Estesia
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Edição Piloto. Nov. De 2018 NA INÉRCIA VEMOS ALGUMA DEMANDA? MARCOS ANTONIO DE SOUSA RODRIGUES MOURA Movimento gera tensão. A vibração molecular
As barreiras, assim como as demandas – estas
dos corpos, não necessariamente provocada
tão consideradas, tão citadas, tão faladas
pelo atrito, faz subir a temperatura, gera calor.
agora, depois de anos na instituição, depois de
Mas há como mover-se quando o discurso gira
anos
ao redor de círculos? Ao caminhar no escuro,
problemáticas que nunca deixaram de ser
temos a impressão de que não saímos do lugar,
coletivas, mas que foram tratadas a partir de
até
tropeçarmos,
soluções individualizantes – começam a se
esbarrarmos em uma parede ou muro, uma
tornar cada vez mais claras, contudo, as
barreira. E o tropeço ao mesmo tempo em que
últimas passam a impressão de se mostrarem
causa desconforto pode acalentar, porque
de
marca a existência de algum lugar, é um
traslúcidas. As vozes precisam ser ouvidas, as
marcador de que não estamos mais no mesmo
narrativas
ponto em que saímos, e mesmo que haja ainda
consideração, os espaços de fala livre e de
pouca ou nenhuma luz, há como saber que a
escuta atenta precisam ser construídos. Mas
caminhada começou.
não em qualquer lugar. Acima de tudo, tais
É precisamente neste jogo de claro e escuro,
espaços precisam ser eriguidos dentro de cada
tão utilizado nas pinturas barrocas, que nos
um de nós e só depois ou concomitantemente
encontramos agora. Em meio à escuridão da
serem
falta
de
corre-se o risco de incorrer nos mesmos erros
comunicação, da dificuldade de interagir, de
e cair ante os mesmos vícios que minaram,
produzir o agenciamento de forças que talvez
outrora, qualquer possibilidade de trazer
nunca tenham ousado se unir, tentamos nos
movimento a este Corpo.
mover. Movimentar o Corpo, que há muito
Mas não nos enganemos, o risco de cair ante
esteve inerte – ou será que já se moveu? – e
o vício da solução individualizante é mais
agora é solicitado, praticamente obrigado, a
poderoso do que podemos imaginar, e
se mover, tendo em vista outro movimento,
espreita em cada canto da instituição: nas
este a nível jurídico e dos trâmites, de
salas, nos espaços de convivência, nos
transição e passagem de uma instituição
discursos de representação do Corpo. Isso
inteira para outra, que pode acontecer na
mesmo, o Corpo, que é coletivo e ultrapassa
inércia – ou não.
a escala dos milhares, não pode, segundo
toparmos
de
em
algo,
informações,
da
falta
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vivenciando
forma
diariamente
condensada,
precisam
ser
institucionalizados,
mas
límpidas,
levadas
do
as
em
contrário,
algumas práticas e preceitos cultivados e
Há grandes questões que não querem calar –
cultuados em nossa bela instituição, buscar –
embora haja esforços pra que isto aconteça –,
sequer pensar – uma solução coletiva para um
que são: poderá o Corpo se mover? Poderá o
problema coletivo.
movimento do Corpo sair das sombras e
Não! Há que se pensar soluções individuais
mostrar sua forma ante a luz? Poderá este
para problemas coletivos. Cada um procure
movimento, ainda débil, continuar a se mover
sua demanda, cada curso procure sua
depois que o solavanco da transição que se
necessidade, e diante disso, procure sua
opera, por enquanto, pela inércia, passar?
própria solução, “pensar de forma coletiva
Poderá o Corpo em movimento finalmente
gera trabalho, reunir muitas pessoas pode
mostrar sua competência para agir e pensar
gerar bagunça”. É o que os preceitos e as
soluções coletivas para problemas coletivos?
práticas dizem. E não se engane aquele ou
Terá o Corpo a chance de apresentar suas
aquela que se ilude sonhando que estas aspas
ideias, proposições, ponderações, discussões,
se referem a um discurso específico, porque
desentendimentos, condensações, soluções de
mesmo este ou esta que sonha é capturado(a)
forma autônoma neste processo de transição
pelo
inerte?
modo
de
pensar
a
solução
A resposta cabe ao Nós, ao
individualizante, pelo conjunto de práticas e
agenciamento de Corpos que formam esta
preceitos, que ultrapassam a esfera do
instituição.
indivíduo.
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