TFG [2] RAFAELA ARANTES ORIENTADOR . PROF . RICARDO MARTOS
GUARAPIRANGA ESTUDO . |RE|CONHECIMENTO . PROJETO
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DEARQUITETURA E URBANISMO
RAFAELA ARANTES
GUARAPIRANGA ESTUDO . |RE|CONHECIMENTO . PROJETO
SÃO PAULO | 2013
GUARAPIRANGA | ESTUDO . [RE]CONHECIMENTO E PROJETO
Aluna | Rafaela Arantes Orientador | Ricardo Martos
Monografia apresentada a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à conclusão do Trabalho Final de Graduação II.
São Paulo | 2013
agradecimentos Agradeço ao meu Orientador Ricardo Martos pela relação de amizade e a confiança depositada no produto deste trabalho, Ao meu professor Julio Vieira, pela serenidade com que me ajudou a levar esta etapa. Aos que estiveram presentes nos 6 anos mais mal dormidos da minha vida e mesmo assim os mais inesquecíveis, produtivos e felizes: Ana, Day, Elisa, Gabriela, Julia, Leandro, Nina, Patrícia, Soraya e Taís. Também ao meus braços direito e esquerdo neste período tão solitário da faculdade, Ian e Tomás. Aos que entenderam com amor as minhas ausências: Flávia, Vivian, Amanda Rodrigo. Ao meu amigo e mestre Thiago Menniti, sem quem talvez eu nem estivesse me formando hoje. A vocês meus amados pais Rogério e Regina e irmãos Renata e Junior, dedico minha formação não só como arquiteta mas como ser humano. É infinita a minha gratidão pois toda a educação recebida por vocês dentro e fora de casa me trouxeram onde cheguei. Somente por vocês hoje posso me ver formada na profissão que amo. A qual prometo exercer com a mesma coragem, verdade e integridade que me ensinaram. Em especial à Renata, peça fundamental em minha vida, não só por pintar meus desenhos mas por ser meu porto seguro e meu exemplo, para ser melhor e seguir em frente. E por fim à todos aqueles que de perto ou de longe torceram por mim e me fortaleceram com sua expectativa, fé e amor.
sumário [
I
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]
[ 9 ]
justificativa ................................................................................................................................11 problematização ........................................................................................................................15 objetivos ...................................................................................................................................18
[GUARAPIRANGA
|
FORMAÇÃO
HISTÓRICA]
antes da light.............................................................................................................................21 depois da light ..........................................................................................................................23 os munícipes e o lago................................................................................................................25 transformações do uso da paisagem..........................................................................................28 o projeto urbano de interlagos....................................................................................................33 cidade satélite de interlagos – processo de ocupação................................................................39 dados da bacia.......................................................................................................................... 42
[ R E L A Ç Ã O
E N T R E
M A R G E N S ]
a primeira leitura da intenção projetual.......................................................................................44
[ MUDANÇA DE CLASSE = MUDANÇA DE CENÁRIO (?) ] [ 48 ] parque ecológico do guarapiranga..............................................................................................50 [8]
[ PROJETO DE ARQUITETURA | PRIMEIRAS ESCOLHAS ] o terreno....................................................................................................................................52 arquitetura brutalista..................................................................................................................54 partido.......................................................................................................................................56 referencias.................................................................................................................................58
[ PROJETO DE ARQUITETURA| EQUIPAMENTO CULTURAL E LAZER ] estudo 01...................................................................................................................................60 estudo 02...................................................................................................................................61 tfg 1...........................................................................................................................................62 tfg 2...........................................................................................................................................68
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................................81
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................84
ANEXO 01..................................................................................................................................86
ANEXO 01..................................................................................................................................88 [9]
[10]
INTRODUÇÃO “A rua é onde o caminhar não é apressado, e olhar é sempre atento” cita Richard Rogers. E debruçando-me sobre esta discussão que tentarei com este trabalho, entender os caminhos que formataram o cenário público de São Paulo. E suas contradições ao que se espera deste contexto. Apoiando a pesquisa sobre o considerável isolamento, sofrido pelas regiões não centrais, quanto a equipamentos que estimulem a vida social a exemplo de cultura, lazer e estar. A várzea da represa do Guarapiranga por muito tempo foi cenário de usos demasiados como bares, casas noturnas, motéis, e garagens de barcos. Porém desde os anos 70 com o crescimento dos bairros populares ao sul da represam esta vivencia um esvaziamento no que se diz ao uso recreativo da água, aquele que gera um convívio respeitoso e gentrificado. Na ultima gestão a prefeitura iniciou um processo de desocupação e demolição da grande maioria destes empreendimentos sobre os argumentos da criação de um parte linear junto à água, liberando as margens. No cenário real porém, além das demolições que deram lugar a uma grande arena destinada à locação para eventos e um trecho curto de ciclofaixa, nada foi completamente liberado além do além do visual, ainda assim por entre o vazados dos gradis. [11]
Os acessos às margens são poucos, demasiado afastados, escondidos, e controlados. O que garante á população mais uma vez o papel de expectadora não protagonista da paisagem. Procura-se com este trabalho, investigar fatores históricos que contribuíram a formação desta falta de identidade local, e tentar compreender em que momento se perdeu o controle da ocupação dos mananciais, mesmo este sendo o reservatório que abastece quase 4 milhões de pessoas. Como forma de estabelecer o sentido da implantação da cultura neste local, usarei das palavras de Valmir de Souza: “As práticas culturais provocam mudanças de valores dos cidadãos, deslocando ou apontando o clientelismo, fisiologismo, nepotismo e patrimonialismo. Através da cultura são valorizadas práticas que busquem a ecologia humana, optando por relações de solidariedade, de cooperação, que priorizem e estimulem o debate, a gestão comum de espaços e orçamentos públicos, conferências, fóruns abertos à população etc. As ações locais têm trabalhado com a idéia de desenvolvimento local que incorpora a cultura integrada às outras ações dos governos e das sociedades civis, mostrando a importância dos Indicadores Culturais na consideração dos Indicadores Sociais e de Impacto Ambiental. Esses Indicadores Culturais podem desenhar um outro perfil dos habitantes detectando as “fraturas” sociais numa comunidade e apontando para soluções que recoloquem tradições perdidas em atuação conjunta com instrumentos da modernidade” [12]
JUSTIFICATIVA “Para garantir o acesso ao fazer cultural, governos procuram dar à população das periferias o acesso a diversas linguagens culturais, permitindo que, através delas, se exercitem expressões de cidadania. Práticas culturais acontecem em centros comunitários e em espaços não institucionais, fora dos “templos da cultura” (teatros, cinemas, centros culturais). É nesse sentido que se procura servir à população com a melhor qualidade e, para isso, deve-se propiciar uma infraestrutura cultural mínima que possa ser ampliada para vários lugares da cidade”. (...) “O desenvolvimento de uma localidade deve estar pautado por ações que visem uma mudança voltada não só para a democratização, mas também para a democracia cultural”. O desejo de trabalhar com as margens do Guarapiranga, grande norte ao desenvolvimento do trabalho aqui exposto, esteve sempre de mãos dadas à intenção de estudar a fundo o patrimônio do Iate Clube Santa Paula (ICSP), principalmente sua garagem de barcos do Arquiteto Villa Nova Artigas.
Artigo extraído do livro: Souza, Valmir de Cultura e literatura: diálogos / Valmir de Souza. São Paulo: Ed. do Autor, 2008. Disponível em: h t t p : / / w w w. p o l i s . o r g . br/polisdigital/?p=555, acessado em 01.10.13
É de espantar a qualquer cidadão que um exemplar tão lindo de nossa arquitetura, em frente à uma das mais belas paisagens paulistanas esteja em desuso, gradeada e inacessível. A compreensão que todo patrimônio arquitetônico atua como um comunicador de vivências e ideais, não puderam caminhar para nenhuma outra solução que não a do resgate da cultura [13]
junto à localidade. A proposta apresentada pretende tratar da elaboração e implantação de um Centro de Cultura e Lazer situado na quadra ao sul do ICSP, onde atualmente se encontra um “estacionamento particular” de barcos. A carência de lugar apropriado para manifestações culturais, e a preocupação com o desenvolvimento social das mais de cem mil
02
03
01 | Garagem de barcos do Arq. Villa Nova Artigas. [14]
02 | Vista Aérea Iate Clube Santa Paula década de 60
03 | Estado a
Termo extraído do livro de Aldo Rossi, Arquitetura da Cidade, quando este explica sobre o espírito do local. 2
atual da sede do Iate Clube.
famílias moradoras das favelas e loteamentos de baixa renda da região, tornaram clara a necessidade de, antes de tentar auxiliar na questão habitacional que é a grande problemática da região e já vem sendo tratada em diversos outros estudos, propor um espaço público que virá servir de quintal dessas famílias. Um lugar onde fosse possível exercer qualquer tipo de manifestação, reação comunitária, expressão artística e por que não até mesmo e deleite, um local onde se possa simplesmente estar, contemplar e viver o Genius Loci.2
04 04 | Garagem de barcos hoje, mesmo sendo um patrimönio arquitetonico está em abandono. [15]
05 | Delimitação àrea de preservação prevista no tombamento do Bairro.
06 | Delimitação àrea de preservação prevista no tombamento do Patrimônio do conjunto de edifícios do antigo Santapaula Iateclube. [16]
PROBLEMATIZAÇÃO O terreno escolhido inicialmente ao exercício de projeto foi o do ICSP, onde seria proposto o Centro de Cultura que fortaleceria e direcionaria uso da garagem. Já era previsto que a área a ser trabalhada estava contida na Resolução n. 18/2004 que preve um tombamento ambiental3. Porém no processo inicial de levantamento de dados a informação de que também o Iate Clube estava em contido na Resolução n. 03/Conpresp/20074 por solicitação dos antigos sócios proprietários do clube, inviabilizaram a ideia inicial do exercício, onde procurava-se trabalhar dentro de dados verdadeiros, porém não a intenção projetual.
Ver Anexo 01 Resolução n. 18/2004 3
Ver Anexo 02 Resolução n. 03/2007 4
Foi escolhido um novo terreno imediatamente ao lado de aproximadamente 5500m², e para exercício de projeto foi considerada a preexistência do Hotel Interlagos, um projeto aprovado pela Prefeitura e COMPRESP desde 2008 para reativação do ICSP e com previsão para término em 2014, porém não existe até hoje qualquer sinal de futura obra. Este prevê um Hotel no edifício do antigo clube, desde que mantido o volume do conjunto conforme previsto em seu tombamento de nível 03, e sob o vão da garagem com nível de tombamento 01 acontecerá um grande restaurante de frente para a àgua. Conhecendo um pouco as margens da represa, além da Avenida Robert Kennedy, é notória a presença de assentamentos [17]
07 | Pespectiva aĂŠrea do Projeto do Hotel Interlagos.
08 | Perspectiva do EdifĂcio do Hotel e anexo.
09 | Perspectiva do restaurante sob a viga da garagem de barcos [18]
onde hoje mais de um milhão de pessoas vivem no mundo da informalidade exatamente sobre a área de preservação da várzea, pessoas que lá desenvolvem suas atividades diárias, do lazer à deposição de esgoto à céu aberto, direto no reservatório. O trabalho se coloca aqui disposto a investigar o motivo desta ocupação ter se dado em tamanha proporção seus problemas estruturais, porque é crescente a falta de interesse da população local àquele imenso e valoroso patrimônio sócio ambiental. Busca-se expor medidas de mudança à esse local que de público nunca foi da população. E tentar entender essa falta de bom senso por parte das políticas urbanas que não leem a Guarapiranga como uma das paisagens mais belas de São Paulo. Busca indicar que a recuperação do Antigo Iate Clube Santa Paula, deve acontecer como uma ação ainda mais extensa que apenas a revalorização de uma obra de arte em arruinamento, mas dar a ele e à várzea o uso adequado. Também como modo de reverter um processo histórico danoso, que fez de um lago urbano uma propriedade privada, e de seu abandono um problema ambiental e social, sem que os cidadãos nunca e nada ganhem com isso. Um lago que nunca foi público embora à revelia fosse, ainda que precariamente.
[19]
OBJETIVOS
Objetivo Geral Implantar um Centro de Cultura e Lazer na represa do Guarapiranga na cidade de São Paulo, auxiliando para reativação da garagem de barcos do Arq Villa Nova Artigas.
Objetivo Específico - Criar novas opções de lazer de forma a garantir o contato respeitoso e recreativo da várzea e auxiliar num reencontro da população com o local; - Revitalizar uma área degradada com infraestrutura adequada, criando espaços próprios para o desenvolvimento das diversas manifestações culturais, - Fortalecer o turismo, convidando o grande público do Autódromo de Interlagos a também ter uma experiência à margem d’água. - Estabelecer uma relação de continuidade com parte das edificações existentes no local, de modo a resgatar sua história, e identidade local. [20]
[21]
[22]
GUARAPIRANGA FORMAÇÃO HISTÓRICA _ANTES DA LIGHT Em 12 de 1560, por doação do capitão Francisco de Morais, os jesuítas tomaram posse de duas léguas das terras localizadas à esquerda do Rio Geraibatiba, hoje Jurubatuba, e foi nesse núcleo que deu origem o atual bairro de Santo Amaro. No séc. XVI, foi dirigido por Pa. José de Anchieta, quando que da doação de terras, ganhou uma capela e uma imagem do Santo Amaro, padroeiro dos agricultores, o que atraiu alguns moradores à cercania. Já com significativa importância populacional em 14 de Janeiro de 1680, a Capela de Santo Amaro, foi elevada à categoria de Paróquia.
11 | São Paulo e seus arrabaldes no início do séc. XX, no qual pode-se ver a distância entre os núcleos urbanos de São Paulo e Santo Amaro.
Já no séc. XIX retratado por José Bonifácio em 1820, temos a paisagem formada por chácaras e algumas ruas em volta da Paróquia, de onde podiam ser vistos rios de águas cristalinas. Não muito diferente do núcleo consolidado da capital paulistana da época, formada e consolidada em torno do “triângulo central” que por mais de trezentos anos permaneceu concentrado, expandindo-se em direção aos núcleos coloniais vizinhos apenas a partir da segunda metade do séc. XIX. Em 1829, por ordem do imperador D. Pedro I, Santo Amaro [23]
recebia 129 colonos alemães chegados ao Brasil em 1827, estes recebiam algum subsídios do governo brasileiro, como terras para cultivo. Foram ao todo 94 famílias das quais poucas se fixaram, após alguns anos, muitas haviam desistido de suas lavouras pela péssima condição do solo, descontinuidade por parte do governo ao fornecimento de ferramentas e sementes, bem como a insegurança que sentiam por não conseguirem as escrituras de posse das terras. Mesmo com contratempos Santo Amaro prosperou e em 1832 recebe o título de Vila, separando-se de São Paulo, em um momento em que sua população era significativa e a prática agricultura exercia sua principal atividade econômica, contribuindo para o abastecimento do mercado paulistano. Em 1937, era responsável por toda a produção de batata e marmelada da província, fornecendo também milho, farinha de mandioca, carne, madeira, areia e pedras da cantaria. Santo Amaro ampliou sua economia e consolidou-se no mercado agrícola e de construção civil. Neste momento o fluxo de dinheiro na capital passa a ser ampliado, o que mudou a estrutura de mobilidade como um todo. Linhas de bonde foram sendo abertas ligando regiões periféricas ao centro. Com isso grandes áreas particulares passam a ser loteadas formando novos núcleos, e as várzeas dos rios passam a ser drenadas.
[24]
A primeira linha férrea movida a vapor da capital foi a Companhia Carris de Ferro de São Paulo, justamente ligando Santo Amaro à Capital, atraída pelos investimentos do engenheiro Alberto Kuhlman que não tardou a perceber a importância econômica do núcleo. A construção da linha férrea alteraria para sempre a dinâmica Santamarense que passou a ser alvo de crescentes investimentos urbanos e imobiliários, repercutindo substancialmente em seu adensamento populacional (5470 hab em 1874 para 7773 hab em 1890), seguido obviamente de constantes pedidos de arruamento e doação de terras. Ação esta que acabou por unir a malha urbana de Santo Amaro a São Paulo em meados do séc. XX. O trono da Carris monopolizou entre 1886 e 1900 o transporte de mercadorias de Santo Amaro para a Capital, mas foi rapidamente substituída pelo gigante que se instalaria na Capital em 1889 e mudaria não só os meios de transporte como toda a paisagem Paulistana, a Light.
_DEPOIS DA LIGHT
5
(CARVALHO, 2003, p. 17).
A presença da Light e da São Paulo Gás Ltda. remete à expansão imperialista das potências europeias e dos Estados Unidos, que garantiam a atuação de seus grupos empresariais pelo mundo afora. A Tramway, Light and Power Cia. Ltda. era uma empresa de capital misto canadense-anglo-americano, criada em Ontário, Canadá, e autorizada a funcionar no Brasil por um decreto do [25]
presidente Campos Sales em 17 de junho de 1899.5 Seu funcionamento permitiria a produção e distribuição de energia elétrica em São Paulo e Rio de Janeiro, além dos serviços de iluminação e transportes. Em 1901 foi inaugurada a Usina Hidrelétrica de Santana do Parnaíba a primeira da empresa no país. Com sua entrada todas as antigas concessões feitas para exploração de serviços de iluminação pública a gás, abastecimento de água, rede de esgoto e linhas férreas de bonde à tração animal ou vapor foram sendo absorvidas e compradas pela Light que em pouco tempo monopolizou os serviços públicos na cidade. Com o aumento da demanda por energia logo foi necessário aumentar a capacidade de produção da Usina. Para tal, foram instaladas novas turbinas, que logo exigiram um controle de vazão do Tietê, que deveria suprir a nova demanda de forma regular o ano todo. Foi então que a Light escolheu o Rio Guarapiranga, em Santo Amaro, para ser represado formando um grande lago artificial. Suas águas em período de estiagem seriam descarregadas no Rio Pinheiros que corre em direção ao Tietê, até finalmente alimentar as turbinas de Parnaíba. O local foi escolhido após uma análise de fatores técnicos como tipo de solo, e pluviosidade e econômicos a exemplo do valor de desapropriações - território rural, ainda sem grandes ações [26]
de urbanidade-, e transporte – pré-existência de sua aquisição recente, a Carris de Ferro, cuja extensão de um pequeno trecho até o local das obras permitiria fácil acesso de material e trabalhadores. A Light iniciou em 1906 as obras de represamento, empregando centenas de trabalhadores no primeiro processo de hidromecanização do Brasil. E encerrou em 1909, conseguindo um reservatório de acúmulo de aproximadamente 200 milhões m³ sobre uma extensão de terras antes ocupadas por pequenos sitiantes e chacareiros.
_OS MUNÍCIPES E O LAGO Olhando sobre esta ótica é onde mora nosso primeiro grande tópico de análise. Pois as desapropriações foram feitas sobre protestos dos proprietários que se sentiam ameaçados e lesados pela Light, não aprovavam a execução de uma obra de tão grande porte, jamais vista no cenário rural predominante na região até o momento, ainda mais sobre o custo de suas próprias desapropriações. “Nesse mundo caipira de Santo Amaro, com seus interesses, costumes e sistemas de poder, muitos viam com desconfiança a transferência compulsória de uma parte do município para o controle da Light, ainda mais para que se construísse uma represa que parecia não trazer nenhum benefício direto para a maioria dos moradores do lugar. Uma transformação tão radical da paisagem da região, com o surgimento repentino de um [27]
grande lago em uma época e lugar ainda pouco acostumado a essas grandes intervenções no mundo natural, não era de forma alguma algo fácil de assimilar.” 6 Houve inúmeros problemas desde o valor proposto pela Light para a desapropriação dos lotes, temores quanto a inundações e se aquela água parada faria mal á população. Tudo isso em um período que assombrava até aos mais instruídos qualquer ideia de mazela ou doença. O poder local nada conseguia deter mediante aprovações que iam sendo concedidas à Light diretamente pela Câmara dos deputados. Em um que a própria lei dizia, Estados e municípios organizaram-se e mantêm-se autônomos, só cedendo das suas prerrogativas quando se trata do interesse geral. [...]7.
E todos sabiam que não era de interesse geral, pois a maior parte da produção energética seria usada na capital. Aos munícipes apenas visíveis perdas, “Incontestável era o fato de que a represa, uma vez cheia, alagaria inúmeros caminhos. E ninguém imaginava aonde seriam construídos os novos e em benefício de quem. Mas talvez o assunto mais conflituoso fosse o referente à compra ou desapropriação das terras necessárias a execução da obra, pois envolvia retiradas de pessoas e indenizações. Alegava-se ainda que a prefeitura perderia a cobrança do imposto territorial de inúmeras propriedades que desapareceriam, o que deveria provocar, também, a queda da produção agrícola.”
8
[28]
6
(JORGE 1165).
Commercio de São Paulo, 8/12/1906. (extraído do texto de JORGE, pág 1169) 7
Trecho de extraído do texto de JORGE, pág 1168. 8
Uma das armas da Light para rapidamente encobrir seu interesse capitalista, foi explicitar o potencial recreativo da represa, junto ao quanto isto traria progresso, e desenvolvimento à região. Na face oculta, isso só indicava mais ainda seu interesse monopolizador, pois uma vez que a Light explorava transporte público e visse a vida recreativa da capital, existente até o então junto ao Tietê, migrar para o novo lago, esta mais uma vez só teria a ganhar. E este foi o “pagamento” que a Light logo tratou de conceder “A Companhia estabelecerá uma nova linha de bondes entre esta capital e o município vizinho, passando pela, Avenida Paulista e várzea de Santo Amaro - o que quer dizer que o trajeto ficará extraordinariamente reduzido. Além disto, a rapidez da marcha será muito maior que a comum. Com estas duas vantagens – menos espaço a percorrer e maior velocidade – a companhia conta fazer cada viagem em cerca de 20 minutos apenas!” Com tudo isto é lícito augurar a velha vila de Santo Amaro uma fase de franco desenvolvimento, pelo que tem esperado em vão há tantíssimo tempo.”9
São Paulo, 22/12/1905. (Trecho de extraído do texto de JORGE, pág 1166.) 9
Fazendo a população pensar em suas boas intenções já que tudo isso, que já estava previsto em seus planos, vinha ao encontro das insistentes solicitações dos munícipes que pediam além da substituição da carris que ligava Santo Amaro á Vila Mariana por uma linha de bondes mais rápida e barata, o fornecimento de iluminação pública pôr lâmpadas tudo dentro do prazo de um ano. Mas na verdade só ocorreu de fato em 1913. [29]
_TRANSFORMAÇÕES DO USO E DA PAISAGEM A cidade de São Paulo, ao inicio dos anos dos Novecentos passa por diversas mudanças principalmente no que diz respeito ao uso do solo devido às intervenções urbanas sofridas na cidade, a transformação dos transportes e práticas da população. No caso de Santo Amaro, a construção da nova linha férrea acaba por estimular as visitas ao bairro por aqueles que procuravam ar puro. A construção da represa demonstrou rapidamente um grande potencial recreativo, o que ajudou a delimitar as formas de ocupação e atividades econômicas da região.
[30]
A Light rapidamente tratou de promover essa campanha à função recreativa do grande lago, e em 1913 inaugura o primeiro bonde elétrico de São Paulo que ligava a Praça da Sé ao município de Santo Amaro. Em 1924 enquanto passava por sua grande primeira crise de energia, com uma estiagem que provocou uma perda de 30% de seu volume de água, e cortes de até 70% na oferta de energia, pressionada pela considerável mudança na produção industrial, a Light pôs em prática um novo plano grandioso: a retificação e reversão do Rio Pinheiros, a retificação do Rio Jurubatuba e construção de uma represa que alimentaria do alto da Serra do Mar as usinas de Cubatão. Em 1926 entra em funcionamento a Usina de Cubatão, alimentada pela Represa Billings, aumentando em 28000kW a produção de energia da Light. Em 1925 em pronunciamento do senador Carlos Botelho, foi sugerida pela primeira vez uma nova função às águas do Guarapiranga, a do abastecimento de água, devido ao seu estado de preservação e proximidade da capital. Somando-se os fatores postos em 1926 a Bacia do Guarapiranga passa a integrar o “Projeto da Serra” deixando de ser um reservatório regulador do Tietê. 12 | Retrato de uma das construções juntoàs margens da água que serviam de apoio às atividades mas também como mirante.
Em 1928 a RAE- Repartição de Águas e Esgoto, solicitou à Light a adução do reservatório, o consentimento quase imediato da Light veio seguido ao inicio das obras da adutora. Em 1929 é [31]
inaugurado o segundo maior sistema de produção de água da capital. O Sistema de Abastecimento do Guarapiranga só perdia para o Sistema Cantareira. Como política para proteção de mananciais, a RAE determinava desapropriação de terras da bacia de contribuição dos reservatórios. Prática que ocorreu na região da Cantareira, do Ribeirão do Ipiranga e do Rio Cotia, onde foram implantados sistemas de captação de águas para consumo. Estratégia esta que não aconteceu no caso do sistema Guarapiranga, pois como o reservatório era de propriedade da Light e construídos para fins energéticos, a empresa comprou apenas os terrenos a serem inundados, e para a aprovação do Projeto da Serra ela se comprometeu a manter o reservatório em condições de saneamento enquanto as águas abastecessem a capital. A crescente demanda por água potável obrigou a implantação de técnicas como cloração já a partir de 1926, o que parecia garantir o abastecimento de água dos paulistanos. Sem ainda sofrer as consequências da urbanização nem a Light nem a RAE previram medidas à prevenção de problemas futuros decorrentes à ocupação de mananciais. Em 1932, uma ação do poder municipal, previu legislações que definiam o uso do solo, proibindo criação industrial de gado suíno num perímetro menor que 3 quilômetros, e a instalação de quaisquer indústria que comprometesse as condições sanitárias [32]
do local. No fundo toda a preocupação era em proteger o estado sanitário de um bairro aprazível, e incrementar o seu progresso, do qual muito poderia vir a lucrar a coletividade.10 Enfim em 1935 Santo Amaro perde sua autonomia municipal e por meio de um Decreto Estadual nº 6983 é anexado à cidade de São Paulo. Tornando-se um bairro da zona sul da capital. Em carta a ação é justificada sobre o argumento do potencial recreativo do Município de Santo Amaro, e o quanto o estado estaria disposto a auxiliar o bairro com suas finanças – a exemplo da declaração que extinguiu quaisquer responsabilidades com o Tesouro do Estado- e investir na região com a construção de hotéis, estabelecimentos balneários, como também já havia destinado verba para melhoria de estradas de rodagem, facilitando-lhe todos os meios de comunicação rápida com o centro urbano. Fica fácil perceber a grande brecha que se abriu para o início da ocupação de mananciais: a construção da represa valorizou o preço da terra, e também atraiu a mão de obra para a construção do lago. Essa borda d’água acaba sendo uma saída inevitável por se tratar de uma área frágil, de possível apropriação e de baixíssimo ou nenhum custo uma vez que não seria permitida a produção rural nem a prática industrial. 10
Santo Amaro tornou-se alvo de investimentos imobiliários – principalmente voltado à burguesia paulistana- tanto por sua grande quantidade de terras disponíveis, quanto por sua novíssima paisagem da represa e atrativos recreativos.
[33]
[34]
_O PROJETO URBANO DE INTERLAGOS Nasce em 1925, S/A Derrom-Sanson empresa que por iniciativa de Louis Romero Sanson – engenheiro canadense- se tornou principal acionista da Companhia de Auto- Estradas que elaborou um plano grandioso de construir uma estrada de concreto ligado São Paulo a Santo Amaro, idéia que trouxe consigo um grandioso e lucrativo objetivo o “Projeto Interlagos”. Este projeto incluía as Avenidas Washington Luís e Interlagos, o Aeroporto de congonhas e a “Cidade satélite de Interlagos”, que teria além de áreas residenciais, comerciais e industriais, o projeto inédito de um autódromo, e de uma praia urbana com um grande hotel. A Companhia comprou muitas glebas de terras com os proprietários sob o argumento do ganho da estrada de rodagem aos pés de seus lotes. Assim seu patrimônio se viu crescer e valorizar com a implantação de suas próprias obras.
13 | Mapa do projeto de interlagos publicado pela Folha da Manhã em 1949
Em 1929 é inaugurada a estrada ainda inacabada, mas com grande campanha no intuito de alavancar o interesse imobiliário do bairro. Foi implantada uma linha de auto-ônibus para facilitar o acesso à região por ser ainda uma parcela bem pequena da população a possuir automóvel. Em 1930 aceleraram-se as obras do Aeroporto que, naquele [35]
[36]
14 | Foto Av. Washington Luis - Concretagem do trecho em direção á Santo Amaro 15 | Mapa do projeto de vias para acesso entre a capital e Interlagos publicado em 1940. 16 | Foto do circuito recém inaugurado. 17 | Planta para projeto do circuito de Interlagos. Publicada em 1940. 18 | Fotografia do evento de inauguração da ponte que ligaria Santo Amaro à Interlagos por, sobre o Rio. 19 | Projeto para nova ponte pencil, publicação de 1941.
momento, constituía um ícone da modernidade. Em 1938 este já operava seus primeiros voos. Época em que se iniciavam as obras de urbanização de Interlagos, um projeto de 4 milhões de m², que previa além da subdivisão e comercialização de lotes, infraestrutura urbana, como água, luz elétrica, calçamento, amplas avenidas, aliada à paisagem da represa, com praia, bosques, clima saudável e a possibilidade de lazer e esportes náuticos, oferecidos pelos vários clubes que lá se instalaram. “A paisagem e função balneária seriam reforçadas com a construção de uma praia artificial, com areia branca vinda de Santos,” (...) “cobrindo uma extensão de mais de um quilometro as margens da represa.”11
Em 1939, iniciam se as obras do Autódromo e da Avenida que ligaria diretamente São Paulo à cidade satélite. Em 1940 o autódromo é inaugurado, ainda inacabado, mas como ferramenta para simbolizar não só a modernidade do projeto, mas também alavancar os negócios da Companhia de Auto-Estradas que ainda não conseguia a essa altura viabilizar a construção do balneário de Interlagos. A fim de levantar recursos a Companhia vendeu o Autódromo para a comissão organizadora de festejos do VI centenário, que em 1951 o nomeou como de utilidade pública.
11
CARVALHO. PÁG 51
Em 1943 é inaugurada mais uma grande obra, uma moderna [37]
[38]
ponta de concreto que ajudaria a transpor o canal do Jurubatuba. Em 1940 São Paulo verá crescer significativamente sua população, incentivada principalmente pela oferta de emprego oferecida pela considerável concentração de indústrias. Sem condições econômicas de habitar as áreas mais nobres da cidade, este grande contingente inicia uma verdadeira migração para as áreas mais distantes e de valor mais acessível. Neste sentido o primeiro bairro a ser construído em Interlagos foi a Cidade Dutra, a partir de um conjunto de 150 casas populares destinadas à trabalhadores da Light, CMTC, a Cia de Gás e ferroviários, obra da Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Funcionários em Serviços Públicos em São Paulo. As 2500 residências construídas no total trouxe uma enorme explosão demográfica á região que em vinte anos receberia cerca de 30 mil habitantes.
20 | Ilustração mostrando o Grande Hotel Interlagos projeto que nunca chegou a ser concluído.
Vendo crescer, com o número de habitantes, a demanda por serviços diversos, e ainda explorando o potencial de recreio que a S/A Auto Estradas iniciou seu projeto mais ousado, o Grande Hotel Interlagos. Obra esta que contava promessas de investimento do então governador Lucas Nogueira Garcez para cobertura de 80% dos custos foi paralisada ainda no segundo andar, pois não foi cumprido o compromisso estadual, e em 1960 o Hotel Interlagos passa a ser controlado pela Santa Paula Melhoramentos S/A, que após algumas adaptações inaugura o Iate Clube Santa Paula. [39]
_CIDADE SATÉLITE DE INTERLAGOS PROCESSO DE OCUPAÇÃO Como já vimos, ocupação dos subúrbios da zona sul iniciouse nos anos 40. Na década de 60, a implantação das vias marginais, ao lado do recém-canalizado Rio Pinheiros, reforçou ainda mais este direcionamento da expansão urbana neste sentido e a consolidação do parque industrial. É neste momento [40]
21|Planta [sem escala] do projeto de Implantação dos lotes da City. Atenção para o traçado limitado apenas à margem nordeste contida entre o Autódromo e a Represa.
que veem se ocupar já na década de 70 as regiões que viriam a ser definidas como áreas de proteção ambiental, com a consolidação de loteamentos clandestinos. A construção do reservatório Billings também pela Light e as obras do Rio Pinheiros, alteraram pela segunda vez as características da região. Novamente uma grande obra civil irá proporcionar novos atributos para o aproveitamento das áreas remanescentes não urbanizadas desta região. Foi então que o então balneário ganhou o nome sugerido por Alfred Agache urbanista suíço que viu semelhança entre o bairro que estava a se formar e a região Interlaken na Suíça. Interlagos (entre a Guarapiraga e a Billings) viria a ser o carro forte da campanha publicitária de ocupação da região. Há quem acredite que o projeto urbano foi de ordenação de Agache, mas as decisões eram todas vindas de Romero Sanson, que em 1937, iniciou gestões para compra de grandes glebas situadas na suave colina voltada para o reservatório da Guarapiranga. A atuação de Sanson foi determinante para que se conseguisse empreender tamanho projeto, reconfigurando definitivamente a paisagem a partir das presenças dos lagos do Guarapiranga e Billings, e planejando sempre a partir de alianças com automóveis e vias de acesso. [41]
“A área residencial chamada “primeira secção de Interlagos” contou com uma área de 1.510.584,322 m² dos quais 65,73% foram destinados à divisão de lotes reunidos em 77 quadras; 7,81% a praças e jardins; 26,46% a ruas e avenidas, além dos dois grandes lotes para o futuro hotel da praia e para a igreja. Esta primeira parte estava destinada, conforme o memorial do loteamento, às residências finas, que ocupavam lotes cujas dimensões,
em geral, não eram menores que 15 metros de frente e 40 de fundo. (...) O bairro residencial foi projetado com um traçado sinuoso de ruas e avenidas, adaptado à conformação das curvas de nível do terreno, de acordo com o ideário howardiano. Ao mesmo tempo, apresentaria recusos do urbanismo de tradição barroca, em que são explorados eixos, perspectivas e visuais em foco de atenção em edifícios de maior importância”.12
A cidade satélite, no entanto, não chegou a se concretizar como o planejado, pois à medida que foi envolvida pela expansão urbana de São Paulo, viu seus objetos de atração perder rapidamente força. A vinda de uma população crescente inicia o processo de informalidade e determinam a mudança daquilo que anteriormente possuía contornos tão nítidos. A primeira região a ser diretamente afetada são as áreas ainda pouco urbanizadas [42]
12
CARVALHO. PÁG 57
22 | Vista Aérea do Laguinho da City de Interlagos. Ao centro o Parque Jacques Consteau. Este trecho demonstra como a cultura do medo somada a uma vocação cultural de não integração social desvia áreas e equipamentos que poderiam agir como referenciais e protetores de um determinado espaço. 13
próximas à represa que recebem suas primeiras edificações a partir de 1950, estas, fruto de uma produção não tão cuidadosas quanto as anteriores, iniciam o processo de degradação da área. A ocupação dessas áreas impróprias como fundos de vale, várzeas e vertentes íngremes, promove quase que imediatamente um comprometimento da qualidade das águas, dos recursos naturais e causam umas reações principalmente a dos clubes que passam a se isolar cada vez mais vindo a constituir verdadeiros enclaves.13 [43]
ESTAMOS TRABALHANDO EM UM LOCAL QUE VEGETAÇÃO NATURAL: 37% DA BACIA. ÁREA
180 SENDO, 18% DA POPULAÇÃO
COM
FAVELAS:
DA BACIA DO RESERVATÓRIO
ÁREA DA REPRESA: 2.600 HECTARES (4% DA ÁREA DA BACIA)
POPULAÇÃO RESIDENTE NA BACIA: 1 MILHÃO DE PESSOAS
Dados do PDPA – Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Recursos Hídricos Saneamento e Obras. UGP Programa Guarapiranga. PDPA..., v.2.p.7 Ajustados também a partir de dados recentes , coletados direto do corpo de textos. [44]
LOTEAMENTOS
CLANDESTINOS:
APROX. 200 PROCESSOS JURÍDICOS, O QUE CORRESPONDE A 240 MIL PESSOAS, OU 40% DA OCUPAÇÃO DA BACIA.
CONVIVE COM OS [IN]PRESSIONANTES DADOS POPULAÇÃO ABASTECIDA PELA
REPRESA:
3,8
MILHÕES
PODE-SE
DIZER
40%
APROXIMADAMENTE
QUE
DO
SOLO DA BACIA FOI OCUPADO POR UM TIPO DE URBANIZAÇÃO
MUNICÍPIOS PARCIALMENTE INSERIDOS NA ÁREA DA BACIA: COTIA, EMBU, JUQUITIBA, SÃO LOURENÇO DA SERRA E SÃO PAULO.
URBANA: 17% DA BACIA ÁREA
ÁREA OCUPADA POR ATIVIDADES ÁREA DA HIDROGRÁFICA
BACIA DA [45]
RELAÇÃO ENTRE MARGENS _A PRIMEIRA LEITURA DA INTENÇÃO PROJETUAL Até agora falamos sobre como foi planejado e organizado o processo de ocupação da margem nordeste. Portanto fica claro que o lado oposto se tornou uma área vulnerável à ocupação densa, descontínua e sem diretrizes precisas, onde prevalecem ocupações inadequadas e predatórias ao meio físico. São nas bordas do cristalino (sudoeste da Bacia) onde predominam as ruas estreitas pouco adequadas ao terreno com pouca ou nenhuma infraestrutura. De modo geral não existem vias que permitam o acesso de automóveis ambulâncias, coleta de lixo, etc. Portanto o lançamento de esgoto e resíduos geram situações de extremo risco à população que vê sua saúde ameaçada diariamente. Além dos riscos naturais quanto a deslizamentos e inundações presentes em seu cotidiano. Analisando estes dados pode parecer óbvia uma eleição do lote para implantação do programa Cultural ser na margem “doente” da Bacia. Porém foi todo um histórico e não só o fato isolado que justificaram a escolha. O lote escolhido está exatamente em frente à uma das frações
[46]
mais preservadas, bonitas e rica em margem em frente às águas, Está fechado, no entanto, a ambas as populações, seja a classe média e média alta vizinha ao patrimônio, seja as centenas de comunidades na margem oposta. O lote foi claramente estabelecido na Margem “estruturada” por poder ser um instrumento convidativo. Por sua facilidade de acesso via transporte público, não só à população da outra margem, como à favela da Vila da Paz vizinha ao autódromo de Interlagos. Assim como toda uma população que mesmo podendo ser de classe econômica mais abastada, pelo simples fato de morar em uma das regiões de São Paulo menos favorecida de transporte rápido, e mais longe do Centro de São Paulo, se sente órfã de bons equipamentos de cultura abertos ao público. É esta mesma distância que separa a população dos grandes equipamentos que distancia o olhar do interesse público de investir na bacia. E sobre o argumento da preservação vão se criando sucessivas barreiras à parcela da população que ainda insiste em conviver com a àgua. Um bom exemplo é o acesso da Praia do Sol, vizinha ao corpo de bombeiros. seus portões tem hora para abrir e fechar, e o mais absurdo é que estes não estão alinhados ao passeio, mas embutidos por trás dos equipamentos junto à agua como restaurantes e bares. o que se trata, claramente de um instrumento de contenção, não só [47]
da população com a àgua, como também do público, hoje em sua grande maioria pessoas de renda mais baixa que busca na represa uma opção de lazer gratuita e para todos os todas as faixas etárias, da população residente, de classe elevada, que circula pelo bairro apenas de transporte indivídual, pelo medo que sentem em conviver com outros munícipes. Neste sentido urge a proposição de projetos públicos nessas áreas ociosas de tamanho potencial. Pois se avaliarmos o [48]
23 e 24| Vistas Aéreas do Grajaú bairro da zona Sul de São Paulo, e da City de Interlagos. E o contraste de cores entre o cinza das lajes de autocontrução e do verde predominante e piscinas.
contexto urbano, até onde manda o zoneamento, deveria-se estar propondo para o lote algum projeto residencial. Porém analisando que a própria rugosidade da topografia da margem sudoeste impede a consolidação de uma vida pública e contrariando esta lógica indisposta a solucionar qualquer problema de forma mais profunda, é que existe a proposta para o recrutamento de um grande lote em potencial na margem nordeste onde pode vir a ser sim, um estopim ao [re]conhecimento da várzea, não como uma paisagem a ser observada, mas também vivida. [49]
MUDANÇA DE CLASSE=MUDANÇA DE CENÁRIO (?) Fica, portanto claro à exposição do histórico recém-exposto, que a mudança de hábitos culturais, favoreceu o abandono das classes elevadas ao lago, e a proletarização e degradação da região, em principal de suas praias, foi fator providencial ao surgimento de tamanhas cicatrizes à reputação local como opção de lazer e até mesmo de moradia, antes tão bem estimada. Cabe aqui uma questão bastante pertinente a qualquer um que vislumbre o estudo urbano: Como propor projetos de estruturação recém chegados, sem chocar a comunidade local.? Como fazer um projeto em escala urbana se assentar em um lugar onde há anos reina uma postura de esquecimento, onde não se usou dos atributos do local para finais que atendessem a população em diferentes escalas e modos de convívio? Uma conclusão não inédita é de que todo projeto de grande escala ainda mais em áreas fragilizadas deve ocorrer por fase. Mas como ser algo natural e não impositivo? 25 | Cenário atual da represa em um dos poucos trechos acessíveis ao pedestre. Não se pode aproximar da água.
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[51]
PARQUE ECOLÓGICO DO GUARAPIRANGA Situado à sudoeste da bacia e de gestão da Secretaria do Estado e Meio Ambiente – SMA, com 256 hectares de extensão, ocupa 7% dos 28 km no entorno da Represa do Guarapiranga. Criado com o objetivo de promover a proteção dos mananciais por meio do uso adequado do solo que, uma vez utilizado para educação ambiental e lazer, auxiliaria no equilíbrio do ecossistema local através da preservação da fauna e flora da região. Objeto de um concurso nacional de ideias promovido pelo IAB, desde seu projeto foi pensando para evitar o impacto ao meio [52]
ambiente. Como por exemplo, a construção de uma passarela que dá acesso aos seus principais edifícios, com 500 metros de extensão, e que é totalmente suspensa, para evitar impacto no solo, as janelas dos edifícios são grandes, para privilegiar o uso da luz solar, O parque abriga hoje: centro informativo e cultural, salas de exposições, auditório, biblioteca, além de possuir um viveiro de mudas, local para exposição de plantas, áreas de recreação e trilhas para passeios guiados.
26 | Vista Aérea do Parque Ecológico e a organização das atividades em frente às àguas.
27 | Fotografia da passarela suspensa que conecta todo o programa do parque sem interferir na vegetação nativa.
Sendo um Parque Ecológico do Guarapiranga, um lugar de visitação pública, possibilita, promove e institui o uso das margens da represa como área de lazer educativo para uma população. Oferece a esta população que, se instalou nas proximidades em sua grande maioria sem a infraestrutura necessária à manutenção das águas e equilíbrio da vida natural, uma opção de lazer, inserida porém, dentro de um cenário disciplinar, podendo auxiliar em sua qualidade de vida, bem como garantir uma iniciação na proteção do meio ambiente ao qual está inserida. [53]
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO _O TERRENO Localizado em frente à Av. Robert Kennedy, uma das principais vias articuladoras entre o extremo da zona sul e o centro de São Paulo, sua área de aproximadamente 5500 m², se encontra discreta diante de seu potencial, considerado seu uso atual não consolidado de “garagem” particular de barcos. Sua proximidade com o Iate Clube Santa Paula, ajudou na contemplação da escolha do lote, uma vez que, patrimônio arquitetônico a garagem de barcos do arquiteto Villa Novas Artigas, constitui-se de um local estratégico de redesenho da várzea de modo a exaltar e {re]descobrir sua identidade local e importância sócio – ambiental.
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[55]
_ ARQUITETURA BRUTALISTA ...AQUELE ABRAÇO “O edifício enquanto uma imagem unificada, clara e memorável; clara exibição de sua estrutura; alta valorização de materiais não tratados, crus (brutos). Superfícies limpas e virgens; volumes pesadamente corrugados, mas de simplicidade prismática; serviços expostos à vista; zonas de cor violenta. Brutalismo seria um gosto por objetos arquitetônicos auto-suficientes, agressivamente situados em seu entorno; seria uma afirmação energética da estrutura, a vingança da massa e da plasticidade
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28 | Fotografia do vão da garagem de barcos. Abre o visual para a represa. Arquitetira que não se impoe, se poe buscando diálogo respeitoso com entorno.
Renato Pedio, citado por Banham. Em: http://www. vitr uvius.com.br/revistas/ read/arquitextos/07.084/243 14
29 | Perspectiva do acesso do Centro Cultural, conectando eixos visuais a do esdifício com o vão da garagem a partir da proposta de um grande balanço.
sobre a estética das caixas de fósforos e caixas de sapato; deseja aproveitar (na base do estudo histórico, mas fora das categorias acadêmicas) as lições da arquitetura moderna, despojadas de suas licenças literárias. É um método de trabalho, mas não certamente uma receita para poesia. E se por um lado seu poder polêmico agora parece reduzir sua forte base moral, por outro lado, destila sua mais significativa essência na agora longa história da arquitetura moderna. Essa castidade moral, esses estândares rigorosos de conduta em face do mundo; essa coragem e espírito revolucionário podem trazer de volta o verdadeiro sentido da relação entre arquitetura e sociedade, atualmente obscurecido por um revivalismo nostálgico”.14
[57]
_PARTIDO Mesmo sua posição garantindo uma vista estratégica, seu térreo cortado por apenas 2 curvas de nível, instiga a vontade do arquiteto em dobrar e desdobrar o bloco, o que deu ao edifício 02 TÉRREOS, um ENTERRADO pela criação de uma GRANDE RAMPA e outro ELEVADO APOIADO às curvas de nível da rua de trás. Optando por fugir da forma prolongada sugerida pelas dimensões naturais do terreno, foi proposto um EIXO CENTRAL capaz de separar o volume contínuo, em dois núcleos de interesses distintos, e ao mesmo tempo unificá-lo ao convidar atividades e olhares ao VAZIO. Sua vontade, porém de ser um bloco monolítico foi mantida pela escolha do fechamento das 04 fachadas em chapa perfurada. No térreo foi escolhida a parede de vidro. Esta composição cria um equilíbrio harmônico entre o bloco robusto de chapa que APARENTANDO FLUTUAR se apoia gentilmente sobre a pele delicada do vidro. A escolha da chapa foi também proposital por poder auxiliar à intenção de urbanidade quando DE DIA o edifício SE CAMUFLA na paisagem, pois discreto encobre toda sua complexidade de atividades, programa e robusta estrutura, buscando assim não roubar atenção à bela situação natural da represa enquanto que DE NOITE o edifício se revela completamente bem como suas atividades e espacialidades. ABRE-SE, ILUMINA O ENTORNO E CONVIDA AO CONVÍVIO.
[58]
Foram inseridos elementos no projeto que não de uma maneira aleatória compuseram a linguagem projetual. Foram pensados diversos ELEMENTOS os quais, PRESENTES NA ARQUITETURA BRUTALISTA e na própria garagem de barcos do Artigas fazem menção a uma MEMÓRIA DO LOCAL, compondo sem deixar de ser um PROJETO CONTEMPORÂNEO usando de uma linguagem já buscada pelo Arquiteto referenciado.
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REFERENCIAIS
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ESTUDO 01 Nasce o vazio, os pisos, as passarelas, o gabarito, o pergolado, a rampa, o volume e o programa. Existia um pórtico em concreto para equilibrar o volume e remeter à linguagem brutalista, mas logo é retirado para propor-se algo mais contemporâneo.
[62]
ESTUDO 02 Definiram-se formas, cores, materialidades. Programa já dimensionado aos pisos e imposição do balanço como linguagem arquitetônica predominate, ainda sem estudos estruturais.
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MATERIAL APRESENTADO À BANCA DE
TFG [1]
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MATERIAL APRESENTADO À BANCA DE
TFG [2]
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IMAGEM 03 | EDIFÍCIO VISTO A PARTIR DA GARAGEM DE BARCOS
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IMAGEM 01 | VISTA VÃO A PARTIR DA CIRCULAÇÃO DO 2 PISO.
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IMAGEM 02 | VISTA Vテグ A PARTIR DO ACESSO AO 1 SUBSOLO.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS O Brasil, hoje se encontra no cenário mundial como referencia em desenvolvimento, neste sentido a economia naturalmente se volta bem como ao mercado de produção, ao mercado da construção. Grandes empreendimentos, grandes construções grandes investimentos. Observando atentamente nossa história pode se fazer a seguinte pergunta:”Para quem?”.
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Existe mediante uma cultura do consumo um grande solo carente de cultura pura, àquela mesma que anda de mãos dadas com a educação e que seguramente juntas podem alterar uma história futura para qualquer direção. A margem da água, esse patrimônio tão rico e tão nosso, nunca teve voz neste cenário da construção. Desde nosso Tamanduateí querido que foi o primeiro falecido a ser “enterrado” abrindo passagem à uma sequencia de alterações que colocariam sempre a água em segundo lugar em nossa paisagem. Ironia de nossa história, ou não, enquanto o centro de São Paulo construía o progresso rodoviarista e sanitarista o extremo sul de São Paulo, mesmo à custos perversos de quem o fazia, ganhava uma das mais belas paisagens paulistanas e à experiência das águas. Hoje esta paisagem esquecida, claramente por sua distancia do coração financeiro e “infraestruturado” da cidade, continua sendo mãe das águas que abastecem mais de 3 milhões de paulistanos, e clama por atenção e adequações. Entende-se neste contexto o equipamento cultural como um instrumento potencial para a reativação de uma dinâmica hoje ”intra-muros”, e porque não dizer uma responsabilidade do arquiteto que busca desenvolver o olhar atento desta população indiferente e que não se responsabiliza muitas vezes nem ao menos se interessa pelo futuro deste patrimônio inestimável que é a Represa do Guarapiranga.
[90]
A introdução, na margem nobre de um equipamento público, além de propor uma relação respeitosa de convívio inédito entre margens, surge como um instrumento capaz de promover a busca deste [re]conhecimento, o conhecer de fato, o despertar de um interesse comum e um resgate de seu potencal recreativo de modo acessível e saudável a todos, principalmente para ela: A ÁGUA.
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REFERENCIAS Livros JACOBS, Jane - Morte e vida de grandes cidades, Martins Fontes, SP, 2000 FERREIRA, João Sette Whitaker. Produzir casas ou construir cidades? Desafios para um novo Brasil Urbano, 1ed. São Paulo: Editora Fupam, 2012 HOLNIK, Raquel – A Cidade e a Lei: Legalização Política Urbana e Territórios na Cidade de São Paulo. São Paulo, Studio Nobel: Fapesp, 1999 - <Coleção Cidade Aberta>. ARANTES, Otília; CARLOS, Vainer; MARICATO, Ermínia – Cidade do Pensamento Único: Desmachando Consensos, 6ed.. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2011. Guarapiranga: recuperação urbana e ambiental no município de São Paulo. Coodenação de Elisabete França – São Paulo: M Carrilho Arquitetos, 2000. 256 SOUZA, Valmir.Cultura e literatura: diálogos, Ed. do Autor/Funcultura, 2008
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http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=1525 -acessado em 11.03.2013 http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=36 acessado em 11.03.2013 http://www.polis.org.br/polisdigital/?p=555, acessado em 01.10.13
Imagens 1.2.12 - site http://fotoshistoricas.com.br 3.4.10.25.28 - acerto pessoal 5.6 - mapas acervo CONPRESP 7.8.9 - xt arquitetos 11.14.18.20.21 - livro Guarapiranga 13.15.16.17.19 - http://blogdogiesbrecht.blogspot.com.br 22.23.24-skyscraper FLAG 27 - acervo banco de imagens do Governo do Estado de S達o Paulo 26 - flickr Macapuna 29 - flickr Jrcardoso
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Prefeitura do Município de São Paulo Secretaria Municipal de Cultura Departamento do Patrimônio Histórico Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo
Resolução no. 18/2004 Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – CONPRESP, no uso de suas atribuições legais e nos termos da Lei n° 10.032 de 27 de Dezembro de 1985, com as alterações introduzidas pela Lei n° 10.236 de 16 de Dezembro de 1986, de acordo com a decisão unânime dos Conselheiros presentes à 329º Reunião Ordinária realizada em 23 de novembro de 2004. Considerando que o conjunto urbano constituído pelo Bairro de Interlagos apresenta inestimável valor ambiental, paisagístico, histórico e turístico ; Considerando o padrão de ocupação dos lotes, do qual decorre significativa densidade arbórea e alta porcentagem de solos permeáveis capazes de garantir climas urbanos mais amenos para a Cidade como um todo ; Considerando que o Bairro de Interlagos é inerente à Represa Guarapiranga igualmente de inestimável valor ambiental, paisagístico, histórico e turístico; RESOLVE : Artigo 1° - TOMBAR área do BAIRRO DE INTERLAGOS, contida no polígono obtido a partir da intersecção dos eixos das vias abaixo relacionadas : Inicia na confluência da Rua Nicolau Alayon com Avenida Interlagos, segue pela Rua Nicolau Alayon, Avenida Robert Kennedy, Rua Joaquim Teles de Mattos, Rua João Carlos de Almeida, Rua Jayme Waldemir de Medeiros, Avenida Antônio Barbosa da Silva Sandoval, Avenida Rio Bonito, Avenida Interlagos, até o ponto inicial.
:
Artigo 2° - O tombamento incide sobre os seguintes elementos constitutivos desse espaço urbano · ·
O atual traçado urbano representado pelos logradouros públicos; A vegetação de porte arbóreo e os ajardinamentos públicos e particulares que assim definem e preservam a área permeável dentro do perímetro do tombamento.
Artigo 3° - Fica estabelecido o seguinte conjunto de normas, consideradas indispensáveis para garantir um caráter flexível e adequado à proteção do bem tombado : I. Todos os projetos de construção ou reforma, assim como os pedidos de demolição ou de regularização, serão regidos pelas normas da presente Resolução e pela Legislação Municipal pertinente, observadas especialmente as restrições contratuais, de acordo com o Artigo 39 da Lei n° 8.001/73, com a nova redação conferida pela Lei n° 9.846/85. II. Em todos os projetos de construção ou reforma o gabarito máximo permitido para quaisquer edificações, equipamentos, anúncios ou obras complementares é de 10.00 (dez) metros a partir do nível mediano da(s) guia(s) na(s) testada(s) do lote. III. Em todos os projetos de construção ou reforma, sem prejuízo dos demais índices exigidos pela legislação de uso e ocupação do solo, os recuos mínimos exigidos são : a) de 5,00 (cinco) metros de frente e 1,50 (um e meio) metros de um dos lados para todas as edificações residenciais e para as edificações não residenciais com área construída total igual ou inferior a 250,00 (duzentos e cinqüenta) metros quadrados. b) de 6,00 (seis) metros de frente, 6,00 (seis) metros de fundos e 3,00 (três) metros de um dos lados para edificações não residenciais com área construída total superior a 250,00 (duzentos e cinqüenta) metros quadrados.
IV. Objetivando-se preservar parte da transparência original da área objeto desta Resolução, no caso de muros totalmente vedados com altura superior a 2,00 (dois) metros, nos alinhamentos de lotes com mais de 14,00 (catorze) metros de frente, deverão ser previstas interrupções de 1,00 (um) metro a cada 7,00 (sete) metros ou fração, que poderão receber gradis ou elementos vazados, tela, cerca viva ou similar.
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V. Serão permitidos desdobros ou subdivisão de lotes na área do presente tombamento, desde que a área do lote que se pretende desdobrar ou subdividir seja maior ou igual a 900,00 (novecentos) metros quadrados e o(s) lote(s) resultante(s) tenha(m) no mínimo 12,00 (doze) metros de frente e no mínimo 300,00 (trezentos) metros quadrados.
IV. Objetivando-se preservar parte da transparência original da área objeto desta Resolução, no caso de muros totalmente vedados com altura superior a 2,00 (dois) metros, nos alinhamentos de lotes com mais de 14,00 (catorze) metros de frente, deverão ser previstas interrupções de 1,00 (um) metro a cada 7,00 (sete) metros ou fração, que poderão receber gradis ou elementos vazados, tela, cerca viva ou similar. V. Serão permitidos desdobros ou subdivisão de lotes na área do presente tombamento, desde que a área do lote que se pretende desdobrar ou subdividir seja maior ou igual a 900,00 (novecentos) metros quadrados e o(s) lote(s) resultante(s) tenha(m) no mínimo 12,00 (doze) metros de frente e no mínimo 300,00 (trezentos) metros quadrados. VI. Em todos os projetos de construção ou reforma assim como nos pedidos de regularização em lotes com testada mínima de 7,00 (sete) metros deverá ser exigida pelo menos uma árvore no passeio fronteiriço ao imóvel, objetivando-se a preservação ou a restauração da massa arbórea característica também dos logradouros públicos. VII. Em todos os projetos de construção ou reforma, assim como nos pedidos de regularização ou de demolição, deverá ser preservada a arborização existente. a) Todos os elementos arbóreos, devidamente identificados, assim como as áreas permeáveis do lote e da calçada fronteiriça, deverão constar das peças gráficas. VIII. Nos projetos de construção ou de reforma deverão ser destinados no mínimo 30% (trinta por cento) da área do lote para área permeável com ajardinamento de alta densidade arbórea, incluídos nesse total no mínimo 1/5 (um quinto) da área do recuo frontal. ·
Não serão computadas nesses cálculos as superfícies sobre lajes.
·
A área permeável ajardinada de que trata este item deverá conter ao menos 1 (uma) árvore a cada 25,00 (vinte e cinco) metros quadrados ou fração.
·
Um quadro demonstrativo com o cálculo das áreas permeáveis ajardinadas deverá constar das peças gráficas.
IX. Em caráter excepcional, com posterior aprovação do órgão municipal competente, o DPH e o CONPRESP poderão admitir o transplante de árvores, desde que justificado por memorial descritivo, assinado por responsável técnico habilitado. X. A substituição dos elementos arbóreos, no final do ciclo vital ou em conseqüência de ataque de agentes fitopatogênicos, deverá ser feita resguardando-se a diversidade biológica das espécies existentes, com aprovação do órgão municipal competente. XI. A guia rebaixada deverá se limitar a 50% (cinqüenta por cento) da testada do lote, admitida uma extensão máxima de 5.50 (cinco metros e meio) para lotes com testada inferior a 11,00 (onze) metros. ·
A guia rebaixada deverá constar das peças gráficas.
XII. As reformas internas e os serviços de manutenção nas edificações ficam isentas de análise e aprovação, nos termos desta Resolução. XIII. Para a instalação de anúncios, de mobiliário e para execução de obras complementares deverá ser respeitada a legislação municipal específica. XIV. Para a análise dos projetos de construção ou reforma, assim como para os pedidos de regularização ou demolição, deverá ser apresentado levantamento fotográfico de toda a área externa do imóvel, inclusive de sua calçada fronteiriça, em que se identifique com clareza toda a vegetação existente e a guia rebaixada. Artigo 4° - Não serão permitidas alterações no traçado do sistema viário, bem como nas larguras das calçadas, sem prévia análise do DPH e deliberação do CONPRESP. Artigo 5° - Não incidirão sobre a área quaisquer operações urbanísticas (operações urbanas, operações interligadas ou outras de mesma natureza) na área do tombamento, sem prévia análise do DPH e deliberação do CONPRESP. Artigo 6° - Serão passíveis de regularização apenas as edificações que obedecerem na íntegra a presente Resolução. Parágrafo Único – Mesmo as pequenas intervenções para adaptar o imóvel às exigências desta Resolução, inclusive plantio de árvores – mesmo na calçada ou correção de guia rebaixada, deverão ser comprovadas antes da emissão do Auto de Regularização. Artigo 7° - Ficam responsáveis a Secretaria Municipal das Subprefeituras – SMSP e a Secretaria da Habitação e Desenvolvimento Urbano – SEHAB, com relação às suas respectivas competências, pela aplicação da presente Resolução, ressalvando o disposto no Item 9 do Artigo 3° e no Artigo 4°. Artigo 8° - O CONPRESP e/ou o DPH poderão a qualquer tempo e sempre que julgar necessário, avocar os processos referentes aos imóveis inseridos no perímetro descrito no Artigo 2°. Artigo 9° - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial do Município de São Paulo revogadas as disposições em contrário. Em 23 de novembro de 2004.
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PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA CONPRESP - Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo
RESOLUÇÃO Nº 03/CONPRESP/2007 O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – CONPRESP, no uso de suas atribuições legais e nos termos da Lei n° 10.032 de 27 de Dezembro de 1985, com as alterações introduzidas pela Lei n° 10.236 de 16 de Dezembro de 1986, de acordo com a decisão unânime dos Conselheiros presentes à 397a Reunião Ordinária realizada em 27 de fevereiro de 2007, Considerando o valor histórico, ambiental e arquitetônico do conjunto de edifícios do antigo Santapaula Iateclube, localizado à Avenida Robert Kennedy n°s 4308 e 4900 e Avenida Berta Waitman n° 315, no Bairro de Interlagos; Considerando o valor histórico, ambiental e paisagístico do Bairro de Interlagos (tombado pela Resolução n° 18/CONPRESP/2004), onde o conjunto de edifícios do antigo Santapaula Iateclube está inserido; Considerando que o Bairro de Interlagos e o conjunto de edifícios do antigo Santapaula Iateclube integram-se à Represa Guarapiranga, de inegável valor ambiental, paisagístico, histórico e turístico; Considerando que o conjunto de edifícios do Antigo Santapaula Iateclube foi projetado para abrigar serviços ligados ao esporte e lazer; Considerando que o uso inerente a esse conjunto é indissociável da Represa Guarapiranga e configura-se reconhecido e identificado pela população; Considerando o potencial de utilização apresentado pelo conjunto de edifícios do antigo Santapaula Iateclube, cuja importância reporta-se à região e conseqüentemente à Cidade de São Paulo; Considerando que a Garagem de Barcos, que integra esse conjunto de edifícios, projetada pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, constitui uma das obras mais significativas da fase brutalista do Movimento Moderno em São Paulo; e Considerando o contido no PA nº 2000-0.101.744-2, RESOLVE : Artigo 1° - TOMBAR o conjunto arquitetônico do antigo Santapaula Iateclube, no Bairro de Interlagos, Subprefeitura de Capela do Socorro, a seguir identificado: a) Garagem de Barcos e respectiva rampa de acesso à Represa Guarapiranga, localizada à Avenida Robert Kennedy n°s 4308 e 4900
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(Setor 095, Quadra 027, Lote 0003), com Nível de Preservação 1 (NP1), contemplando a preservação integral de suas características arquitetônicas externas e internas, bem como de sua ambiência. b) Túnel de ligação entre a antiga Sede Social e a Garagem de Barcos, consistente em passagem subterrânea sob a Avenida Robert Kennedy, com Nível de Preservação 1 (NP-1), contemplando a preservação integral de suas características. c) Sede Social do antigo Santapaula Iateclube, localizada à Avenida Berta Waitman n° 315 (Setor 095, Quadra 089, Lote 0001), com Nível de Preservação 3 (NP-3), contemplando a preservação de sua arquitetura externa e ambiência do edifício. Artigo 2° - A revitalização e recuperação do conjunto tombado deverá respeitar o projeto original, bem como prever usos que se integrem ao valor ambiental da Represa Guarapiranga; Artigo 3° - Ficam definidos como espaço envoltório de proteção do conjunto dos bens tombados os seguintes imóveis: Setor 095 095
Quadra 025 026
095
027
Lote(s) 0001; 0002; 0007; 0010; 0015; 0017; 0018 e 0019. 0004; 0005; 0006; 0007; 0009; 0010; 0011; 0012; 0014; 0015 e 0016. 0004; 0005; 0008; 0009; 0010; 0012; 0013 (área reservada); 0014; 0015; espaço livre; 0018; 0020 e 0021.
Parágrafo Primeiro - Deverá ser obedecida para o espaço envoltório, definido no “caput” deste artigo, a legislação de preservação ambiental pertinente. Parágrafo Segundo - As áreas dessas quadras não sujeitas à legislação referida no Parágrafo Primeiro deste artigo deverão atender aos parâmetros da Resolução n° 18/CONPRESP/04, de tombamento de área do Bairro de Interlagos. Artigo 4° - Qualquer intervenção nas edificações tombadas e nos lotes definidos como espaço envoltório deverá ser previamente submetida à apreciação do Departamento do Patrimônio Histórico e deliberação do CONPRESP. Artigo 5° - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial do Município de São Paulo, revogadas as disposições em contrário. José Eduardo de Assis Lefèvre Presidente - CONPRESP
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