Moção - Resgatar a Democracia

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O PODER ÀS PESSOAS

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Conteúdo Resgatar a Democracia .................................................................................................. 4 Resgatar a Europa.......................................................................................................... 5 Resgatar a Economia ..................................................................................................... 6 I.

Porquê RESGATAR A DEMOCRACIA? .................................................................. 8 Para RESGATAR A DEMOCRACIA, São Precisos Valores, Ética, Princípios e Ambições .... 12 Resgatar O FUTURO DE PORTUGAL que ESTÁ NAS PESSOAS ........................................ 14

II.

Resgatar o Sistema Eleitoral.................................................................................. 16 Uma REFORMA POLÍTICA E ELEITORAL: + Participação, Transparência Total, + Representatividade ................................................................................................................... 16

III.

Os Partidos e o PS: ............................................................................................ 18

PS como promotor de cidadania ativa, da democracia participativa e da transparência ......... 18

IV.

Resgatar uma Justiça que garanta as pessoas .................................................. 25

Uma JUSTIÇA que garanta os direitos das PESSOAS ............................................................ 27 Resgatar a Democracia na Justiça e no Direito ....................................................................... 32

V.

Resgatar a Educação. ........................................................................................... 34 Educação – revolucionar o sistema de ensino colocando o individuo no centro do próprio sistema. ..................................................................................................................................... 34 A formação ao longo da vida é uma necessidade de sustentabilidade futura ......................... 36 Transformar Portugal num hub de inovação educativa ............................................................ 38 Soberania na educação ............................................................................................................ 40

VI.

RESGATAR A Cultura........................................................................................ 42

VII.

Resgatar a Politica Externa e a Diplomacia Económica ..................................... 45

VIII.

Resgatar a Economia. ........................................................................................ 50

A Fonte de Valor da Economia de Conhecimento são as Pessoas ......................................... 50 Revitalizar o tecido económico para revitalizar o tecido social ................................................ 51 A ecologia e economia ambiental ............................................................................................. 52 Resgatar a ECONOMIA CIVICA – O porquê da sua existência e como funciona ................... 54 Soberania Económica ............................................................................................................... 56

IX.

Resgatar a Saúde .............................................................................................. 58

Taxas moderadoras. Deve reduzir-se a sua importância ......................................................... 59 Interioridade, tem que ser apoiada. .......................................................................................... 60 Reorganização da oferta de cuidados de saúde. ..................................................................... 60 Negociações transparentes com inovação e equipamentos. ................................................... 61 Fim da complementaridade entre sector privado e público, fim das ajudas de estado. ........... 61 Gestão integrada das unidades de saúde com participação das comunidades e autarquias. 62 Implementação de estratégias de proximidade. ....................................................................... 62

X.

Resgatar a Segurança, a Soberania e a Defesa .................................................... 63 Globalização e População ........................................................................................................ 65 Soberania Energética ............................................................................................................... 66 Soberania de Portugal .............................................................................................................. 69

XI.

Resgatar a POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM....................................................... 71 3


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Resgatar a Democracia Nas primeiras eleições livres realizadas em Portugal em 1975 votaram 91% dos eleitores, nas últimas eleições de 2015, votaram 56%. Nas últimas duas eleições legislativas, em 2011 e 2015 verificou-se um fenómeno extremamente preocupante que nunca tinha ocorrido antes, os deputados eleitos passaram a representar menos de 50% do eleitorado. Se somarmos a abstenção, os votos brancos e nulos e os votos nos partidos antissistema que não tiveram votos suficientes para ter representação parlamentar, temos mais de 50% dos eleitores fora do sistema de representação. O que significa que os deputados que se sentam hoje na Assembleia da República representam menos de metade dos eleitores do país. Isto é, os nossos deputados não chegam a representar meio país. Só com uma REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA será possível recuperar a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas. Por isso defendemos uma mudança de “alto a baixo” no sistema político, de modo a devolver o poder às pessoas. Para isso temos de fazer duas coisas: mudar o funcionamento dos partidos e mudar o sistema de representação política. Por um lado, precisamos de um novo paradigma partidário. Precisamos de um Partido Socialista que funcione de baixo para cima e não de cima para baixo. Precisamos de um PS aberto à cidadania, que valorize a participação da sua base social de apoio, isto é, dos seus militantes e simpatizantes. Um PS onde as decisões sejam tomadas por todos e não apenas por um grupo restrito. Por isso defendemos eleições primárias, tanto para os principais cargos de liderança do partido, como para os candidatos a titulares de cargos políticos, designadamente, deputados e presidentes de câmara. Por outro lado, propomos uma reforma profunda do sistema de representação política, através de uma nova Lei Eleitoral, que estabeleça círculos uninominais e um círculo de compensação nacional, a candidatura de cidadãos independentes à Assembleia da República e a limitação do número de mandatos dos deputados.

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Resgatar a Europa O PS deve assumir uma atitude mais pró-ativa no contexto da família socialista europeia e liderar um movimento que se bata por um corte com as políticas “austeritárias” e por profundas alterações no quadro europeu. O PS deve lançar uma iniciativa no âmbito do Partido Socialista Europeu (PSE), conjuntamente com outros partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas europeus que se opõem ao pensamento único, para a criação de um movimento por uma Europa Social, que inverta o desvio neoliberal que dominou a Europa na última década e reconduza o projeto europeu aos seus princípios fundadores, baseados na solidariedade entre países e na coesão económica e social. O PSE deve bater-se por um novo modelo de construção europeia, assente num projeto alternativo de desenvolvimento social e de crescimento económico, sustentado e solidário, que coloque os cidadãos no centro das políticas comunitárias. Nessa nova agenda para uma Europa Social deve constar a reforma do Tratado Orçamental e da União Económica e Monetária, designadamente uma nova arquitetura da “moeda única”, bem como a renegociação e reestruturação profunda das dívidas dos países periféricos. Por outro lado, deve apostar-se numa agenda de crescimento económico inteligente, inclusivo e sustentável, assente em mão-de-obra qualificada e bem remunerada, que promova a competitividade do conjunto das economias da União Europeia, a modernização dos seus tecidos produtivos e a massificação de uma cultura de inovação como fator crítico para uma estratégia comum de competitividade baseada na criação de valor.

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Resgatar a Economia O fosso entre ricos e pobres em Portugal aumenta há cinco anos consecutivos. Portugal é hoje um dos países mais desiguais da Europa e do mundo desenvolvido. A distribuição de rendimento é muito desigual em Portugal e agravou-se com o programa de ajustamento. Hoje é claro que o ajustamento foi feito principalmente à custa dos mais pobres e não dos mais ricos. Estudos demonstram que durante os últimos cinco anos os portugueses com remunerações mais altas tiveram um corte de rendimento na ordem dos 8%, enquanto que aqueles com remuneração mais baixas tiveram um corte na ordem dos 25%. No último ano, 68,5% dos portugueses declararam um rendimento inferior a 7.000€ anuais, isto é cerca de 585€ mensais. Não é por isso de estranhar que a taxa de risco de pobreza em Portugal, antes de apoios sociais, atinja hoje, 48%, isto é, quase metade da população. É urgente quebrar o ciclo vicioso de empobrecimento, que afeta principalmente os portugueses mais vulneráveis e mudar o nosso paradigma económico que continua a assentar em trabalho indiferenciado e em mão de obra barata. Os países onde os níveis de desigualdade são mais baixos são precisamente aqueles em que o grau de complexidade económica é mais alto. As economias de alta complexidade são aquelas em que os fatores económicos, educacionais e tecnológicos se interligam em relações de interdependência gerando um círculo virtuoso de conhecimento complexo. Um país pode investir muito em educação, em I&D, em inovação, mas se não tiver uma estrutura produtiva capaz de absorver esses conhecimentos e transformar isso em riqueza material, então não será capaz de potenciar todo o investimento feito a montante. O investimento em educação e ciência são fundamentais, mas não são por si só suficientes para gerar crescimento económico. Este é um problema que neste momento mais afeta Portugal. Como sabemos, temos hoje a geração mais qualificada de sempre, mas não temos um tecido económico com complexidade suficiente para absorver essas qualificações. O que faz com que muitas vezes a mão-de-obra qualificada seja desvalorizada e remunerada ao nível da mão-deobra indiferenciada. Nos últimos 20 anos Portugal fez um forte investimento em Educação, com o objetivo de superar um grave défice estrutural ao nível das qualificações, que constituía um bloqueio ao seu desenvolvimento. Sucede, que quando em resultado desse esforço, consegue que as novas gerações atinjam um elevado nível de qualificações, é incapaz de segurar essa geração e empurra-a para fora do país, permitindo que vá contribuir para o desenvolvimento de outros países. Isto é, criamos valor para depois

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o desbaratar. Portugal precisa de uma estratégia de criação de valor, não de destruição de valor. Um dos grandes desafios é a mudança do paradigma de desenvolvimento, quer em termos económicos, quer em termos sociais. Passados 30 anos de integração europeia, depois de termos recebido mais de 100 mil milhões de euros de fundos comunitários, não conseguimos mudar o nosso paradigma económico. A economia portuguesa continua a ser baseada em mão de obra indiferenciada e em baixos salários, ao invés de termos uma economia baseada em trabalho qualificado e bem remunerado. Um país como Portugal não pode continuar a ter um tecido produtivo, que salvo raras exceções, concorre com base no preço baixo. Esse é o modelo de países como a China, a Índia, a Indonésia ou o Bangladesh. Portugal não pode ser um país europeu com um modelo económico ao nível dos países emergentes. Para que o crescimento económico possa ser sustentável não basta apenas que alguns "nichos" de pessoas ou empresas reforcem a sua competitividade, é fundamental que a média da sociedade atinja níveis mais exigentes de qualificações e competências e haja um sector produtivo capaz de desenvolver produtos e serviços de alto valor-acrescentado, que estejam integradas em cadeias de valor globais. Entendemos que a economia de um país é algo demasiado importante para estar exclusivamente dependente da iniciativa privada. Por isso defendemos que o Estado deve ter um papel ativo na definição estratégica da atividade económica. Defendemos um Estado inovador e empreendedor, que desenvolva políticas que promovam a competitividade e o crescimento. Uma estratégia que para dar frutos necessita que o investimento em inovação se traduza em crescimento inteligente e inclusivo. A criação de valor não se faz individualmente, faz-se coletivamente. É preciso "socializar" o crescimento. A massificação de uma cultura de inovação é um fator crítico para o sucesso de uma estratégia de competitividade e de crescimento assente na criação de valor.

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I.

Porquê RESGATAR A DEMOCRACIA? “Uma das lições dos nossos tempos é que a transferência do poder para uma organização democrática não significa que as pessoas comuns tenham forçosamente a oportunidade de exercer os seus direitos democráticos.” Nelson Mandela

A presente Moção surge como um imperativo de cidadania num quadro de descrença generalizada, por parte dos cidadãos nos partidos, na comunidade, nas instituições, nas lideranças e no regime democrático. Estudos realizados, nos últimos anos, sobre a confiança dos cidadãos na Democracia, revelam que os portugueses se encontram entre os cidadãos europeus que menos confiam nos políticos, nos partidos e nas instituições democráticas. Por exemplo, pouco mais de 20% dos portugueses confiam no Governo. Mas os níveis de confiança são ainda piores quando os cidadãos são questionados sobre a confiança que têm nos partidos políticos: 10%. São estes alguns dos dados revelados pelo último relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Os dados do relatório anual Government at a Glance, que comparam 2007 com 2012, revelam que a confiança no Governo caiu para metade em relação a 2007. E segundo dados do Euro barómetro, 85% dos portugueses não confiam nas suas instituições democráticas. É o pior resultado em toda a União Europeia. Este crescente divórcio entre os cidadãos e a política está a minar a sociedade portuguesa. A nossa Democracia está doente e é preciso uma terapia de choque. É urgente uma Revolução Democrática. Na nossa opinião, a crescente desresponsabilização dos cidadãos, relativamente à vida da polis, decorre do afastamento progressivo das instituições políticas, que têm como principal fonte de legitimidade: o povo. Este “divórcio” tem conduzido a uma erosão na representatividade dos eleitos, que têm visto, ao longo dos anos, os seus mandatos serem sufragados por cada vez menos eleitores. Nas eleições legislativas de 2011 e de 2014 registou-se, pela primeira vez, algo inaudito, que jamais ocorrera antes na democracia portuguesa. O número de votos obtido pelos partidos com representação parlamentar não atingiu os 50%. Daqui se extrai que mais de metade dos eleitores decidiram não confiar o seu voto nos deputados à Assembleia da República. Estes resultados constituem um sério aviso aos partidos do denominado “arco da governação”, que se devem questionar sobre as causas de tamanho descrédito. Logo, é preciso assumir que as democracias representativas estão em profunda crise. As chamadas formas de intervenção política formal continuam em acelerado processo de

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deslegitimação democrática e não mais conseguem esconder a erosão de representatividade que o sistema político tem vindo a sofrer. Quer por via dos crescentes níveis de abstenção, dos votos brancos e nulos, quer pelo aumento da base eleitoral dos partidos não comprometidos com o status quo. Os cidadãos anseiam por um novo modelo de organização política, que não seja imposto de cima para baixo, mas que seja construído a partir das bases da cidadania. Que seja capaz de gerar uma democracia com maior qualidade, com novas práticas e protagonistas, que seja capaz de garantir níveis mais elevados de participação, de representatividade, de legitimação, de transparência, de combate à corrupção e às derivas populistas. Em suma, um sistema político mobilizador e credível, onde os cidadãos sejam parte integrante do processo de construção política, isto é, onde os cidadãos se sintam parte da solução. Do ponto de vista da democratização interna, apesar do PS ainda necessitar de uma grande caminhada a este nível, tem sido dos partidos portugueses percursores na introdução de experiências de democracia participativa. Foi dos primeiros a introduzir as eleições diretas para o cargo do Secretário-Geral e dos Presidentes das Federações e foi o primeiro a organizar umas primárias abertas aos simpatizantes para o candidato a Primeiro-Ministro. Na verdade, as eleições primárias realizadas pelo PS a 28 de setembro de 2014, romperam com uma longa tradição partidocrática vigente em Portugal, inaugurando um novo “contrato político” entre o PS e os cidadãos. A expectativa de abertura do partido à sociedade civil, gerada por esta experiência inovadora, que representou a deslocalização do centro de decisão de um núcleo restrito e circunscrito de membros do partido para a massa eleitoral que constitui a sua base social de apoio, foi, todavia, lamentavelmente, defraudada com a decisão de não dar continuidade a essa experiência extraordinariamente bem-sucedida. Em nossa opinião, o processo das primárias urge ser retomado e alargado, quer para a eleição da liderança do partido, quer para a eleição dos candidatos a titulares de cargos políticos. O PS tem de ir mais longe e tem de liderar em Portugal a aposta na credibilização da política e dos partidos. Como? Promovendo uma reforma de funcionamento organizacional que aumente a democratização interna, não apenas introduzindo as eleições primárias, bem como definindo um estatuto, que consagre um conjunto de direitos e deveres às correntes internas, assim reforçando a sua matriz de partido plural. É nossa convicção que a reforma dos partidos é condição mais do que essencial para uma reforma mais profunda do sistema político, que aproxime eleitos e eleitores, designadamente através da reforma da lei eleitoral, com a introdução de um modelo misto, que combine círculos uninominais com um círculo de compensação nacional, tal como constava no programa eleitoral do PS às últimas eleições legislativas, bem como na primeira versão do programa do Governo.

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Estamos em crer que o sentimento de desencanto de muitos cidadãos em relação ao sistema político e às instituições democráticas, não se resolve, exclusivamente, com o aprofundamento da democracia política. É, igualmente, fundamental a existência de mais democracia económica. Os exemplos recentes em Portugal, com a abordagem a diversos casos de escândalos de bancos mal geridos, cujos resgates tiveram de ser pagos pelo dinheiro dos contribuintes. Dinheiro este, que vai sendo conseguido à custa de sucessivos aumentos de impostos, essencialmente suportados pelas classes médias, refletindo um risco de agravamento das condições económicas para muitos portugueses, não obstante o esforço meritório feito pelo governo do PS no sentido da reposição dos cortes nos salários e nas pensões e aumento da justiça fiscal em sede de IRS, principalmente para as denominadas famílias da classe média baixa. Por outro lado, assistimos à compulsiva perda de competências do governo nacional e a transferência de poder para um nível supranacional de âmbito europeu, onde uma superestrutura burocrática, não eleita e sem legitimidade democrática, determina as políticas seguidas em Portugal, impondo fortes restrições à nossa soberania política e orçamental. Chegámos ao ponto inimaginável de ver a União Europeia, que nasceu como um espaço de afirmação, defesa e promoção da Liberdade e da Democracia, reprimir e retaliar com violência, no plano económico, povos que se limitaram a exercer direitos fundamentais, como, de resto, ficou demonstrado durante a recente negociação do Orçamento de Estado português. Negociação esta que obrigou o governo a adotar mais austeridade, sob ameaça de chumbo do Orçamento, ou ainda, e de forma mais cruel, quando a Grécia teve a veleidade de querer mudar as regras do jogo europeias, durante o frustrado processo de renegociação da divida tentado pelo primeiro governo do Syriza. A democracia e a cidadania estão a ser seriamente ameaçadas pelas instituições europeias. Os cidadãos dos países periféricos, com economias mais expostas e vulneráveis às crises, perderam o poder de decidir sobre o seu destino e viram a sua soberania ser hipotecada às instituições financeiras internacionais. A recusa da União Europeia em defender o conjunto dos países da zona euro da crise das dívidas soberanas, provocada pela “grande recessão”, deixando cair as economias mais vulneráveis, pôs a nu as fragilidades do projeto europeu. O resultado da alegada ”austeridade expansionista” imposta a Portugal e à Grécia teve como consequência gerar mais pobreza, mais desemprego, mais emigração e maior endividamento. De salientar, que todas estas práticas, contaram com a cumplicidade dos partidos socialistas e social-democratas europeus que renunciaram a ter um modelo de desenvolvimento próprio, rendendo-se ao modelo económico capitalista neoliberal imposto pela direita, aceitando a inviabilidade do TINA (There Is No Alternative) e resignando-se perante os efeitos de crescente iniquidade social e da desigualdade na distribuição da riqueza provocada por estas políticas. Após os resultados desastrosos dos últimos cinco anos, chegou a hora de virar a página das políticas “austeritárias”. Nesse sentido, é de saudar a opção estratégica tomada pela atual liderança do Partido Socialista, ao encetar um processo de diálogo histórico com os

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partidos à sua esquerda, BE e PCP, que culminou num entendimento que permitiu viabilizar um governo do PS e formar uma nova maioria parlamentar favorável à inversão das políticas de austeridade e à reposição dos rendimentos dos portugueses e de outros direitos sociais. Reconhecendo que este entendimento entre as esquerdas já conduziu a resultados positivos, no entanto, somos da opinião que a fórmula política encontrada pode não oferecer as melhores condições de estabilidade política e que teria sido vantajoso ter explorado a possibilidade de formação de um governo de coligação que integrasse as três forças políticas: PS, BE e PCP. A solução política à esquerda encontrada pelo PS é original e inovadora, igualmente no quadro europeu, marcado por alianças de vários partidos socialistas com a direita. Nesse sentido, o PS está bem posicionado para assumir uma atitude de maior pró-atividade no contexto da família socialista europeia e liderar um movimento que se bata por um corte com as políticas “austeritárias” e por profundas alterações no quadro europeu. O PS deve criar um movimento por uma Europa Social, que inverta o desvio em direção às denominadas políticas neoliberais feitas pelo Partido Socialista Europeu nos últimos anos, e o reconduza aos princípios fundadores do projeto europeu. O PS deve, portanto, liderar uma proposta para um novo modelo de construção europeia, assente num projeto alternativo de desenvolvimento social e económico, sustentado e solidário, que coloque os cidadãos no centro das políticas comunitárias. O que deve implicar, por um lado, uma reforma do Tratado Orçamental e da União Económica e Monetária, a proposição de uma nova arquitetura da “moeda única” e, igualmente, uma renegociação e reestruturação profunda das dívidas públicas dos países periféricos. E, por outro lado, a aposta numa agenda de crescimento económico inteligente, inclusivo e sustentável, assente em mãode-obra qualificada e bem remunerada, que promova a competitividade do conjunto das economias da União Europeia, a modernização dos seus tecidos produtivos e a massificação de uma cultura de inovação como fator crítico para uma estratégia comum de competitividade baseada na criação de valor. Resumindo, o PS deve bater-se para que o PSE se empenhe na construção de uma Europa de coesão económica e social e a uma só velocidade.

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Para RESGATAR A DEMOCRACIA, São Precisos Valores, Ética, Princípios e Ambições “O que destrói a humanidade: a Política, sem princípios; o Prazer, sem compromisso; a Riqueza, sem trabalho; a Sabedoria, sem caráter; os Negócios, sem moral; a Ciência, sem humanidade; a Oração, sem caridade.” Mahatma Gandhi

A democracia não é um regime estático. Muito pelo contrário, é um regime que necessita de constante regeneração. A democracia necessita, acima de tudo, de democratas como protagonistas. Democratas que possuam ética, princípios e conduta democrática. Definir a democracia não é tarefa de pouca envergadura. Ao longo da história a própria definição e, a prática da mesma, foram ganhando diversos contornos. Etimologicamente, a palavra significa o “governo do povo”. Uma célebre definição foi encetada por Lincoln no seu famoso discurso de Gettysburg, no remoto ano de 1863, definindo-a “como o governo do povo, pelo povo e para o povo.” Ou seja, o poder às pessoas. Na atualidade verificamos um “vazio da democracia” motivado por vários fatores. O descrédito dos cidadãos nos políticos e nas instituições democráticas é notório. O que se constata na União Europeia e, igualmente, em Portugal é uma crise das democracias representativas, cavando um fosso cada vez maior entre os cidadãos e os seus representantes, não se sentindo os eleitores representados pelos seus eleitos. Assim sendo, consideramos que um dos motivos basilares para o descrédito no nosso sistema democrático prende-se com o facto de este estar pouco enraizado eticamente A ética e a conduta transparente trazem confiança. E quando há confiança nas instituições, nos seus interlocutores, nos projetos e nas pessoas, torna-se mais fácil investir em relações duradouras, onde haverá mais empenho e assaz um envolvimento com maior nível de compromisso. É com a ética que conseguimos sobrepor o bem-estar geral ao interesse pessoal, alcançando níveis de desenvolvimento superiores, eficiência económica maior e uma superior capacidade de gerar riqueza. Na presente sociedade, está a impor-se um modelo que privilegia relações e organizações em rede, colaborativas, com partilha de recursos e informação. Um modelo que exige uma relação de médio e longo prazo para se alcançar valor. Um dos fenómenos mais nefastos para o bom funcionamento do regime democrático é a prática da corrupção, que assume diversas configurações. No dicionário das crises e das alternativas, Paula Fernando considera que um “denominador comum a todas [essas configurações] é a existência de uma relação de poder e de uma expectativa de obtenção de 12


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uma vantagem, lícita ou ilícita, através da prestação de uma contrapartida, seja de ordem económica, seja meramente de amizade.” Em Portugal, a ética, seja ao nível dos partidos, das instituições ou, de um modo mais particular, entre os cidadãos, tem sido, sistematicamente, secundarizada. Daí se assistir, sem nenhum tipo de inibição na nossa praça pública, a comportamentos abusivos e inaceitáveis eticamente, tais como: promiscuidades entre a política e os mais diversos sectores, a criminalidade económica, o tráfico de influências, o abuso de poder, entre outros. A corrupção não é fácil de eliminar. Desvalorizar a ética e a transparência dentro dos partidos, nos órgãos de soberania, no desempenho da atividade pública e até no sistema financeiro é uma forma de penalizar o país e penalizar os portugueses. O combate à corrupção faz-se com uma transparência de rendimentos, uma prestação de contas contínuo, sujeito a um escrutínio permanente e a uma conduta irrepreensível e insuspeita. Definindo muito bem a esfera de interesses. Torna-se então necessário enveredar por uma grande campanha que sensibilize as pessoas para a importância dos comportamentos éticos e da transparência, sem esquecer as consequências negativas da corrupção para o desenvolvimento e para a competitividade. Por conseguinte, todos os dirigentes partidários deveriam assinar um código de conduta ética que balizasse bem os comportamentos aceitáveis e os inaceitáveis, definindo, igualmente, a esfera de interesses (direta e indiretamente), obrigando a publicitação pública e transparente. A confiança nas instituições, nos políticos e nas várias lideranças da sociedade portuguesa alcança-se com carácter e competência. O carácter está associado às boas práticas e à integridade de comportamentos. Enquanto que a competência está associada às capacidades (aptidões, conhecimento e experiência) e aos resultados (reputação, credibilidade e bom desempenho). A ambição deve ser vista como uma condição inerente à prossecução de qualquer projeto político, que deve estar associada a uma cultura de exigência e excelência, que queremos que seja transversal aos vários temas desta moção e seja em simultâneo uma palavra de ordem para os portugueses.

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Resgatar O FUTURO DE PORTUGAL que ESTÁ NAS PESSOAS "A liberdade é indivisível, e quando um homem é escravizado nós todos não somos livres." John Kennedy

Acreditamos que o Partido Socialista é o partido que pela sua tradição democrática e pelos seus valores humanistas mais poderá contribuir para “RESGATAR A DEMOCRACIA”. Os valores e os princípios do Partido Socialista são intemporais. O Partido Socialista existe para servir as pessoas. No PS defendemos a Liberdade, o pluralismo e a diversidade de opiniões. Defendemos o acesso de todos os cidadãos aos serviços públicos, como a Saúde, a Educação, a Justiça e apoios sociais. Defendemos, sem tibiezas, um Estado forte e próativo no apoio aos mais carenciados. Valorizamos o trabalho com direitos e defendemos a sua justa remuneração. Entendemos que as oportunidades não devem estar apenas acessíveis a uma minoria de privilegiados. Por isso defendemos a Escola pública, a educação para todos e a formação ao longo da vida. Esta defesa deve-se não só a razões de equidade social, mas, igualmente, porque numa sociedade do conhecimento, só desta forma se promove o desenvolvimento económico, social e a posterior criação de riqueza. Acreditamos na emancipação e na autonomia das pessoas e na sua capacitação para as mudanças rápidas que o mundo atual exige. Emancipar as pessoas é dar-lhes poder para escolherem as suas próprias oportunidades e caminhos. O futuro do desenvolvimento económico, dependerá de políticas efetivas direcionadas para as pessoas, para o conhecimento, para a gestão eficaz e eficiente dos recursos, designadamente do potencial humano. O investimento notável que Portugal fez, nas últimas décadas, na Educação, na Investigação e na Ciência, está presentemente a ser transferido, em grande parte, para outros países com maior capacidade de liderança, em termos empresariais, sociais e políticos. A “fatalidade” da política de salários baixos e de empobrecimento generalizado, franqueou as fronteiras do país à emigração, sobretudo aos jovens mais qualificados. Transformar o conhecimento em criação de valor exige um tecido económico capaz de fazer apostas de médio e longo prazo e não se coaduna com a cultura empresarial que se encontra generalizada em Portugal, que coloca o foco no ganho fácil e imediato. Nós acreditamos que o PS é o partido que está em melhores condições de defender políticas que emancipem e valorizem as pessoas. Este deverá ser um desígnio nacional do PS.

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Emancipar as pessoas é libertá-las, é torná-las autónomas e independentes, apetrechando-as com os conhecimentos, as competências e a autoestima necessárias para que possam ser donas do seu próprio destino, permitindo-lhes construir o seu futuro com liberdade de escolha e sem sujeição a tutelas opressoras, seja de que natureza forem. Em suma, o poder às pessoas, exige uma democracia política, com instituições democráticas (e mais importante, instituições lideradas por democratas na sua plenitude – nas palavras e nos atos). Mas também uma democracia económica de igualdade de oportunidades e remunerações dignas e justas (isto é, que permitam viver com dignidade e acima do limiar da pobreza).

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II.

Resgatar o Sistema Eleitoral

Uma REFORMA POLÍTICA E ELEITORAL: + Participação, Transparência Total, + Representatividade “Aqueles que fazem da revolução pacífica algo impossível, farão com que uma revolução violenta seja inevitável.” John Kennedy

A política pode transmitir a sensação, a muitos cidadãos, que é ao mesmo tempo, tudo e nada. Isto é, muitos cidadãos não compreendem efetivamente o papel dos políticos. A verdade é que a política é uma daquelas atividades em que só nos damos conta da sua verdadeira importância, não quando funciona, mas precisamente, quando não funciona. A política e os políticos servem, basicamente, para resolver problemas difíceis. Isto é, o tipo de problemas que o cidadão comum não consegue resolver na sua esfera de ação. Compete aos políticos, através de um processo de diálogo social, gerir tensões e conflitos, equilibrar e conciliar o mais possível os interesses em presença, proteger o interesse público e o bem comum, bem como projetar e envolver os cidadãos numa visão de médio e longo prazo de uma comunidade ou de um País. A “falência” moral, material e económica dos portugueses e de Portugal, é demonstrativa da escassez de política, da escassez de estratégia e da escassez de articulação intra e interinstitucional. Entendemos que o estado atual do país se deve a fatores diversos, mas com uma raiz comum: a disfuncionalidade e debilidade dos nossos alicerces democráticos. Entre esses fatores contam-se a impreparação das elites, o défice de informação e participação dos cidadãos nos assuntos da pólis, a quase inexistência de uma sociedade civil ativa, a desconfiança interpessoal e a muito deficiente ligação entre eleitos e eleitores. O resultado deste défice democrático tem tido como consequência mais desigualdade e mais pobreza. Na nossa opinião, só há uma forma de inverter esta situação: fazer uma Revolução Democrática. Foi em nome desse desígnio que foi criado o movimento "Resgatar a Democracia". Um movimento que se funda nas bases da cidadania e que quer derrubar as barreiras da partidocracia.

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Há uma ideia preconceituosa, infelizmente bem real, de que só aqueles que fazem parte do establishment e integram o mainstream politico-mediático gozam do privilégio de participar na vida política. Pois bem, chegou a hora de romper o "cordão sanitário" que separa os cidadãos da Democracia. Chegou a hora de Resgatar a Democracia e devolver o poder às pessoas. Precisamos de mudar o sistema político “de alto a baixo”. E para se mudar o sistema político de forma a aproxima-lo das pessoas, a devolver o poder às pessoas, a fazer os cidadãos reganhar a confiança que perderam nas instituições democráticas, temos de fazer duas coisas: temos de mudar os partidos e temos de mudar o sistema de representação política. Assim sendo defendem-se as seguintes premissas: Os partidos têm de deixar de ser centralistas e hierárquicos, têm de deixar de funcionar em circuito fechado. 

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Têm de deixar de ser clubes privados, onde está reservado o direito de admissão. Os partidos continuam a funcionar em pleno século XXI, como funcionavam há mais de um século, numa lógica vertical, de cima para baixo. Nós precisamos de partidos que funcionem de baixo para cima, partidos cuja verdadeira força esteja assente na sua base social de apoio, isto é, nos seus militantes e nos seus simpatizantes e eleitores e não numa click dirigente. Precisamos de mudar o paradigma partidário. Precisamos de partidos que funcionem como hoje funcionam as organizações modernas: em rede. Precisamos de transformar os atuais partidos centralistas e fechados em partidos abertos à sociedade, onde as decisões são tomadas por todos e não apenas por um pequeno grupo de pretensos iluminados.

A realização de eleições primárias abertas a simpatizantes, tanto para as lideranças partidárias, como para os candidatos a cargos políticos, designadamente deputados e presidentes de câmara. Uma nova Lei Eleitoral, com a criação de círculos uninominais e de um círculo de compensação nacional, permitindo uma maior ligação entre eleitos e eleitores, por um lado, e garantido mais proporcionalidade e representatividade, por outro. A possibilidade de candidaturas de cidadãos independentes, pondo fim ao monopólio dos partidos na Assembleia da República, bem como a limitação do número de mandatos dos deputados, que deve ter um limite máximo de três mandatos consecutivos, tal como já sucede com os autarcas. Uma efetiva redistribuição do poder. Devemos exigir mais democracia política, mas também mais democracia económica. Há uma verdade histórica que se repete ciclicamente, quem detém o poder, detém a riqueza. Só democratizando o poder será possível democratizar a riqueza.

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III.

Os Partidos e o PS:

PS como promotor de cidadania ativa, da democracia participativa e da transparência “O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente.” José Saramago

Os partidos, em qualquer democracia efetiva, são um dos pilares da democracia. Sempre assim foi e sempre será assim. Mesmo defendendo, como defendemos, a abertura da política a movimento de cidadãos organizados, os partidos sempre serão os pilares da democracia e terão predominância. Os partidos e a democracia fazem parte integrante da mesma realidade. E podemos criticar a sua existência e os males que trazem, mas como referiu Wiston Churchil “Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo... Mas existe outra forma de governo melhor?" Ter a noção que a democracia é o melhor dos sistemas, apesar das suas imperfeições, exige um permanente trabalho de todos os democratas e instituições. Como refere Viriato Seromenho Marques num seu recente artigo de opinião no Diário de Notícias, “É caso para dizer que a democracia é, também, o mais exigente de todos os regimes. Obriga a um exercício constante de cidadania, sob pena de degenerar numa plutocracia”. Os partidos, pela sua importância, têm uma redobrada responsabilidade e dever. Têm que ser o exemplo. Na verdade, os partidos são uma daquelas instituições que podemos designar como a “semente” da política, da cidadania e, como tal, da democracia. Ora não se pode aceitar que estes vivam fechados e que possam ter práticas pouco transparentes, ações pouco democráticas e por vezes até persecutórias. Comportamentos reprováveis, pouco éticos e na sua essência pouco ou nada democráticos. Uma democracia efetiva não se define só pelo seu caracter formal, mas acima de tudo pela sua dimensão vivencial. É necessário que os partidos saibam também acolher a diversidade de ideias e de posições dos seus militantes, incentivando no seu interior à pluralidade democrática. Como se defende no Livro “O Regresso dos Partidos” (de Alcídio Torres e Maria Amélia Antunes) “os partidos precisam de perceber que a sua diversidade interna é a sua maior riqueza. E seria um gesto de Inteligência e vitalidade se soubessem tirar partido dos saberes e de toda a sabedoria acumulada pela sociedade”.

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Assim não podemos aceitar que dentro dos partidos existam comportamentos pouco éticos e situações obscuras, como a existência dos chamados “sindicatos de voto”, de irregularidades e ilegalidades nas votações internas, de comportamentos que “censuram” a liberdade e o pluralismo democrático interno, perseguições por delito de opinião ou resultantes de manifestações de apoio a candidaturas não protegidas pela cúpula partidária (local, distrital ou nacional), ou ainda “blindagens” estatutárias e regulamentares, como aquela que atualmente exige que o primeiro subscritor de uma moção, que tenha simplesmente como objetivo contribuir para o debate de ideias, seja forçado à apresentação de uma candidatura a Secretário-Geral. A existência destas situações, em maior ou menor escala, provoca a descredibilização de todos os atores políticos e a desconfiança dos cidadãos nas instituições democráticas no seu conjunto. Sendo os partidos a base da democracia e a base da política na sua essência, o funcionamento interno e as práticas dos seus atores têm de ser muito bem escrutinados na sua origem. Desde o recrutamento de militantes (e simpatizantes), à escolha dos seus dirigentes, a todas as decisões internas, a formação e debate entre militantes e até à escolha dos seus representantes para os atos eleitorais universais. Os partidos, como pilares de uma democracia e integrantes de um sistema de governação, fazem parte daquilo que podemos designar por “bem público”, que deve ser aberto, transparente e “certificado” como instituição democrática, cujos atores têm uma conduta eticamente irrepreensível. Temos de proteger os cidadãos e os eleitores dos partidos que não funcionam democraticamente. A sociedade do conhecimento e pós-industrial característica do nosso tempo, não é compatível com poderes institucionalizados monopolistas e hierárquicos, exigindo a deslocalização do foco deste poder para uma variedade de intervenientes, de forma colaborativa, em rede e num plano mais horizontal. Ou seja, exige inevitavelmente partidos abertos, que integrem dentro da sua esfera, os seus dirigentes, uma militância ativa, simpatizantes e um diálogo fluído com movimento sociais. Como bem refere no livro já mencionado “O Regresso dos Partidos”, quanto maior for a horizontalidade e a proximidade nas relações entre os partidos, o Estado e os diversos movimentos sociais, mais buscamos a expansão da governança e da sociedade civil.”. O PS deve ser o baluarte desta Revolução Democrática. Tem esse dever moral e histórico. No quotidiano partidário temos de ter as mesmas práticas que defendemos para a nossa democracia, para as nossas instituições, para as nossas empresas, para os nossos cidadãos, para o nosso país e para o nosso mundo. Ou seja, temos de ser coerentes com os nossos princípios, e a coerência não se mede com o que dizemos, mas sim com os nossos comportamentos e ações. Na conquista do poder interno, não podemos aceitar, o que sabemos muitas vezes acontece. Será que nós militantes socialistas devemos continuar a ignorar o que acontece nos nossos processos de recrutamento? Nos vários atos eleitorais internos? Na forma como muitos dirigentes alcançam e gerem o poder interno? Será que deveremos ignorar tudo

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isto? É assim que defendemos o “interesse maior” do Partido Socialista e a sua reputação junto dos eleitores ou da sociedade? Nós acreditamos que defender o Partido Socialista, é defender os seus princípios e valores. Ser socialista, mais do que outras coisas, significa lutar pelo “sonho” do socialismo democrático, por um modelo institucional e de governação assente, em primeiro lugar, numa ética republicana, de democracia participativa e representativa, plural, tolerante nas diferenças e que respeita a liberdade de pensamento e de expressão. Acreditamos que a melhor maneira de nos protegermos de poderes absolutos, é haver uma separação real de poderes e distribuídos, mas que o verdadeiro poder, deverá estar na base, como refere muito bem Abraham Lincoln “A democracia é o governo do povo, pelo povo, para o povo.” Deste modo, não podemos, como muitas vezes tem acontecido, sermos indiferentes com comportamentos, ações e práticas que são anti natura com o código genético do Partido Socialista. O valor da tolerância que tanto prezamos, não poderá dar cobertura a indiferença por práticas de processos que desgastam o PS na opinião pública (não por serem denunciados, mas porque são praticados por militantes socialistas), como em alguns processos de recrutamento, candidaturas internas e processos eleitorais duvidosos que se podem qualificar de imorais, como por exemplo, alguns casos recentes de filiações em massa com a mesma morada, de existência de militantes fantasma, o pagamento de quotas massificadas por terceiros que está para os processos eletivos internos, como está o “doping” para o desporto. É uma forma de “corrupção eleitoral”. O que queremos dizer, é que os nossos valores e ambições, enquanto modelo de país e de sociedade que almejamos, coloca-nos num patamar de exigência muita acima de uma mera instituição que pretende alcançar o poder pelo poder, e que considera que a tomada do poder justifica todas as ações. Da mesma forma que Voltaire descrevendo que as repúblicas “devem a liberdade aos seus rochedos ou ao mar que as defende”, o próprio partido tem que encontrar formas de evitar e retirar do seu quotidiano comportamentos ou práticas que não correspondem aos princípios democratas, eticamente inaceitáveis e que descredibilizam toda a instituição. Estes problemas não se evitam, promovendo o silêncio, mas antes não os aceitando na origem e introduzindo um Código de Conduta Ética que todos os militantes devem de aceitar e assinar. Aí define-se muito bem os comportamentos e práticas inaceitáveis, as sanções e todo um quadro explícito e eficaz que nos possa defender a nós (militantes, simpatizantes e eleitores) de más práticas. Citando Voltaire “Todo o homem é culpado do bem que não fez.” Ou seja, o Partido Socialista enquanto instituição que na maioria das vezes ignora ou consente este tipo de situações (protegidas em argumentos de democracia meramente formal e não substancial) também é “culpado” pelo que não fez. Ou melhor, não podemos achar que o PS pode servir o bem comum, quando no seu interior elege dirigentes que não agem como tal.

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Para tal ser efetivo, precisamos de aperfeiçoar o nosso quadro jurisdicional, entregue às Comissões de Jurisdição (distritais e nacional), introduzindo um Tribunal Arbitral para a resolução de conflitos e a figura do Provedor do Militante. Aqui as perguntas que temos de fazer quanto ao atual funcionamento das Comissões de Jurisdição são várias. Garantem a justiça e a equidade nos vários processos analisados? Existe verdadeira e efetiva separação de poderes? Têm capacidade e meios para “julgarem” e apreciarem os vários casos solicitados? Os militantes sentem-se defendidos e reconhecem imparcialidade? São eficazes nas resoluções apresentadas? Sabemos que há muitas situações colocadas nos órgãos de jurisdição que dificilmente podem ser imparciais ou mesmo havendo condições de imparcialidade dos seus membros, não há meios suficientes para apurar a verdade, nem se encontra uma solução em tempo útil. É difícil um órgão ter imparcialidade quando os seus membros são militantes e afetos a uma das partes que concorre a eleições, quer às Federações Distritais, ou aos órgãos nacionais. Por natureza, um militante quer participar e integrar um projeto, sendo mais difícil (mas não impossível) cumprir um papel de árbitro. A consequência é em casos de litígios, dúvidas e irregularidades cujas decisões possam ser menos claras, imparciais ou ineficazes, o conflito ainda se acentua mais. Há situações em que a única saída para uma das partes é socorrer-se aos tribunais comuns (e mesmo da opinião pública e dos mass media) ou então conformarem-se o que leva, por vezes, a uma situação pior que o conflito, ao afastamento e desilusão. Introduzindo um Tribunal Arbitral permite que as decisões disciplinares sejam tomadas de forma mais independente, sem serem instrumentalizadas por uma das partes, conquistando uma maior legitimidade junto dos militantes e da opinião pública, quer uma maior eficácia a dirimir conflitos entre militantes. A figura do Provedor do Militante, sendo uma pessoa idónea e reputada, disponibilizando os meios necessários para o desempenho desta tarefa, permitirá salvaguardar os direitos dos militantes, reduzir a intensidade da conflitualidade existente dentro do partido (e por vezes um clima de fações), conciliar a liberdade individual com os interesses coletivos, construir uma base para uma militância ativa, participativa e uma reforçada integração da pluralidade de ideias tão almejada pelo nosso partido. É necessário desenvolver uma cultura de disputas internas ou processos eleitorais de fair play entre as várias candidaturas que se evite ódios e relações de inimizade entre os grupos concorrentes que fazem perdurar um clima de fações (e em algumas situações de autênticos sentimentos “tribais”). Para tal dever-se-ia redigir um “Guião ou Código Comportamental específico de recomendação quanto aos comportamentos e formas de agir adequadas nos processos eleitorais internos” e organizar vários debates, workshops e seminários para prevenir situações extremas que provocam incompatibilidades entre camaradas do mesmo partido. Assistimos, por vezes, a autênticas disputas eleitorais internas que se assemelham a eleições interpartidárias, onde há mais diferenças e divisões, do que pontos em comum. O

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anseio de vitória e de “derrotar” o seu adversário do mesmo partido, por vezes, não se salvaguarda o momento seguinte, que será necessário integrar, unir e juntos combaterem o verdadeiro adversário político. Recorre-se a ataques pessoais e há casos em que a intensidade do debate é tão grande, que torna difícil, uma natural “reconciliação” no pós eleitoral. Será difícil contrariar esta situação? Se formos todos verdadeiros socialistas e democratas não haverá mais temas que nos une do que nos separa? Se todos agirmos segundo uma ética e conduta de respeito pelo adversário na defesa das nossas ideias e projetos, não será uma forma de evitarmos conflitos de natureza pessoal e de personalidades? Se evitarmos práticas duvidosas em termos de ética, não será mais fácil conciliar a disputas internas com a necessidade de união para as eleições interpartidárias? Se definirmos bem o que é o fair play na política, não estamos a preservar um ambiente mais pacificador e de aceitação da diferença dentro do PS? Se tivermos órgãos disciplinares eficazes, independentes, idóneos e um serviço de provedoria aos militantes, não estaremos a dar um melhor tratamento às situações e evitar que os conflitos (naturais numa instituição como o PS) ganhem uma dimensão maior? Defendemos que a militância ativa e a cidadania ativa exigem uma maior participação. Quantas mais alternativas de escolha existir melhor para a democracia, dentro e fora do PS. Assim, entendemos que dever-se-ia organizar um debate generalizado e criar um Guião ou Código Comportamental pedagógico que possa influenciar comportamentos e gerar um verdadeiro clima de Fair Play no debate generalizado e nas disputas internas. Seria importante, neste guião desenhar-se incentivos para comportamentos positivos (e punir os menos aceitáveis) de forma a retirar o máximo de valor que o debate, o pluralismo e a existência de alternativas de escolha irão gerar (dirimindo as consequências negativas e os conflitos). É ainda necessário ter em conta que a legitimidade democrática requer a presença e representação de todos os militantes, mesmo daqueles cujos representantes que não saíram vencedores na eleição, garantindo-se assim uma representação proporcional nos Secretariados, quer seja no plano concelhio, federativo ou nacional. Recordemos que as primárias consciencializaram para a necessidade de mutação e transformação de algumas rotinas partidárias. Como consequência disso, a participação e aproximação são características chave a ser implementadas de forma a evitar desigualdades políticas que muitas vezes se aproximam de uma espécie de ostracização silenciosa. Assim, em resumo, defendemos o seguinte: 

Elaborar um Código de Conduta e Ético que enquadre os comportamentos aceitáveis (e não aceitáveis), princípios, valores e prevejam as situações de conflito

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de interesses, sendo assinado pelos militantes, candidatos a eleições internas, dirigentes e representantes a órgãos de poder (eleitos e nomeados), como forma de prevenir e gerir riscos reputacionais futuros para o PS. Criar Comissões de Ética, constituídas por personalidades idóneas, indubitavelmente imparciais e independentes, para avaliar situações geradoras de dúvida quanto à capacidade ética, existência (ou não) de conflitos de interesses, combate e prevenção de corrupção dos vários representantes e eleitos pelo Partido Socialista às várias eleições gerais (autárquicas, regionais, legislativas) e nomeações políticas. Será mais um instrumento de prevenção de riscos reputacionais, defender a militância de base e credibilizar os eleitos do PS, junto dos eleitores. Criar de um Tribunal Arbitral para as situações extremas de conflitualidade, processos eleitorais internos duvidosos e outros processos de maior complexidade, como forma de dar uma maior independência de juízo, imparcialidade, eficácia e legitimidade às decisões disciplinares, mas também como forma de prevenir que os conflitos se acentuem. Criar da figura do “Provedor do Militante” para permitir que se salvaguarda a condição de militante, melhor se conciliar o direito à opinião pessoal vs interesses coletivos, garantir uma sã pluralidade democrática, servir como elemento pacificador nos vários diferendos, encontrando soluções de compromisso entre as partes e servir como um instrumento de autocritica e aperfeiçoamento, através das várias recomendações desta figura. Regulamentar e legitimar a figura de Simpatizante do PS, que deverá declarar-se defensor da Declaração de Princípios do Partido Socialista, devendo usar-se instrumentos de validação e segurança, para evitar entradas falsas. A figura do “Simpatizante” é importante para a abertura do Partido à sociedade e a novos elementos, podendo ser um instrumento potenciador de angariação de futuros militantes ativos. Efetuar uma refiliação dos militantes de forma a eliminar a existência nos Cadernos Eleitorais de militantes falsos e “fantasma” que pouco dignifica o PS. Instituir as primárias como modelo de funcionamento do PS para a escolha de cargos de liderança e dos candidatos a titulares de cargos políticos, como presidentes de câmara, deputados aos parlamentos regionais, nacionais e europeus. Como forma de garantir igualdade de oportunidades na fase de constituição, permitir que qualquer pessoa ou grupo disponível a candidatar-se, o possa fazer através de comunicação por e-mail, enviada da sede nacional e enviando o comprovativo de envio, de forma a permitir que consiga ter as condições formais e de subscrição para a sua candidatura. Dever-se-á criar condições que evitem, eliminem e anulem qualquer tentativa de “sindicância de votos”, prevendo como sansão máxima a expulsão dos militantes que se prove que a praticam. Dever-se-á considerar como proibido o pagamento de quotas por parte de terceiros. Deve ser o próprio militante e individualmente a pagar as quotas.

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Os processos eleitorais internos dos partidos deveriam ser acompanhados e certificados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de forma a impedir que pairasse (ou houvesse tentativas de) qualquer dúvida acerca da legitimidade destes processos. Normalmente, estes casos acabam por gerar um sentimento de impunidade e dúvidas. Defendemos que dever-se envidar esforços para “desblindar” e aligeirar as condições mínimas impostas para as candidaturas aos órgãos dos partidos, a delegados aos Congressos Distritais, das Regiões e Nacionais, quer às Primárias, de forma a fomentar as alternativas de escolha dos militantes, a disputa, a democraticidade interna e o pluralismo são. Garantir uma igualdade de circunstâncias e oportunidades para aqueles que se manifestem, previamente, serem candidatos a qualquer órgão do Partido (Concelhio, Distrital, Regional ou Nacional), mesmo que ainda não estejam devidamente formalizadas, através da possibilidade de acompanharem o processo da COC, Comissão Eleitoral ou até comunicarem com os militantes, através dos instrumentos oficiais do Partido, salvaguardando sempre as exigências de proteção de dados. Não obrigar a apresentação de Moções Globais de Estratégia à obrigatoriedade de ser candidato a Presidente de uma Federação Distrital, Regional ou a Secretário-Geral. Assim, estar-se-á a prevalecer a militância ativa das bases e proporcionar um maior debate de questões. Isentar da obrigatoriedade do pagamento de quotas os militantes que por comprovadas dificuldades económicas (situações de doença, desemprego, reformas de sobrevivência, baixos rendimentos…) se encontrem impedidos de o fazer. Deste modo, a proposta para que o regulamento eleitoral para os secretariados das secções seja revisto, propondo a adoção de um método proporcional na sua constituição – Método de Hondt – é de elevada importância. A verdade é que este método tem a capacidade de integrar todas as correntes de opinião, absorvendo a pluralidade, um dos pilares sempre defendidos pelo Partido Socialista, assegurando a estabilidade ao centro de decisão.

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IV.

Resgatar uma Justiça que garanta as pessoas

Na nossa história, os períodos de fragilização do Estado, coincidiram com crises que afetaram as outras instituições, as empresas e empobreceram os portugueses. Infelizmente somos um país que tem um nível de endividamento global muito elevado, quer no Estado, quer nas empresas e nas famílias. Se somarmos a divida pública à divida privada, concluímos que Portugal é um dos países mais endividados do mundo em termos per capita. Assistimos hoje que todas as empresas “bandeira”, quer nos setores de telecomunicações, do sistema financeiro, da energia e de outros setores, que bem recentemente, se posicionavam a ocupar um lugar relevante nesta economia global, ruíram. Umas tiveram de ser intervencionadas pelo Estado, outras foram desmanteladas e vendidas para mãos estrangeiras, transferindo muitas vezes os seus centros de decisão. No contexto que vivemos de globalização e inseridos numa sociedade de informação e de uma economia de serviços, importa relevar a importância que o Estado Português tem para que os portugueses e Portugal possam vencer este tempo novo. Portugal é um país pequeno, com poucas instituições com escala e dimensão internacionalmente reconhecida. O maior ativo que Portugal tem é a sua língua, a sua história, o significado simbólico que Portugal tem a nível global e claro o potencial dos portugueses que residem no país, os emigrantes espalhados e os luso-descendentes. Um país como o nosso entregue completamente à tese de “Estado Mínimo”, sem força e sem um papel ativo, enfraquece o país e os portugueses. Num mundo atual, um dos elementos gerador de maior valor são os Portugueses. Deixá-los entregues à sua sorte, é deixar muitos portugueses de fora do desenvolvimento. É o mesmo que querer enfraquecer Portugal, no presente e no futuro. Não queremos isso, é por isso que nós socialistas defendemos uma Estado forte, regulador, de excelência, eficiente e eficaz, mas também que se esforça por garantir igualdade de oportunidades aos portugueses. Um Estado que desempenhe uma função que redistribui rendimentos, oportunidades de trabalho e protege os portugueses de diversos riscos que individualmente e sozinhos teriam dificuldade em resolvê-los, como o direito à segurança, à defesa, à saúde, à educação e assegurando um rendimento mínimo. Uma sociedade centrada no conhecimento e serviços, torna as pessoas um dos elementos centrais e as instituições públicas são aquelas que numa primeira instância maximizam o valor humano, a igualdade de acesso, a geração do conhecimento, da inovação e do conhecimento. É essa a visão que nós socialistas têm do papel de estado, garante de direitos políticos, civis, humanos e económicos. Um Estado meramente preocupado com as áreas de soberania, securitário e regulador, dedicado quase exclusivamente à segurança territorial, à justiça e a uma proteção social

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residual, é aquele que permite que as desigualdades se instalem, a exclusão social seja um problema sem resolução e a pobreza uma inevitabilidade para os mais fracos. A visão de um Estado Mínimo e “barato” tem claramente um problema, deixa muitos portugueses de fora de todo este processo e sem bem-estar, não tiramos o potencial das pessoas, nem conseguiremos impor-nos nesta sociedade de conhecimento. Será desumano, mas também um desperdício e limitará o potencial do Potencial Humano existente. Como sempre, e mais importante que nunca, defendemos um Estado ao Serviço das PESSOAS, que intervenha de forma a eliminar injustiças, num serviço de qualidade e de acesso universal, na saúde, na educação, na cultura e numa proteção social eficaz que combata a exclusão social e a pobreza. Claro que estamos de acordo, que se estabeleça parcerias entre o estado e o terceiro setor, em especial aquelas com um caracter mutualista e solidário. Assim, defendemos o seguinte:  

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Um Estado Forte e interventivo no combate às desigualdades, em conjunto com o Terceiro Sector. Serviços personalizados e de excelência para aqueles os cidadãos mais pobres, com menos recursos e capacitados, tendo em conta que para estes alcançarem os mesmos resultados que um cidadão normal, exige um “investimento social” maior. Uma presença de qualidade dos serviços públicos na educação, saúde e outros capazes de servir igualmente todas as classes. Não aceitamos a ideia que os serviços públicos possam significar os serviços para os estratos mais baixos ou para aqueles que não têm condições económicas para recorrer ao setor privado. Um Estado desburocratizado, facilitador para a emancipação das pessoas e sem ser um obstáculo ao desenvolvimento económico, social, cultural e ambiental. Funcionários Públicos com uma ética de trabalho muito orientados para as necessidades dos cidadãos e das instituições portuguesas, qualificados e prestadores de serviços de excelência. Os Serviços de apoio ao emprego deverão ter serviços muito personalizados e direcionados para as situações de pessoas desempregadas mais desqualificadas, de difícil colocação e oriundas de estratos sociais mais desfavorecidos, considerando que são mais necessitadas de um serviço de orientação, apoio psicológico e de reforço à autoestima individual. Um Estado Moderno organizado, funcional e cuja excelência do serviço seja a norma. Um Estado capaz constituir uma rede de parcerias empresariais, associativas e outras instituições que alavancará o processo de internacionalização e globalização da marca Portugal.

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Um Estado Social que combata a pobreza, com uma prioridade especial à pobreza infantil. Um Estado Social que defenda os mais idosos, em especial aqueles que estão isolados e sem recursos.

Uma JUSTIÇA que garanta os direitos das PESSOAS Em Democracia, o sistema de Justiça não pode ser o mesmo que num sistema não democrático. Nenhum Princípio Democrático e Republicano se pode submeter a algo inferior, ainda que em nome de uma formal e aparente independência dos titulares dos cargos dos órgãos de soberania, in casu do terceiro poder do Estado, designadamente sustentável no Princípio da sua Separação dos demais Poderes soberanos ou da sua autonomia traduzidos no sistema orgânico da Justiça superiormente configurado, na Constituição da República Portuguesa (CRP). A CRP elaborada e aprovada pela Assembleia Constituinte, nos idos de 1976 procurou antes de mais, consagrar um sistema político constitucional equilibrado nos seus poderes executivo, parlamentar e presidencial, em que todos se complementavam, mas sem que nenhum predominasse ou concorresse com os demais, em idênticas funções. Mais tarde, as várias revisões constitucionais alteraram este equilíbrio, predominantemente semipresidencialista, para um regime tendencialmente semipresidencialista aumentando-se, os poderes parlamentares. Mas já, no designado 3º Poder do Sistema Judicial, tudo se manteve sem alterações e a vivência dos últimos 40 anos demonstrou que afinal, nem a autonomia administrativo-financeira, nem o seu escrutínio democrático, nem a sua legitimidade sufragada pelos soberanos, nem sequer a democracia formal chegou, a este Poder Judicial. A sociedade civil e ou os políticos não questionam por exemplo, nem a autonomia administrativa e financeira da Assembleia da República, nem da Presidência da República, ou seja, não lhes questionam a legitimidade democrática de elaborarem os seus próprios orçamentos anuais, distintos dos do governo da República, nem os seus quadros de pessoal não dependentes, de nenhum ministério governamental. Se assim é e se tal como os poderes executivo e legislativo este 3º poder que também é, um poder de soberania independente e autónomo então, porque é que ninguém até hoje questionou, o facto deste sistema judicial não possuir desde logo, o seu próprio orçamento? Distinto e confuso é o conceito de independência dos tribunais e da magistratura / juízes, a sua independência é o exercício conforme a Lei e a consciência do titular que aplica a Lei, em nome do soberano povo e tal exige-se que assim seja, sem hierarquias e autónomo na decisão mas só enquanto, um mandato do titular temporalmente existir e não, este mandato ser subvertido, para uma perpetuidade em vida pelo titular, desse órgão de soberania senão, pela sua aposentação.

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A especialidade desta função é porém, mais do que isso, porque é também a daquele que interpreta a o direito constituído e o aplica, com um poder de soberania em nome do povo ou seja, a daquele que segundo o seu saber técnico e da sua livre consciência interpreta e aplica a Lei, fazendo com isso, a Justiça sob a Lei e o Direito devida em nome do seu soberano, o povo português e tudo, porque a Lei maior formalmente designada de Constituição da República, o dita. O acesso e ingresso nas funções exigirão que se mantenham, tal como hoje e sempre requisitos de saber técnico, mas não só e tal como, noutros países civilizados, a área do saber não se deve apenas resumir exclusivamente, à formação académica em Direito. O ingresso deve ser feito após a formação numa nova escola superior pública e a sua aprovação, técnica, ética, e humana, como requisitos e pressupostos. A eventual saída da carreira por termo ou cessação de mandato não renovável, enquanto órgão de soberania deverá passar a ser visto, como o é, a integração dum político legislador/deputado na vida ativa civil, porque em ambos os casos tais profissionais são antes de mais, simples titulares temporários de órgãos republicanos de soberania. Quanto ao Ministério Público, deverá de se deixar de equiparar, o que é inequiparável ao do magistrado judicial porque, a sua magistratura só o é técnica e intelectualmente independente, no mais é funcionalmente dependente numa hierarquia de defensor público e seu representante judicial e ou da iniciativa da investigação criminal, dos interesses dos seus soberanos ou seja, do Povo politicamente organizado enquanto comunidade, no Estado Democrático. Nesta medida, defendemos, a manutenção duma Procuradoria-Geral da República independente, mas sujeita a mandatos públicos únicos não renováveis e a fixar temporalmente, aberto a concurso de acesso depois do cumprimento, de pré-requisitos gerais e especiais, e depois, duma confirmação conjunta dos órgãos de soberania democraticamente sufragados ou seja, pelo Presidente e pelo Parlamento Nacional ou pelos Parlamentos Regionais e ou Locais de entre, uma seleção de candidatos que melhor ofereçam as capacidades e qualidades exigíveis a tal desempenho do cargo. O mesmo se dirá, das comissões desse exercício ou seja, dos seus mandatos de Procuradores do Estado que deverão ser, temporalmente limitados, únicos e portanto não renováveis, pelo menos, para a categoria ou instância a que concorrem e que do mesmo modo se aplicará, na magistratura judicial (única, em resultado da fusão das actuais jurisdições, judicial e administrativa e tributária). Portanto e ainda que, a Constituição da República exprima que os Tribunais exercem a Justiça em nome do Povo, perguntamos como? - Se os titulares dos mesmos não são eleitos, não são referendados, o seu ingresso não é ratificado nem mandatado temporariamente, para esse exercício pelo mesmo povo ou tão pouco, este o avalia e classifica? A sua tomada de posse, a sua fiscalização inspetiva, a sua avaliação e a aplicação disciplinar são internas e auto-organizadas ou seja, traduzem uma democracia orgânica corporativa, bem ao modo instalado pelo Estado Novo. Daí que não se estranhará costumadamente este 3º ter sempre em nome duma errónea independência de livre julgar, deter e

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exercer na prática um poder ilimitado e absoluto, pois os seus titulares são inamovíveis, não sufragados, não escrutinados, nem avaliados. Na sequência consequente deste pensamento, os orçamentos do sistema de Justiça não deveriam poder ser feitos sob proposta do Governo e aprovados pelo Parlamento, enquanto órgãos de soberania executivo e legislativo, mas por eles mesmos – Tribunais, até porque dispõem de receitas próprias mas que não são por si geridas, mas indiretamente por um Instituto Público, denominado Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça, IP – IGFEJ que é um instituto público integrado, na administração indireta do Estado, dotado de autonomia administrativa e financeira e de património próprio, criado no âmbito da Lei Orgânica do Ministério da Justiça que tem como missão assegurar, a gestão orçamental, financeira e das instalações afetas a este Ministério. Por outro lado, também encontramos mais disfuncionalidades ainda que constitucionalmente previstas ou seja, não faz nenhum sentido democrático que hajam dois Conselhos Superiores da Magistratura que corporativamente gerem dois sistemas judiciais diferentes ou seja, a Jurisdição Judicial para os Tribunais Judiciais e a Jurisdição Administrativa e Tributária para os Tribunais Administrativos e Fiscais. Propomos para o efeito numa revisão constitucional rumo à plena Democracia, uma recomposição jurisdicional que implicará uma só Jurisdição que administre as ambas atuais e as funda e faça com que o Estado e a Administração Pública, direta, indireta, autónoma, local e regional mas depois, sem o jus imperi na lide se apresentem, em igualdade de parte, como qualquer cidadão ou administrado. Ou seja, nada de novo aqui se propõe que Portugal, já não tenha tido ancestralmente até à sua revolução demoliberal de 1820 no seguimento da mesma filosofia política da divisão dos poderes em que tal como com a revolução francesa, se hajam separado, afinal numa só putativa, mas declarada, revolução do cidadão e pelo cidadão contra os abusos do Estado absoluto. Porém, a mesma em desvio de poder sequestrou o direito à cidadania que proclamava e manteve e densificou um direito público, que desproporcionou uma desigualdade procedimental e em lide contenciosa sempre que os atos praticados por esse mesmo putativo Estado moderno de cidadania ou de direito eram objeto, de contestação contenciosa jurisdicional pelos seus atos, no uso de meios de garantia dos direitos dos cidadãos. Uma tal atitude do Estado foi na verdade, uma subversão da própria ideia de igualdade e democracia que se autodeclarava defender. Só que ninguém afinal e senão, o próprio Estado (organização político, militar e jurisdicional das gentes que formam a uma comunidades criou, uma entidade a que denominou Estado, delegando-lhe, os seus poderes próprios) que não sendo o soberano ( mas, um seu delegado ) tem, de iuris e de facto um direito superior ao do seu soberano Povo, in casu para julgar e ser julgado nos seus mesmos tribunais, com um direito substantivo e adjetivo próprio. Ou seja, a emanação desse povo soberano representada, pela organização político-militar e judicial que é o Estado depois de criada e instituída através do designado contrato social subverteu-o logo, invertendo-o e usurpando-lhe os poderes em seu benefício próprio contra quem originalmente lho delegara porque era, o seu simples representante. E fê-

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lo, através de putativas regras que em se impõe, a igualdade a todos ou ao seu soberano exceto, a si mesmo. Ora, uma tal subversão dos ideais da separação dos poderes contra um Estado uno e absoluto cujo poder soberano absoluto se autoproclamava advir de Deus, também se pode caracterizar “clinicamente”, como uma patologia de esquizofrenia político-militar e judicial que deve por isso e quanto antes ser reparada e reestabelecer-se, em consonância com outros países que também perfilham, o mesmo Estado de Direito contemporâneo desde há séculos e mesmo, em tempo anterior à revolução francesa que executou no continente europeu, o que no continente americano ou nas ilhas britânicas já existia e se manteve consentaneamente até hoje, com as mesmas ideias re(s)publicanas de liberdade, igualdade e fraternidade. Paralelamente e consentâneo com este ideário dum Estado de Direito social de Direito, moderno e eficiente exige-se hoje a quem lhe presta trabalho, formação escolar e académica capaz, competente e superior às competências exigidas, às da sociedade civil empresarial. Só que tal, hoje não existe, porquanto o que existe para as diversas funções do estado é, uma variada e dividida formação para as suas diversas áreas funcionais, como seja, a formação para a administração pública realizada designadamente, no INA, ou a jurisdicional realizada no Centro de Estudos Judiciais, ou a policial na escola superior de polícia ou a tributária apenas, em formações internas e após o ingresso, na AT - Administração Tributária e Administração, ou ainda também a notarial, só quando o Governo abre concurso e fixa, um número de vagas em que das últimas vezes sucedido tem sido expressamente realizada, na Faculdade de Direito de Coimbra. Entendendo assim que um Estado Democrático moderno e eficiente exige resposta racionais e organizadas na sua estatuição e continuidade justifica propor-se fazer, alterações estruturais, no âmbito duma sua reforma profunda para uma melhoria da sua eficiência e modernidade afinada, ao preenchimento de todas as necessidades coletivas de todas as suas comunidades humanas territorialmente distribuídas, procedendo-se à extinção de tais institutos e a criação de raiz, duma única escola politécnica e superior, com cursos de especialização, de licenciatura, de pós-graduações, de mestrados ou de doutoramentos consoante, as exigências funcionais a que respeitem e numa melhor interpretação das necessárias funções desse Estado e assim, também correspondentes no ensino para tais saídas profissionais, numa já existente e ancestral carreira profissional de funcionário ou trabalhador em funções públicas. A única exceção a esta criação e integração de todo um especial ensino para funções públicas seria, a manutenção do ensino militar secundário e superior como hoje, legalmente está estabelecido e aliás, recentemente reformado. No prosseguimento desta vontade de reformar ( mas reformar cumprindo-se a Democracia alterando ) a superestrutura do Estado, racionalizando-o à dimensão que hoje se exige, ao cumprimento das exigentes funções, políticas, de justiça, económicas, culturais e sociais, no âmbito da estrutura de Justiça, pretende-se abrir, à concorrência todo o notariado, admitindo-se para isso que alguns cartórios notariais “voltem ao Estado” como um serviço notarial público e não exclusivamente, um serviço público concessionado a privados, aliás, como ancestralmente o houve, até ao Estado Novo em que os notários

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privados coexistiam em concorrência, com os notários públicos que era prestado diretamente pela Administração Pública. Mas, ao invés do serviço de notariado há uma década instalado propomos agora, um serviço sem “numerus clausus” delimitado geograficamente como, desde o Estado Novo até hoje persiste ou seja, neste domínio o Estado na década passada limitou-se a privatizar, as funções desse serviço público, mas manteve-o na prática, reduzido a um monopólio em muitos concelhos, como antes o fora, no seu domínio. Ora o que agora se pretende é, aqui também democratizar o exercício destas funções, abrindo-as à liberdade de concorrência ao invés do quadro existente em nome da garantia da sua viabilidade económica, porquanto esta decisão política revelou uma seriedade irracional, sem sentido e altamente discutível que cerceia, a liberdade de escolha do cidadão / utente que afinal, é o seu destinatário, pelo que o regime de monopólio ou oligopólio em certas regiões cria ineficiência e também se revela, antidemocrático. Semelhantemente ocorreu, uma transferência de poderes públicos do âmbito dos Tribunais para uma espécie de funções novas privadas, como foi a criação da figura dos solicitadores de execução. Tal situação privatística revelou-se má e por vezes mesmo com notórias práticas ilícitas e de abusos, pelo que se propõe uma solução idêntica à notarial de criação dum mercado aberto, livre e concorrencial, entre o exercício de tais funções de solicitadoria de execução pelo Estado e pelos atuais solicitadores privados eficazmente supervisionado e não regulado, porque este pressupõe, que um mercado não é livre e concorrencial. Ou seja, o movimento do “25 de Abril de 1974” propôs-se acabar com os monopólios, mas aos então existentes fossem públicos ou privados, subsistiram e apenas dependendo do tempo histórico alteraram-se, ora passando da titularidade pública para o privado, ora deste para o público, e assim sucessivamente. Este mal de Portugal é um mal, ancestralmente estrutural, que acaba sempre ( mal ) pago pelos destinatários e pelos contribuintes. Portanto, a democratização do Estado e a sua racionalização exige o termo destas ambiguidades, destas abusivas formas de democracia orgânica, absolutamente ineficientes, porque a democracia é também isto, a livre e consciente liberdade e possibilidade de escolher ou de ir a um notário e não, àquele que o Estado delimitou por esta ou aquela razão. Ora estamos em momento de querer mudar e para mudarmos, temos que primeiro avaliar o status quo e só do conhecimento avaliativo desse resultado, podemos conferir a necessidade de corrigir o errado, sempre na base de que a Liberdade é o Princípio e o Fim, porque o exercício da Liberdade é em si, um ato voluntário radical, o ser livre exige, não ter medo, porque é sabido que o medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo pois se espera que haja sempre alguém, a vir fazer o que a preguiça não nos deixa, sustentado na ideia de que é sempre mais fácil alguém fazer o que tem que ser feito, por nós, quanto mais não seja, até para justificarmos ulteriormente o mau resultado e assim, se dizer mal. Ainda no sistema de Justiça exige-se que se acresce ainda, uma reforma tributária nos vários tributos designadamente sobre o rendimento das pessoas singulares segundo um 31


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novo paradigma, de tributá-las pelo lado das despesas como é, a experiência dos Estados Unidos da América, mas também, da Lei Geral Tributária e do Código do Procedimento e do Processo Tributário, no sentido de aquela, dever ser só a Lei-quadro dos direitos e deveres substantivos dos contribuintes expurgando-a, das matérias procedimentais e processuais hoje nela contidos e que reverterão, para um novo Código de Procedimento e do Processo Tributário tudo justificável, pela especial relevância de direito constituído há décadas, nesta matéria tributária e portanto, assim se mantendo autonomizado do direito administrativo geral. Finalmente, todas estas propostas constitucionais e legislativas, de jure constituendo terão que ter, a necessária correspondência nas leis ordinárias, designadamente na adaptação dos respetivos códigos de direito substantivo e adjetivo e nas demais leis-quadro e regulamentos das matérias, das funções e dos seus respetivos profissionais.

Resgatar a Democracia na Justiça e no Direito 1. Garantir o Acesso dos Cidadão ao Direito e à Justiça a) Introduzir disciplinas obrigatórias de Cidadania, desde o 2.º Ciclo do Ensino Básico e até final do Secundário, incluindo nelas o estudo da Constituição da República, dos Tratados Europeus e dos Instrumentos Internacionais de Proteção dos Direitos do Homem. b) Reduzir a Tributação na Justiça, deixando a mesma de ser dissuasora do recurso à mesma pelos Cidadãos, embora controlando os abusos de litigância. c) Criar uma Carreira de Advocacia Pública, substituindo o atual sistema de defesas oficiosas.

2. Construir uma Magistratura comprometida com a Ordem Constitucional: a) reformar a formação realizada no Centro de Estudos Judiciário, com especial ênfase nos Direitos Fundamentais garantidos pela Constituição da República, pela Carta da União Europeia e pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem. b) Instituir a reserva obrigatória de um mínimo de ¼ das vagas para Desembargador e para Conselheiro a Juristas de reconhecido mérito, incluindo uma experiência profissional jurídica não inferior a 10 anos para o primeiro caso e de 20 anos para o segundo.

3. Democratizar a Governação das Magistraturas: a) Reformar a composição dos Conselhos Superiores da Magistratura, dos Tribunais Administrativos e Fiscais e do Ministério passando a maioria dos seus membros a ser eleitos, por maioria qualificada, na Assembleia da República, também com representação eleita paritariamente por parte dos Juízes e dos Advogados e dos Solicitadores, assim como dos Procuradores e dos Advogados e Solicitadores, respetivamente.

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b) Introduzir a eleição parlamentar, por maioria qualificada, dos Presidentes dos Supremos Tribunais e do Procurador-Geral da República, de entre Juristas de reconhecido mérito, não integrados em qualquer uma das Magistraturas.

4. Adequar a Legislação aos Valores Constitucionais: a) Alterar, o antes possível, as Lei cuja aplicação tem permitido os maiores entorses às Liberdades garantidas pela Constituição da República, designadamente o Código de Processo Penal, com um encurtamento dos prazos da prisão preventiva e o explicitar que todos os prazos são perentórios. b) Rever sistematicamente as Leis cujos fundamentos não correspondem aos da Constituição da República, com especial ênfase nas que ainda restam do Estado Novo e nas de inspiração Neoliberal.

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V.

Resgatar a Educação.

Educação – revolucionar o sistema de ensino colocando o individuo no centro do próprio sistema. O sistema educativo deve definir um modelo de progresso assente na promoção do Capital Humano e, consequentemente, do Capital Social. A Educação é desta forma o principal setor de promoção de desenvolvimento e as professoras e os professores os seus principais agentes.

A reforma profunda do sistema passa, desde logo, por definir muito objetivamente o que se pretende ser as competências fundamentais do indivíduo/cidadão. Sendo as sociedades impulsionadas pelo fator humano, é necessário criar um contexto formativo/educativo que promova, efetivamente, o ser humano e as suas dimensões, numa perspetiva integral. Defendemos que do ensino Pré-escolar ao 2.º Ciclo o processo de ensino-aprendizagem se centre no desenvolvimento das emoções, dos afetos, dos sentimentos. Deverá ser valorizada a aprendizagem através das artes e das expressões, da pesquisa/descoberta, do lúdico e sempre a partir do individuo/da criança.

Por outro lado, o tempo na escola deve ser reduzido relativamente à “institucionalização” da criança destes ciclos de ensino que se processa atualmente. Para isso, será necessário reduzir os horários de trabalho dos encarregados de educação, de forma gradual e crescente que acompanhem a capacidade de autonomia da criança, até ao final do 2.º ciclo (por volta dos 13 anos).

Todos os espaços e equipamentos sociais (culturais, desportivos, turísticos) são recursos educativos existentes nos vários municípios. Estes espaços são locais de aprendizagem alternativos à sala de aula que devem ser potenciados/aproveitados de forma mais efetiva.

Reduzir o tempo de escola é “dar espaço” à criança para que se desenvolva integralmente de acordo com as suas características bio-psico-socioculturais, estimulando-as de forma direcionada de acordo com a sua vontade. Este trabalho pedagógico deve ser realizado tendo em conta um plano de desenvolvimento curricular assente em competências e não em saberes académicos. O conhecimento, hoje, está disponível através de várias fontes de informação. Mais do que dominar o conhecimento o indivíduo deve possuir competências para pesquisar, encontrar e sistematizar criticamente a informação recolhida.

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O professor não pode, portanto, nesta visão de Educação, ser um “funcionário” administrativo que cumpre com os prazos e objetivos burocráticos. O professor deve assumir novamente o seu lugar de mestre e conduzir a criança no seu processo educativo, com o enquadramento referido anteriormente, particularmente até ao final do segundo ciclo. Alterar o paradigma da sala de aula e de turma, responsabilizando as famílias pelo acompanhamento (a redução do horário de trabalho assim o permitirá). Sensibilizar para a necessidade da criança/do individuo ter tempo e espaço para si (para a autorrecreação, criatividade, imaginação, ter tempo e espaço para brincar).

Implementar as novas tecnologias da educação em todas as escolas básicas do país. Formar, educar e sensibilizar toda a comunidade para as novas ferramentas e promover o seu uso de forma saudável, salutar.

Tudo o que fazemos, como fazemos, é fruto de uma determinada cultura, de uma cosmovisão específica de um contexto geo-humano, cada vez mais complexo, em que as fronteiras geográfico-administrativas não constituem o único limite no processo aculturativo. Os mass media alteraram consideravelmente este processo. No entanto, grande parte da nossa “cultura” individual e coletiva assenta quer no legado biológico, quer no contexto ambiental (psico-socio-cultural). Mais do que as palavras, os exemplos/os modelos educam/formam mais eficazmente. O processo de desenvolvimento baseia-se, invariavelmente, na alteração contínua e crítica, do modus operandi e do modus vivendi. Esta motivação para a mudança baseia-se num determinado índice de desenvolvimento pessoal e social, ou seja: cultura - ser mais e melhor cidadão.

Temos, assim, dois planos: 

Políticas de Promoção Cultural: estratégias de ação “invisíveis” para a promoção do potencial humano e do capital social, através da articulação ativa entre os vários agentes (entidades, instituições, empresas, etc. – desde logo a partir das escolas), de forma orientada, objetiva. Programação/Animação Cultural: que constituem o corolário da ação “invisível” através de atividades e eventos de pragmatização/operacionalização das estratégias. Especial atenção para a articulação crucial com o Turismo (enquanto setor estratégico e onde a animação cultural possui importância acrescida).

O investimento nas indústrias das artes e da cultura são, também, de grande importância económica, particularmente ao nível da exportação (produtos distintivos, diferenciados e diferenciadores, mesmo para aqueles provenientes dos setores tradicionais/convencionais).

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Ao nível da Música, em particular, o país possui massa crítica capaz de competir nos mercados internacionais da indústria musical. Desde logo no produto que nos distingue e através do qual podemos exportar todo o país: o FADO. No entanto, noutros géneros e estéticas, o país tem produzido conteúdos que podem concorrer na indústria musical internacional. As publicações internacionais da especialidade têm reconhecido este potencial endógeno do país, internamente subaproveitado, se não mesmo ignorado ou marginalizado. A formação ao longo da vida é uma necessidade de sustentabilidade futura, valorizando o trabalho é um direito justo, mas um bom investimento a médio e longo prazo. Redução do horário de trabalho, especialmente para encarregados de educação com crianças entre os 0 e os 13 anos, gradual e progressivo. Especificidades do horário de trabalho em função do agregado familiar e dos dependentes.

A formação ao longo da vida é uma necessidade de sustentabilidade futura “Numa sociedade com base no conhecimento, por definição é necessário que você seja estudante a vida toda” Tom Peters

No século XXI a velocidade da mudança é enorme. Todos os dias novas técnicas, tecnologias e produtos são desenvolvidas, colocando rapidamente um trabalhador, uma empresa ou um produto desatualizado. A globalização não significa só a integração mundial das economias, da sociedade, das culturas e da política. Significa também a comunicação instantânea em qualquer parte do mundo, fruto do uso generalizado da internet, das comunicações baratas e de fácil acesso. O investimento hoje efetuado em I&D (Investigação & Desenvolvimento) é enorme, descentralizado pelas diversas partes do mundo, colaborativo e os seus resultados rapidamente se disseminam. É por isso, que atualmente as economias são mais instáveis e a incerteza é maior. Os ciclos que anteriormente eram longos, hoje são muitos mais curtos, colocando um trabalhador especializado, uma técnica vanguardista e um conhecimento de ponta, rapidamente desatualizados e perecíveis. É por isso que muitos designam à época que vivemos uma sociedade ou economia do conhecimento e de serviços. O conhecimento é a fonte de valor, é o capital social de uma sociedade e a ignorância passa a ser um fator de pobreza.

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Ora esta situação, para um socialista, levanta outras questões. Sendo o conhecimento o fator de riqueza pode transformar-se numa grande fonte de desigualdades. Assim, o conhecimento tem que ser visto como um bem público, que exige intervenção do Estado para possibilitar que seja redistribuído se queremos uma sociedade com igualdade de oportunidades, um país desenvolvido e que se possa impor numa economia globalizada. O conhecimento e a sua atualização passam a ser um dos fatores mais importantes para a Emancipação das Pessoas e é necessário criar políticas públicas que promovam, incentivem e facilitem uma Formação ao Longo da Vida dos Cidadãos e de todos os trabalhadores, quer nos conhecimentos, competências básicas quer competências mais especializadas. O desenvolvimento económico e social beneficiará se o acesso à formação ao longo da vida for uma generalidade e não acessível exclusivamente a uma elite. Neste quadro, o acesso à formação passa a constituir-se um novo direito universal e que todos os cidadãos deverão ter acesso. É uma forma de criar um efeito indutor nos territórios, como as infraestruturas. Uma forma de prevenir situações de pobreza e exclusão, mas também maximizar o potencial económico do capital humano existente no país. É central ter políticas públicas que garantam o acesso à formação de qualidade, de uma forma sistemática a todos os cidadãos, como forma de prevenir desatualizações, situações de exclusão social e de desemprego. Como a educação a formação incentiva a mobilidade social e melhora o contexto económico dos territórios. O Estado precisa de controlar, intervir e influenciar a formação, pois só assim se incentiva e se generaliza a transferência de valor para os indivíduos. De outra forma, nem todas as organizações e empresas terão incentivos para investirem na formação dos seus trabalhadores, nomeadamente as micro e as PME’s, considerando que o conhecimento não fica na sua posse destas, mas de cada trabalhador individualmente que aumenta a sua capacidade de mobilidade e empregabilidade. Deste modo, aumenta-se a competitividade económica de uma forma genérica, em especial das Micro e das PME’s, como se aumenta as condições de empregabilidade individual dos trabalhadores, prevenindo de riscos de desemprego e garantindo a sua Emancipação. Assim, a formação torna-se estratégica e é um instrumento de investimento económico, social e humano, com um efeito de alavanca para os cidadãos, as instituições e territórios. Como refere o camarada Carlos Zorrinho no seu livro “Ordem, Caos e Utopia” Essa esperança reside antes numa progressiva consciencialização dos cidadãos para novas oportunidades e para a oportunidade de jogar um jogo de soma positiva em que o enriquecimento de uns não signifique necessariamente o empobrecimento de outros. Assim, defendemos o seguinte: 

Definir um quadro de competências base que qualquer trabalhador ou cidadão deverá possuir, de forma a criar um programa nacional de formação a qualificar

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todos aqueles que não possuem as competências base necessários no atual quadro económico. Disponibilizar um serviço centralizado de aconselhamento e disponibilizando informação sobre as necessidades formativas do mercado, a oferta formativa existente, a avaliação de instituições / cursos para que todos os trabalhadores interessados possam recorrer. Promover incentivos fiscais às empresas e trabalhadores como forma de incentivo a recorrerem à formação contínua para reciclagem, atualização de conhecimentos ou adquirir novas competências. Assegurar o acesso a todos os cidadãos formação ao longo de vida de qualidade, eliminando instituições e cursos, cuja qualidade seja comprovada insuficiente. Assegurar a todos os desempregados com necessidades de se requalificarem, o acesso a formações em que possam adquirir competências valorizadas pelo mercado de trabalho, quer serviços personalizados de coaching e de procura ativa de trabalho. Dever-se-á incentivar o investimento em plataformas de formação à distância, utilizando as TIC’s e conteúdos de formação em língua portuguesa, como forma de potenciar o acesso livre, remoto dos portugueses à formação, de cidadãos provenientes de países lusófonos e de outras nacionalidades. Assim, este instrumento como potenciador do capital humano dos portugueses, também promove a nossa língua – um ativo de grande valor que temos de valorizar. Dever-se-á fomentar a concentração de instituições universitárias de forma a potenciar os seus recursos, quer sejam materiais ou humanos, para responder às necessidades formativas da sociedade. Para tal é necessária uma maior abertura democrática da sua governação uma vez que o modelo atual favorece a gestão em circuito fechado e muito vulnerável à sua oligarquização. É também importante que se defina de uma forma clara o modelo de governação das instituições públicas pagas com o dinheiro dos contribuintes. Em qualquer instituição que receba dinheiro público, é importante que o Estado se encontre representado na sua governação. Dever-se-á reestruturar e concentrar os Centros de Investigação, de forma a criar massa crítica com maior dimensão e assim desenvolver redes de investigação com maior expressão europeia. O investimento em I&D deverá ser concentrado em áreas estratégicas que potenciem ou criem valor que beneficie a indústria local. O “accountability” da investigação deverá ser mais direcionado à patente bem como à sua relação com o mundo empresarial.

Transformar Portugal num hub de inovação educativa O papel da educação deve ser o de ajudar a potenciar o valor intrínseco de cada indivíduo, desenvolvendo as suas habilidades naturais e promovendo a sua integração social.

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O grande desafio que se coloca hoje aos sistemas educativos em todo o mundo é o de serem capazes de mudar o paradigma informacional e mecanicista de ensino, como plataforma de distribuição massiva de informação do professor para o aluno, para um paradigma relacional e motivacional, em que o processo de aprendizagem é fortemente interpretativo, dedutivo e coletivo, promovendo a autonomia e proporcionando percursos personalizados de aprendizagem. As dinâmicas de sucesso são cada vez mais baseadas na capacidade de transformar informação em conhecimento e conhecimento em competências e capacidade de inovar. Um dos desafios que se coloca ao novo governo passa por apostar no know-how e na capacidade instalada no domínio da Sociedade da Informação de que o país hoje dispõe e que resultou da forte mobilização e envolvimento da sociedade civil, da política pública, a colaboração entre as entidades de ensino superior (Universidades e Politécnicos), os centros de I&D os centros tecnológicos, os Laboratórios do Estado, os Laboratórios Associados, as empresas e outras entidades privadas, que se lançaram em parcerias para o desenvolvimento de aplicações, serviços e soluções tecnologicamente avançadas, capazes de suportar programas de desmaterialização e simplificação na relação dos cidadãos e das empresas com o Estado, bem como na massificação de soluções de conectividade de alto débito e de terminais. No domínio da Educação foram prosseguidos entre 2006-2011 programas inovadores, resultantes de parcerias entre o Estado e o sector privado, que permitiram: a) ligar todas as escolas públicas à Internet em Banda Larga, sendo Portugal um dos primeiros países do mundo a alcançar este feito; b) massificar a oferta de computadores portáteis com ligação à banda larga móvel a todos os alunos do ensino básico e secundário; c) equipar as escolas com uma infraestrutura tecnológica e um ecossistema TIC em contexto de sala de aula; d) iniciar a formação de professores com competências TIC em contexto de aprendizagem. Os resultados destes investimentos foram claros. A OCDE desenvolveu um estudo específico no PISA 2009, de avaliação das competências digitais dos alunos, Students On Line Digital Technologies and Performance. Segundo esse estudo, os estudantes portugueses classificaram-se em 1º lugar em três indicadores: na atitude face aos computadores; na confiança na realização de tarefas de alta complexidade com as TIC; e na capacidade para produzir uma apresentação multimédia. E obtiveram o 2º lugar, na capacidade de utilização de folhas de cálculo. Não obstante o desinvestimento que esta área sofreu nos últimos anos, materializada na suspensão do Plano Tecnológico da Educação em 2011, o track-record de Portugal no domínio das TIC da Educação e o reconhecimento internacional nesta área, permite que o país possa legitimamente ambicionar transformar-se num hub de inovação na área educativa, nos próximos anos. Neste contexto, Portugal tem vindo a construir um ecossistema tecnológico no domínio do ensino e aprendizagem, que está a mudar o paradigma educativo e a fazer nascer um novo conceito de escola: a escola digital. Uma escola onde a tecnologia estimula e acelera

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a inovação, a criatividade, o pensamento crítico, a capacidade de resolução de problemas e o trabalho colaborativo e onde os alunos estão no centro do processo educativo. Com o objectivo de alavancar a capacidade instalada e o potencial de crescimento nesta área, Portugal tem todas as condições para desenvolver e formalizar um Cluster na área da inovação educativa, que reúna os recursos físicos, financeiros, de conhecimentos, de tecnologias e de metodologias, capazes de garantir e reforçar o seu posicionamento nos mercados globais, através da valorização contínua e sustentada da sua capacidade de gerar produtos, processos e serviços inovadores e de alta qualidade, que viabilizem a criação de uma cadeia de valor. O Cluster da Inovação Educativa deve constituir-se como um laboratório de inovação e criatividade, que funcione em ambiente de “media lab”, reunindo investigadores das mais variadas áreas do saber, proporcionando um contexto interdisciplinar único para explorar novos conceitos disruptivos e as suas aplicações na interação da computação, da comunicação e da pedagogia. Este Cluster deve constituir um centro de convergência entre as Universidades, os Politécnicos, as escolas, os centros de investigação e as empresas, devendo ser integrado numa rede mundial de inovação, criando parcerias estratégicas com os principais centros globais de inovação. O trabalho deste Cluster de excelência deverá ser dinamizado por investigadores e profissionais na área da educação, oriundos do sistema de ensino e das empresas, com o objetivo de desenvolver projetos mobilizadores de inovação, em ambiente multidisciplinar, nos domínos do hardware, software e conteúdos digitais, e a sua produtização, fabricação, comercialização e internacionalização pela indústria das tecnologias educativas. Portugal deve ambicionar ser capaz de gerar um ecossistema virtuoso, assegurando o funcionamento de um ciclo completo, integrado e adaptável às exigências das sociedades atuais, envolvendo as entidades e as políticas públicas, as empresas e os estabelecimentos de ensino, em estreita articulação com as famílias e as comunidades locais, quer no mercado nacional quer nos mercados globais. Os programas Portugal 2020 e Horizonte 2014-2020 constituem o enquadramento ideal ao desenvolvimento de um Cluster de Inovação Educativa que se constitua a partir de Portugal como um hub de inovação no contexto global. Fazê-lo será retomar uma política de criação de valor, dando cumprimento à medida prevista no Programa do XXI Governo Constitucional: Promover o lançamento de um Polo de Competitividade e Tecnológico para a inovação educativa, através de uma plataforma de colaboração entre escolas, empresas, laboratórios e sociedade civil, para a inovação educativa.

Soberania na educação Permitir o ingresso de recém-licenciados, ou licenciados de longa duração, na Administração Pública (AP), através de bolsas de estágio ou outras, de modo a aproveitar o atual quadro comunitário 2020 para formação, no sentido de renovar os quadros, até aqui o estado apenas absorve os licenciados em medicina. Falta renovação inter-relacional na

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AP, até por uma razão de melhorar e incentivar a eficiência dos atuais quadros da AP (a maior parte com mais de 50, 60 anos). Uma ligação mais sólida à universidade, no sentido de aproveitar os melhores recursos, pois acabamos por exportar, forçadamente, os nossos quadros para outros países que aproveitam a nossa excelente formação. Terminar com o 12.º ano para quem não pretende ingressar na faculdade. Restaurar o ensino técnico e industrial. Atribuir qualificações e formações técnicas, graus de técnicos em variadas profissões tão uteis à sociedade (canalizador, pedreiro, técnico de informática, entre inúmeras outras..) tendo em conta que por exemplo que com as novas leis decorrentes da transposição de diretivas, obrigatórias, são necessárias qualificações para o desempenho de diversas atividades (exemplo construção). A par disso, incentivar que determinadas áreas agora na orla dos biscastes, passem com a qualificação adquirida regular determinadas áreas do mercado de trabalho e passem também a passar faturas. Seleção natural entre os que tem qualificações e os que não tem. Relacionar com segurança no trabalho, a exigência de seguros.

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VI.

RESGATAR A Cultura

Tudo o que fazemos, como fazemos, é fruto de uma determinada cultura, de uma cosmovisão específica de um contexto geo humano, cada vez mais complexo, em que as fronteiras geográfico-administrativas não constituem o único limite à cultura. Os mass medias alteraram consideravelmente este processo. No entanto, grande parte da nossa “cultura” individual e coletiva assenta quer no legado biológico, quer no contexto ambiental. Mais do que as palavras, os exemplos/os modelos educam/formam mais eficazmente. O processo de desenvolvimento baseia-se, invariavelmente, na alteração contínua e crítica, do modus operandi e do modus vivendi. Esta motivação para a mudança baseia-se num determinado índice de desenvolvimento pessoal e social, ou seja: cultura - ser mais e melhor cidadão. Temos, assim, dois planos: 1) Políticas de Promoção Cultural: estratégias de ação “invisíveis” para a promoção do capital humano e do capital social, através da articulação ativa entre os vários agentes (entidades, instituições, empresas, etc. – desde logo a partir das escolas), de forma orientada, objetiva. 2) Programação/Animação Cultural: que constituem o corolário da ação “invisível” através de atividades e eventos de pragmatização/operacionalização das estratégias. Especial atenção para a articulação crucial com o Turismo (enquanto setor estratégico e onde a animação cultural possui importância acrescida). O investimento nas indústrias das artes e da cultura são, também, de grande importância económica, particularmente ao nível da exportação (produtos distintivos, diferenciados e diferenciadores, mesmo para aqueles provenientes dos setores tradicionais/convencionais). Ao nível da Música, em particular, o país possui massa crítica capaz de competir nos mercados internacionais da indústria musical. Desde logo no produto que nos distingue e através do qual podemos exportar todo o país: o FADO. No entanto, noutros géneros e estéticas, o país tem produzido conteúdos que podem concorrer na indústria musical internacional. As publicações internacionais da especialidade têm reconhecido este potencial endógeno do país, internamente subaproveitado, se não mesmo ignorado ou marginalizado. Ao nível da cultura propõe-se o seguinte conjunto de medidas: Profissionalização da carreira artística ́ Com vista a uma maior dignificação da profissão da carreira artística em Portugal, pretende-se criar por um lado um sistema de carreiras públicas, baseado no mérito e no número de anos e atividade dos vários profissionais do setor, (que permita que ganhem mais, e consequentemente façam mais descontos), e por outro uma efetiva proteção dos

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mesmos quando a sua carreira acaba que lhes permita ter qualidade e acima de tudo dignidade de vida. Com este objetivo em mente pretende-se definir e apresentar quatro eixos estratégicos: 

Eixo número 1 - Requalificação e formação dos quadros superiores e intermédios do setor cultural (Museus, Casas de opera, Monumentos, locais e Nacionais, teatros e outros equipamentos culturais)

Eixo Estratégico 2 - Modernização do setor através da revitalização dos recursos humanos existentes no estado no setor cultural

Eixo estratégico 3- Criação Proteção e dignificação dos profissionais da Carreira Artística Dentor destes três eixos são apresentadas algumas medidas em concreto.

Eixo estratégico 4- Empowerment do setor artístico através da potenciação de reais campanhas e apoio estatal às artes em toda a sua plenitude e de formação

Por outro lado, torna-se assaz importante: 

Promover o incentivo à contratação por parte de empresas públicas e privadas de artistas lutando assim contra a precariedade do setor cultural e artístico.

Oferta de serviços de aconselhamento jurídico sobre direitos de autor a artistas e ou profissionais das artes plásticas ou do audiovisual, (medida preventiva) utilizando para isso juristas e advogados do estado, ou até outro tipo de entidades Privadas, ou um serviço de proteção de direitos de autor estatal, que ofereça a artistas possuidores desse estatuto serviços especializados de contencioso relacionado com direitos de autor (medida reativa)

Criação de um regime específico e especial de segurança Social destinado a artistas, que poderão usar/usufruir até um ano consecutivo e até um máximo de quatro vezes ao longo da sua carreira, este sistema funcionaria como um subsídio de desemprego, sempre que as pessoas não conseguissem arranjar trabalho.

Criação de um regime de benefícios fiscais no apoio às artes, especialmente, direcionado para empresas locais, Microempresas ou PME que o façam e que será deduzido no IRC.

Criação de um regime de salários públicos para os artistas de artes performativas, pintores, escultores, e outros, que não permitam uma redução abaixo do salário base.

Controlo de subemprego e de utilização excessiva de part times ou lay offs, no setor cultural, os quais, potenciam e obrigam os trabalhadores a arranjarem três empregos.

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Obrigatoriedade das empresas aumentarem os ordenados dos trabalhadores liberais artistas, este aumento estará indexado ao aumento do volume de negócios/lucro das empresas

Proibição por parte dos gestores culturais, e diretores de recorrer ao despedimento e à recontratação a fim de manter os mesmos ordenados.

Esta dignificação dos artistas passa também por criar contratos dignos para os museólogos e ou assistentes de salas de exposições, os quais muitas vezes se mantêm em programas de estágio não remunerados ou voluntariados sem sentido.

Criação de multas pesadas para entidades que comprovadamente submetam os artistas a trabalhar mais de 12 horas consecutivas.

Criação de um estatuto especial de IRS para os artistas e profissionais liberais criativas, diferente do trabalhador em nome individual. Reabilitar 55% do tecido profissional da DGPC, o qual no último inquérito feito tinha mais de metade dos trabalhadores com mais de 50 anos de idade.

Implementação de quotas de artistas liberais e criativos nos quadros das empresas públicas e também pessoas de ciências sociais. Criação de uma rede de internacionalização para a cultura.

Maior distribuição dos valores do orçamento de estado por outras áreas que não a televisão e alguns artistas famosos como o último OE possui.

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VII. Resgatar a Politica Externa e a Diplomacia Económica Portugal tem tradição de ser um país cujos objetivos políticos externos têm estado em consonância e convergência nas relações com os demais países do mundo. Apesar de Portugal estar na União Europeia, não perdeu a capacidade, como país soberano de se relacionar com outros países, deve por isso ter uma estratégia definida e planear a sua atuação de modo a procurar proteger os nossos interesses nacionais. Áreas como a segurança nacional, valores, a prosperidade e a preservação da paz, devem ser tidas em conta. A Diplomacia/política económica exterior deve ser cautelosa de nodo a conseguir manter o equilíbrio da balança de pagamentos. Defendemos a manutenção da nossa boa atuação diplomática no mundo inteiro, onde os nossos diplomatas são reconhecidos, mas, também reconhecemos que precisamos aprofundar a componente divulgação e prestígio de Portugal. Damos como adquirido e com a convicção que devem ser contínuos e continuados, os esforços diplomáticos na defesa dos interesses Portugueses (como por exemplo aumento da plataforma marítima, pescas etc…), segundo as diretrizes do Governo, mas pensamos que neste capítulo devemos ir mais longe. A Diplomacia começa no nosso país, é com a formação cuidada de recursos humanos que obtemos diplomatas capazes e bem informados, que consigam com a sua ação projetar o nome de Portugal Positivamente. É desprestigiante para Portugal, primar pela ausência e por uma fraca, mal informada ou impreparada delegação nos eventos internacionais, ou mesmo sem estar munida dos poderes plenipotenciários necessários para que se fechem acordos ou negócios. A nossa missão nas Nações Unidas tem de ser mais pró-ativa, não podemos primar pela ausência por falta de meios humanos ou materiais. As comissões das NU/UN que existam têm de ter Portugal presente e ativo, e Portugal tem de ir além dos aliados europeus, tem de pugnar para que se obtenha um consenso de posições entre os países lusófonos, é importante formar um bloco sólido e credível se queremos ser levados a sério no panorama internacional. Este tipo de atuação não pode ser de uma só legislatura, tem de ser um compromisso de atuação permanente e coerente, tem de existir uma política externa suprapartidária, que só deve ser ajustada e não ter mexidas de fundo depois de acordada. Devemos aprofundar a nossa relação com os países da Lusofonia, afinal 500 anos de história comum não se podem ignorar.

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Apesar de realisticamente sabermos que o que move os países não são amizades, mas interesses, não se pode descurar também a miscigenação entretanto ocorrida, e que faz com que muitas famílias tenham em todos os países parentes ou descendentes. São, pois, relações que vão além da teoria da ciência política, e que cabe ao nosso Estado manter o interesse e as expectativas elevadas, afinal falamos todos a mesma língua. A diplomacia económica é algo que Portugal deve apostar forte, o “voltarmos ao mar”, o estabelecermos novamente as rotas comerciais como fizemos no tempo dos descobrimentos, promover os nossos Produtos, mas, e a nossa experiência dita isso, rececionarmos produtos estrangeiros incentivando as trocas comerciais, para que a balança comercial não fique desequilibrada. Somos uma das portas de entrada e saída da Europa, há que investir, promover e aprofundar esta mais-valia. De nada vale termos uma excelente Diplomacia Económica, se internamente, não temos uma boa rede ferroviária, de modo a poder funcionar eficientemente uma plataforma giratória de bens de importação e de exportação. Tendo em conta que a CPLP é formada por nove Estados soberanos e que estão espalhados pelos cinco continentes. São eles: a República de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde, a República da Guiné-Bissau, a República da Guiné Equatorial, a República de Moçambique, a República Portuguesa, a República Democrática de São Tomé e Príncipe e a República Democrática de Timor-Leste, e que no seu conjunto somam 267 milhões de habitantes. Com os países lusófonos devemos ir mais longe, por exemplo: 

O conjunto de países lusófonos, possui inúmeras mais-valias: •

Universidades,

Artistas de cinema/teatro/TV,

Escritores,

Cantores

Estas mais-valias devem ser incentivadas com parcerias, promoções de espetáculos, incentivo a estudos e obras conjuntas. Ou seja, uma rica cultura, que em todos e cada um dos países não é suficientemente conhecida e/ou divulgada. 

Incentivar programas de TV conjunto (tais como concursos, telenovelas, programas culturais e de natureza), bebendo uns com as experiências dos outros, aumentar o mercado e as audiências.

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Incentivar iniciativas culturais simultâneas

Realizar uma cimeira, para:

A adoção de medidas de emigração e imigração, menos restritivas e formais para os países lusófonos.

Equivalências de curricula escolares/universitários, e reconhecimento de diplomas.

Facilitação dos pedidos de dupla nacionalidade entre os países lusófonos.

Aproveitar o mercado de 267 milhões de habitantes, para em conjunto realizar: •

Jogos do Estado conjuntos;

Feiras regulares de produtos das diferentes regiões dos países lusófonos;

Incentivo para que os Transportes de pessoas e mercadorias, sejam colocadas a um custo mais favorável, que permitam trocas comerciais, e deslocações entre países mais acessíveis aumentando assim o seu volume;

Adoção de tarifas telefónicas conjuntas, garantido que deixa de haver roaming pago entre os países lusófonos;

Promover e incentivar a geminação, estreitando os laços, com municípios e freguesias com o mesmo nome;

Considerando algumas faltas que possam existir a nível escolar de alguns países lusófonos, promover e incentivar campanhas e missões conjuntas nesta área, de modo a colmatar essa falha.

Incentivar o know-how universitário, científico e tecnológico que os países possuem, para em conjunto construírem uma rede de satélites que beneficie o mundo lusófono.

Considerando que existem uma série de falhas nos sistemas de satélites dos países, nomeadamente existem países que ainda não possuem cobertura via satélite para mapiação georreferenciada ou de previsão do tempo (entre outras), aproveitar os recursos humanos e financeiros e o Know-How conjunto, aproveitando a base de lançamentos de Alcântara ou outra, para colocar em órbita espacial uma rede de satélites de comunicações e meteorológicos lusófonos.

É no nosso país que se prepara uma diplomacia de sucesso, seja ela económica, política ou outra. A Diplomacia Económica não deve ser feita exclusivamente através das nossas missões diplomáticas, mas a participação efetiva e com responsabilidade, em feiras internacionais, seminários, conferências e outro tipo de eventos internacionais ou que as missões diplomáticas considerem de relevância, deve ter a participação do nosso país de forma a atrair investimento estrangeiro e incentivar a exportação, e contribuir com prestígio para o engrandecimento do nosso país. 47


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Deve existir um canal estreito entre a nossa missão diplomática e os nossos ministérios, e as nossas associações empresariais, sindicais e mundo associativo, de modo a que esta informação flua e que se possa constantemente projetar o nome de Portugal internacionalmente, Isto traduzir-se-á não só em prestígio, mas em retorno económico, é um investimento com retorno, que embora a prazo será contínuo. As missões diplomáticas devem por isso conter elementos dos serviços de inteligência, que possam pesquisar e difundir essa informação de modo a que Portugal possa participar com prestígio e impacto nesses eventos. 

Missões diplomáticas •

As nossas missões diplomáticas devem por isso apoiar a diplomacia económica ativamente.

As nossas missões diplomáticas devem estar mais próximas e servir os nossos cidadãos que estão emigrados, A obtenção de documentos e outras formalidades administrativas devem ser facilitadas e disponibilizadas em vários tipos de plataformas, o serviço e resposta aos cidadãos que a solicitem deve ser célere. A obtenção de um cartão de identificação português uma segunda via da carta de condução, não pode estar sujeita a semanas ou meses de espera.

Ao contrário do que nos querem fazer crer, Portugal não é só um país de turismo, temos condições de chegar muito mais além, possuímos conhecimento, “savoir–faire” e inteligência para termos sucesso no estrangeiro, para contribuir ativamente para a paz mundial, para o desenvolvimento sustentado e outras matérias que são necessárias à humanidade, por isso as nossas missões diplomáticas devem ser a primeira linha de promoção de Portugal no estrangeiro, devem ser pró-ativas, para tal deverá ser criado um programa tipo de Promoção “Portugal 3000” (o nome é meramente exemplificativo), onde tenhamos em todo o lado uma ação comum de promoção do país, mutatis mutandis adaptado para cada país, promovendo: o O nosso conhecimento, e a nossa vontade de o partilhar, através de acordos bilaterais ou multilaterais. o Os nossos o O nosso país e produtos em campanhas televisivas em cada um dos países, com concursos, publicidade etc… o Promover mostras dos nossos produtos através da qualidade, e de ensinar a gostar dos nossos produtos (exemplo prova de vinhos, queijos e azeites).

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A promoção do nosso país a nível diplomático, vai muito além da economia, é também projetada na efetivação da paz mundial, temos de criar a força e a capacidade de influenciar os nossos parceiros e aliados, em suma precisamos de aprofundar a nossa credibilidade, e com esta atuação traremos biunívoca, taremos benefícios não só para Portugal, mas também para a humanidade.

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VIII. Resgatar a Economia. A Fonte de Valor da Economia de Conhecimento são as Pessoas “A revolução da informação representa uma nítida transferência de poder de quem detém o capital para quem detém o conhecimento.” Peter Drucker

Portugal tem demonstrado que o seu modelo económico está esgotado. Temos uma economia anémica e que tem nos últimos anos distanciado do caminho da convergência dos outros países europeus. Temos seguido uma política económica de base de salários baixos, baseando naquilo que foi sempre a nossa estratégia de nos posicionarmos pelos custos de trabalho mais baixo do que os nossos parceiros económicos, ganhando competitividade. Acabou em parte por funcionar durante as décadas 80 e 90. A nossa economia teve durantes estes períodos um processo de convergência por ter crescido mais que a média países da União Europeia. Com abertura da União Europeia a leste, a introdução do Euro que fez desaparecer o escudo, a liberalização dos mercados a nível global e a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, alterou todo este fenómeno e passou completamente a deixar de funcionar. Passou a ser difícil competir com países como a China, a India e outros países com salários extremamente baixos. Hoje o valor de uma economia como a nossa constrói-se no valor intangível de marcas, inovação, na eficiência logística e na capacidade de criação de valor acrescentado. Ou seja, Portugal ou aposta na criação de valor assente no conhecimento, na introdução de inovação nos produtos, no uso da ciência e na capacidade de prestar serviços que acrescenta valor, ou se basear em custos baixos, não temos as condições mínimas para competir com outras economias que adotam esta estratégia. O talento humano que criamos a muito custo, transfere-se para países que o valorizam e captam capital humano, sendo a consequência inevitável, o empobrecimento generalizado de Portugal e dos portugueses. Nos últimos anos, a crise tem agravado esta situação e Portugal acabou por assistir a um fenómeno de emigração de mão-de-obra qualificada, que não encontrou uma economia capaz de absorver esta fonte de valor. O investimento efetuado durante duas décadas na educação e na formação científica, pensada estrategicamente por governos socialistas, que transformar-se-iam na fonte

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para convergirmos com as restantes economias europeias, tem vindo a beneficiar outras economias que não fizeram este investimento e ao transferimos esta fonte de valor para outros territórios, estamos a afastar-nos e atrasar-nos do ponto de vista comparativo. Atualmente os empregos criados, segundo as estatísticas, em média são inferiores a 600 € / mês, independentemente de serem trabalhados que exigem qualificações mais elevadas ou indiferenciados. A permanecer assim no tempo, será insustentável e inevitavelmente entraremos num ciclo virtuoso de desvalorização da nossa economia. O trabalhador qualificado e o conhecimento, exige níveis de autoinvestimento para atualização de competências que não se compadece com salários baixos e que asfixiam qualquer capacidade de reciclagem e atualização de conhecimentos. Temos um problema de lideranças em Portugal que predomina o paradigma do industrial, do valor tangível, de estruturas rígidas e extremamente hierárquicas, do individualismo “cego” assente na exploração dos trabalhadores e de um pensamento de curto prazo. A era do pós-industrial, da sociedade do conhecimento e dos serviços, exige olhar para o longo prazo, capacidade de construir parcerias, integrar redes à escala global, capacidade de introduzir inovações de produtos, de construir uma estratégia de medio e longo prazo, de apostar na autonomia, de recrutar, formar e reter capital humano. A nossa economia e as nossas lideranças estão numa situação semelhante ao “dilema do prisioneiro”, ao não entenderem a atual fonte de valor que é o conhecimento, defendem num modelo do passado de exploração, reclamando por mais austeridade, remunerações mais baixas, precaridade. Contudo à medida que vamos tomando decisões nessa direção, mais atrasados ficamos, porque inevitavelmente perdemos a fonte de valor e energia da apelidada “nova economia”, os trabalhadores do conhecimento, da ciência e da inovação que se transferem para economias que sabem remunerar, gerir e transformar em valor económico. Os trabalhadores do conhecimento valorizam a independência e autonomia do trabalho, procuram projetos que se identifiquem, fazem uma gestão da sua carreira, gostam de se integrar em projetos desafiantes, ambiciosos e os permitam crescer.

Revitalizar o tecido económico para revitalizar o tecido social O desaparecimento de muito grandes empresas em Portugal algo que tem vindo a acontecer desde 2012 e que fragilizam a autonomia portuguesa na concorrência global não se compara ao nefasto impacto do desaparecimento das micro e pme's havido no mesmo momento. Há que recordar aqui que ao contrário do sucedido nos EUA aquando da crise automóvel onde as micro e pme's salvaram os empregos dos trabalhadores afastados deste setor (mesmo que com salários a 1/3) em Portugal a destruição das micro e pme foi tal que não houve almofada capaz de segurar o emprego para trabalhadores qualificados nem de segurar o emprego da geração mais qualificada de sempre em Portugal (pelo menos desde o processo de expansão portuguesa). 51


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O problema da destruição das micro e pme's é que a mesma gerou ainda por cima um outro grave desaire - num país de fracas poupanças e, portanto, de fraca capacidade autónoma de investimento pelas organizações a fragilização da Banca conduziu as micro pme a falências sistemáticas e a mais desemprego. A par desta crise as soluções avançadas para além do acréscimo de endividamento passaram sim pelo investimento no assistencialismo como estrito meio de travar revoltas por via do alimentar dos Miseráveis para que se quedem no deixa viver ficando de fora a dinamização da economia solidária que vai para além do assistencialismo. Mais ainda a redução da distribuição dos rendimentos por via dos abaixamentos salariais veio reduzir o mercado interno afetando também assim as micro e pme. Este abaixamento da distribuição de rendimentos foi feito quer pela efetiva redução salarial na administração pública quer por via da limitação a democracia econômica que foi a destruição da contratação coletiva de trabalho nos vários modelos usados desde as imposições na concertação social a limitação nas portarias de extensão dos CCT e a fragilização dos sindicatos e da legislação sobre a sua representatividade. Urge por fim como bem o PS assumiu a um ritmo de falências desemprego miséria fome desencanto descrença no país e na sua economia E esse objetivo pode ser atingido gerando uma outra visão econômica por via do incentivo não a economia assistencialista, mas sim da economia solidária pelo apoio ao cooperativismo ao associativismo ao mutualismo e ao autogestionarismo únicas vias capazes de agregar as frágeis poupanças as poucas capacidades de investimento e assim potenciar organizações e postos de trabalho e desta forma revitalizar a economia e o tecido social sustentado num mercado interno em retoma Urge finalmente e para concretizar o que se defende rever o Código Cooperativo geral legislação de apoio à economia solidária que tenha em conta o Portugal 2020 e finalmente fazer nascer uma secretaria de estágio da economia solidária

A ecologia e economia ambiental Hoje está em curso uma agenda ecológica e os cidadãos estão sensíveis em garantir a sustentabilidade ambiental presente e futura, por questões de saúde, qualidade de vida e preservar condições de habitabilidade das gerações vindoiras. Nos últimos anos tem havido um esforço para a eliminação de resíduos urbanos e industriais, renovar os recursos e reciclar. Investiu-se para eliminar práticas que contaminavam os recursos naturais. Passou-se a exigir um conjunto de parâmetros, alteração de processos e uma grande preocupação em renovar e prevenir a destruição do nosso território. Tudo isto acabou por requerer investimentos e custos financeiros, que inicialmente alguns consideraram um travão ao progresso. Houve muitas resistências, mas realmente

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olhando para trás, valeu a pena. Progresso e desenvolvimento, significa qualidade de vida atual e preservação futura. Com tudo isto, acabou por se criar uma indústria nova, geradora de emprego, que incorpora também muito conhecimento e que pode ser uma oportunidade para os portugueses apostarem na “economia ambiental e verde”. É uma área emergente, com oportunidades existentes no mercado interno, mas um grande potencial em mercados externos. Temos de elencar esta área como uma das áreas prioritárias a investir e promover, porque poderá ser uma área com grande potencial, geradora de criação de emprego, que promoverá qualidade de vida, sustentabilidade, desenvolvimento da nossa ciência e tecnologia, dinamização de instalação de novas indústrias e com grande potencial de internacionalização. Deste modo, defendemos o seguinte nesta área: 

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Apostar nas energias renováveis através não só de uma recuperação do quadro regulatório e das práticas que existiam nos tempos do anterior governo do PS, como direcionando o esforço dos investidores privados e/ou da economia social (cooperativas de produtores de energia e cooperativas agrícolas) para investimentos nestes campos, nomeadamente nos sectores solar, eólica offshore e de biomassa. O incentivo ao investimento destas energias poderá colmatar um dos nossos grandes défices que é a energia fóssil. Privilegiar uma mobilidade ecológica, efetuando investimento em transporte públicos de qualidade e não poluentes, incentivando os cidadãos a darem preferência nas suas deslocações, de forma a diminuir a nossa pegada ecológica. Incentivar o uso de viaturas e veículos menos poluentes, como o transporte elétrico, a bicicleta e a ferrovia. A transparência e que se proteja os cidadãos de acordos internacionais (quer os decididos na União Europeia, na Organização Mundial de Comércio ou em outros fóruns internacionais) que ponham em causa a nossa qualidade de vida, saúde pública, património ambiental e a vida e saúde dos seres humanos, animais e plantas. Uma política que se evite o uso de pesticidas tóxicos e de sementes OGM´s (organismos geneticamente modificados) que estão proibidas em grande parte da Europa e que têm em Portugal um dos últimos países permissivos ao seu plantio sem regras nem nenhuma restrição. Proteja o direito efetivo à informação dos consumidores da origem dos produtos que consomem e desta forma proteja os produtores dos abusos de posições dominantes de oligopólios comerciais, promovendo não só ações de informação e de sensibilização, como ações de fiscalização frequentes a práticas de dumping comercial, pois precisamos de produtores agrícolas para proteger o nosso interior e a sua sustentação ambiental e social. Que se tenha em conta a qualidade de vida e do território apostando numa regulação forte que proteja o território e tenha em conta os interesses das populações locais quando se trate de projetos com profundos impactos ambientais, sociais e culturais. Preservar e defender as nossas florestas, incentivando a plantação de novas áreas, a limpeza como forma de prevenir o risco de incêndios. Usar os fundos disponíveis no Portugal 2020 para requalificar as nossas indústrias a usarem tecnologia limpa e ambientalmente ecológica.

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Promover um cluster relacionado com a economia verde e ambiental, de forma a permitir criar tecnologia verde que permita incorporar produção nacional nos nossos esforços de melhoria do ambiente, mas também abrir a possibilidade de transferir know-how e exportar para outros mercados.

Resgatar a ECONOMIA CIVICA – O porquê da sua existência e como funciona A economia dos países, em condições normais de mercado, é movimentada pelos incentivos que cada um dos agentes induz na mesma e que, em última analise, provem da razão da sua própria existência. De acordo com a Constituição Portuguesa, e legislação posterior subordinada, existem três sectores económicos – publico, privado e cooperativo. Contudo, de notar que em legislação mais recente, no sector privado se autonomize as organizações sem fim lucrativo em paralelo com as empresas com esse objetivo. De forma gráfica, podemos ilustrar a relação dos setores económicos com as comunidades e suas necessidades.

Publico

Privado

Social

Comunidades

De acordo com o descrito acima, o setor público dirige os seus esforços para a satisfação daquilo que entende e define como serviço publico e ou interesse público. Esses esforços são canalizados através de desenvolvimento de infraestruturas de serviço que tem subjacentes a definição de serviço e de qualidade de serviço que, variando consoante o entendimento dos partidos no governo nas circunstâncias. Na maioria dos casos nunca as comunidades servidas foram auscultadas em relação às mesmas. O setor privado, por seu lado, dirige os seus esforços para a prestação de serviços e bens que melhor retribua o capital do investidor. Mais uma vez, não obstante, poderem estar subjacentes na definição de alguns bens e serviços, não são as necessidades sentidas pelas comunidades suportam primordialmente a definição e concretização daqueles.

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No setor social, independentemente do seu fim ser o lucro ou não (até porque interessa distinguir entre o objetivo de lucro da organização e dos seus promotores ou gestores) os bens e serviços são apenas e só aqueles que de uma forma ou outra sejam sustentáveis através de subsídios e de comparticipações pagas pelas próprias famílias das comunidades. Acresce que cada um dos agentes económicos de cada um destes setores, na maioria dos casos, endereça as soluções na base da sua própria dimensão e capacidade de resolver os mesmos. Raramente se assiste a movimentos de cooperação e trabalho coletivo. Ou seja, resulta evidente que as necessidades e problemas preocupações verdadeiramente importantes da comunidade não são endereçadas pelos agentes económicos numa logica pura de mercado. A situação descrita ainda é agravada se, em vez de procedermos à análise na perspetiva da sociedade do bem-estar a fizermos numa perspetiva de sociedade da felicidade. Basta olhar para as comunidades como um ser coletivo e analisar os seus índices de satisfação de acordo com a pirâmide das necessidades humanas de Maslow para verificarmos quão longe estamos da sua satisfação. Desta forma, há claramente uma lacuna na articulação dos agentes económicos e seus interesses e missões e, por outro lado, as necessidades e problemas das comunidades!

Daqui a necessidade do que se convencionou, cada vez mais, chamar de ECONOMIA CIVICA

Publico

Privado

Social

Plataforma de economia civica

Comunidades

Neste modelo, para além dos interesses e missões de cada um dos agentes económicos, é estabelecida uma plataforma de auscultação e acompanhamento da satisfação das necessidades concretas das comunidades e obtenção dos impactos desejados.

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recursos

Atividades

Bens e serviços

Resultados

Impactos

Esta plataforma deve ser coordenada por uma entidade estruturante das vontades e desejos dos intervenientes (backbone organisation) que deve manter o espirito de corpo da missão e fazer a gestão de implementação das estruturas, processos e sistemas conducentes à obtenção dos impactos comunitários relevantes. Ou seja, nos modelos de economia usuais a cadeia de valor é desenhada para obtenção de bens e serviços e os resultados para os seus intervenientes. Na economia cívica é adicionada a dimensão dos impactos comunitários.

Soberania Económica O atual modelo económico de desenvolvimento europeu é um modelo quase insustentável para Portugal, sendo indispensável impulsionar outro modelo de desenvolvimento económico e incentivar a integração europeia. No que diz respeito a Portugal deve-se incentivar, através de medidas político-económicas, o investimento económico em unidades de produção em contraponto com o investimento puramente monetário ou financeiro. No sentido de evitar a canalização de recursos financeiros apenas para a área do investimento/especulação financeira, inúmeras vezes fundos ou outros ativos financeiros, que não criam qualquer riqueza ou postos de trabalho. Por outro lado, deve prosseguir a ideia da criação de banco de fomento público para apoio ao investimento nos chamados setores tradicionais da economia. Adicionalmente, a criação de uma agência nacional para gestão de projetos de investimento, face às dificuldades sentidas pelos investidores e empreendedores. Em especial, no apoio ao acesso a fundos comunitários, quadro comunitário 2020. Potenciar a criação de empresas públicas nos setores ou áreas onde existam falhas de mercado Por exemplo, desenvolver uma empresa pública a reabilitação dos edifícios degradados e inúmeras vezes devolutos nos centros das cidades que poderia permitir a captação de populações para dentro das cidades, em especial jovens e populações com maior dificuldade de locomoção e de acesso a serviços sociais e de saúde, o que permitira, em especial nas grandes cidades, uma maior qualidade de vida e a poupança de recursos na afetação da mobilidade, na construção e manutenção de infraestruturas rodoviárias e ferroviárias para os movimentos pendulares de e para fora da cidade. Estabelecer um somatório de quanto se despendeu na construção de novas infraestruturas rodoviárias e ferroviários, em novas pontes, em novos túneis, na aquisição de autocarros, barcos, comboios para os acessos a Lisboa e Porto nos últimos anos?

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Seria criada uma espécie de EPUL a nível nacional que gerisse o património do estado e o reconverte-se em habitação jovem e igualmente social, não esquecer que em algumas zonas do interior, cerca de 80% dos posto de trabalho estão relacionadas com a economia social (lares, misericórdias..) A conversão de edifícios de escritório, inúmeras vezes prédios devolutos, por exemplo na Avenida da República e outras em lisboa, que poderiam ser reconvertidos em pequenos apartamentos para arrendar e deste modo trazer populações para o interior e, por outro lado, tentar o reduzir o fenómeno da bolha imobiliária que se está a criar em lisboa, em cada vez é mais difícil o acesso a residir em lisboa. Encontrar um projeto emblemático que envolva toda a sociedade, exemplo anterior do e-escolas e tsunami, em que vários setores da sociedade unam esforços para um projeto comum. Exemplo. Desenvolvimento de um modelo sustentável energético, ligado às universidades e às industrias. Outro exemplo, o desenvolvimento de um veiculo elétrico a desenvolver nas universidades e a ser construído em Portugal. Ou a criação de pequenos postos de produção energética instalado nas produções agrícolas. Pequenas estações caracterizadas por um misto de energia solar, eólica, térmica, aproveitamento de dejetos de animais… A exemplo de outros países europeus, em que alem da autonomia energética para a exploração, permite, que o excedente energético possa ser vendido à rede elétrica. Uma Forma de dar desenvolvimento ao interior, com a criação de postos de trabalho face à desertificação.

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IX.

Resgatar a Saúde

A solidariedade e a coesão social são referenciais de base da ideia de modelo para a Saúde no Partido Socialista, pois entende-se que estes valores constituem referências civilizacionais essenciais para uma sociedade de bem-estar desenvolvida, inclusiva, baseada no conhecimento, na investigação, na capacitação, na criatividade e na informação das pessoas. •Uma sociedade assim descrita, equilibrada e produtiva, só é possível se os seus cidadãos forem saudáveis. Para este fim, o Modelo de Saúde deve garantir o apoio à doença, mas também investir ativamente na prevenção da doença, promovendo comportamentos de vida saudável e redirecionando o paradigma para a saúde (salutogénese). Historicamente, houve diversas tentativas de organizar a prestação de cuidados de saúde às populações por parte do Estado. •A arquitetura «Beveridgiana» constitui a base: sistema solidário, financiado pela redistribuição da coleta fiscal (substituição do modelo contributivo «seguro-doença» de Bismark pelo financiamento através do Orçamento Geral do Estado). A realização da reforma Beveridge do contrato social bismarkiano foi iniciada no Reino Unido em 1948 (National Health Service) sendo progressivamente adotada por um conjunto de países Europeus durante a segunda metade do século XX, incluindo Portugal com a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS). O SNS é um fator de coesão nacional e de avanço civilizacional. É a marca do PS na saúde, desde a sua formalização com força de Lei, passando pela introdução de inovação e reformas sucessivas: contratualização, centros de saúde de 3ª geração, estatuto hospitalar, CRI nos hospitais, sistemas locais de saúde, remuneração dos profissionais em função do desempenho, IGIF, empresarialização, USF, RNCCI, ACES, preocupações de eficiência no sector relativamente às contas, política de preços e comparticipações, aposta nos genéricos… O SNS português esteve durante anos no topo dos serviços de saúde a nível mundial, o que, tristemente, tem vindo a deteriorar-se, mercê de sucessivas políticas fragmentadoras, diluidoras da sua função. É essencial repensar a estratégica política para os cuidados de saúde. Se o conteúdo humano e técnico já foi o adequado às suas funções, urge agora implementar novas ideias e métodos de gestão que capacitem aqueles recursos para prestar bons serviços aos seus stakeholders e que não passem pela restrição de direitos ou taxamentos acríticos. Mais do que restringir direitos e coberturas ou impor mais pagamentos individuais é importante repensar o modelo de financiamento promovendo a sua adaptação à realidade atual. É ainda fundamental promover uma cultura de rigor e de transparência pública que permita avaliar a adequação dos serviços de saúde à sua função. Esta avaliação incluiu necessariamente a verificação do cumprimento de objetivos financeiros e económicos como acima se referiu mas sem que por isso seja negligenciada a dimensão humana dos cuidados de saúde nas vertentes da acessibilidade, qualidade técnica e equidade - o tratamento adequado a cada situação.

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Para promover a saúde é importante investir na educação para a saúde da população. Para otimizar o funcionamento dos serviços de saúde, a gestão dos recursos humanos deve ter em conta a racionalização das estruturas e dos processos, reforçando os mecanismos de coordenação entre os diferentes níveis de prestação de cuidados de saúde. É imperativa a aposta em modelos de organização e de gestão que promovam aqueles aspetos de forma sustentável. Esta aposta passa necessariamente por um reforço do investimento nos cuidados de saúde primários e da sua relação com os restantes níveis de cuidados. Esta noção de que é importante uma boa articulação entre os cuidados primários de saúde, os cuidados hospitalares e os cuidados terciários ou continuados é consensual entre os estudiosos dos sistemas de saúde. O que se discute, no essencial, não é a necessidade dessa articulação, mas o modo de a efetuar, criando uma interface eficaz no sentido de proporcionar as condições, não só para que os doentes possam aceder de uma forma organizada, informada e rápida aos diversos tipos de cuidados de acordo com as suas necessidades de saúde, mas também de modo a que o serviço público possa ser prestado sem redundâncias, sem custos acrescidos desnecessários e, por isso, com melhor eficiência. • A este nível (integração de cuidados como meio para obtenção de ganhos de eficiência e de resultados de saúde) a organização da procura deverá ser objeto de uma atenção particular. •Dada a importância dos cuidados de saúde primários como referenciador do sistema, o encaminhamento para cuidados hospitalares deve partir obrigatoriamente dos centros de saúde ou unidades de saúde familiar, salvaguardando-se, obviamente, o acesso rápido e adequado em situações de urgência ou emergência, como, por exemplo, as diversas vias verdes (enfarte, acidente vascular cerebral, sépsis) existentes têm vindo a fazer. É pois importante resgatar o serviço nacional de saúde. O que falta fazer, para

resgatar o direito à saúde:

1. RESGATAR o direito a um acesso equitativo à Saúde Não é ainda hoje uma realidade. Pese embora, tudo o que o PS já fez pelo Serviço Nacional de Saúde, desde a sua criação, até hoje, há imperfeições que subsistem e que penalizam o direito a igual acesso:

Taxas moderadoras. Deve reduzir-se a sua importância Justificação: não são financiamento, correspondem a sinais orientadores de acesso. Nos cuidados de saúde primários, deve-se caminhar para a sua extinção, pois não queremos «moderar» o acesso aos CSP! Não eliminam a desigualdade pois o acesso depende de outros fatores tais como a disponibilidade de horários, distância existência de transportes e custos de deslocação. O acesso é ainda desigual.

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Nas urgências, cumprido o recurso à linha de saúde 24 e aos CSP, tendo o doente sido encaminhado para os SU, não deve ser necessário pagar taxa moderadora. O nosso governo PS de coligação parlamentar BE-PCP já legislou (bem) neste sentido. Ainda assim, podemos ir mais longe: Capacitando aquela linha de saúde e os cuidados de saúde primários para uma resposta rápida e eficiente que promova o desenvolvimento de uma cultura de procura de cuidados de saúde primários na população.

Interioridade, tem que ser apoiada. Justificação: O «interior» do país é já ali. São 250 kms a distância que separa a linha de fronteira do mar. Não há interior em Portugal. No entanto, continua a existir falta de médicos, falta de enfermeiros, falta de tecnologia. A resposta está em duas variáveis: Vias de acesso e Ensino e universidade. Já temos uma boa rede viária mas não temos uma excelente rede de transportes públicos. Temos que ter. Deslocamo-nos muito de Norte para Sul e de Sul para Norte, mas muito pouco de Este para Oeste e vice-versa. Temos que nos deslocar mais transversalmente no país. Relativamente ao ensino, deve promover-se a articulação entre o ensino nas escolas que formam profissionais de saúde e a experiência em unidades de saúde com diferentes realidades: urbanas/centrais e periféricas/distritais. O corpo docente das faculdades de Medicina e de Enfermagem deve incluir profissionais de cuidados de saúde primários, hospitalares e de saúde pública das grandes cidades e de áreas do interior e os alunos devem fazer formação também no interior para desde cedo contactarem com as diferenças entre estas realidades. O intercâmbio de experiências entre uns e outros promoverá o interesse na deslocação para o interior por parte dos profissionais recém-formados e estimulará os que já lá estão a trabalhar a atualizarem-se e a melhorarem constantemente a qualidade dos cuidados que prestam. Deve ainda criar-se condições para promover a investigação nos centros periféricos em diversas vertentes: básica, clínica e translacional, por sua iniciativa e em articulação com os centros de referência.

Reorganização da oferta de cuidados de saúde. Justificação: Não está feita com justiça e equidade de acesso. Temos que organizar a oferta em 3 eixos: 

Doenças

Excelência

Equidade

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O país deve ter «zonas de centros de referência»: no Norte, no Centro, no Sul e nas Ilhas, constituindo-se quatro centros de referência para cada área, em cada uma daquelas zonas. Dentro das zonas, os centros de referência devem fundir serviços do litoral com serviços do interior: os serviços das diferentes especialidades devem juntar—se para criar centros de resposta à doença de acordo com as valências afins, de maneira a evitar espartilhar os cuidados por «Serviço» ou «Departamento». A resposta às doenças deve ser organizada em 4 «faixas» horizontais em Portugal: Norte, Litoral e Interior; Centro, Litoral e Interior; Sul, Litoral e Interior e Ilhas. Os recursos finitos do SNS devem ser canalizados para onde são mais precisos. O objectivo e a política que preside deve assim ser sempre a mesma: equidade e justiça nos direitos e na prática. As decisões de saúde devem ser tomadas com base neste princípio e não em qualquer outro.

2. RESGATAR o direito a um SNS mais eficiente e de despesa mais facilmente integrável no OE. O SNS tem ainda uma grande promiscuidade de negócios: os negócios são locais e feitos unidade a unidade. Os Ministérios da Saúde tipicamente estão reféns de interesses, apoios de indústria, compromissos com Stakeholders. O SNS não consegue garantir os cuidados de saúde que a população precisa com os profissionais de saúde que nele trabalham.

Negociações transparentes com inovação e equipamentos. Justificação: Inovação no SNS (medicamentos inovadores, dispositivos médicos inovadores, equipamentos e infraestruturas) objeto de uma carta de Inovação e Equipamento e a metodologias de custo – efetividade de seleção, centralização das compras e gestão de stocks para uma melhor economia de escala e para prevenir falhas de material críticas como aconteceu a alguns hospitais onde até as compressas se esgotaram. Inovação igual em todo o país, medicamentos e tratamentos iguais em todo o país, equipamentos de tratamento médico e cirúrgico disponíveis para os locais onde são necessários. Isto significa (sem contabilizar custos de recursos humanos) custos de tratamento iguais em todo o país e ilhas.

Fim da complementaridade entre sector privado e público, fim das ajudas de estado. Justificação: Não é economicamente sustentável a promiscuidade de recursos humanos entre os sectores público e privado. O SNS tem evidentes dificuldades de retenção; tem

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uma incapacidade crónica de remunerar adequadamente os profissionais. As condições adversas de trabalho têm causado um êxodo destes profissionais para o sistema privado ou para o estrangeiro. Alguns hospitais estão dependentes de serviços externos, privados, para o seu funcionamento regular (ex: exames de imagem, laboratório), com falhas técnicas diversas denunciadas pelos médicos às direções clínicas. Apesar de ser «líder» da prestação de cuidados de saúde em Portugal, paradoxalmente não consegue concorrer com o sector privado. Será que não consegue? Se reaplicar os ganhos de eficiência correspondentes à maximização da tecnologia instalada no SNS, diminuindo protocolos com entidades privadas e consequentes pagamentos, reaplicando essas verbas na remuneração de profissionais e de produção no SNS, deixa ao sector privado um lugar não de complementaridade mas sim de decisão dos proprietários de presença ou não no mercado, dentro de regras de concorrência leal, independente de ajudas de Estado.

3. RESGATAR o direito a uma melhor saúde de proximidade. Justificação: Há muitos doentes isolados nas grandes cidades e muitos doentes isolados naquilo a que chamamos «interior».

Gestão integrada das unidades de saúde com participação das comunidades e autarquias. Há uma resposta que tem que ser local; tem que ter em conta as necessidades de saúde da região, identificadas pelos Planos Regionais de Saúde da DGS, integrados no Plano Nacional de Saúde da DGS. As comunidades identificam as necessidades e devem ajudar a reduzir as desigualdades económicas, sociais e culturais das pessoas da sua comunidade. As unidades de saúde devem ser orientadas para a resolução específica destas realidades. Os sistemas de saúde devem ter informação clínica integrada e partilhada, a nível regional e nacional.

Implementação de estratégias de proximidade. Medidas que incluam visitas a domicílio, equipas de gestão de saúde da família, promoção de acções de literacia e de promoção de hábitos de vida saudável. Os transportes de doentes para unidades de cuidados de saúde podem ser assegurados pelas mesmas em parceria com as autarquias, libertando o SNS do elevado custo com o transporte de doentes por entidades privadas externas.

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X.

Resgatar a Segurança, a Soberania e a Defesa

Revolvendo os princípios plasmados na declaração do Partido Socialista, torna-se assaz relevante poder voltar a pegar nestes para reorientar o mote na sociedade portuguesa. Sejam, alguns dos princípios plasmados na declaração que importa trazer à colação: O PS empenha-se em que a sociedade portuguesa seja organizada na base dos valores da liberdade, da igualdade e da solidariedade, e esteja aberta à diversidade, à iniciativa, à inovação e ao progresso. O PS considera primaciais a defesa dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos e o desenvolvimento da democracia política, na organização da sociedade. O PS defende uma economia de bem-estar, aberta à pluralidade das iniciativas e das formas económicas privadas, públicas e sociais, e regulada pelo mercado e por instituições públicas adequadas. O PS apoia o desenvolvimento de ações que aprofundem a intervenção democrática dos trabalhadores na vida económica e social e a cooperação entre todos quantos, pelo trabalho, a iniciativa e o empreendimento, contribuem para a criação de riqueza e a promoção do bem-estar. O PS bate-se por uma ordem económica internacional mais regulada e justa, pelo que é favorável a uma globalização eticamente informada e democraticamente controlada, que seja um fator de avanço social e estimule o desenvolvimento de todas as nações e povos, esbatendo as fronteiras entre Norte e Sul. Combate, por isso, as tendências para o domínio do mundo por poderes económicos que escapem ao controlo democrático e defende a organização de novas formas de regulação supranacional. Por toda esta mão cheia de princípios, torna-se premente a necessidade de se voltarem a içar algumas bandeiras nestes tempos ventosos e conturbados, tais como a necessidade de existir uma maior redistribuição da riqueza, tendo presente que a maior parte do dinheiro, que fica estagnado nas offshore, é fruto da acumulação do rendimento proveniente do trabalho de muitos cidadãos portugueses; recursos financeiros que ficaram por ali estagnados não gerando mais nenhuma receita do que a riqueza individual de quem o ali colocou. Estabelecendo aqui um contraponto, com a postura, característica destes últimos anos, de não se investir, como desejável, em unidades de produção, que por sua vez teriam criado postos de trabalho e, que, por conseguinte, gerassem riqueza para as pessoas ao invés do investimento puramente financeiro. Um outro desígnio, fundamental para os nossos cidadãos, é a obtenção de estabilidade, nas suas várias dimensões. A necessidade de se obter estabilidade na vida privada, de estabilidade na vida social, de estabilidade no emprego. Quando se está instável não se produz, cria-se resistência, têm-se maior dificuldade na adaptação a novos desafios. Um importante propósito é, igualmente, a criação de novos postos de trabalho, dado que todo o cidadão tem o direito fundamental, à dignidade de possuir um emprego, pois este

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enobrece o homem. Criar mais postos de trabalho no estado, quer seja através de estágios quer seja preenchendo algumas das vagas deixadas em aberto por tantos aposentados. Nunca olvidando que a população que trabalha está a envelhecer. Ademais, estamos a criar um país para idosos. Basta percorrer algumas zonas do território, em especial, as de reduzido impacto empresarial, como o interior do país, para constatar que cada vez mais a maior entidade patronal são as misericórdias. Por outro lado, vincar uma efetiva separação total de poderes, separação entre poder privado, poder público e poder judicial. Nesta senda, talvez, uma reestruturação da justiça, em detalhe, do papel, não de somenos, que é atribuído ao DCIAP e ao TCIC. Dado que, como está formulado cabe lá quase tudo, recorrendo ao sempre muito abstrato conceito de especial complexidade. Como se afere a especial complexidade? Mesmo tendo em conta de que existem outras instâncias para recorrer, porque é que só existem dois juízes no TCIC? Sendo que durante muito tempo foi só um, sucedendo a curiosidade, sendo de que quando se conclui a fase de inquérito e o réu deseje pedir a instrução do processo, o juiz que é atribuído a esta, poderá ser, o que entreviu inicialmente no processo. Guiando pela mão a democracia, numa analogia ao conhecido quadro da revolução francesa do Delacroix. Ora, a democracia tem de seguir em frente, a constituição tem de evoluir, há passos que têm, forçosamente, de ser dados. No sistema de seleção para deputados para o parlamento, no exemplo recente da escolha dos deputados do nosso partido, em que existem “quotas” para o secretário-geral. Há uma espécie de oligarquia nesta escolha, porque não a assunção de um sistema de círculos uninominais para a escolha de candidatos? Ou a necessidade de inserir no sistema uma maior necessidade de negociação entre as partes, num paralelismo com outras latitudes, tais como os EUA, pois apesar de o Senado e o Congresso serem maioritariamente conservadores, Obama tem conseguido alcançar alguns acordos. No que respeita às temáticas pertencentes às áreas da Defesa e da Segurança Interna, porque não amadurecer desde já o debate para a criação de um Exército único europeu? Outras ideias que merecem ser, igualmente, aventadas como a de GNR, a garantir a segurança interna, a PSP reduzido a força de patrulhamento e, no termo, a brigada fiscal passar para a Marinha. Prosseguindo, basta uma leitura atenta e direta dos primeiros artigos da constituição para concluir que a defesa e segurança constituem finalidades essenciais a prosseguir pelo estado. A atividade de defesa e segurança constituem, assim, vetores elementares de garantia e afirmação da soberania nacional. O território, tabuleiro onde habita um povo e onde se exerce o poder, é hoje descontinuado e desmaterializado, ao ponto de a “minha defesa” e a “minha segurança” se jogarem, frequentemente, a milhares de quilómetros de distância ou num espaço virtual, dependente de tecnologias de informação tão indispensáveis, quanto vulneráveis, passíveis de influenciar a própria noção do que é real, verdadeiro ou pura ficção. Garantir a defesa e a segurança nacionais, significa considerar de forma conjugada e coordenada um conjunto de “fatores-soberanos”, fazendo opções e estruturando respostas

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adequadas e fazíveis. De entre estes, destacam-se o Mar, a Educação e as relações com o mundo lusófono. Portugal não pode virar as costas à europa, sua raiz civilizacional. Nem esquecer o vasto atlântico, seu fator clássico de influência e expansão. Nesta equação, Portugal deve fazerse valer por aquilo que É, pelo seu ethos e a sua experiência secular. Sublinhar não a uma visão hiper-realista do papel de Portugal no mundo e na europa, reduzindo-o a uma mera expressão quantitativa. Mas optando pela recusa a abordagens e idealismos fáceis, quase-messiânicos: seremos o que conseguirmos ser em função do nosso esclarecimento e do talento para gerir pragmaticamente aquilo que precisamos e o que temos para dar. Reservamo-nos, pois, no direito de pensar. Pensar Portugal, por Portugal e pelos portugueses, é o melhor contributo que podemos dar às gerações vindouras e à construção

Globalização e População Numa outra linha de argumentação, é relevante referir que a população mundial, face a diversos fenómenos, tais como a globalização, permitiu retirar um número de significativo, na ordem dos muitos milhões, de pessoas da pobreza e da miséria, bem como dos avanços obtidos em termos de políticas de saúde e higiene permitiram aumentar a esperança de vida em determinadas latitudes. Ora, entre muitos outros fatores, proporcionouse como resultado de que a população mundial esteja a crescer em termos significativos, só a china e a índia em conjunto têm cerca de 2.600.000.000 de habitantes. Este aumento em termos de densidade populacional resulta numa elevada pressão que aumenta e incrementa a disputa pelo controle dos diversos recursos naturais. Sejam estes energéticos, como o petróleo, o gás.. ou alimentares, como os cereais, os recursos piscícolas. Por outro lado, assiste-se a um desenvolvimento das classes médias. Não olvidar que esta expansão da componente de liberdade económica, pode funcionar como trigger, permitindo ampliar e amplificar outras liberdades até aqui consideradas despicientes. Como a liberdade política ou de intervir, ou ainda numa outra aceção, a liberdade cultural ou artística: Relembrar, no presente caso, a referenciação ao modelo da pirâmide de Maslow, em que as populações só se irão preocupar com cultura, arte e/ou educação se tiverem antes ultrapassado os patamares anteriores da sobrevivência, da segurança, do conforto, entre outros.. Em suma, a liberdade política só tem significância para as populações quando têm alguma disponibilidade económica, tal como sucedeu recentemente no brasil em que pela primeira vez hordas de populações saíram à rua pelo reivindicar direitos e contestar as políticas do estado. Há então que estabelecer uma correlação direta entre o aumento da população e o consumo de recursos quaisquer que eles sejam. Tendo em conta que este é um desígnio cada vez mais atual, levando a que os potenciais, ou presentes, conflitos, para além da abolição quase firmada das chamadas fronteiras tradicionais, administrativas, culturais, étnicas, religiosas, passem a ter um cada vez maior enfoque na disputa pelos recursos disponíveis. De igual modo, pode-se considerar como verosímil a hipótese de que a tradicional divisão por blocos se alterou, perdendo o mundo ocidental homogeneidade, tal como vimos e 65


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assistimos, desde sempre, a partir do nosso referencial europeu, ou pelo menos nos últimos cinco séculos. Há quem refira os portugueses como os precursores deste domínio, ao desbravarem o caminho marítimo para oriente. O denominado eixo do Atlântico perdeu protagonismo para o Pacífico, e/ou para os famosos BRIC que cada vez mais influenciam a ordem mundial. Ora a europa, a europa da União Europeia, e nunca esquecer que esta (ainda) não é uma federação, perdeu poder, capacidade de liderança para outras geografias. Embora, verdade seja escrita, continua a possuir uma grande capacidade de desenvolvimento e de produção nos chamados bens e serviços de alto valor, como as indústrias de produção de aviões, de comboios, de submarinos, de nanotecnologia, igualmente, ao nível da industria farmacêutica, entre outros. Todavia, jamais esquecer o sempre latente enquadramento de fundo, o de que a europa, com algumas exceções, não possui recursos naturais, necessitando de importar a quase totalidade destes.

Soberania Energética Georreferenciando todas estas temáticas no espaço europeu de ressalvar a enorme dependência dos países europeus em relação aos recursos energéticos, nomeadamente, ao petróleo e, em especial, ao gás natural, cada vez um recurso mais importante e de que quem o principal fornecedor é a Federação Russa. Prosseguindo nesta nova realidade, a da mundialização da economia e da informação, na posse de um punhado de países e de algumas multinacionais de cariz transnacional, talvez seja importante referir que o “poder” detido a par dos elevados montantes monetários envolvidos por algumas destas empresas podem superar, largamente, os orçamentos de muitos estados. Podendo, inclusive, inúmeras vezes assistir-se, tendo em conta a sua grande influência politica e financeira, à captura dos meios e recursos disponíveis na orla dos estados, podendo nos indicar que a Soberania poderá não passar mais do que ser uma ideia abstrata. Não existindo esta concretamente. Resumindo-se à ideia final de que o que existe é apenas a crença na soberania. Porquanto Estado, nação, direito e governo que deveriam ser uma só e única realidade, acabam por não ser mais, no presente momento, de meras práticas instrumentais.

Por conseguinte, todos estes movimentos tectónicos provocam constantes erupções e tensões. Sendo contantes e perdurando os conflitos para o controlo de fluxos energéticos, em especial, no Norte de África e no médio oriente, e pelos recursos alimentares, inter alia no caso da Ucrânia, quase “dentro de muros” do espaço da união europeia. A União Europeia através dos seus estados membros, são os maiores importadores de recursos energéticos do mundo, facto que consubstancia uma elevada dependência face a fornecedores externos de energia (A EU importa 84% do petróleo e de 64% de gás que consome). Não obstante, todos os esforços feitos no desenvolvimento e na consolidação das denominadas energias alternativas, tem-se que a sua capacidade produtiva ainda se revele muito insignificante face ao total das necessidades energéticas no espaço da EU. A

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este momento do texto talvez seja pertinente aventar a seguinte questão. Quem é o principal fornecedor de energia? A Federação Russa, que é o terceiro maior fornecedor mundial de gás e petróleo, tendo em conta que foi ultrapassada pelo EUA, maior produtor mundial atualmente, através das novas tecnologias utilizadas, em especial através do gás de xisto, estar a aumentar, de forma exponencial, a sua capacidade produtiva e passe a ser o principal exportador. Mas retornando à federação russa, esta utiliza o estatuto que tem como grande player energético, de a partir da sua elevada capacidade produtiva, reforçar a sua posição internacional e tentar condicionar o tabuleiro do jogo politico. Vivendo deste tipo de tensões. Mais, grande parte destas rendas económicas resultantes são canalizadas para o financiamento e desenvolvimento da inovação no complexo militar industrial russo, o qual considera essencial para o reforço do seu protagonismo mundial, ao invés de investirem no processo de desenvolvimento de extração destas matérias-primas, em alguns casos já bastante obsoleto. Dado que não investem em novos processos, acabam por ter de adquirir gás e petróleo a países vizinhos, outrora na esfera soviética, para poderem continuar a fornecer em contínuo aos seus clientes. Em simultâneo, o plano russo completase através da venda de armamento aos outros países produtores de petróleo, que possuem bastantes recursos financeiros para as adquirirem. Nesta senda, referir ainda a estratégia da Rússia face à Ucrânia, em que utiliza esta última como alvo dos seus desígnios geopolíticos. No entanto, de registar, que nestes idos tempos de maio de 2016, chegou à Europa, ao porto de águas profundas de Sines, o primeiro petroleiro com um carregamento de gás natural liquefeito (GNL) proveniente dos EUA, a sua primeira exportação de GNL para Europa, diversificando as fontes de energia, e permitindo a Portugal ser uma das portas de entrada para o resto da Europa, nesta mudança de paradigma energética que terá forçosamente desenvolvimentos nas relações da Europa com a Federação Russa. Tem-se, porquanto, uma alteração do paradigma da produção energética, que parece que veio para (per)durar nas próximas décadas. Consubstanciada pelos recentes desenvolvimentos, em que se tem os EUA como maior produtor mundial de petróleo e gás natural. Superou a Arábia Saudita através da produção com recurso às tecnologias de Shail Oil e Shail Gas. Os EUA produzem cerca de 11 milhões de barris por dia. Em quatro anos aumentaram, sucessivamente, um milhão de barris por dia, de 6 para 11.

Sobre esta temática referir algumas considerações pertinentes resultantes desta mudança de paradigma:

- Atualmente, o custo marginal no mercado ser dado pelo último barril produzido em Shail oil e não em offshore como existia anteriormente;

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- A tecnologia do shail (xisto) permite, com poucos recursos, aproximadamente. 2/3 milhões de dólares, abrir um poço e começar a produzir de imediato. Permitindo um ajustamento célere à procura no mercado (abrindo ou fechando os poços) em contraponto com o enorme investimento financeiro na tecnologia dos offshore e do tempo de espera para começar a produzir petróleo (alguns anos 7/8);

- A atual produção em excesso, de 2 milhões de barris a mais por dia (na capacidade máxima), do que os necessários para satisfazer o mercado. Fazendo parte de uma estratégia da OPEP no sentido de baixar os preços e reduzir a produção dos EUA. Todavia, acaba por não resultar face à mudança do padrão e à elevada dinâmica da tecnologia shail. Tendo apenas como efeito o aumento substancial do armazenamento, pois as empresas petrolíferas considerando que o preço hoje é mais baixo do que no futuro estão a adquirir e a armazenar esse excesso de produção. (os EUA têm reservas de 5 mil milhões de barris e a Europa cerca de 3 mil milhões armazenados);

- Os preços nos próximos anos não vão subir substancialmente, prevê-se, no máximo, os 50/60 dólares por barril, o que vai continuar a produzir efeitos nefastos na economia de determinados países que não adaptaram a sua economia, tais como Angola, Venezuela, Brasil, Nigéria, entre outros e que utilizam tecnologia offshore;

- Estas nações continuam muito dependentes da venda destes recursos energéticos, mas cujo preço de produção é muito superior ao preço de produção dos chamados países da península arábica em que a extração é possível quase à superfície e lhes permite vender o petróleo aos cerca de 40/45 $ atuais.

- O petróleo continua a ser responsável como maior fatia de importação em Portugal. De referir a irracionalidade da gestão energética levada a cabo em nosso país, com os elevados consumos de petróleo nas grandes cidades.

-Por outro lado, A diminuição das importações de petróleo apenas se deveu a redução de consumo face ao aumento dos preços. Denotando uma completa ausência de políticas publicas nesta área (em especial no consumo energéticos dos transportes públicos, e na não opção por outras energias mais sustentáveis como alternativa);

- A potencialidade de determinadas zonas em Portugal para extrações futuras. A provável existência de offshore ao largo do Algarve (concessão Partex/Repsol, da ineficiência administrativa, pois a concessão tem mais de 10 anos);

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- Aferir da possibilidade de zonas possíveis para produzir em Portugal com tecnologia Shail.

Todavia, nada é estático, o mundo muda todos os dias, e os outros players, ou potenciais, procuram, igualmente, vantagens neste xadrez internacional e têm também as suas ambições geopolíticas. Daqui decorre que, neste momento, há outras áreas geográficas já a produzir, e/ou a aumentar o seu nível de produção, ou em vias de, nomeadamente, o atlântico sul (Nigéria, angola, guiné equatorial), o Índico ocidental (em especial, Moçambique com grande potencial), o mediterrâneo oriental (Israel e Chipre) e a polémica exploração dos hidrocarbonetos do ártico, cujas concessões começaram a ser atribuídas. Em suma, é assaz relevante referir, que a EU tem possibilidade de reduzir a sua dependência face à Rússia, mas aqui há que inferir, tendo em conta que a economia russa, se baseia quase somente na produção de energia, qual será a reação desta? Provavelmente, a ocupação de parte da Ucrânia poderá ter feito já parte deste desígnio... Quanto a Portugal a solução pode ser elencada, já suportada em estudos, de algumas medidas dirigidas à capacidade de recolha, aproveitando a dimensão marítima de Portugal, a título de exemplo os portos (importância estratégica de Sines), armazenamento e transporte. Neste último ponto, referir a importância das diversas ligações transnacionais ao centro da europa, eixo Portugal-Espanha-França. E a inclusão destas politicas num quadro global e estratégico da União Europeia. Ligando todos estes elementos, chegamos ao corolário de que a soberania dos estados, tal como a temos sistematizado até agora, pode ser irremediavelmente afetada. Devendo-se considerar a temática da Soberania como o grande chapéu que abarca a Defesa e a Segurança. Estas últimas deverão ser então interpretadas como políticas, como instrumentos da primeira.

Soberania de Portugal Pelos motivos expostos, a Soberania como principal propósito deverá assentar em cinco grandes pilares, ou seja, nas seguintes cinco diretrizes que permitirão um fortalecimento da nossa autonomia e desenvolvimento, sejam: 1. A soberania alimentar, em que Portugal tem de forçosamente produzir mais recursos para reduzir a sua dependência externa de modo a equilibrar a sua balança comercial sem ser através desvalorização salarial, politica que atual governo PSD realizou durante os últimos anos, para permitir uma redução do consumo e, por conseguinte, diminuir a importação de bens. 2. A Soberania do Mar, tendo em conta o processo em curso de expansão da plataforma continental, o qual que irá permitir aumentar e reforçar a atual ZEE. Ligação a uma melhor exploração dos recursos hídricos e marítimos, em especial, no fomento à atividade de aquacultura (concessões a PME, relacionar com a soberania 69


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alimentar, que irá permitir no futuro a criação de empregos). Conjugação com o setor da defesa, concretamente, no que respeita ao aumento de poder que deverá ser atribuído à Marinha na vigilância e superintendência destes domínios. 3. Investimento nos recursos humanos, aproveitando o novo quadro de apoio comunitários, investindo em formação profissional que seja efetiva e produza resultados. Ademais, apostar nas chamadas profissões “tradicionais” e técnicas. 4. Investimento numa maior sustentação energética e economia ambiental, procurando-se desenvolver políticas energéticas que permitam uma melhor gestão deste tipo de recursos. Aposta em políticas de crescimento ambiental, como a opção por veículos elétricos. 5. Incentivo a uma efetiva cultura lusófona, consubstanciada no estreitamento de laços, em especial pelo numa vertente de diplomacia económica, para com os países lusófonos. A política de soberania portuguesa, na qual deve estar incluída a defesa e a segurança, deve assentar nos seguintes quatro pilares 1. 2. 3. 4.

Componente de investigação científica militar; Componente de segurança interna; Questão de recursos humanos; Sistema de informação.

Uma outra questão que deve ser lançada para a távola do debate, deve ser a possibilidade de haver um maior reforço e cooperação, se não mesmo uma união/unificação, em termos europeus, e pela ordem crescente, dos seguintes meios: 1. 1.Proteção civil; 2. Policías; 3. 3.Exército.

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XI.

Resgatar a POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM.

O atual estado da Agricultura Nacional tem uma longa história que teima em persistir. Desde o atraso provocado pelo Estado Novo na mecanização da Agricultura e na manutenção de populações rurais analfabetas, passando, já durante o período da Democracia, pela destruição de explorações agrícolas modernizadas, e terminando, já na fase da integração europeia, com a Política Agrícola Comum (PAC) que trouxe inúmeros recursos financeiros mas que o país não soube aproveitar devidamente. Passados mais de 30 anos sobre a integração europeia a questão essencial é que os problemas estruturais da agricultura portuguesa se mantêm, ou seja, a Política Agrícola Comum continua a injetar inúmeros recursos financeiros, sem no entanto se atacarem os problemas endémicos do setor agrícola, que continua a definhar (salvo algumas honrosas exceções), com resultados desastrosos para as populações rurais e o para o interior do país que continua abandonado e desertificado. Porquê? Quais são as causas? As causas são fáceis de enunciar. População envelhecida, défice de empreendorismo, dificuldades de financiamento, preços baixos dos produtos na produção, dificuldades no escoamento ou venda dos produtos agrícolas, ordenamento fundiário secular… Uma vez identificadas as causas, porque razão não invertemos as ineficiências que impedem que um sector fortemente potenciador da atividade económica não se desenvolva mais, à semelhança do que sucede nos restantes Estados-membros da União Europeia (UE)? Porque razão os produtores continuam a vender os seus produtos de forma individual ou de forma, timidamente, organizada, comercializando a baixos preços e mantendo-se dependentes da agroindústria e da grande distribuição do retalho? Na UE os produtores agrícolas vendem os seus produtos exclusivamente através dos seus agrupamentos comerciais (cooperativas, sociedades) e com esta prática conseguem ganhar um efeito de economia escala que, individualmente, é impossível de atingir. Na UE os produtores trabalham exclusivamente com a sua Banca (ex. Credit Agricole, Caja Rural). Em Portugal temos a Caixa Agrícola com uma estrutura física baseada na unidade concelhia ou inter-concelhia, cuja estrutura de gestão, pouco profissionalizada, não possui a capacidade ou a escala de um grande banco, quando na realidade os fluxos financeiros do sector o justificariam. Na EU, os produtores são detentores de partes importantes do capital das agroindústrias e da grande distribuição, beneficiando de uma posição de autonomia estratégica, e consequentemente, não se tornado tão dependentes dos “mercados”. Graças ao seu setor financeiro fortíssimo, ou seja, os dinheiros da Política Agrícola Comum organizam-se no chamado Crédito Agrícola e não na Banca Comercial, ganhando assim melhores condições de financiamento e de operação. 71


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Porque razão em Portugal não se consegue organizar a Agricultura de modo a criar Agrupamentos de Produtores fortes? Nós entendemos que esse é o caminho, não apenas desejável, mas possível, basta seguir o exemplo dos colegas da UE que só comercializam os seus produtos através dos seus respetivos agrupamentos. Para que tal aconteça basta aplicar as regras da UE para determinado subsetor agrícola. Tal como sucede no subsetor do Tomate de Industria por exemplo. Em que o agricultor só recebe os subsídios da EU através do Agrupamento de produtores, sendo obrigado a comercializar os seus produtos a partir do seu Agrupamento. Entendemos que com estes Agrupamentos fortes, os fluxos de capitais devem “obrigatoriamente” passar pelo Credito Agrícola, que tem que se reestruturar no sentido de ter uma estrutura de Banco Nacional, com gestão profissional e devidamente auditada. Com Agrupamentos fortes é possível participar diretamente através do capital dos próprios Agrupamentos e, de forma indireta, através do Crédito Agrícola no capital das agroindústrias e das grandes superfícies. Finalmente, sendo uma condição primária, defendemos que o código Associativo e Cooperativo deverá sofrer alterações de forma a criminalizar os dirigentes associativos que pratiquem atos de má gestão. Promovendo a figura obrigatória da apresentação de contas independentes com responsabilização criminal da equipa de gestão profissional que o Agrupamento é obrigado a constituir. A moralização ética dos dirigentes associativos é essencial para que os produtores acreditem no seu Agrupamento. Como se pode verificar a Política Agrícola Comum pode e deve ser a solução para a Agricultura Nacional! Os responsáveis políticos devem ter a coragem de fazer esta pequena grande revolução na Agricultura portuguesa.

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