Jornal Raízes Rurais - Ediação de Janeiro 2010

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Editor: Ádamo Andrade Gonçalves

R$ 1,00 - Estados do RJ, MG e SP - Janeiro de 2010 - ANO II - Nº 07

Girolando cresce 20% e ultrapassa marca de 100 mil registros na raça

Associação amplia seus números e consolida a raça como a principal produtora de leite do Brasil, abrindo novos caminhos para exportações

Novilhas 1/2 sangue Girolando da Agropecuária Alambari, de Resende; base para produção de graus de sangue que se adaptam de acordo com topografia, clima e alimentação. O resultado é o sucesso comercial e produtivo da raça

Rio das Flores aprova lei de preço mínimo do leite Página 2

Agenda de leilões Embral começa no próximo dia 24 Página 5

Linha ‘Mais Alimentos’ financia veículos de carga Página 6

Aplisi une produtores do RJ e MG em busca de qualidade Página 7

Produtores de leite acumulam perdas com a falta de energia elétrica

Cooperativa de BM completa 70 anos e se prepara para ampliar produção

A Light e a Ampla, concessionárias de energia elétrica do Estado do Rio, têm causado um verdadeiro martírio para produtores de leite da região Sul Fluminense. Além das perdas de equipamentos e dos gastos com manutenção, os prejuízos se acumulam em vários municípios com a perda da produção por falta de refrigeração. Os mais recentes abusos contra os produtores ocorreram em Porto Real e em Rialto, distrito de Barra Mansa. O primeiro, causado pela Ampla e o segundo, pela Light. Em Porto Real, 12 pequenos produtores perderam dois dias de produção leiteira. Em Rialto, foram mais de 16 horas sem energia elétrica., causando a perda de 3 mil litros de leite do tanque comunitário. Página 3

A Cooperativa de Barra Mansa, a mais tradicional do Estado do Rio de Janeiro, completa 70 anos de fundação no dia 27 de fevereiro e se prepara para ampliar sua produção. Fundada em 1940 por um grupo de produtores rurais cujo leite era enviado para a Nestlé, a Barra Mansa teve sua sede provisória no edifício da Associação Comercial e Agrícola Barra Mansa. Passou para sede própria em 1951, onde permaneceu até 2008, quando todo o complexo administrativo foi transferido para o moderno parque industrial da usina de beneficiamento de leite no Santa Maria II. Foi a primeira a engarrafar leite tipo B e em abril inicia operação com novas máquinas adquiridas da TetraPak. Página 8

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raça Girolando encerrou 2009 como uma das principais raças bovinas brasileiras em número de animais registrados. Relatório da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando aponta alta de mais de 20% no total de animais que receberam no ano passado o registro genealógico em comparação ao ano anterior. Como os dados parciais de dezembro apontavam mais de 4 mil registros efetuados, a associação concluiu o ano com número superior a 100 mil registros. Esse desempenho coloca a Girolando na liderança dos registros genealógicos entre as raças leiteiras e como a nda entre raças de corte e de leite, ficando atrás apenas da Nelore. Outro número que revela crescimento do Girolando é o de fazendas inscritas no Controle Leiteiro. De 2008 para 2009 houve elevação de quase 100%, passando de 199 para 312 rebanhos inscritos. O Estado do Rio de Janeiro está entre os destaques genéticos da raça, produzindo animais campeões de pista e de produção nos diferentes graus de sangue que recebem o registro da Girolando. Página 4


2 - JANEIRO - Raízes Rurais - O jornal do Agronegócio

Notas

Raízes Rurais participa de evento de comunicação e agronegócio

A equipe do Jornal Raízes Rurais participa no dia 6 de fevereiro do Rio Vale Mídia Show, evento que acontecerá em Porangaba, interior de São Paulo, e que vai reunir pecuaristas, empresas e a mídia especializada em agronegócios. O evento é uma realização do jornalista e criador de Gir Carlos Alberto da Silva, o Carlão da Publique e da Rio Vale Agronegócios. “Trata-se de um dia de campo mais elaborado, pensado e organizado para ser um acontecimento agradável que reunirá quem é notícia, com quem faz a notícia”, afirma o criador e empresário.

Parmalat

O presidente da Parmalat, Othiniel Lopes, informou que a empresa depositou R$ 3,5 milhões referentes a quitação de dívidas atrasadas com cooperativas, produtores e transportadores de leite no Estado do Rio. A notícia que chegou após a Parmalat receber notificação extrajudicial feita pelo Governo do Estado, cobrando das empresas do grupo (controlado no Brasil pela Laep Investments Ltda) o cumprimento do cronograma de pagamentos. Dia 20 de janeiro vence dívida de mais R$ 4 milhões, referentes ao fornecimento de leite em dezembro. Desse total, R$ 1,7 é para pagamento a produtores e R$ 2,3 a cooperativas.

Treinamentos

A Alta Genetics realizou palestras sobre Inseminação Artificial, Melhoramento Genético, Interpretação de Catálogos, Reciclagem de Inseminadores e Interpretação de Gado Leiteiro com a ferramenta Alta Mate em Campos dos Goytacazes. Os eventos foram realizados entre os dias 15 e 17 de dezembro e contaram com a visita à Fazenda Tierri. As palestras foram ministradas pelo médico veterinário Reginaldo Santos, técnico em gado de leite da Alta.

Calor

O verão brasileiro, que começou no dia 21 de dezembro, terá temperaturas acima das registradas nos últimos anos. Nas regiões Sul e Sudeste, a tendência é que continue a chover na mesma intensidade que vem sendo registrada. A informação é do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Sêmem I

Os avanços das biotecnologias de reprodução bovina ocorridos nos últimos anos estão exigindo uma revisão da Lei 6.446. Ela trata da inspeção e fiscalização apenas de sêmen bovino comercializado para inseminação artificial, porém outras tecnologias já foram desenvolvidas depois de 1977, ano de criação da Lei 6.446. Os pecuaristas querem a revisão da legislação. Representantes das associações de criadores de várias raças bovinas estiveram reunidos em Brasília (DF) com algumas Secretarias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para discutir a atual redação do Projeto de Lei que trata da revisão da Lei 6446.

Sêmem II

Segundo o superintendente da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Celso Menezes, as entidades querem que seja mantida no artigo 1º da lei a obrigatoriedade de inspecionar e fiscalizar tendo em vista o aspecto zootécnico e não somente a parte sanitária. As sugestões feitas pelas entidades serão analisadas pelo Ministério. Antes do Projeto de Lei seguir para votação no Congresso, o assunto deve voltar a ser debatido pelas associações, pelas centrais de inseminação e pelo Ministério da Agricultura. Ainda não há data prevista para votação do Projeto de Lei na Câmara, porém os criadores reivindicam que seja ainda este ano.

Estradas

Resende intensificou as obras e serviços nas estradas rurais com o objetivo de garantir as condições de tráfego nestas vias da cidade. As últimas ações se concentram na desobstrução de trechos das localidades de Fumaça, Engenheiro Passos e da Estrada da Figueira (Quatis-Vargem Grande), que foram atingidos nos últimos dias por queda de barreiras. A prefeitura realizou ainda recentemente a desobstrução de trechos das estradas Bom Retiro, Boca do Leão, Bulhões e Riachuelo.

Leite em pó

O setor lácteo no Estado do Rio ganha dia 22 de janeiro mais uma alternativa de produção com a retomada de operação da fábrica de leite em pó em Macuco, Região Serrana, com capacidade para processar até 200 mil litros/dia. Atraídos pela legislação tributária para a cadeia leiteira, implantada pelo governo do estado, que beneficia a produção no território fluminense, a empresa CCA Laticínios, de Nova Friburgo, arrendou a unidade de propriedade do grupo Canaan. Com 15 anos de atuação no setor, a CCA é conhecida no mercado pela produção da marca Caprilat de queijos e leite de cabra. Em 2010, começa diversificando sua linha com o processamento de leite de vaca.

Cursos

O Sindicato Rural de Rio Claro realizou cursos de Inseminação Artificial de Bovinos e de Olericultura Orgânica. O primeiro aconteceu na Fazenda Oriente, em Passa Três, e teve a instrução do veterinário da Emater-Rio, Cláudio de Almeida. O objetivo é melhorar a genética do gado e formar inseminadores no município. Já o curso de Olericultura Orgânica aconteceu na Água Fria, com a engenheira agrônoma do Senar, Sílvia Michele. O telefone do sindicato é (24) 3332-1218.

Embrapa abre concurso

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) abriu edital de concurso público nacional. As vagas contemplam os mais diferentes níveis de escolaridade. São mais de 676 perfis para pesquisadores, analistas e assistentes, que atuarão em todas as regiões do país. As provas do concurso, organizado pelo Instituto Nacional de Educação CETRO (INEC), estão previstas para 21 de março de 2010. O edital está disponível no endereço www.cetroconcursos.com.br. As inscrições serão realizadas pela Internet e via presencial nas agências autorizadas dos Correios, no período de 18 de janeiro a 5 de fevereiro de 2010.

Rio das Flores aprova lei de preço mínimo do leite O

Produtores de até 150 litros por dia serão os primeiros beneficiados prefeito de Rio das Flores, Luis Carlos Ferreira dos Reis, sancionou em dezembro uma lei que cria o subsídio público para a produção de leite no município. A lei pioneira, aprovada pela Câmara, entrou em vigor este mês e é considerada pelos produtores como a salvação da atividade em Rio das Flores. A prefeitura pretende investir este ano R$ 100 mil do orçamento municipal para apoiar e equilibrar as contas da atividade leiteira nas propriedades com produção de até 150 litros por dia. Para ter acesso ao benefício, os produtores têm que fazer parte da Associação de Produtores Rurais criada para administrar os recursos. De acordo com o prefeito, o subsídio será aplicado a partir do momento em que o preço do leite cair abaixo dos R$ 0,60. “A associação vai analisar caso a caso e poderá investir de 5 a 10 centavos por litro de leite quando o valor de mercado estiver abaixo dos 60 centavos”, explicou o prefeito. Com o subsídio, Rio das Flores torna-se o primeiro município a ter um preço mínimo pelo leite pago aos pequenos produtores. A nova associação está cadastrando os produtores e a expectativa é que a partir de fevereiro, se o preço do leite não reagir, os recursos comecem a ser direcionados aos produtores. Para ter direito ao benefício, os produtores têm que vender o leite para um

Leilão Fazenda Santa Rosa

Herman Jankovitz Neto e Victor Cunha

Sucesso em Canas (SP)

Jaime Carvalho prepara um grande remate em 17 de abril, junto com Maximiliano Nagib e Álvaro Carvalho. Um leilão diferenciado, como foram os últimos leilões do grupo em 2009. Criatórios importantes da região estarão participando como convidados especiais. Os animais serão vistoriados pela Ofensiva e somente a nata do Girolando estará participando. O leilão terá mais de 100 animais à venda e promete mais um recorde da raça.

Liquidação em Resende

Geraldo Sousa Santos, proprietário da Fazenda Canto das Águas, em Resende, vai fazer a liquidação do seu plantel Girolando. Conhecido por arrematar o que há de melhor nos grandes leilões da região, Geraldo põe à disposição bezerras, novilhas e vacas Girolando de alto padrão, animais produtos de TE e FIV, dia 27 de março, no Pindorama, em Resende.

Remuneração ambiental

Produtores rurais de Rio Claro receberam no dia 17 de dezembro o segundo pagamento em 2009 do Programa Produtores de Água e Floresta. O primeiro pagamento foi em maio. No mesmo dia aconteceu um dia de campo sobre Saneamento Rural. O evento aconteceu na Escola do Rio das Pedras, do distrito de Lídice. Nos próximos 5 anos será investido mais R$ 1 milhão no programa.

dos quatro laticínios existentes em Rio das Flores. “Nós militamos na área rural e conhecemos a dificuldade do produtor. Com as regras do mercado, o produtor de leite, seja pequeno ou grande, não consegue se planejar, pois não sabe quanto vai receber no mês seguinte. Esse subsídio é justamente para que os produtores possam ter uma renda mínima que garanta a continuidade da produção. Nossa meta é ampliar gradativamente o subsídio aos demais produtores”, destacou o prefeito. Além dos recursos financeiros, a associação também terá assistência de dois veterinários contratados pela prefeitura, além do apoio de tratores, máquinas e caminhões da patrulha mecanizada montada também pela prefeitura com recursos da ordem de R$ 1,8 milhão. Em visitas a Rio das Flores em 2009, era nítido o desânimo dos produtores em relação à atividade leiteira.No entanto, alguns já buscavam alternativas para manter o negócio com a implantação do gerenciamento de propriedades no modelo do Programa Balde Cheio. A partir de agora, os pequenos produtores passam a ter a garantia do preço mínimo e podem planejar investimentos. Mais do que uma lei de subsídio, Rio das Flores demonstra que a produção de leite merece atenção e os produtores e suas famílias têm direito a uma vida mais digna.

Surpresa no remate Vilarejo 2010 Último lance: Jane Monjolinho saiu por R$ 14 mil Resgate Leilões, de Canas (SP), colocou qualidade à venda e faturou R$ 392 mil em A seu leilão de encerramento de temporada, em

dezembro. Foram arrematados 88 lotes de gado de leite e 26 lotes de corte. Um grande sucesso. Entre os destaques, a Girolando ¾ Jane Monjolinho, vendida por Heloisa Helena Junqueira dos Santos, de Carmo de Minas, por R$ 14 mil a David Ramiro Nogueira, de Pindamonhangaba. Jane Monjolinho foi tricampeã em pistas ranqueadas, grande campeã e melhor úbere em Barra Mansa 2008.

Alem de toda a qualidade do Girolando Vilarejo, desta vez João Batista e Frederico Mello resolveram presentear os compradores com um sorteio de uma caminhonete Strada Loker entre os compradores. O leilão esta sendo preparado com muito empenho e terá muitos lotes de bezerras e novilhas fruto do trabalho de FIV da fazenda, que investe pesado em doadoras Gir e Holandesas. Dia 1º de Maio, em Conservatória.

Agenda 2010

Na edição de fevereiro do Jornal Raízes Rurais, a divulgação completa da agenda do primeiro semestre de leilões da região assessorados pela Ofensiva.

OFENSIVA: Presente nos melhores leilões do Rio e Sul de Minas


JANEIRO - Raízes Rurais - O jornal do Agronegócio - 3

Artigo

Como será a vaca ideal?

Características mínimas comuns a todas as “vacas ideais”

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(Parte 1) - * Pedro Afonso Moreira Alves

pecuária brasileira apresenta duas características bem peculiares: a “vaca da moda” e o “capim milagroso”. Dependendo do momento sócio-político do País ou da tendência da pecuária, predomina um ou outro. No livro “O Zebu”, Alberto Santiago faz uma boa retrospectiva da pecuária Brasileira e da sua busca pelo “animal ideal”, sendo cíclicas a ascensão e declínio das raças e de seus mestiços. Na década de 50 foi o auge da raça Gir, houve casos de reprodutores serem vendidos ao preço de mil bois gordos e, nos anos 70, a raça, principalmente as linhagens leiteiras, quase desapareceu voltando com força no final dos anos 90, graças à persistência de meia dúzia de criadores, e estourando nos anos 2000. De uma forma geral em cruzamentos de gado leiteiro sempre houve uma certa hegemonia do

Produtores acumulam prejuízos com apagões

estão submetidos no sistema de produção. Assim, a pergunta que deve ser feita é: Que tipo de vaca é mais adequado para o tipo de manejo que existe, ou que se quer implantar na propriedade? Neste artigo serão abordados alguns pontos para a escolha da vaca leiteira ideal. Independente do sistema de produção que se quer explorar existem algumas características comuns que se espera de qualquer vaca: temperamento leiteiro, saúde, adaptação ao ambiente, baixo custo de produção e, sempre que possível, longevidade. Não se concebe nenhum trabalho com um rebanho portador de Febre Aftosa, Brucelose, Tuberculose ou outra enfermidade infectocontagiosa e parasitária desta magnitude. Também é inconcebível um animal que não seja adaptado ao ambiente do sistema de produção que se quer na propriedade, pois elevaria o custo de produção, principalmente

Light e Ampla serão questionadas pelos danos causados à produção de leite

Tabela 1: Comparação de algumas características de raças leiteiras ou de dupla aptidão utilizadas no Brasil

Produção de leite de dois dias em Porto Real foi completamente perdida em função da falta de energia

Característica/Raça Origem Tamanho Relação Conc : Vol. elevada Adaptação ao pastejo Produção de leite (Kg / Lact.) Duração de lactação Fertilidade Rusticidade Qualidade de cascos e patas Qualidade de úbere Bez. p. corte (na raça pura) Disponibilidade de vacas puras Docilidade (das vacas)

Hol E G G P 8.000* G M P P M N G G

Jer E P M G 4.000 G G M G G N G G

PSa E G G P 6.000* G M P P M N M G

PSo E M M M 5.000 G M P G M N P G

Car B M P G 2.000 M M M M P S P M

Gir A M P G 3.000* G M G M M S P G

Guz A G P G 2.500* M G G G P S P P

Raças: Hol/Holandês - Jer/Jersey - PSa/Pardo Suíço (americano) - PSo/Pardo Suíço (original) - Car/Caracu (linhagem leiteira) - Gir/Gir Leiteiro - Guz/Guzerá

E: Europa - B: Brasil - A: Ásia - G: Grande / Longa / Boa - M: Mediana - P: Pequena / curta / Ruim * Produção fornecida pela associação da raça. Quando sem * produção estimada

Holandês (touros) com gado crioulo e zebuínos de diferentes tipos. O que varia muito ao longo dos anos é a proporção de sangue europeu no rebanho. Dependendo da época há um crescimento de outras raças leiteiras européias nos cruzamentos (Guernsey, Jersey ou Pardo Suíço), porém nada de muito expressivo a nível nacional. Várias foram as tentativas de se criar raças sintéticas de dupla aptidão como as raças Pitangueira, Lavínia e atualmente a Girolanda. Nas raças de corte, os modismos também são muito fortes. Na década de 70 a moda era as raças européias brancas Chianina, Marquigiana e Charolesa sobre a vacada zebu. Depois foi a vez dos sintéticos: Canchim, Santa Gertrudes, Braford, Ibajé (ou Brangus) e outros. Mais recentemente é a vez dos cruzamentos industriais como o “treecross”, os cruzamentos terminais e os cruzamentos rotacionados entre várias raças (Sistema Frich e Red Norte por exemplo). O que se conclui desta breve retrospectiva é que os pecuaristas estão sempre à procura da raça ideal. Em realidade, não existe a raça ideal e sim animais ideais, dependendo das condições a que

devido ao aumento de despesas com medicamentos e ao aumento da taxa de reposição do plantel. A maior permanência da vaca no sistema pode aparentemente retardar o “ganho genético” do rebanho, mas tem como principal vantagem a diluição dos custos com a criação de bezerras. O ideal seria a vaca ficar no rebanho até iniciar a curva descendente de produção, que pode ser entre a quarta e sexta lactações, dependendo da raça. Características de algumas raças leiteiras e de dupla aptidão Na tabela 1 são comparadas características de algumas raças utilizadas para produção de leite no Brasil. No caso de se trabalhar com gado mestiço o ideal é estudar as raças e procurar combinar características complementares entre elas. * Pesquisador da Pesagro-Rio–EE Seropédica, coordenador técnico do Programa Rio Genética e criador de Gir em Rio das Flores (RJ). Contato: gir.leiteiro@ig.com.br (Artigo publicado em quatro partes)

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s constantes quedas, oscilações e falta de energia têm sido um martírio para produtores de leite da região Sul Fluminense. As perdas de equipamentos e os gastos execessivos com manutenção de ordenhadeiras, motores e tanques são uma rotina na maioria das propriedades. Os prejuízos se acumulam em vários municípios, reclamações são feitas aos montes, seja contra a Light ou contra a Ampla. A solução para o problema parece estar muito longe de ser alcançada, pois sequer uma resposta sobre o problema os produtores conseguem obter. Nos próximos dias, um grupo de produtores vai tentar conversar com a Light para encontrar uma saída. Mas, na maioria dos casos, procurar a Justiça é a única alternativa. Os mais recentes abusos e contra os produtores ocorreram em Porto Real e em Rialto, distrito de Barra Mansa. O primeiro, causado pela Ampla e o segundo, pela Light. Em Porto Real, 12 pequenos produtores perderam dois dias de produção leiteira. Desde às 20 horas do dia 11 de janeiro eles ficaram sem energia, resultando na perda de um tanque de resfriamento cheio de leite. Após diversas tentativas de contato com a concessionária, a energia só foi religada às 10 horas do dia 12. E o detalhe: em 5 minutos os funcionários da empresa resolveram o problema. “É um absurdo a falta de assistência prestada pela empresa nessa cidade. Perdemos mais de R$ 700 em leite e vamos procurar ser ressarcidos de qualquer maneira”, afirmou o presidente da Associação de Pequenos Produtores de Porto Real, Silvio Marassi

Neto. “Técnicos estiveram aqui pela manhã e religaram um transformador em cinco minutos”, explicou o presidente, indignado. “E ainda nos sugeriu mudar de cidade se não estivermos satisfeitos com o serviço. Uma vergonha!”, concluiu. Ao todo foram 1.240 litros de leite jogados fora por falta de resfriamento. Os produtores mantêm um relógio próprio para o consumo da associação. Em média, pagam R$ 300 por mês de energia elétrica. Agora eles pretendem mover processo contra a companhia elétrica. A falta de energia ainda atingiu moradores da Rua André Luiz, no Centro de Porto Real.

Mais prejuízos acumulados Com a forte chuva ocorrida no domingo, dia 17 de janeiro, o distrito de Rialto, em Barra Mansa ficou mais de 16 horas sem energia elétrica. Mais uma vez, produtores rurais e pequenos estabelecimentos comerciais da localidade acumularam prejuízos. No tanque comunitário de resfriamento, 3 mil litros de leite estragaram devido à falta de refrigeração. O presidente da Cooperativa de Barra Mansa, Cláudio Meirelles, ressalta que as perdas têm sido constantes. “A situação está uma vergonha e o pior é que a empresa não dá resposta alguma. Eu mesmo já perdi nos últimos dias 6 mil litros de leite”, comentou. Os produtores serão convocados para uma reunião para discutir a questão. “Vamos conversar e ver o que será feito. Precisamos de uma resposta da Light. Caso contrário, a Justiça será nossa única alternativa”, afirmou Cláudio.


4 - JANEIRO - Raízes Rurais - O jornal do Agronegócio

Girolando cresce mais de 20% em 2009

Desempenho consolida a Girolando como a principal raça leiteira do Brasil e a segunda entre raças de corte e de leite, atrás apenas da Nelore

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raça Girolando encerrou 2009 como uma das principais raças bovinas brasileiras em número de animais registrados. Relatório da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando aponta alta de mais de 20% no total de animais que receberam no ano passado o registro genealógico em comparação ao ano anterior. Até novembro, os técnicos da entidade registraram 97.776 bovinos. Como os dados parciais de dezembro apontavam mais de 4 mil registros efetuados, a associação concluiu o ano com número superior a 100 mil registros. Esse desempenho coloca a Girolando na liderança dos registros genealógicos entre as raças leiteiras e como a segunda entre raças de corte e de leite, ficando atrás apenas da Nelore. Outro número que revela crescimento do Girolando é o de fazendas inscritas no Controle Leiteiro. De 2008 para 2009 houve elevação de quase 100%, passando de 199 para 312 rebanhos inscritos. Segundo o superintendente técnico da associação, Celso Menezes, foram mais de 7.000 lactações encerradas no Serviço de Controle Leiteiro Oficial.

Projetos para este ano Em 2010, a associação espera ainda crescimento no número de exposições homologadas. Impulsionada pelo crescimento da raça em todo o Brasil, a Girolando prepara para este ano o início das obras do Centro de Capacitação Girolando (CCG). Ele será erguido no Parque Tecnológico de Uberaba em área cedida em comodato pela Embrapa. Segundo documento enviado pela Embrapa, a decisão de renovar o contrato por um período de 30 anos, conforme solicitou a diretoria da associação, teve como fator preponderante o projeto de construção do CCG. Anteriormente, o prazo de renovação do comodato era de cinco anos. O contrato foi assinado pelo presidente da Girolando,

José Donato (à direita) e Celso Menezes, presidente e superintendente técnico da Girolando, associação que cresce e consolida a raça leiteira tropical

José Donato Dias Filho, e pelo vice-presidente da Embrapa, Kepler Euclides Filho. O CCG será um espaço multifuncional destinado ao desenvolvimento de pesquisa, tecnologia, preservação da história, produção sustentável e capacitação profissional. Sua pedra fundamental foi lançada em novembro pela Girolando. Para o presidente da Girolando, as ações desenvolvidas pela associação ao longo do tempo foram importantes para tornar o projeto do CCG uma realidade. “Graças ao trabalho das diretorias anteriores, a entidade conseguiu assegurar, por meio de contrato com a Embrapa, o terreno para instalação do Centro. Nós, da atual gestão, tivemos a

felicidade de encontrar condições propícias para desenvolver o atual projeto, que além de ir ao encontro dos objetivos do Parque Tecnológico de Uberaba materializará anseios e sonhos de todos que trabalham pela pecuária leiteira. Será um marco na história do agronegócio de nosso país”, conclui José Donato.

Girolando no Rio O Estado do Rio é uma referência em genética Girolando. O número de associados cresce a cada ano, espalhados por todas as regiões do estado. O presidente da Girolando, líder do último ranking é um dos exemplos

da qualidade genética produzida no Estado do Rio. A criação de Donato, com destaque para os animais 5/8 que têm feito sucesso nas pistas e na produção, está baseada na Fazenda São Roque, em Miguel Pereira. Mineiro de Bocaina de Minas, Donato escolheu o Estado Rio para sediar sua criação e tem feito um trabalho admirável à frente da Girolando, unindo ainda mais a diretoria e os associados da principal entidade das raças leiteiras do país. Também representam a Girolando no Estado do Rio os criadores Herbert Siqueira da Silva, de Resende, Jaime Carvalho de Oliveira, de Barra Mansa, Luciano Ferreira Guimarães, de Barra do Piraí, e Filipe Alves Gomes, de Itaperuna.


JANEIRO - Raízes Rurais - O jornal do Agronegócio - 5

Embral inicia agenda de leilões no dia 24

Nos quatro primeiros leilões de janeiro e fevereiro, boas oportunidades de compra de Girolando e Holandês PO de Minas, Paraná e Goiás

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íder no mercado de leilões de gado de leite, a Embral Leilões comemora os recordes alcançados em 2009 e inicia no próximo dia 24 de janeiro uma extensa agenda de remates dos principais criatórios Girolando e Holandês PO do Brasil. No domingo, 24, a partir das 14 h, o 3º Leilão Sul das Gerais abre a temporada, reunindo criadores da região de Santo Antônio do Amparo. Estarão à venda 250 fêmeas das raças Holandesa e Girolando, em 18 parcelas ou à vista. O 3º Leilão Sul das Gerais acontece no Recinto de Exposições de Santo Antônio do Amparo e será transmitido ao vivo pelo Novo Canal (parabólica horizontal 1100 MHz). No dia 30, sábado, também às 14h, é a vez 3º Leilão Berço do Holandês, oportunidade de aquisição de fêmeas jovens

das melhores linhagens para produção de Girolando. O leilão reúne criadores supremos de Carambeí (PR) e região. Estarão à venda 100 animais jovens HPB PO, entre bezerras, novilhas e prenhezes sexadas de fêmea, além de 20 vacas PO de primeira cria. As vendas serão realizadas em 20 parcelas e a transmissão também será pelo Novo Canal. No dia seguinte, domingo, 31 de janeiro, a Fazenda Fartura realiza seu 2º Leilão Anual, a partir das 14 horas em Catalão/ GO. Estarão à venda, em 20 parcelas, 260 fêmeas Girolando. O leilão da Fazenda Fartura será transmitido ao vivo pelo canal Terra Viva. Encerrando o primeiro grupo de leilões antes do Carnaval, no dia 6 de fevereiro, a partir das 14h o criador Germano Novais

Franco realiza seu leilão de liquidação total de rebanho Girolando, com a participação de alguns convidados. Estarão à venda 280 fêmeas Girolando livro fechado e 40 vacas Gir Leiteiro registradas, além de máquinas e equipamentos de leite. Germano usa 100% de inseminação artificial, foi premiado como criador e expositor em várias exposições e três vezes campeão do Torneio Leiteiro de Prata com animais produzindo acima de 65 kg. As condições para compra no leilão serão 20 parcelas. O evento também será transmitido ao vivo pelo canal Terra Viva. Cadastros antecipados para os leilões e lances serão feitos através da mesa operadora da Embral (11)3864-5533. Os leilões também podem ser acompanhados pelo site www.embral.com.br, assim como o cadastro pode ser feito pela internet.

Leilão da União dos Fazendeiros arrecada fundos para a Paróquia de São Sebastião

Compradores, organizadores e leiloeiros que fizeram do leilão um sucesso em arrecadação para a Paróquia de São Sebastião, padroeiro de Barra Mansa Pelo oitavo ano, a União dos Fazendeiros e Pequenos Produtores de Barra Mansa arrecadou recursos para a Paróquia de São Sebastião (padroeiro de Barra Mansa), em leilão realizado no Parque de Exposições do distrito de Antônio Rocha no dia 10 de janeiro. Foram doados mais de 100 animais, entre bezerros machos e fêmeas, égua, carneiros, galinhas, peru, pato e leitoa. Toda a renda foi destinada aos projetos sociais desenvolvidos pela paróquia. O leilão foi coordenado pelos criadores Maximiliano Nagib, Jaime Carvalho de Oliveira, João Batista da Fonseca e Édson Gomes de Matos. O leiloeiro foi o diretor Agropastoril da Associação Comercial, José Maria Salles. O principal comprador e colaborador do leilão foi criador e produtor de leite Cláudio Fonseca, do distrito de Nossa Senhora do Amparo. O evento também teve o apoio da direção da Apae-BM, da Cooperativa de Barra Mansa, da Secretaria de Desenvolvimento Rural, do Departamento de Comunicação da prefeitura e da Ofensiva Assessoria Pecuária. Destaque do leilão foi uma novilha Girolando doada pela Fazenda São Sebastião, de Wagner e Jandira Alves de Souza, arrematada por R$ 2.500,00 por Pedro Meirelles e Hugo Arantes. O segundo lote mais valorizado foi uma bezerra Girolando doada pelo próprio Pedro Meirelles, vendida por mais de R$ 1 mil.


6 - JANEIRO - Raízes Rurais - O jornal do Agronegócio

Linha de crédito ‘Mais Alimentos’ começa a financiar veículos de transporte de carga Primeiro trator agrícola financiado pela linha Mais Alimentos foi entregue em dezembro no distrito de Santa Rita de Cássia, em Barra Mansa

Artigo

Produtividade viabilizando a pecuária leiteira

Lucro = (Produtividade x preço do litro de leite) – Custos * Guilherme Bittar de Oliveira

José de Oliveira Toste recebe o trator agrícola adquirido através da linha de crédito “Mais Alimentos”

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linha de crédito do Pronaf Mais Alimentos que financia veículos de transporte de carga para os agricultores familiares começou a ser operacionalizada no último dia 15 com a oferta de 15 modelos de caminhões com capacidade para transportar de 1,5 tonelada a até oito toneladas. As especificações técnicas dos modelos, fabricados por três empresas, estão disponíveis no portal do Programa. Para acessar a relação, é necessário informar o estado, se o interessado é contribuinte ou não do ICMS e selecionar a categoria Veículos de Transporte de Carga. Os produtos têm descontos que variam de 5% a 15% em relação aos preços de mercado. Os valores correspondem apenas ao chassi do caminhão. A carroceria (aberta, graneleira, baú, de grade) escolhida pelo agricultor familiar também será financiada pelo Mais Alimentos.

Emater e BB entregam trator Com o avanço da adoção de novas tecnologias para a produção agropecuária incentivadas pela equipe do escritório local da Emater-Rio de Barra Mansa, os produtores rurais têm recebido, além dos acompanhamentos diários, o incentivo do crédito rural para aquisição de

equipamentos, veículos utilitários, caminhões e recentemente de tratores e implementos, o que proporcionará continuidade na melhoria da atividade com o uso de novas tecnologias. No dia 17 de dezembro, foi entregue na comunidade de Santa Rita de Cássia o primeiro trator agrícola financiado pela linha de crédito Mais Alimentros. O produtor José de Oliveira Toste recebeu das mãos do gerente da agência do Banco do Brasil o Trator Massey Ferguson 250 tracionado que vai proporcionar maior eficiência na sua produção e, consequentemente, da produtividade. O Mais Alimentos é uma linha de crédito do Pronaf criada para estimular a modernização produtiva das unidades familiares agrícolas de todo o País. O Programa financia projetos até R$ 100 mil, tem juros de 2% ao ano, até três anos de carência e prazo de pagamento do empréstimo de até dez anos. Os agricultores familiares podem financiar tratores, máquinas, implementos agrícolas, projetos para construção de armazéns e silos, cerca elétrica para isolamento do rebanho, melhoramento genético, correção de solo, formação de pomares e melhoria da logística administrativa das propriedades rurais, como a informatização dos estoques, entre outras ações.

A produtividade mais importante, em termos de lucro, é a da área. Se temos apenas 1 hectare (1 Ha - 100x100m) e colocamos apenas 1 vaca neste hectare, rapidamente concluímos que como se trata de pouca vaca/área, esta área precisa ser boa. Exemplo: 1 vaca/Ha x 50 kg leite/dia/Há = 50 kg de leite/dia/Ha. Este hectare produz 50 kg de leite/dia e possui apenas 1 vaca de 50 kg/dia. O custo desta vaca é maior e de maior risco do que: 10 vacas/Ha x 10 kg leite/dia/vaca = 100 kg de leite/dia/Ha ou 10 vacas/Ha x 15 kg leite/dia/vaca = 150 kg de leite/ dia/Ha. Sendo estas 10 vacas ordenhadas, onde ganham pouco concentrado e voltam para piquetes rodiziados e adubados, teremos menores custos e mão-de-obra durante o período do verão. No período do inverno, o pasto mesmo adubado durante o verão, diminui a produção de alimento, necessitando usar volumoso no cocho. Já existem um bom número de fazendas que irrigam os piquetes durante 8 meses do ano, tratando as vacas com volumoso na cocheira nos meses de maio a agosto. Apesar de gastarem com tecnologias, estas podem ser pagas com o dinheiro da atividade leiteira e alavancar a produtividade da área. No verão, 1 Ha de piquetes irrigados suporta até 16 vacas. Então: 16 vacas/ Ha x 10 kg de leite/dia/vaca = 160 kg leite/dia/vaca ou 16 vacas/ Ha x 15 kg de leite/dia/vaca = 240 kg leite/dia/vaca. No inverno, os mesmos piquetes irrigados recebendo plantio direto de aveia têm conseguido manter 5 vacas/Ha: 5 vacas/Ha x 10 kg de leite/ dia/vaca = 50 kg de leite/dia/Ha ou 5 vacas/Ha x 15 kg de leite/dia/vaca = 75 kg de leite/dia/Há. Esta quantidade de vacas/Ha é obtida mediante adubação e manejo dos piquetes, que possuem, além da quantidade de pasto, uma qualidade que permite o uso de concentrado com teor de proteína de apenas 14% somente para vacas que produzam acima de 10 kg/leite/dia. A segunda produtividade mais importante, em termos de lucro, é a do homem. É comum encontrarmos fazendas de leite alimentando as vacas na cocheira o na inteiro, tais como: 200 kg leite/dia – 3 homens – 66,6 kg leite/homem/dia 300 kg leite/dia – 4 homens – 75 kg leite/homem/dia 1.000 kg leite/dia – 10 homens – 100 kg leite/homem/dia

Como o problema apontado é sempre o preço do litro do leite, proponho fazermos contas partindo da produtividade do homem de 100 kg de leite/dia, experimentando vários preços anuais do litro de leite. 100 x 30 x 0,30 100 x 30 x 0,40 100 x 30 x 0,50 100 x 30 x 0,60 100 x 30 x 0,80

= 900 – 791 = R$ 109,00 = 1.200 – 791 = R$ 409,00 = 1.500 – 791 = R$ 709,00 = 1.800 – 791 = R$ 1.009,00 = 2.400 – 791 = R$ 1.609,00

* Salário de R$ 465,00 de 1 retireiro com mais 70% de encargos sociais + férias + descanso remunerado + dispensa sem justa causa = 791,00

Tendo como extremos os preços absurdos do preço do litro de leite, na média do ano, de R$ 0, 30 ou de 0,80, constatamos que qualquer número multiplicado por zero (0,30 ou 0,80) é muito baixo. Se trocarmos a maneira de produzir leite e alcançarmos, com realismo, a produtividade de 200 kg leite/homem/dia, as contas ficarão assim: 200 x 30 x 0,60 = 3.600 – 791 = R$ 2.809,00 As contas mostram que a capacitação e produtividade do homem são mais expressivas, em termos de lucro, que o preço do litro de leite. A produtividade menos importante, em termos de lucro, é a da vaca. No sistema de trabalho que vem sendo proposta, é mais lucrativo várias vacas medianas, de 10 a 15 kg leite/dia ao longo da lactação de 300 dias, alojadas dentro de 1 hectare de pasto, no verão, do que poucas vacas com produção superiores, encocheiradas 1 ou 2 vezes/ dia, o ano inteiro. Resumindo, teremos diminuições de mão-de-obra alimentar das vacas na cocheira o ano inteiro, do uso de concentrado, da quantidade de proteína no concentrado, feito na fazenda.

Portando, o aumento da produtividade da área e do homem diminui o custo, viabilizando o lucro. Já existem propriedade trabalhando neste sistema de produção de leite na região que podem ser visitadas, mediante agendamento pelo telefone (24) 3342-0603 (à noite, com Guilherme). Há propriedades em Resende, Barra do Piraí, Além Paraíba (MG), Bananal (SP) e em outros municípios do Vale do Paraíba Paulista. Todas vivem um processo de transformação mais ou menos rápido, de acordo com a capacidade de cada propriedade, do seu rebanho, da fertilidade inicial do solo, a coragem e capacidade administrativa do proprietário, da existência inicial de doenças contagiosas ou não, das áreas de pastos e canaviais pré-existentes, de um todo que envolve solo-plantas-animais, muito mais do que dinheiro inicial para investimento. Este pode dar mais velocidade ao processo. A ausência de dinheiro não inviabiliza o processo, apenas o torna mais lento. O importante é conferir. O difícil é encontrar técnicos que tenham a luz no final do túnel, que sejam bons na teoria e na prática. Como também encontrarmos produtores que possuam paciência e capacidade de ler todo esse texto e sejam, também, bons na coragem e nas atitudes. E, por último, juntarmos numa fazenda este técnico com este produtor. * Médico veterinário, especialista em nutrição de ruminantes e em produção animal. Contato: (24) 3342-0603


JANEIRO - Raízes Rurais - O jornal do Agronegócio - 7

Artigo

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Para quem é o Gir Leiteiro? Que caminhos são esses? (Parte 1) - * Ivan Ledic

or conversa de amigos criadores e selecionadores, me foi solicitado escrever algo sobre o atual estado de comercialização do Gir Leiteiro no Brasil. Em resumo, nossa conversa era sobre o que está abaixo: Acompanhado alguns leilões elite e lido entrevistas na mídia sobre o “Boon” do Gir Leiteiro temos verificado médias de R$ 46 mil reais em remates, animais sendo adquirido por valores acima de R$ 1 milhão. E isso tudo sendo comemorado... Temos visto vacas da raça Gir em Controle Leiteiro Oficial ultrapassar os 17.000 kg de leite na lactação e produções diárias de até 49 kg. Esses recordes são obtidos através da utilização de hormônios e estimulantes nutricionais, com manejo sofisticado para permitir que o animal expresse seu máximo potencial de produção. Tudo bem, mas essa classe de animais representa somente cerca de 7% da população de fêmeas da raça Gir sob controle leiteiro oficial. Entretanto, a realidade é que 93% das lactações da raça Gir estão entre 2.100kg e 5.000kg. Esse é o Gir Leiteiro que o mundo emergente da América Latina, Ásia e África necessitam para a pecuária sustentável. Tanto que já estamos com nosso Gir Leiteiro na Bolívia, Colômbia, Venezuela, Equador, México, Guatemala e África do Sul. A República Dominicana e China também estão com interesse no Gir Leiteiro, mas dentro das realidades de seus países.

Que Gir Leiteiro é esse? Desde que comecei a trabalhar com o Gir Leiteiro, há uns 25 anos, vislumbrávamos que seria o grande trunfo da nossa pecuária leiteira como raça ideal para produzir leite nos trópicos e, principalmente, para servir aos pequenos criadores, como raça pura ou utilizada em cruzamentos, principalmente pelo baixo custo de produção, pela rusticidade e adaptação às diversas condições climáticas de temperatura elevada, resistência a endo e ectoparasitas e longevidade produtiva. Os trópicos necessitam de uma vaca de estatura mediana (cerca de 450 kg de peso vivo), com produção próxima de 3.000 kg, obtidos dentro das realidades sócio-econômicas-culturais e adaptados aos sistemas de produção de leite a pasto. E o Gir Leiteiro e seus cruzamentos atendem essas premissas. Ocupamos nosso espaço na pecuária leiteira nacional e internacional, principalmente através de trabalho e despojamento de Criadores e Técnicos, Instituições de Pesquisa e Ensino, que deram respaldo e credibilidade para demonstrar a capacidade produtiva dos animais.

Uma demonstração é o Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL), através do Teste de Progênie, que permitiu, desde sua implantação em 1985, aumentar as doses comercializadas de sêmen de 72.056 (5,3% do total das raças leiteiras nacionais) para 662.981 doses (50,9% do total de doses vendidas em 2007 pelas raças leiteiras nacionais). Nos rebanhos de Gir Leiteiro têm ocorrido ganhos genéticos expressivos, da ordem de 1% ao ano, devido à utilização dos touros provados e acasalamentos dirigidos. Diante desses fatos questiono: - Quem é que está causando toda essa procura e valorização por animais Gir com produções próximas de gado taurus ou de F1? São criadores comerciais que vivem da atividade leiteira? A quem serve essa raça hoje? Repondo eu: 1 - Isso tudo iniciou realmente porque os criadores tradicionais de Gir Leiteiro necessitavam incorporar em seus rebanhos animais de outras origens, com valores genéticos superiores, o que aqueceu o mercado e elevou os preços dos animais, além do fato de ter ocorrido o início das exportações, inicialmente para Colômbia, nos anos 90. Até aí tudo lógico e dentro do esperado. 2 - E assim, com todos esses fatos acontecendo, começaram aparecer “investidores” que realmente estavam vendo uma forma de multiplicar seus “lucros” como uma aplicação financeira de retorno rápido pela atual demanda por esse tipo de animal. Muitos necessitam dar corpo ao dinheiro e riqueza obtidos de outras “fontes” e transformar isso em mercadoria. Por outro lado, alguns novos criadores estão trocando “figurinhas” para manter o preço elevado. 3 - Pior que isso é ver capas de revista e reportagens falando que se não for agora, ninguém mais conseguirá adquirir Gir Leiteiro. Alardes e notícias na mídia de leilões com média de R$ 140 mil por animal (isso mesmo, equivalente a cerca de 280 mil litros de leite). Tudo isso para esquentar ainda mais uma falsa realidade mantida por mascates e marqueteiros (muito competentes naquilo que fazem) e que formaram “turminha” de poderosos. E todo mês tem mais batida de martelo com muita purpurina, regados a whisky, charutos cubanos e buffet com iguarias da época medieval – uma festa com todo glamour do “Jet Set” da sociedade com “código genético imperialista do mercado financeiro”, que impressiona qualquer súdito mortal (produtores de leite). * Médico veterinário, MSc. em Melhoramento Animal, DSc. em Produção Animal, ex-diretor técnico da ABCGIL e pesquisador aposentado da Embrapa Gado de Leite. Contato: ivanluz@netsite.com.br (Artigo publicado em duas partes)

Aplisi une produtores do RJ e MG em busca de qualidade Associação de Santa Isabel conta com a Internet para aproximar produtores

Produtores associados da Aplisi se reuniram em dezembro para traçar metas para o ano de 2010

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necessidade de vender a produção de leite de forma mais equilibrada e enfrentar aos altos e baixos do mercado resultou na criação, em 2002, da Associação dos Produtores de Leite Independente de Santa Isabel (Aplisi). No início eram seis produtores, que se reuniram a partir de uma mesma filosofia: a formação de um bloco para vender leite por um valor médio que viabilizasse a atividade. Hoje são 31 produtores de regiões distintas, de Santa Isabel, Amparo e Dorândia e ainda de Aiuruoca e Carvalhos, em Minas Gerais. Para que a distância não seja um problema no planejamento da associação, uma ferramenta tem sido fundamental: a internet. O atual presidente e fundador da Aplisi, Paulo Fernando Andrade Corrêa da Silva, o Poleca, conta que a comunicação digital foi fundamental para o crescimento da associação e também auxiliou na realização de uma licitação anual para a venda da produção. Atualmente, a Aplisi tem uma produção média diária de 24 mil litros de leite que é vendida através de contrato anual para a Perdigão. Em dezembro, associados da Aplisi se reuniram na Fazenda Boa União, do produtor José Antônio Vaz, em Santa Isabel, para uma confraternização e para avaliar as metas alcançadas em 2009 e planejar 2010. O diretor administrativo da associação, Eduardo Gomes, apresentou relatórios comparativos sobre a evolução de preços e qualidade do leite e os benefícios que o contrato anual tem proporcionado aos produtores. O evento também serviu para homenagear os associados que se destacaram em menor média de CCS + UFC (Walter Streva), proteína (Sebastião Silvério de Oliveira), gordura (Cláudio Fonseca) e volume de produção (Valter Moreira Campos). Entre os objetivos para 2010, a Aplisi buscará reduzir a média de CCS para 600 mil a CBT para 200 mil e ainda elevar a média por produtor. “A Aplisi é um projeto de

sobrevivência do produtor de leite e a organização é fundamental para que isso aconteça. Cada produtor tem que vestir a camisa e mostrar que quer fazer parte desse grupo. Por isso temos o slogan: cada vez mais a união gera a força, e a força o respeito ao produtor”, ressaltou Poleca.


8 - JANEIRO - Raízes Rurais - O jornal do Agronegócio

Cooperativa de Barra Mansa completa 70 anos de fundação em fevereiro

Novos equipamentos que vão ampliar a capacidade de produção da usina de beneficiamento de leite devem ser inaugurados em abril

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mais tradicional cooperativa do Estado do Rio de Janeiro completa 70 anos de fundação no dia 27 de fevereiro já se preparando para ampliar sua produção. Fundada em 1940 por um grupo de produtores rurais cujo leite era enviado para a Nestlé, a Cooperativa Agropecuária de Barra Mansa teve sua sede provisória no edifício da Associação Comercial e Agrícola Barra Mansa, no Centro da cidade, até abril de 1951. A partir desse ano, passou para sua sede própria da Avenida Domingos Mariano, onde permaneceu até 2008, quando todo o complexo administrativo foi transferido para o parque industrial da usina de beneficiamento de leite no Santa Maria II. Desde as primeiras carroças que coletavam e vendiam o leite pasteurizado medido em canecões, a Cooperativa de Barra Mansa têm mostrado sua força e superado os desafios do mercado. Como marca desses 70 anos está o pioneirismo. Foi a primeira a engarrafar leite tipo B em garrafas fabricadas pela própria cooperativa e tem se atualizado periodicamente com equipamentos modernos e profissionais treinados para oferecer produtos de qualidade aos consumidores e, sobretudo, garantir aos quadro de associados a permanência com destaque em um dos mercados mais competitivos do mundo. A partir de abril, a cooperativa inicia a produção com as novas máquinas adquiridas da TetraPak, que vão ampliar a capacidade de produção e manter a Barra Mansa como uma das cooperativas mais modernas do país. O Jornal Raízes Rurais parabeniza os familiares dos fundadores, a atual direção, associados e funcionários por esta tão importante data.

Prefeitura de Quatis libera estradas rurais

Novos reservatórios (acima à direita) e novo silo de leite (abaixo à esquerda) já estão prontos para o funcionamento

A Prefeitura de Quatis, por meio da secretaria de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente, está com trabalho dobrado neste início do ano. Equipes trabalharam nas estradas rurais que dão acesso aos distritos de Falcão e São Joaquim e ao bairro de Santana, já que as vias foram danificadas pelas fortes chuvas que atingiram a região na virada do ano. “Quando a chuva deu uma trégua facilitou muito o trabalho”, disse o secretário de Desenvolvimento Rural, Gustavo Duque. Ao todo, 10 máquinas, entre caminhões e retroescavadeiras, foram operadas para normalizar a trafegabilidade nas estradas rurais do município, que somam cerca de 200 quilômetros. Os trabalhos foram feitos, principalmente, nas estradas do Birro, de Roma e de São Joaquim. “Nossa meta é deixar as estradas em permanentes condições de tráfego, mesmo com as chuvas, para possibilitar o escoamento da produção leiteira e agrícola dos distritos”, destacou Gustavo. Diferentemente das chuvas do mês de novembro, que tiveram como consequências principais o decreto de Estado de Emergência assinado no dia 12 de novembro pelo prefeito José Laerte d’Elias e algumas famílias desabrigadas por causa de alagamentos e enxurradas, desta vez não houve interrupção no abastecimento de água na cidade.


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