Rádio Gazeta

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Comunicação, política e sociedade

Rádio de elite:

o papel da Rádio Gazeta no cenário sociocultural de São Paulo dos anos quarenta e cinqüenta Radio for the elite:

the role of Gazeta Radio in the social and cultural scenario of São Paulo in the 1940s and the 1950s

Irineu Guerrini Jr.

Doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP Docente e pesquisador da Faculdade Cásper Líbero. Docente da Fundação Armando Álvares Penteado irineu.guerrini@terra.com.br

Resumo No período de 1943 a 1960, a Rádio Gazeta de São Paulo notabilizou-se por manter uma rica programação musical, feita ao vivo principalmente por seus corpos estáveis: uma orquestra sinfônica, um coral, músicos e cantores solistas. Essa programação era dirigida a uma elite cultural de uma cidade onde, ao contrário de outras regiões do país, o Estado demorou a chegar como promotor de uma atividade radiofônica. O artigo destaca a importância da Rádio Gazeta através do resgate da memória de antigos músicos, cantores, ouvintes e freqüentadores de seu auditório. Palavras-chave: Rádio Gazeta, história, São Paulo.

Abstract From 1943 to 1960, Gazeta Radio in São Paulo was remarkable for keeping a wide variety of musical programming, live, especially performed by its permanent bodies: a symphony orchestra, a choir, musicians and solo singers. Such programming was addressed to a cultural elite of a city where, contrary to other regions in the country, the State delayed to be the promoter of a radiophonic activity. This article highlights the importance of Gazeta Radio by the revival from the memory of past musicians, singers, listeners, and audience. Key words: Gazeta Radio, history, São Paulo.

Resumen En el período de 1943 a 1960, la Radio Gazeta de São Paulo se hizo notable por mantener una rica programación musical, hecha en directo principalmente por sus cuerpos estables: una orquesta sinfónica, un coral, músicos y cantantes solistas. Esa programación se dirigía a una élite cultural de una ciudad en la que el Estado, diferentemente de otras regiones del país, tardó en llegar como promotor de una actividad radiofónica. El artículo señala la importancia de la Radio Gazeta a través del rescate de la memoria de antiguos músicos, cantantes, oyentes y frecuentadores de su auditorio. Palabras clave: Radio Gazeta, historia, São Paulo.


Rádio de elite: o papel da Rádio Gazeta...

Introdução

I

magine-se uma emissora de rádio comercial no Brasil que mantinha uma Orquestra Sinfônica formada por músicos brasileiros e estrangeiros de altíssimo gabarito e notável prática orquestral; que dispunha de um Coral formado através de concurso público amplamente divulgado; que transmitia um programa semanal em que eram apresentadas, com seu próprio elenco, versões compactas de grandes óperas, algumas em primeira audição em São Paulo, e um programa de música sinfônica aos domingos em que se ouviam grandes atrações nacionais e internacionais, na qual se deu a estréia de Carmina Burana no Brasil; que chegou a contratar cantores líricos na Itália; que promovia um concurso de jovens pianistas, patrocinado por uma fábrica de pianos, em que se revelaram alguns talentos que hoje estão entre os grandes nomes do teclado brasileiro; que contava também com um “Jazz”, ou big band, que se apresentava várias vezes por semana; e ainda um Jazz Sinfônico, que era a união da big band com a Sinfônica; uma emissora cujo primeiro Diretor Artístico era reverenciado como “o príncipe dos pianistas brasileiros”, tendo ganho o primeiro prêmio do Conservatório de Paris e convivido com Ravel; que empregava uma programadora musical de fulgurante carreira internacional como cantora, tendo-se apresentado numerosas vezes com Stravinsky, Prokofiev, de Falla, Villa-Lobos e outros nomes do modernismo musical das primeiras décadas do século XX. Imagine-se também que o acesso ao seu auditório era gratuito, e nele podia-se C

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assistir a algumas horas de música ao vivo pelo menos seis dias por semana; que essa emissora era ligada a um jornal que chegou a ser o de maior tiragem em São Paulo, que lhe dava constante e extensa cobertura; que ainda encontramos um número relativamente grande de antigos ouvintes, músicos e freqüentadores de seu auditório com lembranças muito vivas dessa intensa atividade radiofônica; que há registros sonoros dos programas dessa época; que sobreviveram cerca de 5.000 partituras, na sua maioria, bem conservadas, originadas na emissora; e que esse estilo de programação durou cerca de 17 anos. Imagine-se, finalmente, que até o momento, apesar da sua evidente importância e da abundância de registros e memórias, essa emissora só recebeu pequenas referências em alguns livros e artigos. Está pronta a justificativa do tema desta pesquisa. Nas próximas páginas, tentarei sintetizar a trajetória da Rádio Gazeta de São Paulo e sua inserção no quadro sociocultural da cidade num período que vai de 1943 – ano de sua criação por Cásper Líbero – a 1960, quando sua programação tomou outro rumo, refletindo mudanças que ocorriam em todo o rádio brasileiro. Quando a Rádio Gazeta é criada, em 1943, estamos no final do governo de Getúlio Vargas, e o fundador da emissora, homem de grande prestígio político e empresarial, morre num acidente aéreo, poucos meses depois de tê-la criado. No entanto, o estilo de programação da emissora é mantido. Sete anos depois, em 1950, inaugurase a primeira emissora de televisão do Brasil – e sabe-se que a popularização da televisão iria abalar profundamente a programação das emissoras de rádio. Como a TV levou tempo para chegar às camadas populares, algumas emissoras de rádio resistem, com os seus programas ao vivo e de produção cara: a Gazeta é uma delas.


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Mas o público da televisão cresce continuamente. Finalmente, acontece o que já estava ocorrendo em outros países: nenhuma emissora de rádio – pelo menos onde predomina o modelo comercial – suporta a concorrência da TV, e a programação das emissoras se simplifica. A Gazeta não é uma exceção e acaba sucumbindo à nova realidade do rádio brasileiro.

A metodologia Para este trabalho, adotei a seguinte metodologia: a) Pesquisa na coleção de jornais A Gazeta existente no prédio da Fundação Cásper Líbero: o jornal A Gazeta dava grande cobertura à emissora, sob várias formas: programação corrida, diariamente; anúncios diários, padronizados, da programação de horário nobre – das 20h00 às 22h30, aproximadamente; anúncios variados, muito freqüentes, de programas específicos, com tamanhos e formatos diversos (alguns em cores); reportagens variadas, freqüentemente com fotos, muitas delas tomando meia página. b) Gravação de depoimentos: registrei em CD, na maior parte das vezes nos estúdios de rádio da Faculdade, depoimentos de músicos, cantores, freqüentadores do auditório e antigos ouvintes. c) Pesquisa na atual Discoteca da Rádio Gazeta. d) Cópia de gravações de programas da Rádio Gazeta em mãos de particulares. e) Pesquisa no acervo da Rádio Cultura de São Paulo (vários programas com referências à Rádio Gazeta). Visita ao acervo de aproximadamente 5.000 partituras da emissora, atualmente abrigado no Arquivo do Teatro Municipal de São Paulo. g) Pesquisa em acervos bibliográficos variados. Esta pesquisa resultou num trabalho Vo l u m e

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extenso, já concluído, do qual este texto é uma síntese.

A Rádio Educadora, precursora da Rádio Gazeta Quando Cásper Líbero inaugura a Rádio Gazeta, em 1943, as transmissões ainda se fazem do estúdio que a Rádio Educadora mantinha na rua Carlos Sampaio, a qual havia sido adquirida para ser transformada na Rádio Gazeta. A Educadora, a primeira emissora a ser criada em São Paulo, ainda no modelo de rádio-clube, não apenas era uma emissora disponível para aquisição, como sua programação, ainda que de modo precário, já apresentava certas características do que viriam a ser as transmissões da Rádio Gazeta, esta sim uma emissora com muito mais recursos e ligada a um dos principais jornais do país. A Educadora, entre outros programas, transmitia palestras “visando principalmente a família brasileira”, apresentadas por “figuras representativas do meio social, literário, artístico e científico”. Em 1928, chegou a contar com uma orquestra com cerca de 25 músicos, pertencentes, na maioria, à Sociedade de Concertos Sinfônicos e ao Teatro Municipal. O maestro Armando Belardi, que trabalhou na Educadora, e que mais tarde seria por muitos anos Diretor Artístico da Rádio Gazeta, diz, em seu livro Vocação e arte: memórias de uma vida para a música: “A Rádio Gazeta era a antiga Rádio Educadora Paulista, cuja massa falida tinha sido adquirida pelo saudoso jornalista Cásper Líbero”1. Se é verdade que Cásper Líbero adquiriu a Educadora em tão lamentável estado, a situação da emissora iria mudar, e muito, nos anos seguintes, agora transformada em Rádio Gazeta. 1 Armando Belard. Vocação e arte: memórias de uma vida para a música, p.78.


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Cásper Líbero, o jornal A Gazeta e a Rádio Gazeta

liberalismo: imprensa paulista 1920-1945, analisa a atuação de A Gazeta nos anos 20 como a de um jornal de orientação católica, tradicional, ultramontanista e defensor da civilização latina, européia, espiritualista, contra a civilização anglo-saxã, americana e materialista4. Em 1930, A Gazeta apóia o governo (do fim) da Primeira República, contra a revolução liderada por Getúlio Vargas. Como resultado, em 24 de outubro do mesmo ano, suas instalações são empasteladas por forças favoráveis ao novo Governo. A oposição do jornal a Vargas continua e em 1932, juntamente com o jornal O Estado de S. Paulo, lidera o movimento conhecido como Revolução Constitucionalista de 1932. Cásper exilase no mesmo ano, mas em 1934 volta, e a Justiça reconhece os direitos de ressarcimento pelas perdas de 1930, tendo A Gazeta recebido indenização dos cofres públicos. Em 1934, o PRP decide lançar a candidatura de Cásper Líbero a deputado federal. Ele recusa, afirmando que prefere continuar o seu trabalho de jornalista à frente de A Gazeta5. A partir da decretação do Estado Novo, em 1937, A Gazeta não somente vive em paz com o Governo de Getúlio, como passa a tecer elogios ao Presidente, até em editoriais, algo que ia além das exigências do DIP – o Departamento de Imprensa e Propaganda do governo federal, que censurava todas as publicações. O jornalista encantava-se principalmente, e mais uma vez, com o aspecto nacionalista da política do presidente. Vargas e Cásper visitam-se mutuamente, e é notório o aumento do prestígio do jornalista na política nacional.

O fato de a Rádio Gazeta fazer parte da mesma organização que possuía o jornal A Gazeta é fundamental para entender o seu papel na sociedade paulista. Deve-se lembrar que com a disseminação do rádio e a adoção do modelo “comercial” para o seu funcionamento, muitos grupos jornalísticos, nos mais variados países, entenderam que deveriam ampliar suas atividades para esse novo veículo. No Brasil, o caso mais importante, durante décadas, foi o dos Diários e Emissoras Associadas, comandado por Assis Chateaubriand. Além disso, se um jornal se dirigia a um determinado tipo de público, provavelmente pretendia operar uma emissora de rádio que falasse a esse mesmo público. No Brasil, pode-se lembrar de alguns casos de jornais dirigidos a uma certa elite que criaram emissoras de rádio para esse público: Jornal do Brasil/Rádio Jornal do Brasil; O Estado de S. Paulo/Rádio Eldorado de São Paulo, e A Gazeta/Rádio Gazeta. Quanto a este último, um anúncio publicado no Anuário de rádio de 1949, da revista Publicidade e Negócios, referia-se ao jornal e à emissora como “duas grandes forças numa só diretriz”2. Cásper Líbero adquiriu o jornal A Gazeta em 1918. Segundo seu biógrafo Silveira Peixoto3, não era um homem de grandes posses, mas seu bom relacionamento social e político deve ter-lhe facilitado a 2 Anuário de rádio. Publicidade e Negócios, p. 179. obtenção de créditos. A Gazeta apoiava 3 Silveira Peixoto. Cásper, p. 41. o Partido Republicano Paulista (PRP), 4 Maria Helena Capelato. Os arautos do liberalismo: que representava a oligarquia cafeeira do imprensa paulista 1920-1945, p. 157. 5 Para mais detalhes a respeito da vida de Cásper Líbero Estado, e esse apoio iria ter importância consultar a biografia elaborada por Silveira Peixoto ou a muito grande para o destino do jornal. dissertação de mestrado de Gisele Hime, ambas citadas Maria Helena Capelato, em Os arautos do nas referências bibliográficas.

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da Agricultura, o Embaixador dos Estados Em março de 1938 Cásper visita a Unidos, o Embaixador do Reino Unido, o Alemanha com o objetivo de adquirir Embaixador do Chile, o Embaixador do novos equipamentos para A Gazeta. Em 3 Canadá, o Embaixador do México, o Interde novembro de 1939, Cásper inaugura o ventor Federal, João Neves da Fontoura, Palácio da Imprensa, na rua da Conceição, parlamentar e Embaixador do Brasil em atual Avenida Cásper Líbero. É o primeiro Portugal; o presidente da FIESP (Federaprédio construído no Brasil para servir ção das Indústrias do Estado de São Paulo); de sede a um jornal. Nesse mesmo prédio o presidente da ABI (Associação Brasileira também se instalaria, dali a poucos anos, de Imprensa); o presidente da Associação a Rádio Gazeta, que só viria a aumentar Comercial do Rio de Janeiro e o presidente a importância da organização como pólo da Associação Comercial de São Paulo, cultural de São Paulo. entre outros. Quantas emissoras de rádio, A partir, principalmente, de 1940, ou mesmo de TV, em qualquer época, pocomo reflexo das mudanças que iriam deriam contar para a sua inauguração com culminar com a declaração de guerra essa lista de convidados? E muitos tiveram por parte do Brasil aos países do Eixo, que se deslocar do Rio para São Paulo. o jornal freqüentemente publica editoriais que falam da melhoria das relações Brasil-Estados Unidos, sugerindo uma Souza Lima e Vera aproximação com a política do pan-ameJanacopulos ricanismo, propagada por aquele país. O concerto sinfônico que inaugurou a Cásper recebe visitas de empresários e do Rádio Gazeta já tinha a batuta de Souza próprio cônsul americano em São Paulo. Lima, conforme se pode ver nos anúncios Ele mesmo visita os Estados Unidos em da época publicados pelo jornal. Foi ele o 1941 e novamente em 1943. primeiro Diretor Artístico da emissora. A aproximação com Vargas certamente Umas poucas passagens da sua tempofoi indispensável para que a organização rada na Europa, com bolsa do governo do criasse a Rádio Gazeta. Como é sabido, a Estado de São Paulo, demonstram por que, concessão para a utilização de freqüências mais tarde, Souza Lima seria considerado de rádio era, como ainda é, atribuição “o príncipe dos pianistas brasileiros”. Em do governo federal. A outorga é sempre seu livro de memórias Moto Perpétuo, ele em caráter provisório, e o outorgado está conta que em 1923 concorreu a uma das três sujeito a fiscalização. Some-se a isso o fato vagas para piano abertas pelo Conservatório de ter havido forte censura aos meios de de Paris, juntamente com 272 candidatos, e comunicação durante a ditadura de Vargas obteve o primeiro lugar! Passou a estudar e é fácil concluir que teria sido impossível na classe de Marguerite Long, nome resobter uma dessas concessões se ainda peitadíssimo, e no final do primeiro ano, houvesse atritos entre Cásper Líbero e juntamente com 70 alunos, concorreu ao Getúlio Vargas. prêmio do Conservatório, tendo ficado com Um indício do enorme prestígio de o 2º lugar apenas porque os jurados entenCásper Líbero e sua organização, não só deram que ele merecia ficar mais um ano junto ao governo federal, mas também à na instituição. E ao fim do ano seguinte, classe empresarial e ao corpo diplomátinum total de 18 concorrentes, obteve o 1º co, é a relação de convidados presentes lugar do mesmo prêmio. na inauguração da emissora, no dia 14 de Há um trecho muito interessante em março de 1943. Nela estavam o Ministro Moto Perpétuo em que o autor narra um do Exterior, o Ministro da Justiça e Traencontro com Cásper Líbero: balho, o Ministro da Fazenda, o Ministro Vo l u m e

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(...) Fui convidado, novamente pelo grande jornalista Cásper Líbero, para ser o primeiro diretor artístico da nova emissora que estava fundando. Em nosso primeiro contato pareceu-me estar um tanto receoso, julgando que na minha atuação só iria interessar-me na promoção de música clássica. Ficou radiante quando lhe expus minha programação, que compreendia todos os gêneros: clássico (orquestra, câmara, solistas), folclórico, sertanejo, popular e música de outros países. Foi assim que depois de muito trabalho, dedicação e observação dotei a nova estação de excelente orquestra, excelente conjunto sertanejo, cantores populares os de maior evidência; enfim, abordei todos os aspectos da música em todas as suas modalidades6.

Vera Janacopulos também se apresentava no Brasil. E aqui já estamos mais próximos da colaboração de Vera Janacopulos com a Rádio Gazeta, não só como programadora de destaque, mas também como cantora, pelo menos numa primeira fase. E para isso, convém lembrar que Mário de Andrade, quando à frente do Departamento Municipal de Cultura (por ele criado, juntamente com Paulo Duarte), inaugurou também a Discoteca Pública Municipal, em agosto de 19357, que teve à sua frente, durante muitos anos, Oneyda Alvarenga. Na verdade, segundo a pesquisadora Nilcéia Baroncelli8, Mário de Andrade fez constar, já no organograma inicial do Departamento, uma Rádio-Escola – que ficou apenas no papel – da qual a Discoteca Pública Municipal era subseção. Segundo a pesquisadora, a Discoteca era a “menina dos olhos” do seu criador, e nela se depositaria todo o acervo necessário para manter a rádio no ar. De volta ao Brasil, em 1943, Vera encontra-se em São Paulo, trabalhando para a Rádio Gazeta e dando aulas de canto. Para o seu trabalho na emissora, dados o seu currículo e a admiração que Mário de Andrade tinha por ela (Mário dedicou-lhe várias críticas elogiosas) e não existindo a RádioEscola, não deve ter sido difícil firmar um convênio entre a emissora e a discoteca, de modo que a primeira pudesse usar o acervo fonográfico da segunda, mesmo numa época em que Mário de Andrade já não estava à frente do Departamento Municipal de Cultura, pois Oneyda Alvarenga, a responsável pela Discoteca, era pupila de Mário. Esse convênio deve ter tido papel essencial para a existência do programa nos seus primeiros

Nos depoimentos sobre a Rádio Gazeta que pude obter, um dos programas mais lembrados é A Música dos Mestres, que durante muitos anos foi ao ar diariamente, de segunda a sábado, das 13 às 14 horas. Nos anúncios da emissora em A Gazeta, o programa também aparece com freqüência: o jornal publica a programação diária e, às vezes, de toda a semana, organizada, conforme o dia, por gêneros, como música sinfônica, música de câmara, música lírica etc. Obedecendo ao padrão de programas que eram transmitidos fora do horário nobre (na época, o horário nobre do rádio era à noite), A Música dos Mestres era feito com discos, e a seleção das gravações esteve a cargo, durante os oito anos em que morou em São Paulo, de Vera Janacopulos, cantora brasileira de excepcional carreira internacional. Vera conviveu e se apresentou 6 Souza Lima. Moto perpétuo: a visão poética da vida com Stravinsky, Prokofiev, de Falla, Fauré, através da música. Autobiografia do Maestro Souza Milhaud e muitos outros, nas suas apresenLima, p. 3. tações na Europa e nos Estados Unidos nos 7 Mário de Andrade. Ensaio sobre a música brasileira, anos 20 e 30. O acervo da Unirio conserva p. 168. 8 Nilcéia Baroncelli. A rádio que não foi ao ar: Mário de muitas dedicatórias afetuosas dessas e de Andrade e a Discoteca Pública Municipal, p. 2- 4. outras figuras da música a ela dirigidas.

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tempos (mais tarde, os anúncios já não trazem a menção da Discoteca, mas em 1943, devido à guerra, a importação de discos devia ser difícil, e o programa vivia à base de gravações importadas). A Música dos Mestres ajudou muitos ouvintes a ampliarem seu repertório musical e a entrarem em contato com compositores e intérpretes que, não fosse o programa, estariam inacessíveis à maioria deles.

Armando Belardi

em São Paulo, como foi o caso de Lakmé, de Delibes. Somente no ano de 1957, por exemplo, Cortina Lírica apresentou 36 óperas diferentes, sempre sob a direção de Belardi. Soirée de Gala, aos domingos, também às 21 horas, era, em geral, um programa de música sinfônica. Sinfonias, concertos e aberturas de óperas eram muito freqüentes no programa, que às vezes contava com grandes solistas. E foi em Soirée de Gala que se deu a estréia nacional da cantata Carmina Burana, de Carl Orff, com a participação de cantores-solistas e coral. Teatro de Opereta ia ao ar às quintasfeiras, no mesmo horário das 21 horas, e apresentava operetas em forma compactada e freqüentemente com cantores especializados nesse gênero, muito bem dominado por Belardi, pois na sua mocidade havia participado de orquestras que se apresentavam em operetas. E o mesmo maestro às vezes regia a orquestra em outros dias da semana, embora a sua atividade na Rádio Gazeta não fosse a única: ele teve um importante papel no Teatro Municipal e na Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. Belardi contrasta com as figuras de Souza Lima e Vera Janacopulos. Enquanto estes tinham uma formação mais refinada e conviveram com a vanguarda musical européia nos anos 30 e 40, aquele manifestava um gosto musical mais simples e conservador. Na série de programas de memórias que gravou para a Rádio Cultura, ele conta que, na sua mocidade, recusava até Debussy e Ravel; Stravinsky “era um maluco”, e “esse tal de Schoenberg não vale nada, eu nunca toco”9. Mas é inegável que tinha uma grande energia para o trabalho e uma notável experiência como regente, algo reconhecido por todos os que trabalharam com ele.

Em toda a cobertura dada pelo jornal A Gazeta à emissora, o nome mais freqüente, tanto nos anúncios como nas reportagens (muitas delas com fotos), é, por larga margem, o do maestro Armando Belardi, que substituiu Souza Lima no cargo de Diretor Artístico da emissora. Ele escreveu um livro autobiográfico, Vocação e arte: memórias de uma vida para a música, e gravou uma série de programas para a Rádio Cultura de São Paulo em que também relata trechos de sua vida. Armando Belardi começou a sua carreira como violoncelista em São Paulo, tendo mais tarde voltado seus interesses para a regência. Em 1913, viaja para a Itália, onde estuda no Conservatório de Música Santa Cecília, e no ano seguinte diploma-se no Conservatório de Música Gioacchino Rossini, de Pesaro. De volta ao Brasil, em 1915, inicia intensa atividade como músico e professor. Em 1935, começa a sua carreira de regente, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em 1944, ao mesmo tempo em que exerce outras atividades, entra para a Rádio Gazeta, e seu nome destaca-se principalmente em três programas: a Cortina Lírica, a Soirée de Gala e o Teatro de Opereta. Cortina Lírica era um programa transmitido aos sábados, às 21 horas, que apresentava óperas com o elenco da própria 9 Armando Belardi. “O universo sonoro de Armando Beemissora – cantores solistas, orquestra e, lardi” [9 CDs]. Série de programas produzida pela Rádio quando a obra assim o exigia, coral. Às Cultura, programa n. 2. vezes apresentava primeiras audições Vo l u m e

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A música popular na programação Embora desse bom destaque para a música clássica, a Gazeta também apresentava muita música popular, fosse em programas à base de discos, fosse em programas ao vivo no horário nobre. Neste, destacava-se o Jazz da Gazeta, que tinha como líder o Maestro Antônio Sergi, o Totó. O Jazz apresentava-se sozinho, acompanhando cantores, e às vezes se unia à Orquestra Sinfônica, o que resultava num Jazz Sinfônico. Havia também conjuntos menores, trios, quartetos, grupos vocais etc., que se dedicavam à música popular e se apresentavam ao vivo no horário nobre. Alguns cantores eram do elenco permanente, outros eram contratados para temporadas, como Nelson Gonçalves ou Sílvio Caldas; outros, ainda, vinham do exterior.

Alguns cantores eram do elenco permanente, outros eram contratados para temporadas

Uma emissora para quem?

dias” [Júlio Medaglia]; “eu me abalava de bonde do Butantã ao auditório da Rádio Gazeta” [Walter Lourenção]; “meu pai era um tipógrafo” [Massimo Barro]; “eu ouvia muito a Rádio Gazeta” [Norma Guerrini, minha tia, na época escrituraria]; “os ingressos para os programas eram gratuitos” [vários] e outros. Em segundo lugar, há os arquivos de pesquisas quantitativas do Ibope – criado em 1942 – que atualmente se encontram disponíveis na Unicamp. “O rádio não interessa muito às classes socioeconômicas de padrão elevado (Fato constatado desde há cinco anos pelo Ibope em pesquisas as mais intensas e extensas que se têm levado a efeito na América Latina)”10. Outro trecho indica que a emissora paulista que estava em primeiro lugar de audiência (Bandeirantes) dispunha de 14,61% dos aparelhos ligados, e a Gazeta tinha 6,6% dessa audiência, vindo acima de pelo menos dez emissoras. Ou seja, a Gazeta era, no mínimo, uma emissora de audiência média – não estava entre as últimas colocadas11. Outro fator que deve ser levado em consideração era a composição social de São Paulo na época, caracterizada “por maciça imigração estrangeira, em especial italianos, espanhóis, portugueses, japoneses e eslavos, mais seus descendentes, que na rádio naturalmente não poderia ser ignorada”, como lembra o crítico de rádio e TV da época Arnaldo Câmara Leitão, em depoimento transcrito em O rádio paulista no centenário de Roquette Pinto, publicado em 1984 pelo Centro Cultural São Paulo12. Mais adiante, a redatora, Elizabeth Carmona, observa que a Rádio Gazeta tinha “uma programação

No meu projeto, apresentava como hipótese central a importância da emissora junto a uma elite paulista, que não seria necessária ou exclusivamente socioeconômica, mas cultural – vale lembrar que o slogan da emissora era exatamente “a emissora de elite”. Se é verdade que a sua programação não era exatamente para a grande massa de ouvintes, ou que a emissora não estivesse colocada entre as duas ou três de maior popularidade, sua audiência não era formada predominantemente por uma elite socioeconômica. Vejamos por que: 10 Trecho do arquivo de pesquisa quantitativa do Ibope, Em primeiro lugar, recolhi depoimenv. 2, p. 499, 1947. tos deste teor: “apesar de meu pai ser um 11 Trecho do arquivo de pesquisa quantitativa do Ibope, comerciante de peças de automóvel e miv. 4, set. 1958. 12 Centro Cultural São Paulo. O rádio paulista no centenha mãe ser uma costureira semi-alfabetinário de Roquette Pinto, p. 40. zada, eles ouviam a Rádio Gazeta todos os C

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exclusivamente musical (sic), dirigida se média, ou para usar um termo de maior principalmente para as colônias alemãs e carga ideológica, pequena burguesia, ou italianas, amantes da ópera e com interesde pessoas que mesmo não pertencendo ses musicais mais apurados”13. Claro que à pequena burguesia se identificavam essas observações devem ser relativizadas com os valores “de distinção” ou de – o que seriam, exatamente, “interesses “bom gosto” dessa classe. Esses ouvintes musicais mais apurados”? Talvez se aspiravam ao que se poderia chamar de possa dizer que os ouvintes da emissora “alta cultura”, ou “cultura de elite” (elite: tinham um gosto musical mais próximo distinção, bom gosto). Historicamente, do que seria o “gosto europeu”, mas essa aspiração remonta à própria ascensão aqui também nos deparamos com alguns da burguesia nos países ocidentais, e sua problemas: a emissora também apresenidentificação com uma cultura que até tava, constantemente, grandes nomes da então era privilégio da nobreza. música popular brasileira, tinha um Jazz Sinfônico, conjuntos populares brasileiA chegada tardia do ros sob contrato e durante muitos anos, Estado em horário nobre, um programa com Nhô Bento, um poeta caipira! Afinal, como se Embora fosse uma emissora comercial, a sabe, mesmo a elite socioeconômica braprogramação musical da Rádio Gazeta nesse sileira tem freqüentemente raízes rurais... período estudado – 1943 a 1960 – está mais Adicione-se a tudo isso o fato de que a próxima, em conteúdo, do que hoje seria emissora – assim como o jornal – dava a programação de emissoras educativas e muito espaço a manifestações como as culturais, que não visam ao lucro, como a comemorações do Quarto Centenário da Cultura em São Paulo ou a Rádio MEC no cidade de São Paulo, os aniversários da Rio de Janeiro. Na verdade, o Estado demorou Revolução Constitucionalista, as repormuito mais para surgir na radiofonia paulista tagens que valorizavam o crescimento do que em outras regiões do país: em São e a pujança econômica da “metrópole Paulo, devido à sua composição social, por bandeirante” – “a cidade que mais cresce possuir uma economia mais desenvolvida e no mundo”, as atividades e a ideologia da ser liderado por uma burguesia que queria Fiesp (Federação das Indústrias do Estado viver num ambiente mais ilustrado, o rádio de São Paulo) que mantinha um programa dirigido a uma elite cultural por muito tempo semanal na emissora, cujo roteiro às vezes foi promovido por grupos particulares. Por era publicado na íntegra pelo jornal, como outro lado, na então capital federal, desde o de 14 de março de 1950, em que seu 1936, o Estado já estava presente, com a presidente afirmava que todos poderiam Rádio MEC. Dirigidas a públicos diversos, tornar-se industriais, bastando para isso são dos anos 30, ainda, as emissoras estatais: trabalho e perseverança – e, portanto, Rádio Difusora da Prefeitura, que pertencia estava se dirigindo a uma classe social ao Instituto de Educação do Distrito Federal; inferior à sua – e creio que o que se pode Rádio Inconfidência, do Estado de Minas Gedizer com alguma segurança é que: rais; Rádio Tabajara (antiga Rádio Difusora), a) Da mesma maneira que o jornal, a Rádio do Estado da Paraíba; e a PRF6, do Estado do Gazeta era um fenômeno acentuadamente Amazonas. A primeira emissora universitária paulista e paulistano: uma emissora que brasileira foi criada em 1951, pela Universimesclava Beethoven e Nhô Bento, Mensadade Federal do Rio Grande do Sul. gem Musical da Itália e Nelson Gonçalves; b) A maioria dos seus ouvintes localizava13 Centro Cultural São Paulo. Op. cit., p. 41. se em estratos sociais integrantes da clasVo l u m e

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Rádio de elite: o papel da Rádio Gazeta...

Em São Paulo, a Fundação Padre AnConsiderações finais chieta, financiada pelo Estado, começou Creio que a esta altura parece muito a operar suas emissoras de rádio e TV soclara a importância da Rádio Gazeta na mente em 1969, e mesmo sua emissora de vida cultural da cidade São Paulo no peTV educativa não foi a primeira do Brasil: ríodo estudado, pela programação e pela foi precedida pela da Universidade Fedeaudiência que atingia. Se ainda hoje a sua ral de Pernambuco. O papel de emissora programação impressiona – especialmente de rádio dirigida a uma classe de ouvintes os programas musicais ao vivo –, devia receptiva a uma cultura de elite foi, por impressionar em grau ainda maior numa muito mais tempo, iniciativa exclusiva cidade cujas opções de lazer cultural, nos de representantes do setor privado: Rádio anos 40 e 50, eram mais modestas do que Educadora, Rádio Gazeta, Rádio Cultura as de hoje. Seja para aqueles que freqüen– já na sua fase comercial – e Rádio Eltavam o seu auditório de entrada gratuita, dorado (ligada ao jornal O Estado de S. seja para os que a ouviam em casa, a emisPaulo), especialmente na sua primeira sora era uma opção única em São Paulo e fase. Creio que, no se que se refere a São certamente rara no Brasil. O “modelo RáPaulo, se possa fazer um paralelo com dio Gazeta”, de emissora comercial, com outras instituições surgidas nos anos 40 destaque para a música clássica, feita ao e início dos 50: o TBC (Teatro Brasileiro vivo por seus próprios músicos e cantores, de Comédia), criado por Franco Zampari; é praticamente impossível de ser repetido a Companhia Cinematográfica Vera Cruz hoje, no Brasil. O que não justifica que a (também por Zampari); o MASP (Museu trajetória da Gazeta caia no esquecimento. de Arte de São Paulo), criado por Assis Espero que este trabalho e sua versão mais Chateaubriand; o MAM (Museu de Arte de longa possam não apenas servir de regisModerna) e a Bienal (ambos por Francisco tro da história da emissora, mas também Matarazzo Sobrinho) – todos originados de inspirar outras pesquisas. grupos particulares.

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