PAISAGEM TEIMOSA A construção Social da Brasília recifense e a (r)existência do seu amanhã
Universidade Federal de Pernambuco Raissa Gomes de Sales
RAISSA GOMES DE SALES
PAISAGEM TEIMOSA A construção Social da Brasília recifense e a (r)existência do seu amanhã
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Julieta Maria de Vasconcelos Leite
RECIFE | 2017
NĂŁo tinha como ser diferente. Dedico esse trabalho aos moradores da BrasĂlia, que com sua teimosia e brio, tĂŞm ensinado a cidade do Recife a {r}existir.
AGRADECIMENTOS O que aprendi estudando a Brasília vai muito além do que está condensado nas páginas que se seguem. Tive a oportunidade de conhecer não somente sobre a profissão que escolhi, sobre o Recife, sobre a paisagem e sobre a comunidade Teimosa. Comecei a entender e a descobrir um pouco mais sobre a vida, a natureza humana e sobre os sen mentos e a energia vital que nos mo va como pessoas e como sociedade a (r)exis r. Sem dúvidas, esse trabalho carrega muito de mim, mas também é o resultado da contribuição de muitas pessoas queridas que es veram comigo durante todo o meu processo de graduação e de pesquisa. Seria impossível contemplar a todos, mas aqui, gostaria de agradecer diretamente àqueles que foram fundamentais para que eu trilhasse esse caminho e chegasse até esse fechamento de ciclo pessoal e profissional. Em primeiro lugar agradeço a minha família. Aos meus pais, Alba e Gomes, que passaram pacientemente (às vezes não) pelo o que eu chamo de “ditadura do silêncio”, para que eu conseguisse me concentrar, estudar e entregar esse trabalho; e as minhas irmãs, Isadora e Clécia, pelo apoio indispensável que me deram em todos os sen dos. Gostaria também de agradecer aos meus novos e velhos amigos, pela contribuição e apoio: A Thiago e a Bia, que me incen varam, me ajudaram e compreenderam a minha ausência como madrinha por conta dessa pesquisa. Às amigas que tropeçaram na minha vida por conta da arquitetura: a Yanne, a professora do grupo, a Julia, que não sei por onde anda, a Bessa e a Débora, realmente arquitetas, e a Mari engenheira. As noites de projeto, de maquete e de ponte de macarrão não teriam sido as mesmas sem vocês. Aos amigos maravilhosos que me encorajaram durante esse período: Piuzinho, Lins, Pa nha, Carolzinha, Babi e Clarinha. Agradeço mais uma vez a Lins, por ter deixado esse trabalho mais poliglota; A Babi, pelas injeções de ânimo; e a Clarinha, pela irmandade, apoio, e carinho de sempre. E aos amigos do intercambio e a própria Itália por terem me ensinado tanto. Profissionalmente, muitos também contribuíram para que eu chegasse até aqui. Agradeço especialmente: Às equipes com quem trabalhei na CL engenharia, no GEMFI, no Escritório HZ e no Pedala PE, e mais diretamente, a Fá ma Nogueira, Erica Costa, Norma Lacerda, Ariadne Paulo, Kainara dos Anjos, Frederico Lima, Rosaly Almeida e Maíra Travassos. E aos professores dessa universidade, que vêm me ensinando tantas coisas sobre a nossa profissão e sobre a vida. Mais especificamente sobre a Paisagem Teimosa, também são inúmeros os meus agradecimentos. Dessa forma, meu muito obrigada especialmente:
Mais especificamente sobre a Paisagem Teimosa, também são inúmeros os meus agradecimentos. Dessa forma, meu muito obrigada especialmente: A minha orientadora Julieta Leite, que sem dúvidas foi a melhor pessoa que poderia estar ao meu lado nesse processo. Muito obrigada pela orientação, pelos carões, pelos conselhos, pela sintonia e pela amizade. Sem a sua contribuição, esse trabalho não teria saído. Aos calouros Ju, Lua e, principalmente, Wesley, que já nasceu arquiteto. Sou muito grata pela contribuição linda que vocês me deram. A Allyson e Clara, amigos que me ajudaram com a revisão dos textos. A Jamila por ter pensado junto comigo através do ParaINHO. À Mapoteca da CONDEPE/FIDEM, ao Museu da Cidade do Recife, à FUNDAJ e à Biblioteca da URB. Sobre esta úl ma, agradeço diretamente a Lucenilda, pelo carinho, dedicação e confiança. À professora Lúcia Veras, pela orientação sensível e indispensável para o fechamento desse trabalho. À professora Maria Ângela por ter me ajudado inicialmente na construção desse estudo. À professora Ana Rita Sá Carneiro, a Ariadne Paulo, a Mirela Duarte, a Fivos de Brito e a todos aqueles que me auxiliaram com indicações bibliográficas e metodológicas. Ao Conselho de Moradores de Brasília Teimosa, que tanto me ajudou a entender a dinâmica do bairro e a sua história. E por fim, a todos os moradores da Brasília, e em especial, aos que dedicaram um pouco do seu tempo para par cipar das entrevistas aqui apresentadas. Pontuo nomeadamente a colaboração de Maninho, que me guiou na comunidade, Den nho, Celeste, Jane e Wilson. Jamais esquecerei da experiência que ve nesse lugar tão especialmente construído por vocês: dos sorrisos, das lágrimas emocionadas, das histórias empolgantes e da alegria de viver. Obrigada por serem tão teimosos e solares. Espero que, de alguma forma, eu tenha conseguido lhes representar com esse trabalho. Avante!
(Moacir Gomes, 1980*)
*Palavras de Moacir Luiz Gomes, então Presidente do Conselho de Moradores, em um comício realizado na Rua “D”, atual Rua Badejo, em novembro de 1980.
“Agora eu acordei daquele sonho. Escutem bem, BRASÍLIA TEIMOSA CONTINUA SONHANDO”.
{
RESUMO
}
A lógica de formação territorial das cidades brasileiras, e notadamente do Recife, segue uma tendência de mercantilização liberal que vem tratando o território urbano como mercadoria, não se atentando às relações entre as pessoas e os lugares, nem às preexistências, aos valores subjetivos e às particularidades físicas e simbólicas desses últimos. Os espaços urbanos resultantes dessas premissas compõem paisagens neutras, que não representam a sociedade que a vive e a constrói. Na contramão desse processo, Brasília Teimosa, comunidade recifense considerada a ocupação de baixa renda mais antiga da capital, vem resistindo e impondo a sua presença em um dos locais mais centrais e privilegiados paisagisticamente da cidade, situado em meio a dois bairros elitizados, o Pina e Boa Viagem. Por conta disso, desde o início da sua existência, há um conflito entre a sua permanência e a vontade de apropriação do seu território pelo mercado imobiliário, que deseja expandir a sua atuação para esse bairro sem considerar a sua história e as suas especificidades, assim como vem fazendo em suas circunvizinhanças. Esse impasse se traduz palpavelmente ao se analisar a Brasília e o seu entorno, se refletindo através da formação de um cenário paisagístico conflituoso. O projeto de paisagem que se enseja à comunidade ameaça a sua existência, neutraliza as suas particularidades, a sua memória e desimporta as relações existentes entre esse lugar e os seus moradores, que o construíram e nele vivem atualmente. Porém, a partir do entendimento que funda esse trabalho, baseado nas teorias de Jean-Marc Besse, Augustin Berque e Michel Conan, as paisagens devem ser territórios feitos e habitados pelas pessoas, refletindo as suas vivências, as suas histórias e se permitindo ser apropriados fisicamente, afetivamente e simbolicamente por elas. Assim, frente à iminência do apagamento de uma parte importante da história viva do Recife, através das pressões à permanência do referido bairro no local onde ele se encontra, o presente trabalho tem como objetivo final traçar Diretrizes Gerais de Conservação para a Paisagem de Brasília Teimosa. Para elabora-las, estudou-se a construção social paisagística desse lugar partindo de um olhar baseado no referencial teórico citado, procurando captar quais são os aspectos relacionais entre ele e as pessoas que nele convivem, e os elementos físicos e subjetivos que o tornam habitado, único e especial. Por meio do estabelecimento dessas orientações, busca-se perpetuar a essência dessa paisagem no futuro da cidade. Palavras Chave: Brasília Teimosa. Paisagem. Construção Social da Paisagem.
{ ABSTRACT } The logic of the territorial formation of the Brazilian cities, and remarkably Recife, follows a tendency of liberal commodification that treats the urban territory as a commodity and it does not take into account the relations between people and places, nor the pre-existences, the subjective values and the physical and symbolic particularities of the latter. The urban spaces resulting from these premises make up neutral landscapes, which do not represent the society that lives and builds them. Contrary to this process, Brasília Teimosa, a community in Recife considered the oldest low-income occupation in that capital, has been resisting and imposing its presence in one of the most central and privileged areas of the city, located close to two elitist neighbourhoods, Pina and Boa Viagem. Because of this, since the beginning of its existence, there is a conflict between its permanence and the will to appropriation of its territory by the real estate market, which wishes to expand its activities to that neighbourhood without considering the history and specificities of that place, as it has been doing in Brasília Teimosa’s surroundings. This impasse is translated palpably when analysing Brasília and its surroundings, which is reflected through the formation of a conflictive landscape scenario. The landscape project thought to suit the community threatens its existence, neutralizes its peculiarities, its memory and does not consider the relations between the place and its inhabitants, who built it in the past and live there nowadays. Therefore, based on the theories of Jean-Marc Besse, Augustin Berque and Michel Conan, landscapes must be territories made and inhabited by people, reflecting their experiences, their stories and the firsts should allow individuals to feel appropriated physically, affectively and symbolically. Thus, in view of the imminence of the eradication of an important part of the living history of Recife, through the pressures to the permanence of this community in the place where it is, the present work has as its final objective to recommend General Guidelines of Conservation for the Landscape of Brasília Teimosa. In order to elaborate them, the social landscape construction of this place was studied starting from a perspective based on the theoretical reference specified before, trying to capture what the relational aspects between the place and the people who live in it are, and the physical and subjective elements that make it dwelled, unique and special. Through the establishment of these guidelines, it is pursued to perpetuate the essence of this landscape in the future of the city. Key words: Brasília Teimosa. Landscape. Social construction of the landscape.
{ LISTA DE IMAGENS} IMAGENS NÃO REFERENCIADAS Capa e Contracapa – Paisagem Teimosa vista do Cais José Estelita. Fonte: acervo pessoal da autora. Capa após os agradecimentos – Paisagem Teimosa em perspectiva. Fonte: acervo pessoal da autora. Capa Introdução – Brasília Teimosa e o seu entorno conflituoso. Fonte: acervo pessoal da autora. Capa Capítulo 1 – Barcos na orla fluvial da Brasília. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.58 Capa Capítulo 2 – A maré e as palafitas de Brasília Teimosa. Foto de Leopoldo Nunes para o JC Imagens, tirada em 12 de agosto de 2002. Fonte: Flickr etudoverdade. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/37303517@N02/3432275909/>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.80 Capa Capítulo 3 – Praia do Buraco da Véia, 2015. Fonte: Flickr Rafael Reines, 2015. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/osvaldo_santos/9774222573/in/photostream/>. Acesso em: 15 jun. 2016. | P.184 Capa Capítulo 4 – Barcos na orla fluvial da Brasília. Foto de autoria de Ezequiel Vannoni, Agência JCM, Foto Arena. Fonte: Flickr Ezequiel Vannoni. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/52943624@N03/15836203668/>. Acesso em: 18 de jun. de 2016. | P.264 Capa Conclusão – A Teimosa vista de cima. Foto de Flávio Gusmão, 2009. Fonte: Flickr Flávio Gusmão, 201-. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/flaviogusmao/4089822536/in/gallery-anaisismoura72157629258981606/>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.346 Capa dos Fundos – Paisagem Teimosa vista do Cais José Estelita e Barcos na orla fluvial da Brasília. Fonte: acervo pessoal da autora. INTRODUÇÃO Imagem 1 – Bairro de Brasília Teimosa. Acima, pode-se ver um pequeno pedaço do bairro do Pina. Fonte: Skyscrapercity Raul Lopes, 2013. Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1451744>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.51
Imagem 2 – Bairro de Brasília Teimosa e a sua Avenida Beira-Mar, 2013. Foto de autoria de Marcos Pastich. Fonte: Flickr Marcos Pastich, 2013. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/marcospastich/12500733143/>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.51 Imagem 3 – Brasília Teimosa vista a partir de sua orla fluvial (que fica de frente para a Ilha de Santo Antônio e São José), 2014. Foto de autoria de Ezequiel Vannoni, Agência JCM, Foto Arena. Fonte: Flickr Ezequiel Vannoni. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/52943624@N03/15836203668/>. Acesso em: 18 de jun. de 2016. | P.52 Imagem 4 – Em primeiro plano, o bairro do Pina, e em segundo, o de Boa Viagem. Fonte: Site Dicas de Hotéis, 2014. Disponível em: <http://www.dicasdehoteis.net/os-melhoreshoteis-na-praia-de-boa-viagem-em-recife/>. Acesso em: 29 abr. 2017. | P.53 Imagem 5 – Em primeiro plano o bairro de Brasília Teimosa, de classe baixa e horizontal, e ao fundo, os arranha-céus elitizados do bairro do Pina, 2014 Fonte: Flickr Leonardo Malafaia, 2014. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/127670188@N08/15102659087/>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.54 CAPÍTULO 1 | DA PAISAGEM À TEIMOSA CAPÍTULO 2 | A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA Imagem 1 – Desenho esquemático da geografia físico-morfológica do Recife, feito por J.C. Branner em 1904. Fonte: CASTRO, 1966, p.17 in BEZERRA, 2017, p.40 (modificado). | P.83 Imagem 2 – Arrecifes vistos do alto do Forte do Picão, 1875. Percebe-se a força desse elemento paisagístico ao longo da história do lugar. Após os navios, encontram-se os territórios correspondentes ao atual Bairro do Pina. Autor: Marc Ferrez. Fonte: FERREZ, 1988, p.23. | P.84 Imagem 3 – Panorama feito entre os anos de 1826 e 1832, de autoria de João Steinmann. Neste recorte, vê-se em primeiro plano o Bairro do Recife, em segundo, os bairros de Santo Antônio e São José, e em terceiro, a Ilha do Nogueira, ainda em seu estado natural quase intacto. Fonte: FERREZ, 1984, p.58 e 59. | P.91 Imagem 4 – Vista da paisagem local após a construção do Dique, que se encontra ao fundo. Em último plano, a Ilha do Nogueira. Foto de Autoria de F. du Bocage, 1910. Título original: Obras do Porto. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Acervo Fundação Joaquim
Nabuco. Ministério da Educação. Disponível <http://villadigital.fundaj.gov.br/index.php/fotografias/item/673-obras-do-porto>. em: 22 mar. 2017. | P.91
em: Acesso
Imagem 5 – Cartão Postal com pintura retratando o bairro do Pina (sem data). Fonte: Coleção José Paiva Crespo. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. | P.92
Imagem 6 – Vista do Pina em 1922. Nota-se o conjunto de mocambos em meio ao coqueiral e alagados. Acervo Museu da Cidade do Recife. Reprodução Assis Lima/ Fundarpe - 1990. Fonte: SILVA, 2008b, p.26. | P.94 Imagem 7 – Mocambos do Pina. Pintura sobre papel de autoria de PH. Von Luetzelburg, 1936. Coleção Benício Dias. CEHIBRA - FUNDAJ. Fonte: SILVA, 2008b, p.47. | P.95 Imagem 8 – Canteiro de Obras na Ilha do Nogueira, entre 1911 e 1914. Autoria de F. Du Bocage. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. Título original: Canteiro de obras na Ilha do Nogueira. Disponível em: <http://villadigital.fundaj.gov.br/index.php/fotografias/item/676-canteiro-de-obras-nailha-de-nogueira>. Acesso em: 22 mar. 2017. | P.96 Imagem 9 – Obras do porto no Dique do Nogueira em 1910 (data aproximada). Autoria de F. Du Bocage. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. Título original: Dique do Nogueira. Disponível em: <http://villadigital.fundaj.gov.br/index.php/fotografias/item/751-dique-do-nogueira>. Acesso em: 22 mar. 2017. | P.96 Imagem 10 – Cartão postal da Ponte do Pina em 1916. Fonte: Coleção Josebias Bandeira. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. | P.98 Imagem 11 – Boa Viagem em 1908, antes da abertura da Avenida Beira-Mar. Na época as ocupações eram espaçadas e o local era basicamente uma mistura de coqueirais e alagados. Autor desconhecido. Fonte: Blog Caderno Recifense, [20--]. Disponível em: <http://cadernorecifense.blogspot.com.br/?view=snapshot>. Acesso em: 10 jun. 2016. | P.100
Imagem 12 – Obras durante a construção da Avenida Beira-Mar, em Boa Viagem, em 1923. Autor desconhecido. Fonte: Blog Paulo Eduardo Lubambo Lyra, 2012. Disponível em: <http://plubambo.blogspot.com.br/2012/04/fotos-avenida-boa-viagem-e-pina.html>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.100 Imagem 13 – Avenida Boa Viagem recém-inaugurada, em 1925. Fonte: Filme Veneza Americana, 1925. Direção de Hugo Falangola. Son., P&B. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Gs1XoVj7rlE&feature=youtu.be>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.101
Imagem 14 – Cartão Postal da Avenida Boa Viagem em 1939 (data aproximada). Coleção de Josebias Bandeira. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. | P.101 Imagem 15 – Ponte do Pina ampliada na década de 1920. Título Original: "A 'gigolô' no cavalete de via única sobre o Rio Pina na linha de Boa Viagem". Autor desconhecido. Fonte: The Trams of/Os Bondes do Recife, [20--]. Disponível em: <http://www.tramz.com/br/re/re20.html>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.102 Imagem 16 – Cartão Postal da Avenida de Ligação, atual Herculano Bandeira, em 1925 (data aproximada). Foto de Autoria de L. Gabriele. Coleção Josebias Bandeira. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. | P.102 Imagem 17 – Perspectiva do Recife em 1932. Em primeiro plano, vê-se a Ilha de Santo Antônio e São José, e ao fundo, as áreas correspondentes aos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa. Fonte: Ana Maria Costa Fraga (Pinterest), [20--]. Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/566186984385517370/>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.109 Imagem 18 – Perspectiva do Recife já com o aterro do Areal Novo. Em primeiro plano, vê-se a Ilha de Santo Antônio e São José, e ao fundo, as áreas correspondentes aos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa. Fonte: Blog Francisco Miranda, [20--]. Disponível em: <https://chicomiranda.wordpress.com/tag/fotos-de-recife/#jp-carousel-11735>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.109 Imagem 19 – Foto aérea do aterro recém terminado. Essa península corresponde à maior parte do território atual da Brasília Teimosa hoje. Acervo do Museu da Cidade do Recife. Reprodução Assis Lima/ Fundarpe - 2010. Fonte: SILVA, 2008b, p. 52. | P.110 Imagem 20 – Brasília Teimosa recém-loteada (anos 70). Autor e ano desconhecidos. Fonte: Textos & Contextos: O Blog Almanaque, 2010. Disponível em: <http://textosehcontextos.blogspot.com.br/2014_07_01_archive.html>. Acesso em: 17 abril 2017. | P.114 Imagem 21 – Construção de mocambos em Brasília Teimosa, em 1959, no início das ocupações. Autor desconhecida. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. Título Original: 1959! Álbum Só tem História, Quem tem Memória. | P.115 Imagem 22 – Pescadores em Brasília Teimosa, 1957. Autor desconhecido. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. Título Original: Pesca. Disponível em:<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=357172611332496&set=a.199019920481 100.1073741842.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 15 mar. 2017. | P.121 Imagem 23 – Vendedor de Caju em Boa Viagem na década de 1940. Como neste exemplo, uma boa parte da população pobre residente neste bairro e no do Pina e Brasília Teimosa tinha na natureza o seu meio de subsistência e trabalho. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Autoria de Benício Whatley Dias Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. Título original: Vendedor de Cajus. Disponível em:
<http://villadigital.fundaj.gov.br/index.php/fotografias/item/3068-vendedor-de-cajus>. Acesso em: 22 mar. 2017. | P.122 Imagem 24 – Avenida Boa Viagem com construções ainda predominantemente horizontais na década de 1940. Fonte: Blog Diário de Pernambuco, 2015. Disponível em: < http://blogs.diariodepernambuco.com.br/diretodaredacao/2015/07/03/a-pre-historia-dazona-sul/>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.124 Imagem 25 – Boa Viagem na década de 1950. Observar a paisagem começando a se modificar, com casas predominantemente térreas situadas em meio ao coqueiral. Fonte: Blog Paulo Eduardo Lubambo Lyra, 2012. Disponível em: < http://plubambo.blogspot.com.br/2012/04/fotos-avenida-boa-viagem-e-pina.html>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.125 Imagem 26 – Avenida Boa Viagem, década de 1950. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Autoria de Benício Whatley Dias. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. Título original: Avenida Boa Viagem. Disponível em: < http://villadigital.fundaj.gov.br/index.php/fotografias/item/1773-avenida-boa-viagem>. Acesso em: 22 mar. 2017. | P.125 Imagem 27 – Praia de Boa Viagem com sua orla já um pouco verticalizada em 1965. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Autoria de Katarina Real. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. Título original: Praia de Boa Viagem. Disponível em: < http://villadigital.fundaj.gov.br/index.php/fotografias/item/1773-avenida-boa-viagem>. Acesso em: 22 mar. 2017. | P.126 Imagem 28 – Boa Viagem verticalizada na década de 60. Em destaque, o Edifício Holiday. Fonte: Blog Caderno Recifense, 2013. Disponível em: < http://cadernorecifense.blogspot.com.br/2013/12/recife-por-paulo-mendescampos.html?view=snapshot>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.127 Imagem 29 – Cartão postal retratando a Ponte Agamenon Magalhães entre as décadas de 1940 e 1950. Fonte: Coleção Arnaldo Guedes Pereira. Autoria desconhecida. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. | P.127 Imagem 30 – Encontro entre a Avenida Boa Viagem e a Avenida de Ligação (atual Avenida Herculano Bandeira) na década de 60. Ao fundo, à direita Brasília Teimosa com seu Areal já loteado e ocupado. Perceber a mudança em relação à paisagem natural original dos bairros, que nesse período já estava bastante aterrado e com pouco verde e área de mangue. Fonte: Blog Conheça o Recife Antigo, [20--]. Disponível em: <http://blogdojmaia.blogspot.com.br/p/historia-do-recife.html>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.128
Imagem 31 – Aeroclube de Pernambuco em meio à paisagem do Pina no final da década de 50. A Avenida Boa Viagem já um pouco verticalizada e a paisagem desses dois bairros bastante modificada em relação à original. Autoria de Alcir Lacerda. Fonte: TC2 (Fotolog),
2005. Disponível em: <http://www.fotolog.com/tc2/11862976/>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.129 Imagem 32 – Perspectiva do Pina na década de 1940. Em destaque, Igreja Matriz do Rosário (Igreja do Pina) na Avenida Herculano Bandeira, construída em 1932. Nesse período, a paisagem já havia sido bastante alterada e os contornos das ilhas já se apagavam por conta dos sucessivos aterros realizados. Perceber os primeiros arruamentos bem consolidados no bairro do deste bairro. Fonte: Pinterest Ana Maria Costa Fraga, [20--]. Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/556194622707242961/>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.130 Imagem 33 – Perspectiva de Brasília Teimosa e Pina em 1967. No plano central a Ponte Agamenon Magalhães e a Avenida Antônio de Góes. Em segundo plano, à esquerda, o edifício do DNER, e à direita, o Clube Líbano Brasileiro. Ao fundo, Brasília Teimosa e Pina, com a sua paisagem modificada pelos arruamentos consolidados. Ainda observa-se a presença da vegetação e dos coqueirais, mais em quantidade muito menor aos originais. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. | P.131 Imagem 34 – Praia de Boa Viagem na década de 1970. Neste momento já é possível observar um aumento considerável na verticalização local. No canto direito, ao centro, se vê o Aeroclube. Fonte: SkyscraperCity, 2010. Disponível em: < http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1103073>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.132
Imagem 35 – Cartão postal da Avenida Boa Viagem verticalizada na década de 1970. Fonte: SkyscraperCity, 2010. Disponível em: < http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1103073>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.133
Imagem 36 – Postal retratando a Ponte Agamenon Magalhães e Bairros do Pina e Brasília Teimosa ao fundo, 1971. Fonte: Fotolog TC2, 2008. Disponível em: <http://www.fotolog.com/tc2/35136592/>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.134 Imagem 37 – Planta esquemática do projeto proposto pela URB para a área de Brasília Teimosa em 1974. Fonte: ALVES, 2009, p.99. | P.142 Imagem 38 – Corte esquemático da orla marítima de Brasília Teimosa segundo o projeto de Jaime Lerner de 1979. Fonte: LERNER, 1979, p.68. | P.143 Imagem 39 – Perspectiva esquemática da orla marítima de Brasília Teimosa segundo o projeto de Jaime Lerner de 1979. Fonte: LERNER, 1979, p.80. | P.143 Imagem 40 – Protestos contra o “Muro da Vergonha” feito pelo Iate Clube. Fonte: Diário de Pernambuco. Recife, 23 jan. 1980. Local, p. 5. Disponível em: < http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=029033_16&pasta=ano%20198&pes q=Buraco%20da%20velha>. Acesso em: 28 ago. 2017. | P.146
Imagem 41 – Foto artística de Benoit Doncoeur, em 1983, mostrando o bairro de Brasília teimosa e a sua precariedade. Fonte: Site Benoit Doncouer, [20--]. Disponível em: <http://www.benoitdoncoeur.com/es/page_11414.html>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.147 Imagem 42 – Brasília Teimosa no final dos anos 70. Ao centro, o icônico Padre Jaime, militante do bairro, provavelmente na antiga rua “M”, atual Dragão do Mar. A rua de barro reflete a situação do bairro como um todo nesse período. Perceber também as casas de madeira, uma maioria na época. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.147 Imagem 43 – Mais uma foto da rua “M”, atual Dragão do Mar entre a década de 70 e 80. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=238433876539704&set=a.136866180029808 .1073741827.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 14 abr. 2017. | P.148 Imagem 44 – Foto Aérea da área do Pina e Brasília Teimosa tirada em 28/12/1979. Foto de Sidney Waismann. Percebe-se a clara divisão entre os dois bairros feita pelas avenidas Herculano Bandeira e Antônio de Goes. Fonte: Biblioteca da URB. | P.148 Imagem 45 – Foto Aérea de Brasília Teimosa tirada em 28/12/1979. Foto de Sidney Waismann. Ao fundo, o Iate Clube do Recife. Pode-se ver a força da linha dos arrecifes na paisagem. Fonte: Biblioteca da URB. | P.149 Imagem 46 – Brasília Teimosa no ponto em que a área da colônia se encontra com as avenidas Antônio de Goes e Herculano Bandeira. Foto aérea tirada em 28/12/1979. Foto de Sidney Waismann. Fonte: Biblioteca da URB. | P.149 Imagem 47 – Foto aérea de Brasília Teimosa e Pina. Em primeiro plano, o Iate Clube e os arrecifes, que compõe uma grande linha de força com os arrecifes. Foto aérea tirada em 28/12/1979. Foto de Sidney Waismann. Fonte: Biblioteca da URB. | P.149 Imagem 48 – Cabeçalho do Jornal Teimosinho, distribuído pelo Conselho de Moradores. O personagem desenhado se chama “Teimosinho”, e ilustrou os documentos, jornais e folhetos da comunidade até os anos 2000. Fonte: acervo pessoal de Celeste Maria Valença de Mendonça. | P.151 Imagem 49 – Comício durante as eleições do Conselho em 1983, mostrando o engajamento da população nas causas da comunidade. Em destaque, Osmar, uma liderança do bairro. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.152 Imagem 50 – Multidão na rua protestando durante o carnaval na década de 1970, provavelmente, em frente à igreja católica do bairro. Nem mesmo nesse período a população esquecia da luta, se utilizando da arte e do humor para agregar os moradores. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.152
Imagem 51 – Multidão na rua protestando, provavelmente na década de 70. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.153 Imagem 52 – Moradores e o ônibus Brasília – Pina na década de 1970. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.154 Imagem 53 – Carroça de água na década de 1980. Fonte: BRASÍLIA..., 198-. | P.154 Imagem 54 – Palafitas da orla marítima no final dos anos 80. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.155 Imagem 55 – Palafitas da orla marítima no final dos anos 80. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.155 Imagem 56 – Pescadores em meio aos Barracos da Brasília em 1989. Fonte: Favelados...1989. | P.156 Imagem 57 – Construção de casas em Brasília Teimosa em 1984. Fonte: Biblioteca da URB. | P.157
Imagem 58 – Construção de casas em Brasília Teimosa em 1984. Fonte: Biblioteca da URB. | P.14
Imagem 59 – Vila da Prata em 1987. Fotografia de Valdir Afonso. Fonte: Biblioteca URB. | P.158
Imagem 60 – Vila da Prata em 1987. Fotografia de Valdir Afonso. Fonte: Biblioteca URB. | P.159
Imagem 61 – Boa Viagem com orla e interior bastante verticalizados. Foto de autoria de Gustavo Penteado, tirada em 04 de novembro de 2006. Fonte: Panoramio Google Maps, 2007. Disponível em: <http://www.panoramio.com/photo/465543>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.163 Imagem 62 – Final do Pina e início de Boa Viagem na primeira metade dos anos 2000. Foto de autoria de Eduardo Lins Cardoso. Fonte: Panoramio Google Maps, 2007. Disponível em: < http://www.panoramio.com/photo/6278370>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.164 Imagem 63 – Paisagem de Brasília Teimosa e Pina vista dos arrecifes. Foto de autoria de Diego Bis, tirada em de julho de 2006. Fonte: Flickr Diego Bis. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/a_leste/197156139/>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.164
Imagem 64 – Obras concluídas em Brasília Teimosa. Provavelmente a Rua Dagoberto Pires na década de 1990. Fonte: Biblioteca da URB. | P.170 Imagem 65 – Corrida de saco em frente ao Conselho de Moradores da Rua Parú em outubro de 2003. Perceber as edificações em segundo plano, já verticalizadas. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.171 Imagem 66 – Faixas e estandarte do Bloco de Carnaval do Conselho de Moradores, o “Calada Nada”, que foi nomeado fazendo uma referência às lutas da população do bairro pela permanência e melhorias. Nota-se também uma faixa do Projeto Teimosia Verde, além de outras três com um conteúdo de protesto. Foto tirada na década de 1990. Fonte: acervo pessoal de Celeste Maria Valença de Mendonça. | P.172 Imagem 67 – Orla após a realocação dos moradores. Sem passar por um projeto de requalificação, a beira-mar sofria um processo recorrente de ocupação por palafitas. Fonte: Blog Conselho de Moradores de Brasília Teimosa, 2012. Disponível em: < http://conselhodemoradoresdebrasiliateimosa.blogspot.com.br/p/fotos-e-videos.html>. Acesso em: 09 abr. 2017. | P.173 Imagem 68 – Brasília Teimosa e sua orla antes da abertura da Avenida Brasília Formosa. Perceber a linha de força dos arrecifes na paisagem. Ao fundo, a ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: Site Patrimônio de Todos.gov, 2009. Disponível em: <http://patrimoniodetodos.gov.br/pastaimagem.2009-07-02.4357058635/brasilia-teimosaantes-da-intervencao/image_view_fullscreen>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.174 Imagem 69 – Brasília Teimosa antes da requalificação da orla. Perceber a linha de força dos arrecifes na paisagem, reforçada pela mureta de contenção. Foto de Alexandre Auler. Fonte: Flickr Alexandre Auler. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/alxauler/9170370/>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.174 Imagem 70 – A maré e as palafitas de Brasília Teimosa. Foto de Leopoldo Nunes para o JC Imagens, tirada em 12 de agosto de 2002. Fonte: Flickr etudoverdade. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/37303517@N02/3432275909/>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.175 Imagem 71 – Palafitas em Brasília Teimosa nos anos 2000. É perceptível a falta de estrutura dessas edificações, que em sua maioria eram feitas de madeira, e conviviam com o esgoto e o lixo lado-a-lado. Foto de Lívia Brandão. Fonte: Flickr Lívia Brandão. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/liviabrandao/2057131326/>. | P.175 Imagem 72 – Praia do Buraco da Véia durante as obras de requalificação da orla em 2003. Foto de autoria de Wilson Lapa. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.177
Imagem 73 – Ponto de encontro da Avenida Brasília Formosa e os arrecifes. Foto de Jaciel Marcos tirada em 17 de novembro de 2009. Fonte: Flickr Jaciel Marcos. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/jacielm/4112860705/in/gallery-anaisismoura72157629258981606/>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.177 Imagem 74 – Brasília Teimosa e sua Orla antes das obras de requalificação. Fonte: FERNANDES, 2010, p.98. | P.178 Imagem 75 – Brasília Teimosa, sua orla e a Praia do Buraco da Véia após a abertura da Avenida Brasília Formosa. Fonte: Site Patrimônio de Todos.gov, 2009. Disponível em: <https://gestao.patrimoniodetodos.gov.br/pastaimagem.2009-07-02.4357058635/brasiliateimosa-hoje/image_view_fullscreen>. Acesso em: 15 jun. 2016. | P.178 Imagem 76 – Conjunto Habitacional Brasília Teimosa ainda nos anos 2000. Fonte: FERNANDES, 2010, p.96. Originalmente pertencente ao acervo de Lourdinha Santos. | P.179 Imagem 77 – Conjunto Habitacional Brasília Teimosa ainda nos anos 2000. Observar a fronteira entre o conjunto e o restante da comunidade. Fonte: FERNANDES, 2010, p.97. | P.180
Imagem 78 – Entrada do conjunto Habitacional Brasília Teimosa ainda nos anos 2000. Fonte: FERNANDES, 2010, p.97. | P.180 CAPÍTULO 3 | A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ Imagem 1 – Boa Viagem e Pina adensados e verticalizados. Fonte: SkyscraperCity, 2009. Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=986078&page=463>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.191 Imagem 2 – Boa Viagem com seus comércios elitizados e tratamento diferenciado. Avenida Conselheiro Aguiar, 2016. Fonte: Google Maps Street View, 2016. | P.191 Imagem 3 – A paisagem do Pina verticalizado frente a ZEIS Encanta Moça e ao Parque dos Manguezais. Foto de autoria Eduardo Câmara Lima. Fonte: Panoramio Google Maps, 2010. Disponível em: <http://www.panoramio.com/photo/14903263>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.193
Imagem 4 – Palafitas na ZEIS do Pina. Foto de José Nunes. Fonte: Flickr José Nunes, 2014. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/123177437@N06/14245585648/>. Acesso em: 14 jun. 2017. | P.193 Imagem 5 – Empresariais no Bairro do Pina. Fonte: Olx, 2017. Disponível em: < http://pe.olx.com.br/grande-recife/lojas-salas-e-outros/sala-no-empresarial-rio-mar-tradecenter-oportunidade-115694508 >. Acesso em: 14 jun. 2017. | P.194
Imagem 6 – Demolição do tradicional Edifício Caiçara na Avenida Boa Viagem após o seu terreno ser adquirido pela Rio Ave Construtora, 2016. Foto de Bobby Fabisak/ JC Imagem. Fonte: Jornal do Commercio Online, 2016. Disponível em: < http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2016/04/07/edificio-caicara-edemolido-na-avenida-boa-viagem-229935.php>. Acesso em: 14 jun. 2017. | P.196 Imagem 7 – Ponto de encontro entre as orlas de Boa Viagem e Pina, 2013. Perceber a homogeneidade na paisagem homogênea dos dois bairros. Fonte: Flickr Raul Lopes, 2014. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/raullopes1983/11796349514/>. Acesso em: 14 jun. 2017. | P.196 Imagem 8 – Avenida Boa Viagem e os seus prédios próximos à Praia. Fonte: Wikipedia, 2013. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Cal%C3%A7ad%C3%A3o_e_ciclovia_da_Praia_de_B oa_Viagem_-_Recife,_Pernambuco,_Brasil.jpg >. Acesso em: 14 jun. 2017. | P.197 Imagem 9 – Praia de Boa Viagem sombreada pelos seus edifícios. Foto original pertencente ao documentário “Um Lugar ao Sol”, de Gabriel Mascaro, 2009. Fonte: Assiste Brasil, 2017. Disponível em: <http://www.assistebrasil.com.br/2017/04/um-lugar-ao-sol-o-brasil-dosabismos-sociais/>. Acesso em: 14 jun. 2017. | P.197 Imagem 10 – As ruas hostis do pina. Fonte: Google Maps Street View, 2016. | P.198 Imagem 11 – Edifício no Rio de Janeiro. Fonte: SkyscraperCity, 2013. Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=986078&page=463>. Acesso em: 15 jun. 2017. | P.198 Imagem 12 – Edifício JCPM no Pina. Perceber as semelhanças entre ele e o exemplar carioca. Fonte: Escritório Link Propaganda, 201-. Disponível em: < http://www.linkpropaganda.com.br/wp-content/gallery/escritorio-recife/predio-escritoriolinkpropaganda-recife.jpg>. Acesso em: 15 jun. 2017. | P.198 Imagem 13 – “O mar de prédios de Boa Viagem”, o mar que perdeu seu sentido. Fonte: Crítica do personagem ParaINHO, da Arquiteta e ilustradora Jamila Lima. | P.199 Imagem 14 – O conflito entre as paisagens de Brasília Teimosa (em primeiro plano) e Pina e Boa Viagem (ao fundo). Fonte: SkyscraperCity, 2011. Disponível em: < http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1451744>. Acesso em: 15 jun. 2017. | P.200
Imagem 15 – Brasília Teimosa e sua grande densidade construtiva atualmente. Foto de Osvaldo Santos. Fonte: Flickr Osvaldo Santos, 2013. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/osvaldo_santos/9774222573/in/photostream/>. Acesso em: 14 jun. 2017. | P.202
Imagem 16 – Brasília Teimosa densamente construída. Rua Badejo, 2017. À direita, percebese que a edificação verde pertencente a um restaurante se encontra irregular por ter mais pavimentos do que é permitido para a área. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.203 Imagem 17 – Problemas de lixo e esgoto na área da Colônia. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.204 Imagem 18 – Lixo ao lado do Mercado da Brasília. Fonte: BRASÍLIA, 2014. | P.205 Imagem 19 – Rua Arabaiana, a principal do bairro. Fonte: BRASÍLIA, 2014. | P.209 Imagem 20 – Rua Arabaiana. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.210 Imagem 21 – Praia do Buraco da Véia sendo amplamente utilizada. Fonte: URPIA, 2014. | P.210
Imagem 22 – Avenida Brasília Formosa. Observar os bares, a ciclovia e o espaço para exercícios, todos nesse trecho. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.211 Imagem 23 – Praça Abelardo Baltar e o Mercado Público da Brasília vistos em um dia de domingo à tarde, horário de menor movimento. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.212 Imagem 24 – Comércios ao redor do Mercado Público. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.212
Imagem 25 – Bares e movimento na orla marítima. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.214 Imagem 26 – Dona Leu, marisqueira do bairro exercendo sua atividade no Rio Capibaribe ao lado da comunidade. Fonte: BRASÍLIA...2014. | P.214 Imagem 27 – Primeira parte da orla. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.216 Imagem 28 – Corte esquemático da primeira parte da orla. Fonte: elaborado pela autora. | P.216
Imagem 29 – Segunda parte da orla. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.217 Imagem 30 – Corte esquemático da Segunda parte da orla. Fonte: elaborado pela autora. | P.217
Imagem 31 – Terceira parte da orla. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.218
Imagem 32 – Corte esquemático da Terceira parte da orla. Fonte: elaborado pela autora. | P.218
Imagem 33 – Quarta parte da orla, o Buraco da Véia, 2015. Fonte: Flickr Rafael Reines, 2015. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/osvaldo_santos/9774222573/in/photostream/>. Acesso em: 15 jun. 2016. | P.219 Imagem 34 – Corte esquemático da Quarta parte da orla. Fonte: elaborado pela autora. | P.219
Imagem 35 – Pistinha e concentração dos barcos. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.220 Imagem 36 – Pier da Associação de Pescadores e barcos em toda a orla fluvial do bairro. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.221 Imagem 37 – Vila da Prata atualmente. Fonte: Google Maps, 2016. | P.222 Imagem 38 – Vila Moacir Gomes atualmente. Fonte: Google Maps, 2016. | P.223 Imagem 39 – Área da Colônia atualmente. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.224 Imagem 40 – Vila Teimosinho atualmente. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.225 Imagem 41 – Conjunto Habitacional atualmente. Fonte: Google Maps, 2016. | P.226 Imagem 42 – A paisagem de Brasília Teimosa formando uma unidade. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. Disponível em: < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=346910402358717&set=a.136866180029808. 1073741827.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 15 mar. 2017. | P.228 Imagem 43 – Edifício do JCPM conflitando com a Paisagem Teimosa ao fundo. Foto de Francisco Edson Mendes, 2008. Fonte: Panoramio Google Maps, 2008. Disponível em: <http://www.panoramio.com/photo/13409374>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.231 Imagem 44 – Empresarial JCPM visto da Rua Francisco Valpassos no interior da comunidade Teimosa, 2017. Perceber as diferenças tipológicas e de gabarito. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.233 Imagem 45 – Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o empresarial JCPM. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado). | P.233
Imagem 46 – Via mangue em construção. Ao fundo à esquerda, a comunidade de Brasília Teimosa. Fonte: Blog Priscila Krause, 2014. Disponível em: < http://www.blogdepriscila.com.br/2014/6827/via-mangue-vista-aerea-2>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.234 Imagem 47 – Traçado da Via Mangue. Abaixo, á direita, a comunidade de Brasília Teimosa. Fonte: Blog Transporte na Região Metropolitana do Recife, 2013. Disponível em: <http://transportenarmr.blogspot.com.br/2013/04/via-mangue.html>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.235 Imagem 48 – Shopping Rio e suas três torres empresariais. Fonte: SkyscraperCity, 2014. Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1090149&page=505>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.236 Imagem 49 – Brasília Teimosa antes e depois da criação da ligação da Rua Francisco Valpassos à Avenida Antônio de Góes. Fonte: Google Mapa, 2011; 2016. | P.237 Imagem 50 – Edifício da Advocacia Geral da União. Foto de Wesley MCallister/AscomAGU. Fonte: Flickr Advocacia Geral da União, 2011. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/advocaciageraldauniao/6285701051/in/photostream/ >. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.238 Imagem 51 – Edifício da Advocacia Geral da União visto das proximidades do Mercado da Brasília. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.238 Imagem 52 – Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem a Advocacia Geral da União. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado). | P.238 Imagem 53 – Edifício da Receita Federal na Avenida Antônio de Goes. Fonte: Google Maps, 2016. | P.239 Imagem 54 – Edifício da Receita Federal visto da Vila Teimosinho. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.239 Imagem 55 – Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o Edifício da Receita Federal. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado). | P.239 Imagem 56 – Edifício Jopin. Fonte: Open Buildings, 201-. Disponível em: <http://openbuildings.com/buildings/jopin-building-profile-41630>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.240 Imagem 57 – Edifício Jopin visto da Rua Delfim, na Vila Moacir Gomes. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.240
Imagem 58 – Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o Edifício Jopin. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado). | P.240 Imagem 59 – Edifício do Empresarial ITC. Fonte: Direct Empreendimentos Imobiliários, 2016. Disponível em: < http://www.directimoveis.com.br/imovel-v0896/internacionaltrade-center#>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.241 Imagem 60 – Edifício do Empresarial ITC visto da Rua Francisco Valpassos. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.241 Imagem 61 – Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o edifício do Empresarial ITC. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado). | P.241
Imagem 62 – Edifício do Empresarial ITC visto da Rua Comendador Moraes. Fonte: Google Maps, 2016. | P.242 Imagem 63 – Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o edifício do Empresarial ITC. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado). | P.242 Imagem 64 – Edifício Fred Dubeux. Fonte: Google Maps, 2016. | P.243 Imagem 65 – Edifício Fred Dubeux visto da Área da Colônia. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.243 Imagem 66 – Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o edifício Fred Dubeux. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado). | P.243 Imagem 67 – Edifícios do Pina invadindo a Paisagem Teimosa. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.244 Imagem 68 – Em primeiro plano, as Torres Gêmeas da Moura Dubeux. Ao fundo, Brasília Teimosa. Fonte: Blog Acerto de Contas, 2008. Disponível em: < http://www.directimoveis.com.br/imovel-v0896/internacional-trade-center#>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.245 Imagem 69 – Brasília teimosa e as Torres Gêmeas ao fundo. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.245 Imagem 70 – Situação hipotética das Torres Gêmeas tendo uma altura reduzida. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado). | P.246
Imagem 71 – Primeira versão do Projeto Novo Recife. Fonte: Pini Web, 2012. Disponível em: <http://piniweb.pini.com.br/construcao/urbanismo/projeto-novo-recife-no-cais-joseestelita-e-aprovado-em-275875-1.aspx>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.247 Imagem 72 – Versão atual do Projeto Novo Recife visto de Brasília Teimosa. Perceber as duas torres já existentes no local à direita. Fonte: Site Novo Recife, 2014. Disponível em: < http://www.novorecife.com.br/>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.247 Imagem 73 – Em primeiro plano, a versão atual do Projeto Novo Recife, e ao fundo, Brasília Teimosa. Fonte: Site Novo Recife, 2014. Disponível em: < http://www.novorecife.com.br/>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.248 Imagem 74 – Projeto Recife-Olinda no trecho do Cais de Santa Rita. Fonte: Blog Direitos Urbanos, 2012. Disponível em: < https://direitosurbanos.wordpress.com/tag/cidadespossiveis/>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.248 Imagem 75 – Pontos do Teleférico previsto para Brasília Teimosa. Fonte: Diego Martiniano (página no Facebook), 2015 (modificado). Disponível em: < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=680004375478411&set=a.125417587603762. 39063.100004065637040&type=3&theater>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.249 Imagem 76 – Hotel da Rio Ave e Brasília Teimosa ao fundo. Fonte: Blog do Jamildo, 2017. Disponível em: <http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2014/04/11/prefeitura-recife-barraconstrucao-de-megahotel-da-rio-ave-em-brasilia-teimosa/>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.250
Imagem 77 – Empresarial Líbano Brasileiro. Fonte: Wikimapia, 2012. Disponível em: <http://wikimapia.org/1438974/pt/Empresarial-L%C3%ADbano-Brasileiro>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.251 Imagem 78 – Edifício Mirante do Capibaribe. Fonte: Expo Imóvel, 201-. Disponível em: < http://www.expoimovel.com/imovel/apartamentos-lancamento-pina-recifepernambuco/372922/pt/BR>. Acesso em: 16 jun. 2017. | P.252 Imagem 79 – Casa de arquitetura não convencional ao bairro de Brasília Teimosa. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.255 Imagem 80 – Edifício irregular na Rua Poraquê. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.256 Imagem 81 – A Paisagem Teimosa e o seu entorno conflitante. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=179005365815889&set=a.179005335815892 .1073741838.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 15 mar. 2017. | P.261
Imagem 82 – A Unidade de Paisagem de Brasília Teimosa. Foto de Maurício F. Pinho. Fonte: Panoramio Google Maps, 2010. Disponível em: < http://www.panoramio.com/photo/43212928>. Acesso em: 15 jun. 2016. | P.261 CAPÍTULO 4 | A BRASÍLIA COMO KOSMOS Imagem 1 – Brasília e suas casas anfíbias a Beira-Mar, antes da abertura da avenida Brasília Formosa. Fonte: Blog Conselho de Moradores de Brasília Teimosa, 2012. Disponível em: <http://conselhodemoradoresdebrasiliateimosa.blogspot.com.br/p/fotos-e-videos.html>. Acesso em: 09 jun. 2017. | P.267 Imagem 2 – Brasília Teimosa antes do calçamento de suas ruas, que originalmente eram de areia. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 201-. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=168107063572386&set=a.168107033572389 .1073741837.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 15 mar. 2017. | P.267 Imagem 3 – Brasília Teimosa sendo retratada em uma Cena do Filme Aquarius (2016). Ao fundo, os prédios do Pina. Fotografia de Victor Jucá. Fonte: CAVANI, 2016. | P.268
Imagem 4 – Brasília Teimosa e as torres gêmeas da Moura Dubeux no Cais José Estelita. Fotografia de Ivo Lopes Araújo. Filme Avenida Brasília Formosa (2010). Fonte: CAVANI, 2016. | P.269 Imagem 5 – Brasília Teimosa, Solo, 2010. Foto de Gabriel Britto. Fonte: Flickr Gabriel Britto. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/gabrielbritto/4722019681/>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.270 Imagem 6 – Brasília Teimosa, Território, 2013. Foto de Camila Almeida. Fonte: Flickr Camila Almeida. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/ideiologia/8601965680/ >. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.271 Imagem 7 – Brasília Teimosa, Meio Ambiente Natural e Vivo, 2006. Foto de Alberto Benning. Fonte: Flickr Alberto Benning. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/benning/121524859/>. Acesso em: 15 jun. 2016. | P.271 Imagem 8 – A Paisagem de Brasília Teimosa e os edifícios conflitantes do Pina, 2012. Foto de José Rodrigues. Fonte: Mapio José Rodrigues, 2012. Disponível em: <http://mapio.net/s/30498919/>. Acesso em: 18 jun. 2016. | P.274 Imagem 9 – Brasília verticalizada, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.277 Imagem 10 – Brasília verticalizada e adensada. Rua Estrela do Mar, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.277
Imagem 11 – Os arrecifes da Recife vistos do alto do Forte do Picão, 1875. Autor: Marc Ferrez. Fonte: FERREZ, 1988, p.23. | P.282 Imagem 12 – Os arrecifes da cidade atualmente (2014). Em primeiro plano, o Bairro do recife; em segundo, a Ilha de Santo Antônio e São José; em terceiro, Brasília Teimosa. Perceber a ligação entre as três localidades. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 201-. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=277107806005644&set=a.205200899863002 .1073741843.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 15 mar. 2017. | P.283 Imagem 13 – Praia do Buraco da Véia e os arrecifes. Fonte: Site Patrimônio de Todos.gov, 2009. Disponível em: < https://gestao.patrimoniodetodos.gov.br/pastaimagem.2009-0702.4357058635/brasilia-teimosa-hoje/image_view_fullscreen>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.283
Imagem 14 – Piscina natural formada pelos arrecifes na Praia do Buraco da Véia. Fonte: URPIA, 2014. | P.284 Imagem 15 – Barcos de Pescadores no início da Pistinha. Foto de Américo Pinto. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. Disponível em: < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=216644095385349&set=a.179005335815892. 1073741838.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 15 mar. 2017. | P.284
Imagem 16 – Palafitas e os arrecifes antes da construção da mureta de contenção. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. | P.285 Imagem 17 – Avenida Brasília Teimosa atualmente, com o muro de contenção entre a areia e os arrecifes. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.285 Imagem 18 – Praia de Brasília Teimosa em seu trecho próximo ao Pina, 2007. Foto de autoria de Carlos M.G. Fonte: Panoramio Google Maps, 2007. Disponível em: <http://www.panoramio.com/photo/14903263>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.287 Imagem 19 – Praia do Buraco da Véia e os seus Banhistas, 2016. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=199019523814473&set=a.199019467147812 .1073741841.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 15 mar. 2017. | P.288 Imagem 20 – Banhistas na Praia do Buraco da Véia. Fonte: URPIA, 2014. | P.288 Imagem 21 – Banhista na Praia do Buraco da Véia. Observar os arrecifes que conformam a praia. Fonte: URPIA, 2014. | P.289
Imagem 22 – Moradores tomando Banho de Choque na mureta. Foto de Daniel Pereira, 2013. Fonte: Site Fotógrafo Daniel Pereira, 2013. Disponível em: <http://cargocollective.com/DanielPereira/filter/Banho/Choque>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.289 Imagem 23 – “Banho de Choque faz Parte da Nossa História”. Imagem encontrada em uma página do Facebook alimentada por fotos e conteúdos provenientes dos próprios moradores. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. Disponível em: < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=296309030752188&set=a.296309004085524. 1073741850.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 15 mar. 2017. | P.290 Imagem 24 – Crianças jogando bola na praia no início da Ocupação na Brasília. Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqYjyheZMbg>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.294 Imagem 25 – Crianças jogando bola na praia na Brasília atual. Fotografia de Daniel Jacinto Pereira, 2014. Fonte: Daniel Jacinto Pereira (Youtube), 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3bTJtWOJllU>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.294 Imagem 26 – Crianças nas barras de exercício da orla. Fotografia de Daniel Jacinto Pereira, 2014. Fonte: Daniel Jacinto Pereira (Youtube), 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3bTJtWOJllU>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.295 Imagem 27 – Parquinho e quiosque na Avenida Brasília Formosa, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.295 Imagem 28 – Quiosques e bares na Avenida Brasília Formosa, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.296 Imagem 29 – Orla sendo vivenciada (provavelmente na década de 70). Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqYjyheZMbg>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.296 Imagem 30 – Pessoas bebendo e conversando na Beira-mar. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=ZIgImbH_hRo>. Acesso em: 24 maio 2017. | P.297 Imagem 31 – Pessoas conversando na beira do rio. Foto de Sergio Eduardo Urt, 2009. Fonte: Flickr Sergio Eduardo Urt, 2009. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/sergiourt/3970326952/>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.297
Imagem 32 – Festa de São Pedro, 2016. Fonte: Portal G1 de Notícias, 2016. Disponível em: < http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2016/06/procissao-homenageia-sao-pedro-porterra-e-por-mar-em-brasilia-teimosa.html>. Acesso em: 24 maio 2017. | P.298 Imagem 33 – Pescadores em Brasília Teimosa, 1957. Autor desconhecido. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. Título Original: Pesca. Disponível em:<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=357172611332496&set=a.199019920481 100.1073741842.100011192807604&type=3&theater>. Acesso em: 15 mar. 2017. | P.302 Imagem 34 – Pescador na Brasília Teimosa Atual. Fonte: BRASÍLIA...2014. | P.303 Imagem 35 – Pescadores próximos à Associação. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqYjyheZMbg>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.303 Imagem 36 – Marisqueira na Brasília. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqYjyheZMbg>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.304 Imagem 37 – Pescadores na Brasília. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.304 Imagem 38 – Venda de peixes em barraca. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqYjyheZMbg>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.305 Imagem 39 – Colagem de Bares, Restaurantes e botecos de Brasília Teimosa. Fonte: Google Maps, 2016. | P.307 Imagem 40 – Império dos Camarões, Restaurante da Brasília conhecido internacionalmente. Fonte: Google Maps, 2016. | P.308 Imagem 41 – Quiosque na Orla de Brasília Teimosa (esquina da rua Dagoberto Pires). Fonte: acervo pessoal da autora. | P.308 Imagem 42 – Restaurante Bar do Peixe, um dos mais tradicionais da Brasília. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.309 Imagem 43 – Bar nas proximidades da Praia do Buraco da Véia. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.309 Imagem 44 – Vendedor de Caldinhos na Praia do Buraco da Véia. Fonte URPIA, 2014. | P.310 Imagem 45 – Vendedor de Peixes na Praia do Buraco da Véia. Fonte URPIA, 2014. | P.310
Imagem 46 – Bares nas proximidades do Mercado de Brasília Teimosa. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZIgImbH_hRo>. Acesso em: 24 maio 2017. | P.311 Imagem 47 – Colagem de comércios e serviços da Brasília. Fonte: Google Maps, 2016. | P.313
Imagem 48 – Comércio na Rua Arabaiana. Perceber os mercados dos dois lados da rua. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.314 Imagem 49 – Comércio variado na Rua Arabaiana. Fonte: FABRÍCIO, 2014. | P.314 Imagem 50 – Anúncio de Venda de Pescado. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.315 Imagem 51 – Venda de peixe em barraca na Rua Arabaiana. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZIgImbH_hRo>. Acesso em: 24 maio 2017. | P.315 Imagem 52 – Venda de milho e espetinho na Rua Delfim. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.316
Imagem 53 – Comércios próximos ao Mercado de Brasília Teimosa. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.316 Imagem 54 – Tipologia 1. Edificações encontradas em Brasília Teimosa. Fonte: ANJOS, 2013, p.95. | P.318 Imagem 55 – Tipologia 2. Edificações encontradas em Brasília Teimosa. Fonte: ANJOS, 2013, p.96. | P.318 Imagem 56 – Implantação 3. Edificações encontradas em Brasília Teimosa. Fonte: ANJOS, 2013, p.96 (modificado). | P.319 Imagem 57 – Colagem de Casas da Brasília. Fonte: Google Maps, 2016. | P.321 Imagem 58 – Casas da Rua Espardate na década de 1960. Fonte: BEZERRA, 1965. | P.324 Imagem 59 – Casas da Rua Estrela do Mar, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.324 Imagem 60 – Brasília Teimosa e as casas que sentem a rua. Foto de Flávio Gusmão, 2009. Fonte: Flickr Flávio Gusmão, 201-. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/flaviogusmao/4089822536/in/gallery-anaisismoura72157629258981606/>. Acesso em: 14 jun. 2016. | P.325
Imagem 61 – Comércios que sentem a rua. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.325 Imagem 62 – Casas que sentem o rio. Foto de Luiz Baltar. Fonte Blog Com mais de trinta, 2010. Disponível em: <http://www.anapessoa.com.br/?tag=brasilia-teimosa>. Acesso em: 15 jun. 2016. | P.326 Imagem 63 – Palafitas na antiga orla marítima da Brasília. Foto de autoria de Eduardo Câmara. Fonte: Panoramio Google Maps, 2007. Disponível em: < http://www.panoramio.com/photo/38954285>. Acesso em: 15 jun. 2016. | P.326 Imagem 64 – Casas que sentem o mar na Avenida Brasília Teimosa, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.327 Imagem 65 – Conjunto residencial Brasília Teimosa e seus muros à convivência. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.327 Imagem 66 – Conjunto residencial Brasília Teimosa e seus muros à convivência. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.328 Imagem 67 – Edificações que conformam a Unidade de Paisagem de Brasília Teimosa. Perceber a diferença entre a paisagem do bairro e o seu entorno (Pina e Boa Viagem). Fonte: acervo pessoal da autora. | P.328 Imagem 68 – A (com)vivência na orla. Crianças jogando bola e pessoas bebendo, conversando, tomando banho de mar e interagindo com os arrecifes. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZIgImbH_hRo>. Acesso em: 24 maio 2017. | P.333 Imagem 69 – Ritos de Pesca na orla marítima. Fonte: Colônia...2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=M8aAAB4ZJu0>. Acesso em: 11 jun. 2017. | P.333 Imagem 70 – Pescadores e pessoas sentadas em frente às casas. Foto de autoria de Ezequiel Vannoni, Agência JCM, Foto Arena. Fonte: Flickr Ezequiel Vannoni. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/52943624@N03/15836203668/>. Acesso em: 18 de jun. de 2016. | P.334 Imagem 71 – Movimentação comercial. Rua Arabaiana. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.334
Imagem 72 – Meninos jogando bola na Brasília de ontem. Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqYjyheZMbg>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.335
Imagem 73 – Meninos jogando bola na Brasília de hoje. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZIgImbH_hRo>. Acesso em: 24 maio 2017. | P.335 Imagem 74 – Rua sendo vivida na Brasília de ontem. Perceber as casas que sentem a rua. Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqYjyheZMbg>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.336 Imagem 75 – Mulheres sentadas e crianças brincando na rua. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZIgImbH_hRo>. Acesso em: 24 maio 2017. | P.336 Imagem 76 – Crianças brincando e pessoas sentadas na calçada. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZIgImbH_hRo>. Acesso em: 24 maio 2017. | P.337 Imagem 77 – Rua Badejo sendo vivenciada hoje. Perceber as casas que sentem a rua e o mercadinho situado fora da zona comercial do bairro. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.337
Imagem 78 – Casa de arquitetura simples na Brasília Teimosa de ontem. Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqYjyheZMbg>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.339 Imagem 79 – Casas de arquitetura simples da Brasília Teimosa de hoje. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.340 Imagem 80 – Edifício de alto padrão situado no bairro de Boa Viagem. Fonte: SkyscraperCity, 2004. Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=731578>. Acesso em: 19 jun. 2016. | P.340
Imagem 81 – Mercadinho do centro comercial de Brasília Teimosa. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.340 Imagem 82 – Supermercado situado no bairro de Boa Viagem. Fonte: Blog do Jota Lídio, 2014. Disponível em: < http://blogdojotalidio.blogspot.com.br/2014_03_01_archive.html>. Acesso em: 11 jun. 2017. | P.340 Imagem 83 – Rua da Brasília de ontem. Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqYjyheZMbg>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.341 Imagem 84 – Rua Delfim na Brasília de hoje. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.341
Imagem 85 – Avenida Domingos Ferreira em Boa Viagem. Fonte: Mapio, 201-. Disponível em: < http://mapio.net/s/30497001/>. Acesso em: 08 jun. 2017. | P.341 Imagem 86 – Píer improvisados na orla fluvial da Brasília. Foto de autoria de Ezequiel Vannoni, Agência JCM, Foto Arena. Fonte: Flickr Ezequiel Vannoni. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/52943624@N03/15836203668/>. Acesso em: 18 de jun. de 2016. | P.341 Imagem 87 – Pescador na baitera. Fonte: BRASÍLIA...2014. | P.342
Imagem 88 – Praia do Buraco da Véia e sua estreita faixa de areia. Fonte: Site Esse Mundo é Nosso, 2014. Disponível em: <http://www.essemundoenosso.com.br/praia-de-boaviagem/>. Acesso em: 11 jun. 2017. | P.342 Imagem 89 – Praia de Boa Viagem e sua faixa de areia. Fonte: Blog Brasília Teimosa, 2009. Disponível em: <http://pz.filho.zip.net/arch2009-04-19_2009-04-25.html>. Acesso em: 11 jun. 2017. | P.342 Imagem 90 – Avenida Brasília Formosa. Fonte: acervo pessoal da autora. | P.342 Imagem 91 – Avenida Boa Viagem, Beira-mar do bairro. Fonte: Mobilicidade Recife, 201-. Disponível em: < https://www.mobilicidade.com.br/ciclofaixarecife/pontosturisticos.asp>. Acesso em: 11 jun. 2017. | P.342
{ LISTA DE MAPAS } INTRODUÇÃO Mapa 1 – Brasília Teimosa e a Zona Sul do Recife. Perceber que o perímetro da ZEIS da comunidade não corresponde ao perímetro do seu bairro. Fonte: Google Earth, 2017 (modificado). | P.49
CAPÍTULO 1 | DA PAISAGEM À TEIMOSA CAPÍTULO 2 | A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA Mapa 1 – Recife em 1641. 1) Porto do Recife; 2) Cidade Maurícia; 3) Arrecifes; 4) Barreta; 5) Atuais Bairros do Pina e Brasília Teimosa; 6) Rio da Barreta. Título Original: Cidade Maurícia. Original localizado na Fundação Biblioteca Nacional. Mapa de autoria de Cornelis Golijath. Fonte: SILVA, 2008b, p16. | P.86 Mapa 2 – Detalhe do mapa anterior correspondente à área dos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa em 1641. 1) Primeiras ocupações; 2) Arrecifes; 3) Rio da Barreta; 4) Localização aproximada da Fazenda da Barreta e do Forte Schoonenburg. Título Original: Cidade Maurícia. Original localizado na Fundação Biblioteca Nacional. Mapa de autoria de Cornelis Golijath. Fonte: SILVA, 2008b, p16. | P.87 Mapa 3 – Planta da Cidade do Recife e seus Arrebaldes em 1875 (recorte). Organizada pela Repartição de Obras Públicas. 1) Arrecifes; 2) Antiga Barreta; 3) Dique do Nogueira; 4) Lazareto; 5) Açude; 6) Viveiros; 7) Casa da Vivenda; 8) Rio da Barreta; 9) Cabanga; 10) Ilha de Santo Antônio e São José; 11) Bairro do Recife. Fonte: Biblioteque Nationale da França. Disponível em: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b530985443.r=Recife>. Acesso em: 09 abr. 2017. | P.89 Mapa 4 – Detalhe da planta anterior correspondente à área dos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa em 1875. Organizada pela Repartição de Obras Públicas. 1) Arrecifes; 2) Antiga Barreta; 3) Dique do Nogueira; 4) Lazareto; 5) Açude; 6) Viveiros; 7) Casa da Vivenda; 8) Rio da Barreta; 9) Cabanga; 10) Ilha de Santo Antônio e São José; 11) Bairro do Recife. Fonte: Biblioteque Nationale da França. Disponível em: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b530985443.r=Recife>. Acesso em: 09 abril 2017. | P.90
Mapa 5 – Cidade do Recife, 1906, de autoria de Douglas Fox (recortado). Ao sul, a Ilha do Nogueira, atual Pina. 1) Arrecifes; 2) Antiga Barreta; 3) Dique do Nogueira; 4) Lazareto; 5) Açude; 6) Viveiros; 7) Porto da Ilha; 8) Cabanga; 9) Ilha de Santo Antônio e São José; 10)
Bairro do Recife. Fonte: Laboratório Topográfico de Pernambuco, [20--]. Disponível em: <http://www.labtopope.com.br/cartografia-historica/>. Acesso em: 12 mar. 2017. | P.97 Mapa 6 – Mapa esquemático feito a mão por Casttelus (nome completo não identificado no material). 1) Arrecifes; 2) Antiga Barreta. 3) Dique do Nogueira; 4) Antigo Lazareto; 5) Avenida Boa Viagem; 6) Avenida de Ligação; 7) Ponte do Pina; 8) Oficinas do Porto; 9) Mar; 10) Estação de Tratamento; 11) Cabanga; 12) Ilha de Santo Antônio e São José; 13) Bairro do Recife. Título Original: Porto do Recife: planta geral das obras complementares. Fonte: cedido pela CONDEPE/FIDEM. | P.103 Mapa 7 – Recorte do mapa esquemático anterior feito a mão por Casttelus (nome completo não identificado no material). 1) Arrecifes; 2) Antiga Barreta. 3) Dique do Nogueira; 4) Antigo Lazareto; 5) Avenida Boa Viagem; 6) Avenida de Ligação; 7) Ponte do Pina; 8) Oficinas do Porto; 9) Mar. Título Original: Porto do Recife: planta geral das obras complementares. Fonte: cedido pela CONDEPE/FIDEM. | P.104 Mapa 8 – Proposta para o aeroporto no Areal do Pina, provavelmente datada do ano de 1934 1) Arrecifes; 2) Antiga barreta; 3) Dique; 4) Coroa dos Passarinhos; 5) Aeroporto; 6) Mar; 8) Avenida Herculano Bandeira; 9) Ponte do Pina; 10) Cabanga; 11) Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: FORTIN, 1987. | P.111 Mapa 9 – Pina e Brasília Teimosa em 1943. 1) Arrecifes; 2) Areal Novo, ainda desocupado. 3) Areal velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais; 4) Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5) Ponte do Pina; 6) Avenida Boa Viagem; 7) Antigo Lazareto; 8) Aeroclube; 9) Instalações da Rádio Station Pina; 10) Manguezal; 11) Cabanga; 12) Ilha de Santo Antônio e São José; 13) bairro do Recife. Notar o arruamento ainda bastante inicial de traçado irregular. Mapa elaborado pelo Serviço Geográfico do exército. Fonte: cedido pela CONDEPE/FIDEM. | P.116 Mapa 10 – Recorte do mapa anterior mostrando o Pina e Brasília Teimosa em 1943. 1) Arrecifes; 2) Areal Novo, ainda desocupado. 3) Areal velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais; 4) Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5) Ponte do Pina; 6) Avenida Boa Viagem; 7) Antigo Lazareto; 8) Aeroclube; 9) Instalações da Rádio Station Pina; 10) Manguezal; 11) Cabanga; 12) Ilha de Santo Antônio e São José; 13) bairro do Recife. Notar o arruamento ainda bastante inicial de traçado irregular. Mapa elaborado pelo Serviço Geográfico do exército. Fonte: cedido pela CONDEPE/FIDEM. | P.117 Mapa 11 – Montagem de Fotos Aéreas do ano de 1951 anterior. 1) Arrecifes; 2) Areal Novo, ainda pouco ocupado. 3) Areal velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais (perceber o primeiro arruamento bem definido); 4) Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5) Ponte do Pina; 6) Avenida Boa Viagem; 7) Ruínas Lazareto 8) Aeroclube; 9) Manguezal; 10) Ilha de Santo Antônio e São José. Perceber o arruamento bastante parecido com a encontrada no início da década anterior. Fonte: fotos cedidas pela CONDEPE/FIDEM. | P.118
Mapa 12 – Detalhe da montagem de Fotos Aéreas do ano de 1951 anterior. 1) Arrecifes; 2) Areal Novo, ainda pouco ocupado. 3) Areal velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais (perceber o primeiro arruamento bem definido); 4) Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5) Avenida Boa Viagem; 6) Ruínas Lazareto. Perceber o arruamento bastante parecido com a encontrada no início da década anterior. Fonte: fotos cedidas pela CONDEPE/FIDEM. | P.119 Mapa 13 – Mapa esquemático do traçado viário principal de Boa Viagem na década de 1950. 1) Areal de Brasília Teimosa; 2) Avenida Herculano Bandeira; 3) Avenida Boa Viagem. Fonte: BARTHEL, 1989 in ALVES, 2009, p.64. | P.126 Mapa 14 – Ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1975. 1) Arrecifes; 2) Área do futuro Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Avenida Antônio de Goes; 6) Avenida Herculano Bandeira; 7) Avenida Beira-Mar; 8) Aeroclube; 9) Ilha de Santo Antônio e São José; 10) Bairro do Recife. Fonte: CONDEPE/FIDEM. | P.135 Mapa 15 – Detalhe das ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1975. 1) Arrecifes; 2) Área do futuro Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Avenida Antônio de Goes; 6) Avenida Herculano Bandeira; 7) Avenida Beira-Mar. Fonte: CONDEPE/FIDEM. | P.136 Mapa 16 – Ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1985. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Ponte Paulo Guerra; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida Beira-Mar; 9) Avenida Conselheiro Aguiar; 10) Avenida Domingos Ferreira; 11) Aeroclube; 12) Ilha de Santo Antônio e São José; 13) Bairro do Recife. Fonte: CONDEPE/FIDEM. | P.137 Mapa 17 – Detalhe das ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1985. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Avenida Antônio de Goes; 5) Avenida Herculano Bandeira; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida BeiraMar; 9) Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: CONDEPE/FIDEM. | P.138 Mapa 18 – Montagem de fotos aéreas de 1997. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Ponte Paulo Guerra; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida Beira-Mar; 9) Avenida Conselheiro Aguiar; 10) Avenida Domingos Ferreira; 11) Aeroclube; 12) Radio Station; 13) Fábrica Bacardi. Fonte: CONDEPE/FIDEM. | P.166 Mapa 19 – Detalhe da Montagem de fotos aéreas de 1997. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Ponte Paulo Guerra; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida Beira-Mar; 9) Avenida Conselheiro Aguiar; 10) Avenida Domingos Ferreira; 11) Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: CONDEPE/FIDEM. | P.167 Mapa 20 – Montagem de fotos aéreas de 2007. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Ponte Paulo Guerra; 6) Avenida Brasília
Formosa; 7) Conjunto Habitacional Brasília Teimosa; 8) Avenida Antônio de Goes; 9) Avenida Herculano Bandeira; 10) Avenida Beira-Mar; 11) Avenida Domingos Ferreira; 12) Avenida Conselheiro Aguiar;13) Aeroclube; 14) Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: Google Earth, 2007. | P.168 Mapa 21 – Detalhe da montagem de fotos aéreas de 2007. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Avenida Brasília Formosa; 5) Conjunto Habitacional Brasília Teimosa; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida BeiraMar; 9) Avenida Domingos Ferreira; 10) Avenida Conselheiro Aguiar. Fonte: Google Earth, 2007. | P.169 CAPÍTULO 3 | A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ Mapa 1 – Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa. Vias Principais e Zoneamento. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado). | P.189 Mapa 2 – Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa. 1) Ponte Paulo Guerra; 2) Ponte Agamenon Magalhães; 3) Avenida Antônio de Goes; 4) Avenida Herculano Bandeira; 5) Avenida Boa Viagem; 6) Avenida Conselheiro Aguiar; 7) Avenida Domingos Ferreira; 8) Aeroclube; 9) Radio Station. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado). | P.190 Mapa 3 – Mapa de cheios e vazios. Fonte: levantamento de campo feito pela autora. | P.202-203 (anexo)
Mapa 4 – Mapa de Gabaritos. Fonte: Fonte: levantamento de campo feito pela autora. | P.202-203 (anexo)
Mapa 5 – Mapa dos equipamentos públicos existentes no bairro. Fonte: elaborado pela autora. | P.206 Mapa 6 – Elementos naturais da Paisagem. Fonte: elaborado pela autora. | P.207 Mapa 7 – Mapa das centralidades do bairro. Fonte: elaborado pela autora. | P.213 Mapa 8 – Mapa de usos da Brasília. Fonte: elaborado pela autora. | P.210-211 (anexo) Mapa 9 – Diferentes partes da orla. Fonte: elaborado pela autora. | P.215 Mapa 10 – Vila da Prata atualmente. Fonte: elaborado pela autora. | P.222 Mapa 11 – Vila Moacir Gomes atualmente. Fonte: elaborado pela autora. | P.223 Mapa 12 – Área da Colônia atualmente. Fonte: elaborado pela autora. | P.224
Mapa 13 – Vila Teimosinho atualmente. Fonte: elaborado pela autora. | P.225 Mapa 14 – Conjunto Habitacional atualmente. Fonte: elaborado pela autora. | P.226 Mapa 15 – Zoneamento Geral do Bairro. Fonte: elaborado pela autora. | P.227 Mapa 16 – Projetos do entorno da Paisagem Teimosa. Fonte: elaborado pela autora. | P.232 Mapa 17 – Terrenos Vazios no entorno de Brasília Teimosa (numerados pela ordem em que são citados no texto). Fonte: elaborado pela autora. | P.253
CAPÍTULO 4 | A BRASÍLIA COMO KOSMOS Mapa 1 – Zeis atual e Zeis proposta para a Brasília. Fonte: Google Maps, 2017 (modificado). | P.273 Mapa 2 – Divisões da ZEIS proposta. Fonte: Google Maps, 2017 (modificado). | P.274 Mapa 3 – Os arrecifes e a Paisagem Teimosa. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado). | P.281
Mapa 4 – Linha de força dos arrecifes na Paisagem Teimosa em 3 momentos distintos: 1641, 1975 e 2016. Fontes: SILVA, 2008b, p16; CONDEPE/FIDEM; Google Maps, 2016. | P.282
Mapa 5 – Orla e locais de banho. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado). | P.287 Mapa 6 – Mapa das orlas vivenciadas. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado). | P.293 Mapa 7 – Mapa da pesca em Brasília Teimosa. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado). | P.302
Mapa 8 – Gastronomia: Bares e Restaurantes da Brasília. Fonte: levantamento de campo feito pela autora. | P.302-303 (anexo) Mapa 9 – Burburinho Comercial na Teimosa. Fonte: levantamento de campo feito pela autora. | P.302-303 (anexo) Mapa 10 – Implantação das edificações residenciais e comercias. Fonte: elaborado pela autora. | P.322
Mapa 11 – Implantação das edificações nas orlas do rio e do mar. Fonte: elaborado pela autora. | P.323 Mapa 12 – Polos de Movimentação e suas influências diretas. Fonte: elaborado pela autora. | P.332 Mapa 13 – Mapa de usos de Brasília Teimosa. Perceber a diversidade de usos espalhados por todo o bairro. Fonte: levantamento de campo feito pela autora. | P.332-333 (anexo) MAPAS ESQUEMÁTICOS (ENTRE AS PÁGINAS) Mapa Esquemático 1/8 – 1641. Fonte: elaborado pela autora. | P.84-85 (anexo) Mapa Esquemático 2/8 – 1875. Fonte: elaborado pela autora. | P.88-89 (anexo) Mapa Esquemático 3/8 – 1925. Fonte: elaborado pela autora. | P.96-97 (anexo) Mapa Esquemático 4/8 – 1951. Fonte: elaborado pela autora. | P.112-113 (anexo) Mapa Esquemático 5/8 – 1975. Fonte: elaborado pela autora. | P.114-115 (anexo) Mapa Esquemático 6/8 – 1997. Fonte: elaborado pela autora. | P.158-159 (anexo) Mapa Esquemático 7/8 – 2007. Fonte: elaborado pela autora. | P.162-163 (anexo) Mapa Esquemático 8/8 – Atual. Fonte: elaborado pela autora. | P.188-189 (anexo)
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{
LISTA DE SIGLAS
}
APL | Assessoria de Planejamento BNH | Banco Nacional de Habitação CEPOMA | Centro de Educação Popular Mailde Araújo CDRU | Concessão do Direito Real de Uso COMUL | Comissão de Urbanização e Legalização da Posse de Terra CONDEPE | Conselho de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco CUEM | Concessão de uso especial para Fins de Moradia DNER | Departamento Nacional de Estradas e Rodagens IEP | Imóvel Especial de Preservação JCPM | Grupo João Carlos Paes Mendonça LUOS | Lei de Uso e Ocupação do Solo OAB | Ordem dos advogados do Brasil ONG | Organização não governamental PREZEIS | Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social PROMORAR | Programa de Erradicação da Sub-habitação RFFSA | Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima UCN | Unidade de Conservação da Natureza SMAS | Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente SUDENE | Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste URB | Empresa de Urbanização do Recife ZAN | Zona de Ambiente Natural ZEIS | Zona Especial de Interesse Social ZUP | Zona de Urbanização Preferencial
1
DA PAISAGEM À TEIMOSA | p.59 1.1 O que é Paisagem? | p.60 1.1.1 As Diferentes Abordagens da Paisagem – As portas de Jean Marc Besse | p.61 A) A Paisagem é uma Representação Cultural e Social | p.61 B) A Paisagem é um Território Fabricado e Habitado | p.62 C) A Paisagem é o Meio Ambiente Material e Vivo das Sociedades Humanas | p.62 D) A Paisagem é uma Experiência Fenomenológica | p.63 E) A Paisagem como Projeto | p.63 1.2 As Portas pelas quais Entramos | p.64 1.2.1 Kosmos: as Paisagens e as Pessoas para Além do Palpável | p.65 1.2.2 Os Ritos Sociais, a Simbologia Cole va e a Iden ficação entre Sociedades e Paisagens | p.68 1.3 A construção social das paisagens: simbologias, cultura e domínio | p.70 1.4 Relações de domínio, conflitos simbólicos e morais no espaço e na paisagem recifense | p.72 1.4.1 Do Recife à Teimosa | p.74
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA | p.81 2 2.1 Os antecedentes da Teimosia| p.83 2.1.1 Séculos XVII ao XIX: a Paisagem que Nasce com o Recife | p.83 2.1.2 De 1900 a Década de 1930: a Paisagem como símbolo de modernização e suas consequências | p.94 2.2 A Formação da Brasília pela Resistência| p.112 2.2.1 Décadas de 1940 a 1960: a apropriação Teimosa e a consolidação de uma Paisagem de conflitos | p.112 2.2.2 Décadas de 1970 e 1980: daqui não saio, daqui ninguém me Tira | p.132 2.3 Brasília Teimosa se Consolida | p.162 2.3.1 Década de 1990 a 2005: Formosa sim, Teimosa mais Ainda | p.162 2.3.2 A Consolidação da Permanência e do Habitar Teimoso | p.183
3 A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ | p.185 3.1 Visitando o hoje: a Paisagem Teimosa e o seu entorno | p.187 3.1.1 Pina e Boa Viagem: a Neutralização da Paisagem | p.188 3.1.2 A Brasília que Teima | p.201 3.2 O Futuro que se Encena | p.229 3.2.1 Onde querem Boa Viagem, sou Teimosia | p.229 3.2.2 Os Porquês de um Futuro Teimoso | p.259
{
PAISAGEM TEIMOSA: UMA INTRODUÇÃO | p.47
{ SUMÁRIO
A BRASÍLIA COMO KOSMOS | p.265 4 4.1 Estabelecendo as Diretrizes Gerais para a Conservação da Paisagem Teimosa | p.266 4.2 Notas Gerais sobre a Conservação da Paisagem Teimosa pela propriedade legal | p.272 4.3 A Conservação da Paisagem pela propriedade afe vo-simbólica: os Valores Teimosos | p.278 4.3.1 A Teimosia das águas | p.279 A) A Teimosia das Rochas | p.279 B) A Teimosia dos Banhos Salgados | p.286 C) ) A Teimosia da Celebração das Águas | p.291 4.3.2 A Teimosia da subsistência pelas águas | p.299 A) A Teimosia Pesqueira | p.299 B) A Teimosia Gastronômica | p.306 C) A Teimosia do Burburinho Comercial | p.312 4.3.3 A Teimosia vivenciada | p.317 A) A Teimosia das Casas que sentem a Rua e Beiram as Aguas | p.317 B) A Teimosia da (Com)vivência | p.329 C) A Teimosia da Simplicidade | p.338 4.4 O movimento da vida como o movimento da Maré | p.343 CONSIDERAÇÕES FINAIS: SOBRE A TEIMOSIA DA PAISAGEM | p.347 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS | p.351 ANEXOS | p.368 A) Modelo base u lizado nas entrevistas semiestruturadas | p.375 B) Entrevistas Transcritas | p.379 B1) Grupo dos Influenciadores | p.381 B2) Grupo dos Líderes Comunitários |p.397 B3) Grupo dos Pescadores e Marisqueira | p.422 B4) Grupo dos Moradores Comerciantes | p.441 B5) Grupo dos demais moradores| p.467
{
PAISAGEM TEIMOSA
UMA INTRODUÇÃO “Da cidade de Zirma, os viajantes retornam com memórias bastante diferentes: um negro cego que grita na multidão, um louco debruçado na cornija de um arranha-céu, uma moça que passeia com um puma na coleira. Na realidade, muitos dos cegos que batem as bengalas nas calçadas de Zirma são negros, em cada arranha-céu há alguém que enlouquece, todos os loucos passam horas nas cornijas, não há puma que não seja criado pelo capricho de uma moça. A cidade é redundante: repete-se para fixar alguma imagem na mente.” (Ítalo Calvino – As Cidades e os Símbolos 2 – Cidades Invisíveis1)
A necessidade de pertencer a um lugar é uma característica existencial humana. Nele e com ele as pessoas se relacionam e fundam a sua existência, a partir de uma dimensão física e também afetiva. Como prova disso, as sociedades se apropriam do mundo criando cidades a sua imagem e semelhança. Assim, as paisagens urbanas são formadas, refletindo os grupos que as constroem, tanto em seus aspectos objetivos, quanto nos subjetivos, como nos econômicos, sociais, políticos, históricos, artísticos, culturais e simbólicos (BESSE, 2014). No ato de habitar, ou seja, de criar hábitos, ritos associados a um lugar, as pessoas, de maneira individual e coletiva, atribuem valores simbólicos às paisagens, nelas atuando a partir de comportamentos sociais (CONAN, 1994). O fato é que dentro de uma mesma paisagem, pode haver várias outras. Ou seja, existem diferentes atores, que a criam, a vivenciam e a transformam, e com ela estabelecem relações a partir de percepções, identificações, simbologias e interesses diversos, que são diferentes dependendo da bagagem histórica e cultural daqueles que os tem, e podem ser harmônicos ou conflitantes entre si (CONAN, 1994). Historicamente, apesar de as paisagens serem construídas por projetos conscientes e ações inconscientes dos diversos grupos sociais que nela convivem, os extratos dominantes, pelo poder e a influencia que possuem, em geral, são os que mais comandam os seus processos de criação, impondo aos demais os seus sistemas morais e simbólicos (BESSE, 2014; COSGROVE, 2012).
{ 47 }
{ PAISAGEM TEIMOSA | UMA INTRODUÇÃO }
Sobre isso, na prática, dentro do contexto brasileiro, percebe-se que as elites, aliadas às forças de mercado2 e com o aval do poder público, dominam o processo de construção das cidades, colocando o território sob seu controle e seus desejos. Essa conjuntura social se materializa através de vários mecanismos, que juntos convergem para situações conflituosas (VILLAÇA, 2001), onde não somente as ocupações físicas dos outros grupos sociais dominados tendem a ser desconsideradas e invisibilizadas, mas também as relações objetivas e subjetivas que eles estabelecem com os lugares, que dessa forma são neutralizados e despidos da pluralidade de significados que conferem a sua singularidade (BERQUE, 2010). Os conflitos socioespaciais provenientes dessa realidade formam paisagens também conflituosas. A capital do estado de Pernambuco, Recife, uma das maiores cidades do nordeste do país em importância econômica e cultural, também foi construída a partir dessa lógica não harmônica. Seu “projeto” urbano se deu, e geralmente se dá, a partir de alguns padrões de formação territorial também observados recorrentemente em outras cidades do país. Temse como exemplo disso, a concentração da elite recifense nos locais próximos às suas zonas centrais, ou em locais ambientalmente e paisagisticamente mais privilegiados3; o rechaço das classes sociais humildes da cidade para as regiões mais distantes do seu centro, ou para aquelas menos cobiçadas pelo mercado imobiliário, e às vezes, até mesmo ilegais ou impróprias para as construções em geral; a constante dilatação do seu tecido viário para atender às demandas pelo transporte individual, de uso predominante das classes altas; e o provimento não uniforme de infraestrutura e serviços ao longo do seu território, os concentrando predominantemente nas áreas de suas ocupações mais elitizadas4 (ALVES, 2009; TÂNGARI, 2013). Apesar de esses mecanismos conflituosos serem observados com frequência e predominância na urbe recifense, algumas comunidades pobres conseguiram ir contra essa lógica segregacionista e se impor na paisagem central da cidade, contrariando os interesses dos grupos dominantes: é nesse contexto em que se encontra Brasília Teimosa (Mapa 1, imagem 1, imagem 2 e imagem 3). A Brasília é muito peculiar e pioneira nesse sentido. Considerada a primeira ocupação pobre consolidada da capital (SILVA, 2011), hoje ela se encontra em um dos locais mais cobiçados da cidade. Localizada na zona sul do Recife, a comunidade se situa em uma 1
CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. São Paulo: Cia. das Letras, 1990, p.11. Nesse caso, fala-se mais especificamente do mercado imobiliário formal. 3 No caso específico do Recife, locais próximos ao mar ou às margens do Rio Capibaribe. 4 Esses padrões de formação socioespacial que conformam a cidade do Recife serão discutidos mais adiante, no primeiro capítulo deste trabalho. 2
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Mapa 1 - Brasília Teimosa e a Zona Sul do Recife.
península triangular, que além da vizinhança com o marPerceber e com oque Rioo perímetro Capibaribe, se conecta da ZEIS da comunidade não { 49 }
corresponde ao perímetro do seu bairro. Fonte: Google Earth, 2017 (modificado).
{ PAISAGEM TEIMOSA | UMA INTRODUÇÃO }
península triangular, que além da vizinhança com o mar e com o Rio Capibaribe, se conecta territorialmente diretamente com o Pina e indiretamente com Boa Viagem, dois dos bairros mais valorizados economicamente da cidade. Paisagisticamente e visualmente, ela também se liga às áreas mais centrais do Recife: as Ilhas de Santo Antônio e São José e a do Bairro do Recife, onde foram locados o porto e as primeiras ocupações que deram origem à capital. O começo da formação do bairro da Brasília5 data da década de 1950, quando ocorreram as primeiras ocupações no seu território (FORTIN, 1987). O lugar foi apropriado por uma população carente que resistiu “teimosamente”6 às inúmeras tentativas de expulsão e de transformação da área em complexos turísticos e empreendimentos voltados para um público abastado, que a essa altura já se concentrava em suas vizinhanças (BRASÍLIA, 2014). Pelos seus próprios meios, mesmo sem ter condições básicas de infraestrutura e saneamento, os moradores lotearam a comunidade e nela construíram as suas casas (SANTOS, 2011). Somente décadas depois, eles começaram a conseguir apoio governamental para realizar melhorias no bairro, que atualmente chegou a sanar a grande maioria dos problemas urbanísticos que nele se apresentavam nos seus primeiros anos de existência (BRASÍLIA TEIMOSA, 1998). Um grande passo na conquista de mais segurança em relação à sua permanência se deu em 1983, quando a partir de uma modificação na LUOS recifense7 (Lei de Uso de Ocupação do Solo), o local passou a ser reconhecido como uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) (ALVES, 2009). Mais recentemente, em 2003, foi feita a requalificação da orla da Brasília, de onde houve a retirada de mais de 500 palafitas, e a construção de uma Avenida Beira-Mar (SILVA, 2008b). Essa última obra transformou completamente a paisagem da região, hoje constituída por casas térreas ou de baixo gabarito que se comunicam intimamente com mar. Atualmente essa comunidade se encontra na RPA-6 (Região Político Administrativa 6) da cidade, assim como os seus bairros circunvizinhos, Pina e Boa Viagem. Os três fazem parte da ZUP 18 (Zona de Urbanização Preferencial), mas como já dito, a Brasília também é considerada uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social)9. 5
A Brasília, na Brasília, não somente Brasília, ou em Brasília. Essa é a forma como a população que ali reside se refere ao bairro, e, portanto achou-se por bem usa-la em algumas situações dentro desse trabalho. 6 Os termos “Teimosa” ou “Teimosia” estarão muito presentes ao longo do trabalho, por se considerar que eles são importantes no que diz respeito à simbologia e a história do bairro no contexto geral da cidade, tanto para aos ali residentes, quanto para o Recife como um todo. A importância desse termo, inclusive, foi um aspecto levantado durante o trabalho de campo com a população. 7 Lei 14.511 de 17/01/83. 8 Segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo do Recife, fazem parte dessa zona “áreas que possibilitam alto e médio potencial construtivo compatível com suas condições geomorfológicas, de infraestrutura e paisagísticas” (PREFEITURA DA CDADE DO RECIFE, 1996). 9 O perímetro da ZEIS de Brasília Teimosa não coincide exatamente com os limites do bairro, se estende um pouco para além dele (RECIFE, 2017).
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Imagem 1 - Bairro de Brasília Teimosa. Acima, pode-se ver um pequeno pedaço do bairro do Pina. Fonte: Skyscrapercity Raul Lopes, 2013.
Imagem 2 - Bairro de Brasília Teimosa e a sua Avenida Beira-Mar, 2013. Foto de autoria de Marcos Pastich. Fonte: Flickr Marcos Pastich, 2013.
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Imagem 3 - Brasília Teimosa vista a partir de sua orla fluvial (que fica de frente para a Ilha de Santo Antônio e São José), 2014. Foto de autoria de Ezequiel Vannoni, Agência JCM, Foto Arena.
Dentro do território desses bairros existem duas importantes UCNs (Unidades de Conservação da Natureza), a UCN Orla Marítima e a UCN Marque dos Manguezais10 (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 2008; RECIFE, 2017). Apesar de vizinhos, Boa Viagem e Pina são bastante diferentes de Brasília Teimosa. Boa Viagem é um dos bairros mais elitizados do Recife, tendo um status de distinção social. Atualmente ele já se consolidou como um local não somente residencial, mas como um centro secundário da cidade, abrigando comércios e serviços que lhe dão autonomia própria (ALVES, 2009). Desde a abertura da sua Avenida Beira-Mar, em 1926, a área ascende socioeconomicamente, sendo apropriada pelo mercado imobiliário, que nele iniciou um processo de verticalização veloz já em meados do século passado (ALVES, 2009). Atualmente, a sua paisagem passa por uma fase de renovação arquitetônica, onde edifícios em altura são demolidos dando lugar a arranha-céus de maior gabarito, principalmente nas proximidades de sua orla (ARAÚJO, 2007) (imagem 4). 10
O Parque dos Manguezais Josué de Castro é a maior área urbana de mangue das Américas. Situado no coração do bairro do Pina, ele atualmente é permeado pela Via Mangue e por comunidades de baixa renda, sendo constantemente alvo de várias tentativas de projetos por parte do setor imobiliário, que não se sensibiliza pela sua condição de Unidade de Conservação (OLIVEIRA, 2015).
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O Pina encontra-se fisicamente e socialmente entre os outros dois bairros citados anteriormente, sendo também uma transição paisagística entre eles, guardando características de ambos. Isso acontece porque, ainda que o seu processo de verticalização tenha se intensificado nos últimos 30 anos pela expansão de Boa Viagem para o seu território, ainda existem atualmente bolsões em seu interior onde se encontram edificações de baixo gabarito, que não puderam ou ainda não podem ser apropriadas pelo mercado, tanto por impedimentos legais quanto pela resistência das comunidades pobres e ZEIS que as ocupam (CENTRO JOSUÉ DE CASTRO, 1993). Atualmente, além de o bairro vir se firmando como uma área para a construção de residenciais de luxo, nele também são implantados empreendimentos empresariais e comerciais de grande porte, muitas vezes em altura (ALVES, 2009) (imagem 4).
Imagem 4 - Em primeiro plano, o bairro do Pina, e em segundo, o de Boa Viagem. Fonte: Site Dicas de Hotéis, 2014.
Da mesma forma em que o mercado imobiliário e as elites começaram a se derramar intensamente sobre o Pina, elas também desejam se apropriar da Brasília. Além da sua proximidade com as zonas de domínio desses grupos, a sua localização central e a sua paisagem esteticamente privilegiada e litorânea são outros grandes atrativos que chamam a atenção dos empreendedores (BRITO, 2016). É nesse contexto em que se
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percebe que a paisagem da Brasília é Teimosa. Apesar de todas as pressões para a expulsão da comunidade, principalmente após as melhorias nela ocorridas nas últimas décadas, ela resiste como um cenário muito particular dentro da cidade. O que se percebe no local é uma clara materialização do que se afirmou no início deste texto. Diversos grupos sociais atuam ou desejam atuar sobre essa mesma paisagem a partir de comportamentos conflitantes baseados em entendimentos e nas significações diversas que se tem sobre ela. Ao mesmo tempo em que os moradores da comunidade a percebem como o local que abriga a sua história e onde se perpetuam os seus hábitos existenciais, como por exemplo, os de trabalho, através da pesca e da proximidade com o mar, e os de lazer, como pelo uso da famosa praia do Buraco da Véia localizada no seu território, outros grupos contrários à permanência do bairro onde ele se encontra podem o perceber como uma ótima oportunidade de criação de empreendimentos lucrativos ou de uma nova área para moradia e diversão de alto luxo. Esses desejos de futuro para a Brasília são divergentes e geram comportamentos também não harmônicos, que são impressos fisicamente na sua paisagem. Por estarem tão latentes, essas oposições podem ser percebidas até mesmo em uma primeira análise visual do quadro existente na atualidade (imagem 5).
Imagem 5 - Em primeiro plano o bairro de Brasília Teimosa, de classe baixa e horizontal, e ao fundo, os arranha-céus elitizados do bairro do Pina, 2014. Fonte: Flickr Leonardo Malafaia, 2014.
Nessa situação, onde há a coexistência de simbologias conflitantes, que por sua vez, ensejam projetos de paisagem também muito discrepantes entre si, como reconhecer os valores que devem “comandar” a criação do cenário de devir? Quais são esses valores? O caso é que, pelo entendimento sob o qual se fez o presente estudo, considera-se de fundamental importância a consideração da individualidade das paisagens para a tomada dessa decisão. O caráter individual de cada uma delas se dá pelas relações humanas e
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sociais com elas criadas, que por sua vez geram as identificações, percepções e simbologias que dão origem as ações que as transformam (BERQUE, 2010). Dessa forma, claramente, a história da paisagem, que também é a história dos grupos que as formam e as habitam deve ser protagonizada (BESSE, 2014). A paisagem Teimosa é habitada de maneira distinta das suas circunvizinhas, formando uma unidade em si mesma. Cabe ressaltar que as características que a distinguem do seu entorno não são somente físico espaciais, mas também simbólicas. A conotação que se tem sobre ela é bastante diferente da que se observa nos seus bairros vizinhos, Pina e Boa Viagem. A partir disso, se entende que não se deve privilegiar um projeto de paisagem que queira transformar a Teimosa em uma extensão dos seus vizinhos, neutralizando as particularidades dos seus símbolos e da sua história. Da observação da iminência desse processo neutralizador, que ameaça apagar do futuro um conjunto importante de relações sociais e particularidades palpáveis e subjetivas pertencentes à memória passada e presente do Recife, surge a urgência da presente pesquisa investigativa. Assim, o objetivo principal desse estudo é o de traçar diretrizes para a Conservação da Paisagem Teimosa, levando-se em consideração a permanência dos elementos físicos e simbólicos que a tornam tão singular. Para alcançar esse fim, tornou-se necessário seguir as etapas apresentadas didaticamente nos quatro capítulos desse trabalho, que terão seu conteúdo brevemente explicado a seguir:
Capítulo 1 – Da Paisagem à Teimosa Nessa primeira parte, pretende-se discutir o conceito de paisagem na contemporaneidade e chegar a uma definição de como ela é entendida no âmbito deste estudo. Posteriormente também é feita uma explanação das relações entre a paisagem e os indivíduos e grupos que nela atuam, e de como isso a veste de diferentes percepções, identificações e simbologias, que por sua vez, norteiam os comportamentos que a criam e a transformam. Em seguida, há uma compreensão de como tendem a ser os resultados físicos que provém das ações e mecanismos utilizados pelos diferentes atores sociais na formação das cidades no contexto brasileiro e recifense: paisagens conflitantes, fruto da incoerência entre os diversos valores que lhes são atribuídos. Por fim, procura-se ter uma percepção inicial de como os conceitos trabalhados se refletem no objeto de análise desta pesquisa, a Paisagem Teimosa. Cabe dizer que alguns dos termos utilizados previamente nessa introdução serão tratados com mais profundidade nessa sessão. Capítulo 2 – A Construção Social da Paisagem Teimosa
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Aqui há a reconstrução da história da Paisagem Teimosa, tentando-se perceber quais foram as mudanças físicas nela ocorridas até a sua consolidação para que ela chegasse a sua forma atual. Paralelamente, procura-se entender quais relações sociais e simbologias a ela foram atreladas, a formando ao longo do tempo. Para esta análise, foram consultados textos, mapas e imagens históricas, bibliografias primárias e secundárias em geral, além de documentos e dados técnicos relevantes para essa recomposição. De maneira breve, procurou-se estabelecer ligações entre o embasamento teórico anteriormente explanado e o objeto de estudo em questão. Capítulo 3 – A Teimosia de Hoje e os Desejos para o Amanhã Tendo-se como base os processos físicos e relacionais que formaram a Paisagem Teimosa, aqui se pretende traçar um quadro geral de como ela se encontra na atualidade, bem como entender quais valores objetivos, subjetivos e simbólicos lhes são agregados hoje. A partir deles, identificam-se os diversos desejos de futuro que ensejam se apresentar para a Brasília. Esses são identificados não somente pelos métodos de recomposição histórica utilizados anteriormente, mas também através da busca por projetos que ainda serão implantados ou que tentaram ser construídos recentemente na comunidade em suas proximidades. Aliado a esses instrumentos, para o reconhecimento dos anseios e das conotações atuais e futuras sobre essa paisagem, foram feitas algumas entrevistas semiestruturadas in loco com os próprios moradores da Brasília, cujo os resultados também são expostos a partir dessa parte do estudo. Finalizando essa discussão, a partir dos dados levantados nesse terceiro momento da pesquisa e do embasamento teórico visto anteriormente, tenta-se começar a compreender quais são os norteadores que guiarão a identificação dos valores e dos elementos físicos e simbólicos privilegiados nas diretrizes gerais de conservação subsequentes. Capítulo 4 – A Brasília como Kosmos Partindo das análises obtidas no segundo e no terceiro capítulo, feitas baseando-se nas entrevistas e nas discussões teóricas e conceitos inicialmente abordados nesse estudo, são traçadas as diretrizes gerais de Conservação para a Paisagem Teimosa. Após uma breve discussão sobre os norteadores dessas orientações, fala-se primeiramente das sugestões legais necessárias para se assegurar a permanência da Brasília no local onde ela se encontra. Posteriormente a isso, são expostas as diretrizes, apresentando-as através de valores “teimosos”, por meio dos quais se busca garantir a perpetuação dessa paisagem na cidade, conservando as características físicas e simbólicas que constroem a sua essência e a tornam única e especial.
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CAPÍTULO 1
DA PAISAGEM À TEIMOSA
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“Se você abrir uma pessoa, irá achar paisagens1.” (Les Plages d’ Agnès, 2008)
Aqui, se discutirão os conceitos básicos utilizados para o entendimento da Paisagem Teimosa. Paralelamente, se começará a perceber os rebatimentos da teoria exposta diretamente no objeto de estudo deste trabalho, fazendo as primeiras correlações entre o embasamento teórico e a área analisada. Em um primeiro momento pretende-se explorar de que maneira a paisagem é conceituada e abordada na atualidade, amparando-se fundamentalmente na teoria de JeanMarc Besse (2014). Este autor institui cinco caminhos diferentes (portas) pelos quais se pode tocar essa questão. Busca-se com isso, compreender a partir de quais óticas podemos olhar a Paisagem de Brasília Teimosa. Posteriormente, em uma segunda sessão, se explana com mais profundidade as abordagens de paisagem privilegiadas neste trabalho. Estas foram escolhidas não somente por se adequar aos campos que originaram esta pesquisa, a arquitetura e o urbanismo, mas também por se identificar com este tipo de estudo: uma problemática investigativa do planejamento urbano e paisagístico, que por sua vez, está diretamente relacionada com as ciências sociais em geral. Para se alcançar o entendimento proposto, nesse momento, exploram-se as relações entre os indivíduos e grupos sociais com a Paisagem, e as identificações, os sentimentos, as percepções, os hábitos (ritos) e as simbologias advindas desse processo. Para tal, tornou-se fundamental a observação dos escritos de Berque (1994, 2000, 2010, 2012) e Michel Conan (1994). Na terceira parte da explanação, começa-se a trazer essa teoria para um contexto mais palpável, fazendo-se valer principalmente dos estudos de Besse (2014), Denis Cosgrove (2012), Flavio Villaça (2001), Vera Tângari (2013), e Conan (1994). Nesse sentido, procura-se compreender de que forma os ritos sociais e os valores deles advindos, sobretudo os simbólicos, geram os comportamentos reais que criam e transformam as paisagens. Se verá que há a possibilidade de vários grupos sociais estarem atuando em uma 1
VARDA, Agnès. Les plages d’Agnès. Franca, 2008, (110min). Disponível em: <http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/entretenimento/as-praias-de-agnes-de-agnes-varda/>. Acesso em 15 de fevereiro de 2017.
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mesma paisagem e a ela atribuir diversas conotações, que podem ser conflitantes ou harmônicas entre si. Em caso de conflitos, como ocorre no exemplo da comunidade de Brasília Teimosa, também serão observados sob quais mecanismos e relações de força e poder essas paisagens são formadas. Por fim, em um último momento, nossa discussão chega à Teimosa. Procura-se começar a perceber como a teoria vista até aqui se aplica à Paisagem da Brasília, e a partir de que aspectos isso acontece. 1.1
O QUE É A PAISAGEM? Paisagem. O que ela é e qual é o seu significado na atualidade? Como se pode
conceituá-la? Qual é a sua importância no âmbito da produção socioespacial das cidades contemporâneas e para as sociedades? Quais são os simbolismos e valores que ela carrega? Como se verá adiante, a paisagem não tem apenas um conceito e um significado. Ela é polissêmica e pode ser vista de várias formas, de acordo com o campo de conhecimento que a estuda. Segundo o Dicionário Michaelis (2017), a paisagem pode ser conceituada de três formas distintas: 1) “extensão de território e de seus elementos que se alcança num lance de olhar; panorama, vista”; 2)“espaço com geografia e clima de determinado tipo: rural, urbana, montanhosa etc.”; e 3) “Desenho, quadro, gravura, foto ou qualquer outra manifestação artística cujo tema principal é a representação de uma paisagem, geralmente de lugares campestres”. Os conceitos apresentados acima se relacionam com a ideia tradicional de paisagem, que a remete ao pictórico e a considera basicamente como um panorama natural amplo e esteticamente agradável. Isso foi considerado válido por muito tempo, mas hoje é refutado por parecer não mais se adequar à realidade intrincada e menos natural do meio urbano na atualidade. As cidades contemporâneas passam por mudanças em ritmo acelerado, são frenéticas, difusas, e complexas em seus mecanismos de funcionamento (BESSE, 2014). Esses aspectos têm impactos diretos na construção das Paisagens Urbanas, que os refletem. Por conta disso, essas últimas são consideradas “(...) um recurso para o urbanismo, ou, de forma mais geral, para as estratégias de ordenamento do espaço em diferentes escalas. O cuidado com a paisagem ocupa, na atualidade, um lugar crucial nas preocupações sociais e políticas pela qualidade dos quadros de vida oferecidos às populações, em relação aos questionamentos sobre a identidade dos lugares, sobre a governança dos territórios ou, ainda, sobre a proteção dos meios naturais” (BESSE, 2014, p.7).
Sendo assim, percebe-se a importância de pensa-las para além do seu conceito tradicional ligado à natureza e às belas perspectivas. Como se verá adiante, a paisagem
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urbana envolve muitos outros aspectos, que ultrapassam essa questão estética e visual, como por exemplo, os relacionados à sociologia, à política, aos simbolismos e às relações econômicas e de poder, que também se materializam na realidade das cidades. 1.1.1 As Diferentes Abordagens da Paisagem – As Portas de Jean-Marc Besse2 Como dito anteriormente, na atualidade, a abordagem desse tema tem se tornado cada vez mais complexa, dado as grandes mudanças socioestruturais urbanas que se refletem diretamente na conformação e no significado das Paisagens, e a pluralidade de áreas de conhecimento3 que se debruçam sobre a questão paisagística, cada uma a abordando de uma maneira diversa. Sobre isso, na tentativa de englobar algumas das visões mais recorrentes imperantes sobre a Paisagem na atualidade, Jean-Marc Besse (2014) instituiu “Cinco Portas”, ou seja, cinco possíveis “entradas” para tocar nesse assunto: A)
A Paisagem é uma Representação Cultural e Social;
B)
A Paisagem é um Território Fabricado e Habitado;
C)
A Paisagem é o Meio Ambiente Material e Vivo das Sociedades Humanas;
D)
A Paisagem é uma Experiência Fenomenológica;
E)
A Paisagem como Projeto. Essas portas serão comentadas sinteticamente a seguir, a partir dos seus aspectos
mais relevantes para o entendimento do que se considera Paisagem no âmbito deste trabalho. A) A Paisagem é uma Representação Cultural e Social Aqui, a paisagem se apresenta como uma realidade mental e como uma representação social e cultural propriamente dita. Nesse primeiro caso, a paisagem não é vista como uma realidade em si, e sim como uma interpretação sobre o mundo. É uma percepção, individual e/ou coletiva, que se dá a partir de valores e referenciais éticos, sociais, históricos, culturais, artísticos, religiosos, científicos, técnicos, filosóficos, entre outros, sendo uma dimensão da apropriação4 cultural do território. 2
Toda essa sessão, que conta com a descrição das portas e das suas características, foi baseada no livro “O Gosto do Mundo: exercícios de Paisagem”, de Jean Marc Besse, 2014. 3 Como, por exemplo, a geografia, a história, a arquitetura, o urbanismo, a filosofia, o paisagismo, a jardinagem, a ecologia, a literatura, e as artes visuais e cênicas em geral. Cada uma dessas áreas tende a privilegiar uma das portas elencadas por Besse (2014) no seu entendimento do que é a paisagem. 4 A questão da apropriação do território e da paisagem será tratada com mais detalhes adiante.
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A partir da segunda ótica apresentada, esses fatores e valores não palpáveis citados, juntamente com as relações de força e poder inerentes a uma sociedade, fazem com que a paisagem seja ainda mais que uma interpretação mental: ela é a representação de uma realidade social e cultural, de um indivíduo ou de um grupo5. Valores estéticos são considerados, mas esses também são vistos como uma construção social sujeita a todos os elementos acima referidos. B)
A Paisagem é um Território Fabricado e Habitado6 Segundo essa abordagem, a paisagem é um “organismo” vivo, pois é produzida e
habitada (vivenciada) pela sociedade por motivos que vão além dos artísticos e estéticos, como os culturais, políticos e econômicos, por exemplo. A vivência social na paisagem a constrói e a modifica, de forma a atender às “necessidades ’existenciais’ do ser humano (necessidades existenciais, aliás, que são, sobretudo, necessidades afetivas e sociais)” (BESSE, 2014, p.29). Assim, a paisagem se organiza baseada na organização social do grupo que a ocupa, simbolizando suas práticas, valores e história. Ou seja, ela não só é um espaço fabricado e habitado pelos seres humanos, mas também, um palimpsesto7 de sua vivência e de sua história naquele território. As sociedades transformam o ambiente inicialmente natural de acordo com seus interesses, bem-estar e significados, cada grupo o fazendo de uma forma diferente. Sendo assim, a paisagem é um espaço social. Ela, “de um modo que lhe é próprio, é relativa a um projeto social, mesmo que esse projeto não seja ‘consciente’, mesmo se for a tradução inconsciente da organização de uma vida social” (BESSE, 2014, p.32). Assim, percebe-se que a paisagem não existe de forma separada das pessoas, ela é organizada de forma a ser o palco de suas vidas. C)
A Paisagem é o Meio Ambiente Material e Vivo das Sociedades Humanas Por esta porta entende-se que a paisagem se caracteriza como algo que vai além de
uma percepção ou um conjunto de memórias: seria também o palpável, o território, 5
É interessante destacar que, nesse caso, a representação de uma sociedade pela paisagem pode ser consciente em alguns momentos (BESSE, 2014). Mais adiante, nos próximos capítulos, se verá como a paisagem de Brasília Teimosa e os seus elementos são representações conscientes do bairro para a população. 6 Para pensar essa porta, Besse (2014) se baseia principalmente na teoria de John Brinckerhoff Jackson, principalmente em dois dos seus livros que foram traduzidos para o francês: A la découverte du paysage vernaculaire. Arles/Versailles: Actes Sud/ENSP, 2003; De la necessite des ruines et autres sujets. Paris: Le Liteau, 2005. 7 Segundo o Dicionário Infopédia (2017), a palavra palimpsesto pode ser definida como “papiro ou pergaminho que contém vestígios de um texto manuscrito anterior, que foi raspado ou apagado para permitir a reutilização do material e a posterior sobreposição de um novo escrito”. Neste trabalho, o conceito do palimpsesto será utilizado como uma metáfora para expressar a sobreposição de histórias, vivências, significados e relações sociais de vários tempos distintos expressos em uma mesma paisagem.
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entendido como espaço físico, fabricado, habitado e transformado pelo ser humano, coincidindo com o seu ecúmeno8. Ou seja, se considera que antes de qualquer transformação de um território, é necessário um ambiente natural, um substrato, com fatores materiais e ambientais, que independem, totalmente ou parcialmente, das ocupações e ações humanas, bem como da apropriação social dos espaços para existir. Apesar da maior valorização do natural nessa abordagem, não se pode confundi-la com a visão naturalista ultrapassada apresentada no inicio deste capítulo. Aqui a paisagem continua sendo percebida como um conjunto das dimensões materiais e ambientais, culturais e humanas, sendo as pessoas e grupos sociais o ponto de encontro entre esses fatores. D)
A Paisagem é uma Experiência Fenomenológica Segundo essa porta, a paisagem seria o acontecimento, a experiência, o encontro
concreto entre o ser humano e o mundo que o cerca. Nesse processo, o indivíduo não apenas vê a paisagem, mas a experimenta em todos os sentidos e com todo o seu corpo, sendo “afetado” sinestesicamente e emocionalmente por ela. O caminhar é visto como uma ação importante no que diz respeito a esse processo de experimentação. Nesse caso, é importante perceber que a Paisagem não é uma experiência em si, e sim o que faz o indivíduo sair de si mesmo e ter essa experiência. Ou seja, a paisagem é algo que vai além do sujeito e do objeto, do indivíduo e o lugar. Ela é “o atestado da existência de um ‘fora’, de um ‘outro’” (BESSE, 2014, p.45). E)
A Paisagem como Projeto Em linhas gerais, essa última porta trata da questão do projeto da paisagem urbana
e de como devem ser norteadas as ações dos paisagistas na atualidade, visto a complexidade e a realidade das cidades contemporâneas. Percebe-se que com as problemáticas paisagísticas vigentes hoje, cada vez mais, a forma de se olhar a questão da identidade e do futuro dos territórios tem se modificado. Há uma tendência em se projetar a paisagem considerando o contexto em que ela se encontra e todos os fatores, valores e significados físicos e subjetivos inerentes a ela. Ou seja, o espaço e a paisagem são considerados como palimpsestos7 acimasociais a partir dos quais se projeta, e não como tábulas rasas, de onde partem projetos desconexos da realidade existente.
8
Entendido como toda a área do globo terrestre habitada pelos seres humanos (MICHAELIS, 2017).
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1.2 AS PORTAS PELAS QUAIS ENTRAMOS Apesar das portas de Besse (2014) apresentadas anteriormente terem sido separadas por motivos didáticos, elas se sobrepõem e se completam em diversos momentos e dentro das ideias de diferentes autores, como se verá a seguir. As três primeiras delas, especialmente, fundamentarão o entendimento e a abordagem da nossa investigação. Adiante, se verá que a Paisagem Teimosa, antes de se tornar como é atualmente, permaneceu por muito tempo em um estado quase “original”, semelhante ao da sua base natural inicial, de características intimamente ligadas às ocupações e às transformações que ali ocorreram e ocorrem até a atualidade. A partir desse seu substrato natural inicialmente existente (terceira porta9), consegue-se entender de que forma a paisagem foi e é fabricada e habitada (segunda porta10), e quais os aspectos culturais e sociais que ela representou e representa hoje (primeira porta11). Sob esse olhar, serão criadas as Diretrizes básicas de Conservação traçadas no final deste estudo. A presente sessão pretende entrar pelas duas primeiras portas de Besse (2014). Para isso, inicialmente se fará uma discussão sobre como se dá a relação das pessoas e dos grupos sociais com a paisagem. Essa compreensão será importante para se entender posteriormente quais são os rebatimentos desses processos na prática, de maneira física, em geral e especificamente em Brasília Teimosa. Isso será visto a partir da segunda porta, nas duas próximas partes subsequentes a esta (sessão 3 e 4). A terceira abordagem que nos ampara, será contemplada com mais profundidade a partir do próximo capítulo, juntamente com o estudo a construção social da paisagem objeto desta análise. Pelos pontos levantados até aqui, fica clara a intenção de se perceber a paisagem como uma entidade não somente física, racional ou puramente estética, mas sim de pensala para além disso: como um meio relacional, que se integra com os indivíduos e com a sociedade também em seus aspectos subjetivos e sociais. Entremos pelas portas importantes para esse estudo.
9
A Paisagem é o Meio Ambiente Material e Vivo das Sociedades Humanas (BESSE, 2014). A Paisagem é um Território Fabricado e Habitado (BESSE, 2014). 11 Paisagem é uma Representação Cultural e Social (BESSE, 2014). 10
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1.2.1 Kosmos: as paisagens e as pessoas para além do palpável
Na antiguidade, o mundo e tudo o que nele existia era visto como um todo único: o kosmos12. Para os gregos, o kosmos significava a totalidade de tudo o que existe (DOSENHOR, 2017). Contrário do caos, ele era o universo organizado, ordenado, harmônico, incluindo seus habitantes (GUTIÉRREZ, 2011). Ou seja: o mundo era as pessoas e as pessoas também eram o mundo. Ambos existiam, cresciam e se desenvolviam juntos, de maneira integrada, nos seus aspectos palpáveis e físicos, mas também nos subjetivos e antropológicos (BERQUE, 2000, 2010). No ocidente, notadamente a partir da modernidade, que tem suas bases no século XVII e rebatimentos até os tempos recentes, os avanços científicos fizeram com que o mundo e a verdade começassem a ser vistos como algo puramente objetivo, dissociados da dimensão humana. O objeto e o sujeito são separados, não se aproximam, não se relacionam. Na sociedade ocidental13, a ideia de Paisagem surge através da pintura, de forma extremamente ligada a esse pensamento moderno. Nos quadros, ela era retratada como uma entidade autônoma, e não em relação às pessoas. Apenas os seus aspectos físicos eram mostrados, não havendo a intenção de exprimir sua simbologia, seu “algo mais”, características que fossem para além do palpável. No século XX, a paisagem do Movimento Modernista também foi pensada e concebida a partir dessa lógica (BERQUE 2012). Os lugares e as paisagens existiam apenas em si mesmos, assim como cada pessoa individualmente. As relações entre os indivíduos e o mundo eram desconsideradas por se tratar de algo subjetivo. Ainda no século XX, essa dicotomia começa a se esfacelar. Começou-se a perceber a inconsistência de ver como verdade apenas o cartesiano e científico, e de se conceber a ideia das pessoas separadas dos lugares (fisicamente, socialmente e ambientalmente). O surgimento da ecologia e da fenomenologia foram importantes nessa quebra de paradigma (BERQUE, 2012)14. Ainda que a utopia moderna de um universo neutro oposto ao Kosmos, indiferente aos indivíduos e desprovido de subjetividade tenha sido contestada e teoricamente ultrapassada, as raízes desse pensamento deram frutos que ainda podem ser observados 12
A definição de Kosmos segundo o dicionário online DOSENHOR (2017) é: 1) “arranjo ordenado, ou seja, decoração”. 2)”(por implicação) do mundo, incluindo seus habitantes”. 13 Notadamente na Europa, onde surge esse movimento de modernização, sendo o local cerne das primeiras descobertas científicas. 14 Com a ecologia, para a sobrevivência da humanidade, percebe-se a importância do sujeito se considerar parte do mundo em seus amplos aspectos, e não puro manipulador dele. Já na fenomenologia, a questão da subjetividade do espaço começa a ser explorada e difundida, gerando a reflexão e quebrando o conceito dicotômico moderno do mundo e do indivíduo como dois elementos separados.
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claramente na atualidade. Hoje, a globalização e a lógica liberal de mercado vigente mundialmente tende a mercantilizar pessoas, espaços e objetos, os tratando como neutros, o que por consequência desqualifica sentimentos, particularidades e todos os valores que não sejam palpáveis e lucrativos financeiramente. Esse processo de abstração das relações humanas gera velocidade, e a velocidade gera lucros. Assim, padrões individualistas são reforçados, reduzindo a relação entre lugares, paisagens, seres e sociedades a algo inerente apenas ao universo interior subjetivo de cada indivíduo, não sendo considerada importante por não ser “real” (BERQUE, 2010). Porém, essa visão mercantilizadora do mundo não é válida para o estudo das paisagens, pois se baseia apenas nos aspectos práticos e objetivos das relações entre o mundo e as pessoas. Sabe-se que essas últimas não se constituem somente de objetividade, mas também de sensibilidade e sentimentos. Apesar de muitos desses aspectos não serem palpáveis, eles existem, são notadamente reais. Para se entender as paisagens, também é necessário entende-los. Augustin Berque (2010) afirma que a constituição corpórea e psicológica do ser humano é o que permite a existência das relações que ele cria com o espaço. Cada pessoa é constituída por duas dimensões complementares: o Topos e a Chôra. O Topos seria o que se refere a sua parte física, a localização do corpo em si, nos limites da matéria. A Chôra transcende o Topos, é o que transborda as fronteiras do visível e da corporeidade, é a parte existencial e relacional de uma pessoa. A junção do Topos (corpo individual) e a Chôra (corpo coletivo, social) do indivíduo constituem a Mediança (BERQUE, 1994, 2010). Desse modo, continuando com o seu raciocínio, Berque percebe que as pessoas se ligam ao ambiente por meios humanos. Esses meios, juntos, constituem o ecúmeno15, que seria a terra vista como o espaço relacional entre os indivíduos e o mundo, a casa de todas as paisagens. Essas relações se dão e se configuram a partir da Mediança (Topos + Chôra). Esta última é o que anima a paisagem. De caráter nem subjetivo, nem objetivo, ela é trajectiva, ou seja, faz e é a junção dessas duas dimensões (BERQUE, 1994, 2000, 2010). O fato de a Mediança ser trajectiva faz com que as cidades também o sejam. Assim, a territorialidade humana, ou seja, a forma como a humanidade ocupa o espaço do mundo criando paisagens, é o reflexo disso. “estas relações de lugar ou territorialidade ultrapassam o indivíduo, integrando-o a um mundo comum, quer dizer, a um kosmos, onde o mundo interior de cada pessoa está em continuidade, não apenas com o das outras pessoas, mas com o meio. Assim, o microcosmo individual integra-se ao macrocosmo geral, em uma 15
O ecúmeno de Berque (1994, 2000) se diferencia sutilmente do tratado na segunda porta de Besse (2014), apesar de esse autor aparentemente se basear naquele. No primeiro caso ele simboliza um meio entre as pessoas e o universo, o espaço relacional da terra. No segundo, pode ser considerado mais como o espaço habitável no mundo, parcialmente independente dessas relações. O que coincide em ambas as abordagens é o fato de esse ecúmeno simbolizar a casa de todas as paisagens.
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correspondência concreta entre o interior e o exterior, os pensamentos e as coisas” (BERQUE, 2010, p.11).
A Mediança é o que permite o indivíduo atribuir valores, simbologias e significados aos lugares, fundando paisagens. Ela é o que permite a existência de um “algo mais”, de se perceber para além do visível. Essa percepção sobre uma paisagem varia de acordo com cada indivíduo e sociedade. Cada um a vê de maneira diversa, de acordo com as suas lembranças, experiências, histórias, bagagens pessoais, valores, e de modo geral, com a sua cultura (BESSE, 2000). Dessa forma, a paisagem é uma realidade mental, mas que se expressa territorialmente, representando socialmente e culturalmente16 um grupo (BESSE, 2014). Ela “é a interface entre fazermos e vermos o que fazemos” (DI MAIO et al, 2012, p.16). Esse “fazer” a paisagem é o fabrica-la. A humanidade a “fabrica” pela necessidade de habitá-la17. A paisagem é onde a vivência humana cria raiz, “é o patrimônio fundador da existência de uma sociedade” (CONAN, 1994, p.2). Ela é o reflexo do grupo que a constrói, nas suas características físicas, mas também abstratas e subjetivas, como seus valores, história, política, economia, organização social, relações de poder e hierarquia, simbologias, crenças, gostos estéticos, e aspectos perceptivos e emocionais em geral. Assim, como Besse (2014) fala em sua segunda porta18, as paisagens são palimpsestos humanos. A história da humanidade, em seus amplos aspectos, se desenvolve juntamente com elas, tendo-as como base física e relacional. Dito isso, reafirma-se que a questão paisagística não se reduz apenas ao campo do visível e objetivo no mundo. “O ecúmeno é irredutível à biosfera, assim como o humano é irredutível ao seu corpo animal, que é somente o seu topos” (BERQUE, 2010, p.19). Falar de paisagem é também tratar da natureza dos seres, individualmente e coletivamente (Chôra social), em suas questões menos palpáveis, mas seguramente reais. Indivíduos e lugares se influenciam, “participando” entre si mutuamente. As paisagens são criadas por pessoas, ao mesmo tempo em que as transformam e provocam. Dessa forma, os seres e a paisagem se relacionam através da Mediança (BERQUE, 2010)19. Esse é o porquê da chave da lógica mecanicista não abrir as portas do entendimento da paisagem em sua completude. Se cada paisagem existe e é construída particularmente de acordo com os indivíduos e a sociedade que a fabrica, habita, transforma e percebe, sentimentos e valores subjetivos existem, e se eles existem, as paisagens não podem ser tratadas de maneira generalista, como se fossem meios neutros. Cada uma delas é 16
Referência a Besse (2014), que fala da paisagem como sendo uma representação mental, social e cultural em sua primeira porta. 17 Aqui há uma alusão às duas primeiras portas de Besse (2014). 18 “A Paisagem é um Território Fabricado e Habitado” (Besse, 2014). 19 Processo chamado por Berque (2010) de “Impregnação Mútua”.
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particular, única, tanto em suas características físicas quanto em relação à subjetividade que lhe é agregada. 1.2.2 Os Ritos Sociais, a Simbologia Coletiva e a Identificação entre Sociedades e Paisagens A partir de sua relação com o mundo através da mediança, as pessoas fabricam e habitam um território. Por consequência, este as representa mentalmente, culturalmente e socialmente, se tornando uma paisagem (BESSE, 2014). É importante ressaltar que aqui, habitar não significa morar, e sim inscrever hábitos em um lugar, torna-lo habitado. Habitar nada tem a ver com as qualidades objetivas de um lugar, mas sim com os acontecimentos que nele se encenam. “Habitar é a arte de viver” (BESSE, 2014, p.131). Quando um grupo habita um local, ao mesmo tempo se apropria dele, e nessa apropriação, nessa criação de hábitos, por consequência, simbolismos coletivos e individuais surgem agregados à imagem do lugar. Quando o material se veste dessa simbologia coletiva, nasce a paisagem (BESSE, 2014; CONAN, 1994). Michel Conan (1994) afirma que para se entender a paisagem em sua completude é necessário se atentar a essas suas relações de apropriação e simbologias. Para tanto, ele faz uma análise de como se processam os chamados “ritos sociais”, ou seja, os hábitos20. Os grupos sociais que agem sobre a paisagem, apesar de pertencerem à mesma sociedade, são diversos e se agrupam a partir das suas relações de propriedade com o território. Estas relações são vistas como “ritos de interação provenientes de um direito ou de um costume21” (CONAN, 1994, p.4). A apropriação do território é consequência disso. Ela é o “conjunto das condutas pelas quais as pessoas realizam essas relações de propriedade” (CONAN, 1994, p.4). Esses ritos de interação com um lugar são os responsáveis por produzir “sentimentos, símbolos e ideias comuns, partilhados pelos membros do grupo que os pratica sob três condições: 1) que eles gerem interações com a participação de todos os membros do grupo, conjunto ou subgrupo; 2) que eles obedeçam a modelos que especificam práticas e palavras [condutas]; 3) que os grupos disponham de, ao menos, um objeto simbólico, um emblema que encarne a ideia do grupo. Assim, cada grupo que exerce uma relação de propriedade sobre um 20
O que Besse (2014) chama de hábitos equivale ao que Conan (1994) trata como ritos sociais. E alguns momentos de nosso estudo, esses ritos serão lidos como práticas sociais. 21 Ou seja, a apropriação por “direito” pode ser exemplificada como quando se tem a posse de uma casa ou um terreno. A por “costume” é a que acontece por meio do estabelecimento de hábitos, ritos sociais sobre o território.
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território é suscetível de fazer do próprio território seu emblema22” (CONAN, 1994, p.5).
O valor emblemático da paisagem varia de acordo com os tipos de relações de propriedade estabelecidas por cada grupo que dela se apropria. A paisagem como emblema se torna símbolo, que representa consciente ou inconscientemente ideias e sentimentos de um grupo23. Isso reforça o fato das paisagens serem únicas. A individualidade da paisagem se dá não só pela percepção de cada indivíduo, mas também pela maneira como cada grupo a vê, a percebe, com ela se relaciona, a habita, e a ela atribui simbolismos coletivos diversos, que podem ser harmônicos ou conflitantes entre si. Assim, dentro de uma única paisagem pode existir várias outras, e cada uma delas é singular24 (BESSE, 2014; BERQUE, 1994, 2000, 2010; CONAN, 1994). Com o habitar, a criação de ritos sociais e das simbologias agregadas a eles, que existem através da relação dos indivíduos com o mundo (ecúmeno) pela Mediança, os grupos humanos também estabelecem uma identificação com a paisagem, criando com elas laços afetivos. A identificação pode ser definida como o “processo psíquico pelo qual o sujeito se confunde com outrem, com um seu atributo” (INFOPÉDIA, 2017). Ou seja: quando um ser se identifica com a paisagem, ele se confunde com ela, e ela passa a fazer parte dele. Assim, Berque (2010) diz que “só podemos ser uma pessoa quando imersos em um certo meio (...). A identidade individual supõe a identidade do território, e vice-versa, em uma lógica em que combinam os mecanismos materiais, os tropismos do vivente e as metáforas da simbolização humana” (p.20).
De forma análoga, como visto anteriormente, uma pessoa (ou um grupo) só pode “ser” quando abrigada em um meio. Ou seja, a sociedade só existe porque também existem as paisagens. Pela identificação, a paisagem passa a participar do mundo humano, através do sentimento dos grupos sociais que nela imprimem as suas marcas através do habitar, uma necessidade existencial que ultrapassa as questões objetivas e neutras, como as econômicas e políticas, tendo também um caráter emocional, transcendente ao que pode ser visto com os olhos. Portanto, a paisagem existe como realidade humana não só pelo emprego da técnica (aspectos físicos), mas também da simbologia (aspectos subjetivos) (BERQUE, 2010). 22
Conan (1994) baseia essa parte de sua teoria nos estudos de Randal Collins, que por sua vez, foi influenciado por Emile Durkheim e Erwin Goffman. 23 Assim como Besse destaca em sua primeira porta, “A Paisagem como Representação Cultural e Social”. 24 Por esse motivo, alguns ritos sociais, principalmente os ligados à cultura, por vezes, apenas tem razão de ser em um lugar específico, mantendo uma forte ligação com o mesmo, que assim, é considerado Paisagem (ritos como, por exemplo, aqueles ligados ao turismo, a aspectos geográficos, à história do local ou a algum acontecimento especial que ali se encenou) (CONAN, 1994).
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1.3
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DAS PAISAGENS: SIMBOLOGIAS, CULTURA E
DOMÍNIO
Como visto, pela multiplicidade de pessoas e grupos sociais diferentes coexistindo em um mesmo local, a paisagem pode dar origem a diversas naturezas de simbolismo coletivo, conflituosas ou harmoniosas entre si. O fato é que esses significados e valores regem o comportamento prático e moral das pessoas como grupos na sociedade, tendo rebatimentos diretos no meio físico dos espaços (CONAN, 1994; COSGROVE, 2006). Segundo Conan (1994), em geral, isso acontece de duas formas principais. A primeira delas é que ”o reconhecimento do valor da paisagem dita a moral da organização” (CONAN, 1994, p.8). Ou seja, existem comportamentos que são benéficos à paisagem, que reforçam seus significados, que mantém a sua integridade, e que, portanto, são moralmente aceitos dentro do grupo. Mas há também os rejeitados moralmente por ele, aqueles que a ferem e a desconfiguram de alguma forma. Assim, a moral faz com que algumas ações sejam repudiadas e outras aceitas. Ela é fruto da simbologia sobre a paisagem, e por consequência, de todo arcabouço emocional e social que o grupo possui. Assim, como uma mesma paisagem é habitada por diferentes grupos, as diversas simbologias criadas por eles podem ser conflitantes entre si, gerando “conflitos entre sistemas morais, bem como conflitos de uso ou de direito de propriedade” (CONAN, 1994, p.8), sendo esses dois últimos mais ligados a questões territoriais. A segunda forma como essa territorialização do simbolismo coletivo pode se dar é a partir de “situações de experiência coletiva (...) [ritos sociais, hábitos, que] suscitam um engajamento afetivo intenso das pessoas que delas participam” (CONAN, 1994, p.8). Esse sentimento coletivo faz com que os indivíduos se organizem se forma feroz, com brio, a fim de defender o valor da paisagem habitada, direcionando as suas ações de maneira a fazê-lo, criando uma identificação com o local. Já que a territorialidade dessas simbologias dos grupos sociais no espaço cria paisagens, percebe-se que se os diversos ritos e símbolos coexistentes são paralelos entre si, as paisagens se tornam meios harmoniosos, mas se ao contrário, existirem conflitos entre esses valores, cenários paisagísticos também conflituosos serão criados (CONAN, 1994). Uma vez que já se discutiram os ritos sociais e as simbologias e sistemas morais deles provenientes, é preciso considerar que todos esses fatores se dão a partir de uma determinante: a cultura. Ela é o “conjunto de conhecimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento, adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam um grupo
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social” (MICHAELIS, 2017), base das ações que criam e transformam as paisagens, que por esse motivo também são sempre culturais25. As culturas podem ser tantas quanto forem os grupos sociais. Ela não é estática, pois para continuar existindo precisa ser transmitida pelo conjunto de pessoas que a possuem e a defendem a partir da perpetuação dos hábitos que dela se originam, bem como dos simbolismos26 agregados a eles. Isso ocorre porque a cultura “é, ao mesmo tempo, determinada pela consciência e pelas práticas humanas e determinantes delas” (COSGROVE, 2006, p.225). As diversas culturas e simbolismos ligados a uma mesma paisagem reforçam o seu caráter individual e único. Porém, quando eles coexistem de maneira não concordante, os grupos sociais dominantes, a partir do poder que possuem, geralmente comandam o processo de formação paisagística, impondo os seus valores simbólicos, culturais e ideológicos aos demais (COSGROVE, 2006). Esse domínio pode ocorrer de várias formas, e visa controlar todos os “meios de vida: terra, capital, matérias-primas e força de trabalho” (CONSGROVE, 2006, p.230). A reprodução da cultura de um grupo é fundamental para que uma dominação efetiva seja exercida sobre os demais. Dessa forma, percebe-se que de maneira sutil ou perceptível, o domínio27 do fazer a paisagem, também é uma forma fundamental de defesa e propagação de uma cultura e de seus simbolismos (CONSGROVE, 2006). Neste caso, a cultura e todas as relações simbólicas, afetivas e de identificação dos dominantes com uma paisagem são privilegiados, neutralizando esses aspectos quando se referem os demais grupos excluídos. O poder que legitima o domínio de um grupo sobre os outros no fazer da paisagem pode ser obtido de formas diversas, que varia a depender de cada sociedade onde ele se expressa (CONSGROVE, 2006). Apesar disso, na maioria das vezes, ele se dá a partir de uma posição social e financeira privilegiada, de onde também se origina a influência política. Nesse cenário, as elites, as classes sociais mais abastadas, costumam ser as dominantes na formação da realidade das cidades (VILLAÇA, 2001). 25
Ainda que as paisagens estejam intactas, em seu estado de base natural, como na terceira porta de Besse (2014), elas também são culturais, visto que através de um contato mínimo com o ser humano, ele a transforma a partir da atribuição de valores simbólicos provenientes da sua cultura (COSGROVE 2006). 26 Por vezes Cosgrove (2006) trata a questão dos simbolismos e do símbolo de maneira diversa de Conan (1994). Enquanto este último considera o símbolo como um valor subjetivo (porém real), criado a partir dos ritos sociais praticados em uma sociedade, que por sua vez geram comportamentos e rebatimentos físicos na paisagem, aquele primeiro os tem como códigos físicos utilizados no fazer da paisagem, de forma a expressar a cultura e os valores de cada grupo que a cria. 27 Cosgrove (2006) classifica as paisagens como a dos grupos dominantes e a dos não dominantes (alternativas). Essas últimas são divididas em residuais, emergentes e excluídas. As residuais são as que mostram as marcas do passado, permitindo a sua reconstrução. As emergentes são as feitas por novos grupos sociais, expressando um novo desejo de organização física e social, tendo um caráter “vanguardista”. As excluídas são aquelas construídas por grupos sem visibilidade, como, por exemplo, as minorias sociais, de classes sociais, gêneros e posições sociais menos favorecidas (COSGROVE, 2012).
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Com isso, ainda que haja a coexistência de vários valores simbólicos imperantes sobre uma mesma paisagem, aqui, os que geralmente encabeçam a sua formação e transformação, fazendo valer as suas vontades, seus símbolos e sistemas morais são esses grupos, estabelecendo uma relação de domínio conflituosa com os demais (BESSE, 2014). Assim, percebe-se que ao longo da história do mundo, as paisagens vêm sendo um meio pelo qual “algumas classes (...) puderam representar o seu mundo e a si mesmas, assim como o seu papel na sociedade. Essa relação paisagística com o mundo, na verdade, acompanhou o surgimento e o desenvolvimento do capitalismo, ou seja, a transformação do território ao mesmo tempo em mercadoria e espetáculo (...). A paisagem, mais precisamente, serviu ideologicamente para “naturalizar” a dimensão desigual das relações sociais, ocultando a realidade dos processos históricos e conflitantes que a produziram.” (BESSE, 2014, p.105-106)
Daí conclui-se que, o domínio sobre as paisagens também são uma maneira das elites imporem seu poder, sua ideologia, suas simbologias e sua vontade de superioridade nos lugares, invisibilizando os grupos sociais que não pertencem a elas, bem como as ideologias que vão contra os seus interesses (COSGROVE, 2006). Nesse contexto, as paisagens expressam o poder que a gere (BESSE, 2014), ao mesmo tempo em que neutralizam as ligações estabelecidas entre os grupos subjugados e os lugares, não se atentando a elas (BERQUE, 2010). 1.4
RELAÇÕES DE DOMÍNIO, CONFLITOS SIMBÓLICOS E MORAIS NO ESPAÇO E
NA PAISAGEM RECIFENSE28 A lógica espacial e paisagística conflituosa antes discutida também se apresenta claramente no Recife (VILLAÇA, 2001), onde se localiza o objeto desse estudo. Percebe-se o protagonismo da elite na criação e na transformação dessa cidade, dominando os outros grupos sociais através da imposição da sua cultura, de seus valores morais, estéticos e simbólicos, de seus interesses, e da sua percepção sobre o espaço urbano como um todo. 28
Os autores base para a construção dessa última parte do capítulo são Flávio Villaça (2001) e Vera Tângari (2013). Sabe-se que os mesmos são provenientes de escolas diversas dos autores citados nas sessões anteriores. Inclusive, se tratando diretamente da paisagem, tem-se ciência de que Vera Tângari tem uma abordagem positivista e geralmente voltada para o estudo das áreas livres e dos vazios urbanos. Apesar disso, é importante perceber que o entendimento base de paisagem aqui utilizado não baseia nesses últimos, e sim na teoria dos primeiros nomes discutidos, notadamente, Augustin Berque, Michel Conan e Jean-Marc Besse. Utiliza-se esses outros, que claramente se relacionam com a segunda porta de Besse (2014), de forma complementar, para auxiliar na compreensão de como se dão os processos de formação da paisagem urbana na prática. Como dito anteriormente, as diversas abordagens paisagísticas existentes (as diferentes portas) se relacionam entre si, se entrelaçando em alguns momentos. Neste trabalho essa correlação foi fundamental para compreender como se deu a construção social da Paisagem Teimosa, objeto desse estudo.
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A partir disso, se formam paisagens de conflito, onde se pode perceber, de maneira sutil ou evidente, as relações de domínio e poder que as formaram. De uma forma geral, as paisagens do Recife se tornam um meio fundamental por onde se estabelece e se reafirma a dominação social, política e econômica, servindo de forma a perpetuar a cultura dos dominantes, subjugando os outros grupos e atores sociais que com eles coexistem (COSGROVE, 2006). Percebe-se que a materialização desses conflitos, acontece fundamentalmente quando os diversos grupos sociais que habitam a cidade, não somente neste caso, mas também em outros, concorrem pela apropriação dos lugares com melhores condições locacionais dentro do seu território, buscando vantagens diversas, como as ambientais, estéticas ou estratégicas com relação às distancias a serem percorridas cotidianamente. Por meio desse processo se vê claramente o resultado palpável da luta de classes29 nas paisagens (VILLAÇA, 2001). É importante entender que essas relações de domínio, existentes dentro do contexto da formação das cidades, advém do conflito entre sistemas morais provenientes das diversas simbologias dadas às paisagens (CONAN, 1994). Como dito anteriormente, essas situações conflituosas dão origem a um cenário paisagístico também conflituoso, gerado por um espaço urbano não harmônico. A esse ponto, cabe fazer uma diferenciação entre o espaço e a paisagem de um lugar. O espaço se refere ao palpável, ao território e é realizado geralmente por atores sociais que nele interveem se embasando frequentemente em aspectos técnicos, práticos e objetivos. A paisagem tem vínculo com as identificações e identidades coletivas, com as percepções e sentimentos, com a cultura e com os valores sociais menos palpáveis (CONAN, 1994; DI MAIO et al., 2012). Os espaços somente se tornam paisagem a partir da apropriação relacional humana (dada pela mediança), que os veste de subjetividade e neles habita a partir de ritos sociais, lhes soprando vida, os fazendo parte da existência das pessoas e de seu palimpsesto. Os espaços são a base física, as paisagens, a relacional. A forma como eles se dão reflete diretamente em como elas são produzidas (CONAN, 1994; DI MAIO et al., 2012). Os valores estéticos, éticos, ideológicos, simbólicos e morais dos grupos sociais são impressos espacialmente conformando paisagens: territórios habitados e fabricados, conforme a 29
“A força mais poderosa (mas não única) agindo sobre a estruturação do espaço intra-urbano tem origem na luta de classes (...)” (VILLAÇA, 2001, p.45). “Luta de Classes” foi um conceito cunhado por Karl Marx, ainda hoje largamente utilizado nas discussões políticas, econômicas e sociais como um todo, se estendendo também aos debates em relação à apropriação e dominação dos territórios, como neste caso. Ele é o termo utilizado para designar os conflitos sócio-políticos e econômicos entre a burguesia e o proletariado (aqui interpretados como elites e classes sociais mais pobres) em seus amplos aspectos (CONCEITO... [20--]; LEFEVRE, 1978).
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organização da sociedade que os ocupa (BESSE, 2014). Daí, conclui-se que os conflitos espaciais ajudam a gerar paisagens também conflituosas. 1.4.1 Do Recife à Teimosa A capital pernambucana expressa os seus conflitos sociais através de alguns mecanismos de formação espacial que também são encontrados em várias outras cidades brasileiras30 (TÂNGARI, 2013; VILLAÇA, 2001). Sobre isso, é importante observar que, embora essas situações conflituosas apresentem particularidades nos diferentes casos e cidades em que se apresentam, alguns aspectos são universais (TÂNGARI, 2013). Nesse sentido, aqui se tentará fazer uma ligação entre esses aspectos recorrentes e às áreas dos bairros de Boa Viagem, Pina e Brasília, na Zona Sul do Recife, onde se localiza a Paisagem Teimosa, alvo desta pesquisa. Sobre isso, a primeira questão a ser observada no Recife é a ocorrência do modelo centro-periferia. Ele ordena a urbe como um todo, de forma que, em geral, quanto mais centrais forem os lugares, mais elitizados eles tendem a ser. Enquanto isso, nas periferias, há quase sempre uma concentração maior de uma população de baixa-renda. Na medida em que a elite se concentra no foco, nas paisagens centrais, os pobres 31 são banidos para os bastidores da cidade (TÂNGARI, 2013). Isso se percebe concretamente quando se observa, por exemplo, os bairros recifenses das Graças e Espinheiro, na zona norte, e os do Pina e Boa Viagem na zona sul, todos centrais, com uma ocupação elitizada, e preços médios do metro quadrado altíssimos. Entretanto, contrariando essa lógica, Brasília Teimosa se localiza exatamente ao lado desses dois últimos bairros, em um local tão valorizado economicamente quanto o deles (ALVES, 2009). 30
Nas cidades brasileiras, ainda que essas situações conflituosas apresentem particularidades, alguns aspectos são universais, e podem ser observados também no contexto recifense. Segundo os estudos de Vera Tângari (2013), as principais divergências encontradas dentro desses padrões de construção espacial e paisagística das cidades brasileiras foram, “principalmente, [relativas] aos aspectos de constituição do suporte geobiofísico (...); ao processo histórico de ocupação, principalmente no que diz respeito à origem de formação de seu território e o seu papel político; à identidade cultural de sua população, tendo em vista a sua origem, formação étnica, modos de produção, valores territoriais e simbólicos” (TÂNGARI, 2013, p. 8). Em sua pesquisa, a autora procura perceber quais são os padrões espaciais recorrentes na construção das paisagens brasileiras, relacionando-os com a forma como as cidades foram ou não planejadas. Ela baseia seu estudo principalmente nas obras de Flavio Villaça, David Harvey e Milton Santos, as cruzando com a análise de nove cidades distintas localizadas no país (Manaus - AM, São Luiz - MA, Fortaleza - CE, Natal - RN, Maceió - AL, e Ribeirão Preto, Suzano, Sorocaba e Santa Maria - SP). 31 Aqui, a “Pobreza” é considerada sob o ponto de vista abordado por Milton Santos em seu livro Pobreza Urbana (1978). Segundo ele, a pobreza não é só um problema material ou econômico, mas também político e social. “O termo pobreza não só implica um estado de privação material como também um modo de vida – e um conjunto complexo e duradouro de relações e instituições sociais, econômicas, culturais e políticas criadas para encontrar segurança dentro de uma situação insegura” (BUCHANAN, 1072, p.225 apud SANTOS, 1978, p.10).
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Com esse modelo de distribuição social radial, o Recife tem a sua mobilidade comprometida, ao passo que elege como desejável o padrão de transportes individuais, gerando uma grande e crescente demanda por maiores extensões viárias, que visam atender prioritariamente aos interesses da elite (TÂNGARI, 2013), tornando as paisagens cinzas e impessoais. Um caso emblemático para exemplificar essa questão é o da Via Mangue, projeto que teve suas obras iniciadas em 2008, e liga os bairros da zona sul do Recife ao seu centro de maneira direta, não se prestando ao uso do ônibus de transporte coletivo (DE MORAIS; SILVA, 2010). Uma outra questão é que se entende que o conjunto viário dos bairros de Boa Viagem e Pina foi feito e expandido gradativamente, ao longo de todo o século XX, de acordo com o aumento do uso dos veículos individuais naquela área da cidade (ALVES, 2009; MOREIRA, 1995). Apesar das vias ali construídas não passarem dentro do território da Brasília, elas trazem impactos visuais e sociais diretos à sua paisagem como se verá nos próximos capítulos (MAGAROTTO et al., 2013). Um outro ponto é que os bairros elitizados recifenses, em sua grande maioria, convivem lado a lado com ocupações de baixa renda. Deve-se atentar que mesmo com o afastamento das classes sociais mais baixas para as franjas da cidade, sempre existem espaços ocupados por elas próximos aos núcleos mais abastados. Elas se instalam nesses locais com o objetivo de estar perto das oportunidades de trabalho ou subempregos oferecidos pelos mais ricos, evitando os grandes deslocamentos ocasionados pelo modelo centro-periférico (TÂNGARI, 2013). Geralmente, apesar de nesses casos essa população pobre se localizar de maneira circunvizinha às elites, pela concentração de terras nas mãos dessas últimas, só lhe resta ocupar as áreas por elas rechaçadas, que podem ter sido rejeitadas tanto pela sua precariedade ambiental (não existindo condições mínimas de habitabilidade e segurança), quanto pela impossibilidade da realização de ocupações formais em seu interior, por conta de proteções ecológicas ou legais como um todo. Em geral, as classes sociais mais baixas ocupam esses espaços relegados não somente nas proximidades das áreas privilegiadas, mas também em todas as outras zonas da urbe. Pelas poucas oportunidades habitacionais que estão à disposição desses grupos, há sempre uma grande quantidade de ocupações informais no Recife, numericamente e espacialmente maior do que as dos núcleos elitizados (TÂNGARI, 2013). Em Boa Viagem e no Pina, há uma grande concentração de comunidades humildes nas áreas mais distantes da orla, quase sempre nas proximidades do mangue, e muitas vezes se instalando no local por meio da construção de palafitas e casebres (mocambos). De forma contrária, Brasília Teimosa se destaca por estar em um local bastante privilegiado, de paisagem esteticamente e ambientalmente diferenciada (ALVES, 2009).
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Ao mesmo tempo em que as classes sociais baixas se distribuem polinuclearmente no espaço urbano da capital, para facilitar o seu domínio, as elites tendem a se concentrar em bolsões únicos em áreas privilegiadas do território, as dotando de uma estrutura física superior à das demais. Esses locais possuem a melhor infraestrutura da cidade, um melhor planejamento, as melhores vantagens locacionais, são esteticamente e ambientalmente mais agradáveis, além de serem alvo dos maiores investimentos do governo, que os provê de equipamentos e serviços em abundância e qualidade, uma vez que ele também é manipulado para atender aos interesses da elite32. Além disso, a forma de implantação e gabaritos das edificações, a malha urbana, a densidade e o sistema viário desses lugares também são diferenciados (VILLAÇA, 2001). Contrariando as tendências nacionais, o Recife não tem apenas uma, mas sim duas áreas principais de concentração da sua elite: uma na sua zona norte, mais antiga, nas proximidades do Rio Capibaribe, e outra mais recente, na sua zona sul, à beira-mar, onde se encontra a Paisagem Teimosa. Nesse segundo caso, no bairro de Boa Viagem e em partes do Pina, observa-se uma qualidade infraestrutural e ambiental muito superior à de outras áreas menos abastadas da cidade, havendo ali inclusive, a concentração de muitos equipamentos e serviços públicos pouco existentes ou pulverizados em outros locais (VILLAÇA, 2001). Um ponto muito importante a ser observado é que a atuação do mercado imobiliário recifense também está vinculada às elites, reforçando os seus padrões de domínio. Ele se concentra predominantemente nas áreas apropriadas por elas, prevendo, inclusive, as suas zonas de expansão. O grande poder que possui na transformação das cidades e das suas paisagens através das construções, muitas vezes é reforçado pela benção que lhe é concedida pelo estado (SANTOS, 1988; VILLAÇA, 2001). Sobre isso, é de se destacar que a ocupação do bairro recifense de Boa Viagem começou a ser dar a partir do provimento do aporte infraestrutural governamental à área na década de 1920, com a construção de, por exemplo, avenidas, posteamento e facilidades legais para a ocorrência de novas edificações (SILVA, 2008a). Hoje, o mercado age nos bairros elitizados da zona sul33 da capital de forma feroz, e desde os anos 50, quando a Brasília começou a se formar, ele demonstra um interesse claro em atuar também sobre ela, que além de, como dito, ser um bairro central e agradável paisagisticamente, ainda se encontra na área de expansão das elites concentradas nos núcleos a ela circunvizinhos (ALVES, 2009). 32
Um ponto crucial a ser observado no presente trabalho, é que o controle das elites sobre o governo se dá não só em relação aos maiores investimentos na sua área de domínio, mas também através de uma legislação que favorece o seu domínio em relação às demais classes e grupos sociais (VILLAÇA, 2001).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 1 – DA PAISAGEM À TEIMOSA }
Pelos pontos acima levantados, percebe-se o quanto a Cidade do Recife, e mais especificamente, a sua zona sul, tem paisagens conflituosas em diversos aspectos. Os principais mecanismos de formação espacial que a geram promovem uma concentração de renda em pontos específicos do território, criando discrepâncias de qualidades ambientais e habitacionais (em seu amplo sentido), de serviços, de atenção governamental e de oportunidades diversas entre os diferentes setores da cidade e grupos sociais, ocasionando um processo de segregação socioespacial34 (VILLAÇA, 2001). Notadamente, a elite recifense e os locais ocupados por ela são privilegiados, em detrimento das zonas e habitantes mais pobres. Essas características tornam o espaço dos dominantes discrepantes em relação às das classes sociais excluídas, formando paisagens também muito distintas entre si, que dão origem a cenários bastante conflituosos quando essas diversas realidades coexistem lado-alado (COSGROVE, 2006), como no caso da Paisagem Teimosa. A situação locacional da Brasília contraria as tendências e os mecanismos de dominação geralmente utilizados na criação e na transformação da cidade recifense, se tornando uma pedra no caminho, impondo a sua resistência como um impasse para as elites e o mercado imobiliário que dela querem se apossar. Sabe-se que a coexistência desses diferentes interesses antagônicos se reflete na formação de uma realidade paisagística também repleta de conflitos. Isso se dá porque a disparidade de valores simbólicos e morais dados à Teimosa pelos diversos grupos que a percebem, a habitam e a mercantilizam (ou que assim querem fazer), se materializam discordantemente nos comportamentos e no fazer daquela paisagem. Dessa forma, a Brasília configura um cenário paisagístico discrepante do seu entorno, que é habitado por outros grupos, tendo cores, densidade, gabaritos e forma de ocupar, fabricar, significar diversos do deles. Contrariando os interesses de domínio do seu território, a Teimosa continua existindo, impondo a sua cultura, a sua história e seus valores simbólicos, morais e relacionais, objetivos e subjetivos (mediança trajectiva), através da perpetuação dos hábitos nela desenvolvidos pela população que com ela se relaciona afetivamente. A vontade de dominação desse território pelas elites e pelo mercado representa uma tentativa de reprodução cultural hegemônica desses atores na fabricação da paisagem em questão. Da forma como se dá, essa vontade de apropriação tende trata-la de maneira 33
Estando presente de forma um pouco menos incisiva também no bolsão elitizado existente na zona norte da cidade, como por exemplo, nos bairros das Graças, Parnamirim, Jaqueira, Poço da Panela e Casa Forte (ALVES, 2009). 34 Há dois tipos de segregação. A primeira é a voluntária, feita pelas elites, os dominantes, que como já foi discutido, tem o poder em relação à criação do espaço urbano e das paisagens. A segunda é a involuntária, que resta como “opção” para as classes sociais mais pobres e os demais grupos excluídos, coadjuvantes no fazer da cidade (VILLAÇA, 2001).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 1 – DA PAISAGEM À TEIMOSA }
independente e separada dos ritos sociais e das relações trajectivas que os demais grupos dominados com ela estabelecem, neutralizando a pluralidade da multiplicidade de percepções e significados que ela contém. Vista assim, essa paisagem deixa de ser tratada como Kosmos, ou seja, como um meio relacional entre os indivíduos e o mundo, e passa a se comportar de maneira mercantilista, como um meio neutro, sem particularidades. Esse ponto é um impasse fundamental que anima este trabalho. Trabalhando sobre esse ponto, se desenvolverá o cerne deste estudo. Nos capítulos posteriores, procura-se compreender as diferentes simbologias criadas ao longo da história dessa paisagem, de forma a captar quais significados e relações com ela são construídas e existem atualmente, bem como a descobrir quais são os desejos de futuro que a ela se impõem. Para isso, tornou-se necessário o estudo da construção social da Paisagem Teimosa e do seu entorno, que será apresentado imediatamente a seguir, em seus aspectos físicos, subjetivos e relacionais (simbólicos e perceptivos).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 1 – DA PAISAGEM À TEIMOSA }
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CAPÍTULO 2
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA
}
“No ponto onde o mar se extingue/ E as areias se levantam Cavaram seus alicerces/ Na surda sombra da terra E levantaram seus muros./ Depois armaram seus flancos: Trinta bandeiras azuis/ Plantadas no litoral. Hoje, serena, flutua,/Metade roubada ao mar,/ Metade à imaginação, Pois é do sonho dos homens/ Que uma cidade se inventa.” (Carlos Pena Filho – O Início – Guia Prático da Cidade do Recife1)
Atualmente, Brasília Teimosa e o seu entorno configuram uma paisagem conflituosa, que expressa um processo de formação social calcado em simbologias, interesses e culturas divergentes, pertencentes aos diferentes grupos sociais que nela atuam e a habitam, criando-a e transformando-a. Para se entender quais são os valores simbólicos e morais que se impõem no presente a essa paisagem, bem como, os comportamentos e desejos de futuro que deles provêm, é de fundamental importância analisar a história da sua construção social em seus mais amplos aspectos – objetivos, subjetivos, relacionais (pessoas e sociedade com o território), materiais e imateriais. Nessa reconstituição histórica, busca-se ter um olhar guiado pelas três primeiras portas de Besse (2014) anteriormente explanadas2. Portanto, se estudará essa paisagem como um Kosmos, uma totalidade, onde “o meio natural e o meio humano convivem no espaço-tempo em mútua interação” (BEZERRA, 2017, p.38). Assim, ela é vista como o “meio ambiente material e vivo da sociedade” que a formou e a forma, sendo a base da vida humana que nela se encena. As características naturais primeiras do lugar onde hoje se encontra a Brasília e o seu entorno estão fortemente atreladas à sua história e ao estado atual da sua paisagem. Elas foram o substrato das transformações antrópicas ocorridas pela necessidade do habitar e do pertencer das pessoas que ali pousaram a sua existência, seus sentimentos, sua cultura e a sua cidade. A partir da apropriação desse território, ao longo dos anos, os diversos grupos 1
PENA FILHO, Carlos. Guia Prático da Cidade do Recife. Recife: Prefeitura da Cidade do Recife, 1996, p. 179. A Paisagem é uma Representação Cultural e Social; A Paisagem é um Território Fabricado e Habitado; A Paisagem é o Meio Ambiente Material e Vivo das Sociedades Humanas (BESSE, 2014). 2
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
sociais criaram com ele uma pluralidade de ritos e relações de identificação, “o fabricando e o habitando”, de forma que a Paisagem Teimosa resultante se os “representasse socialmente e culturalmente”3, se vestindo de um caráter que a torna singular. Assim, a fim de analisar a história da construção social do objeto de estudo, procurou-se perceber como se deu o enlace entre a sua sociedade e o seu território por meio dos pontos previamente citados: a natureza, as simbologias, as percepções, as culturas, os hábitos, os comportamentos e as transformações antrópicas que a formaram. Para tanto, tomou-se como base a iconografia existente sobre o local (mapas e fotos), bibliografias históricas, entrevistas, documentos e alguns dados técnicos e legais relevantes. Para uma compreensão didática desse processo de formação, o período considerado foi dividido em três momentos distintos dessa paisagem: o dos seus antecedentes, o da sua formação pela sua resistência e o da sua consolidação. Mapas esquemáticos4 foram elaborados para uma observação mais clara das permanências e mudanças ocorridas, tanto em relação aos aspectos naturais originais, quanto aos relativos às ocupações humanas que nele se deram. É importante observar que, apesar do alvo de nossa investigação ser o Bairro de Brasília Teimosa, a história de sua paisagem é interligada a dos seus bairros circunvizinhos, Boa Viagem e Pina, e por vezes, indissociável. Portanto, alguns fatos históricos sobre estes últimos serão citados para uma melhor compreensão da evolução paisagística e espacial da área em questão.
3
Primeira e segunda porta de Besse (2014): “a Paisagem é uma representação cultural e social” e “a Paisagem é um território fabricado e habitado”. 4 Sugere-se que para uma análise mais efetiva, se faça uma comparação dos mapas desse capítulo com o mapa da situação atual da Paisagem Teimosa, encontrado entre as páginas 190 e 191 desse trabalho.
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2.1 OS ANTECEDENTES DA TEIMOSA 2.1.1 Séculos XVII ao XIX: a Paisagem que Nasce com o Recife A construção da Paisagem Teimosa conta e reconta a história da própria cidade do Recife como um todo, tanto em seus aspectos naturais e físicos, quanto nos sociais. A capital pernambucana, assim como a Brasília, teve sua formação e suas ocupações intimamente ligadas aos seus aspectos físico-morfológicos. Cinco são os elementos naturais que se destacam na formação dessa cidade: os morros, os rios, o mar, o mangue e os arrecifes. Claramente, a água é uma protagonista recifense, que faz da cidade um território anfíbio. A sua área de planície e litoral foi ocupada em grande parte por meio de aterros sucessivos em seus alagados e manguezais, tendo sido esses últimos essenciais na construção da paisagem vivida do Recife (BEZERRA, 2017) (imagem 1).
Imagem 1 - Desenho esquemático da geografia físico-morfológica do Recife, feito por J.C. Branner em 1904. Fonte: CASTRO, 1966, p.17 in BEZERRA, 2017, p.40 (modificado).
Com exceção dos morros, todos esses elementos que fundamentam a cidade se encontram muito presentes na Brasília. Ela se situa em uma área litorânea, sendo uma península triangular banhada pelo mar e pelo Rio Capibaribe, onde até a década de 1930, quando sofre um aterro, apenas existia a água. Originalmente, a sua região também
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constituía uma grande área anfíbia, de mangues e enlameados, Na paisagem do rio / difícil é saber/ onde começa o rio Onde a lama / começa do rio; Onde a terra/ começa da lama; Onde o homem,/ onde a pele/ começa da lama; Onde começa o homem/ naquele homem. (Trecho do poema Cão sem Plumas – João Cabral de Melo Neto)
que apesar de próxima ao núcleo central inicial da cidade, por ser de difícil acesso (SILVA, 2008a; 2008b), foi sendo apropriada e habitada por uma população humilde e marginalizada que nela estabeleceu a sua vida tendo essa natureza e o mar como base, aos poucos os transformando em terra firme (ARAÚJO, 2007). Os arrecifes que perpassam toda a cidade também são muito importantes no entendimento dessa paisagem. Eles são uma linha de força que liga o Pina e a Brasília Teimosa ao restante do
Recife, tanto visualmente, como fisicamente, se tornando um elemento de permanência marcante desde tempos remotos até os dias atuais (mapa Esquemático 1, imagem 2).
Imagem 2 - Arrecifes vistos do alto do Forte do Picão, 1875. Percebe-se a força desse elemento paisagístico ao longo da história do lugar. Após os navios, encontram-se os territórios correspondentes ao atual Bairro do Pina. Autor: Marc Ferrez. Fonte: FERREZ, 1988, p.23.
Assim, as características físicas do Recife e da Brasília são indissociáveis das suas histórias e dos seus habitantes, que juntos, estão presentes em simbiose na paisagem:
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“A gente do Recife é a imagem de sua história e de seu desenvolvimento. É o retrato de uma cidade, ponto de encontro entre o mundo exterior e o país interior, ponto de encontro e de partida; (...) É a gente que vem de fora e conquista terra. No princípio, foi o dualismo da casa e da senzala; mais adiante, o dos sobrados e mocambos, as casas térreas (...) e, finalmente, a paisagem humana mais complexa, na terra conquistada por aterros; a evolução do caranguejo ao viaduto, e as novas classes, gentes novas que se interpõem entre o sobrado e o mocambo. (...) Sempre [se encontra] presente o Recife porto, de onde sai uma parte de seu suor e onde chega parte de sua gente. A gente do Recife está na paisagem que ela está a construir. A paisagem construída é o símbolo dessa gente. Mostra-a e esconde-a. Paisagem de contradições, onde se retratam os dilemas de sua gente. Cidade nascida das águas, (...) uma outra cidade anfíbia, ‘o que não é água, foi ou lembra água’ (DE OLIVEIRA, 1942, p. 38-39). E cada vez menos presente a maré e o mangue de caranguejo e do siri que alimenta. Tudo isso na paisagem maior, geográfica e humana. Paisagem que, além da gente simples e humilde, envolve os que alçam a escala social. Não mais as relações simples, mas a gente complexa que, embora ainda pobre, cresce e se desenvolve e é rica de sua gente. Gente que trabalha e espera, inventa o trabalho que está por alcançar 5” (PROMORAR, 1980, introdução sem página, grifo nosso).
O local onde estão atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa passou um grande período de sua história praticamente inalterado, conservando por muito tempo as suas características naturais primeiras (SILVA, 2008b) (mapa 1 e 2; mapa Esquemático 1). Ao contrário de como se apresenta hoje, antes, esse território enlameado se caracterizava como um conjunto de ilhas (ARAÚJO, 2007). Entre elas, as mais conhecidas eram a do Bode, a do Nogueira, a do Pina (ou do Lazareto), a da Raposa (que abrigou a Rádio da Marinha no século XX), a das Cabras e a do Felipe (onde funcionou a destilaria da Bacardi até a década de 1990) (SILVA, 2008b). O relativo isolamento do local em relação ao restante da cidade, além da possibilidade de subsistência pela pesca, atraia negros livres, escravos fugidos e outros trabalhadores para essas ilhas (SILVA, 2008b), que começaram a habitar essa paisagem principalmente por uma necessidade econômica e de abrigo. Porém, apesar de ter uma “aparência de território do vazio, de terras sem dono, sem lei, [ali] escondiam-se formas particulares de exploração econômica, de propriedade e posse do espaço litorâneo, há muito solidificada” (ARAÚJO, 2007 apud SILVA, 2008b, p.31). De maneira tímida, a ocupação do local se deu desde o início do século XVII, tanto para fins religiosos, quanto para os econômicos. Desde 1600, os Jesuítas possuíam terras em sua orla. Ali, eles construíram uma Fazenda (Fazenda da Barreta)6 (mapa 1 e 2), onde 5 6
Nesse discurso, podem ser vistas claramente as três primeiras portas de Besse (2014). Também foi construído um nicho com uma imagem de Nossa Senhora do Rosário (SILVA, 2008a).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
Mapa 1 - Recife em 1641. 1) Porto do Recife; 2) Cidade Maurícia; 3) Arrecifes; 4) Barreta; 5) Atuais Bairros do Pina e Brasília Teimosa; 6) Rio da Barreta. Mapa de autoria de Cornelis Golijath. Fonte: SILVA, 2008b, p16.
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Mapa 2 - Detalhe do mapa anterior correspondente à área dos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa em 1641. 1) Primeiras ocupações; 2) Arrecifes; 3) Rio da Barreta; 4) Localização aproximada da Fazenda da Barreta e do Forte Schoonenburg. Mapa de autoria de Cornelis Golijath. Fonte: SILVA, 2008b, p16.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
além das plantações, existia uma casa grande e uma senzala. Além disso, neste mesmo período, a área correspondente à Ilha do Nogueira foi utilizada para atividades ligadas ao comércio de açúcar com a Europa7. Para atendê-las, houve a construção de um armazém (SILVA, 2008b). Ainda no século XVII, pela sua proximidade com o Porto do Recife, a localidade foi utilizada como base para a conquista dos Afogados (1632- 1633) (FORTE...2013) durante a Invasão Holandesa em Pernambuco8. Por conta disso, a população que ali residia naquele período se evadiu, retornando apenas depois que as forças pernambucanas ocuparam o local e o tiraram da posse dos invasores. Durante o período de sua estadia na área, os Holandeses construíram um pequeno forte no Pontal do Pina, o Fortim Schoonenburg, como meio de defesa do Porto (mapa 1 e 2). Após a saída desses colonizadores, a edificação foi destruída por um incêndio, e as terras do local voltaram a servir essencialmente como áreas de plantação, pesca e pequenas atividades ligadas a esses usos9 (SILVA, 2008a, 2008b). Após esses anos, a primeira mudança significativa na paisagem do local ocorreu em meados do século XIX, em 1849. Dentro das obras de melhoria do Porto do Recife, um dique foi construído fechando a barreta10 existente ao norte do território (Dique do Nogueira) (mapa 3 e 4; mapa Esquemático 2; imagem 3 e 4). O objetivo da obra era o de conter as movimentações de areia causadas pelo trajeto de pescadores e jangadas que iam da Vila Rua da Jangada (atual Cabanga) até a área do Pina (SILVA, 2008a). Por dificultar o deslocamento dos pescadores na região, o fechamento do dique fez com que a população residente na Vila Rua da Jangada se mudasse definitivamente para o Pina. Os habitantes que ainda restaram no local acabaram se mudando após um incêndio que aconteceu posteriormente (SILVA, 2008a, 2008b). Além da modificação já citada, nessa reforma, realizaram-se aterros nas ilhas que formavam a região, e nelas foram instaladas oficinas de montagem e manutenção de equipamentos portuários, estrutura ferroviária e embarcações. Essas atividades geraram uma atração de mão-de-obra, que se dirigia à área em busca de empregos (SILVA, 2008b). Assim, transformações físicas na paisagem alteraram 7
Essas atividades foram encabeçadas pelos irmãos Pina – André Gomes Pina e o “Cheira Dinheiro”. Seus nomes acabaram batizando as ilhas, e posteriormente, o bairro do Pina, que conserva o seu nome até a atualidade. Umas das ilhas tinha o nome de “Cheira Dinheiro”, sendo depois chamada de Fernão Soares, de Ilha da Barreta - pela proximidade com a abertura natural dos arrecifes chamada de Barreta (mapas 1 e 2) - e em 1710, de Ilha do Nogueira (CENTRO JOSUÉ DE CASTRO, 1993; SILVA, 2008a). É importante ressaltar que, esse último nome foi frequentemente usado para designar o território do Pina como um todo nos documentos historiográficos. Aqui também o usaremos para denominar esse bairro em alguns momentos. 8 O domínio Holandês sobre Pernambuco se estabeleceu entre 1630 a 1654 (SANTANA, [201-]). 9 Outro episódio histórico sucedido no local ocorreu durante a guerra dos mascates, quando em 1711, tropas do Partido da Nobreza de Olinda ocuparam a Ilha do Nogueira (SILVA, 2008b). 10 A Barreta era uma abertura existente no meio dos arrecifes. Ela tinha largura suficiente para a passagem de embarcações.
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Mapa 3 - Planta da Cidade do Recife e seus arrebaldes em 1875 (recorte). 1) Arrecifes; 2) Antiga Barreta; 3) Dique do Nogueira; 4) Lazareto; 5) Açude; 6) Viveiros; 7) Casa da Vivenda; 8) Rio da Barreta; 9) Cabanga; 10) Ilha de Santo Antônio e São José; 11) Bairro do Recife. Fonte: Biblioteque Nationale da França.
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Mapa 4 - Detalhe da planta anterior correspondente à área dos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa em 1875. 1) Arrecifes; 2) Antiga Barreta; 3) Dique do Nogueira; 4) Lazareto; 5) Açude; 6) Viveiros; 7) Casa da Vivenda; 8) Rio da Barreta; 9) Cabanga; 10) Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: Biblioteque Nationale da França.
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a relação das pessoas com o local. Os novos usos ligados às atividades portuárias também foram determinantes nesse processo. Os dois fatores de atração habitacional citados, a implantação das oficinas portuárias e o fechamento da barreta, impulsionaram a ocupação da região do Pina nesse período. Com a ida dessa grande quantidade de pessoas para as ilhas, as áreas “secas” existentes começam a se exaurir, fazendo com que a população, por conta própria e com os seus próprios meios, também começasse a aterrar a área, criando mais espaços aptos à construção (mapa 2 e 4; mapa Esquemático 1 e 2).
Imagem 3 - Panorama feito entre os anos de 1826 e 1832, de autoria de João Steinmann. Neste recorte, vê-se em primeiro plano o Bairro do Recife, em segundo, os bairros de Santo Antônio e São José, e em terceiro, a Ilha do Nogueira, ainda em seu estado natural quase intacto. Fonte: FERREZ, 1984, p.58 e 59.
Imagem 4 - Vista da paisagem local após a construção do Dique, que se encontra ao fundo. Em último plano, a Ilha do Nogueira. Foto de Autoria de F. du Bocage, 1910. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação.
Neste período, a população do Pina ainda era constituída essencialmente por uma população de baixa renda, principalmente trabalhadores portuários e pescadores, alguns
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
deles ex-escravos11 (SILVA, 2008a). As suas casas eram construídas com o material local, se confundindo com a paisagem já um pouco modificada em relação à original, alterada principalmente por conta dos aterros realizados. Esta “se compunha de praia com piscinas naturais, um extenso coqueiral, sítios de fruteiras e pequenos aglomerados de casas de palha; mangue, viveiros e a maré” (SILVA, 2008a apud SILVA 2008b, p.15). As poucas construções do bairro12 se localizavam em lugares mais elevados que a cota geral, se acomodando à topografia e sem delimitação de lotes. O terreno do local ainda se configurava como alagado e formado por ilhas, que eram ligadas por troncos de coqueiros (SILVA, 2008a) (imagem 5).
Imagem 5 - Cartão Postal com pintura retratando o bairro do Pina (sem data). Fonte: Coleção José Paiva Crespo. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação.
Naquela região, na década de 1850, houve a construção do Lazareto 13. Ao lado do mesmo, havia também um cemitério. Esse edifício funcionou até 1902 e as suas ruínas 11
Após serem “libertos”, os negros passaram a ocupar os alagadiços do Pina e de outras áreas da cidade com os seus mocambos. 12 A Casa Grande da antiga Fazenda Jesuíta (transformada em casa de veraneio), as Ruínas do Fortin Schoonenburg, o Lazareto e a casa do Coronel João Guedes eram as únicas edificações em alvenaria existentes na época. 13 Antes da sua construção, em 1850, criou-se um hospital provisório para atender pacientes com febre amarela, fechado no mesmo ano. Somente depois o Lazareto foi construído. Não há um consenso sobre a data de sua fundação. Silva (2008a) afirma ter sido em 1853, Fortin (1994) em 1854 e Costa (in BARTHEL, 1989, p.38) em 1858. O terreno onde ele se encontrava foi dividido ao meio para a construção da Avenida
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existiram até quando, em seu lugar, foram construídas as Escolas Reunidas Landelino Rocha, no século XX. Nesta época, consta nos relatórios do estado Sanitário da Província de Pernambuco, uma outra construção de madeira localizada na Ilha do Bode, também com o objetivo de receber doentes em quarentena (SILVA, 2008b)14 (mapa 4). No final do século XIX, ocorreu um grande crescimento demográfico no Recife, ocasionado pela chegada de uma população carente proveniente das zonas açucareiras e do sertão. Esse contingente de pessoas ocupou as áreas desvalorizadas da cidade, entre elas, o manguezal alagadiço da Ilha do Nogueira, ali se instalando como os que já se encontravam no local, se caracterizando essencialmente como uma colônia de pescadores e fazendo os seus mocambos e palafitas nas proximidades com o mar, utilizando matériaprima natural. Como medida emergencial, visto esse crescimento repentino, ainda neste século, o governo fez alguns aterros na região, baseando-se nas ideias higienistas já difundidas no período, transformando-a em terra firme e sanitariamente
habitável
(SILVA,
2008a).
Apesar
dessa
intervenção pública pontual, os protagonistas responsáveis pela
“O mangue é um camaradão. Fornece tudo, casa e comida, mocambo e caranguejo” (Josué de Castro, Homens e Caranguejos, 2001, p. 107).
criação e transformação dessa paisagem nesse período ainda eram a gente humilde que ali habitada. No contexto geral da cidade, percebe-se que, como se verá adiante, até as primeiras décadas do século XX, a Ilha do Nogueira e suas áreas circunvizinhas não eram de interesse das elites (ARAÚJO, 2007). Em meados do século XIX, quando o banho de mar começou a difundir como prática salutar entre esse público15, as praias de Olinda eram as mais requisitadas. A de Boa Viagem16 e Pina eram evitadas por conta de seu difícil acesso. Além disso, esta última abrigava o Lazareto e tinha uma população pobre estigmatizada, fatores repelentes que criaram uma reputação ruim associada simbolicamente à área (BARTHEL, 1989).
Conselheiro Aguiar, se localizando mais precisamente no seu cruzamento com a Rua Souto Filho. Em seu lugar, hoje existem duas escolas, a Landelino Rocha e a Delmiro Gouveia (BARTHEL, 1989; BRAGA, 1980). 14 O Lazareto também era conhecido como Hospital da Bubônica. Ele era um local de quarentena, onde ficavam viajantes e negros vindos da Europa, por conta do surto de cólera. A construção de madeira posteriormente citada existia para o mesmo fim, mas recebia doentes contaminados com Bexiga (BARTHEL, 1989). 15 Antigamente era mais costumeiro frequentar o rio ou as casas de banho (BARTHEL, 1989). 16 A Praia de Boa Viagem começou a ser um pouco mais frequentada para veraneio após a inauguração da estrada de Ferro São Francisco, que ligava o Recife ao Cabo (BARTHEL, 1989).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
2.1.2 De 1900 a Década de 1930: a Paisagem como símbolo de modernização e suas consequências “Entre a paisagem/ (fluía)/ de homens plantados na lama / de casas de lama/ plantadas em ilhas/ coaguladas na lama / paisagem de anfíbios/ de lama e lama”. (Trecho do poema Cão sem Plumas – João Cabral de Melo Neto) “Quando não tinha mais onde fazer casa, começou a fazer aterro. Aterrava aqui, aterrava acolá e eu sei que foi crescendo” (depoimento de Hermínio – SILVA, 2008b, p.33). “Ih, rapaz, era com casa de palha! A maré entrava e saía. Muita fruteira no meio das ruas, muito cajueiro, né? Minha casinha era toda de palha, feito casa de índio” (depoimento de Seu Chiquito – SILVA, 2008b, p.29).
Até o inicio do século XX, a Paisagem do Pina ainda continuava pouco alterada em a relação ao seu estado natural primeiro (mapa 5; imagem 6 e 7). Nela “predominavam coqueiros, os sítios de frutas, pés de carrapicho, olho de pombo. No mais, eram mangue e maré, maré e mangue (...). As casas eram poucas e ficavam na beira da praia, ‘tudo de palha dos pescadores’ (imagem 6 e 7). Depois com a maior procura do lugar para morada, os chãos lamosos dos mangues foram sendo aterrados, palmo a palmo. Aterrados com a lama da própria maré” (ARAÚJO, 2007, p.455, grifo nosso).
Outras obras portuárias importantes foram realizadas nos primeiros anos do século XX, gerando novas transformações na paisagem do Pina e do seu entorno. As reformas ocorridas incluíram, entre outras mudanças, o aumento da muralha de proteção dos arrecifes e a instalação de oficinas de manutenção de equipamentos, estradas de ferro e navios no local (BARTHEL,
1979; SILVA, 2008a) (imagem 8 e 9). Essas atividades mais uma vez atraíram funcionários do porto e um contingente considerável de pessoas para esse bairro em busca de trabalho17.
Imagem 6 - Vista do Pina em 1922. Nota-se o conjunto de mocambos em meio ao coqueiral e alagados. Acervo Museu da Cidade do Recife. Reprodução Assis Lima/ Fundarpe - 1990. Fonte: SILVA, 2008b, p.26.
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Imagem 7 - Mocambos do Pina. Pintura sobre papel de autoria de PH. Von Luetzelburg, 1936. Coleção Benício Dias. CEHIBRA - FUNDAJ. Fonte: SILVA, 2008b, p.47.
Também17 nesse período, a partir de um plano lançado em 1909 pelo Conselho de Salubridade Pública do Estado, o sistema de esgotamento do Recife recebeu algumas reformas. Prevista por ele, seguindo o plano, uma ponte18 foi construída em 1910 sobre o Rio Pina, para a passagem de veículos, pedestres e de dois tubos de esgoto que saiam da estação Tamarineira e desaguavam na Praia do Pina (SILVA, 2008b) (mapa 6 e 7; imagem 10). Apesar de essa construção ter estimulado o desenvolvimento da área e a expansão da cidade para aquela direção, por conta dos dejetos ali enjeitados, ela prejudicou a ocupação dos moradores e veranistas, pois reforçou o estigma já existente na região (desde a construção do lazareto), que era vista como marginalizada, suja e imprópria para frequentação (ALVES, 2009). Por conta disso, a área continuava não sendo interessante à cidade, permanecendo essencialmente ocupada por uma população de baixa renda, ainda 17
Nesse período, barricas de madeira que trouxeram o concreto norueguês utilizado na reforma do porto eram vendidas para a população, que as usavam como matéria prima para a construção de suas casas. Ainda nesses anos, poucas edificações do local eram de alvenaria (SILVA, 2008a). 18 A ponte era estreita, feita de ferro e lastro de madeira e tinha 715 de extensão (SILVA, 2008a).
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composta predominantemente por negros, pescadores, biscateiros, trabalhadores informais em geral e operários do porto (ARAÚJO, 2007).
Imagem 8 - Canteiro de Obras na Ilha do Nogueira, entre 1911 e 1914. Autoria de F. Du Bocage. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação.
Imagem 9 - Obras do porto no Dique do Nogueira em 1910 (data aproximada). Autoria de F. Du Bocage. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação.
Entre as décadas de 10 e 30, nota-se o surgimento dos primeiros adensamentos mais bem consolidados no Pina, que começavam a formar arruamentos e quadras (mapa esquemático 3). Em contrapartida, por causa da escassez de terras “secas” no local, além de mocambos, várias moradias foram construídas sobre terrenos alagados, palafitas feitas artesanalmente (SILVA, 2008b). “As edificações definiam as ruas, [notava-se] a ausência de cercas, indicando que a habitação se constituía em valor de uso e a posse do terreno não representava um elemento da preocupação dos moradores naquela época” (MILET, 1990 apud SILVA, 2008b, p.33).
Como pode se ver, segundo Silva (2008b), ainda não existia uma preocupação com a formalização da propriedade. As relações de apropriação com o lugar não se davam de maneira legal, e sim, através das práticas sociais que ali se davam, principalmente através da moradia e das atividades econômicas e de lazer ligadas ao mar, ao mangue e à paisagem, como por exemplo, a pesca19 (ARAÚJO, 2007; SILVA, 2008a).
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Mapa 5 - Cidade do Recife, 1906, de autoria de Douglas Fox (recortado). Ao sul, a Ilha do Nogueira, atual Pina. 1) Arrecifes; 2) Antiga Barreta; 3) Dique do Nogueira; 4) Lazareto; 5) Açude; 6) Viveiros; 7) Porto da Ilha; 8) Cabanga; 9) Ilha de Santo Antônio e São José; 10) Bairro do Recife. Fonte: Laboratório Topográfico de Pernambuco, [20--].
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Imagem 10 - Cartão postal da Ponte do Pina em 1916. Coleção Josebias Bandeira. Fonte: Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação.
No 19século XX, começou a se difundir mais amplamente em Pernambuco o hábito do banho de mar entre as elites, que contribuiu para o início da ocupação das orlas do estado de forma acelerada. Esse fator, aliado ao espírito de modernização existente na cidade, fez com que uma série de mudanças urbanísticas e sociais ocorresse nas praias recifenses. O poder público construiu acessos, pontes, estradas e uma rede completa de infraestrutura para viabilizar essas ocupações (MOREIRA, 1995). Antes desse período, a Praia do Pina já era bastante utilizada para os banhos dos populares. Apesar de ser rechaçada pelas classes mais abastadas por conta da simbologia negativa agregada a ela (dada pelo lazareto, e depois pelos dejetos jogados em sua maré), esta, por vezes e em menor grau, também era utilizada por esse público, que alugava casas de pescadores para períodos de veraneio (SILVA, 2008b). Por ainda não ter sido apropriado pela cidade, esse lugar era visto como um ambiente de descanso e refúgio. A simplicidade dos moradores e de suas casas de madeira e palha dava um ar de despojo aos que se aventuravam a usufruir aquela paisagem. Boa Viagem, ao contrário disso, era menos frequentada não somente pelo seu difícil acesso. 19
A relação com o mar acontecia desde muito cedo. Alguns pescadores começavam as suas atividades ainda crianças (SILVA, 2008a).
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Desde sempre, ela teve uma reputação de lugar elitizado, contrastando com a imagem que se tinha do Pina (ARAÚJO, 2007). Até o início da década de 20, o bairro de Boa Viagem ainda guardava as características originais da sua paisagem, uma mistura de coqueiral e alagados forma dos pelas águas do Rio Jordão, tendo ocupações muito esparsas e pouco significativas (imagem 11). Esse cenário começa a mudar drasticamente quando em 1924, dentro do contexto explanado anteriormente, durante o Governo de Sérgio Loreto (1922-1926), começa-se a construir a Avenida Beira-Mar, concluída em 192620 (ALVES,
“Para ver um banho popular, vá ao Pina. O Europeu achará curiosíssimo, num banho como o do Pina, a variedade de cor da gente recifense. Domina um moreno avermelhado, mas veem-se todas aquelas cores de frutas (...)”. (FREYRE, 1934 in ARAÚJO, 2007, p.511) “O Pina, minha querida, é uma praia de banhos muito aprazível. Vive-se aqui comodamente, folgadamente, livre dos preconceitos e exigências sociais” (Depoimento encontrado no jornal O VERÃO, 1927, p.1 in ARAÚJO, 2007, p.456).
2009) (mapa 6; imagem 12, 13 e 15). A sua criação foi um marco de grande impacto para o Recife como um todo, pois ela “transferiu os rumos do crescimento da cidade para a região sul. De uma localidade habitada por pescadores e poucas casas de veraneio, sem falar dos manguezais, que proliferavam por toda parte, passou ao local mais valorizado da cidade (...)” (BARRETO, 1990, p.144).
Grandes mudanças no sistema viário foram feitas para viabilizar essa obra. Uma delas foi a reforma e ampliação da antiga ponte do Pina, em 1922 (imagem 15). A partir de então, a passagem de veículos foi facilitada e os bondes começaram a chegar à orla21. Juntamente com eles, veio também o posteamento da área, que se estendeu pela Avenida de Ligação
“Mas não é só junto ao rio/ que o Recife está plantado,/ hoje a cidade se estende/ por sítios nunca pensados/ dos subúrbios coloridos/ aos horizontes molhados./ Horizontes onde habitam/ homens de pouco falar/ noturnos como convém/ à fúria grave do mar./ Que comem fel de crustáceos/ e que vivem do precário/ desequilíbrio dos peixes./ Nesse lugar, as mulheres/ cultivam brancos silêncios/ e nas ausências mais longas,/ pousam os olhos no chão,/ saem do fundo da noite,/ tiram a angústia do bolso/ e a contemplam na mão./ Só os velhos adormecem,/ Lembrando o tempo que foi/ vazios como o vazio/ e fácil sono de um boi”. (Poema “A Praia” – Carlos Pena Filho)
(atual Herculano Bandeira), a dividindo em duas faixas com sentidos opostos (mapa 6; imagem 16). Esta última foi construída em 1923, começando na Ponte do Pina e se estendendo até a Avenida Beira-Mar, se tornando importante eixo de ligação do bairro com o restante da cidade (ALVES, 2009; ROCHA, 1976). Ademais, nessa mesma época, houve a criação da Avenida Cabanga, a atual Saturnino de Brito (mapa 6). 20
A criação da Avenida Beira-Mar foi bastante polêmica. Segundo críticos contrários à sua construção, a obra, que visava prioritariamente à modernização e o embelezamento da cidade, era muito custosa e não deveria ser de prioridade do governo. É importante ressaltar que, apesar de já existir moradores na área antes da Avenida, a abertura desta beneficiou principalmente os donos das terras desabitadas que existiam ao longo de seu percurso. Para facilitar a sua construção, alguns terrenos foram cedidos pelos proprietários, que sabiam que posteriormente, com a valorização da região, teriam posses mais valorizadas (ALVES, 2009). O empreendimento foi justificado pelo governo pela necessidade de expansão da área habitável da cidade, alegando que a existente já se encontrava esgotada. 21 Inicialmente, a linha do bonde teve como terminal o ponto localizado ao que hoje corresponde ao atual Posto salva-vidas 1 da orla.
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Além dessas avenidas, obras de saneamento foram feitas para dar suporte à ocupação do local, como por exemplo, a retificação do Rio Jordão, a instalação de rede de esgoto, água e energia elétrica na região (inclusive iluminação pública também) e a já citada implantação da rede de bondes, que passava por toda Avenida Beira-Mar (SILVA, 2008b).
Imagem 11 - Boa Viagem em 1908, antes da abertura da Avenida Beira-Mar. Na época as ocupações eram espaçadas e o local era basicamente uma mistura de coqueirais e alagados. Autor desconhecido. Fonte: Blog Caderno Recifense, [20--].
Imagem 12 - Obras durante a construção da Avenida Beira-Mar, em Boa Viagem, em 1923. Autor desconhecido. Fonte: Blog Paulo Eduardo Lubambo Lyra, 2012.
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Imagem 13 - Avenida Boa Viagem recém-inaugurada, em 1925. Fonte: Filme Veneza Americana, 1925. Direção de Hugo Falangola.
Imagem 14 - Cartão Postal da Avenida Boa Viagem em 1939 (data aproximada). Coleção de Josebias Bandeira. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação.
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Imagem 15 - Ponte do Pina ampliada na década de 1920. Autor desconhecido. Fonte: The Trams of/Os Bondes do Recife, [20--].
Imagem 16 - Cartão Postal da Avenida de Ligação, atual Herculano Bandeira, em 1925 (data aproximada). Foto de Autoria de L. Gabriele. Coleção Josebias Bandeira. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação.
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Mapa 6 - Mapa feito a mão por Casttelus (nome completo não identificado no material). 1) arrecifes; 2) Antiga Barreta. 3) Dique do Nogueira; 4) Antigo Lazareto; 5) Avenida Boa Viagem; 6) Avenida de Ligação; 7) Ponte do Pina; 8) Oficinas do Porto; 9) Mar; 10) Estação de Tratamento; 11) Cabanga; 12) Ilha de Santo Antônio e São José; 13) Bairro do Recife. Título Original: Porto do Recife: planta geral das obras complementares. Fonte: cedido pela CONDEPE/FIDEM.
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Mapa 7 - Recorte do mapa anterior feito a mão por Casttelus (nome completo não identificado no material). 1) Arrecifes; 2) Antiga Barreta. 3) Dique do Nogueira; 4) Antigo Lazareto; 5) Avenida Boa Viagem; 6) Avenida de Ligação; 7) Ponte do Pina; 8) Oficinas do Porto; 9) Mar. Título Original: Porto do Recife: planta geral das obras complementares. Fonte: cedido pela CONDEPE/FIDEM.
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Nesse momento, a paisagem de Boa Viagem se tornou o emblema da modernização Recifense22, sendo vista como seleta e elitizada. Cabe destacar que essa significação dada a ela também surge em consonância com a “moda” de se morar nas praias urbanas brasileiras, nascida a partir da ocupação da Orla de Copacabana, no Rio de Janeiro (MOREIRA, 1994). Assim, essa
“Praia de boa Viagem, a linda praia de palacetes bonitos e paraíso das criaturas formosas é para onde converge a fina elite social. Os autos chegam ali repletos de gente fidalga – que se vão confundir às espumas brancas do mar” (BOA VIAGEM, 1934, p.5 in ARAÚJO, 2007, 512).
obra fabricou uma paisagem que representou culturalmente os anseios da elite recifense naquele momento. Pela maior identificação dessa camada social detentora de poder e influência política com a Praia de Boa Viagem, os investimentos públicos foram direcionados massivamente para ela, enquanto a do Pina foi relegada (ALVES, 2009). A ocupação do local se deu de forma rápida, porém, inicialmente se restringiu apenas aos lotes lindeiros ao mar e à construção de palacetes e chalés (MOREIRA, 1994) (imagem 14). As novas vias, a construção de novas edificações e os novos elementos infraestruturais criados (posteamento, saneamento, entre outros) conferiram a este bairro um tratamento diferenciado do restante da cidade, o modificando drasticamente, e transformando de maneira significativa a paisagem de coqueirais e enlameados que o caracterizava originalmente23 (MOREIRA, 1994). Percebe-se aqui, um dos primeiros exemplos de como se conseguiu manipular as iniciativas e o capital governamentais para atender aos seus interesses de pessoas alheias à história dessa região (ALVES, 2009), que conseguiram protagonizar a modificação paisagística do local24. O incentivo público foi decisivo nesse processo, pois além do aporte estrutural para o uso daquela praia, a legislação da época também incentivou a construção de novas edificações (HERRERA, 1992)25. É importante observar que, apesar das alterações ocorridas na zona sul do Recife terem sido realizadas, em sua grande maioria, de forma direcionada para Boa Viagem, o Pina se encontra no meio do caminho entre esse local e o centro da cidade e outras localidades, recebendo diretamente os impactos das transformações urbanísticas e paisagísticas nele ocorridas. Avenidas e pontes que davam acesso à praia também passavam 22
Essa reforma fez parte do conjunto de obras de modernização realizadas na cidade nesse mesmo período. Para mais informações sobre essas reformas e o espírito modernizador recifense da época, consultar: MOREIRA, Fernando Diniz. Universidade Federal de Pernambuco; Departamento de Arquitetura e Urbanismo. A Construção de uma Cidade Moderna: Recife (1909-1926). Recife, 1994. 23 Como dito no primeiro capítulo deste trabalho, o espaço das elites, em geral, tende a ser tratado ambientalmente e paisagisticamente de maneira diversa do restante da cidade (VILLAÇA, 2001). 24 Aqui se faz referência aos pontos explanados no primeiro capítulo, em relação aos principais padrões existentes na construção social das paisagens (TÂNGARI, 2013) e na segregação urbana resultante desse processo (VILLAÇA, 2001). 25 A legislação facilitava essas construções permitindo que, por exemplo, imóveis construídos até 1930 fossem isentos de impostos (HERRERA, 1992).
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por esse bairro intermediário, que desde o início sofreu com a demanda viária criada para a expansão do Recife nessa direção. Apesar de na época o Pina não ser tão valorizado e bem estruturado quanto Boa Viagem, pela proximidade entre os dois bairros, ele também começou a se valorizar economicamente, principalmente a partir da segunda metade do século XX, como se verá a seguir (ALVES, 2009). Na medida em que as condições infraestruturais eram dadas a esse bairro de “O tubarão é feroz, mas o homem tem a inteligência” (depoimento de Quiabo Duro – SILVA, 2008b, p.37).
passagem, entre elas, notadamente o aterro (muitas vezes feito pelos moradores pobres com os seus próprios meios) e a criação do sistema de vias que conduzia à praia, os grupos dominantes da cidade se interessavam cada vez mais por ele, começando a
pressionar fortemente a população humilde dos mocambos e palafitas a abandonar os terrenos que ocupavam. Porém, juntamente com essa valorização do solo, se intensificava também a luta dessa gente pela posse da terra por ela tradicionalmente ocupada (DE MORAIS, D.P.; SILVA, L.R.S., 2010). Nesse momento, começa a surgir a necessidade de se apropriar da área não somente pelo habitar, mas também de maneira legal. A criação da Avenida Boa Viagem e a repressão das ocupações de Baixa renda existentes no Pina estavam de acordo com o tipo de atuação que o governo tinha naquele período. Na década de 1930, o poder público direcionou a sua atuação no Recife de duas formas: a primeira delas foi com planos de embelezamento e modernização seguindo os moldes higienistas, fazendo a higiene física e também social, através de retaliações às ocupações pobres em áreas valorizadas da cidade, como no caso dos bairros em questão; e a segunda com uma repressão sútil às classes trabalhadoras através de represálias a movimentos operários, e também pela legislação26 (BARRETO, 1990). 26
Dentro desse contexto, em 1939, no governo de Agamenon Magalhães (1937-1945), foi criada a Liga Social Contra o Mocambo. Ela era uma entidade privada que se dizia humanitária, mas que traçou como meta prioritária a erradicação de mocambos e casebres incentivando a construção de casas para a população de baixa renda. A ideia era “limpar a cidade não só pelo embelezamento, mas atender a outros interesses, com a abertura da área ocupada pelos mocambos ao mercado imobiliário e ao interesse da igreja católica em contraposição ao partido comunista” (ALVES, 2009, p.90, grifo nosso), que tinha grande aceitação entre a população mocambeira (ALVES, 2009). Tentava-se aliviar as tensões trabalhistas através da doação de casas populares, mas em contrapartida, medidas repressoras como demolições sem indenização ou aviso e proibição da construção dessas moradias precárias dentro do perímetro urbano foram exemplos de ações tomadas pelo poder público na época. A década de 1940 também foi marcada pela pressão exercida por esse órgão (BOTLER, 1994). Em 1945, o Serviço Social Contra o Mocambo, de caráter estadual, assumiu as responsabilidades da liga, porém de forma mais voltada para as questões sociais propriamente ditas e para habitações de classe média. Posteriormente o programa de erradicação de mocambos foi perdendo importância e a questão da moradia popular foi incorporada aos programas nacionais, como o Sistema Financeiro de Habitação e o Banco Nacional da Habitação (BNH), criados em 1964 (BARRETO, 1990), que também se utilizavam do déficit habitacional para exercer controle social sobre a população.
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Apesar de a população humilde do Pina ter historicamente habitado e construído aquele território, e com ele ter estabelecido múltiplas relações de identificação, propriedade e simbologia, quando aquele espaço passa de uma área rechaçada à região nobre e moderna da cidade, esses aspectos parecem ser desconsiderados, havendo uma vontade de neutralização das preexistências físicas e sociais desse lugar para atender a interesses que lhe são alheios. É nesse contexto de conflitos simbólicos e morais que surge a comunidade de Brasília Teimosa27, hoje, considerada a ocupação mais antiga da cidade (SILVA, 2011). Até a década de 1930, na região onde hoje se situa essa comunidade, existia apenas uma área conhecida como Areal (Areal Velho ou área da Colônia28), que se formou de maneira não planejada e que mais se assemelhava a uma extensão do Pina, também sendo formada por uma colônia de pescadores. Nesta mesma década, o bairro foi crescendo a partir de aterros sucessivos, que foram feitos por conta das obras de modernização do porto (BOTLER, 1994) (mapa 7; imagem 17). Inicialmente as casas ali construídas eram muito rudimentares, geralmente feitas de madeira (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 2003). Com o objetivo de instalar um Parque de inflamáveis portuário, em meados dessa mesma década, houve o aterro na área existente entre o Dique do Nogueira e os arrecifes, feito por meio da remoção do banco de areia conhecido como Coroa de Passarinhos29, localizado na Bacia do Pina (imagem 18 e 19). Posteriormente descartou-se essa ideia, e pensou-se em construir ali um aeroporto, projeto que também não foi levado adiante, visto a pequena dimensão do local para esse fim (mapa 8). Nada foi feito nessas terras, até que, na época da Segunda Guerra Mundial, ela serviu de acampamento para os militares (ALVES, 2009). O local passou a se chamar Areal Novo e constitui uma boa parte da península triangular ocupada pela Brasília Teimosa atual (BOTLER, 1994). Nessas décadas, a vida cultural do Pina era mais agitada que a de Boa Viagem. Nos anos 20, há a inauguração do Cinema Zinco e do Cassino Americano (1925). Nos 30, houve a instalação do Palanque do Pina, que se localizava a beira mar e exibia atrações festivas e A atuação da liga e depois do Serviço Social Contra o Mocambo acirrou ainda mais os ânimos e as necessidades em relação à questão da posse de terra nas comunidades da cidade como um todo (BARRETO, 1990). 27 O início da ocupação da área data da mesma época da construção da Brasília de Kubitschek, a Capital Federal. Por isso e pelo histórico de lutas da população, que insistia em permanecer no local mesmo com a represália por parte do governo e a demolição das casas construídas, ela foi batizada com o nome pelo qual é conhecida hoje. 28 Se referindo à colônia de pescadores z-1. 29 A areia da “Coroa dos Passarinhos”, foi levada até essa nova área para aterra-la. Segundo Oswaldo Silva “A Coroa dos Passarinhos é a parte de terra que aparece no meio da Bacia do Pina na Maré Baixa, no passado se constituía de areia branca com uma vegetação rasteira e os jovens do Bairros de São José se aventuravam naquele local para tomar banhos nas tarde ensolaradas” (2008a, p.30).
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manifestações populares (SILVA, 2008a). Outras festas culturais também já haviam ganho destaque, inclusive as ligadas à dança e à religiosidade, sendo essa última um aspecto muito forte nesse bairro30 (ARAÚJO, 2007). Nesse período, já havia se consolidado um pequeno comercio local de feira, pequenas vendas e serviços que atendiam a população ali residente. Juntamente a isso houve a abertura de muitos restaurantes, mostrando uma vocação gastronômica até hoje atribuída à região. Dentre as edificações importantes construídas nessa época na região do Pina e Brasília Teimosa, cabe ainda destacar a importância cultural “Pescadores e prostitutas são duas classes desprezadas pelo mundo que pouco vê o pescador e pouco vê as prostitutas. São duas classes exploradas porque nem o pescador faz o preço do peixe, (...) e a prostituta também não faz o preço da sua carne” (Depoimento de Seu Salviano, morador de Brasília Teimosa para uma matéria do Jornal do Commercio) (FAVELADOS...1989).
e paisagística a Igreja Matriz do Rosário, criada em 193231 (SILVA, 2008a). Também nesses anos, numa localidade chamada “Curral das Éguas”, próxima à área da Colônia, começa a se instalar uma Zona de prostituição, que recebia um público de visitantes, da elite de Boa Viagem e de pessoas que chegavam pelo porto. Além disso, na época da segunda guerra, quando a base militar se instalou no bairro, os americanos frequentavam os cassinos, bares e as muitas gafieiras ali existentes, também movimentando esse
mercado. Esse uso reforçou mais uma vez o estigma marginal dado pela cidade ao Pina (ARAÚJO, 2007; SILVA, 2008a).
30
Tanto as ligadas à igreja católica, quanto à evangélica e às de Matriz Africana, sendo essas últimas fortemente reprimidas na época (SILVA, 2008a). 31 Ela substituiu uma antiga capela de madeira existente no bairro desde o início do século (SILVA, 2008a).
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Imagem 17 - Perspectiva do Recife em 1932. Em primeiro plano, vê-se a Ilha de Santo Antônio e São José, e ao fundo, as áreas correspondentes aos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa. Fonte: Ana Maria Costa Fraga (Pinterest), [20--].
Imagem 18 - Perspectiva do Recife já com o aterro do Areal Novo. Em primeiro plano, vê-se a Ilha de Santo Antônio e São José, e ao fundo, as áreas correspondentes aos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa. Fonte: Blog Francisco Miranda, [20--].
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Imagem 19 - Foto aérea do aterro recém terminado. Essa península corresponde à maior parte do território atual da Brasília Teimosa hoje. Acervo do Museu da Cidade do Recife. Reprodução Assis Lima/ Fundarpe 2010. Fonte: SILVA, 2008b, p. 52.
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Mapa 8 - Proposta para o aeroporto no Areal do Pina, provavelmente datada do ano de 1934 1) Arrecifes; 2) Antiga barreta; 3) Dique; 4) Coroa dos Passarinhos; 5) Aeroporto; 6) Mar; 8) Avenida Herculano Bandeira; 9) Ponte do Pina; 10) Cabanga; 11) Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: FORTIN, 1987.
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2.2 A FORMAÇÃO DA BRASÍLIA PELA RESISTÊNCIA O estudo da história dos bairros de Boa Viagem e Pina nas épocas que precedem à formação da Brasília, nos ajuda a entender em que contexto ela surgiu. Contexto esse que não é somente temporal, mas também físico e simbólico. Conhecendo o tipo de ocupação preexistente na região e as conotações que a ela vinham sendo imputadas até então, se compreende com mais facilidade como a comunidade se relaciona, se assemelha ou destoa das suas vizinhanças. As características divergentes entre os bairros dão pistas de como o impasse entre os desejos de permanência e expulsão da Teimosa, existente desde o seu nascimento, vem se desenvolvendo ao longo dos anos e a partir de que mecanismos sociais e territoriais são exercidas as pressões sobre ela. Desse modo, se pode compreender como se deu a construção do cenário paisagístico incoerente que vem se consolidando no local, ameaçando a Brasília e imprimindo na cidade os conflitos morais e de interesses presentes em torno de sua existência. “Eu protestei, quiseram me pegar. Eu corri para o lado, briguei com a polícia. Então começamos a luta (...). Aquela terra foi formada pelos peixes que morrem, pelas madeiras e outras coisas da natureza. Então essa terra não tem dono, é de todos que nela habitam. (...) Cada um que invadia um terreno, só tinha direito a uma casa, porque só temos uma cabeça e pra uma cabeça, é um chapéu” (Depoimento de Seu Lulu, para uma matéria do Jornal do Commercio – FAVELADOS...1989). “Daqui não saio, daqui ninguém me tira Onde é que eu vou morar? Se derrubam meu barraco é de lascar Ainda mais com 4 filhos, Onde é que eu vou morar?” (Marchinha de Carnaval cantada pelos moradores nas suas lutas. Transcrita em um folheto da Chapa 2 para as eleições de 1995 do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa)
2.2.1 Décadas de 1940 a 1960: a apropriação Teimosa e a consolidação de uma Paisagem de conflitos
O Areal Novo começou a sofrer invasões nos anos 50, tendo um aumento populacional gradual no decorrer dos anos. As secas ocorridas no estado no final dessa década (1957 e 1958) impulsionaram esse processo, já que por conta delas, muitos retirantes se deslocaram para o Recife e ocuparam, entre outras áreas, a Brasília Teimosa (mapa 9 a 12; mapa esquemático 4) (FORTIN, 1987; SILVA, 2008a). As invasões dos primeiros moradores da Brasília sofreram grande repressão por parte do governo. À noite, a polícia derrubava as casas que eram construídas dia após dia pela população. A cada derrubada, havia a construção de uma nova série de habitações, em número maior que o anterior, de forma que as retaliações diminuíram, visto a impotência do poder
público frente à luta do povo32 (BRASÍLIA, 2014). Como exemplo dessa teimosia, tem-se o episódio ocorrido no carnaval de 1958, quando, se aproveitando da deficiência de 32
Um episódio interessante que demonstra a força da luta do povo pelas suas terras aconteceu em 1956, no dia em que Juscelino Kubistchek (JK) foi empossado presidente da república. Um grupo de pescadores da
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fiscalização nesse período, 300 famílias invadiram o local (MOURA, 1990)33. As primeiras habitações eram muito rudimentares, de madeira e pau-a-pique. Além disso, a infraestrutura e saneamento eram precários, não existindo acesso à energia elétrica, água e drenagem (BRASÍLIA, 2014). A área do Areal Novo se uniu ao Areal Antigo (“área da Colônia”), tanto pela proximidade geográfica, quanto para facilitar as conquistas de direitos sociais e de melhorias estruturais para o local, como por exemplo, a regularização fundiária34, a construção de habitações formais, a infraestrutura urbana e a criação de equipamentos de saúde e educação para a população (BOTLER, 1994). Desde o início, movimentos e grupos culturais estiveram lado-a-lado nas conquistas e nas discussões promovidas pela comunidade (SILVA, 2008a). Em 1953, a Federação das Colônias de Pesca de Pernambuco conseguiu um aforamento autorizando a ocupação da área do Areal Novo de forma legítima. O local foi dividido entre os associados e pescadores da região do Cabanga, que foram vítimas de um incêndio criminoso35 em seus mocambos no ano anterior. Em 1955, no entanto, a Federação transferiu parte desse terreno para a construção do Iate Clube do Recife (construído em 1977), e posteriormente o diretor deste mesmo clube, Roberto Eugênio Maçães, conseguiu adquirir em seu nome uma parcela dessas terras (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979). Por esse motivo, o aforamento foi suspenso, deixando a questão da posse daquele local indefinida. Em 1958, a continuação dos moradores na área foi permitida sem maiores garantias. A criação do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa, em 1966, foi fundamental nesse processo de luta pelo direito à terra (BRASÍLIA, 1998). Apesar da suspensão do aforamento, como meio de se apropriar do local e assim garantir a permanência no terreno, os associados da Colônia de Pescadores Z-136, entidade colônia Z-1 de Brasília Teimosa fez uma viagem aventureira de jangada, do Pina até o Rio de Janeiro, onde foram ao encontro do presidente portando um memorial com as reivindicações da população (BRASÍLIA, 2014). Esse episódio gerou visibilidade para a comunidade e consequentemente fortaleceu a sua batalha. 33 Segundo Barthel (1979), a maioria das invasões que ocorria na cidade acontecia às sextas-feiras à noite ou em dias festivos em geral, como nesse caso, exatamente para aproveitar as brechas de fiscalização nesses períodos. 34 Segundo Alfonsin, Regularização Fundiária “é o processo de intervenção pública, sob os aspectos jurídico, físico e social, que objetiva legalizar a permanência de populações moradoras de áreas urbanas ocupadas em desconformidade com a lei para fins de habitação, implicando acessoriamente melhorias no ambiente urbano do assentamento, no resgate da cidadania e da qualidade de vida da população beneficiária” (1997, p.24 apud SILVA, 2001, p.75). 35 Na época era muito comum a ocorrência de incêndios criminosos provocados por proprietários de terras invadidas. Eles eram feitos como forma de expulsar a população ocupante queimando “acidentalmente” os seus mocambos (ALVES, 2009). 36 No período da segunda guerra mundial, a Marinha criou as Colônias de Pescadores com o objetivo de proteger a costa do país. A Colônia Z-1 de pescadores, vinculada a Brasília Teimosa, foi a primeira criada em Pernambuco (MORAES, 2011).
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ligada ao bairro, pelos seus próprios meios, lotearam o Areal em sua maior parte. Dois mil e cem lotes de 12x18m foram criados de forma planejada, com um traçado regular perpendicular ao oceano atlântico, que permanece idêntico até a atualidade37 (imagem 20, mapa esquemático 5) (FORTIN, 1987; SANTOS, 2011). Essa é uma característica que diferencia o espaço da comunidade dos construídos em outros assentamentos de baixa renda, não só de suas circunvizinhanças, mas de toda a cidade, que geralmente possuem uma malha viária não ortogonal e irregular. Assim, vê-se que, ainda que de forma bastante diversa, e a partir de parâmetros e interesses diferentes, tanto o território de Boa Viagem (e em partes, o do Pina), quanto o de Brasília Teimosa foram planejados e fabricados de maneira consciente. Ainda nessa época, as casas da Brasília permaneciam sendo de chão batido e construídas artesanalmente, com materiais rudimentares, que iam desde barro, até papelão e embalagens, sem condições mínimas de habitabilidade (imagem 21) (SILVA, 2011).
Imagem 20 - Brasília Teimosa recém -loteada (anos 70). Perceber a linha de força dos arrecifes ao fundo. Autor e ano desconhecidos. Fonte: Textos & Contextos: O Blog Almanaque, 2010.
37
Posteriormente, se verá que o bairro sofreu um processo de adensamento. Ele é possibilitado em partes pelo traçado ortogonal estabelecido. Além disso, o tipo de subdivisão dos lotes feito durante esse período
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Imagem 21 - Construção de mocambos em Brasília Teimosa, em 1959, no início das ocupações. Autor desconhecida. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016.
inicial de consolidação do bairro facilitou sucessivas subdivisões: os primeiros 2100, em 1987 já tinham se transformado em 3000 (FORTIN, 1987).
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Mapa 9 - Pina e Brasília Teimosa em 1943. 1) Arrecifes; 2) Areal Novo, ainda desocupado. 3) Areal velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais; 4) Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5) Ponte do Pina; 6) Avenida Boa Viagem; 7) Antigo Lazareto; 8) Aeroclube; 9) Instalações da Rádio Station Pina; 10) Manguezal; 11) Cabanga; 12) Ilha de Santo Antônio e São José; 13) bairro do Recife. Notar o arruamento ainda bastante inicial de traçado irregular. Mapa elaborado pelo Serviço Geográfico do exército. Fonte: cedido pela CONDEPE/FIDEM.
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Mapa 10 - Recorte do mapa anterior mostrando o Pina e Brasília Teimosa em 1943. 1) Arrecifes; 2) Areal Novo, ainda desocupado. 3) Areal velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais; 4) Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5) Ponte do Pina; 6) Avenida Boa Viagem; 7) Antigo Lazareto; 8) Aeroclube; 9) Instalações da Rádio Station Pina; 10) Manguezal; 11) Cabanga; 12) Ilha de Santo Antônio e São José; 13) bairro do Recife. Notar o arruamento ainda bastante inicial de traçado irregular. Mapa elaborado pelo Serviço Geográfico do exército. Fonte: cedido pela CONDEPE/FIDEM.
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Mapa 11 - Montagem de Fotos Aéreas do ano de 1951 anterior. 1) Arrecifes; 2) Areal Novo, ainda pouco ocupado. 3) Areal velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais (perceber o primeiro arruamento bem definido); 4) Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5) Ponte do Pina; 6) Avenida Boa Viagem; 7) Ruínas Lazareto 8) Aeroclube; 9) Manguezal; 10) Ilha de Santo Antônio e São José. Perceber o arruamento bastante parecido com a encontrada no início da década anterior. Fonte: fotos cedidas pela CONDEPE/FIDEM.
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Mapa 12 – Detalhe da montagem de Fotos Aéreas do ano de 1951 anterior. 1) Arrecifes; 2) Areal Novo, ainda pouco ocupado. 3) Areal velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais (perceber o primeiro arruamento bem definido); 4) Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5) Avenida Boa Viagem; 6) Ruínas Lazareto. Perceber o arruamento bastante parecido com a encontrada no início da década anterior. Fonte: fotos cedidas pela CONDEPE/FIDEM.
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“Vamos lutar com união Brasília é Nossa E ninguém vai botar a mão Cuidado com os tubarões Que querem por qualquer tostão Tirar a gente, mas ninguém vai sair, não” (Marchinha cantada pelos moradores nas suas lutas. Transcrita em folheto da Chapa 2 para as eleições de 1995 do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa)
Cabe ressaltar que a luta ávida do povo pela permanência na Brasília revela mais do que a necessidade de sanar carências de subsistência física, como a garantia de trabalho e moradia. As práticas sociais e hábitos provenientes das relações dessa população com a paisagem, como por exemplo, a pesca e as atividades econômicas, de lazer e afetivas com as águas, através de seus simbolismos, ditaram esse comportamento prático de resistência pelo direito de habitar. O embate entre os moradores ocupantes dessa área valorizada da cidade e o governo que os tentava expulsar (atendendo também aos desejos do mercado) vem exatamente dos conflitos provenientes dos sistemas morais e
simbólicos conflitantes, pertencentes aos diferentes grupos atuantes no local, que pretendiam habita-lo a partir de interesses diversos38. Sobre isso, percebe-se que, a construção da paisagem da zona sul recifense, desde o início se deu de maneira conflituosa. A elite ocupou as áreas de terra firme e a beira-mar de Boa Viagem, enquanto a população de baixa renda permanecia nos alagados construindo suas palafitas e mocambos de forma precária, tendo inclusive suas moradias informais derrubadas pela política higienista (física e social) do governo, como comentado anteriormente (ALVES, 2009). Uma boa parte das expulsões ocorridas nesses bairros foi feita em áreas que iriam ser utilizadas para a abertura de novas vias. Quando eram feitas, as realocações muitas vezes se davam para vilas distantes do mar “Do mar eu criei minha família (...). Eu sou mesmo que tartaruga: você pode soltar no sertão, eu só caminho no mar; se me tirar do mar, estou morto”. (Depoimento de Seu Salviano – SILVA, 2008b, p.37)
(BARRETO, 1990; SILVA, 2008a)39, que servia de fonte de subsistência à grande parcela dos mocambeiros ali instalados, gerando a quebra das relações existenciais (afetivas, econômicas e sociais – trajectivas) desses indivíduos com o lugar (imagem 22 e 23). “Nesse contexto, as relações sociais ganhavam outros significados, a aglutinação em torno da moradia e da pesca eram as garantias da sobrevivência da comunidade naquele local. Excluídos do centro urbano, a população ia encontrando espaço nas terras alagadas (...)” (SILVA, 2008a, p.24).
Assim, se começa a perceber uma formação socioespacial dessa região a partir da concentração de terras pela elite, em detrimento dos demais habitantes, que sem opção, eram sistematicamente segregados para áreas de menor habitabilidade (mangues e 38
Ver discussões do primeiro capítulo, principalmente no que toca à teoria de Conan (1994). Exemplos de vilas que acolheram as realocações realizadas na época são a Vila das Lavadeiras e dos Operários, na Zona Sul, e a dos Comerciários, na Zona Norte da cidade (SILVA, 2008a). 39
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alagados)40. Quanto a isso, Brasília Teimosa vem fugindo desse padrão desde ao início de sua existência, já que mesmo com todas as pressões exercidas sobre ela, a comunidade resistiu e resiste defendendo o seu direito de habitar o seu território e nele fundar a sua história.
Imagem 22 - Pescadores em Brasília Teimosa, 1957. Autor desconhecido. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016.
Ainda que a população humilde geralmente localizasse as suas habitações em locais ambientalmente mais frágeis, situar-se nesses bairros, em proximidade com as áreas de domínio das elites, também era importante pelo fato de que os comércios e serviços criados para atender a esse público são grandes geradores de empregos e subempregos, além de com ele se poder estabelecer acordos de troca e biscates. Essas costumavam ser uma das relações mais frequentes existentes entre a classe alta e os habitantes pobres do local, que ainda que próximos, estavam segregados socioespacialmente (SILVA, 2008a). Essas “estratégias” locacionais que se estabeleceram nos bairros de Boa Viagem e Pina são 40
Ver discussão da sessão 3 do Capítulo 1.
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mecanismos de formação espacial recorrentes nas cidades brasileiras, como visto anteriormente41.
Imagem 23 - Vendedor de Caju em Boa Viagem na década de 1940. Como neste exemplo, uma boa parte da população pobre residente neste bairro e no do Pina e Brasília Teimosa tinha na natureza o seu meio de subsistência e trabalho. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Autoria de Benício Whatley Dias Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação.
A partir da década de 50, houve uma maior consolidação do bairro de Boa Viagem, que se transformou em um local de primeira residência (ALVES, 2009) (mapa 13; imagem 24, 25 e 26). Nessa época, o sistema de iluminação e pavimentação da área foi reconstruído e os coqueirais e ambientes naturais completamente modificados para dar lugar às novas edificações (ARAÚJO, 2007; SILVA, 2016). Começou-se a construir os primeiros arranha-céus da orla do bairro, e as suas antigas casas de madeira foram gradativamente substituídas por outras de alvenaria42 (SILVA, 2008a). Com o aumento significativo do número de habitações, 41
Idem.
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criou-se uma42demanda crescente por serviços que lhes dessem apoio, fazendo com que novos usos começassem a se fazer cada vez mais presentes na região, que a essa altura, já se transformava no segundo centro principal da cidade. Na década de 60, o processo de consolidação do bairro segundo esses moldes se intensificou, e ele continuou a crescer em ritmo acelerado43 (ASSIES, 1991) (imagem 27 e 28). Todas essas mudanças continuavam em consonância com a vontade de se construir uma paisagem que significasse modernidade para o Recife. O processo de ocupação veloz de Boa Viagem nesses anos também tem a ver com a lei 2.59044 de 1953, que transformou o bairro em Zona Urbana (desde o zoneamento de 193645 a região era considerada suburbana). Com isso, ele se valorizou para o mercado imobiliário, visto que essa mudança possibilitou um aumento da taxa de ocupação do local (subindo 7%) e do coeficiente de aproveitamento do solo. Ademais, como desde 191946 era proibida a construção de mocambos nas zonas urbanas (ALVES, 2009), essa alteração foi mais uma forma de promover uma “seleção social” na área, a camuflando por meio das políticas governamentais higienistas. É nesse sentido que, como citado no início do capítulo47, a Paisagem Recifense “mostra e esconde a sua gente”. Nesse caso, o espaço da elite era permitido e incentivado nos locais privilegiados do Recife, como em Boa Viagem, já que ele simbolizava a ideia de modernidade que se queria mostrar esteticamente e socialmente. Enquanto isso, as aglomerações de palafitas e mocambos, feitas pela população humilde, por deflagrarem um caráter de desordem, exatamente o oposto do desejável para representar a imagem da cidade, eram retiradas dos bairros centrais e escondidas nas periferias. As mudanças ocorridas na zona sul também estimularam a ampliação do sistema viário da região. Em 1953, é criada a Ponte Agamenon Magalhães paralela a antiga Ponte do Pina (imagem 29). Em 1968, a Avenida Antônio de Góes foi criada, ligando esta nova Ponte à Avenida Beira-mar, sendo paralela a Avenida de
“Recife, Ao clamor desta hora noturna e mágica Vejo-te morto, mutilado, grande, Pregado à cruz das grandes avenidas” (Trecho do poema “Recife Morto” – Joaquim Cardozo).
Ligação (imagem 30). No local por onde ela passa, foi demolido um conjunto de ruas estreitas, com casas de madeira desordenadas, que antes faziam parte da zona de prostituição então existente no Pina na época. 42
Nesse período, ganham destaque os primeiros arranha-céus da época: o Acaiaca, o Califórnia, e em seguida, o Holiday (imagem 28). Este último, existente até os dias de hoje, originalmente abrigava 416 apartamentos distribuídos ao longo dos seus 17 andares. Compondo essa paisagem moderna, também surge o primeiro Hotel de Boa Viagem, em 1954 (SILVA, 2016). 43 Nos anos 60, o bairro de Boa Viagem cresceu 10,4% em relação ao decênio anterior (ASSIES, 1991). 44 Lei 2.590, de 24 de novembro de 1953. O perímetro do bairro considerado urbano ia desde a Avenida Beiramar até a Avenida Conselheiro Aguiar, terminando na fronteira do município (ALVES, 2009). 45 Pelo zoneamento ditado pelo Código de obras de 1936, que altera a lei 1.051 de 1919 (ALVES, 2009). 46 Lei 1.051 de 1919 (ALVES, 2009). 47 Ver citação no início da sessão 2.1.1 deste capítulo (PROMORAR, 1980).
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Na década de 60, com a construção da Avenida Agamenon Magalhães, uma via perimetral da cidade, o bairro se valorizou ainda mais, pois esta encurtou a distância da região sul ao centro e a zona norte (ALVES, 2009). A necessidade do crescimento desse sistema também se dá pelo modelo centro-periferia que norteia a formação urbana do Recife, fazendo com que seja necessário um amplo conjunto de vias para suportar os deslocamentos que se desdobram no seu interior, e mais especificamente, entre essa zona e as outras regiões da cidade48.
Imagem 24 - A Avenida Boa Viagem com construções ainda predominantemente horizontais na década de 1940. Fonte: Blog Diário de Pernambuco, 2015.
48
Ver discussão da sessão 4 do Capítulo 1, especificamente no que diz respeito aos padrões recorrentes de formação espacial das cidades Brasileiras também encontrados no Recife.
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Imagem 25 - Boa Viagem na década de 1950. Observar a paisagem começando a se modificar, com casas predominantemente térreas situadas em meio ao coqueiral. Fonte: Blog Paulo Eduardo Lubambo Lyra, 2012.
Imagem 26 - Avenida Boa Viagem, década de 1950. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Autoria de Benício Whatley Dias. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. { 125 }
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Mapa 13 - Mapa esquemático do traçado viário principal de Boa Viagem na década de 1950. 1) Areal de Brasília Teimosa; 2) Avenida Herculano Bandeira; 3) Avenida Boa Viagem. Fonte: BARTHEL, 1989 in ALVES, 2009, p.64.
Imagem 27 - Praia de Boa Viagem com sua orla já um pouco verticalizada em 1965. Fonte: Villa Digital. Coleção Benício Dias. Autoria de Katarina Real. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. { 126 }
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Imagem 28 - Boa Viagem verticalizada na década de 60. Em destaque, o Edifício Holiday. Fonte: Blog Caderno Recifense, 2013.
Imagem 29 - Cartão postal retratando a Ponte Agamenon Magalhães entre as décadas de 1940 e 1950. Fonte: Coleção Arnaldo Guedes Pereira. Autoria desconhecida. Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação.
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Imagem 30 - Encontro entre a Avenida Boa Viagem e a Avenida de Ligação (atual Avenida Herculano Bandeira) na década de 60. Ao fundo, à direita Brasília Teimosa com seu Areal já loteado e ocupado. Perceber a mudança em relação à paisagem natural original dos bairros, que nesse período já estava bastante aterrado e com menos verdes e área de mangue. Fonte: Blog Conheça o Recife Antigo, [20--].
Enquanto Boa Viagem vicejava e era emblema de distinção social, já nessas décadas, o Pina sofria com a falta de saneamento básico e infraestrutura. Como já foi dito antes, este bairro não recebia tantos investipmentos públicos como aquele, estando carente em infraestrutura e saneamento, além de ter sido em grande parte, ocupado por mocambos e aglomerados de baixa renda (SILVA, 2016), sendo por isso estigmatizado e menos valorizado economicamente que o seu vizinho. Ao longo dos anos, essa diferença entre o significado dos dois bairros no contexto da cidade foi um dos fatores que contribuíram para que o movimento de verticalização de Boa Viagem não ocorresse com a mesma velocidade no Pina (SILVA, 2008a). Porém, além desse aspecto, outros motivos notadamente contribuíram para isso. Em 1941, o Aeroclube, criado no ano anterior, foi transferido para um grande areal até então desabitado localizado do Pina (mapa 9 e 11; imagem 31). Também nessa década, o governo adquiriu terrenos para a construção da Rádio Station (mapa 9) (SILVA, 2008a). A existência desses equipamentos foi um limitador do cone máximo de gabarito para a construção de edifícios em altura neste bairro. A presença do Aeroclube, por exemplo, impunha um limite de até cinco pavimentos para os seus edifícios circunvizinhos, que não podiam ter elementos metálicos em suas cobertas (CENTRO JOSUÉ DE CASTRO, 1993). Dessa forma, por todas essas razões, ali havia uma valorização menor do solo e também { 128 }
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impedimentos legais que dificultavam o desenvolvimento de construções verticalizadas. Enquanto isso, as ocupações informais no seu interior continuavam a acontecer de maneira crescente (SILVA, 2008a). Os fatores físicos e simbólicos, bem como o tipo de utilização do solo citados fizeram com que Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa se desenvolvessem de forma discrepante entre si. Nesse primeiro bairro, a Paisagem elitizada se desenvolvia de maneira organizada, formal, “moderna”, com boa infraestrutura e já um pouco verticalizada, enquanto nos dois segundos, ela se transformava de maneira mais horizontal, predominantemente espontânea, humilde, desprovida de saneamento básico, e relegada pelo poder público (ALVES, 2009).
Imagem 31 - Aeroclube de Pernambuco em meio à paisagem do Pina no final da década de 50. A Avenida Boa Viagem já timidamente verticalizada e a paisagem desses dois bairros bastante modificada em relação à original. Autoria de Alcir Lacerda. Fonte: TC2 (Fotolog), 2005.
De qualquer forma, em todos os casos, o meio ambiente natural, substrato dessas ocupações49, com seus coqueirais, mangues e alagados, já havia sido bastante modificado (SILVA, 2008a). Como exemplo disso, já na década de 40, percebe-se o “apagamento” dos contornos das ilhas do Pina, que começaram a se unir por conta dos sucessivos aterros realizados principalmente pelos seus habitantes (imagem 32 e Imagem ). Além disso, por
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esse mesmo motivo, já havia ocorrido uma diminuição drástica das áreas de mangue e verdes da região. As novas avenidas que passavam pelo bairro e as suas novas edificações também ajudaram a alterar a paisagem primeira do local. (SILVA, 2008a).
Imagem 32 - Perspectiva do Pina na década de 1940. Em destaque, Igreja Matriz do Rosário (Igreja do Pina) na Avenida Herculano Bandeira, construída em 1932. Nesse período, a paisagem já havia sido bastante alterada e os contornos das ilhas já se apagavam por conta dos sucessivos aterros realizados. Perceber os primeiros arruamentos bem consolidados no bairro do deste bairro. Fonte: Pinterest Ana Maria Costa Fraga, [20--].
Dentre as construções de maior relevância realizadas nesta época no Pina, tem-se a sede do DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens), inaugurado em 1959, nas proximidades das ocupações da Brasília; a Fábrica da Bacardi, que começou a ser construída nesse mesmo ano a oeste dos limites do bairro, funcionando a partir de 1961 (BARTHEL, 1959); e o Cinema Atlântico50, inaugurado anos antes, na década de 40, no atual cruzamento da Avenida Conselheiro Aguiar com a Herculano Bandeira, sendo um importante equipamento cultural para a região. Em Brasília Teimosa, nos anos 60, criou-se a Igreja Católica da Comunidade, localizada onde hoje é a Rua Guarajuba (SILVA, 2008a).
49
A Paisagem vista como ”Meio Ambiente Material e Vivo das Sociedades Humanas”, abordado na segunda porta de Besse (2014), 50 O cinema era do grupo Luiz Severiano Ribeiro, e foi construído em estilo Art Decor. Em 1985, foi adquirido pela prefeitura, que o transformou no Teatro Barreto Júnior (SILVA, 2008a).
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Imagem 33 - Perspectiva de Brasília Teimosa e Pina em 1967. No plano central a Ponte Agamenon Magalhães e a Avenida Antônio de Góes. Em segundo plano, à esquerda, o edifício do DNER, e à direita, o Clube Líbano Brasileiro. Ao fundo, Brasília Teimosa e Pina, com a sua paisagem modificada pelos arruamentos consolidados. Ainda observa-se a presença da vegetação e dos coqueirais, mais em quantidade muito menor aos originais. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016.
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2.2.2 Décadas de 1970 e 1980: daqui não saio, daqui ninguém me tira Nas décadas de 70 e 80, Boa Viagem se tornou um bairro ainda mais valorizado economicamente. Nesses anos, se intensificou o seu processo de adensamento e verticalização, muitas vezes por meio de demolições das casas residenciais da Avenida Beira-Mar para a construção de edifícios em altura, gerando um processo de renovação arquitetônica nesse período (ALVES, 2009). Essas mudanças foram facilitadas por uma alteração na legislação51, que tornou o coeficiente de aproveitamento do bairro52 maior do que em todas as outras partes da cidade, o que aumentou o interesse do mercado imobiliário pelo seu território (ALVES, 2009). Acompanhando esse movimento, para servir ao público abastado que residia nessa localidade, equipamentos de grande porte começaram a nela se instalar, como por exemplo, o Shopping Center Recife, criado em 1980, numa porção sul de Boa Viagem (ALVES, 2009). Grandes empreendimentos hoteleiros também surgiram no local, sendo em sua maioria, considerados de alto padrão53 (SILVA, 2013). Todos esses fatores alteraram
Imagem 34 – Praia de Boa Viagem na década de 1970. Neste momento já é possível observar um aumento considerável na verticalização local. No canto direito, ao centro, se vê o Aeroclube. Fonte: SkyscraperCity, 2010. 51
Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS). Lei 14.511 de 17/01/83 (ALVES, 2009). O coeficiente máximo determinado foi de 3,3 (ALVES, 2009). Segundo essa lei, esse coeficiente consiste na área máxima para construção permitida, que corresponde à área do terreno multiplicada por esse índice (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1996). 53 Como, por exemplo, o Recife Palace, o Mar Hotel, o Hotel Savaroni, o Internacional Lucssim Hotel, o JPM Turismo Hotel, o Vila Rica e o Idealy Hotel, a maioria deles, considerados de alto padrão (SILVA, 2013). 52
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drasticamente o gabarito e a densidade da área, modificando drasticamente a sua paisagem e o seu skyline (mapa 14, 15, 16 e 17; mapa esquemático 5, imagem 34 e 35) (ALVES, 2009).
Imagem 35 – Cartão postal da Avenida Boa Viagem verticalizada na década de 1970. Fonte: SkyscraperCity, 2010.
O aumento da população54 nessas décadas, juntamente com o provimento de infraestrutura pelo poder público, fizeram com que as ocupações de Boa Viagem se expandissem para o seu interior, deixando de se concentrar somente na sua Avenida Beira54
Nos anos 70, a população de Boa Viagem já era de 158.442 habitantes, tendo um aumento de 104%, em relação à década anterior (ALVES, 2009).
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mar (ALVES, 2009) (mapa esquemático 5). É nesse espírito que, na década de 70, são construídas duas novas Avenidas de grande porte cortando o bairro: a Avenida Conselheiro Aguiar, e a Avenida Domingos Ferreira. Em ambos os casos foi necessária a desapropriação de muitas residências, principalmente as de uma população de baixa renda (SILVA, 2008b). Em 1978, completando o conjunto viário local, foi construída a Ponte Paulo Guerra, que liga o Cabanga à Avenida Herculano Bandeira (antiga Avenida de Ligação), fazendo a conexão anteriormente estabelecida pela Ponte do Pina (ALVES, 2009) (mapas 14 e 15; imagem 36Imagem ). Mais uma vez, percebe-se que a criação dessas novas vias, juntamente com o crescimento do número de edificações e de equipamentos instalados na região, fazem parte de um projeto de paisagem que tenta se apresentar simbolicamente para a cidade através de um status de distinção social.
Imagem 36 – Postal retratando a Ponte Agamenon Magalhães e Bairros do Pina e Brasília Teimosa ao fundo, 1971. Fonte: Fotolog TC2, 2008.
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Mapa 14 – Ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1975. 1) Arrecifes; 2) Área do futuro Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Avenida Antônio de Goes; 6) Avenida Herculano Bandeira; 7) Avenida Beira-Mar; 8) Aeroclube; 9) Ilha de Santo Antônio e São José; 10) Bairro do Recife. Fonte: CONDEPE/FIDEM.
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Mapa 15 – Detalhe das ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1975. 1) Arrecifes; 2) Área do futuro Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Avenida Antônio de Goes; 6) Avenida Herculano Bandeira; 7) Avenida Beira-Mar. Fonte: CONDEPE/FIDEM.
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Mapa 16 – Ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1985. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Ponte Paulo Guerra; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida Beira-Mar; 9) Avenida Conselheiro Aguiar; 10) Avenida Domingos Ferreira; 11) Aeroclube; 12) Ilha de Santo Antônio e São José; 13) Bairro do Recife. Fonte: CONDEPE/FIDEM.
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Mapa 17 – Detalhe das ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1985. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Avenida Antônio de Goes; 5) Avenida Herculano Bandeira; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida Beira-Mar; 9) Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: CONDEPE/FIDEM.
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É interessante observar como a construção das grandes avenidas, viadutos e pontes que passam pelo Pina segregaram a sua população de baixa renda. Nesse bairro, a divisão entre pobres e ricos, desde essa época, é claramente feita por esses elementos viários, que acabaram por segregar fisicamente na paisagem as diferentes classes sociais. Também se nota que o conjunto viário construído ao longo desse século isolou Brasília Teimosa do restante do território da região, a “confinando” no triângulo de sua península (mapa 16; mapa esquemático 5) (MAGAROTTO et al., 2013). As obras viárias realizadas nessas décadas, assim como as feitas anteriormente, atenderam prioritariamente a uma demanda do Bairro de Boa Viagem, que a esse ponto, já começava a se expandir para os limites do Pina. A necessidade de sua expansão, juntamente com a desativação da Rádio Station no início da década de 80 (SAMPAIO, 2017), fizeram com que, cada vez mais, esse bairro de passagem viesse a se tornar de interesse do mercado, que queria incorpora-lo à sua dinâmica construtiva, caracterizada por edificações verticalizadas de alta renda. Esses fatores fizeram com que, nessa época, a paisagem dos dois bairros começasse a tender a se homogeneizar (SILVA, 2008b). Nesse contexto de alta especulação imobiliária, a luta da população humilde pela permanência em suas casas continuava e se fortalecia. Assim, os conflitos e os comportamentos praticados em relação a esses locais ocupados pelos pobres começavam a se agravar. Para o mercado, essas áreas simbolizavam a oportunidade de expansão de seus domínios e da geração de lucros através de novos empreendimentos. Para a gente simples que ali habitava, a sua permanência significava não somente a perpetuação de suas práticas sociais e das relações afetivas já
“Sabemos bem que nossa área torna-se cada dia mais cobiçada por sua localização. Isso não é culpa nem mérito nosso: foi a necessidade da sobrevivência que nos colocou aqui (...). E é pelo mesmo motivo de sobrevivência que nós temos de ficar aqui, perto das riquezas naturais do mar, e com acesso mais fácil ao emprego e trabalho no Centro e em Boa viagem” (Manifesto de Brasília Teimosa, 1979 – BRASÍLIA, 1979)
estabelecidas com aquela paisagem, mas também a manutenção de uma subsistência ligada a ela e aos seus elementos, como o mar e a natureza, e a sua localização dentro da cidade, próxima ao centro e as oportunidades econômicas vindas da proximidade com as classes sociais mais altas. Sobre isso, em 1979, por exemplo, foi fundada a União dos Moradores do Pina (UMP), que tinha como objetivo principal se articular para a conquista da posse das terras e lutar contra os que ameaçavam a existência das comunidades do bairro55. A sua atuação mais efetiva ocorreu a partir dos anos de 1983 e 1984, quando do nascimento do Projeto Pina, que tinha a proposta de defender essas causas e trazer melhorias para o local56. (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1988). 55
Santa Casa de Misericórdia, União, Marinha, empreiteiras, entre outros (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1988). 56 “O Projeto Pina foi concebido para ser uma Ação Global e Integrada, envolvendo todas as dimensões da vida no bairro. Legalização da terra, serviços de drenagem e pavimentação, habitação, educação, saúde, lazer e
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Em relação a essa luta, é de se destacar as diferenças existentes entre as comunidades do Pina e Brasília Teimosa. Inicialmente, houve uma grande dificuldade da população deste primeiro bairro em se articular em busca de melhores condições de vida e de permanência coletiva. Isto se deu por dois motivos principais: o primeiro se refere ao assistencialismo, compra de votos e questões dessa natureza política (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1988); e o segundo pelo fato de, desde o início, o bairro ter sido ocupado e transformado de maneira individual, por meio de ações pontuais, sem integração, muitas vezes chegando a ocorrer conflitos pela terra entre os próprios moradores. Essa realidade contrasta com a da Brasília, que teve “(...) não podemos admitir que se destruam valores que dificilmente ainda se encontram na sociedade de hoje e que marcam profundamente nossa vivência: boa vizinhança, ato grau de fraternidade, espírito de luta e, apesar dos pesares, alegria de viver! (...) Por que tornar tão difícil para os trabalhadores a possibilidade de ter, pelo menos, um canto onde tranquilo, repousar o corpo da batalha de cada dia pela sobrevivência?” (Manifesto de Brasília Teimosa, 1979 – BRASÍLIA, 1979)
sua ocupação dada por meio de invasões coletivas, tendo como objetivo comum a obtenção de melhorias para o seu território e o direito à permanência (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1988). Ou seja, a sua população conseguiu se reunir mais efetivamente57 como grupo e articular melhor suas ações, de maneira mais organizada e engajada afetivamente. É importante ressaltar o papel das entidades religiosas (católicas, protestantes, centros espíritas e de umbanda) no apoio às lutas e reivindicações da população carente do local, tanto do Pina quanto de Brasília Teimosa (BARTHEL, 1989).
Essa última comunidade, além de conseguir um forte apoio da Igreja Católica58, foi (BRASÍLIA, 1979) apoiada por pessoas e grupos de esquerda importantes, como por exemplo, funcionários da
SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e alguns Partidos Políticos, enquanto os empreiteiros tinham o suporte do governo local (ALVES, 2009). É de se perceber que o Conselho de Moradores do bairro permanecia forte na defesa dos anseios da população, perdendo um pouco da sua força apenas durante os anos do arrocho da ditadura militar, mas sem deixar de existir em nenhum momento59 (BRASÍLIA TEIMOSA, 1998). geração de emprego e renda, em um processo contínuo de negociação entre Prefeitura e Comunidade” (Centro Josué de Castro, 1993, p.10). Juntamente com técnicos da URB (Empresa de Urbanização do Recife), a comunidade construiu propostas para o bairro, que foram posteriormente aprovadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social). Com o projeto, houve a construção de escolas e creches, além da pavimentação de ruas e becos (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1988). 57 Ver as discussões do primeiro capítulo desse trabalho, principalmente no que se refere às ideias de Conan (1994). 58 O apoio da igreja católica na comunidade se deu a partir da “Teologia da Libertação”, principalmente através da famosa figura do Padre Jaime. Ela é uma ramificação do pensamento católico preocupada com a realidade humana do presente. Assim, a nível local, os religiosos ligados a essa corrente também buscavam a libertação da população de Brasília Teimosa por meio da conquista de seus direitos, lutando lado a lado com ela (VANCONCELOS, 2011). 59 Durante o governo de Gustavo Krause (1979-1982), criou-se paralelamente a União dos Moradores de Brasília Teimosa, que terminou gerando dissidências dentro da comunidade, mas foi extinta juntamente com o final da gestão deste prefeito (BARTHEL, 1989).
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Nesse mesmo espírito de engajamento na busca pela permanência, em 1974, a Brasília, com a ajuda da UFPE, fez um recenseamento60 no bairro com o objetivo de denunciar ao poder público as péssimas condições de habitabilidade em que se encontrava, e com isso conseguir melhorias infraestruturais e a posse de terra para os seus moradores (BARTHEL, 1979). Nessa pesquisa foi identificada uma população de 18459 pessoas distribuídas em 3488 famílias (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA DO PINA, 1974). Apesar dos apelos da comunidade, nessa época, alguns projetos foram feitos na tentativa de expulsa-la. Como exemplo disso, em 1974, a URB (Empresa de Urbanização do Recife) apresentou um plano urbanístico para a área. Para a sua execução, seria necessária a retirada de quase toda a população do local, a realocando para uma outra região menos valorizada da cidade. A proposta era voltada para o turismo de alto padrão, e previa a implantação de grandes equipamentos dessa natureza, além de comércios, serviços e habitacionais em altura (dez pavimentos) voltados para a classe média alta61. Apenas um pequeno grupo de pescadores, 200 dos 2000 existentes na época, permaneceria morando no bairro. Eles seriam mantidos de forma a atender às demandas turísticas, a partir de uma apropriação da cultura e da história do lugar, as folclorizando, ou seja, as esvaziando, para atender a interesses financeiros (ALVES, 2009) (imagem 37 e 38). Ao mesmo tempo em que se apresentava essa proposta, o CONDEPE (Conselho de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco) elaborava um projeto de requalificação da orla da Brasília Teimosa, que a integraria com as orlas do Pina e Boa Viagem (ALVES, 2009), demolindo os mocambos existentes. Se o projeto tivesse sido realizado, claramente acabaria agravando ainda mais a pressão do mercado imobiliário sobre o bairro. Posteriormente, em 1975, a APL (Assessoria de Planejamento), hoje a atual Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (SMAS), propôs a implantação de um outro plano voltado para o turismo. A ideia era levar um hotel da rede internacional Holliday Inns INC. para a área. Ele teria 300 apartamentos e grandes equipamentos de lazer, entre eles um centro de convenções, um shopping center e uma grande área de estacionamento (ASSESSORIA DE PLANEJAMENTO LIMITADA, 1975). Posteriormente, com a divulgação do projeto, outros grupos hoteleiros também se interessaram em investir no 60
Este recenseamento foi feito entre março e junho de 1974 (CONSELHO DE MORADORES DO PINA, 1974). O local seria dividido em 8 (oito) setores, 2 (dois) residenciais e 6 (seis) voltados para as atividades turísticas. Os setores turísticos seriam: o Hoteleiro (com estacionamento, balneário, equipamentos de lazer), o Turístico Recreativo (aquário, Clube Esportivo e Marinas), o Cultural (Cinema, Teatro, Laboratório de Ciências do Mar vinculado à UFPE e Centro de Convenções), o comercial (comércios e serviços voltados para a população de renda alta do setor de apartamentos, como por exemplo, bancos e shopping centers), o Pesqueiro (comércio voltado para o Terminal Pesqueiro), o de Apoio (Terminal Fluvial, Bares, restaurantes, Boates, entre outros). Dos residenciais, o primeiro era o dos apartamentos de luxo verticalizados e o segundo o da área pesqueira (para onde seriam realocadas as famílias de pescadores que permanecessem no local, e alguns serviços básicos de suporte a elas, como escolas e posto de saúde) (EMPRESA DE URBANIZAÇÃO DO RECIFE, 1974). 61
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local. Dessa forma, revelou-se mais uma vez a insistência do mercado, apoiado pelo poder público, em transformar a comunidade em um polo hoteleiro verticalizado (ALVES, 2009).
Imagem 37 – Planta Esquemático do projeto proposto pela URB para a área de Brasília Teimosa em 1974.Fonte: ALVES, 2009, p.99.
Claramente, a insistência no uso turístico do bairro se deu, além de seu potencial paisagístico, por sua proximidade ao aeroporto, ao centro da cidade e ao segundo centro elitizado que já se consolidava em Boa Viagem, se conectando também com os equipamentos e atrativos turísticos existentes nesses locais. Percebendo a clara ameaça a sua permanência, a comunidade rejeitou duramente
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os planos propostos. Em resposta a essa reação dos moradores, em 1979, com o discurso de elevar os “padrões habitacionais dos moradores” sem retira-los do local, o governo do estado, através da URB, apresenta o projeto do Urbanista Paranaense Jaime Lerner para a Brasília (LERNER, 1979) (imagem 39 e 40). Ainda que a permanência da população teoricamente fosse uma premissa do projeto, propondo-se realocações
“Ô Josué, nunca vi tamanha desgraça, quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça (...) Da lama ao caos, do caos à lama, um homem roubado nunca se engana” (Trecho da Música “Da Lama ao Caos” – Nação Zumbi)
somente para a antiga Vila da Prata e a Beira-mar, os locais mais precários da comunidade na época, percebeu-se que as mudanças implantadas na área, entre elas, e principalmente, a inclusão de marinas, equipamentos turísticos, e, de uma maneira geral, “cenários” voltados às classes mais abastadas, geraria a expulsão branda no bairro, fazendo com que ele gradativamente fosse apropriado pela elite. Por prever e temer essas consequências, a população teimosa também rejeitou mais essa proposta (BARTHEL, 1989).
Imagem 38 – Corte esquemático da orla marítima de Brasília Teimosa segundo o projeto de Jaime Lerner de 1979. Fonte: LERNER, 1979, p.68.
Imagem 39 – Perspectiva esquemática da orla marítima de Brasília Teimosa segundo o projeto de Jaime Lerner de 1979. Fonte: LERNER, 1979, p.80.
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“(...) muitas vezes, a melhor solução técnica não será a solução mais indicada para os interesses dos moradores. Porque determinadas medidas de urbanização podem significar uma espécie de expulsão branca, de expulsão indireta. Um determinado processo de urbanização pode conseguir em três ou cinco anos a remoção, que até hoje, não foi possível realizar” (Manifesto de Brasília Teimosa, 1979 – BRASÍLIA, 1979). “Os tubarões continuaram as suas tentativas para tirar o povo. Dessa vez, através de PROJETOS dos governos que queriam expulsar os moradores, transformando nosso bairro em área de turismo, com HOTÉIS, BOSQUES E A CONTINUAÇÃO DA AVENIDA BOA VIAGEM. Foram anos difíceis; poucos moradores tinham coragem de construir sua casinha em alvenaria. Foi aí que o CONSELHO desafiou o poder público. “NÓS TEMOS CAPACIDADE DE FAZER UM PROJETO DE URBANIZAÇÃO DO BAIRRO, SEM TIRAR NINGUÉM DAQUI” (Folheto da Chapa 2 para as eleições de 1995 do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa – CHAPA 2 TEIMOSINHO, 1995).
Sobre esses projetos, cabe colocar algumas questões para discussão. Na proposta da APL, destaca-se sempre a viabilidade “técnica-econômica-financeira” do empreendimento (ASSESSORIA DE PLANEJAMENTO LIMITADA, 1975), mas em momento algum se considera a comunidade que ali habita, com a sua história, cultura, relações e necessidades existenciais e de subsistência. Na primeira proposta da URB, de 1974, se toca nas ocupações preexistentes no local apenas para fins de dimensionamento do custo de desapropriações (EMPRESA DE URBANIZAÇÃO DO RECIFE, 1974). É importante ressaltar que neste último caso, a mídia também deu apoio ao projeto, sempre enaltecendo os seus aspectos econômicos e turísticos positivos62, reproduzindo os discursos e argumentos dos empreendedores. No memorial do projeto de Lerner apresentado à prefeitura, estavam contidas as “proposições básicas visando o aproveitamento urbanístico de Brasília Teimosa” (LERNER, 1979, apresentação, grifo nosso). Fica subentendido que por esta ser uma área ocupada e habitada por uma população pobre, não se considera que ela estaria sendo aproveitada, já que ela não está sendo “aproveitada”, para o turismo ou para gerar capital para os grupos dominantes da cidade. Como se poderá ver no próximo capítulo, essa ainda é uma fala recorrente de alguns grupos quando se defende a expulsão da Brasília atualmente.
Em resposta ao projeto de Lerner, o último apresentado pela URB, e também levando em consideração a construção do Iate Clube em 1977, e o boicote da linha de ônibus que se recusava a atender a população visando dificultar a permanência da comunidade no local, os teimosos se mobilizaram. Em novembro de 1979, através do Conselho de Moradores, foi apresentado à prefeitura o Projeto Teimosinho63 (ou Projeto de Urbanização Comunitária) (BRASÍLIA, 1998), representando os 25000 moradores residentes no local na época (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979). Um episódio que também impulsionou a população a esta luta foi a construção do chamado “Muro da Vergonha”, feito pelo Iate Clube durante a madrugada, de forma 62
Como exemplo disso, observa-se um artigo de jornal com o título “Brasília Teimosa: Presente da Natureza ao Turismo Recifense”, anunciando projeto apresentado pelo URB em 1974. 63 No período do projeto, nas décadas de 70 e 80, a militância das mulheres da comunidade foi fundamental para a conquista das melhorias. Elas representavam a maioria massiva das pessoas que estavam engajadas nesse processo (Luciberto Xavier, 2017).
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“sorrateira”, e com o apoio da URB, privatizando a Praia do Buraco da Véia (BRITO; MARGARITA, 2016). Esta sempre foi um local muito importante para o lazer e a sociabilidade da população ali residente, sendo um motivo de orgulho para os moradores, símbolo da comunidade, marcante, inclusive, na paisagem local (TEIMOSIA... 2013). Para defender os valores simbólicos e as relações afetivas que tinham com esse lugar, em menos de uma semana, os Teimosos coletivamente, com as suas próprias mãos, derrubaram essa divisão e reconquistaram a sua praia64 (imagem 40). Enquanto o Teimosinho estava sendo elaborado, de forma deliberativa, um manifesto foi apresentado como forma de dar
“A Praia do Buraco da Véia/ É do povo de Brasília/ Ninguém vai botar as mãos nela/ Seu Iate pode dar o pira Se o Iate está querendo briga/ O povo vai se reunir/ Teremos nossas mãos unidas/ E vamos ver quem vai sair Tu... Tu... Tu... Tu... Tu-barão/ Tá querendo água salgada/ Pois pode se virar lá pra Candeias/ Não pense que a Teimosa é de nada/ Nós temos sangue quente nas veia Bem feito, quem foi que te mandou/ Tu botar a mão no Buraco da Véia (Bis).”
uma resposta às pressões para a expulsão do bairro que ocorriam com força naquele momento. A intenção era apresenta-lo na visita do então presidente João Figueiredo à comunidade, mas esta não ocorreu, já que o evento foi cancelado. Ainda assim, o documento foi publicado na íntegra em Jornal e exposto para a
(Marchinha cantada pelos moradores nas suas lutas. Transcrita em um folheto da Chapa 2 para as eleições de 1995 do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa – CHAPA 2 TEIMOSINHO, 1995)
sociedade (ASSIES, 2017)65. “Sabemos ampla, da cobiça que desperta a As propostas contidas no plano apresentado tinham uma abordagem social, nossa área nos exploradores de terras ou nos possuidores de melhor condição buscou atingir foram a legalização da posse da Terra de uma maneiraeconômica” segura e definitiva; as (...) melhorias na infraestrutura da comunidade como um todo e nos imóveis individualmente “Cremos que toda família deveria ter um (com atenção especial aos da beira-mar e os da antiga Vila da Prata); a criação de novos lugar próprio e seguro para situar seu equipamentos de saúde e educação, bem como a geração de empregos paralar.osUm moradores; próprio lugar garantido. (...) É isso mesmo, terra para os uma que não tem terra, e a realização das remoções necessárias, ao mesmo tempo em que se fornecesse e de graça, sem ônus, pois a terra, Deus solução possível para o financiamento de residências pela populaçãodeu do bairro (CONSELHO sem tirar um só centavo de DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979) (imagem 41 a 47). As ninguém.” propostas contidas no (...) plano apresentado tinham uma abordagem ampla, social, política, cultural e econômica. Os “Na maioria somos gente pobre. Então a objetivos e as melhorias principais que o Teimosinho buscou atingir nossa foramurbanização a legalização devedaser pra gente Sem luxos, sem da autopistas. Mas posse da Terra de uma maneira segura e definitiva; as melhoriaspobre. na infraestrutura com o conforto que nos tem sido negado comunidade como um todo e nos imóveis individualmente (com atenção especial aos da durante esses longos e penosos anos” beira-mar e os da antiga Vila da Prata); a criação de novos equipamentos deBrasília saúdeTeimosa, e (Manifesto de 1979 – BRASÍLIA, 1979). educação, bem como a geração de empregos para os moradores; e a realização das
política, cultural e econômica. Os objetivos e as melhorias principais que o Teimosinho
remoções necessárias, ao mesmo tempo em que se fornecesse uma solução possível para o 64
Essa história foi recorrente durante as entrevistas com os moradores, sendo contada com mais riqueza de detalhes por Wilson Lapa, atual líder do Conselho de Moradores e José Bezerra dos Santos (Zezinho), proprietário do restaurante Império dos Camarões, que afirmaram ter participado do ato. 65 Alguns de seus trechos estão sendo colocados ao longo do presente capítulo.
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financiamento de residências pela população do bairro (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979) (imagem 41 a 47).
Imagem 40 – Protestos contra o “Muro da Vergonha” feito pelo Iate Clube. Fonte: Diário de Pernambuco. Recife, 23 jan. 1980. Local, p. 5.
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Imagem 41 – Foto artística de Benoit Doncoeur, em 1983, mostrando o bairro de Brasília teimosa e a sua precariedade. Fonte: Site Benoit Doncouer, [20--].
Imagem 42 – Brasília Teimosa no final dos anos 70. Ao centro, o icônico Padre Jaime, militante do bairro, provavelmente na antiga rua “M”, atual Dragão do Mar. A rua de barro reflete a situação do bairro como um todo nesse período. Perceber também as casas de madeira, uma maioria na época. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa.
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Imagem 43 – Mais uma foto da rua “M”, atual Dragão do Mar entre a década de 70 e 80. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016.
Imagem 44 – Foto Aérea da área do Pina e Brasília Teimosa tirada em 28/12/1979. Foto de Sidney Waismann. Percebe-se a clara divisão entre os dois bairros feita pelas avenidas Herculano Bandeira e Antônio de Goes. Fonte: Biblioteca da URB { 148 }
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Imagem 45 – Foto Aérea de Brasília Teimosa tirada em 28/12/1979. Foto de Sidney Waismann. Ao fundo, o Iate Clube do Recife. Pode-se ver a força da linha dos arrecifes na paisagem. Fonte: Biblioteca da URB.
“Depois de muita luta, o PROJETO TEIMOSINHO foi aprovado. O grito de alegria – BRASÍLIA É NOSSA! – explodiu Imagem 46 – Brasília Teimosa no ponto em que a área da colônia se encontra com as avenidas Antônio de nas primeiras Goes passeatas de bairro que Foto aérea tirada em 28/12/1979. Foto de Sidney Waismann. Fonte: Biblioteca e Herculano Bandeira. URB. houveram nas da ruas da cidade” (Folheto da Chapa 2 para as eleições de 1995 do { 149 } Conselho de Moradores de Brasília Teimosa – CHAPA 2 TEIMOSINHO, 1995)
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Imagem 47 – Foto aérea de Brasília Teimosa e Pina. Em primeiro plano, o Iate Clube e os arrecifes, que compõem uma grande linha de força. Foto aérea tirada em 28/12/1979. Foto de Sidney Waismann. Fonte: Biblioteca da URB.
Apresentando o projeto, a comunidade conseguiu, com o apoio da OAB (Ordem dos advogados do Brasil) e do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), que a SEHAB (Secretaria Estadual de Habitação de Pernambuco), através do PROMORAR66 (Programa de Erradicação da Sub-habitação), o financiasse com recursos do BNH (Banco Nacional da Habitação). A proposta foi feita de forma comunitária, totalmente participativa, onde o Conselho de moradores deveria controlar as ações e a execução das obras (BRASÍLIA TEIMOSA, 1998). Não era um produto acabado, mas sim, proposições preliminares e diretrizes que norteariam o processo de requalificação da comunidade. A mobilização da população para a participação no planejamento do projeto foi intensa e aconteceu de várias formas. Além de terem sido feitas muitas reuniões e 66
Em junho de 1979 foi criado o PROMORAR (Programa de Erradicação da Sub-habitação), do governo federal. Com ele, procurou-se legitimar assentamentos precários e favelas sem a realocação da população neles residentes, criando mecanismos de adaptação às normas da cidade formal. Além de serem feitas melhorias infraestruturais nos bairros, também poderiam ser concedidos empréstimos aos moradores para a melhoria de suas casas (ALVES, 2009).
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assembleias no Conselho de Moradores67, a cultura popular também foi fortemente utilizada como instrumento de luta: foram distribuídos folhetos e jornais com o personagem fictício “Teimosinho”, e o assunto foi abordado através da música e de peças de teatro (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979; SILVA, 2008a). A arte era um meio de captação e instrução de pessoas muito forte68 (imagem 48 a 51). A posse da terra foi requerida como ponto inicial de implantação do projeto, pois se temia que com as melhorias feitas na área, o bairro se valorizasse a ponto de se tornar mais fácil a expulsão dos moradores. O provimento de habitações, de condições de aquisição de imóveis e de reassentamentos para a população dentro da área da própria comunidade também foi uma premissa bastante importante na proposta69 (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979).
Imagem 48 – Cabeçalho do Jornal Teimosinho, distribuído pelo Conselho de Moradores. O personagem desenhado se chama “Teimosinho”, e ilustrou os documentos, jornais e folhetos da comunidade até os anos 2000. Fonte: acervo pessoal de Celeste Maria Valença de Mendonça.
67
A aprovação final do projeto foi feita em um plebiscito que contava com mais de 50% dos moradores do bairro (ASSIES, 1991). 68 Assunto abordado principalmente com os entrevistados Ladimir Ferreira da Silva (Mika), que preside atualmente o Ballet Deveras e dirige a peça “Daqui não saio, daqui ninguém me tira” (contando a história do bairro), e o ex-líder comunitário Luciberto Xavier Tiradentes de Macedo (Piaba), que participaram ativamente desse processo na época. 69 Sobre isso, um dos pontos principais requeridos foi o de que lotes vazios ou imóveis desocupados deveriam ser direcionados para a população removida da antiga Vila da Prata e da Beira Mar, na época, como dito, as áreas mais precárias do bairro (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979). Os terrenos aforados a Roberto Maçães, proprietário do Iate Clube, teriam de ser expropriados e usados para fins do projeto, assim como as benfeitorias invadidas pelo Capitão João Terra (figura bastante conhecida no bairro, que se apropriou de terras sob domínio do porto) (FORTIN, 1987 in BOTLER, 1994). Um outro item levantado foi a tentativa de facilitação da compra dos imóveis por inquilinos que morassem de aluguel nas casas do bairro. Também era importante para a permanência da comunidade que, a venda ou transferência das benfeitorias aforadas somente pudessem ser feitas a pessoas com o mesmo nível socioeconômico dos moradores da comunidade, evitando assim a ação do mercado imobiliário no local (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979).
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Imagem 49 – Comício durante as eleições do Conselho em 1983, mostrando o engajamento da população nas causas da comunidade. Em destaque, Osmar, uma liderança do bairro. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa.
Imagem 50 – Multidão na rua protestando durante o carnaval na década de 1970, provavelmente, em frente à igreja católica do bairro. Nem mesmo nesse período a população esquecia da luta, se utilizando da arte e do humor para agregar os moradores. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. { 152 }
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Imagem 51 – Multidão na rua protestando, provavelmente na década de 70. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa.
Sobre a infraestrutura, até aquele momento, todas as melhorias conseguidas para o bairro foram feitas através do esforço dos próprios moradores. Os padrões mínimos de habitabilidade foram negados por muito tempo por parte do Poder Público, tanto em Brasília Teimosa, como nas outras comunidades do Pina e Boa Viagem, porque, na medida em que fossem dadas melhores condições a esses locais, seria cada vez mais difícil expulsar a população de baixa renda que os ocupavam (ALVES, 2009). Sobre esse aspecto, as principais reinvindicações do bairro eram em relação ao esgotamento sanitário, à drenagem e à qualidade das vias, à água, ao telefone, à iluminação e ao transporte público70 (SILVA, 2008a), sendo esses dois primeiros os principais problemas existentes. As áreas da antiga Vila da Prata e da Beira-mar, como já dito, eram as mais precárias, tendo as piores condições de habitabilidade da comunidade, tanto em relação à falta de saneamento, quanto à própria qualidade das casas. Pedia-se que na orla fossem feitas edificações tipo palafita71, que abrigassem usos comunitários. Também foi requerida 70
No recenseamento feito pela comunidade em 1974, foram quantificadas as péssimas condições de saneamento básico. Apesar de na época, por exemplo, uma grande parte já ter energia elétrica (87%), a maioria ainda não tinha água encanada (73%) (CONSELHO DE MORADORES DO PINA, 1974). 71 Reproduzindo essa forma de construir já instituída no bairro. Se tivessem sido feitas, seriam uma forma promover as melhorias na orla sem perder a imagem e a referência daquelas construções na paisagem da Brasília ao longo dos anos.
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que além da reforma das vias secundárias existentes, se fizesse uma principal para servir ao bairro como eixo de serviços e infraestrutura em geral (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979) (imagem 52 a 55).
Imagem 52 – Moradores e o ônibus Brasília – Pina na década de 1970. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa.
Imagem 53 – Carroça de água na década de 1980. Fonte: BRASÍLIA..., 198-.
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Imagem 54 – Palafitas da orla marítima no final dos anos 80. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa.
Imagem 55 – Palafitas da orla marítima no final dos anos 80. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa.
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Imagem 56 – Pescadores em meio aos Barracos da Brasília em 1989. Fonte: Favelados...1989.
Para ajudar a solucionar os problemas econômicos dos teimosos, sugeriu-se que as obras do projeto fossem feitas com mão-de-obra local72. Também se pediu que, para valorizar os hábitos econômicos da comunidade, fossem criadas cooperativas e agências de emprego para trabalhadores informais, além de um mercado de peixe (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979; MOURA, 1990). Este último, além de valorizar e reafirmar a relação afetiva e econômica da comunidade com o mar, também seria um importante em relação à subsistência dos moradores (imagem 55). Ao longo dos anos, pouco-a-pouco a comunidade teve muitas de suas reivindicações do Teimosinho atendidas e, em geral, a maioria dos problemas de saneamento básico foi solucionada (BOTLER, 1994). Houve um projeto de drenagem, por exemplo, que resolveu essa deficiência em grande parte do bairro. Além disso, através do PROMORAR, várias famílias conseguiram empréstimos para fazer melhoramentos em suas casas, melhorando o padrão das moradias locais (BARTHEL, 1989) (imagem 57 e 58). 72
Ainda naquele recenseamento, foi constatado que 42% dos chefes de família tinham renda de menos de um salário mínimo (CONSELHO DE MORADORES DO PINA, 1974).
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Imagem 57 – Construção de casas em Brasília Teimosa em 1984. Fonte: Biblioteca da URB.
Imagem 58 – Construção de casas em Brasília Teimosa em 1984. Fonte: Biblioteca da URB.
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Após as melhorias infraestruturais ocorridas, observou-se uma consolidação de um percurso viário primário nas áreas centrais do bairro, local por onde passa o transporte público e onde consequentemente foi estabelecido o centro da Brasília, agregando boa parte de suas atividades comerciais e de serviços, as consolidando (mapa esquemático 6). Apesar das mudanças, o traçado original e as tipologias das edificações foram mantidos, bem como as formas condominiais de organização ali comumente estabelecidas (“becos”, travessas, entre outros) (BOTLER, 1994). Nos terrenos antes sob domínio de Maçães e João terra foram construídos um posto de saúde e uma creche. O mercado de peixe não foi concretizado (BARTHEL, 1989). Em 1982, com a saída do prefeito Gustavo Krause e o inicio do governo de Jorge Cavalcanti, o Projeto Teimosinho parou de avançar (BARTHEL, 1989). Em 1989, quando esse plano foi concluído oficialmente, o bairro contava com mais três novos assentamentos: a Vila da Prata, a Vila Moacir Gomes e a Vila Teimosinho (BOTLER, 1994) (mapa esquemático 6).
Imagem 59 – Vila da Prata em 1987. Fotografia de Valdir Afonso. Fonte: Biblioteca URB.
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Imagem 60 – Vila da Prata em 1987. Fotografia de Valdir Afonso. Fonte: Biblioteca URB.
A Vila da Prata foi estabelecida em 1982, em uma área antes pertencente a João Terra, ao norte do Areal Novo. Para ela foram realocadas famílias desalojadas após as reformas no tecido viário promovidas pelo Projeto Teimosinho. Houve a construção de 62 casas em lotes de 10x6. Em 1984, a Vila Moacir Gomes foi construída no terreno das oficinas da Portobras cedido pela Prefeitura do Recife. Ela alojou as famílias das palafitas da orla do bairro, e originalmente teve 119 casas criadas, sendo 55 delas duplex. O parcelamento e o dimensionamento do lote foram semelhantes nas duas vilas (BOTLER, 1994) (imagem 59 e 60). Mais tarde, em 1989, a Vila Teimosinho é inaugurada também em glebas que antes pertenciam à Portobras, recebendo moradores do Pina e a população das palafitas que se estabeleceu na orla de Brasília Teimosa depois da primeira realocação para a Vila Moacir. Após a sua construção, essa última vila sofreu mudanças significativas no padrão construtivo original das moradias, se tornando mais valorizada economicamente (BOTLER, 1994; SILVA, 2013).
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“Eu gosto da minha Brasília/ Com todas as maravilhas que ela tem A Praia do Buraco da Véia Os moradores e o Conselho também. Eu quero ver minha Brasília Com muito mais do que ela tem As ruas bem urbanizadas Eu olho a rapaziada As mulheres e crianças também” (Marchinha cantada pelos moradores nas suas lutas. Transcrita em folheto da Chapa 2 para as eleições de 1995 do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa – CHAPA 2 TEIMOSINHO, 1995)
Depois das obras de reestruturação da orla ocorridas na década de 80, apenas a praia da Brasília permanecia separada das suas vizinhas. A praia do Pina73 e a de Boa Viagem foram integradas através de uma iluminação e um tratamento paisagístico semelhantes (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1976). Mesmo após as realocações, o problema da construção das palafitas na orla teimosa era recorrente, visto que após o esvaziamento da área não foi feito, em nenhuma das vezes, um projeto de urbanização para ela (SILVA, 2013). Ainda que nem todas as solicitações do Projeto Teimosinho tenham sido atendidas, a realização do plano em si foi uma demonstração de como as simbologias provenientes do
habitar ditam o comportamento, as ações e a moral dos grupos sociais. Na prática, a partir da vontade de defender a sua moradia, a sua história e a perpetuação de seus hábitos no lugar onde se encontrava, houve um engajamento afetivo, teimoso e intenso da comunidade na luta por melhores condições de vida e por sua permanência. Pela resistência, a Brasília conseguiu fabricar grandes modificações em sua paisagem74. Porém, cabe perceber, que na contramão do processo que ocorria desde aquele momento no Pina e em Boa Viagem, mesmo com todas transformações que nela ocorreram, a Teimosa conseguiu conservar a sua essência, se atentando a quem a vivenciava e as suas necessidades materiais e afetivas, de forma que o seu território seguiu tendo a capacidade de abrigar fisicamente e sentimentalmente os seus moradores, se permitindo continuar a ser habitado. Dentre as solicitações não atendidas pelo Teimosinho, tem-se a regularização, tida como uma ação prioritária da proposta. Mesmo contra a vontade da população, os esforços do Projeto se concentraram principalmente e inicialmente na questão das melhorias infraestruturais, deixando em segundo plano a questão fundiária. Somente alguns poucos moradores conseguiram receber o seu título de posse75. 73
Essas obras de reestruturação da orla mudaram drasticamente o que ainda sobrava da Praia original do Pina. Com o argumento de que a população carente que habitava nas suas circunvizinhanças não tinha nenhuma área de lazer para usufruir na região, as dunas e a vegetação nativas foram tolhidas e substituídas por três quadras poliesportivas e de futebol até hoje existentes na Beira-Mar (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1976). 74 Ver as discursões do capítulo 1 deste trabalho, especialmente as considerações de CONAN (1994). 75 No final de 1979, por conta do Projeto, atendendo a solicitações da Brasília, a prefeitura, durante o Governo de Gustavo Krause, fez um novo pedido de aforamento para a área, requerendo a transferência da posse de terra para os moradores (URB, 1982). A solicitação foi aceita pelo SPU (Secretaria de Patrimônio da União), porém não englobou o bairro como um todo (BRASÍLIA, 1998; SILVA, 2013). Esse aforamento estabeleceu o prazo de 5 anos para a cessão da posse de terra para a comunidade (BRASÍLIA, 1998). Legalmente a entrega de títulos de posse aos moradores deveria ter sido feita por meio de escritura pública, porém, visto a proximidade com o período eleitoral, como forma de agilizar esse processo, a prefeitura
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O Projeto Teimosinho está inserido no contexto de fortalecimento das lutas populares e das associações de moradores durante a redemocratização do país na década de 1980. Também como reflexo disso, em 1983, a Lei de Uso de Ocupação do Solo da Cidade do Recife (LUOS)76, instituiu dentro do zoneamento da cidade as ZEIS77 (Zonas Especiais de Interesse Social), sendo Brasília Teimosa uma das primeiras 27 áreas recifenses a serem caracterizadas como tal (BOTLER, 1994). Ela e outras comunidades do Pina, como a do Bode, Beira-Rio e Encanta Moça, permaneceram e ainda permanecem no local onde se encontram hoje, em grande parte, graças à proteção conseguida através dessa classificação. Mais tarde, em 1987, a LUOS foi revisada e o PREZEIS78 (Plano de Regularização de Zonas Especiais de Interesse Social) foi incluído. Com ele é previsto um plano urbanístico para cada área ZEIS da cidade, fundando mecanismos de proteção e atuação sobre elas. É importante destacar que a sua estrutura e funcionamento foram inspirados pelo Projeto Teimosinho (ASSIES, 1991; SANTOS, 2011), pioneiro por tratar a concepção de diretrizes e planos de forma participativa e através da parceria entre a comunidade e o poder público. Através dessa lei, os canais de comunicação com os bairros na gestão desse planejamento são feitos através das Comissões de Urbanização e Legalização da Posse de Terra 79 (COMUL), e do Fórum do PREZEIS (ASSIES, 1991). A COMUL da Brasília foi instalada em 1987, dando um novo fôlego as discussões sobre a regularização para a comunidade (SILVA, 2013). Com as ZEIS e o PREZEIS, criaram-se mecanismos de inibição da especulação imobiliária, tais como a proibição do remembramento de lotes e da construção de edifícios com mais de três pavimentos (SILVA, 2008a; SILVA, 2013). Além disso, os planos desenvolvidos a partir da instituição desses instrumentos tiveram como base a flexibilização da legislação formal existente e da regularização fundiária às particularidades sob as quais essas áreas pobres foram construídas (ALVES, 2009).
resolveu redigi-los por conta própria. Em 1985, percebeu-se que alguns deles consistiam em escrituras particulares, não tendo validade jurídica. Posteriormente, somente alguns desses títulos puderam ser transferidos por escritura pública (BARTHEL, 1979; MOURA, 1990). Também em 1985, a cessão do aforamento da União foi renovada por mais cinco anos (BRASÍLIA, 1998). 76 Lei 14.511 de 17/01/83. Nessa lei também se extingue a área Rural do recife, e ela passa a ser considerada 100% urbana (ALVES, 2009). 77 Elas consistem em assentamentos habitacionais pobres, de formação espontânea e já consolidados, passíveis de regularização fundiária e integração ao tecido da cidade (BARRETO, 1990). 78
Lei 14.947/87 (BOTLER, 1994). A maior consolidação do PREZEIS se dá em 1990, com a Lei Orgânica do Município do Recife, e mais tarde, em 1991, com o Plano Diretor da Cidade (Lei 15.547/91). Em 1993, cria-se o Fundo Municipal PREZEIS (Lei 15.790/93), que capta e gere recursos destinados ás melhorias e regularizações das ZEIS (ALVES, 2009). 79 As COMULs são formadas por representantes da comunidade, do poder público e de organizações sociais (BOTLER, 1994; SANTOS, 2011).
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2.3 BRASÍLIA TEIMOSA SE CONSOLIDA 2.3.1 Década de 1990 a 2006: Formosa sim, Teimosa mais Ainda A década de 1990 foi um período de estabilização e consolidação das tendências apresentadas para Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa vividas nos anos 70 e 80. Após o adensamento e a verticalização feroz de Boa Viagem nesse período, o processo de urbanização do bairro começa a desacelerar. Também nessa época, o movimento de interiorização das ocupações da elite para além da avenida beira mar continua, porém de maneira mais lenta (MAGAROTTO et al., 2013) (mapa 18 e 20; mapa esquemático 6 e 7). Cabe lembrar que as comunidades pobres previamente existentes na região permaneceram em grande parte, porém tendo sido banidas definitivamente da orla e se alojando mais próximas dos terrenos de mangue (MAGAROTTO et al., 2013). Essa situação, que acontece tanto no Pina quanto em Boa Viagem, faz com que as diferenças socioespaciais entre os assentamentos da beira mar e das áreas mais internas desses bairros se expressem diretamente na paisagem, formando várias unidades discrepantes entre si. Com o adensamento e o esgotamento das áreas mais valorizadas da Beira-mar, começa-se a observar um segundo processo de renovação arquitetônica, onde edificações já verticalizadas são substituídas por outras mais novas e de maior gabarito. Já consolidado como local elitizado de primeira residência, Boa Viagem começa a apresentar uma tendência a se tornar também um centro comercial e empresarial (MAGAROTTO et al., 2013) (imagem 61, 62 e 63). Sabe-se que já no início dos anos 2000, os bairros de Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa estavam com mais de 50% do seu território construído (ALVES, 2009). Em 1996 a quantidade de edificações com mais de 10 pavimentos em Boa Viagem era de 43%, e em 2003, de 57%80 (SILVA, 2016). Esse aumento do adensamento, ocupação e verticalização nessas localidades na época, assim como nas outras anteriores, se deu com o aval do governo, que através de mudanças na legislação, permitiu que o espaço para a atuação do mercado fosse aberto (mapa 18 e 20; mapa esquemático 7). Como exemplo disso, em 1996, a partir das mudanças na Lei de Uso de Ocupação do Solo da cidade81, o coeficiente de utilização dos terrenos em Boa Viagem aumentou, sendo utilizado com um valor único no bairro como um todo, e não somente para as avenidas vizinhas à orla, que anteriormente tinham um valor mais alto que as demais áreas (ALVES, 2009). Esse fator, sem dúvidas, aumentou a especulação imobiliária na região, ameaçando 80
Dados presentes em Silva (2006), baseados em informações da Prefeitura do Recife. Lei 16.176/96, ainda em vigor atualmente. O coeficiente passa a ser igual a 4,00 (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1996). 81
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mais uma vez a permanência da população pobre que ali habitava, nas comunidades e nas ZEIS82.
Imagem 61 – Boa Viagem com orla e interior bastante verticalizados. Foto de autoria de Gustavo Penteado, tirada em 04 de novembro de 2006. Fonte: Panoramio Google Maps, 2007.
A tendência de homogeneização da paisagem do Pina e Boa Viagem por uma ocupação do solo e tipologias arquitetônicas semelhantes continuou acontecendo, dada a crescente apropriação desse primeiro bairro pelo mercado imobiliário. Porém, nessa época, ainda existia uma série de impedimentos legais e sociais que restringiram a transformação acelerada do Pina (SILVA, 2016). Embora a Rádio Station tivesse sido desativada nos anos 80 (SAMPAIO, 2017), o Aeroclube continuava em funcionamento, estabelecendo limitações à 82
Várias vezes já se tentou acabar com as ZEIS, tanto individualmente, quanto como instrumento válido na cidade inteira. Em 2000, houve uma proposta do mercado imobiliário à câmara dos vereadores para tornar a tornar essas Zonas Especiais disponíveis para o mercado. Ao mesmo tempo, a ADEMI (Associação das Empresas do Mercado Imobiliário) apresentava a proposta chamada de Banco de Terras, onde se poderia trocar lotes das ZEIS por áreas localizadas nas franjas da cidade, oferecendo em troca habitações e infraestrutura para esses novos assentamentos. Nenhuma das duas propostas vingaram (ALVES, 2009).
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Imagem 62 – Final do Pina e início de Boa Viagem na primeira metade dos anos 2000. Foto de autoria de Eduardo Lins Cardoso. Fonte: Panoramio Google Maps, 2007.
Imagem 63 – Paisagem de Brasília Teimosa e Pina vista dos arrecifes. Foto de autoria de Diego Bis, tirada em de julho de 2006. Fonte: Flickr Diego Bis.
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sua verticalização. Além disso, o manguezal existente no seu interior, de propriedade da marinha, já se encontrava protegido ambientalmente, não sendo passível de urbanização (MAGAROTTO et al., 2013). A presença das várias comunidades e ZEIS no bairro, também afastavam a possibilidade de atuação imobiliária em grande parte de seus terrenos (ALVES, 2009). Ainda que existissem todas essas limitantes, pela proximidade com Boa Viagem, na época, o Pina já era um dos locais mais valorizados da cidade (IBGE, [20--]), começando a se elitizar e a ganhar status de distinção social de forma semelhante ao seu vizinho83. Passando por diversas fases de urbanização, nesse período, a paisagem do Pina e Boa Viagem já tinha se modificado completamente. A base natural desses bairros, tinha se transformado em uma área adensada e urbanizada, com uma diminuição drástica dos mangues, verdes e alagados anteriormente existentes, guardando poucas das suas características originais (mapa esquemático 7 e 8): “(...) no correr de apenas um século, quatro foram as paisagens que brotaram no solo do Pina e Boa Viagem. [1] Sítios de coqueiros, currais de peixes e alagados; [2] palhoças de pescadores e bangalôs; [3] palacetes; [4] e por fim, os edifícios verticalizados, quatro diferentes formas de ocupar os seus territórios, em que a última elimina quase todos os vestígios da que a antecede no tempo e no espaço. [5] E já uma quinta forma de ocupação da avenida se deixa perceber presentemente: iniciam-se as derrubadas dos primeiros prédios de edifícios de três, quatro e cinco pavimentos para darem lugar a outros de construções muito mais luxuosas e que alcançam entre 30 e 40 andares” (ARAÚJO, 2007, p.515) (imagem 61, 62 e 63).
Estas mudanças se apresentavam de modo peculiar no Pina. Ao mesmo tempo em que era habitado por uma população de baixa renda (como a Brasília), em partes, também tinha uma ocupação caracterizada por edificações elitizadas (a exemplo das de Boa Viagem), com edifícios de baixo e alto gabarito e contendo diferentes tipos de implantação, típicas de um ou de outro extrato social. Assim, o Pina parecia ser um lugar de transição entre Boa Viagem e Brasília Teimosa, pois guardava semelhanças socioespaciais com os seus dois bairros vizinhos, imprimindo essas contradições sociais e simbólicas no seu território e na sua paisagem84. 83
Em 1997, o valor médio do metro quadrado do Bairro de Boa Viagem chegava a R$1200,00. Acompanhando a valorização do seu vizinho, no Pina esse valor era de R$900,00. Para efeitos de comparação, na cidade do Recife, o valor médio máximo encontrado durante esse mesmo ano foi de R$289,42 (IBGE, [20--]). 84 Socialmente e espacialmente, o Pina se encontrava entre os Bairros de Boa Viagem e Brasília Teimosa. Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano do Recife (2005), em 1991, Brasília Teimosa, Pina e Boa Viagem tinham respectivamente uma população de 17.351, 26.781 e 88.289 pessoas; uma densidade demográfica de aproximadamente 28.444hab/km², 4.258hab/km² e 11.725han/km²; e uma renda média de R$309,21, R$638,37 e R$2586,95 por chefe de domicílio. Em 2000 esses valores mudaram, e eles tinham uma população de 19.155, 7.589 e 100.388 pessoas; uma densidade demográfica aproximada de 29.289hab/km², 4.452hab/km² e 13.601 hab/km²; e uma renda média de R$313,09, R$758,63 e R$2857,28 por chefe de domicílio. A taxa de crescimento desses três bairros entre os anos de 1991 e 2000 foi, na mesma ordem dos dados anteriores, de 1,39%, 0,26% e 1,26% ao ano.
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Mapa 18 – Montagem de fotos aéreas de 1997. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Ponte Paulo Guerra; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida Beira-Mar; 9) Avenida Conselheiro Aguiar; 10) Avenida Domingos Ferreira; 11) Aeroclube; 12) Radio Station; 13) Fábrica Bacardi. Fonte: CONDEPE/FIDEM.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
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Mapa 19 – Detalhe da Montagem de fotos aéreas de 1997. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Ponte Paulo Guerra; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida Beira-Mar; 9) Avenida Conselheiro Aguiar; 10) Avenida Domingos Ferreira. Fonte: CONDEPE/FIDEM.
{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
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Mapa 20 – Montagem de fotos aéreas de 2007. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Ponte Agamenon Magalhães; 5) Ponte Paulo Guerra; 6) Avenida Brasília Formosa; 7) Conjunto Habitacional Brasília Teimosa; 8) Avenida Antônio de Goes; 9) Avenida Herculano Bandeira; 10) Avenida Beira-Mar; 11) Avenida Domingos Ferreira; 12) Avenida Conselheiro Aguiar;13) Aeroclube; 14) Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: Google Earth, 2007.
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Mapa 21 – Detalhe da montagem de fotos aéreas de 2007. 1) Arrecifes; 2) Iate Clube; 3) Praia do Buraco da Véia; 4) Avenida Brasília Formosa; 5) Conjunto Habitacional Brasília Teimosa; 6) Avenida Antônio de Goes; 7) Avenida Herculano Bandeira; 8) Avenida Beira-Mar; 9) Avenida Domingos Ferreira; 10) Avenida Conselheiro Aguiar. Fonte: Google Earth, 2007.
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“Eu acho que Brasília Teimosa ganhou uma independência muito boa desde a sua fundação, e o seu crescimento dentro desse mundaréu de edifícios garante essa diferença dela, mas uma diferença com a qualidade de vida que a gente vem conseguindo conquistar durante esse tempo todinho. Uma comunidade carente, mas com um processo de evolução muito grande” (Depoimento de Ladimir Ferreira, Educador de Dança Cultural para o documentário “Teimosia não se Vende” – Teimosia...2013).
Passado o Projeto Teimosinho, no final da década de 1990, grande parte dos problemas de infraestrutura da Brasília já havia sido sanada. Uma das deficiências de saneamento que ainda persistia era a questão da drenagem, pois algumas áreas e habitações da comunidade ainda sofriam com alagamentos85 (PROMORAR, 1980) (imagem 64). Ao mesmo tempo em que as condições urbanísticas melhoraram, as casas também iam ganhando mais condições de habitabilidade (BRASÍLIA TEIMOSA, 1998). Em 1990, a maioria das 4000 casas então existentes no bairro já eram de alvenaria (MOURA, 1990). Na parte do Areal Velho (Colônia), houve a erradicação dos barracos de madeira, e com o tempo as
edificações foram sofrendo acréscimos (puxadas) e sendo verticalizadas por meio de reformas, chegando já nessa época, a atingir, em casos pontuais, até quatro pavimentos (imagem 65).
Imagem 64 – Obras concluídas em Brasília Teimosa. Provavelmente a Rua Dagoberto Pires na década de 1990. Fonte: Biblioteca da URB. 85
Nessa época, a maioria das casas ainda sofria com a questão dos alagamentos. Segundo uma pesquisa realizada em 1990, 48,2% delas não alagava, 31,6% alaga eventualmente, 19,7% tinham um alagamento frequente e 0,5% um alagamento permanente. Em relação às melhorias, tem-se que, nesse mesmo ano 90,5% das pessoas já tinham acesso a água potável (PROMORAR, 1990).
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Imagem 65 – Corrida de saco em frente ao Conselho de Moradores da Rua Parú em outubro de 2003. Perceber as edificações em segundo plano, já verticalizadas. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa.
Esse processo de adensamento, de uma forma geral, pôde ser visto no bairro de Brasília Teimosa como um todo ao longo dos anos, e pode ser justificado pelo crescimento das famílias e também pela implantação de comércios e serviços nas casas, as tornando de uso misto (BOTLER, 1994). É importante perceber que muitas vezes esses padrões construtivos vão contra o próprio estatuto do PREZEIS vigente na comunidade, que regulamenta a taxa de ocupação de até 80% do lote, determina um gabarito de até quatro pavimentos, e proíbe remembramentos de lotes como meio de inibir a ação do mercado imobiliário na Brasília (BOTLER, 1994; PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1995). Desde o loteamento da comunidade, por conta desse adensamento crescente, as suas áreas verdes (principalmente no interior das quadras e terrenos) se exauriram quase que completamente, acompanhando a tendência dos seus bairros vizinhos (mapa 19; mapa esquemático 6; imagem 66). Em uma tentativa de melhorar a qualidade de vida dos moradores, durante a década de 1990, houve a concepção do Projeto Teimosia Verde, que tinha a ideia de criar mais desses espaços no bairro. Ele foi feito de forma comunitária, a partir de reuniões abertas do Conselho com os habitantes do local, assim como acontecia
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com todas as decisões importantes a serem tomadas em relação à Brasília na época. Apesar de ter começado a ser posto em prática, após o plantio de algumas árvores, o projeto parou de avançar (Celeste Maria, 2017).
Imagem 66 – Faixas e estandarte do Bloco de Carnaval do Conselho de Moradores, o “Calada Nada”, que foi nomeado fazendo uma referência às lutas da população do bairro pela permanência e melhorias. Nota-se também uma faixa do Projeto Teimosia Verde, além de outras três com um conteúdo de protesto. Foto tirada na década de 1990. Fonte: acervo pessoal de Celeste Maria Valença de Mendonça.
Mesmo depois de todas as mudanças ocorridas durante as décadas de 70 e 80, a questão das palafitas na praia do bairro ainda não tinha se resolvido. Por nunca ter sido feito um projeto de urbanização para essa área após as realocações, o problema sempre retornava e novas ocupações eram feitas (BRASÍLIA TEIMOSA, 1998). Essa situação foi resolvida apenas em 2003. A prefeitura do Recife, juntamente com o Governo Federal, nas gestões de João Paulo e Luiz Inácio Lula da Silva respectivamente, promoveu a urbanização da orla do bairro e a sua integração com a Praia do Pina (que como já dito, foi integrada a de Boa Viagem na década de 1980), retirando as quase 600 palafitas (561 unidades) do local (SILVA, 2008b; BRASÍLIA, 2014).
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Esse tipo de moradia constituía um problema urbanístico, social, ambiental e de salubridade grave, pois as condições de habitabilidade sob as quais os seus moradores viviam eram baixíssimas. A maioria dessas casas eram feitas de madeira e
“Eu moro na beira da praia E levo as pancadas das ondas do mar (bis) E essa doença quem me deu foi o lixo Que a prefeitura não quer vir tirar (bis)
outros materiais improvisados (BRASÍLIA TEIMOSA, 1998), e como não havia nenhuma ligação entre elas e a rede de água e esgoto, os dejetos eram depositados diretamente na maré86 (EMPRESA
E a Portobrás não quer ceder o terreno E a gente está morrendo Não dá pra esperar”
DE URBANIZAÇÃO DO RECIFE, [200-]). Além disso, muitas vezes, quando a maré enchia, a água entrava e até mesmo destruía essas habitações precárias, deixando a população sem teto. Nesses momentos, o Conselho de Moradores abrigava essas pessoas, também promovendo atividades lúdicas, financeiras e
(Ciranda cantada pelos moradores nas suas lutas. Encontrada em folheto da Chapa 2 para as eleições de 1995 do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa - CHAPA 2 TEIMOSINHO, 1995).
educacionais junto às crianças e aos adultos que ali permaneciam87 (imagem 67 a 71).
Imagem 67 – Orla após realocação dos moradores. Sem passar por um projeto de requalificação, a beiramar sofria um processo recorrente de ocupação por palafitas. Fonte: Blog Conselho de Moradores de Brasília Teimosa, 2012.
86
Esses dejetos eram descartados no mar geralmente em sacolas plásticas jogadas através de alçapões localizados no piso das palafitas. Bacias sanitárias sem ligação com a rede esgoto também eram utilizadas para esse fim (EMPRESA DE URBANIZAÇÃO DO RECIFE, [200-]). 87 Informação obtida durante a entrevista com o atual líder comunitário do Conselho de Moradores, Wilson Lapa.
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Imagem 68 – Brasília Teimosa e sua orla antes da abertura da Avenida Brasília Formosa. Perceber a linha de força dos arrecifes na paisagem. Ao fundo, a ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: Site Patrimônio de Todos.gov, 2009.
Imagem 69 – Brasília Teimosa antes da requalificação da orla. Perceber a linha de força dos arrecifes na paisagem, reforçada pela mureta de contenção. Foto de Alexandre Auler. Fonte: Flickr Alexandre Auler.
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Imagem 70 – A maré e as palafitas de Brasília Teimosa. Foto de Leopoldo Nunes para o JC Imagens, tirada em 12 de agosto de 2002. Fonte: Flickr etudoverdade.
Imagem 71 – Palafitas em Brasília Teimosa nos anos 2000. É perceptível a falta de estrutura dessas edificações, que em sua maioria eram feitas de madeira, e conviviam com o esgoto e o lixo lado-a-lado. Foto de Lívia Brandão. Fonte: Flickr Lívia Brandão.
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“Quando eles fizeram essa avenida aí, queriam botar Brasília Formosa. Formosa tudo bem, que é formosa mesmo, tanto é que veio o interesse deles. Mas o nome é a luta. O nome tá no sangue da população. É Brasília Teimosa e vai ficar Brasília Teimosa” (Depoimento de Felipe Alves – Morador da comunidade para o documentário “Teimosia não se Vende” – Teimosia...2013). “Sabemos que a urbanização da beiramar vai requerer um vultoso apoio econômico federal, para nos defender da violência do mar. Mas a urbanização deve se dar, mesmo sendo cara, de modo humilde e simples, para não assanhar demais os especuladores imobiliários” (Manifesto, 1979 – BRASÍLIA, 1979).
A obra da beira-mar foi finalizada em 2004, e consiste em uma das mudanças mais significativas na paisagem da comunidade desde o seu nascimento. A requalificação da orla foi feita por meio da engorda da faixa de areia da praia, que após a reforma ficou com uma média de 40 metros de largura. Além disso,
criou-se
a
Avenida
Brasília
Formosa88,
com
aproximadamente 1,3km de extensão. Essa via foi iluminada e recebeu quiosques, restaurantes e alguns equipamentos de esporte e lazer ao longo de seu percurso. Também houve a recuperação de um trecho de 960 metros do muro de proteção existente sobre os arrecifes localizadores entre o molhe do Pina e a Praia do Buraco da Véia (SILVA, 2008a). O projeto foi efetivo, porém, feito de forma simples, sem grandes luxos e com um tratamento diferenciado em relação ao Pina e Boa Viagem, o que foi aprovado pela população. Para os teimosos, as mudanças
deveriam ser feitas dessa maneira a atiçar o mínimo possível o interesse das empreiteiras pelo local (mapa 19 e 21; mapa esquemático 6 e 7; imagem 72 a 75). As famílias realocadas foram atendidas pelo Programa Recife sem Palafitas89. Dada a inexistência de uma área dentro da Brasília para o reassentamento dessas pessoas (FERNANDES, 2010), elas foram transferidas para o Conjunto Residencial do Cordeiro. Entregue em 2006, ele se localiza em um bairro homônimo na zona oeste recifense, a aproximadamente 10 km de distância da comunidade. Para a sua construção, foi utilizada a mão-de-obra dos próprios moradores das palafitas (BRASÍLIA, 2014; SANTOS, 2011). A retirada dessa população do bairro para um local distante em relação a ele foi contrária ao desejo da comunidade, que era o de apenas haver transferências para áreas no interior do seu território, premissa levantada desde o Projeto Teimosinho. Além disso, sem ter um aporte socioeconômico, parte das pessoas transferidas não teve renda suficiente para pagar as novas despesas, decorrentes da mudança para as habitações formais, como por exemplo, contas de água e de luz, abandonando o local em seguida (BRITO, 2016). 88
O nome Brasília “Formosa” dado a avenida não é do agrado da população, visto que simbolicamente o “Teimosa” é importante pra reafirmar à cidade o caráter de resistência da comunidade (informação obtida pela fala de membros da comunidade no ato de comemoração de 50 anos do Conselho de Moradores do Bairro). 89 O Programa Recife sem Palafitas foi uma ação de âmbito municipal que visava solucionar a questão das habitações precárias da cidade, como as palafitas, ou ainda aquelas que estivessem em áreas de fragilidade ambiental, como nos morros, alagados e canais. A partir dele era proposta a regularização fundiária para as famílias realocadas, e eram dadas as assistências a elas cabíveis, no que se refere ao auxílio moradia (no período de construção das novas casas), à assistência social e ao monitoramento dos novos assentamentos realizados (FERNANDES, 2010).
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Imagem 72 – Praia do Buraco da Véia durante as obras de requalificação da orla em 2003. Foto de autoria de Wilson Lapa. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa.
Imagem 73 – Ponto de encontro da Avenida Brasília Formosa e os arrecifes. Foto de Jaciel Marcos tirada em 17 de novembro de 2009. Fonte: Flickr Jaciel Marcos. { 177 }
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Imagem 74 – Brasília Teimosa e sua Orla antes das obras de requalificação. Fonte: FERNANDES, 2010, p.98.
Imagem 75 – Brasília Teimosa, sua orla e a Praia do Buraco da Véia após a abertura da Avenida Brasília Formosa. Fonte: Site Patrimônio de Todos.gov, 2009.
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Também é importante perceber que a quebra das relações emocionais e econômicas da população Teimosa com a sua paisagem durante esse processo de separação fizeram com que a subsistência e a qualidade de vida de parte das pessoas realocadas fosse prejudicada. Pela impossibilidade da quebra das práticas sociais e hábitos anteriormente praticados, alguns trabalhadores se deslocam, até a atualidade, daquele conjunto habitacional até o Mar da Brasília para garantir a sua renda. Muitos outros, por esse motivo, e pela não identificação com as suas novas residências ou com o local onde essas se encontram, decidiram voltar para a comunidade por meio da
“Brasília Teimosa é ótimo, com a maré a gente nunca passa fome” (Depoimento de E. S. anos, marisqueira do bairro – VASCONCELOS, 2011, p.106)
moradia de aluguel (AVENIDA BRASÍLIA FORMOSA, 2010). Além da Vila da Prata, da Vila Moacir Gomes, da Vila Teimosinho e do Conjunto habitacional do Cordeiro, uma última iniciativa foi feita para o provimento de habitações para a população do bairro. Em 2006, foi entregue o Conjunto Habitacional Brasília Teimosa, localizado na parte oeste da comunidade, em um terreno da Portobrás, ao lado da Vila Teimosinho. Ele consiste em 15 edifícios do tipo caixão, com térreo mais três pavimentos, onde foram distribuídas 240 unidades habitacionais. Apesar de terem sido previstas áreas ajardinadas e equipamentos de lazer juntamente com essas edificações, nada disso foi feito até agora (mapa 21; mapa esquemático 7; imagem 76, 77 e 78) (FERNANDES, 2010).
Imagem 76 – Conjunto Habitacional Brasília Teimosa ainda nos anos 2000. Fonte: FERNANDES, 2010, p.96.
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Imagem 77 – Conjunto Habitacional Brasília Teimosa ainda nos anos 2000. Observar a fronteira entre o conjunto e o restante da comunidade. Fonte: FERNANDES, 2010, p.97.
Imagem 78 – Entrada do conjunto Habitacional Brasília Teimosa ainda nos anos 2000. Fonte: FERNANDES, 2010, p.97.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
Esse foi o único projeto de realocação que propôs uma tipologia verticalizada dentro dos perímetros da comunidade. É importante observar como essas edificações destoam em relação ao restante da paisagem de Brasília Teimosa. O modelo adotado, apesar de comportar um número maior de casas, em nada se parece com as habitações preexistentes no lugar, não o representando. A relação dos moradores com a rua também é diferente neste caso, já que em geral, as casas do local costumam ter acessos térreos e se relacionam diretamente ou quase diretamente com a rua, com o mar e com a vizinhança. O conjunto é todo murado, isolado do bairro, tendo apenas um pequeno acesso na sua lateral. Na sua realização, claramente essas relações levantadas não foram privilegiadas, gerando uma mudança nos hábitos da população que nele se encontra. Os melhoramentos ocorridos na Brasília nas décadas anteriores, bem como a escassez de terrenos em seu entorno (Boa Viagem e Pina), fizeram com que ela se valorizasse economicamente e fosse cada vez mais cobiçada pelo mercado imobiliário
(BARTHEL,
1989).
Essa
tendência
cresceu
exponencialmente depois da reestruturação da sua orla, que também causou uma especulação dentro do mercado informal da
“Chega de tanto levar porrada Vamos ver se a papelada Dessa vez é pra valer Chega tá virando sacanagem As promessas são bobagens Que só faz aborrecer Cansado dessa anarquia Rasgo a fantasia Na disputa do poder
própria comunidade, gerando um aumento nos preços de compra, venda e aluguel dos imóveis, principalmente naqueles localizados a beira-mar. Ademais, o custo de vida da Brasília se elevou como um todo, se refletindo também nos preços praticados nos comércios e serviços locais (BRITO, 2016). Algumas famílias, mais especialmente parte das que pagavam
Piui, Piui, Pua, Pua Eu quero ver onde essa zorra vai parar” (Marchinha cantada pelos moradores nas suas lutas. Encontrada em folheto da Chapa 2 para as eleições de 1995 do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa - CHAPA 2 TEIMOSINHO, 1995).
aluguel, tiveram que sair da comunidade por falta de condições financeiras de continuar habitando no local (BARTHEL, 1989). Mesmo após o longo período de ocupação na comunidade no local onde se encontra, a regularização fundiária ainda era uma questão pendente. Até 2005, apenas cerca de 1800 de seus imóveis foram regularizados, o que aconteceu por meio de doação ou pela Concessão de Direito Real de Uso (CDRU)90. O processo de legalização ficou parado 90
Atualmente existem hoje quatro instrumentos principais para se regulariza uma área ou um imóvel: a CDRU (Concessão do Direito Real de Uso), a CUEM (Concessão de Uso Especial para fins de Moradia), a Usucapião Urbana e o aforamento. Pela CDRU, terrenos públicos podem ser destinados ao acolhimento de uma população de baixa renda ou se pode regularizar uma ocupação já existente dessa natureza. Essa concessão é feita por um período de 50 anos, podendo ser renovada. A CUEM, assim como o instrumento anterior, também não transfere a posse para o(s) morador(es), porém neste caso, o direito à terra é dissociado do direito de superfície, podendo o morador, hipotecar a sua casa. Para ser efetivado, o morador tem que estar ocupando o local sem nenhuma resistência por pelo menos cinco anos ininterruptos. A Usucapião é a posse real dada para um morador que ocupa o local também por esse prazo mínimo e nessas condições. Ela só é possível em propriedades privadas. O aforamento se dá em áreas específicas de domínio da União (SILVA, 2011).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
durante muito tempo, sendo retomado apenas em 2005, quando foi renovado o Contrato de cessão de aforamento da área (SANTOS, 2011). Na década de 90, a Brasília havia se consolidado como um lugar tradicional onde podiam ser encontrados pequenos restaurantes ligados à comida regional, geralmente com iguarias do rio e do mar. Esse pequeno polo gastronômico já atraia a população de outros bairros, como Pina e Boa Viagem, além de alguns turistas. Os comércios e serviços existentes no local também serviam às suas circunvizinhanças, atendendo à comunidade e ao seu entorno mais imediato. Essa realidade permitiu uma certa troca social entre os habitantes de outros bairros dentro do território da Brasília, ajudando a integra-la com a cidade, diminuindo as barreiras entre ela e os seus vizinhos (BOTLER, 1994). A quase erradicação nas décadas anteriores da zona de prostituição do Pina, anteriormente localizada próxima ao Areal Velho (ALVES, 2009), também favoreceu essa aproximação à comunidade. Nesse contexto, uma nova imagem menos estigmatizada é dada ao local. Também sobre o significado da comunidade para a cidade, é de se destacar que, inicialmente, as suas ruas tinham o nome de letras (A, B, C...), para haver uma identificação rápida dos endereços pelos moradores, que muitas vezes, tinham um nível de escolaridade muito baixo. Posteriormente, na gestão do Prefeito João Paulo, essas vias foram rebatizadas com nomes de peixes, como, por exemplo, Golfinho, Parú, Arabaiana, entre outros, em homenagem aos pescadores e a pesca do bairro (BRASÍLIA, 1998). Porém, segundo os moradores, essa mudança ocorreu sem a consulta da população, que já estava habituada à nomenclatura antiga (Antônio Carlos; Celeste Maria; Wilson Lapa, 2017). Ainda que esse fato não tenha ocorrido pela vontade da própria comunidade, de uma forma indireta, ele demonstra a imagem da Brasília para o Recife, que é a de um local tradicionalmente pesqueiro e ligado ao mar, localizado em meio ao centro urbano.
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2.3.2 A Consolidação da Permanência e do Habitar Teimoso
Pelo o que foi visto até então, apesar das enormes transformações ocorridas na Paisagem Teimosa, ela continua guardando em si as características que a fundaram, tanto fisicamente quanto socialmente. Percebe-se que mesmo com as alterações que se deram no seu processo de ocupação, com a melhoria de ruas, das condições infraestruturais e de habitabilidade em geral, e da arquitetura das casas que a compõem, as tipologias, os gabaritos e a essência do seu território se conservou. As práticas sociais ali exercidas também permaneceram. Os moradores desse bairro, que se criou a partir de uma colônia de pescadores, continuaram se ligando ao mar, ao rio e a pesca, tirando da natureza local a sua subsistência física e afetiva, como ocorreu desde o início. A resistência desse tipo de vivência que dá o caráter da Teimosa, contrasta com o que ocorreu no Pina e em Boa Viagem. A partir da elitização desses bairros e da sua apropriação pelo mercado imobiliário, o tipo de ocupação que neles se implantou passou a não mais se relacionar com as suas preexistências, dada a sua crescente verticalização, o seu adensamento construtivo indiscriminado e expulsão daqueles que tradicionalmente viviam no local. O fato do desenvolvimento desses bairros ter acontecido sem se atentar as relações objetivas e subjetivas que ali existiam, bem como aos elementos físicos que caracterizavam o seu âmago, fez com que as suas paisagens começassem a se neutralizar, ou seja, a não mais contar a história que as fundou e a não mais representar a sua gente. Esse processo de apagamento que ocorre no entorno da Brasília, também quer se impor a ela. Porém como percebido, os seus moradores teimam não somente em nela permanecer, mas também em conservar as características sociais, culturais e materiais que a tornam única e especial. Embasando-se na compreensão do processo de consolidação dessa paisagem desenvolvido nesta parte do estudo, se partirá para o entendimento da Teimosa atual e do impasse que anima esse trabalho: o da sua conservação frente às pressões que ameaçam a sua existência e a sua história, o que será tratado logo adiante.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA PAISAGEM TEIMOSA }
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CAPÍTULO 3
{
A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ
}
“Agora vou lhe mostrar as novidades – e indicava as novas construções. Ali os Sampieri estão levantando mais um andar, aquele lá é o prédio novo de um pessoal de Novara, e as freiras, até as freiras – lembra o jardim de bambus que a gente via lá embaixo? –, agora veja o buraco que elas fizeram, quem sabe quantos andares vão querer erguer com essas fundações! E a araucária da Vila Van Moen, a mais linda da Riviera: agora a empresa Baudino comprou toda a área, e uma árvore que devia ter sido tombada pela prefeitura virou madeira de lenha; aliás, seria impossível
transplantá-la, quem sabe até onde iam as raízes. Agora venha ver desse lado: a gente já não tinha vista para o nascente, mas veja o novo telhado que apareceu; pois bem, agora o sol da manhã chega meia hora depois.” (Ítalo Calvino – A Especulação Imobiliária1)
O estudo da construção social da Paisagem Teimosa visto anteriormente nos dá o embasamento para entendê-la em seu estado atual, tanto nos seus aspectos físicos, quanto também nos valores, praticas sociais, hábitos e significados que a ela se sobrepõem hoje. Através da sua reconstrução histórica, foi possível entender como a Brasília vem se consolidando através de uma permanência que conflita com os mecanismos predominantemente utilizados na formação territorial da cidade do Recife, por meio dos quais a população de baixa renda é levada a se localizar nas periferias e locais economicamente menos valorizados da cidade. Ao estar em uma zona central, no meio da área de expansão das elites, ser litorânea e paisagisticamente privilegiada, a resistência da comunidade se opõe simbolicamente aos interesses dos grupos que dela querem se apropriar. Ao longo dos anos, o lugar onde se encontra está sendo cada vez mais cobiçado, o que faz com que as pressões sobre ele também se agravem. Dessa forma, os comportamentos gerados a partir dos sistemas morais e simbologias divergentes imperantes nesse contexto se materializam criando um cenário paisagístico não harmônico. Nesta terceira parte da investigação busca-se entender os desejos de futuro que se ensejam para a Teimosa, bem como captar quais são os valores simbólicos e características físico morfológicas que a caracterizam e que devem ser perpetuados no seu porvir. Para tal,
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 3 – A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ }
inicialmente a exploraremos na atualidade começando-se pelas suas circunvizinhanças, os bairros do Pina e Boa Viagem. Posteriormente, nos debruçaremos diretamente na Brasília, procurando compreendê-la de maneira trajectiva, em seus aspectos palpáveis e subjetivos, físicos e simbólicos, através da análise da sua paisagem e da relação entre ela e os seus habitantes pelas suas práticas sociais e apropriações afetivas. Concomitantemente, para um entendimento pleno da problemática que se faz presente hoje, pretende-se explorar o embate entre a existência da Teimosa e o projeto de paisagem que tende a transforma-la, como visto antes, em uma extensão de seus bairros vizinhos. Assim, tenta-se perceber por quais meios as pressões geradas sobre essa comunidade acontecem, analisando os projetos que permeiam as franjas do seu território e aqueles que estão sendo planejados ou que já foram feitos diretamente para ele, analisando quais são os impactos que eles geram no interior desse bairro e os discursos que os permeiam. Por fim, após se esboçar a conjuntura atual em questão e se perceber a partir de quais parâmetros deve se caracterizar a Paisagem do porvir, se esboça uma discussão sobre o Futuro da Teimosa e sobre os porquês de se elegerem esses norteadores para o planejamento do seu amanhã. Essa última explanação é fundamental para se compreender os caminhos que levarão às diretrizes gerais de conservação da Teimosa esboçados como produto final dessa pesquisa. Para a construção de toda essa linha de raciocínio, aqui foram utilizados os mesmos instrumentos que ampararam o capítulo anterior: a consulta de fontes bibliográficas que tratam das áreas e da problemática em voga, mapas, fotos, documentos e dados técnicos pertinentes, observações in loco2 e entrevistas. Nesta etapa, essas últimas foram centrais, fundamentais como meio de se captar as informações históricas do presente sobre o bairro e a sua resistência, bem como entender as opiniões e os quereres para a Paisagem Teimosa por parte dos seus moradores, que a habitam, a criam e a transformam cotidianamente.
1 2
CALVINO, Italo. A especulação imobiliária, São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 8-9, grifo nosso. Que vêm a embasar esse estudo a partir dessa etapa.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 3 – A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ }
3.1 VISITANDO O HOJE: A PAISAGEM TEIMOSA E O SEU ENTORNO Como dito, as observações in loco e as entrevistas feitas com os moradores da comunidade de Brasília Teimosa tiveram um papel central no entendimento do estado atual do bairro e da problemática acerca da sua permanência. Através delas, pôde-se captar a dinâmica do local, as práticas sociais e hábitos vigentes em seu território e apreender os sentimentos e as relações afetivas e de identificação que ligam os moradores a essa paisagem, o que foi fundamental para se construir o fio condutor que liga a sua história passada, o seu presente, e os parâmetros que devem guiar o seu porvir. A
partir
dessa
terceira parte do capítulo, as falas daqueles que habitam a Brasília serão apresentadas de forma a fundamentar alguns dos argumentos e dados que se seguem. Tanto as entrevistas quanto as visitas investigativas à área foram realizadas entre os meses de maio e abril de 2017, feitas em diversos horários e dias da semana, úteis ou não, de maneira tentar captar a movimentação da Teimosa em seus diferentes momentos. Trinta e três pessoas, de idades entre 22 e 81 anos, e com pelo menos 10 anos de residência na comunidade, foram consultadas a partir de um roteiro semiestruturado3. Procurou-se moradores alguns comuns e outros de grupos específicos. Dessa forma, foram entrevistados 3 influenciadores, ou seja, pessoas que fazem algum trabalho social na comunidade (Isamar Martins, Ladimir Ferreira [Mika] e Taciana Melo); 3 líderes comunitários de posições políticas distintas (Celeste Maria, Luciberto Xavier [Piaba] e Wilson Lapa); 5 comerciantes que possuem negócios tradicionais no bairro (Claldemy Bezerra, Jane Abreu, José Bezerra [Zezinho], Maria das Graças e Vítor Vinícius); 4 pescadores (Iraquitan Romão [Netinho]; José Severino; Maurício Francisco [Soldado]; Severino Francisco [Dentinho]); 1 marisqueira (Edileuza Silva [Dona Leu]) e 16 moradores (Adriana Inês, Alcydes Almeida [Maninho], Alexandra Lopes, André Francisco, Cledy dos Santos, Edileuza Simões, Edu Guerra, Fernando Paes, Rogério Calisto, Mauricéa da Conceição, Verônica Ribeiro, Amara Bezerra [Dona Mara], Djalma Rodrigues), 4 deles residentes na orla (Antônio Carlos, Claudete Barros, Maria Rita e Júlio Alcino)4. Alguns dos entrevistados, instituições representadas por eles e estabelecimentos comerciais já haviam sido previamente escolhidos antes dos trabalhos de campo por conta da grande representatividade dos mesmos dentro da comunidade, da qual de tomou 3
O modelo das está anexado no final deste trabalho. Dois dos entrevistados não moram mais na Brasília, o comerciante Claldemy Bezerra e o pescador José Severino, o que tornou a visão de ambos bastante interessante. No primeiro caso, tem-se o relato do contraponto entre a imagem e as simbologias agregadas ao bairro apreendidas por ele, que nasceu e viveu quase a vida inteira no local, e pelos seus familiares externos a ele. No segundo, pode-se entender um pouco como se dão as relações econômicas e afetivas que se tem com a comunidade e o seu processo de quebra. 4
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conhecimento a partir de uma pesquisa bibliográfica realizada anteriormente5. Os demais comerciantes, influenciadores e lideranças comunitárias foram indicados em conversa com a população local. Além dos pescadores abordados na Associação da categoria no bairro, os moradores comuns foram encontrados a partir de uma distribuição uniforme de pontos a serem contemplados no território da Brasília. Com esse critério de seleção foi possível abranger pessoas de todas as partes do bairro e se ter uma ideia total e imparcial dos assuntos abordados. Explicados os critérios e métodos que fundamentaram as entrevistas e visitas in loco que embasam boa parte das sessões que se seguem, voltemos à caracterização atual da Teimosa e o se entorno. 3.1.1 Pina e Boa Viagem: a Neutralização da Paisagem O processo de urbanização feroz iniciado em meados do século XX no Pina e em Boa Viagem, caracterizado por uma grande densidade construtiva, aridez pela supressão de áreas verdes e uma verticalização elevada, continuou ocorrendo nessa última década (SILVA, 2016) (imagem 1). Apesar das diversas mudanças ocorridas ao longo dos anos, o formato das quadras e o traçado viário racional e ortogonal desses bairros continuam muito similares ao que foi estabelecido no final da década de 1970. As suas vias principais também permanecem sendo as mesmas: cortando a região longitudinalmente, tem-se a Avenida Boa Viagem (Beira-Mar), a Conselheiro Aguiar e a Domingos Ferreira; e ligando o local ao restante da cidade, a Avenida Antônio de Góes e a Herculano Bandeira, estando também estabelecidas as pontes Paulo Guerra e Agamenon Magalhães. Sobre esse aspecto, a maior transformação ocorrida na zona sul da cidade se dará a partir de 2008, quando começam a ser concretizadas as obras da Via Mangue, que serão abordadas mais adiante (BARBOSA, 2014) (mapa 1, mapa 2, mapa esquemático 8). Hoje, Boa Viagem continua sendo um símbolo de modernização e elitização (ALVES, 2009). Além disso, ela já se consolidou como um centro secundário da cidade, sendo bastante autossuficiente, tanto em relação aos equipamentos públicos que nela se instalaram, quanto pela pluralidade de comércios e serviços que hoje se encontram em seu interior, que são quase sempre voltados para o público mais abastado que a reside (ALVES, 2009). Em geral, nota-se que esse bairro tem um tratamento infraestrutural e estético diferenciado e superior em relação a maior parte da cidade, recebendo mais atenção do 5
Das instituições, o CEPOMA (Centro de Educação Popular Mailde Araújo), com Isamar, e a Centro Escola Mangue, com Taciana; dos estabelecimentos: Império dos Camarões, com Zezinho, e Camarão do Zito, com Maria das Graças; das lideranças comunitárias, Wilson Lapa, que é líder do Conselho de Moradores; e dos trabalhadores das águas, a marisqueira Dona Leu.
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Mapa 1 - Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa. Vias Principais e Zoneamento. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado).
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Mapa 2 - Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa. 1) Ponte Paulo Guerra; 2) Ponte Agamenon Magalhães; 3) Avenida Antônio de Goes; 4) Avenida Herculano Bandeira; 5) Avenida Boa Viagem; 6) Avenida Conselheiro Aguiar; 7) Avenida Domingos Ferreira; 8) Aeroclube; 9) Radio Station. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado).
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Imagem 1 - Boa Viagem e Pina adensados e verticalizados. Foto de Carlos Oliveira, divulgação da Prefeitura do Recife. Fonte: SkyscraperCity, 2009.
Imagem 2 - Boa Viagem com seus comércios elitizados e tratamento diferenciado. Avenida Conselheiro Aguiar, 2016. Fonte: Google Maps Street View, 2016.
mercado imobiliário e do poder público. Isso faz com que essa paisagem tenha conotações e características físicas diferentes das demais, expressando a cultura economicamente dominante que a construiu (CONGROVE, 2006) (imagem 2). As classes sociais mais baixas, historicamente pioneiras no ocupar e no habitar dos bairros de Boa Viagem e Pina, continuam lutando por esse espaço, pelos seus privilégios ambientais, pelos hábitos e práticas sociais com ele estabelecidas, e pela necessidade de
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permanecer próximas ao seu local de emprego, já que uma parte significativa dessas pessoas ainda prestam serviços, biscates e trabalham para a elite local. Como foi observado nas décadas anteriores, cada vez mais a população humilde foi sendo deslocada para longe da orla, em locais próximos ao mangue, ambientalmente mais frágeis, e muitas vezes não passíveis de ocupações formais e apropriação imobiliária. Dessa forma, a ocupação do bairro se deu de maneira estratificada, e na medida em que se afasta da beira-mar, se começa a perceber as diferenças socioeconômicas do tecido (ALVES, 2009). Esse fator dá origem a uma paisagem conflituosa dentro dessa região, que materializa também os conflitos sociais e as relações de poder e domínio ali existentes. “Depois de séculos de aterros resultando na ordenação do chão, os moradores travam a luta mais cruel, contra o especulador imobiliário, que vendo a grande obra do povo, nega a sua história e tenta se apossar a todo custo desse bairro” (SILVA, 2008b, p.50).
Em relação a isso, no Pina, percebe-se que houve uma grande resistência das comunidades pobres no seu território, que ocupam hoje uma área bastante significativa da porção centro-oeste do bairro, formando a ZEIS Encanta Moça, e, portanto, ao menos em tese, tendo a sua permanência garantida por lei. A população moradora dessa zona ainda vive em grande parte de uma forma anfíbia, mantendo uma relação estreita com as águas e com o mangue, muitas vezes estabelecendo os seus hábitos de subsistência financeira e afetiva com aquela natureza através de vários fatores, como a pesca, por exemplo. Também é nessa região onde se encontram os piores índices sociais do bairro e onde pode ser vista uma quantidade expressiva de habitações precárias, como as palafitas (DE MORAIS, D.P.; SILVA, L.R.S, 2010) (mapa 1, imagem 3 e 4). Nos últimos anos, a especulação imobiliária vem atingindo a localidade com bastante força. Como exemplo disso, no início de 2017, Boa Viagem e Pina tiveram respectivamente o terceiro e o primeiro preço médio mais caro do metro quadrado do Recife6. O transbordamento daquele bairro para este já é uma realidade visível, havendo uma vontade clara do mercado de incorpora-lo como um todo a sua dinâmica, sem considerar as suas preexistências e a suas relações simbólicas e objetivas que ele tem com os seus habitantes. Dada a desativação nas décadas anteriores da Rádio Station e do Aeroclube, que estabeleciam limitações para as construções em seus entornos, a existência das áreas pobres protegidas, juntamente com a presença do Parque dos Manguezais Josué de Castro, são os únicos impedimentos existentes à apropriação do Pina pelo mercado imobiliário (BARBOSA, 2014). Esse último é a maior área urbana de mangue da América Latina, e se 6
Em fevereiro de 2017, o valor médio do metro quadrado no Pina era de R$8172,00, e em Boa Viagem, de R$6739,00, enquanto a médio do Recife era de R$6090,00 (AGENTE IMÓVEL, 2017).
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Imagem 3 - A paisagem do Pina verticalizado frente a ZEIS Encanta Moça e ao Parque dos Manguezais. Foto de autoria Eduardo Câmara Lima. Fonte: Panoramio Google Maps, 2010.
Imagem 4 - Palafitas na ZEIS do Pina. Foto de José Nunes. Fonte: Flickr José Nunes, 2014.
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encontra salvaguardada legalmente por ser considerada uma Unidade de Conservação (UCN) da cidade (OLIVEIRA, 2015)7. Principalmente ao longo da última década, esse bairro vem perdendo a sua vocação predominantemente habitacional, e começa a abrigar empreendimentos comerciais e de serviço, inclusive, contando com centros empresariais (MAGAROTTO et al., 2013) (imagem 5). Esse novo cenário faz com que edifícios antigos sejam substituídos por outros mais novos, de maior porte e mais verticalizados, semelhantes aos encontrados em Boa Viagem, o que acelerou o processo de homogeneização das paisagens desses bairros.
Imagem 5 - Empresariais no Bairro do Pina. Fonte: Olx, 2017.
A renovação arquitetônica dessa região é latente, principalmente na orla, onde quase não mais existem edificações de baixo gabarito, que tendem a desaparecer completamente dando lugar a edifícios em altura. Também é nesse ponto, à Beira-mar, em 7
Existe ainda uma ZAN (Zona de Ambiente Natural) no bairro do Pina, ao lado da comunidade de Brasília Teimosa. Pela sua proximidade com a área de estudo, ela será abordada mais adiante.
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que a paisagem do Pina e de Boa Viagem se igualam, não sendo mais possível distinguir as fronteiras entre uma e outra localidade (SILVA, 2016) (imagem 6 e 7). É na praia em que a aridez desses bairros se expressa de maneira mais visível. Notase que no seu processo de ocupação, não houve a preocupação com a possibilidade do estrangulamento da orla pelas construções, que foram feitas e continuam a existir com o aval público, dado por meio da legislação (atualmente o Plano Diretor e a Lei de Uso e Ocupação do Solo do Recife8). Além das edificações terem gabaritos muito altos, elas estão muito próximas à praia, se separando da rua por meio de grandes muros segregadores, sem seguir nenhuma regra de escalonamento de altura em relação às suas distancias à beiramar. Hoje, a natureza dessa praia se encontra completamente descaracterizada, não se assemelhando a sua paisagem original (COSTA et al., 2008). Essa grande densidade da orla afeta ambientalmente o local de maneira grave. Uma prova disso é o sombreamento dado pelos edifícios, cobrindo a areia e o mar a partir do início da tarde em alguns trechos (OBSERVATÓRIO DO RECIFE, 2012) (imagem 8 e 9). “Praias Urbanas, sem coqueiros, sem cajueiros, sem sol poente, cujos raios foram aprisionados pela muralha de pedra dos edifícios que margeiam a Avenida Boa Viagem. Restaram umas águas quase sem peixes. Uns mares quase sem sal, sem estrelas, sem cheiro de maresia e de sargaço” (ARAÚJO, 2007, p.525).
Também no interior desses bairros a paisagem se faz hostil (LEITÃO, 2009) (imagem 10). Com a diminuição gradual dos verdes, manguezais e alagados da região e a substituição desequilibrada desses elementos por uma ocupação densa e verticalizada, se anulam as relações físicas e subjetivas (trajectivas) entre as pessoas e esse lugar, se apagam as suas origens físico morfológicas e a sua história. Ainda que estejam entre o mar e o mangue, observando-se atualmente o Pina e Boa Viagem, mal se pode perceber que ali, “tudo era, foi ou lembrava água9”. Com o passar dos anos, essa região foi dando as costas à pluralidade de significados que ela carregava e à individualidade do seu “palimpsesto”, que contava a sua história e a história das pessoas que a produziram e habitaram, criando uma paisagem neutra, que possui edifícios impessoais que poderiam estar em qualquer outro local da cidade ou do mundo (imagem 11, 12 e 13). Assim, atualmente, pela forma como vem se dando a apropriação e a transformação do território desses bairros, há uma ameaça à permanência das áreas pobres e ZEIS da 8
Respectivamente, as leis 17511/2008 (ALVES, 2009) e 16.176/96 (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1996). Aqui se faz uma alusão a famosa frase de Waldemar de Oliveira no início do capítulo anterior: “o que não é água, foi, ou lembra água” (DE OLIVEIRA, 1942, p.38-39). 9
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Imagem 6 - Demolição do tradicional Edifício Caiçara na Avenida Boa Viagem após o seu terreno ser adquirido pela Rio Ave Construtora, 2016. Foto de Bobby Fabisak/ JC Imagem. Fonte: Jornal do Commercio Online, 2016.
Imagem 7 - Ponto de encontro entre as orlas de Boa Viagem e Pina, 2013. Perceber a homogeneidade na paisagem homogênea dos dois bairros. Fonte: Flickr Raul Lopes, 2014.
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Imagem 8 - Avenida Boa Viagem e os seus prédios próximos à Praia. Fonte: Wikipedia, 2013.
Imagem 9 - Praia de Boa Viagem sombreada pelos seus edifícios. Foto original pertencente ao documentário “Um Lugar ao Sol”, de Gabriel Mascaro, 2009. Fonte: Assiste Brasil, 2017.
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Imagem 10 - As ruas hostis do Pina. Fonte: Google Maps Street View, 2016.
Imagem 11 - Edifício no Rio de Janeiro. Fonte: SkyscraperCity, 2013. Imagem 12 - A Edifício JCPM no Pina. Perceber as semelhanças entre ele e o exemplar carioca. Fonte: Escritório Link Propaganda, 201-.
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Imagem 13 – “O mar de prédios de Boa Viagem”, o mar que perdeu seu sentido. Fonte: Crítica do personagem ParaINHO, da Arquiteta e ilustradora Jamila Lima.
região, que temem ser gradualmente expulsas (SILVA, 2008b). Dentre essas localidades pressionadas no local, sem dúvidas, Brasília Teimosa é uma das que mais sofrem assédios. Por estar muito próxima às fronteiras do Pina e Boa Viagem, se situar privilegiadamente na continuação de suas orlas, ter a sua península banhada também pelo Rio Capibaribe e se conectar visualmente com o centro tradicional do Recife, essa última comunidade de diferencia das demais da região e da cidade como um todo, sendo considerada um ponto estratégico pelo mercado imobiliário local. A sua forma de ocupação, arquitetura, gabaritos e dinâmica de organização são muito diversos dos encontrados nas suas circunvizinhanças elitizadas. Mas não é somente pelos seus aspectos geográficos e espaciais que esse bairro se diferencia dos seus vizinhos. Como se verá adiante, ao contrário deles, a Teimosa continua sendo uma parte viva da cidade, que guarda a sua história e se conecta com o seu território, estabelecendo fortes relações físicas, simbólicas e afetivas com a população que a habita. Porém, o mercado e os grupos que dela querem se apropriar não se atentam a essas questões subjetivas, tendo a intenção de anular essa cultura a partir do estabelecimento de um outro tipo de paisagem no local, não se atentando as preexistências da Brasília, a tratando como um território neutro.
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Esses conflitos ideológicos, culturais e simbólicos, entre uma população que resiste teimosamente no lugar em que ela mesma construiu e os grupos sociais que agem por meio de um mercado que visa transformar aquela paisagem de forma a refletir os seus interesses de domínio e propagação cultural, dá origem ao cenário paisagístico conflituoso que se vê no local, que exprime esses embates sociais de forma palpável (imagem 14).
Imagem 14 - O conflito entre as paisagens de Brasília Teimosa (em primeiro plano) e Pina e Boa Viagem (ao fundo). Fonte: SkyscraperCity, 2011.
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3.1.2 A Brasília que Teima10 Apesar de terem ocorrido muitas mudanças na paisagem do entorno e das fronteiras de Brasília Teimosa nesta última década, desde a urbanização de sua orla, ponto que marca a consolidação do seu território como um todo, ela permanece sem grandes alterações significativas em seu interior (mapa esquemático 8). Nesses anos, a maior modificação observada no local já vem acontecendo gradualmente desde a finalização do Projeto Teimosinho: o adensamento construtivo do bairro. Atualmente, pelo esgotamento de terras em seu interior, somente é possível a construção e a ampliação das edificações existentes a partir de verticalizações ou através da maior ocupação dos lotes onde se encontram. Essa necessidade de crescimento das residências é causada pelo aumento das famílias ou pela implantação de pequenos comércios e serviços anexos a elas. Hoje, restam poucas casas térreas na Brasília, a maioria delas tem entre dois ou três pavimentos, mas mesmo com as mudanças, esses edifícios continuam a se relacionar diretamente ou quase diretamente com a rua, não havendo interpolações entre eles e as vias. Convém repetir que as obras realizadas no bairro muitas vezes desobedecem às regras do Plano de Regularização vigente para ele, que estabelece como principais diretrizes, um gabarito máximo de 4 pavimentos e a proibição do remembramento dos lotes, que devem ter uma taxa máxima de ocupação de 80% (SILVA, 2011) (mapa 3 e 4; imagem 15 e 16). “Porque o metro quadrado de Brasília Teimosa ficou muito escasso, então as pessoas cresceram família e começaram a fazer algumas edificações de primeiro e segundo andar, até terceiro andar, né, então passa de pai pra filho (...)” (Maninho, porteiro aposentado, 48 anos). “(...) As famílias cresceram, aí, vão construindo pra cima, né, pra lá, né, fica muito apertado” (Edileuza Simões, cuidadora, 58 anos). “Meus filhos foram crescendo, (...) aí, levantou [a casa], uma mora aqui, outro mora lá trás, (...) e tá fazendo pra outra” (Maria Rita, dona de casa, 74 anos).
Apesar das reformas nas edificações existentes causarem a diminuição da habitabilidade do bairro, se analisadas individualmente, há um claro aumento na sua qualidade infraestrutural, sendo quase todas elas feitas em alvenaria e livres de alagamentos e invasões da maré, principalmente após a retirada das palafitas da beira-mar. Esse fator pode ser visto como um reflexo da consolidação da Teimosa e das melhorias dos 10
Essa sessão se embasa fundamentalmente nas informações dadas pelos entrevistados e nas observações feita in loco.
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índices sociais dos seus moradores nos últimos anos (IBGE, 2010)11. Mesmo com as melhores condições econômicas alcançadas pela população da Brasília, dificilmente as pessoas que nela vivem tem o desejo de se mudar ou de residir em um outro local com um status mais elitizado, o que justifica o adensamento da área. Isso pode ser visto como um reflexo das ligações afetivas e objetivas que elas têm com esse lugar (Edu Guerra; Júlio Alcino; Taciana Melo, 2017). “Eu fui o primeiro aqui nesta rua a fazer (...) a reforma da casa (...). Aí, resultado, só tinha a gente, daqui eu avistava as
corridas de jangada que existia aí na frente, era só subir e ficava vendo, hoje em dia é assim, cercando tudo aqui. Aí, você anda por aí, e o engraçado que quem tá vindo morar aqui não é ninguém de fora, é daqui de dentro mesmo, o
pessoal daqui de dentro compram, reformam, fazem um prediozinho (Edu Guerra, técnico de construção aposentado, 68 anos). “Eu moro aqui, primeiro, porque eu gosto, mesmo se eu tivesse condição de comprar uma casa melhor, eu preferia comprar aqui, porque, pra mim, não tem bairro melhor que Brasília, é um bairro que tô perto da praia, é um bairro perto da cidade, tem tudo, entendeu? Tudo tem aqui na Brasília” (Fernando Paes, motorista, 58 anos).
Imagem 15 - Brasília Teimosa e sua grande densidade construtiva atualmente. Foto de Osvaldo Santos. Fonte: Flickr Osvaldo Santos, 2013. 11
Em relação aos seus vizinhos, Pina e Boa Viagem, a renda mensal média do bairro se elevou proporcionalmente entre os anos de 2000 e 2010. Além disso, houve o aumento de alguns de seus índices
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Imagem 16 - Brasília Teimosa densamente construída. Rua Badejo, 2017. À direita, percebe-se que a edificação verde pertencente a um restaurante se encontra irregular por ter mais pavimentos do que é permitido para a área. Fonte: acervo pessoal da autora.
De uma maneira geral, como visto anteriormente, no decorrer da sua história, através da Teimosia e do engajamento da sua gente nas lutas, a comunidade alcançou muitas conquistas, conseguindo obter um bom nível de habitualidade e chegando a construir a paisagem que a caracteriza hoje. No entanto, alguns problemas infraestruturais e de saneamento ainda persistem no local, como as deficiências no esgotamento sanitário, e na limpeza urbana e as falhas na drenagem e no calçamento das vias (Rogério Calisto; Wilson Lapa, 2017). O transporte público também é uma outra questão problemática, pois apesar de haver três linhas de ônibus diferentes atendendo ao local12, eles passam em horários muito espaçados, não suprindo a demanda da população (SILVA, 2011). Isso dificulta bastante a mobilidade dos moradores, principalmente daqueles que moram sociais, como por exemplo, a taxa de escolaridade (IBGE, 2010). 12 As três linhas são: Brasília/ Conde da Boa Vista; Brasília Teimosa; e Prazeres/Boa Viagem.
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distante das fronteiras com o Pina, e não têm como opção adicional a utilização dos ônibus que atendem a esse outro bairro (imagem 17 e 18). Algumas pessoas também reclamam que, apesar da comunidade sempre ter sido um local seguro e tranquilo, atualmente a ocorrência de assaltos e furtos cresceu em seu território. O tráfico de drogas também foi levantado como um ponto problemático no bairro (André Francisco; Claudete Barros; Dona Leu; Edileuza Simões, 201713). “A demora dos ônibus, meu Deus, é um massacre (...)” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos). “(...) Os ponto negativo é só a insegurança, que ultimamente tá acontecendo (...)” (Jane Abreu, 61 anos, Farmacêutica). “Negativo é essas lama ai na porta aí ó, e a violência tá demais” (Rogério Calisto, 41 anos).
Imagem 17- Problemas de lixo e esgoto na área da Colônia. Fonte: acervo pessoal da autora. 13
Esses foram alguns dos entrevistados que se queixaram sobre essas questões, que foram recorrentes na maioria das entrevistas.
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Imagem 18 - Lixo ao lado do Mercado da Brasília. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
Em relação aos avanços conquistados, ao longo dos anos, houve a implantação de muitos equipamentos públicos que melhoraram a qualidade de vida da população. Atualmente, atendem ao bairro sete escolas públicas (Escola Municipal Engenheiro Henoch Coutinho de Melo, Escola Municipal Umberto Gondim, Escola Municipal Escritor Josué de Castro, Escola Estadual de Referência João Bezerra, Escola Estadual Assis Chateaubriand, Escola Estadual Luís de Camões e Escola Municipal Bernard Van Lee), uma creche (Creche Municipal Brasília Teimosa) e dois postos de saúde (Posto de Saúde Djalma de Holanda e Posto de Saúde Bernardo Van Lee) (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 2017)(mapa 5). A densificação gradual dessa localidade, como já observado anteriormente, contribuiu para a diminuição das áreas verdes no interior dos seus lotes e vias. Ademais, nela somente existem três pequenas praças que não suprem a necessidade dos residentes: a da Vila Teimosinho, a de São Pedro e a Abelardo Baltar (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 2017). Por conta disso, com exceção das orlas, poucos são os locais por onde o bairro pode respirar. Em contrapartida, o traçado viário existente na maior parte do seu território contribui para a existência de uma boa ventilação no seu interior. Pela orientação sudoeste-nordeste da maioria das suas ruas, os ventos marítimos conseguem adentrar no tecido da Brasília formando corredores ventilados e evitando as ilhas de calor (mapa 6). “(...) É uma casa em cima da outra, a arquitetura, não tem ventilação dentro das casas, aí, você vai pra calçada, como todas as ruas vai dá pro mar, aí, a ventilação, ela circula” (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos). “Não tem praças grandes, né, que a gente possa se encontrar, brincar e se divertir. (...) A diversão da gente é a Praia do Buraco da Véia” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos).
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Mapa 2 - Mapa de cheios e vazios. Fonte: levantamento de campo feito pela autora. Mapa 1 - Mapa de Gabaritos. Fonte: Fonte: levantamento de campo feito pela autora.
Mapa 5 - Mapa dos equipamentos públicos existentes no bairro. { 206 } Fonte: elaborado pela autora.
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Mapa 6 - Elementos naturais da Paisagem. Fonte: elaborado pela { 207 } autora.
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Em relação a essa malha viária e ao formato das quadras, também não se percebem grandes mudanças. O fato de o bairro ter tido um loteamento planejado, com ruas de traçado organizado e racional, contribui para a sua funcionalidade, não existindo a necessidade de grandes alterações ao longo dos anos. Desse modo, hoje, o seu “anel viário” principal, constituído pelas Ruas Comendador Moraes, Dagoberto Pires, Arabaiana, Delfim e Francisco Valpassos, está definitivamente consolidado. Nesse percurso, que tem como eixo principal a Rua Arabaiana, se concentra a zona comercial da Teimosa, abrigando diversos tipos de comércios e serviços, que lhe dão autossuficiência. Também é por esse caminho que passam as linhas de ônibus que atendem ao bairro, o que reforça a centralidade dessa zona (GRANDE RECIFE CONSÓRCIO DE TRANSPORTE, 2017) (imagem 19 e 20). A Avenida Brasília Formosa também se consolida como um importante eixo de mobilidade, tendo uma ciclovia e abrigando em sua extremidade o terminal de transporte público, localizado em frente à entrada do Iate Clube. Além disso, ao longo da extensão dessa via se concentram diversos tipos de quiosques, restaurantes e bares, além de sanitários públicos, pequenas áreas de estar, locais para exercícios, parquinhos infantis e a academia da cidade. Por esses usos, e por margear a orla, ela se torna não somente uma necessidade funcional, mas também uma importante zona de lazer, respiro e sociabilidade para os moradores, que estabelecem nesse local muitos de seus hábitos, como o de brincar, comer, pescar (profissionalmente ou por entretenimento), praticar esportes, beber, conversar e tomar banho na praia, convivendo entre si e com a natureza, se relacionando com o mar intensamente14 (imagem 21 e 22). Assim, o anel viário da Arabaiana e a Orla podem ser vistas como as duas principais centralidades do bairro, que agregam um maior número de pessoas, comércios e serviços. A primeira abriga os usos comerciais mais gerais, tendo desde mercados, a lojas de confecções, miudezas, bicheiros, pequenos restaurantes, bares, açougues e peixarias. Além dos pontos fixos, se observa também uma grande quantidade de ambulantes com barracas e bancas móveis, geralmente vendendo peixes, frutos do mar, frutas, verduras e alimentos em geral. Ainda que o comércio seja variado, percebe-se uma maior comercialização de alimentos, principalmente os extraídos do mar e do rio da Brasília, muitas vezes vendidos pelos próprios pescadores como meio de subsistência (mapa 7). Na segunda centralidade, a orla, percebe-se a formação de um polo gastronômico, que atende tanto a comunidade, quanto aos turistas (URPIA, 2014), que geralmente vão para o Buraco da Véia, para o Iate Clube ou para o Parque das Esculturas (ponto turístico localizado próximo à comunidade), passando pela Brasília. Essas características também se estendem para as “cabeças” de quadra que chegam à beira-mar. 14
Esses ritos foram identificados a partir das entrevistas, das observações in loco e dos levantamentos de usos no bairro.
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“Naquela avenida principal [Rua Arabaiana], fica vendendo as coisas na calçada, assim, bebida, tira gosto, essas coisas, assim, espetinho, é muito movimentado” (Maria das Graças, Comerciante, 67 anos). “(...) Você não precisa sair da Brasília pra fazer muita coisa, você tem, é, um centro comercial bem bacana (...). Brasília, ela te oferece esse leque de oportunidades” (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos). “(...) Já deu vontade de morar próximo ao meu trabalho, que eu trabalho lá em Itapissuma, fica muito distante, fica a
52 quilômetro. Mas é “compricado”, quando eu penso aqui nessa orla, nas amizades, no comércio, no próprio comércio, que a gente não precisa sair pra canto nenhum, tendo um comércio desse... (Júlio Alcino, cooperador de empilhadeira, 40 anos) “O mar é a natureza aonde você respira o ar puro, onde as pessoas vão fazer seu lazer, num é, e desfruta de muitas
coisa além da, do que, o mar pode oferecer, que é a pesca, outros tipo de coisa, assim, a natureza, o lazer” (Maninho, porteiro aposentado, 48 anos). “(...) Fez uma faixa de areia, né, que aí, esportivamente, a gente aproveita, dá pra jogar uma “peladazinha”, dá pra, é, voleibol, futevôlei, é, (...) futebol de areia, dá pra pelo menos fazer algum tipo de programação (...)” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos).
Imagem 19 - Rua Arabaiana, a principal do bairro. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
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Imagem 20 - Rua Arabaiana. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 21 - Praia do Buraco da Véia sendo amplamente utilizada. Fonte: URPIA, 2014.
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Imagem 22 - Avenida Brasília Formosa. Observar os bares, a ciclovia e o espaço para exercícios, todos nesse trecho. Fonte: acervo pessoal da autora.
Em menor grau, há ainda um terceiro ponto de grande movimentação situado dentro da ZEIS da comunidade, mas já fora do perímetro do bairro, no Pina. Ele consiste no Mercado local, que também agrega bares, restaurantes e venda de pescados, atraindo para o seu entorno alguns outros tipos de comércios (mapa 7; imagem 23 e 24). Apesar dessas três zonas terem sido apontadas como principais centralidades do bairro, percebe-se uma distribuição de pequenas vendas, serviços e pontos comerciais em todo o seu território, que frequentemente dividem os lotes com as residências dos seus proprietários. Nota-se também que a movimentação de pessoas nas ruas é intensa no bairro como um todo, já que além de se dedicarem as atividades comerciais, os moradores também possuem o hábito de conversar com a vizinhança e se sentar na calçada, utilizando a rua como um espaço de interação, a vivendo amplamente e fazendo com que, pelas próprias palavras dos teimosos, o bairro “não durma nunca” (FABRICIO, 2014) (mapa 8). “(...) A gente vê assim, é a mesma coisa sair de meia noite, uma hora da manhã, parece festa, entendeu?” (Verônica Ribeiro, comerciante, 52 anos). “Aqui é animado” (Rogério Calisto, 41 anos). “(...) Toda hora tem gente na Brasília acordado, ai é um bairro bom por causa disso” (José Severino, pescador, 47 anos).
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Imagem 23 - Praça Abelardo Baltar e o Mercado Público da Brasília vistos em um dia de domingo à tarde, horário de menor movimento. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 24 - Comércios ao redor do Mercado Público. Fonte: acervo pessoal da autora.
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Mapa 7 - Mapa das centralidades do bairro. Fonte: elaborado pela autora.
Percebe-se que a vocação gastronômica e a grande comercialização de produtos alimentícios e pescados na Brasília não ocorrem por acaso. Como comentado no capítulo anterior, a construção do seu território se deu a partir dos ritos sociais relacionados ao rio e ao mar, pelo esforço de uma população pesqueira que o habitou e o transformou fundamentando-se nas águas, sendo essa uma característica que, de alguma forma, permanece até os dias atuais. Hoje, a vivência, a organização e a dinâmica da comunidade se dão através de uma cultura baseada em hábitos de lazer e subsistência diretamente ou indiretamente ligados a isso. Em grande parte, as necessidades econômicas da Teimosa são supridas por atividades que giram em torno da pesca, da sua comercialização, e de outros usos que disso derivam. O lazer também é ligado à pescaria, ao mar, ao rio e as suas orlas, como dito antes (PORTAL G1 DE NOTÍCIAS, 2017) (imagem 25 e 26).
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“Brasília Teimosa é construída em cima dos pescador, isso aqui existe hoje através dos pescadores, isso aqui é uma ilha ilhada de pescador” (Dentinho, pescador, 48 anos).
“(...) Como ela foi construída aqui, pelos pescadores, tem toda uma história (...). É uma comunidade urbana, mas de pesca, né? (...) As pessoas que vivem ao entorno da comunidade, a maioria das pessoas ainda dependem muito dessa questão da pesca, então, acredito que não teria outra localidade que pudesse ser melhor pras pessoas que vivem aqui” (Taciana Melo, professora, 29 anos).
Imagem 25 - Bares e movimento na orla marítima. Fonte: acervo pessoal da autora
Imagem 26 - Dona Leu, marisqueira do bairro exercendo sua atividade no Rio Capibaribe ao lado da comunidade. Fonte: BRASÍLIA...2014.
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Dessa forma, grande parte das atividades culturais do bairro é ligada à sua história e à sua natureza. Sobre isso, pode-se citar que algumas das mais de 50 instituições, ONGs e escolas atuantes na Brasília15, focam as suas atividades educacionais e de conscientização ambiental com adultos, crianças e adolescentes através de ações e iniciativas integradas ao mar, ao mangue e ao rio16. Muitos desses grupos foram criados nas décadas anteriores, quando a dança, a música, o teatro e as artes em geral, serviram para conduzir e fortalecer a luta da comunidade por melhorias e pelo direito à permanência, sendo esses elementos ainda muito fortes na cultura do bairro17 (Mika; Luciberto Xavier, 2017). “(...) Dentro da própria comunidade há uma efervescência cultural muito grande, é uma coisa bem bacana que eu acho” (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos). “Olha, toda a história aqui de Brasília Teimosa foi feita com o auxílio da arte” (Mika, bailarino e coreógrafo, 50 anos).
Ainda sobre a orla marítima, ponto de encontro, comércio e lazer da população, sabe-se que, embora ela seja quase que completamente permeada pela mesma Avenida, a Brasília Formosa, e tenha uma certa homogeneidade em toda a sua extensão, seus trechos se apresentam em quatro partes distintas entre si (mapa 9). A primeira delas é a das proximidades do Pina. Nesse ponto, ela se encontra diretamente construída sobre a areia e se integra com a beira-mar desse outro bairro vizinho. Esta é uma das frações mais movimentados das praias da zona sul da cidade. Os edifícios verticalizados das suas circunvizinhanças se apresentam fortemente na sua paisagem (imagem 27 e 28). O fim desse trecho se dá na Praça São Pedro, e a parte que se liga a ele é a da colônia, onde começa a avenida asfaltada. As edificações que formam essa última são unidas, geminadas, criando uma curva quase cega, tendo apenas um beco que as ligam ao interior do território. Aqui, onde há uma presença menor de comércios, a maioria das casas se encontram abaixo do nível da avenida, não se ligando diretamente a ela, e sim através de uma rua estreita que se conecta com a principal (imagem 29 e 30). 15
Dentre essas instituições e grupos culturais atuantes no bairro, tem-se, por exemplo, a Escola Mangue, o Clube de Mães, o Balé Deveras, A Turma do Flau, o CEPOMA (Centro de Educação Popular Mailde Araújo), o Grupo de Dança Sereias Teimosas, a Orquestra Frevo Brasil e o Maracatu Nação Erê. 16 Sobre esse trabalho com a natureza, destaca-se a atuação da Escola Mangue da comunidade. Ela foi fundada em 2003, com o objetivo de promover atividades culturais e pedagógicas que conectem as comunidades “ribeirinhas, estuarinas e de praia” aos seus saberes, as suas histórias e aos seus biomas (CENTRO ESCOLA MANGUE, 201-). 17 Como prova disso, desde 2006, o Balé Deveras vem se apresentando com a peça “Daqui não Saio, Daqui Ninguém me tira”, que conta a história do bairro a partir de cinco episódios de sua luta. O espetáculo vem sendo apresentado em alguns teatros da cidade e atualmente tem uma turnê regional prevista para começar em breve no nordeste (Mika, 2017).
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Imagem 27 - Primeira parte da orla. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 28 - Corte esquemático da primeira parte da orla. Fonte: elaborado pela autora. Mapa 9 - Diferentes partes da orla. Fonte: elaborado pela autora.
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Imagem 29 - Segunda parte da orla. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 30 - Corte esquemático da Segunda parte da orla. Fonte: elaborado pela autora.
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Após a Rua Afrânio, quando se inicia a parte planejada do bairro, há um terceiro momento dessa orla, que é retilíneo e com muitos comércios, quiosques, bares, e os usos de entretenimento citados anteriormente. A partir daqui, as residências da beira-mar tem um padrão construtivo visivelmente menos humilde (imagem 31 e 32).
Imagem 31 - Terceira parte da orla. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 32 - Corte esquemático da Terceira parte da orla. Fonte: elaborado pela autora.
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Por fim, tem-se a Praia do Buraco da Véia. Ela, que já chega a ser um ponto turístico da cidade, é intensamente utilizada como local de banho, permanência e lazer pela população, sendo tida como um emblema da comunidade, símbolo da sua paisagem. Nesse local, os arrecifes, que acompanham a orla do bairro desde o Pina, se mostram expressivamente e fazem uma ligação visual entre a Brasília, a Ilha de Santo Antônio e São José e ao Bairro do Recife. Essas rochas formam piscinas naturais também bastante utilizadas (URPIA, 2014). Cabe lembrar que, na década de 70, o Iate Clube tentou se apropriar dessa praia por meio da construção de um muro (o “muro da vergonha”), que foi demolido pela própria população, a reintegrado à comunidade (BRITO; MARGARITA, 2016) (imagem 33 e 34).
Imagem 33 - Quarta parte da orla, o Buraco da Véia, 2015. Fonte: Flickr Rafael Reines, 2015.
Imagem 34 - Corte esquemático da Quarta parte da orla. Fonte: elaborado pela autora.
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Separando a orla marítima e a fluvial, sobre a imponente linha de arrecifes, há uma estrada chamada de “pistinha” pelos moradores (Edileuza Simões, 2017), que segue das proximidades do Iate Clube até o Parque das Esculturas. Essa divisão entre o mar e o rio é um lugar de grande concentração de pescadores (imagem 35). Na orla fluvial, logo após o Iate Clube, que não se conecta à dinâmica de vida do bairro (Jane Abreu, 2017; Severino Francisco, 2017), há a Associação de Pescadores de Brasília Teimosa. Ela é um lugar de apoio a esses profissionais, sendo dotada de um píer, onde se concentram vários barcos, os quais podem ser vistos ao longo de toda a margem noroeste do bairro, até os terrenos da Ecomariner, uma empresa de venda de embarcações localizada na extremidade da ZEIS (imagem 36).
Imagem 35 - Pistinha e concentração dos barcos. Fonte: acervo pessoal da autora.
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Imagem 36 - Pier da Associação de Pescadores e barcos em toda a orla fluvial do bairro. Fonte: acervo pessoal da autora.
É nesse lado da península que também se encontram duas das três vilas construídas entre as décadas de 70 e 80 para a realocação das palafitas da orla: a Vila da Prata e a Vila Moacir Gomes. Em conversa com os moradores, a zona onde se situam, principalmente nas proximidades dessa primeira, é apontada como um dos locais de maior criminalidade dentro do bairro (Maninho; Wilson Lapa, 2017). Ambas as vilas têm vias mais curtas e estreitas do que as encontradas na malha ortogonal planejada do interior do bairro, no centro do Areal Novo, que também se diferem das ruas curvas e irregulares encontradas na parte mais antiga da ocupação do local, a Colônia (Areal Antigo) (mapa 10, 11, 12; imagem 37, 38 e 39). Em todos esses casos, além das ruas oficiais, ainda existe a presença de pequenos “becos” e travessas consolidadas. Afora essas diferenças, percebe-se que a densidade, as tipologias e as alturas das edificações dessas áreas são muito similares. O Areal novo, o Areal antigo, a Vila da Prata e a Vila Moacir Gomes compõem oficialmente o bairro da Brasília. A ZEIS do bairro se estende para além de suas fronteiras, e tem seus territórios também reconhecidos pela população como pertencentes à comunidade. É nessa área onde se situa a Vila Teimosinho, a terceira das entregues nos anos anteriores. Ela possui um traçado semelhante ao das outras duas e edificações parecidas com as encontradas na
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Teimosa como um todo (mapa 13; imagem 40). Pela presença da Praça em seu interior, ela se torna ligeiramente mais aberta e menos densa que as demais zonas analisadas anteriormente.
Imagem 37 e Mapa 10 - Vila da Prata atualmente. Fonte: Google Maps, 2016; elaborado pela autora..
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Imagem 38 e Mapa 11 - Vila Moacir Gomes atualmente. Fonte: Google Maps, 2016; elaborado pela autora.
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Imagem 39 e Mapa 12 – Área da Colônia atualmente. Fonte: Google Maps, 2016; elaborado pela autora.
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Imagem 40 e Mapa 13 - Vila Teimosinho atualmente. Fonte: Google Maps, 2016; elaborado pela autora.
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Ao lado dessa Vila, está o Conjunto Habitacional Brasília Teimosa que como já explorado, destoa da tipologia e do tipo de ocupação que se pratica no local, se isolando das vizinhanças por meio de um muro, que é aberto somente na sua entrada, situada na Rua das Oficinas. Entre esse conjunto, a Vila Teimosinho, e a parte do Areal está concentrada a maioria dos equipamentos públicos citados anteriormente, algumas das escolas e um dos postos públicos que atendem a comunidade. Perto desse ponto também se encontra uma ZAN (Zona de ambiente Natural) (mapa 14 e 15; imagem 41).
Imagem 41 e Mapa 14 – Conjunto Habitacional atualmente. Fonte: Google Maps, 2016; elaborado pela autora;
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Mapa 15 - Zoneamento Geral do Bairro. Fonte: elaborado pela { 227autora. }
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O restante da área ZEIS que fica fora do bairro e alheia às zonas elencadas até então, se caracteriza como uma transição entre a Brasília e o Pina. Nesses territórios e nas suas proximidades são onde se aplicam as principais investidas e ameaças do mercado imobiliário à Teimosa, que nela quer adentrar sem se sensibilizar pela sua condição de Zona Especial e pelas ligações e relações que ela tem com os seus moradores18 (mapa 15). Apesar da diversidade encontrada nas distintas partes do bairro, é notório um aspecto de homogeneidade que compõe uma unidade que distingue a paisagem da Brasília daquela das suas circunvizinhanças, que com ela conflita a partir de uma ocupação espacial completamente distinta e de conotações e significados diversos (imagem 42). Mesmo existindo essa homogeneidade, cabe dizer que as áreas situadas entre a Avenida Herculano Bandeira e a Rua Francisco Valpassos, tanto pela presença de uma grande quantidade de equipamentos públicos e do conjunto habitacional, que tem implantações e tipologias que se diferem das demais edificações da comunidade, quanto por não fazerem mais parte do perímetro da Brasília, somente da sua ZEIS, se comportam como uma zona de amortecimento entre a paisagem da Teimosa e a do seu bairro vizinho (mapa 15).
Imagem 42 - A paisagem de Brasília Teimosa formando uma unidade. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016.
Ao contrário do que se viu no Pina e em Boa Viagem, a Brasília continua sendo um lugar habitado, que guarda a sua história em seu território, que por sua vez é apropriado afetivamente pelos seus moradores a partir de hábitos, práticas sociais e uma dinâmica local que estabelecem ligações muito estreitas com o mar e com o rio, que desde o início da 18
Como se verá na sessão seguinte.
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sua formação fizeram parte não somente fisicamente dessa paisagem, mas também nela estavam inseridos pelas simbologias, e ritos que se tinha e se tem com eles. Assim, mais do que representar uma permanência palpável, as águas continuam tendo um lugar central na vida da população teimosa desde o seu nascimento como comunidade. 3.2 O FUTURO QUE SE ENCENA 3.2.1 Onde querem Boa Viagem, sou Teimosia19 Ainda que o mercado imobiliário não possa atuar dentro do espaço da Brasília por conta da sua condição de ZEIS, percebe-se que as obras e os edifícios produzidos recentemente nas suas fronteiras já podem ser vistos ao se observar a sua paisagem quando se está dentro ou fora do seu território, olhando-se para ele de vários outros pontos do Recife. Nesse sentido, nota-se que os conflitos de simbologias e interesses que vão contra ou a favor da permanência da Teimosa onde ela se encontra se materializam nesse contexto paisagístico de maneira facilmente visível. Ainda que diversos valores e atores sociais possam coexistir nesse mesmo local, é interessante retomar que geralmente são os grupos dominantes, neste caso, as elites e o mercado que as serve, que vêm comandando o processo do fazer da paisagem recifense (COSGROVE, 2006). Nesse sentido, por serem protagonistas da sua história e do habitar do seu território, a Brasília e os seus moradores vêm sendo um exemplo de resistência. Cabe perceber que a renovação arquitetônica da cidade, que se quer realizar também nessa área, não é um problema em si. Sabe-se que as paisagens não se congelam, mas que ao contrário, se fazem e se reinventam a cada dia, a partir de um jogo de permanências e mudanças, que reflete a vida da sociedade que a compõe (BESSE, 2014). A questão patológica desse processo existe quando há uma reprodução de uma cidade neutra, que se esquece da sua história, de suas pessoas, das suas individualidades e da vida que nela se faz presente e que a torna uma obra trajectiva, um meio relacional humano (BERQUE, 2010). Observa-se que esse problema é uma característica das propostas e projetos feitos pelo mercado imobiliário recifense, que vem atuando fortemente na área da bacia do Pina e deseja adentrar os territórios da Teimosa a partir da neutralização de sua paisagem. A proteção da comunidade a essas investidas ainda é legalmente frágil. Embora ela seja uma ZEIS, a questão da posse de suas casas é uma pendência, sendo poucos os moradores que tem documentos que comprovem a sua propriedade. A morosidade para a resolução dessa situação se dá principalmente pela grande extensão da sua área como um 19
Parafraseando a frase “onde queres Leblon, sou Pernambuco”, da música “O Quereres”, de autoria de Caetano Veloso.
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todo, pela complicação em se resolver a questão jurídica com a União, que originalmente tinha o domínio das terras, e por último, pela forte pressão do mercado sobre o seu território (BRITO; MARGARITA, 2016; SANTOS, 2011). Em 2014, a Prefeitura do Recife implantou o recurso da Concessão do Direito Real de Uso (CDRU) no bairro. Ela foi dada por 50 anos, sendo renováveis por mais 50. Porém, em uma possibilidade tida como remota pelos órgãos governamentais, caso haja um interesse público sobre aqueles terrenos, eles podem ser objeto de desapropriação. Se isso acontecesse, haveria a indenização apenas dos imóveis, já que o terreno continua sendo de propriedade da União (BRITO; MARGARITA, 2016). Segundo informações obtidas pelo Conselho de Moradores e pelos entrevistados, hoje existem também algumas residências que estão sob a Concessão de uso especial para Fins de Moradia (CUEM) (Celeste Valença, 2017; Wilson Lapa, 2017). Esses instrumentos utilizados na Brasília não inibem o interesse que o mercado e os grandes empreendedores têm por ela. Recentemente, podem ser destacados alguns episódios onde isso se fez mais visível, tanto a partir de construções que já foram feitas, quanto de outras que se ensejam concretizar na comunidade e no seu entorno (mapa 16). “A gente tem essa questão, o pessoal acha que não, o prefeito diz que não, não sei quem diz que não, mas assim, mesmo com essa questão da condição de ZEIS, hoje é muito grande as construtoras aqui dentro” (Celeste Maria, professora aposentada, 61 anos). “(...) Se dependesse dos grandes empresários, comprava um trator bem grande, passava aqui por cima de todo mundo. (...) A gente sabe que, evidentemente, ia fazer a continuação de Boa Viagem, construir prédios e mais prédios aqui na comunidade” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos).
Em relação a isso, um fato crucial foi a criação do edifício de escritórios da empresa JCPM na entrada principal do bairro, a sudoeste do seu território. Originalmente, 30% do terreno onde ele se encontra pertencia à área da ZEIS Teimosa, que teve o seu perímetro diminuído para permitir essa construção. Somente dessa forma foi possível a concretização dessa edificação, já que ela possui 20 pavimentos, o que vai contra as premissas do PREZEIS (BRITO; MARGARITA, 2016). Contrastando com o que acontece com os moradores pobres da comunidade, esses empreendedores já conseguiram regularizar a posse da área (VASCONCELOS, 2011) (imagem 43, 44 e 45). O processo de mudança dos limites da ZEIS e aprovação desse projeto aconteceu por meios tortuosos, onde foram feitas negociações quase às escuras, mediadas pelo poder público, e sem negociação com a comunidade. As lideranças, que souberam às pressas das reuniões com a empresa, não conseguiram barrar os empreendedores. Vendo a derrota iminente nessa batalha, tentou-se negociar a troca daquela área pelo valor de 1 milhão de
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reais (BRITO; MARGARITA, 2016). Mesmo depois de firmado esse acordo, o dinheiro, que deveria ter sido investido para melhorias na Brasília, “se perdeu” nos cofres públicos e nunca chegou a ser visto pelos moradores20. “Olha [sobre a construção do empresarial JCPM], em escala de 0 a 10, eu digo que foi ruim 9” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos). “Brasília tem tudo, né? Tem tudo, além de ter tudo, de, assim, fica localizada numa área que é muito perto do centro, Marco Zero, Boa Viagem, você quer ir no parque Boa Viagem, é perto, tudo é perto. É perto. É um bairro muito bom. É por isso que as empreiteira fica tudo de olho. (...) JCPM (...) fez logo um prédio, né? (...) Ah, coisa boa que ele faz é
os curso que ele oferece pra os adolescente, né, muito bom, muito bom os curso. Mas isso já é pra [gesticulando um abocanhamento com as mãos]... (...) Vê como ele é esperto? Um empresarial na entrada, já fez um shopping, tudo pertinho. Cercando.” (Edileuza Simões, cuidadora, 58 anos).
Imagem 43 - Edifício do JCPM conflitando com a Paisagem Teimosa ao fundo. Foto de Francisco Edson Mendes, 2008. Fonte: Panoramio Google Maps, 2008.
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Segundo o Líder comunitário Wilson Lapa, apenas duas representantes da COMUL do bairro conseguiram estar presentes nessas negociações. Ele também afirma que o dinheiro negociado chegou a ser depositado nos cofres da prefeitura, mas que de lá, não se sabe mais do seu paradeiro. A ideia era que, visto o esgotamento de terrenos no interior da comunidade para a construção de novas moradias, o montante fosse direcionado para o recapeamento e o asfaltamento das ruas do bairro, o que acabou não acontecendo. Houve ainda um boato de que o valor pago pelo Grupo JCPM foi investido pelo poder público no Conjunto Habitacional do Cordeiro, na ocasião do reassentamento dos moradores das palafitas nos anos 2000, mas nada disso foi provado (Wilson Lapa, 2017).
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Mapa 16 - Projetos do entorno da Paisagem Teimosa. Fonte: elaborado pela autora.
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Imagem 44 - Empresarial JCPM visto da Rua Francisco Valpassos no interior da comunidade Teimosa, 2017. Perceber as diferenças tipológicas e de gabarito. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 45 - Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o empresarial JCPM. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado).
Também nesse período, começou a ser construída a Via Mangue21, um empreendimento viário gerador de grandes mudanças urbanísticas e paisagísticas na zona 21
Várias versões do projeto foram apresentadas ao longo das diversas gestões. Uma das proposta previa uma via suspensa sobre o mangue, sendo onerosa e ambientalmente inviável. Uma outra sugeria a criação de uma via de circulação rápida que margearia a maré, e que pra ser construída precisaria realocar toda a população ribeirinha que ocupava o local até então. Por fim, a proposta escolhida se utiliza das vias locais já existentes, com a expulsão de uma quantidade razoável de pessoas em situação de baixa renda. Essas realocações geram uma pressão por partes dos setores imobiliários que visam modificar a LUOS recifense, diminuindo as áreas de ZEIS e atendendo assim aos seus interesses especulativos (SILVA, 2008a). O projeto final foi executado pela construtora Queiroz Galvão.
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sul do Recife. Apesar de atender prioritariamente ao trânsito de Boa Viagem, ligando todo esse bairro às áreas centrais da cidade, ela gera impactos no Pina, ameaçando diretamente as suas comunidades, e indiretamente Brasília Teimosa. Idealizada ainda na década de 1990 (sob o nome de Linha Verde), essa obra foi iniciada apenas em 2008, com a construção de uma passarela sobre a Avenida Herculano Bandeira e do Túnel Josué de Castro, que liga aquela via à Rua da República Árabe Unida (DE MORAIS; SILVA, 2010). Propondo melhorar a fluidez do trânsito da Região, o empreendimento previu a urbanização da borda do Parque dos Manguezais e o reassentamento de uma população humilde que ali vivia22. A sua criação, feita pelo poder público, além de tirar essas moradias carentes do local, ainda gerou o aumento da especulação imobiliária da região e viabilizou algumas das obras privadas feitas posteriormente (BARBOSA, 2014). Totalmente finalizada em 2016, essa via pode ser vista como o começo da apropriação do manguezal do Pina, processo que pode desencadear graves consequências ambientais para a cidade como um todo (CONCRETO...2012) (imagem 46 e 47).
Imagem 46 - Via mangue em construção. Ao fundo à esquerda, a comunidade de Brasília Teimosa. Fonte: Blog Priscila Krause, 2014.
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Os moradores das comunidades Beira Rio, Jardim Beira Rio, Pantanal, Paraíso, Deus nos Acuda e Xuxa foram realocados para três conjuntos habitacionais, dois localizados no Pina, e um no bairro da Imbiribeira (Projeto...2011).
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Imagem 47 - Traçado da Via Mangue. Abaixo, á direita, a comunidade de Brasília Teimosa. Fonte: Blog Transporte na Região Metropolitana do Recife, 2013.
“O rico, a indústria, ela acaba com você, ela tira você da sua casa aqui pra fazer avenida pra passar carro, quer dizer, ela (...) tira você do lugar que você é nativo, dali, criado e nascido ali, (...) é uma coisa que não existe. Tá tomando uma coisa que é sua pra botar carro. Quer dizer, beneficia você? Não, beneficia a indústria. Quem vai ganhar dinheiro é quem? A indústria. E você perdeu seu lugar que você morava há tantos ano, que você dizia assim “daqui eu não saio, daqui eu não saio, daqui eu não saio”, e o rapaz veio, veio a prefeitura, veio o rico, tirou você dali, [dizendo] vou pagar, compro o que eu quero, e tira você e pronto, pra fazer o quê? Área de carro” (Dentinho, pescador, 48 anos).
Um dos projetos que se beneficiou abertamente com essa dilatação do tecido viário da região foi o Shopping Rio Mar, inaugurado em outubro de 2012 pelo grupo JCPM. Atualmente, ele é o maior centro de compras das regiões norte e nordeste do Brasil (BARBOSA, 2014) e se localiza na área da antiga fábrica da Bacardi, desativada na década de 90. Anexo ao seu edifício principal também foram implantadas 3 torres empresariais verticalizadas23. Para a realização do shopping, foi necessário um grande aterro no mangue anteriormente existente no local, processo mitigado com o replantio de uma área verde expressiva no terreno do empreendimento, que ironicamente acabou recebendo um selo de 23
O shopping tem 4 pavimentos, com 401 lojas, 12 salas de cinema, teatro, academia e parque de diversão distribuídos em uma área construída de 295000m². Os edifícios empresariais tem uma área de 98.572,55m²
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sustentabilidade ambiental24. Os impactos da construção do Rio Mar e da Via Mangue foram sentidos diretamente pela população das comunidades pobres do seu entorno, que sofrem com grandes alagamentos por conta do sufocamento da maré que ali existia anteriormente (SILVA, 2014) (imagem 48).
Imagem 48 - Shopping Rio e suas três torres empresariais. Fonte: SkyscraperCity, 2014.
Essas duas grandes mudanças abrem caminho para a atuação do mercado imobiliário na região, animando a ocorrência de novas obras e edificações (SILVA, 2014). Esse fato já pode observado no entorno imediato da Paisagem Teimosa. Como exemplo disso, tem-se o caso da abertura de uma via estendendo a Rua Francisco Valpassos na comunidade até a Avenida Antônio de Góes, realizada no ano de inauguração do referido shopping, feito em uma parceira entre o mesmo grupo que o construiu (JCPM) e a prefeitura do Recife (SABOIA, 2012) (imagem 49).
com 958 salas. Ao todo existem 7869 vagas de estacionamento oferecidas pelo empreendimento (SILVA, 2014). 24 Sobre isso, percebe-se que “(...) nesse circuito de negociações e compensação, o ambiente físico-natural passa a ser uma mercadoria. O discurso da sustentabilidade e da responsabilidade ambiental é ideológico e
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Imagem 49 - Brasília Teimosa antes e depois da criação da ligação da Rua Francisco Valpassos à Avenida Antônio de Góes. Fonte: Google Mapa, 2011; 2016.
“(...) JCPM criou essa avenida aqui na frente da loja, que não tinha essa avenida aqui, é nova, tem, sei lá, 3, 4 anos, tem menos de 5 anos essa avenida aqui, ela não existia. (...) Essa avenida, ela morre aqui na frente da minha loja, então não tem sentido, né, uma avenida dessa... Ela não foi feita pra morrer aqui na frente da minha loja, entendeu?”(Claldemy Bezerra, administrador, 40 anos).
Atualmente existem outros edifícios verticalizados isolados que estão nas franjas da Brasília, entrando visualmente em seu território. Entre eles, podem ser destacados principalmente o da Advocacia Geral da União (construído em 2001, com 18 pavimentos), o da Receita Federal (datado do mesmo ano, com 15 pavimentos), o Edifício Jopin (criado em 2011, com 22 pavimentos), o Empresarial ITC (do mesmo ano e com 25 pavimentos) e o empresarial Fred Dubeux (de 2012, com 15 pavimentos) (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 2017) (imagem 50 a 67). “Que nem você vê, já tá entrando os prédio, né, os prédio já tá entrando devagarzinho (...)” (José Severino, pescador, 47 anos).
consequentemente alienante, porque não é tão difícil observar que uma construção sendo considerada sustentável agrega mais valor ao seu produto final” (SILVA, 2014, p.55).
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Imagem 50 - Edifício da Advocacia Geral da União. Foto de Wesley MCallister/AscomAGU. Fonte: Flickr Advocacia Geral da União, 2011.
Imagem 51 - Edifício da Advocacia Geral da União visto das proximidades do Mercado da Brasília. Fonte: acervo pessoal da autora. Imagem 52 - Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem a Advocacia Geral da União. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado).
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Imagem 53 – Ao lado, Edifício da Receita Federal na Avenida Antônio de Goes. Fonte: Google Maps, 2016. Imagem 54 – Abaixo, Edifício da Receita Federal visto da Vila Teimosinho. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 55 – Acima, situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o Edifício da Receita Federal. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado).
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Imagem 56 - Edifício Jopin. Fonte: Open Buildings, 201-.
Imagem 57 – Ao lado, Edifício Jopin visto da Rua Delfim, na Vila Moacir Gomes. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 58 – Acima, situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o Edifício Jopin. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado).
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Imagem 59 - Edifício do Empresarial ITC. Fonte: Direct Empreendimentos Imobiliários, 2016.
Imagem 60 – Ao lado, Edifício do Empresarial ITC visto da Rua Francisco Valpassos. Fonte: acervo pessoal da autora. Imagem 61 – Acima, Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o edifício do Empresarial ITC. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado).
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Imagem 62 - Edifício do Empresarial ITC visto da Rua Comendador Moraes. Fonte: Google Maps, 2016.
Imagem 63 - Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o edifício do Empresarial ITC. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado).
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Imagem 64 - Edifício Fred Dubeux. Fonte: Google Maps, 2016.
Imagem 65 - Edifício Fred Dubeux visto da Área da Colônia. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 66 - Situação hipotética de uma paisagem atual harmônica sem o edifício Fred Dubeux. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado).
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Imagem 67 - Edifícios do Pina invadindo a Paisagem Teimosa. Fonte: acervo pessoal da autora.
Sobre isso, cabe considerar a construção das duas torres residenciais da empresa Moura Dubeux no Cais José Estelita, local que se conecta visualmente com a Brasília pela sua lateral fluvial. Cada um desses arranha-céus tem 40 pavimentos, e foram nomeados como Píer Duarte Coelho e Píer Maurício de Nassau. Por se localizarem nas proximidades do centro histórico do tradicional Bairro de São José, elas acabam causando conflitos a paisagem patrimonial ali pré-existente (VERAS, 2014). Por trás de um emblema de implantação de um Recife “moderno”, o objetivo do projeto era o de ser uma âncora para a requalificação daquela região através do desencadeamento de um processo de gentrificação25 na área. Mesmo sendo alvo de diversas polêmicas e reações contrárias a sua concretização, essas edificações conseguiram ser aprovadas e foram inauguradas no ano de 2006 (BARBOSA, 2014) (imagem 68, 69 e 70). “(...) Aquilo ali, ó [apontando para o Cais José Estelita], aquilo ali existia uns tonel ali, ali se chamava o melaço, ali era muita carreta, ali ainda, ainda tem uns tonel, tá vendo, ali tem uns tonel ali, ali era no melaço, tá certo? Aquilo ali, veja só, aquilo ali, o certo aquilo ali é da gente que é pescador, ali é mangue, agora você vê (...), tomaram o da gente pra fazer benefício pros rico, quer dizer, querem fazer ali, quer, vai ficar bonito, vai, pra eles, pra gente não (...). Como é que o pescador, eu, eu sou nativo daqui tô vendo aquilo ali todo dia, passo ali todo dia, mas não passo ali daqui há
20 ano? (...)” (Dentinho, pescador, 48 anos). 25
Segundo Lúcia Veras, gentrificação “é uma palavra recente que indica um processo complexo de transformação de um bairro ou região, quando novas dinâmicas imobiliárias substituem antigos usos e habitantes por outros de maior poder aquisitivo, com o objetivo de ‘enobrecer’ lugares antes populares” (2016, p.4).
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Imagem 68 - Em primeiro plano, as Torres Gêmeas da Moura Dubeux. Ao fundo, Brasília Teimosa. Fonte: Blog Acerto de Contas, 2008.
Imagem 69 - Brasília teimosa e as Torres Gêmeas ao fundo. Fonte: acervo pessoal da autora.
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Imagem 70 - Situação hipotética das Torres Gêmeas tendo uma altura reduzida. Fonte: acervo pessoal da autora (modificado).
Essa primeira intervenção no Cais preconizou o Projeto Novo Recife. Este consiste em um empreendimento privado, que conta com um grande apoio da Prefeitura da Cidade e do Governo do Estado. Localizado em um antigo terreno da RFFSA (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima), o seu plano original, previa 13 torres no padrão das da Moura Dubeux erigidas anteriormente, cada uma tendo entre 36 e 45 andares, abrigando o uso residencial, empresarial e hoteleiro. Essas edificações estavam divididas em cinco quadras, cada uma com edifícios-garagens anexos (BARBOSA, 2014). O projeto gerou calorosos embates entre os empreendedores e a sociedade civil, tendo esta última se manifestado através do Movimento #OcupeEstelita e do Grupo Direitos Urbanos, que contestaram tanto a descontextualização do empreendimento com a arquitetura histórica e com a paisagem existente no local, quanto o uso elitizado e particular que se queria dar a essa borda d’água, o mesmo problema encontrado nos dois arranha-céus já existentes no Cais. Após as pressões sociais causadas, o poder público veio a cancelar o projeto. Porém, no ano de 2015, após ter passado por algumas reformas, o empreendimento foi aprovado mais uma vez, agora com prédios de menor gabarito próximos à área histórica e com a utilização de comércios e serviços em todas as suas edificações (VERAS, 2014). Atualmente, a questão do
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projeto ainda está indefinida, mas a prefeitura do Recife garante que ele será executado (SABOIA, 2016) 26 (imagem 71, 72 e 73).
Imagem 71 - Primeira versão do Projeto Novo Recife. Fonte: Pini Web, 2012.
Imagem 72 - Versão atual do Projeto Novo Recife visto de Brasília Teimosa. Perceber as duas torres já existentes no local à direita. Fonte: Site Novo Recife, 2014.
26
Parte fundamental dos questionamentos ao projeto apontam para a sua ilegalidade, visto a aparente obscuridade como se deu o processo de venda e leilão do seu terreno (GRUPO DIREITOS URBANOS, 2012). Para mais informações sobre a contestação da sociedade sobre esse projeto, bem como sobre as características e detalhes do empreendimento proposto, consultar o blog do Grupo Direitos Urbanos (disponível em: < https://direitosurbanos.wordpress.com/>. Acesso em: 29 mai. 2017). Para saber mais sobre a visão do Consórcio sobre o caso, visitar o site oficial do projeto (disponível em: <http://www.novorecife.com.br/>. Acesso em: 29 mai. 2017).
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Imagem 73 - Em primeiro plano, a versão atual do Projeto Novo Recife, e ao fundo, Brasília Teimosa. Fonte: Site Novo Recife, 2014.
Anteriormente a esse episódio, o espaço do Cais José Estelita havia sido pensado como parte do Plano Recife-Olinda27, criado nos anos 2000, com início previsto para 2007. Apesar de também ter uma forte ênfase na verticalização, este projeto parecia ser mais coerente com as necessidades urbanas locais, visto que previa uma integração macro das orlas daquelas duas cidades e tinha algumas preocupações sociais, urbanísticas e paisagísticas inexistentes no Novo Recife, como por exemplo, uma grande ênfase no espaço e no transporte público, e a urbanização e reintegração das comunidades e favelas que se encontravam em meio a sua área de abrangência. Um dos setores de integração previstos no plano era a comunidade de Brasília Teimosa, destacada pela sua forte vocação gastronômica. Com a mudança de gestão do governo do estado, o projeto foi abandonado (ROLNIK, 2012) (imagem 74).
Imagem 74 - Projeto Recife-Olinda no trecho do Cais de Santa Rita. Fonte: Blog Direitos Urbanos, 2012. 27
Para mais detalhes sobre o Projeto Recife-Olinda consultar uma reportagem sobre o tema encontrada no site da Revista AU (disponível em: <http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/149/artigo265712.aspx>. Acesso em: 29 mai. 2017).
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Alguns outros projetos incidem diretamente sobre o território de Brasília Teimosa. Em relação à ligação da comunidade a outros pontos da cidade, também foram feitas duas propostas contundentes, mas que não foram levadas adiante. A primeira delas seria uma ponte, fazendo a ligação da Avenida Brasília Formosa, na altura do parque das esculturas, com o Bairro do Recife, com o argumento de se melhorar o acesso do Pina ao centro histórico da cidade. O projeto foi abandonado por conta da realização da Via Mangue (SABOIA, 2010). A segunda ideia de mobilidade surgiu em 2015 e veio da Secretaria de Turismo do Estado. Ela consiste na instalação de um teleférico ligando a Brasília também ao Bairro do Recife, tendo uma parada próxima às referidas torres da Moura Dubeux no Cais Estelita. Apesar de a ideia já ter sido discutida com uma empresa internacional especialista nesse tipo de transporte, nada foi concretizado até então (ALBERTO, 2015). Esse projeto não foi discutido juntamente com a comunidade, sendo fortemente rejeitado por ela (imagem 75).
Imagem 75 - Pontos do Teleférico previsto para Brasília Teimosa. Fonte: Diego Martiniano (página no Facebook), 2015 (modificado).
Seguindo esse viés turístico, a Construtora Internacional Rio Ave Empreendimentos propõe a criação de um hotel de luxo (Renaissance Hotel & Resort) de 44 pavimentos no terreno onde hoje se encontra o atual Iate Clube do Recife (CÂMARA MUNICIPAL DO RECIFE, 2015). Ao menos até então, a prefeitura vem indeferindo este projeto, dada a sua { 249 }
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localização no interior da ZEIS da comunidade, onde não permite uma construção desse porte e com esse gabarito. Ao receber essa negativa, a empresa tenta recorrer juridicamente a esta decisão (MELO, 2016). Os moradores do bairro temem a construção desse edifício, que poderia representar a perda de mais um pedaço da sua Zona Especial (a exemplo do precedente aberto pela concretização do Empresarial JCPM) e atiçar ainda mais os olhares das empreiteiras para a área. Além de necessitar da aprovação da comunidade, pelo seu porte, o empreendimento precisaria apresentar legalmente um Estudo de Impacto de Vizinhança, o que não foi realizado (BRITO; MARGARITA, 2016) (imagem 76).
Imagem 76 - Hotel da Rio Ave e Brasília Teimosa ao fundo. Fonte: Blog do Jamildo, 2017.
Além deste hotel, mais um edifício teve sua construção barrada na região, mas dessa vez, fora da comunidade, no seu entorno. No terreno onde hoje se encontra o Clube Líbano Brasileiro, um imóvel especial de preservação (IEP28), já há algum tempo, a construtora Conic tenta construir um Empresarial de 23 pavimentos, com um edifício garagem e uma nova sede para aquele clube. Por conta a sua relevância histórica, a prefeitura suspendeu a demolição da edificação existente, um exemplar modernista da década de 1950 (JUSTIÇA...2013) (imagem 77).
28
Os IEPs (Imóveis Especiais de Preservação) são edificações que tem um valor patrimonial histórico, mas não se situam em uma ZEPH (Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico – Cultural), sendo preservado individualmente, como prevê a Lei de Uso e Ocupação do Solo vigente na cidade (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 1996).
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Imagem 77 - Empresarial Líbano Brasileiro. Fonte: Wikimapia, 2012.
Por último, há um outro empreendimento que chama a atenção por ter sua construção prevista exatamente na fronteira com a ZEIS Teimosa. É o Edifício Mirante Capibaribe, um condomínio clube de luxo da Construtora Moura Dubeux, que se localizará no atual terreno da empresa Ecomariner, a oeste da comunidade. Ele possuirá 21 pavimentos, e privatizará uma parte da borda do rio29. Apesar do projeto ainda estar “em planta”, ou seja, ainda não existir, os seus apartamentos já estão sendo amplamente vendidos pelos agentes imobiliários (VIVA REAL, 201-) (imagem 78). Além desses projetos recentemente construídos (mapa 16), previstos ou que tentam ser concretizados, é importante se atentar para a existência de três grandes terrenos vazios muito próximos à comunidade. O primeiro deles se localiza entre as Avenidas República Árabe Unida e Herculano Bandeira, mas por se situar em uma Zona de Ambiente Natural e estar cercado por vias que tem um nível superior ao seu, a sua utilização se torna mais difícil. O segundo está em uma área estratégica, no cruzamento das avenidas Antônio de Góes e Conselheiro Aguiar, em frente ao Empresarial JCPM, sendo usado frequentemente em eventos transitórios, como parques infantis e circos itinerantes. O terceiro e último se encontra exatamente no limite da ZEIS de Brasília Teimosa, na esquina da Rua José Mariano 29
Atualmente, a empresa Ecomariner já privatiza essa parte da orla do rio.
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Filho e a Avenida Conselheiro Aguiar, se encontrando murado e absolutamente ocioso (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 2017) (mapa 17).
Imagem 78 - Edifício Mirante do Capibaribe. Fonte: Expo Imóvel, 201-.
Como, segundo a LUOS da cidade, os bairros de Boa Viagem e Pina, vizinhos a Brasília Teimosa estão situados em uma ZUP (Zona de Urbanização Preferencial), o potencial construtivo desses terrenos é muito grande, e por isso, eles podem vir a abrigar edifícios e empreendimentos de grande porte e altura, que também conflitariam com a paisagem da comunidade. Além disso, cabe lembrar que isso também pode acontecer nas áreas já ocupadas atualmente, visto o processo de renovação arquitetônica pelo qual a região sul do Recife vem passando. Essa atuação feroz do mercado imobiliário no Pina e na região de seu estuário, do qual faz parte o bairro estudado, não ocorre por acaso. Atualmente, essa área pode ser vista como um território estratégico, que faz o enlace entre o centro histórico da cidade, com todas as suas vantagens locacionais e turísticas, e Boa Viagem, que apesar de possuir características completamente diferentes, também é uma centralidade e possui essa mesma vocação. Para esse fim, a partir de projetos como os analisados anteriormente, pretende-se transformar a região em uma espécie de nova “vitrine” para a cidade (BARBOSA, 2014), que venha a mostrar valores morais e estéticos que reproduzem uma cultura alheia a da Comunidade Teimosa, a ameaçando e neutralizando as peculiaridades que a tornam única.
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Mapa 17 - Terrenos Vazios no entorno de Brasília Teimosa (numerados pela ordem em que são citados no texto). Fonte: elaborado pela autora.
Independente do ano e do porte dos empreendimentos averiguados, algumas características universais são observadas. Percebe-se uma clara tentativa de reprodução da paisagem elitizada existente em Boa Viagem para esses locais. Além dos usos propostos em todos eles serem predominantemente voltados para as classes sociais mais abastadas, com residenciais, empresariais, centros comerciais e de serviços e equipamentos turísticos de alto padrão, há ainda uma semelhança estética nas tipologias, gabaritos verticalizados e materiais das edificações propostas. Essas similaridades se dão entre os próprios empreendimentos novos e previstos, e entre eles e os já existentes nos bairros da zona sul, que como já foi dito, em nada se conectam com as preexistências locais. Se amparando em um discurso de “inovação e modernização”, esses projetos vêm dando às costas para a paisagem de onde são inseridos, assim como já vem ocorrendo nos bairros do Pina e Boa Viagem. As referências históricas, tipológicas, arquitetônicas e paisagísticas que conferem a individualidade dos lugares não são observadas, o que faz com que se fabriquem territórios neutros, que não se relacionam com quem os vivencia. “O que se propõe “novo”, é um “velho” preconceito de não reconhecimento da diversidade de uma cidade, de não consideração aos desejos de uma grande
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maioria da população pelo acesso ao que é público e de não valorização da história, da memória e da paisagem”30 (VERAS, 2016, p.9).
Os conflitos ideológicos surgidos a partir da concretização de empreendimentos de tal conotação dão origem a cenários paisagísticos também conflituosos (CONAN, 1996), tal qual se pode observar na comunidade teimosa e no seu entorno. Frente ao projeto de paisagem que se enseja para ela e para as suas circunvizinhanças, a Brasília se coloca como uma forte resistência, não somente por se apresentar fisicamente no local, mas por impor a sua gente, a sua história, e as simbologias e as relações afetivas a ela agregadas à cidade, não se curvando aos interesses que se opõem a sua permanência. Porém, mesmo com toda a teimosia que esse bairro demostra ao Recife desde a sua existência, ele não se mantém totalmente ileso às pressões que vem sofrendo. Como exemplo disso, sabe-se que nos últimos anos está havendo a compra clandestina de casas no interior da comunidade (SILVA, 2011). Segundo as informações dadas pelos entrevistados, muitas vezes o mercado chega ao local na figura dos corretores imobiliários, que procuram adquirir casas que nem sequer estão à venda, fazendo propostas a preços exorbitantes a fim de convencer os seus proprietários a realizar essas transações. (Antônio Carlos, 2017; Claudete Barros, 2017; Edileuza Simões, 2017; Jane Abreu, 2017; Luciberto Xavier, 2017; Wilson Lapa, 2017). Uma vez que são vendidos, ou os imóveis passam a ser utilizados por terceiros, reconhecidos pelos moradores como “olheiros” ou “laranjas”, ou permanecem fechados (SILVA, 2011). Também se percebe que a entrada das pessoas alheias à Brasília e vinculadas aos empreendedores, podem ser visível na comunidade através da construção de novos edifícios, que muitas vezes não atendem à regulamentação das ZEIS, ou pela reforma de edificações já existentes, que passam a ter características e tipologias discrepantes daquelas geralmente encontradas no local, tendendo a se assemelhar esteticamente à arquitetura praticada nos bairros elitizados vizinhos. “Eles colocam aqui corretores batendo palma em casas que nem placa de ‘vende-se’ tem, (...) e em alguns casos eles acabam, lógico, vendendo a casa” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos). “(...) As pessoas que moram aqui não tem pretensão de sair, mas as propostas que as pessoas fazem, às vezes, imobiliárias, é muito maior, né? Então, assim, eu conheço pessoas que venderam e retomaram por uma questão de não se adaptarem em outro local, mas eu acho que futuramente vai ter um crescimento muito grande. Talvez até maior do que a gente deseje ter. (Taciana Melo, professora, 29 anos)
30
Aqui, Veras (2016) está se referindo especificamente ao Projeto Novo Recife, mas esta é uma reflexão que se encaixa em uma análise geral dos projetos elencados nessa sessão, dada a grande semelhança existente entre eles.
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“(...) Não me vejo fora de Brasília Teimosa, eu sei que tem muita gente que é grande de olho nela, construtoras, tudo de olho, tem “muita laranja” também aqui dentro, muita gente que comprou pra empresa. Tem pessoas que num pode ver dinheiro. A gente, hoje, a gente vê pessoas que sabe que não é da área morando aqui, são pessoas de outro nível morando aqui. (...) É por isso que eu digo, eles usam, a, os laranja pra ter casa aqui (...)”. (Edileuza Simões, cuidadora, 58 anos)
Em relação a isso, podem ser citados dois exemplos claros encontrados no local. O primeiro deles se situa na orla marítima da área da Colônia, nas proximidades do bairro do Pina, se tratando de uma casa com características bastante peculiares em relação às suas vizinhas, no que diz respeito principalmente ao materiais, acabamentos e tipo de esquadrias utilizadas (imagem 79). O segundo exemplo, se situa na Rua Poraquê, e se trata de uma obra de um edifício de 6 pavimentos, dois a mais do que é permitido na Brasília. Segundo os moradores da rua31, a obra possui um engenheiro (o que é incomum para a área) e o seu proprietário não mora na comunidade, somente sendo visto esporadicamente, quando faz visitas à obra (imagem 80).
Imagem 79 - Casa de arquitetura não convencional ao bairro de Brasília Teimosa. Fonte: acervo pessoal da autora.
31
Estes moradores não quiseram ser identificados.
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Imagem 80 - Edifício irregular na Rua Poraquê. Fonte: acervo pessoal da autora.
A partir da constatação desse mercado às escuras e dos projetos propostos para aquela região, percebe-se que as construtoras e empreiteiras realmente não se intimidam com os instrumentos de proteção sob os quais a comunidade se ampara. Essa postura denota uma expectativa de que o local deixe de ser uma ZEIS em um futuro próximo, o que gera essas tentativas de reserva de terras para a posteridade. Os desejos e os interesses desses grupos em transformar o local em parte do seu projeto de paisagem elitizado e neutro podem ser apreendidos não somente por meio das ações por eles encabeçadas, mas também através de seus discursos dados à sociedade sobre o assunto. Como um exemplo emblemático disso, tem-se um depoimento extraído do
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documentário “Recife MD32”, onde o superintendente comercial de uma das empresas mais atuantes na região de Brasília Teimosa, a Moura Dubeux, fala da sua visão sobre a ocupação e a apropriação da comunidade: “Brasília Teimosa era um local que [se] não se tivesse dado a ocupação que foi dada a ela, era um local excelente. É um local cercado de água pelos três lados, né, então assim, hoje a ocupação que tá nela não se permite, não se permite mais se fazer um empreendimento imobiliário, a não ser que haja uma intervenção severa do poder público, que realmente rearranje aquele local, e assim disponibilize a cidade para um novo empreendimento. Então, ela tá fadada a não passar daquilo, a não ser que haja uma intervenção severa do poder público, que o poder público ache que é importante que aquele local passe a servir à cidade com hotéis, marinas, com equipamentos que incentivem o turismo... Mas isso é uma visão de médio e longo prazo. A gente tem outras áreas da cidade importantes da cidade pra reocupar (...), que tem uma relação fundiária mais simples” (Depoimento de Antônio Vasconcelos, Superintendente Comercial da empresa Moura Dubeux em Pernambuco, para o documentário “Recife MD33” – 2011). “(...) O cara da Moura Dubeux, tem um documentário que ele diz que o lugar ideal [é Brasília Teimosa], eu odeio esse documentário, mas é real” (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos).
Assim, partindo dessa conjuntura, percebe-se que o tipo de ocupação que se dá na Teimosa, bem como a cultura que ela representa, parecem não ser considerados como uma parte da cidade por não pertencer ao tipo de ocupação que se quer implantar na área. Dessa maneira, para os grupos que querem se apropriar do seu território, ele está “fadado a não passar daquilo” enquanto for considerado uma Zona Especial protegida e não abrigar empreendimentos a semelhança dos anteriormente apresentados. Frente a essa desconsideração das ligações afetivas e objetivas que a população da Brasília tem com o seu lugar, bem como das particularidades desse último, o movimento de luta em defesa da comunidade, outrora tão forte, atualmente se encontra desarticulado. Além disso, muitos moradores claramente não tem consciência das consequências da venda individual de suas casas para o mercado imobiliário e da entrada gradual dos planos e edifícios alheios às preexistências do local nas terras da Teimosa. Esse dois fatores são graves, porque podem ser tidos como o início do apagamento da história desse bairro e da expulsão de suas pessoas a partir da apropriação do seu território para a implantação projetos que neguem quem o habita. 32
RECIFE MD. Direção de Gabriela Alcântara e Marcelo Pedroso. Recife, 2017. (4 min.), son., color. Disponível em: <https://vimeo.com/31354876>. Acesso em: 29 maio 2017. 33 Idem.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 3 – A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ }
“É, porque Brasília Teimosa não tem prédios, né, não tem edifício, entendeu? Não tem, então nessa linha, eu acho que o bairro vai ganhar muito. Algumas pessoas pensam o contrário, eu já acho que vai ganhar muito” (Claldemy Bezerra, administrador, 40 anos). [A construção do JCPM] “Foi bom sim, primeiro que acabou com um terreno que estava ali na frente mais de, há mais de quarenta anos o terreno tava lá, e eles construíram e trouxeram benefícios praquí, muito bom”. (...) “(...) Tirar Brasília Teimosa daqui, tira, se o governo quiser tira (...). Olhe a resistência para o progresso é burrice. Se vai pegar isso aqui, vai ser um, um, quer ver uma burrice muito grande? A resistência que fizeram pra o Cais José Estelita (...). (...) Como é que eu tenho uma coisa minha e eu não posso fazer nada? (...) Não, não tem nada negativo, o que tem muito é agitação. Como eu lhe digo, é ignorância. Um povo que é manipulado por uma determinada classe, que na verdade é política, é partidária (...). (...) Não tem nenhum Governo interessado nessa área aqui, não tem, nenhum. E nem vai aparecer alguém que vá pensar nisso, [em tirar Brasília Teimosa de onde ela está,] é loucura pensar numa coisa dessas” (Edu Guerra, técnico de construção aposentado, 68 anos). “Hoje, o ponto negativo é a divisão dessas lideranças políticas, (...) porque elas foram cooptadas por partidos, por interesse (...). É um bairro que apesar de toda essa divisão, a gente tem um nome a zelar, Brasília Teimosa não é à toa”. (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos).
Ao mesmo tempo em que isso acontece, é vista uma clara vontade geral de permanência e resistência por parte dos moradores. Como foi visto até então e será mais aprofundado adiante, as relações estabelecidas entre eles e a Brasília são fortes e fundam a dinâmica, a movimentação e as transformações que ocorrem na paisagem desse bairro ao longo dos anos. “(...) Eu acho que a gente não ia se acostumar em outro lugar distante daqui, ia ser uma revolução aqui dentro, eu acho. (...) As pessoas daqui são unidas, teimosas. (...) Todo mundo tem suas divergências políticas, mas na hora de defender Brasília Teimosa, todo mundo se une” (Jane Abreu, farmacêutica, 61 anos). “(...) Eu só saio daqui pra o cemitério. Meus filhos também não quer sair daqui” (Maria Rita, dona de casa, 74 anos). “Só [saio daqui] pra Santo Amaro [cemitério]. (...) Se tiver uma vaga lá, né? Se num tiver, me joga aí no mar. (...) Isso aqui foi um movimento que eu participei, e, e lutei, e vou morrer aqui. (...) enterrei o meu umbigo aqui” (Antônio Carlos, funcionário público aposentado, 66 anos).
“(...) Eu sou nativo e não pretendo sair daqui mais pra canto nenhum. (...) E aqui vou morrer, nasci aqui, aqui mesmo, só daqui pra Santo Amaro [cemitério]” (Dentinho, pescador, 48 anos). “Eles não tiram de jeito nenhum, pode botar o trator que for, mas não tira não. Aqui é menina dos olhos, né?” (Alexandra Lopes, dona de casa, 40 anos).
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“(...) Vou deixar a minha casa pra ir pra canto nenhum (...). (...) Brasília Teimosa é Brasília Teimosa. (...) “Oxe”, eu chamava o pessoal tudinho pra gente brigar. Não é só eu não, viu? É muita gente (...)” (Claudete Barros, vendedora de carne, 66 anos).
Frente a esse impasse entre os desejos de futuro para a Paisagem Teimosa, que conflitam entre a sua conservação, ansiada por quem a criou, a vive e a transforma, ou o seu apagamento, de vontade do mercado imobiliário, quais são as premissas que devem orientar as suas transformações no porvir? Veremos adiante. 3.2.2 Os Porquês de um Futuro Teimoso “É uma história, entendeu? Uma história, entendeu? Que hoje as pessoas estão querendo apagar, e isso marca muito, entendeu? (...) Tem marca, entendeu? Porque tem lugares que marca (...). Pra muita gente, isso aqui representa muita coisa (...)” (Verônica Ribeiro, comerciante, 52 anos).
A lógica de formação socioespacial recorrente no Recife vem desconsiderando as particularidades dos lugares, os valores subjetivos e simbologias ligadas a eles, e o papel relacional da cidade como um meio onde as pessoas criam as suas raízes e fundamentam a sua vida. O projeto de paisagem que se encena com a inserção, ou a tentativa de inserção, dos empreendimentos anteriormente citados na Teimosa e no seu entorno são um reflexo disso. O cenário paisagístico que se concretiza hoje na Brasília e nas suas circunvizinhanças denuncia palpavelmente os conflitos morais, simbólicos e ideológicos que permeiam os interesses dissidentes dos diferentes grupos sociais para o futuro da comunidade (imagem 81). Ao mesmo tempo em que a apropriação afetiva e simbólica dos seus moradores gera condutas que apontam para a conservação daquela paisagem, as ações e os discursos de grupos alheios ao local, que a ele imputam um significado de território-mercadoria, se direcionam para a destituição das características e das especificidades que o fazem contador de uma história, e que o conferem a capacidade de ser vivenciado pela população que o construiu34. “(...) Quando a pessoa constrói uma obra, não quer desfazer não” (Maria Rita, dona de casa, 74 anos). “(...) A gente construiu a Brasília, como é que você vai querer que eu abandone uma coisa que eu construí?” (Edileuza Simões, cuidadora, 58 anos).
34
Ver as discussões expostas no primeiro capítulo desse trabalho, principalmente no que diz respeito às teorias de Conan (1994).
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“(...) Eu amo Brasília Teimosa, eu gosto demais desse lugar aqui, aqui eu me sinto, posso está em qualquer lugar, posso viajar, quando passo por ali, pronto! Me sinto em casa. (...) Quem mora aqui é feliz” (Jane Abreu, farmacêutica, 61 anos). “É minha mãe, meu pai, minha irmã, Brasília Teimosa é tudo pra mim, tudo” (Claudete Barros, vendedora de carne, 66 anos).
A desconsideração dessa individualidade dos lugares culmina com a formação de paisagens neutras (BERQUE, 2010), que em nada representam quem as habita, não se prestando a amparar os seus hábitos e práticas sociais. Assim, por perderem a capacidade de acolher a vida, elas acabam formando uma cidade morta, que se esquece de suas pessoas. Mas não é isso que se quer para a Brasília. Para que ela continue guardando o seu caráter de espaço vivido, é preciso respeita-la em suas particularidades, não somente palpáveis, mas também subjetivas. Ao longo de sua formação e até os dias atuais, percebese que esse lugar vem tendo características únicas, que o tornam muito diferente do seu entorno e da cidade como um todo, fazendo com que ele se consolide como uma Unidade de Paisagem (imagem 82). Sabe-se que apesar da paisagem ser uma entidade contínua, dentro dela existem “porções do território caracterizadas por uma combinação específica de componentes físicos e sociais constituídos ao longo da história e de dinâmica própria atrelados também ao sentimento de pertencimento da população com o local” (CARNEIRO; DUARTE, 2008, p.135), que são exatamente essas Unidades. Para serem consideradas como tal, não é necessário que haja uma homogeneidade absoluta que as constitua, mas sim, que nelas existam padrões recorrentes que, em sua completude, as tornem diferentes em relação ao seu entorno, o que pode ser identificado estando no seu interior ou no seu exterior (ABREU; CORREIA; OLIVEIRA, 2012). Dada essa conceituação, a partir nas análises obtidas no caminho trilhado por essa pesquisa, fica claro que a Teimosa constitui uma unidade em si, não somente pelos seus aspectos morfogeográficos, mas também culturais35.
35
Cabe perceber que o fato de Brasília Teimosa ser uma ZEIS reforça a sua característica de unidade de paisagem, visto que sendo assim classificada, por lei, ela deve ser tratada de uma maneira diferente do seu entorno.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 3 – A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ }
Imagem 81 - A Paisagem Teimosa e o seu entorno conflitante. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016.
Imagem 82 - A Unidade de Paisagem de Brasília Teimosa. Foto de Maurício F. Pinho. Fonte: Panoramio Google Maps, 2010.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 3 – A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ }
A própria conformação natural e antrópica da Brasília favorece que ela seja assim classificada. A sua península triangular, banhada pelo mar e pelo rio se destaca na paisagem, correspondendo exatamente também a uma parte de ocupações, gabaritos, cores, formas e tipologias arquitetônicas que se diferem das suas circunvizinhanças, principalmente em relação aos bairros do Pina e Boa Viagem. A leitura dessa singularidade se dá tão claramente e fortemente que, muitas vezes, o seu território é lido como uma ilha36 pelos seus moradores e pela população em geral (imagem 82). A formação da Brasília, como visto, também ocorreu de maneira peculiar e pioneira, que conta a história da teimosia e das relações profundas das pessoas com esse lugar, que fundou e funda as suas vidas. Além disso, a vivência que ali se dá a partir das práticas sociais e hábitos que nele se desenvolvem, como por exemplo, a pesca, a movimentação comercial e gastronômica, a vivência da rua, os lazeres ligados ao mar e ao rio e a ligação sentimental e racional que se tem com as águas, faz com que a comunidade tenha uma organização, dinâmica e tipo de apropriação afetiva e simbolismos que também a tornam culturalmente e socialmente única. “(...) Brasília Teimosa fica diante dessas duas coisas, do lado do mar, do lado do rio, a Brasília Teimosa é uma ilha maravilhosa (Maninho, porteiro aposentado, 48 anos)”. “(...) A minha patroa, eu trouxe já ela aqui, ela disse que eu moro numa ilha, e realmente é uma ilha, é entre o mar e o rio, eu moro entre o mar e o rio, então eu moro dentro de uma ilha, né?” (Fernando Paes, motorista, 58 anos). “(...)Brasília em outro lugar, teria que ser perto do mar, senão, acho que não seria Brasília Teimosa” (Claldemy Bezerra, administrador, 40 anos). “(...) Se fosse em outro lugar não teria, não seria isso daqui” (Edu Guerra, técnico de construção aposentado, 68 anos). “Você tá aqui porque existe Brasília Teimosa, se Brasília Teimosa fosse em outro lugar, você não tava nem aqui” (Dentinho, pescador, 48 anos). “(...) Tem outras histórias por aí, mas eu acho que Brasília Teimosa, não mesmo, nunca (...)” (Djalma Rodrigues, mecânico em refrigeração aposentado, 81 anos)
Assim, esse conjunto de fatores físicos, sociais e simbólicos confere o caráter individual da Paisagem Teimosa. Um projeto de futuro para esse lugar deve se atentar a essa 36
A Brasília é uma península, ou seja, “uma porção de terra cercada água por todos os lados”, com exceção de um, que é exatamente por onde ela se conecta com o Pina. Apesar disso, as suas características a tornam tão diferentes do seu entorno que, por vezes, ela é tida como uma ilha, que é uma porção de terra cercada por todos os lados (MICHAELIS, 2017).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 3 – A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ }
sua essência, para que no porvir, ele continue contando a sua história, que também é a dos seus moradores e da cidade, através do seu território, ao mesmo tempo em que permita que ela seja escrita em seu “palimpsesto” continuamente. Nesse sentido, percebe-se a importância de se atentar aos valores, identificações, conotações e desejos de quem vive, cria e transforma37 a Brasília, e não de grupos alheios a sua realidade, que através de um domínio político e econômico querem destitui-la de seu âmago. Por ser uma unidade, ela deve ser tratada de uma maneira também única, diversa do seu entorno e de outros lugares que tenham outras preexistências sociais, conotações e vivências. Esse será o caminho que guiará as diretrizes de conservação para essa paisagem expostas mais adiante. Partindo-se do respeito às fases de sua construção e à vida que nela se dá, de forma a garantir não somente a sua permanência física, mas também a sua capacidade de se fazer habitada, viva e apropriada no seu presente e no seu porvir.
37
“(...) Nunca se deve mexer na paisagem sem pensar naqueles que vivem nela. Afinal de contas, se a paisagem tem um sentido e, sobretudo, se o projeto de paisagem pode ter um sentido, é porque o desafio é tornar o mundo habitável para o homem” (BESSE, 2014, p.36).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 3 – A TEIMOSIA DE HOJE E OS DESEJOS PARA O AMANHÃ }
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{
CAPÍTULO 4
BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS
}
“Perto de muita água, tudo é feliz.” (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas1)
A partir da constatação de que a Paisagem Teimosa vem sendo alvo de grandes ameaças a sua permanência, neste momento final do estudo, busca-se estabelecer Diretrizes Gerais para a sua Conservação. É importante observar que ao se denunciar a necessidade da continuação dessa comunidade na Cidade do Recife, fala-se não somente em garantir a existência do seu território físico, mas também da permanência dos valores subjetivos e simbólicos que fazem desse lugar um bairro vivido. Ao se considerar a vivência das pessoas e da sociedade como parte dessa paisagem que deve permanecer, tem-se uma leitura da Brasília como Kosmos: ou seja, como um local que é a junção indissociável do seu espaço palpável e de uma dimensão relacional e afetiva agregada a ele, na qual participam os indivíduos através da mediança (junção do seu Topos, corpo físico, e da sua Chôra, corpo coletivo, social) (BERQUE, 2010). A partir desse olhar, começa-se a tratar da conservação da Paisagem Teimosa conduzindo o leitor às premissas que orientaram as suas diretrizes gerais. Elas são o resultado das análises da Brasília do passado e do presente, vistos a partir das relações objetivas, subjetivas e simbólicas que nela se desenvolveram ao longo dos anos. Para se entender essas questões e consequentemente captar quais são os elementos que devem permanecer na paisagem para que a sua essência seja assegurada, as entrevistas e observações feitas in loco foram imprescindíveis. Ouvir o lugar e as pessoas que o constroem foi fundamental para se entender os desejos e as necessidades que se tem para o futuro dessa parte da cidade. Após essa primeira explanação, são colocadas as diretrizes gerais propriamente ditas. Depois de se determinar algumas notas breves sobre a conservação da Brasília por meio dos instrumentos legais a ela cabíveis, elenca-se os Valores Teimosos que constituem o seu cerne trajectivo, ou seja, que caracterizam o seu âmago fisicamente, simbolicamente e subjetivamente. Eles devem ser conservados para que essa paisagem continue sendo vivida e vestida das simbologias, das relações afetivas e dos elementos físico-morfológicos que a fazem tão única e especial. Por fim, fecha-se esse raciocínio com uma última reflexão sobre as características dessa Unidade de Paisagem através da síntese das orientações propostas anteriormente. Sigamos rumo à permanência da Teimosia2. 1
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 19.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
4.1 ESTABELECENDO AS DIRETRIZES GERAIS PARA A CONSERVAÇÃO DA PAISAGEM TEIMOSA3
A importância da conservação da Paisagem Teimosa não se dá pela idade histórica dos objetos arquitetônicos e urbanísticos que nela se fazem presente. A sua relevância se encontra na história que esse lugar conta e reconta aos que o observam ou que nele vivem. Faz-se necessário reafirmar que no âmbito deste trabalho, a paisagem é vista não somente a partir de suas características físicas, antrópicas e naturais, mas também pelas relações humanas que nela se desenvolvem, e que a ela agregam valores simbólicos e sentimentais. Nesse sentido, a história da Teimosa também é a história daqueles que a construíram e a vivenciam no seu passado e no seu presente. A vida da gente da Brasília se confunde com a sua paisagem, em um processo de identificação e ligação afetiva profunda. “Não consigo falar de mim sem falar daqui” (Mika, bailarino e coreógrafo, 50 anos).
“O lugar onde eu me criei, onde eu vivi tudo na minha vida, onde eu fui mãe, onde hoje eu sou vó, né? E é o bairro que eu amo. (...) Brasília Teimosa tem história na minha vida. (...) Minha história bonita em um lindo bairro” (Adriana Inês, cabelereira, 45 anos).
“(...) Brasília Teimosa foi e tá sendo a minha vida, e tudo que eu possuei, possui, possuo, foi na Brasília Teimosa, não foi de outro canto, aí, por isso que ela significa tudo pra mim, uma mãe e um pai”. (José Severino, pescador, 47 anos)
Também é de se perceber que a história desse bairro reproduz o processo de construção social da própria paisagem do Recife como um todo, tanto em seus aspectos naturais e ambientais, pela presença do mangue, do mar, das águas e dos arrecifes, como pela forma como ele se desenvolveu e se transformou pela apropriação dos seus moradores, que construíram o seu lugar no território anfíbio daquela região, de maneira semelhante ao que aconteceu com toda a planície enlameada da cidade (imagem 1 e 2). “A gente que fez [a casa], mas era areia, era um areião, mas o mar quando enchia não tinha muro, o mar vinha
simbora” (Maria Rita, dona de casa, 74 anos). “(...) ela foi feita praticamente dentro do mar, né?” (Fernando Paes, motorista, 58 anos). “Brasília Teimosa era maré” (Antônio Carlos, funcionário público aposentado, 66 anos). 2
Aqui, agradeço diretamente à contribuição preciosa da Professora Lúcia Maria Veras, que deu orientações muito importantes para o fechamento desse estudo. Também foi dela a ideia, que achei bastante coerente, de tratar os valores como “Teimosias”. 3 O entendimento pelo qual se deram as diretrizes gerais de conservação formuladas é o resultado de todo o arcabouço teórico já discutido até então, como, principalmente, as teorias de Berque (2000, 2010, 2012), Conan (1994) e Besse (2014).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Imagem 1 - Brasília e suas casas anfíbias a Beira-Mar, antes da abertura da avenida Brasília Formosa. Fonte: Blog Conselho de Moradores de Brasília Teimosa, 2012.
Imagem 2 - Brasília Teimosa antes do calçamento de suas ruas, que originalmente eram de areia. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 201-.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Além disso, Brasília Teimosa resiste até os dias atuais sendo considerada a ocupação mais antiga da cidade e se destacando por ser pioneira em vários sentidos (SILVA, 2011). Como exemplo disso, pode-se citar a criação do seu Conselho de Moradores, o primeiro do estado (BRASÍLIA, 1998); o traçado planejado da sua malha viária, incomum às áreas que são fruto de invasões (FORTIN, 1987); a forma como a arte foi incorporada na luta pela sua permanência, sendo uma ferramenta de agregação de pessoas e expressão dos seus desejos (SILVA, 2008a); e a proposição de um projeto comunitário e participativo, o Teimosinho, que inspirou a formulação de leis e instrumentos legais, como o PREZEIS (ASSIES, 1991). Por todos esses aspectos, a comunidade acabou estimulando a “teimosia” de muitos outros bairros do Recife e do país (Luciberto, Xavier, 2017). Pela sua singularidade, desde o início de sua existência, a Brasília vem sendo muito estudada, não somente no Brasil, como também internacionalmente. Afora os trabalhos acadêmicos4, atualmente, ela é um dos lugares mais retratados da cidade pela cena artística local e nacional, principalmente no que diz respeito ao cinema. Nos filmes, curtasmetragens e documentários, geralmente ressalta-se o seu cotidiano, a sua relação com o mar, a sua vocação gastronômica e principalmente a força da sua persistência frente às pressões do mercado imobiliário, explorando-se visualmente a dicotomia conflitante entre a sua Unidade de Paisagem e o seu entorno (imagem 3 e 4) (CAVANI, 2016).
Imagem 3 - Brasília Teimosa sendo retratada em uma Cena do Filme Aquarius (2016). Ao fundo, os prédios do Pina. Fotografia de Victor Jucá. Fonte: CAVANI, 2016.
4
Como um exemplo de trabalho acadêmico internacional sobre a Brasília Teimosa tem-se o trabalho intitulado: “Brasília Teimosa é Nossa”, dos estudantes Fivos de Brito Karagiorgas e Margarita Miha, recentemente publicado na Grécia. Disponível em: <https://issuu.com/margaritamiha/docs/brasilia_teimosa__issuu_>. Acesso em: 07 jun. 2016.
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Imagem 4 - Brasília Teimosa e as torres gêmeas da Moura Dubeux no Cais José Estelita. Filme Avenida Brasília Formosa (2010). Fotografia de Ivo Lopes Araújo. Fonte: CAVANI, 2016.
(...) “sempre foi um bairro com histórico de luta, a gente, sempre assim, é o marco, um marco, como um bairro que quer uma coisa e ele consegue” (Taciana Melo, professora, 29 anos).
“A semana passada veio uns italiano fazer uma filmagem aqui, fazer uma, um trabalho sobre o bairro (...)” (Maria das Graças, Comerciante, 67 anos).
“Brasília não pode acabar, porque Brasília Teimosa é Brasília Teimosa. É a mais histórica do mundo, do Brasil, de Pernambuco” (Dona Leu, marisqueira, 61 anos).
Sendo assim, por toda a sua importância e pioneirismo, assegurar que a Brasília permaneça também é reafirmar, para todos aqueles que nela se inspiraram, que é possível resistir. É provar que se pode pensar em uma cidade que prioriza os seus habitantes, sendo trajectiva como eles e se comportando como um meio relacional entre a sociedade e o mundo, e não como um espaço-mercadoria, neutro de histórias e vivências. Permitir que a Brasília viva é permitir que uma parte da história do Recife continue sendo vista e sentida em seu “palimpsesto”. Ressalta-se aqui que na defesa da conservação da Teimosa não se espera imobilizar a sua paisagem, a congelando no tempo como um quadro, uma foto ou uma pintura. Tratala assim seria concebê-la para uma cidade morta. As cidades são vivas, e dessa forma, as paisagens são entidades em constante mudança, refletindo a vivência humana, “sempre frágil e a ser recomeçada, [em um esforço] para habitar o mundo” (BESSE, 2014, p.37).
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Garantir que a Brasília permaneça sendo um território habitado é o desafio que aqui se propõe. É necessário que ela continue tendo a capacidade de representar aqueles que a constroem cotidianamente, permitindo a perpetuação de seus hábitos e práticas sociais, que são responsáveis pela apropriação afetiva da sua paisagem, a vestindo continuamente de simbologias. Ou seja: conservar a Teimosa é também manter vivos os valores simbólicos a ela imputados, responsáveis por contar a sua história do passado e permitir que ela se faça de maneira viva no presente. Assim, como discutido anteriormente para se pensar na Paisagem Teimosa do hoje e do amanhã com coerência, é preciso olhar atentamente as suas preexistências, extraindo delas a essência do lugar. Assim, as mudanças que por ventura venham a transforma-la devem refletir “algo que já estava aí. (...) Elaborar o que já está presente e que não se vê” (BESSE, 2014, p.61). De fato, o âmago da Brasília vivida não pode ser visto. Para senti-lo, foi necessário trilhar o caminho metodológico que embasou esse estudo: olhar de maneira reflexiva para construção da sua paisagem, entender as suas transformações físicas, e os comportamentos sociais e as conotações ligadas a ela ao longo dos anos, chegando a compreender qual é o seu estado atual, o seu funcionamento, a sua dinâmica, e a rede de relações objetivas, subjetivas e afetivas que ela carrega consigo hoje. Dessa maneira, para a formulação das diretrizes propostas adiante observou-se essa paisagem a partir de três esferas distintas e indissociáveis, ligadas às abordagens (as portas) da teoria de Besse (2014), pelas quais a Teimosa foi descortinada ao longo de todo o trajeto investigativo que se deu até então5. A primeira delas diz respeito ao Solo da Brasília. Aqui ele não é visto como algo somente palpável, e sim como a representação cultural e social das pessoas que criaram esse lugar, que o vivem e que o reinventam dia após dia, ano após ano. É um “palimpsesto” de “espessura que não é apenas Imagem 5 - Brasília Teimosa, Solo, 2010. Foto de Gabriel Britto. Fonte: Flickr Gabriel Britto. 5
material,
mas
também
simbólica” (BESSE, 2014, p.58), sendo
Besse (2014) afirma que a os projetos de paisagem devem se orientar a partir dessas três direções: o território, o solo e o meio natural. Nesse estudo, tenta-se entende-las de maneira integrada às 3 portas pelas quais se observa a Teimosa: “a Paisagem é uma representação cultural e social”; “a Paisagem é um território fabricado e habitado; e a “Paisagem é o meio ambiente material e vivo das sociedades humanas”.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
um acúmulo de atividades humanas e naturais sobrepostas. É a história, a memória, as resistências desse lugar, que se deram ao longo do tempo (imagem 5). Tem-se também o Território da Teimosa. Ele se refere ao espaço, fabricado e habitado por sua gente, onde se coordenam as escalas, os limites
e
as
temporalidades
da
paisagem que, juntos, confluem para a sua conformação. Assim, ele é o resultado de uma rede complexa de relações e ligações, práticas e afetivas, ditado pela organização social daquela comunidade. É um projeto, consciente ou inconsciente, relativo à vivência das pessoas nesse lugar. É o palco da vida
Imagem 6 - Brasília Teimosa, Território, 2013. Foto de Camila Almeida. Fonte: Flickr Camila Almeida.
que ali se encena (imagem 6).
Por último, foi observado o Meio Ambiente Natural, material e vivo dessa comunidade. Observa-se como o bairro,
com
todas
as
ocupações
antrópicas e a vivência nele presentes, está em simbiose com as águas e com todos
os
elementos
existentes, que lhes
naturais
ali
serviram de
substrato. A Paisagem vivida da Brasília é filha do mar e do rio, nasce deles (Imagem 7). Imagem 7 - Brasília Teimosa, Meio Ambiente Natural e Vivo, 2006. Foto de Alberto Benning. Fonte: Flickr Alberto Benning.
A partir dessas três dimensões elencadas, leu-se o processo de transformação social desse lugar com um todo, tentando perceber tanto as permanências e mudanças físicas ocorridas, quanto aquilo que “existe, mas não se vê”. Assim, foram identificados os valores
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
que, ao longo do tempo, resistem teimosamente nessa paisagem e que devem ser perpetuados no seu futuro, orientando toda e qualquer alteração ou projeto que se promova nesse bairro, da menor a maior escala. Eles constituem o cerne da Teimosa e devem ser observados para que se conserve a história, a cultura e os hábitos a ela ligados, que são responsáveis por dar origem à riqueza de significados, sentimentos e simbologias que a tornam única. Somente dessa forma, permite-se que as pessoas continuem habitando o lugar a partir de uma apropriação humana trajectiva. 4.2 NOTAS GERAIS SOBRE A CONSERVAÇÃO DA PAISAGEM TEIMOSA PELA PROPRIEDADE LEGAL
Para a sua permanência, a Unidade de Paisagem da Brasília Teimosa precisa ser protegida do futuro que para ela vem se ensejando por meio dos grandes empreendimentos que se avizinham do seu entorno sem considerar a sua história e a vivência que nela se dá. As pressões do mercado imobiliário são grandes e bastante incisivas, mas até então, pelo bairro constituir uma ZEIS, não é possível haver uma atuação dentro do seu território. “(...) Tem gente cercando as laterais aqui, né? Pra poder cada vez mais ir entrando. Existem algumas coisas que já estão mais próximas, mas como ainda é área de ZEIS, então a gente ainda fica um pouquinho mais descansado por conta disso” (Taciana Melo, professora, 29 anos).
Sobre essa questão, aqui se faz algumas recomendações para a defesa legal desse lugar: 1)
Apesar da vontade desses grupos de destituir a comunidade da condição de Zona
Especial, é necessário que ela continue sendo assim classificada (ZEIS), visto que este é um instrumento importante para afastar do local projetos que nada tenham a ver com as preexistências nele observadas. Sobre isso, também é imprescindível que os limites da demarcação dessa proteção sejam respeitados. Não se justifica a sua modificação diminuindo a sua área de abrangência em nome de projetos de interesse particular, como no caso do Empresarial JCPM, em 2006, ou como se procura fazer atualmente em relação ao Hotel da Construtora Rio Ave, que se tenta ser implantado na área do atual Iate Clube, suprimindo esse terreno da zona protegida da Brasília (CÂMARA MUNICIPAL DO RECIFE, 2015). 2)
Sugere-se também, que o referido perímetro se estenda agregando a totalidade das
quadras lindeiras à Avenida Antônio de Goes e à ZAN6 (Zona de Ambiente Natural) situada
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nas suas fronteiras, visto que pela proximidade existente com a comunidade, os edifícios verticalizados6construídos nesses espaços de transição tem (ou podem vir a ter) uma tipologia completamente diferente da praticada na teimosa, conflitando com a sua paisagem a descaracterizando (imagem 8). Nesse caso, o que se propõe é que essa nova ZEIS se divida em duas partes: a principal, que guarda as mesmas características morfotipologicas em todo o seu tecido, indo da Avenida Brasília Formosa até a Rua Francisco Valpassos; e a de amortecimento, que possui qualidades um pouco diversas daquela primeira no que diz respeito à sua malha viária, densidade e tipologias das edificações, já tendo, inclusive, construções em altura; esta iria da Rua Francisco Valpassos até a Avenida Antônio de Goes (mapa 1 e 2). (...) “Por exemplo, o Mercado do Pina, na realidade é o Mercado de Brasília, porque é uma divisão que a gente não sabe, é muito tênue, pra mim Brasília é até a avenida, mas se você for pra o mapa, (...) você acha ele dentro (...) do Pina. Que dizem que é do Pina, né?” (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos).
Essa
mudança
seria
importante porque a leitura que se
tem
dessa
Unidade
de
Paisagem atualmente é a de que ela
é
um
triângulo,
uma
península triangular delimitada pela Avenida Antônio de Goes, sendo
importante
que
as
próximas intervenções que ali sejam
feitas
tipologicamente
se
integrem com
a
comunidade. Complementarmente,
a
ZAN existente no local também deve se atentar a essas mesmas premissas, de forma a não conflitar paisagisticamente com a Brasília. Mapa 1 – Divisões da ZEIS proposta. Fonte: Google Maps, 2017 (modificado). 6
Segundo o Plano Diretor Municipal do Recife, o objetivo da ZAN é “compatibilizar os padrões de ocupação com a preservação dos elementos naturais da paisagem urbana, garantindo a preservação dos ecossistemas existentes”, nesse caso, o do Rio Capibaribe.
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Mapa 2 - Zeis atual e Zeis proposta para a Brasília. Fonte: Google Maps, 2017 (modificado).
Imagem 8 - A Paisagem de Brasília Teimosa e os edifícios conflitantes do Pina, 2012. Foto de José Rodrigues. Fonte: Mapio José Rodrigues, 2012.
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3)
Uma outra questão é que mesmo se tratando de uma área de grandes extensões,
com uma situação imbricada em relação à propriedade dos seus imóveis e alvo dos interesses dos grupos empresariais que querem se apropriar do bairro, é urgente que as edificações que estão no seu interior sejam regularizadas de forma a assegurar a posse dos moradores que as detém. Muitas casas foram desmembradas, divididas, sofreram puxadas, acrescimentos verticais e horizontais, e por vezes têm vários proprietários para cada uma de suas partes. Desse modo, por essa condição peculiar bastante frequente na comunidade, aponta-se a necessidade de uma avaliação atenta e individual para cada imóvel, utilizandose os instrumentos legais mais adequados para cada situação de regularização7. 4)
Mesmo com a aplicação de todas essas proteções legais, é preciso que, na prática,
haja uma fiscalização do cumprimento dessas determinações. Frisa-se esse aspecto pela constatação da existência de um mercado imobiliário clandestino de compra de casas na Brasília, movimentado pelas empreiteiras que visam atuar na área. Isso se torna um problema pelo fato de já significar uma infiltração desses grupos e de seus interesses no bairro, gerando a expulsão branda de seus moradores e um acúmulo de construções mantidas desocupadas, sem cumprir a sua função social8, adquiridas na esperança de que a comunidade deixe de ser ZEIS em um futuro próximo. Nesse sentido, assim como foi ressaltado no documento do memorial do Projeto Teimosinho, formulado de maneira comunitária refletindo a vontade de seus moradores, é importante que a venda de imóveis dentro da comunidade, tanto aqueles que se encontram irregulares, quanto os já regularizados, seja feita apenas por pessoas que tenham atestadamente o mesmo nível socioeconômico da população local, de forma a dificultar a compra de edificações pelas grandes empreiteiras, tanto nominalmente, quanto pelo uso de “laranjas” (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979). “Eu ouvi falar que teve uma época que eles, o pessoal tava, vinha, avaliava, perguntava quanto era, se quisesse vender, vendia (...)” (Edileuza Simões, cuidadora, 58 anos). “As pessoas do próprio bairro têm que se conscientizar que Brasília Teimosa é nossa” (Jane Abreu, farmacêutica, 61 anos). 7
Alguns moradores, a minoria deles, já possuem a escritura pública de suas casas, que por vezes também já sofreu subdivisões contemporâneas a expedição desse documento, dificultando mais ainda a sua regularização. Também se sabe da existência de casos pontuais onde foram utilizadas a CDRU (Concessão do Direito Real de Uso) e o CUEM (Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia) (Celeste Maria, 2017). 8 A Função Social da propriedade esta prevista tanto no plano diretor da cidade do Recife (lei 17.511/2008) quanto na própria lei do PREZEIS (lei 16.113/95). De forma simplificada, ela consiste no dever de se utilizar uma propriedade urbana em prol da qualidade de vida dos cidadãos, tendo, portanto, que abrigar um uso (residencial, comercial, de serviços, equipamentos públicos, entre outros) (PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, 2008).
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“É muito difícil lutar contra a especulação imobiliária? É sim, porque é o dinheiro, é o capital. (...) O que a gente pode fazer é conscientizar a pessoa a não vender (...)” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos).
5)
Juntamente a esse controle, deve ser feito um trabalho de conscientização
diretamente com a população, de forma a minimizar ao máximo a venda desses imóveis, pois, através do contato que se teve juntamente com os moradores, foi perceptível que muitos deles não compreendem a gravidade dessas transações e da entrada de edifícios em altura na região como uma ameaça à permanência do bairro como um todo. Paralelamente, essa sensibilização também deve ocorrer em relação às construções irregulares que estão acontecendo no interior da comunidade. Pela necessidade de ampliação das residências e pela escassez de terrenos dentro da Brasília, as edificações vêm infringindo as diretrizes contidas no seu Plano de Regularização, principalmente no que toca à verticalização. Isso também se torna um risco ao bairro, visto que, se exacerbada, essa quebra de gabarito pode abrir uma brecha legal para a entrada das empreiteiras nesse território, dando respaldo para a construção de arranha-céus que desconfigurariam essa paisagem e prejudicaria socialmente a própria população. 6)
Por esses riscos ocasionados pelas infrações legais, é necessário que as novas
construções e obras de ampliação e reforma, do perímetro atual e das novas áreas englobadas, sigam de fato as diretrizes propostas pelo Plano de Regularização vigente para o bairro. Dentre os pontos mais importantes a serem cumpridos, destaca-se aqui o respeito aos lotes máximos de até 250m², à proibição de remembramento de lotes e ao gabarito máximo de 4 pavimentos (térreo mais três andares). Uma outra vantagem em se cumprir essas determinações é o de se conseguir freiar as construções exacerbadas dentro do bairro, que já é o mais denso do Recife. Da forma desordenada como esse processo está se dando, há um prejuízo das condições de habitabilidade e infraestrutura locais, gerando impactos negativos na qualidade de vida dos moradores (imagem 9 e 10). “Vê, você olha ali, aquilo tudinho é uma casa só, que um filho fez, o “oto” filho também fez, ai tem “oto” filho que vai e faz, vai virar uma selva de pedra, eu acho. Isso me entristece (...). O bairro tá muito superlotado, encharcado de gente (...). “ (Edileuza Simões, cuidadora, 58 anos). “(...) Brasília, também, agora paga o preço do progresso, a gente paga também esse preço com a superpopulação (...)” (Celeste Maria, professora aposentada, 61 anos).
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Ao se cumprir as diretrizes legais aqui sugeridas, se garante a permanência da Brasília em seu território e se diminui o risco de descaracterização da sua paisagem. Porém, como já visto anteriormente, permanecer não é o bastante. É preciso habitar. Adiante, serão expostas as diretrizes, os “valores teimosos”, que visam conservar as características essenciais que conferem à Teimosa essa condição de Paisagem viva e vivida, fisicamente, simbolicamente e afetivamente, lhe dando um caráter único e especial.
Imagem 9 – Ao lado, Brasília verticalizada. Rua Espardate, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora. Imagem 10 – Abaixo, Brasília verticalizada e adensada. Rua Estrela do Mar, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora.
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4.3 A CONSERVAÇÃO DA PAISAGEM PELA PROPRIEDADE AFETIVO-SIMBÓLICA: OS VALORES TEIMOSOS
Os valores, as diretrizes de conservação aqui apresentadas, foram divididos em três partes: a Teimosia das águas, a Teimosia da Subsistência pelas Águas e a Teimosia Vivenciada. Os aspectos destacados em cada uma delas apontam para os elementos que permitem a existência das características físicas e simbólicas que dão o caráter de unidade e singularidade a essa paisagem. É importante que mesmo com as mutações que ocorrerão futuramente nesse local, pela sua adaptação às transformações da vida, da organização social e dos hábitos de seus moradores, as qualidades aqui apontadas permaneçam, mantendo viva a essência do bairro ao longo dos anos. “A Teimosia das águas” diz respeito aos hábitos teimosos que se tem com o mar e com o rio, às relações trajectivas que se tem com eles. “A Teimosia da subsistência pelas águas” procura falar do relacionamento econômico que se tem com elas, que não se esgota somente no suprimento das necessidades econômicas, mas também afetivas. E a “Teimosia da (com)vivencia” se refere aos elementos que permitem a existência da dinâmica e da convivência típica desse bairro, tanto entre as pessoas em si, como delas com o mar e com o rio. Apesar dessa repartição didática, é importante observar que essas três esferas se relacionam entre si. Cada ponto observado foi visto a partir do solo, do território e do meio ambiente natural, sendo pensado para uma paisagem que é uma representação das pessoas que a habitam, sendo fundamentada pela natureza preexistente à vida e a ocupação que hoje se dá nesse lugar.
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4.3.1 A TEIMOSIA DAS ÁGUAS A) A Teimosia das Rochas “A localização, essa orla, essa praia do Buraco da Véia que é um sucesso, a gente tem tanta história, esses canhão aqui dos holandeses, só que tiraram, tem a piscina do canhão, né? A gente chama piscina porque era um aglomerado de arrecife de pedra, formava um retângulo e perto dela tinha um canhão que era da época dos holandeses, mas retiraram de lá, e lá perto da segunda porta da barra também existia um outro canhão ainda dessa época, e essa divisão, você olha de um lado tem um mar, você olha do outro, tem a maré (...)” (Celeste Maria, professora aposentada, 61 anos). “(...) Gosto de olhar, pescar. De pescar, eu amo, é isso mesmo. Eu pescava muito, na porta, porque o mar ficava na minha porta. Pegava uma lâmpada, não tem aquelas lâmpadas fluorescente? Eu cortava, quebrava, lavava, ela ficava bem limpinha eu botava farinha de trigo, botava um cordão e um pedacinho de Isopor, chegava lá dentro do mar, ficava sentada na pedra o dia todo, pegava uma bacia de peixe, viu? Pegava uma bacia de peixe, tinha um vizinho que já chegava com uma bacia, "Amara, eu tô aqui", aí eu dava na hora, porque eu não tinha precisão de tanta comida. Cada uma saúna deste tamanho! Você sabe o que é saúna? Que chama Tainha de água doce, de água salgada, é um peixe grande. Tinha lâmpada que vinha só uma de tão grande. Botava dez lâmpada daquela e ainda precisava de anzol. Eu gostava, aquilo era tão bom, viu?” (Amara Bezerra, empregada doméstica aposentada, 77 anos).
Um dos aspectos mais marcantes da Paisagem Teimosa é a linha de força formada pelos arrecifes que perpassam toda a sua orla marítima. Essa espécie de “calçada do mar9” é uma grande permanência, visto que é um elemento natural existente desde os tempos remotos, quando nem mesmo o aterro que deu origem à Brasília havia sido realizado. (mapa 3, imagem 11 e 12) Essas rochas também podem ser observadas nas áreas centrais tradicionais da cidade, notadamente na Ilha de Santo Antônio e São José e no Bairro do Recife, promovendo uma ligação visual e simbólica entre as três localidades. É importante ressaltar que nos ano de 2000, foi inaugurado, num trecho próximo a esse último bairro, o Parque das Esculturas, com obras do artista plástico recifense Francisco Brennand (INOUE, 2010). Hoje, existe uma estrada feita sobre os arrecifes, passando por cima do mar, ligando esse local à terra firme, até os arredores do Iate Clube. Como vários turistas e pessoas em geral passam pela Brasília a fim de visitar o local, esse elemento natural também tem influência na dinâmica da comunidade a partir da atração de um público externo a ela (mapa 3 e 4, imagem 12). 9
Termo usado pelo arquiteto Fábio Cavalcanti Gonçalves para se referir aos arrecifes em: “Paisagem como res pública: a calçada do mar do Recife”, 2017, projeto de qualificação (Doutorando em Desenvolvimento Urbano) – Universidade Federal de Pernambuco.
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Por essas rochas se apresentarem com mais força até as fronteiras da orla da comunidade e do Pina, elas reforçam o caráter de unidade de paisagem dado à Teimosa. No ponto em que se pode perceber os arrecifes de forma mais expressiva é na Praia do Buraco da Véia, no final da orla do bairro (imagem 13). Nesse local, ele é bastante vivenciado pelas pessoas, que dele se aproximam através do banho de mar, e da utilização das suas seis piscinas naturais: a do canhão, a do Seixo, a do Saberé, a da Cobrálica e a da Moreia (URPIA, 2014) (imagem 14). Elas são muito utilizadas pelas crianças, que podem usufruir do mar em um local seguro. Os arrecifes são fundamentais para garantir a tranquilidade atribuída peculiarmente às águas dessa praia. Uma outra função que também se dá sobre essas rochas é a da pesca. Pescadores profissionais e artesanais se colocam sobre elas para exercer essa atividade, se concentrando em toda a sua extensão, estando em grande quantidade no início da “pistinha” aberta nas proximidades do Iate Clube. Também é exatamente nesse ponto onde essas rochas dividem o rio e o mar, marcando a passagem de um momento a outro da paisagem (imagem 15). Assim, percebe-se que os arrecifes não são apenas um elemento natural inerte, indiferente. Eles fazem parte da vida das pessoas, que deles se apropriam para exercer as suas práticas sociais, sejam elas de lazer, trabalho ou puramente de contemplação. Assim, pelo papel que eles exercem na comunidade e pela sua idade no local, eles são um elemento apropriado afetivamente pela população, sendo importantes e presentes na imagem que se tem dessa paisagem. Contemporaneamente, após a realização do Projeto Teimosinho, à frente do istmo, foi feito uma mureta de contenção das águas marítimas. Antes da sua existência, as águas do mar invadiam uma boa parte do bairro, gerando grandes problemas de habitabilidade para os moradores. Com a sua chegada, esse impasse foi resolvido, mas pôde-se perceber uma transformação na relação entre essas rochas, o restante do bairro e as pessoas, que será mais explorada adiante. Apesar dessa modificação, que aparentemente conforma uma barreira física e visual, e uma solução esteticamente desagradável, o relacionamento que se tem com o istmo permanece muito viva (imagem 1 6 e 17).
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Mapa 3 – Os arrecifes e a Paisagem Teimosa. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado).
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Mapa 4 - Linha de força dos arrecifes na Paisagem Teimosa em 3 momentos distintos: 1641, 1975 e 2016. Fontes: SILVA, 2008b, p16; CONDEPE/FIDEM; Google Maps, 2016.
Imagem 11 – Os arrecifes da cidade vistos do alto do Forte do Picão, 1875. Autor: Marc Ferrez. Fonte: FERREZ, 1988, p.23.
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Imagem 12 – Os arrecifes da cidade atualmente (2014). Em primeiro plano, o Bairro do recife; em segundo, a Ilha de Santo Antônio e São José; em terceiro, Brasília Teimosa. Perceber a ligação entre as três localidades. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 201-.
Imagem 13 - Praia do Buraco da Véia e os arrecifes. Fonte: Site Patrimônio de Todos.gov, 2009.
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Imagem 14 - Piscina natural formada pelos arrecifes na Praia do Buraco da Véia. Fonte: URPIA, 2014.
Imagem 15 - Barcos de Pescadores no início da Pistinha. Foto de Américo Pinto. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016.
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Imagem 16 - Palafitas e os arrecifes antes da construção da mureta de contenção. Fonte: acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa.
Imagem 17 - Avenida Brasília Teimosa atualmente, com o muro de contenção entre a areia e os arrecifes. Fonte: acervo pessoal da autora. { 285 }
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B) A Teimosia dos Banhos Salgados “A praia mais parece uma piscina, não tem perigo de afogamento, é super gostosa (...). (...) A diversão da gente é a Praia do Buraco da Véia. (...) Há muitos anos atrás, o Iate quis se apoderar da praia do Buraco da Véia, né, passou um muro durante a madrugada, e foi uma briga da gente da comunidade, e de dia a gente derrubou, a comunidade derrubou. Tem até uma música que diz, (...): “a praia do Buraco da Véia é nossa, é do povo de Brasília, se o Iate tá querendo briga...”. (...) Aí derrubamos e mostramos que a praia era da comunidade é a praia de Brasília Teimosa. (...) A gente deixou bem claro que a praia era da comunidade, não particular, pertence ao povo” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos). “Se eu for contar a minha infância aqui na Brasília... Eu, com 8, 10 ano de idade, tomava banho ali dentro do mar, eu e
os colega aqui, a gente mergulhava, saia nadando pra ver quem ia mais longe lá ‘dento’” (Fernando Paes, motorista, 58 anos). “Então, não tem o Buraco da Véia ali? 3 hora da manhã já tem gente indo tomar banho na praia. Eu mesmo, final de ano, quando é final de ano, a gente vê o povo direto, tirar as “mazila”. As “mazila” do ano que passou” (Claudete Barros, vendedora de carne, 66 anos).
O mar da Brasília Também é habitualmente utilizado para o banho. Existem dois principais pontos em que isso acontece: próximo à Praia do Pina e na Praia do Buraco da Véia (mapa 5). Essa primeira localidade é bastante popular e amplamente utilizada pelo público da cidade como um todo, tendo como característica uma grande presença de bares e restaurantes lindeiros a ela. Muitos conhecem essa praia como sendo pertencente ao Pina, e de fato, ela é bem menos apropriada pelos moradores de Brasília Teimosa, apesar de ainda estar nos limites desse bairro. Esse trecho é o único que não é permeado pela Avenida Brasília Formosa e tem as suas edificações fixadas diretamente na areia (imagem 18). A Praia abraçada pela comunidade é a do Buraco da Véia. Ela é tida como um emblema, simbolizando o bairro, é motivo de orgulho para os seus moradores, um cartãopostal. Conhecida por ser uma praia de águas calmas, quase uma piscina natural, resultado da conformação que lhe é dada pelos arrecifes, ela é utilizada principalmente pela população local. A atividade do banho gera uma grande diversidade de usos no entorno dessa parte da orla, como bares, restaurantes, vendedores ambulantes e a prática de esportes. O local onde se encontra é bastante movimentado, sendo o ponto final da Avenida Beira-mar do bairro, onde se inicia a pistinha que leva ao Parque das Esculturas anteriormente referido (imagem 19, 20 e 21). É importante relembrar que a Praia do Buraco da Véia, hoje, só pertence à Brasília porque foi conquistada pela teimosia. Na década de 70, quando da construção do Iate Clube, tentou-se privatiza-la sorrateiramente. Não aceitando perder essa área tão especial de banho, lazer e sociabilidade, a comunidade se uniu, e com suas próprias mãos, derrubou o muro coletivamente10.
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Além10do banho de mar tradicional, há uma prática bastante interessante no bairro: o Banho de Choque. Se aproximando da mureta de contenção presente em toda a orla do bairro (com exceção daquele primeiro trecho próximo ao Pina), os moradores se banham a partir do choque das ondas em sua lateral (imagem 22 e 23). Tanto a Praia do Buraco da Véia quanto o banho de choque são dois tipos de teimosias muito peculiares ao bairro, a primeira, pela sua conformação, diferente de todas as outras praias urbanas do Recife, e a segundo pela maneira como se aproveita um elemento que teoricamente seria uma barreira ao contato com as águas, para ironicamente se relacionar com elas.
Mapa 5 - Orla e locais de banho. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado).
Imagem 18 - Praia de Brasília Teimosa em seu trecho próximo ao Pina, 2007. Foto de autoria de Carlos M.G. Fonte: Panoramio Google Maps, 2007. 10
Esse foi um tema bastante recorrente nas entrevistas. Mesmo sem fazer parte da base do questionário semiestruturado utilizado nas conversas, muitos moradores, como por exemplo, Wilson Lapa, Celeste Maria, Júlio Alcino e Edileuza Simões, contaram esse episódio com ares de orgulho e saudosismo.
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Imagem 19 - Praia do Buraco da Véia e os seus Banhistas, 2016. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016.
Imagem 20 - Banhistas na Praia do Buraco da Véia. Fonte: URPIA, 2014.
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Imagem 21 - Banhista na Praia do Buraco da Véia. Observar os arrecifes que conformam a praia. Fonte: URPIA, 2014.
Imagem 22 - Moradores tomando Banho de Choque na mureta. Foto de Daniel Pereira, 2013. Fonte: Site Fotógrafo Daniel Pereira, 2013.
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Imagem 23 - “Banho de Choque faz Parte da Nossa História”. Imagem encontrada em uma página do Facebook alimentada por fotos e conteúdos provenientes dos próprios moradores. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016.
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C) A Teimosia da Celebração das Águas “Somo rico, nós somos ricos, um marzão desses perto de casa, uma praia, um lazer de graça, você não precisa pagar...” (Edileuza Simões, cuidadora, 58 anos). “(...) É fonte de vida e de lazer, fonte de lazer porque os nossos meninos têm onde jogarem, onde correrem, onde
brincarem” (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos). “(...) Aí, ‘mãe, eu vou aqui na praia’, dá um pulinho ali, dois minutos tá na praia, dez minutos tá voltando. Tem uma liberdade imensa, né? Fica aquele negócio despreocupado (...). (...) O que eu gosto muito aqui é essa área aqui do mar, do rio. Toda hora eu tô aqui, quando não tô em casa, eu tô aqui levando esse ventinho aqui. Qual é o rico que pode tá aqui uma hora dessa?”(Soldado, Pescador, 57 anos). “(...) A galera vem pra cá pra beber, pra ver a brisa do mar, [pra] ver a galera aqui” (Victor Vinícius, garçom, 22 anos). “(...) Agora mesmo vai chegar junho, todo mundo se programa pra festa de São Pedro, né, aí tá todo mundo, os pescadores, aí, tem o barco, aí, tem a procissão terrestre, depois tem a fluvial, e aí se mantém aquela tradição. Eu acho que isso, assim, não se perdeu com o passar do tempo” (Taciana Melo, professora, 29 anos).
“(...) Tem muito vizinho meu que vão pescar de anzol, ainda tem essa paixão pelo mar. (...) Tem gente que passa a noite todinha pescando ali no cais, aí que chama a orla, na orla ali. Muita gente passa a noite, meu irmão aí, faz isso, ele, os filhos, e os amigos dele (...)” (Djalma Rodrigues, mecânico em refrigeração aposentado, 81 anos).
Além do banho de mar, outras práticas sociais e hábitos de cultura e lazer são feitos em simbiose com as águas da Brasília. A falta de áreas livres e verdes para permanência no interior do bairro e a relação afetiva que a população tem com o mar e com o rio fazem com que as orlas, tanto a fluvial, quanto a marítima, se tornem grandes áreas de convivência e sociabilidade. Em relação à Beira-mar, percebe-se cotidianamente, uma grande concentração de pessoas praticando esportes, como caminhadas, vôlei e futebol na calçada e na areia da praia. Após a abertura da Avenida Brasília Formosa, esses usos foram facilitados, não somente pela criação de uma faixa de areia regular, mas também pela implantação de vários equipamentos, como a ciclovia, sanitários, academia da cidade, barras para exercícios e parques infantis ao longo de toda a sua extensão. Por conta dessas últimas estruturas, esse espaço também se torna um local onde podem ser encontradas muitas crianças brincando. Além disso, é forte o hábito da contemplação e da conversa no entorno do mar e do rio pela qualidade da ambiência por eles proporcionada (mapa 6, imagens 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30 e 31). Grande parte da vida boêmia teimosa se concentra nesses locais. Ao longo de toda a Beira-Mar veem-se quiosques, bares e restaurantes que reforçam a vocação gastronômica
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do bairro, sendo frequentados tanto pelos moradores, quanto pela população dos bairros vizinhos e da cidade como um todo. As proximidades da Praia do Buraco da Véia são bastante utilizadas nesse sentido. Já se aproveitando da movimentação causada pelos banhistas, há uma concentração de pessoas convivendo no local, principalmente durante o final de semana, conversando, bebendo e comendo, com carros abertos e sons ligados, fazendo uma espécie de festa na rua (mapa 6). Sobre festas, a mais tradicional do bairro é a de São Pedro, santo padroeiro da Brasília e da pesca, realizada anualmente no dia 29 de junho. Organizada pela Colônia Z-1, ela se concentra na orla fluvial, na Rua Delfim (antiga rua A), e conta com fogos, uma procissão a pé e outra de barcos (CABRAL, 2012). Mesmo sendo comandado pelos pescadores, esse evento gera encontros e reencontros dos membros da comunidade em geral, sendo uma ocasião especial para os moradores. Após a festa religiosa, começa-se a profana, onde são feitos diversos shows com atrações populares e locais, que atualmente são promovidos pela própria prefeitura da cidade na Beira mar da Teimosa (SANTOS, 2011) (mapa 6, imagem 32). Fora essas atividades feitas no entorno das orlas, como dito anteriormente, também existe no bairro o costume da pesca, realizada não somente por pescadores profissionais, mas também por moradores que o fazem por lazer. Esse hábito existia com mais força antes da abertura da Avenida Brasília Formosa, pois muitos moradores que habitavam anfibiamente o local, nas palafitas e nas casas de alvenaria próximas à maré, pescavam de dentro de suas próprias casas. Analisando a vivência que se dá pela presença do rio e do mar, percebe-se que, na Brasília, uma permanência, uma movimentação e um leque amplo de atividades acontecem para as águas, pelas águas e com as águas.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
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Mapa 6 - Mapa das orlas vivenciadas. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado).
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Imagem 24 - Pessoas jogando bola na praia no início da Ocupação na Brasília. Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014.
Imagem 25 - Crianças jogando bola na praia na Brasília atual. Fotografia de Daniel Jacinto Pereira, 2014. Fonte: Daniel Jacinto Pereira (Youtube), 2014.
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Imagem 26 - Crianças nas barras de exercício da orla. Fotografia de Daniel Jacinto Pereira, 2014. Fonte: Daniel Jacinto Pereira (Youtube), 2014.
Imagem 27 - Parquinho e quiosque na Avenida Brasília Formosa, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora.
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Imagem 28 - Quiosques e bares na Avenida Brasília Formosa, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 29 - Orla sendo vivenciada (provavelmente na década de 70). Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Imagem 30 - Pessoas bebendo e conversando na Beira-mar. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
Imagem 31 - Pessoas conversando na beira do rio. Foto de Sergio Eduardo Urt, 2009. Fonte: Flickr Sergio Eduardo Urt, 2009.
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Imagem 32 - Festa de São Pedro, 2016. Fonte: Portal G1 de Notícias, 2016.
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4.3.2 A TEIMOSIA DA SUBSISTÊNCIA PELAS ÁGUAS “Porque é o lugar de sobreviver, é Brasília. Não tem lugar melhor que Brasília pra sobreviver. Tudo que você vende, tudo que tiver de vender, você vende, e só faz crescer na Brasília. Nos outro lugar é mais difícil. (...) Porque aqui na Brasília morre de fome quem quer, que você vai ali na beira do rio, pega um sururu, pega um marisco, pega uma unha de véio, pega um peixe, dá pra sobreviver” (José Severino, pescador, 47 anos).
“Eu me lembro que, quando garoto, tinha aqui a antiga oficina, num é, aí, minha mãe vinha comigo, a gente bem humilde, aí, subia os navios pra ajeitar e a gente ficava raspando o casco dos navios pra tirar exatamente o sururu, unha de véio, marisco, pra poder se alimentar, pra poder comer, né, e era uma fase tão bacana da vida... (...) O mar foi da sobrevivência, foi de uma importância muito grande pra o bairro da gente, ele sempre nos alimentou e ainda alimenta até hoje” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos). “(...) A maioria das pessoas são, tem algum parente, são descendentes de pescadores ou vivem da pesca, indireta ou diretamente, então é uma relação muito grande com o mar e com o mangue. É a relação maior que as pessoas têm (...)” (Taciana Melo, professora, 29 anos)
A) A Teimosia Pesqueira “(...) A maioria aqui é pescador, pescadores e pescadeiras. Relação mesmo que ser pai e filho, mãe com o mar (...) (Piaba, funcionário público, 57 anos). “O Rio Capibaribe é minha vida, é minha história, é meu amor, é tudo o Rio Capibaribe significa pra mim, é um ganha pão, né? É uma alegria, uma felicidade que eu sinto muito de tá nesse Rio Capibaribe. (...) O rio tem o meio ambiente tão bonito, pra gente ele é tudo na minha vida esse Rio Capibaribe (...). (...) O mar traz comida, o mar traz felicidade, o mar é saúde, o mar é tudo. Veja que onda bonita, você pode tá com a maior raiva do mundo, com a maior tristeza, (...) eu vou pra beira do mar, ou pra beira do rio, se eu passar dez minutos eu venho maravi...oxe! Parece que eu boei, só basta você olhar pro mar, teja aperreada e olhe pro mar, quando quiser passar nas provas vá no mar, ou se você for evangélica você ora, se você for católica você reza, pra você vê se não vai lhe ajudar” (Dona Leu, marisqueira, 61 anos). “(...) Eles são os pais e as mães, porque tirando esse mar e esse rio daqui, vão viverem de quê?” (Soldado, Pescador, 57 anos). “(...) Esse rio aqui é tudo pra gente, sem esse rio aqui a gente não “veve”, (...) se acabar esse rio aqui, acabou Brasília Teimosa, acabou, acabou, isso aqui é pai e mãe de Brasília Teimosa, eu amo isso aqui, isso aqui, pai e mãe. (...) O mar, não tem nem palavra. Se o mar acabar, acabou-se tudo pra gente, acaba tudo, se o mar acabar, acaba tudo. (...) A gente pescador só enxerga o quê? O mar. O pescador só enxerga o mar. A vida do pescador é o mar, quer dizer, tira o mar da gente, a gente ficou cego, aleijado e cotó, é, porque a gente vai andar pra onde? (...)Tira o mar da gente, acabou tudo” (Dentinho, pescador, 48 anos).
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“O pescador, ele conhece a maré até pela mão” (Antônio Carlos, funcionário público aposentado, 66 anos). “Aqui tem muitos pescadores que sobrevive da pesca, né, marisqueira, né, que sobrevive. A maioria dos pessoal aqui tem a sobrevivência com o mar mesmo. (...) É, sobrevivência. Quer ver? Tiraram os pescadores ali das palafita, “butaram” lá pro, pra Caxangá. Muita gente venderam e vinheram simbora pra cá (...). A maioria deles aqui é assim, se botar pra longe, vão vender e vão voltar de novo” (Mauricéa da Conceição, dona de casa, 45 anos).
Historicamente, Brasília Teimosa surgiu a partir da Colônia de Pescadores Z-1, a mais antiga do estado. Através dela, o bairro conseguiu o seu aforamento e foi loteado por meio de um traçado presente até os dias atuais (FORTIN, 1987). A luta dos moradores pela permanência, de certa forma, também foi a luta para se continuar pescando e vivendo pelo rio e pelo mar. Inicialmente, a possibilidade de se sustentar através da maré, pela alimentação e pela venda dos pescados, foi um dos atrativos populacionais principais desse lugar em relação a outras ocupações da cidade11. Sendo assim, a atividade da pesca deu início e embasou a história dessa paisagem (imagem 33 e 34). Ao longo dos anos, apesar do número de pescadores profissionais vir diminuindo no bairro, essa é uma atividade que ainda fundamenta a sua economia, as suas relações, a sua cultura e a sua vivência, sendo essencial para a compreensão da dinâmica da Brasília como um todo (imagem 35, 36 e 37). Hoje existem duas entidades principais de apoio aos pescadores: a própria Colônia Z-1 e a Associação de Pescadores Artesanais e Profissionais da Brasília. A primeiro cuida dos assuntos mais burocráticas, como as documentações e aposentadorias, e a segunda trata de questões mais operacionais, como o fornecimento de um espaço de descanso, água, e infraestrutura para dar suporte as atividades desses profissionais no cotidiano12 (mapa 7). A pesca se dá ao longo de toda a orla marítima e fluvial, mas percebe-se uma grande concentração de profissionais nas proximidades da pistinha, entre a associação de pescadores até um pouco depois do Iate Clube, nos arrecifes. Ainda que se tenha a impressão de que a pesca é uma atividade puramente feita como um meio de subsistência, é importante perceber que para aqueles que a exercem, as águas vão muito além do suprimento das suas necessidades físicas: o mar e o rio são pai e mãe, apadrinham aqueles que deles se aproximam, tendo com eles uma relação emocional, simbólica. Quando perguntados sobre a importância desses elementos em suas vidas, as palavras utilizadas pelos entrevistados em suas respostas iam para além do palpável: 11
Um dos entrevistados, Zezinho, proprietário do Restaurante Império dos Camarões, afirma ter ido morar no bairro por ser mais viável para o seu trabalho na época (anos 70). Ele era pecador e comercializava os seus pescados no Mercado São José (localizado na Ilha de Santo Antônio e São José, vizinho à Brasília). Após algum tempo ele parou de pescar e abriu o seu restaurante, que funciona desde a década de 1990 até os dias de hoje. 12 Informação dada pelo Pescador Dentinho (Severino Francisco) em maio de 2017.
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falavam de amor, de vida, de ser “tudo”, de felicidade, enfim, de sentimentos. Assim, as águas parecem saciar todas as fomes: a física e a afetiva. Grande parte dos moradores realocados das palafitas para o Conjunto Habitacional do Cordeiro, a oeste da cidade, em 2004, estabelecia esse relacionamento com o mar e com o rio. Essa ligação é tão forte que muito deles, não podendo quebra-la, venderam as suas casas nesse local e voltaram para a Brasília. Muitos ainda residem nesse outro lugar, mas continuam voltando à Teimosa para Pescar. A comercialização dos pecados é feita em grande parte dentro do próprio bairro. Muitos dos inúmeros bares, restaurantes, mercados e frigoríficos existentes na área são abastecidos pela própria pesca local. Um outro ponto muito tradicional para a venda de peixes e mariscos é o Mercado de Brasília Teimosa (do Pina), situado na Praça Abelardo Baltar, se encontrando também outras casas que vendem principalmente crustáceos espalhadas em todo o bairro. No anel viário principal da Brasília, e mais especialmente na Rua Arabaiana (mapa 7), também são encontradas muitas barracas onde se expõem os peixes, crustáceos, mariscos e pescados em geral ao longo da via. Por falar nas vias, lembrase aqui que o nome da maioria delas se refere aos peixes, como uma homenagem aos pescadores locais (imagem 38). Cabe ainda repetir que a pesca também é uma importante atividade no que diz respeito à cultura e ao lazer do bairro. Muitos daqueles que não mais dependem das águas para sobreviver continuam pescando ou adquirem o hábito de pescar, o que pode ser visto como um reflexo da relação afetiva que se tem com o mar e com o rio nesse lugar. A importância da Festa de São Pedro para o bairro também pode representar a relevância dessa atividade para os moradores em geral.
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Mapa 7 - Mapa da Pesca em Brasília Teimosa. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado).
Mapa 7- Mapa da Pesca em Brasília Teimosa. Fonte: Google Maps, 2016 (modificado).
Imagem 34 - Pescador na Brasília Teimosa Atual. Fonte: BRASÍLIA...2014.
Imagem 33 - Pescadores em Brasília Teimosa, 1957. Autor desconhecido. Fonte: Brasilina Teimosina (Perfil do Facebook), 2016. { 302 }
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Imagem 34 - Pescador na Brasília Teimosa Atual. Fonte: BRASÍLIA...2014.
Imagem 35 - Pescadores próximos à Associação. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
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Imagem 36 - Marisqueira na Brasília. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
Imagem 37 - Pescadores na Brasília. Fonte: BRASÍLIA, 2014. Fonte: acervo pessoal da autora.
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Imagem 38 - Venda de peixes em barraca. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
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B) A Teimosia Gastronômica
“Você vê ali a orla, tem muitas pessoas que sobrevivem das barracas dali da orla, lá no Buraco da Véia, conhecido internacionalmente” (Jane Abreu, 61 anos, Farmacêutica). “Graças a Deus, hoje, a minha casa [o restaurante] é conhecida internacional, o que você imaginar, eu tenho de cliente” (Zezinho, comerciante, 66 anos). “O bom daqui, é que tem tudo, tudo fresquinho de comida, tudo mais barato que os outros lugares, tudo de bom, tem tudo de bom” (Maria das Graças, Comerciante, 67 anos). (...) É um bairro que a gente tem tudo, bem assistido, né, com comércio, restaurante, essas coisa (...) (Edileuza Simões, cuidadora, 58 anos).
A vivência com as águas e a atividade histórica de pesca no bairro favoreceu a transformação da Brasília, já na década de 1990, em um polo gastronômico do Recife (BOTLER, 1994). No local, existem bares, restaurantes, quiosques e botecos de porte e estilos diversos. Eles atendem a todos os públicos: à própria comunidade, aos moradores dos bairros circunvizinhos, como Boa Viagem e Pina e da cidade como um todo, e aos turistas. A simplicidade da arquitetura dos estabelecimentos e do urbanismo do bairro são uma especificidade que se torna um diferencial para o público externo (imagem 39). Alguns restaurantes já estão no roteiro turístico da cidade e são conhecidos internacionalmente, tendo frequentemente como especialidade as comidas típicas regionais e, principalmente, os peixes, crustáceos e frutos do mar em geral (CHAVARRIA, 201-), que em muitos casos são provenientes da própria pesca praticada na Brasília (imagem 40). Esses lugares estão espalhados por todo o bairro (mapa 8), mas se concentram principalmente na orla marítima, tanto na parte em que ela se conecta com o Pina, quanto no Buraco da Véia (imagem 41, 42 e 43). Nessa última se encontra um grande número de ambulantes e barracas que atendem rotineiramente aos banhistas (imagem 44 e 45). A possibilidade de se desfrutar da culinária ao mesmo tempo em que se pode ver e se relacionar com o mar e com a praia faz com que haja essa polarização gastronômica para essa parte do território. De uma maneira secundária, tem-se também uma pequena concentração de bares nas proximidades do mercado da Brasília (imagem 46). Dessa forma, percebe-se como a sobrevivência pelo mar e pelo rio se estende à questão comercial, e como esse ciclo da pesca tem impactos na economia e na subsistência da comunidade, gerando relações diretas e indiretas com as águas.
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Imagem 39 - Colagem de Bares, Restaurantes e botecos de Brasília Teimosa. Fonte: Fonte: Google Maps,{ 2016. 307 }
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Imagem 40 - Império dos Camarões, Restaurante da Brasília conhecido internacionalmente. Fonte: Google Maps, 2016.
Imagem 41 - Quiosque na Orla de Brasília Teimosa (esquina da rua Dagoberto Pires). Fonte: acervo pessoal da autora.
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Imagem 42 - Restaurante Bar do Peixe, um dos mais tradicionais da Brasília. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 43 - Bar nas proximidades da Praia do Buraco da Véia. Fonte: acervo pessoal da autora.
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Imagem 44 - Vendedor de Caldinhos na Praia do Buraco da Véia. Fonte URPIA, 2014.
Imagem 45 - Vendedor de Peixes na Praia do Buraco da Véia. Fonte URPIA, 2014.
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Imagem 46 - Bares nas proximidades do Mercado de Brasília Teimosa. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
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C) A Teimosia do Burburinho Comercial “Eu acho bom que aqui tudo que bota se vende, entendeu? Eu botei um negócio ali, agora estou aumentando. Tá vendendo bastante. Com material de pesca, entendeu? Porque eu não vivo mais de pesca, aí botei material de pesca” (Netinho, pescador aposentado, 51 anos).
“(...) Dia de sábado de manhã, nove hora da manhã, você passar na rua principal [Rua Arabaiana], tem casa que vende verdura, em cada uma chega com caminhão de verdura e vende tudo, é todo mundo, compra tudo, é carne, é galinha, tudo. Tudo aqui dentro” (Maria das Graças, Comerciante, 67 anos).
“(...) A gente encontra na Brasília tudo, ou quase tudo, é, comércio, vários tipos de comércio, supermercado, farmácia, lojas de artigo feminino, masculino, é, frigoríficos, é, peixe, carne, frango, etc., etc., e várias outras coisas” (Maninho, porteiro aposentado, 48 anos).
“(...) Aqui é uma verdadeira cidade dentro de outra cidade” (Jane Abreu, 61 anos, Farmacêutica).
Em torno da questão gastronômica do bairro, já proveniente da sua condição de comunidade pesqueira, ao longo de seu processo de consolidação, surge também um pequeno centro comercial que dá autossuficiência à Teimosa. Os tipos de comercio são bastante variados, sendo encontrados mercados, padarias, frigoríficos, farmácias, armazéns de construção, lojas de miudezas, movelarias, boutiques de roupas masculinas e femininas, depósito de bebidas, frutarias, casas de bolo, bombonieres, entre outros, sendo observados também diversos serviços, como sapateiros, bicheiros, e estabelecimentos de concertos em geral (imagem 47). Apesar da variedade de usos encontrada, ainda percebe-se uma grande quantidade de atividades voltadas para a questão alimentícia. Como dito anteriormente, em meio a esse comercio fixo também se concentram barracas móveis para a venda de peixes e pescados em geral, além de frutas, verduras e temperos. Muitas pessoas ainda vendem bolos, salgados, tapioca e outras comidas diretamente na rua, além de existir, em todo o bairro, muitas residências onde são agregadas pequenas vendas. Por essa realidade, a Brasília é bastante conhecida pela vocação empreendedora de seus moradores (EMPREENDEDORISMO... 2015) (imagem 48, 49, 50, 51 e 52). Apesar de esse comércio estar pulverizado no território da comunidade em geral, a sua maior concentração se dá nas vias principais do bairro, notadamente nas Ruas Comendador Moraes, Dagoberto Pires, Arabaiana, Delfim e Francisco Valpassos. Especialmente na Rua Arabaiana, esses usos são muito predominantes (mapa 9; imagem 48, 49, 50, 51 e 52). Também, em segundo plano, tem-se a área do Mercado da Brasília, que também tem uma vocação alimentícia e agrega outros tipos de comércio em seu entorno
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(imagem 53). Esses usos fazem parte do ritmo que movimenta a vivência da Teimosa e dos seus moradores. O público que se utiliza desse centro comercial é, em sua grande maioria, interno, mas também há um externo, formado por aqueles turistas que passam pelo local e pelos moradores dos bairros mais próximos, como o Pina e Boa Viagem. A Brasília, segundo os entrevistados, pela sua Praia, pelo seu rio, pela grande gama de bares e restaurantes que ela agrega, e pelo amplo comércio que ela abriga, funciona como uma pequena cidade, não sendo necessário se deslocar para outros locais a fim de comprar ou exercer a maiorias das atividades praticadas no bairro cotidianamente13.
Imagem 47 - Colagem de comércios e serviços da Brasília. Fonte: Google Maps, 2016.
13
Além de toda essa sua autossuficiência, é importante lembrar que a Brasília está localizada em uma área central, próxima a Boa Viagem, ao Shopping Rio Mar e ao centro da Cidade. Em tese, se algo não é encontrado dentro do próprio bairro, muito provavelmente pode estar em seu entorno.
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Imagem 48 - Comércio na Rua Arabaiana. Perceber os mercados dos dois lados da rua. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 49 - Comércio variado na Rua Arabaiana. Fonte: FABRÍCIO, 2014.
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Imagem 50 - Anúncio de Venda de Pescado. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 51 - Venda de peixe em barraca na Rua Arabaiana. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
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Imagem 52 - Venda de milho e espetinho na Rua Delfim. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 53 - Comércios próximos ao Mercado de Brasília Teimosa. Fonte: acervo pessoal da autora. . { 316 }
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4.3.3 A TEIMOSIA VIVENCIADA “(...) É diferente a relação que essas pessoas têm, sabe, com aquele rio, com aquela croa. O pessoal tá assim, daqui a pouco o povo vai ali e desce na croa, a croa tá seca, desce ali, coleta um marisco, daqui a pouco tá cozinhando na porta de casa, debulhando, conversando, assim com a naturalidade que, aquilo pras pessoas que vêm de fora é uma coisa diferente, mas aqui faz parte do cotidiano das pessoas, da vida. O pessoal passa aqui, a gente tá parado aqui, daqui a pouco tá ali o pessoal com o mosquiteiro amarrado no pescoço tirando manjuba da praia, né? Então assim, a coisa aqui é do dia-a-dia, né, apesar de ser uma comunidade urbana, mas é uma comunidade urbana tradicional de pesca, né? A gente ainda tem muito essa característica (Taciana Melo, professora, 29 anos)”.
A) A Teimosia das Casas que sentem a Rua e Beiram as Aguas “(...) A gente aqui ainda consegue se sentar na calçada (...)” (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos). “A rua enchia d’água, mesmo assim não deixava de ter as cadeirinhas, botava tijolo, botava zinco, e fazia a fogueira pra você olhar a rua cheia d’água, “chei “ de fogueira acessa (...)” (Celeste Maria, professora aposentada, 61 anos). “O pessoal que mora no interior não bota o colchão na frente de casa e vai dormir? Eu durmo aí ó [apontando para a frente de sua casa, à beira-mar]! Tô em casa” (Antônio Carlos, funcionário público aposentado, 66 anos). “(...) O mar perto... Abro minha porta e dou de cara com o mar. Num é bonito?! O sol nascendo, o sol nascendo, a lua quando nasce, a gente fica assim olhando, ó, eu namoro esse mar. Me acordo aqui de madrugada, (...) ai quando eu abro a porta, tá essa coisa linda (Claudete Barros, vendedora de carne, 66 anos). [Se o mar tem relação com Brasília Teimosa?] Isso aí tem, minha filha! Isso aí eu sei lhe contar bonitinho. Eu morava
nos palafitas, minha casa não era palafita, minha casa era de alvenaria (...) Ali era tudo mar, minha casa era dentro do mar e quando vinha a maré alta eu ficava nervosa, a minha outra filha me dizia assim ‘mãe, a senhora tá acostumada!’, mas era muita água (...). (...) Eu chorava igual uma criança, mas quando passava tava tudo bem, sabe? (...) Eu comprei essa aqui, mas eu gostava,(...) eu vivia assim olhando, ó! E depois que passou a pista, minha casa foi a última a sair, que não era nem pra ter tirado (...). É aquela história que a gente conta: ‘Eu era feliz e não sabia’ , né? Lá eu era mais tranquila assim, era mais... (...) Mesmo entrando água era, aí eu digo ‘Eu era feliz e não sabia’" (Amara Bezerra, empregada doméstica aposentada, 77 anos).
Na Brasília, as ruas são extensões das casas. Isso porque, desde o início da história desse lugar, as tipologias edilícias praticadas na comunidade, permitem a passagem do espaço interno das residências ao externo das vias de uma maneira direta ou quase direta (imagem 57). Atualmente, em todo o bairro, são encontradas basicamente 3 tipologias e implantações diferentes de edificações, todas com esse mesmo tipo de relação com a rua:
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1)
Imagem 54 - Tipologia 1. Edificações encontradas em Brasília Teimosa. Fonte: ANJOS, 2013, p.95. .
A primeira delas consiste em casas simples, de um único domicílio, encontradas
desde o início da ocupação da Teimosa, sendo similares às vistas em outras localidades da cidade. Elas são térreas e geralmente não ocupam o lote em toda a sua totalidade. Hoje, essa tipologia representa uma minoria em relação ao número total de edificações do bairro, visto o processo de adensamento e verticalização que nele vem ocorrendo desde a década de 80. 2)
Imagem 55 - Tipologia 2. Edificações encontradas em Brasília Teimosa. Fonte: ANJOS, 2013, p.96. .
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A partir de acrescimentos feitos por meio de puxadas e verticalizações chega-se a este segundo tipo, o mais frequente do bairro: edificações, com um, dois ou mais domicílios, que geralmente tem mais de um pavimento, e ocupam todo o lote. Elas podem ter ou não uma parte de seu térreo sendo utilizado para pequenas vendas ou outros comércios e serviços. Em muitos casos, onde existe mais de uma residência no mesmo edifício, elas são ocupadas por pessoas de uma mesma família, que aumentou ou multiplicou as suas casas na medida em que foi crescendo. 3)
Imagem 56 – Implantação 3. Edificações encontradas em Brasília Teimosa. Fonte: ANJOS, 2013, p.96 (modificado). .
Por fim, observa-se esse último tipo de implantação, onde as edificações, do tipo 1 ou 2, estabelecem uma relação “condominial” entre si, se organizando em torno de uma pequena via (“beco”) semiprivada ou semipública. Essas tipologias e implantações ocorrem em todos os tipos de edificações: nas residências, comerciais, de serviços ou de uso misto, tanto no interior da comunidade quanto nas orlas (mapa 10 e 11, e imagem 58, 59, 60 e 61). Esse fator facilita a relação das pessoas com a rua, que se torna jardim, sala de estar das casas, permitindo que haja uma maior interação entre vizinhos, moradores e transeuntes locais (imagem 58, 59 e 60). Como prova disso, é frequente na comunidade o hábito de se colocar as cadeiras na frente das casas e ali passar longos períodos de conversa e contemplação do movimento do bairro. Para o comércio, esse tipo de implantação se torna essencial para a visibilidade e fluidez entre os compradores e as mercadorias, facilitando também a ocorrência do burburinho comercial, da movimentação já anteriormente citada existente na Brasília em torno dos seus comércios e serviços (imagem 61). Nas orlas, os jardins viários são azuis. As relações estabelecidas com o mar e com o rio nesses lugares se dão de uma forma muito direta por conta desse tipo de implantação
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praticado no bairro. No que diz respeito à orla fluvial, percebe-se que muitas casas se prostram diretamente ao rio, sem nenhum elemento que os separe (imagem 62). Essa relação imediata, antes também existente na orla marítima, foi quebrada no momento em que se construiu a Avenida Brasília Formosa, que hoje se encontra entre a praia e as edificações. Cabe mencionar que ainda que essa mudança tenha trazido uma melhoria na qualidade de vida da população como um todo, elevando os níveis de habitabilidade da Brasília, o relacionamento afetivo existente entre o mar e os moradores que residiam de forma anfíbia com ele, nas antigas palafitas ou próximas a elas, é tão forte que algumas pessoas se recordam nostalgicamente da época que assim habitavam (imagem 63). Hoje, mesmo que a Avenida se faça presente, as relações das casas com o mar continuam acontecendo de forma efetiva (imagem 64). Aqui cabe um adendo: como discutido anteriormente, a construção do conjunto habitacional do bairro, no ano de 2006, quebra com as tipologias e implantações edilícias recorrentes na Teimosa. Através de um acesso indireto às vias, tanto pela condição predial dada às edificações construídas, como pela existência de grande muro que separa o espaço interno do condomínio do restante da Brasília, nesse caso específico, a rua não mais constitui uma sala de estar com cadeiras, ou um jardim que proporcione a conversa e a interação entre as pessoas. Ou seja, no local, essas relações de convivência foram perdidas (imagem 65 e 66). Embora o processo de adensamento e verticalização do bairro esteja se dando de uma forma acelerada, com edifícios que, em grande parte, já ocupam toda a totalidade do lote e frequentemente possuem dois ou três pavimentos, percebe-se que o conjunto edificado do bairro continua constituindo uma unidade na Paisagem Teimosa. Além disso, mesmo com as mudanças ocorridas ao longo dos anos, a relação pessoas-ruas-jardins não se perdeu, sofrendo apenas adaptações (imagem 67).
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Imagem 57 – Colagem de Casas da Brasília. Fonte: Google Maps, 2016. .
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Mapa 10 – Implantação das edificações residenciais e comercias. Fonte: elaborado pela autora. . { 322 }
{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Mapa 11 – Implantação das edificações nas orlas do rio e do mar. Fonte: elaborado pela autora. . } { 323
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Imagem 58 – Casas da Rua Espardate na década de 1960. Fonte: BEZERRA, 1965. .
Imagem 59 – Casas da Rua Estrela do Mar, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora. . { 324 }
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Imagem 60 – Brasília Teimosa e as casas que sentem a rua. Foto de Flávio Gusmão, 2009. Fonte: Flickr Flávio Gusmão, 201-. .
Imagem 61 – Comércios que sentem a rua. Fonte: acervo pessoal da autora. . { 325 }
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Imagem 62 - Casas que sentem o rio. Foto de Luiz Baltar. Fonte Blog Com mais de trinta, 2010. .
Imagem 63 - Palafitas na antiga orla marítima da Brasília. Foto de autoria de Eduardo Câmara. Fonte: Panoramio Google Maps, 2007. . { 326 }
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Imagem 64 - Casas que sentem o mar na Avenida Brasília eimosa, 2017. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 65 - Conjunto residencial Brasília Teimosa e seus muros à convivência. Fonte: acervo pessoal da autora.
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{ PAISAGEM TEIMOSA | CAPÍTULO 4 – BRASÍLIA TEIMOSA COMO KOSMOS }
Imagem 66 – Conjunto residencial Brasília Teimosa e seus muros à convivência. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 67 – Edificações que conformam a Unidade de Paisagem de Brasília Teimosa. Perceber a diferença entre a paisagem do bairro e o seu entorno (Pina e Boa Viagem). Fonte: acervo pessoal da autora.
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B) A Teimosia da (Com)vivência “(...) Todo mundo vê pessoas na rua, seja de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, aquele burburinho legal e bacana. Uma vez que, de certa forma, todo mundo conhece todo mundo” (Wilson Lapa, radialista e atual Líder do Conselho de Moradores, 57 anos). “Acho que a convivência, assim, com os vizinhos, é aquele ‘bom dia’, ‘boa tarde’, ‘boa noite’ e ‘tudo bem?’" (Amara Bezerra, empregada doméstica aposentada, 77 anos). “(...) Apesar de muita gente ter mudado, apesar das vizinhanças ter se modificado, mas a solidariedade ainda existe muito forte dentro do bairro, as características, né? Você passa perrengue como todo mundo passa, mas tem sempre pessoas pra lhe ajudar” (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos). (...) o que marca mesmo é a hospitalidade dos moradores, o cuidado que a gente tem um com o outro, a história de luta que a gente tem, isso é que me apega muito, né, é, uma luta que é de todos (...) (Maninho, porteiro aposentado, 48 anos). “ (...) Acho que a gente não saberia viver sem isso aqui, a gente já tá acostumado a acordar e olhar pra o mar, a gente já tá acostumado a sentir, a saber quando é que vai chover, então tem uma relação, assim, bem afetiva e sentimental com isso. A gente tem uma, não sei, é porque quando você mora muito próximo da praia você já tem aquela relação com ela (...). (...) A gente tá acostumado, então, assim, a gente já se acorda e já sabe qual o vento, a gente pode até não saber o nome, e isso é intuitivo desde as crianças, né? A gente vai pra praia, eles já sabem qual a questão do vento, eles já sabem observar assim “vai chover! Tá vendo aquela nuvem?”, o céu escurece um pouco e elas “já vai chover”, então você tem uma relação, assim, de afetividade muito grande com o mar, né, com a maré, com os estuários, então é uma coisa, assim, de afetividade, né? E acho que é de importância muito grande, pras pessoas, assim, que vivem, né? (Taciana Melo, professora, 29 anos) “(...) Você olha, você vê, as meninas passa aqui, tem muitas, elas passam aqui, tem muitas que passam aqui no verão de biquíni, é como se ela tivesse saído de casa direto pra o mar” (Edu Guerra, técnico de construção aposentado, 68 anos).
A Brasília é um lugar habitado. A sua paisagem é viva e o seu território é dinâmico. Existem pessoas, movimento e sociabilidade em todas as suas ruas e em todos horários do dia. O bairro não dorme. Alguns fatores físicos podem ser apontados como facilitadores dessa interação frenética. Percebe-se a existência de três polos principais geradores de vida e movimentação que abrangem uma boa parte da área total da Teimosa (mapa 12). O primeiro deles é a orla marítima. A presença do mar constitui um fator de atração de pessoas, pela convivência gerada em torno dele e entre aqueles que dele se aproximam. As práticas e hábitos ali proporcionados, como o banho salgado, a pescaria, a vivência das rochas, a prática de esportes e exercícios, o usos dos bares e restaurantes, a contemplação
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e as conversas e festas no seu entorno, propiciam uma grande ebulição social no local (imagem 68 e 69). A orla fluvial também ajuda a criar a atmosfera dinâmica do bairro. Através das relações que se tem com o rio, de apreciação da sua natureza e dos rituais de pesca nele desenvolvidos, a sociabilidade se faz viva em todo esse lado da Brasília (imagem 70). Fora esses dois polos que se situam nos limites molhados da Teimosa, tem-se também um último, que está no coração do seu território: o anel viário comercial. A movimentação proporcionada pelo seu tamanho e pela pluralidade de usos que nele se situa é intensa, sendo esse um grande atrativo de pessoas, que ali trabalham, que vão comprar algo, ou que vão usufruir de algum serviço oferecido no local (imagem 71). Além desses fatores que se encontram em zonas específicas da Brasília, têm-se duas outras características gerais que colaboram para a ocorrência das interações sociais no bairro como um todo. Sobre isso, percebe-se que apesar de haver uma maior concentração comercial e gastronômica no meio do seu território e à Beira-mar respectivamente, esses usos estão espalhados por toda a Teimosa. A mistura de atividades, cada uma com uma natureza diversa e com horários de funcionamento também diferentes, faz com que o lugar esteja vivo ininterruptamente (mapa 13; imagem 77). Uma outra questão crucial também já falada é a das casas que sentem a rua e beiram as águas. O tipo de implantação que se tem no bairro, permite um acesso direito ou quase direto às ruas, ao mar e ao rio, fazendo com que eles se tornem salas-de-estar coletivas. Essa é uma característica dos três polos de movimentação citados e de toda a área da Brasília em geral (imagem 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76 e 77). Assim, a conformação física dessa paisagem, permeada pelas águas e moldada por uma arquitetura dada ao espaço público, favorece o habitar. É na Teimosa onde se convive, e onde se criam e se fazem vivas as relações trajectivas, simbólicas e emocionais de vizinhança. Entre os vizinhos tem-se não somente os moradores, mas também as águas. Com elas, que são as habitantes mais antigas desse lugar, a população se relaciona objetivamente e sentimentalmente. Os hábitos e práticas sociais intensos que são estabelecidos com a Brasília, com o seu mar, o seu rio, e o seu território como um todo, são o que criam uma apropriação afetiva da população por esse bairro, o vestindo de uma pluralidade de significados e vivências que o tornam singular, único. Por fim, um último fator muito importante que corrobora para esse sentimento de identificação e pertencimento com a Brasília é o da história de luta de seus moradores. A conquista e a construção desse lugar se deram a partir de uma batalha coletiva de sua gente, que ocupou e criou, com suas próprias mãos e pelos seus próprios esforços, a paisagem que hoje se faz presente. Assim, a luta, o engajamento afetivo da população em
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defesa do seu habitar e de sua obra, foi um comportamento moral, de natureza não palpável, gerador dos resultados físicos que atualmente constituem essa unidade de paisagem.
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Mapa 12 - Polos de Movimentação e suas influências diretas. Fonte: elaborado pela autora.
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Imagem 68 - A (com)vivência na orla. Crianças jogando bola e pessoas bebendo, conversando, tomando banho de mar e interagindo com os arrecifes. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
Imagem 69 - Ritos de Pesca na orla marítima. Fonte: Colônia...2013.
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Imagem 70 - Pescadores e pessoas sentadas em frente às casas. Foto de autoria de Ezequiel Vannoni, Agência JCM, Foto Arena. Fonte: Flickr Ezequiel Vannoni.
Imagem 71 - Movimentação comercial. Rua Arabaiana. Fonte: acervo pessoal da autora.
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Imagem 72 - Meninos jogando bola na Brasília de ontem. Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014.
Imagem 73 - Meninos jogando bola na Brasília de hoje. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
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Imagem 74 - Rua sendo vivida na Brasília de ontem. Perceber as casas que sentem a rua. Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014.
Imagem 75 - Mulheres sentadas e crianças brincando na rua. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
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Imagem 76 - Crianças brincando e pessoas sentadas na calçada. Fonte: BRASÍLIA, 2014.
Imagem 77 - Rua Badejo sendo vivenciada hoje. Perceber as casas que sentem a rua e o mercadinho situado fora da zona comercial do bairro. Fonte: acervo pessoal da autora.
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C) A Teimosia da Simplicidade “(...) Eu gostaria que pudesse ter sim um crescimento, mas que continuasse com as mesmas características, até porque, eu não sei como seria a vida das pessoas que já estão habituadas nesse, nessa forma de viver, como é que seria, né?” (Taciana Melo, professora, 29 anos). “É uma vida bonita pra quem mora nela, viu? [Brasília] É a vida pra quem mora (...)” (Antônio Carlos, funcionário público aposentado, 66 anos). “(...) um bairro popular de pessoas simples (...)” (Djalma Rodrigues, mecânico em refrigeração aposentado, 81 anos).
“(...) Muitas vezes, a melhor solução técnica não será a solução mais indicada para os interesses dos moradores. Porque determinadas medidas de urbanização podem significar uma espécie de expulsão branca, de expulsão indireta. Um determinado processo de urbanização pode conseguir em três ou cinco anos a remoção, que até hoje, não foi possível realizar” (Manifesto, 1979 – BRASÍLIA, 1979).
“Sabemos que a urbanização da beira-mar vai requerer um vultoso apoio econômico federal, para nos defender da violência do mar. Mas a urbanização deve se dar, mesmo sendo cara, de modo humilde e simples, para não assanhar demais os especuladores imobiliários” (Manifesto, 1979 – BRASÍLIA, 1979).
A grandeza das relações objetivas, afetivas e simbólicas que ocorrem entre a Brasília e os seus moradores se faz na simplicidade dessa paisagem. Esse bairro, construído pela sua própria gente, desprovida de grandes recursos financeiros e técnicos, tem um urbanismo, que apesar de simples, atendeu e vem atendendo às demandas que a ele se apresentam. Nessa simpleza, as pessoas estabelecem os múltiplos hábitos e práticas sociais que caracterizam o âmago da Teimosa. Essa questão pode ser exemplificada de várias maneiras. Ao se observar a escala dos objetos arquitetônicos que formam essa unidade de paisagem, percebe-se casas simples, com tipologias populares, térreas ou com poucos pavimentos, de uma estética humilde, feita com materiais economicamente acessíveis e sem grandes luxos. Essa realidade também se aplica aos demais tipos de edificações encontradas no bairro (imagem 78, 79 e 80). Seguindo essa mesma lógica, o centro comercial local, que dá autossuficiência à Teimosa e abriga uma gama razoável de comércios e serviços, é conformado por estabelecimentos de pequeno porte, além de vendas e barracas informais, característicos dos subúrbios (imagem 81 e 82). Ainda que exista toda essa movimentação, até mesmo as ruas principais do bairro não tem um tamanho expressivo. Mas, embora as suas calhas sejam estreitas, elas atendem com eficiência às necessidades de mobilidade e de sala-de-estar coletiva dessa população, que as vivencia plenamente como espaços de sociabilidade (imagem 83, 84 e 85). A pesca, atividade histórica e típica praticada no bairro, é de caráter artesanal, não exigindo para o seu pleno funcionamento, a existência de estruturas elaboradas de suporte, como marinas, ou portos requintados. Os píers humildes, construídos na orla fluvial da Brasília, as pequenas embarcações, as chamadas “baiteras”, e os próprios arrecifes do mar
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são os elementos suficientes para a perpetuação dessa prática, feita por lazer ou profissionalmente (imagem 86, 87). A orla do bairro também reflete essa simplicidade. Como de vontade dos seus moradores, ela foi requalificada a partir de uma urbanização feita sem muitas ostentações. A sua faixa de areia é estreita, e a própria Praia do Buraco da Véia, um emblema da comunidade, tem um pequeno porte, se assemelhando a uma piscina de águas calmas. Ainda que singelo, é nesse cenário onde as pessoas fazem os seus banhos, vivenciam as pedras e piscinas naturais, conversam, brincam, bebem, comem, jogam bola, se divertem e contemplam a natureza local. Os restaurantes e bares que ali se encontram também tem uma arquitetura sem grandes requintes, semelhante à encontrada no interior do bairro (imagem 88, 89, 90 e 91). Assim, o tamanho da praia se encaixa tamanho das relações e práticas que se tem com ela. A simplicidade dessa paisagem sobrevive e contrasta com a escala da sua circunvizinhança. Apesar de o bairro estar em meio a outros dois de maior porte, Boa Viagem e Pina, onde a escala dos objetos arquitetônicos, das relações e da cidade parece ser muito maior do que a dela, a Brasília constitui uma unidade em si mesma, tendo um outro tipo de território, demanda e vivência. Como visto, vários projetos avantajados, que reproduzem a mesma lógica encontrada nessa sua vizinhança, já se apresentaram e ainda vêm se apresentando com frequência ao bairro14. Porém, ao perceber a discrepância da proporção entre esses empreendimentos e a vida que se faz presente na Teimosa, que é responsável por torna-la vivida tal qual como ela é ao longo da sua história, a população tem os rejeitado um após o outro. Essa rejeição vai muito além de se defender a permanência ou a estadia dos moradores no bairro, já que esses planos que pra ele se apresentam provavelmente gerariam uma expulsão branda de pessoas. Essa é uma defesa do tipo de habitar que se tem na Brasília, da dinâmica local, do tipo de movimentação que nela existe, das relações afetivas com o seu rio, com o seu mar, e com o seu território, construído pelo seu próprio povo: é a defesa de um palimpsesto físico e emocional.
Imagem 78 - Casa de arquitetura simples na Brasília Teimosa de ontem. Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014.
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Ver essa discussão no Terceiro capítulo deste trabalho.
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Imagem 79 - Casas de arquitetura simples da Brasília Teimosa de hoje. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 80 - Edifício de alto padrão situado no bairro de Boa Viagem. Fonte: SkyscraperCity, 2004.
Imagem 81 - Mercadinho do centro comercial de Brasília Teimosa. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 82 - Supermercado situado no bairro de Boa Viagem. Fonte: Blog do Jota Lídio, 2014.
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Imagem 83 - Rua da Brasília de ontem. Fonte: Edimilson Araújo da Silva, Slide Brasília, 2014.
Imagem 85 - Avenida Domingos Ferreira em Boa Viagem. Fonte: Mapio, 201-.
Imagem 84 - Rua Delfim na Brasília de hoje. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 86 - Píer improvisados na orla fluvial da Brasília. Foto de autoria de Ezequiel Vannoni, Agência JCM, Foto Arena.
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Imagem 87 - Pescador na baitera. Fonte: BRASÍLIA...2014.
Imagem 88 - Praia do Buraco da Véia e sua estreita faixa de areia. Fonte: Site Esse Mundo é Nosso, 2014.
Imagem 89 - Praia de Boa Viagem e sua faixa de areia. Fonte: Blog Brasília Teimosa, 2009.
Imagem 90 - Avenida Brasília Formosa. Fonte: acervo pessoal da autora.
Imagem 91 - Avenida Boa Viagem, Beira-mar do bairro. Fonte: Mobilicidade Recife, 201-.
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4.4 O MOVIMENTO DA VIDA COMO O MOVIMENTO DA MARÉ
“A gente olha assim, a gente vê a grandeza do mar, olha por lado, olha a serenidade da maré, né? São dois momentos distintos” (Celeste Maria, professora aposentada, 61 anos). “O mar é Vida! (...) Fora a serenidade ou a agitação que ele nos proporciona (...)” (Isamar Martins, bibliotecária, 55 anos).
Antes, a Brasília era só a água. Hoje também. O mar e o rio cadenciam o movimento que se dá nessa comunidade, apadrinhando os seus moradores e ditando as relações, os hábitos e as práticas sociais que ali se dão. Ao se observar a Teimosa, percebe-se que os valores que a tornam tão singular e especial se relacionam direta ou indiretamente com esses elementos, não somente de forma material, mas também subjetiva. A subsistência física das pessoas que habitam esse lugar, muitas vezes, se dá com as águas ou através delas. A pesca e a venda dos pescados criam um mercado local que dá origem e alimenta o polo gastronômico do bairro, movimentando também o centro comercial ali existente. A subsistência afetiva da população também se faz através desse contanto com o mar e com o rio. As relações sentimentais que existem entre as pessoas e entre elas e a Brasília se dão por meio deles. Os ritos de lazer praticados na comunidade se voltam para as águas, as celebrando, por exemplo, através dos banhos salgados, das conversas, dos esportes e das brincadeiras à beira-mar, da ida à praia, da interação com os arrecifes, da pescaria e da contemplação das orlas. Além disso, a comunidade também se comunica com as águas por meio de sua forma de residir. As suas casas se prostram a rua, ao mar e ao rio, fazendo com que a vivência que se tem com eles, com o território da Brasília como um todo, e entre os próprio moradores seja efetiva. Essas características físicas e subjetivas são os “valores teimosos” que fazem com que esse bairro seja habitado, contando uma história à cidade e servindo como palco da vida de seus moradores. Esses fatores conferem a esse lugar uma pluralidade de significados, vivencias e qualidades materiais que o tornam singular. Essa singularidade faz com que a Brasília constitua uma unidade de paisagem que se difere do seu entorno, não somente fisicamente, mas também em relação às conotações simbólicas que se tem sobre ela. A Teimosa vivida contrasta com as suas circunvizinhanças, onde o território não mais é tratado como kosmos, e sim como mercadoria. Dessa forma, o projeto de paisagem que se implanta nos seus bairros vizinhos, o Pina e Boa Viagem, e que
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se quer apresentar paulatinamente à comunidade, não se atenta às suas particularidades, às suas pré-existências e à trajectividade relacional existentes entre ela e os seus moradores. Esse impasse conforma o conflito que ameaça a sua existência e a permanência da sua essência única. Porém, como visto, é necessário que a Teimosa permaneça sendo uma parte da cidade que se faz vivida, pensada como um meio relacional entre as pessoas e o mundo. Além disso, é preciso que ela resista contando a sua história através do seu “palimpsesto”, ao mesmo tempo em que a escreva através da vida que nela se faz presente. Para que isso aconteça, as mudanças e projetos que se colocarem a essa paisagem futuramente devem respeitar os valores teimosos que constituem o seu âmago físico e simbólico e que permitem que ela seja apropriada afetivamente pela população. Como meio de impedir a ocorrência de danos a essa unidade, também é primordial que a comunidade seja protegida através da asseguração legal dada pelo conjunto de medidas práticas anteriormente sugeridas: a manutenção de sua condição de ZEIS, a extensão dessa Zona Especial até as quadras lindeiras à Avenida Antônio de Góes e à ZAC vizinha, a regularização fundiária das casas e edificações em geral, a fiscalização das compras e vendas clandestinas de imóveis dentro do bairro, e a conscientização dos moradores em relação a essas transações e ao respeito ao plano de Regularização vigente para a área. Além dessas precauções que garantem a permanência e o habitar da Brasília, ainda é necessário que seja feita a manutenção das condições de habitabilidade locais, através da resolução dos problemas infraestruturais e sanitários que ainda perduram na comunidade: a pavimentação precária das vias, a falta de limpeza dos espaços públicos e a drenagem e esgotamento sanitário deficientes em alguns pontos. O bom funcionamento do lugar nesse sentido, não somente tem a ver com a qualidade de vida da população, mas também com se propiciar um ambiente que possa ser vivido plenamente em suas características. Se respeitando as premissas para a Conservação da Paisagem Teimosa aqui colocadas, se permite que a simplicidade que dita a grandeza das relações entre esse lugar, os seus moradores e a cidade permaneça viva, fazendo com que o apadrinhamento, físico e afetivo dado pelas águas à Brasília, bem como a vivência de suas ruas, do seu mar e do seu rio continuem ditando o movimento da vida dessa comunidade. A Teimosia em se perpetuar essa história é uma forma de se respeitar a memória do próprio Recife como um todo e de quem o habita. É uma maneira de mostrar que é possível se fazer uma cidade pensada através da sua paisagem, que seja criada pelas pessoas e que as represente, se permitindo ser apropriada objetivamente e sentimentalmente por aqueles que a escolhem como o cenário das suas vidas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
SOBRE A TEIMOSIA DA PAISAGEM “Habitar significa deixar rastros”. (Walter Benjamin)
O desafio que se impõe às cidades é o de serem capazes de suprir a necessidade humana de vincular a sua existência a algum lugar no mundo. O Recife não foge a essa regra. Hoje, os mecanismos que guiam a sua formação socioespacial dão as costas à individualidade e às preexistências físicas e simbólicas de cada local, os tratando como um território-mercadoria. Esse tipo de construção urbana dá origem a paisagens neutras, que não representam as pessoas que as tem como o cenário de suas vidas. Na contramão desse processo, Brasília Teimosa se impõe como um território vivido, em um dos locais mais valorizados economicamente da cidade, ao lado do Pina e Boa Viagem, dois bairros elitizados. Por esse motivo, como visto ao longo de todo esse estudo, desde o seu nascimento, há um conflito entre a sua conservação, defendida pelos seus moradores, e a vontade de alguns grupos de destitui-la de seu lugar e das características que a tornam única, pelo desejo de concretização de um projeto de paisagem que negue a sua gente. A resistência da Brasília até os dias atuais parte não somente da força das pessoas em defesa de sua permanência (estar) nesse lugar, mas também do direito de vivencia-lo em seu mais amplo sentido, dele se apropriando por meio de hábitos e práticas sociais, que dão origem a laços sentimentais e identificações. Nesse sentido, o processo de construção da Teimosa vem acompanhando e fundamentando a história das pessoas que a cria e a transforma. As águas que abraçam o seu território apadrinham os seus moradores e cadenciam o movimento das relações que nele se desenvolvem, tanto entre os indivíduos, quanto entre eles e o mar, o rio e a rua, orientando também as ocupações que ali se dão. Assim, a Brasília vem suprindo as necessidades existências afetivas e físicas de quem a vive, guardando a capacidade de representar a sua população e ser vivida por ela. A sua formação pode ser lida em sua paisagem, que também expressa a riqueza de valores e aspectos materiais e simbólicos que formam o seu caráter, e que a mantem como uma unidade, mesmo estando em meio a uma região que vem sendo neutralizada através de uma apropriação que desqualifica as particularidades dos lugares, reproduzindo uma
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cultura que em nada remete a essa comunidade e a ameaça continuamente. Sabe-se que as cidades não se congelam, pois, sendo formadas pelas pessoas, elas vicejam e necessitam mudar para conseguir continuar abrigando as vivências humanas, “sempre prontas a se recomeçar”1, que nela se encenam. Mas é importante que nesse processo de transformação, as paisagens continuem perpetuando o seu âmago subjetivo e palpável que as tornam quem elas são, casa e reflexo de quem as habita. Nesse sentido, a existência da Brasília é uma grande prova de que é possível se modificar ao longo dos anos se mantendo como um lugar vivido a partir do enfrentamento das pressões neutralizadoras que vêm apagando o palimpsesto que conta as memórias urbanas. A conservação da Teimosa se torna urgente pela iminência do desaparecimento da sua história única, que também é a de seus moradores e do Recife como um todo. Defendêla é defender o direito ao habitar a cidade, é manter vivo um exemplo que nos conscientiza sobre a necessidade de se lutar por paisagens vivas, que nos representem, lugares em que possamos nos ver e nos reconhecer, territórios que tenham a capacidade de abrigar as nossas vidas e de serem apropriados simbolicamente, afetivamente e fisicamente pelas pessoas. A Brasília Precisa (r)existir para continuar ensinando ao Recife com quantas TEIMOSIAS se faz uma cidade.
“Não tem outro lugar que caiba Brasília. (...) Nenhuma área, nenhum lugar que se pareça com Brasília ou que coubesse Brasília dentro. Nem o tamanho da sua história (...)”. (Celeste Maria, 2017)
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BESSE, 2014.
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Raissa Gomes de Sales Raissa Gomes de Sales