Artigo peixe ventosa rafaela fernandes

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N AT I O N A L G E O G R A P H I C . P T | A B R I L 2 0 1 3

NATIONAL GEOGRAPHIC PORTUGAL

PEIXE VENTOSA O HABITAT POR BAIXO DAS ROCHAS Fotografia:Rafaela Fernandes NATIONAL GEOGRAPHIC . ABRIL 2013

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O HABITAT POR BAIXO

DAS ROCHAS Lepadogaster Lepadogaster Fotografia:Rafaela Fernandes

Peixe jovenil (peixe que se encontra do lado esquerdo) e peixe-ventosa adulto (peixe que se encontra do lado direito) em cima de uma rocha.

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É

de manhã e o céu está carregado, ameaça chuva. As ruas estão vazias e as pessoas procuram o conforto dos seus lares. Contudo, para a bióloga marinha Ana Faria, as condições atmosféricas não a impedem de se por a caminho da praia de Alpertuche no Parque Marinho Luiz Saldanha, na Serra da Arrábida. A Serra da Arrábida é um lugar magnífico, conhecida por ser uma das poucas serras junto ao mar, já para não falar da sua incrível biodiversidade, da sua bela paisagem e das esplêndidas praias. Contém áreas protegidas que permitem a segurança de muitas espécies, algumas delas em risco de extinção. No início da Primavera os nevoeiros matinais são muito comuns na Arrábida e favorecem o crescimento das árvores devido ao elevado índice de humidade que é originado. Em 1976 a Serra da Arrábida foi classificada como reserva biogenética, e mais tarde foi criado o Parque Natural da Arrábida.A cordilheira da Arrábida tem cerca de 35km e dela fazem parte quatro serras incluindo a própria Serra da Arrábida, sendo elas a Serra do Risco, a Serra de São Luís e a Serra do Louro. O Parque Marinho Luiz Saldanha, criado em 1998, constitui a área marinha protegida inserida no Parque Natural, e estende-se ao longo da costa sul da Península de Setúbal, entre a praia da Figueirinha, na saída do estuário do Sado, e a praia da Foz, a norte do Cabo Espichel. É o primeiro Parque Marinho em Portugal continental, caracterizado por uma elevada biodiversidade, conhecendo-se cerca de 1350 espécies de fauna e flora marinhas. É um local que reune condições únicas para os investigadores e biólogos marinhos que pretendem estudar as comunidades que habitam os recifes rochosos, dadas as condições calmas que permitem a actividade de mergulho e a amostragem sobre a zona de recife. 4

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Vista geral da Serra da Arrábida

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A Praia de Alpertuche é considerada uma das melhores reservas biogeneticas em Portugal. Para proteção dos organismos vivos nesta área, apenas pessoas autorizadas podem entrar neste praia.

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A

praia de Alpertuche forma uma baía, virada para Sul, é um habitat de excelência para muitas espécies de recife. Esta praia tem características que fazem dela um lugar único e bastante concorrido pelas espécies de peixes de recife. Caracteriza-se por ter uma camada de rochas com pequenas e grandes dimensões que acolhem muitas espécies de algas e varias espécies animais, sendo o peixe ventosa uma dessas espécies. O acesso á praia é pouco visível, contudo não é permitido pescar, nem fazer caça submarina, afastando assim potenciais perigos para as espécies que ali habitam. Para chegar a praia tivemos que ir por um pequeno trilho envolvido por eucaliptos, e tantas outras espécies de majestosas árvores. Quando olhei em frente, atrás de alguns ramos descaídos, estava a praia, é incrível a forma como a floresta e a praia se juntam num só local formando assim uma perfeita harmonia.

Os pesixes-ventosa habitam por baixo das rochas, dessa forma podem proteger-se dos seus predadores. Quando a maré vaza eles conseguem manter-se humidos além disso existem pequenas possas de água o que permite encontrar alimento.

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O seu padrão permite-lhes confundir-se com o meio envolvente de forma a poderem passar despercebidos.

Uma após outra, as rochas são levantadas, enquanto a bióloga marinha Ana Faria procura pelo peixe ventosa (Lepadogaster Lepadogaster). O peixe esconde-se entre as rochas, ele tenta escapar tentando entrar para baixo de uma outra rocha, mas Ana Faria é mais rápida e consegue agarrá-lo mas quase que consegue escapar devido a sua pele húmida e escorregadia. Esta espécie habita emclimas temperados e tropicais em zonas litorais rochosas e preferencialmente em águas pouco profundas. 10

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Devido a possuírem adaptações comuns à maioria das espécies de peixes que vivem nestes locais, permite-lhes sobreviver às constantes alterações da zona intertidal. Os Lepadogaster Lepadogaster são uma espécie de peixes que não ultrapassam os 8 cm de comprimento. Devido ao seu corpo comprimido e a sua a cabeça alongada bastante articulada, permite-lhes não só habitar em pequenas fendas, como também proteger-se contra a turbulência das ondas e marés. As escamas estão ausentes nestes peixes em vez delas, estas espécies segregam um muco que as protege contra a abrasão. Lepadogaster Lepadogaster

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O Peixe-ventosa procura abrigo de forma a conseguir preteger-se dos seus predadores.

A ventosa é uma caracteristica fundamental na sobrevivência do peixe-ventosa. É com ela que o peixe-ventosa se agarra ás rochas quando a rebentação é demasiado forte evitando assim de ser arrastado.

Há no entanto uma característica muito particular, o peixe-ventosa, como o seu nome indica, tem uma ventosa que usa para se fixar as rochas. Esta ventosa concede uma força de tracção tão elevada, que muito dificilmente a rebentação das ondas consegue arranca-lo delas, esta é uma característica

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fundamental para a sobrevivência neste tipo de habitat. Na sua cabeça tem um par de tentáculos sensitivos, que se pensa poder ter um papel importante durante a reprodução. O processo de reprodução no Lepadogaster Lepadogaster inicia-se no mês de Abril e dura até ao mês de Julho.

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O peixe-ventosa macho encontra-se perto dos ovos pois com os seus movimentos transfere para os ovos quantidades de oxigénio necessárias para a sobrevivencia dos mesmos.

Pode dizer-se que é o macho que dá o primeiro passo na sua relação, começando com a escolha de um local abrigado por baixo de uma pedra ou numa fenda. Por volta desta altura os machos ficam com pigmentos, que se encontram no topo da sua cabeça (os ocelos),com um azul mais vivo. Logo após a escolha do local, dentro do seu território, as fêmeas são atraídas para a reprodução. Os ovos são depositados um a um, numa só camada, próximosdos outros. Uma vez postos os ovos os cuidados parentais são prestados pelo machoaté ao momento da sua eclosão. O macho terá que ter alguns cuidados, que

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envolvem retirar os ovos mortos, manter os que estão vivos em desenvolvimento limpos e livres de detritos e fornecer uma quantidade adequada de oxigénio. Todos estes cuidados envolvem movimentos enérgicos por parte do macho com a parte posterior do corpo e das barbatanas peitorais, provocando assim uma “ventilação”, estes movimentos são muito importantes pois os ovos encontram-se muitas vezes em espaços pouco arejados, onde a circulação de água é fraca ou inexistente. As recolhas dos peixes e ovos para os estudos em laboratório são facilmentefeitas durante as marés baixas, durante a época de reprodução.

Lepadogaster Lepadogaster

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Investigadora Ana Faria em trabalho de campo, procurm peixes-ventosa e posturas (ovos) para investigação em laboratótio.

Devido a estudos realizados pela unidade de Eco-etologia, no ISPA (Instituto Superior de Psicologia Aplicada), foram levantadas algumas questões a qual levaram á investigação deste peixe principalmente quando ainda são larvas.Em laboratório, o comportamento das larvas (que nascem dos ovos) é estudado, em particular o comportamento natatório. Dessa forma é possível saber se as larvas deste peixe conseguem evitar ou mudar a sua posição nas correntes evitando dessa forma de se dispersar do seu grupo, escapando assim de muitos dos perigos que podem arriscar a sua vida.

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Os resultados da investigadora Ana Faria (ISPA), com as espécies de Lepadogaster, confirmam esses trabalhos. A maré começa a subir, e torna-se impossível de continuar a procura dos peixes. Deixámos a maravilhosa praia passando por cimadas poucas rochas escorregadias que ainda não foram cobertas pela água. Connosco levamos alguns recipientes com peixe e rochas, as quais tinham alguns ovos para investigação. Ao olhar para trás podemos as gaivotas que começam a sua caçada, e ao fundo avistam-se os golfinhos. Para trás deixámos um lugar espantoso que só voltará a ser visitado aquando de novas pesquisas.

A investigadora Ana Faria testa a salinidade da água para controlo da água prevenindo assim que as larvas morram. NATIONAL GEOGRAPHIC . ABRIL 2013

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Vista a partir da saida da praia de Alpertuche

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Agradecimentos: Professora Ana Calvet Ana Faria Alberto Fernandes Professor Alexandre Santos Professora Cristina Cavalinho Professor José Fabião Professora Marina Ramos Lucia Carvalho Miraldino Carvaho Nuno Fernandes Sandra Fernandes Professora Sofia Alberto

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