10 0° A NIVERSÁRIO D E J Ú LIO RAMOS U M A H O M E N AGEM DA FAMÍLIA E DOS A M I G OS E M FO R MA DE PÁGINAS SOLTAS
Ficha Técnica Autores: Família e Amigos Titulo: Páginas Soltas - 100º Aniversário Data de Publicação: setembro de 2014 Design Gráfico: Marília Ribeiro Coordenador Editorial: António Malheiro Revisão: Ana Catarina Pinho Este livro pode ser reproduzido total ou parcialmente, sem autorização prévia do editor, por família e amigos do Júlio Ramos © 2014 Copyright
PÁGINAS SOLTAS 100º ANIVERSÁRIO Porto, setembro 2014
Júlio Ramos
A Verdadeira Filosofia de Vida
Trabalhar com nobreza, esperar com sinceridade, sentir as pessoas com ternura, esta é a verdadeira filosofia. 1 - Não tenhas opiniões firmes, nem creias demasiadamente no valor das tuas opiniões. 2 - Sê tolerante, porque não tens certeza de nada. 3 - Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas sim os atos. 4 - Espera o melhor e prepara-te para o pior. 5 - Não mates nem estragues, porque não sabes o que é a vida, exceto que é um mistério. 6 - Não queiras reformar nada, porque não sabes a que leis as coisas obedecem. 7 - Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles. Fernando Pessoa, 'Anotações de Fernando Pessoa'
Uma Homenagem da Família e dos Amigos nesta data centenária a Júlio Ramos
PÁGINAS SOLTAS
Sumário
Páginas Soltas (editorial) Biografia
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Alda Figueiredo Antónia Júlia de Oliveira António e Graça Malheiro António Matoso Bernardete e Manuel Rodrigues Cláudia, Ana e Maria João Fonseca Família Toscano Fonseca, Santos & Judicibus Francisco Sil Gabriel Almeida Gabriela Ramos Ilídio Cruz João Carvalho (Joãozinho) José Alves Judite Moura Judite Ramos Ludovino Fernandes Maria Ermelinda Marta, Margarida e Eric Coelho Nuno Silva Sílvia Ramos
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Receção do casal Júlio e Virgínia na Casa dos Professores Receção no Hotel Estalagem do Sado O almoço Leitura das Dedicatórias Poemas Soltos de Júlio Ramos
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PÁGINAS SOLTAS
Páginas Soltas
Pelos primeiros dias de Setembro contactei a Sílvia e a Gabriela, sugerindo-lhes que editássemos um livro de versos e quadras, produzidos por amigos e familiares, para oferecer ao pai como prenda coletiva pelo seu 100º aniversário. A ideia foi aceite com entusiasmo, mas logo me deparei com obstáculos à sua concretização. O primeiro prendia-se com o facto de nem todos os amigos e familiares terem “veia poética”. Um segundo obstáculo seria a escassez de tempo para difundir a ideia, fazer a recolha, o tratamento gráfico, a revisão e a impressão. Porque era imperativo que a prenda fosse uma oferta inclusa, dando oportunidade a todos, poetas ou não poetas, de registarem o testemunho da suas vivências e afetos com o Júlio, entendi abrir o conteúdo à prosa, à fotografia e até à transposição de registos por via telefónica. A questão do tempo para a impressão passou a ser um estrangulamento intransponível, porque me obrigava a encurtar o prazo da aceitação dos originais para entregar na gráfica. Excluir contributos por terem chegado atrasados era, como é óbvio um grande desconforto. Como sair deste aperto?....Fez-se luz na minha cabeça!...Um livro de Páginas Soltas! Não foi de todo fácil a logística da recolha dos conteúdos. As novas tecnologias não andam muito por estes lados! O correio tradicional funcionou, mas de todo não pude responder a quem me solicitava… “Espero a sua resposta na volta do correio”! Não posso deixar de fazer uma referência a uma ajuda preciosa que recebi do senhor Drº João Oliveira como mobilizador e facilitador dos amigos da Pesqueira! Proponho-me no fim da festa concluir o livro, já com um capítulo da festa de aniversário, na certeza de que ninguém ficará de fora e que todos poderão ficar com um exemplar dos registos de memória do nosso querido Júlio.
António Malheiro
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PÁGINAS SOLTAS
Biografia
Júlio Augusto Ramos nasceu em Vilas Boas, que fica no concelho de Vila Flor, distrito de Bragança, e é uma bela aldeia num fértil vale entre montanhas, terra que sempre amou e guarda no coração. Foi no dia 30 de setembro de 1914 que veio ao mundo. Cresceu e aos doze anos tirou a primeira fotografia, cuja odisseia já um dia nos contou. Estudou e fez-se Professor. Mas antes de começar a exercer quis ser marinheiro. E foi… muito andou por esse mundo e também já nos contou as muitas peripécias dessas andanças… O Prof. Júlio Ramos foi campeão nacional e recordista de lançamento de dardo. Jogou andebol de onze em campeonatos Norte-Sul e foi árbitro de futebol. Um dia conheceu uma linda jovem, Maria Virgína Sil, encantaram-se mutuamente e no dia 18 de maio de 1941, em Vila Flor, uniram para sempre as suas vidas. Nesta altura, assumiu a sua condição de Professor e sempre trabalharam juntos em Souto de Penedono, S. João da Pesqueira e na Senhora da Hora, no Porto, durante 31 anos. Um dia este casal, em plena posse de todas as suas faculdades, resolvou vir para Setúbal e escolheu para viver esta Casa dos Professores. Este nosso companheiro mantém toda a sua lucidez. É poeta e tem obra publicada. Continua a versejar e a escrever, pois é possuidor de uma viva inteligência que se reflecte no brilho do olhar. Tem excelente memória e uma invejável energia. É um exemplo de alegria de viver, gosta de rir, de dançar, de se divertir; escreve e declama.
Maria Amália Pinho Residente na Casa dos Professores em Setúbal
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Alda Figueiredo AMIGA
PESQUEIRA
Meus Queridos Amigos, Deixem-me que os trate assim, pois é assim que eu recordo essa linda família, com muitas saudades e que tive o prazer de conviver por uns tempinhos com todos. Em primeiro de tudo dar ao Senhor Professor Ramos, do fundo do coração os meus sinceros parabéns pelos seus lindos cem anos, e que se repitam ainda por muitos e longos anos. Assim como à minha querida Professora Dª Gina, que também os ajude a cantar com muita paz, amor e saúde. Também quero dar os parabéns à menina Silvinha e à menina Gabrielinha pelos maravilhosos pais que tem, mas peço-lhes desculpa por as tratar assim, mas eram mesmo umas lindas meninas, Silvinha muitas vezes dava-lhe o comer na boca e contava-lhe estórias, e depois queriam que eu lá comesse. À Gabrielinha, tive o prazer de lhe dar muitas vezes o biberon, porque a Mãezinha não confiava na empregada, porque lhe dava o leite muito depressa, que deixava a menina a transpirar. São estas boas recordações que eu tenho dessa família maravilhosa. Também me recordo, os meus pais e o Senhor Professor Ramos e a minha querida Professora, matarem um porco a meias e depois fazem o fumeiro, por isso a nossa amizade foi muito convivida, que mesmo estando longe recordamos todas estas coisas com muitas saudades. Despeço-me pedindo a Deus para que os abençoe e lhes dê muitas felicidades aos Pais, Filhos, Netos e Bisnetos, todas as felicidades do mundo. O meu marido manda sinceros parabéns para o Senhor Professor e Cumprimentos para toda a família. P.S. Desejava do fundo do meu coração estar presente nessa grande homenagem, mas devido aos meus problemas de saúde, que mesmo quando tenho de ir às consultas, ou fazer alguns exames, fico sempre mal por uns dias, mas estarei presente em Espírito. E tenho esperança de ainda os poder abraçar. Muitos beijinhos da amiga Alda que nunca os esquece. Muitas felicidades. Maria Alda Pereira Figueiredo
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JÚLIO RAMOS
Antónia Júlia de Oliveira ANTIGA ALUNA (1946 - 1949)
PESQUEIRA
Memórias da minha escola Fui aluna da minha querida e muito amiga Professora Senhora Dona Gina; no entanto, lembro-me da maneira como o Senhor Professor Júlio Ramos, seu marido, trabalhava com afinco e em simultâneo, com os alunos dele – rapazes – e as meninas, alunas da sua esposa Senhora Dona Gina, a fim de nos prepararem para o êxito do nosso exame da 4ª classe… Depois do horário oficial das aulas, encaminhavam-nos, umas vezes para casa deles, outras, para o topo do jardim do, Solar do Cabo – onde nos exercitava e punha à prova a sua enorme competência, dedicação e espirito de humanidade e solidariedade; para fazer de nós as pessoas que hoje somos!... Bem hajam, meus queridos professores. Parabéns pelos seus – 100 anos. Que possamos festejar este dia muitas mais vezes, com a melhor saúde e qualidade de vida. Com um Xi coração e muita gratidão da aluna muito amiga, Antónia Júlia de Oliveira
Salvé 30 de Setembro de 2014 Pela Madrinha, Júlio Batizado, Nasceu em Vilas Boas - Vila Flor; Em jovem, na Marinha recrutado, Chegou a ser exímio caçador. Nobre múnus lhe estava destinado - O de ser um Distinto Professor; Sabedor, diligente, abnegado, Ensinando com desvelo e com fervor.
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Deus o recompensou com longa vida, Com a Dona Gininha, esposa querida, E com a linda prole que à volta tem. Felicitam-no hoje os que aqui estão, Com respeito, ternura e gratidão, Por tê-los ministrado para o Bem
PÁGINAS SOLTAS
Frontispício, do Solar da Casa do Cabo, em São João da Pesqueira – atual Palácio da Justiça – e em cuja ala nascente funcionou na década de 40 a Escola Primária onde lecionaram o Senhor Professor Ramos, e sua esposa Dona Gininha.
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JÚLIO RAMOS
António e Graça Malheiro PRIMOS
FREIXIEL
Como conheci o primo Júlio! Em meados dos anos setenta do século passado, acompanhei meu sogro, João Carvalho, numa visita a Vilas Boas, para aquisição de vinho para consumo próprio. Na circunstância, como é da praxe, fui apresentado a vários amigos e conhecidos lá da aldeia:
Flor de Rosmaninho
“Oh João, suba, venha provar o nosso folar!” - foi mais ou menos com esta abordagem que subi as escadas de granito da casa do Júlio, acompanhando meu sogro. “Gina, olha quem aqui está!” “Quem é este moço?” — pergunta a Gininha, curiosa. “É o marido da minha mais nova.”— responde meu sogro.
Estávamos pelas festas da Páscoa e a mesa da sala refletia a imagem própria desta celebração, com primazia para o folar! Seguiu-se o que é normal nestas aldeias transmontanas: provar o vinho e comer o folar; falar da família e dos amigos; reclamar das maleitas do corpo e da deficiência da cooperativa agrícola que paga tarde... Enfim, temas que me deixavam de fora da conversa, por ser um novato na família e na região. Deu-se o caso de ver muitos frascos de mel sobre um armário e de ter visto utensílios de apicultura debaixo do coberto de entrada da casa. Questionei, então, com reverência: “O senhor professor é apicultor?” — abriu-se aí a porta para eu entrar no diálogo! Logo marcámos uma data para me mostrar o seu colmeal e falarmos de abelhas e de mel. O Júlio era então um homem próximo dos setenta anos, de fácil trato, muito disciplinado com a condição física como que a adivinhar que tinha uma longa caminhada a fazer… Registo expressões como “Bato estes montes em cima das perdizes” ou, até, “Gosto muito de fazer uns dias nas termas”. A minha estima pelo Júlio não foi cimentada na vivência. Decorre da convergência de percurso de vida e partilha de valores. Ambos fomos professores, apicultores e caçadores e, como o Júlio, identifico-me com a aldeia e com a terra sem ambição material. António Malheiro
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PÁGINAS SOLTAS
Um presente em jeito de quadras
Chegada
Regresso
Estamos aqui reunidos, Nesta festa divertida. Viemos cantar os Parabéns ao Júlio, Que faz cem anos de vida.
Desta terra do poeta, Partimos com saudade. Guardamos uma mágoa secreta: Não te levarmos de verdade.
Uns são família de sangue, Outros por afinidade. Mas todos são: Amigos de verdade.
Foi uma festa bonita, Que jamais vamos esquecer. Esperamos que se repita. Porque foi alegre a valer.
Partimos ao nascer do Sol, De terra de muita laje. Viemos visitar a Gininha e o Júlio, À terra do Bocage.
Do Júlio e da Gininha, Deste casal enamorado, Partimos com lagriminha, E de rosto muito fechado.
Ao Júlio Graça e António Malheiro Com cem anos de vida, Tens muitas histórias p’ra contar. Conta-nos uma atrevida, Mas não nos faças corar. Cem anos são muitos dias: Uma conta muito comprida. Que conselhos nos darias, P’ra tantos anos de vida? A Gininha não te falha, Nesta corrida vitoriosa. Ambos ganham a medalha, Porque a partilha é generosa. Conheci-te apicultor, Em terra de rosmaninho. Muita abelha, muita flor: Fazem mel clarinho. Nas perdizes, tiro certeiro; Na igreja, com devoção; Na amizade, um tipo porreiro; Na mesa, com moderação.
Abril de 2003: Ribeirinha Carrazeda de Ansiães Fila de trás: Ao centro Júlio e Malheiro; à esquerda, Sílvia, marido e neta; à direita Gabriela e Gininha. Fila da frente: Ana e Miguel, filhos do Malheiro.
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JÚLIO RAMOS
António Matoso AMIGO DA CASA DOS PROFESSORES DE SETÚBAL
Júlio Ramos - 100 anos Deste nosso querido Companheiro que vai completar os cem anos de idade, podemos afirmar com certeza que não passou pela vida sem dar por ela. O Júlio foi: - Professor, agricultor, apicultor e caçador - Atleta o poeta (poeta ainda é) - Navegante e galante (continua a ser) - Ferrenho benfiquista e hábil na conquista (sempre) O Júlio encara a vida com optimismo e alegria de viver, ri com o entusiasmo de um jovem, declama e fala com voz forte e sã. O Júlio brande o andarilho que nem um espadachim, dança um tango com estilo, come com apetite. Beber… é que não sei. Mas sei que é sempre um amigo simpático e incondicional, que se entusiasma com o entusiasmo dos outros, que ama OS SEUS e a SUA TERRA com um amor que exterioriza com sentido orgulho. É um homem feliz.
António Matoso
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PÁGINAS SOLTAS
Bernardete e Manuel Rodrigues PRIMOS
FREIXIEL
Com muito carinho para uma pessoa muito especial LONGEVIDADE rima com: Amizade Autenticidade Liberdade Bondade Criatividade e, porque não, “Beldade” (dado que era um “gato” no seu tempo...). Estas seis palavras da nossa Língua, que tanto ama, definem-no como um grande ser Humano, um Amigo de verdade, um Grande Poeta. Deixará a sua marca nas nossas Letras, com obra feita que inspira e transpira Poesia. FELIZ ANIVERSÁRIO, primo Júlio!!! Forte abraço dos primos muito amigos, Bernardete e Manuel Rodrigues
António na Casa do Pelourinho, Freixiel
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JÚLIO RAMOS
Cláudia, Ana e Maria João Fonseca NETAS
SETÚBAL
Há mais de 30 anos, o mês de Setembro era passado em Trás-os-Montes com os nossos avós... O avô Júlio foi sempre muito original! Uma das primeiras aventuras ocorreu no pátio da escola onde os avós moraram e lecionaram. Nós adorávamos esta casa escola. Recordamos com saudade quando o avô passeava as três dentro do carrinho de mão, era verdadeiramente divertido!!! A viagem para Trás-os-Montes, era uma das aventuras que mais gostávamos. O avô Júlio deixava-nos ir em cima do atrelado!!! E então era assim: Saíamos do Porto a caminho de Vilas Boas e, quando chagávamos a certas retas, o avô deixava-nos ir em cima do atrelado. Era o máximo! Uma odisseia para nós. As três sentadinhas de cabelo ao vento!!! O pai e a mãe nem sonhavam que isto acontecia... Depois, já em Vilas Boas, o avô ajudava-nos a fazer os trabalhos de casa. Parte deles eram feitos em cima da pipa enquanto o avô tratava do vinho. Agora que o avô faz 100 anos, resolvemos contar algumas das peripécias que nos trazem saudade. Obrigada ao avô e à avó, pelos bons momentos e por nos terem ensinado tantas coisas que não vêm nos livros. Um grande beijo de Parabéns das netas, Cláudia, Ana e Maria João
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PÁGINAS SOLTAS
Família Toscano Fonseca, Santos & Judicibus AMIGOS
LISBOA / SINTRA
Diz o povo que a vida são dois dias e o Carnaval três. Com cem vezes trezentos e sessenta e cinco dias acrescidos dos extra de Fevereiro, quando este ocorre em ano bissexto, quantas vidas tem o Senhor Júlio Ramos? Muitas, muitas vidas a acrescer dos inúmeros discursos que já proferiu. Esperamos ansiosamente pelo discurso do centésimo aniversário. Bem haja. Maria Inácia Cerrado Toscano (cunhada do genro Armando Fonseca); Maria José Toscano Fonseca (filha); Vitor Judícibus (genro); Luís e Rita (netos); José Pedro Toscano Fonseca (filho); Catarina Lopes dos Santos (nora); Manuel, Catarina, Clara (netos)
30 de Setembro de 2014
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JÚLIO RAMOS
Francisco Sil CUNHADO
ESPINHO
Júlio 100 anos de vida partilhados Cem/sem palavras Amigo, conversador Bom contador de histórias A todos homenageias com palavras Luz, Conceição e tuas cunhadas Os meus filhos nunca esqueces-te Até aos meus netos versos escreves-te Saudades…só do futuro Frase louca de razão… Mas, que será do futuro
Com um passado na mão? Com a experiência vivida E marcada no sentir, Que saudades marcarão O futuro que há de vir? Saudades…só do futuro Mas para que ele aconteça É preciso que a saudade do passado No futuro permaneça. Do cunhado Chico
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PÁGINAS SOLTAS
Alguns familiares do aniversariante. Da esquerda para a direita: Conceição, cunhada; Luz, cunhada; Virgínia, esposa; Céu, cunhada; Francisco, cunhado; Júlio, o aniversariante centenário!
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JÚLIO RAMOS
Gabriel Almeida ANTIGO ALUNO (1966-1970)
SENHORA DA HORA
Recordo com muita saudade os 4 anos que passei com o Professor Ramos na Escola Primária. Cheguei à escola sem saber nada quanto a ler, escrever ou contar. Quatro anos depois tudo era diferente. E daí ter passado com distinção o Exame da quarta classe. Ainda me lembro do Professor Ramos nos contar as fantásticas histórias de viagens de barco pelo mundo. Frequentemente o Professor Ramos contava-nos as proezas dos rapazes de Trás Os Montes, em oposição aos rapazes da cidade. Era frequente a comparação, em que os da cidade ficavam a perder. Por aqui se conclui o amor e o apego do Professor ao campo. Ainda tenho presente o dia em que nos foi mostrada uma maçã da espécie “camoesa”. E ali ficamos nós os alunos a conhecer as qualidades desta maçã. Quando alguém se portava mal, era inevitável: meia dúzia de palmatoadas, como era costume na época. Nós, os alunos, não gostávamos, mas também não me recordo de nenhuma injustiça praticada pelo Professor Ramos. Ficávamos admirados e “embasbacados” com as histórias dos Himalaias e do abominável Homem das Neves, que tomávamos como reais. Poucas vezes tivemos aulas na sua casa, que era quase em frente à escola e que também tinha sala de aulas. Muitas vezes foram destacadas as qualidades de 3 tipos de alimentos: o leite, o mel e os ovos. Nos primeiros anos da escola, e nos ditados, o Professor admitia 2 erros apenas: um por não saber, outro por distracção. Antes do “P” ou do “B” era obrigatório pôr o “M”. Aqui não podia haver distrações. Como resumo posso dizer que tenho muitas saudades dos tempos de escola e do Professor. Só tenho que lhe agradecer tudo o que fez por mim. Também agradeço ter-se lembrado de mim e de ter-me convidado para este Evento comemorativo dos seus cem anos, que espero que se prolonguem por muitos mais anos. Um GRANDE BRAÇO de solidariedade e de amizade. Gabriel Almeida (filho da D. Arminda Almeida) 26
PÁGINAS SOLTAS
José Gabriel F. Almeida, aluno do Professor Ramos de Setembro 1966 a Junho de 1970, na Escola Primária dos 4 Caminhos na Senhora da Hora.
Onde tudo comecou
A nossa escola Vilas Boas
Capela de Nossa Senhora da Hora
Setúbal
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JÚLIO RAMOS
Gabriela Ramos FILHA
PORTO
Paizinho, Obrigada por tudo que fez por nós. Saiba que está e estará sempre presente nos nossos corações. Beijinhos Gabriela e Zé
Parabéns a Você. Fazer anos!... Que bom, ser-se mimado! Poder voltar à infância, por um dia! Desembrulhar as prendas, animado, Sentir na vida um toque de alegria… Cortar bolo, de amigos rodeado, Ouvir dos “ Parabéns “ a cantoria; Soprar as velas todas, esperançado, Que o desejo se cumpra, por magia! Hoje festeja o seu aniversário Meu adorado Pai, já centenário, Com minha querida Mãe ainda presente. E pelo bem que fez por todos nós Cantemos “ Parabéns “ em alta voz, Que até Deus lá no Céu fica contente. Gabriela e José
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PÁGINAS SOLTAS
Ilídio Cruz AMIGO
SETÚBAL
Conheci o professor Júlio Ramos no dia em que entrei na Casa dos Professores. Ao almoço, ele dirigiuse a mim, serviu-me do seu vinho e deu-me as boas-vindas, atitude simpática que nunca esquecerei. No dia seguinte sentei-me à mesa que ele já partilhava com a esposa, professora Virgínia e com a Maria Amélia desde a sua entrada na Casa. As nossas refeições são por vezes partilhadas e nunca são silenciosas, pois que conversamos sobre tudo, especialmente futebol pois que ambos somos fãs do Benfica. Gostei muito de saber que foi um bom desportista e admiro a sua capacidade de expressar em verso os episódios da sua vida e demais pensamentos que lhe ocorrem. Também o facto de ter sido militar criou entre nós laços de grande empatia. Assim veio crescendo a nossa grande amizade que perdurará. Bem haja, Professor Júlio! Parabéns pela sua inteligência e lucidez que lhe permitem festejar este seu 100º aniversário na sua plenitude. Um abraço do amigo Ilídio Cruz.
30 de Setembro de 2014
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JÚLIO RAMOS
João Carvalho (Joãozinho) PRIMO
FREIXIEL
Quem aprende não sabe Júlio Ramos foi professor Também foi caçador Também foi apicultor De tudo sabedor Usou tudo com muito valor Por ele tenha muito amor. Este centenário será lendário Desejo-lhe muita saúde e muitos anos de vida neste centenário que será lendário.
João Carvalho
Aldeia de Freixiel - Pelourinho
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PÁGINAS SOLTAS
José Alves ANTIGO ALUNO (1966-1967)
SENHORA DA HORA
Abelhas Ensinou-nos as primeiras letras. Disse-nos como se juntavam para formar palavras e como estas se combinavam para criar um texto. E assim se abria o mundo para os livros e com eles a história e as histórias, os contos e a poesia. Ensinou-nos os números e como se media o mundo e se contava o tempo. Transportava-nos consigo para os mares em que tinha sido marinheiro, e era para nós o maior de todos. Jogava cá fora connosco e tornava-se um igual, esquecíamos o Senhor Professor e era mais um de nós. Mas havia um momento especial. Subitamente começava a falar das abelhas. Sabia tudo sobre elas. Os comportamentos, o sentimento de solidariedade e as hierarquias, as ameaças para a colmeia e a importância da rainha. Fazia-nos participar desse mundo e levava-nos com ele até á sua tão amada terra de Trás-os-Montes. Temia-se o momento de regressar ao mundo real e à aritmética. Mas aí chegados já suspirávamos pelo dia em que a aula se interromperia, o tempo ficaria suspenso e o professor voltaria às suas, e agora nossas, abelhas. Vem nas notícias. Parece que as abelhas estão a desaparecer. Não se sabe por quê. Ninguém consegue explicar totalmente o fenómeno. E alguém lembra Einstein, que avisou que quando as abelhas desaparecerem da terra a humanidade sobreviverá apenas quatro anos. Não sei. Sei apenas que um mundo sem abelhas será muito triste. Era assim o nosso mestre. Ensinava-nos a lidar com o mundo mas era como se dissesse: usem o que vos ensinei, mas sejam como as abelhas. Cumpria a missão mais nobre de quem ensina: “induzir nos outros o amor por aquilo que ama”. Obrigado, Professor Júlio Ramos.
José Alves
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JÚLIO RAMOS
Judite Moura SOBRINHA
ESPINHO
I Ó ninfas do meu quintal Inspirai-me sem receio, Não me deixes ficar mal Dai-me luz, arte e paleio!... II Estes versos, tão pobres, sem poesia Estes vesos, tão pobres, sem valor. C’o amizade de sobrinha que aprecia A si (tio), os ofereço e… por favor Desta poesia tosca, não se ria. III Quem não conhece? Cem anos risonhos Seus olhos são preces. Seus olhos são sonhos. IV Simpático de olhar meigo E um tanto sonhador, Vou tentar apresentar O meu tio professor. V Conversador, sério, sensato Farras, paródias, quem as não tem? Dichote, boa risada também Aqui está do meu tio o retrato. VI Tez morena, olhos verdes, Alegres e sonhadors, Ar gaiato, franco e jovial Um riso cantante
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De quem afinal Nem à pior gente Sabe fazer mal. VII Otimista cem por cento Confiante no porvir Encara a vida contente Bem-disposto, sempre a rir. VIII Dentre muitas qualidades Vou citar a principal. Além de bom cavalheio É conselheiro sem igual. IX Como semeador que grão a grão Vai fecundar na terra o belo trigo loiro. A semear saber Que vale mais que oiro Fez de cada aluno um jovem “Salomão”. X Vede-o todo feiticeiro, A sorrir, por brincadeira Neste livro de saudades. Quem podera adivinhar, Os sonhos do seu sonhar, As loucuras e as verdades. XI Ao bom Deus quero implorar Num brado terno e fremente. Que a vida seja a embalar Venturas eternamente. XII Sobrinha e amiga lhe deseja Felicidades sem fim. Tantas como flores em canteiro De requintado jardim. XII Já estou sentindo saudade Por ver que o vou deixar Não esqueça a minha amizade Pois creia, parto a chorar.
PÁGINAS SOLTAS
Judite Ramos SOBRINHA
LISBOA
Foi bom... Tio Júlio, estar consigo lá por Trás-os-Montes onde o vento sopra! Foi bom... ouvi-lo ler os seus poemas! Foi bom... vê-lo chegar da caça! Foi bom... Vê-lo ir para a Portela ver o seu cão lado a lado Foi bom... conviver com o seu otimismo e amor à vida estes cem anos todos! Enfim... É bom ser a sua sobrinha.
Judite Ramos
Santuário da Nossa Senhora da Assunção - Vilas Boas
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JÚLIO RAMOS
Ludovino Fernandes ANTIGO ALUNO
PESQUEIRA
Recordação Com mais de 80 anos é com a maior alegria, satisfação e carinho que vou participar no centenário do meu querido Professor Júlio Augusto Ramos, a quem lembro, juntamente com meu pai, como os dois homens a quem devo aquilo que sou e tenho sido ao longo da vida, que também vai sendo longa. Na verdade, ambos se conjugaram, dando-me asas para ser “alguém”. Meu pai sonhando para o filho aquilo que ele não pode obter. O meu professor, praticamente no início da sua carreira, querendo transformar-se num grande “Mestre Escola” que vai moldar crianças, especialmente as mais travessas, fazendo jus à sua vocação: ensinar e educar. Por isso, o cuidado e a dedicação com que centralizava a atenção dos “miúdos” irrequietos e desatentos com as suas histórias de caça ou de aventuras da Marinha, onde prestou Serviço Militar obrigatório. Mas, a minha estima, consideração, amizade e superior apreço resultam do episódio que nunca esqueci e não resisto à tentação de o narrar pelos valores que representa, especialmente nos dias de hoje, em que o verdadeiro magistério é tao mal entendido. Vejamos, pois: - Meu pai, sempre preocupado com o futuro do filho, procurou, na freguesia de Souto, concelho de Penedono, O Senhor Professor Ramos pedindo-lhe que me aceitasse para com ele ser preparado para o exame da quarta classe, já que o posto escolar de Pereiros no concelho de São João da Pesqueira, minha verdadeira residência, não tinha competência para tal. Claro que, o Senhor Professor Ramos se disponibilizou de imediato, quando um outro colega se recusara. Deste modo, se encontram os dois homens tramando a ansia de liberdade do “miúdo” que, na sua traquinice, resolveu fugir à escola, mas teve azar, ou melhor a sorte, de ambos se encontrarem num ato venatório que habitualmente praticavam e, assim, o traquinas rebelde foi apanhado e consequentemente castigado, em casa, pelo pai e, na escola, pelo Professor. Juntos na correção do rebelde que, deste modo, tomou outros rumos, recebendo logo no primeiro ano de seminário em Resende, onde fora admitido, através das respetivas provas, a qualificação como um dos melhores alunos. O que é a sociedade na sua evolução; na época, eu tomei o ato (castigo) como um remédio para a cura (rebeldia); hoje, provavelmente, Pai e Professor poderiam ser castigados (injustamente). Parabéns e para sempre com um grande abraço do aluno, Ludovino Fernandes
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PÁGINAS SOLTAS
Maria Ermelinda SENHORA DA HORA
Caro Senhor Ramos, É com muita honra e enorme prazer que estou presente na festa comemorativa do seu centésimo aniversário. Permita-me que refira aqui que recordo bem as décadas de 60 e de 70 do século passado e que tenho bem viva a sua dedicação e empenho profissionais postos ao serviço do ensino/educação. Não sou pessoa dotada para a escrita ou para o discurso mas a intenção é apenas e só, manifestar-lhe o meu apreço e admiração como homem de caracter, sempre atento e dedicado à família. Não vou alongar-me, creio que em pouco já disse bastante, ou o que considero suficiente. Vou apenas recordarlhe o enorme apreço que continuo a ter por si, bem como pela Dª Virgínia, sua meritíssima esposa, e por toda a sua família, especialmente aquela com quem convivo mais de perto. Que este dia seja de grande felicidade e que o possa recordar por muito tempo, são os sinceros votos meus e do meu marido. Bem-haja e muitos parabéns. Maria Ermelinda
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JÚLIO RAMOS
Marta, Margarida e Eric Coelho AMIGOS
SETÚBAL
100 anos, 100 primaveras, 1000 aventuras, 1 milhão de felicidades. Parabéns! Marta, Margarida e Eric
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PÁGINAS SOLTAS
Nuno Silva NETO
PORTO
Corajoso e verdadeiro, Um exímio caçador, Valente marinheiro, Poeta e professor. Transborda alegria, Em cada gesto que faz, O seu sorriso irradia, Bondade, amor e paz. Assim almejo ser, Verdadeiro e amigo. Também gosto de escrever, Sou parecido contigo. Quando um dia fores colhido, Será grande a emoção. Nunca serás esquecido, Ficarás em meu coração
Da esquerda para a direita: Duarte, Sónia, Nuno e Carolina
Nuno Silva
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JÚLIO RAMOS
Sílvia Ramos FILHA
SETÚBAL
Ao meu Pai, no seu centenário Reconheço que lhe devo o ter despertado em mim o gosto pela matemática e, consequentemente, a escolha acertada da minha carreira académica. Quando ainda frequentava a Escola Primária (4ª classe e preparação para o exame de admissão ao Liceu) fui desafiada por si e pela minha Mãe para resolver problemas que exigiam bom raciocínio e solicitada a expô-lo aos meus colegas, tarefa que desempenhei com sucesso. A partir daí senti entusiasmo por ensinar Matemática, procurando sempre fazê-lo com clareza de modo a facilitar a compreensão aos outros. Nos dois primeiros anos do liceu estimulou-me para que fosse uma boa aluna, prometendo-me até uma “camisola amarela” que acabei por ganhar de prémio. Por todo o seu empenho a minha gratidão. Na minha casa de Vilas Boas, ao arrumar uns livros, encontrei uma carta que decerto vai gostar de voltar a ver. A minha filha Ana providenciou para que aqui fosse reproduzida tal como o original. É essa recordação o que se apresenta ao lado. Já não lhe peço a bênção, mas continuarei a dar-lhe todo o apoio de que necessitar para que se mantenha “rijo”. A filha Sílvia Setúbal, 30 de Setembro de 2014
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Receção do casal Júlio e Virgínia na Casa dos Professores SETÚBAL
A sala de visitas da magnífica casa do Professor, em Setúbal, residência atual do casal Ramos, foi o local de receção dos convidados de uma festa que prometia. Os primeiros a chegar foram os de mais longe do Portugal profundo, Trás-os-Montes, terra onde mergulham as raízes do nosso aniversariante. Num permanente devir de abraços e beijos, emoções e recordações vividas em escolas e lugares que sinalizam encontros de Júlio com “rapazes” que se fizeram homens, e aqui lhe expressaram com a sua presença uma gratidão sempre sentida e sufocada. ”Este homem marcou para sempre a minha vida”...”Tinha uma dívida afetiva para com o meu professor”. Seguiu-se o Porto de honra seguido de uma visita guiada à “sua” casa, apresentação da nova família e amigos. “Este é o Ilídio, um militar rijo como um pero”. Logo adiante, esta menina é a Maria Amélia, são nossos companheiros de mesa. Este é….fundador desta casa do Professor de Setúbal…” No quarto do casal deparamo-nos com um bunker de afetos, materializados em fotos de filhos e netos e que necessariamente irá ser enriquecido com o espólio desta festa. Numa esquina do corredor bafejado pelo enquadramento da luz e do sol, o nosso Júlio precisou: “aqui é onde eu me sento a ler e a escrever, gosto deste cantinho”. E adiantou: “não consigo passar sem a leitura e a escrita” e em tom e confidência revelou “esta gente é muito velha e não dá muito para conversar”.
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Receção no Hotel Estalagem do Sado
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O almoço
O restaurante Panorâmico da Estalagem Hotel do Sado com soberbas vistas para o Sado foi o espaço eleito para o almoço e demais manifestações de carinho, convívio e emoções… Os felizardos que conheciam o caminho para a estalagem foram os primeiros a atacar a vasta oferta de entradas plantada no piso superior. Esqueceram-se os conselhos do médico e o nível de colestrol - Perdoou-se o mal que me faz pelo bem que me sabe -. Entre as entradas e sobremesas foi servida a gastronomia da Bairrada, que os convivas deitaram abaixo numa penada. Ainda a festa ia a meio do alto dos seus cem anos o Júlio se levantou e o poeta falou! Desejava, há muito tempo Este fraterno momento para me ajudar a viver, porque eu, infelizmente pensava, constantemente, hora certa para morrer.
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Júlio, Maria Vírginia, Sílvia, Armando, Rui, Maria Ernestina, Judite Ramos, Judite Moura, Zé, Gabriela
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João, Bernardete, Graça, Ludovino, A. Malheiro, Manuel Rodrigues, Antoninha
Francisco Sil, Luz, Maria Amélia, Ilídio
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Abigail e Marido, António José e Esposa, Gabriel e Esposa
Maria José, Victor, Cláudia, D. Georgete, D. Angélica, Mário Miguel, Maria João Pereira, Luís
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Zé Pedro, Manuel Mesquita, D. Cristina, Rafael, Rui, Catarina, Maria João Fonseca, Eric, Catarina
Paulo, Alfredo, D. Ermelinda, Duarte, Carolina, Sónia, Nuno, Maria Inácia, D. Palmira, Ana (no hospital)
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Catarina, Manel, Gonçalo, João Jesus, Daniela, Diana, Luís
Clara, Madalena, Margarida, Joana, Marta, Rita
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Prezados Amigos Hoje, com os meus Cem Anos de idade, espelha-se, aqui, uma profunda amizade, entre todos nós. Não restam dúvidas e, por isso: Esta hora tão querida faz parte da minha vida, da minha alma, de todo o meu ser … Empresta-me tal doçura, tal bem-estar e ventura, que jamais vou esquecer. Desejava, há muito tempo este fraterno momento para me ajudar a viver, porque eu, infelizmente, pensava, constantemente, hora certa para morrer. E porquê? Querem saber? Não recuso. Vou-lhes dizer … Por não ter pernas p´ra andar por esses caminhos fora, dia e noite. A qualquer hora, às escuras ou ao luar. Outro motivo mui forte foi a minha pouca sorte de perder a audição e, por isso, meu convívio de que era fiel amigo com imensa devoção. Agora, já pouco me resta para viver, mas, enquanto não desço à escuridão e rigidez da terra, numa viagem eterna, procurarei manter minhas amizades, nomeadamente, com as que aqui, hoje, encontro a animar-me, a encorajarme, nesta deliciosa festazinha. Abraços e beijos do eterno amigo,
Júlio
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Discurso proferido, no dia 04.10.2014, por Júlio Ramos, durante o almoço da festa comemorativa do seu centenário
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Leitura das dedicatórias
A festa encerrou com um substancial lanche servido de bons sumos e a leitura das mensagens e dedicatórias de presentes e ausentes que as fizeram chegar. Muito cansaço e emoção teve de suportar o nosso aniversariante e demais convidados depois de um dia muito preenchido. Julio mais uma vez nos surpreendeu com a sua poesia de amor á família aos amigos e á sua terra.
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Poemas Soltos de Júlio Ramos
Era propósito do coordenador editorial deste trabalho selecionar sob este título – Poemas Soltos - um leque alargado de trabalhos dispersos do Júlio. De todo não me foi possível, mas como sugere o título, Páginas Soltas, é um livro sempre em aberto. Aqui deixo um convite à família, aos amigos e ao poeta que me façam chegar material em vossa posse. Por conhecimento pessoal sei que há muito material poético oferecido pelo Júlio na posse da família e dos amigos! Que melhor prenda podemos receber de um amigo que não um poema?!
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Historieta da minha mocidade Não será de esquecer Mais de mil brincadeiras Com mulheres bonitas E outras muito feias. Muito feias só de um lado, Mas isso não me agradou… Atento numa bonita Que comigo se casou. Quantos gostos tivera Nesse mui pobre tempo!... Isto não é mentira, Porque eu nunca invento. Vão ficar para trás, Muitas coisas do diabo Que, só por milagre de Deus, Não deram de mim cabo. Agora, disposto estou Para acabar com mais esta, Porque o que atrás ficou Nada vale, nada presta.
Júlio
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Ernestina e Luís - escutai o vosso filho com 100 anos de idade Quem me dera, quem me dera Ir a Vilas Boas, minha Terra Visitar o cemitério Onde vos deixei, meus bons Pais, Cujos ossos já não são mais Do que um mui simples mistério. Que tristeza será beijar As pedras daquele lugar Que vos encerrou p’ra sempre. Chora, chora meu coração. P’ra que um dia (será ilusão?) Vá ter convosco, num repente. Quando será minha visita? Ser idoso já me irrita Por demorar tanto tempo A beijar a vossa alma… Ajoelho e peço calma A Deus, a todo o momento. Não custará deixar a Terra E tudo aquilo que ela encerra? Plantas, animais, lembranças, A Casa, outras coisas mais Que não esquecerei jamais Como jogos de crianças.
Júlio, setembro de 2014
Santuário de Nossa Senhora da Assunção - Capela principal, em Vilas Boas
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