Experimentando a simulação - Simulando a experimentação

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO 2013/2 RAMON MIRANDA CHAVES ORIENTADOR: LUIZ FELIPE MACHADO CO-ORIENTADORA: ADRIANA CAÚLA SUPERVISÃO: GUILHERME FIGUEIREDO

EXPERIMENTANDO A SIMULAÇÃO SIMULANDO A EXPERIMENTAÇÃO


APRESENTAÇÃO E AGRADECIMENTOS O rumo deste trabalho surge e se estrutura a partir de um intenso sentimento de inquietação - tanto com meus próprios questionamentos internos sobre a cidade, a vida urbana e a arquitetura ; quanto com o desejo de entender os possíveis caminhos em que arquitetura se direciona para assim eu me posicionar como profissional frente ao mundo. Todo esse processo de reflexão e de configuração do próprio trabalho foi de uma complexidade não linear , que de certa forma, tendia ao desenvolvimento de um produto intelectual confuso e até impotente. Nessa perspectiva, agradeço especialmente ao mestre Luiz Felipe Machado, como orientador e à professora Adriana Caúla como co-orientadora pela difícil tarefa de me orientar e ao mesmo tempo de respeitar os direcionamentos para qual o TFG se destinou. Ao mestre Luiz Felipe Machado, prossigo com meus agradecimentos. Agradeço pelo seu esforço em tentar fazer deste trabalho algo mais simples; pelos seus conselhos objetivos e principalmente, por enfatizar o ofício do arquiteto, como alguém também comprometido com a construção, por mais que este não fosse o direcionamento essencial do trabalho. À Adriana Caúla, agradeço por inúmeros motivos. Por me receber em sua casa para me ouvir e debater, com enorme paciência, meus questionamentos iniciais, de ordem totalmente caótica. Por ter acompanhado todo este processo, sempre de forma muito aberta, estimulando meu pensamento crítico. E Por ter me emprestado um pouco sua bagagem iconográfica intelectual, imprescindivel para a configuração do trabalho. Aos colegas e professores da EAU UFF devo um agradecimento especial. Principalmente, àqueles que estiveram mais próximos à produção deste trabalho. Ao mestre Glauco por sua participação fundamental na prébanca. Ao Leo, Vítor Cunha, ao Irlan e ao Diogo, que como amigos e colegas de faculdade me forneceram um precioso feedback. Ao Rafael por ter disponibilizado sua intacta biblioteca. Novamente ao Irlan e ao Vítor Cunha por sua ajuda na produção de imagens e textos, respectivamente. À Camilinha e ao Irlan que me disponibilizaram suas imagens, e ao Vítor Rocha e a Julia Spadari que também se ofereceram


para ajudar. Agradeço também a professora Fátima Pablo Romero, da ETSA de Sevilha, que em suas aulas, se empenhava em ensinar a importância da configuração dos desenhos para se transmitir uma idéia. Toda a experimentação gráfica neste trabalho, também apoia-se em seus ensinamentos. Ao corpo de estagiários e arquitetos da Muda Arquitetura - escritório onde estagio há mais de um ano - estendo meus agradecimentos. A vivência profissional lá adquirida - principalmente, no que se refere ao entendimento das responsabilidades e das limitações do profissional arquiteto frente ao mercado - retumba neste trabalho. Aos amigos, que mesmo diante do afastamento, de alguma forma, fazem-se presentes e dão um folêgo extra ao trabalho. Ao seu Luiz Chaves e dona Lúcia Miranda, meus pais, dedico este trabalho como um retorno simbólico de todo seu esforço e paciência. Por fim, espero que este TFG seja uma centelha no coração dos indignados e que estimule formas mais alteras e menos monetárias de se pensar a arquitetura, principalmente, do ponto de vista da sua produção.



ÍNDICE

CAPÍTULO 1 - PREFÁCIO --------------------------------------------------------------------------09

CAPÍTULO 2 - A FORMULAÇÃO DE UMA HIPÓTESE ---------------------------------------11

CAPÍTULO 3 – EXPERIMENTANDO A HIPÓTESE --------------------------------------------19 3.1 - MAPA DA EXPERIMENTAÇÃO

CAPÍTULO 4 - EXPERIMENTAÇÃO PROJETUAL ----------------------------------------------24

CAPÍTULO 5 - ANÁLISE CRÍTICA: A SIMULAÇÃO ESTRUTURANTE ---------------------85

CAPÍTULO 6 - ESTRATÉGIA DE REAÇÃO: RECRIANDO A UTOPIA ----------------------96

BIBLIOGRAFIA -----------------------------------------------------------------------------------------100



1 - PREFÁCIO Este trabalho é uma denúncia do descompromisso dos arquitetos com a pauta ético política e da conversão de nossas ideias a favor de uma lógica de lucro, capital e consumo. Essa conclusão é atestada e apresentadas através de um projeto que experimenta a seguinte hipótese:

Em um cenário de conversão das ideias, a postura descompromissada dos arquitetos com a pauta ético política pode gerar uma arquitetura praticamente vazia de significado e de conteúdo, que só pode ser entendida como um produto de um ciclo de capital, lucro e consumo. Através da análise do processo e do resultado experimental é possível refletir sobre esse possível destino da arquitetura que foi apontado , e assim, especular novas estratégias para se fazer a arquitetura . O caderno tem sua apresentação estruturada em capítulos, de modo que seja mais clara a transmissão da mensagem. A organização proposta não pretende retratar linearmente o processo de produção do trabalho nem tão pouco esgotar as outras possíveis formas de navegação. No capítulo 2, é analisado a origem da hipótese, considerando Campo ampliado da arquitetura como a bibliografia principal. Apesar da diversidade de pautas discutidas nessa antologia, a pauta ético-política apresenta-se provocativa e é encarada como o eixo desenvolvedor do trabalho; No capitulo 3, é explicado como essa hipótese será experimentada através do desenvolvimento de um projeto e é apresentado o mapa da experimentação a fim de facilitar sua compreensão. No capítulo 4, é a apresentada a experimentação em si, guiada por uma representação praticamente gráfica, tenta-se permitir também a significação subjetiva através do repertório individual

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2 - A FORMULAÇÃO DE UMA HIPÓTESE A hipótese é produto da imersão teórica realizada na antologia de A.Krista Sykes -Campo Ampliado da Arquitetura. Neste livro são compilados os 28 textos de 1993 até 2009, que para a autora representam uma visão geral das tendências mais presentes que caracterizam os debates sobre arquitetura, cidade e sociedade em sua existência contemporânea. A diversidade de pautas abordadas na antologia dificultava a tarefa de articular os temas em torno de uma linha de raciocínio. Entretanto, a partir da leitura de dois textos, a pauta ético política se destacou como um possível eixo, onde os outros temas se articulariam. Os textos citados são : “Acabaram-se os sonhos? A paixão pela realidade na nova arquitetura holandesa...e suas limitações” – Roemer Van Toorn e “Crítica a quê? Rumo a um realismo utópico” – Reinhold Martin. Martin e Van Toorn em seus textos criticam o posicionamento do projeto dito “pós-crítico” ou “projetivo”, revindicando uma postura mais comprometida com a pauta ético política.

"(...)acho justo caracterizar essas práticas, ora chamadas de “pós-críticas”, ora chamadas de “projetivas”, como comprometidas com formas de produção arquitetônica de fundo afetivo, que não envolvem oposição, resistência ou crítica – e portanto não são utópicas.” (Martin, 2005, p. 264) “Essa é uma estratégia sem ideais políticos, sem consciência política, nem consciência sócio-histórica, que corre o perigo de cair vítima de uma ditadura da estética, da tecnologia, do pragmatismo e do avanço cego da economia global. No lugar de assumir a responsabilidade pelo projeto, de ter a 11


coragem de dirigir os fluxos em determinada direção, as consequências éticas e políticas dessas decisões de projeto são deixadas ao realismo do mercado, e o arquiteto recua e se atém aos elementos exclusivos de sua disciplina.” (Van Toorn, 2004,p. 236) Eles também cogitam uma revalidação do pensamento utópico, como um mecanismo de propulsão para um lugar além do extremo realismo adotado pela corrente pós crítica, um lugar além da lógica destrutiva e opressora proporcionada pelo status quo no capitalismo tardio.

“ Já houve época em que não se considerava tolice ter grandes sonhos. Imaginar um mundo novo e melhor era um estímulo aos pensadores e aguçava sua resistência ao status quo. Hoje, os sonhos utópicos são raros. Em vez de perseguir ideais fugazes, preferimos surfar as ondas turbulentas do capitalismo global do mercado livre. No nosso Primeiro Mundo absurdamente próspero – entulhado de produção computadorizada, aplicações tecnológicas e genéticas, entretenimento comercial e cultural -, a realidade talvez pareça mais empolgante do que os sonhos. Alguns chegam a afirmar que alcançamos os ideais pelos quais lutamos no passado: de acordo com a política da Terceira Via, o motor da economia neoliberal precisa apenas de um pequeno ajuste fino; o capitalismo tardio é o único jogo em curso: apesar da necessidade dos direitos sociais e de alguma igualdade, só nos resta a acomodação ao globalismo corporativo.” (Van Toorn, 2004,p.222) Nessa perspectiva Van Toorn acrescenta que a postura “apolítica” autoafirmada pela corrente pós-crítica, conscientemente ou não, assume uma posição política e defende algum ideal de mundo. “ O que essas práticas projetivas deixam de ver, no entanto, é que os sonhos utópicos são necessários para incorporar ao projeto perspectivas que tenham um alcance além dos status quo. Não estou insinuando que os sonhos utópicos podem se realizar, mas que eles fornecem quadros de referência para a ação política. Os sonhos utópicos também nos ajudam a fazer diagnósticos isentos do presente. Esse momento de afastamento do vício da realidade pode nos dar consciência dos nossos julgamentos de valor implícitos e inevitáveis, do fato de que a exclusão de uma diretriz política e social cria ela mesma uma diretriz política e social. É a interação entre o sonho da utopia e a realidade que poderia ajudar a prática projetiva a desenvolver uma nova 12

CAPÍTULO 2- A FORMULAÇÃO DE UMA HIPÓTESE


perspectiva social. A prática projetiva deveria ceder ao fascínio de encontrar um modo de influenciar o capitalismo rumo à democracia.” (Van Toorn, 2004, p. 236) Apesar das críticas, a escolha da arquitetura projetiva em trabalhar com a realidade em vez de criar universos de fuga ou de negação a si mesma é valorizada por estes autores. Tanto para Martin quanto para Van Toorn a utopia pode se instalar no seio da sociedade, não como uma tentativa de prever o futuro, mas através de uma interação constante com a incerteza. “Enquanto isso, o realismo utópico deve ser pensado como um movimento que pode ou não existir, cujos praticantes são todos agentes duplos. Nomeá-los, ou o seu trabalho, iria forçá-los a sair do seu abrigo.(Podem ser arquitetos ou não.) Os que puderam, votaram em Kerry. (Então você também pode ser um realista utópico.) O realismo utópico é crítico. É real. É encantadoramente secular. Pensa diferente. É um estilo sem forma. Move-se de lado ao invés de para cima ou para baixo na árvore genealógica. É (ultra) mundano. Ocupa a cidade global, em vez da aldeia global. Transgride os códigos disciplinares, mesmo enquanto os defende. Não é utópico por ter sonhos impossíveis, mas porque reconhece que a própria “realidade” é – precisamente – um sonho demasiadamente real inculcado por aqueles que preferem aceitar um status quo destrutivo e opressor. O fantasma da utopia flutua dentro deste sonho, invocado com frequência por aqueles que achariam melhor não fazê-lo.” (Martin, 2005, p. 274) Enquanto os textos citados anteriormente foram importantes para questionar o compromisso ético-político dos arquitetos e refletir sobre o papel e a capacidade da arquitetura, os outros dois textos foram fundamentais para compreender o cenário contemporâneo global e seus efeitos sobre a arquitetura. Esses textos são “Junkspace” – Rem Koolhaas e “A cidade futura” – Friedric Jameson. Primeiramente, é necessário pontuar que a importância de Junkspace na formulação da hipótese é devida, exclusivamente, à configuração do texto e de seu conteúdo. Não há interesse específico na trajetória de Koolhaas como arquiteto, logo o trabalho não faz ponderações nesse sentido. Junkspace é uma excelente descrição do cenário contemporâneo global e de seus efeitos sobre a arquitetura, principalmente, devido à sua configuração. O uso constante das metáforas, além da potente capacidade de produzir 13


sequências de imagens, injeta ao texto um ritmo ao mesmo tempo eufórico e repetitivo - que por sua vez envolve nossa existência contemporânea. Jameson, em seu artigo A cidade futura, analisa duas publicações coordenadas por Koolhas na Harvard Graduate School of Design onde o artigo Junkspace está inserido. E sobre o uso constante das metáforas, ele tem algo interessante a destacar:

“Seria simplista demais dizer que, aqui, a arquitetura e o espaço são metáforas de todo o resto: mas não se trata mais de uma teoria arquitetônica; e tampouco um romance narrado do ponto de vista do arquiteto. É a nova linguagem do espaço que está falando por meio dessas frases que se autorreproduzem, que se autoperpetuam, o próprio espaço convertido no código dominante ou na linguagem hegemônica do novo momento da História ..." (Jameson, 2003, p.198) A afirmação de Jameson sobre as metáforas, como:

“[...]a nova linguagem do espaço...o próprio espaço convertido em código dominante[...]” - permite um entendimento do uso constante da sobreposição metafórica e sintetiza o comportamento do junkspace: O espaço que agora converte-se em código dominante, manifesta-se em um processo constante de mudança, sobrepondo suas novas formas sobre as antigas, repetidamente, gerando uma atmosfera paradoxal – ao mesmo tempo empolgante e aflitiva. Koolhaas comenta esse processo constante de sobreposição:

“ [o junkspace] Substitui a hierarquia pela acumulação, a composição pela adição. Mais e mais, mais é mais. O junkspace está mais do que maduro e ao mesmo tempo não alimenta, é um colossal manto de segurança que cobre a terra, a soma de todas as decisões não tomadas, problemas não enfrentados, escolhas não adotas, prioridades não definidas, contradições perpetuadas, concessões feitas, corrupção tolerada...O junkspace é como estar condenado a uma jacuzzi perpétua com milhões dos seus melhores amigos...” (Koolhaas, 2000, p. 106) A natureza expansiva do junkspace é colocada como um vírus: “[...] não há projeto, e sim proliferação criativa.” (idem. 14

CAPÍTULO 2- A FORMULAÇÃO DE UMA HIPÓTESE


p.107) – que cresce através da absorção das existências, assim, metamorfoseando-se:

“O junkspace não pretende criar perfeição, apenas interesse. Ele converte o existente – qualquer coisa comprometida – em vantagem própria [...]” (idem. p. 115) “ O junkspace troca de arquitetura como o réptil troca de pele, e renasce todas as segundas-feiras de manhã. [...]O junkspace sempre muda, mas nunca evolui. O programa do junkspace é o crescendo [...]” (idem. p 108) Essa lógica frenética de transformação é alimentada e alimenta uma atmosfera de indefinição que coloca valores tradicionalmente opostos no mesmo plano, produzindo assim um panorama baseado na desorientação:

“ O junkspace é um Triângulo das Bermudas dos conceitos, uma placa de Petri abandonada: reduz a imunidade, anulas as distinções, destrói a determinação, prefere a intenção à realização [...] Império vago da indistinção, ele funde o público e o privado, o retilíneo e o retorcido, o saciado e o esfomeado, o elevado e o popular para oferecer uma inconsútil colcha de retalhos do perpetuamente desconjuntado.” (idem. p 106) Apesar de seus desdobramentos espaciais, a propulsão do junkspace é de ordem política e econômica:

“o junkspace se expande junto com a economia, sua pegada não pode diminuir, somente aumentar.” (idem. p 114) “ O junkspace é político: depende da eliminação da capacidade crítica em nome do conforto e do prazer. Países minúsculos inteiros agora adotam o junkspace como programa político, instauram regimes de desorientação programada, incentivam uma política de desarranjo sistemático. Não propriamente, um “qualquer coisa serve”; na verdade, o segredo do junkspace é que ele é ao mesmo tempo promíscuo e repressor: à medida que o informe prolifera, o formal definha, e com ele todas as regras, os regulamentos, os recursos...” (idem. p 112) “ Para o Terceiro Milênio, o junkspace assume a responsabilidade tanto pelo entretenimento quanto pela proteção, pela exposição e pela intimidade, pelo público e pelo privado. O teatro escolhido para a megalomania, para o ditatorial, não é mais a política social: é o entretenimento.” (idem. p 114)

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Na visão de Jameson, o consumismo e o junkspace estão diretamente ligados, inclusive em seu artigo ele cita a frase de Sze Tsung Leong - “No fim, pouco nos restará a não ser comprar” – estabelecendo relações claras com o quadro contemporâneo global - e completa:

“O vírus atribuído ao junkspace é, de fato, o vírus do próprio consumo, o qual, como a disneyzação, se espalha gradualmente como um fungo tóxico por todo o universo conhecido.” (Jameson, 2003, p. 202) Koolhaas ao analisar o aeroporto como junkspace, faz a seguinte descrição que reforça a afirmação anterior de Jameson:

“Seu papel não é aproximar o sublime, mas minimizar a vergonha do consumo, drenar o embaraço, rebaixar o elevado. O mínimo agora coexiste num estado de dependência parasitária com o exagero: ter e não ter, possuir e ansiar, finalmente unidos na mesma emoção. O junkspace é como um útero que organiza a transição de quantidades intermináveis do Real – pedras, árvores, objetos, luz do dia, gente – para o virtual.” (Koolhaas, 2000, p. 105) Sua origem não é contemporânea, para Koolhaas o junkspace é “[...] o que se coagula enquanto a modernização ocorre, seu efeito colateral. A modernização tinha um programa racional: distribuir universalmente as benesses da ciência. O junkspace é sua apoteose, ou sua dissolução...embora cada uma de suas partes seja fruto de invenções brilhantes, hipertécnicas lucidamente planejadas pela inteligência, imaginação e infinita computação humana, a soma delas evoca o fim do Iluminismo, sua ressurreição como farsa, um purgatório de segunda classe...” (idem, pg 105) Koolhaas ainda sugere que os efeitos dessa riqueza do junkspace poderão ser irreversíveis:

“Aparentemente apoteótico, espacialmente grandioso, sua riqueza tem como efeito um vazio terminal, uma paródia maldosa que destrói sistematicamente a credibilidade da arquitetura, possivelmente para sempre...” (idem, pg 106) Ao tentar traduzir em termos históricos a análise apocalíptica de Koolhaas, Jameson encara a problemática de junkspace estabelecendo relação com as abordagens Martin e Van Toorn, colocando também o tema da Utopia novamente na mesa:

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CAPÍTULO 2- A FORMULAÇÃO DE UMA HIPÓTESE


“Mas creio que seria melhor caracterizar tudo isso em termos históricos, de uma História que não podemos imaginar senão por seu fim iminente, e cujo futuro parece ser apenas uma repetição monótona do que já existe. O problema, então, é como situar a diferença radical; como dar um salto virtual e reiniciar o sentido da história, para que ela volte a transmitir débeis sinais de tempo, de alteridade, de transformação de Utopia. O problema a ser resolvido é sair do presente imóvel do pós-moderno e voltar para o tempo histórico concreto, e para uma história feita para seres humanos. Creio que o texto de Koolhaas é uma maneira de fazer ou, pelo menos, tentar fazer isso”. (Jameson, 2003, p 201) Diante da opressora lógica expansiva de conversão das existências e ideias - que tem no lucro, no capital e no consumo seu combustível e seu produto – a aflição e a incerteza sobre o futuro se fazem presentes. Simultaneamente, a postura acrítica, disseminada por uma corrente de arquitetos, parece legitimar esse processos trágicos. Nessa perspectiva surge a hipótese, que merece ser experimentada a fim de se investigar o futuro para o qual nos direcionamos: Em um cenário de conversão das ideias, a postura descompromissada dos arquitetos com a pauta ético política pode gerar uma arquitetura praticamente vazia de significado e de conteúdo, que só pode ser entendida como um produto de um ciclo de capital, lucro e consumo.

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3 - Experimentando a hipótese Para investigar o possível destino para o qual a arquitetura se direciona e perceber o quão verídica é a hipótese apontada, é desenvolvido um exercício projetual – que assume um posicionamento distópico e acrítico ao extremo, ou seja, o substrato teórico de aporte ao projeto entende que a arquitetura não precisa cair em críticas ao status quo, assim, valorizando exclusivamente o pragmatismo e rechaçando a utopia. A corrente pós-crítica ou projetiva é utilizada como referência para esse experimento, principalmente por três aspectos ideológicos: a negação da crítica, a negação da utopia (com a consequente pegada totalmente pragmática) e a busca constante pela inovação. Para entender um pouco melhor a natureza dessa corrente e os aspectos ideológicos citados, será feito um breve articulação entre alguns autores, também encontrados na antologia "Campo ampliado da arquitetura" de A Krista Sykes.

Pós-crítico O termo arquitetura pós-crítica ou projetiva generaliza a atitude projetiva de uma série de escritórios. Estes caracterizam-se por um posicionamento extremamente realista em relação as condições de campo imediatas, onde desprendidos de teorias e ideias de antemão, encontram na inteligência a forma de inovar e criar soluções para os problemas. Contextualmente, essa postura pode ser explicada como um rompimento com a arquitetura crítica - representada

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genericamente pela corrente desconstrutivista e pelo regionalismo crítico. A teoria resultante naquele momento alimentava uma ideologia de fuga, seja pela negação de si mesma ou por uma autoadmiração culturalista. Havia um esforço da arquitetura para se definir como disciplina. Toda essa discussão e teoria levantada pouco se estendia para incorporar os novos paradigmas advindos com a chegada do terceiro milênio, provocando, assim, um cansaço quanto a teoria e impulsionando soluções mais pragmáticas e menos críticas por parte dos arquitetos. Em seu artigo: "Notas sobre o efeito Doppler e outros estados de espírito do modernismo " - Robert Somol e Sarah Whiting defendem uma postura “fria” em contraste à postura “quente” presente no período crítico:

“ Como alternativa ao projeto crítico – aqui ligado ao indicial, ao dialético e à representação ‘quente’ -, este texto desenvolve uma genealogia alternativa do projetivo – vinculada ao diagramático, ao atmosférico e ao desempenho ‘frio’.” (Somol & Whiting, 2002, p. 147) O efeito Doppler – que “explica a mudança de agudos no som de um trem ao se aproximar e então se afastar do receptor” - é utilizado para explicar o funcionamento da arquitetura projetiva, ou seja, a arquitetura projetiva manifesta-se adaptativamente reagindo as diversas contingências dinâmicas:

“O Doppler não olha para o passado nem critica o statuos quo ele projeta ordenamentos ou cenários alternativos (não necessariamente em oposição ao presente).” (Somol & Whiting, 2002, p.150) Essa perspectiva “fria” e desinteressada na crítica ao status quo, se ampara na ideia de diagrama como a única forma de se locomover na incerteza. John Rachjman em "Um novo pragmatismo", sobre bases deleuzianas, explica seu funcionamento:

“O que envolve então o “novo pragmatismo”, o pragmatismo do diagrama e do diagnóstico que estou procurando imaginar? O que ele faz? Em primeiro lugar, o diagramático supõe uma relação com um futuro que não é futurista nem imagético. Está ligado aos múltiplos dos quais não temos nenhuma imagem, simplesmente porque estamos no processo de nos transformar neles ou de inventá-los. Seguese daí que o diagramático desperta ou requer outras espécies de solidariedade ou “movimento” entre nós, diferentes das 20

CAPÍTULO 3 - EXPERIMENTANDO A HIPÓTESE


vanguardas tradicionais, da organização de um partido político ou mesmo da boa esfera pública progressista socialdemocrata, todas baseadas no pressuposto de um futuro que seríamos capazes de conhecer e dominar.” (Rajchman, 1998, p. 81) Michael Speaks, em "Inteligência de projeto", adiciona que a arquitetura projetiva, colocada como “pós-vanguarda” nesse período de incerteza - utiliza da inovação como forma básica de resolver as questões apontadas:

“Se a filosofia foi a tônica intelectual dominante das vanguardas do começo do século XX e a teoria desempenhou o mesmo papel em relação às vanguardas do final do século XX, a inteligência se tornou a tônica intelectual dominante das pós-vanguardas do século XXI. Enquanto as práticas da vanguarda se baseiam em ideias, teorias e concepções fornecidas de antemão, as práticas da pós-vanguarda são mais empreendedoras para buscar oportunidades de inovação que não podem ser previstas por nenhuma ideia, teoria ou concepção. Hoje, a inteligência é a fonte de todos os valores agregados e, portanto, de tudo o que é inovador. Assim, é ela que distingue uma prática da outra. Sem inteligência nenhuma prática consegue sobreviver às condições hostis que definem o século XXI. De fato, é a inteligência de projeto [design intelligence], esse conjunto ‘inédito’ de técnicas, relações, disposições e outros aspectos intangíveis, que permite que as práticas pós-vanguarda inovem aprendendo com a instabilidade e se adaptando a ela, e com isso se diferenciem de seus predecessores de vanguarda.” (Speaks, 2002, p. 161) A partir desse empréstimo intelectual, o projeto com fins experimentais é desenvolvido. É adotado um tom exagerado – apesar de ser passível de observação em algumas partes da produção espacial cotidiana ou em projetos de considerável importância referencial para os arquitetos.

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3.1 - MAPA DA EXPERIMENTAÇÃO O tema da habitação nos centros urbanos foi escolhido como a base para a experimentação da hipótese. O tema, indiscutivelmente, é relevante no campo genérico da discussão arquitetônica, pois, os grandes centros urbanos - como os maiores produtos da modernidade – tornam a milenar tarefa de habitar, um desafio. Além disso, para efeitos analíticos, o “produto habitacional” gerado nessa experimentação pode ser comparado com mais facilidade, afinal a casa é o tema arquitetônico mais tradicional. O processo projetual é articulado através de seis entradas paradigmáticas¹ – tais paradigmas estão relacionados com o tema da habitação nos centros urbanos e fazem-se presentes nas discussões sobre a arquitetura e a cidade. A ordem apresentada não reflete uma relação hierárquica ou sequencial, pois, o processo de desenvolvimento da experimentação está muito mais inclinada a simultaneidade. Em torno de cada eixo, referências arquitetônicas ou conceituais² surgem como tendências para resolução das respectivas questões. Essas referências são aceitas como sugestões. A postura acrítica e pragmática assumida no projeto não está interessada em subverter, mas apenas em se adaptar às forças contingentes. Assim, as referências são assimiladas e seus valores desdobram-se em proposições projetuais³ e através da inovação são reaplicados formando uma nova solução arquitetônica. O conjunto dessas proposições, configurandose como projeto é o resultado da experimentação.

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CAPÍTULO 3- EXPERIMENTANDO A HIPÓTESE


fig. 1 - Mapa da experimentação

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4 - EXPERIM PROJETUAL 24


MENTAÇÃO L 25


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CAPÍTULO 4- EXPERIMENTAÇÃO PROJETUAL


CASO CAIBA MAIS UMA, É MELHOR. 1236M² DISPONÍVEIS NO CENTRO DO RIO DE JANEIRO, PODE IMAGINAR O QUE ISSO REPRESENTA? ALIÁS, MORAR NA CIDADE MARAVILHOSA NÃO DEVERIA SER UM PRIVILÉGIO PARA TODOS? SE CIDADES COMPACTAS SÃO MAIS SUSTENTÁVEIS E EFICIENTES,NÃO DEVERÍAMOS COMPACTAR A ARQUITETURA? ENTÃO,QUAL SERIA O PADRÃO? “CABER MAIS UMA” É O PADRÃO? A MORFOLOGIA ARQUITETÔNICA APARECE E REVELA QUE TEM ALGO A ACRESCENTAR SOBRE A ABSORÇÃO DAS DENSIDADES POPULACIONAIS. ENTRETANTO, OS SISTEMAS MECÂNICOS DE VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO PARECEM MAIS EFICIENTES. PARA QUE ESTUDAR A FORMA, SE A MELHOR FORMA É A MAIOR. O IDEAL AGORA É O INFINITO E PERSEGUIMOS UMA ARQUITETURA SEM FIM. TRANSFORMAR TODAS AS POSSIBILIDADES EM ESPAÇO INTERNO, OU SEJA, A BUSCA PELA EXPANSÃO MÁXIMA, NÃO SIGNIFICA MAIORES OPORTUNIDADES? MAIS É MELHOR.

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A CARA DO RIO

fig. 2 - Projeto das torres de Donald Trump, fonte: internet

fig. 3 Projeto da vila olímpica

fig. 4 - Cidade da Música, fonte: internet

fig. 5 - vista do Rio, do hotel the Maze, no Catete. Fonte: http://blogs.odia.ig.com.br/guia-das-comunidades/

fig. 6 - Centro do RIo de Janeiro, fonte: fig. 7 - Museu do amanhã, Fonte: internet internet fig. 8 - Vista da Av. Alm. Barroso

fig. 9 - Vista da zona sul do rio de janeiro

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CAPÍTULO 4- EXPERIMENTAÇÃO PROJETUAL


1236 M2 DE POSSIBILIDADES

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RUEDA - CIDADES COMPACTAS

fig. 10 Cidades espraiadas por Rueda

fig. 11 - Cidades compactas por Rueda

"As conexões no sistema urbano das cidades difusas se realizam através das redes viárias, as quais promovem a dispersão urbana, pois se transformam em um verdadeiro estruturador do território. O produto desse formato urbano é um espaço segregado que separa socialmente a população no território disperso. Esta imposição de transporte e locomoção em grandes distâncias implica em inúmeros transtornos: congestionamentos, emissão de gases, ruídos, acidentes e aumento do tempo no transporte de pessoas, serviços, materiais e mercadorias. As soluções para a crescente demanda urbana consistem no aumento do sistema viário, agravando com isto a dispersão territorial e o consumo de energia. O modelo de cidade compacta oferece uma forma estrutural de utilização do subsolo urbano, facilita a ordenação pela proximidade e pela sua maior regularidade formal. O transporte público pode ser mais racional e eficiente, reduz o número de carros e libera o tráfego das ruas. Este modelo melhora a paisagem urbana e o espaço público e, ao mesmo tempo, não causa tantos impactos como os observados nas cidades difusas." Geovany Jessé Alexandre da Silva e Marta Adriana Bustos Romero, "O urbanismo sustentável no Brasil, a revisão de conceitos urbanos para o século XXI (Parte 02)", Extraído da revista virtual Vitruvius, 2011.

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CAPÍTULO 4- EXPERIMENTAÇÃO PROJETUAL


HABITAÇÕES COMPACTAS! QUAL O PADRÃO

FINALISTAS ADAPTNYC - 27 M2

EDIFÍCIO VN QUATÁ CONSTRUTORA VITACON -18 M²

CASA DIÓGENE - RENZO PIANO - 6M²

CASA POLIKATOIKEA - 6M²

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DENSIDADES E GEOMETRIA

Fig. 12 - Diagramas extraídos de: Martin, "The grind as generator", 1972

O gráfico acima representa a relação entre a forma arquitetônica e a área que a ela consegue absorver, As hachuras pretas nos diferentes retangulos significam a mesma área. Esses estudos mostram como as bordas são.eficientes para efeito de densificação, ao mesmo tempo que ganham maior perímetro para resolver as tarefas de iluminação e ventilação.

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CAPÍTULO 4- EXPERIMENTAÇÃO PROJETUAL


MORFOLOGIA: 50 % DE OCUPAÇÃO

Com base nas informações sobre as relações entre a geometria e densidades, são realizados vários testes morfológicos - com 50 % da ocupação. Esses testes permitem analisar como as possíveis relações entre cheios e vazios atendem as demandas de luz e ilumnação.

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VENTILAÇÃO MECÂNICA: ELIMINANDO OS VAZIOS...

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CAPÍTULO 4- EXPERIMENTAÇÃO PROJETUAL


.... E MELHORANDO O PRODUTO...

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A FAVOR DE UMA ARQUITETURA CONTÍNUA...

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CAPÍTULO 4- EXPERIMENTAÇÃO PROJETUAL


... INFINITA.............................

Uma arquitetura contínua é aquela tem na expansão a sua natureza geradora. Ela tende ao infinito, e absorção das áreas pode-se dar internamente (através da supressão dos vazios) e/ou externamente (através da incorporação do espaço público). E a verticalização é sua regra básica.

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ENTÃO, COMO FRACIONAR O INFINITO?

6 M² P/ UNIDADE HABITACIONAL?

965 M² DE ÁREA PRIVATIVA POR PAVIMENTO

<

18 M² P/ UNIDADE HABITACIONAL?

1050 M² DE ÁREA PRIVATIVA POR PAVIMENTO

=

27 M² P/ UNIDADE HABITACIONAL?

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CAPÍTULO 4- EXPERIMENTAÇÃO PROJETUAL

1050 M² DE ÁREA PRIVATIVA POR PAVIMENTO


<

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CAPÍTULO 4- EXPERIMENTAÇÃO PROJETUAL


POR FAVOR, CLIMATIZEM A ATMOSFERA! ALGUÉM AINDA ACREDITA NA VENTILAÇÃO CRUZADA? NO RIO DE JANEIRO, PELO MENOS, ACHO QUE NÃO. NOSSA MATERIALIDADE ARQUITETÔNICA TEM AINDA ALGUMA CHANCE CONTRA AS ONDAS DE CALOR? SE TEM OU NÃO, NÃO IMPORTA, PARECE QUE ESSA NÃO É UMA BOA ALTERNATIVA PARA SE EXPLORAR. EXISTE UMA GRAÇA MAIOR: O AR CONDICIONADO. ELE TRAZ O CONFORTO NECESSÁRIO PARA VIVERMOS UMA VIDA NORMAL. ABRIR AS JANELAS? NEM PENSAR, UM RETROCESSO. ALIÁS, COM ELE O EXTERNO NÃO IMPORTA, NOSSOS PADRÕES SE ESTABELECEM INTERNAMENTE INDEPENDENTEMENTE DAS CONDIÇÕES EXTERNAS. MAS E QUANDO PRECISARMOS SAIR? SÓ HÁ UMA ALTERNATIVA: CLIMATIZEM A ATMOSFERA! A GRATIDÃO SERIA ETERNA, POR MAIS QUE FOSSE SÓ ENQUANTO EU AGUARDO MEU ÔNIBUS. SE ESTA FOR UMA POSSIBILIDADE PLAUSÍVEL, PERMITAMOS QUE ELA ACONTEÇA! AGORA, NÃO SE PREOCUPE COM A CONTA DE LUZ, NOSSA ARQUITETURA SUSTENTÁVEL RESOLVERÁ ESSA QUESTÃO.

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ABRIR AS JANELAS?

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ISSO É CONFORTO

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LOJAS DE DEPARTAMENTO E SUA FUNÇÃO SOCIAL

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ENTÃO, MICRO ATMOSFERA PARA TODOS!

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E SEJA SUSTENTÁVEL !

CÉLULAS FOTOVOLTAICAS?

PAINÉIS BIORREATIVOS?

TURBINAS EÓLICAS? 48

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INTERFACES DA ALEGRIA EM NOSSOS DEPÓSITOS DE FAMÍLIAS EMPILHADAS O QUE A FENESTRAÇÃO ACRESCENTA PARA A QUALIDADE DO ESPAÇO ARQUITETÔNICO? O CONTROLE: DA LUZ E SUAS NUANCES; DO AR E DE SUA CIRCULAÇÃO; DO SOM E SUA PROPAGAÇÃO - ALGUMA JANELA SE IMPORTA COM ISSO? SERIALIZAMOS A REPRODUÇÃO ESPACIAL E O PROCESSO MECÂNICO DE FENESTRAR CARIMBA SEU CONTROLE INEXPRESSIVO DA LUZ, DO AR E DO SOM SOBRE A ARQUITETURA. MAS QUEM SE IMPORTA COM ISSO? HOJE, A FENESTRAÇÃO SÓ QUALIFICA O ESPAÇO ARQUITETÔNICO DE ACORDO COM AS VISTAS QUE POR ELAS SÃO EMOLDURADAS. SE ME FAZ FELIZ, COLOQUEMOS UM PANO DE VIDRO! AGORA,SE ME DESAGRADA, AS PERSIANAS FARÃO SEU TRABALHO. IMAGENS SÃO A QUALIDADE. QUEREMOS APENAS CONTROLAR AS INTERFACES ENTRE NOSSO UNIVERSO PARTICULAR E O MUNDO. POR ISSO QUE NÓS AMAMOS TANTO O CYBERESPAÇO?

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ESPAÇOS CARIMBADOS - PERFEITO PRA VOCÊ

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NÃO GOSTOU? FECHE.

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GOSTOU? ABRA.

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TENDÊNCIA?

Fig. 13 - Imagem extraída da revista Casa Cláudia, Out 2008

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CYBER JANELAS - UMA INTERFACE IMAGÉTICA COM O MUNDO

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ENTÃO, PRÁ QUE AS JANELAS ? A FAVOR DAS TELAS EM LED E O SUBLIME DIGITAL

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PAREDES INVISÍVEIS? O ATO DO CORPO EM DEFORMAR A ARQUITETURA E O ATO DA ARQUITETURA EM DOUTRINAR O CORPO NÃO SERIAM COMPLEMENTARES? QUANDO UM ACABA, O OUTRO COMEÇA? TALVEZ ESTE CICLO ESTEJA COMPROMETIDO. ESTÁ AÍ, A ARQUITETURA DO DIAGRAMA: PROJETIVA, FRIA, PRAGMÁTICA. COMO UM PROCESSO ABERTO, DEIXA SUA FORMA A DISPOR DAS NECESSIDADES DO CORPO. SUA FLEXIBILIDADE ESTABELECE COM O FUTURO UMA RELAÇÃO IMEDIATA. ESSA ARQUITETURA NÃO DOUTRINA O CORPO, AO MENOR SINAL DE DEFORMAÇÃO ELA SE ADAPTA. A NOÇÃO TRADICIONAL ARRAIGADA NA ESTÁTICA NÃO FAZ MAIS SENTIDO, SEU COMPROMISSO DESLIZOU DE ENCONTRO COM A FLEXIBILIDADE. SERIA A EFEMERIDADE A NOVA REGRA DE REPRODUÇÃO DO ESPAÇO? E A VOLATILIDADE DAS NECESSIDADES HUMANAS É O NOSSO COMBUSTÍVEL? LOGO, SE A ARQUITETURA NÃO É MAIS UM LIMITE PRA QUE NOS SERVEM AS PAREDES?

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O CORPO DEFORMA A ARQUITETURA

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A ARQUITETURA DOUTRINA O CORPO

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DESMATERIALIZAÇÃO E MUDANÇA DE COMPROMISSO: DO ESTÁTICO AO FLEXÍVEL AUTOPORTANTE

ESTRUTURALMENTE INDEPENDENTE

MONTÁVEL - DESMONTÁVEL

ESTÁTICO FLEXÍVEL MATÉRIA (A PARTE CHEIA DA ARQUITETURA)

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EFEMERIZAÇÃO - SOBREPOSIÇÃO DE TEMPOS

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ENTÃO, A FAVOR DA EFEMERIDADE E DA DESMATERIALIZAÇÃO DOS LIMITES ARQUITETÔNICOS

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REVITALIZANDO, REESTRUTURANDO, RECUPERANDO A CIDADE O QUE SERIA DA VITALIDADE URBANA SEM A DINÂMICA E A VARIEDADE DOS USOS MISTOS? A INSERÇÃO DE EMBASAMENTOS COMERCIAIS EM EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS, OU VICE-VERSA - AINDA MAIS QUANDO LOCALIZADO EM UM GRANDE CENTRO URBANO – TENDE A ENCURTAR AS DISTÂNCIAS CASA-TRABALHO, AO MESMO TEMPO QUE MANTÉM O CENTRO DA CIDADE COMO O LUGAR DA TROCA E DAS POSSIBILIDADES. LOGO, SERIA A INICIATIVA PRIVADA EMPRESARIAL FUNDAMENTAL PARA A VITALIDADE URBANA? SE ASSIM FOR, CIDADES E AMBIÊNCIAS MAIS CONFORTÁVEIS NÃO PODERIAM SER ALCANÇADAS SE LIBERÁSSEMOS A GESTÃO DO ESPAÇO PÚBLICO PARA A INICIATIVA PRIVADA? E POR QUÊ NÃO REVITALIZAR AS CIDADE PROPORCIONANDO MAIS SEGURANÇA, CONFORTO E LAZER? UMA TRANSFORMAÇÃO POSITIVA, QUE TAMBÉM NÃO SE ESQUECE DA MEMÓRIA E DA ESSÊNCIA DO LUGAR, ATRAVÉS DA CONSERVAÇÃO DAQUILO QUE É REALMENTE AUTÊNTICO.

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EMBASAMENTO COMERCIAL E A VITALIDADE URBANA

Fig. 14 - Projeto para Vancouver, por BIG. Fonte: http:// www.big.dk/#projects-van

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RECUPERANDO O ESPAÇO PÚBLICO

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O VELHO E O NOVO SOBREPOSTOS

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UMA DICA DO ENTORNO

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ENTÃO ,QUE VENHA A VITALIDADE ! RECRIANDO O ESPAÇO URBANO

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ISSO QUE É ARQUITETURA! NÃO, NÃO NOS INTERESSA A DISCUSSÃO SOBRE O QUE É ARQUITETURA OU O QUE É O ARQUITETÔNICO. ESSAS SÃO SIMPLES QUESTÕES DISCIPLINARES, QUE NÃO NOS LEVA A NENHUM LUGAR. POIS, SE ALGUÉM QUER UMA BOA ARQUITETURA, O INVESTIMENTO NA PELE É UM BOM CAMINHO. MAS POR FAVOR, SEM PUDORES IMPRODUTIVOS. NA PELE ESTÁ A CAPACIDADE DA SEDUÇÃO, ELA PODE ADICIONAR A UMA CONSTRUÇÃO, SERIAL E SEM INTENÇÃO O TÍTULO “DE BOA ARQUITETURA”. A CONFIGURAÇÃO INTERNA NÃO INTERESSA,A PELE SÓ SE PREOCUPA COM O INVÓLUCRO. O PROCESSO DE PRODUÇÃO DA FACHADA É POSTERIOR E INDEPENDENTE. SUA TAREFA É BRILHAR, SEDUZIR E ESPETACULARIZAR.ENQUANTO A COMPARTIMENTAÇÃO DEVE ATENDER AS EXIGÊNCIAS PROGRAMÁTICAS.

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UMA FACHADA....

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....QUANTAS PELES POSSÍVEIS!

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A SEDUÇÃO DA PELE

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ENTÃO, COMO SEDUZIR?

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"APENAS O DIAGRAMA OFERECE UMA VERSÃO TOLERÁVEL. O JUNKSPACE É PÓS-EXISTENCIAL: CRIA INCERTEZA SOBRE O LUGAR ONDE VOCÊ ESTÁ, PARA ONDE VAI E DE DONDE VEM. QUEM É VOCÊ? VOCÊ ACHOU QUE PODIA IGNORAR O JUNKSPACE, VISTÁ-LO SUBREPTICIAMENTE, TRATÁ-LO COM DESDENHOSA SUPERIORIDADE OU DESFRUTÁ-LO VICARIAMENTE. COMO VOCÊ NÃO CONSEGUIU ENTENDÊ-LO, JOGOU FORAS AS CHAVES...MAS AGORA A SUA PRÓPRIA ARQUITETURA ESTÁ INFECTADA, TORNOU-SE IGUALMENTE LISA, INCLUSIVA, CONTINUA, RETORCIDA, OCUPADA..." (Koolhaas, "junkspace" - extraído da p. 112 do livro "campo ampliado da arquitetura " de A. Krista Sykes)

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5 - ANÁLISE CRÍTICA: A SIMULAÇÃO ESTRUTURANTE A analise crítica, basicamente, revela como a lógica de lucro, capital e consumo converte as existências, no caso as ideias, ao seu próprio favor. Ao longo do desenvolvimento projetual o funcionamento do processo de conversão tornase mais claro, e a simulação aparece como seu fenômeno estruturante. Para efeito de desambiguação, é a adotada a definição de simulação por Baudrillard: “Dissimular é fingir não ter ainda o que se tem. Simular é fingir ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo a uma pura ausência. Mas é mais complicado pois simular não é fingir: " Aquele que finge uma doença pode simplesmente meter-se na cama e fazer crer que está doente. Aquele que simula uma doença determina em si próprio alguns dos respectivos sintomas.» (Littré). Logo, fingir ou dissimular deixam intacto o princípio da realidade: a diferença continua a ser clara, está apenas disfarçada, enquanto que a simulação põe em causa a diferença do "verdadeiro" e do "falso", do "real" e do "imaginário". O simulador está ou não doente, se produz "verdadeiros" sintomas? Objectivamente não se pode tratá-lo nem como doente nem como não doente” (Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação, páginas 9-10, Relógio d´Água). Muitas das referências arquitetônicas ou conceituais, assimiladas ao longo do projeto, pertencem a uma realidade infectada pela lógica expansiva de capital, lucro e consumo.As semelhanças com junkspace não são meras coincidências. Nessa realidade predomina-se um estado permanente de indefinição onde valores opostos se confundem. Esse quadro de desorientação generalizada também é composto 85


por simulações, que, consequentemente, abre brechas para outras simulações. Nesse cenário, o posicionamento acrítico legitima essas operações. Resumidamente, há a troca da reflexão pelo conforto e pelo espetáculo. Esse dito “apolitismo” vê o futuro de forma distópica e encontra no espetáculo o contento, que pelo menos momentaneamente, alivia a angústia das incapacidades. Assim, a negação da reflexão legitima o espetáculo simulador. A busca constante pelo novo intensifica os processos simuladores de conversão, ao mesmo tempo que é um dos pilares do consumismo. A noção de que a inovação é a única forma de resolver os problemas contemporâneos, coloca toda a importância na produção de grandes ideias, independentemente de seu grau ético-político. Logo, a acelerada aplicação dessas ideias inovadoras, entendidas como melhores que as anteriores, normatiza a cultura do efêmero, a ponto de mesclar o real e o virtual no mesmo plano. Uma vez entendida a lógica de expansão contínua e seu processo de subversão e conversão, percebe-se o quão irônicas são suas simulações nas existências infectadas. E na medida em que elas se legitimam e se intensificam, o quadro irônico passa a tornar-se trágico, a ponto de se fazer duvidoso um possível fim para este ciclo. A seguir, é apresentado minuciosamente como as simulações infectam as ideias do projeto e como consequentemente ele converte-se a favor da lógica de capital, lucro e consumo.

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MORFOLOGIA/ DENSIDADES Buscando produzir cidades mais densas e sustentáveis e sobre o entendimento de que a arquitetura funciona como um padrão que se repete e forma a cidade, há o esforço inicial de pensar a unidade habitacional e o edifício de forma mais compacta. Entretanto, há uma indefinição quanto ao ideal de compactação dessas unidades, ou melhor, não há critérios claros para nortear este ideal. O que existe são apenas limites, no caso, estabelecidos por um pensamento que reduz o habitar ao uso estritamente ergonômico do espaço, vide os 6m². A noção quantitativa sobrepõe-se a qualitativa. Consequentemente, a ideia da casa como o lugar que permite os sonhos e a memória é substituída pela ideia da casa como o abrigo - ou como a cápsula de morar - que só permite o habitar guiado por um manual de instruções. Nesse contexto onde o edifício é pensado como um conjunto de unidades habitacionais, o mais simula o melhor. Considerando, é claro, que é mais para quem produz a habitação e não para quem de fato a habita. Se a habitação é encarada como mercadoria, maior produção e maior lucro tornam-se naturais. Essa lógica pode ser percebida tanto na implantação do edifício que tenta converter o máximo de área do terreno em área construída vendível (área privativa); quanto na quantidade de unidades habitacionais inseridas – que passam a ser encolhidas. Na perspectiva de aproveitamento e compactação máxima, os equipamentos mecânicos de ventilação e iluminação proporcionam a eliminação dos vazios. E se não existem vazios, a morfologia torna-se dispensável, já que a melhor forma será a maior, ou seja, aquela que não tem subtrações, é cheia e tende ao infinito

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CONFORTO TÉRMICO/ SUSTENTABILIDADE Considerando o calor que predomina no Rio de Janeiro, na maior parte do ano, o projeto tem a intenção de proporcionar habitações termicamente confortáveis e de forma sustentável. Entretanto, a capacidade da arquitetura em proporcionar um ambiente termicamente agradável encontra-se relativamente em cheque .Essa indefinição acontece por dois motivos diretamente relacionados, sendo estes: - O padrão de conforto térmico idealizado: A criação de microatmosferas frias, através de aparelhos de ar condicionado se estabelecem independentemente do ambiente externo. Há uma homogeneização do padrão de conforto ao ponto que a preocupação com fatores locais – que poderiam desdobrar-se em medidas interativas entre a arquitetura e o meio ambiente - não se faz necessária. O ar condicionado já tem um espaço cativo, quando se pensa em ambientes termicamente confortáveis. - a negligência com os aspectos térmicos na lógica de produção mercadológica da arquitetura : A preocupação com os aspectos térmicos demandam soluções espaciais e construtivas que muitas vezes produzem produtos arquitetônicos menos lucrativos. Logo, essa é uma questão a ser ignorada em seu processo de produção. Entretanto, quando chega ao usuário essa arquitetura é condenada como incapaz de resolver a questão térmica, por mais que não tenha sido pensada para tal. Assim, o ar condicionado simula a solução para a possível incapacidade da arquitetura quanto ao conforto térmico. O ambiente confortável é aquele que é isolado do exterior e por definição é sempre um espaço interior. Essa simulação se estende ao espaço público, logo o confortável seria o espaço público interior. Mas se a rua e a praça geralmente configuram-se como o negativo da arquitetura, sua natureza é exterior. Assim, proporciona uma grave indistinção entre o público e o privado, entre o cheio e o vazio. Inclusive, ela legítima uma produção do espaço que tende ao infinito, que tende a transformar tudo em espaço interior e que colabora com a simulação do mais é melhor. O projeto apresentado assimila o ar condicionado como

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CAPÍTULO 5 - ANÁLISE CRÍTICA: A SIMULAÇÃO ESTRUTURANTE


padrão integral. Nesta perspectiva, como atenuante para tal proposição, a noção da sustentabilidade é entendida parcialmente, e não é considerada sua macro configuração que articula e equilibra os aspectos ambientais, sociais e econômicos. Na experimentação ela limita-se a ideia de que o edifício pode produzir sua própria energia, independentemente dos absurdos padrões de consumo adotados.

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FENESTRAÇÃO/ ESPAÇO ARQUITETÔNICO/ CYBER ESPAÇO

A ideia inicial era, através da fenestração, possibilitar o controle inteligente da luz, do som e do ar a fim de produzir espacialidades mais sensíveis e interativas para seus usuários. Entretanto, há uma confusão quanto a capacidade da fenestração em proporcionar ambientes de qualidade. Na verdade a qualidade espacial parece ter sido trocada pela qualidade imagética. Assim, o que é capturado visualmente pela janela é o que acrescenta a qualidade daquele espaço. Neste estado de indefinição a qualidade imagética, visual e externa, encontrase no mesmo plano da qualidade espacial, cinestésica e interna. E a única forma de interação a favor da qualidade acontece no abrir ou fechar das cortinas. Ao mesmo tempo, os aparelhos eletrônicos conectados ao cyber espaço mostram-se como interfaces – entre a casa e o mundo - mais profundas, mais interativas e velozes do que as janelas. Assim, a qualidade espacial é simulada pela qualidade imagética . E as interfaces digitais, como conexões interativas entre a casa e o mundo possibilitam a busca e a atualização das imagens mais espetaculares. A qualidade imagética - como espetáculo – repetidamente simula diversas qualidades. Ela basicamente funciona como um manto que envolve os objetos, tornando-os mais sedutores ao consumo e de mais fácil descartabilidade.

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CAPÍTULO 5 - ANÁLISE CRÍTICA: A SIMULAÇÃO ESTRUTURANTE


FLEXIBILIDADE/ EFEMERIZAÇÃO/ CORPO Produzir uma arquitetura flexível - que respondesse a variedade das necessidades da vida contemporânea - era uma intenção básica do projeto. A noção do diagrama como processo de análise e ferramenta de deformação do espaço parecia extremamente interessante para se pensar uma arquitetura mais tangível e interativa com o corpo. Sobre aspectos construtivos, essa não seria uma tarefa difícil, visto que o desenvolvimento técnico da arquitetura possibilitou maior flexibilidade dos espaços. Com esse suporte técnico e mediante uma atmosfera de efemerização, o papel da arquitetura como doutrinadora do corpo parece ter sido desfeito. Entretanto, essa lógica de efemerização simula - através dessa arquitetura extremamente flexível - a liberdade completa do corpo. Na verdade, o corpo agora está muito mais doutrinado, não pela arquitetura, mas pelo consumo. A arquitetura adquire uma materialidade mais descartável que tenta acompanhar em tempo real as novas “necessidades” que as ondas de consumo sugerem. Nessa simulação de liberdade, o corpo assimila essas sugestões e identifica essa arquitetura como uma estrutura aberta e flexível para com as suas necessidades de consumo. Nessa perspectiva, não é a arquitetura quem doutrina o corpo, mas é o consumo que doutrina ambos. Esse processo de descartabilização e desmaterialização leva a questionar se arquitetura como limite ainda faz sentido, e se as paredes por exemplo, ainda são necessárias. No projeto, elas só existem na perimetro do edifício, as unidades habitacionais são separadas pelas telas LED e em seu interior não existem.

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VITALIDADE URBANA/ ESPAÇO PÚBLICO/ AMBIÊNCIA ARQUITETÔNICA A fim de garantir a vitalidade urbana e possibilitar todos os benefícios do zoneamento de uso misto, é proposto a inserção de um embasamento comercial no edifício. Devido a configuração do terreno que apresenta testada para duas ruas paralelas, o embasamento comercial é pensado como uma galeria que conecta as duas ruas. Entretanto, há uma indefinição sobre as responsabilidades e os limites nessa relação aparentemente mutualista entre o espaço privado de consumo e o espaço público. Por exemplo, existe a ideia que a qualidade e o conforto no espaço público só podem ser atingidos mediante a intervenção da iniciativa privada, seja de forma direta ou indireta. Quando esse tipo de operação é legitimada, o espaço público passa a ser reconfigurado como uma extensão daquele espaço privado, tanto em sua matriz espacial quanto em seus códigos. Dependendo do grau dessas reconfigurações, esse espaço pode se descaracterizar como público e começar um processo de simulação, onde o espaço privado simula o espaço público. O desejo pelo conforto e pelo lazer legitima essa simulação. Na medida em que esse espaço privado interior se expande e a microatmosfera climatizada e o entretenimento satisfazem um conjunto de indivíduos, outra simulação está prestes a ser legitimada: a satisfação individual simula a ética. Nessa confusão entre o público e o privado, entre o individual e o social, a busca pelo o entretenimento e pelo conforto justificam grandes operações urbanas, todas elas com um apelo “revitalizante”. Assim, a estrutura da cidade é transformada a fim de facilitar os fluxos de capital, e o que não pode ser reconfigurado como mercadoria é descartado.

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CAPÍTULO 5 - ANÁLISE CRÍTICA: A SIMULAÇÃO ESTRUTURANTE


FACHADA/PELE

Produzir um edifício plasticamente interessante era mais uma das diretrizes de projeto. A configuração da fachada era entendida como parte integrante do processo projetual do edifício. Entretanto, a volumetria se configurou como uma extrusão do terreno, e a composição da fachada foi colocada como um projeto a parte sendo desenvolvido independentemente do conjunto. A fachada é desenvolvida como uma pele e seu papel é de seduzir e comunicar à cidade que aquela é uma boa arquitetura. Semelhantemente ao caso das janelas, este trata-se de um caso onde a qualidade da imagem simula a qualidade do espaço. A diferença está no alcance e na escala da simulação, pois a referente as janelas atinge o usuários do espaço, e no caso da fachada atinge toda a cidade. Além disso, essa simulação se diferencia na medida em que ela se manifesta na superfície do edifício através de uma materialidade descartável. Ou seja, a qualidade da arquitetura é resumida em uma superfície efêmera que inclusive pode ser copiada ou removida para um outro edifício.

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REFLEXÃO O ciclo de capital, consumo e lucro - que permeia nossas sociedades contemporâneas – absorve os múltiplos setores da sociedade em suas ideias, processos e produtos. Este processo de absorção tem sido progressivo, e hoje, o funcionamento do capitalismo tardio se articula entre os infinitos setores, em várias escalas, de forma extremamente complexa. Com certeza , a arquitetura também já foi envolvida neste ciclo. A tendência, como observada na experimentação projetual, é a progressiva transformação do significado e do conteúdo arquitetônico em conteúdo mercadológico – ao ponto que o valor de troca pode completamente substituir o valor de uso. Será possível construir uma estratégia de enfrentamento ou de resistência que não esteja fadada à cooptação do capital e ao consequente fracasso? Seria o pensamento utópico capaz de nos mover para um outro lugar e nos ajudar a construir narrativas menos opressoras? Mas neste cenário de indefinição e de extremo pragmatismo, há ainda espaço para a utopia?

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CAPÍTULO 5 - ANÁLISE CRÍTICA: A SIMULAÇÃO ESTRUTURANTE


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CAPÍTULO 6 - ESTRATÉGIA DE REAÇÃO – RECRIANDO A UTOPIA


6 - ESTRATÉGIA DE REAÇÃO – RECRIANDO A UTOPIA Diante do aflitivo cenário analisado, aqui, o pensamento utópico é invocado como o estímulo para se reconstruir a realidade. A Utopia proposta é a de resgatar o valor das coisas pelas coisas – através de um compromisso éticopolítico que entende que os processos de produção são os campos onde as reações devem se manifestar. Para efeitos analíticos, o ciclo de capital, consumo e lucro será esquematizado vetorialmente. O lucro e o consumo movem o turbilhão e apesar de sua natureza híbrida , aqui, são considerados isoladamente. Neste contexto, a estratégia de reação tem duas opções básicas, ou a favor ou contra os vetores de lucro e consumo, em várias intensidades. A proposta ideológica de reação, aqui apresentada, funciona no sentido de reduzir a intensidade e a velocidade deste ciclo a partir de um giro contrário. Não há a intenção de estabelecer uma única diretriz verdadeira, pois, a natureza deste cenário é muito mais complexa que um gráfico bidimensional. Para estabelecer o giro contrário, existem duas reações que podem ser alavancadas simultaneamente, ou não. São essas: o prejuízo e o contraconsumo - que serão abordadas mais a frente. É importante frisar que o giro resistente não pode ser pensado como uma tarefa disciplinar autônoma , ou seja, em nada adianta tentar submeter a arquitetura ,isoladamente, a um ciclo de prejuízo e contraconsumo.

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Este, inclusive, foi o erro da ideologia resistente do Regionalismo Crítico e do Desconstrutivismo; todas as duas se manifestaram marginalmente à sociedade, a primeira como uma fuga para um tempo-espaço culturalista e paralelo e a segunda como uma negação a si mesma. Incapaz de continuar se apresentando como utopia, a ideologia se compraz na contemplação nostálgica de seus próprios papéis superados, ou luta consigo mesma. Tafuri – Pg 352 Assim, o giro resistente tem que ser pensado no próprio seio da sociedade e encarando a realidade que não existe produção de espaço descolado de política e de economia. Sempre se está construindo um ideal de mundo, conscientemente ou não. A articulação da arquitetura com outras esferas da sociedade e campos do conhecimento possibilita criar um giro resistente composto por vários apoios. Assim, hora a arquitetura será alavancada como um produto de contraconsumo e/ou prejuízo e hora ela será o apoio para outros setores reagirem. Essa ideia da arquitetura como um produto de contraconsumo e/ou prejuízo está diretamente ligada a seu processo de produção e como as outras esferas são articuladas. Se elas articulam-se contra a lógica de lucro e consumo, essa arquitetura vai ser um produto real de contraconsumo e prejuízo. Ou seja, sua capacidade subversiva tem que ser aplicada em seus aspectos materiais, e não apenas em seus aspectos simbólicos. Assim, como a arquitetura pode assumir este papel protagonista ,ela pode também participar como suporte para a produção de outros setores, alavancando-os com um giro contrário. A noção de contraconsumo e prejuízo sugerida deve ser entendida contextualmente como estratégias de reação contra um ciclo sistemático e opressor. Assim, o simples fato de não buscar o lucro essencialmente , pela ótica de produção de capital , esse já é um produto de prejuízo. O mesmo vale para o contra-consumo, ao optar por um produto mais comprometido com necessidades reais em vez de necessidades de mercado ou consumo, esse produto já é um produto de contraconsumo. Ou seja, a aplicabilidade do contraconsumo e do prejuízo encontram-se nos processos de produção, que quanto mais articulados forem, menor 98

CAPÍTULO 6 - ESTRATÉGIA DE REAÇÃO – RECRIANDO A UTOPIA


será a pressão externa estabelecida pelo mercado. Essa Utopia estimula uma prática arquitetônica mais robusta e consciente, que tenta operar na realidade. Os paradigmas contemporâneos tais como a sustentabilidade, a conectividade, a velocidade da informação, a tecnologia, a computação, etc não são ignorados, mas reconsiderados sobre um novo entendimento. Assim, cria-se um norte para interagir com a incerteza, não de forma futurista, mas como um processo aberto que compreende o futuro e o presente no mesmo plano de construção.

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BIBLIOGRAFIA:

- Sikes, Krista. O campo ampliado da arquitetura. Ed. Cosac Naify. - Nesbitt, Kate. Uma nova agenda para a arquitetura. Editora Cosac Naify, 2008. - Moneo, Rafael. Inquietação teórica e estratégia projetual. ED.Cosac Naify. - Venturi, Robert. Complexidade e Contradição em arquitetura. São Paulo, Martins Fontes, 1995. - Coelho Neto, J T. A construção do sentido na arquitetura. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1979.

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REFERÊNCIAS DE IMAGENS:

Todas as imagens não identificadas são de autoria própria, através de recursos de desenho digital e/ou de fotografias.

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