0
foodmarket magazine
A relação agroalimentar ibérica DISTRIBUIÇÃO
a armada espanhola
EDITORIAL
António Malheiro Diretor Executivo
Diretor Manuel Rui F. Azevedo Alves diretor.foodmarket@agropress.pt Diretor Executivo António Malheiro a.malheiro@publindustria.pt Representante na Bélgica Ana Malheiro · ana.malheiro@agrotec.pt Avenue Louis van Gorp, 9 - B-1150 Bruxelas Coordenação Editorial e Redação em Lisboa Carlos Alberto Costa foodmarket@agropress.pt Direção de Publicações Agropress Daniela Faria Tel. +351 225 899 620 comercial@agropress.pt Marketing Marcelo Melo Tel. +351 225 899 620 marketing@agropress.pt Design Gráfico Luciano Carvalho l.carvalho@publindustria.pt Edição e Propriedade Publindústria, Produção de Comunicação, Lda. Empresa jornalística Registo n.º 213163 NIPC: 501777288 Praça da Corujeira, 38, 4300-144 Porto, Portugal Tel. +351225899620 Fax +351225899629 a.malheiro@publindustria.pt www.publindustria.pt Chancela Editorial AGROPRESS, Agronomia e Indústria Alimentar Tecnologias de Informação e Comunicação 360 graus info@360graus.pt Assinaturas Tel. +351 220 104 872 assinaturas@engebook.com www.engebook.com Impressão e Acabamento Gráficas Anduriña Pontevedra – Espanha
UM PACK DE INFORMAÇÃO PARA A INDÚSTRIA ALIMENTAR O número zero da FoodMarket – Magazine que o leitor tem entre mãos é o ponto de partida para mais uma iniciativa editorial do grupo Publindústria que ao longo de mais de três décadas vem consolidando a sua posição de liderança na edição de conteúdos especializados direcionados para os mercados de base Industrial e Agroalimentar. A Indústria Alimentar a par da Agricultura e da Agropecuária são atividades económicas que exigem o mais alto grau de profissionalização operativa, visão estratégica para os mercados, uso de ferramentas de marketing, comunicação e distribuição. O efeito da globalização dos mercados, as questões ambientais e a ameaça de terrorismo, agregaram ainda mais complexidade e exigências de conhecimento técnico, científico e normativo aos diversos stakeholders. Os aspetos normativos no quadro, a higiene e segurança, rotulagem, armazenagem e distribuição são outras tantas das várias áreas que obrigam a formação e atualização constante dos técnicos industriais, operadores de retalho e distribuição. Elencamos estas premissas como base de sustentação e justificação do projeto comunicacional – FoodMarket – Magazine que complementamos com a Revista TecnoAlimentar cujo enfoque continuará a ser a indústria alimentar nos seus diversos patamares operativos. Como revista dos mercados, das marcas, da logística e da distribuição, estaremos particularmente focados na promoção e divulgação jornalística de eventos afins e na inovação que ocorra nas empresas nacionais, num primeiro patamar de intervenção, mas perseguindo um posicionamento ativo no mercado Ibérico como pensamos ter demostrado neste número zero da FoodMarket – Magazine. Não sendo de partida uma publicação técnica e científica, não deixaremos de dar a maior relevância à inovação e investigação produzida nas escolas de Gestão e Marketing em paridade com a inovação produzida pelas empresas. Inovação, Mercados e Marcas serão as KeyWords do objeto editorial da FoodMarket – Magazine. Os dados estão lançados.
«Inovação, Mercados e Marcas serão as KeyWords do objeto editorial da FoodMarket – Magazine.» 0 | foodmarketmagazine
3
SUMÁRIO
22
12 29
20
21 20 DISTRIBUIÇÃO |
ANÁLISE
21 DISTRIBUIÇÃO |
ENTREVISTA
22 DISTRIBUIÇÃO |
ENTREVISTA
14
03 EDITORIAL
12 ENTREVISTA |
EVENTOS
06 ALIMENTARIA |
LISBOA
A nova Alimentaria 2017
08 BRANDING |
MERCADOS
Empresas, mercados, tecnologias
10
ZOOM | CAPA
4
A relação agroalimentar ibérica
foodmarketmagazine | 0
J. VALLS
J. Antoni Valls, diretor-geral da Alimentaria Exhibitions
14 ENTREVISTA |
Empresas portuguesas na Drinktec
CCILE
Enrique Santos, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-espanhola
17 MERCADO |
FIAB
Federação Espanhola das Indústrias de Alimentação e Bebidas
18 DISTRIBUIÇÃO |
José António Rousseau
05 EXPO |
Ana Paula Barbosa, da Nielsen, analisa o retalho alimentar
A armada espanhola
INSÍGNIAS
Ana Penim
24 SETORES |
LÁCTEOS
26 SETORES |
FILEIRA
Operadores lácteos refugiam-se no queijo
Breves impressões sobre a fileira alimentar
29 FOCO |
PERSPETIVA
Como os espanhóis olham para nós
30 BIBLIOGRAFIA |
LIVROS
EXPO
11-15 SETEMBRO, MUNIQUE
Empresas portuguesas na Drinktec 2017 Por Carlos Alberto Costa
Digidelta Internacional, Ezpeleta Portugal e Relvas Portugal formam o trio de empresas portuguesas da lista provisória de expositores na Drinktec 2017, considerada a mais importante feira mundial para a indústria de bebidas e alimentos líquidos.
P
resentes na Drinktec 2017 estarão igualmente empresas com operação comercial em Portugal, caso da ABB, Sew Eurodrive, Viessmann, Atlas Copco, Bosch, Dupont, Henkel, Nilfisk e Tetra Pak. Para a edição 2017 são esperados mais de 1600 expositores, o maior quantitativo em 60 anos de história do evento que se
A Relvas Portugal, fundada em 1926 por Américo Coelho Relvas, começou por produzir rolhas de cortiça para vinho e líquidos farmacêuticos e hoje produz rolhas para champanhes, espumantes e vinhos frisantes. Nas décadas de 40 e 50 a empresa inicia a exportação e diversifica a atividade procurando sinergias com outros elementos dos vinhos espuman-
«Para a edição 2017 são esperados mais de 1600 expositores, o maior quantitativo em 60 anos de história do evento que se realiza entre 11 e 15 de Setembro no Messe München, em Munique, Alemanha.» realiza entre 11 e 15 de Setembro no Messe München, em Munique, Alemanha. A Digidelta Internacional é um fabricante e integrador de sistemas para os mercados de impressão digital, exibição, etiquetagem e comunicação Visual. Fundada em 1986 pelo empresário Raul Leitão, tem atualmente mais de 80 colaboradores e instalações em Lisboa, Torres Novas, Vila Nova de Famalicão e em Madrid. Com estatuto de PME líder desde 2008 comercializa equipamentos e consumíveis (tintas) de impressão marca Mimaki, sendo importador e distribuidor exclusivo para a Península Ibérica, consumíveis para impressão (substratos adesivos) produzidos na fábrica de Torres Novas com a marca própria Decal, soluções de etiquetagem e equipamento de tecnologia LED para exibição de conteúdos digitais com a marca própria NetScreen. A empresa oferece serviços financeiros de Renting e, mais recentemente, um serviço (PSI – Prestação de Serviços de Impressão) adaptado a cada cliente incluindo equipamentos, (tinta, substrato e assistência técnica) apoiado numa empresa do grupo, a Farben Renting SA..
tes e investe na produção de cápsulas decorativas para garrafas de vinho. Nos anos seguintes, a empresa separa o negócio de fabrico das rolhas de champanhe e das cápsulas, instala uma fábrica em Mozelos e desenvolve uma rolha
aglomerada com dois discos de cortiça natural. Na viragem do século, a Relvas expande o negócio para o exterior adquirindo uma participação numa reputada empresa em Reims, França. A Ezpeleta Portugal Móveis de Jardim Lda. nasce em 1935, em Oñati, Guipúzcoa, no País Basco, inicialmente como fábrica de guarda-chuvas. Em 1954, os membros da segunda geração constroem uma fábrica em Vigo e em 1988 instalam-se em Portugal, naquela que é hoje a maior fábrica do grupo, situada em Vila Nova de Cerveira. Atualmente, a empresa representada pela terceira geração da família fundadora, dispõe de duas fábricas próprias em Espanha e duas em Portugal, assim como colaborações estratégicas com várias empresas da Europa e Ásia. A Ezpeleta fabrica guarda-chuvas, guarda-sóis, móveis e almofadas para exterior para o setor hoteleiro, grandes superfícies, grandes armazéns, centros especializados e lojas independentes.
0 | foodmarketmagazine
5
EXPO
LISBOA 2017
A nova Alimentaria Por Carlos Alberto Costa
A Alimentaria mudou e apresenta-se este ano com um novo posicionamento focado em quatro eixos fundamentais: Inovação, Saúde, Bem-estar e Valorização da Produção Nacional.
A
s mudanças introduzidas na edição 2017 da Alimentaria pretendem dar resposta às novas necessidades da indústria, do consumidor, da distribuição e do canal Horeca. Os alvos estão identificados: necessidade de promover a competitividade da economia, a capacidade exportadora e abertura a novos mercados não tradicionais, criação de emprego e inclusão social, promoção de estilos de vida saudáveis e o combate ao desperdício alimentar, bem como salvaguardar a qualidade e segurança alimentar. Sentindo estas necessidades e sendo um player de referência e ponto de encontro obrigatório para toda a indústria alimentar, a Alimentaria & Horespo Lisboa 2017 tem, pela primeira vez, uma parceria com 3 ministérios (Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Ministério da Saúde e Ministério de Economia), indo ao encontro dos novos eixos e da nova estratégia da marca Alimentaria, bem como das necessidades do sector. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que 80% das doenças cardiovasculares, 90% de diabetes mellitus tipo 2 e 33% de todos os tipos de cancro poderiam ser evitados pela adoção de estilos de vida saudáveis, nomeadamente através de mudanças benéficas nos hábitos alimentares. O Ministério da Saúde/Direção Geral da Saúde, através do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, colocou em marcha a missão de melhorar o estado nutricional da população portuguesa. A Alimentaria quer estar alinhada com as políticas públicas no que diz respeito à promoção de estilos de vida saudáveis, até porque, a Horexpo, salão que integra a Alimentaria Lisboa desde 2011, tem a capacidade de chegar a todo o canal de distribuição e ‘food service’: restaurantes, sector hoteleiro, restauração coletiva, catering, eventos e espetáculos, etc.
6
foodmarketmagazine | 0
ESPAÇO À INOVAÇÃO A Inovação também pode ter influência na alimentação e nomeadamente nos estilos de vida saudável. Outra das principais prioridades políticas atuais é atrair investimento internacional para Portugal, orientado para os sectores produtivos da economia – um investimento “que vem para ficar”. A área agrícola e a indústria alimentar têm dado bons exemplos de sucesso, o que tem contribuído para o desenvolvimento do tecido empresarial em Portugal. Os ministérios da Agricultura e da Economia articulam-se para o desenvolvimento não apenas do sector agrícola mas de toda a cadeia agroalimentar, através da Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agroalimentar, um importante fórum destinado a promover a discussão e o diálogo entre os diversos atores, desde a produção primária, à indústria e à distribuição de produtos agroalimentares. Num momento em que o sector agroindustrial em Portugal está a ter um
bom desempenho, a aptidão que o mesmo apresenta para atrair e captar investimento externo nunca foi tão vincada. Com esta iniciativa, a Alimentaria & Horexpo visa contribuir para esta dinâmica, trazendo investidores estrangeiros para conhecerem as empresas nacionais, a capacidade produtiva do país e a qualidade da produção nacional. Por outro lado, representa num palco importante para promover o estabelecimento de parcerias que reforcem o crescimento e competitividade económica do país, estabelecendo sinergias entre setores ligados à agricultura, como o ambiente, turismo, emprego ou qualificação profissional. A Alimentaria é o local ideal para promover a captação de investimento direto estrangeiro nomeadamente em atividades de inovação que capacitem as empresas nacionais para integrarem as denominadas Global Value Chains, adequando o perfil de especialização à procura interna e tendo em conta que Portugal representa uma orientação exportadora com uma enorme margem de crescimento.
MERCADO
VENDER MAIS A Alimentaria & Horexpo Lisboa 2017, uma organização da FIL em parceria com a Alimentaria Exhibitions, apresenta-se como o local de negócios e networking de todos os profissionais do sector, bem como um palco aberto ao debate e discussão. É o espaço de negócio privilegiado para o mercado interno e para o mercado externo, este ano sob o mote “Vender Mais, Conhecer Novos Mercados e Captar Novos Clientes”. Em três dias, 4 a 6 de Junho – a FIL reúne numa só feira três grandes áreas de negócio para os profissionais do sector – Alimentaria Lisboa, Horexpo e Tecnoalimentaria – agrupando toda a oferta e novas tendências para aumentar o negócio e dar qualidade aos empresários que operam neste grande mercado. O evento reúne a oferta alimentar organizada em torno de sectores que representam a grande variedade da indústria de alimentação e bebidas. Conta com o apoio e colaboração de todos os canais de distribuição do país, oferecendo aos expositores e visitantes oportunidade para testar lançamentos, realizar contactos e entrar em novos mercados.
A Horexpo é o evento por excelência para o Canal Horeca em Portugal. Dispõe da colaboração ativa das associações mais importantes do sector e exibe uma oferta global com produtos que vão desde o têxtil, às porcelanas, cutelarias e aos equipamentos para cafés, bares, pastelarias, restaurantes e hotéis, reunindo as principais marcas internacionalmente reconhecidas no mercado.
A Tecnoalimentaria reúne a mais completa oferta de tecnologia e equipamentos para a indústria e distribuição alimentar. De carácter transversal, cobre todas as necessidades tecnológicas presentes na cadeia alimentar, desde os ingredientes até à embalagem, passando pela manipulação, transformação e distribuição comercial. Para além de cobrir todo o mercado português, a Alimentaria & Horexpo Lisboa é uma ponte natural para o comércio da indústria alimentar com os países de influência portuguesa onde se movem mais de 250 milhões de potenciais consumidores, com os mercados europeus e outros internacionais onde se desenvolvem contactos e ações específicas. Este posicionamento estratégico vai permitir trazer à Alimentaria & Horexpo Lisboa temas atuais e relevantes para o sector possibilitando novas abordagens aos desafios recentes das empresas da alimentação, da restauração e da hotelaria. Wellness & Health, Nutrição, Alimentação do Futuro, Nova Geração de Consumidores, Origens, Produção Nacional, entre outros, serão alguns dos eixos que irão marcar esta edição.
PUB
BRANDING
NOVO DIRETOR DE MARKETING
LIDL ASSINA PROTOCOLO COM SIMAB
O LIDL Portugal, a Associação 5 ao Dia e a Sociedade Instaladora de Mercados Abastecedores (SIMAB) assinaram um protocolo com os objetivos de promover uma alimentação e um estilo de vida saudável, e de contribuir para a prevenção de doenças crónicas associadas aos maus hábitos alimentares, com destaque para a promoção da saúde e prevenção de défices nutricionais. Com esta parceria será possível a realização de sessões de promoção e sensibilização do programa nas lojas do LIDL, bem como a presença do distintivo do “5 ao dia” nos produtos hortofrutícolas de origem nacional comercializados nas lojas LIDL. Rui Martins, Presidente da Direção da Associação 5 ao Dia e vogal do Conselho de Administração da SIMAB, considerou que “este protocolo representa para a SIMAB e para a Associação 5 ao Dia um desafio acrescido”, uma vez que possibilitará que “a mensagem do Programa 5 ao dia na sensibilização para hábitos alimentares saudáveis, possa chegar a mais crianças, jovens e idosos, em estreita cooperação com uma das mais importantes cadeias de distribuição alimentar”.
O italiano Fran Zanier é o novo Diretor de Marketing da Checkpoint Systems na Europa, Médio Oriente e África. Zanier desenvolveu a maior parte da sua carreira profissional na HP Inc. e nos últimos anos dirigiu o departamento de marketing para Espanha e Portugal da HP Indigo e Page Wire Press, divisões especializadas em hardware, software e serviços para a indústria gráfica, etiquetagem e embalagem. Licenciado em Publicidade e Relações Públicas pela Universidade de Línguas e Comunicação IULM de Milão (Itália), Fran Zanier especializou-se posteriormente em marketing digital. A Checkpoint Systems, divisão da CCL Industries, é líder mundial em soluções para a disponibilidade de mercadoria no sector de retalho que abarca a prevenção da perda desconhecida e a gestão de inventário. A CCL Industries Inc. emprega 9.600 pessoas e opera 87 instalações de produção situadas em 25 países de 5 continentes.
VINHO BIOLÓGICO EM ALTA Em dez anos, entre 2004 e 2015, a produção de vinho de cultivo biológico disparou 300% na Europa e no mundo, segundo revela um estudo que o Wine Monitor Nomisma realizou para a Federação Italiana de Agricultura Biológica e Biodinâmica (Federbio), apresentado no âmbito da Vinitaly, a mostra internacional de vinhos que se realizará em Verona, Itália, em 2018. A viticultura biológica na Europa ocupa uma área de 293 mil hectares, cerca de 88% do total da superfície mundial plantada com vinhas bio. A Itália, com 83 mil hectares de vinha ocupa o primeiro lugar em termos de incidência da superfície plantada (11,9% da área cultivada é dedicada a agricultura biológica) seguida da Áustria com 11,7% e Espanha com 10,2%. A crescente preocupação dos consumidores com alimentos saudáveis ajuda a explicar este aumento da procura. Em Itália, a venda de vinho biológico rendeu 11,5 milhões de euros em 2016. O país exportou, o ano passado, 5,6 mil milhões de euros em vinhos.
AS CINCO TENDÊNCIAS
CORTIÇA COM EXPORTAÇÃO RECORDE
© APCOR
O setor da cortiça quer chegar, este ano, aos mil milhões de euros em exportações. “É esse o nosso objetivo e vamos continuar atentos àqueles que consideramos os três grandes pilares da nossa cadeia de valor, com uma aposta clara no mercado, na evolução da indústria e na proximidade com a produção, para que possamos ter mais e melhor cortiça em Portugal”, afirma João Rui Ferreira, presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR). A ambição é justificável face os resultados de 2016, ano em que o setor bateu todos os recordes, exportando mais de 937 milhões de euros, um crescimento de 4% em relação ao ano anterior. A indústria exporta 90% daquilo que produz para 133 países, sendo que a rolha se mantém como produto premium, com um peso de 72% no total das exportações, face aos materiais de construção (25%), e outros produtos (3%), com as novas aplicações a apresentar um elevado potencial de crescimento. “Este recorde é o resultado de mais uma etapa do processo iniciado pela cortiça já há alguns anos, no sentido de se afirmar não só no mundo do vinho, no qual quer continuar a provar que é o melhor vedante, como também através de uma busca incessante de novas aplicações”, explica o presidente da APCOR. O top 5 dos principais mercados da cortiça é liderado pela França, que detém 19% das exportações deste produto, aumentando 10% face a 2015, seguindo-se os EUA (18%), a Espanha (12%), a Itália (10%) e a Alemanha (8%).
8
foodmarketmagazine | 0
A consultora Deloitte identificou as cinco grandes tendências que estão a redefinir os hábitos alimentares do consumidor português. O estudo divulgado em Abril admite que a confiança, a conveniência e as preocupações com o bem-estar estão cada vez mais entre os critérios para decidir a compra: os consumidores querem preços que se ajustem à sua capacidade de otimização do rendimento; compram produtos que identificam como benéficos para a saúde (biológicos, funcionais); valorizam a responsabilidade social e ambiental das empresas produtoras de alimentos; preferem produtos rápidos de consumir (pré-cozinhados e take-away) de modo a terem mais tempo para outras atividades; procuram associar experiências ao consumo dos produtos alimentares porque querem consumir com significado e substância e, no processo, gerar memórias duradouras.
ZOOM
A RELAÇÃO AGROALIMENTAR IBÉRICA
Dois países desiguais, a mesma energia Por Carlos Alberto Costa
A fileira agroalimentar suportou a crise dos mercados e a retração do consumo e resistiu mesmo quando outros setores naufragaram. O esforço em Portugal e Espanha fez-se de sinergias e interações entre duas economias de diferente dimensão mas com estratégias similares.
P
roximidade geográfica e cultural, mercado desenvolvido e aberto ao investimento, custos laborais atrativos, consumo maduro e afinidade de gostos e características. Um senão: menor poder de compra. Este pode ser o alto-relevo que o setor agroalimentar espanhol vê em Portugal. Os números ajudam a compreender este cenário de interdependência entre as duas economias. As trocas comerciais de bens entre os dois países ultrapassaram os 33 mil milhões de euros em 2016, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Cerca de 20 mil milhões correspondem a exportações para Espanha e um pouco mais de 13 mil milhões às compras espanholas de bens e serviços portugueses. Resulta daqui uma primeira conclusão: Espanha é o principal cliente das exportações portuguesas de bens e também o principal fornecedor, com 26,2% de quota no primeiro indicador e 32,8% no segundo. Entre 2012 e 2016, o comércio de bens entre os dois países cresceu 6,8% nas exportações portuguesas para Espanha e 2,7% nas importações espanholas para Portugal. Para se ter uma base de comparação, as exportações espanholas para a América do Norte (México, Estados Unidos e Canadá) no mesmo período não superaram os 17 mil milhões de euros, o que faz de Portugal o terceiro mais importante cliente de Espanha, apenas ultrapassado por França e Itália. A fileira agroalimentar representou, em 2016, um quinto do valor total das trocas comerciais entre os dois países e é o primeiro grupo de produtos da lista de compras portuguesas. A lista inclui com destaque as carnes de suíno e bovino, azeite, bebidas e produtos de padarias ou da indústria de bolachas e biscoitos. Cerca de 12% do total global de vendas espanholas de alimentos e bebidas para o exterior têm Portugal como destino.
10
foodmarketmagazine | 0
Porém, a presença espanhola no mercado alimentar português também se tem feito por via do investimento, seja no setor primário, sobretudo na criação de gado, na produção agrícola, na participação no capital de empresas ou mesmo na abertura de unidades de negócio. Segundo dados citados pela Câmara de Comércio e Indústria Luso Espanhola, entre 1993 a 2016, o investimento bruto de origem espanhola nas indústrias alimentares terá ultrapassado mil milhões de euros, distribuídos entre o setor agrícola, pecuária e caça (70,5 milhões), a pesca e aquicultura com cerca de 41 milhões e a fabricação de bebidas, com a fatia mais importante (863 milhões de euros). A intensidade deste fluxo explica-se, em parte, por via indireta, ou seja, investimentos de multinacionais com operação ibérica centralizada em Espanha. Mas também é um reflexo da importância da indústria de bebidas, o segundo subsetor mais relevante da fileira alimentar espanhola, só ultrapassado pela indústria cárnica.
O VALOR DOS NÚMEROS Espanha é umas vezes o nosso irmão próximo, outras excessivamente próximo, outras o vizinho que não escolhemos e que também não nos escolheu. A geografia não se escolhe, governa a nossa vida, dálhe limites, graus e números. Com a rela-
CONFIANÇA EM ALTA O setor agroalimentar nacional poderá crescer 1,8% este ano, admite um estudo da seguradora de crédito Crédito y Caución. A desaceleração económica no Brasil e em Angola provocou a redução das exportações e dos níveis de investimento no setor agroalimentar e o embargo aos mercados russos não ajudou. O mesmo estudo sugere que a deflação de 2014 e 2015 teve um impacto negativo nas margens das empresas, “num ambiente de guerra de preços e forte concorrência.”
ZOOM
COMÉRCIO INTERNACIONAL DE BENS – IMPORTAÇÕES Peso dos principais países parceiros de 2016 Outros 22,8% Espanha 32,8%
Brasil 1,7% Rússia 1,9% Bélgica 2,8% China 3,0% Reino unido 3,1% Países Baixos 5,1% Itália 5,5%
Alemanha 13,5% França 7,8%
ção histórica e política estabilizada, a verdade económica é incontornável: Espanha tem dimensão no mercado, peso na balança comercial e músculo no investimento. Um estudo da Informa D&B, empresa de Informação comercial e financeira, identificou cerca de 262 empresas com participação de capital espanhol, 212 das quais com controlo acionista, cuja atividade está relacionada com a alimentação e bebidas nos setores da indústria, comércio e distribuição grossista e retalhista. O volume de negócios deste aglomerado empresarial representou um volume de investimento espanhol superior a 1,4 mil milhões de euros e um volume de vendas que em 2014 superou 5,8 mil milhões de euros. Porém, esta presença espanhola no conjunto da economia não se verifica de
forma transversal e globalmente tem uma dimensão muito para além do agroalimentar. Segundo dados da mesma empresa de informação empresarial, libertados em Abril de 2016, havia mais de 1800 empresas espanholas em Portugal que davam emprego a 77 mil pessoas. No entanto, o impacto do capital espanhol incidia apenas sobre 3% do tecido empresarial, sendo mais expressivo na Banca e nos Seguros e, neste caso, com domínio da banca espanhola. Segundo a D&B, no universo das empresas exportadoras, apenas 7% têm participação de capital estrangeiro, embora representem 54% do volume total de exportações portuguesas. “O número destas empresas não só tem vindo a aumentar como o seu impacto é notório no desempenho da economia nacional. Representando um potencial fator de cres-
COMÉRCIO INTERNACIONAL DE BENS – EXPORTAÇÕES Peso dos principais países parceiros de 2016 Outros 23,7%
Espanha 26,2% Marrocos 1,4% Bélgica 2,4% Angola 3,0% Itália 3,4% França 12,6%
Países Baixos 3,7% Estados Unidos 4,9%
Alemanha 11,6% Reino Unido 7,0%
cimento e de desenvolvimento económico num mercado cada vez mais globalizado, a abertura à participação estrangeira tem funcionado como um catalisador de competitividade além-fronteiras, de inovação e de emprego”, referia o mesmo estudo. Ou seja, esta é a via para ganhar dimensão, porém, a que uma parte do empresariado tem resistido, mesmo em outras áreas de atividade que não o agroalimentar. E a conclusão estatística é que este financiamento, seja por via da venda de empresas ou pela abertura das sociedades ao capital estrangeiro, tem beneficiado o fluxo exportador. A participação ou controlo acionista espanhol em empresas portuguesas do setor agroalimentar está disperso por variados subsetores mas a presença empresarial é mais intensa em áreas como a pecuária, a pesca e transformação de pescado, os hortofrutícolas frescos e congelados ou as oleaginosas. A jusante, o setor grossista exibe igualmente forte presença espanhola.
DOIS PAÍSES, UMA CONCLUSÃO A indústria alimentar e de bebidas é o primeiro setor industrial em Espanha, gerando uma faturação de quase 95 mil milhões de euros e garantindo meio milhão de empregos diretos, segundo dados da Federação Espanhola das Indústrias Alimentares e de Bebidas (FIAB). As exportações ascendem a 26 mil milhões de euros, 10% do pacote exportador espanhol de bens. A União Europeia é o principal mercado de destino (63%), e os principais produtos exportados são procedentes das indústrias cárnicas e derivados, as bebidas e as oleaginosas. Mesmo durante o período da crise económica que fustigou a Europa, cujos efeitos se começaram a sentir em 2007, o setor conseguiu crescer a uma média de 2% ao ano e, mais relevante é que esse crescimento ocorre em contraciclo, quer em relação ao total da economia, quer ao conjunto das indústrias transformadoras, onde a fatia alimentar e de bebidas tem um peso de 21%. O setor agroalimentar demonstrou, portanto, em Espanha, uma resiliência que fez dele um motor da economia em tempos de fragilidade e regressão. Do lado de cá da fronteira, idêntica resiliência empurrou a fileira alimentar para fora das suas fronteiras. É verdade que o volume de negócios é 6 vezes inferior e que um mercado interno de 10 milhões gera oportunidades diferentes de outro com mais de 46 milhões de consumidores, porém, a resiliência não tem pátria nem se alimenta de desproporções.
0 | foodmarketmagazine
11
ENTREVISTA
J. ANTONI VALLS
«A relação agroalimentar ibérica tem funcionado bem nos dois sentidos» Entrevista por Carlos Alberto Costa
O diretor-geral da Alimentaria Exhibitions, sociedade organizadora da Alimentaria 2017, em Lisboa, falou à Food Market sobre a relação agroalimentar ibérica. J.Antoni Valls admite que as exportações continuam a ser o motor de crescimento nos dois lados da fronteira.
Food Market (FM) – Que avaliação faz da presença alimentar espanhola no mercado português e que rumos poderá tomar num futuro próximo? J. Antoni Valls (AV) – Os alimentos de Espanha têm ganho terreno nos mercados exteriores. As exportações agroalimentares espanholas cresceram 6,1% em 2015, alcançando 25.422 milhões de euros. Apesar da importância das vendas de alimentos espanhóis a outros países e do seu forte crescimento, as vendas a países europeus continuam a impulsionar as exportações. FM – É quantificável essa presença espanhola em Portugal? AV – A Portugal vendemos alimentos no valor de três mil milhões de euros, sobretudo carnes e vinhos. Concretamente, a carne de porco é o principal produto exportado para Portugal. FM – Esta edição da Alimentaria Lisboa ocorre num momento em que o setor agroalimentar pode colher os frutos da sua resiliência em tempos de crise. Foi um dos mais resilientes e soube procurar alternativas de negócio nos mercados externos. Foi assim também em Espanha? AV – Sim, ocorre o mesmo em Espanha. O setor agroalimentar consolidou-se como potente motor económico, como a principal indústria do país, que soube alimentar o seu crescimento e apresentar dados positivos em conjunturas adversas, como aconteceu nos piores anos da crise económica que assolou a Europa. As exportações continuam sendo o grande motor do setor, já que a desaceleração da procura interna que se tem verificado nestes últimos anos incrementou a necessidade de exportar, de forma a compensar a debilidade do
12
foodmarketmagazine | 0
mercado interno. Sem dúvida, a aposta na internacionalização não é uma novidade. A justificá-la há um trabalho persistente que muitas empresas vêm realizando desde há anos. Hoje, as empresas de alimentação e bebidas estão conscientes de que vender no exterior, inovar e incrementar o valor acrescentado dos seus produtos e serviços é imprescindível para competir. FM – A circunstância de Portugal e Espanha produzirem matérias-primas similares (vinho, azeite, carnes, queijo, lácteos, etc ), embora numa desproporção que tem a ver com a diferente dimensão dos dois países, favorece a entrada de empresas espanholas, que são de maior dimensão e poder económico? AV – Não exatamente. A grande maioria das empresas alimentares espanholas é de pequena dimensão, são pequenas em-
«Hoje, as empresas de alimentação e bebidas estão conscientes de que vender no exterior, inovar e incrementar o valor acrescentado dos seus produtos e serviços é imprescindível para competir.» presas e microempresas, tal como no mercado português. O bom acolhimento dos produtos espanhóis em Portugal deve-se mais à intensa relação bilateral entre os dois países, às suas semelhanças culturais e à sua proximidade geográfica. A excelente relação bilateral funciona nos dois senti-
ENTREVISTA
«O bom acolhimento dos produtos espanhóis em Portugal deve-se mais à intensa relação bilateral entre os dois países, às suas semelhanças culturais e à sua proximidade geográfica.» de menor dimensão aceder a novos mercados e introduzir-se comercialmente em países que vão permitir-lhes abrir linhas de negócio no mercado internacional.
dos. De resto, Espanha é o principal destino das exportações de produtos agrícolas e alimentos de Portugal, que por sua vez também compra muito mais ao seu vizinho do que a qualquer outro país europeu ou extracomunitário. FM – Na sua opinião, como é que as empresas espanholas olham para o mercado português? O que as atrai? E o que é que não lhes agrada? AV – Portugal foi sempre um mercado aberto, recetivo e acolhedor, caracterizado por um grande nível de maturidade e competitividade. São mais de 10 milhões de consumidores que destinam mais de 15% do seu cabaz de compras para gastos em alimentação e bebidas, e quase
com o turismo e a gastronomia. Isso exige uma maior coordenação entre instituições e o setor alimentar no que diz respeito à promoção, já que a alimentação é uma excelente embaixadora da marca Portugal. Portugal é um bom país para investir, viver e desfrutar. FM – A falta de dimensão das empresas agroalimentares portuguesas, como referiu, tem sido frequentemente apontada como uma condicionante de crescimento e internacionalização. As empresas de Espanha trouxeram esse ganho de dimensão para o mercado português? AV – Sem dúvida que, tanto em Portugal como em Espanha, a falta de dimensão
«Portugal sempre soube manter um certo equilíbrio entre a sua tradição cultural e histórica e o excelente acolhimento que os portugueses dispensam a inovações e a novos produtos.» 10% em hotéis, restaurantes, cafés e similares. Mais, abre a porta a um mercado de 250 milhões de consumidores de língua portuguesa. Em relação aos desafios que o país tem pela frente destacaria a necessidade que as suas empresas alimentares têm de crescer, aproveitando melhor as suas enormes possibilidades e potencialidades. É necessário ganhar dimensão por via da concentração e aproveitar sinergias
do tecido empresarial agroalimentar tem condicionado e limitado, em muitos casos, o acesso aos mercados exteriores. Por esse motivo defendemos a importância e a adequação de plataformas como a Alimentaria & Horexpo Lisboa que, graças à diversidade de nacionalidades dos seus participantes e ao programa de reuniões entre empresas expositoras e visitantes profissionais, permitem a empresas locais
FM – Fala-se cada vez mais de inovação no setor alimentar e, por essa via, em produtos de valor acrescentado. Como descreveria o mercado português nessa área? AV – Portugal sempre soube manter um certo equilíbrio entre a sua tradição cultural e histórica e o excelente acolhimento que os portugueses dispensam a inovações e a novos produtos. De resto, posso citar um estudo da UBS que situa Portugal como a 23ª economia mundial mais preparada para adotar a Indústria 4.0 entre um conjunto de 45 países. A capacidade de inovação é um dos pontos fortes de Portugal. Outro estudo, neste caso da Nielsen, revela que a maioria dos portugueses está disposta a pagar preços mais elevados por produtos que têm novas funcionalidades ou qualidade “premium”. FM – Quais as suas expectativas para esta edição da Alimentaria & Horexpo Lisboa? AV – A Alimentaria tem, em cada edição, um enfoque ajustado aos desafios e necessidades suscitadas pelo setor, posicionando-se como um sócio estratégico para abrir novos mercados e agindo como um facilitador para que as empresas, sobretudo as pequenas e médias empresas, encontrem verdadeiras oportunidades de negócio. A nossa prioridade para esta edição 2017 em Lisboa é ajudar a incrementar as oportunidades exportadoras do setor. Também pretendemos atuar como barómetro de tendências e do estado da inovação, apresentar os novos produtos que em breve vão chegar ao consumidor. Em definitivo, a Alimentaria assegura um importante valor acrescentado ao setor para que este melhore a sua competitividade, ajudando-o a ganhar notoriedade e a gerar novas oportunidades de negócio.
0 | foodmarketmagazine
13
ENTREVISTA
ENRIQUE SANTOS, CCILE
«Portugal e Espanha são cada vez mais economias interdependentes» Entrevista por Carlos Alberto Costa
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-espanhola defende a criação de mais projetos conjuntos entre empresas portuguesas e espanholas. É o caminho para explorarem melhor as relações privilegiadas que cada país mantém em diferentes geografias, a Espanha com os mercados latino-americanos, Portugal com os PALOP.
Food Market (FM) – O Dr. Enrique Santos tem dito em várias ocasiões que o mercado português é uma prioridade para as empresas espanholas. Uma vez que estamos a falar de aparelhos produtivos de diferentes capacidades, por que motivos as empresas espanholas acham o nosso mercado tão interessante? Enrique Santos (ER) – A dimensão do mercado português, o seu grau de desenvolvimento e a proximidade geográfica e cultural são fatores, entre outros, de atração para o tecido empresarial espanhol e os números aí estão para o confirmar. O comércio entre os dois países fechou em 2016 com mais de 28,8 mil milhões de euros, dos quais 18,2 mil milhões correspondem às vendas espanholas e 10,6 mil milhões às compras espanholas de bens e serviços portugueses. Para termos uma base de comparação, as exportações espanholas para a América do Norte (México, Estados Unidos e Canadá) nesse mesmo ano não superaram os 17 mil milhões de euros. Existe, portanto, um comércio bilateral muito dinâmico e um comércio intra-industrial também muito importante, isto é, são produtos vendidos para outro mercado, para serem transformados ou integrados, e regressam de novo ao mercado de origem para serem exportadores para terceiros mercados, e isto acontece em muitas áreas como o automóvel, maquinaria, química, elétrico e até no sector agroindustrial.
FM – De que forma tem evoluído ao longo dos tempos este interesse espanhol no mercado agroalimentar português? ES – À exceção dos anos de 2002 e de 2009, em que se verificaram ligeiras quebras, nas últimas duas décadas o crescimento da oferta espanhola de produtos
14
foodmarketmagazine | 0
alimentares e animais não tem parado de aumentar e tem-no feito a um ritmo constante. Por exemplo, em 1995 a Espanha vendia para Portugal 830 milhões de euros de produtos alimentares e animais vivos e em 2016 ultrapassou os 3,4 mil milhões de euros. No sentido inverso, o crescimento das compras espanholas a Portugal também tem sido constante. Em 1995 o valor
«A dimensão do mercado português, o seu grau de desenvolvimento e a proximidade geográfica e cultural são fatores, entre outros, de atração para o tecido empresarial espanhol.»
das compras espanholas não ultrapassava os 242 milhões de euros e em 2016 superou os 1,3 mil milhões. A linha de crescimento tem sido evidente.
FM – Quando os empresários espanhóis procuram apoio na CCILE, que dúvidas colocam sobre o nosso mercado? A burocracia ou a lentidão da justiça, por exemplo, preocupa-os? E em relação aos empresários portugueses em Espanha? Manifestam que dúvidas? ES – Atualmente existe muita informação, de qualidade e de fácil acesso dirigida às empresas que desenvolvem atividade externa, nomeadamente legislação, fiscalidade, identificação de parceiros económicos, incentivos, linhas de financiamento, informação sectorial, etc.. Portanto, as empresas quando nos contactam já possuem muita informação e muitas dúvidas esclarecidas. Em qualquer caso, as duas ques-
ENTREVISTA
tões que coloca, a burocracia e a lentidão da justiça, penso que hoje em dia não são fatores críticos como o foram no passado, mas é evidente que uma justiça mais ágil e menos burocracia melhorariam, no caso de Portugal, a atração de mais investimento estrangeiro e a atividade exportadora portuguesa. Porém, tal situação também se aplica em Espanha, até porque o nível de burocracia e os prazos da justiça são muito semelhantes.
FM – O setor agroalimentar espanhol valerá anualmente acima dos 90 mil milhões de euros, o português cerca de 16 mil milhões. O poder de compra em Portugal é mais baixo do que em Espanha e temos 6 vezes menos população. Mas temos mão-de-obra mais barata, por exemplo. Estas diferenças sugerem que o nosso mercado possa ter mais interesse como plataforma exportadora para terceiros (exemplo do azeite ou das carnes), do que como mercado comercial propriamente dito? ES – Todas as variáveis são possíveis quando nos referimos ao comércio luso ‑espanhol, pois devemos situá-lo num contexto mais vasto num mundo cada vez mais globalizado. Por exemplo, existem produtos agroalimentares que concorrem entre si mas têm um peso importante no comércio bilateral. São produtos semi ‑elaborados que saem de um país para outro para serem acabados e reexportados, aproveitando as vantagens comparativas, como por exemplo os custos de produção ou a mão-de-obra, como refere na sua pergunta.
FM – O investimento espanhol no setor agroalimentar em Portugal tem-se feito, em parte, a montante, isto é, no setor produtivo primário, por exemplo os azeites, a fruta, a criação de gado, os hortícolas, a pesca, etc , ou seja, parece corresponder a um foco estratégico de investimento. Qual a sua opinião? ES – É conhecido que nos últimos anos tem havido investimentos espanhóis importantes nos sectores produtivos primários, nomeadamente todos aqueles que refere por razões várias como a questão dos preços e custos de produção ou as quotas impostas pela legislação europeia, etc., mas há que referir que não tem sido incipiente o investimento que nas últimas décadas vários grupos espanhóis do sector alimentar têm feito em Portugal, tanto na atividade produtiva como comercial e estou-me a lembrar da Mundiarroz, Lacasa, Menorquina,
Bolachas Gullón, Campofrio, Damm, Reny Picot, Vidal, etc. Segundo os dados que tenho consultado, no período de 1993 a 2016, o investimento bruto espanhol nas indústrias alimentares terá rondado os 1.063,2 milhões de euros; a agricultura, pecuária e caça os 70,5 milhões; a pesca e aquicultura 40,9 milhões e a fabricação de bebidas 863,2 milhões de euros. Há que ter em conta que, nesta atividade, alguns investimentos importantes tendo origem em Espanha são realizados por multinacionais como são o caso da Coca-Cola, Bimbo, Pepsi, etc.
FM – As empresas espanholas em Portugal geram entre 8 a 10% do PIB português em termos globais. Há algum valor estimado para o setor alimentar? ES – Um dos últimos estudos que conheço realizados em Portugal sobre o investimento espanhol e recentemente publicado é o da Informa D&B e, em termos gerais, dá conta que existem em Portugal cerca de 262 empresas com participação de ca-
euros). Por sua vez, os produtores alimentares com origem em Espanha mais vendidos para Portugal nesse mesmo ano foram a carne e sucedâneos (609,8 milhões de euros) peixe e crustáceos (570,4 milhões), gorduras, azeite e óleos vegetais e animais (427,0 milhões), frutas/frutos sem conservar (342,1 milhões) e na quinta posição produtos de cereais e de pastelaria (270,6 milhões de euros).
FM – A anunciada chegada a Portugal da Mercadona já está a agitar o mercado da grande distribuição alimentar, dominado por insígnias portuguesas. Este é um setor que ainda oferece oportunidades de investimento a Espanha? ES – Claro que sim, e a prova disso é a aposta da Mercadona no mercado português com a abertura de vários supermercados previstos para o próximo ano. Apesar de esta entrada tão ténue, não deixa de ser um sinal das potencialidades do mercado português mais ainda quando se trata de um grupo líder em Espanha com um
«Nos últimos anos tem havido investimentos espanhóis importantes nos sectores produtivos primários, nomeadamente todos aqueles que refere por razões várias como a questão dos preços e custos de produção ou as quotas impostas pela legislação europeia.» pital espanhol (212 com controlo acionista) cuja atividade está relacionada com a alimentação e bebidas (indústria, comércio e distribuição grossista e retalhista). Este conjunto de 262 empresas representa um volume de investimento espanhol superior a 1,4 mil milhões de euros e um volume de vendas que em 2014 superou 5,8 mil milhões de euros.
FM – Quais são as regiões espanholas mais representadas no conjunto da presença alimentar em Portugal e que segmentos de produtos oferecem melhores oportunidades para as empresas alimentares espanholas? ES – Se analisarmos o ano de 2016, as províncias espanholas que mais produtos alimentares e animais vivos venderam para Portugal foram Pontevedra (444,8 milhões de euros), Barcelona (330,2 milhões), Madrid (324,2 milhões), A Coruña (197,2 milhões), Murcia (125,6 milhões), Girona (121,1 milhões euros) e Badajoz (109,5 milhões
enorme know-how na distribuição. E não apenas a Mercadona, outras importantes cadeias de distribuição espanholas têm projetos de expansão em Portugal, como é o caso do Grupo Dia, o Supercor do Grupo El Corte Inglés, a Coviran, etc.
FM – Defendeu a criação de uma marca ibérica para conquistar os mercados emergentes. Quer explicar melhor? Que vantagens traria? ES – Lembro-me perfeitamente dessa entrevista e devo esclarecer que pretendia referir-me à criação de joint-ventures entre empresas dos dois países para ganhar dimensão financeira e massa crítica de forma a podermos competir noutros mercados onde estão as grandes empresas americanas, inglesas, asiáticas, etc.. Por exemplo no sector das obras públicas, as construtoras portuguesas têm tudo a ganhar associando-se a grupos espanhóis e, deste modo, ganhando dimensão para melhor competirem lá fora.
0 | foodmarketmagazine
15
ENTREVISTA
Nunca me ocorreu criar uma marca «ibérica», para dar alguns exemplos, com o intuito de substituir o vinho do Porto, o vinho da Madeira, ou as diferentes marcas de azeite português, etc…
FM – Certo é que recebeu muitas críticas sobre esta ideia, nomeadamente quando falou das rolhas. A CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal), por exemplo, via nisto uma tentativa de «espanholização» de um setor onde Portugal tem domínio mundial. Acha que há condições para avançar com uma ideia assim no mercado alimentar? Em que família de produtos? ES – Como acabo de fazer referência na minha resposta anterior, a possibilidade de se criarem projetos empresariais conjuntos tem como consequência o poder competir em melhores condições numa economia global e não implica, necessariamente, a criação de uma marca ibérica. Pelo contrário, devem-se aproveitar as marcas de êxito já existentes para ampliar a competitividades nos mercados internacionais. Em qualquer caso, esta questão remete-nos para a necessidade de desenvolvermos iniciativas empresariais numa economia global em que a complementaridade é o êxito de muitos projetos industriais ou comercias. Diria, em tese, que as oportunidades existem em qual-
sitivamente para o desenvolvimento de qualquer projeto luso-espanhol, no caso. São mercados importantes, não só como mercados de consumo e fornecedores de matérias-primas alimentares, mas também industriais, mais no caso dos mercados latino-americanos. Posso dar-lhe o exemplo das empresas espanholas de bebidas (exceto sumos) que exportaram para o mercado mexicano, em 2016, cerca de 116 milhões de euros deste produto, e isto
«A possibilidade de se criarem projetos empresariais conjuntos tem como consequência o poder competir em melhores condições numa economia global e não implica, necessariamente, a criação de uma marca ibérica.» quer família de produtos. O que se exige em qualquer tomada de decisão é um estudo aprofundado sobre as tais vantagens comparativas que tornem o produto final atrativo no mercado global. Não estamos a falar de nada novo e existem milhares de projetos de êxito assentes neste princípio básico de abertura.
FM – Tem igualmente defendido a criação de parcerias luso-espanholas para os mercados africanos e da América Latina. Em que moldes e em que produtos alimentares? ES – A relação de proximidade que o mercado espanhol tem com os mercados latino‑americanos, e Portugal com os PALOP são fatores que contribuem po-
16
foodmarketmagazine | 0
significa que existe um potencial de procura que as empresas portuguesas devem acompanhar.
FM – O que é que tem condicionado a existência destes projetos empresariais conjuntos? ES – A crise económica e financeira que assolou as duas economias nos últimos anos terá contribuído, sem dúvida, para condicionar estes projetos e a própria crise mundial e a instabilidade nesses mercados também geraram alguns constrangimentos e o adiamento de algumas importantes operações. No entanto, estou crente, apesar das dificuldades, que neste novo ciclo económico de crescimento possamos assistir, tanto em Espanha
como em Portugal, ao ressurgir de projetos empresariais conjuntos, a evolução natural em duas economias cada vez mais interdependentes.
FM – Que cenários vê para o futuro da presença agroalimentar espanhola em Portugal? ES – De crescimento, sem dúvida. São dois mercados geograficamente próximos, que têm culturas e gostos gastronómicos muito semelhantes e, portanto, estão reunidas todas as condições para este crescimento. Veja-se o caso de muitos produtos espanhóis que têm uma enorme aceitação na gastronomia portuguesa, como por exemplo o presunto, os enchidos, as conservas, o queijo, as leguminosas, o marisco, etc.
FM – Para terminar, como avalia a participação das empresas espanholas na Alimentaria 2017 em Lisboa? ES – A participação espanhola na Alimentaria Lisboa tem sido sempre muito numerosa, uma prova evidente do dinamismo do sector agroalimentar e da atração do mercado português junto das empresas espanholas. É, por outro lado, um dos certames mais importantes no mundo, muito conhecido e com muito boa imagem em Espanha, com mais de 40 anos de existência e um excelente canal para as empresas espanholas fidelizarem os seus clientes neste mercado português, fazerem novos contactos e melhorarem até a sua imagem neste mercado. Por outro lado permitelhes estabelecerem contactos com empresas internacionais.
MERCADO
FIAB ESPANHA
«Portugal é o terceiro parceiro mais importante da nossa indústria alimentar e de bebidas» A Federação Espanhola de Indústrias de Alimentação e Bebidas (FIAB), criada em 1977, representa as empresas do principal setor industrial do país vizinho. São quase 50 associações setoriais que agregam mais de 5 mil empresas. Pedimos ao FIAB que descrevesse a relação agroalimentar com Portugal, do ponto de vista federativo, avaliando sinergias bilaterais.
A
indústria de alimentação e bebidas é um setor cada vez mais internacionalizado. A qualidade e a variedade da sua oferta gastronómica fazem com que cada dia mais consumidores se sintam atraídos pelos nossos produtos. O setor percebeu que os nossos produtos são a melhor carta de apresentação no Mundo e é na internacionalização que estamos fazendo um grande investimento e esforço. Portugal é um país que representa a importância deste aspeto para a indústria de alimentação e bebidas. O nosso país vizinho consolidou-se como um mercado estratégico de destino já que é atualmente o nosso terceiro maior parceiro comercial a nível mundial, apenas atrás da França
«Tendo em conta que compartilhamos muitos valores e uma identidade cultural e gastronómica muito semelhante, os alimentos e bebidas espanholas encaixam perfeitamente com o gosto do consumidor português.» e Itália. No último exercício vendemos a Portugal alimentos e bebidas no valor de 3.126 milhões de euros, o que representou 11,3% das nossas exportações. Este valor reflete bem a importância que o mercado português tem para Espanha e que esperamos aumentar nos próximos anos. Aliás, a evolução de curto e médio prazo é muto positiva uma vez que na última década (2006-16) esse valor registou um crescimento anual de 4.2% e no último ano (2015-16) aumentou 6.3%. Tendo em conta que compartilhamos muitos valores e uma identidade cultural e gastronómica muito semelhante, os alimentos e bebidas espanholas encaixam
perfeitamente com o gosto do consumidor português. Do mesmo modo, Portugal representa para nós um importante mercado do qual se pode aceder a outros produtos. Citando aqui dados da nossa homóloga portuguesa, a Federação de Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), este setor em Portugal consolidou cifras de crescimento em todos os seus parâmetros, como o volume de negócios, as empresas e o emprego, e este mesmo comportamento se reflete na indústria espanhola de alimentação e bebidas. Em Espanha, durante os anos de maior complexidade económica, o setor da ali-
mentação e bebidas converteu-se numa peça chave da recuperação económica, dando os primeiros passos no sentido do crescimento e da recuperação. Hoje em dia podemos afirmar que é o primeiro setor industrial, o motor de crescimento e imagem de Espanha. Espanha mantêm importantes relações comerciais com os países do norte de África e América Latina e nos últimos anos a FIAB tem realizado importantes esforços para chegar a mercados menos tradicionais, como a Oceânia, o Próximo Oriente e a Ásia. Neste processo, as empresas do setor aproveitam todas as oportunidades que possam surgir para ampliar horizontes e a introdução dos nossos alimentos e bebidas em mercados consolidados, como é o caso de Portugal, pode supor uma plataforma de lançamento para outros territórios. A evolução regular dos negócios com Portugal permite seguir confiando num mercado seguro e altamente ligado aos nossos alimentos de bebidas.
0 | foodmarketmagazine
17
DISTRIBUIÇÃO
GRANDE DISTRIBUIÇÃO ALIMENTAR
A armada espanhola por Carlos Alberto Costa
A presença espanhola no setor da grande distribuição alimentar tem uma expressão menos potente do que em outras áreas da economia portuguesa mas, ainda assim, mostra músculo, sobretudo nos segmentos de maior agressividade de preço.
M
inipreço, Coviran, Froiz e Supercor. A armada espanhola no setor da grande distribuição alimentar em Portugal valerá uma quota de mercado entre 8 e 9%, um valor com tendência para crescer mas, ainda assim, menos intenso quando comparado com outros setores, como por exemplo a banca, onde a quota toca os 28%. O setor em Portugal vale globalmente cerca de 14,5 mil milhões de euros, com tendência para mostrar alguma elasticidade de crescimento em linha com a melhoria do clima económico no país e o aumento da disponibilidade para o consumo. No entanto, a matemática não tem segredos. A Sonae faturou, em 2016, 3.687 milhões de euros, a Jerónimo Martins, 3.558 milhões, com quotas de mercado bastante equitativas, pelo menos cerca de 25% para cada um dos operadores nacionais. Entretanto, a chegada prevista da Mercadona, porta-aviões do retalho alimentar espanhol que fatura anualmente mais de 21 mil milhões de euros, mais do que todo o retalho alimentar português, antevê alguma tensão concorrencial num mercado dominado por os dois grupos portugueses. A insígnia espanhola já anunciou que pretende abrir quatro lojas em Portugal, no que é o primeiro projeto de internacionalização da marca que em Espanha detém 2600 supermercados e emprega 79 mil pessoas. O investimento previsto ronda os 25 milhões de euros e a primeira loja ficará situada em Canidelo, na zona urbana de Vila Nova de Gaia, num dos concelhos mais populosos do país. O futuro supermercado foi concebido à luz do “modelo de loja eficiente”, um conceito que a Mercadona tem desenvolvido em Espanha com o objetivo de melhorar a experiência do cliente e otimizar o tempo de compra. Além disso, o operador espanhol anunciou já que a loja portuguesa vai ser uma unidade de alta eficiência energética, com uma poupança estimada até 40% em relação a uma loja tradicional com a mesma área (1800 metros quadrados). A poupança
18
foodmarketmagazine | 0
deverá ser alcançada por via da utilização de melhores isolamentos térmicos e acústicos, iluminação inteligente, espessuras de paredes e tetos e equipamentos de frio de maior performance energética. O conceito de “modelo de loja eficiente” tem também uma componente de “smart store”, integrando dispositivos eletrónicos e ferramentas colaborativas, tal como tablets, com os quais é possível partilhar informação a partir de qualquer secção da loja. A Mercadona defende que esta acessibilidade facilita a autogestão de cada supermercado e agiliza os processos em toda a cadeia. No entanto, ainda antes do supermercado em Canidelo, a Mercadona tenciona abrir, já este ano, em Matosinhos, o seu primeiro centro de Coinovação fora de Espanha, onde tem 12 do género. A empresa diz que se trata de “um macro laboratório de ideias que vai permitir adaptar a oferta aos hábitos do consumidor português, desenvolvendo produtos que correspondam aos seus gostos”. Fundada em 1977 no seio do Grupo Cárnicas Roig, a Mercadona manteve sem-
pre uma estrutura de gestão familiar e é hoje dirigida pelo casal Juan Roig e Hortensia Herrera, que controla 80% do capital da sociedade.
O PREÇO MANDA Segundo dados da multinacional de estudos de mercado Nielsen, os “discount” ou “harddiscount” asseguram em Portugal uma quota de 15% no capítulo “locais de compra”. Trata-se do segmento mais agressivo em termos de preço praticado, com uma oferta focada em menos referências, lojas de menor dimensão de forma a maximizar o conceito de proximidade e, em alguns casos, com um modelo de negócio franchisado. A presença espanhola no setor da grande distribuição em Portugal tem manifestado algum músculo neste segmento, através da cadeia Dia/Minipreço, uma das insígnias mais populares entre os consumidores, com 623 lojas das insígnias Minipreço, Clarel (antiga Schlecker) e Mais Perto. O grupo faturou em Portugal, o ano passado, 848 milhões de euros, um
DISTRIBUIÇÃO
aumento de 3% face ao ano anterior. Este valor representa cerca de 8% dos 10.580 milhões do volume de negócios da cadeia a nível global, com quase 7800 lojas em cinco países (Portugal, Espanha, Argentina, Brasil e China). A primeira loja Dia, abreviatura de Distribuidora Internacional de Alimentação, foi inaugurada em Madrid, no final dos anos 70, pela mão do grupo francês Promodés, apresentando na altura um conceito e um formato até então desconhecidos no país: política de preços agressiva, um supermercado prático e próximo dos clientes. Na mesma ocasião nascia em Portugal a cadeia Minipreço, com uma filosofia semelhante. Na década seguinte, o Dia instalase em Portugal e em 1998 compra a cadeia Minipreço, passando desde essa data a operar com uma imagem conjugada Dia/ Minipreço que mais tarde é unificada na insígnia atual (Minipreço). Quando o gigante europeu Carrefour adquire o Promodés, em 1999, tornandose o primeiro grupo de distribuição da Europa, torna-se também dono da marca Dia. A insígnia expande-se rapidamente em Espanha nos anos 90, adquirindo sucessivamente concorrentes mais débeis, como a cadeia Dirsa ou a Mercadopopular. A vinda para Portugal, em 1993, é também o início da internacionalização que seguiria depois para a Grécia, até 2010, Argentina, Turquia, Brasil e China.
A integração no universo Carrefour permitiria ao Grupo Dia entrar no mercado francês de mão dada com a cadeia ED, uma marca francesa de “hard-discount” fundada em 1978 que chegou a ter mais de 900 lojas em França e 10 mil funcionários. Esta ligação ao Carrefour será interrompida em 2010, primeiro na Grécia, com o final da insígnia Dia, depois com o desaparecimento da marca em França, decorrente da venda da operação ao Carrefour por 600 milhões de euros. O Grupo Dia voltava assim a ter uma operação independente.
COVIRAN E FROIZ Outra insígnia espanhola presente em Portugal, a Coviran, registou o ano passado vendas brutas de 106 milhões de euros, o que lhe valeu uma quota de mercado de 0,84%. As vendas brutas globais da insígnia ascenderam a 1.260 milhões de euros. Fundada em 1961, em Granada, a Cooperativa de Compras de Ultramarinos do Sindicato Provincial de Alimentação Nossa Senhora das Angústia conheceu um forte impulso a meio da década de 80, altura em qua também cresceu para fora das fronteiras espanholas, caso de Portugal e Gibraltar. Hoje, a companhia tem 15 mil colaboradores e uma quota de mercado de 2,09% no mercado alimentar espanhol. Para 2019 está prevista a instalação em Marrocos e a empresa já tornou público o seu interesse em reforçar a presença no nosso país, quer no Continente, quer nas regiões autónomas. Em Portugal, a Coviran conta com 200 supermercados
e três plataformas logísticas, em Aveiro. Algoz e Sintra. A Supermercados Froiz Portugal, Lda. é a divisão portuguesa do Grupo Froiz, uma empresa de origem galega presente há mais de 40 anos no sector da alimentação. Instalouse em Portugal em 1996, com um supermercado em Valença do Minho e nos anos seguintes reforçou a sua presença no norte do país, com unidades em Braga, Barcelos, Guimarães, Vila Praia de Âncora, Viana do Castelo, Vila Nova de Gaia, Carvalhos, Porto, Santa Maria da Feira e Ovar. O ano passado inaugurou um centro logístico e um cash & carry de 10 mil metros quadrados, no polígono industrial de Marvila, Sequeira-Braga. O Grupo espanhol foi fundado em 1968, em Pontevedra, com uma loja que não ultrapassava os 30 metros quadrados e que três décadas depois se transformou num hiper com uma área 15 vezes superior. Em 2000, a Froiz adquire a central de compras Eko Ama e em 2014 compra a cadeia de supermercados Moldes. Hoje, tem mais de 240 pontos de venda, incluindo 5 hipermercados, 5 mil empregados e uma faturação bruta superior a 600 milhões de euros. Presença não despiciente tem a insígnia Supercor, do Grupo El Corte Inglés. Em Portugal já são 6 supermercados instaladas em zonas geográficas com reconhecido poder de compra, casos de Lisboa-Parque das Nações, Beloura ou Lisboa-Restelo. Coimbra, Porto e Gaia foram igualmente cidades escolhidas para instalar supermercados cujo foco não é necessariamente o preço. É o agroalimentar espanhol na sua plenitude.
0 | foodmarketmagazine
19
DISTRIBUIÇÃO
ANÁLISE AO RETALHO ALIMENTAR
O consumidor está mais confiante do que nunca Ana Paula Barbosa*
O retalho alimentar em Portugal vive dias de otimismo. Ana Paula Barbosa, diretora da área de retalho na multinacional Nielsen, contextualiza as tendências de mercado.
O
s dados são claros: o consumidor português está mais confiante do que nunca. O consumo em Portugal está em crescimento e o retalho alimentar não é exceção. De facto, o consumo de produtos alimentares apresenta uma dinâmica de 5% em valor no último ano móvel (a terminar a 27 de Fevereiro de 2017), fazendo prever, para o primeiro semestre de 2017, um contexto bastante positivo para o retalho alimentar. Nos últimos meses assistimos a uma tendência de inversão no comportamento das marcas próprias no setor da alimentação, que passaram a mostrar uma dinâmica superior à das marcas de fabricante. Para 2017 prevê-se a consolidação desta tendência, com um crescimento bastante positivo das marcas da distribuição. As promoções continuam a ser um importante driver de compra, atingindo cerca de 45% das vendas dos bens de Grande Consumo. No entanto, apenas 25% das promoções geram incremento na categoria e os consumidores mostram-se dispos-
tos a pagar mais quando existe uma vantagem associada. Neste contexto, o fator preço não deve ser a única variável a ter em conta: de acordo com o estudo Nielsen Global Survey Premiumization, 88% dos portugueses estão dispostos a pagar um preço mais elevado para produtos que tenham funções ou desempenhos superiores. Importa então olhar para as grandes tendências no setor da Alimentação, que estão relacionadas com a saúde e a conveniência. As categorias de produtos saudáveis ou dietéticos têm demonstrado uma dinâmica notável nos últimos anos, comprovando a crescente preocupação dos consumidores com a saúde e bem-estar, de acordo com o estudo Global Health and IngredientSentiment, igualmente desenvolvido pela Nielsen. Este estudo revela que 66% dos portugueses estão dispostos a pagar mais por produtos que não contêm ingredientes indesejáveis. Os fabricantes mostram-se atentos a esta realidade, mostrando uma oferta cada vez mais ampla e profunda.
Importância Lojas e Categorias (€) 15%
20%
16%
Discounts 12%
25%
Hipers 17%
51%
Supers e L. Serviços
9%
Congelados e Lacticínios Mercearia Charcutaria Frutas e Legumes
9% Ano
Outros locais de compra
Peixaria Talho
26%
No que diz respeito à conveniência, é notório o crescimento de produtos que simplifiquem a vida dos consumidores portugueses, como frutas ou vegetais, congelados, bacalhau congelado, take away, refeições ou componentes refrigerados, entre outros. Para além da saúde e das conveniências, há outros fatores que se revelam importantes para os consumidores portugueses: 58% estão dispostos a pagar mais por marcas sustentáveis (The Sustainability Imperative, Nielsen Report 2015) e mais de 70% privilegiam a origem local na compra de frutas, vegetais e carne (Global vs Local Report Q3 2015). O maior desafio para 2017 será a fidelização do shopper, que continua viciado em promoções, através de estratégias de diferenciação e fidelização.
Nielsen HomeScan / Painel de Lares (Ano Móvel Sem 08/2017)
*Retailer Services Director/Nielsen Company
20
foodmarketmagazine | 0
DISTRIBUIÇÃO
JOSÉ ANTÓNIO ROUSSEAU
“Portugal não é muito atrativo para novas cadeias retalhistas” Entrevista por Carlos Alberto Costa
José António Rousseau, consultor, docente universitário de Marketing e Distribuição, Retail e Merchandising, foi durante três décadas diretor-geral da APED, a associação que em Portugal representa as empresas de distribuição. Em entrevista à Food Market ajuda-nos a fazer a fotografia da presença espanhola neste setor.
Food Market (FM) – Que análise faz da presença agroalimentar espanhola no mercado português? José António Rousseau (JAR) – Sendo a Espanha um dos grandes produtores europeus agroalimentares e vizinho fronteiriço de Portugal é natural que a sua presença se faça sentir, principalmente em produtos nos quais seja excedentário e Portugal deficitário como, por exemplo, a carne de porco ou os hortofrutícolas. Em geral, penso que é uma presença normal e complementar da oferta da produção portuguesa.
FM – Como avalia o posicionamento das insígnias espanholas? JAR – Em Portugal, com exceção do El Corte Inglés, nos conceitos ‘department store’ e supermercado, da Coviran, em formatos de proximidade, e do DIA/Minipreço, no formato ‘discount’, não existe presença da Grande Distribuição espanhola no nosso país. Com a entrada da Mercadona no mercado português é evidente que essa presença se irá fazer sentir e a médio/ longo prazo algo poderá mudar.
FM – Porque é que nunca conseguiram, nesta área, pelo menos até agora, instalar um grande grupo com a dimensão da Sonae ou do Grupo Jerónimo Martins? JAR – Porque a Espanha é um país e um mercado quatro a 5 vezes maior que Portugal, só agora a insígnia líder em Espanha, a Mercadona, após considerar madura a sua expansão no mercado espanhol decidiu internacionalizar-se para o país vizinho. Por outro lado, e atenta a reduzida dimensão do mercado português e a existência dos dois grandes players portugueses que refere, a Sonae e a JM, e de outras insígnias estrangeiras poderosas, é evidente que Portugal não é um mercado muito atrativo
é fantástico e admirável. Vai começar por abrir quatro unidades na zona do Porto mas terá naturalmente planos de expansão para todo o país. Não tenho dúvidas que a elevada qualidade da operação e da qualidade global da oferta e da proposta de valor da Mercadona terá êxito junto dos consumidores portugueses. Contudo, não será fácil nem rápida a aquisição de uma quota de mercado significativa e não me parece também que vá desequilibrar, a médio prazo, a relação de forças presentemente existente.
para investimentos pesados como são a expansão de cadeias retalhistas.
FM – Admite que a Mercadona venha romper um equilíbrio num mercado com quotas já relativamente estabelecidas ou, até, eventualmente, abrir caminho para outros projetos de bandeira espanhola? JAR – Se há empresas que admiro, a Mercadona é uma delas, e até conheci o seu grande mentor, Juan Roig, quando a Mercadona só tinha 12 pequenas lojas em Valência. O seu percurso até aos dias de hoje
«Não será fácil nem rápida a aquisição de uma quota de mercado significativa (Mercadona) e não me parece também que vá desequilibrar, a médio prazo, a relação de forças presentemente existente.»
FM – É provável que o novo operador se abasteça prioritariamente no mercado espanhol ou tenderá a procurar fornecedores em Portugal? JAR – Como se sabe e é público, a Mercadona está já há vários meses a contactar as empresas produtoras portuguesas e assegurar o respetivo fornecimento para quando abrir as suas portas poder apresentar uma oferta robusta de produtos e marcas portuguesas. O mesmo se diga relativamente às suas MDD’s (marcas próprias) que provavelmente irão acrescentar mais empresas portuguesas como suas fornecedoras, facto que para estas poderá ser uma oportunidade magnífica.
FM – As empresas alimentares espanholas têm abordagens ao mercado que as diferencie dos operadores nacionais? JAR – Não. Nos dias de hoje as estratégias das empresas retalhistas de qualquer nacionalidade são muito similares em qualquer país da Europa, pois são mercados muito maduros e desenvolvidos, onde se faz uma concorrência (quase) perfeita, ou seja, nos quais estão presentes todos os formatos comerciais de quase todas as insígnias europeias a concorrerem uns com os outros.
0 | foodmarketmagazine
21
DISTRIBUIÇÃO
ANA PENIM
“A entrada de um novo operador pode contribuir para práticas comerciais mais transparentes” Entrevista por Carlos Alberto Costa
Ana Teresa Penim, consultora, especialista em coaching executivo e comercial, negociação, vendas, comunicação e comportamento do consumidor, foi durante 10 anos Diretora da Escola de Comércio de Lisboa. Autora de diversos livros sobre comércio e mercados, fundou em 2000 o Instituto de Negociação e Venda (INV). Em entrevista ao Food Market, a especialista analisa as mudanças que se anunciam para o mercado da distribuição alimentar.
Food Market (FM) – Como vê a entrada anunciada de um novo player (Mercadona) de grande dimensão e, em sua opinião, o que vai mudar na grande distribuição alimentar onde, de resto, a presença espanhola é mais limitada do que em outros setores? Ana Penim (AP) – De facto, Portugal é reconhecido internacionalmente como um caso de sucesso na distribuição alimentar, principalmente devido à qualidade dos seus recursos humanos e à agilidade que os operadores portugueses têm demonstrado na evolução dos seus conceitos comerciais. Acreditamos que a principal valência que a Mercadona vai trazer a Portugal é uma forma de estar na Distribuição, onde a sua reconhecida consistência comercial poderá contribuir para fazer os outros distribuidores que operam em Portugal evoluírem, também, para práticas comerciais mais transparentes e alinhadas com as tendências de consumo.
FM – O volume de negócios anual da Mercadona é superior ao total do nosso mercado. Vê nisso uma vantagem ou desvantagem? AP – É verdade que a Mercadona é líder num mercado com uma dimensão e uma competitividade muito superiores à que existe em Portugal. Imagino que poderá trazer, em especial na qualidade dos produtos frescos, um significativo upgrade. Assinalo o facto de o discount estar a crescer (em especial o Lidl), as margens em Portugal serem muito atrativas quando comparadas com Espanha, e a proximidade física existente. Importa lembrar a filosofia Mercadona: preços sempre baixos; ofer-
22
foodmarketmagazine | 0
ter tanta preocupação de estar atento às promoções. Porém, é de realçar a excelente qualidade dos produtos marca própria Mercadona.
FM – Os operadores espanhóis na grande distribuição têm alguma forma de fazer negócio, de vender ou de gerir que lhe pareça relevante por ser diferente dos alemães ou dos portugueses? AP – Acreditamos que a Mercadona negociará em Portugal com negociadores portugueses. Tal como aconteceu com a Lidl quando veio para Portugal. Na altura todos sabíamos que a Lidl possuía um estilo de negociação altamente exigente, frio, objetivo e extremamente rigoroso. Ao longo dos tempos esse estilo adaptou-se. A Mercadona é reconhecida como a cadeia que em termos negociais mais “corta a direito” e mais focada é no racional o que, para o estilo português pode criar algumas di-
ta eficiente (conhecimento profundo do cliente para disponibilizar grande variedade de produtos ao melhor preço e melhor qualidade); maximizar a eficiência (redução de custos com métodos de trabalho em parceria com os seus fornecedores, nomeadamente em termos logísticos, chegando a alcançar economias de 40% face a outros concorrentes; inovação é parte intrínseca do seu modelo negócio, o qual é repensado de 4 em 4 anos para aumentar a sua competitividade. A sua estratégia “every day low price”, em contraponto com a estratégia promocional permanente existente em Portugal, facilita bastante a vida ao consumidor, o qual deixará de
«A estratégia “every day low price”, da Mercadona, em contraponto com a estratégia promocional permanente existente em Portugal, facilita bastante a vida ao consumidor, o qual deixará de ter tanta preocupação de estar atento às promoções.»
DISTRIBUIÇÃO
ficuldades. Por outro lado, temos que reconhecer que quem entende o paradigma da Mercadona e faz negócios com a Mercadona aprende a trabalhar ao mais alto nível de exigência, tal como aconteceu com as melhores empresas alemãs. Na prática, como todos os fornecedores em Portugal sabem, pode ser muito difícil lidar com Lidl, Aldi e afins, mas quando se entra em velocidade de cruzeiro tudo tem que funcionar de forma perfeita do lado do fornecedor, pois do lado deles existirá agilidade relativamente ao que estiver acordado. Nos operadores ao estilo português há normalmente uma grande pressão para obtenção de preço e de vantagens comerciais, exigindo, no entanto, ao fornecedor, uma resiliência permanente face aos zigue-zagues da Distribuição (ex. demoras na decisão implementação; espaços negociados que não são respeitados; notas de débito surpresa; guerras entre folhetos; penalização à inovação e algumas traquinices).
FM – Porque é que só agora chega a Mercadona? Ainda há espaço? AP – Desde que há já vários anos a Mercadona abriu uma base logística perto de Huelva, deu sinais evidentes de que iria entrar em Portugal pelo Algarve. Tudo tinha lógica, porque o Algarve tinha mais do que uma cadeia de supermercados a atravessar dificuldades económicas tornando-se apetecível. No entanto, essas dificuldades foram desmembradas e repartidas por vários operadores da Distribuição.
FM – A primeira loja vai nascer em Gaia, no norte. Acha que houve mudança de estratégia? AP – O norte de Portugal já há vários anos teve experiências de sucesso de um operador espanhol de pequena dimensão (Froiz) e apesar de todas as dificuldades que Portugal atravessa desde 2008, o mercado discount tem evoluído positivamente e os grandes grupos portugueses da Distribuição, nomeadamente a Sonae e a Jerónimo Martins conseguiram resultados
mas cadeiras instaladas, e irá decerto provocar reações que, esperemos, venham beneficiar o consumidor e, como é fundamental, sem prejudicar os produtores.
FM – Lembro, por exemplo, que o Grupo Carrefour deixou Portugal por não conseguir a rentabilidade pretendida. AP – De facto, o Grupo Carrefour divulga publicamente ter como propósito, quando se instala em qualquer país, atingir a
«Nos operadores ao estilo português há normalmente uma grande pressão para obtenção de preço e de vantagens comerciais, exigindo, no entanto, ao fornecedor, uma resiliência permanente face aos zigue-zagues da Distribuição.» operacionais que estimulam o apetite da Mercadona (e quiçá de outros operadores) para se implantarem em Portugal, numa região onde só quem tem boas unhas sabe tocar viola. Acreditamos que esta opção da Mercadona está perfeitamente segura da sua imbatibilidade e encarará a entrada a norte como um bom teste de força perante o líder (Sonae). Poderá assim testar a sua capacidade de resposta e, ao mesmo, tempo mostrar a si própria capacidade de prosperar fora de Espanha. Esta decisão da Mercadona está a agitar claramente algu-
liderança desse mercado. Se recuarmos no tempo não é difícil perceber que a dinâmica de implantações de loja da Sonae, JM, Auchan e Intermarché, deixou pouco espaço para as pretensões do Carrefour. A pretensão de liderança do Carrefour em Portugal só teria sido viável se tivesse tido a possibilidade de adquirir algumas das cadeias que já operavam em Portugal de forma sustentável. Por outro lado, o Carrefour na altura aproveitou para se focar em mercados emergentes, como a Polónia, Brasil e outros.
PUB
SETORES
ANÁLISE SETORIAL
Operadores lácteos refugiam-se no queijo para combater decréscimo da procura Por Paulo Costa Leite*
O momento atual do mercado do sector lácteo em Portugal, apesar de alguma recuperação dos preços internacionais, não difere muito do que se verificava no final de 2016. Espanha continua a ser o maior destino das exportações de lácteos e também o mercado de origem de mais de metade do total das nossas importações.
A
pesar da acentuada descida da produção de leite verificada em Portugal nos últimos meses, o mesmo não tem acontecido proporcionalmente em todos os países da Europa, chegandose à Primavera ainda com desequilíbrio do lado da oferta face às reais condições de mercado. A Europa continua a ser excedentária em cerca de 15% do que produz e Portugal debate-se com um mercado diminuto para o qual está historicamente orientado. Paralelamente começam já a haver ofertas na Intervenção Pública de Leite em Pó Magro, que se somarão às 350 mil toneladas em stock, e que tem condicionado os preços nos mercados europeu e mundial, que a exceção protagonizada pela manteiga não consegue minimizar. Embora ainda longe dos valores do ano findo, a generalidade das categorias de lácteos tem vindo, desde Fevereiro, a diminuir a sua cotação nos mercados e não se espera recuperação sensível pelo menos em todo o primeiro semestre. Tal como na generalidade dos países europeus, o consumo de leite em Portu-
24
foodmarketmagazine | 0
gal tem vindo a diminuir, ano após ano, em valores próximos dos 7%. O consumo de iogurtes e leites fermentados tem tido um comportamento mais volátil, mas nos primeiros meses do ano regista-se já um decréscimo na casa dos 4%. Assim, a categoria queijo tem constituído o refúgio de grande parte dos operadores com inevitáveis consequências no seu preço, mas que, em Portugal, tem sido responsável pela sustentação global da categoria dos lácteos no mercado de grande consumo, que apresenta um crescimento de 0% no primeiro trimestre de 2017 quando, em 2016, tinha registado um decréscimo de 3%. Nesta conjuntura, a estratégia da Grande Distribuição tem vindo a contribuir também para uma deterioração da imagem da grande maioria dos produtos lácteos, com recurso sistemático a promoções agressivas que atingiram um valor médio de 35% em 2016. Impossibilitada de fazer refletir os seus constantes aumentos de custos, esta estratégia tem agravado ainda mais
a já degradada margem da indústria e em nada beneficia o consumidor a longo prazo. Neste capítulo, acresce ainda referir que o impacto das promoções tem permitido uma evolução positiva da quota de mercado das nossas marcas de fabricante que é substancialmente superior à média dos produtos alimentares em geral. Em fase de discussão pública da PAC pós 2020, não parece que se venha a alterar a demonstrada incapacidade da Comissão Europeia de implementar mecanismos eficazes para o equilíbrio do mercado, especialmente em situações de crise, e que disponibilize ferramentas aos operadores e aos Estados Membros com vista a garantir a sustentabilidade do sector. Neste capítulo, o papel da indústria (para mais tendo em conta as características do nosso tecido empresarial) é fundamental e deveria ter tido o relevo que merece no documento nacional que resume a estratégia nacional sobre o futuro da PAC. O reconhecimento do desequilíbrio na cadeia alimentar e dos poderes negociais
% Variação em valor vs período homólogo YTD 16 vs YTD 15
YTD 17 vs YTD 16
5%
5% 4% 3%
2%
3%
3%
3% 2%
1% -3%
0%
Lacticínios Mercearia
1%
0%
Congelados
Bebidas Alcoólicas
Higiene Lar Bebidas Não Alcoólicas
Higiene Pessoal
SETORES
Espanha 2012
2013
2014
2015
2016
Importações totais (euros)
267 417 192 €
268 102 636 €
278 106 096 €
266 709 992 €
246 330 434 €
Exportações totais (euros)
132 048 459 €
124 029 362 €
115 812 713 €
104 732 707 €
83 984 158 €
49,4 %
46,3 %
41,6 %
39,3 %
34,1 %
Taxa de cobertura
assimétricos a montante e a jusante da mesma, não podem escamotear o papel de quem se encontra no meio da mesma, sob pena de se vir a comprometer a desejada sustentabilidade do sector. É absolutamente necessário que a tutela seja proactiva e solidária na fiscalização das práticas comerciais desleais e também em todos os outros fenómenos que tem penalizado o sector, como é o caso dos ataques às propriedades nutricionais do leite e à informação ao consumidor disponibilizada pela (escandalosa) etiquetagem do produto importado, nomeadamente do queijo. Tem sido preocupação da ANIL os aspetos relacionados com o Comércio Internacional, nomeada e especialmente no que diz respeito à importação de queijo. O sucessivo aumento das importações desta categoria, a preços escandalosos, tem prejudicado bastante o sector e arriscamonos a concluir que é um dos principais, senão o principal problema que o sector enfrenta. O preço médio de importação ficou ligeiramente acima dos € 3,0 e estimamos que mais de 50% do produto importado,
em 2016, se tenha situado entre os €2,0 e € 2,5, o que é, face aos preços da matériaprima, verdadeiramente incomportável para os operadores nacionais. As exportações nacionais de lácteos sempre dependeram do mercado Espanhol e dos PALOP (35% e 27%, respetivamente em 2016), com especial relevo para Angola. A queda das vendas para este destino (cerca de 26% nos últimos 2 anos), pelos motivos que são do conhecimento público, vieram penalizar o sector, que, em 2016, teve, em valor, uma queda de 11,3 % nas suas exportações totais. De registar que, em quantidade, e apesar das dificuldades nesse mercado, a categoria Queijo conseguiu, mesmo assim, um volume de vendas superior a 11% face a 2015 e que veio a superar ainda 2013 e 2014. O ano de 2017 tem confirmado esta tendência da categoria queijos (mais 39% em Fevereiro relativamente ao período homólogo) e, embora seja bastante cedo para extrair conclusões, perspetiva-se um ano de recuperação do mercado externo. Aguarda-se com expectativa o resultado da abertura de novos mercados e da capa-
QUOTA
QUOTA EM VALOR
PP
Ano 2015
YTD 16
Ano 2015
YTD 16
Mercearia
40,0
39,6
2,4
2,1
Congelados
45,5
44,8
4,0
3,2
Lacticínios
31,2
30,9
1,1
0,8
Importações de Queijos (quilos) 60 000 000 48 296 227
50 000 000 40 000 000
51 341 188
44 878 664 40 309 915 36 888 229
30 000 000 20 000 000 10 000 000 0 2012
2013
2014
2015
2016
cidade que venhamos a demonstrar para continuar este trajeto ascendente.
ESPANHA É PRINCIPAL CLIENTE A presença empresarial espanhola em Portugal manifesta-se, essencialmente, através das transações comerciais entre ambos países. Foi em 2016 o nosso maior destino das exportações de lácteos, com um peso de cerca de 35% sobre o seu valor total. Por outro lado, foi também o mercado de origem de cerca de 54% do total das nossas importações. Deste desequilíbrio resultou um significativo déficit da balança comercial entre Portugal e Espanha a rondar os 160 Milhões de Euros (70% do total) bem como a menor taxa de cobertura dos últimos cinco anos. Analisando exclusivamente o último ano (que qualitativamente não difere dos anteriores), verifica-se que esta relação comercial é duplamente prejudicial para o nosso país, dado que tradicionalmente exportamos leite cru e UHT e importamos massivamente produtos de maior valor acrescentado. Assim, constata-se facilmente que as duas categorias de lácteos que contribuem decisivamente para este desequilíbrio são os iogurtes e leites Fermentados e os queijos, que representam, só por si, a totalidade do deficit que Portugal regista em relação a Espanha. A deslocalização de uma grande unidade produtiva de iogurtes e leites fermentados para Espanha e a nova realidade resultante do recente acordo entre a Danone e a Shreiber Foods, são explicações plausíveis para o desequilíbrio verificado nesta categoria de lácteos. Contudo, ao nível dos queijos, constata-se que sendo a Espanha uma importante base de comercialização de queijo importado de toda a Europa, em especial de EDAM (inteiro e fatiado), concentra grande parte da oferta que canaliza para o mercado Português, não sendo, portanto, as suas exportações da sua produção nacional. *Diretor-Geral da Associação Nacional de Industriais de Lacticínios (ANIL)
0 | foodmarketmagazine
25
SETORES
CONSERVAS, CONGELADOS, REFRIGERANTES, CHARCUTARIA…
Breves impressões sobre a fileira alimentar por Carlos Alberto Costa
A Espanha é o principal fornecedor português assegurando 33% do cabaz importador na fileira alimentar. O azeite quimicamente não modificado, carnes suínas e bovinas surgem à cabeça da lista.
sim importação de conservas de origem espanhola, sobretudo nas marcas próprias de alguma grande distribuição, nomeadamente conservas de atum”, diz à Food Market, Castro e Melo, Diretor-geral da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP). O mercado está em crescimento nos segmentos mais representativos do consumo: “é verdade que tem havido crescimento tanto no segmento do grande consumo, como no segmento ´gourmet’, embora este último constitua um nicho. No grande consumo cumpre destacar a relevância das conservas de atum, que são as mais vendidas no mercado interno português”, refere o mesmo responsável associativo. A janela exportadora é ainda o principal ativo do setor, embora a concorrência internacional tenha feito mossa, sobretudo
P
eixe congelado ou refrigerado, peixe seco ou salgado, carne bovina e suína, milho, produtos de padaria e pastelaria, azeite, soja e centeio. Estes são os principais grupos do cabaz importador na fileira alimentar portuguesa, com valores de importação entre os 230 e os 430 milhões de euros por categoria. A Espanha é o principal fornecedor assegurando 33% das importações. O azeite quimicamente não modificado, carnes suínas e bovinas surgem à cabeça da lista alimentar. Porém, nem todos os setores da fileira mostram a mesma intensidade de trocas com Espanha e, além disso, esta relação comercial também é matizada de diferentes formas. No caso das conservas de peixe, por exemplo, a presença espanhola no mercado português faz-se sobretudo por via da importação direta. “Não existem empresas (fábricas) espanholas estabelecidas em Portugal. Existe
26
foodmarketmagazine | 0
Castro e Melo, Diretor-geral da ANICP.
devido a vantagens comparativas associadas a menores custos de produção. “Cerca de 60% a 65% das conservas produzidas pela nossa indústria destinam‑se à exportação e por isso os mercados externos são muito importantes para o sector conserveiro. As exportações aumentaram em 2016 e pensamos que poderão voltar a crescer no corrente ano, haja disponível a indispensável matéria-prima a preços industrialmente compatíveis. Em 2016 exportaram-se mais de 56.000 toneladas de conservas de peixe, no valor de cerca de 219 milhões de euros. Nos mercados externos as nossas conservas debatem-se com a concorrência de conservas idênticas provenientes de países terceiros, com custos de produção mais baratos, pois aqueles países não estão obrigados a cumprir as mesmas regras que a nossa indústria cumpre”, explica Castro e Melo.
SETORES
PEIXE CONGELADO O consumo e comercialização de peixe fresco e congelado é um dos principais ativos da fileira agroalimentar. Apesar da dimensão do seu mercado, Portugal é um dos maiores consumidores mundiais de peixe. A exportação é relevante. Só nas categorias sub-sectoriais do peixe congelado, dos moluscos e invertebrados do mar e nos crustáceos, a fasquia exportadora ultrapassou, em 2016, 570 milhões de euros. “Portugal está no top 3 do consumo mundial de peixe per capita com mais de 60 kg por ano. Sendo um mercado maduro não são esperadas taxas de crescimento expressivas. O crescimento das empresas terá de ser feito em mercados externos”, diz à Food Market, Sérgio Silva, CEO do Grupo Vigent, de cujo portefólio faz parte a Brasmar, empresa de processamento e comercialização de pescado e marisco congelado que o ano passado faturou 150 milhões de euros. “A Brasmar, sendo uma empresa relativamente jovem, atingiu uma dinâmica ímpar no panorama do sector da indústria dos produtos do mar em Portugal. Somos a maior empresa em Portugal neste setor e vamos continuar a crescer. A introdução constante de novos produtos e a procura de novos mercados são muitos importantes para nós e marcam a cultura desta empresa. Como marcos destacaria o ano de 2008 com a entrada em operação da nossa primeira unidade de transformação, projeto essencial para a afirmação da empresa. Até então eramos meramente uma empresa comercial”, esclarece Sérgio Silva. Em relação a perspetivas de evolução e ambição da empresa face ao que será também o previsível desenvolvimento da economia, o CEO do Grupo Vigent revê-se num cenário de crescimento em linha com o histórico da empresa: “a nossa faturação tem crescido historicamente a dois dígitos, e esse continuará, para nós, a ser um desafio interessante nos próximos anos. A exportação tem um grande peso neste resultado, assim como a nossa capacidade industrial de adequar os produtos ao mercado de destino. O controlo de qualidade e certificações que possuímos são também um elemento importante e de confiança para os nossos parceiros. A Brasmar inaugurou uma nova unidade logística em Janeiro de 2017 e estamos neste momento a ampliar a unidade de transformação para duplicar a nossa capacidade de transformar e embalar produtos do mar. Com esta nova unidade vamos poder processar e embalar 30.000 toneladas anuais e vai estar mais focada para cefalópodes e bacalhau demolhado ultracongelado. Quanto ao nível da capaci-
Sérgio Silva, CEO do Grupo Vigent.
dade de transformação de bacalhau seco, manteremos os mesmos níveis de capacidade atual.” “O aumento da capacidade de transformação da empresa, assim como a nova unidade logística vão permitir aumentar responder à procura a que neste momento a Brasmar não consegue dar resposta. Da mesma forma, os novos mercados onde estamos a entrar, assim como a nossa empresa no Brasil, serão também muito importantes para atingir o objetivo de atingir os 200 milhões de euros até 2020”, conclui o gestor.
BEBIDAS NÃO ALCOÓLICAS O setor das bebidas no seu conjunto é liderado pelo vinho com 52% do volume de negócios, seguindo-se a cerveja (25%) e os refrigerantes e águas (23%). O grupo das bebidas não alcoólicas abrange a pro-
“O sector dedicado à produção e comercialização de bebidas refrescantes não alcoólicas está, sobretudo, alicerçado na indústria nacional. Conta com 22 empresas, que têm no seu portfólio marcas nacionais de boa implantação e notoriedade, coexistindo com marcas internacionais produzidas e comercializadas sob licença em Portugal. São 10 mil postos de trabalho gerados direta e indiretamente, a jusante e a montante da atividade”, explica Francisco Mendonça, secretário-geral da Associação Portuguesa das Bebidas Refrescantes não Alcoólicas (PROBEB). Os operadores do setor aceitaram mal o agravamento do imposto sobre o nível de açúcar nos refrigerantes invocando prejuízos económicos para o setor e o efeito perverso de deslocação do consumo para marcas de retalhista, mais baratas e na maioria dos casos produzidas fora de Portugal. Porém, este não é o único contratempo para industriais e comerciantes de bebidas refrescantes não alcoólicas. A questão do IVA, mais baixo do lado de lá da fronteira, tem igualmente provocado desequilíbrios. “A PROBEB não pode deixar de expressar o seu desapontamento pela aprovação de um novo imposto sobre refrigerantes em 2017, reafirmando que a medida é discriminatória, duvidosa do ponto de vista da saúde pública e que terá impactos económicos negativos no sector. Neste âmbito continuaremos fortemente empenhados em minimizar os impactos negativos deste imposto, em termos económicos, sociais e de saúde. No caso do IVA deve ser assinalado que um insuficiente nível de harmonização fiscal pode suscitar efeitos muito marcantes ao nível das distorções da concorrência, do desenvolvimento de mercados paralelos e da deslocalização e redução de atividades económicas (processo de reestruturação com redução de pessoal). A insuficiente harmonização é particularmente gravosa
«O setor das bebidas no seu conjunto é liderado pelo vinho com 52% do volume de negócios, seguindo-se a cerveja (25%) e os refrigerantes e águas (23%).»
dução, a comercialização e a distribuição de um vasto conjunto de produtos alimentares, que vão desde as bebidas à base de sumos de frutos ou à base de extratos vegetais (colas, bebidas de chá, tónicas, bebidas para desportistas, bebidas funcionais ou águas aromatizadas, etc.).
quando comparada com Espanha, onde a estes produtos é aplicada a taxa de IVA de 10% (em Portugal 23%) e onde não existem impostos especiais sobre esta categoria de bebidas. A brutalidade do diferencial fiscal com Espanha compromete o desempenho e ameaça a sustentabilidade da indústria
0 | foodmarketmagazine
27
SETORES
nacional do sector”, queixa-se Francisco Mendonça. O secretário-geral da PROBEB admite, ainda, que as diferenças entre os dois mercados “resultam das diferentes condições para a competitividade das empresas, em particular como resultado de opções fiscais que afetam gravemente a indústria do sector em Portugal.”
CARNES E ENCHIDOS A carne de bovino é o segundo produto mais relevante no ranking importador da fileira a agroalimentar. Em 2016, Portugal comprou 377 milhões em carne deste tipo, um crescimento de 6% face aos últimos quatro anos. A carne suína surge em 11º. lugar com um registo de 246 milhões mas, neste caso, a importação está a retrair 0,1% para o mesmo período e 9% quando comparada com 2015. A produção nacional de bovinos, suínos, ovinos, caprinos e animais de capoeira situa-se um pouco acima das 740 mil toneladas. No caso dos suínos, os últimos anos têm sido severos para os produtores. A travessia da crise, o embargo russo aos produtos e europeus na sequência da situação na Ucrânia e a agressividade dos preços na grande distribuição, que cada vez mais compra matéria-prima fora de Portugal, castigaram a produção. A retração na procura dos enchidos esteve em linha com estas dificuldades obrigando as empresas a redefinir as suas estratégias. Um relatório elaborado pelo departamento económico e comercial da embaixada de Espanha em Lisboa admite “que o mercado da charcutaria em Portugal
28
foodmarketmagazine | 0
se adaptou a um novo paradigma de consumo que se impôs nos últimos anos.” “Hoje em dia confluem no mercado duas grandes tendências de consumo, uma em que a variável preço é a prioridade e outra em que os benefícios/diferenciação que os produtos oferecem são o principal motivo para a decisão de compra. Nos últimos anos, o consumidor procurou soluções de compra verdadeiramente económica, o que levou as marcas de fabricante a fazer um grande esforço para oferecer o que antes era domínio das marcas da distribuição, isto é, preços competitivos também por via de promoções, novos formatos e outras soluções comerciais”, avalia o documento. O fator preço aqui referido tem feito os seus estragos. Em declarações à Food Market, João Chamorro, Diretor-Geral da Barrancarnes SA, assinala no atual momento do mercado de presuntos e enchidos, “a massiva oferta de produtos a baixo preço com duvidosa procedência.” “Sabendo os custos de produção dos enchidos de porco preto parece-nos inviável que no mercado se venda estes produtos a tão baixo valor. A falta de fiscalização por parte de todas as entidades tem levado a esta situação. Este tipo de produtos está à venda principalmente nas grandes superfícies sendo que, na nossa opinião, no dia de hoje, o consumidor que quiser comprar produtos genuínos deverá dirigir-se às charcutarias tradicionais que apostam pela qualidade e não pela quantidade a baixo valor”, refere o gestor da Barrancarnes. “A nossa empresa tem seguido e continuará a seguir uma política de produto de qualidade e não vamos baixar o nosso nível para entrar nessa ‘guerra’ de preços apesar
«A massa fresca ocupa mais de 80% da quota de marcado, seguindo-se o pré cozido e o cozido congelado. O setor movimenta cerca de 2 mil milhões de euros e emprega 200 mil pessoas, com as unidades de produção sobretudo concentradas ano no norte e centro do país.» de estarmos a sentir o efeito dessa decisão com a grande distribuição. Na Barrancarnes vamos continuar a elaborar um produto focado para os clientes que procuram qualidade e para as exportações que são, sem dúvida, a salvação de empresas que produzem um produto de qualidade como o nosso”, acrescenta João Chamorro.
PANIFICAÇÃO E PASTELARIA O tecido empresarial na área da fabricação de produtos de padaria e outros produtos à base de farinha apresenta uma desproporção entre existência física e valor económico. Em 2010, em cada 10 empresas das indústrias alimentares, 6 estavam afetas à panificação. Porém, a quota em termos de volume de negócio no setor alimentar era pouco mais de 14%. Quatro anos depois, a percentagem de participação no volume de negócios decresceu para 12,7% e a percentagem de empresas caíu 1%, segundo dados de análise setorial realizada pelo Banco de Portugal. “Nos últimos anos houve algum decréscimo de consumo de pão, sendo 3,5% dessa perda explicada por fatores como a deslocação do consumidor para as grandes superfícies ou a alteração de hábitos de consumo entre os adolescentes que preferem os cereais em detrimento do pão”, explica Graça Calisto, secretária-geral da Associação do Comércio e Indústria da Panificação (ACIP). A massa fresca ocupa mais de 80% da quota de marcado, seguindo-se o pré cozido e o cozido congelado. O setor movimenta cerca de 2 mil milhões de euros e emprega 200 mil pessoas, com as unidades de produção sobretudo concentradas ano no norte e centro do país.
FOCO
COMO OS ESPANHÓIS OLHAM PARA NÓS
¡Mira Portugal!
Por Carlos Alberto Costa
Nem sempre tem sido fácil a relação entre os dois vizinhos. As décadas recentes e sobretudo a adesão à UE encarregaram-se de quebrar barreiras. A economia fez o seu caminho.
A
interligação económica entre Portugal e Espanha é marcada pela desproporção própria de duas economias de diferentes calibres. Porém, os empresários espanhóis olham para Portugal como um mercado amigável, comercialmente desenvolvido e com um corredor oceânico não menosprezável. Para conquistar mercados é essencial ter informação contextualizada, conhecer barreiras e dificuldades. O braço internacional do comércio espanhol, o ICEX, oferece uma visão panorâmica do mercado português, a começar pela identificação dos setores mais interessantes. “Apesar da elevada concentração de empresas espanholas exportadoras regulares estabelecidas no mercado português, este é um país em que a aposta pela qualidade tem bastante importância pelo que são suscetíveis de penetração todos os setores fabricantes de produtos com uma maior componente de inovação e tecnologia, como a indústria automóvel, a aeronáutica, a indústria de moldes, as comunicações e tecnologias de informação, assim como a biotecnologia e a saúde e as indústrias elétrica e eletrónica. Muitas empresas já olham para o mercado ibérico como um todo”, lê-se na ’ficha’ de Portugal que consta na página oficial do Instituto de Comércio Externo Espanhol. “Não existem barreiras técnicas de acesso ao mercado português. Neste sentido pode-se considerar um mercado aberto com poucas exceções. Não obstante, simplesmente destacar a existência de pequenos problemas de acesso e distribuição no mercado português, devido a um excesso de burocracia e à lentidão do sistema judicial português”, refere o ICEX. A descrição da economia portuguesa é familiar: “uma das características mais importantes da estrutura da economia portuguesa nas últimas décadas é o domínio crescente do setor dos serviços, à semelhança do que ocorreu em diversos países da Europa. Além da maior incidência do setor
terciário na atividade económica, verificouse uma alteração significativa no padrão de especialização da indústria transformadora em Portugal que reduziu a dependência que tinha de atividades industriais tradicionais, modernizou-se abraçando outros setores que incorporam uma maior componente tecnológica, como é o caso do setor automóvel e seus componentes, o setor eletrónico, o farmacêutico, o energético e todos os setores relacionados com as tecnologias de informação e comunicação. Entre o setor dos serviços tem particular importância a indústria turística que beneficia da posição geográfica do país e do seu clima moderado.” O crescimento do setor dos serviços em Portugal, diz o ICEX com razão estatística, teve como consequência que “o setor agrícola e pesqueiro que pesava nos anos 60, 24% do PIB, tenha reduzido esta percentagem para 6,3% a valores de 2015, isto apesar de ainda ocupar 7,5% da população ativa.”
SALTO TECNOLÓGICO A descrição do cenário agrícola reflete o salto tecnológico que tem imposto o agroalimentar como uma dos mais pujantes atividades do país: “está a produzir-se em Portugal uma intensificação do inevitável ajuste estrutural do setor agrícola a partir de uma maior dimensão das explorações e de avanços tecnológicos apesar de evidentes assimetrias sub-setoriais e regionais, sendo as regiões mais dinâmicas, o Ribatejo e a zona Oeste. Entre os casos de êxito deste setor destaca-se o aumento da produção do concentrado de tomate e a produção do famoso vinho do Porto na região do Douro.” “Atualmente assiste-se em Portugal a uma sobre-exploração dos recursos piscícolas, devido a fatores de ordem diversa, tais como a perda de potencial da pesca em profundidade e a crescente eficácia dos aparelhos e métodos de pesca resultante do desenvolvimento tecnológico. Em contrapartida verificou-se um aumento acelerado
da aquicultura, que representa atualmente 5% do volume do pescado fresco desembarcado e capturado em águas continentais”, relata o ICEX. Sobre o setor secundário, refere o ICEX que “na última década, alguns setores tradicionais reforçaram o seu peso no conjunto das atividades exportadoras, tanto do ponto de vista do emprego como da exportação: as indústrias do calçado, cerâmica, pedras ornamentais e alimentação e bebidas, mantiveram um dinamismo igual ou superior à média da indústria transformadora no mesmo período.” Na análise ao setor terciário, o comércio em Portugal é descrito como sendo “o sub-sector mais relevante dos serviços, empregando 20% da população e gerando 20 do VAB (Valor Acrescentado Bruto): “os hábitos de consumo e o tecido empresarial do país sofreram alterações rápidas, tendo o pequeno comércio sido um dos mais afetados por estas mudanças. Na segunda metade da década de 90 desapareceram mais de 5 mil pequenas lojas.”
0 | foodmarketmagazine
29
BIBLIOGRAFIA | AGROBOOK.PT
agrobook
Food Defense – Sistemas de Gestão Contra o Terrorismo Alimentar
Logística Internacional - Um Enfoque Em Comércio Exterior - 3.ª Edição
Regime Geral da Rotulagem Alimentar
Autores: Paula Severino, Domingos Almeida
Autores: Nelson Ludovico
Editora: Publindústria · Ano de Edição: 2016
Editora: Publindústria · Ano de Edição: 2017
Editora: Érica · Ano de Edição: 2013
ISBN: 9789897231629 · Número de Páginas: 234
ISBN: 9789897232350 · Número de Páginas: 144
ISBN: 9788502175181 · Número de Páginas: 300
Idioma: Português · Preço: 22,00€
Idioma: Português · Preço: 15,10€
Idioma: Português (do Brasil) · Preço: 36,01€
O conceito de defesa alimentar (food defense) surgiu nos Estados Unidos após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e verifica-se, atualmente, que as medidas de defesa alimentar neste país estão largamente implementadas e regulamentadas. A necessidade de desenvolver e implementar medidas preventivas da contaminação intencional de géneros alimentícios na cadeia alimentar conduziu à inclusão do conceito de defesa alimentar em referenciais certificáveis como a IFS Food versão 6, BRC Food versão 7 e FSSC 22000, e o desenvolvimento de novas metodologias. O livro foi escrito com o objetivo de divulgar o conceito de defesa alimentar, as metodologias atuais para a sua garantia nas organizações e a sua incorporação em referenciais de segurança alimentar.
O Brasil tem sido considerado a 6.ª economia mundial e um dos grandes parceiros comerciais para muitos países. Com isso, as atividades de comércio exterior e logística têm se tornado ferramentas fundamentais para as empresas que desejam se destacar em meio à globalização. Dentro desse cenário, este livro se torna leitura essencial para estudantes e profissionais de comércio exterior e logística, pois apresenta um breve histórico da atividade e a importância desta para o país, além de talhar as características dos transportes, dos direitos marítimos e aéreo e da multimodalidade. Esta 3.ª edição representa uma enorme contribuição para aqueles que atuam direta ou indiretamente nesse tão importante segmento da economia brasileira e mundial.
Autores: Ana Malheiro, Ana Teresa Serafino
A rotulagem de produtos alimentares assume um papel central no cumprimento das obrigações de informação ao consumidor que recaem sobre os operadores económicos responsáveis pela embalagem e distribuição dos produtos. A presente publicação visa, assim, facilitar a compreensão pelos operadores económicos das obrigações legais a que estão sujeitos ao reunir numa só obra os principais Regulamentos da União Europeia que impõe obrigações aplicáveis genericamente a todo o setor alimentar em matéria de rotulagem e informação ao consumidor.
«Colher informação para semear com conhecimento!»
www.agrobook.pt CONTEÚDOS TÉCNICOS E CIENTÍFICOS 30
foodmarketmagazine | 0