Edição ESPECIAL - Transposição do Rio São Francisco

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Especial Transposição do Rio São Francisco Terça-feira, 28 de março de 2017

Ano: XXIV - Nº 6073

FOTOS: ROBERTO STUCKERT FILHO/JOCIVALDO VALE

Transposição: Com Lula, o sertão começa a virar mar As águas da mudança chegaram ao semiárido nordestino e a transposição do rio São Francisco, que vai impactar diretamente a vida de 12 milhões de sertanejos, já é realidade. Lula teve a coragem de começar a transposição do Rio São Francisco, um dos maiores empreendimentos de infraestrutura hídrica do planeta, e Dilma Rousseff continuou as obras e agora o sertão começa a virar mar. Durante a inauguração popular da transposição do Velho Chico, no último dia 19 de março, em Monteiro, interior da Paraíba, o ex-presidente Lula, acompanhado da presidenta eleita, Dilma Rousseff, lembrou quem são os responsáveis pela execução da obra, que estava no papel desde o Brasil Império. “Tenho muito orgulho de ter tido a coragem de iniciar esse projeto. Se eles têm vergonha, nós não temos. Dilma e eu, Ricardo (Coutinho - governador da PB) e muitos

outros governadores e vocês. Nós temos orgulho de dizer que somos pai, mãe, irmão, tio e sobrinho da transposição das águas do São Francisco”, enfatizou Lula. Emocionado, o ex-presidente agradeceu a companheira Dilma que, junto com Ciro Gomes (ex-ministro da Integração Nacional do seu governo) e tantos outros companheiros, resolveram colocar o pé no barro para ajudar a realizar a transposição do São Francisco”. Apesar do sucesso das obras da transposição, Lula reforçou que o problema da seca no Nordeste ainda não está resolvido. “O fato da água estar aqui não significa que o problema está resolvido, porque está cheio de gente morrendo de seca na beira do São Francisco e do açude. Agora é preciso levar para a adutora, tratar a água e levar para a torneira.”

Dia histórico: Inauguração popular em Monteiro é marcada pela emoção Nunca antes na história desse País, para usar um jargão do ex-presidente Lula, uma inauguração não oficial de obra governamental reuniu tamanha multidão como o ato realizado em Monteiro (PB), no último 19 de março. A festa ocorreu justamente no Dia de São José, padroeiro dos pescadores e do Ceará, um dos estados beneficiados com o maior empreendimento hídrico já realizado no Brasil. Além das mais de 70 mil pessoas – a maioria vinda de cidades num raio de até 500 quilômetros – que testemunharam e protagonizaram a “verdadeira inauguração” do canal que trouxe o Velho Chico ao sertão paraibano, outras milhares acompanharam pelas redes sociais, já que a manifestação foi censurada pela Rede Globo e seus veículos satélites da grande mídia. Apenas a transmissão feita pela página do senador Humberto Costa (PT-PE) no Facebook chegou a alcançar um pico de 35 mil pessoas acompanhando simultaneamente o ato na praça central de Monteiro, que

teve como principais oradores Lula, a presidenta eleita Dilma Rousseff e o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB). Dentre parlamentares petistas, estiveram presentes os líderes do PT e da Minoria na Câmara, Carlos Zarattini (SP) e José Guimarães (CE) (CE), a deputada Bene dita da Silva (RJ) Benedita (RJ), os deputados João Daniel (SE) (SE), Luiz Couto (PB (PB) ção e Valmir Assun Assunção ção, a líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PR), a senadora Fátima Bezerra (RN) e os senadores José Pimentel (CE), Lindbergh Farias (RJ) e Paulo Rocha (PA), bem como Humberto Costa, líder da Oposição no Senado. Zarattini não escondeu sua emoção ao se deparar com a imensa multidão. “Isso aqui é uma coisa emocionante. Está todo mundo aqui, gente de todos os cantos do Nordeste, que veio para cá participar desse dia histórico”, afirmou, enquanto olhava ao redor sem disfarçar a alegria diante do mar de povo que estava ali para conferir o cumprimento da secular profecia do sertão virando mar.

Fechamento: 27/03/2017 às 22h00


Lula saiu ainda menino do sertão para escap A frase do título acima foi uma das que mais se viu e ouviu em Monteiro e na internet brasileira no dia 19 de março. Não se sabe ao certo o autor ou a autora, mas a simbologia que ela carrega é também uma síntese – das tantas possíveis – da importância de um personagem que transcende qualquer conceito de ciência política. Luiz Inácio Lula da Silva, o “pai” da transposição do rio São Francisco, foi retratado como profeta (obra do chargista Humberto, nesta página) e foi graças à sua tenacidade na tarefa de convencimento de vários governadores – dos estados considerados “doadores” das águas do rio – que o projeto finalmente se concretizou, após quase 150 anos de promessas que tiveram início com D. Pedro II, a quem se atribui a afirmação de que venderia até a última joia da coroa para que fosse remediado o flagelo da seca no semiárido, que passara por uma longa estiagem em 1877. O projeto pioneiro para a transposição, entretanto, é de 1847. No carnaval fora de época em que se transformou Monteiro, naquele domingo tórrido e de poucas nuvens no céu, o ex-presidente pernambucano também desfilou na forma de boneco gigante, figura típica da folia de Olinda. Da vizinha Recife vieram muitos carros, inclusive táxis, vans e ônibus. Tudo espontâneo. Ou melhor, autoconvocado pela militância petista. Em meio à massa apinhada de camisas vermelhas, pouco preocupada com o sol inclemente, se via um cartaz com a reprodução da histórica foto de Lula sendo tocado e admirado por um menino negro, carregado nos ombros pelo pai e esbanjando o sublime sorriso de uma criança diante do ídolo. Testemunhas – Logo cedo, antes da multidão ocupar cada centímetro do local onde Lula brincou com as águas do rio, num momento imortalizado pelo fotógrafo Roberto Stuckert, uma antiga moradora da cidade – que precisa de bengala para caminhar, bem devagar – foi conferir com os próprios olhos a novidade da região, tratada quase como um milagre. “Tá bonito. Tá lindo. Se não fosse ele, eu ia morrer de velha e não ia ver essa água aqui nunca. Se não fosse ele nós ia morrer de sede”, desabafou e agradeceu Maria Inácia da Silva, a “Maria Pequena”, 83 anos, que falou com exclusividade para a equipe do PT na Câmara ao lado da filha, Antonia Apolinária da Silva, a “Pequena”, de 63 anos. “Lula é uma pessoa que merece tudo na vida. O que ele fez pra gente em Monteiro tá na história. Prometeu e fez”, acrescentou Maria Pequena. As promessas não cumpridas se repetiram desde o império. Nos estertores da

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última ditadura, o presidente Figueiredo retomou a ideia, mas não a tirou do papel. FHC chegou a assinar um documento intitulado “Compromisso pela vida do São Francisco”, que apontava a necessidade de revitalização do rio para, então, se passar à construção de canais em vários eixos. Outra testemunha que aguardou ansiosamente a chegada da água ao sertão paraibano foi o professor universitário aposentado Zélio Marques, que expressou ao repórter Aquiles Lins, do Brasil 247, a sua admiração pelo ex-presidente Lula e o orgulho com a obra. “Eu sou sertanejo, esperei 80 anos, sofri seca, fome e sede. Hoje, só tenho alegria. Estou com água e com Lula”, declarou. Único petista representante da Paraíba no Congresso Nacional, o deputado Luiz Couto surpreendeu ao iniciar sua fala no ato convidando a plateia a cantar: “Deixa o Lula me levar... Lula, leva eu! Deixa a Dilma me levar... Dilma, leva eu! Deixa o Ricardo me levar... Ricardo, leva eu!”, repetiu o padre Couto, afinado e intenso, incluindo na homenagem o governador Ricardo Coutinho (PSB), um dos maiores defensores da presidenta Dilma Rousseff na luta contra o golpe parlamentar consumado a 31 de agosto. “Eu aprendi a ter lado. Tenho coragem e não titubeei em nenhum momento em ficar ao lado da democracia”, disse com firmeza o governador. “A transposição é um golpe no coronelismo. Nós estamos derrotando o coronelismo em todo Nordeste, como derrotamos na Paraíba. Tem gente que era contra a obra e hoje tira foto com a cara mais safadinha do mundo dizendo que também é pai da obra”, enfatizou Coutinho.

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FOTOS:ROBERTO STUCKERT FILHO/RAFAELCARLOTA/JOCIVALDO VALE

par da seca e voltou em 2017 trazendo um rio

Homenagem foi feita ainda pela Assembleia Legislativa da Paraíba a Lula e Dilma, que receberam a medalha Epitácio Pessoa, mais alta honraria do poder legislativo paraibano. A presidenta agradeceu e manifestou a sua satisfação de ter se empenhado pelo projeto. “Estou muito orgulhosa de ver a água chegando a Monteiro. Eu lutei muito por isso junto com o Lula. Esses que deram um golpe baseado em uma mentira agora querem tirar os direitos conquistados nos nossos governos. A cara de pau que eles têm de falar que fizeram essa obra é a mesma cara de pau de quem fez um impeachment sem crime de responsabilidade. Essa é uma obra que estava praticamente concluída quando eu saí do governo”, afirmou Dilma, fazendo referência à hipocrisia do ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência, que usou o Twitter para divulgar as façanhas surrealistas do governo temerário. “Em 6 anos, Dilma não conseguiu entregar as obras de transposição do rio São Francisco. Nós entregamos em seis meses”, publicou o “gato angorá”, que foi desmentido diante de mais de 50 mil pessoas. “Essa obra não é só um canal, é trazer a água lá de baixo por seis estações que correspondem a 92 andares. Alguém já viu um prédio de 92 andares ser construído em seis meses?”, completou Dilma. Oportunismo – Na tribuna da Câmara, poucos dias antes do histórico ato no sertão, Luiz Couto havia elogiado a “coragem” de Lula ao enfrentar e vencer todas as resistências que impediam a concretização tão esperada do projeto da transposição, que trouxe “um novo rumo” para a população nordestina. “O passado no Nordeste do

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Brasil, com a problemática da escassez de água, foi marcado na memória social por muitos projetos públicos abandonados e reduzido aos determinantes físicoclimáticos. A coragem de Lula se transformou em esperança para um povo sofrido que só tinha a promessa”, destacou Couto, que acusou o golpista Temer de “querer fazer festa com o chapéu alheio”. Antes de descer do ônibus que trazia a comitiva de parlamentares e autoridades que acompanhavam Lula e Dilma, o deputado Valmir Assunção (PT-BA) conversou com o PT na Câmara e enalteceu a importância de Lula. “Essa obra sonhada por todo o povo do Nordeste, que tomou conta dessa atividade. E só Lula poderia fazer a transposição do rio São Francisco. Por isso é que pedimos: volta, Lula!”, conclamou o baiano. Ex-prefeito da cidade que mais acolheu nordestinos retirantes, inclusive o expresidente Lula, Fernando Haddad participou da inauguração popular. “Isso aqui é histórico. Essa talvez seja a obra mais simbólica da história do Brasil, porque é o resgate de um desejo de integração nacional. É muito emocionante ver a água chegar aqui”, registrou Haddad. Emocionado também estava o cantor Chico César, nascido em Catolé da Rocha, a 250 quilômetros de Monteiro. “Hoje é um dia de reencantamento pro povo da Paraíba, do Nordeste e do Brasil. A água é vida e vem num momento em que precisamos de mais vida pro nosso País. Vida no sentido amplo: democracia para todos. E o São Francisco, como o rio de integração nacional, reanimando o Brasil”, disse o anfitrião. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, esteve presente e foi outro que ressaltou o caráter simbólico do momento. “É uma grande emoção. O povo festejando o verdadeiro pai a mãe da obra, que são reconhecidos pela população”, resumiu Rui.

TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO - Primeiro projeto: 1847 (Marcos Antônio de Macedo, prefeito de Crato, Ceará) - Início das obras: 2007 (governo Lula) - População beneficiada: 12 milhões - Custo: R$ 8,2 bilhões - Mais de 700 Km de canais - 9 estações de bombeamento de água

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ARTIGO/CARLOS ZARATTINI

GUSTAVOBEZERRA/PTNACAMARA

Transposição é um projeto simbólico e sua inauguração foi um momento épico Nenhuma obra na história do Brasil foi tão prometida, planejada, descartada, adiada e, sobretudo, sonhada quanto a transposição do rio São Francisco. Do primeiro projeto, apresentado pelo prefeito de Crato, Marcos Antônio de Macedo, no Cariri cearense, em 1847, até o início das obras, em 2007, segundo mandato do governo Lula, passaram-se exatamente 160 anos. Nesse período governaram o Brasil um imperador e 34 presidentes da República. O destino reservou a um retirante nordestino e a uma mineira radicada nos pampas a tão sonhada concretização – literalmente, no âmbito da engenharia – do maior empreendimento hídrico da história do Brasil e um dos maiores do planeta. Com a transposição, que teve a sua verdadeira inauguração no último 19 de março, o rio da integração nacional expandiu ainda mais a extensão da área para a qual ele leva a providência quase divina da água para o povo sertanejo. Um projeto desta magnitude e com essa importância não poderia ficar sem um ato de inauguração à altura do simbolismo que ele carrega. A chamada “inauguração popular” do Eixo Leste, entretanto, superou as expectativas mais ufanistas. Sem nenhum exagero, o que

aconteceu na cidade de Monteiro foi um momento épico da história política do Brasil. Uma multidão estimada em pelo menos 70 mil pessoas se deslocou de vários estados para o pequeno município paraibano. Foram vistas placas de carros de Salvador, Recife, João Pessoa, Natal, Juazeiro do Norte, Campina Grande, Juazeiro da Bahia, Petrolina, Feira de Santana e tantas outras cidades pequenas e médias do interior do Nordeste. Os motivos de tal “peregrinação” são vários. Em primeiro lugar, o que moveu as pessoas foi o reconhecimento e o agradecimento ao ex-presidente Lula, à presidenta Dilma Rousseff, ao governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, que lutou vigorosamente contra o golpe parlamentar contra a democracia brasileira, e a todos aqueles que se dedicaram à viabilização do projeto. Para além disso – e talvez de forma mais significativa ainda – o carinho do povo nordestino com o presidente mais popular que o Brasil já teve mais uma vez se mostrou em toda a sua intensidade. Jamais se viu neste País uma demonstração de afeto, respeito e admiração tão profunda por parte de um povo

em relação a uma liderança política. Pouco importou que Lula já esteja há mais de seis anos sem exercer um cargo público. E importa menos ainda a perseguição infame que ele sofre de setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal. Ou melhor, talvez justamente essa perseguição absurda tenha sido um fator a mais que motivou o enorme deslocamento para Monteiro. A sociedade brasileira tem muito a aprender com o povo nordestino, especialmente no que diz respeito à receptividade e ao reconhecimento de quem presta bons serviços. E a transposição é uma obra que ajuda a pagar um pouco a enorme dívida social que o Brasil possui com a parcela mais pobre e desassistida de políticas públicas. Lula e Dilma sabem disso e essa é uma das razões que os fizeram a se empenhar tanto para tirar esse projeto do papel e transformar o sonho de tanta gente em realidade. Que tenhamos outras Monteiros ao longo desse ano e de 2018, já que a luta para recuperar a democracia plena no Brasil será dura e longa. Deputado Carlos Zarattini (SP) Líder do PT na Câmara

EXPEDIENTE

RICARDO STUCKERT

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Líder da Bancada: Deputado Carlos Zarattini (SP) Coordenadora Geral: Chica Carvalho Coordenador de Comunicação: Carlos Leite Coordenador Adjunto : Rogério Tomaz Jr., Paulo Paiva Nogueira (Assessoria de Imprensa) Editores: Denise Camarano (Editorachefe); Vânia Rodrigues e Tarciano Ricarto Redação: Benildes Rodrigues, Gizele Benitz, Héber Carvalho, Tarciano Ricarto e Vânia Rodrigues - Rádio PT: Ana Cláudia Feltrim , Chico Pereira , Ivana Figueiredo e Gabriel Sousa Fotógrafo: Gustavo Bezerra Video: João Abreu, Jonas Tolocka, Jocivaldo Vale, Crisvano Queiroz Projeto Gráfico: Sandro Mendes - Diagramação: Ronaldo Martins - Web designer e designer gráfico: Claudia Barreiros - Secretária de Imprensa: Maria das Graças e Eva Gomes Colaboração: Assessores dos gabinetes parlamentares e da Liderança do PT. O Boletim PT na Câmara foi criado em 8 de janeiro de 1991 pela Liderança do PT na Câmara dos Deputados.

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