A Arte de falar

Page 1

|1


Joel Adriano Maciel cursou Gestão Estratégica de Resultados, Formação Política, Ontopsicologia, Programação Neurolinguística, Coaching e Formação Holística de base. É autor de 15 publicações. Palestrante nacional, idealizador e diretor da Holus e do Instituto de Estudos e Pesquisas Inovação.

2|

Dicçaão e oratória


Nossa contribuição ao Brasil Os conteúdos que você vai acessar neste curso compõem o acervo de formações da Fundação Ulysses Guimarães (FUG), uma instituição de direito privado, sem finalidade lucrativa, criada para desenvolver projetos de pesquisa aplicada, doutrinação programática e educação política para o exercício pleno da democracia. Uma organização de interesse social, formadora de conceitos norteadores da condução do país rumo ao desenvolvimento democrático. Para atender a esta finalidade, a Fundação tem realizado um forte trabalho de formação de cidadãos através de seu programa de ensino. Com sede em Brasília e filiais em todas as capitais dos Estados Brasileiros, a FUG tem capilaridade nacional e desenvolve uma gama de cursos voltados para o fortalecimento da cidadania nacional. O presente material compõe o curso de comunicação, dicção e oratória, que tem ajudado milhares de brasileiros a melhorarem sua performance de comunicação na vida pessoal e profissional desde que o Programa de Ensino a Distância (EAD) da FUG, foi implementado, em 2007. Pessoas de todas as idades, formações e regiões melhoraram sua comunicação através deste trabalho, aprimorando suas vidas pessoais e profissionais. Nosso desejo é o de que você também possa ser beneficiado com este conteúdo, potencializando sua liderança, entregando com mais assertividade as suas ideias para as pessoas de sua comunidade. Nosso intuito é contribuir com sua jornada para que você possa contribuir com o desenvolvimento do seu município e, por conseguinte, com nosso país. Nossas formações são gratuitas e promovidas por uma legião de mediadores voluntários que levam conhecimentos para os mais distintos lugares do Brasil. Em nossa plataforma de ensino a distância (EAD) você encontrará videoaulas sobre essa e outras formações, capazes de impulsionar seus saberes e torná-lo uma liderança ainda mais influente. Bem-vindo.

|3


4|

Dicรงaรฃo e oratรณria


|5


6|

Dicรงaรฃo e oratรณria


APRESENTAÇÃO Olá. O mundo mudou. Está mudado e mudará numa velocidade ainda maior em todos os aspectos. Deixamos de ser meros consumidores de informações para nos tornarmos geradores e compartilhadores de conteúdo. O advento da Internet transformou cada pessoa num polo irradiador de informações, opiniões, ideias e posicionamentos. Nunca a humanidade comunicou-se tanto, expressou-se tanto, e tem gerado novas ondas de influências sobre consumo, costumes, mercado, política, religião e etecetera. Esta conjuntura tem modificado a forma da sociedade se organizar, pensar, produzir. A comunicação que era fracionada e hierarquizada agora chega direto ao consumidor, eleitor, cidadão. As novas tecnologias afetaram a democracia, o consumo e o nosso estilo de vida. Esta nova conjuntura em que a sociedade brasileira e do mundo ocidental se inseriu, tornou a comunicação pessoal uma ferramenta capaz de afetar a realidade e, ao mesmo tempo, planificou a entrega de ideias e opiniões. Atualmente, não importa onde se está, nem o tamanho de uma organização ou credenciais acadêmicas de um cidadão. Tendo acesso à Internet, suas ideias, sendo originais e importantes, podem ecoar e chegar a muitas pessoas, milhares e, por vezes, milhões, conforme a relevância do assunto. Algo simplesmente impossível à esmagadora maioria da população há poucos anos. Tudo graças a popularização da Internet. O Brasil vem se revelando como um dos povos mais conectados do planeta. Somos um dos maiores produtores e consumidores de conteúdos em redes sociais, segundo as estatísticas de plataformas de busca na Internet como o Google. Considerando que pouco mais da metade da população mundial tem acesso à Internet, 53% em 2018, segundo o levantamento da Digital Around The World, no Brasil a conectividade da população é maior. Segundo o IBGE, 70,5% dos lares brasileiros passaram a contar com acesso à Internet em 2017, isso significa 49,2 milhões de domicílios conectados. Esse número representa um crescimento significativo em relação aos 44 milhões (63,6%) registrados no ano anterior. A pesquisa também revelou que esses moradores estão acessando cada vez mais a Internet pelo próprio celular, isso porque 92,7% dos lares já contavam com pelo menos uma pessoa dona de uma linha de telefonia móvel. Com crescimento médio de 10 milhões de novos internautas ao ano, o país vai estar cada vez mais online, e em pouco tempo teremos 9 de cada 10 brasileiros na rede. Esta nova conjuntura afeta mais do que a nossa comunicação, afeta a velocidade com que acessamos saberes atualizados, permitindo que novos hábitos e comportamentos possam ser mais rapidamente disseminados. Ao mesmo tempo, |7


amplifica ainda mais a importância de nos comunicarmos com qualidade. Se no passado a comunicação era importante, num mundo conectado às redes sociais, ela é essencial, uma vez que, as oportunidades que temos para falar em público, nos moldes convencionais de palco e plateia, ganharam um novo aliado: o palco virtual. Ao mesmo tempo, falar para audiências presenciais pode não ser muito comum para a maioria das pessoas, exceto pastores, padres, palestrantes profissionais ou políticos em processos eleitorais. Contudo, as oportunidades de expressar ideias, interagir com grupos, apresentar produtos, serviços, projetos e propostas, são muito frequentes. O que vamos estudar neste trabalho, vai permitir que você passe a falar com mais firmeza, impacto e habilidade de convencimento, tanto para estas oportunidades do cotidiano quanto para grandes públicos sob os holofotes de um palco. Para iniciarmos nossa jornada de aprendizado vamos resumidamente entender o conceito de alguns termos que norteiam este trabalho. O primeiro deles referese à comunicação: “comunicar” é tornar comum. Comunicação é dar aos demais a informação que se tem, compartilhar, comungar, entregar conteúdo. Refere-se a criar mecanismos de aproximação entre pessoas, tornar comum uma ideia, postura, expressão, um projeto e entre outras coisas. Comunicação também significa “comunicar uma ação”, estimular pessoas a fazer algo. Movê-las em direção a um propósito, objetivo, meta. Normalmente um ato comunicativo sempre vem revestido de um propósito, seja ele ligado a uma necessidade básica e humana ou a de uma transformação social mais complexa. As apresentações modernas, tanto no âmbito empresarial como político, cada vez mais suscitam movimento, ação, atitudes e comportamentos. Já o conceito de “oratória” deriva-se do termo “orar” o equivalente a “rezar”, que significa: voltar a atenção para si. Um comunicador com boa oratória, além de compartilhar determinados conteúdos, o faz com qualidade, impacto e atrai a atenção das pessoas. Por isso a forma como o orador expressa um conteúdo através da sonoridade de sua voz, tonalidade de fala, entre outros elementos que vamos estudar aqui, refere-se a sua oratória. A ênfase desse trabalho é a qualificação das comunicações do leitor. Vamos entregar a você alguns métodos, técnicas e estratégias para que, assim, possa tornarse mais persuasivo. Contudo, é importante que se tenha presente que comunicação não se resume as nossas expressões vocais. É possível dizer muito sem dizer nada, uma vez que o silêncio também comunica. Nossas expressões físicas falam por nossas palavras, e na essência, tudo em nosso entorno, de alguma maneira, está comunicando algo. Nossas roupas, posturas, tratamentos, comportamentos, entre outros elementos, estão passando uma mensagem. Outro aspecto importante a ser considerado é o de que a comunicação está intrinsecamente relacionada ao que os outros entendem e não necessariamente 8|

Dicçaão e oratória


ao que você possa estar dizendo. Toda e qualquer eventual falha na comunicação, além da interpretação de quem recebe a informação, está diretamente vinculada a emissão. Portanto, a responsabilidade pela clareza do entendimento daquilo que se quer comunicar, é de quem comunica. Ao longo deste texto vamos estudar técnicas que nos permitirão clarear a nossa comunicação, tanto para pequenos quanto para grandes grupos, evitando falhas. Vamos igualmente aprender a estruturar uma apresentação de impacto, para prender a atenção do público e atingir os objetivos que se pretendem com tal apresentação. Se você já é comunicador, encontrará, neste livro, instrumentos que potencializarão sua performance diante do seu público. Se estiver iniciando, vai aprender a como preparar uma apresentação partindo da estaca zero. Este texto vai prepará-lo para encarar plateias e para melhorar sua comunicação individual e com pequenos grupos. Nas próximas páginas vamos estudar também: Preparação de uma apresentação de impacto; elementos que compõe uma apresentação convincente; técnicas de persuasão; métodos potencializadores da dicção; como tratar diferentes públicos, diferentes abordagens; a utilização de recursos; lidar com objeções, as linguagens do corpo; domínio de palco; enfrentamento do medo e entre outros detalhes que fazem a diferença. No entanto, o conteúdo aqui disposto somente fará diferença em sua comunicação se ele transpuser o campo teórico e for posto em prática. Exercitar, testar, analisar e ajustar a apresentação é fundamental para melhorar a performance. Bom Curso!

|9


INTRODUÇÃO A comunicação sempre esteve e sempre estará presente em nossas vidas. Dos primórdios do surgimento da humanidade aos mais modernos sistemas de comunicação atual, a linguagem sempre foi uma forma de interação social que nos distinguiu de outros animais sob a face da terra. Dos primeiros grunhidos do Homoerectus passando pelo desenvolvimento das primeiras palavras do homo-sapiens, aos condensados textos das redes sociais do mundo contemporâneo, comunicação é essencial para a vida humana e seu progresso. Mesmo quem não fala, não ouve ou não vê, precisa comunicar-se. Nossa fala e nossa voz constituem um conjunto de elementos que efetiva a comunicação humana. A mesma voz que pode declarar amor por uma causa ou pessoa, pode declarar uma guerra. Os reflexos de nossa comunicação são consideravelmente poderosos, tanto para os outros quanto para nós mesmos, uma vez que nossa comunicação afeta nossa fisiologia. Antes de tocar aos outros somos tocados por nossa própria voz e mecanismos de comunicação que viermos a utilizar. No passado os grandes comunicadores tinham escolas que os preparavam para enfrentar grandes públicos e impressioná-los. Como os oradores advinham das camadas mais elevadas das sociedades antigas, estas escolas eram reservadas a poucos. Hoje não precisamos mais fazer rebuscados discursos repletos de efeitos de linguagem para nos tornarmos convincentes. Por vezes, simplicidade pode ser mais importante do que complexidade e conteúdo de qualidade, mais valioso do que performance de palco. Tudo depende do perfil e do objetivo do público para o qual nos dirigimos. No mundo contemporâneo, comunicar-se ganhou relevo no rol de competências que o mundo profissional costuma valorizar. Um estudo publicado pelo Wall Street Journal colocou a comunicação e a capacidade de relacionamento como um dos cinco requisitos fundamentais definidos por executivos de carreira, na hora da escolha de um candidato à vaga de emprego. Outro estudo realizado no Brasil, pela UNICEF e pela Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, elenca a comunicação como sendo uma das características importantes para os profissionais se tornarem bem-sucedidos no mercado brasileiro. Trabalho em equipe, liderança, flexibilidade, aprendizado contínuo, maturidade emocional e iniciativa completam a lista. Quando melhoramos nossa comunicação elevamos nosso “valor de mercado”. Observe o mundo profissional e perceberá que os profissionais mais valorizados, em qualquer área, coincidentemente aliam competência técnica com habilidade 10 |

Dicçaão e oratória


comunicativa. Imagine-se diante de um médico que aparenta insegurança ao comunicar-lhe um diagnóstico. Possivelmente você vai procurar por uma segunda opinião. Coloque-se na frente de um vendedor convicto e habilidoso, as chances de ele ser bem-sucedido com sua negociação aumentam. As lideranças e pessoas que são referências em qualquer área, seja no campo profissional, empresarial, político, religioso e etecetera, são hábeis comunicadores, excelentes vendedores de ideias, produtos, serviços, projetos e soluções para os mais diversos problemas humanos. No mundo profissional criamos uma falsa ideia de que algumas carreiras exigem melhor capacidade de comunicação do que outras. Em tese, um vendedor precisa ter mais habilidades de comunicação do que um contador, por exemplo. Entretanto, o contador também precisa se comunicar, mesmo que sua maior virtude seja a de lidar com números. Ele precisa comunicar-se com sua equipe e como seus clientes, por exemplo. De certa forma todos nós somos comunicadores. Ao tratarmos com colegas, atendermos um cliente, abordarmos um cidadão ou ajustarmos a programação do final de semana com a família, estamos tendo a necessidade de interagir, vender uma ideia ou produto. Mesmo sem nos darmos por conta, estamos fazendo apresentações todos os dias. Então por que motivos falar para uma plateia parece ser tão aterrorizador? Porque passamos a ser avaliados e julgados, o que coloca nosso ego sob alerta, conforme veremos em capítulo específico. No tocante as oportunidades de falar em público, cabe considerar a importância de não as subestimar. Por vezes parece que o público a ser contemplado com uma fala possa ter pouco potencial de retorno as suas pretensões, sejam políticas, comerciais ou pessoais. Contudo, muitas vezes uma pessoa na plateia, um contato inesperado, pode redirecionar uma estratégia, incrementar uma ideia, melhorar um produto, inspirar um serviço, etecetera. Nunca subestime uma oportunidade de expressar suas ideias, propor soluções, expor seu posicionamento, principalmente se você estiver iniciando uma carreira, projeto, negócio, ou seja lá o que for. Por isso, sempre que houver alguma possibilidade de utilizar espaços para comunicar a um determinado público, deve-se aproveitar. Nem que seja para colher feedbacks em prol do aprimoramento expositivo. Assim como as oportunidades que possam surgir na vida pessoal e profissional, as oportunidades para falar em público precisam ser adequadamente bem aproveitadas. E elas reúnem grande potencial para nos ajudar, tanto no âmbito pessoal quanto profissional. A internet e os inúmeros aplicativos, dispositivos e ferramentas que atualmente

NOME DO BOX Um microfone aberto e um palco, seja físico ou virtual, pode se converter em grandes vitrines para revelar ao mundo, ou a um segmento de público, seus melhores talentos e aptidões.

| 11


dispomos e tantos outros que serão futuramente criados, tornaram nossas vidas mais conectadas, gerando novas formas de praticarmos comunicação. Nos últimos anos surgiram novos nichos, grupos, segmentos e, consequentemente, palcos virtuais. A quantidade de pessoas que possuem canais de comunicação para dispor conteúdos sobre sua área de conhecimento ou trabalho, buscando a construção de “autoridade” sobre o domínio de determinados temas, cresceu exponencialmente. Estes mecanismos de comunicação e as mídias sociais compõem os novos palanques, agora eletrônicos, através dos quais, diariamente, milhares de pessoas se comunicam com suas audiências. Pense em qualquer assunto que você possa ter alguma dúvida, ponha na internet e você encontrará um tutorial em vídeo capaz de te ajudar. São milhões de pessoas gravando e compartilhando conteúdos todos os dias. Estas novas possibilidades multiplicam as oportunidades para levarmos ideias, sugestões, propostas, produtos e serviços para as pessoas. No passado dependíamos do mundo linear, off-line, presencial, para buscarmos soluções para nossas demandas. Imagine como era pesquisar as soluções para um problema em uma biblioteca física. Demandavam horas abrindo livros. Agora basta uma solicitação em um site de buscas na Internet e estaremos diante de milhares de possibilidades, sem que para isso tenhamos de sair do lugar. Da mesma forma, se antes tínhamos raras oportunidades para nos dirigirmos a um determinado público, agora, elas se multiplicam com as novas tecnologias. E neste caso, em particular, temos de atentar para algumas peculiaridades. Primeiro, falar para uma plateia presencial é diferente de falar para uma plateia on-line. Uma apresentação com recursos de projeções se difere de uma feita através de uma teleconferência. Embora a mensagem ou ideia possa ser a mesma a ser compartilhada, a forma de apresentar o conteúdo muda conforme o meio de comunicação que estivemos utilizando. Enquanto nas abordagens de audiovisuais nossa fala deve ser mais individual, como se estivéssemos conversando com cada pessoa da audiência, numa plateia presencial a condução deve ser diferente e mais impactante para reter a atenção da plateia. Perceba que um narrador de futebol usa uma tonalidade de voz diferente

NOME DO BOX Alguns exigem textos sucintos, outros exigem fotos que falem mais do que palavras, os vídeos pedem uma abordagem mais informal, com menos carga de recursos.

12 |

Dicçaão e oratória

da de um narrador de televisão, onde a imagem supre a necessidade de o radialista incrementar com detalhes e emoções os lances que a audiência não consegue ver. O jogo é o mesmo, mas a forma de o narrar muda conforme o meio de comunicação utilizado. Os diferentes mecanismos de comunicação atual também têm suas linguagens predominantes.


Ao passar a fazer uso de um novo mecanismo de comunicação, a exemplo de uma nova rede social, a sugestão é buscar um tutorial na própria Internet sobre a melhor forma de explorar os recursos deste canal ou aplicativo. Deve-se tomar cuidado para não simplesmente repetir conteúdo de um aplicativo para outros. Sua eficácia tende a cair, uma vez que a linguagem de um meio não necessariamente possa ser eficiente em outro. Nossa comunicação define nosso ponto de atração. Nossa forma de falar, incorpora personagens. Estes personagens geram rótulos e as pessoas respondem aos papeis que representamos. Um profissional de jaleco branco dentro de um hospital tende a se portar de uma forma diferente da de um garçom, ou de um advogado diante de um juiz. São papeis inerentes a ofícios que levam as pessoas no seu entorno a reagirem de acordo com o esperado para cada situação. Ambos os exemplos referidos são de seres humanos com suas próprias demandas e dificuldades, porém, enquanto se comunicam com seu público, seja individual ou coletivamente há um papel a ser interpretado. A eficiência e o alinhamento desta comunicação em relação ao seu papel podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso deste profissional. A comunicação sempre foi importante, mas nunca foi tão relevante quanto num mundo onde todos têm acesso aos novos palcos e formas de levar ideias para seus públicos. Qualificar-se em busca de um diferencial competitivo pode representar uma importante diferença. E é com este propósito que estruturamos os conteúdos que você vai acessar nos capítulos que seguem.

| 13


14 |

Dicรงaรฃo e oratรณria


| 15


16 |

Dicรงaรฃo e oratรณria


PREPARANDO O CAMINHO Neste primeiro capítulo vamos contextualizar a comunicação às demandas do mundo atual. Vamos analisar perfil de público, propósito de uma fala, tratar sobre novos conceitos referentes à comunicação: a “escutatória” e o poder da emoção. Estes e outros conteúdos que seguem neste capítulo tem a intenção de preparar você para o segundo capítulo, onde vamos tratar das técnicas e métodos para que você possa performar, tanto no palco quanto em tratativas individuais. Embora esta primeira etapa seja mais conceitual ela exerce um papel importante na estrutura do pensamento sistêmico de um orador. O mundo está repleto de pessoas que falam bem, mas são poucas as que são capazes de tocar a alma das pessoas e motivá-las a fazer o que tem de ser feito. Não basta saber como dizer, mas o que dizer. Por isso a importância desta primeira etapa do nosso aprendizado, que se inicia indagando:

O QUE VOCÊ QUER COMUNICAR? Quando nos preparamos para falar a uma plateia, seja ela privada ou pública, grande ou pequena, mas que exija preparação, o ideal é que tenhamos uma clara visão sobre o que pretendemos com a nossa comunicação. Não adiante fazer uma fala repleta de dados e informações se o público não souber o que fazer com aquele conteúdo. Por isso a mensagem principal da apresentação precisa estar clara para você, e por conseguinte, para seu público. Isso implica em repeti-la ao longo da apresentação, sob diversos ângulos. As pessoas só farão o que você quer se entenderem o que você diz. Isso implica ainda em usar a linguagem apropriada para cada público. Apresentações repletas de termos técnicos serão usadas somente para técnicos no assunto. Termos complexos para públicos simples também NOME DO BOX podem perder efeito. Saiba o que sua assistência almeja ou espera ouvir. Lembre-se de que as pessoas se motivam mais por suas demandas privadas do que pelas demandas alheias. Por isso elas vão dar mais atenção

Se você é chamado para falar sobre um determinado assunto, tenha claros os propósitos do cliente ou de quem lhe chamou, a fim de saber sobre o que ele espera de sua apresentação.

| 17


às abordagens que sejam capazes de solucionar seus problemas, aplacarem seus anseios, melhorarem suas vidas e etecetera. Por outro lado, se o evento é seu e o propósito é convencer a audiência sobre algo, vender algum produto ou ideia, esta clareza, igualmente, contribui para alinhar sua fala e preparar sua apresentação. Quando soubermos o que o público espera, ou o que pretendemos com nossa fala, temos uma base para compor uma mensagem principal e esta mensagem nos dará a clareza do que falar e evitará que tenhamos abordagens prolixas e difusas que levam nada a lugar nenhum. As pessoas no mundo atual possuem diversas atividades e, por este motivo, não dispõem de tempo, nem tem disposição para ouvir delongas sobre temas que possam não ser bem articulados. Esteja atento ao foco da sua audiência. Mesmo que a pretensão de sua fala seja vender algo. O que eles estão interessados, ou ainda não tem interesse e você pretende despertar? Tenha clareza a respeito de ganhos e perdas, vantagens e desvantagens de comprar suas ideias, produtos ou serviços quando estiver preparando sua fala. Desta maneira você focaliza o interesse da plateia com mais vigor e o alinha as suas intenções. Enfatize resultados. Vender ideias pode ser uma bela ocupação para intelectuais ou estudiosos entusiasmados. Contudo, as pessoas não costumam comprar ideias, mas soluções para suas demandas cotidianas. Então, faça de suas ideias uma solução para o seu público. Qual é a “dor” das pessoas que vão ouvi-lo? Qual é a expectativa delas? Lembre-se que as pessoas que vão lhe ouvir tendem a estar mais interessadas nas suas próprias demandas do que nas de quem elas vão ouvir. Quanto mais o tema impacta a vida de cada indivíduo, maior tendem a ser as chances de ele se mobilizar por sua abordagem. Para a maioria das pessoas, por exemplo, resolver um problema do bairro onde moram torna-se mais relevante do que salvar os exemplares de micoleão dourado que restaram na Mata Atlântica brasileira. Exceto, é claro, aos públicos interessados no tema. A proximidade das pessoas ao assunto é fator que contribui com o interesse e a mobilização da audiência. Esta clareza sobre os propósitos de sua abordagem ajuda a compor o “miolo central de sua argumentação”. Um facilitador para o caso de ter de enxugar a fala ou palestra diante de um contratempo, além de facilitar sua vida se um microfone da imprensa for ligado na sua frente com um rol de perguntas horizontais sobre seu tema. A mensagem principal, estando clara, tornará tudo mais fácil, inclusive para cortar adendos, dados complementares, histórias e outros ingredientes que possam vir a ilustrar uma fala, que, eventualmente, tenha de ser mais enxuta. Ao preparar uma apresentação você pode problematizar o assunto, compor uma base de informações sustentadas que permitam revelar que você conhece os motivos que causam tal problemática. Isso aumenta o poder das soluções que você vai propor. Imagine um profissional do ramo médico, quando ele “supõe” que seus 18 |

Dicçaão e oratória


sintomas sejam de uma determinada doença o crédito dele para convencê-lo a tomar determinado medicamento é pequeno. Mas se ele fizer um diagnóstico mais preciso, elencar vários dados, explicando as bases do seu sintoma e os motivos que causam tal problema, você vai se sentir mais seguro em consumir o remédio sugerido por ele. Uma apresentação convincente é composta pelos mesmos ingredientes. Mostre o quanto você conhece a causa e consequência do problema em questão. Depois proponha as soluções. Você verá o quanto seu poder de convencimento aumenta. Observe os exímios vendedores, eles deixaram de ser meros entregadores de produtos em troca de uma remuneração, e se especializaram no problema que o produto soluciona, entendem toda a dinâmica do produto e criam uma forte base argumentativa. A venda passa a ser uma consequência, de modo que, em alguns ramos, os vendedores vêm se denominando “consultores”. Um valor importante a ser entregue ao seu público está no fomento à ação derivada de sua abordagem. Veja o caso dos professores das redes municipais e estaduais. Eles têm uma carga de formação anual que varia conforme o município. Seminários, palestras e cursos fazem parte da chamada “formação continuada” destes profissionais. Quem os frequenta soma pontos na progressão de carreira. Contudo, o que efetivamente muda em suas práticas pedagógicas após os eventos de formação? Boa parte destes profissionais voltam às suas salas de aula e continuam fazendo exatamente o que sempre fizeram, repetindo as mesmas aulas de sempre. Onde está o ponto de falha? Na abordagem dos palestrantes das formações? No comprometimento dos profissionais que assistem? Ou na liderança que os conduz? Na prática, diante deste público funcional estável, ambos têm a sua parcela de responsabilidade. No entanto, se o púbico é aberto e o seu interesse é movê-los a uma decisão, sua abordagem deve enfatizar esta premissa. A mesma lógica vale para todo e qualquer público. Você vai falar sobre hábitos de saúde para um determinado grupo. Seu sucesso está nas mudanças de hábitos negativos, que parte deste grupo vai incorporar a seu dia a dia. Sua apresentação visa mobilizar uma comunidade carente para um projeto social? Quer que ela se torne empreendedora e crie negócios? O nível de engajamento é o resultado da sua apresentação. Por isso é importante não apenas inspirar sua plateia, mas, principalmente, norteá-los a respeito do que podem fazer diante da sua abordagem, proposta e solução de problema.

NOME DO BOX Dotar as pessoas de informação tem seu valor, mas se elas não fizerem nada com isso, talvez este valor seja inócuo.

Quem não sabe sobre a importância de se praticar exercícios físicos e ter uma alimentação regrada? E diante deste saber, quantos se movem ao fazer? Entenda, portanto, que se seu foco for de esclarecer, qualquer jornal ou página da internet também consegue fazer isso. Nossos

| 19


desafios diante de um público é o de afetá-lo no âmbito emocional para motivá-lo a fazer o que precisa ser feito. Uma instigante pesquisa feita pela Universidade de Stanford, indagou pessoas de várias idades sobre o tema “segurança financeira”. Os pesquisadores perguntaram aos entrevistados sobre a importância do tema em suas vidas. 35% da amostra disse já possuir ou estar próxima de uma condição econômica segura, 95% dos entrevistados disseram que querem ter ou ampliar sua segurança financeira. Porém, quando estes 95% eram indagados sobre o que planejavam fazer nos próximos meses para se aproximar desta segurança financeira, citando algumas ações que estavam planejando fazer, 92% dos entrevistados revelaram não possuir nenhum plano em vista. O que este e outros estudos nos revelam é que o nosso maior problema não é informação, mas sim ação, não é o saber, mas o fazer decorrente deste saber e ter motivos suficientes para romper com o comodismo, fazendo o que tem de ser feito. Outra questão a ser considerada é que, às vezes, as pessoas O cérebro humano evolui configurando compõem audiências atentas e favoráveis à complexidade em soluções simples. Por sua argumentação, mas isso, simplifique, ao término de sua apreque simplesmente não sentação, o recado objetivo e prático que sabem o que fazer com possa levar as pessoas a ação. as informações que lhes são entregues. Por isso um “passo a passo” pode ser entregue durante a apresentação ou em seu desfecho, o que tende a facilitar a transição entre o campo teórico e o prático para seu público. Não por acaso, livros cujos títulos já sinalizam este entendimento como: cinco regras para isso, três passos para aquilo, sete soluções para o assunto tal, costumam ter boa saída.

NOME DO BOX

Como já vimos, mais do que aquilo que se diz, comunicação é o que as pessoas entendem. Por isso, é sempre prudente ao término de uma reunião, explanação ou abordagem instrucional, indagar ao grupo ou plateia sobre seu entendimento referente ao que foi exposto, ajustado, acordado. Esta interação evita os clássicos erros de comunicação, sobretudo por conta do entendimento extraído da sua fala por parte das outras pessoas. Se o que você disse e o que as pessoas entenderam do que você disse se alinham, sua comunicação foi bem-sucedida.

20 |

Dicçaão e oratória


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.