Como o Palestra se tornou Palmeiras

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20 de Setembro de 1942

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COMO O

Especial - Histórias de campeão!

A

II Guerra Mundial tem uma importância fundamental na história do nosso clube. Teoricamente, o Palestra Itália – apenas um time de futebol brasileiro - nada tinha a ver

com ela, mas um ato de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, em decreto-lei assinado em junho de 1942, obrigava todas as instituições esportivas que tivessem nomes estrangeiros a mudar suas denominações, por quê? Ninguém sabia explicar. Paralelamente às pressões governamentais e populares, eram fortes também os interesses alheios nesta mudança. O São Paulo FC tinha objetivos de grandeza e, para se tornar a potência que sonhava, precisaria de um estádio de futebol. Desta forma, nada mais interessante aos sãopaulinos que unir o útil ao agradável: se não mudasse de nome, o Palestra – como determinava a lei perderia o Parque Antártica que, em leilão, poderia acabar nas mãos do nosso rival.

Talvez tenha sido este o principal motivo que levou o então presidente palestrino, Ítalo Adami, a aceitar a mudança no nome. Já que a Nação parecia ultrajada com a palavra “Itália”, que fosse ela, então, suprimida da denominação do alviverde. A partir de então, o Palestra Itália passaria a se chamar “Palestra de São Paulo”. Tudo resolvido? Que nada. Ainda de olho no Parque Antártica, dirigentes sãopaulinos lideraram uma campanha popular exigindo alterações ainda mais extensas. Tinham os tricolores a certeza de que nossa diretoria não aceitaria mais este absurdo, e que diante disso os governantes do País

Camisa comemorativa, modelo utilizado nas décadas de 40 e 50

poderiam tomar nosso patrimônio e em seguida todo ele passar às mãos são-paulinas. Vale lembrar que toda a tese de “ultraje à Nação” se devia a dois fatores: o primeiro à palavra “Palestra”, e o segundo à cor vermelha, presente em nossas camisas ainda que de forma bastante reduzida. Pura ignorância: “Palestra”, na verdade, é uma palavra que nada tem de italiano, pois é um substantivo de origem grega que significa “local onde se realizam reuniões”. Mesmo assim, o Parque Antártica se sentiu ameaçado de invasão e depredação e, por isso, aos poucos os homens que comandavam nosso clube perceberem que não haveria outra saída a não ser mais uma mudança, desta vez radical. E assim se fez. Reunidos em 18 de setembro de 1942, nossos dirigentes resolveram tomar duas decisões: a partir de então, também a palavra “Palestra” deixaria de existir em nosso nome, e o vermelho seria suprimido de nossa camisa. E se decidiu que nosso novo nome seria “Palmeiras”, numa homenagem a uma extinta equipe, a Associação Atlética das Palmeiras. A decisão da diretoria palestrina, então já palmeirense, derrubou os escusos interesses do São Paulo que, inconformado com a chance que perdera, deu início a um terrorismo contra aqueles que chamavam de “italianos disfarçados de brasileiros”. E, para piorar, o destino resolveu aprontar: justamente quando pela primeira vez atuaríamos com nossos novos nome e uniforme, o adversário seria o Tricolor. E mais: o vencedor daquele clássico daria um gigantesco passo rumo ao título paulista de 1942. Diante deste quadro, os dirigentes são-paulinos criaram um clima de guerra para a partida. Por meio das rádios e dos jornais, insuflaram seus torcedores a recepcionarem da pior maneira possível os “traidores disfarçados”, como nos classificavam.

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e Setembro de 1942

O PALESTRA SE TORNOU PALMEIRAS à 68 anos

Mas o Palmeiras preparava uma jogada de mestre. Adalberto Mendes foi um sergipano, capitão do Exército, muito ligado ao clube e autor intelectual de brilhante estratégia para acabar com o clima de hostilidade criado pelo São Paulo às vésperas da partida: se a torcida são-paulina se preparava para tratar os palmeirenses como se fossem italianos, então provaríamos que nossos corações eram brasileiros. Assim, ele orientou os jogadores a entrarem no Pacaembu naquele 20 de setembro de 1942 carregando uma enorme bandeira do Brasil. Assim se fez. Guiados pelo militar, os craques do Verdão calaram o estádio por alguns instantes. Embora surpresos, rapidamente os torcedores entenderam que, à sua frente, estava uma equipe de origem italiana, sim, porém carregando o Brasil no coração. E as vaias tão esperadas se transformaram numa calorosa e extensa salva de palmas. Bola rolando, o Palmeiras começa melhor e, aos 19 minutos, Cláudio Pinho abre o placar. Nossa alegria, no entanto, durou apenas três minutos, pois Waldemar de Brito empatou. O clássico seguiu equilibrado até os 43 minutos, quando o médioesquerdo Del Nero fez o segundo gol palmeirense. Na etapa final, Verdão e Tricolor continuaram disputando um emocionante clássico, que teve mais um gol palmeirense aos 14 minutos, marcado por Echevarrieta. Os 3 a 1 no placar desestabilizaram o SãoPaulo, que via o Verdão pular dois pontos à frente na tabela e garantir matematicamente o título. Talvez por isso, aos 19 minutos o zagueiro Virgílio derrubou Og Moreira dentro da área, o que fez Jaime Janeiro marcar pênalti. Inconformado, Virgílio partiu pra cima do árbitro e, claro, foi expulso.

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Time entra em campo com a Bandeira do Brasil Camisa que passou a ser utilizada a partir de 20/09/1942 Com um homem a menos e provavelmente tendo dereverter uma goleada de 4 a 1, o São Paulo decidiu protestar de uma forma vergonhosa: simplesmente abandonou o campo. Mas o mais gostoso foi a conclusão a que se chegou logo após o fim da partida: o Palestra Itália morrera líder, e o Palmeiras já nascia campeão. O feito ficou conhecido como “Arrancada Heróica”, hoje batiza uma passarela que fica na Avenida Antártica, ao lado do nosso estádio, e a data de 20 de setembro é oficialmente reconhecida pela Prefeitura de são Paulo como o “Dia da S. E. Palmeiras”.

Equipe campeã paulista de 1942


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