Livro Animais

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Sylvia Roesch Ilustrações Matheus Furtado

Alguém viu meu bico por aí?

Caxias do Sul, RS 2019


Copyright do texto ©Sylvia Roesch, 2019 Copyright das ilustrações ©Matheus Lima Furtado, 2019 Revisão e diagramação: Dinarte Albuquerque Filho

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Agência Brasileira do ISBN R718 Roesch, Sylvia . Alguém viu meu bico por aí? / Sylvia Roesch ; ilustrações Matheus Furtado . – Caxias do Sul : S . M . A . Roesch, 2019 . 36 p . : il . ; 20 cm . ISBN 978-85-91O568-1-1 1 . Literatura infantojuvenil brasileira . I . Furtado , Matheus . II . Título . CDD 808.899282 Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971 Todos os direitos desta edição reservados à Sylvia Maria Azevedo Roesch www.sylviaroesch.com Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do Editor. Printed in Brazil/Impresso no Brasil


Catarina é acostumada a chupar bico. Ela ganha bico quando está cansada, quando está chorando, quando vai dormir. O bico é muito pequeno. Então, a toda hora, ele se perde pela casa.

Até parece que esse bico tem pernas!


Certo dia, no momento da família sair de férias, o bico desaparece. – Mãe! Cadê meu bico? – pergunta Catarina. – Pode estar lá no sofá, debaixo da almofadinha – diz a mãe. – Já procurei no meu quarto. Vai ver que está na cozinha – grita a mana Isabel. Somente depois de alguém encontrar o bico é que todos podem ir para o carro: o pai a mãe a Isabel a Catarina o bico e o maineném. (O maineném é o pano com o qual ela dorme.)



No sítio do vovô há um pátio enorme. É um lugar muito fácil para se perder um bico. Por isso, sempre que o pai leva a menina até a padaria, ele avisa: – Deixa o bico em casa, tá bom? Ele sabe que, ao chegar no portão, Catarina vai disparar pelo gramado.


– QUERO-QUERO! QUERO-QUERO!


Depois do café, Catarina sobe no pé do abacateiro. Ela tira o bico da boca para chamar os animais: – Bom dia, saguis! E eles assobiam: – Fiiiiii, fiiiiiiii! – Bom dia, passarinho! – Bem-te-vi! Bem-te-vi!



Todas as tardes, Catarina leva uma cestinha com acerolas para o cavalo Horizonte. Ele costuma devorar as frutas de uma vez só.

Mas, hoje, ele cheira a cestinha e não come nada. Por que será? É que o bico se encontra no meio das frutas, ora! Catarina retira o bico dali. Então, Horizonte abocanha as frutas. – Nhoc! Nhac! Nheck!

Depois disso, Horizonte fica ali, parado, até a menina ir-se embora.




Depois de colher acerolas no pé, Catarina corre no pomar: a banana é amarela, o maracujá também. A acerola é vermelha, a pitanga também. A jabuticaba é roxa. O limão é verde ou amarelo. A laranja é... laranja, ora! A mãe chega e recolhe o bico e o maineném, antes que fiquem manchados de vermelho, de amarelo de roxo, de laranja...


Agora, as meninas conversam na piscina. Isabel diz: – Sabia que de noite, perto da cerca, aparece um gambá carregado de filhotes? E que eu já vi uma família de quatis com rabo listrado? – Por acaso, eles gostam de tomar banho de piscina? – pergunta Catarina. – Não sei – responde a mana. – Quem gosta de água é o pato, o sapo, a tartaruga, o lagarto, o peixe... Será que alguém deixou o bico cair na água?



Há uma linda praia perto do sítio. A água é morna e calma. As crianças entram e saem da água uma porção de vezes. Depois, ganham milho, sorvete, queijo no palito, suco de abacaxi... Mas, na hora de sair da praia, ninguém encontra o bico. – Tava na minha cadeirinha de praia – diz Catarina. Isabel aposta que uma gaivota levou o bico. Será que foi isso mesmo?



Hoje é o aniversário de Catarina. – Quem sabe a gente deixa o bico guardado? – diz a mãe. Catarina larga o bico em qualquer lugar e pergunta: – Posso passar o merengue no bolo? Posso enfiar as quatro velinhas? – Claro que pode. Agora, Catarina é uma menina grande – diz a mãe. – Não, mãe, eu não sou grande, eu sou média! Didi, a madrinha de Catarina, chama as outras crianças: – Júlia, Manu, Davi, Edu! Vamos arrumar a mesa? Só falta cantar o Parabéns!



É tarde da noite e está na hora de dormir. – Mãe! Cadê o meu bico? – pergunta Catarina. Por mais que procurem, ninguém acha o bico dentro de casa. Então, o pai resolve distrair Catarina. – Venham aqui fora ver a noite iluminada de verde. As crianças correm adoidadas, atrás dos vagalumes. O truque funciona. Catarina acaba dormindo em pé, de tão cansada que está.



Na manhã seguinte, ao acordar, Catarina pergunta pelo bico. – A gente vai procurar. O bico pode estar perdido lá no fundo do terreno, pendurado num galho, caído no bambuzal... – diz a mãe. Neste instante, Kiki, o vizinho que cuida dos animais, chama as meninas:


– Prestem atenção! Vamos assistir ao maior espetáculo da Terra. Ele abre a porta do galinheiro e, num vapt-vupt, as aves espalham-se pelo terreno. Com isso, Catarina tem uma ideia brilhante.



Ela procura o galo, que é o primeiro a sair do galinheiro. – Por acaso viu meu bico rolando por aí? – Có coró cóóó! – o galo chama a galinha ruiva. – Cá cará cááá! Este bico é de comer? Nós comemos tudo o que tem no terreno. – Não, não é pra comer. O bico é de borracha e plástico. – Cá cará cááá! Borracha e plástico? Que perigo para os meus pintinhos! Eles só podem comer sementes e insetos. – Por que não vai perguntar pras irmãs ovelhas? Elas sabem tudo o que se passa no quintal.


As ovelhas estão ruminando folhas e flores no pasto. – Mééé! Pra que serve esse bico? – pergunta uma delas. – Eu chupo bico pra dormir – responde Catarina. – Mééé! Parece uma boa ideia – diz a outra ovelha. E as duas ficam repetindo: “Boa ideia! Boa ideia!” As ovelhas são muito simpáticas, mas Catarina perde a paciência. – Porque não pergunta aos gansos? Eles estão sempre correndo pelo pátio – sugere uma das ovelhas. E logo elas voltam, calmamente, a pastar. Munch! Chomp!




O casal de gansos está limpando a relva. – Vocês viram meu bico por aí? – pergunta Catarina. – E de que jeito é esse bico? – quer saber o Senhor Ganso. – Ele parece uma flor. – Quack! Daria um enfeite perfeito para o meu chapéu novo – sonha Dona Gansa, desfilando no terreno. Então, o Senhor Ganso diz: – Quack! Quack! Quack! Por que não pergunta aos marrecos? Eles vivem entrando e saindo do lago.


Ela pede ajuda ao líder dos marrecos. – De que cor é o bico - pergunta ele, sem parar de catar o milho moído do chão. – É rosa-choque. – Quack! Não vi nenhuma coisa rosa-choque por aqui. Vou procurar no lago – diz ele, chamando os companheiros. Catarina retorna para casa, desanimada. – Mãe, procurei em todo o pátio e ninguém viu meu bico – diz ela, enxugando as lágrimas. A mão abraça a menina: – Não fica triste. Por que não vai lá na cerca esperar o Horizonte?



Hiin in in! Lá vem o Horizonte, a galope. – Uhn! Hã! – faz Catarina, quando Horizonte larga o bico na sua mão. Então, Horizonte pergunta-lhe: – Para que, mesmo, a menina precisa de bico? – Pra eu me acalmar. Mas, ontem, consegui dormir sem bico. – Hiin in in! – relincha ele, abaixando a cabeça para receber uma carícia.



Catarina corre para casa, toda contente. – O Horizonte achou meu bico! O Horizonte achou meu bico! – Uau! – exclama Isabel. – Esse bico tá pra lá de estropiado! – Não faz mal! – responde Catarina. E, a seguir, entra no quarto. Lá, enrola o bico com papel para presente e guarda-o na mochila. As férias terminam e, no dia seguinte, todos voltam para a cidade. É final de tarde quando chegam. A mãe desarruma as malas, o pai vai buscar comida para o jantar, as crianças reviram seus brinquedos. De repente, Catarina desaparece no seu quarto, levando cola, tinta e pincéis. Quando termina o que está fazendo, ela chama Isabel. E Isabel chama os pais:


– Mãe! Pai! – Venham aqui ver o que a Cata fez com o bico! Isabel aponta para a estante do quarto e os pais caem na risada. Lá está o bico, dentro de uma caixa de bijuterias, todo pintado de dourado.

– Uma boa ideia! – dizem os pais, ao mesmo tempo.



Sobre a autora Sylvia Roesch é gaúcha, acadêmica, e vive em Londres desde 1996. Ela escreveu um livro para cada neto. – O mistério da mesa arranhada (para Julian) e Vi um bicho genial lá no fundo do quintal (para Luisa), pela Editora Mediação, de Porto Alegre (RS), em 2011. – O segredo de Francisco (para Francisco) e Bubalino, o búfalo voador (para Isabel, que é coautora), pela Editora Inverso, de Curitiba (PR), em 2017. - Alguém viu meu bico por aí? (para Catarina). Publicação independente, 2019. Sylvia conta as histórias de seus livros infantis no Brasil e na Inglaterra. www.sylviaroesch.com

Sobre o ilustrador Matheus Furtado começou a desenhar ainda criança. Aos vinte três anos, ingressou na faculdade de arquitetura, onde teve contato com técnicas de ilustração, Desde lá, se encantou por esta área. Aliada com a paixão por crianças, a ilustração tornou-se sua maior realização profissional, além da fotografia, do webdesign e da arte digital. https://www.instagram.com/ matheusfurtadodesenhista/


Catarina é acostumada a chupar bico e o leva por todo canto. Imaginem o que acontece quando a família vai passar férias num sítio?


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