Luto ou Melancolia (Depressão Crônica)?

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Luto ou Melancolia (depressão crônica)? Olá, seja bem-vindo a meu canal Psicanalise Ao Seu Alcance. Eu sou Crisélia, sou psicanalista e estou aqui para tirar dúvidas a respeito de adoecimentos emocionais. Hoje vou esclarecer a diferença entre luto e melancolia, ou como é conhecido popularmente entre luto e depressão crônica. Para a psicanálise existe distinção entre depressão e melancolia. Como esse vídeo não tem a finalidade de aprofundar conceitos psicanalíticos, ele tem a função apenas de orientação, eu denomino depressão crônica como equivalente a melancolia. Para isso dou a palavra crônica o significado de enraizamento e de maior dificuldade de restabelecimento dos sintomas depressivos. Então se você é estudante de psicologia ou de psicanalise ou de áreas correlatas quando me refiro a depressão crônica entenda como a melancolia descrita por Freud. Embora o luto e a depressão crônica possuam muitas características em comum existem diferenças marcantes entre elas. Mas, o que elas têm em comum? 1) fator desencadeante: situação dolorosa marcada pela perda de um objeto (que pode ser algo ou alguém) de extrema importância na nossa vida. 2) Partilham de pelo menos três sintomas: redução drástica das atividades diárias, perda do interesse pelo mundo exterior e incapacidade de amar. Mas por que é tão doloroso a perda? O objeto perdido foi fruto de muita dedicação amorosa, proporcionou sensação de cumplicidade e satisfação e, consequentemente evocou muitas expectativas positivas. A dor da perda de algo tão querido promove uma desorientação concreta e emocional. A pessoa se vê obrigada a conviver com a ausência daquilo que propiciava segurança, contribuía para seu sentido de identidade e que muitos casos era fonte de prazer.

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Luto ou Melancolia (depressão crônica)? Por que nos apegamos tanto a algo que não existe mais? Pelo medo de perder todas as boas sensações que o objeto promovia. Isso faz com que nos apeguemos mais e mais as boas recordações daquilo que perdemos na tentativa inútil de mantê-lo vivo. O que fazemos para negar a perda? Afastarmo-nos do mundo externo porque ele é a prova viva de que o que perdemos não está mais presente. A constatação da ausência do objeto amado perdido pode ser realizada através da convivência com familiares, amigos e colegas que nos recordam, através de demonstrações de carinho ou de palavras de conforto, que perdemos algo e esse pode ser o motivo pelo qual nos isolamos socialmente. A vida exige que você siga enfrente e passe a pagina. Seu trabalho, seus familiares e amigos esperam, e de certa forma cobram, que você volte a rotina. Essa expectativa pode ser sentida como exigência de abandonar o objeto querido ao esquecimento. Como sabemos que estamos aceitando a perda? Atitudes como: amar novamente, se interessar pelo mundo ou retornar as atividades diárias seria uma das provas que superamos a dor e aceitamos a perda. Quais são as diferenças entre luto e depressão crônica? Na depressão crônica a pessoa se entrega a um estado de entretecimento eterno perpetuando seu sofrimento, corroendo a sua alma e eliminando a vontade de viver. Quando aceitar a ausência permanente do objeto perdido torna-se uma tarefa impossível buscamos ganhar mais tempo mantendo-o presente na nossa psique através do adoecimento psíquico que na psicanálise denominamos de melancolia, mas que pode ser interpretada pelo seu psiquiatra como depressão recorrente. Exatamente essa insistência de negar o desaparecimento do objeto por longo período e a incapacidade de elaborar a perda que se distingue o luto da depressão crônica ou melancolia.

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Luto ou Melancolia (depressão crônica)? No luto o sofrimento é transitório, ele pode ser absorvido como sentimento de saudade sem maiores prejuízos a vitalidade da pessoa. Gradativamente a pessoa se desprende do objeto perdido e progressivamente retorna para suas atividades, sua vida social e se abre para novas experiencias amorosas e profissionais. Mas como se elabora o luto? O luto é um trabalho psíquico que demanda tempo. A mente humana necessita realizar operações psíquicas conscientes e inconscientes que a ajudem a elaborar a perda afetiva do objeto. Que operações são essas? As conscientes estão ligadas a ações a serem realizadas no mundo externo como por exemplo desfazer dos objetos da pessoa que morreu ou estar disponível para um encontro com novo pretendente. As inconscientes são mais complexas e difíceis de execução diz respeito a transformar a dor da ausência por saudades e doces recordações. É poder manter o objeto dentro de você sem negar que você está vivo e ele não. É não sem sentir culpa em ter sobrevivido a ele. É aceitar que você merece sentir o prazer de viver independente da perda. Outros movimentos importantes é conscientizar-se de sentimentos inconscientes hostis em relação ao objeto perdido. Como: ódio por ter sido abandonado ou pelo objeto não ter evitado a morte. Humanizar o objeto perdido mudando a visão idealizada do objeto como fonte de prazer insubstituível e perfeita por uma ideia de um objeto amado com qualidades e limitações humanas. Lembrando que não podemos substituir o perdido, mas podemos tentar buscar o prazer em viver a pesar da dor. O que pode correr quando não conseguimos elaborar o luto? Além do adoecimento emocional como depressão, melancolia e outros mais, podemos criar atitudes compulsivas destrutivas como uso de drogas, álcool, transtorno alimentar, consumismo exagerado, Workaholic. Outro comportamento que observei em muitos de meus pacientes enlutados é a somatização recorrente.

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Luto ou Melancolia (depressão crônica)? Por que uma pessoa busca a somatização? Em muitos casos o tempo legal disponível para ausentar-se das tarefas laborais, domésticas ou escolares não é suficiente para realizar a elaboração psíquica do luto. Dessa maneira a somatização é a forma inconsciente que a pessoa encontra para afastar-se de tudo no intuito de ganhar mais tempo para se reorganizar. Devemos lembrar que em nossa sociedade é mais aceitável um adoecimento físico do que psíquico. A doença física pode ser comprovada através de exames médicos concretos não deixando dúvida quanto a sua veracidade, enquanto o sofrimento emocional não pode ser mensurado pela ciência. Além disso, estar fisicamente doente parece um “acidente” pelo qual você não tem responsabilidade enquanto estar depressivo aponta, em muitas sociedades, uma fraqueza mental. O diagnóstico físico elaborado pelo médico não exige maiores justificativas enquanto um relatório psicológico demanda muitos esclarecimentos, que muitas vezes são sentidas como embaraçosas e evasivas ao serem feitas por um profissional que você acaba de conhecer. Por esses motivos é menos constrangedor ter uma licença das atividades por incapacidade física do que emocional. Mas porque o tempo não sana os sofrimentos? Como gosto de lembrar cada pessoa é um mundo com sua forma exclusiva de reagir a vida. Uma perda pode ser sentida inconscientemente como um trauma difícil de ser superado. E como o inconsciente é atemporal ele pode reviver um trauma indefinidamente com a mesma intensidade do fatídico dia que ocorreu a perda. Outros fatores que devem ser levados em conta já foram citados no vídeo “o que é depressão?” nesse mesmo canal. Agora vou falar de dois fatores novos: a precocidade em que ocorreu a perda e o quanto o objeto perdido era investido como fonte de segurança e identidade. A incidência desses fatores é decisiva no desfecho da superação.

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Luto ou Melancolia (depressão crônica)? Durante duas décadas de atendimento encontrei várias pessoas que seu sofrimento físico ou psíquico eram reflexo de um luto não elaborado. Pessoas que passaram décadas sem dar-se conta que a perda de algo querido o tinha afetado. Outras tinham consciência da origem do seu sofrimento, mas por ter ocorrido há muito tempo tinham vergonham de expressar sua dor por acreditar que já deveriam ter superado. Então se você sofreu uma perda e está somatizando repetidamente ou está tendo comportamentos compulsivos ou sua vontade de viver está comprometida, não tenha vergonha de buscar ajuda. Procure um psicanalista ou um psicólogo com abordagem psicanalítica eles podem te ajudar. Se você gostou deixe seu like aqui e inscreva-se no canal. Sugira assuntos. Até o próximo encontro.

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