Elefante branco: discutindo a insolubilidade da precariedade urbana a partir do cinema

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Elefante branco: discutindo a insolubilidade da precariedade urbana a partir do cinema White elephant: discussing the insolubility of urban precariousness from the cinema BALDAM, Rafael Arquiteto e Urbanista, Mestrando pelo IAU USP São Carlos, rafabaldam@gmail.com

RESUMO Este trabalho tem como princípio o uso do cinema como ferramenta de discussão de problemáticas urbanas, utilizando, neste caso, o filme argentino Elefante Blanco (2012), a partir do qual são levantadas questões sobre a precariedade urbana e as dificuldades em superá-la. A narrativa fílmica coloca em foco um objeto irresoluto e persistente, que pode ser associado à precariedade, ao crime, à pobreza, às villas e favelas. Segue-se uma discussão sobre o papel do mercado de terras e moradia no processo de produção do espaço urbano, que segrega uma parcela da população, obrigando-a a recorrer à autoconstrução, loteamentos ilegais e ocupação de terras para que consigam uma morada. Por fim, articula-se este mercado informal da habitação com seu papel de colaboração com o mercado formal, apontando para a necessidade de permanente precariedade para que a expansão do capital aconteça, e inviabilizando qualquer tentativa de solução da pobreza. PALAVRAS-CHAVE: urbanização, precariedade, cinema, elefante branco.

ABSTRACT This paper has as its core the use of cinema as an urban questioning discussion tool, using in this case, the Argentinian movie White Elephant (2012), from which are raised questions about the urban precariousness and the difficulties to overcome it. The movie narrative puts in focus an unresolved and persistent object, which can be associated with precariousness, crime, poverty, slums. Follows a discussion about the role of the land and housing market in the urban space production process, that segregates a portion of the population, forcing it to resort on self-construction, illegal allotments and land forced occupation, in order to get a house. Lastly, articulates this informal housing market with its collaboration role with the formal market, pointing to a necessity of permanent precariousness in favor of capital expansion, and making any attempt to solve poverty impossible. KEY-WORDS: urbanization, precariousness, cinema, white elephant.


1 INTRODUÇÃO Este artigo é produto das reflexões construídas durante a disciplina Urbanização na América Latina: Questões Teóricas e Metodológicas, ministrada pela Profa. Dra. Eulália Portela Negrelos e pelo Prof. Dr. Tomas Moreira, no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do IAU USP em São Carlos, durante o primeiro semestre de 2017. Utilizando o cinema como artifício dialógico para questionamentos sobre as realidades urbanas, pretendeu-se explorar o filme Elefante Blanco, dirigido por Pablo Trapero, lançado em 2012, articulando-o com uma discussão sobre o grau de insolubilidade da precariedade urbana instalada no território urbano argentino, a partir do qual podem ser traçados paralelos evidentes com as cidades brasileiras. 1.1 Cinema como método reflexivo Assumindo um movimento em duas direções, um filme é produto do presente, mas pode se colocar à parte desse momento para criticá-lo, analisá-lo. Ainda que a cidade do cinema não seja a cidade real, mas sim uma representação dela, uma influencia e é influenciada pela outra (COMOLLI, 2008). A partir da reciprocidade entre cidade e cinema, aqui interessa aquilo que une estes dois objetos num sistema de representação e representado. O cinema, ao lançar mão de seus artifícios narrativos, possibilita uma leitura de cidade, que é entregue ao espectador num conjunto de imagem, som e movimento, que por sua vez, opera transformações de significado na relação espacial das subjetividades. Desse modo, o aspecto caótico do cotidiano urbano assume graus de legibilidade e compreensão pelo indivíduo (AITKEN e ZONN, 2009). O cinema age como leitura do presente, possibilitando interpretações sobre o agora. A formatação de uma série de dinâmicas sociais e espaciais em um filme, permite a criação de um ponto de referência: o filme posiciona o espectador frente ao tempo-espaço retratado na tela e, ao mesmo tempo, frente a seu próprio tempo-espaço, em graus de contraste ou confirmação àquilo que o filme apresenta. Nesse sentido, a dinâmica estabelecida pelo cinema é dialética além de estética. O filme Elefante Blanco usa como foco da narrativa o bairro pobre Villa Ciudad Oculta, em Buenos Aires, onde o crime, a violência e a precariedade são constantes, e que cresceu em torno de um grande edifício abandonado ainda na sua construção. O tratamento dado às dinâmicas sociais que preenchem este espaço, a possibilidade de encontrar paralelos desse modo de ocupação em praticamente toda a América Latina, e sua relevância enquanto catalizador de discussões sobre urbanização de cidades latino-americanas, são elementos que fazem desse filme uma potente ferramenta de reflexão.


2 ELEFANTE BLANCO: A PRESENÇA DA PRECARIEDADE Dirigido pelo argentino Pablo Trapero e lançado no Brasil em 2012, o filme Elefante Blanco apresenta dinâmicas sócio espaciais recorrentes em territórios da pobreza na Argentina, e de fácil identificação no Brasil e em toda América Latina. A premissa do filme baseia-se na figura de Padre Julián (Ricardo Darín), que trabalha e mora há 10 anos na Villa, quando ele convida o Padre Nicolás (Jérémie Renier), estrangeiro, para fortalecer as lutas que ele promove. Os simbolismos e a condição espacial que a narrativa descreve, têm importância central por conduzirem todas as tensões apresentadas, bem como as reflexões posteriores sobre o tema da precariedade. A Villa Ciudad Oculta, como apresentada pelo filme, é caracterizada espacialmente por moradias feitas com restos de materiais, pelo crime constante e pela falta de infraestrutura básica. Nesse contexto, as relações sociais agem como redes de cooperação: o contato com os vizinhos e o estabelecimento de conexões ajudam a mitigar as mazelas da villa. Os personagens Julián e Nicolás representam um nó dessa rede de relações através da presença da igreja católica nesse território, promovendo ações comunitárias de melhorias espaciais e sociais para a população. O objeto que dá nome ao filme, se localiza na Villa 15, ou Ciudad Oculta, no bairro Villa Lugano ao sul de Buenos Aires: um edifício estatal concebido para ser o maior hospital da América Latina. Após ter suas obras abandonadas durante a década de 50, ao redor do edifício (e dentro dele) se instalaram famílias pobres, construindo precariamente suas casas e seu bairro. Esta é a primeira função do edifício que o filme apresenta: uma estrutura vazia, dentro da qual são instaladas moradias precárias em meio aos escombros e ao lixo. O diretor mostra que este edifício se localiza em contraste ao seu entorno, uma área de casebres pobres e precários. A partir desse objeto arquitetônico o filme estabelece uma “presença” naquele território, que será problematizada ao longo da narrativa. O edifício também é colocado como um dos locus do crime, mais especificamente do tráfico e do uso de drogas. No contexto fílmico ele é sinônimo de moradia para uma parcela da população, é também associado ao crime, e ainda, em um campo mais abstrato, é símbolo de uma instituição governamental falida, que não foi capaz de finalizar a obra ou sanar as precariedades daquele bairro. Elefante Blanco se sustenta fortemente na espacialidade corroída pela pobreza para posicionar suas personagens e as dinâmicas estabelecidas entre elas. Assim, aquele ambiente cumpre um papel de personagem onipresente na trama, uma espécie de corrente que amarra todos àquele chão e os obriga a conviver com sua perversidade. A partir da ausência do poder público naquela área (não há infraestrutura, legalização, controle, etc) é possível perceber uma sobreposição de forças, colocadas


pela igreja católica, pelas organizações criminosas, pela população e pela força policial como braço do poder público. Frente ao histórico de urbanização desigual e ocupação ilegal deste território, a sobreposição de forças que se colocam ali, localizadas num espaço de precariedade e conflito, resulta numa dinâmica de impasse permanente em relação às problemáticas representadas.

3 OS FANTASMAS DA INSOLUBILIDADE Após uma primeira aproximação ao filme Elefante Blanco, é notável a forma com que o edifício é mostrado: pouco tempo é dedicado a mostrá-lo ou a explicá-lo; apesar dele emprestar seu nome para o título da trama, esta não é sobre ele, especificamente. Sua presença nas trajetórias é inquestionável, no entanto é apresentado mais como uma força adormecida do que como um espaço ativo. Frente a essa ambiguidade, o que representa então o edifício Elefante Blanco? Ou ainda, a que o diretor se refere ao nomear o filme Elefante Blanco? Aqui entende-se que Elefante Blanco assume uma conotação simbólica. É, sim, o edifício inacabado ocupado pelas famílias e pelo tráfico; mas também é um objeto tectônico que acumula uma série de representações simbólicas, como a ineficácia governamental e como a presença constante da precariedade naquela paisagem. Aqui ele é uma materialização da expressão popular “elefante branco”: um objeto irresoluto e persistente, colocado em uma posição de incômodo permanente. Se lembrarmos ainda que a Villa Ciudad Oculta se construiu ao redor desse edifício, ele ganha mais importância, já que está presente desde as origens daquele bairro pobre e, portanto, faz parte daquela trajetória de precariedade, acumulando memórias, identidades e possibilidades frustradas. Portanto, ele pode ser encarado como um dos espaços simbólicos da pobreza que a confirma constantemente através sua presença. Em outro entendimento, o termo “elefante branco” pode ser colocado em um contexto mais amplo, levantando uma gama maior de questões. Consideremos o filme a partir da seguinte perspectiva. O edifício inacabado e tomado pela população pobre é uma presença que não tem resolução: apesar da promessa positiva que ele trouxe, foi convertido em um fantasma de edifício. A partir das ideias de “objeto sem resolução” e “fantasma”, Elefante Blanco transita por vários que temas que compartilham essas duas características. A violência e o crime são dois desses temas. Rondam as ruas e o próprio edifício as ameaças de tiroteios, os corpos armados, o tráfico de drogas, a morte. Ambos não se resolvem pois são fruto de conflitos maiores e da sobreposição de forças em disputa. Na tentativa da igreja católica em oferecer alguma dignidade àquelas famílias, através da construção


de moradias e um centro comunitário, apresenta-se outra insolubilidade: as instituições falhas. Com o poder público ausente (outra instituição falha) e com os conflitos se agravando, a institucionalidade da igreja católica, aqui colocada como financiadora das obras, atinge seu limite na gestão daquele espaço e retira-se. Antes apresentada como uma entidade presente e portadora de artifícios que contornam os danos da pobreza (os batismos, as festas, grupos de apoio aos jovens, a capela promovidos pela igreja), se transforma em uma imagem quebrada e insuficiente. Na escala subjetiva, interna ao personagem Julián, os fantasmas que o rondam irresolutamente são suas fraquezas em continuar a luta dentro da villa. Apesar das suas motivações como sacerdote, a luta pesa e o faz hesitar. Apesar dos esforços da igreja e da comunidade em conferir melhorias para os moradores da Ciudad Oculta, a precariedade persiste. A presença fantasmagórica da pobreza instala-se nas moradias autoconstruídas, na falta de infraestrutura, na falta de lazer, na erosão de perspectivas. Não se resolve. Assim, como extensão dessa questão, a situação das villas e favelas na cidade, também não se resolve: sua gênese reside em questões estruturais da urbanização desigual. Aos olhos da cidade formal, a favela se tornou um fantasma de cidade, que carrega os estigmas da violência e da criminalidade, que é evitada e demonizada; um elefante branco no meio da cidade.

4 A PRECARIEDADE URBANA COMO OBJETO IRRESOLUTO O que vemos em Elefante Blanco é uma luta em busca da mitigação aos danos que aquela população acumula. Não por acaso, esta luta é mostrada como insuficiente frente à escala aterradora do quadro da precariedade urbana e social. Entende-se que os espaços de precariedade na cidade são resultantes de processos político-econômicos estruturais quando em contato com a urbanização desigual. Ao mesmo tempo, a persistência de tais espaços supera as iniciativas de mitigação ou contenção, que pretendem conferir qualidade de vida de maneira retroativa às populações precarizadas. Portanto, resultando na complexificação do quadro da precariedade urbana, colocando em jogo as noções de modernidade, desenvolvimento, subdesenvolvimento e atraso. A produção da precariedade urbana deriva de um modo hegemônico de produção de cidade, que oferece condições de trabalho insuficientes para suprir necessidades mínimas da vivência urbana. Para Samuel Jaramillo (2008), compreender o mercado de terras e o mercado de habitação dos países não centrais é um ponto chave para esta discussão. Segundo o autor, os regimes de baixos salários, somados a um crescimento demográfico e urbanização velozes, colocaram estes países em uma situação peculiar no quadro global: no contexto do capitalismo planetário, estes países de


industrialização tardia tiveram que usar do oferecimento de mão de obra barata para garantir sua participação no processo. Em um cenário de crescente urbanização e aumento da população, uma parcela da população com baixos salários, não conseguindo ingressar no circuito formal de circulação do capital, conduz-se para a autopromoção da sua força de trabalho, que estende-se à autoprodução da sua morada. A impossibilidade de acesso ao mercado formal de terras e moradia urbanas pela população excluída, também se dá pela complexidade do produto-moradia. Seu longo tempo de produção, entidades promotoras sob a pressão da mais-valia, o atraso tecnológico da indústria da construção, a terra urbana como custo agregado ao produto final, a ação ineficiente do Estado, são alguns dos motivos que contribuem para o encarecimento da moradia urbana. No entanto, este é um fator imprescindível para o bem estar e, portanto, aqueles que não têm acesso garantido a esse bem, o fará por outros meios. Nesse sentido, a autoconstrução e a ocupação de terras ociosas surgem como ferramentas utilizadas pela população pobre, para contornar a impossibilidade de suas rendas conterem os gastos que uma moradia requisita. A autoconstrução, que minimiza os gastos através da execução da obra pelo proprietário, frequentemente associa-se a oferta de terras em loteamentos ilegais, uma vez que se dão em áreas sem infraestrutura, longe da concentração dos postos de trabalho, ou ainda em áreas ilegais devido a restrições técnicas ou ambientais que impedem que o mercado legal atue ali, sendo portanto mais baratas. Assim, a associação entre autoconstrução, loteamentos ilegais e ocupação de terras ociosas é constante. Essas formas de produção do espaço estão localizadas em um sub circuito do capital urbano, que acontece na periferia do capitalismo. Este possui sua própria complexidade, além de manter relações com o mercado formal de terras e moradia. Internamente ao mercado informal (localizado nas favelas e villas) as relações de renda ganham novos contornos, a partir da sublocação de cômodos em uma casa, ou de uma segunda cada no mesmo lote. O sub circuito também está atrelado ao mercado formal. O preço da moradia informal é atrativo até o ponto em que atinge o ponto mais baixo do preço da moradia formal. Assim, o teto para os preços das moradias informais oscila à medida que os preços mais baixos dos imóveis formais também oscilam, o que pode acarretar uma subida dos preços informais, já que os imóveis formais expostos às condições legais de produção imobiliária acabam por ter seus preços finais amplificados. Portanto, não só as áreas de urbanização precária se reproduzem devido a impossibilidade de uma parcela da população acessar o mercado formal, como elas também fazem parte deste de maneira indireta. Manifestações espaciais da pobreza, podem ser encaradas como traduções sócio espaciais de um sistema político econômico em crise frequente. Como Pradilla (1988) coloca, as soluções que as


populações pobres encontram para atravessar suas restrições não devem ser vistas como as causas do caos e da penúria urbana, e tampouco como alternativas reais para os problemas que tentam sanar. Estão mais próximas de um sintoma da desigualdade da produção do espaço urbano. Seria possível colocar que o modo de produção capitalista tenha a precariedade como imprescindível para sua reprodução? Ao comentar sobre a autoconstrução, Francisco de Oliveira (2003) coloca que ela é um artifício de sobrevivência para as populações pobres, ao mesmo tempo em que é explorada pelo processo de expansão capitalista. O autor coloca os entendimentos de “moderno” e “atrasado” ou “desenvolvido” e subdesenvolvido”, não como universos separados, tampouco como fases lineares de progressão, mas sim apontando para o papel integrante que o subdesenvolvimento tem na produção da “modernidade”, de modo que aquela é capaz de produzir excedentes, que são em parte absorvidos pelo exterior, contudo é incapaz de absorver a outra parte dos excedentes por ela produzidos (OLIVEIRA, 2003). Aqui, coloca-se a precariedade urbana como uma das traduções sócio espaciais de tais excedentes não absorvidos e que, portanto, configura uma parte essencial para a reprodução do desenvolvimento, seja ela em outra parte da cidade ou em outro país. Dessa forma seria possível argumentar que os esforços para mitigar os desfalques que a pobreza implica em um território não seriam capazes de atingirem seus objetivos, mas estariam apenas gerindo a pobreza, redistribuindoa, reformulando-a, realocando-a. Nesse sentido, a insolubilidade da precariedade urbana não advém da incapacidade do poder público ou das instituições afetadas por essa pauta, mas sim da necessidade de manutenção da pobreza que o capital deve empreender para a reprodução dos modos de produção hegemônicos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sem pretensões de encerrar qualquer tópico, partiu-se da análise do filme de ficção Elefante Blanco como artifício para discutir as dificuldades de superação da precariedade urbana. A reflexão que o filme proporciona, além da caracterização do espaço de precariedade das villas e das dinâmicas sociais que se instalam ali, permite estender seu entendimento para a condição da pobreza na cidade. Utilizando um objeto arquitetônico e urbanístico como artifício narrativo, a noção de “elefante branco” se expande para os outros entendimentos: a violência, o bairro pobre, a ineficácia das instituições, são elementos sem resolução que persistem no espaço urbano, como fantasmas. A persistência da Villa Ciudad Oculta, e de muitas outras, às tentativas de eliminação da


precariedade, seja pela violência ou pelo subsídio, indica que as questões que propagam a precariedade não são atingidas por tais políticas, que deixam a estrutura da pobreza intacta. Apesar de uma urbanização pulsante, a crescente demanda por moradia e trabalho que instalou-se nas cidades latino-americanas a partir de meados do século XX, não pôde ser absorvida pelos meios de produção. Como consequência, desemprego e os baixos salários acompanharam a criação de alternativas à moradia formal, como a ocupação de terras ociosas e a autoconstrução. No cerne dos problemas habitacionais, do caos urbano, dos bairros sem infraestrutura, da violência, do crime, da pobreza, está a incapacidade do modelo capitalista de absorver uma parcela da população, que, para viver na cidade, tem como única alternativa a precarização do próprio modo de vida. Ao colocarmos que a pobreza e a informalidade caminham juntas ao desenvolvimento e a formalidade, inclusive estabelecendo relações de troca entre elas, segundo Jaramillo (2008) e Francisco de Oliveira (2003) seria possível dizer que a precariedade não trata-se de um estágio a ser superado, mas sim de uma das engrenagens do desenvolvimento. Por isso, os esforços de contenção, mitigação e eliminação da pobreza e da precariedade urbana seriam insuficientes para permitir qualquer mudança estrutural. Ao contrário, configura-se uma gestão dos problemas, o reformula, o desloca, mas não o soluciona. A insolubilidade da precariedade urbana está relacionada à manutenção dos sistemas hegemônicos de poder; configurando um “elefante branco” à espera de solução.

6 REFERÊNCIAS AITKEN, Stuart; ZONN, Leo. Re-apresentando o lugar pastiche. In: Cinema, Música e Espaço. Rio de Janeiro: Ed UERJ, Pg 15-58, 2009. ALMANDOZ, Arturo. Despegues sin madurez: Urbanización, industrialización y desarrollo em la Latinoamérica del siglo XX. Revista Eure, Santiago de Chile, vol. XXXIV, n. 102, pg. 61-76, 2008. COMOLLI, Jean Louis. A cidade filmada. In: Ver e poder – A inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (org). Cinema, Música e Espaço. Rio de Janeiro: Ed UERJ, 2009. JARAMILLO, Samuel. Reflexiones sobre la “informalidad” fundiária como peculiaridad de los mercados del suelo em las ciudades de la América Latina. Territórios, n. 18-19, pg. 11-53, 2008. OLIVEIRA, Chico de. Crítica à razão dualista – O ornitorrinco. São Paulo: Boitempo Editorial, 2003 (edição original de 1972). PRADILLA, Emilio. El mito neoliberal de la “informalidad” urbana. Revista Interamericana de Planificación, vol. 22, n. 85, 1988.

ELEFANTE Blanco. Direção: Pablo Trapero. Argentina: Morena Films, Matanza Cine, 2012. DVD (110 min) Som, Cor.


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