Contos Radiofônicos Guia para adaptação de contos literários para o rádio.
Apresentação
Contos Radiofônicos
Existem muitas formas de se apresentar um conto no rádio. Só que é mesmo necessário fazer as adaptações do texto escrito para o texto oralizado. Livro e rádio são coisas muito diferentes. Podemos encontrar guias que ajudam a fazer essa transposição em livros, revistas especializadas e mesmo na internet. Fizemos uma composição juntando informações daqui e dali, agregando também dados da nossa experiência com produção de programas de rádio e desenvolvimento de rádioescolas. Nesse pequeno livreto temos algumas dicas e sugestões para fazer com que as crianças curtam as histórias escritas também pela escuta. Coletamos dicas e sugestões sobre como trabalhar com o texto literário e realizar as devidas adaptações, levando em conta o desenvolvimento das cenas, a linguagem própria para o rádio, o uso do silêncio, da música de fundo, entre outras técnicas que ajudarão na produção de uma peça radiofônica de qualidade. Equipe do Catavento.
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Contos Radiofônicos Sumário 1. Escolhendo o conto 2. Problematização da realidade
3. Compreensão da história 4. Desenvolvendo as cenas 5. Linguagem Radiofônica e Elementos de Produção * Palavra *Música *Silêncio *Cortina *Fundo musical *Ponto de música
6. Diálogos *Cuidados para escrever diálogos *Erros que devem ser evitados
7. Roteiros
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Contos Radiofônicos 1. Escolhendo o conto. . Procure uma história que: . Tenha um conflito, uma evidente disputa entre os personagens. . Que apresente atos lógicos, possíveis de acontecerem na realidade. O conto pode ser fantasioso, falar de fadas, ogros, espíritos e seres de outros mundos, mas as atitudes devem fazer sentido no mundo real. . Que as atitudes dos personagens tenham coerência com sua maneira de ser e agir. . Que não seja muito longo. Para o caso de ser longo, é necessário recortá-los ou trabalhá-los por capítulos. É necessário ter cuidado com o tempo que vai durar a exibição do conto dramatizado no rádio. Geralmente o tempo utilizado é entre sete e treze
Dessas condições a mais importante é o conflito, que gera curiosidade. As peças precisam conter o enfrentamento e a superação entre os personagens.
Um conto de puro entretenimento também vale a pena ser veiculado, com o intuito simples de divertir o ouvinte.
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Contos Radiofônicos 2. A problematização da realidade É necessário ficarmos de olhos bem abertos para as histórias que reforçam preconceitos e valores que podem ofender a algumas pessoas ou grupos de pessoas, como "morais da história" ou comentários e gracejos que estimulem homofobia, racismo ou ainda, a pregação de crenças religiosas que não levem em consideração o direito das pessoas de escolherem em que quer acreditar. Enfim, que as opiniões e a diversidade de pontos de vista sejam respeitadas sempre.
É importante que a versão apresentada sobre uma crença de um determinado valor ou assunto seja apresentado como uma das formas de ver a realidade, deixando o ouvinte livre para pensar por sua própria cabeça.
3. A compreensão da história Todo conto tem um conjunto de ações que os personagens realizam, uma trama, com a intenção de resolver um determinado problema que se apresenta. Para dramatizar o conto, devemos compreender isso em suas minúcias. É sempre necessário que leiamos o conto diversas vezes para encontrar as respostas a cada uma dessas perguntas.
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4. Desenvolvendo as cenas
Chamamos de cenas as ações que os personagens realizam em determinado tempo e lugar. A troca de cenas se dá em duas situações: * Quando os personagens mudam de lugar. * Quando há uma troca do tempo, mesmo que as ações se sucedam num mesmo lugar. *Normalmente, uma narração de um conto possui de três a cinco cenas. Então não só é necessário descobrir quais são as cenas do conto, como saber quando é necessário concluí-las
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5. Linguagem Radiofônica e Elementos de Produção A linguagem radiofônica se estrutura a partir de fontes de produção sonora, constituída de elementos mecânicos (microfone, software de captação e edição, estúdio) e de elementos naturais da sonoplastia ( a palavra, música, efeitos sonoros e o silêncio) Através da combinação destes elementos, podemos transmitir sensações, conceitos ou representações.
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Contos Radiofônicos * A palavra
É o principal elemento da linguagem radiofônica, em torno da qual se articulam os demais. O timbre de voz, o tom, o ritmo, definem a personalidade do texto sonoro, construindo um estilo de comunicação. A construção de frases Usar frases curtas. Não mais de 20 palavras por frase e reduzir as vírgulas e ponto e vírgulas. Reduzir as frases subordinadas. Uma ou duas, se for mesmo necessário. Colocar as frases em ordem de importância. Por isso as subordinadas irão seguir as principais, ou seja, ordem direta! Vejamos: Vamos supor que o autor tenha escrito:
Para não parecer muito bobo, João não fez nenhuma pergunta.
Para o texto no rádio fica melhor e mais compreensível assim:
João não fez nenhuma pergunta para não parecer muito bobo. - 8 -
Contos Radiofônicos As frases devem seguir um caminho simples e lógico. Devemos eliminar os parênteses. Sendo necessário explicar algo, deve ser dita uma outra frase. Assim, colocamos primeiro o sujeito, depois o verbo, depois o complemento. Vejamos: Ao invés dessa construção: Castigar os especuladores, exigiu o presidente.
Esta aqui:
O presidente exigiu castigar os especuladores. Muitas vezes é necessário repetir o nome do sujeito, nem sempre substituindo por pronome, como é mais usual na escrita. O ouvinte pode esquecer o seu nome e não tem como consultar. * Efeitos sonoros
Os efeitos sonoros não são inventados pelo produtor de rádio. A própria narrativa já indica a sonoplastia que deve ser usada. Os sons servem a todos e permitem a natureza e outras coisas se fazerem presentes no rádio. Podemos levar aos ouvintes toda a ambientação da história.
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Contos Radiofônicos Efeitos sonoros permitem que as produções sejam mais realistas e mais ágeis, servindo para substituir algumas passagens de narração, dando mais leveza ao produto final. Quando o ruído é incorporado intencionalmente em uma obra radiofônica, ganha status de efeito sonoro e contribui para:
. Reforçar a narrativa, à medida que ilustra um texto ou situação de forma realista. .
Fornecer informações, pistas, do objeto representado, a fim de que o ouvinte reconheça e estabeleça associação.
. Criar ambientes ou situações emocionais. . Levar o ouvinte a relacioná-lo a uma determinada imagem ou situação que já experimentou.
O efeito sono tem quatro funções: ambiental (fábrica, boate), expressiva (mistério, alegria, tristeza), narrativa (canto dos pássaros representa o dia / coruja é noite – produz uma mudança de tempo sem necessidade de palavras) e ornamental (estética – laser em vinhetas).
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Contos Radiofônicos *Música Os efeitos sonoros são a linguagem da natureza. A música é a linguagem dos sentimentos. Com a música podemos marcar a passagem de alguns momentos de maior intensidade e substituir algumas narrações que também falem de sentimentos. Em uma radiodramatização, a música é utilizada principalmente como cortina e como fundo. A música é a imagem no rádio. Cria sensações e transmite sentimentos como tranqüilidade,angústia, temor etc. Como trilha sonora no rádio, a música é utilizada com diferentes funções de acordo com o tipo de programa no qual é empregada. Nos contos a música assume funções descritivas e expressivas. A função descritiva tem o objetivo de situar o ouvinte no ambiente espacial ( um determinado país, um centro urbano,um campo) e temporal ( década de 40 ou 60) na qual transcorre a ação. Já na função expressiva contribui para construir um clima emocional, criar uma atmosfera sonora, caracterizar um personagem. *Silêncio Recurso de montagem ou dramático. A ausência de som pode representar um mistério, uma dúvida, criar sensações de expectativa ou inquietude. Utilizado de forma adequada, constrói momentos de tensão dramática. Vale ressaltar que uma pausa excessivamente prolongada pode significar a interrupção da comunicação.
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Contos Radiofônicos * Cortina Cortina é uma música usada dentro do conto para ressaltar a temática abordada, de maneira mais dinâmica ou divertida. Não existe medida fixa para de terminar o tamanho de uma cortina musical. Depende do ritmo das ações e é necessário usar o bom senso na hora de utilizá-las. * Fundo musical É como chamamos a música que se escuta, ao fundo, nos diálogos e narrações. Servem para dar mais suspense, emoção e tensão às partes importantes do conto. Os fundos não devem ser cantados, somente instrumentados, a não ser que seja necessário criar ambientes especiais. Com os contos vale o refrão: use, mas não abuse, porque excesso de fundo musical pode prejudicar o trabalho. Existem outras formas de usar a música, além do fundo musical. * Ponto de música - um chamado de atenção brevíssimo, cerca de um segundo de duração. Usa-se imediatamente depois de uma frase importante de um diálogo.
*Golpe musical – Dá mais força aos momentos trágicos de um drama. Sua duração varia de 2 a 3 segundos.
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Contos Radiofônicos 5. Diálogos O diálogo é a coisa mais importante de um conto. É o corpo da adaptação radiofônica de um conto. É importante porque os conflitos, os dramas, a discórdia e a oposição somente se manifestam na fala dos personagens. Alguns contos já trazem seus próprios diálogos. Esses tipos são mais fáceis de adaptar. É uma questão de utilizá-los. Existem outras obras que primam pela narração. Os diálogos, nesse caso, estão sugeridos ou escondidos. A tradução desses diálogos exige um pouco mais de imaginação e habilidade. Na adaptação não necessitamos descrever a personalidade dos personagens. Esta tem que aparecer em cada uma de. suas intervenções. Uma narração extensa pode ser transformada em diálogo * Cuidados para escrever diálogos Vejamos qual o papel dos diálogos: Descrever, brevemente, os ambientes em que ocorrem as ações. O narrador dá algumas pistas do que ocorre, para que o contexto seja bem compreensível.
Normalmente, o narrador é um personagem a mais. Ele conduz os ouvintes e lhes fornece os elementos da história que não podem ser dramatizados. Mas isso tem um limite, senão pode ficar cansativo.
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Contos Radiofônicos * Erros que devem ser evitados Explicar o que passou ou dizer o que se passará. Descrever os sentimentos dos personagens. Ao Invés disso, a produção pode lançar mão de música, diálogo, hiatos de silêncio, o pranto, o riso, vozes gaguejantes. Explicar idéias e conceitos filosóficos morais. Mostrar abertamente sua identificação com algum dos personagens. Dar lições de moral no final da história. Interromper as cenas sem necessidade. Achar que a narração escrita pode ser igual à tradução oral. No rádio, as regras são para a oralidade.
7. Roteiros . Os locutores requerem um guia escrito para interpretar, o que no rádio chamamos de roteiro. Não existem regras fixas para a elaboração de um roteiro, mas existem alguns cuidados que facilitam a interpretação.
Escreva em papel pautado e de um lado só. As folhas não devem ser grampeadas para evitar o barulho na hora da gravação. Escreva em espaço duplo para poder fazer anotações posteriores.
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Contos Radiofônicos As palavras não devem ser divididas no final da linha, nem o parágrafo no final da folha para facilitar a leitura e interpretação. As linhas devem ser numeradas. Economiza tempo na hora de repetir uma cena ou uma locução. Os nomes dos PERSONAGENS são escritos à esquerda e em maiúsculas. As MARCAÇÕES de tons para os atores são escritas dentro do texto, em maiúsculas e entre parêntesis. Não se deve abusar delas. Sujam a leitura e podem ser suprimidas com os símbolos de pontuação normais (? !…) ou com pausas no ensaio. Uma mudança importante de entonação que um ator deve fazer, costuma-se indicar com um (T). Se o que se quer é uma pausa especial, se indica (PAUSA). Os PLANOS também são indicados em maiúsculas e entre parêntesis. O primeiro plano é pressuposto. Só se indicam os 2P e 3P, ou os deslocamentos (DE 3P a 1P, de 1P a 3P). A MÚSICA, tanto cortinas como fundos musicais, se indica como CONTROLE. Detalha-se em maiúsculas e sublinhado. Os EFEITOS DE SOM, seja os que se tomem de discos ou que se façam diretamente na cabine, indicam-se como EFEITO e escrevem-se em maiúsculas e sublinhados. Tire cópias claras, uma para cada ator, uma para quem dirige e outra para o técnico.
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