Blu Blu
DSG 1757 - Visual Merchandising Prof: Mônica Saboia Saddi Aluna: Rafaela Ferreira Porciuncula Puc-Rio 2016.1
Introdução
O seguinte exercício tem como objetivo expor a história de marcas brasileiras que fizeram sucesso no passado. Tendo como fonte principal o livro de Ruth Joffily "Marilia Valls: um trabalho sobre moda" e auxílio da própria autora, o estudo mostrará as características de uma das marcas mais icônicas do Rio nos anos 70, a Blu Blu.
Como surgiu
A marca foi fundada em 1972 por Marília Valls. Podemos ver na história de Marília uma trajetória que já parecia estar preparando-a para os acontecimentos futuros. Desde nova sua mãe a enfeitava como "uma boneca", buscando sempre os olhares e os elogios das pessoas. Estudou no colégio Sagrado Coração de Maria e lá foi instruída sobre o que uma moça deveria fazer para ser uma mulher cuidadosa, dona-de-casa com bom comportamento e um desses ensinos foi a costura. A fragilidade era um atributo desse seu "lado cor-de-rosa".
Figura 1 - “Marília Valls” Fonte: aproposito.net
Esse lado permaneceu até o momento em que se separou de seu marido, Ferreira Viana, numa época em que divórcio nem existia. A partir daí, precisou superar a fragilidade, ir a luta e trabalhar, revelando um lado instintivo e animal não conhecido antes. Cansada dessa situação, resolveu juntar suas economias e fazer o seu nome na indústria da moda criando uma marca de roupas femininas, que a princípio só podia arcar com a produção de blusas e camisas, por isso o nome “Blu Blu”.
Público
Voltada para a classe média do Rio de Janeiro, Blu Blu era a representação da leveza, graciosidade e da ousadia de Ipanema. Todas as meninas queriam ser e transmitir a essência da Blu Blu, o ponto de encontro dos descolados. A marca era vista tanto como o prêt-à-porter mais caro do Rio de Janeiro como "a rainha das camisetas", pois junto a roupas mais caras, também oferecia peças com um preço menos intimidador.
Em seu início lançava batas plissadas, estampas florais, frentes únicas, mas posteriormente começaram a surgir vestidos de renda, aventais com tingimentos feitos por artistas plásticos e roupas que deixassem o umbigo à mostra. Era possível perceber um perfil revolucionário na marca que trazia pro cenário carioca muita inovação.
Palavras como praia, Sol, leveza, frescor, vigor, cores descrevem o público que consumia a marca.
Figura 2: Montagem autoral de ambientação sobre o público da BluBlu. Fonte: google imagens
Identidade da marca
Sua identidade era claramente observada através de alguns elementos estéticos: - Sentimento de nostalgia e redescoberta do passado eram explorados. Jazz nos anos 40, inspirações no estilista Paul Poiret, relançamento do riding coat (casaco de montaria) foram trabalhados nas coleções. - Ousadia e irreverência através de estampas e cores que formavam combinações que jamais eram imaginadas na época, como turquesa e laranja, amarelo-ovo e tangerina, abóbora e rubi, entre outras.
- Presença da cor branca, a qual sempre esteve presente no vestuário brasileiro. Essa cor que se ilumina com a luz do Sol, na nossa cultura, traz referências de pureza e também misticismo. - Toque romântico trazido pelas inesquecíveis rendas e babados, advindos do nosso folclore, que reforçavam a identidade brasileira. Marília conseguia estar atenta a tendências internacionais sem deixar de preservar a brasilidade.
- Fantasia que fazia da moda um espetáculo. O lúdico vinha expresso em temas de coleção como "Alice no país das Maravilhas", na decoração de sua loja, que em eventos era ambientada com brinquedos. Era desejo de brincar com a moda para desconstruir a dureza que a palavra elegância carregava. Toda identidade também era vista nos grandes desfiles promovidos na antiga Rua Montenegro. Esses eventos ao ar livre eram de tal grandeza, que o bairro parava para ver as novas coleções da grife, desfiladas por artistas ilustres como Beth Lago, Monique Evans, Débora Bloch, entre outras. Em 1987 a marca fechou por questões financeiras, contudo sua fundadora não desistiu da moda.
Roupas, cores e sapatos utilizados nos anos 70.
Figura 3: Montagem autoral de ambientação sobre as roupas e acessórios usados na década de 70. Fonte: google imagens
Informações adicionais Marília coordenou o setor de estilismo no Núcleo de moda na Faculdade Cândido Mendes do Rio, em 1989. Também fez parte do grupo Moda-Rio, criado em 1978. O grupo consistia na união de estilistas e comerciantes que estavam em ascenção para a consolidação de uma base e melhoria do mercado e do espaço de divulgação dos seus trabalhos. Era formado por Marília Valls, Luís de Freitas, José Augusto Bicalho, Teresa Gureg, Beth Brício, Sônia Mureb, Marco Rica, Ana Gasparini e Suely Sampaio. O moda Rio teve uma grande repercussão, tornando o Rio de Janeiro o centro da moda brasileira, entretanto essa posição foi perdida, pois o grupo se desfez 1982.
Conclusão
Mesmo sem ter vivido nessa época, acredito que a Blu Blu teria potencial para fazer sucesso até hoje, caso não tivesse encerrado seus serviços. A capacidade de inovação, adaptação e manutenção da essência nacional são diferenciais que não muito bem abordados em nosso mercado atual. Por isso concluo afirmando que a Blu Blu, definitivamente, foi uma grande contribuição para a história e para o segmento da moda carioca através de uma personalidade inconfundível.
Referências Bibliográficas JOFFILY, Ruth. Marilia Valls: um trabalho sobre moda. editora Salamandra, Rio de Janeiro, 1989. FREITAS, Luciana Costa de. Estratégia de Design em Empreendimentos de Moda – As Tramas do Sucesso Empresarial no Design de Moda na Cidade do Rio de Janeiro. 2007. 133 f. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento Artes e Design Figura 1 - Marília Valls. Disponível em: http://aproposito.net/exposicoes/ahessasmulheres/86.html. Acesso em: 17/04/16 Figura 2 - Montagem autoral de ambientação sobre o público da Blu Blu. Fonte: google imagens Figura 3 - Montagem autoral de ambientação sobre as roupas e acessórios usados na década de 70. Fonte: google imagens.