1
PUBLISHERS
André Cheron e Fernando Paiva REDAÇÃO
DEPARTAMENTO FINANCEIRO
Andrea Barbulescu financeiro@customeditora.com.br ADMINISTRATIÇÃO
Rita Selke ritasel ke@revistamam.com.br Assistentes Alessandro Ceron alessandroce@revistamam.com.br lugor Vaz iugorvaz@revistamam.com.br Tiragem desta edição: 20.000 exemplares Pré-impressão Retrato Falado CTP, impressão e acabamento IBEP Gráfica Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, conjunto 92 - Jardim Paulista São Paulo (SP) - CEP 01407-200 Tel. (11) 3078-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR
atendimento@revistamam.com.br ou tel. (11) 30667777
4
Diretor Fernando Paiva fernandopaiva@revistamam.com.br Editora executiva Marina Lima marinal ima@revistamam.com.br Editor contribuinte Daniel Japiassu danieljapiassu@revistamam.com.br Estagiária Maira Giosa mairagiosa@revistamam.com.br PUBLICIDADE E COMERCIAL
Diretor Comercial André Cheron andrecheron@revistamam.com.br Publicidade Adriana Assumpção assumpcao@revistamam.com.br Executivos de Conta Raquel Eichenberger raquel@revistamam.com.br Wallace di Giorge wallacedigiorge@revistamam.com.br ARTE
Diretores Rafael Medeiros e Suzana Till Editora MAM Rio mamrio@revistamam.com.br Projeto gráfico Rafael Medeiros e Suzana Till Orientador João de Souza Leite
anĂşncio
5
CARTA DO EDITOR
O projeto “Revista MAM” consiste em uma revista editada pelo MAM, que tem como temática central os acontecimentos artísticos e culturais que ocorrem nao só no Museu, mas em todo o Rio de Janeiro, explorando as reportagens à partir deste acontecimentos. O objetivo da revista é revitalizar e destacar um museu de grande potêncial cultural e turístico, criado nas bases do MoMa e do Masp e considerado uma jóia do tão criticado modernismo carioca, mas que perdeu parte da importância que teve desde sua inauguração, em 1948. O público alvo da revista consiste primordialmente naqueles que têm grande interesse em arte. Assim o MAM poderia tornar-se o responsável por reportar e analisar o maior número de questões pertinentes à esse tema na cidade, e tentando abranger também outras cidades do país. Pretende-se também dedicar uma sessão ao intercâmbio com outros museus de peso do globo, como os citados acima. A revista, portanto, teria como meta tornar-se uma referência de cultura artística contemporânea do Rio de Janeiro tendo o MAM como centro dessa cultura. O sistema de reportagens da revista constitui-se da seguinte maneira: a partir de uma agenda principal que contemplaria basicamente temáticas como exposições, shows, e outros eventos, surgiriam reportagens baseadas nestes temas centrais. Uma boa leitura, esperamos que gostem e apoiem essa idéia.
6
7
8
conversa de artista Grassmann
14
ARTE EM PAUTA Bauhaus
20
mam vitrine
24
MAM ONLINE Argan
26
fotografia Mario Cravo Neto
32
capa Especial MAM
índice amigos do mam
44
turismo e arte Barcelona
46 48 52 56 61
internacional Tim Burton entrevista Carlos Vergara exposição SuperUber AGENDA
conversa de artista edição: Ana Paula Figueiredo produção: Fernanda Thedim
artista plástico Marcelo Grassmann, 83 anos, é um homem de façanhas. Algumas tomadas por impulso, outras, com base numa lógica implacável. Durante 30 anos fumou cinco maços de cigarros, sem filtro, por dia. Parou de estalo. Já septuagenário, trocou tiros com um bandido que tentava assaltar seu sítio em São Lourenço da Serra, no interior de São Paulo, onde morava. O larápio saiu às pressas. Há pouco mais de um ano, depois que seus problemas de saúde se agravaram e o obrigaram a andar com dificuldade, resolveu se separar da segunda mulher, a gravurista Maria Adélia Dias Baptista, 40 anos mais jovem. Foi uma resolução tomada com absoluta base na razão, ainda que os dois se amassem e ela relutasse muito em ceder. Grassmann assumiu a atitude e também o sofrimento. “Ora, ela é moça, tinha de viver a vida dela. Estava se transformando em minha enfermeira e em minha ambulância, eu não poderia deixar que isso acontecesse.” As proezas do Grassmann homem se confundem com as do artista premiadíssimo, com obras no acervo de grandes museus: o MoMa e a Bibliothêque Nationale de France, em Paris, para citar apenas dois - e mais de 400 exposições. Uma dessas proezas é não ter seguido modismos. Preferiu manter-se fiel à gravura, ao desenho e a uma obra particularíssima, permeada por personagens de fábula, elfos e fadas. Outro feito foi manter sua obra acima das classificações de estilo e temporalidade.
10
Ser fiel a sí mesmo e à sua arte. Eis duas pequenas proezas do artista.
MARCELO GRASSMANN
homem de façanhas 11
O interesse pela estética sombria vem da infância. gostava das ilustrações da Divina Comédia.
Grassmann foi influenciado pelo gravador austríaco Alfred Kubin e pelos gravadores brasileiros Oswaldo Goeldi, este premiado na I Bienal de S.Paulo e Livio Abramo, premiado na II Bienal. Sofreu influência do expressionismo alemão mas sua personalidade forte cunhou nitidamente um estilo próprio. Recebeu no I Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro o prêmio de uma viagem à Europa com bolsa. Aperfeiçoou-se no Velho Continente de 1953 a 1955. Desde seu retorno, passou a preferir a gravura em metal e a litogravura, deixando de lado a xilogravura. Dedicou-se também ao magistério dando cursos em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Recebeu em 1959 o de Melhor Desenhista na I Bienal de Artistas Jovens de Paris (Manabu Mabe recebeu o de melhor pintor na mesma ocasiâo), o Premio de Arte Sacra na XXXI Bienal de Veneza (1958) com uma litografia dos três reis magos (Karl Schmidt-Rottluff recebeu o de pintura na mesma Bienal) e em Florença a Medalha de Ouro na III Bienal Internacional de Artes Gráficas (1972).
12
Personagem de HQ “Seu trabalho não envelhece: sempre propõe novas leituras”, diz a também premiada gravurista Renina Katz, nascida no mesmo ano que Grassmann. Opinião compartilhada por Sérgio Rogermann, 56 anos, outro influente adepto da gravura: “O tema é o enigma da escuridão e à partir daí a trama de linhas que vão construindo a luz”. Juan Esteves, 50 anos, autor das belas fotos desta reportagem e do livro Presença - em que retratou 138 artistas plásticos do Brasil, não tem dúvida: “É um dos maiores gravadores da história da arte nas Américas”. Já o desenhista Luiz Gê, 56 anos, professor de Quadrinhos da Universidade Mackenzie (SP), considera o artista “um mestre corajoso e fiel a si mesmo”. Sua admiração é tanta que o levou a criar uma revista HQ ambientada na Idade Média, dando ao protagonista o nome de Marcelo. “Foi a maior homenagem que recebi”, resume o próprio Grassmann que, no entanto, já nâo tem tanta paciência para explicar, pela enésima vez, sua predileção por personagens medievais. “A Idade Média me inspira pelo contraste da libido com a imensa repressão”, diz. O interesse por uma estética sombria vem de infãncia. Em São Simão, a trezentos quilômetros da cidade de São Paulo, onde nasceu, o garoto bisneto de almães, o avô, empreendedor de sucesso, inaugurou o primeiro teatro e o primeiro cinema da cidade - folheava, fascinado, as ilustrações de Gustave Doré para a Divina Comédia, de Dante Alighieri. “Em especial, aquelas do Inferno”, brinca e dá risadas.
o universo que Grassmann criou está em todos os cantos. sua arte o acompanha
13
Luta livre, viagra e arte
cionalmente dele, portanto, na realidade
Não pense, porém, que Marcello Grassmann seja misterio-
não valia absolutamente nada, nem um centa-
so ou soturno. “Eu sou um gozador!”, exalta, pleno de razão,
vo.” Conversar com os velhos amigos pelo
o homem risonho, de vocabulário desabusado e envolven-
telefone é um de seus prazeres. Ele passa ao
te contador de histórias. Ele lembra em detalhes, nostálgico,
menos duas horas papeando com os parceiros
a família circense austríaca da primeira mulher (a artista plásti-
de ofício Mário Gruber e Otávio Araújo. Visitas,
ca Sonya Grassmann, de quem enviuvou após 40 anos de vida
recebe algumas. Em especial, da ex-mulher,
em comum), que ganhava a vida com espetáculos de luta livre.
”que me mima muito”. Sua rotina inclui tomar
Ri muito, também, ao recordar o episódio em que Adhemar de
sol no quarto pela manhã escutando música
Barros, folclórico ex-governador paulista, pegou emprestado e
erudita na Rádio Cultura - prefere os autores
“se esqueceu” de devolver um valioso vaso marajoara do acervo
do século 20, em especial Alban Berg. Também
da Pinacoteca do Estado. “Deve ter usado na entrada de casa
costuma caminhar uma hora pelo apartamento
para colocar guarda-chuvas”, debocha.
amplo, de pé-direito alto, em um prédio dos
Na adolescência, a leitura de Kafka, Edgar Allan Poe e Hermann Hesse aprofundou a atenção para o fantástico e pelos enig-
anos 50. E continua desenhando. “Ainda tenho algum entusiasmo pelo que faço.”
mas humanos. É este mesmo Grassmann brincalhão que abençoa a
Entre as vantagens de morar sozinho, des-
invenção do Viagra. “Um mínimo comprimido azul esticou a vida
taca o fato de “não infernizar a vida dos ou-
sexual das pessoas e mudou a sociedade.” No entanto, quando
tros”. Outra, a possibilidade de alimentar ex-
o assunto é arte “minha primeira e maior paixão, muito superior
centricidades. “A maior delas é ter quatro ba-
às demais”, o homem esguio, sentado na sala de poucos móveis
nheiros”, brinca. Grassmann gosta de ler um
(de um design rigorosamente simples), pode, subitamente, tem-
imenso compéndio de medicina. “É o maior li-
perar humor com a acidez. Ele se torna demolidor quando se re-
vro que tenho.” Comprou-o para entender me-
fere aos especuladores do mundo da arte.
lhor as recorrentes consultas com os médicos.
“Meu grande amigo Goeldi, o gravador e desenhista Osvaldo Goeldi (1895-1961), zombava de um sujeito que com-
“Um deles diz que sou hipocondríaco. Mas não procuro doenças, elas é que me procuram.”
prara um quadro de um medalhão, o guardara no cofre de
Mais uma excentricidade: assistir à televi-
um banco e vivia consultando o valor”, conta. “Ora, se o qua-
são sem som. “A tevê está medíocre demais,
dro não estava na parede e o dono não podia usufruir emo-
sem som, tudo se mistura - pastores, novelas, anúncios - e ganha um novo significado, não previsto. Às vezes é até bem interessante, no meu caso, a TV sem som amplia o espaço para a vasta imaginação humana.”
14
15
ARTE EM PAUTA edição: Renato Sweller produção: Yasmin Bueno
bauhaus
inovação e arrojo
A mais revolucionária escola de arquitetura e artes aplicadas completa 90 anos.
16
17
17
mais revolucionária escola de arquitetura e artes aplicadas, a Bauhaus, completa 90 anos em 2009. Fundada por Walter Gropius em 1919, em Weimar, na Alemanha, transferida posteriormente para Dessau e depois para Berlim, a "Staatliche Bauhaus" representou um sopro de evolução das idéias e das técnicas modernas. A escola transformou conceitos estéticos em propostas inovadoras no design, na pintura, nas artes gráficas, na arquitetura, na dança e no teatro, compondo um capítulo expressivo da criatividade artística do século 20. Fechada pelos nazistas em 1933, por considerarem uma expressão degenerativa, a institui-
ção permaneceu viva por ter influenciado culturalmente as artes plásticas no mundo todo. Citando os mais conhecidos, foram seus mestres o pintor suíço Johannes Itten (1888-1967), os artistas plásticos Lyonel Feininger (1871-1956), Paul Klee (1879-1940), Oskar Schlemmer (1888-1943), Wassily Kandinsky (1866-1944) e Laszlo MoholyNagy (1895-1946), os arquitetos Hannes Meyer (1889-1954) e Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), os aprendizes e depois mestres Marcel Breuer (1902-1981) e Josef Albers (1888-1976) e o artista gráfico austríaco Herbert Bayer (1900-1985). A formação da Bauhaus possibilitou uma revitalização do design, abrangendo toda uma postura artística que influenciou várias gerações de artistas plásticos, designers e arquitetos, refletindo as suas proezas estéticas numa ampla dunensão que repercute até os dias atuais.
herbert bayer, desenho para escadaria do prédio da bauhaus, 1923
18
cubos, cones e esferas, as formas mais belas de todas.
Le Corbusier,
importante
arquiteto,
urbanista, teórico e pintor francês de origem suíça, apesar de não pertencer à Bauhaus, era amigo de Mies van der Rohe e, inspirado numa declaração de Paul Cézanne, fazia uma advertência aos seus colegas de profissão: “os cubos, cones e esferas (por extensão, cilindros e pirâmides) são as três grandes formas primárias, que a luz revela com destaque, e sua imagem nos é perceptível de forma Em linhas gerais, a Bauhaus originária da Deutscher Werkbund (Associação Alemã do
limpa, palpável e clara. Por isto, são elas
Trabalho) tinha como objetivo a formação de pessoas com talento artístico na área
as formas belas, as mais belas de todas.
de design industrial, especialmente artesãos, escultores, pintores e arquitetos, com
A arquitetura egípcia, a grega ou roma-
foco no treinamento manual e no aprimoramento da técnica e da organização, visan-
na representam a arte de construir a par-
do a produção Industrial e o compromisso social de reconstruir um país destruído pela
tir de prismas, dados, cilindros e esferas,
Primeira Guerra Mundial com a democratização da produção de objetos do cotidiano.
o gótico, ao contrário, não parte de for-
A diversidade de propostas e pensamentos que se amalgamaram na instituição serviu de parâmetro no campo da pesquisa de novas formas funcionais tanto na arqui-
mas grandes e primárias. A catedral não é obra de arte plástica, é um drama”.
tetura como no design, incutindo uma carga analítica aos aprendizados com uma forte
As três formas fundamentais no de-
conotação de pesquisa e busca de inusitadas linguagens plásticas, os mestres consolida-
senvolvimento da arquitetura e do de-
ram toda uma dialética concepção filosófica da arte na harmonia perfeita de requintadas
sign surgem também nas telas de Kan-
técnicas focalizadas no avanço do futuro.
dinsky, Klee, Itten, Muche e Feininger, en-
Algumas das realizações que se tornaram símbolos da escola são a famosa poltrona
voltas numa infinidade de combinações
Wassily; de tubos de aço niquelados, de Marcel Breuer, datada de 1926, assim denomi-
cromáticas que definem rumos na busca
nada em homenagem ao amigo Wassily Kandinsky; a chaleira com coador de Marianne
do fundamental, uma visão matemáti-
Brandt (1924), uma peça antológica com forte influência da Art Déco; a luminária de
ca que assume uma poética transparen-
mesa de Wilhelm Wagenfeld e K. J. Jucker, com pé e tubo de vidro e abajur de vidro
te e inovadora. A escola, com as oficinas
fosco, um clássico de 1923/24; e inúmeros outros exemplos de modernidade. A Bauhaus
e cursos de diversas vertentes da arte e
deu um impulso gigantesco para que o design industrial se tornasse funcional.
do design, proporcionava uma formação
19
Wassily Kandinsky,
ímpar, um novo olhar com concepções
A série Homenagem ao Quadrado repre-
óleo sobre tela, 1911.
plásticas arrojadas Gropius declarava:
senta a essência de sua obra. Ao utilizar a
“a forma segue a função e todo o orna-
mesma estrutura básica, o quadrado, de-
mento deve ser abolido”
senvolveu uma dimensão cromática que
20
Em São Paulo, o Instituto Tomie
extrapola a realidade concreta, alcançan-
Ohtake, aproveitando o momento em
do as ilimitadas percepções da cor como
que se comemoram nove décadas da
unidade independente. A cor, em suas
fundação da Bauhaus, realizou a expo-
entranhas, a fomentar reflexões e postu-
sição Cor e Luz: Josef Albers - Home-
ras estéticas inovadoras, rompe barreiras,
nagem ao Quadrado. Albers foi mestre
impondo novos parâmetros da abstração
da Bauhaus e sua obra revigorou o estu-
geométrica. Tendo realizado uma enor-
do da cor numa dimensão mais ampla.
me quantidade de obras, e vislumbrando
A série Homenagem ao Quadrado, exe-
na autonomia da cor a sua força íntima,
cutada após sua saída da escola e mu-
Albers foi um obstinado estudioso que
dança para os Estados Unidos, represen-
realçava a visão, o saber olhar e perce-
ta seu intenso trabalho no período de
ber as sutilezas cromáticas definidoras de
1950 a 1976. O estudo da cor foi leva-
novas perspectivas pictóricas.
do ao extremo da percepção, descobrin-
Hoje em dia, o Arquivo Bauhaus:
do sutilezas em certas luminosidades em
Museu do Design, em Berlim, desenha-
contrastes confrontos. Albers, além de
do por Walter Gropius em 1966, conser-
se destacar como professor da Bauhaus,
va preciosa documentação sobre a atua-
foi um profundo pesquisador envolto na
ção dessa escola que tinha como meta,
teoria e na prática, realizando uma obra
criando uma metodologia na difusão de
estruturada nas interações cromáticas.
conceitos com obras que podem ser
josef albers, homenagem ao quadro, 1950
apreciadas tanto na Europa como nos Estados Unidos. O belíssi-
Dentre as inúmeras obras, as construções
mo prédio construído em concreto com todas s superfícies visí-
projetadas por Mies van der Rohe repre-
veis trabalhadas com jato de areia e janelas de lumínio com cor
sentam um referencial basilar dos precei-
de bronze, uma obra de extremo requinte, acolhe uma biblioteca
tos arquitetônicos da escola, como o edi-
de 22 mil volumes sobre as diversas atividades riativas desse cen-
fício Seagram, de 39 andares, armadura
tro de pesquisas e estudos avançados sobre rquitetura e designo
de aço, situado a 30 metros retraídos da
Na periferia da cidade de Dessau, porém, encontra-se a
Park Avenue, em Nova Iorque, sobre um
antiga sede da Bauhaus, construída também a partir de um pro-
terraço de chapas de granito e duas pis-
jeto de Gropius, em 1925/26, juntamente com as residências dos
cinas. No entanto, a maior concentração
professores. A edificação principal a um ícone da modernidade
de prédios concebidos nos padrões da
e acolhe uma marcenaria, uma tecelagem, uma oficina de pintu-
Bauhaus encontra-se em Tel Aviv, Isra-
ra e uma de tipografia. Nas sete residências, viveram, além de
el, em um conjunto denominado Cidade
Gropius, diretor, a escola, os professores Moholy Nagy, Feinin-
Branca, patrimônio mundial da UNESCO,
ger, Muche, Schlemler, Kandinsky e Klee. Essas casas ficaram em
que reflete a linha estética de um esti-
parte destruídas durante a Segunda Guerra Mundial. Do domi-
lo em que a funcionalidade assume a
cílio do diretor, obriram a garagem e o porto, sobre os quais foi
essência da arquitetura contemporânea.
construída, em 1956, uma casa tradicional. A antiga residência de
Em comemoração aos 90 anos da
Moholy Nagy esapareceu por completo e a de Feininger serviu
escola, várias exposições ocorrem ao
de Policlínica durante o regime comunista, sendo restaurada em
redor do mundo, como Bauhaus: Um
1994, enquanto as casas de Klee e Muche foram reconstruídas
Modelo Conceitual, atualmente, em car-
em 2000 e 2002. A recuperação dessas construções uma das prio-
taz no prédio que abrigava a sede da
ridades da administração de Dessau, por espelhar o dinamismo
Gestapo em Berlim e, a partir de novem-
de uma escola Multidisciplinar revolucionária que visava cons-
bro, no MoMA, em NY. A mostra conta
truir um forte elo entre arte e indústria, caminho para o raciona-
com mais de mil trabalhos de antigos
lismo. O conjunto de edificações foi considerado patrimônio da
alunos da escola e permite reconhecer o
humanidade pela NESCO, em 1996, por sua arquitetura ousada.
pensamento do desenho Bauhaus.
21
MAM VITRINE edição: Kiki Romero produção: Melissa Jannuzzi
01 Suporte para livro, R$80,00. Papel Craft, Shopping Rio Sul. 2275-4843
02 Icon Watch R$220,00. Papyrus, Av. Ataulfo de Paiva, Leblon. 2274-0298
01
02
03 03
04
05
06
03 Suporte para livro, R$80,00. Papel Craft, Shopping Rio Sul. 2275-4843
04 Suporte para livro, R$80,00. Papel Craft, Shopping Rio Sul. 2275-4843
05 River Stones Bawl, R$290,00. Papel Craft, Shopping Rio Sul. 2275-4843
06 Suporte para livro, R$80,00. Papel Craft, Shopping Rio Sul. 2275-4843
22
23
MAM VITRINE edição: Kiki Romero produção: Melissa Jannuzzi
07
07 Chaise Longue, Le Corbusier R$860,00. Casa Shopping 2786-88888
08 Icon Watch & Design, R$120,00. Papyrus, Av. Ataulfo de Paiva,
08
Leblon. 2274-0298
09 Suporte para livro, R$80,00. Papel Craft, Shopping Rio Sul. 2275-4843
10 Bourgie Lamp, R$280,00. Tok&Stok, Shopping Rio Sul. 2275-4843
24
09
10
25
MAM ONLINE blogueiro: Julio Carlo Argan
Julio Carlo Argan “síntese da arte moderna”
26
rte Moderna não signi-
trabalho artístico. Coloca-se então o pro-
fica arte contemporâ-
blema da avaliação da dimensão históri-
nea ou então arte do
ca do im-pressionismo, e em primeiro lu-
nosso século ou dos
gar procura-se esclarecer se o impressionis-
nossos dias. Há um período, ao qual atu-
mo orientava-se por uma tendência clássi-
almente nos referimos como o das “fon-
ca ou romântica, ou se resolvia (e como) a
tes do século XX”, em que se pensou que
antítese destas duas posições, não mais
arte, para ser arte, deveria ser moderna,
consideradas como situações históricas
ou seja, refletir as características e as exi-
determinadas e sim como eternas pola-
gências de uma cultura conscientemente
ridades do espírito humano.
preocupada com o próprio progresso,
Reivindicando para o artista o obje-
desejosa de afastar-se de todas as tradi-
tivo de traduzir na obra de arte a sensa-
ções, voltada para a superação contínua
ção visual imediata, independentemente,
de suas próprias conquistas.
e mesmo em oposição, de toda noção
A arte deste período pode também
convencional da estrutura do espaço e
ser conhecida como ‘modernista’ – pro-
da forma dos objetos, o impressionismo
gramaticamente moderna e portanto
afirmara o valor da sensação como fato
consciente da necessidade de desenvol-
absoluto e autônomo: o artista realiza na
ver-se em novas direções, contraditórias
sensação uma condição de plena autenti-
em relação às anteriores.
cidade do ser, atinge na renúncia a qualquer
O ponto de ruptura na tradição artís-
noção habitual um estado de liberdade
tica é representado pelo impressionismo:
total, fornece o exemplo daquela que
o movimento moderno na arte européia
deve ser a figura ideal do homem moder-
começa quando se percebe que o im-
no, livre de preconceitos e pronto para
pressionismo mudou radicalmente as pre-
a experiência direta do real. Um exame
missas, as condições e as finalidades do
e um aprofundamento das possibilidades
do homem moderno, ou do homem de-
do fim do século. Mas, quando se afir-
finido exclusivamente pela autenticidade
ma que o artista não tem outrafinalidade
das próprias experiências, deviam neces-
que não a produção artística, acentua-se
sariamente mover-se em duas dimensões
igualmente que a arte, como pura arte,
– buscar estabelecer qual poderia ser a
é indispensável à vida do mundo, que a
figura e eventualmente a estrutura de um
sociedade se forma e se educa também,
mundo dado exclusivamente como sen-
embora não exclusivamente, por meio da
sação e fenômeno; defi-nir o sentido e
arte. Assim sendo, e considerando que o
eventualmente a finalidade de uma exis-
artista também faz parte da sociedade, a
tência humana entendida exclusivamen-
arte não só não decorre de uma estética
te como sucessão, interferência e contexto
dada de antemão, mas, na sua atuação,
de sensações. Uma arte que se desenvolva
elabora ou constrói uma estética. Por esta
nestas duas direções é intrinsecamente
razão uma das características marcantes
moderna, porque implica a renúncia a
da arte moderna é a formação contínua
qualquer princípio de autoridade, seja
de grupos e tendências, cada um dos
ele entendido como imagem revelada
quais enuncia e desenvolve um programa
e eterna do criado ou como norma es-
e tende a impor sua própria estética, ou
tética geral ou como tradição histórica
mais precisamente sua poética, pois es-
de valores. Também por isto a arte deste
tes princípios não se enquadram em um
período, a arte moderna, prescinde de
sistema filosófico e tendem sobretudo
toda e qualquer tradição nacional, e se
a condicionar o fazer artístico. Pode-se
coloca não mais como arte ou beleza
dizer portanto que a sucessão de poéti-
universais e sim como a arte de uma so-
cas – ou dos ismos, como às vezes são
ciedade histórica que busca superar as
pejorativamente qualificadas – representa
tradicionais fronteiras das nacionalidades
a vontade de definir a relação entre arte e
e ser internacional ou européia. Não há
vida contemporânea, em contínuo e ace-
dúvida de que o objetivo das diversas, e
lerado movimento.
freqüentemente contraditórias, correntes
Não tendo mais como finalidade a re-
artísticas, do fim do século XIX ao come-
presentação dos eternos valores religio-
ço do século XX, era a definição de uma
sos ou morais, a arte só pode ser uma
idéia de Europa, resultante justamente da
modalidade da vida e, como tal, interferir
superação dialética das tradições históri-
em todos os aspectos da vida contempo-
cas e daquilo que o positivismo filosófico
rânea. A arte torna-se um fato plenamen-
denominava características nacionais.
te social, vinculando-se a movimentos
Deste modo, a questão da arte se
mais progressistas.
apresenta em vários planos: participando
O tema da Europa, que já no fim do
diretamente da situação histórica, abarca
século XIX era o tema central da arte mo-
necessariamente problemas de ordem
derna. Mas o grande problema da arte
não especificamente estética – intelec-
moderna, ou seja, o problema de uma
tuais, sociais, religiosos e políticos. Mas
presença concreta e atuante da arte no
dado que, enquanto arte, é um modo
mundo da vida social, e de uma ativa par-
completo e insubstituível de experiência,
ticipação em suas lutas históricas, perma-
ela conserva e acentua sua própria au-
necerá o problema dominante por toda a
tonomia. Art pour l’art é o feliz slogan
primeira metade do nosso século.
27
conversa de artista fotografia edição: Ana Paula Figueiredo edição: Ana Paula Figueiredo produção: Fernanda Thedim
produção: Fernanda Thedim
m meados dos anos 1990, Carybé me dizia, na sua casa de Brotas, Salvador: “Eu registro o candomblé porque isso vai acabar. Na África, mesmo, quase não tem nada, mandaram agora o filho do Mario (Cravo Júnior) para registrar, mas não há quase nada”. As imagens que Mario Cravo Neto produziu durante sua carreira, de certa maneira, servem como resposta a esta situação. O fotógrafo empenhou-se em mostrar diversas maneiras de se recriar uma África mitica, fonte das riquezas e das curiosidades ocidentais, da sexualidade, dos orixás, dos ritos de matança, de sagração pelo sangue e pela celebração Tais imagens foram estimuladas por nossa herança afro-brasileira. Filho de Mario Cravo Júnior, escultor principal da geração baiana dos anos 1950, Cravo Neto teve um importante núcleo modernista para se inspirar e superar. A Bahia era recriada, desde a onda regionalista que começa na década de 1930 Portanto, uma tarefa árdua aguardava Mario Cravo Neto, que persistiu em criar originalidade na busca de
MARIO CRAVO NETO ÁFRICA MÍSTICA
28
29
nos. Esta busca aparece eminentemente nos retratos em preto-e-branco. Ali, o fotógrafo desenha toda a sua originalidade. Com seu empenho no contraste, afirmava: “gosto atualmente dos tons e da densidade da foto escura mais do que da normal. Minhas cópias em preto-ebranco são sempre mais escuras”. Luciana, fotografia de 1994, mostra
30
uma brasilidade baiana. Ele mesmo dizia:
o quanto Cravo Neto costumava deixar
“considero-me mais baiano do que brasi-
seus retratos no limite da luz. A linha con-
leiro”. É difícil superar uma geração que
torna o rosto de Luciana, como a Baba
inventou o Brasil e a Bahia. É difícil fazer
Cósmica, de Lygia Clark. Observando os
explicações sobre a religiosidade sem cair
rituais do candomblé, Cravo Neto tam-
nas mesmices, na fábula das três raças,
bém fez imagens diretas dos terreiros.
no primitivismo colonialista, no folclore
Mas, no retrato, traz hom e bestiários
estéril. “Quando penso em Mario Cravo
para o estúdio. Salpicava os corpos dos
Neto, penso em Luciana, uma fotografia
modec com pó branco, fazendo alusão
de 1994. Luciana está de olhos fechados,
a pinturas sagradas, ritualístl executadas
suave, serena. Um fio contorna toda sua
nos corpos dos iniciados no candomblé,
cabeça, dá várias voltas, cobre seu rosto.
aproxIma se do Brasil de Debret. Porém,
Ela recebe o fio com delicadeza. Estão
em Cravo Neto. marcas eram feitas com
em comunhão, o fio e ela. Luciana é uma
talco, absolutamente ficcionais. Com es-
fotografia que não para de me emocio-
tas fotos de estúdio, o fotógrafo baiano
nar, não para de me inquietar. Talvez por-
aproxima-se da estética de Mapplethorpe,
que eu quisesse tê-Ia feito ou quem sabe
ele fotografa os negros e explora suas
ela mora em mim.” diz João Castilho so-
virtudes musculares, eróticas e religiosas,
bre a foto que você vê na próxima página.
assim como fez também.
Hal Foster explica que, durante as
Verger coloca-os como alegorias,
primeiras décadas do século 20, “o corpo
aceitando a artificialidade poses combi-
humano e a máquina de industrias eram
nadas, de elementos cênicos planejados.
vistos como apartados entre si”. A tecno-
Em Áfricanada vemos o uso da foto em
logia era uma espécie de “suplemento
preto-e-branco recortar a parte superior
demoníaco”. Figuras do primitivismo e a
do cabelo da menina, dividido em tran-
máquina, então, tornaram-se os dois prin-
ças. As tranças revelam-nos caminhos,
cipais fetiches modernistas. Cravo usa
mapas, lugares a seguir. Um médico baia-
máquina para fotografar o corpo e suas ex-
no e um dos primeiros a escrever sobre
tensões naturais e transcendentes. Com
os negros no Brasil, antes de Picasso con-
isso, cria certa comunhão entre a frieza
crerizar Les Demoiselles D’A vignon, des-
cientificista da técnica, mostrando-nos
tacava, em 1904, a “capacidade artística”
os enigmas do sagrado e do corpóreo.
dos negros para a escultura. Os corpos
Evidencia certa animalidade em determi-
de Cravo adquirem valores escultóricos.
nadas torções do corpo. Dorsos de ca-
Enquanto Pierre Verger mergulhara
bras assemelham-se aos ombros huma-
no olhar etnográfico se fazendo mensa-
31
geiro entre mundos, Cravo Neto aceitava
olho do bicho bem próximo ao olho da menina, como se os dois
mas temia a farsa, aproveitava as fres-
corpos se unissem, aguardando a metamorfose. Em Território em
tas, o olhar de ladrão da ima Os rituais
Transe, Cravo Neto empreende uma série de fotografias, onde
de candomblé foram assuntos de outros
os terreiros são clicados em diferentes situações, pernas de um
diversos fotógrafos. José Medeiros, em
adepto são cobertas por talos de fiados, chamados de mariô. Na
1951, tem suas fotos publicadas na revis-
publicação das fotos as tonalidades daquele verde novo da pal-
ta O Cruzeiro, em reportagem intitulada
meira de pavão, produz uma espécie de díptico. Em outras fo-
“As noivas dos deuses sanguinários”
tografias desta série, por entre as frescas cena ao centro, onde
Poucos meses antes disso, Paris Match
sangue e os corpos de uma galo decapitados iluminam a imagem,
pública, na França, “Os possuídos da
mostrando não fazia parte dos autorizados a se aproximar da ofici-
Bahia”, em que o cineasta Henri Geor-
na nas estratégias de Degas nas pinturas so olhar se faz voyeurísti-
ge Clouzot escreve um texto pejorativo
co, furtivo. Cravo Neto não aceitava dogmas visuais, deixava o pri-
sobre os rituais de sangue. Tais imagens
meiro plano da imagem emb que o fotógrafo estava por trás das
escancaravam com maestria momentos
pessoas, como um intruso. Mas mirava o ocorrido. Como acon-
secretos, causando polêmica aos que
tece de Atget, as imagens ganhavam a atmosfera de um mundo
tentavam preservar a proibição da foto-
sombrio, de nuvens.
grafia no candomblé. Mario Cravo Neto
Philippe Dubois afirma que, para fazer um re-iluminar o
trata, em suas imagens, de uma outra no-
sujeito, mas “é necessário que a mesma luz emane dele para atin-
ção sobre o mesmo uso do sangue no
gir e queimar essa pele. A busca de Mario Cravo Neto pela luz
candomblé, como vemos na série Sacrifício.
fotográfica limiar, no qual o ofício do fotógrafo assume a ficção
Segundo Walter Benjamin, apesar
que emana dos sujeitos e dos rituais: exageros corpo, negritude
de toda a perícia do fotógrafo, o obser-
em penteados propositadamente imagens chocantes de bichos
vador “sente a necessidade irresistível
decepados e sang pelo chão dos terreiros. Ali, Cravo Neto vai em
de procurar nessa imagem uma pequena
busca da alma”, eterno temor do primitivo diante da fotografia, o
centelha do acaso, do aqui e agora,
que Dubois chamou de “verdadeira ‘fantasmização’ dos corpos”.
com a qual a realidade chamuscou a
A fotografia lida co fantasma por excelência”, como é o exemplo
imagem”. Mario Cravo Neto manipula-
de o Sacrifício a primeira fotografia de crime. Diante do Sudário,
va o acaso. Interrompia o chamuscado
em 1984, eu visitava Stefania Bril pela primeira vez, com minhas
da imagem encenando processos rituais
da visualidade amazônica debaixo do braço. Ela me perguntou:
em falsos cenários. Na série Sacrifício,
conhece o Cravo Neto? Não, eu disse. Pegou um livro (acho que
empenha-se em colocar no estúdio ima-
Estranhos Filhos da Casa) e me mostrou. Impressionante a afinidade.
gens em que aves e cágados aparecem
Fiquei encantado de saber que um baiano mirava seu povo
com cabeças seccionadas pelo ângulo
com tamanha etência técnica e estética. Naquela época, era mais
fotográfico, mas ainda vivos, com o corpo
fácil um fotógrafo Brasiileiro conhecer um Bresson ou um Smith
mantendo sua integridade. Ativa-se o
do que um Farkas. Mario o Neto nunca precisou desviar seu olhar
sentido liminar da imagem, momentos
para atender a modismos. Ele não esqueceu de nada que se passa
antes do sacrifício. Benjamin afirmava
aqui e valorizou o olhar de um brasileiro sobre o Brasil e merecerá
que o modelo posando durante horas
de uma geração de autores o respeito por sua obra.” Luiz Braga vê.
crescia dentro da Imagem fotográfica, di-
Aqui, depois de mais de dez anos, aceitando o convi-
ferente da fotografia instantânea. Já em
te para escrever sobre Mario Cravo Neto, saio da minha le-
outra, o corpo da criança situa-se entre o
targia diante da citada afirmação desencantada do argenti-
corpo do adulto e o corpo de uma pata
no-baiano que iniciou este texto e respondo carinhosamen-
branca, bicho predileto de lemanjá.
te a Carybé: o candomblé ainda resiste, reunindo milhares de
Genialmente, o fotógrafo posiciona o
adeptos em cerimônias por todo o Brasil e em outros países.
31
A arte de neto seria então essa tentativa de não sucumbir a decepção do ‘nada se vê’, dando visão ao invisível dos rituais e mostrando que fantasmas também posam pra fotógrafos O cotidiano das casas continua o mesmo, continua errático, emulando e escapando de regras e modelos: banhos de erva com água gelada, rezas, cânticos varando as madrugadas, matanças, mal ruim, dacoco, xirê à noite. E as roupas e a dança e a graça e as joias para “ficar odara”. Restando dúvidas, consultemos os momentos de êxtase e comunhão nas fotografias do menino Cravo Neto, que você também viu nascer. Fiquei encantado de saber que um baiano mirava seu povo com tamanha etência técnica e estética. Naquela época, era mais fácil um fotógrafo Brasiileiro conhecer um Bresson ou um Smith do que um Farkas. Mario o Neto nunca precisou desviar seu olhar para atender a modismos. Ele não esqueceu de nada que se passa aqui e valorizou o olhar de um brasileiro sobre o Brasil e merecerá de uma geração de autores o respeito por sua obra.” Luiz Braga vê. A arte de Mario Cravo Neto é a tentativa de não sucumbir a esta decepção do “nada se vê”, criando visibilidade para o invisível dos rituais, mostrando que os fantasmas jamais posam para fotografias, só nos restando a ficção, a imaginação, o estúdio e, sobretudo, a crença. Todas as declarações de Mario Cravo Neto, no texto, foram retiradas do livro Olhares Refletidos, de Joaquim Paiva.
LUCIANA: a fotografia que mais me toca
32
CIDADE JARDIM 11 3552 3000 33
reportagem de capa edição: Carlos Henrique Braz produção: Fernanda Thedim
museu de arte moderna racionalista e plástico a um
o
Museu de Arte Moder-
de Castro Maya. As diferenças mais evi-
na do Rio de Janeiro
dentes entre o Museu de Arte Moderna
é definitivamente um
do Rio de Janeiro e o de São Paulo pare-
fruto das transforma-
cem ser a abertura do museu carioca às
ções culturais que têm lugar no período
artes aplicadas, sobretudo ao design e ao
após a II Guerra Mundial e que entre nós
desenho industrial, e sua vocação educa-
se traduz no crescimento das cidades e
tiva, que se concretiza por um serviço de
na diversificação de seus equipamen-
biblioteca atuante (a cargo da crítica li-
tos. Criado em 1948, acompanha o mode-
terária Lúcia Miguel Pereira) e por ateliês
lo do Museum of Modern Art - MoMA,
abertos ao público. Diversos profissionais
em Nova York de 1929, do mesmo modo
são convidados para implantar as ativida-
que o Museu de Arte Moderna de São
des do museu: Candido Portinari (1903
Paulo - MAM/SP, de 1948. Um “museu
- 1962), pintura; Bruno Giorgi (1905 -
vivo”, com exposições, música, teatro e
1993), escultura; Alcides Miranda (1909
cinema, além de debates: eis o intuito
- 2001), arquitetura; Luís Heitor (1905 -
central da instituição, presidida pelo co-
1992), música; Santa Rosa, teatro; e Luís
lecionador e industrial Raymundo Ottoni
Roberto Assumpção Araújo, cinema.
34
35
36
O museu funciona inicialmente em salas
res de artistas e colecionadores -, passa
cedidas pelo Banco Boa Vista, na praça
a contar nesse momento com obras de
Pio X, passando em seguida para um es-
artistas estrangeiros adquiridas na Euro-
paço improvisado entre os pilotis do pré-
pa como André Lhote (1885 - 1962), Yves
dio do Ministério da Educação e Saúde,
Tanguy (1900 - 1955), Georges Mathieu
onde é aberta ao público a mostra Pintu-
(1921), Fernand Léger (1881 - 1955), Al-
ra Européia Contemporânea (janeiro de
berto Giacometti (1901 - 1966), entre ou-
1949). Das 32 obras apresentadas nesta
tros. Dentre os artistas nacionais, além de
exposição, 12 irão compor o acervo do
Portinari, Di Cavalcanti (1897 - 1976), La-
museu, que contará em seguida com do-
sar Segall (1891 - 1957) e Guignard (1896
ações de Raul Bopp (1898 - 1984), Mar-
- 1962), o acervo do MAM se distingue
ques Rabelo e Oscar Niemeyer (1907),
por possuir uma expressiva coleção de
entre muitos outros.
Oswaldo Goeldi (1895 - 1961), com dese-
O ano de 1952 marca uma nova fase
nhos e gravuras. É Niomar quem convida
do museu, inaugurada com a exposição
o arquiteto Affonso Reidy (1909 - 1964)
dos artistas premiados na 1ª Bienal Inter-
para projetar uma nova sede para o mu-
nacional de São Paulo (o que ocorre, a
seu, em área de 40 mil metros quadrados
partir daí, regularmente) e com a amplia-
doada pela prefeitura do Rio, no aterro
ção do acervo, graças ao comando da
do Flamengo, com projeto paisagístico
sra. Niomar Moniz Sodré, então diretora
de Burle Marx (1909 - 1994). As obras são
executiva, cujo marido, Paulo Bittencourt
iniciadas em 1954 e inauguradas em di-
é proprietário e diretor do jornal Correio
ferentes momentos: o Bloco-Escola, em
da Manhã. O acervo do MAM - compos-
1958; o Bloco de Exposições, em 1967
to até então por quatro obras doadas
(com mostra de Lasar Segall) e o Bloco-
pela Bienal, por uma pequena doação
Teatro, inacabado. O projeto de Reidy
do MoMA e por contribuições particula-
segue as sugestões do racionalismo ar-
quitetônico que orientam seus diversos
Arquitetura
trabalhos. No caso do MAM, especifica-
Obra máxima de seu criador, o arquiteto
mente, cabe destacar o emprego da es-
carioca Affonso Eduardo Reidy, um dos
trutura vazada e transparente, a planta li-
maiores nomes da arquitetura brasilei-
vre do espaço de exposições (que prevê
ra, o Museu de Arte Moderna do Rio de
a flexibilidade da museografia) e a aten-
Janeiro situa-se no Parque do Flamengo,
ção concedida à iluminação.
em um cenário privilegiado. Pensado para dialogar com a pai-
“O MAM é palco de importantes mostras de artistas nacionais e estrangeiros, além de abrigar conferencistas internacionais.”
sagem - a horizontalidade da composição para fazer frente ao perfil dos morros cariocas -, as fachadas envidraçadas, trazendo para o interior o paisagismo de Burle Marx, o projeto de Reidy apresenta-se racionalista e plástico a um só tempo. Não há distância entre a estrutura e a aparência final. Os vãos livres têm um fim prático: a liberdade de composição oferecida ao espaço expositivo, o convi-
A instituição acolhe grupos e movimen-
te ao jardim no plano térreo. Do cuidado
tos de vanguarda da arte nacional nos
com o concreto aparente à escolha dos
anos de 1950 e 1960, como é possível
granitos e pedras portuguesas, o projeto
aferir por mostras como: Exposição do
ganha o parque.
Grupo Frente (1955), Exposição Nacional
No Brasil, a década de 1940 foi um
de Arte Concreta (1957) e mostra da Arte
período marcado pela intensa participa-
Neoconcreta (1959). Tropicália (1967),
ção da iniciativa privada no processo de
obra célebre de Hélio Oiticica, na ori-
criação de uma rede de equipamentos
gem do movimento tropicalista nas artes,
culturais de alto nível e pela consolidação
é exposta na mostra Nova Objetividade
do apreço pela estética modernista entre
Brasileira, realizada no museu em abril
colecionadores e intelectuais em geral.
de 1967. O incêndio ocorrido em 1978,
O período de grande prosperidade que
quando de uma retrospectiva histórica
o Brasil experimentava, propiciado pelo
do uruguaio Torres-Garcia (1874 - 1949),
avanço da industrialização, contrastava
marca um momento trágico na história
com a difícil situação financeira vivencia-
do museu, que tem parte do seu acervo
da pela Europa após o término da Segun-
e instalação destruídos.
da Guerra Mundial.
37
“O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro viu nascer parte considerável de nossos movimentos artísticos e lançou muitos de nossos artistas mais importantes”
Breve histórico Lugar historicamente privilegiado da vanguarda e do experimentalismo no país, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro viu nascer parte considerável de nossos movimentos artísticos e lançou muitos de nossos artistas mais importantes. Do Grupo Frente (1954), formado a partir da primeira turma de adultos de Ivan Serpa no , ao Neoconcretismo (1959); do Ateliê de Gravura (1959) à Nova Objetividade Brasileira (1967), passando pelas exposições “Opinião 65” e “Opinião 66”; das mostras Resumo JB (1964- 1972) aos Salões de Verão (1969- 1974); dos Domingos da Criação (1971) à Área Experimental (1975- 1976), foram incontáveis os eventos e os artistas que pelo passaram, ou nele tiveram uma referência fundamental para o florescimento de suas obras. Coleção Formado inicialmente ao longo dos anos 40 e 50 por inúmeras doações de artistas, empresários e algumas instituições oficiais, o acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro constituiuse uma das coleções de arte do século XX mais importantes no país. Apresentando um panorama completo e sofisticado da evolução artística de nosso século, dentro e fora do Brasil. A coleção partia do cubismo e avançava pelo futurismo, surrealismo, dada e demais vanguardas históricas do início deste século, até o que de mais atual ocorria no cenário internacional durante os primeiros decênios de sua segunda metade. Durante três décadas, a maioria dos artistas brasileiros de destaque teve no não somente seu palco de ação mais imediato e visível: aqui estavam fartamente
38
O incêndio de 1978, contudo, pôs a per-
(3 x 10m) existente na América do Sul e, atualmente, permanece
der todo o esforço das décadas ante-
guardada. Imediatamente após o trágico acidente que chocou o
riores. Muito pouca coisa pôde ser sal-
meio cultural de todo o mundo, começaram as manifestações de
va. Entre as perdas irrecuperáveis estão
solidariedade sob a forma de doações de artistas, instituições e
obras-primas de Picasso (uma inestimá-
mesmo de governos - como o da França, que enviou ao obras
vel cabeça cubista e um famoso Retrato
como a de Pierre Soulages - mas os esforços de reconstrução do
de Dora Maar), Miró, Salvador Dalí, Max
acervo foram largamente prejudicados por crises sucessivas da
Ernst, René Magritte, Ivan Serpa, Manabu
economia brasileira.
Mabe e muitos outros, além de todos os
Foi necessário um longo período de pequenas adições
trabalhos presentes em uma grande re-
para que a Coleção do Museu voltasse a ocupar seu lugar de
trospectiva de Joaquin Torres García, que
destaque. Atualmente, com cerca de onze mil obras, ela dis-
ocupava o Museu no momento do incên-
põe de esculturas e pinturas de artistas de renome internacio-
dio. Das obras que escaparam do fogo,
nal como Fernand Léger, Alberto Giacometti, Jean Arp, Hen-
destacam-se Mademoiselle Pogany, es-
ry Moore, Barry Flanaghan, Bourdelle, Poliakov, Henri Laurens,
cultura de Constantin Brancusi de 1920;
Marino Marini, Max Bill, César, Lipchitz, Carlo Carrà e Lucio
Number 16, de Jackson Pollock de1950 e
Fontana. Além da coleção internacional, há um grupo notável
a obra de Ben Nicholson, Opal, magenta
de artistas latino-americanos, entre eles Joaquin Torres García,
and black de 1951, hoje entre as princi-
Cruz Díez, Jorge de la Vega, Romulo Macció, Xul Solar, Antonio
pais jóias. Também tem valor inestimável,
Seguí e Guillermo Kuitca, além de brasileiros como Bruno Giorgi,
no acervo, a gigantesca tela de Georges
Maria Martins e Di Cavalcanti.
Matthieu, Morte Antropofágica do Bis-
Desde 1993, o Museu de Arte Moderna recebeu, em regime
po Sardinha, pintada pelo artista durante
de comodato, um reforço dos mais notáveis para seu acervo.
uma performance nas dependências do
A Coleção Gilberto Chateaubriand, internacionalmente conheci-
próprio Museu, em 1959, e por ele doa-
da como o mais completo conjunto de arte moderna e contem-
da em caráter definitivo poucos anos de-
porânea brasileira, e cujas cerca de quatro mil peças compõem
pois. Trata-se da maior tela de Matthieu
um impressionante painel do período em um só museu do País.
39
A coleção tem trabalhos pioneiros da década de 10, como os de
no universo mais dura da realidade brasi-
de Anita Malfatti (duas paisagens de 1912 e O Farol, de 1915), e
leira, o fotojornalismo ligado à temática
prossegue através do modernismo de Tarsila do Amaral (o Uru-
social e bem brasileira de Walter Firmo, a
tu, de 1928), Lasar Segall, Di Cavalcanti, Ismael Nery, Vicente do
atitude questionadora sobre o ato de fo-
Rego Monteiro, Portinari, Pancetti, Goeldi e Djanira, entre outros.
tografar da artista Rosângela Rennó entre
Desenvolve-se através dos embates dos anos 50 entre geometria
outros. Nesse sentido a Coleção Joaquim
e informalismo, das atitudes engajadas e transgressoras da Nova
Paiva representa no todo a qualidade e
Figuração dos anos 60 e da arte conceitual da década seguinte,
a pluralidade com trabalhos e tendências
dos artistas que constituíram a Geração 80, até desembocar nos
que a fotografia contemporânea brasilei-
mais jovens artistas surgidos nos dois ou três últimos anos. O
ra possibilita, nos oferecerendo mais.
colecionador reuniu praticamente todos os artistas que conquis-
Somado a esta coleção por si só im-
taram um lugar de destaque internacional para a arte brasileira:
pressionante, o Museu de Arte Moderna
Aluísio Carvão, Ivan Serpa, Antônio Dias, Rubens Gerchman, Car-
abriga, ainda, um terceiro conjunto igual-
los Vergara, Roberto Magalhães, Wesley Duke Lee, Nelson Leir-
mente expressivo, com cerca de quatro
ner, Artur Barrio, Antônio Manuel, Jorge Guinle, Daniel Senise,
mil obras de fotógrafos brasileiros, que
José Bechara, Rosangela Rennó e Ernesto Neto, e centenas de
compõem um terceiro acervo, adquirido
outros não menos destacados (são cerca de 400 artistas no total).
em parte graças a uma doação especial
Renovada através de aquisições que o colecionador faz periodi-
da White Martins. Nesse sentido a Cole-
camente, em especial junto a artistas jovens e ainda não consa-
ção Joaquim Paiva representa no toda a
grados pelo circuito de arte, a Coleção Gilberto Chateaubriand é
qualidade e a pluralidade de trabalhos.
sempre apresentada em exposições temáticas, não somente nas dependências do Museu, mas igualmente através de exposições itinerantes dentro e fora do País. Já em 2005, o Museu de Arte Moderna teve o prazer de receber, em regime comodato, grande parte da coleção do diplomata Joaquim Paiva. A Coleção Joaquim Paiva teve seu início em 1981 quando o diplomata começou a adquirir sistematicamente fotografias brasileiras contemporâneas. No museu estão depositadas aproximadamente 1090 obras que registram o que há de mais representativo na fotografia brasileira de nosso tempo. Desde de retratos e paisagens à experimentos fotográficos dos anos 1990. Entre os nomes mais representativos da coleção estão: Pierre Verger com a sua preciosa documentação sobre a cultura afro-brasileira; Geraldo de Barros e seus experimentalismos técnicos; Miguel Rio Branco que busca a intensidade das cores
40
41
AMIGOS DO MAM edição: Rogério Durst produção: Letícia Pimenta
Restaurante Zozo Dificilmente se encontrará na cidade do
ta relicârios numa montagem criada pelo
Rio de Janeiro um lugar com paisagem
profissional de teatro José Possi Neto.
tão privilegiada como a do Zozô. De um
A cozinha tem como especialidade os
teto de vidro construído sobre a parte da
grelhados e sua eterna lista de acom-
varanda da casa abre-se o panorama da
panhamentos: toda a família de frituras,
imensa pedra do Pão de Açúcar. Em ma-
várias misturas de farofa e de arroz, cre-
téria de atributos visuaus, os trunfos do
me de milho, creme de espinafre etc.
restaurante não se esgotam aí. Além da
ainda seguindo a fórmula e churrascarias
mangueira centenária no meio do salão,
concorrentes, ali se repete a clássica ofer-
dois lances decorativos fazem grande
ta de sushis em várias versões, no que
efeito no ambiente. De um lado, um es-
chama de bufê oriental.
cultural paredão de pau-a-pique alcança
Exposto nesse balcão também há
quase 10 metros de pé-direito. Em fren-
bom sortimento de folhas verdes, sala-
te, com igual destaque, um original mural
das e sobremesas. Da grelha a carvão, as
Drink ou sobremesa para amigos do mam
de tábuas de demolição intercala noven-
pedidas mais cotadas são o ojo de bife,
mais 10% de desconto sobre total
bife de chorizo, a picanha, o cordeiro, avitela e o costelão de boi. O serviço das carnes é a la carte, numa espécie de rodízio sem desfile de espetos pelo salão. Todos os pratos podem ser pedidos a vontade e seguem a regra do preço único, R$ 60,00, válido menos para bebidas. De um modo geral, ponto para o Zozô? Sim, com certeza. O contenário é bastante convidativo. a cozinha é bem caprichada e apresenta além do regular. O que talvez explique o fato de o lugar viver bem frequentado. Levando-se em conta o menu promocional (R$38,00 timidamente divulgado e especial para o período de almoço), as sugestões do cardápio parecem cativar todos que passam pelo local, principalmente os grupos de turistas que ao lado fazem fila para pegar o bondinho do Pão de Açúcar.
varanda do restaurante tem vista para o pão de açucar e bondinho
42
Caetano Veloso no Vivo RiO Na comemoração do projeto Pró Criança Cardíaca, o cantor Caetano Veloso é a grande estrela. Ele realiza nesta segundafeira, no Vivo Rio, o show beneficente ‘Caetano Veloso Voz e Violão’, em um formato que ele não apresenta há muito tempo na cidade. O repertório será mantido em segredo. O Pró Criança Cardíaca é um proje-
tuição. Em seu novo show, “Obra em
Interessante, não? Os ingressos já estão
to social, sem fins lucrativos, que aten-
progresso”, Caetano Veloso se propõe
disponíveis e estarão a venda até o final
de e examina cerca de 50 crianças por
a abrir para o público parte do processo
do mês. Amigos do MAM tem estaciona-
semana,
atendimento
que resulta em um novo CD. Ou seja, ele
mento vip e desconto no camarote.
odontológico, cestas básicas, roupas e
inverte o curso usual de um lançamento,
brinquedos. Nestes anos, 14.699 crianças
segundo o qual o artista grava um CD e
compras por telefone: 4003-1212
carentes já foram atendidas pela insti-
depois apresenta o show para divulgá-lo.
ou no site www.ingressorapido.com.br
que
recebem
Lançamentos na loja Novo Desenho A loja Novo Desenho lançou este mês com exclusividade a cadeira Mäder, dos designers brasileiros Fernando Mendes de Almeida e Roberto Hirth, fabricada pela marcenaria Mendes-Hirth. A proposta é ambiciosa: criar uma bela cadeira de balanço, e construí-la dentro das mais nobres técnicas de marcenaria. A cadeira Mäder é leve, e menor do que modelos antigos de cadeira de balanço. Elegante, sem braços, oferece liberdade de se sentar de lado, ou com as pernas abertas em “V”. Madeira: estrutura imbuia ou ipê; assento e encosto em laminado de peroba do campo. Acabamento em verniz natural. Amigos do MAM estão convidados para o dia do lançamento da cadeira.
telefone: (21) 22229999 email: atedimento@novodesenho.com.br
43
43
turismo e arte edição: Ana Paula Figueiredo produção: Fernanda Thedim
barce
pelas curva
44
h
á no mundo algum outro
andar de guia na mão para entender a
lugar como a Barcelo-
complexidade da sua obra. Nem sequer
na? Dizer isso é tentador
é necessário imaginar quão complexos
mas com certeza não
seriam os exercícios matemáticos que
existe outra cidade como ela na Espanha
Antoni Gaudí fazia, no início do século,
no que diz respeito a estilo, visual
para calcular pesos de estruturas e en-
ou energia. As revistas e guias de viagem
gendrar a forma de fazer com que uma
falam com entusiasmo de sua arquitetu-
simples coluna se transformasse numa ár-
ra ousada, das lojas de design, dos bares
vore, ou que um muro de um jardim nos
incríveis e da vida cultural vibrante, mas
faça lembrar uma onda marítima.
Barcelona é mais do que uma moda do
Em construção há mais de um século,
momento. É uma cidade progressista, que
a Sagrada Família continua inacabada
se renova incansavelmente, sem se esque-
mas surpreendente. Cada vez que se
cer de preservar o melhor do seu passado.
lá entra, há um pormenor que antes os
A comunidade autônoma da Cata-
andaimes escondiam e que a luz deixa
lunha, da qual Barcelona é capital, tem
agora revelar. Diz-se que a Sagrada Fa-
uma história que remonta ao século 9,
mília é a súmula de todo o trabalho de
e, nos longos períodos de domínio de
Gaudí, ele que foi responsável por uma
celona
vas de gaudí
obra arquitetônica a todos os títulos notável, embora seus méritos nem sempre tenham sido reconhecidos. Nos anos 20 sua obra estava votada ao desprezo, com poucos a entender tantas excentricidades. Hoje as opiniões são unânimes, os profissionais da arquitectura respeitamno, não só pela originalidade das suas criações, mas também muitas por todas
potências externas, assim como durante
as descobertas que fez e pelas formas
a ditadura de Franco, sufocar o espírito
engenhosas com que conseguia fazer
catalão provou-se uma tarefa impossível.
cálculos e ensaios, numa época em que
Barcelona reflete essa independência e
os computadores eram ficção científica.
é a líder espanhola em ativismo político,
Os restantes, não especialistas – tal como
design, arquitetura e comércio.
a autora destas linhas – acabam invaria-
Isso se reflete nos lindos edifícios modernistas (Art Nouveau) que enchem
velmente por se render à imaginação delirante de Antoni Gaudí.
as ruas e as avenidas da cidade. Nesse
A cidade organizou em 2002 um ano
sentido, Gaudí foi quem deixou uma
de comemorações em honra do seu filho
marca mais expressiva: a catedral Sagra-
pródigo e os seus edifícios mais emble-
da Família, de sua autoria, é célebre, mas
máticos de Gaudí abriram as portas ao
as casas, os edifícios e os parques que
turismo. Em 2006, o nome do arquitecto
ele e seus contemporâneos projetaram
é usado em nova efeméride. A extraordi-
são igualmente fascinantes.
nária casa Battló comemora 100 anos de
Não é preciso ser arquiteto para apreciar a obra de Gaudí, nem é preciso
existência e seus donos decidem mostrar espaços antes raramente visitáveis.
45
INTERNACIONAL edição: Rogério Durst produção: Márcia Soter
á algum médico aqui? Quero checar se estou morto. Isso parece uma experiência fora do corpo. Foi assim que o diretor Tim Burton definiu a sensação de participar da abertura da maior exposição já realizada pelo MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) sobre a obra de um cineasta. A partir de domingo e até abril, serão exibidas mais de 700 obras, entre desenhos, figurinos, cartazes, maquetes, bonecos e fotografias. As peças retratam não só como foram criados alguns dos principais personagens e enredos dos filmes mas também exploram as obsessões estéticas do diretor. O resultado é um ambiente em que transitam sem atrito personagens tão díspares como as criaturas fascinantes de “Os Fantasmas Se Divertem” (1988), as crianças de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005) e a delicadeza sombria de “Edward Mãos de Tesoura” (1990). Um universo em que o diálogo escrito ao lado de um dos bonecos é verossímil: “Uma noite, em um bar, tive uma grande surpresa. Conheci uma garota que tinha muitos olhos. Ela era realmente muito bonita (e também muito chocante!) e reparei que ela tinha uma boca, então, começamos a conversar”. “Não pensava nesse material como arte porque não foi criado para ser visto, era material que me ajudava em meu processo mental. Do que eu gosto na exposição é que não é apenas uma caracterização, não é apenas material de filme ou de desenho; fizeram um bom trabalho em apagar as linhas que separam as duas coisas”, disse durante uma entrevista. Durante o anúncio para a imprensa, Burton agradeceu a todos os que vasculharam seus armários e disse que a experiência foi muito positiva, apesar de não conseguir observar partes da mostra que representam aspectos muito pessoais. A exposição apresenta desde desenhos dos tempos de infância de Burton até o pouco conhecido período em que ele trabalhou como animador da Disney e inclui a exibição do filme “Hansel e Gretel”, animação do começo dos anos 1980.
46
tim burton O imaginário de Tim Burton em exposição no MoMA NovO22imaginário - April 26de Tim Burton em exposição no MoMA
47
47 47
“Sinto-me atraído por meu próximo filme porque acho que nunca foi feita uma versão forte para o cinema da história de Alíce. Me sinto atraído por coisas esdrúxulas.”
Cineasta:
Durante a mostra, o museu vai exibir 16
assassinos e criaturas com mãos de te-
Tim Burton.
filmes do cineasta, além de obras que lhe
soura, Burton já inventava personagens
serviram de inspiração, como “Nosferatu”
marginais no papel mesmo.
(1922), de F.W. Murnau, “Frankenstein”
É com gravuras e desenhos feitos na
(1931), de James Whale, “A Revanche do
infância que a exposição começa, pas-
Monstro” (1955), de Jack Arnold, e “Glen
sando em seguida pelo período em que
ou Glenda?” (1953), de Edward Wood.
ele foi animador da Disney no começo
No último caso, Burton fez “Ed Wood”
dos anos noventa.
(1994), sobre o cineasta.
48
A respeito da estética dos filmes,
O programa é imperdível para quem
Burton afirma que o expressionismo ale-
der a sorte de circular pela cidade ameri-
mão, os filmes de Fritz Lang e a dinâmica
cana até o dia 26 de abril de 2010, data
entre sombra e luz o fascinam.
em que se encerra a exposição. Mas mes-
A expectativa de público para a
mo que você não tenha sequer previsão
exposição é alta, bem como a reper-
de passar por NY, é possível conferir, ain-
cussão na imprensa americana. E como
da que de longe, um pouco do material e
o nome de Tim Burton é mundialmente
saber das história contadas por essas ima-
popular, se cogita a possibilidade des-
gens. No dia da abertura, Burton compa-
sa mesma mostra ser apresentada no
receu ao lançamento ao lado da mulher,
Brasil. O ano que vem promete ser mar-
a estranhinha Helena Bohan-Carter, e
co em sua carreira por causa do novo fil-
recebeu a visita de seu alterego cine-
me. Tim Burton, em entrevista, confessa:
matográfico – Johnny Depp. O ator é a
“Sinto-me atraído por coisas esdrúxulas“.
melhor encarnação da visão de mundo
No dia da abertura, Burton compareceu
um tanto mórbida do diretor, mas mes-
ao lançamento ao lado da mulher, a He-
mo antes dele emprestar seu rosto e seus
lena Bohan-Carter, e recebeu a visita de
trejeitos a detetives soturnos, barbeiros
seu alterego Jonny Depp.
Alice no País das Maravilhas O novo filme de Burton, “Alice in Wonderland” (Alice no País das
ca usada no filme A Lenda de Beowulf.
Cena do filme:
Maravilhas), será lançado em março do ano que vem. No Brasil a
Sendo que, enquanto Alice estiver em
Alice no País
estreia está prevista, segundo o site IMDB, para o dia 16 de abril
nosso mundo será em live-action e quan-
das Maravilhas,
de 2010. Os estúdios Disney já divulgaram novas imagens do
do descer pela toca do coelho será por
de Tim Burton.
próximo filme do diretor.
captura de movimentos.
A produção contará com Johnny Depp no papel de Cha-
Tim Burton carrega em seu currículo
peleiro Maluco, Helena Bonham Carter como a Rainha Vermelha
grandes filmes, com tecnologia de pon-
e Anne Hathaway como a Rainha Branca. A atriz australiana Mia
ta e um trabalho artístico incrível, como
Wasikowska interpretará a protagonista Alice.
fotografia, maquiagem e figurino. A Fan-
O filme baseado no clássico de Lewis Carrol será exibido também em salas IMAX (com tecnologia 3D e tela gigante).
tástica Fábrica de Chocolate, A Noiva Cadáver e O Estranho Mundo de Jack são
Burton disse que se sentiu atraído por seu próximo filme
alguns destes filmes, que mostram uma
porque acha que nunca foi feita uma versão forte para o cinema
fantasia realista que o diretor Tim Burton
da história clássica de uma menina que cai numa toca de coelho
sabe produzir como ninguém.
e vai parar num mundo de fantasia.Explicando seu pendor por
O cineasta, em entrevista dada a
examinar as bizarrices da vida, Burton disse: “As coisas estranhas
uma emissora de TV no dia da abertura
sempre me fascinaram, e é assim até hoje.”
de sua exposição, explica: “emocional-
O filme será uma espécie de sequência do original. Alice,
mente, aquela história de uma menina
agora ao 17 anos, está em uma festa da nobreza em Oxford,
andando de um lado para o outro en-
onde vive, até que descobre que está prestes a ser pedida em
contrando personagens malucos nunca
casamento. Desesperada, ela foge seguindo um coelho branco,
me fisgou. Foi isso que me levou a pen-
e vai parar no País das Maravilhas, um local que ela visitou há dez
sar numa forma de mostrar a estranheza
anos mas não se lembrava mais.
de todos aqueles personagens em algo
O diretor Tim Burton disse que o filme será uma mistura de live-action com 3D em captura de movimentos, mesma técni-
conectado, criar uma história onde antes havia uma série de acontecimentos.”
49
conversa entrevistade artista edição: Ana Paula Figueiredo produção: Fernanda Thedim
A exposição “Carlos Vergara: A dimen-
há uma fixação em torno de sua obra pic-
são gráfica – uma outra energia silencio-
tórica”. Ele observa ainda que é comum,
sa” apresenta um conjunto de mais de
na trajetória de Vergara, que um trabalho
200 trabalhos realizados pelo artista dos
migre para vários outros suportes: “uma
anos 1960 até hoje, onde a linguagem
fotografia pode se desenvolver em seri-
gráfica é o fio condutor.
grafia, que por sua vez poderá mais tar-
George Kornis (curador) destaca
de se tornar pintura. Esta é uma grande
que a produção de Vergara se expressa
alquimia dele”, afirma. O curador conta
por diversas linguagens, e esta exposição
que o título da mostra surgiu da lembran-
no Museu de Arte Moderna pretende dar
ça da exposição Silent Energy, realizada
visibilidade à linguagem gráfica, presente
em 1993 no Museu de Arte Moderna
em toda a sua trajetória, de diversas manei-
de Oxford, na Inglaterra, que revelou
ras: monotipias, gravuras, desenhos, 3D,
ao mundo a arte contemporânea chine-
fotografias, filmes. “Vergara não é só um
sa. “Ao estarmos diante de uma obra
pintor, como ele costuma ser apresenta-
de arte, há uma percepção, uma ener-
do”, comenta. “Sempre me incomodou
gia transformadora, que opera em silên-
que na boa e vasta bibliografia sobre ele
cio, esses trabalhos não são tonitruantes
carlos vergara a dimensão gráfica: uma outra energia silenciosa
50
como os demais, são silenciosos”. Ele ressalta que não se trata de uma retrospectiva, embora haja “um olhar que atravessa toda a sua produção”. A mostra terá trabalhos nunca mostrados, além de obras inéditas no Rio, como a instalação que fez para a Capela do Morumbi, São Paulo, em 1992, ou o conjunto completo de monotipias da série Gávea. O célebre painel de desenhos de 20 metros de comprimento, feito para a Bienal de Veneza, em 1980, também estará na mostra do MAM. Para o artista, a exposição se reveste de um caráter particularmente interessante, o de ter a curadoria de um colecionador, que o acompanha desde sempre. “Para o artista, e também para o público, é especial acompanhar esse olhar, que reflete o método sistemático e obsessivo de um colecionador dedicado que me acompanha desde o começo”, afirma Carlos Vergara. Kornis concorda que usou o “critério exato” que usa em sua coleção: “o de elos, ligações, entre os trabalhos”. As cercas de 200 obras são provenientes do ateliê do artista e de coleções privadas, como a de Gilberto Chateaubriand e do próprio George Kornis. Para se chegar a esse universo, o curador pesquisou por mais de um ano o Acervo Carlos Vergara, para mapear a produção do artista. “O acervo está muito bem organizado, sendo possível visualizar todas as múltiplas linguagens e os interesses que atravessam sua trajetória”. A seguir, o escritor e historiador da arte Luis Camilo Osorio faz uma curta entrevista com Vergara, esclarecendo-nos um pouco sobre o sentido de sua obra e de sua trajetória.
51
Luiz Camilo Osorio Ultimamente virou moda da tradição cons-
“medição com cor” do espaço e da tela,
trutiva da arte brasileira, como se ela fosse responsável por
dividido em diagonais paralelas, forman-
qualquer ortodoxia poética que tive inibido alguma novidade
do uma grade. Eu havia chegado a exaus-
e invenção criativa. Ao invés de ver naquele momento, e nos
tão; continuar seria me condenar a não
seus desdobramentos posteriores, a realização de obras funda-
ter mais a sensação de descoberta e tor-
mentais para nossa história da arte, de um padrão de qualida-
nar tudo burocrático. Só artesanato, nada
de a ser seguido, atualizado e desenvolvido, tomam-no apenas
mais além de artesanato.
segundo uma retórica formalista, que existiu, mas que é o que
Em 1989 propus para mim, em total
menos interessa. Li recentemente um texto do historiador Hu-
desapego, me colocar num marco zero
bert Damish em que ele falava algo do tipo, ou a pintura mostra a
da pintura, olhar para fora e para dentro.
necessidadenointeriordenossaculturacontemporânea,ouconsidere-se
Fazer pintura significa aceitar o peso his-
historicamente superada, ou seja, não se trata apenas de pegar o
tórico de uma atividade que só não é
pincel, as tintas e a tela, e pronto, há a pintura, mais de atualizar
anacrônica se contiver uma aventura, que
uma necessidade história dentro de uma cultura como a nossa,
supere a questão da imagem, que mexa
inflacionada de imagens. Como você, que é um pintor obstina-
com procedimento e tenha projeto, mesmo
do, vê está declaração? Desde a Bienal de 89 sua pintura tomou
assim a pintura de sempre que o suporte
uma direção específica, lidando com pigmentos naturais, com
determina. Portanto é preciso “ler” o pro-
procedimentos de impressão e impregnação que vão maturan-
jeto e procedimento para saber se não é só
do na tela uma experiência pictórica que é, digamos, retirada do
mímica, historicamente superada.
mundo e não inventada pelo pintor. Será que é isto mesmo, que
Esse “Ready Made” natural desloca-
é oferecido pela sua pintura é mais um deixar ver uma pele essen-
do e manipulado era e é pra mim pura
cial do mundo do que o criar uma experiência pictural autônoma?
música. Será que esse “deixar ver uma
Carlos Vergara Em 1989 meu trabalho não tomou sozinho uma
pelo essencial do mundo”, que você diz,
nova direção, eu decidi dar nova direção por estar seguro que
e que é parte da minha pintura atual, não
havia esgotado a série começada em 1980, onde abandono a fi-
é uma experiência pictórica autônoma? A
gura e mergulho numa figura que tinha como procedimento uma
pintura quando deixa de ser enigma, ca-
“Ao estarmos diante de uma obra de arte, há uma percepção, uma energia transformadora, que opera em silêncio”
52
“A questão de ‘brasilidade’ no trabalho eu vejo como inevitável. Porém não acho que seja importante”
talizadora de áeras mais sutis do teu ser,
do da maneira e da luz do teu lugar, teu
deixa de ser necessária. Só é necessária
trabalho pode devolver isto, e se não filtrar
uma arte que, por ser mobilizadora, jus-
o teu discurso dessa “cor local” em dema-
tifique sua existência. É essa capacidade
sia pode até extrapolar e trabalhar contra.
expressiva que lhe dá razão de ser.
O que acho é que em certos momentos
LCO Mais de uma vez vi você falando de
vem à superfície alguma coisa que poderia
uma especificidade cultural, para usar um
localizar’ o trabalho, e isso não pode tirar a
termo perigoso mas que não deve ser
força expressiva; ao contrário, fornecer um
evitado, de uma brasilidade, relaciona-
viés especial de uma questão universal.
da à sua pintura. Sabendo-se que não se
Podem fazer parte dos mecanismos
trata nem de uma nostalgia nacionalista,
da experimentação, entre outras coisas,
nem de uma apelação narrativa ligada às
uma ritualização da repetição, uma palhe-
excentricidades do mercado, como esta
ta escolhida com critério, opções de esca-
questão aparece para você?
la específica, e essas seriam maneiras de
CV No momento, essa questão de uma
passar a informação subjacente que cria
‘brasilidade’ no trabalho, eu vejo às ve-
um campo especial para leitura do traba-
zes como inevitável. Não acho, porém,
lho e isso pode ser exacerbado até ao uso
que seja importante. Aquela coisa ge-
de miçangas mais ai já é outra conversa.
ométrica do arabesco, talvez fosse uma
Alguns artistas bem sei, filtram isso até o
atávica tendência construtiva nossa. Se
ponto onde o trabalho parece não ter ori-
fosse andar por São Paulo, com o olho
gem e são coisas que me interessam, mas
atento nos grafiti nas ruas, vai perceber
creio que outros não conseguem escon-
diferenças gráficas bem claras em relação
der a bandeira. Essa também é uma velha
ao Rio; um ‘gótico’ paulista com ângulos
e conhecida discussão. Podem fazer parte
agudos e um ‘barroco’ carioca de curvas e
dos mecanismos da experimentação, en-
sinuosidades. O teu olho está empregna-
tre outras coisas, um ritual da repetição.
53
exposiçãode artista conversa edição: Ana Paula Figueiredo produção: Fernanda Thedim
54
SUPERUBER arte, design e tecnologia
55
55
“Desenvolver nossas ferramentas é essencial para fazermos exatamente o que queremos.”
O que é super uber
para comunicar idéias, entender e de-
Por um lado ateliê criativo e por outro
monstrar como elas conseguem conectar
laboratório de tecnologia. O estúdio da
o homem com seu imaginário, trazendo
Super Uber, localizado em São Paulo tra-
arte e novos pensamentos para a vida das
balha primordialmente na convergência
pessoas que experimentam esse conta-
entre arte, tecnologia e design para criar
to. Segundo Liana, a interatividade gera
projetos cenográficos e multimídia nas
uma cumplicidade que faz do espectador
áreas de cultura, educação, entretenimen-
co-autor de suas instalações, e é isso que
to e propaganda. São os donos de feitos
torna suas obras tão interessantes.
impressionantes, como a primeira tela
A visão da SuperUber defende que o
multitoques do Brasil, e a instalação Beco
que atribui sentido à seu trabalho são as
das Palavras, um espaço lúdico dentro do
relações criadas durante os percursos, a
Museu da Língua em SP tendo participado
relação visitante e instalação é o que cria
também de importantes festivais e expo-
a mensagem. Para os sócios, há sempre
sições como: Claro Cine e Tim Festival no
algo mais por vir, prestes a ser desco-
Brasil, PeléStation na Alemanha, Spring
berto ou revelado. Criada a cerca de dez
Dance na Holanda, Cognizance na Índia,
anos a Super Uber participa de exposi-
e também o Open Air em Portugal.
ções e festivais nos principais centros cul-
À frente do escritório estão Liana
turais do Brasil, como o CCBB, Paço Im-
Brazil, designer com mestrado em multi-
perial e o Oi Futuro, e cada vez mais a
mídia na New York University (NYC), Russ
empresa cresce, sendo hoje reconhecida
Rive, engenheiro eletrônico com quatro
e requisitada mundialmente. Esse suces-
patentes na área de tecnologia, e Marcelo
so se deu devido ao grande esforço de
Pontes, arquiteto e cenógrafo, que juntos
pesquisa despendido pelos três sócios
formaram esse novo conceito de interati-
para que seja possível que o escritório
vidade, que mistura aspectos que são tão
mantenha sempre o caráter inovador, e,
semelhantes mas ao mesmo tempo muito
porque não vanguardista?
distintos: arte, design e tecnologia.
56
A mistura de arte, design e tecnolo-
Entre os maiores atributos da Super
gia garantiu sucesso absoluto aos sócios.
Uber destacam-se os trabalhos com curado-
O grupo cresceu de uma maneira muito
ria de exposições, design interativo, vídeo e
impressionante desde que se juntaram, e
animação, cenografia, direção de arte e de
hoje seu trabalho atrai não só os aprecia-
tecnologia para instalações e grandes festi-
dores da arte contemporânea mas agrada
vais em todo o globo. O objetivo da empre-
também crianças, que ficam maravilha-
sa é explorar o uso criativo de tecnologias
das com o show de luzes da SuperUber.
Criatividade gerando frutos
no às coisas mais simples da vida. O jogo
O trabalho da dupla tem assinatura pró-
eletrônico PeléPong, criado originalmente
pria. Instalações em grandes proporções
para a esposição PeléStation realizada
com produções caprichadas. Além da
durante a copa de 2006 é um dos maio-
criatividade e do talento, muito dessa
res exemplos disso. — É uma das coisas
singularidade se dá pelo fato de que eles
mais divertidas que já fizemos, sempre
fazem o que não existe – literalmente.
que ligamos pra testar nao conseguimos
Eles criam uma linguagem autoral. Se pre-
mais parar de jogar — comenta Russ.
ocupam em produzir as próprias peças, e não somente invencionices tecnológicas
Pixel Park
encomendas. Existe um forte olhar para
Esculturas de luz, telas multitoques, grafi-
o design e para a arte em suas criações.
te eletrônico, jogos de adulto e de crian-
Estamos a beira de uma saturação em
ça e espelhos interativos. Essas e outras
meio à sensores e projeções em museus,
experiências sensoriais fazem parte desse
lojas e eventos em geral, e é fundamental
mundo interativo da nova exposição da
combinar arte e técnica com sabedoria.
Super Uber Arte e Tecnologia: a Pixel
— Desenvolver nossas ferramentas é es-
Park, que acontecerá entre os dias 11 e
sencial para fazermos exatamente o que
23 de agosto no Instituto de Artes Inte-
queremos. Para ter o controle total preci-
rativas, o iAi, localizado em São Paulo.
samos começar do zero. — Acredita Russ
57
Dentro desse espaço multidiscipli-
Rive, o engenheiro por trás de tudo.
nar o visitante pode ver, ouvir e interagir
Mas não é porque eles usam tecnologia
com as instalações. Além disso, no dia
de ponta que seu trabalho é dificil de se
12/08, as 13h haverá palestras sobre In
compreender ou interagir, muito pelo
teratividade e Novas Mídias, com os só-
contrário, uma das grandes virtudes da
cios. Uma oportunidade imperdível mer-
duplas é aliar o que há de mais moder-
gulhar no mundo virtual da Super Uber.
57
58