré-catecumenato, o pré-catecumenato e a missionariedade paroquial.
Novos espaços de anúncio/de presença de
Igreja; identidade da pastoral da acolhida; conversão das estruturas.
Frei João: Conversão eclesial é, antes de tudo, conversão de fé, volta ao essencial, com base na qual surgem outras conversões, as saídas pastorais, a missionariedade. O movimento mais importante da saída pastoral é, portanto, para “dentro”, volta ao essencial. Antes de quaisquer outros movimentos, mais do que multiplicar pastorais e serviços, a Igreja em saída aponta primeiramente para a volta ao essencial como condição de toda ação eclesial.
O encontro seguiu-se com a partilha, perguntas e questionamentos a Frei João.
Moacir Beggo
O Secretário de Evangelização da Província, Frei Gustavo Medella, apresentou o retorno da consulta feita aos leigos, mostrando os elementos (diferenciais) que não podem faltar enquanto uma paróquia (santuário, etc) franciscana?
Minoridade e pobreza: simplicidade e simpatia no trato com as pessoas; vida pobre junto com os pobres; administração sóbria, transparente, responsável, fraterna e dialogal. Espírito de Oração e Devoção: -celebração bem preparadas em todos os aspectos (ornamentação, acolhida, leituras, cantos franciscanos etc); festas franciscanas celebradas com ênfase e capricho (chagas, Porciúncula, São Francisco e outros santos franciscanos (as).
Fraternidade: - atitude de acolhida alegre em todos os ambientes e trabalhos: secretaria, templo, celebrações, encontros, reuniões etc.; - pastoral de conjunto, com interação, ajuda mútua e conhecimento entre os diversos grupos; ser “comunidade de comunidades”; - respeito às diferenças e à pluralidade; - valorização e efetivação dos Conselhos de
Administração e de Pastoral; - atuação em rede - intercâmbio e interação com outras paróquias e santuários da Província; - integração e espírito de equipe entre os frades; - espírito de abertura e integração com a Família Franciscana (OFS, Clarissas, congregações franciscanas, etc.; - escuta “ativa” dos anseios das comunidades (reuniões de toda a fraternidade com os conselhos no intuito de ouvir as lideranças); - especial atenção às famílias enlutadas (encomendações, missas de 7º dia e outras de falecidos).
Diálogo: - abertura ampla ao diálogo com o “diferente” (inter-religioso), ecumênico, poderes públicos, setores da sociedade); - atitude pastoral de escuta.
Missão evangelizadora: - disposição de ser “Igreja em Saída” e ir ao encontro da realidade e das pessoas - espírito missionário; - valorização da experiência de fé e acompanhar de perto os irmãos e irmãs; estado permanente de missão; - promoção de iniciativas missionárias (missões paroquiais); - responsabilidades compartilhadas e missão em fraternidade; - projeto pastoral e missionário em sintonia com o Plano de Evangelização; - trabalhar junto às crianças e jovens os pilares da
Espiritualidade Franciscana. JPIC: - cuidado e respeito para com a Criação; - solidariedade com os empobrecidos; ações de transformação da realidade, conscientização sobre direitos e deveres, promoção da justiça; investir na promoção do voluntariado.
Formação: - investimento na formação em todos os aspectos (liturgia, espiritualidade, missão, catequese, eclesiologia, franciscanismo etc); grupos de estudo de Documentos da Igreja (Papa Francisco, CNBB, documentos da Ordem, Província etc); formação nas plataformas on-line. Comunhão com Igreja: - participação ativa e engajada na vida da Igreja local.
Essa consulta também detalhou algumas iniciativas para formar uma Rede Franciscana de Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento.